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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Sociais Departamento de Relações Internacionais Gianluca Elia O SUBIMPERIALISMO BRASILEIRO NA ÁFRICA: estudo de caso sobre Moçambique Belo Horizonte 2012

Subimperialismo Brasileiro Na Africa - Estudo de Caso Sobre Mocambique

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  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Cincias Sociais

    Departamento de Relaes Internacionais

    Gianluca Elia

    O SUBIMPERIALISMO BRASILEIRO NA FRICA: estudo de caso sobre

    Moambique

    Belo Horizonte 2012

  • Gianluca Elia

    O SUBIMPERIALISMO BRASILEIRO NA FRICA: estudo de caso sobre

    Moambique

    Monografia apresentada ao Curso de Relaes Internacionais da Universidade Catlica de Minas Gerais, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Relaes Internacionais.

    Orientadora: Taiane Las Casas Campos

    Belo Horizonte 2012

  • Gianluca Elia

    O SUBIMPERIALISMO BRASILEIRO NA FRICA: estudo de caso sobre Moambique

    Monografia apresentada ao Curso de Relaes Internacionais da Universidade Catlica de Minas Gerais, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Relaes Internacionais.

    ________________________________________________ Taiane Las Casas Campos (Orientadora) PUC MINAS

    ________________________________________________ Ricardo Ferreira Ribeiro PUC MINAS

    ________________________________________________ Paris Yeros UFABC

    Belo Horizonte, 14 de Novembro de 2012.

  • RESUMO

    Este trabalho tem como objetivo compreender se as relaes internacionais brasileira com a

    frica, na ultima dcada, economicamente atravs suas grandes empresas, e politicamente

    atravs sua poltica externa, especificadamente em Moambique, podem ter elementos do

    subimperialismo, conceito formulado originariamente pelo cientista social Ruy Mauro Marini,

    expoente da Teoria Marxista da Dependncia (TMD).

    Palavras chave: Subimperialismo, Brasil, Moambique, Minerao, Agronegcio.

  • ABSTRACT

    This study aims to understand whether the Brazilian international relations with Africa, in the

    last decade, economically through their big companies, and politically through its foreign

    policy, specifically in Mozambique, may have elements of sub-imperialism, a concept

    originally formulated by social scientist Ruy Mauro Marini, exponent of Marxist Theory of

    Dependence (TMD).

    Keywords: Sub-imperialism, Brazil, Mozambique, Mining, Agribusiness

  • LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 - Viso satelitar dos megaprojetos de minerao de carvo em Tete e os reassentamentos de Cateme

  • LISTA DE MAPAS

    MAPA 2 Projeto Carvo Moatize, com ferrovia Tete-Nacala e porto de Nacala, Mina de fosfato da Vale e PROSAVANA JBM.

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    US$ dlares estadunidenses

  • LISTA DE SIGLAS

    ABC Agncia Brasileira de Cooperao

    ABIMAQ Associao Brasileira da Indstria de Mquinas e Equipamentos

    AFRICOM United States African Command

    AGOA African Growth and Opportunity Act (EUA)

    AI5 Ato Institucional numero 5 (Brasil)

    AOD Ajuda Oficial para o Desenvolvimento

    APEX Agncia Brasileira de Promoo de Exportaes e Investimentos

    ASA Cpula Amrica do Sul-frica

    BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social (Brasil)

    BOPE Batalho de Operaes Especiais (Brasil)

    BRICS Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul

    DEPEQ Departamento de Pesquisas e Operaes do BNDES (Brasil)

    DCR Departamento de Combustveis Renovveis do MAPA (Brasil)

    DFID Departamento para o Desenvolvimento Internacional (Reino Unido)

    DIEESE Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos (Brasil)

    do MRE (Brasil)

    EPAs Economic Partnership Agreements (EU)

    CAMEX Cmara de Comrcio Exterior (Brasil)

    CEDEAO Cpula Brasil-Comunidade Econmica dos Estados da frica Ocidental

    CFM Portos e Caminhos de Ferro de Moambique (Moambique)

    CGMA Coordenao-Geral de Cooperao em Agropecuria, Energia, Biocombustveis e

    Meio Ambiente da ABC (Brasil)

    CSN Companhia Siderrgica Nacional (Brasil)

    CSLL Contribuio Sobre o Lucro Lquido (Brasil)

    EBA Everything But Arms (Acordo Tudo Menos Armas entre UE e Angola)

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FAO Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e Alimentao

    FIB Frum Internacional de Biocombustveis

    FIOCRUZ Fundao Osvaldo Cruz (Brasil)

    FOCAC Frum para Cooperao entre China e frica

  • FGV Fundao Getlio Vargas (Brasil)

    FMI Fundo Monetrio Internacional

    FRELIMO Frente para a Libertao de Moambique

    GBEP Global Bioenergy Partnership

    IBAS Frum de Dilogo ndia-Brasil-frica do Sul

    IFC Corporao Internacional de Finanas

    IDH ndice do Desenvolvimento Humano do Programa das Naes Unidas para o

    Desenvolvimento (PNUD)

    IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Brasil)

    IRPJ Imposto de Renda da Pessoa Jurdica (Brasil)

    IED Investimento estrangeiro direto

    IT Information Tecnology

    IIRSA Initiative for the Integration of the Regional Infrastructure of South America

    JICA Japan International Cooperation Agency (Japo)

    LIBOR London Inter-Bank Offered Rate

    MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e do Abastecimento (Brasil)

    MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (Brasil)

    MRE Ministrio das Relaes Exteriores (Brasil)

    MIGA Agncia Multilateral de Garantia de Investimento (Grupo Banco Mundial)

    MME Ministrio das Minas e Energia (Brasil)

    MST Movimento dos Trabalhadores sem Terra (Brasil)

    NEPAD Partnership for African Development

    NNPC Nigerian National Petroleum Corporation (Nigria)

    ONU Organizao das Naes Unidas

    ONG Organizao no governamental

    OTAN Organizao do Atlntico Norte

    PIB Produto Interno Bruto

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    PND Plano Nacional de Desestatizao (Brasil)

    PRODECER Programa de Cooperao Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado

    PROSAVANA Programa de desenvolvimento da Savana africana(Brasil)

    PROSAVANA-PD Plano Diretor para o Desenvolvimento da Agricultura do Corredor de

  • Nacala (Brasil)

    PT Partido dos Trabalhadores (Brasil)

    RENAMO Resistncia Nacional Moambicana

    SACU Unio Aduaneira da frica Austral

    SENAI Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (Brasil)

    SENAR Servio Nacional de Aprendizagem Rural (Brasil)

    SEZs Special Economic Zones

    SDNC Sociedade de Desenvolvimento do Corredor de Nacala Combinadas (Brasil)

    TMD Teoria Marxista da Dependncia

    TNP Tratado sobre a no proliferao de armas nucleares

    UNICA Unio da Indstria de Cana de Acar (Brasil)

    UEMOA Unio Econmica e Monetria do Oeste Africano

    UE Unio Europeia

    UNCTAD Conferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e Investimento

    USAID United States Agency for Internacional Development

  • SUMRIO

    1 INTRODUO............................................................................................................ 142 MARCO TERICO..................................................................................................... 182.1 Dependncia e Imperialismo ................................................................................... 192.2 Superexplorao do trabalho................................................................................... 212.3 Extenso da superexplorao aos pases centrais................................................... 222.4 Subimperialismo........................................................................................................ 242.5 Cooperao antagnica: poltica expansionista relativamente autnoma........... 292.6 A reconverso e o novo subimperialismo................................................................. 33

    3 A POLTICA EXTERNA BRASILEIRA (2003-2012) COM RELAO FRICA E ESTRATEGIAS DA INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS BRASILEIRAS................................................................................................................ 373.1 A poltica externa brasileira (2003-2012) com relao frica............................ 393.1.1 Trocas comerciais, exportaes e importaes..................................................... 423.2 Agricultura e agroenergia......................................................................................... 453.3 Diplomacia do agronegcio....................................................................................... 473.4 A nova partilha da frica e as estratgias dos atores envolvidos.......................... 503.4.1 Estratgias Norte-Sul............................................................................................. 513.4.2 Estratgias Sul-Sul................................................................................................. 523.4.2.1 China..................................................................................................................... 523.4.2.2 ndia...................................................................................................................... 543.4.2.3 Brasil..................................................................................................................... 553.5 Estratgias da internacionalizao de empresas brasileiras................................. 563.5.1 Estratgia e presenas das grandes empresas brasileiras na frica................. 603.6 Agronegcio brasileiro na frica............................................................................. 63

    4 O SUBIMPERIALISMO BRASILEIRO EM MOAMBIQUE............................. 674.1 Moambique............................................................................................................... 674.2 A Vale, ex Companhia da Vale do Rio Doce (CVRD)............................................. 714.3 Megaprojetos na provncia de Tete.......................................................................... 724.3.1 Megaprojeto Benga................................................................................................ 744.3.2 Megaprojeto Carvo Moatize................................................................................ 754.4 Transferncia de valor............................................................................................... 77

  • 4.5 Superexplorao do trabalho................................................................................... 804.6 Reassentamentos........................................................................................................ 814.7 PRODECER............................................................................................................... 844.8 PROSAVANA JBM.................................................................................................... 864.9 A Unio Nacional de Camponeses............................................................................ 905 CONCLUSO.............................................................................................................. 92REFERNCIAS

  • 14

    1 INTRODUO

    Este trabalho tem como objetivo geral analisar a natureza e a estratgia da insero

    internacional brasileira na frica, na ultima dcada, seja economicamente atravs suas

    grandes empresas como politicamente atravs sua poltica externa, para compreender se esta

    insero pode ser caracterizada como subimperialista, conceito formulado originariamente

    pelo cientista social Ruy Mauro Marini, expoente da Teoria Marxista da Dependncia

    (TMD).

    O primeiro objetivo especifico, para compreender se esta insero pode ser

    caracterizada como subimperialista, pretende analisar a insero politica e econmica.

    Economicamente por meio das trocas comerciais entre o Brasil e a frica e sobretudo a

    internacionalizao das grandes empresas brasileiras no setor do agronegcio, minerao,

    construo e engenharia, atravs o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento

    Econmico e Social (BNDES) e o financiamento internacional, e politicamente o trabalho

    pretende analisar a poltica externa brasileira, atravs o apoio logstico, de inteligncia e de

    poltica da diplomacia, do governo e das suas agencias, para o aumento da influencia e do

    protagonismo poltico do Brasil na frica, sobretudo no setor agrcola, minerao e de

    engenharia e construo e nas polticas sociais publicas.

    O segundo objetivo especifico pretende compreender, atravs um estudo de caso

    sobre a insero brasileira em Moambique, se esta pode ser caracterizada como

    subimperialista. Sero analisados sobretudo dois megaprojetos interligados, um megaprojeto

    de minerao, gerao de energia eltrica a partir de carvo e linhas frreas para o

    escoamento, megaprojeto da Vale, em consorcio com a Odebrecht e a Camargo e Corra,

    chamado Projeto Carvo Moatize, e um outro megaprojeto de agronegcio e agricultura

    familiar, com cooperao trilateral entre Japo, Brasil e Moambique, e o apoio da United

    States Agency for Internacional Development (USAID), chamado PROSAVANA JBM. Sero

    analisados os impactos destes projetos nas populaes atingidas como na economia

    moambicana como um todo.

    Marini (1974) analisou dialeticamente as relaes que os pases centrais mantiveram

    com as periferias. A acumulao monopolstica, sobretudo no ps-Segunda Guerra Mundial

    nos pases centrais gerava excedentes de capitais, que os centros para manter altos os lucros

    exportavam, em algumas periferias, atravs Investimentos Externos Diretos (IED), sobretudo

  • 15

    dos Estados Unidos (EUA), mas sucessivamente tambm Alemanha e Japo. Os IED

    orientados de forma extrema a produo de bens de consumo durveis, para as classes altas

    da sociedade, transformam o Brasil em uma economia semiperifrica, ou seja, com uma

    composio orgnica mdia na escala mundial dos aparatos produtivos. Mas estas

    exportaes transformaram internamente e profundamente estes pases perifricos, entre eles

    o Brasil. Estas transformaes e as contradies que esta integrao gerava levaram a

    movimentos contrrios, antagnicos a integrao imperialista. Mas o grande capital

    brasileiro, com o golpe de 64 se aliou como scio menor ao capital internacional,

    restabelecendo a complementaridade entre burguesia agraria e industrial, monopolizando e

    financeirizando precocemente a economia. Porm a superexplorao do trabalho, que gerava

    superlucros ao capital brasileiro, levou a uma separao entre as capacidades produtivas e as

    necessidades das massas, impossibilitando um desenvolvimento autnomo.

    A economia subimperialista para superar estes entraves a sua reproduo ampliada do

    capital recorreu sobretudo ao mercado externo, mediante internacionalizao das suas

    empresas, que se aliaram com os oligoplios imperialistas para explorar as periferias, se

    servindo de subsdios e financiamentos estatais. Mas alguns setores econmicos no teriam

    muitos ganhos com a integrao aos oligoplios do Norte, porque poderiam simplesmente ser

    desmantelados ou perder fatias de mercado ou o controle das suas empresas, como tinha

    acontecido com as pequenas e medias empresas no governo Castelo Branco. Estas fraes da

    burguesia eram apoiadas por setores nacionalistas da burocracia governamental, que no

    queriam perder o controle sobre setores considerados estratgicos, como o nuclear, militar, e

    petrolfero, e portanto levaram ao poder Costa e Silva. Mas embora estas fraes resistiram

    ofensiva do imperialismo, atuando de maneira antagnica, ao mesmo tempo no chegaram a

    uma ruptura com o imperialismo, porque teria questionado as bases dos seus superlucros,

    mas ao contrario colaboraram para uma maior integrao a este. Esta postura de cooperao

    antagnica se manteve durante os governos militares, atravs a busca de uma poltica externa

    relativamente autnoma, dentro do permitido pelo imperialismo.

    Assim o Brasil pretendeu uma reduo das trocas desiguais tramite substituio das

    exportaes, para ter acesso aos mercados mais ricos e mais protegidos do Norte, para vender

    suas mercadorias e servios, como tambm ter ganhos polticos, pretenses que faliram e que

    levaram o Brasil a se relacionar mais estritamente com os outros pases do Sul, para articular

    presses aos paises centrais. Mas como a autonomia e o desenvolvimento dependem da

  • 16

    interveno estatal, atravs subsdios produo e a exportao e da diplomacia para

    aumentar a competitividade empresarial, o Brasil entrou em atritos com os centros ao tomar

    decises antagnicas respeito s estratgias dos centros imperialistas, que poderiam levar a

    no colaborao do Brasil com a estratgia imperialista.

    Portanto os centros imperialistas, que tinham momentaneamente resolvidos os seus

    problemas de realizao do capital, transferindo as contradies nas periferias, defenderam os

    mercados do Norte, e as trocas desiguais, porque uma reduo das transferncias de valor

    reduziria os ganhos imperialistas, alm de poder levar estas semiperiferias a ter um poder

    econmico e militar autnomo, e ao apoio dos pases do Sul que lutavam contra o

    imperialismo. Pases do Sul do mundo, que assim como o Brasil foram atirados na armadilha

    das dcadas perdidas, durante as crises da divida e as reformas neoliberais.

    O novo subimperialismo brasileiro depois da redemocratizao do Brasil com

    abertura econmica e reconverso da sua economia, retrocedeu na sua insero internacional,

    e com as crises da divida e o colapso financeiro os pases imperialistas, tentaram integrar

    ainda mais o Brasil nos setores mais estratgicos e lucrativos, reduzindo o controle do Estado

    sobre alguns setores da economia nacional.

    Esta integrao levou a criao de empresa globais brasileiras, com grande

    interveno estatal e participao nas bolsas de valores, estas empresas exploram

    intensivamente os recursos naturais e produzem substancialmente commodities, integradas ao

    sistema financeiro internacional, e com seu servios de engenharia e infraestruturas anexas.

    Mas um pais subimperialista prprio porque integra seu sistema produtivo ao imperialista,

    no pode questionar as bases do imperialismo sem questionar a si mesmo, portanto se

    mantm sob a influencia e a dependncia, tecnolgica e financeira para com o imperialismo,

    mas buscando atravs a cooperao antagnica com o imperialismo, uma poltica externa

    expansionista para conquistar uma certa influencia e/o protagonismo na regio (Amrica

    Latina e Caribe e frica). No caso do Brasil esta cooperao antagnica pode ser observada

    na exportao do modelo agrcola brasileiro e na atuao de empresas como a Vale.

    Para tanto, a estrutura narrativa dessa monografia ser dividida da seguinte maneira,

    no segundo capitulo ser apresentada a teoria do subimperialismo, e as contribuies de

    outros tericos, como Dos Santos, Fontes e Martins. Sero apresentados os fundamentos da

    teoria do subimperialismo, a superexplorao do trabalho e a transferncia de valor, e as

    variveis concatenadas da teoria, a cooperao antagnica e uma poltica relativamente

  • 17

    autnoma. A analise ser feita de maneira a seguir as mudanas que ao longo da historia a

    sociedade e a economia brasileira teve com relao a sua integrao capitalista.

    O terceiro capitulo tratar da poltica externa brasileira na frica na ultima dcada e

    das estratgias da internacionalizao de empresas brasileira, comparada a dois outros pases

    do Sul, a ndia e da China, e aos pases imperialistas do Norte. Ser analisada a poltica

    externa brasileira com relao ao modelo agrrio brasileiro e aos programas sociais anexos, e

    os investimentos e comercio das empresas brasileiras na frica.

    O quarto capitulo ser um estudo de caso de dois megaprojetos. Um megaprojeto

    minerrio e energtico em Moambique chamado Projeto Carvo Moatize da empresa Vale e

    de um consorcio desta com a Odebrecht e a Camargo e Corra, e um megaprojeto agrrio

    chamado PROSAVANA Japo-Brasil-Moambique. Sero analisados os financiamentos

    destes projetos assim como as relaes com o Estado moambicano e as populaes, as

    infraestruturas para o escoamento e os relativos reassentamentos das populaes atingidas e

    conflitos destas com as empresas estrangeiras e o governo moambicano. Para realizao

    desse trabalho ser utilizado tanto fontes primrias, livros, teses, artigos, publicaes,

    relatrios, peridicos, como documentos secundrios.

  • 18

    2 MARCO TERICO

    Neste segundo capitulo ser apresentada a teoria do subimperialismo, desenvolvida

    pelo brasileiro Ruy Mauro Marini, baseada na teoria do imperialismo e nas contribuies da

    Teoria Marxista da Dependncia (TMD).

    Os fundamentos do subimperialismo so a superexplorao do trabalho, que gera uma

    mais-valia extraordinria e no permite a gerao de um mercado interno suficientemente

    dinmico, e a transferncia de valor, com intercmbios desiguais, das periferias do mundo

    para os centros, passando pelos pases subimperialistas, que para recuperar a perda de mais

    valia apropriada pelos centros superexploram a fora de trabalho.

    O subimperialismo um fenmeno histrico e uma categoria analtica observada no

    Brasil, a partir da dcada de 60 por Marini, mas que pode ser aplicada tambm a outros

    pases, por exemplo a ndia. Um pais subimperialista um pais semiperiferico, ou seja um

    pais intermedirio na diviso internacional do trabalho, mas no verdadeiro o contrario.

    A primeira condio para um pais ser subimperialista, a dependncia estrutural, com

    transferncia de valor para os centros nos intercmbios desiguais, que ser tratada no primeiro

    subcaptulo deste trabalho, descrevendo como ela se originou na Amrica Latina.

    Uma segunda condio a superexplorao do trabalho e adicionalmente da

    autoexplorao do trabalho, que sero definidos no segundo subcaptulo, conceitos que foram

    revigorados com as contribuies de Fontes (2011) e sobretudo Martins (2011). A

    superexplorao era uma caractersticas dos pases do Sul, mas se estende segundo Fontes aos

    pases centrais, questionando portanto a validade do subimperialismo como condio dos

    pases do Sul. Portanto ser abordada uma analise deste fenmeno para colocar algumas

    observaes criticas a este questionamento.

    No terceiro subcaptulo analisaremos as dinmicas do processo dialtico de integrao

    da economia mundial pelos oligoplios imperialista. Neste processo a varivel cooperao

    antagnica do Brasil com o imperialismo leva a outra varivel concatenada, uma poltica

    relativamente autnoma.

    No quarto subcaptulo analisaremos a chamada reconverso do Brasil e o novo

    subimperialismo. Marini tinha previsto que o subimperialismo poderia passar de uma fase de

    internacionalizao atravs a exportao de mercadorias para uma fase de internacionalizao

    atravs exportao de capitais. Entre estas fases que correspondem ao perodo da

    redemocratizao do Brasil, que Marini chamou de reconverso da economia brasileira, no

    Brasil surgiram empresas globais brasileiras integradas ao imperialismo, que voltaram ao

  • 19

    mercado externo, atravs a exportao de mercadorias, servios e capitais, sempre pelo

    problema estrutural da limitao do mercado interno. Portanto se pode falar de novo

    subimperialismo como categoria histrica de analise das contradies estruturais internas do

    Brasil, que so deslocadas no exterior atravs a reproduo de um modelo subimperialista.

    2.1 Dependncia e Imperialismo

    Mauro Marini, em Dialtica da Dependncia (1974), apresenta sua tese sobre as

    origens da dependncia da Amrica Latina, que similar s outras periferias do mundo, como

    a frica e sia, com as devidas diferenas histricas e socioeconmicas. Para Marini o Brasil

    apresentou desde sua integrao no mercado mundial capitalista, com as navegaes

    transocenicas, insuficincias, deformidades e contradies no seu modo de produo e na sua

    acumulao de capital, respeito aos pases centrais, fatores que impossibilitaram o

    desenvolvimento nos moldes autossustentados dos pases capitalistas centrais, apresentando

    portanto um subdesenvolvimento da sua economia e da sua sociedade.

    Marini (1974) define como relaes de dependncia as relaes entre naes

    formalmente independentes, nas quais os centros subordinam as periferias modificando as

    relaes de produo e recriando a dependncia de maneira ampliada. A dependncia na

    Amrica Latina se consolidou sobretudo com a reconfigurao das periferias na diviso

    internacional do trabalho, a partir de 1840, quando para as indstrias dos pases centrais, o

    Brasil e os outros pases da Amrica Latina, passaram a fornecer alm de produtos agrcolas,

    de ouro e de prata, tambm matrias primas. Os metais preciosos coadjuvaram a expanso do

    sistema bancrio, e os produtos agrcolas permitiram o rebaixamento do valor da reproduo

    social do trabalho e portanto o aumento da produtividade do trabalho que levou a revoluo

    industrial, neste perodo o Brasil se tornou formalmente independente politicamente de

    Portugal.

    Portanto a Amrica Latina aumentando a produo de matrias primas orientadas

    quase que exclusivamente para exportao e baseada na superexplorao intensiva e/o

    extensiva do trabalho, utilizando grande dotao de mo de obra negra e indgena escrava

    expropriada da terra, e sucessivamente fluxos migratrios europeus e internos, contribuiu para

    o deslocamento do eixo de acumulao produtiva industrial dos centros. Este deslocamento

    gerou uma grande especializao manufatureira que aumentou a quantidade e qualidade de

    mercadorias produzidas. Esta especializao passou a depender principalmente do aumento da

    capacidade produtiva do trabalho, atravs das inovaes tcnicas, que desvalorizam o valor

  • 20

    real da fora de trabalho, que da simples explorao do trabalho. (MARINI, 1974; MARTINS,

    2011)

    Em uma primeira fase de baixa penetrao do capital estrangeiro, os intercmbios

    eram baseados no valor e as altas taxas de lucros traziam investimentos estrangeiros, em

    carteira e diretos, excedentes nos centros, incluindo dos Estados Unidos da Amrica (EUA),

    ex-periferia, que se tornou um novo centro e comeou a exportar capitais para a explorao

    direta de produtos primrios agrcolas, petrleo e minrios, atravs da construo de

    infraestruturas, e atravs investimentos financeiros. Mas estas inverses deslocaram o

    intercambio do valor para o preo de produo levando a deteriorao dos termos de troca

    para as periferias, e a subsequente sistemtica reduo dos supervit comerciais e

    endividamento crescente. A ampliao sustentada e orgnica da economia capitalista central

    vinculou pela via cientifico tecnolgica os pases dependentes as tendncia econmicas do

    desenvolvimento capitalista, apropriando-se do valor produzido nessas sociedades,

    expandindo tambm as formas usurarias e comerciais de expropriao. (MARINI, 1974;

    MARTINS, 2011)

    Este intercambio desigual se explica, alm que pela esfera da circulao, o comercio

    exterior, tambm pela esfera da produo, na qual existem mecanismos de transferncias de

    valores intersetoriais internos, dos setores com menor produtividade do trabalho para os

    setores com maior produtividade do trabalho. Os pases avanados tecnologicamente elevam a

    composio orgnica do capital (capital constante/capital varivel=c/v), incorporando menos

    trabalho vivo (v), enquanto os pases dependentes incorporam mais trabalho vivo, no

    intercmbio de mercadorias entre estes pases, os pases dependentes que incorporam mais

    trabalho vivo e portanto um valor maior, pela atuao da lei de equalizao das taxas de lucro,

    transferem parte deste valor que apropriado pelos pases centrais. (LUCE, 2011)

    Enfim um outro mecanismo sistemtico de transferncia de valor derivado da

    exportao de capitais e nas consequentes remessas de lucros, juros, dividendos, patentes,

    royalties, assistncia tcnica, pratica de sobrepreos intrafirmas, deslocamento de capitais em

    regies mais rentveis, remessas que superam em valor as exportaes de capitais inicial.

    Estes recursos assim remetidos ao exterior deixam de ser reinvestidos na prpria produo, a

    este mecanismo se adiciona o recurso a endividamento externo e interno dos pases

    dependente, tramite instituies financeiras, que um mecanismo de reproduo da divida

    atravs do pagamento de juros e servios da divida. (MARINI, 1974; DOS SANTOS, 2011)

  • 21

    2.2 Superexplorao do trabalho

    O conceito de superexplorao do trabalho, foi desenvolvido por Marini, para

    descrever um tipo de explorao que leva a diminuio dos salrios abaixo do nvel de

    subsistncia. Este truncamento da lei do valor presente no campo desde a velha economia

    exportadora, nesta era determinada pela deteriorao dos termos de troca, motivada pela

    fixao dos preos de produo, e pela separao entre a esfera alta, o consumo das classes

    burguesas agrrias, e a esfera baixa de consumo que sustentava a fora de trabalho.

    (MARTINS, 2011)

    A superexplorao inerente acumulao capitalista e no Brasil foi ampliada ao

    setor industrial e urbano, quando estes passaram a ser o eixo da acumulao. A

    superexplorao caracterizada pelo aumento da intensidade do trabalho e/o pela prolongao

    da jornada de trabalho, em condies de excesso de mo de obra. A ampliao do valor da

    fora de trabalho que estes mecanismos geram no paga no seu montante necessrio para a

    reproduo social do trabalho, isso gera a diminuio da capacidade de consumo do

    trabalhador, portanto leva a remunerao do trabalhador abaixo do seu valor, transformando

    todo o trabalho adicional em fundo de acumulao do capital. (MARINI, 1974; MARTINS,

    2011)

    Nas economias dependentes a dinmica do processo de acumulao de capital parte da

    introduo por parte de um capitalista individual de um progresso tcnico, liderado pelos

    subsetores I b e II b (I b bens de capital para o setor II b bens sunturios) que aumentando a

    produtividade do trabalho, permitem reduzir o valor individual das mercadorias,

    possibilitando a gerao de mais produtos, portanto uma mais-valia extraordinria para este

    capitalista e uma queda da mais-valia e dos lucros dos outros capitalista. (MARTINS, 2011)

    Mas a generalizao do aumento da produtividade no interior do ramo aos outros

    concorrentes, expandindo a massa de produtos sem elevar a massa de valor, resulta em uma

    queda da massa de mais-valia do ramo, que poderia ser burlada estendendo e deslocando a

    mais-valia extraordinria do interior do ramo para as relaes intersetoriais. Isso

    desenvolvido atravs a fixao das mais-valia extraordinria nos ramos ligados ao consumo

    sunturio, consumo que precisa ser incentivado e subsidiado para ser valorizado em

    detrimento dos ramos dedicados ao consumo popular (Ia e IIa), ate atingir um novo ciclo de

    fixao de mais-valia extraordinria dos setores I b e II b. (MARTINS, 2011)

    Os capitalistas individuais dos subsetores desfavorecidos pela depresso das taxas de

    lucro, gerada pela apropriao de mais-valia dos capitalistas individuais dos subsetores

  • 22

    favorecidos, buscam reapropriar-se da mais-valia perdida pela concorrncia, fixando os preos

    dos salrios abaixo de seu valor. Portanto a superexplorao do trabalho no um rastro de

    formas pr-capitalsticas de explorao, mas inerente a acumulao capitalista e se expande

    com a evoluo tecnolgico cientifica e o desenvolvimento das foras produtivas do trabalho.

    O predomnio da maior explorao do trabalho sobre a maior fora produtiva do trabalho, em

    uma economia dependente respeito a uma economia central, corresponde a superexplorao

    do trabalho. (MARTINS, 2011)

    As inovaes tecnolgicas introduzidas nos pases centrais no espao da circulao,

    nos setores de composio orgnica mais elevada, os bens sunturios, estimularam um

    crescimento da produtividade e uma depreciao das mercadorias nos setores de composio

    orgnica inferior, os bens-salrios, criando a base para um mercado interno extenso e para que

    a indstria de bens de capital alavancasse a industrializao. Mas os pases dependentes

    integrando-se ao mercado mundial com grandes desnveis tecnolgicos e sujeitos a lei

    tendencial de equalizao das taxas de lucro, no podem sustentar as mesmas dinmicas

    virtuosas dos centros. Portanto pela falta de gerao endgena de progresso tcnico recorrero

    a superexplorao do trabalho aumentando a produo de excedente como forma de

    compensar a perda de mais-valia. Assim os pases centrais concentram as inovaes

    tecnolgicas nos sistemas produtivos que permitem a acumulao autossustentada enquanto

    os pases dependentes integrando-se na diviso internacional do trabalho oferecem as matrias

    primas e mercadorias com menor avano tecnolgico para a especializao dos centros.

    (MARINI, 2000; CARCANHOLO & AMARAL, 2011; MARTINS, 2011)

    2.3 Extenso da superexplorao aos pases centrais.

    A superexplorao do trabalho se aprofundou no mundo com o avano do capitalismo

    e se estendeu aos prprios pases centrais, como Marini tinha percebido nos seus ltimos

    escritos. Segundo Martins (2011) nesta extenso so responsveis s empresas globais,

    geralmente oligoplios transacionais, que podem terceirizar e fragmentar varias fazes da

    produo, concentradoras das inovaes tecnolgicas. Monopolsticas nos seus prprios

    mercados nacionais, produzem as mercadorias com maior valor agregado e deslocam a

    produo em escala mundial das partes com menor valor agregado, aumentando portanto o

    desemprego nos pases centrais nos setores que empregam fora de trabalho em grande

    escalas. So capazes de produzir para qualquer mercado do mundo, tornando obsoletas as

    pequenas e medias empresas nacionais dos pases centrais, que portanto recorrem a

  • 23

    superexplorao do trabalho. As empresas globais podem deslocar-se nas periferias ou

    semiperiferias para superexplorar o trabalho, podem produzir mais perto dos mercados

    consumidores dos centros e para fazer isso se servem tambm dos migrantes do Sul do

    mundo, em uma fase de desregulamentao e de precarizao mundial do trabalho por parte

    do capital.

    Fontes (2011), acrescenta novas formas peculiares do truncamento da lei do valor, que

    leva a superexplorao do trabalho. O bloqueio poltico da difuso inter-regional e inter-

    estadual das conquistas dos trabalhadores, rende mais agudas as divises e a concorrncia

    entre os trabalhadores enquanto nacionaliza os direitos de superexplorao dos capitalistas.

    Fontes considera importante, alm do consumo do mercado interno de bens necessrios, a

    expropriao do prprio contrato de trabalho e a expropriao massiva da populao do

    campo, que impede o rende difcil prpria reproduo da subsistncia, obrigando as

    populaes a compra do conjunto destes bens necessrios, antes supridos como direitos, mas

    tambm os obriga a compra de bens expropriados ou oferecidos de forma inadequadas, como

    educao e sade. A extino o mitigao das aposentadorias e a transformao de parte do

    salrio em fundo de acumulao do capital, atravs os fundos de penso, uma forma de

    superexplorao, assim como a contratao de planos de sade para suprir a este direito.

    Segundo Virgnia Fontes, a superexplorao do trabalho e o subimperialismo, assim

    como definidos por Marini, foram um fenmeno da dcada de 60, que se modificou j na

    dcada de 70, pelo fomento ao desenvolvimento do sistema financeiro brasileiro atravs o

    credito ao consumo e a substituio de importaes que modificaram o mercado interno.

    Entretanto Fontes parece no perceber que a superexplorao permanece predominante e se

    aprofunda nas periferias, seja no campo, nas lavouras do agronegcio, como nas indstrias

    das cidades. Os juros do credito ao consumo no Brasil ainda so entre os mais altos do

    mundo, proporcionando altssimos lucros as instituies financeiras mas tambm alta

    inadimplncia, que refora a justificao pelos juros altos. Os produtos importados no Brasil

    so entre os mais caros do mundo, diminuindo o poder de compra das classes subordinadas,

    alm de desindustrializar o pais, e portanto aumentar o desemprego, que no absorvido pelo

    agronegcio.

    O problema da desarticulao e do achatamento do mercado interno ainda

    fundamental, no Brasil os salrios mnimos so proporcionalmente quatro vezes mais baixos

    que na dcada de 40, (SOUZA, 2008), como mostram dados1 de 2012 do Departamento

    Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos (DIEESE). Embora houve uma

    1 http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml

  • 24

    ampliao do mercado interno e uma diminuio das desigualdades, se aplicam polticas de

    reduo da pobreza desenvolvidas pelo Banco Mundial, focalizadas em grupos sociais

    restritos, que servem como compensaes, mas falta o enfrentamento da reproduo estrutural

    das desigualdades, das excluses sociais e da dependncia, que portanto aumentaram.

    (GONALVES & FILGUEIRAS, 2007)

    2.4 Subimperialismo

    Na fase de industrializao da economia brasileira por substituio de importaes, do

    comeo do sculo XX ate 1950, o Estado transferia recursos do setor exportador para a

    indstria, mas a crise do setor agroexportador cafeeiro aumentou o excedente de mo de obra,

    pressionando os salrios para baixo, e os trabalhadores foram integrados nas indstrias, que

    aumentaram sua produtividade e intensificaram a explorao do trabalho. (MARTINS, 2011)

    As indstrias brasileiras usufruram das crise das duas guerras mundiais, ampliando o

    mercado de produtos industriais interno a favor do setor de bens sunturios, tendo um

    mercado interno ainda no saturado, e importando alguns bens de capital que se tornaram

    mais baratos. Participando na Segunda Guerra Mundial ao lado dos EUA, permitiram que

    estes ocupassem o Norte da frica, partindo de uma base militar no Nordeste brasileiro, e

    negociaram em troca a oportunidade, sendo o pais rico em mineiros de ferro, de receber como

    meio de produo uma siderrgica. Esta tinha se tornado obsoleta nos centros, pelo aumento

    da velocidade de rotao do capital fixo, levando a criao da Companhia Siderrgica

    Nacional (CSN), possibilitando uma nova fase de industrializao no Brasil, depois das duas

    guerras mundiais. (MOURA, 1991)

    Mas a integrao do ps-guerra foi desigual, os EUA restabeleceram a funcionalidade

    dos centros capitalistas europeus e japons, que se especializaram em indstria de alta

    tecnologia, como a qumica e a eletrnica, enquanto as periferias forneciam matrias primas e

    produtos agrcolas. Mas nesta integrao s alguns pases perifricos, receberam capitais para

    instalar indstrias de bens durveis, para o consumo das classes altas da sociedade. Esta

    internacionalizao foi fruto das contradies do imperialismo e da necessidade de

    deslocamento destas na periferia, para suprir a queda da taxa de lucro, provocada pelos

    aumentos dos salrios nos centros, conquistados pelas lutas operarias, e pela equalizao da

    taxa de retorno entre monoplios concorrentes, que assim podiam voltar a ter lucros

    extraordinrios. (DOS SANTOS, 2011).

    Nas dcadas de 50 e 70, esta nova fase se consolidou com os IED ao Brasil, sob a

  • 25

    forma de plantas de multinacionais ou de maquinas e equipamentos obsoletos nos centros

    porm de ponta no Brasil. (BUENO & SEABRE, 2009).

    A internacionalizao do capital monopolista das multinacionais e a integrao

    financeira, ao mesmo tempo aumentavam a centralizao, concentrao e conglomerao das

    multinacionais e os investimentos que foram direcionados de forma extrema na indstria de

    bens sunturios interna, fizeram aumentar a composio orgnica media deste setor no Brasil.

    (DOS SANTOS, 2011)

    O grande capital brasileiros que precocemente acedeu etapa do monoplio e do

    capital financeiro com tecnologia estrangeira, captou na fase de expanso a mais-valia

    intersetorial e fazendo recurso as novas tecnologias reduziu os custos de produo com

    relao ao setor de bens necessrios e a pequena e media empresa. Estes setores com baixo

    dinamismo tecnolgico, alm de atraso inter-estatal e inter-regional, recorreram a

    superexplorao do trabalho para preservar suas taxas de lucro e de mais-valia, se servindo do

    aumento do excedente de mo de obra a disposio pelo aumento da produtividade do

    trabalho na grande indstria monopolstica. Mas como a maioria da fora de trabalho era

    empregada pela pequena e media empresa o rebaixamento dos salrios abaixo do valor foi

    estendido ao conjunto do 'mercado do trabalho', portanto a superexplorao do trabalho

    beneficiou tambm o capital monopolstico. (MARTINS, 2011)

    Mas a indstria de bens sunturios, em condies de superexplorao do trabalho,

    apresentou limites de manuteno da taxa de mais-valia pelo lado da demanda. Para resolver o

    problema de realizao do excedente econmico, devido ao achatamento do mercado interno,

    no Brasil, se utilizaram os gastos pblicos e da maquina burocrtica, o financiamento para a

    produo e o consumo e principalmente a exportao de mercadorias e de capitais, tambm

    para o controle de matrias-primas e fontes de energia no exterior, enquanto atravs da

    inflao e do arrojo salarial se permitia a transferncia de valor das camadas inferiores para as

    camadas superiores, ou seja, uma distribuio regressiva da riqueza que gerava uma enorme

    concentrao de renda. (MARINI, 1974)

    O capitalismo industrial brasileiro e o Estado tecnocrtico militar rebaixaram ainda

    mais o valor dos salrio indiscriminadamente. Sucessivamente, para alargar o mercado para os

    bens sunturios foi feita uma tentativa de populariz-los, produzindo verses bsicas destes

    produtos, consumidas pelas nascentes classes medias da burocracia estatal e dos executivos

    empresariais, que consumiam parte da mais-valia gerada pela superexplorao do trabalho.

    Porm ao mesmo tempo no foram universalizadas a educao e os servios e

    infraestruturas bsicas, prprio quando o Brasil passava a ter um xodo rural, portanto a

  • 26

    urbanizao se deu sem planejamento. (MARINI, 1974)

    Ademais, no podendo o Brasil aumentar a capacidade produtiva do trabalho nos

    moldes dos centros, tentando reproduzir o modelo econmico destes, precisou importar

    matrias primas, intermedirios, manufaturados e equipamentos com tecnologia estrangeira.

    Aumentaram assim os investimentos direto de capitais na indstria principalmente

    estadunidenses, mas tambm europeus e japoneses, alargando a dependncia tecnolgica e a

    desnacionalizao da economia brasileira, atravs a extenso do controle econmico e

    tecnolgico pelos grandes oligoplios internacionais dos setores chaves da economia.

    (MARINI, 1974)

    Estas contradies do capitalismo geraram dilemas de realizao para os pases

    perifricos e semiperifricos, porque estes pases no podiam proteger e expandir o mercado

    interno sem diminuir as prprias vantagens comparativas em termos de salrios respeito aos

    centros, baseada na superexplorao do trabalho, que gerava uma mais-valia extraordinria

    que em parte era apropriada pelos centros. Portanto entraram em atrito com os centros para

    questes de protecionismo e cambio. Os pequenos e mdios empresrios se beneficiariam da

    expanso do mercado interno, mas este era impossvel sem aumentar os salrios e os

    trabalhadores que pretendiam aumentos salariais e maior poder de compra, tinham suas

    revindicaes sufocadas. (CARLSSON, 1982)

    Este um clssico dilema do capitalismo, a acumulao capitalista necessita diminuir

    os salrios para minimizar seus custos fixos de produo, mas necessita tambm de aumentar

    os salrios para criar demanda interna para seus produtos. Mas para os pases dependentes

    este dilema radicalizado, porque as massas so desprovidas do poder de compra da produo

    interna de bens sunturios e esta no pode ser realizada s pela demanda das classes altas e

    medias internas, porque altamente concentrada. Portanto realizada na exportao para o

    mercado externo com a mesma caractersticas de renda, gerando uma economia extrovertida

    que depende dos mercados consumidores externos e que portanto no se desenvolve de

    maneira madura, alm de ser exposta as crises do mercado externo.

    Este modelo dependente, alm de necessitar de explorar os recursos naturais e

    energticos das periferias, para fornecer as industrias dos insumos industriais e agrcolas,

    necessrios a sustentao da sua extroverso, precisou diversificar mercados de exportao e

    importao, atravs relaes Sul-Sul com novos parceiros comerciais, porque encontrava

    restries entrada nos pases centrais que visavam preservao da prpria produo interna

    em simbiose com o crescimento do poder de compra dos seus trabalhadores assalariado. Mas

    estas restries eram impostas tambm as periferias que eram inundadas de produtos

  • 27

    manufaturados industrializados, dos centros e das prprias semiperiferias. Este processo

    bloqueava o processo de industrializao autnoma das periferias e aprofundava a

    dependncia destes pases para com a exportao de produtos agrominerais.

    Ademais, as polticas de desenvolvimento autnomo, para render o mercado interno

    mais dinmico, precisavam aumentar os salrios para fazer crescer o consumo e gerar uma

    expanso mais que proporcional da indstria de bens de consumo em relao indstria de

    bens de capitais, para render a primeira um mercado dinmico para a segunda, mas uma

    interveno estatal de longo prazo para reduzir o ritmo da acumulao para futuros

    desenvolvimentos, andava contra os interesses do capital em intensificar a acumulao no

    curto prazo. (MARINI, 1974)

    E enquanto as indstria de bens durveis cresciam a taxas elevadas, as indstrias de

    bens tradicionais, entravam em crise pelo baixo consumo das grandes camadas inferiores, que

    sendo expulsadas dos campos e das florestas, e sem poder ser integrada nas industrias de bens

    durveis, mais intensiva em capital que em trabalho, formava uma grande massa semi-

    proletria, que no era absorvida nem pelo setor de servios e vivia nos grandes subrbios

    brasileiros. (MARINI, 1974)

    Este exrcito de reservas de trabalhadores semi-proletarizados superexplorados, alm

    de rebaixar os salrios, subsidiavam a reproduo capitalista atravs da autoexplorao pelo

    trabalho no pago, atravs de uma infinidades de atividades e servios informais. Ademais o

    capitalismo brasileiro recorreu sistematicamente mo de obra infanto-juvenil, e de mulheres

    negras pagando a um salrio mais baixos que aos homens adultos na mesma funo. Os

    negros so ainda os mais afetados pelo desemprego e baixos salrios porque discriminados

    socialmente alm que pela baixa qualificao, (DIEESE2), espelho de um sistema educacional

    socialmente e racialmente discriminatrio, com baixa qualidade de ensino e das

    infraestruturas, com um rendimento educacional que trava o crescimento brasileiro, alm de

    transferir recursos pblicos para as o setor educacional privado e que dificilmente podem ser

    revertido por polticas de cotas raciais e sociais e polticas focalizadas sobretudo na

    erradicao da pobreza extrema3, sem enfrentar os problemas estruturais da economia.

    (MARTINS 2011).

    2 http://www.dieese.org.br/esp/estudos_negro.xml 3 Por pobreza extrema se entende uma renda per capita ate um quarto de salrio mnimo, por pobreza se entende ate um salrio mnimo, parte da reduo da pobreza, de 44, 2% em 2003, para 33% em 2008, se explica pela diminuio da fecundidade, o aumento da participao da mulher no mercado de trabalho, o envelhecimento da populao e a consequente contratao de idosos com maior valorizao da fora de trabalho e a migrao do campo para a cidade, com empregos com maior intensidade do trabalho e maior qualificao mas com poder aquisitivo que proporcionalmente cresceu menos (MARTINS, 2011)

  • 28

    A superexplorao do trabalho e a autoexplorao do trabalho so indicadores do

    aumento da mortalidade infantil e do desgaste prematuro dos trabalhadores, que combinadas a

    uma piora nas condies habitacionais, de sade, educao e alimentao, e a uma enorme

    concentrao de renda, que as polticas sociais dos governos de Lula e Rousseff no esto

    revertendo, so as caractersticas estruturais do modelo brasileiro. (SOUZA, 2008)

    A partir do final da dcada de 70, a esta dinmica interna ao Brasil, que Marini

    chamou de subimperialista, se sobrepem uma simultnea e mais intensa internacionalizao

    e concentrao de capitais e mercadorias. A revoluo tecnolgico cientifica da

    microeletrnica permitiu ao capital reestruturar a acumulao. Necessitando de ampla

    mobilidade de capitais e mercadorias, pelos altos custos da produo intensiva em capitais.

    Foi internacionalizado o trabalho coletivo criando estruturas produtivas homogeneizadas em

    escala global que reduziram o trabalho industrial manual. Os oligoplios dos centros

    concentraram as atividades de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e novas

    tecnologias, se servindo de universidades e centros de pesquisas avanados, enquanto a

    produo direta foi espalhada pelo mundo nas suas partes e componentes. A concepo dos

    produtos, o design e as campanhas de venda e os benefcios maiores da comercializao

    foram concentrados pelos oligoplios financeirizados, que transferem altos valores do setor

    produtivo para a esfera financeira e especulativa. (MARTINS, 2011)

    Este processo de concentrao foi acompanhado nas dcadas de 70 e 80 pela

    centralizao de capitais das periferias em recesso e com altos dficit em conta corrente para

    os centros via juros da divida externa. As periferias foram obrigadas a paralisia do

    desenvolvimento do setor de bens de capital via substituio de importaes e a gerar altos

    supervit comerciais aprofundando a superexplorao do trabalho. J na dcada de 90 no

    Brasil, atravs a abertura econmica, sobrevalorizao cambial com formao de grandes

    reservas, facilitadas pela baixa dos juros internacionais e renegociao da divida que foi

    deslocada internamente, a economia foi privatiza e desnacionalizada, e foi reconvertida e

    orientada a exportao, sobretudo de commodities mas tambm de outras mercadorias com

    baixo ou mdio valor agregado para reduzir os dficit estruturais na balana de pagamento.

    (MARTINS, 2011)

    Se nas dcadas de 50 e 70, a superexplorao era suavizada transferindo a demanda

    dos setores menos intensivos em tecnologia para os setores mais intensivos, nas dcadas de 80

    e 90, a reconverso dos setores mais intensivo nos espaos de circulao de mercadorias

    controlados pelos oligoplios dos centros, com constantes inovaes e liberalizaes

    comerciais e alta dos juros, levou a composio orgnica destes setores a valores inferiores a

  • 29

    media, estes setores portanto passaram a sofrer perdas de mais-valia, aumentando o

    desemprego e a superexplorao. (MARTINS, 2011)

    A partir de 2003, a reverso na deteriorao dos termos de troca, pela alta demanda

    sobretudo da China e da ndia, aumentou os preos dos produtos primrios brasileiros,

    sobretudo soja e mineiro de ferro, aumentando as reserva internacionais do Brasil, a estas

    novas entradas se juntaram as remessas de lucro do exterior dos migrantes brasileiros.

    (MARTINS, 2011)

    Os governos de centro-esquerda surgidos na onda de insatisfao com as polticas

    neoliberais e ajudados pela conjuntura econmica favorvel, implementaram algumas formas

    de democracia participativas, de desenvolvimento do mercado interno para consumo popular

    e de transferncia de renda para as camadas mais pobres, mas aprofundaram os fundamentos

    das polticas econmicas neoliberais antecedentes. (MARTINS, 2011)

    As crises recentes nos EUA e depois na Europa a partir de 2008, esto desacelerando a

    demanda chinesa pelos produtos primrios que alias apresentam tendncias seculares a

    redues significativas que rendero insustentveis as polticas econmicas do Brasil,

    reduzindo as possibilidades de complementaridade interna entre os interesses da oligarquia

    financeira brasileira e a expanso do consumo interno que na base do modelo do governo de

    Lula e de Rousseff. (MARTINS, 2011)

    Porm ao mesmo tempo estamos assistindo a expanso das empresas de pases do Sul,

    que mantm altas reservas internacionais como China, ndia e Brasil e compraram algumas

    empresas do Norte, se servindo de bancos nacionais de desenvolvimento, como o BNDES no

    Brasil, mas esta expanso ainda muito pequena em comparao a penetrao do capital

    internacional nestes mesmos pases.

    2.5 Cooperao antagnica: poltica expansionista relativamente autnoma.

    A integrao do Brasil ao imperialismo e sua industrializao tinha gerado

    contradies e conflitos internos e externos, sobre cambio, tributao e remessas de lucro, e

    sobre reformas de base para o alargamento do mercado interno. Houve um aumento da

    complexidade das relaes sociais entre as classes internas e externas, e entre fraes

    brasileiras e estrangeiras que produziam para o mercado interno ou externo, e em relao aos

    conflitos com a classe trabalhadora, os camponeses e a pequena burguesia. A radicalizao

    destas contradies, que seguia o andamento das crise mundiais e das crises conjunturais

    levou a uma nova sntese da dialtica entre cooperao e antagonismo, que levou a uma maior

  • 30

    integrao ao imperialismo.

    Associando-se e integrado-se ao imperialismo, depois do golpe de 64, o Brasil

    reconciliava o bloco dominante e reconstitua uma complementaridade entre burguesia

    industrial e agrria, mas o desenvolvimento brasileiro no seria mais autnomo, no

    resolveria as contradies que a concentrao fundiria gerava. A burguesia aceitava as

    divisas estrangeiras necessrias superao da crise mas concedia em troca liberdade ampla

    de entrada e ao ao capital estrangeiro. Por sua parte os militares reforaram o papel

    intervencionista do Estado atravs s burocracias estatais (ao contrario do Chile e da

    Argentina) que tinham sido implementadas por Vargas, e tambm reforaram e geriram os

    negcios das empresas estatais, como a Petrobras e deram novas funes ao BNDE.

    (MARINI, 1974; CRUZ & MORAES, 2011)

    Os militares no campo faziam penetrar compulsoriamente a chamada 'revoluo verde'

    com mecanizao e agroqumica, para a produo de soia em combinao a gado no Cerrado

    brasileiro. A burguesia oligrquica agrria agora era mais 'moderna' e agressiva, ligada a

    capitais nacionais e estrangeiros de setores urbanos industriais, bancrios e das medias. As

    polticas agrrias de avano da fronteira agrcola, expropriaram os agricultores dos campos e

    aumentaram ainda mais a concentrao agrria, gerando grandes conflitos sociais que levaram

    ao surgimento de movimentos de agricultores sem terra em meados dos anos 80. (MARINI,

    1974; CRUZ & MORAES, 2011)

    O regime tecnocrtico-militar levaria adiante este modelo, que resolveu

    momentaneamente a crise de realizao do capital no consumo sunturio, na demanda estatal

    e no mercado externo, subsidiando as exportaes de mercadorias, reprimindo as

    revindicaes das massas e superexplorando o trabalho para compensar a parcela de mais-

    valia apropriada pela burguesia dos pases imperialistas Possibilitando para o capital lucros

    extraordinrios, este modelo de acumulao inaugura o fenmeno histrico e dialtico do

    subimperialismo brasileiro. (MARINI, 1974)

    Mas a expanso da economia nos mercado externos, subordinada aos interesses dos

    monoplios internacionais, permitia a participao destes no aprofundamento da

    superexplorao do trabalho, mas dependia da capacidade competitiva da fraca burguesia

    brasileira nos mercados externos, e portanto do apoio do Estado para suprir a assimetria das

    empresas nas negociaes com as corporaes dos pases centrais. (DOS SANTOS, 2011)

    A cooperao antagnica se manifestou no plano externo com uma poltica

    expansionista relativamente autnoma, uma poltica que aceitou a dominao imperialista

    mundial, mas procurou uma esfera de influencia prpria relativamente autnoma na Amrica

  • 31

    Latina, Caribe e frica. Atravs esta esfera de influencia o Brasil pretendia ter acesso a

    recursos naturais e energticos, mercados consumidores e investimentos diretos de capitais,

    para criar indstrias nestas regies, na maioria das vezes cooperando com o imperialismo,

    mas podendo chegar postura antagnica sobre algum assuntos, visando obter ganhos

    relativos. (MARINI, 1974 ; LUCE, 2007)

    A ditadura militar, no governo Castelo Branco, atuou em harmonia com as

    modificaes da economia mundial na qual aumentou a concorrncia por mercados e

    investimentos entre os centros, e iniciou a fase da predominncia dos fluxos financeiros sobre

    os investimentos diretos. As corporaes multinacionais cresceram enormemente nesta fase

    juntamente a disponibilidade de dlares nas mos dos bancos privados, pelos contnuos dficit

    na balana de pagamentos estadunidense. Assim no Brasil enquanto cresceram as exportaes

    aumentaram tambm muito os emprstimos financeiros mas em proporo os investimentos

    diretos cresceram fracamente, gerando crises internas. (MARINI, 1992)

    J a partir do governo Costa e Silva do perodo da ditadura militar a burguesia

    brasileira, em posio subordinada na diviso internacional do trabalho, revindicou melhores

    preos para os produtos exportados, a possibilidade de industrializar matrias primas agro-

    minerais que eram exportadas em forma bruta, e a ampliao do mercado dos pases

    dominantes para os produtos manufaturados nos pases dependentes, estas pretenses

    levariam a atritos entre centros e periferias, e receios dos pases centrais para com a possvel

    concorrncia adicional dos pases perifricos. (DOS SANTOS, 2011)

    Em 1967 as exportaes receberam incentivos fiscais, que chegaram a dispensa de

    pagamentos fiscais e tarifrios, subsdios fiscais e aberturas de linhas de crdito. O ano

    seguinte o cmbio foi desvalorizado para ajudar as exportaes, os preos chegaram a ser

    50% menores respeito ao mercado brasileiros. (DE SANTANA, 2004)

    A partir de 68, no segundo golpe da grande burguesia industrial-financeira, atravs do

    Ato Institucional numero 5 (AI5), o Brasil passa de uma poltica liberal a uma poltica neo-

    mercantil e protecionista para aumentar as exportaes de manufaturados nacionais e das

    empresas estrangeiras e impor esta poltica as outras fraes da burguesia e aos trabalhadores.

    Mas embora uma serie de medida para reduzir as tarifas de importao que o modelo

    industrial exportador requeria e subsdios diretos ao capital privado para exportao, o dficit

    comercial superou o valor das exportaes e a divida externa disparou, situao agravada pela

    primeira crise petrolfera de 1972. (MARINI, 1992)

    A dominao imperialista deveria passar pela transferncias de capitais nas periferias,

    elevando a composio orgnica media do capital, e criando novas semiperiferias econmicas

  • 32

    que poderia levar tambm no nvel estatal a certa autonomia poltica. Surgia assim um

    confronto dialtico com pases capazes de poder exercer certo protagonismo regional, como o

    Brasil. Entretanto as dinmicas de desenvolvimento externo, sem resolver os dilemas internos

    mediante reformulao profunda das condies geradoras da dependncia, entrariam em

    contradio crescente com a condio de dependncia e subordinao necessria ao

    imperialismo e com as revindicaes e as lutas das classes trabalhadoras contra o aumento da

    explorao e das expropriaes das terras. (DOS SANTOS, 2011)

    Doutro lado a internacionalizao de empresas brasileiras e indiretamente estrangeiras

    e a expanso interna ao Brasil destas para a explorao de fontes de matrias primas (com as

    infraestruturas anexas), sem resolver com reformas estruturais as contradies internas,

    renderiam estas mais agudas, na medida em que aumentariam as lutas dos trabalhadores

    superexplorados das periferias. (DOS SANTOS, 2011)

    O fracasso da iluso de um desenvolvimento independente que a integrao e

    associao do capital brasileiro ao capital interacional deveria estabelecer, alm de levar a

    pagar preos mais altos pelos bens manufaturados, e o subsequente protecionismo, que

    aumentou a inflao, levou a atritos do Brasil com o imperialismo. Atritos que levaram ao

    bloqueio da tentativa brasileira de exportar caf solvel, produo monopolizada pelos

    centros, a denuncia do Tratado militar EUA-Brasil, a no assinatura do Tratado sobre no

    proliferao e armas nucleares (TNP) e ao projeto nuclear contrariando os EUA porque

    envolvia uma parceria com a Alemanha e, ameaas de calotes da divida externa, a procura de

    mercados nos pases socialistas, (DOS SANTOS, 2011) e na frica, a tentativa de unificar as

    revindicaes dos pases do Terceiro Mundo e dos pases no alinhados, a venda de armas a

    pases considerados inimigos dos EUA, como a Lbia, a oposio contra regimes racistas

    como Israel e frica do Sul, aliados dos EUA, e o reconhecimento do Brasil, primeiro entre

    todos os pases, dos governos socialistas4 de Angola Moambique e Guine Bissau. (DE

    SANTANA, 2004)

    J a segunda crise petrolfera em 1979, foi em parte contornada pelo mecanismo do

    countertrade, o Brasil importava o precioso petrleo da Nigria e de Angola, petrleo leve, de

    fcil refinao e baixo contedo de sulfo, em troca de produtos manufaturados, (DE

    SANTANA, 2004).

    4 No Brasil a policia perseguia, torturava e matava militantes de esquerda anti-imperialistas, e em Angola, Moambique e Guinea Bissau pases socialistas o Brasil apoiava projetos de construo da nao nos quais participavam alguns destes militantes exilados brasileiros, juntamente a cubanos, estas contradies geraram conflitos com as correntes anticomunistas dos militares brasileiros e com os setores politicamente de esquerda no Brasil como na frica. (DAVILA, 2011)

  • 33

    Mas o aumento da taxa Libor5 do dlar de 9,4% em 1978 para 19,5% em 1980, fez

    disparar a divida e os servios desta, as divisas foram liquidadas e o pais recebeu moratria do

    Fundo Monetrio Internacional (FMI), que o obrigava a ter elevados saldos comerciais para

    pagar os emprstimos, e a reduzir as importaes e aumentar as exportaes, isso no

    permitiu a inovao do parque produtivo e tecnolgico e o crescimento despencou. (MARINI,

    1992)

    2.6 A reconverso e o novo subimperialismo

    Nas dcada de 60 e 70, a politica externa de contra-insurgncia, proclamada pela

    doutrina da segurana nacional estadunidense, para a conteno da ameaa comunista,

    permitiu a ditadura militar brasileira, atravs da poltica externa de cooperao antagnica,

    colaborar com as estratgias estadunidense de estabilizao geopoltica das tentativas de

    autonomia com relao ao EUA de alguns paises latino-americanos (Cuba, Chile, Argentina,

    Santo Domingo, Nicargua, etc.), e explorar o povo brasileiro e os povos vizinhos, tendo uma

    postura antagnica para barganhar uma relao mais favorvel na dependncia, com a criao

    de uma esfera de influencia, poltica e econmica, na Amrica Latina e na frica, que

    caracterizam a dinmica subimperialista. (MARINI, 1985)

    Bueno e Seabra (2009) analisam as dinmicas histricas que levaram ao novo

    subimperialismo. A aliana com o imperialismo mudou na dcada de 80. A esta mudana

    contriburam as novas diretrizes da poltica externa dos EUA que atravs o discurso dos

    direitos humanos pretendia se livrar das ditaduras que eram instveis e com pretenses de

    autonomia que impossibilitavam a reorganizao de uma nova diviso internacional do

    trabalho.

    Surgiram neste processo trs novas fraes na grande burguesia. Uma primeira frao

    ligada s novas tecnologias da informao e telecomunicaes, com carter dinmico e

    moderno, que apoiou a eleio de Collor, se beneficiaria com a reconverso produtiva que iria

    modernizar o parque industrial e com a maior abertura econmica e financeira, com as

    relativas reformas jurdico-institucionais de reforma do Estado. Por que isso lhe

    proporcionaria a possibilidade de se vincular tecnologicamente e financeiramente com o

    exterior e assim poder negociar sob melhores condies com as corporaes monopolistas

    gigantes para a diviso do mercado interno.

    A segunda frao, que entra em conflito com a primeira ligada aos setores industriais 5 London Inter-Bank Offered Rate, a taxa de juros de referncia para as finanas internacionais.

  • 34

    tradicionais, mais numerosa e forte politicamente. Esta se de um lado contrasta a reconverso

    uma vez que a obrigaria a modernizar-se e competir comercialmente, entende que necessita de

    uma unidade entre os grupos que a compem para melhor negociar com os centros

    imperialistas. Enfim a terceira frao, ligada produo agro-mineraria, se alia a frao

    moderna, porque especificadamente interessada na ampliao das exportaes e na abertura

    externa.

    Na dcada de 90, a reconverso sob as diretrizes do Consenso de Washington,

    contribui para o aglutinamento de duas novas fraes na burguesia, uma ligada ao mercado

    financeiro atravs emprstimos externos e investimentos no exterior, a segunda ligada ao

    aprofundamento do processo de privatizao dos servios pblicos, educao, sade, planos

    de previdncia, segurana privada, ou seja dos setores de servios. Juntamente a este processo

    de privatizao se assiste a alienao de empresas publicas pelo Plano Nacional de

    Desestatizao (PND) de Cardoso e se assiste a uma forte concentrao do capital industrial e

    ao surgimento de empresas brasileiras que se tornaro global players.

    Portanto, nestas dcadas as determinaes de uma dinmica subimperialista

    dialeticamente seguiram as mudanas de estratgias imperialistas que levou a novas

    configuraes no bloco dominante, que se associou ao imperialismo para extrair mais-valia

    nos novos espao econmico internos e no tinha interesse nesta fase no mercado externo.

    Mas esta fase mudara a partir de 2000, com o surgimento de uma nova frao que retoma o

    interesse no mercado externo, no somente pela explorao do trabalho e mercado interno

    pouco dinmico mas tambm pela escassez de oportunidade de financiamento e investimentos

    pblicos no mercado interno, que era uma das sadas adotadas pelo subimperialismo. Mas

    desta vez no mais s na esfera da circulao de mercadorias, mas na esfera da produo e do

    financiamento, com exportao de capitais. Em forma de investimentos diretos e polticas de

    incentivo a internacionalizao das empresas que so objetivos do Fundo Soberano do Brasil

    e do BNDES, com linhas de crditos especificas para exportao de capitais. Exportao

    impulsionada pela mudana legal do estatuto do BNDES, para vincular as exportaes

    contratao de exportadores de bens de capitais e mercadorias brasileiras, na mudana do

    estatuto da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA) para poder exportar e

    ter certa autonomia no exterior, e na atuao de fundos de investimentos6 brasileiros no

    exterior. Este novo subimperialismo, retoma necessariamente a postura de cooperao

    antagnica na poltica externa com relao ao imperialismo.

    6 Regulamentao da atuao de Fundos de Investimentos brasileiros no exterior pela Instruo da Comisso de Valores Imobilirios n. 450, de 30 de maro de 2007 (BUENO, 2008)

  • 35

    Dados sobre a internacionalizao das empresas brasileiras, mostram que o fluxo do

    IED brasileiro era de US$ 4,06 bilhes na dcada de 1980, US$ 67,01 bilhes na dcada de

    1990 e US$ 112,01 bilhes na dcada de 2000, portanto cresceu muito nas ultimas dcadas e

    ainda mais na ultima dcada. Entre 2001 (US$ 68,6 bilhes) e 2006 (US$ 152,2 bilhes), nos

    estoques de investimento temos 75% de investimentos diretos e 65% dirigidos participao

    em mais de 10% das aes de companhias no exterior e sob forma de depsitos em moeda,

    nos centros financeiros de Nova Iorque e Londres, e outra parte elevada com destino

    geogrfico nos parasos fiscais caribenhos, que atravs de holdings so investidos no resto do

    mundo diminuindo custos de transao. Portanto o capitalismo brasileiro esta exportando

    capitais mas tambm bastante financeirizado. (BUENO, 2008)

    O novo subimperialismo brasileiro na Amrica Latina aumentou a superexplorao do

    trabalho e as transferncias de valor, das periferias para os centros. Os mega projetos de

    infraestruturas do IIRSA (Initiative for the Integration of the Regional Infrastructure of South

    Amrica), esto integrando os territrios do continente para a explorao dos recursos naturais

    a beneficio dos oligoplios dos pases centrais e de algumas grandes empresas brasileiras.

    (LUCE, 2007)

    Aumentam assim os conflitos por terra, direito ao trabalho e direitos humanos nos

    campos, nas comunidades indgenas e nas cidades, envolvendo a burguesia agrria e industrial

    brasileira, empresas oligopolistas estrangeiras e hedge funds dos pases centrais. Nos

    latifndios agroindustriais brasileiros, do Paraguai e da Bolvia, conflitos com a Petrobras na

    Bolvia e com a Odebrecht no Equador, e nos canteiros das obras no Brasil. Estes conflitos

    agora esto sendo deslocados e reproduzidos na frica, conflitos da empresa Vale em Guin e

    Moambique, da Odebrecht e Camargo e Corra em Moambique e do agronegcio na Africa.

    Em Moambique existem dois megaprojetos brasileiros, uma enorme mina a cu

    aberto de carvo foi concedida pelo governo moambicano a Vale para explorao. Projeto

    que compreende uma central eltrica, duas linhas ferrovirias, dois portos e um aeroporto.

    Foram expropriadas as terras e as casas das populaes que viviam na regio, e foram

    reassentadas em outra localidade. A Vale criou um consorcio com a Odebrecht e a Camargo e

    Corra para desenvolver este projeto.

    Em uma regio adjacente, em um enorme corredor natural o governo moambicano

    concedeu terra a grupos da burguesia agrria brasileira atravs um projeto trilateral (Brasil-

    Moambique-Japo) para desenvolver agroindstrias para exportao e agricultura familiar.

    Aumentam os conflitos com as populaes moambicanas atingidas, que se organizam

    para resistir e para pedir condies dignas de trabalho e respeito ao meio ambiente e a terra,

  • 36

    alm de questionar os contratos e as condies de explorao e de repatriamento dos lucros.

    A diplomacia brasileira apoiou estes projetos atravs uma poltica externa

    intencionada a restabelecer as relaes Sul-Sul, fortalecer as agencias governamentais, como a

    EMBRAPA e apoiada pelas associaes de categoria, do agronegcio, da minerao, etc.

    Em 2004 Lula cancelou 95% da divida moambicana (315 milhes de US$) e

    renegociou o resto, mas embora as negociaes para a concesso da mina de carvo

    comearam em 2000, foi assinado o acordo em 2004 em Braslia, durante a visita do ex

    Presidente de Moambique Joaquim Alberto Chissano. (RIBEIRO, 2009).

    No prximo capitulo analisaremos a poltica externa dos dois ltimos governos

    brasileiros, com relao frica e a agricultura, e as estratgias da internacionalizao de

    empresas brasileiras.

  • 37

    3 A POLTICA EXTERNA BRASILEIRA (2003-2012) COM RELAO FRICA E

    ESTRATEGIAS DA INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS BRASILEIRAS.

    Neste terceiro capitulo ser analisada a poltica externa brasileira dos governos de Lula

    e do atual governo de Rousseff, sobretudo com relao a 'exportao' na frica do modelo

    agrcola brasileiro. Sero analisados os investimentos brasileiros na frica, as trocas

    comerciais, e as estratgias de internacionalizao dos principais pases do Sul, Brasil, China

    e ndia e dos principais pases centrais, EUA, Inglaterra e Frana, que ao contrario dos pases

    do Sul so presentes militarmente.

    No primeiro subcaptulo ser analisada a poltica externa brasileira com relao

    frica, com o papel do Governo Federal, do Presidente da Republica, do Ministrio das

    Relaes Exteriores (MRE) e dos outros ministrios, das agencias governamentais, do

    BNDES, da Fundao Getlio Vargas (FGV) e das associaes privadas de categorias. Sero

    analisados alguns acordos com outros estados sobre agrocombustveis. Como parte da poltica

    externa sero analisadas as trocas comercias entre Brasil e frica, que antes da crise de 2008,

    quando tiveram uma inflexo, tinham crescido bastante e estavam voltando em termos

    numricos percentuais aos valores do pice, este foi alcanado durante o governo Figueredo,

    quando chegou a 9% do total das trocas comerciais do Brasil com o resto do mundo. O Brasil

    importa muito petrleo e tem dficit relevantes com pases como a Nigria e outros pases

    dependentes das exportaes de petrleo, mas por sua vez o setor petrolfero destes paises

    controlado pelos oligoplios do petrleo e petroqumica das empresas do Norte.

    Segundo Saraiva (2012) teve uma mudana qualitativa na chamada governana de

    vrios pases africanos e na estabilidade econmica e poltica destes, os pases africanos em

    geral se tornaram mais liberais. Tambm o relacionamento do Brasil com a frica teve uma

    mudana qualitativa, passando a ser segundo este autor uma 'parceria' para o desenvolvimento

    de longo prazo, baseado na cooperao tcnica, transferncia de tecnologia e no emprego de

    mo-de-obra local com capacitao profissional.

    Fizemos algumas observaes a esta viso que de forma autorreferencial gera uma

    auto-imagem positiva do Brasil e uma imagem negativa da China. Saraiva omite de dizer que

    o Brasil se serve tambm de migrantes asiticos e de mo-de-obras brasileira em grande

    escala na frica, sobretudo nas fase de construo de grandes projetos. A China justifica o

    emprego de mo-de-obra chinesa pelo fato de agilizar as obras, com menos complicaes

    lingusticas e culturais e de condies de trabalho. Mas se o Brasil esta capacitando

    profissionais africanos, a China tambm tem projeto de capacitao profissional, e estes so

  • 38

    muito mais relevante dos brasileiros. Alm disso Saraiva no seu ultimo livro frica parceira

    do Brasil atlntico: relaes internacionais do Brasil e da frica no incio do sculo XXI

    (2012), omite de citar e de analisar criticamente trs IED brasileiros importantes e polmicos.

    A usina de etanol e acar BIOCOM em Angola, que deveria diminuir a dependncia das

    importaes de acar de Angola, mas que poderia se tornar o comeo de uma explorao em

    grande escala do agronegcio do etanol para exportao, em um pais com graves problemas

    de segurana alimentar e falta de saneamento bsico. A mina de ferro na Guin-Conacri,

    projeto que pode fracassar por causa do descaso da Vale com os pedidos das populaes e um

    massacre durante uma manifestao contra a Vale, por parte da policia da Guin. E enfim o

    Projeto Carvo Moatize em Moambique, com cerca de 1350 famlias reassentadas por causa

    do projeto, que protestam contra vrias violaes dos direitos humanos e promessas no

    mantidas. E enfim o projeto PROSAVANA JBM. Ao contrario o relatrio conjunto entre o

    Banco Mundial e o brasileiro Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicadas (IPEA), Ponte

    sobre o Atlntico: Brasil e frica Subsaariana: parceria Sul-Sul para o crescimento,

    sucessivo ao livro de Saraiva e ao qual Saraiva colaborou, cita alguns projetos, mas

    lembrando somente que as famlias moambicanas deverias ser reassentadas, porm enfim

    todos compartilham a ideia liberal pouco sofisticada que IED igual a desenvolvimento.

    Ademais como afirma Junqueira (2012), o discurso brasileiro de que a cooperao

    brasileira um modelo prprio de cooperao. Mas o projeto Cotton-47, acaba beneficiando as

    empresas brasileiras, assim como em outros programas da EMBRAPA, como o

    PROSAVANA, e no transfere a tecnologia das sementes tecnologicamente mais avanadas,

    protegendo as patentes por interesses comercias e econmicos, portanto fornece sementes

    com tecnologia atrasada. Ademais o Brasil difunde as sementes transgnicas, que precisam de

    uso de agrotxicos, setor oligopolizado por empresas do Norte, no qual o Brasil e a

    EMBRAPA alcanaram uma autonomia relativa.

    No segundo subcaptulo ser analisada a internacionalizao das empresas brasileiras

    na frica, em comparao com dois outros pases do Sul, a ndia e da China, e em

    comparao aos pases imperialistas do Norte. A atuao da China que foi aquela que mais

    cresceu nesta ultima dcada, no diferente das outras, a no ser que os centros imperialistas

    possuem empresas oligopolistas em todos os setores da economia mundial, enquanto a China

    comea a quebrar, com suas empresas sobretudo estatais, estes oligoplios. Todas as

    estratgias destes pases na frica so baseada na explorao de recursos naturais, venda de

    7 Programa da EMBRAPA para desenvolver o agronegcio algodoeiro dos pases do C4 Benin, Burquina Faso, Chade e Mali

  • 39

    manufaturados e servios e superexplorao do trabalho, mas a China, um pais de mais de um

    bilho de pessoas, emprega muita mo-de-obra chinesa. Os investimentos e as trocas

    comerciais chineses porm no so ainda superiores aos pases do Norte que com a

    instabilidade do Oriente Mdio aumentaram a explorao do petrleo africano. Mas

    diferentemente dos pases do Norte, a China no vincula os emprstimos aos pases africanos

    as condicionalidades de ajustes neoliberais, alias os pases do Norte esto copiando esta

    estratgia chinesa para no perder mercados na frica. Enfim a China, que apoiou a frica

    nas lutas anticoloniais faz um discurso anti-imperialista, e no militarizou o continente, ao

    contrario dos pases da Organizao do Atlntico Norte (OTAN).

    O terceiro subcaptulo ser focado na agricultura, ser analisada a poltica externa

    brasileira com relao exportao do modelo agrcola brasileiro, baseado no trip,

    agronegcio, agricultura familiar e programas de segurana alimentar e proteo social. E

    enfim a presena das maiores empresas brasileiras na frica, na minerao mas sobretudo no

    setor de agrocombustveis, etanol mas tambm a soia, lembrando que 60% das exportaes da

    soia produzida no Brasil de empresas estrangeiras.

    O setor do etanol no Brasil era quase totalmente nacional, com 5% de presena

    estrangeira em 2004, mas agora esta sendo desnacionalizado. Em 2011 a presena estrangeira

    passou a 40%, com previses de chegar a 60 %, quatro dos cinco maiores grupos so

    controladas por estrangeiros. Tambm o setor de mquinas, equipamentos e insumos

    agrcolas, tem presena majoritria de empresas estrangeiras e as empresas brasileiras no

    podem competir financeira e tecnologicamente com elas, a mesma coisa pode ser afirmada

    pela EMBRAPA, que mantm parcerias para projetos produtivos com a Monsanto e a Basf,

    dois gigantes do oligoplio do agronegcio e os projetos da EMBRAPA so financiados por

    bancos internacionais de desenvolvimento8. A soia pode ser utilizada tambm como

    agrocombustvel, na forma de agrodiesel, que um subproduto da soia, sendo o produto

    principal o farelo de soia, para alimentao animal. A expanso da produo de soia ao

    contrario do etanol no precisa de novas terras e poderiam portanto ser ampliada

    enormemente no Brasil, Amrica Latina e Caribe e na frica sobretudo com grandes ganhos

    pelas empresas estrangeiras que formam o oligoplio mundial. (SCLESINGER, 2012)

    8 Como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Internacional para Reconstruo e Desenvolvimento (BIRD) e o Fundo Internacional para Desenvolvimento Agrcola (FIDA) da ONU.

  • 40

    3.1 A poltica externa brasileira (2003-2012) com relao frica.

    Com a presidncia de Lula foram ampliadas e fortalecidas as relaes internacionais

    entre Brasil e frica, demonstrando grande interesse nas relaes Sul-Sul, ao contrario dos

    governos de Fernando Henrique Cardoso. Lula reestruturou e deu oramento prprio ao

    Departamento da frica, e extinguiu9 o renegociou a divida de vrios pases africanos. Os

    pases africanos, responderam positivamente a nova aproximao brasileira engajando-se nas

    parcerias, tiveram muitas visitas e aberturas de embaixadas de ambos os lados. Em 2003 foi

    estabelecido o IBAS (Frum de Dilogo ndia-Brasil-frica do Sul), em 2006 foi realizada a

    Cpula Amrica do Sul-frica (ASA) e em 2009 teve o primeiro frum anual frica-Brasil.

    (SARAIVA, 2012 ; BANCO MUNDIAL E IPEA, 2012).

    A Presidenta Rousseff continua neste propsito de longo prazo, no primeiro ano de

    governo visitou Angola, frica do Sul e Moambique. Na agenda comum do governo Dilma

    com o presidente Obama, a produo e comercializao do etanol so importantes no Dilogo

    Estratgico em Energia. (SCHLESINGER 2012). Em julho de 2011 designou Lula para

    representar oficialmente o Brasil na 17 Cpula da Unio Africana, essa medida confirma no

    somente o interesse pessoal de Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT) pelas questes

    Brasilfrica, mas sobretudo o interesse geopoltico da diplomacia brasileira, que no processo

    de internacionalizao apoia sobretudo os grandes grupos empresariais brasileiros. Porm

    devemos observar que tambm as exportaes de pequenas e medias empresas so

    incentivadas atravs da Agencia brasileira de Promoo de Exportaes e investimentos

    (APEX). (SARAIVA, 2012; BANCO MUNDIAL E IPEA, 2012)

    Em Abril de 2012 foi criado o portal da frica10, parceria entre a Associao Brasileira

    da Indstria de Mquinas e Equipamentos (ABIMAQ) e a EMBRAPA, para coletar

    informaes para os pases do continente africano sobre maquinas e tecnologia agrcola

    brasileira, com a finalidade de aumentar as exportaes brasileiras e a troca de conhecimento

    sobre praticas agrcolas entre o Brasil e o continente africano.

    O Brasil participa ativamente no frum Global Bioenergy Partnership (GBEP), e

    outros fruns que trabalham para render os agrocombustveis commodities, e para criar

    marcos legais normatizados nos pases africanos assim como da Amrica Latina e Caribe no

    setor de agrocombustveis. (SCHLESINGER, 2012)

    Segundo Schlesinger (2012) o MRE lidera as negociaes internacionais sobre

    9 China e ndia tambm extinguiram dividas africanas.10 http://portalafrica.com.br/portalafrica/public_html/index.html

  • 41

    agrocombustveis, e criou a Diviso de Recursos Energticos Novos e Renovveis (DRN).

    Outra estrutura do MRE a Agncia Brasileira de Cooperao (ABC), que atravs a

    Coordenao-Geral de Cooperao em Agropecuria, Energia, Biocombustveis e Meio

    Ambiente (CGMA), coordena os projetos de cooperao tcnica internacional. O MRE ainda

    coordena os ministrios que participam das negociaes e da cooperao, como o Ministrio

    das Minas e Energia (MME), como seu Departamento de Combustveis Renovveis (DCR),

    do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA) com sua Coordenao Geral

    de Agroenergia e a EMBRAPA, com sua Assessoria de Relaes Internacionais e da

    EMBRAPA Agroenergia. O BNDES que considera prioritrio o setor de agrocombustveis na

    frica, implementa os acordos internacionais e financia a internacionalizao de empresas

    brasileiras, por meio da Linha de Investimento Direto Externo, criada em junho de 2005, o

    BNDES financia tambm pesquisa sobre a viabilidade do agronegcio na frica, atravs o

    seu Departamento de Pesquisas e Operaes (DEPEQ).

    A FGV atravs a rea de Projetos do seu Centro de Agronegcio (GV Agro),

    coordenado pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues (2003-2006), lanou em 2011

    o Projeto Tropical