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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Cincias Sociais
Departamento de Relaes Internacionais
Gianluca Elia
O SUBIMPERIALISMO BRASILEIRO NA FRICA: estudo de caso sobre
Moambique
Belo Horizonte 2012
Gianluca Elia
O SUBIMPERIALISMO BRASILEIRO NA FRICA: estudo de caso sobre
Moambique
Monografia apresentada ao Curso de Relaes Internacionais da Universidade Catlica de Minas Gerais, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Relaes Internacionais.
Orientadora: Taiane Las Casas Campos
Belo Horizonte 2012
Gianluca Elia
O SUBIMPERIALISMO BRASILEIRO NA FRICA: estudo de caso sobre Moambique
Monografia apresentada ao Curso de Relaes Internacionais da Universidade Catlica de Minas Gerais, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Relaes Internacionais.
________________________________________________ Taiane Las Casas Campos (Orientadora) PUC MINAS
________________________________________________ Ricardo Ferreira Ribeiro PUC MINAS
________________________________________________ Paris Yeros UFABC
Belo Horizonte, 14 de Novembro de 2012.
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo compreender se as relaes internacionais brasileira com a
frica, na ultima dcada, economicamente atravs suas grandes empresas, e politicamente
atravs sua poltica externa, especificadamente em Moambique, podem ter elementos do
subimperialismo, conceito formulado originariamente pelo cientista social Ruy Mauro Marini,
expoente da Teoria Marxista da Dependncia (TMD).
Palavras chave: Subimperialismo, Brasil, Moambique, Minerao, Agronegcio.
ABSTRACT
This study aims to understand whether the Brazilian international relations with Africa, in the
last decade, economically through their big companies, and politically through its foreign
policy, specifically in Mozambique, may have elements of sub-imperialism, a concept
originally formulated by social scientist Ruy Mauro Marini, exponent of Marxist Theory of
Dependence (TMD).
Keywords: Sub-imperialism, Brazil, Mozambique, Mining, Agribusiness
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Viso satelitar dos megaprojetos de minerao de carvo em Tete e os reassentamentos de Cateme
LISTA DE MAPAS
MAPA 2 Projeto Carvo Moatize, com ferrovia Tete-Nacala e porto de Nacala, Mina de fosfato da Vale e PROSAVANA JBM.
LISTA DE ABREVIATURAS
US$ dlares estadunidenses
LISTA DE SIGLAS
ABC Agncia Brasileira de Cooperao
ABIMAQ Associao Brasileira da Indstria de Mquinas e Equipamentos
AFRICOM United States African Command
AGOA African Growth and Opportunity Act (EUA)
AI5 Ato Institucional numero 5 (Brasil)
AOD Ajuda Oficial para o Desenvolvimento
APEX Agncia Brasileira de Promoo de Exportaes e Investimentos
ASA Cpula Amrica do Sul-frica
BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social (Brasil)
BOPE Batalho de Operaes Especiais (Brasil)
BRICS Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul
DEPEQ Departamento de Pesquisas e Operaes do BNDES (Brasil)
DCR Departamento de Combustveis Renovveis do MAPA (Brasil)
DFID Departamento para o Desenvolvimento Internacional (Reino Unido)
DIEESE Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos (Brasil)
do MRE (Brasil)
EPAs Economic Partnership Agreements (EU)
CAMEX Cmara de Comrcio Exterior (Brasil)
CEDEAO Cpula Brasil-Comunidade Econmica dos Estados da frica Ocidental
CFM Portos e Caminhos de Ferro de Moambique (Moambique)
CGMA Coordenao-Geral de Cooperao em Agropecuria, Energia, Biocombustveis e
Meio Ambiente da ABC (Brasil)
CSN Companhia Siderrgica Nacional (Brasil)
CSLL Contribuio Sobre o Lucro Lquido (Brasil)
EBA Everything But Arms (Acordo Tudo Menos Armas entre UE e Angola)
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
EUA Estados Unidos da Amrica
FAO Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e Alimentao
FIB Frum Internacional de Biocombustveis
FIOCRUZ Fundao Osvaldo Cruz (Brasil)
FOCAC Frum para Cooperao entre China e frica
FGV Fundao Getlio Vargas (Brasil)
FMI Fundo Monetrio Internacional
FRELIMO Frente para a Libertao de Moambique
GBEP Global Bioenergy Partnership
IBAS Frum de Dilogo ndia-Brasil-frica do Sul
IFC Corporao Internacional de Finanas
IDH ndice do Desenvolvimento Humano do Programa das Naes Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD)
IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Brasil)
IRPJ Imposto de Renda da Pessoa Jurdica (Brasil)
IED Investimento estrangeiro direto
IT Information Tecnology
IIRSA Initiative for the Integration of the Regional Infrastructure of South America
JICA Japan International Cooperation Agency (Japo)
LIBOR London Inter-Bank Offered Rate
MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e do Abastecimento (Brasil)
MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (Brasil)
MRE Ministrio das Relaes Exteriores (Brasil)
MIGA Agncia Multilateral de Garantia de Investimento (Grupo Banco Mundial)
MME Ministrio das Minas e Energia (Brasil)
MST Movimento dos Trabalhadores sem Terra (Brasil)
NEPAD Partnership for African Development
NNPC Nigerian National Petroleum Corporation (Nigria)
ONU Organizao das Naes Unidas
ONG Organizao no governamental
OTAN Organizao do Atlntico Norte
PIB Produto Interno Bruto
PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
PND Plano Nacional de Desestatizao (Brasil)
PRODECER Programa de Cooperao Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado
PROSAVANA Programa de desenvolvimento da Savana africana(Brasil)
PROSAVANA-PD Plano Diretor para o Desenvolvimento da Agricultura do Corredor de
Nacala (Brasil)
PT Partido dos Trabalhadores (Brasil)
RENAMO Resistncia Nacional Moambicana
SACU Unio Aduaneira da frica Austral
SENAI Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (Brasil)
SENAR Servio Nacional de Aprendizagem Rural (Brasil)
SEZs Special Economic Zones
SDNC Sociedade de Desenvolvimento do Corredor de Nacala Combinadas (Brasil)
TMD Teoria Marxista da Dependncia
TNP Tratado sobre a no proliferao de armas nucleares
UNICA Unio da Indstria de Cana de Acar (Brasil)
UEMOA Unio Econmica e Monetria do Oeste Africano
UE Unio Europeia
UNCTAD Conferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e Investimento
USAID United States Agency for Internacional Development
SUMRIO
1 INTRODUO............................................................................................................ 142 MARCO TERICO..................................................................................................... 182.1 Dependncia e Imperialismo ................................................................................... 192.2 Superexplorao do trabalho................................................................................... 212.3 Extenso da superexplorao aos pases centrais................................................... 222.4 Subimperialismo........................................................................................................ 242.5 Cooperao antagnica: poltica expansionista relativamente autnoma........... 292.6 A reconverso e o novo subimperialismo................................................................. 33
3 A POLTICA EXTERNA BRASILEIRA (2003-2012) COM RELAO FRICA E ESTRATEGIAS DA INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS BRASILEIRAS................................................................................................................ 373.1 A poltica externa brasileira (2003-2012) com relao frica............................ 393.1.1 Trocas comerciais, exportaes e importaes..................................................... 423.2 Agricultura e agroenergia......................................................................................... 453.3 Diplomacia do agronegcio....................................................................................... 473.4 A nova partilha da frica e as estratgias dos atores envolvidos.......................... 503.4.1 Estratgias Norte-Sul............................................................................................. 513.4.2 Estratgias Sul-Sul................................................................................................. 523.4.2.1 China..................................................................................................................... 523.4.2.2 ndia...................................................................................................................... 543.4.2.3 Brasil..................................................................................................................... 553.5 Estratgias da internacionalizao de empresas brasileiras................................. 563.5.1 Estratgia e presenas das grandes empresas brasileiras na frica................. 603.6 Agronegcio brasileiro na frica............................................................................. 63
4 O SUBIMPERIALISMO BRASILEIRO EM MOAMBIQUE............................. 674.1 Moambique............................................................................................................... 674.2 A Vale, ex Companhia da Vale do Rio Doce (CVRD)............................................. 714.3 Megaprojetos na provncia de Tete.......................................................................... 724.3.1 Megaprojeto Benga................................................................................................ 744.3.2 Megaprojeto Carvo Moatize................................................................................ 754.4 Transferncia de valor............................................................................................... 77
4.5 Superexplorao do trabalho................................................................................... 804.6 Reassentamentos........................................................................................................ 814.7 PRODECER............................................................................................................... 844.8 PROSAVANA JBM.................................................................................................... 864.9 A Unio Nacional de Camponeses............................................................................ 905 CONCLUSO.............................................................................................................. 92REFERNCIAS
14
1 INTRODUO
Este trabalho tem como objetivo geral analisar a natureza e a estratgia da insero
internacional brasileira na frica, na ultima dcada, seja economicamente atravs suas
grandes empresas como politicamente atravs sua poltica externa, para compreender se esta
insero pode ser caracterizada como subimperialista, conceito formulado originariamente
pelo cientista social Ruy Mauro Marini, expoente da Teoria Marxista da Dependncia
(TMD).
O primeiro objetivo especifico, para compreender se esta insero pode ser
caracterizada como subimperialista, pretende analisar a insero politica e econmica.
Economicamente por meio das trocas comerciais entre o Brasil e a frica e sobretudo a
internacionalizao das grandes empresas brasileiras no setor do agronegcio, minerao,
construo e engenharia, atravs o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econmico e Social (BNDES) e o financiamento internacional, e politicamente o trabalho
pretende analisar a poltica externa brasileira, atravs o apoio logstico, de inteligncia e de
poltica da diplomacia, do governo e das suas agencias, para o aumento da influencia e do
protagonismo poltico do Brasil na frica, sobretudo no setor agrcola, minerao e de
engenharia e construo e nas polticas sociais publicas.
O segundo objetivo especifico pretende compreender, atravs um estudo de caso
sobre a insero brasileira em Moambique, se esta pode ser caracterizada como
subimperialista. Sero analisados sobretudo dois megaprojetos interligados, um megaprojeto
de minerao, gerao de energia eltrica a partir de carvo e linhas frreas para o
escoamento, megaprojeto da Vale, em consorcio com a Odebrecht e a Camargo e Corra,
chamado Projeto Carvo Moatize, e um outro megaprojeto de agronegcio e agricultura
familiar, com cooperao trilateral entre Japo, Brasil e Moambique, e o apoio da United
States Agency for Internacional Development (USAID), chamado PROSAVANA JBM. Sero
analisados os impactos destes projetos nas populaes atingidas como na economia
moambicana como um todo.
Marini (1974) analisou dialeticamente as relaes que os pases centrais mantiveram
com as periferias. A acumulao monopolstica, sobretudo no ps-Segunda Guerra Mundial
nos pases centrais gerava excedentes de capitais, que os centros para manter altos os lucros
exportavam, em algumas periferias, atravs Investimentos Externos Diretos (IED), sobretudo
15
dos Estados Unidos (EUA), mas sucessivamente tambm Alemanha e Japo. Os IED
orientados de forma extrema a produo de bens de consumo durveis, para as classes altas
da sociedade, transformam o Brasil em uma economia semiperifrica, ou seja, com uma
composio orgnica mdia na escala mundial dos aparatos produtivos. Mas estas
exportaes transformaram internamente e profundamente estes pases perifricos, entre eles
o Brasil. Estas transformaes e as contradies que esta integrao gerava levaram a
movimentos contrrios, antagnicos a integrao imperialista. Mas o grande capital
brasileiro, com o golpe de 64 se aliou como scio menor ao capital internacional,
restabelecendo a complementaridade entre burguesia agraria e industrial, monopolizando e
financeirizando precocemente a economia. Porm a superexplorao do trabalho, que gerava
superlucros ao capital brasileiro, levou a uma separao entre as capacidades produtivas e as
necessidades das massas, impossibilitando um desenvolvimento autnomo.
A economia subimperialista para superar estes entraves a sua reproduo ampliada do
capital recorreu sobretudo ao mercado externo, mediante internacionalizao das suas
empresas, que se aliaram com os oligoplios imperialistas para explorar as periferias, se
servindo de subsdios e financiamentos estatais. Mas alguns setores econmicos no teriam
muitos ganhos com a integrao aos oligoplios do Norte, porque poderiam simplesmente ser
desmantelados ou perder fatias de mercado ou o controle das suas empresas, como tinha
acontecido com as pequenas e medias empresas no governo Castelo Branco. Estas fraes da
burguesia eram apoiadas por setores nacionalistas da burocracia governamental, que no
queriam perder o controle sobre setores considerados estratgicos, como o nuclear, militar, e
petrolfero, e portanto levaram ao poder Costa e Silva. Mas embora estas fraes resistiram
ofensiva do imperialismo, atuando de maneira antagnica, ao mesmo tempo no chegaram a
uma ruptura com o imperialismo, porque teria questionado as bases dos seus superlucros,
mas ao contrario colaboraram para uma maior integrao a este. Esta postura de cooperao
antagnica se manteve durante os governos militares, atravs a busca de uma poltica externa
relativamente autnoma, dentro do permitido pelo imperialismo.
Assim o Brasil pretendeu uma reduo das trocas desiguais tramite substituio das
exportaes, para ter acesso aos mercados mais ricos e mais protegidos do Norte, para vender
suas mercadorias e servios, como tambm ter ganhos polticos, pretenses que faliram e que
levaram o Brasil a se relacionar mais estritamente com os outros pases do Sul, para articular
presses aos paises centrais. Mas como a autonomia e o desenvolvimento dependem da
16
interveno estatal, atravs subsdios produo e a exportao e da diplomacia para
aumentar a competitividade empresarial, o Brasil entrou em atritos com os centros ao tomar
decises antagnicas respeito s estratgias dos centros imperialistas, que poderiam levar a
no colaborao do Brasil com a estratgia imperialista.
Portanto os centros imperialistas, que tinham momentaneamente resolvidos os seus
problemas de realizao do capital, transferindo as contradies nas periferias, defenderam os
mercados do Norte, e as trocas desiguais, porque uma reduo das transferncias de valor
reduziria os ganhos imperialistas, alm de poder levar estas semiperiferias a ter um poder
econmico e militar autnomo, e ao apoio dos pases do Sul que lutavam contra o
imperialismo. Pases do Sul do mundo, que assim como o Brasil foram atirados na armadilha
das dcadas perdidas, durante as crises da divida e as reformas neoliberais.
O novo subimperialismo brasileiro depois da redemocratizao do Brasil com
abertura econmica e reconverso da sua economia, retrocedeu na sua insero internacional,
e com as crises da divida e o colapso financeiro os pases imperialistas, tentaram integrar
ainda mais o Brasil nos setores mais estratgicos e lucrativos, reduzindo o controle do Estado
sobre alguns setores da economia nacional.
Esta integrao levou a criao de empresa globais brasileiras, com grande
interveno estatal e participao nas bolsas de valores, estas empresas exploram
intensivamente os recursos naturais e produzem substancialmente commodities, integradas ao
sistema financeiro internacional, e com seu servios de engenharia e infraestruturas anexas.
Mas um pais subimperialista prprio porque integra seu sistema produtivo ao imperialista,
no pode questionar as bases do imperialismo sem questionar a si mesmo, portanto se
mantm sob a influencia e a dependncia, tecnolgica e financeira para com o imperialismo,
mas buscando atravs a cooperao antagnica com o imperialismo, uma poltica externa
expansionista para conquistar uma certa influencia e/o protagonismo na regio (Amrica
Latina e Caribe e frica). No caso do Brasil esta cooperao antagnica pode ser observada
na exportao do modelo agrcola brasileiro e na atuao de empresas como a Vale.
Para tanto, a estrutura narrativa dessa monografia ser dividida da seguinte maneira,
no segundo capitulo ser apresentada a teoria do subimperialismo, e as contribuies de
outros tericos, como Dos Santos, Fontes e Martins. Sero apresentados os fundamentos da
teoria do subimperialismo, a superexplorao do trabalho e a transferncia de valor, e as
variveis concatenadas da teoria, a cooperao antagnica e uma poltica relativamente
17
autnoma. A analise ser feita de maneira a seguir as mudanas que ao longo da historia a
sociedade e a economia brasileira teve com relao a sua integrao capitalista.
O terceiro capitulo tratar da poltica externa brasileira na frica na ultima dcada e
das estratgias da internacionalizao de empresas brasileira, comparada a dois outros pases
do Sul, a ndia e da China, e aos pases imperialistas do Norte. Ser analisada a poltica
externa brasileira com relao ao modelo agrrio brasileiro e aos programas sociais anexos, e
os investimentos e comercio das empresas brasileiras na frica.
O quarto capitulo ser um estudo de caso de dois megaprojetos. Um megaprojeto
minerrio e energtico em Moambique chamado Projeto Carvo Moatize da empresa Vale e
de um consorcio desta com a Odebrecht e a Camargo e Corra, e um megaprojeto agrrio
chamado PROSAVANA Japo-Brasil-Moambique. Sero analisados os financiamentos
destes projetos assim como as relaes com o Estado moambicano e as populaes, as
infraestruturas para o escoamento e os relativos reassentamentos das populaes atingidas e
conflitos destas com as empresas estrangeiras e o governo moambicano. Para realizao
desse trabalho ser utilizado tanto fontes primrias, livros, teses, artigos, publicaes,
relatrios, peridicos, como documentos secundrios.
18
2 MARCO TERICO
Neste segundo capitulo ser apresentada a teoria do subimperialismo, desenvolvida
pelo brasileiro Ruy Mauro Marini, baseada na teoria do imperialismo e nas contribuies da
Teoria Marxista da Dependncia (TMD).
Os fundamentos do subimperialismo so a superexplorao do trabalho, que gera uma
mais-valia extraordinria e no permite a gerao de um mercado interno suficientemente
dinmico, e a transferncia de valor, com intercmbios desiguais, das periferias do mundo
para os centros, passando pelos pases subimperialistas, que para recuperar a perda de mais
valia apropriada pelos centros superexploram a fora de trabalho.
O subimperialismo um fenmeno histrico e uma categoria analtica observada no
Brasil, a partir da dcada de 60 por Marini, mas que pode ser aplicada tambm a outros
pases, por exemplo a ndia. Um pais subimperialista um pais semiperiferico, ou seja um
pais intermedirio na diviso internacional do trabalho, mas no verdadeiro o contrario.
A primeira condio para um pais ser subimperialista, a dependncia estrutural, com
transferncia de valor para os centros nos intercmbios desiguais, que ser tratada no primeiro
subcaptulo deste trabalho, descrevendo como ela se originou na Amrica Latina.
Uma segunda condio a superexplorao do trabalho e adicionalmente da
autoexplorao do trabalho, que sero definidos no segundo subcaptulo, conceitos que foram
revigorados com as contribuies de Fontes (2011) e sobretudo Martins (2011). A
superexplorao era uma caractersticas dos pases do Sul, mas se estende segundo Fontes aos
pases centrais, questionando portanto a validade do subimperialismo como condio dos
pases do Sul. Portanto ser abordada uma analise deste fenmeno para colocar algumas
observaes criticas a este questionamento.
No terceiro subcaptulo analisaremos as dinmicas do processo dialtico de integrao
da economia mundial pelos oligoplios imperialista. Neste processo a varivel cooperao
antagnica do Brasil com o imperialismo leva a outra varivel concatenada, uma poltica
relativamente autnoma.
No quarto subcaptulo analisaremos a chamada reconverso do Brasil e o novo
subimperialismo. Marini tinha previsto que o subimperialismo poderia passar de uma fase de
internacionalizao atravs a exportao de mercadorias para uma fase de internacionalizao
atravs exportao de capitais. Entre estas fases que correspondem ao perodo da
redemocratizao do Brasil, que Marini chamou de reconverso da economia brasileira, no
Brasil surgiram empresas globais brasileiras integradas ao imperialismo, que voltaram ao
19
mercado externo, atravs a exportao de mercadorias, servios e capitais, sempre pelo
problema estrutural da limitao do mercado interno. Portanto se pode falar de novo
subimperialismo como categoria histrica de analise das contradies estruturais internas do
Brasil, que so deslocadas no exterior atravs a reproduo de um modelo subimperialista.
2.1 Dependncia e Imperialismo
Mauro Marini, em Dialtica da Dependncia (1974), apresenta sua tese sobre as
origens da dependncia da Amrica Latina, que similar s outras periferias do mundo, como
a frica e sia, com as devidas diferenas histricas e socioeconmicas. Para Marini o Brasil
apresentou desde sua integrao no mercado mundial capitalista, com as navegaes
transocenicas, insuficincias, deformidades e contradies no seu modo de produo e na sua
acumulao de capital, respeito aos pases centrais, fatores que impossibilitaram o
desenvolvimento nos moldes autossustentados dos pases capitalistas centrais, apresentando
portanto um subdesenvolvimento da sua economia e da sua sociedade.
Marini (1974) define como relaes de dependncia as relaes entre naes
formalmente independentes, nas quais os centros subordinam as periferias modificando as
relaes de produo e recriando a dependncia de maneira ampliada. A dependncia na
Amrica Latina se consolidou sobretudo com a reconfigurao das periferias na diviso
internacional do trabalho, a partir de 1840, quando para as indstrias dos pases centrais, o
Brasil e os outros pases da Amrica Latina, passaram a fornecer alm de produtos agrcolas,
de ouro e de prata, tambm matrias primas. Os metais preciosos coadjuvaram a expanso do
sistema bancrio, e os produtos agrcolas permitiram o rebaixamento do valor da reproduo
social do trabalho e portanto o aumento da produtividade do trabalho que levou a revoluo
industrial, neste perodo o Brasil se tornou formalmente independente politicamente de
Portugal.
Portanto a Amrica Latina aumentando a produo de matrias primas orientadas
quase que exclusivamente para exportao e baseada na superexplorao intensiva e/o
extensiva do trabalho, utilizando grande dotao de mo de obra negra e indgena escrava
expropriada da terra, e sucessivamente fluxos migratrios europeus e internos, contribuiu para
o deslocamento do eixo de acumulao produtiva industrial dos centros. Este deslocamento
gerou uma grande especializao manufatureira que aumentou a quantidade e qualidade de
mercadorias produzidas. Esta especializao passou a depender principalmente do aumento da
capacidade produtiva do trabalho, atravs das inovaes tcnicas, que desvalorizam o valor
20
real da fora de trabalho, que da simples explorao do trabalho. (MARINI, 1974; MARTINS,
2011)
Em uma primeira fase de baixa penetrao do capital estrangeiro, os intercmbios
eram baseados no valor e as altas taxas de lucros traziam investimentos estrangeiros, em
carteira e diretos, excedentes nos centros, incluindo dos Estados Unidos da Amrica (EUA),
ex-periferia, que se tornou um novo centro e comeou a exportar capitais para a explorao
direta de produtos primrios agrcolas, petrleo e minrios, atravs da construo de
infraestruturas, e atravs investimentos financeiros. Mas estas inverses deslocaram o
intercambio do valor para o preo de produo levando a deteriorao dos termos de troca
para as periferias, e a subsequente sistemtica reduo dos supervit comerciais e
endividamento crescente. A ampliao sustentada e orgnica da economia capitalista central
vinculou pela via cientifico tecnolgica os pases dependentes as tendncia econmicas do
desenvolvimento capitalista, apropriando-se do valor produzido nessas sociedades,
expandindo tambm as formas usurarias e comerciais de expropriao. (MARINI, 1974;
MARTINS, 2011)
Este intercambio desigual se explica, alm que pela esfera da circulao, o comercio
exterior, tambm pela esfera da produo, na qual existem mecanismos de transferncias de
valores intersetoriais internos, dos setores com menor produtividade do trabalho para os
setores com maior produtividade do trabalho. Os pases avanados tecnologicamente elevam a
composio orgnica do capital (capital constante/capital varivel=c/v), incorporando menos
trabalho vivo (v), enquanto os pases dependentes incorporam mais trabalho vivo, no
intercmbio de mercadorias entre estes pases, os pases dependentes que incorporam mais
trabalho vivo e portanto um valor maior, pela atuao da lei de equalizao das taxas de lucro,
transferem parte deste valor que apropriado pelos pases centrais. (LUCE, 2011)
Enfim um outro mecanismo sistemtico de transferncia de valor derivado da
exportao de capitais e nas consequentes remessas de lucros, juros, dividendos, patentes,
royalties, assistncia tcnica, pratica de sobrepreos intrafirmas, deslocamento de capitais em
regies mais rentveis, remessas que superam em valor as exportaes de capitais inicial.
Estes recursos assim remetidos ao exterior deixam de ser reinvestidos na prpria produo, a
este mecanismo se adiciona o recurso a endividamento externo e interno dos pases
dependente, tramite instituies financeiras, que um mecanismo de reproduo da divida
atravs do pagamento de juros e servios da divida. (MARINI, 1974; DOS SANTOS, 2011)
21
2.2 Superexplorao do trabalho
O conceito de superexplorao do trabalho, foi desenvolvido por Marini, para
descrever um tipo de explorao que leva a diminuio dos salrios abaixo do nvel de
subsistncia. Este truncamento da lei do valor presente no campo desde a velha economia
exportadora, nesta era determinada pela deteriorao dos termos de troca, motivada pela
fixao dos preos de produo, e pela separao entre a esfera alta, o consumo das classes
burguesas agrrias, e a esfera baixa de consumo que sustentava a fora de trabalho.
(MARTINS, 2011)
A superexplorao inerente acumulao capitalista e no Brasil foi ampliada ao
setor industrial e urbano, quando estes passaram a ser o eixo da acumulao. A
superexplorao caracterizada pelo aumento da intensidade do trabalho e/o pela prolongao
da jornada de trabalho, em condies de excesso de mo de obra. A ampliao do valor da
fora de trabalho que estes mecanismos geram no paga no seu montante necessrio para a
reproduo social do trabalho, isso gera a diminuio da capacidade de consumo do
trabalhador, portanto leva a remunerao do trabalhador abaixo do seu valor, transformando
todo o trabalho adicional em fundo de acumulao do capital. (MARINI, 1974; MARTINS,
2011)
Nas economias dependentes a dinmica do processo de acumulao de capital parte da
introduo por parte de um capitalista individual de um progresso tcnico, liderado pelos
subsetores I b e II b (I b bens de capital para o setor II b bens sunturios) que aumentando a
produtividade do trabalho, permitem reduzir o valor individual das mercadorias,
possibilitando a gerao de mais produtos, portanto uma mais-valia extraordinria para este
capitalista e uma queda da mais-valia e dos lucros dos outros capitalista. (MARTINS, 2011)
Mas a generalizao do aumento da produtividade no interior do ramo aos outros
concorrentes, expandindo a massa de produtos sem elevar a massa de valor, resulta em uma
queda da massa de mais-valia do ramo, que poderia ser burlada estendendo e deslocando a
mais-valia extraordinria do interior do ramo para as relaes intersetoriais. Isso
desenvolvido atravs a fixao das mais-valia extraordinria nos ramos ligados ao consumo
sunturio, consumo que precisa ser incentivado e subsidiado para ser valorizado em
detrimento dos ramos dedicados ao consumo popular (Ia e IIa), ate atingir um novo ciclo de
fixao de mais-valia extraordinria dos setores I b e II b. (MARTINS, 2011)
Os capitalistas individuais dos subsetores desfavorecidos pela depresso das taxas de
lucro, gerada pela apropriao de mais-valia dos capitalistas individuais dos subsetores
22
favorecidos, buscam reapropriar-se da mais-valia perdida pela concorrncia, fixando os preos
dos salrios abaixo de seu valor. Portanto a superexplorao do trabalho no um rastro de
formas pr-capitalsticas de explorao, mas inerente a acumulao capitalista e se expande
com a evoluo tecnolgico cientifica e o desenvolvimento das foras produtivas do trabalho.
O predomnio da maior explorao do trabalho sobre a maior fora produtiva do trabalho, em
uma economia dependente respeito a uma economia central, corresponde a superexplorao
do trabalho. (MARTINS, 2011)
As inovaes tecnolgicas introduzidas nos pases centrais no espao da circulao,
nos setores de composio orgnica mais elevada, os bens sunturios, estimularam um
crescimento da produtividade e uma depreciao das mercadorias nos setores de composio
orgnica inferior, os bens-salrios, criando a base para um mercado interno extenso e para que
a indstria de bens de capital alavancasse a industrializao. Mas os pases dependentes
integrando-se ao mercado mundial com grandes desnveis tecnolgicos e sujeitos a lei
tendencial de equalizao das taxas de lucro, no podem sustentar as mesmas dinmicas
virtuosas dos centros. Portanto pela falta de gerao endgena de progresso tcnico recorrero
a superexplorao do trabalho aumentando a produo de excedente como forma de
compensar a perda de mais-valia. Assim os pases centrais concentram as inovaes
tecnolgicas nos sistemas produtivos que permitem a acumulao autossustentada enquanto
os pases dependentes integrando-se na diviso internacional do trabalho oferecem as matrias
primas e mercadorias com menor avano tecnolgico para a especializao dos centros.
(MARINI, 2000; CARCANHOLO & AMARAL, 2011; MARTINS, 2011)
2.3 Extenso da superexplorao aos pases centrais.
A superexplorao do trabalho se aprofundou no mundo com o avano do capitalismo
e se estendeu aos prprios pases centrais, como Marini tinha percebido nos seus ltimos
escritos. Segundo Martins (2011) nesta extenso so responsveis s empresas globais,
geralmente oligoplios transacionais, que podem terceirizar e fragmentar varias fazes da
produo, concentradoras das inovaes tecnolgicas. Monopolsticas nos seus prprios
mercados nacionais, produzem as mercadorias com maior valor agregado e deslocam a
produo em escala mundial das partes com menor valor agregado, aumentando portanto o
desemprego nos pases centrais nos setores que empregam fora de trabalho em grande
escalas. So capazes de produzir para qualquer mercado do mundo, tornando obsoletas as
pequenas e medias empresas nacionais dos pases centrais, que portanto recorrem a
23
superexplorao do trabalho. As empresas globais podem deslocar-se nas periferias ou
semiperiferias para superexplorar o trabalho, podem produzir mais perto dos mercados
consumidores dos centros e para fazer isso se servem tambm dos migrantes do Sul do
mundo, em uma fase de desregulamentao e de precarizao mundial do trabalho por parte
do capital.
Fontes (2011), acrescenta novas formas peculiares do truncamento da lei do valor, que
leva a superexplorao do trabalho. O bloqueio poltico da difuso inter-regional e inter-
estadual das conquistas dos trabalhadores, rende mais agudas as divises e a concorrncia
entre os trabalhadores enquanto nacionaliza os direitos de superexplorao dos capitalistas.
Fontes considera importante, alm do consumo do mercado interno de bens necessrios, a
expropriao do prprio contrato de trabalho e a expropriao massiva da populao do
campo, que impede o rende difcil prpria reproduo da subsistncia, obrigando as
populaes a compra do conjunto destes bens necessrios, antes supridos como direitos, mas
tambm os obriga a compra de bens expropriados ou oferecidos de forma inadequadas, como
educao e sade. A extino o mitigao das aposentadorias e a transformao de parte do
salrio em fundo de acumulao do capital, atravs os fundos de penso, uma forma de
superexplorao, assim como a contratao de planos de sade para suprir a este direito.
Segundo Virgnia Fontes, a superexplorao do trabalho e o subimperialismo, assim
como definidos por Marini, foram um fenmeno da dcada de 60, que se modificou j na
dcada de 70, pelo fomento ao desenvolvimento do sistema financeiro brasileiro atravs o
credito ao consumo e a substituio de importaes que modificaram o mercado interno.
Entretanto Fontes parece no perceber que a superexplorao permanece predominante e se
aprofunda nas periferias, seja no campo, nas lavouras do agronegcio, como nas indstrias
das cidades. Os juros do credito ao consumo no Brasil ainda so entre os mais altos do
mundo, proporcionando altssimos lucros as instituies financeiras mas tambm alta
inadimplncia, que refora a justificao pelos juros altos. Os produtos importados no Brasil
so entre os mais caros do mundo, diminuindo o poder de compra das classes subordinadas,
alm de desindustrializar o pais, e portanto aumentar o desemprego, que no absorvido pelo
agronegcio.
O problema da desarticulao e do achatamento do mercado interno ainda
fundamental, no Brasil os salrios mnimos so proporcionalmente quatro vezes mais baixos
que na dcada de 40, (SOUZA, 2008), como mostram dados1 de 2012 do Departamento
Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos (DIEESE). Embora houve uma
1 http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml
24
ampliao do mercado interno e uma diminuio das desigualdades, se aplicam polticas de
reduo da pobreza desenvolvidas pelo Banco Mundial, focalizadas em grupos sociais
restritos, que servem como compensaes, mas falta o enfrentamento da reproduo estrutural
das desigualdades, das excluses sociais e da dependncia, que portanto aumentaram.
(GONALVES & FILGUEIRAS, 2007)
2.4 Subimperialismo
Na fase de industrializao da economia brasileira por substituio de importaes, do
comeo do sculo XX ate 1950, o Estado transferia recursos do setor exportador para a
indstria, mas a crise do setor agroexportador cafeeiro aumentou o excedente de mo de obra,
pressionando os salrios para baixo, e os trabalhadores foram integrados nas indstrias, que
aumentaram sua produtividade e intensificaram a explorao do trabalho. (MARTINS, 2011)
As indstrias brasileiras usufruram das crise das duas guerras mundiais, ampliando o
mercado de produtos industriais interno a favor do setor de bens sunturios, tendo um
mercado interno ainda no saturado, e importando alguns bens de capital que se tornaram
mais baratos. Participando na Segunda Guerra Mundial ao lado dos EUA, permitiram que
estes ocupassem o Norte da frica, partindo de uma base militar no Nordeste brasileiro, e
negociaram em troca a oportunidade, sendo o pais rico em mineiros de ferro, de receber como
meio de produo uma siderrgica. Esta tinha se tornado obsoleta nos centros, pelo aumento
da velocidade de rotao do capital fixo, levando a criao da Companhia Siderrgica
Nacional (CSN), possibilitando uma nova fase de industrializao no Brasil, depois das duas
guerras mundiais. (MOURA, 1991)
Mas a integrao do ps-guerra foi desigual, os EUA restabeleceram a funcionalidade
dos centros capitalistas europeus e japons, que se especializaram em indstria de alta
tecnologia, como a qumica e a eletrnica, enquanto as periferias forneciam matrias primas e
produtos agrcolas. Mas nesta integrao s alguns pases perifricos, receberam capitais para
instalar indstrias de bens durveis, para o consumo das classes altas da sociedade. Esta
internacionalizao foi fruto das contradies do imperialismo e da necessidade de
deslocamento destas na periferia, para suprir a queda da taxa de lucro, provocada pelos
aumentos dos salrios nos centros, conquistados pelas lutas operarias, e pela equalizao da
taxa de retorno entre monoplios concorrentes, que assim podiam voltar a ter lucros
extraordinrios. (DOS SANTOS, 2011).
Nas dcadas de 50 e 70, esta nova fase se consolidou com os IED ao Brasil, sob a
25
forma de plantas de multinacionais ou de maquinas e equipamentos obsoletos nos centros
porm de ponta no Brasil. (BUENO & SEABRE, 2009).
A internacionalizao do capital monopolista das multinacionais e a integrao
financeira, ao mesmo tempo aumentavam a centralizao, concentrao e conglomerao das
multinacionais e os investimentos que foram direcionados de forma extrema na indstria de
bens sunturios interna, fizeram aumentar a composio orgnica media deste setor no Brasil.
(DOS SANTOS, 2011)
O grande capital brasileiros que precocemente acedeu etapa do monoplio e do
capital financeiro com tecnologia estrangeira, captou na fase de expanso a mais-valia
intersetorial e fazendo recurso as novas tecnologias reduziu os custos de produo com
relao ao setor de bens necessrios e a pequena e media empresa. Estes setores com baixo
dinamismo tecnolgico, alm de atraso inter-estatal e inter-regional, recorreram a
superexplorao do trabalho para preservar suas taxas de lucro e de mais-valia, se servindo do
aumento do excedente de mo de obra a disposio pelo aumento da produtividade do
trabalho na grande indstria monopolstica. Mas como a maioria da fora de trabalho era
empregada pela pequena e media empresa o rebaixamento dos salrios abaixo do valor foi
estendido ao conjunto do 'mercado do trabalho', portanto a superexplorao do trabalho
beneficiou tambm o capital monopolstico. (MARTINS, 2011)
Mas a indstria de bens sunturios, em condies de superexplorao do trabalho,
apresentou limites de manuteno da taxa de mais-valia pelo lado da demanda. Para resolver o
problema de realizao do excedente econmico, devido ao achatamento do mercado interno,
no Brasil, se utilizaram os gastos pblicos e da maquina burocrtica, o financiamento para a
produo e o consumo e principalmente a exportao de mercadorias e de capitais, tambm
para o controle de matrias-primas e fontes de energia no exterior, enquanto atravs da
inflao e do arrojo salarial se permitia a transferncia de valor das camadas inferiores para as
camadas superiores, ou seja, uma distribuio regressiva da riqueza que gerava uma enorme
concentrao de renda. (MARINI, 1974)
O capitalismo industrial brasileiro e o Estado tecnocrtico militar rebaixaram ainda
mais o valor dos salrio indiscriminadamente. Sucessivamente, para alargar o mercado para os
bens sunturios foi feita uma tentativa de populariz-los, produzindo verses bsicas destes
produtos, consumidas pelas nascentes classes medias da burocracia estatal e dos executivos
empresariais, que consumiam parte da mais-valia gerada pela superexplorao do trabalho.
Porm ao mesmo tempo no foram universalizadas a educao e os servios e
infraestruturas bsicas, prprio quando o Brasil passava a ter um xodo rural, portanto a
26
urbanizao se deu sem planejamento. (MARINI, 1974)
Ademais, no podendo o Brasil aumentar a capacidade produtiva do trabalho nos
moldes dos centros, tentando reproduzir o modelo econmico destes, precisou importar
matrias primas, intermedirios, manufaturados e equipamentos com tecnologia estrangeira.
Aumentaram assim os investimentos direto de capitais na indstria principalmente
estadunidenses, mas tambm europeus e japoneses, alargando a dependncia tecnolgica e a
desnacionalizao da economia brasileira, atravs a extenso do controle econmico e
tecnolgico pelos grandes oligoplios internacionais dos setores chaves da economia.
(MARINI, 1974)
Estas contradies do capitalismo geraram dilemas de realizao para os pases
perifricos e semiperifricos, porque estes pases no podiam proteger e expandir o mercado
interno sem diminuir as prprias vantagens comparativas em termos de salrios respeito aos
centros, baseada na superexplorao do trabalho, que gerava uma mais-valia extraordinria
que em parte era apropriada pelos centros. Portanto entraram em atrito com os centros para
questes de protecionismo e cambio. Os pequenos e mdios empresrios se beneficiariam da
expanso do mercado interno, mas este era impossvel sem aumentar os salrios e os
trabalhadores que pretendiam aumentos salariais e maior poder de compra, tinham suas
revindicaes sufocadas. (CARLSSON, 1982)
Este um clssico dilema do capitalismo, a acumulao capitalista necessita diminuir
os salrios para minimizar seus custos fixos de produo, mas necessita tambm de aumentar
os salrios para criar demanda interna para seus produtos. Mas para os pases dependentes
este dilema radicalizado, porque as massas so desprovidas do poder de compra da produo
interna de bens sunturios e esta no pode ser realizada s pela demanda das classes altas e
medias internas, porque altamente concentrada. Portanto realizada na exportao para o
mercado externo com a mesma caractersticas de renda, gerando uma economia extrovertida
que depende dos mercados consumidores externos e que portanto no se desenvolve de
maneira madura, alm de ser exposta as crises do mercado externo.
Este modelo dependente, alm de necessitar de explorar os recursos naturais e
energticos das periferias, para fornecer as industrias dos insumos industriais e agrcolas,
necessrios a sustentao da sua extroverso, precisou diversificar mercados de exportao e
importao, atravs relaes Sul-Sul com novos parceiros comerciais, porque encontrava
restries entrada nos pases centrais que visavam preservao da prpria produo interna
em simbiose com o crescimento do poder de compra dos seus trabalhadores assalariado. Mas
estas restries eram impostas tambm as periferias que eram inundadas de produtos
27
manufaturados industrializados, dos centros e das prprias semiperiferias. Este processo
bloqueava o processo de industrializao autnoma das periferias e aprofundava a
dependncia destes pases para com a exportao de produtos agrominerais.
Ademais, as polticas de desenvolvimento autnomo, para render o mercado interno
mais dinmico, precisavam aumentar os salrios para fazer crescer o consumo e gerar uma
expanso mais que proporcional da indstria de bens de consumo em relao indstria de
bens de capitais, para render a primeira um mercado dinmico para a segunda, mas uma
interveno estatal de longo prazo para reduzir o ritmo da acumulao para futuros
desenvolvimentos, andava contra os interesses do capital em intensificar a acumulao no
curto prazo. (MARINI, 1974)
E enquanto as indstria de bens durveis cresciam a taxas elevadas, as indstrias de
bens tradicionais, entravam em crise pelo baixo consumo das grandes camadas inferiores, que
sendo expulsadas dos campos e das florestas, e sem poder ser integrada nas industrias de bens
durveis, mais intensiva em capital que em trabalho, formava uma grande massa semi-
proletria, que no era absorvida nem pelo setor de servios e vivia nos grandes subrbios
brasileiros. (MARINI, 1974)
Este exrcito de reservas de trabalhadores semi-proletarizados superexplorados, alm
de rebaixar os salrios, subsidiavam a reproduo capitalista atravs da autoexplorao pelo
trabalho no pago, atravs de uma infinidades de atividades e servios informais. Ademais o
capitalismo brasileiro recorreu sistematicamente mo de obra infanto-juvenil, e de mulheres
negras pagando a um salrio mais baixos que aos homens adultos na mesma funo. Os
negros so ainda os mais afetados pelo desemprego e baixos salrios porque discriminados
socialmente alm que pela baixa qualificao, (DIEESE2), espelho de um sistema educacional
socialmente e racialmente discriminatrio, com baixa qualidade de ensino e das
infraestruturas, com um rendimento educacional que trava o crescimento brasileiro, alm de
transferir recursos pblicos para as o setor educacional privado e que dificilmente podem ser
revertido por polticas de cotas raciais e sociais e polticas focalizadas sobretudo na
erradicao da pobreza extrema3, sem enfrentar os problemas estruturais da economia.
(MARTINS 2011).
2 http://www.dieese.org.br/esp/estudos_negro.xml 3 Por pobreza extrema se entende uma renda per capita ate um quarto de salrio mnimo, por pobreza se entende ate um salrio mnimo, parte da reduo da pobreza, de 44, 2% em 2003, para 33% em 2008, se explica pela diminuio da fecundidade, o aumento da participao da mulher no mercado de trabalho, o envelhecimento da populao e a consequente contratao de idosos com maior valorizao da fora de trabalho e a migrao do campo para a cidade, com empregos com maior intensidade do trabalho e maior qualificao mas com poder aquisitivo que proporcionalmente cresceu menos (MARTINS, 2011)
28
A superexplorao do trabalho e a autoexplorao do trabalho so indicadores do
aumento da mortalidade infantil e do desgaste prematuro dos trabalhadores, que combinadas a
uma piora nas condies habitacionais, de sade, educao e alimentao, e a uma enorme
concentrao de renda, que as polticas sociais dos governos de Lula e Rousseff no esto
revertendo, so as caractersticas estruturais do modelo brasileiro. (SOUZA, 2008)
A partir do final da dcada de 70, a esta dinmica interna ao Brasil, que Marini
chamou de subimperialista, se sobrepem uma simultnea e mais intensa internacionalizao
e concentrao de capitais e mercadorias. A revoluo tecnolgico cientifica da
microeletrnica permitiu ao capital reestruturar a acumulao. Necessitando de ampla
mobilidade de capitais e mercadorias, pelos altos custos da produo intensiva em capitais.
Foi internacionalizado o trabalho coletivo criando estruturas produtivas homogeneizadas em
escala global que reduziram o trabalho industrial manual. Os oligoplios dos centros
concentraram as atividades de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e novas
tecnologias, se servindo de universidades e centros de pesquisas avanados, enquanto a
produo direta foi espalhada pelo mundo nas suas partes e componentes. A concepo dos
produtos, o design e as campanhas de venda e os benefcios maiores da comercializao
foram concentrados pelos oligoplios financeirizados, que transferem altos valores do setor
produtivo para a esfera financeira e especulativa. (MARTINS, 2011)
Este processo de concentrao foi acompanhado nas dcadas de 70 e 80 pela
centralizao de capitais das periferias em recesso e com altos dficit em conta corrente para
os centros via juros da divida externa. As periferias foram obrigadas a paralisia do
desenvolvimento do setor de bens de capital via substituio de importaes e a gerar altos
supervit comerciais aprofundando a superexplorao do trabalho. J na dcada de 90 no
Brasil, atravs a abertura econmica, sobrevalorizao cambial com formao de grandes
reservas, facilitadas pela baixa dos juros internacionais e renegociao da divida que foi
deslocada internamente, a economia foi privatiza e desnacionalizada, e foi reconvertida e
orientada a exportao, sobretudo de commodities mas tambm de outras mercadorias com
baixo ou mdio valor agregado para reduzir os dficit estruturais na balana de pagamento.
(MARTINS, 2011)
Se nas dcadas de 50 e 70, a superexplorao era suavizada transferindo a demanda
dos setores menos intensivos em tecnologia para os setores mais intensivos, nas dcadas de 80
e 90, a reconverso dos setores mais intensivo nos espaos de circulao de mercadorias
controlados pelos oligoplios dos centros, com constantes inovaes e liberalizaes
comerciais e alta dos juros, levou a composio orgnica destes setores a valores inferiores a
29
media, estes setores portanto passaram a sofrer perdas de mais-valia, aumentando o
desemprego e a superexplorao. (MARTINS, 2011)
A partir de 2003, a reverso na deteriorao dos termos de troca, pela alta demanda
sobretudo da China e da ndia, aumentou os preos dos produtos primrios brasileiros,
sobretudo soja e mineiro de ferro, aumentando as reserva internacionais do Brasil, a estas
novas entradas se juntaram as remessas de lucro do exterior dos migrantes brasileiros.
(MARTINS, 2011)
Os governos de centro-esquerda surgidos na onda de insatisfao com as polticas
neoliberais e ajudados pela conjuntura econmica favorvel, implementaram algumas formas
de democracia participativas, de desenvolvimento do mercado interno para consumo popular
e de transferncia de renda para as camadas mais pobres, mas aprofundaram os fundamentos
das polticas econmicas neoliberais antecedentes. (MARTINS, 2011)
As crises recentes nos EUA e depois na Europa a partir de 2008, esto desacelerando a
demanda chinesa pelos produtos primrios que alias apresentam tendncias seculares a
redues significativas que rendero insustentveis as polticas econmicas do Brasil,
reduzindo as possibilidades de complementaridade interna entre os interesses da oligarquia
financeira brasileira e a expanso do consumo interno que na base do modelo do governo de
Lula e de Rousseff. (MARTINS, 2011)
Porm ao mesmo tempo estamos assistindo a expanso das empresas de pases do Sul,
que mantm altas reservas internacionais como China, ndia e Brasil e compraram algumas
empresas do Norte, se servindo de bancos nacionais de desenvolvimento, como o BNDES no
Brasil, mas esta expanso ainda muito pequena em comparao a penetrao do capital
internacional nestes mesmos pases.
2.5 Cooperao antagnica: poltica expansionista relativamente autnoma.
A integrao do Brasil ao imperialismo e sua industrializao tinha gerado
contradies e conflitos internos e externos, sobre cambio, tributao e remessas de lucro, e
sobre reformas de base para o alargamento do mercado interno. Houve um aumento da
complexidade das relaes sociais entre as classes internas e externas, e entre fraes
brasileiras e estrangeiras que produziam para o mercado interno ou externo, e em relao aos
conflitos com a classe trabalhadora, os camponeses e a pequena burguesia. A radicalizao
destas contradies, que seguia o andamento das crise mundiais e das crises conjunturais
levou a uma nova sntese da dialtica entre cooperao e antagonismo, que levou a uma maior
30
integrao ao imperialismo.
Associando-se e integrado-se ao imperialismo, depois do golpe de 64, o Brasil
reconciliava o bloco dominante e reconstitua uma complementaridade entre burguesia
industrial e agrria, mas o desenvolvimento brasileiro no seria mais autnomo, no
resolveria as contradies que a concentrao fundiria gerava. A burguesia aceitava as
divisas estrangeiras necessrias superao da crise mas concedia em troca liberdade ampla
de entrada e ao ao capital estrangeiro. Por sua parte os militares reforaram o papel
intervencionista do Estado atravs s burocracias estatais (ao contrario do Chile e da
Argentina) que tinham sido implementadas por Vargas, e tambm reforaram e geriram os
negcios das empresas estatais, como a Petrobras e deram novas funes ao BNDE.
(MARINI, 1974; CRUZ & MORAES, 2011)
Os militares no campo faziam penetrar compulsoriamente a chamada 'revoluo verde'
com mecanizao e agroqumica, para a produo de soia em combinao a gado no Cerrado
brasileiro. A burguesia oligrquica agrria agora era mais 'moderna' e agressiva, ligada a
capitais nacionais e estrangeiros de setores urbanos industriais, bancrios e das medias. As
polticas agrrias de avano da fronteira agrcola, expropriaram os agricultores dos campos e
aumentaram ainda mais a concentrao agrria, gerando grandes conflitos sociais que levaram
ao surgimento de movimentos de agricultores sem terra em meados dos anos 80. (MARINI,
1974; CRUZ & MORAES, 2011)
O regime tecnocrtico-militar levaria adiante este modelo, que resolveu
momentaneamente a crise de realizao do capital no consumo sunturio, na demanda estatal
e no mercado externo, subsidiando as exportaes de mercadorias, reprimindo as
revindicaes das massas e superexplorando o trabalho para compensar a parcela de mais-
valia apropriada pela burguesia dos pases imperialistas Possibilitando para o capital lucros
extraordinrios, este modelo de acumulao inaugura o fenmeno histrico e dialtico do
subimperialismo brasileiro. (MARINI, 1974)
Mas a expanso da economia nos mercado externos, subordinada aos interesses dos
monoplios internacionais, permitia a participao destes no aprofundamento da
superexplorao do trabalho, mas dependia da capacidade competitiva da fraca burguesia
brasileira nos mercados externos, e portanto do apoio do Estado para suprir a assimetria das
empresas nas negociaes com as corporaes dos pases centrais. (DOS SANTOS, 2011)
A cooperao antagnica se manifestou no plano externo com uma poltica
expansionista relativamente autnoma, uma poltica que aceitou a dominao imperialista
mundial, mas procurou uma esfera de influencia prpria relativamente autnoma na Amrica
31
Latina, Caribe e frica. Atravs esta esfera de influencia o Brasil pretendia ter acesso a
recursos naturais e energticos, mercados consumidores e investimentos diretos de capitais,
para criar indstrias nestas regies, na maioria das vezes cooperando com o imperialismo,
mas podendo chegar postura antagnica sobre algum assuntos, visando obter ganhos
relativos. (MARINI, 1974 ; LUCE, 2007)
A ditadura militar, no governo Castelo Branco, atuou em harmonia com as
modificaes da economia mundial na qual aumentou a concorrncia por mercados e
investimentos entre os centros, e iniciou a fase da predominncia dos fluxos financeiros sobre
os investimentos diretos. As corporaes multinacionais cresceram enormemente nesta fase
juntamente a disponibilidade de dlares nas mos dos bancos privados, pelos contnuos dficit
na balana de pagamentos estadunidense. Assim no Brasil enquanto cresceram as exportaes
aumentaram tambm muito os emprstimos financeiros mas em proporo os investimentos
diretos cresceram fracamente, gerando crises internas. (MARINI, 1992)
J a partir do governo Costa e Silva do perodo da ditadura militar a burguesia
brasileira, em posio subordinada na diviso internacional do trabalho, revindicou melhores
preos para os produtos exportados, a possibilidade de industrializar matrias primas agro-
minerais que eram exportadas em forma bruta, e a ampliao do mercado dos pases
dominantes para os produtos manufaturados nos pases dependentes, estas pretenses
levariam a atritos entre centros e periferias, e receios dos pases centrais para com a possvel
concorrncia adicional dos pases perifricos. (DOS SANTOS, 2011)
Em 1967 as exportaes receberam incentivos fiscais, que chegaram a dispensa de
pagamentos fiscais e tarifrios, subsdios fiscais e aberturas de linhas de crdito. O ano
seguinte o cmbio foi desvalorizado para ajudar as exportaes, os preos chegaram a ser
50% menores respeito ao mercado brasileiros. (DE SANTANA, 2004)
A partir de 68, no segundo golpe da grande burguesia industrial-financeira, atravs do
Ato Institucional numero 5 (AI5), o Brasil passa de uma poltica liberal a uma poltica neo-
mercantil e protecionista para aumentar as exportaes de manufaturados nacionais e das
empresas estrangeiras e impor esta poltica as outras fraes da burguesia e aos trabalhadores.
Mas embora uma serie de medida para reduzir as tarifas de importao que o modelo
industrial exportador requeria e subsdios diretos ao capital privado para exportao, o dficit
comercial superou o valor das exportaes e a divida externa disparou, situao agravada pela
primeira crise petrolfera de 1972. (MARINI, 1992)
A dominao imperialista deveria passar pela transferncias de capitais nas periferias,
elevando a composio orgnica media do capital, e criando novas semiperiferias econmicas
32
que poderia levar tambm no nvel estatal a certa autonomia poltica. Surgia assim um
confronto dialtico com pases capazes de poder exercer certo protagonismo regional, como o
Brasil. Entretanto as dinmicas de desenvolvimento externo, sem resolver os dilemas internos
mediante reformulao profunda das condies geradoras da dependncia, entrariam em
contradio crescente com a condio de dependncia e subordinao necessria ao
imperialismo e com as revindicaes e as lutas das classes trabalhadoras contra o aumento da
explorao e das expropriaes das terras. (DOS SANTOS, 2011)
Doutro lado a internacionalizao de empresas brasileiras e indiretamente estrangeiras
e a expanso interna ao Brasil destas para a explorao de fontes de matrias primas (com as
infraestruturas anexas), sem resolver com reformas estruturais as contradies internas,
renderiam estas mais agudas, na medida em que aumentariam as lutas dos trabalhadores
superexplorados das periferias. (DOS SANTOS, 2011)
O fracasso da iluso de um desenvolvimento independente que a integrao e
associao do capital brasileiro ao capital interacional deveria estabelecer, alm de levar a
pagar preos mais altos pelos bens manufaturados, e o subsequente protecionismo, que
aumentou a inflao, levou a atritos do Brasil com o imperialismo. Atritos que levaram ao
bloqueio da tentativa brasileira de exportar caf solvel, produo monopolizada pelos
centros, a denuncia do Tratado militar EUA-Brasil, a no assinatura do Tratado sobre no
proliferao e armas nucleares (TNP) e ao projeto nuclear contrariando os EUA porque
envolvia uma parceria com a Alemanha e, ameaas de calotes da divida externa, a procura de
mercados nos pases socialistas, (DOS SANTOS, 2011) e na frica, a tentativa de unificar as
revindicaes dos pases do Terceiro Mundo e dos pases no alinhados, a venda de armas a
pases considerados inimigos dos EUA, como a Lbia, a oposio contra regimes racistas
como Israel e frica do Sul, aliados dos EUA, e o reconhecimento do Brasil, primeiro entre
todos os pases, dos governos socialistas4 de Angola Moambique e Guine Bissau. (DE
SANTANA, 2004)
J a segunda crise petrolfera em 1979, foi em parte contornada pelo mecanismo do
countertrade, o Brasil importava o precioso petrleo da Nigria e de Angola, petrleo leve, de
fcil refinao e baixo contedo de sulfo, em troca de produtos manufaturados, (DE
SANTANA, 2004).
4 No Brasil a policia perseguia, torturava e matava militantes de esquerda anti-imperialistas, e em Angola, Moambique e Guinea Bissau pases socialistas o Brasil apoiava projetos de construo da nao nos quais participavam alguns destes militantes exilados brasileiros, juntamente a cubanos, estas contradies geraram conflitos com as correntes anticomunistas dos militares brasileiros e com os setores politicamente de esquerda no Brasil como na frica. (DAVILA, 2011)
33
Mas o aumento da taxa Libor5 do dlar de 9,4% em 1978 para 19,5% em 1980, fez
disparar a divida e os servios desta, as divisas foram liquidadas e o pais recebeu moratria do
Fundo Monetrio Internacional (FMI), que o obrigava a ter elevados saldos comerciais para
pagar os emprstimos, e a reduzir as importaes e aumentar as exportaes, isso no
permitiu a inovao do parque produtivo e tecnolgico e o crescimento despencou. (MARINI,
1992)
2.6 A reconverso e o novo subimperialismo
Nas dcada de 60 e 70, a politica externa de contra-insurgncia, proclamada pela
doutrina da segurana nacional estadunidense, para a conteno da ameaa comunista,
permitiu a ditadura militar brasileira, atravs da poltica externa de cooperao antagnica,
colaborar com as estratgias estadunidense de estabilizao geopoltica das tentativas de
autonomia com relao ao EUA de alguns paises latino-americanos (Cuba, Chile, Argentina,
Santo Domingo, Nicargua, etc.), e explorar o povo brasileiro e os povos vizinhos, tendo uma
postura antagnica para barganhar uma relao mais favorvel na dependncia, com a criao
de uma esfera de influencia, poltica e econmica, na Amrica Latina e na frica, que
caracterizam a dinmica subimperialista. (MARINI, 1985)
Bueno e Seabra (2009) analisam as dinmicas histricas que levaram ao novo
subimperialismo. A aliana com o imperialismo mudou na dcada de 80. A esta mudana
contriburam as novas diretrizes da poltica externa dos EUA que atravs o discurso dos
direitos humanos pretendia se livrar das ditaduras que eram instveis e com pretenses de
autonomia que impossibilitavam a reorganizao de uma nova diviso internacional do
trabalho.
Surgiram neste processo trs novas fraes na grande burguesia. Uma primeira frao
ligada s novas tecnologias da informao e telecomunicaes, com carter dinmico e
moderno, que apoiou a eleio de Collor, se beneficiaria com a reconverso produtiva que iria
modernizar o parque industrial e com a maior abertura econmica e financeira, com as
relativas reformas jurdico-institucionais de reforma do Estado. Por que isso lhe
proporcionaria a possibilidade de se vincular tecnologicamente e financeiramente com o
exterior e assim poder negociar sob melhores condies com as corporaes monopolistas
gigantes para a diviso do mercado interno.
A segunda frao, que entra em conflito com a primeira ligada aos setores industriais 5 London Inter-Bank Offered Rate, a taxa de juros de referncia para as finanas internacionais.
34
tradicionais, mais numerosa e forte politicamente. Esta se de um lado contrasta a reconverso
uma vez que a obrigaria a modernizar-se e competir comercialmente, entende que necessita de
uma unidade entre os grupos que a compem para melhor negociar com os centros
imperialistas. Enfim a terceira frao, ligada produo agro-mineraria, se alia a frao
moderna, porque especificadamente interessada na ampliao das exportaes e na abertura
externa.
Na dcada de 90, a reconverso sob as diretrizes do Consenso de Washington,
contribui para o aglutinamento de duas novas fraes na burguesia, uma ligada ao mercado
financeiro atravs emprstimos externos e investimentos no exterior, a segunda ligada ao
aprofundamento do processo de privatizao dos servios pblicos, educao, sade, planos
de previdncia, segurana privada, ou seja dos setores de servios. Juntamente a este processo
de privatizao se assiste a alienao de empresas publicas pelo Plano Nacional de
Desestatizao (PND) de Cardoso e se assiste a uma forte concentrao do capital industrial e
ao surgimento de empresas brasileiras que se tornaro global players.
Portanto, nestas dcadas as determinaes de uma dinmica subimperialista
dialeticamente seguiram as mudanas de estratgias imperialistas que levou a novas
configuraes no bloco dominante, que se associou ao imperialismo para extrair mais-valia
nos novos espao econmico internos e no tinha interesse nesta fase no mercado externo.
Mas esta fase mudara a partir de 2000, com o surgimento de uma nova frao que retoma o
interesse no mercado externo, no somente pela explorao do trabalho e mercado interno
pouco dinmico mas tambm pela escassez de oportunidade de financiamento e investimentos
pblicos no mercado interno, que era uma das sadas adotadas pelo subimperialismo. Mas
desta vez no mais s na esfera da circulao de mercadorias, mas na esfera da produo e do
financiamento, com exportao de capitais. Em forma de investimentos diretos e polticas de
incentivo a internacionalizao das empresas que so objetivos do Fundo Soberano do Brasil
e do BNDES, com linhas de crditos especificas para exportao de capitais. Exportao
impulsionada pela mudana legal do estatuto do BNDES, para vincular as exportaes
contratao de exportadores de bens de capitais e mercadorias brasileiras, na mudana do
estatuto da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA) para poder exportar e
ter certa autonomia no exterior, e na atuao de fundos de investimentos6 brasileiros no
exterior. Este novo subimperialismo, retoma necessariamente a postura de cooperao
antagnica na poltica externa com relao ao imperialismo.
6 Regulamentao da atuao de Fundos de Investimentos brasileiros no exterior pela Instruo da Comisso de Valores Imobilirios n. 450, de 30 de maro de 2007 (BUENO, 2008)
35
Dados sobre a internacionalizao das empresas brasileiras, mostram que o fluxo do
IED brasileiro era de US$ 4,06 bilhes na dcada de 1980, US$ 67,01 bilhes na dcada de
1990 e US$ 112,01 bilhes na dcada de 2000, portanto cresceu muito nas ultimas dcadas e
ainda mais na ultima dcada. Entre 2001 (US$ 68,6 bilhes) e 2006 (US$ 152,2 bilhes), nos
estoques de investimento temos 75% de investimentos diretos e 65% dirigidos participao
em mais de 10% das aes de companhias no exterior e sob forma de depsitos em moeda,
nos centros financeiros de Nova Iorque e Londres, e outra parte elevada com destino
geogrfico nos parasos fiscais caribenhos, que atravs de holdings so investidos no resto do
mundo diminuindo custos de transao. Portanto o capitalismo brasileiro esta exportando
capitais mas tambm bastante financeirizado. (BUENO, 2008)
O novo subimperialismo brasileiro na Amrica Latina aumentou a superexplorao do
trabalho e as transferncias de valor, das periferias para os centros. Os mega projetos de
infraestruturas do IIRSA (Initiative for the Integration of the Regional Infrastructure of South
Amrica), esto integrando os territrios do continente para a explorao dos recursos naturais
a beneficio dos oligoplios dos pases centrais e de algumas grandes empresas brasileiras.
(LUCE, 2007)
Aumentam assim os conflitos por terra, direito ao trabalho e direitos humanos nos
campos, nas comunidades indgenas e nas cidades, envolvendo a burguesia agrria e industrial
brasileira, empresas oligopolistas estrangeiras e hedge funds dos pases centrais. Nos
latifndios agroindustriais brasileiros, do Paraguai e da Bolvia, conflitos com a Petrobras na
Bolvia e com a Odebrecht no Equador, e nos canteiros das obras no Brasil. Estes conflitos
agora esto sendo deslocados e reproduzidos na frica, conflitos da empresa Vale em Guin e
Moambique, da Odebrecht e Camargo e Corra em Moambique e do agronegcio na Africa.
Em Moambique existem dois megaprojetos brasileiros, uma enorme mina a cu
aberto de carvo foi concedida pelo governo moambicano a Vale para explorao. Projeto
que compreende uma central eltrica, duas linhas ferrovirias, dois portos e um aeroporto.
Foram expropriadas as terras e as casas das populaes que viviam na regio, e foram
reassentadas em outra localidade. A Vale criou um consorcio com a Odebrecht e a Camargo e
Corra para desenvolver este projeto.
Em uma regio adjacente, em um enorme corredor natural o governo moambicano
concedeu terra a grupos da burguesia agrria brasileira atravs um projeto trilateral (Brasil-
Moambique-Japo) para desenvolver agroindstrias para exportao e agricultura familiar.
Aumentam os conflitos com as populaes moambicanas atingidas, que se organizam
para resistir e para pedir condies dignas de trabalho e respeito ao meio ambiente e a terra,
36
alm de questionar os contratos e as condies de explorao e de repatriamento dos lucros.
A diplomacia brasileira apoiou estes projetos atravs uma poltica externa
intencionada a restabelecer as relaes Sul-Sul, fortalecer as agencias governamentais, como a
EMBRAPA e apoiada pelas associaes de categoria, do agronegcio, da minerao, etc.
Em 2004 Lula cancelou 95% da divida moambicana (315 milhes de US$) e
renegociou o resto, mas embora as negociaes para a concesso da mina de carvo
comearam em 2000, foi assinado o acordo em 2004 em Braslia, durante a visita do ex
Presidente de Moambique Joaquim Alberto Chissano. (RIBEIRO, 2009).
No prximo capitulo analisaremos a poltica externa dos dois ltimos governos
brasileiros, com relao frica e a agricultura, e as estratgias da internacionalizao de
empresas brasileiras.
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3 A POLTICA EXTERNA BRASILEIRA (2003-2012) COM RELAO FRICA E
ESTRATEGIAS DA INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS BRASILEIRAS.
Neste terceiro capitulo ser analisada a poltica externa brasileira dos governos de Lula
e do atual governo de Rousseff, sobretudo com relao a 'exportao' na frica do modelo
agrcola brasileiro. Sero analisados os investimentos brasileiros na frica, as trocas
comerciais, e as estratgias de internacionalizao dos principais pases do Sul, Brasil, China
e ndia e dos principais pases centrais, EUA, Inglaterra e Frana, que ao contrario dos pases
do Sul so presentes militarmente.
No primeiro subcaptulo ser analisada a poltica externa brasileira com relao
frica, com o papel do Governo Federal, do Presidente da Republica, do Ministrio das
Relaes Exteriores (MRE) e dos outros ministrios, das agencias governamentais, do
BNDES, da Fundao Getlio Vargas (FGV) e das associaes privadas de categorias. Sero
analisados alguns acordos com outros estados sobre agrocombustveis. Como parte da poltica
externa sero analisadas as trocas comercias entre Brasil e frica, que antes da crise de 2008,
quando tiveram uma inflexo, tinham crescido bastante e estavam voltando em termos
numricos percentuais aos valores do pice, este foi alcanado durante o governo Figueredo,
quando chegou a 9% do total das trocas comerciais do Brasil com o resto do mundo. O Brasil
importa muito petrleo e tem dficit relevantes com pases como a Nigria e outros pases
dependentes das exportaes de petrleo, mas por sua vez o setor petrolfero destes paises
controlado pelos oligoplios do petrleo e petroqumica das empresas do Norte.
Segundo Saraiva (2012) teve uma mudana qualitativa na chamada governana de
vrios pases africanos e na estabilidade econmica e poltica destes, os pases africanos em
geral se tornaram mais liberais. Tambm o relacionamento do Brasil com a frica teve uma
mudana qualitativa, passando a ser segundo este autor uma 'parceria' para o desenvolvimento
de longo prazo, baseado na cooperao tcnica, transferncia de tecnologia e no emprego de
mo-de-obra local com capacitao profissional.
Fizemos algumas observaes a esta viso que de forma autorreferencial gera uma
auto-imagem positiva do Brasil e uma imagem negativa da China. Saraiva omite de dizer que
o Brasil se serve tambm de migrantes asiticos e de mo-de-obras brasileira em grande
escala na frica, sobretudo nas fase de construo de grandes projetos. A China justifica o
emprego de mo-de-obra chinesa pelo fato de agilizar as obras, com menos complicaes
lingusticas e culturais e de condies de trabalho. Mas se o Brasil esta capacitando
profissionais africanos, a China tambm tem projeto de capacitao profissional, e estes so
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muito mais relevante dos brasileiros. Alm disso Saraiva no seu ultimo livro frica parceira
do Brasil atlntico: relaes internacionais do Brasil e da frica no incio do sculo XXI
(2012), omite de citar e de analisar criticamente trs IED brasileiros importantes e polmicos.
A usina de etanol e acar BIOCOM em Angola, que deveria diminuir a dependncia das
importaes de acar de Angola, mas que poderia se tornar o comeo de uma explorao em
grande escala do agronegcio do etanol para exportao, em um pais com graves problemas
de segurana alimentar e falta de saneamento bsico. A mina de ferro na Guin-Conacri,
projeto que pode fracassar por causa do descaso da Vale com os pedidos das populaes e um
massacre durante uma manifestao contra a Vale, por parte da policia da Guin. E enfim o
Projeto Carvo Moatize em Moambique, com cerca de 1350 famlias reassentadas por causa
do projeto, que protestam contra vrias violaes dos direitos humanos e promessas no
mantidas. E enfim o projeto PROSAVANA JBM. Ao contrario o relatrio conjunto entre o
Banco Mundial e o brasileiro Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicadas (IPEA), Ponte
sobre o Atlntico: Brasil e frica Subsaariana: parceria Sul-Sul para o crescimento,
sucessivo ao livro de Saraiva e ao qual Saraiva colaborou, cita alguns projetos, mas
lembrando somente que as famlias moambicanas deverias ser reassentadas, porm enfim
todos compartilham a ideia liberal pouco sofisticada que IED igual a desenvolvimento.
Ademais como afirma Junqueira (2012), o discurso brasileiro de que a cooperao
brasileira um modelo prprio de cooperao. Mas o projeto Cotton-47, acaba beneficiando as
empresas brasileiras, assim como em outros programas da EMBRAPA, como o
PROSAVANA, e no transfere a tecnologia das sementes tecnologicamente mais avanadas,
protegendo as patentes por interesses comercias e econmicos, portanto fornece sementes
com tecnologia atrasada. Ademais o Brasil difunde as sementes transgnicas, que precisam de
uso de agrotxicos, setor oligopolizado por empresas do Norte, no qual o Brasil e a
EMBRAPA alcanaram uma autonomia relativa.
No segundo subcaptulo ser analisada a internacionalizao das empresas brasileiras
na frica, em comparao com dois outros pases do Sul, a ndia e da China, e em
comparao aos pases imperialistas do Norte. A atuao da China que foi aquela que mais
cresceu nesta ultima dcada, no diferente das outras, a no ser que os centros imperialistas
possuem empresas oligopolistas em todos os setores da economia mundial, enquanto a China
comea a quebrar, com suas empresas sobretudo estatais, estes oligoplios. Todas as
estratgias destes pases na frica so baseada na explorao de recursos naturais, venda de
7 Programa da EMBRAPA para desenvolver o agronegcio algodoeiro dos pases do C4 Benin, Burquina Faso, Chade e Mali
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manufaturados e servios e superexplorao do trabalho, mas a China, um pais de mais de um
bilho de pessoas, emprega muita mo-de-obra chinesa. Os investimentos e as trocas
comerciais chineses porm no so ainda superiores aos pases do Norte que com a
instabilidade do Oriente Mdio aumentaram a explorao do petrleo africano. Mas
diferentemente dos pases do Norte, a China no vincula os emprstimos aos pases africanos
as condicionalidades de ajustes neoliberais, alias os pases do Norte esto copiando esta
estratgia chinesa para no perder mercados na frica. Enfim a China, que apoiou a frica
nas lutas anticoloniais faz um discurso anti-imperialista, e no militarizou o continente, ao
contrario dos pases da Organizao do Atlntico Norte (OTAN).
O terceiro subcaptulo ser focado na agricultura, ser analisada a poltica externa
brasileira com relao exportao do modelo agrcola brasileiro, baseado no trip,
agronegcio, agricultura familiar e programas de segurana alimentar e proteo social. E
enfim a presena das maiores empresas brasileiras na frica, na minerao mas sobretudo no
setor de agrocombustveis, etanol mas tambm a soia, lembrando que 60% das exportaes da
soia produzida no Brasil de empresas estrangeiras.
O setor do etanol no Brasil era quase totalmente nacional, com 5% de presena
estrangeira em 2004, mas agora esta sendo desnacionalizado. Em 2011 a presena estrangeira
passou a 40%, com previses de chegar a 60 %, quatro dos cinco maiores grupos so
controladas por estrangeiros. Tambm o setor de mquinas, equipamentos e insumos
agrcolas, tem presena majoritria de empresas estrangeiras e as empresas brasileiras no
podem competir financeira e tecnologicamente com elas, a mesma coisa pode ser afirmada
pela EMBRAPA, que mantm parcerias para projetos produtivos com a Monsanto e a Basf,
dois gigantes do oligoplio do agronegcio e os projetos da EMBRAPA so financiados por
bancos internacionais de desenvolvimento8. A soia pode ser utilizada tambm como
agrocombustvel, na forma de agrodiesel, que um subproduto da soia, sendo o produto
principal o farelo de soia, para alimentao animal. A expanso da produo de soia ao
contrario do etanol no precisa de novas terras e poderiam portanto ser ampliada
enormemente no Brasil, Amrica Latina e Caribe e na frica sobretudo com grandes ganhos
pelas empresas estrangeiras que formam o oligoplio mundial. (SCLESINGER, 2012)
8 Como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Internacional para Reconstruo e Desenvolvimento (BIRD) e o Fundo Internacional para Desenvolvimento Agrcola (FIDA) da ONU.
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3.1 A poltica externa brasileira (2003-2012) com relao frica.
Com a presidncia de Lula foram ampliadas e fortalecidas as relaes internacionais
entre Brasil e frica, demonstrando grande interesse nas relaes Sul-Sul, ao contrario dos
governos de Fernando Henrique Cardoso. Lula reestruturou e deu oramento prprio ao
Departamento da frica, e extinguiu9 o renegociou a divida de vrios pases africanos. Os
pases africanos, responderam positivamente a nova aproximao brasileira engajando-se nas
parcerias, tiveram muitas visitas e aberturas de embaixadas de ambos os lados. Em 2003 foi
estabelecido o IBAS (Frum de Dilogo ndia-Brasil-frica do Sul), em 2006 foi realizada a
Cpula Amrica do Sul-frica (ASA) e em 2009 teve o primeiro frum anual frica-Brasil.
(SARAIVA, 2012 ; BANCO MUNDIAL E IPEA, 2012).
A Presidenta Rousseff continua neste propsito de longo prazo, no primeiro ano de
governo visitou Angola, frica do Sul e Moambique. Na agenda comum do governo Dilma
com o presidente Obama, a produo e comercializao do etanol so importantes no Dilogo
Estratgico em Energia. (SCHLESINGER 2012). Em julho de 2011 designou Lula para
representar oficialmente o Brasil na 17 Cpula da Unio Africana, essa medida confirma no
somente o interesse pessoal de Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT) pelas questes
Brasilfrica, mas sobretudo o interesse geopoltico da diplomacia brasileira, que no processo
de internacionalizao apoia sobretudo os grandes grupos empresariais brasileiros. Porm
devemos observar que tambm as exportaes de pequenas e medias empresas so
incentivadas atravs da Agencia brasileira de Promoo de Exportaes e investimentos
(APEX). (SARAIVA, 2012; BANCO MUNDIAL E IPEA, 2012)
Em Abril de 2012 foi criado o portal da frica10, parceria entre a Associao Brasileira
da Indstria de Mquinas e Equipamentos (ABIMAQ) e a EMBRAPA, para coletar
informaes para os pases do continente africano sobre maquinas e tecnologia agrcola
brasileira, com a finalidade de aumentar as exportaes brasileiras e a troca de conhecimento
sobre praticas agrcolas entre o Brasil e o continente africano.
O Brasil participa ativamente no frum Global Bioenergy Partnership (GBEP), e
outros fruns que trabalham para render os agrocombustveis commodities, e para criar
marcos legais normatizados nos pases africanos assim como da Amrica Latina e Caribe no
setor de agrocombustveis. (SCHLESINGER, 2012)
Segundo Schlesinger (2012) o MRE lidera as negociaes internacionais sobre
9 China e ndia tambm extinguiram dividas africanas.10 http://portalafrica.com.br/portalafrica/public_html/index.html
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agrocombustveis, e criou a Diviso de Recursos Energticos Novos e Renovveis (DRN).
Outra estrutura do MRE a Agncia Brasileira de Cooperao (ABC), que atravs a
Coordenao-Geral de Cooperao em Agropecuria, Energia, Biocombustveis e Meio
Ambiente (CGMA), coordena os projetos de cooperao tcnica internacional. O MRE ainda
coordena os ministrios que participam das negociaes e da cooperao, como o Ministrio
das Minas e Energia (MME), como seu Departamento de Combustveis Renovveis (DCR),
do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA) com sua Coordenao Geral
de Agroenergia e a EMBRAPA, com sua Assessoria de Relaes Internacionais e da
EMBRAPA Agroenergia. O BNDES que considera prioritrio o setor de agrocombustveis na
frica, implementa os acordos internacionais e financia a internacionalizao de empresas
brasileiras, por meio da Linha de Investimento Direto Externo, criada em junho de 2005, o
BNDES financia tambm pesquisa sobre a viabilidade do agronegcio na frica, atravs o
seu Departamento de Pesquisas e Operaes (DEPEQ).
A FGV atravs a rea de Projetos do seu Centro de Agronegcio (GV Agro),
coordenado pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues (2003-2006), lanou em 2011
o Projeto Tropical