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Sumário

Prefácio

Capítulo 1 Sonho recorrente

Capítulo 2 Difícil recomeço

Capítulo 3 Na escuridão

Capítulo 4 O cenário da infelicidade

Capítulo 5 Resistindo à verdade

Capítulo 6 Enfim uma pista

Capítulo 7 Mergulho no passado

Capítulo 8 No vale das sombras

Capítulo 9 O resgate

Capítulo 10 Entre a luz e a treva

Capítulo 11 Doce reencontro

Capítulo 12 Prazer que dura pouco

Capítulo 13 A escolha de cada um

Capítulo 14 Abençoada oportunidade

Capítulo 15 Voltando à carne

Capítulo 16 Luta contra a depressão

Capítulo 17 Marcas da rebeldia

Capítulo 18 No aconchego doméstico

Capítulo 19 Enfrentando a realidade

Capítulo 20 Compromisso aceito

Capítulo 21 Transcomunicação

Capítulo 22 A nova chance

Capítulo 23 Vínculos perturbadores

Capítulo 24 Triunfo do bem

Capítulo 25 Perdão incondicional

Capítulo 26 O trabalho continua

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Prefácio

VENHO MAIS UMA VEZ FALAR diretamente aos jovens, a quem dedico profundo amor e os melhores desejos de felicidade e sucesso. Muito me preocupo com esses queridos irmãos que iniciam a marcha na terra com o ímpeto e a confiança de que tudo têm nas mãos, de que tudo podem.

Dirijo minhas palavras e meus esforços aos mo-ços, na esperança de que possam caminhar vitorio-sos, dando passos certos e firmes na estrada do bem. Também eu já atravessei, cheio de arroubos e deter-minações, essa fase marcante e decisiva em que nos lançamos para a vida com o desejo de tudo abraçar e tudo mudar. É natural. Mas que, dentre os muitos sentimentos que acalentam, os mais novos jamais se esqueçam do amor a Deus e ao próximo, síntese

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dos valores que lhes trarão sabedoria para as resolu-ções a serem tomadas. Atalhos difíceis e dolorosos poderão ser evitados, e a existência aproveitada ao máximo, em toda a sua beleza e emoção, se apenas e tão somente aprenderem a amar e respeitar as leis divinas.

Por fim, faço minhas as reflexões de Emmanuel: A juventude pode ser comparada a esperançosa

saída de um barco para viagem importante. A in-fância foi a preparação, a velhice será a chegada ao porto. Todas as fases requisitam as lições dos mari-nheiros experientes, aprendendo-se a organizar e a terminar a viagem com o êxito desejável.

A todos os jovens, o meu voto de que a vida seja uma bela e longa viagem, cheia de aventuras, desa-fios e alegrias, e que ao final da jornada cada um es-teja realizado e feliz pelas escolhas que efetuou.

Que Jesus os abençoe e os guie.

Bento JoséAtibaia, junho de 2011

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Capítulo 1

Sonho recorrente

COMEÇAVA A ESCURECER. Sentados em uma trilha estreita, que terminava logo à frente na den-sa floresta amazônica, dois jovens buscavam fôlego para prosseguir. Virando o cantil quase vazio, Matil-de tomou os últimos goles de água; estava sedenta. Rubens arrancou-lhe a vasilha das mãos e gritou;

– O que está fazendo? Não vê que temos de guardar essa água, a única que nos resta?!

– Quer que eu morra de sede?O rapaz constatou que a água tinha acabado e

jogou o cantil de volta aos pés dela.– Venha, precisamos continuar. – Estou cansada... e não quero entrar na flores-

ta... sinto medo...Ele agarrou-a pelos braços e arrastou-a com

energia.– Vamos, temos de nos esconder na mata. – Onde estão meus pais? E os seus? Onde foram

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parar? Quero encontrá-los, Rubens, estou com mui-to medo!

Os dois ainda conversavam quando sons de ti-ros ecoaram secos, entre a algazarra dos pássaros ao findar do dia. Depois, gritos e mais tiros.

Matilde pulou e juntos afundaram na mata cer-rada. Enquanto corriam, ela indagou:

– O que os soldados querem?– Pôr fim ao nosso movimento. – Não podem fazer isso! Não passam de bandi-

dos a serviço do governo... – Achava que iriam ficar quietos, vendo o mo-

vimento crescer, ganhar força? Eles querem con-trolar tudo...

A moça parou, respirando ofegante. Rubens in-sistiu:

– Vamos, ande. Não podemos parar agora, ou nos alcançarão...

– Não estou aguentando... O barulho dos soldados aumentou de súbito.

Aproximavam-se depressa. Eram muitos, centenas deles. Os dois, paralisados, escutavam com clareza as ordens gritadas.

– Achem os miseráveis! Não deixem nenhum vivo! Acabem com eles! Atirem sem dó, e sem perguntas. Nenhum desses malditos rebeldes deve sobreviver.

De onde se agachara, Matilde avistou ao longe o lenço que a mãe usava quando fugira. Era inconfun-

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dível. Estava jogado no chão, rasgado e sujo. Logo adiante, o braço da mulher surgia largado e imóvel entre as folhagens. Em lágrimas e rangendo os den-tes, ela balbuciou:

– É minha mãe, eles a mataram!Levantou-se e correu naquela direção, alvoro-

çando as folhas ao redor. Ao chegar perto, compro-vou o que temia. A mãe acabara de morrer. Ergueu--se furiosa. Ia gritar, quando mão forte tapou-lhe a boca e foi arrastada mata adentro.

Rubens permanecera agachado e a perdera de vista. Queria correr atrás dela, porém os perseguido-res estavam cada vez mais próximos. Deitou-se abai-xo de um toco e ficou imóvel até que desaparecessem. Passou a noite ali mesmo, rezando para que nenhum dos perigosos animais da floresta o atacasse. Pela ma-nhã, seguiu os rastros que supunha serem de Matilde. Encontrou um grupo de rebeldes que se dispersara, fugindo dos soldados. Juntou-se a eles, endossando a animosidade que sentiam pelo governo. Estavam en-louquecidos de ódio, agora que vários deles haviam sido covardemente mortos pelos soldados – tal como a mãe de Rubens e a de Matilde, sua melhor amiga.

– Vamos acabar com esse governo! – gritou Die-go, que logo se transformou no líder daquele peque-no grupo.

Um deles riu.– Somos um bando de fracos maltrapilhos. Como

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lutar contra o exército nacional? Eles possuem ar-mas poderosas, que não temos a mínima condição de enfrentar!

Enquanto enterravam alguns de seus amigos, Diego declarou, seguro:

– Seremos a maior e mais firme resistência de que já se teve notícia neste país.

– Resistir como? – o outro insistia.– Compraremos armas tão potentes quanto as

deles, e os acertaremos com as mesmas balas que nos atingiram.

– E onde arrumaremos o dinheiro?Tirando do bolso um maço de folhas de coca,

esmagou-as e disse:– Não se preocupe. Sei muito bem onde arranja-

remos primeiro o dinheiro e depois as armas. Subiu em uma pedra e bradou a plenos pul-

mões, erguendo o maço de folhas:– Quem está comigo? Quem quer acabar com

os lustradinhos que acham que podem mandar em tudo? Esses imperialistas também têm de pagar! É deles que vamos tirar o dinheiro.

– Como? – gritou alguém no meio do povo.Mostrando as folhas, garantiu:– Eles nos darão tudo o que queremos... Juntem-

-se a mim, e seremos a maior força desta nação!

SERGINHO SENTOU-SE NA CAMA, suando frio.

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Vinha tendo aquele sonho repetidas vezes e não sa-bia o que significava. Sentia como se houvesse par-ticipado daquela perseguição e de tudo aquilo... No entanto, ao acordar, as lembranças se desvaneciam...

Lívia bateu e entrou.– Bom dia. – Bom dia – respondeu meio mal-humorado.– Pensei que hoje fosse acordar mais animado.

Afinal, estava tão ansioso para começar sua busca... Serginho se lembrou da namorada e deu um

pulo da cama.– Paula! É verdade! Havia até esquecido... – Esqueceu?– Tive outra vez aquele sonho. – O da floresta?– Isso. De uns tempos para cá, sonho sempre com

a mesma coisa... Estranho... O que quer dizer, Lívia?– Sonhos podem ter várias origens; inclusive,

podem ser lembranças do passado.– Será? Não me identifico com ninguém dentre

aqueles com quem tenho sonhado... – Tem certeza? – fitou-o séria ao fazer a indagação.Apesar de fixar o olhar na prima, o jovem man-

tinha a mente distante, nos personagens com os quais acabara de sonhar. Ela, então, arrancou-o de seus pensamentos:

– Vamos, Messias nos aguarda; vai à crosta co-nosco em busca de Paula.

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Capítulo 2

Difícil recomeço

A SALA ESTAVA NA PENUMBRA, somente uma nesga de luz entrava pela fresta da cortina entrea-berta. Ao som de sua cantora preferida, que com voz límpida enchia o ambiente, Patrícia, esparramada no sofá, tinha o corpo inerte e a mente vagando sem destino. De vez em quando pegava o copo e sorvia o conteúdo em grandes goles. Seu maior esforço era ir até a geladeira e pegar outra cerveja. Espalhadas por todos os cômodos do apartamento, multiplicavam--se as latas vazias.

Arnaldo virou a chave na porta e entrou, mais uma vez encontrando a esposa entregue à depres-são. Sem se deter, foi direto para o próprio quarto. Desde a morte de Paula não compartilhavam o dor-mitório.

A música parou por um momento e depois foi a televisão, com volume exagerado, que começou a exibir um antigo show de Elis Regina. Patrícia agora

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se entregava mais profundamente à melancolia e à tristeza. Percebera a chegada do marido, que a tra-tava com total desprezo. Já quase não conversavam.

O belo e sofisticado apartamento, localizado no Alto de Pinheiros, na capital paulista, tinha latas e garrafas de bebidas por toda parte. Quando Sergi-nho entrou, seguido por Lívia, Messias, Arnaldo e Sônia, ficou penalizado. Encarando o instrutor que carinhosamente o acompanhava desde a colônia es-piritual, justificou-se:

– Era por isso, Messias, que eu sentia tanta ne-cessidade de vir em socorro desta família... A situa-ção é lastimável...

Messias manteve-se calado, em oração. Sergi-nho, depois de observar atentamente tudo ao redor, olhou para a prima e questionou:

– Não entendo por que ela se entrega à depres-são dessa forma... Não procura auxílio?

– A fé é uma bênção, Serginho, e nas horas mais difíceis nos sustenta e nos ajuda a encontrar o cami-nho. É o que falta a Patrícia. Carrega enorme culpa e se cobra pelo que aconteceu à filha. Além disso, o marido também a acusa, ainda que sem articular palavras.

– Mas por quê?– Ela não soube dar a Paula aquilo que deveria.

Na verdade, rejeitou-a, desde o princípio. Sentia atra-ção e repulsa pela menina, desde a mais tenra idade.

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Lívia interrompeu a explicação e pediu que Ser-ginho igualmente se conservasse em oração. Arnal-do, que já havia trocado de roupa, entrou na sala e com violência arrancou o copo das mãos da esposa. Muito irritado, gritava:

– Não suporto mais esta situação! – Cale a boca! – Patrícia afrontou-o. – Você não

manda em mim. Tudo isto me pertence. Tem de me aguentar... Sabe que não pode ordenar-me nada. Sou dona de tudo o que possuímos. Agora me diga: o que fará? Pretende separar-se de mim? E correr o risco de perder a boa vida?

Ela fez breve pausa, agarrou o copo de novo e se largou no sofá. Então continuou:

– Não, querido. Sei que sua ambição não lhe per-mite tomar essa atitude. Portanto, volte ao seu canto e deixe-me em paz com minha tristeza.

O marido se calou por alguns instantes; depois falou, sinceramente interessado:

– Afinal, por que todo esse sofrimento? Você nunca se importou tanto com Paula... Nem se re-lacionavam direito. Sua filha cresceu nas mãos de babás, tendo-a poucas vezes por perto. Eu lhe avisei que deveria dar maior atenção à menina, mas você não demonstrava interesse em passar mais tempo com ela. E assim, o que significa esse procedimen-to? Até compreendo que sinta falta dela... Quanto à depressão, que a deixa prostrada desse jeito, não

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consigo entender. Você precisa de ajuda. Tem ido ao psiquiatra?

Completamente embriagada, Patrícia retorquiu:– Não é da sua conta. Você não é capaz de me

compreender... Nunca foi. Ela se afastou e o marido a observou calado, até

que resmungou entre os dentes:– Mulher inútil...Ao notar que Arnaldo deixava o lar, ela ergueu

de leve os olhos por sobre os ombros, com desdém, e gritou:

– Não ouse tornar a sumir por vários dias, está me ouvindo? Ou acabo de vez com sua ilusão de riqueza...

Não houve resposta. Ele desaparecera e Patrícia, rangendo os dentes, chorou amargurada. Serginho, que assistira à cena sentado num canto da sala, vi-rou-se para a prima e comentou:

– Sinto-me péssimo em ficar aqui de espectador, sem fazer nada. Temos de ajudar essas pessoas...

Angustiado, o rapaz suspirou. Messias o adver-tiu, firme:

– Se deseja mesmo fazer algo positivo, primeiro fortaleça seus pensamentos e sentimentos. Não se deixe envolver dessa maneira pelas pesadas energias que dominam e destroem o lar de nossos irmãos. Por certo eles necessitam de ajuda, mas antes precisam ajudar-se a si próprios. Caso não tenha autocontrole, você os prejudicará ainda mais, acentuando as vibra-

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ções deletérias que já dominam esta casa. Serginho apertou a mão da prima, carinhoso, e

com um sorriso fitou os demais membros do peque-no grupo:

– Ainda bem que tenho vocês ao meu lado. Seria impossível fazer qualquer coisa sozinho.

– Não se subestime, você tem feito progressos... – Lívia falou ternamente.

– Entretanto, acho o aprendizado tão lento...Messias interveio com serenidade:– O crescimento verdadeiro é gradativo. Con-

tudo, uma vez que um conhecimento é de fato con-quistado por nossa alma através da experiência, da vivência, nunca mais o perdemos... Ele passa a fazer parte de nossa bagagem interior.

O rapaz sorriu de novo e observou:– Como dizem, vale a pena progredir.A afirmação deu ensejo ao comentário de Lívia:– Progredir não é uma pena, mas exige trabalho

consciente e constante, e vale todo o nosso esforço. As recompensas são muito grandes... Primeiro sur-gem dentro de nós, depois alcançam o exterior, al-terando a paisagem à nossa volta e interferindo em nossas experiências futuras. Temos a liberdade das escolhas e colheremos sempre o resultado delas.

Serginho se calou por instantes, até fitar a prima e pedir:

– Vamos orar por eles...

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Messias estendeu as mãos, convidando o grupo a formar um pequeno círculo, e aquiesceu:

– Sim, vamos interceder por nossos irmãos. O coordenador da equipe guardou breve silên-

cio, e em seguida proferiu prece singela e cheia de emoção. As entidades do reduzido grupo eram pouco a pouco envolvidas em luz cintilante, pelo amor que permutavam. Como um dínamo potente, as vibra-ções amorosas aumentavam, gerando luz ao redor.

Antes mesmo que Messias terminasse a curta oração, o ambiente tornou-se mais sombrio. Vultos enegrecidos começaram a ser vistos caminhando por ali. Alguns usavam pesado capuz que lhes ocul-tava o semblante, outros tinham olhos enraivecidos e aparência completamente descomposta; eram como farrapos humanos, cheios de ódio. De súbito, a atmosfera fez-se ainda mais densa. Foi aí que Mes-sias alertou:

– É hora de partir. Serginho tentava dizer algo, quando seu coração

começou a bater descompassado, a voz calou-lhe na garganta e a respiração falhou. Saíram. Somente ao atingirem uma região mais afastada, no campo, Messias quebrou o silêncio, perguntando ao rapaz:

– Sente-se melhor?– O que foi aquilo?– São as companhias com que nossos irmãos

sintonizam através de hábitos mentais.

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– Nossa! Foi horrível! Que seres apavorantes...Lívia colocou o dedo na boca do primo, impe-

dindo-o de continuar, e esclareceu:– São nossos irmãos que ainda não conseguem

enxergar a luz. A influência que exercem sobre a fa-mília é acolhida sem resistência e estabelecem per-feita troca de fluidos, alimentando-se mutuamente.

Abatido e com voz trêmula, Serginho disparou:– E agora, como poderemos ajudá-los? E como

vamos auxiliar Paula? Onde será que ela está neste momento? E em que condições?

Messias e Lívia trocaram expressivo olhar, sem articular palavra.