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SUBORDINAÇÃO, AUTONOMIA E PARASSUBORDINAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO Otavio Pinto e Silva Faculdade de Direito - USP

SUBORDINAÇÃO, AUTONOMIA E PARASSUBORDINAÇÃO … · Autonomia • Regulamentação do trabalho autônomo ... •Dependência de uma pessoa em relação a outra •Direito brasileiro:

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SUBORDINAÇÃO, AUTONOMIA E

PARASSUBORDINAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Otavio Pinto e Silva

Faculdade de Direito - USP

Globalização da economia

• Contínua alteração das relações de trabalho

• Inovações tecnológicas que resultam em diversas formas de reestruturação produtiva

• Surgimento de novas profissões e o desaparecimento de outras

Objeto do direito do trabalho

• Concebido para regular uma modalidade de relação jurídica - o emprego - que aos poucos deixa de ser hegemônica

• Critério fundamental usado para a construção do sistema de proteção social ao trabalhador foi o da subordinação

• Elemento indispensável para a configuração da relação jurídica de emprego

Objeto do direito do trabalho

• Falhas de um sistema de proteção social que não alcança parcela do mercado de trabalho

• Afinal de contas, o direito do trabalho deve proteger apenas os empregados?

• Não é o caso de repensar o seu âmbito de aplicação?

Objeto do direito do trabalho

• JORGE LUIZ SOUTO MAIOR

• Há risco em extrair o direito do trabalho dos limites da relação de emprego

• Efeito concreto: não levar a sua racionalidade a todas as relações de trabalho; permitir a destruição dessa racionalidade, em razão da introdução dos valores liberais que ainda dominam o discurso da Teoria Geral do Direito

Objeto do direito do trabalho

• TIZIANO TREU

• Intervenção mais qualificada, que conte com instrumentos de regulação do trabalho e também de incentivo à produção

• Negar a diversidade dos novos sistemas produtivos para assimilar todos os tipos de trabalho no mesmo modelo histórico é uma solução falsamente garantidora

Objeto do direito do trabalho

• Busca de mecanismos jurídicos adequados para superar a dicotomia entre trabalho autônomo e subordinado

• Construção da concepção tricotômica: autonomia, subordinação e parassubordinação

• Direito do trabalho deve regular todas as formas ou alternativas de trabalho e renda compatíveis com a dignidade humana

Autonomia

• Regulamentação do trabalho autônomo

• Origem remota: Direito Romano

• Locatio conductio operis: contrato em que alguém, mediante remuneração, se obrigava a realizar uma obra para outrem

• Locatio conductio operarum: contrato em que alguém, mediante remuneração, se obrigava a prestar serviços a outrem

Autonomia

• Capacidade de se autogovernar

• Direito de reger-se segundo leis próprias

• Faculdade de alguém traçar as normas de sua própria conduta, sem se sujeitar a imposições restritivas de ordem estranha

Teorias - Autonomia

• 1) Finalidade da prestação de serviços: separação entre atividade e resultado, ao credor do trabalho somente interessa a obra, o produto pronto

• 2) Resultado do trabalho: é imediato, trabalhador fica com aquilo que produz

Teorias - Autonomia

• 3) Trabalho por conta própria: autônomo exerce por sua conta determinada atividade profissional, auferindo os rendimentos do seu trabalho

• 4) Risco do trabalho: autônomo assume os riscos da atividade que desempenha

Teorias - Autonomia

• 5) Propriedade dos instrumentos de trabalho: é do trabalhador

• 6) Modo de execução do trabalho: autônomo conserva o poder de direção sobre suas atividades

Subordinação

• Ordem estabelecida entre as pessoas e segundo a qual umas dependem das outras, das quais recebem incumbências

• Dependência de uma pessoa em relação a outra

• Direito brasileiro: a subordinação é o principal critério para a distinção entre as várias modalidades de relações de trabalho e aplicação da tutela jurídica respectiva

Teorias - Subordinação

• 1. Dependência econômica: trabalhador depende da remuneração que recebe para poder sobreviver

• 2. Dependência técnica: trabalhador fica sujeito ao comando técnico sobre o seu trabalho

Teorias - Subordinação

• 3. Dependência social: condição social do trabalhador

• 4. Dependência jurídica: subordinação como o aspecto passivo do poder de direção do empregador

Teorias - Subordinação

• Sujeição da atividade do trabalhador ao poder de direção do empregador, mediante um vínculo contratual

• O empregado aceita a determinação, pelo empregador, do modo de prestação do trabalho; sujeita-se ao controle da sua atividade e a punições disciplinares

• A subordinação é jurídica

Parassubordinação

• Relações de trabalho de natureza contínua, nas quais os trabalhadores desenvolvem atividades que se enquadram nas necessidades organizacionais dos tomadores de seus serviços

• Tudo conforme estipulado em contrato, visando colaborar para os fins do empreendimento

Parassubordinação

• Direito italiano: o conceito de parassubordinação abriga diferentes tipos de relações jurídicas, que conservam sua específica disciplina substancial, conforme cada caso

• As relações jurídicas recebem uma regulamentação suplementar, formalizada por lei ou por contrato coletivo, que garante algumas medidas de proteção

Parassubordinação

• Tutela processual: todas as relações de trabalho parassubordinado ficam submetidas a trâmites idênticos aos que são previstos em lei para os empregados (rito processual trabalhista)

• “rapporti di agenzia, di rappresentanza commerciale ed altri rapporti di collaborazione che si concretino in uma prestazione di opera continuativa e coordinata, prevalentemente personale, anche se non a carattere subordinato” (artigo 409, nº 3, Codice de Procedura Civile )

Parassubordinação

• GIUSEPPE FERRARO

• Elemento de conexão entre as várias relações de trabalho parassubordinado: um vínculo de dependência substancial e de disparidade contratual que se estabelece entre o prestador dos serviços e o sujeito que usufrui dessa prestação

• Esse vínculo de dependência é semelhante ao que une empregado e empregador, a ponto de justificar a existência de garantias compensatórias equivalentes

Parassubordinação

• Com o reconhecimento da existência dessa classe de relações jurídicas, a doutrina italiana procura deixar claro que:

• a) o trabalho parassubordinado possui algumas semelhanças com o trabalho subordinado, mas com ele não se confunde;

• b) a parassubordinação vai além do conceito tradicional de trabalho autônomo

Parassubordinação

• Trabalhador assume a obrigação de atingir uma série de resultados consecutivos, coordenados entre si e relacionados a interesses mais amplos do contratante

• Interesses não estão limitados aos que derivam

de cada prestação individualmente considerada • Assume relevância a idéia de coordenação, no

sentido de uma peculiar modalidade de organização da prestação dos serviços

Parassubordinação

• MATTIA PERSIANI • Ideia de coordenação (trabalho “coordenado”):

atividade laboral é prometida pelo trabalhador tendo em vista um programa consensualmente definido

• O trabalhador não promete a sua atividade pessoal

para o desenvolvimento de qualquer objetivo pretendido pelo tomador

• Específico tipo de atividade, que é a necessária para atingir os fins previstos no programa contratualmente elaborado

Parassubordinação

• Atividade de colaboração do trabalhador prevista no contrato de trabalho tem o objetivo de atingir uma série de resultados

• Importância da coordenação: permite a diferenciação tanto da subordinação quanto da autonomia

• Coordenação no sentido de “ordenar juntos”:

ambas as partes possuem medidas a propor para alcançar o objetivo comum

Parassubordinação

• Trabalho subordinado: o trabalhador se sujeita ao poder de direção do empregador, devendo cumprir todas as determinações deste. Não há coordenação

• Trabalho autônomo: os serviços devem ser executados em conformidade com as condições previstas em contrato. O trabalhador deve realizar a obra ou o serviço, a fim de entregar o resultado contratualmente prometido. Também não há coordenação

Parassubordinação

• Trabalho subordinado e trabalho autônomo: trabalhador deve cumprir certas instruções que são vinculantes em relação às necessidades do tomador dos serviços

• O poder de dar instruções é diferente do poder de coordenar a prestação dos serviços

• As instruções pressupõem a existência de níveis distintos entre quem as dá e quem as recebe

Parassubordinação

• Coordenação se enquadra em níveis que se unem e até mesmo se sobrepõem

• Necessidade de prestador e tomador de serviços “ordenarem juntos” todo o trabalho

• Pode levar a modificações do programa contratual na medida em que é desenvolvido

Parassubordinação

• MATTIA PERSIANI

• O exercício desse poder de coordenação pode influir sobre as modalidades de execução da atividade contratualmente prometida, assim como sobre as próprias características da obra ou do serviço

Parassubordinação

• MATTIA PERSIANI

• Objetivo de adequação às mutáveis exigências do beneficiário final (conseqüência da continuidade do contrato)

• Coordenação pode até resultar na modificação do programa consensualmente estabelecido ou na alteração do objeto do contrato

Parassubordinação

• LUISA GALANTINO

• A essência da subordinação consiste na colaboração do trabalhador com a empresa pela inserção “estrutural” de sua atividade na organização empresarial, visando alcançar os fins produtivos

• Já na parassubordinação, a prestação laboral é coordenada em um caráter meramente “funcional” (e não “estrutural”)

Parassubordinação

• GIANCARLO PERONE • Evolução da tecnologia e dos sistemas de

produção • O modelo de organização produtiva centralizada,

hierarquizada e fundado na distribuição rígida das tarefas cedeu o seu lugar a um novo modelo

• Coordenação horizontal e exteriorização de fases

do ciclo produtivo

Parassubordinação

• GIANCARLO PERONE

• Para o empresário do Século XXI, deixou de ser necessária exclusivamente a força de trabalho sujeita à sua direção

• Pode ser suficiente uma forma mais branda de ligação técnico funcional com os seus colaboradores

Concepção tricotômica

• Reforma do modelo brasileiro de relações de trabalho (atingindo aspectos do direito individual e do direito coletivo do trabalho)

• Direito individual deve atender simultaneamente

a duas finalidades: • a) instrumento de proteção dos trabalhadores; • b) elemento de promoção das relações

profissionais

Concepção tricotômica

• Proteção e promoção: questão da ampliação do âmbito de aplicação do direito individual do trabalho

• Nova sistematização das normas sobre o trabalho

humano

• Trabalho subordinado em suas diferentes formas + trabalho autônomo + trabalho parassubordinado

Concepção tricotômica

• Relações individuais de trabalho devem admitir diferentes modalidades contratuais

• Soluções articuladas para a administração da questão de pessoal nas empresas

• Novo modelo, negociado entre as partes sociais e o Poder Público

Concepção tricotômica

• Extensão graduada das tutelas além dos confins da subordinação, partindo de uma disciplina mínima comum a todos os tipos de trabalho (sejam subordinados ou não)

• Trazer para o mercado formal uma parcela dos trabalhadores que hoje estão dele excluídos

Concepção tricotômica

• Diversificação das relações de trabalho não pode prescindir da definição de seus contornos contratuais por meio da negociação coletiva

• Estatutos de proteção aos trabalhadores devem respeitar as características de cada modalidade de prestação de trabalho

• Reforma Sindical