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VII Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)Biográfica UFMT Cuiabá 17 a 20/07/2016 Anais VII CIPA ISSN 2178-0676 ________________________________________________________________________________ SUJEITOS MEMÓRIA DA CIDADE DE SÃO GONÇALO VIDAS E PRÁTICAS DOCENTES ENTRELAÇADAS. Rodrigo Luiz de Jesus Santana Mestrando UERJ-FFP [email protected] Primeiros passos de uma pesquisa em desenvolvimento O atual trabalho apresenta de forma preliminar um esforço de traçar metas e caminhos para o que virá ser desenvolvido na dissertação de mestrado cujo título é “Educadores/educadoras-memória: narrativas e memórias da educação e da formação de professores em São Gonçalo”, vinculada ao Programa Processos Formativos e Desigualdades Sociais da Faculdade de Formação de Professores da UERJ. Mas, para chegar até o atual momento muito foi vivido. Durante minha graduação em Geografia, também na UERJ FFP, participei como bolsista do grupo de pesquisa e extensão Vozes da Educação, e nos espaços de pesquisa- formação que me foram proporcionados, pude desenvolver um trabalho com a história local, narrativas e (auto)biografia. Aos poucos todo esse universo foi me cativando, mostrando sua importância e mudando o que eu pensava sobre o mundo e tudo aquilo que me tocava. Fortaleci esse caminho escrevendo meu trabalho monográfico de final de curso sobre o tema e participando como bolsista do grupo coordenado pela Profª Drª Inês Bragança. Hoje grupo é conhecido com o nome “Polifonia”. Com isso minha vontade de estudar a abordagem (auto)biográfica já estava consolidada, se não, aumentando cada vez mais. Ao dar o próximo passo na minha carreira acadêmica, tentando a inserção no mestrado oferecido pela UERJ FFP, a escrita do pré- projeto me levou a novos questionamentos e problematizações. Queria entender melhor os “lugares de memória”, conceito abordado por Pierre Nora (1993), juntamente com as pessoas que davam nome a esses lugares.

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VII Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)Biográfica

UFMT – Cuiabá – 17 a 20/07/2016

Anais VII CIPA – ISSN 2178-0676

________________________________________________________________________________

SUJEITOS MEMÓRIA DA CIDADE DE SÃO GONÇALO – VIDAS E PRÁTICAS

DOCENTES ENTRELAÇADAS.

Rodrigo Luiz de Jesus Santana

Mestrando UERJ-FFP

[email protected]

Primeiros passos de uma pesquisa em desenvolvimento

O atual trabalho apresenta de forma preliminar um esforço de traçar metas e

caminhos para o que virá ser desenvolvido na dissertação de mestrado cujo título é

“Educadores/educadoras-memória: narrativas e memórias da educação e da formação de

professores em São Gonçalo”, vinculada ao Programa Processos Formativos e

Desigualdades Sociais da Faculdade de Formação de Professores da UERJ. Mas, para

chegar até o atual momento muito foi vivido.

Durante minha graduação em Geografia, também na UERJ FFP, participei como

bolsista do grupo de pesquisa e extensão Vozes da Educação, e nos espaços de pesquisa-

formação que me foram proporcionados, pude desenvolver um trabalho com a história

local, narrativas e (auto)biografia. Aos poucos todo esse universo foi me cativando,

mostrando sua importância e mudando o que eu pensava sobre o mundo e tudo aquilo que

me tocava. Fortaleci esse caminho escrevendo meu trabalho monográfico de final de curso

sobre o tema e participando como bolsista do grupo coordenado pela Profª Drª Inês

Bragança. Hoje grupo é conhecido com o nome “Polifonia”.

Com isso minha vontade de estudar a abordagem (auto)biográfica já estava

consolidada, se não, aumentando cada vez mais. Ao dar o próximo passo na minha carreira

acadêmica, tentando a inserção no mestrado oferecido pela UERJ FFP, a escrita do pré-

projeto me levou a novos questionamentos e problematizações. Queria entender melhor os

“lugares de memória”, conceito abordado por Pierre Nora (1993), juntamente com as

pessoas que davam nome a esses lugares.

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Anais VII CIPA – ISSN 2178-0676

Após aprovado na seleção para o curso de Mestrado em Educação, desenvolvi um

ensaio com professores que conviviam comigo no meu ambiente de trabalho, relacionando

essa pesquisa inicial com os objetivos do pré-projeto da dissertação. Os professores que

participaram dessa pesquisa fazem parte do corpo docente de uma escola particular da

cidade de São Gonçalo, localizado no bairro de Nova Cidade. Cabe ressaltar que esses

professores também ministram aula na rede municipal de São Gonçalo e rede estadual do

RJ. O objetivo era, em três encontros, perceber por meio das narrativas desses professores

suas perspectivas sobre os lugares de memórias da cidade e a importância dos educadores

homenageados por esses ambientes. Além disso, ouvir um pouco suas histórias de vida.

Conhecendo os sujeitos memória de São Gonçalo

Compartilhando o sentido de pesquisa-formação com Josso (2004), acredito que o

espaço de pesquisa pode gerar formação para todas as partes envolvidas. A beleza da

pesquisa-formação é significativa para quem está pesquisando e para quem contribui com a

pesquisa. Não se trata de um local de pesquisa frio, no qual o pesquisador neutro e distante

observa e analisa suas “cobaias”. Na pesquisa-formação o pesquisador se envolve com o

ambiente de estudo e faz um mergulho profundo nos desafios que vai encontrando. Ele está

aberto a arriscar, a se entregar e ter coragem de ver além do que é mostrado. O pesquisador,

acima de tudo, percebe seu objeto de estudo como fundamental para sua proposta, tratando-

o com extrema importância e humanidade.

Antes de ir a campo, fiz uma pesquisa preliminar sobre os sujeitos memória de São

Gonçalo. Aqueles educadores que foram destaque da cidade sendo homenageados em

praças, escolas, ruas e etc, ou seja, em alguns lugares de memória. Foi feito um pequeno

perfil sobre a vida desses educadores, essas fichas foram entregue aos professores em

determinado momento dos encontros, como pode ser visto nas fotografias a seguir:

Imagem 1: Ficha Perfil da Professora Aída Vieira de Souza.

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Fontes: Da escola Julio Lima ao Colégio Municipal Estephânia de Carvalho

Blog E. M. Profª. Aída Vieira De Souza.

Imagem 2: Ficha Perfil da Professora Adélia Martins

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Fonte: Site Tafulhar.

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Imagem 3: Ficha Perfil da Professora Maria Estephânia Mello de Carvalho.

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Fontes: Livro “Da escola Julio Lima ao Colégio Municipal Estephânia de Carvalho”

Site: Prefeitura de São Gonçalo.

Na ida a campo, por se tratar de um ambiente no qual já trabalho há alguns anos, e

tenho proximidade com os professores que ali atuam, o desenvolvimento desse estudo foi

muito mais fácil. Conversar e entender as narrativas desenvolvidas, além de prazeroso, foi

possível buscar respostas para as minhas questões: os lugares de memória são potentes de

formação? Por que alguns educadores da cidade foram eternizados dando nome a praças,

escolas, bibliotecas e outros lugares? Como a vida dos professores de hoje se entrelaçam

com os educadores do passado?

Sendo assim, já tinha material suficiente para iniciar as dinâmicas com os

professores. As 3 reuniões aconteceram no horário de intervalo do ensino fundamental II,

no começo do ano letivo de 2016. Alguns professores participaram de todas reuniões,

outros não, devido ao seu dia de trabalho na escola. Ainda assim, foi possível encontrar

diversas pistas e ouvir depoimentos interessantes sobre diversos assuntos. Os professores se

encarregaram de fazer um pequeno depoimento escrito ao final dos encontros relatando

suas experiências.

Primeiro Encontro: Conhecendo a pesquisa e fazendo os primeiros questionamentos

O primeiro desafio encontrado foi desacelerar o nosso dia a dia. Como diz Larrosa

(2002), é necessário pensar mais, refletir sobre as coisas, dedicar um tempo menos

acelerado para promover as experiências. Os professores em seu cotidiano veloz e corrido

encontram pouquíssimo tempo para refletir sobre sua prática e sobre os conhecimentos que

lhe atingem. Sendo assim, criar um ambiente onde a passividade imperasse não foi fácil,

mas aos poucos os professores foram aceitando a proposta e se construiu um ambiente com

menos opinião e informação e com mais saberes da experiência.

Em qualquer caso, seja como território de passagem, seja como lugar de

chegada ou como espaço do acontecer, o sujeito da experiência se define

não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por

sua disponibilidade, por sua abertura. Trata-se, porém, de uma passividade

anterior à oposição entre ativo e passivo, de uma passividade feita de

paixão, de padecimento, de paciência, de atenção, como uma

receptividade primeira, como uma disponibilidade fundamental, como

uma abertura essencial. (LARROSA, 2002, p.24)

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Iniciamos a dinâmica apresentando o conceito norteador da pesquisa: Os Lugares de

memórias. De acordo com Nora (1993) o lugar de memória vai além de um espaço físico

ou de uma memória solta e descontextualizada, é mostrado que estes lugares vão do

material e concreto ao mais simbólico, funcional e abstrato, coexistindo sempre esses

aspectos:

Mesmo um lugar de aparência puramente material, como um depósito de

arquivos, só é lugar de memória se a imaginação o investe de aura

simbólica. Mesmo um lugar puramente funcional, como um manual de

aula, um testamento, uma associação de antigos combatentes, só entra na

categoria se for objeto de um ritual. Mesmo um minuto de silêncio, que

parece o extremo de uma significação simbólica, é, ao mesmo tempo, um

corte material de uma unidade temporal e serve, periodicamente, a um

lembrete concentrado de lembrar. Os três aspectos coexistem sempre [...].

É material por seu conteúdo demográfico; funcional por hipótese , pois

garante ao mesmo tempo a cristalização da lembrança e sua transmissão;

mas simbólica por definição visto que caracteriza por um acontecimento

ou uma experiência vivida por pequeno número uma maioria que deles

não participou. (NORA, 1993 p. 21-22)

Percebemos, então, que a memória por si só é fraca, em alguns casos, precisamos

dos lugares para que assim consigamos ressignificar as histórias. Neste caso, usamos os

lugares de memória materiais, que receberam o nome dos educadores destaque da cidade. E

assim buscamos entender a importância de exaltar essas pessoas através de lugares como

praças, escolas, monumentos e outros.

Após o entendimento do grupo sobre o conceito e algumas perguntas sobre o

mesmo, começamos a discussão sobre o que eles pensavam em relação aos nomes que

certos lugares recebiam tanto de educadores quanto de outras pessoas que eram julgadas

importantes para receber a homenagem. A professora de inglês fez um questionamento em

seu depoimento escrito:

Muitas vezes vemos esses lugares recebendo nome de políticos ou tendo

placas apenas como uma forma de fazer propaganda política, para exaltar

vereador tal, ou prefeito tal. O real motivo de nomear uma praça ou rua às

vezes é esquecido. Quando a homenagem é feita de forma verdadeira e de

acordo com a importância daquela pessoa dificilmente o significado será

apagado com o tempo.

(Professora de Inglês)

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Paralelo a isso outros professores ressaltaram a importância de ressignificar esses

espaços para que a homenagem seja lembrada:

Os conteúdos que somos obrigados a dar em sala de aula, raramente

abrem espaço para estudarmos a cidade, não podemos visitar esses

espaços, fazer os alunos conhecerem essas pessoas que foram

homenageadas, cedendo seus nomes a esses lugares.

(Professora de História)

E assim durante o primeiro encontro foi sendo colocado em pauta a realidade do

professor gonçalense e as dificuldades de dar ênfase ao que é vivido na cidade. A

desconfiança de homenagear certas pessoas e não outras, também ficam em evidência. Mas

todos eles acreditam na força das nomeações, mas que faltam dar mais atenção a elas.

O primeiro encontro foi essencial para começar fazer os professores pensar sobre o

assunto e centraliza-los na pesquisa. Esse primeiro contato serve como um termômetro para

medir o interesse dos envolvidos e deixar todo mundo a par do que será desenvolvido

durante os encontros, criando, assim, um ambiente mais propício para as narrativas.

Segundo encontro: Conhecendo os sujeitos memória de São Gonçalo e os lugares de

memória.

No segundo encontro, a dinâmica foi direcionada para o objetivo de que os

professores conhecessem os sujeitos memória que estudaríamos, assim como, conhecer os

lugares memória que estes dão nome. O processo foi o seguinte: eram mostradas a fichas

com o perfil de cada educadora (apresentando anteriormente), os professores do grupo

deveriam relacionar aquela pessoa com algum lugar na cidade. Seria verificado assim, se

era conhecimento dos professores, a relação entre as educadoras e os lugares de memória.

Dos cinco professores presentes no encontro, um relacionou o nome Maria

Estephânia Mello de Carvalho à praça do Zé Garoto. Outra professora relacionou o nome

Adélia Martins ao colégio estadual de mesmo nome, no bairro Coelho. E não conseguiram

pensar em nenhum lugar para atribuir a professora Aída Vieira de Souza. Uns até

arriscaram ao dizer que deveria ser nome de algum biblioteca ou rua, mas não acertaram. A

professora Aída Vieira de Souza dá o nome a uma Escola Municipal localizada no bairro

Jardim Catarina. Além disso, a professora Maria Estephânia Mello de Carvalho tem um

colégio estadual com seu nome, no bairro do Laranjal, além da homenagem da praça.

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Ao analisar profundamente as relações feitas, os professores perceberam que as

nomeações faziam muito sentindo. A homenagem a Maria Estephânia Mello de Carvalho

dá o nome da praça conhecida popularmente como Zé Garoto, por ter uma proximidade

geográfica com o Colégio São Gonçalo fundado pela professora. Adélia Martins foi

homenageada nesse colégio, no Coelho, pois foi sua região de influência e atuação. E por

fim Aída Vieira recebeu uma homenagem da prefeitura da cidade, nomeando essa escola no

Jardim Catarina de uma forma mais aleatória.

Um depoimento que ganha destaque durante esse encontro partiu do professor de

Álgebra e Geometria:

É incrível que conhecendo somente um pouco da vida desses educadores

essas homenagens já começam a fazer sentido, suas histórias de vida dão

força a esses lugares, criamos afetividade por eles, mesmo não

conhecendo alguns pessoalmente. Ao mesmo tempo esses lugares não

impedem que esses grandes educadores caiam no esquecimento.

(Professor de Álgebra e Geometria)

Por fim foi questionado se conheciam mais algum educador que foi importante para

São Gonçalo. Foram ressaltados os nomes de Luiz Palmier e Zulmira Mathias Neto

Ribeiro. Palmier está muito relacionado à educação, mas não era professor. Seu trabalho

como político promoveu, de muitas formas, a educação na cidade, tendo assim seu nome

relacionado à questão. Já a professora Zulmira Mathias Netto Ribeiro dá um nome a uma

escola localizada no bairro Paraíso.

Terceiro encontro: sujeitos memória, vidas e práticas entrelaçadas dos educadores do

presente e do passado.

No ultimo encontro, direcionei os professores a relatarem sobre sua vida no

magistério, caminhos e percursos que os levaram até ali e, posteriormente, fazer uma

reflexão sobre o tema que tínhamos abordando nos dois encontros anteriores.

É importante ressaltar o quanto essas narrativas são potentes de formação

(BENJAMIN, 1993). Infelizmente na escrita desse trabalho, durante a análise de conteúdo,

muitos depoimentos ficam de fora, mas de forma geral a tentativa aqui é mostrar o quanto é

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transformador falar, contar e refletir sobre o que nos toca. O ato de narrar nos permite

ressignificar nossas histórias, enxergar o presente e pensar o futuro. Como mostra Bosí:

A Narração é uma forma artesanal de comunicação. Ela Não visa a

transmitir o “em si” do acontecido, ela o tece até atingir uma forma boa.

Investe sobre o objeto e o transforma. Tendência comum dos narradores é

começar com a exposição das circunstâncias em que se assistiu ao

episódio: “certa vez, ia andando por um caminho quando...”. Isso quando

o conta como não diretamente vivido por ele. (BOSI, 1994, p. 88)

Com isso destaco duas narrativas que exemplificam o quanto é transformador

narrar. A primeira narrativa é da professora de Artes que conta um pouco sobre seu

processo de formação e a escolha do magistério. Já a segunda narrativa é da professora de

Ciências que faz uma ligação muito forte sobre tudo que foi visto nos encontros

promovidos por essa pesquisa.

A escolha pelo magistério foi uma estratégia de ter uma profissão inicial a

nível médio, trabalhar meio período e ter tempo para estudar. Assim,

terminei o curso normal e comecei a trabalhar como professora da

educação infantil em uma creche comunitária. No final da faculdade de

Artes comecei a trabalhar aqui. Hoje me sinto muito bem e feliz em

produzir conhecimento artístico junto aos meus alunos. Amo ensinar artes

para qualquer pessoa e não me vejo trabalhando com algo que não tenha

nenhuma ligação com a mesma. (Professora de Artes)

Pensar e repensar a vida no magistério é engrandecedor, às vezes

desanimamos por muitos problemas que encontramos no caminho, mas

ouvir histórias como dessas grandes educadoras do município nos dá

força. Pensar que muito do que temos hoje foram contribuições delas é

muito bonito. Espero como professora continuar com legado deixado por

essas educadoras. Acredito em uma educação transformadora, que permite

a cidade crescer quanto mais educação tiver. O conceito de lugar de

memória fica muito forte no nosso pensar, nunca havia reparado no poder

dos lugares, e agora percebo que esses lugares merecem ser nomeados em

homenagem a pessoas que fizeram a diferença na educação ou em outra

área social ou científica, para que assim a gente não esqueça do que já foi

construído e conquistado por eles, para que nos inspiremos e façamos

igual ou melhor. (Professora de Ciências)

As duas narrativas são potentes de reflexão, destacando, assim, a pertinência desse

trabalho no parâmetro de mostrar o quanto vidas separadas pelo espaço e tempo se

aproximam tanto. Enxergar nos lugares de memória e nas histórias de vida dos educadores

do passado indicativos para o presente e estímulos para seguir na docência, se mostra que

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um dos objetivos desse ensaio inicial é possível. É possível promover espaços de formação

ao estudar os lugares de memória e os educadores que ali foram homenageados,

valorizando assim a educação da cidade e seus educadores, tanto do passado quanto do

presente.

Considerações finais ainda que provisórias

Mesmo sendo um trabalho inicial, visando uma dissertação de mestrado, foi

possível desenvolver um bom trabalho com o grupo de professores em questão. A tentativa

de promover essas reuniões se fez pertinente por dois motivos.

O primeiro é que serviu como “ensaio” para o que vou encontrar pela frente na

escrita da dissertação. Muitas ideias, recortes, processos e caminhos serão redesenhados,

reformulados ou reforçados com o que foi encontrado durante essa experiência.

O segundo é que, graças essa tentativa, foi possível promover espaços de troca de

experiência, formação e valorização do professor. E, além disso, desacelerar o cotidiano

escolar em busca de reflexões sobre a docência e nosso papel como professor e

pesquisador. Afinal, todos na pesquisa-formação são pesquisadores, a partir do momento

em que todos os envolvidos se entregam aos objetivos e valorizam o que está sendo feito.

Por fim desenvolvi uma reflexão, retornando às questões iniciais desse trabalho.

Como os lugares de memória são potentes de formação? Ao longo das reuniões foi

possível ver os lugares de memória como ponto de partida para ressignificar histórias e

mostrar a importância e destaque de alguns educadores da cidade.

Por que alguns educadores da cidade foram eternizados dando nome a praças,

escolas, bibliotecas e outros lugares? Porque em sua época, fizeram que o parecia

impossível, se dedicaram a educação de forma plena e lutaram pela a valorização da mesmo

na cidade. Essas homenagens são de extrema importância para evitar o esquecimento

desses educadores e suas lutas.

Como a vida dos professores de agora se entrelaçam com os educadores do

passado? De muitas maneiras, os professores de hoje se sentem desmotivados pelo cenário

atual da educação no município e no estado. Mas ver que outros passaram por desafios

ainda maiores, faz criar uma esperança e uma força de vontade de seguir em frente.

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Acreditando que o poder da mudança e da valorização da educação é uma luta constante e

que no fim rende resultados.

Por fim, fica a sensação de trabalho cumprido. Apesar disso, em nenhum momento

buscamos uma verdade absoluta sobre os fatos, nem buscamos excluir outras interpretações

ou pontos de vista. Acredito que esse ensaio nos fornece algumas pistas e caminhos iniciais

e que é apenas o começo de um trabalho muito maior. Chego ao ponto de começar a

perceber o quanto histórias de vida tão diferentes e, aparentemente tão distantes, dialogam e

com isso criam em mim uma vontade de querer estudar cada vez mais sobre o assunto e

seguir em frente nesse desafio.

Referências Bibliográficas

BENJAMIN, Walter. O Narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia

e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo:

Brasiliense, 1994.

LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de

Educação. Campinas, n. 19, jan./abr. 2002.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das

Letras, 1994.

JOSSO, Marie-Christine. A experiência de vida e formação. São Paulo: Cortez. 2004.

NORA, Pierre. Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Projeto

História. São Paulo, 1993.

SALVADOR, Mata e Silva. Da Escola Julio Lima ao Colégio Municipal Estephânia de

Carvalho. São Gonçalo. 1986.

SANTANA, Rodrigo Luiz de Jesus. Pré-projeto de mestrado: Sujeitos-Memória da Cidade

de São Gonçalo – Homens e Mulheres Memória que Escreveram e Escrevem a Educação

Gonçalense.2015, pág. 07.

Sites e Blogs:

Prefeitura de São Gonçalo disponível em:

<http://www.saogoncalo.rj.gov.br/orcamento/2015/loa/mensagem_creditos_loa_2015.pdf>

Acesso em: 16/01/2016.

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Tafulhar disponível em:

<http://www.tafulhar.com.br/2014/03/adelia-martins-educacao-se-faz-com-

amor.html?pfstyle=wp> Acesso em: 16/01/2016.

E. M. Profª. Aída Vieira De Souza disponível em:

<http://escolaaidavieiradesouza.blogspot.com.br/2009/05/professora-aida-vieira-de-

souza.html> Acesso em: 16/01/2016.