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Sumário

Linguagem.......................................................................................................... 2

Pensamento ....................................................................................................... 3

Conhecimento .................................................................................................... 4

A intuição............................................................................................................ 4

Conhecimento discursivo ................................................................................... 5

A necessidade do método .................................................................................. 6

A lógica .............................................................................................................. 6

A dialética platônica ........................................................................................... 8

A lógica aristotélica .......................................................................................... 10

Verdade e validade. ......................................................................................... 10

Regras básicas da lógica. ................................................................................ 11

Conceitos básicos da lógica. ............................................................................ 12

Silogismo e falácia. .......................................................................................... 13

O senso comum ............................................................................................... 16

A atitude científica ............................................................................................ 18

A existência ética ............................................................................................. 19

Consciência moral ............................................................................................ 21

Juízo de fato e de valor .................................................................................... 22

Ética e violência. .............................................................................................. 23

Referências bibliográficas ................................................................................ 25

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ETAPA 2

LINGUAGEM

A linguagem é um sistema de signos ou sinais usados para indicar coisas,

para a comunicação entre pessoas e para a expressão de ideias, valores e

sentimentos. Embora tão simples, essa definição da linguagem escondeu

problemas complicados com os quais os filósofos tem se ocupado desde há

muito tempo. Essa definição afirma que:

- A linguagem é um sistema, isto é, uma totalidade estruturada, com

princípios e leis próprios, sistema esse que pode ser conhecido;

- A linguagem é um sistema de sinais ou de signos, isto é, os elementos

que formam a totalidade linguística são um tipo especial de objetos, os signos,

ou objetos que indicam outros, designam outros ou representam outros. Na

linguagem, os signos são palavras e os componentes das palavras (sons ou

letras);

- A linguagem indica coisas, isto é, os signos linguísticos (as palavras)

possuem uma função indicativa ou denotativa, pois como que apontam para as

coisas que significam;

- A linguagem tem uma função comunicativa, isto é, por meio das

palavras entramos em relação com os outros, dialogamos, argumentamos,

persuadimos, relatamos, discutimos, amamos e odiamos, ensinamos,

aprendemos, etc.;

- A linguagem exprime pensamentos, sentimentos e valores, isto é, possui

uma função de conhecimento e de expressão, sendo neste caso conotativa, ou

seja, uma mesma palavra pode exprimir sentidos ou significados diferentes,

dependendo do sujeito que a emprega, do sujeito que a ouve e lê, das

condições ou circunstâncias em que foi empregada ou do contexto em que é

usada.

- A definição no diz que a linguagem é um sistema de sinais com função

indicativa, comunicativa, expressiva e conotativa.

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PENSAMENTO

Do mesmo modo, como existem diversos tipos de linguagem, existem

diversos tipos de pensamentos. Há o pensamento concreto, que se forma a

partir da percepção sensível, ou seja, da representação de objetos reais, e é

imediato, sensível e intuitivo; e o pensamento abstrato, que estabelece

relações (não perceptíveis), que cria os conceitos e as noções gerais e

abstratas, é mediato (precisa da mediação da linguagem) e racional.

O filósofo polonês Adam Schaff afirma:

{...}o processo de pensamento como processo cognitivo se verifica não só

com o auxílio de meios linguísticos(signos verbais), mas também em unidade

orgânica com os processos linguísticos. Poder-se-ia muito bem permutar as

expressões “pensar” e “experimentar processos linguísticos”, pois em ambos

os casos nos referimos ao mesmo processo de pensar, com a única diferença

de ênfase em um dos seus aspectos.

Para cada tipo de pensamento, há um tipo de linguagem mais adequada:

Para o pensamento abstrato e conceitual, que se afasta do sensível, do

individual, a língua se apresenta como condição necessária, por ser um

sistema de signos simbólicos que nos permite ir além do dado vivido e construir

um mundo de ideias.

Cada língua possui uma estruturação próxima quanto ao repertório e às

regras de combinação e de uso. Isso quer dizer que cada língua organiza a

realidade de modo diferente de outra, pois estabelece repertório e regras

diferentes.

A estruturação da língua influencia a percepção da realidade e os níveis

de abstração e generalização do pensamento.

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CONHECIMENTO

Etimologicamente conhecimento vem do latim cognoscere, ato de

conhecer. Em português derivaram termos como cognoscente, “o sujeito que

conhece”, e cognoscível, “o que pode ser conhecido”.

Tradicionalmente costuma-se definir conhecimento como o modo pelo

qual o sujeito se apropria intelectualmente do objeto.

Entendemos por conhecimento o ato ou o produto do conhecimento:

- O ato do conhecimento diz respeito à relação que se estabelece entre o

sujeito cognoscente e o objeto a ser conhecido. O objeto é algo fora da mente,

mas também a própria mente, quando percebemos nossos afetos, desejos e

ideais;

- O produto do conhecimento é o que resulta do ato de conhecer, ou seja,

o conjunto de saberes acumulados e recebidos pela cultura, bem como os

saberes que cada um de nós acrescenta à tradição: às crenças, aos valores, às

ciências, às religiões, às técnicas, às artes, à filosofia, etc.

Os modos de conhecer

Consideramos o conhecimento como um ato da razão, pelo qual

encadeamos ideias e juízos, para chegar a uma conclusão. Essas etapas

compõem o nosso raciocínio. Assim o sujeito cognoscente apreende o real. No

entanto, conhecemos o real também pela intuição.

A INTUIÇÃO

Do latim intuitio, do verbo intueor, “olhar atentamente”, “observar”.

Intuição é, portanto, uma “visão”, uma percepção sem conceito.

A intuição é um conhecimento imediato, um tipo de pensamento direto,

uma visão súbita. Por isso é inexprimível: como a explicar a sensação das

cores. É também um tipo de conhecimento impossível de ser provado ou

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demonstrado. No entanto, a intuição é importante por possibilitar a invenção, a

descoberta, os grandes saltos do saber humano.

A intuição se expressa de várias maneiras, destacam-se a empírica, a

inventiva e a intelectual.

a) Intuição Empírica: é o conhecimento imediato baseado em uma

experiência que independe de qualquer conceito. Pode ser sensível ou

psicológica.

b) Intuição Inventiva: é a intuição do sábio, do artista, do cientista ao

descobrirem soluções súbitas, como uma hipótese fecunda ou uma inspiração

inovadora.

c) Intuição Intelectual: procura captar diretamente a essência do objeto.

CONHECIMENTO DISCURSIVO

Do latim discursus, literalmente “ação de correr para diversas partes, de

tomar várias direções”.

Para compreender o mundo, a razão supera as informações concretas e

imediatas recebidas por intuição e organiza-as em conceitos ou ideias gerais

que, devidamente articulados pelo encadeamento de juízos e raciocínios,

levam à demonstração e à conclusões. Portanto, o conhecimento discursivo, ao

contrário da intuição, precisa da palavra, da linguagem.

Por ser mediado pelo conceito, o conhecimento discursivo é abstrato.

Fazemos abstração quando isolamos um elemento que não é dado

separadamente na realidade. A ideia abstrata despreza as características

secundárias para obter a representação intelectual do objeto, que é imaterial e

geral. Ex: a ideia de copo não se refere àquele copo particular, mas a todos os

copos existentes.

Quanto mais abstrato o conceito, mais se distancia da realidade concreta.

O conhecimento se dá quando a razão enriquece o conhecimento pela

interpretação e pela crítica, afastando-se do vivido. Esse distanciamento,

enfatizam alguns filósofos, pode representar um empobrecimento da

experiência intuitiva que temos do mundo e de nós mesmos. Por isso, o

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conhecimento se faz pela relação contínua entre intuição e razão, vivência e

teoria, concreto e abstrato.

A NECESSIDADE DO MÉTODO

Método vem do grego, methodos, composta de meta: através de, por

meio de, e de hodos: via caminho. Usar um método é seguir regular e

ordenadamente um caminho através do qual uma certa finalidade ou um certo

objetivo é alcançado. No caso do conhecimento, é o caminho ordenado que o

pensamento segue por meio de um conjunto de regras e procedimentos

racionais, com três finalidades:

a) Conduzir à descoberta de uma verdade até então desconhecida;

b) Permitir a demonstração e a prova de uma verdade já conhecida;

c) Permitir a verificação de conhecimentos para averiguar se são ou não

verdadeiros.

O método é, portanto, um instrumento racional para adquirir, demonstrar

ou verificar conhecimentos.

Há a necessidade de um método porque o erro, a ilusão, o falso, a

mentira rondam o conhecimento, interferem na experiência e no pensamento.

Para dar segurança ao conhecimento, o pensamento cria regras e

procedimentos que permitam ao sujeito cognoscente aferir e controlar todos os

passos que realiza no conhecimento de algum objeto ou conjunto de objetos.

A LÓGICA

O termo “lógica” é derivado do vocábulo grego logos que significa “ideia”,

“palavra”, “razão” e “regularidade”, e emprega-se para designar tanto o

conjunto de regras que acata o processo de pensar, reflexo da realidade, como

a ciência das regras de raciocínio e das suas formas. Utilizaremos o termo

nestes dois sentidos. Além disso, o dito termo emprega-se para designar as

regularidades do mundo objetivo (“lógica das coisas”, “lógica dos

acontecimentos”).

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O pensamento não é só objeto de estudo da lógica, mas também de

outras ciências: psicologia, cibernética, pedagogia, etc., com a particularidade

de que cada uma só aborda um aspecto determinado do pensamento. A

psicologia, por exemplo, investiga-o no que diz respeito às suas motivações e

descobre as suas peculiaridades individuais. A cibernética está interessada nos

seus aspectos relacionados com o processamento rápido e eficiente da

informação nos computadores, a interdependência do pensamento e da

linguagem (natural e artificial), os métodos e modos de programação, os

problemas do aparelho matemático dos computadores, etc. A pedagogia

estuda-o enquanto processo cognoscitivo de instrução e educação da jovem

geração. A fisiologia da atividade do sistema nervoso superior interessa-se

pelas bases fisiológicas do pensamento: processos de excitação e inibição

operados no cérebro humano como órgão de pensamento.

A lógica aborda o pensamento a partir de posições distintas. Investiga-o

como meio de conhecer o mundo objetivo, assim como as suas formas e leis

que refletem o mundo no processo de pensamento. Visto que os processos de

conhecimento do mundo são estudados em plena medida pela filosofia, a

lógica é uma ciência filosófica.

O Nascimento da Lógica

Quando analisamos a História da Filosofia, nos deparamos que os antigos

filósofos se preocuparam com o real. O que é o real? O real é a physis,

respondeu a escola jônica. O que é o real? O real é o ser, respondeu a escola

eléatica. Com isso, os modernos se perguntaram: é possível conhecer o real?.

Assim, a filosofia se coloca em direção da ontologia (estudos do ser) e da

lógica (estudos do conhecer). Por se tratar de um pensamento ou raciocínio, é

que a disciplina lógica teve sua fundamentação em constatar uma verdade, o

óbvio. E se esta verdade transforma-se em uma única realidade, autêntica,

colocaria a lógica em contradição, e não teria sentido em observar as

qualidades únicas da natureza.

A razão para todo e qualquer questionamento elaborado por um raciocínio

evidente, claro e coerente, alcança a realidade do impossível, a lógica por sua

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vez, tem esse significado, torna tudo transparente, verdadeiro, ao passo que

representa o modo como pensamos ou imaginamos o mundo real, e é através

dessa percepção que, criamos nossos questionamentos, criticas e conceitos

influenciados pela indução, dedução, coerência e contradição.

Parmênides, filósofo grego que viveu no século V a.C, foi o primeiro

filósofo a tomar rumos sobre a lógica e criar sua concepção pela via da

essência, o filósofo conclui que o ser é perene, intrínseco e ilimitado. Em vista

desse conceito, Parmênides diz: que o SER é; o não SER não é. E cria com

isso, uma contradição de conhecimento racional e conhecimento Ilusório ou

sensível, e estes conhecimentos são mais tarde trabalhados com mais

consistência por Platão e Aristóteles.

A DIALÉTICA PLATÔNICA

A dialética platônica exerceu forte influência sobre a lógica, Platão

desenvolveu a teoria das ideias onde procura solucionar o problema deixado

por duas tendências filosofias, o SER imutável de Parmênides e o SER móvel e

plural de Heráclito. O raciocínio elaborado por Platão envolve o mundo sensível

e o mundo das ideias. Nesse mundo das ideias e que perdura o conhecimento

científico sobre a essência da realidade pura, o objetivo da dialética platônica é

discernir o lado obscuro da realidade e torná-lo compreensivo ao lado da razão,

se a razão explica tudo que é composto pela fábula do raciocínio, e torna tudo

claro a esse lado compreensivo da razão, esse conhecimento ou raciocínio

precisa ser organizado para distinguir o que é verdadeiro e o que é falso.

“Assim, os conceitos refletem a natureza interna, a essência dos objetos

ou dos fenômenos, mas como o mundo das coisas está em constante mudança

e desenvolvimento, os conceitos, se querem ser válidos, devem ser flexíveis e

morais, isto é, dinâmicos ou dialéticos.” (BAZARIAN, Jacob. Pág. 133)

A lógica teve sua maior expressão com Aristóteles, filósofo grego que

viveu no século III a.C, que propôs a divisão dos conhecimentos científicos nas

seguintes maneiras: conhecimentos teóricos (ou contemplativos),

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conhecimentos práticos (onde se coloca o trabalho humano), conhecimentos

produtivos (relativos às técnicas de produção para o convívio social); como a

lógica não se enquadra como ciência, não poderia ser objeto de estudo para as

demais. A lógica estuda especificamente como fundamento primeiro a

PROPOSIÇÃO, que envolve o conhecimento que construirmos através de todo

o raciocínio e que exprimimos juízos de verdade e de clareza.

Em relação à combinação de juízos, a lógica se propôs a estudar

princípios analíticos, princípios segundo Aristóteles que demonstram a

preocupação com a verdade (silogismo científico). Esse silogismo a verdadeira

e principal assimilação da razão (a priori) o destino, porém de a priori é a tese

ou conclusão, aquilo que se quer provar, desse modo, colocamos a silogística

como transição de estudo para a proposição.

Diante disso, entendemos que todo pensamento e todo juízo está

submetido a três princípios fundamentais: contraditórios, contrários e

subalternos. Esses fundamentos exercem sobre a análise crítica do

pensamento noções de como qualquer juízo é evidenciado pela proposição

formando com isso um silogismo.

Colocamos a lógica no pensamento formal da atualidade, e que fornece

as leis e normas a serem aplicadas na pesquisa e na demonstração da

verdade em princípios científicos.

Diante disso, essa busca pela verdade ultrapassa os limites da

racionalidade humana. Ao tentar decifrar os enigmas dos fenômenos naturais,

o homem tenta explicar os conceitos científicos e que regem o convívio social,

por si mesmo, o homem enfatiza o momento de como a realidadeé expressa de

forma coerente, e de como essa mesma realidade propõe mistérios ocultos e

perturbadores à mente humana. Com isso, temos a percepção que

observamos a realidade, e que tudo faz parte de um mundo social, porém, se a

lógica explica que lado racional do ser ou objeto é determinado pela

representação da sua imagem transportado à sua mente, isso nos coloca uma

pergunta final: Qual será o princípio último da Realidade? Tentar responder ou

idealizar esses conceitos vai além do lado racional, consequentemente lógico

do homem, em que busca um sentido para sua existência, quando

encontrarmos a verdadeira resposta a esse problema central, então será

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explicado de forma racional a sua existência, é determinante que o homem

esteja a mercê das suas verdades, a ponto de não aceitá-las como absolutas,

se há uma dúvida em relação a essa verdade, então se torna contraditório a

sua evidência e com isso indefinida a realidade, pois, através do ecletismo das

doutrinas filosóficas é que buscam concretizar sua fundamentação a respeito

da mente humana.

A Lógica Aristotélica

A lógica é uma das partes da filosofia que, pertencendo também à

matemática, objetiva determinar o conhecimento da verdade, através de

operações intelectuais.

Neste sentido, a lógica é uma ciência autônoma que estuda conceitos,

juízos e raciocínios visando demonstrar a validade ou ambiguidade, o duplo

sentido dos termos e a falta de definições precisas.

A vinculação da lógica com a filosofia da ciência é, portanto, evidente,

remetendo ao chamado processo decisório.

Assim, serve à formulação de raciocínios coerentes, tentando evitar erros

de julgamento, ajudando a entender proposições com maior clareza e

distinção.

A lógica constitui uma ferramenta para desenvolver cadeias de

pensamento que, quando aplicadas ao contexto linguístico, permitem

reconhecer contradições e eliminar probabilidades de erro.

Nasceu na antiguidade e foi se desenvolvendo até atingir sua maturidade

no século XIX, aplicando-se então à análise de teorias e discursos no âmbito

da ciência e da filosofia, bem como de outras inúmeras áreas.

Verdade e Validade.

A lógica pretende julgar a validade e verdade dos raciocínios, expressões,

afirmações e operações intelectuais.

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Entende-se por verdade a concordância entre o sentido e a realidade,

entre os argumentos e a verificação da existência concreta dos elementos que

fornecem sustentação à argumentação.

Já a validade, ao contrário, não mede a relação entre o discurso e a

realidade, mas apenas o grau de correção, a coerência interna do raciocínio.

História do desenvolvimento da lógica.

A palavra lógica vem do grego “logos”, uma palavra que pode ser

traduzida como razão, discurso ou linguagem.

A partir desta palavra deriva o verbo “leigein”, que significa colher, reunir,

juntar, calcular ou ordenar.

É neste sentido que se insere a lógica, denotando uma relação entre a

linguagem e o conhecimento, pensando o rigor e a precisão do discurso

linguístico que expressa o conhecimento..

Para a história da filosofia, Aristóteles é considerado o pai da lógica, pois

se ocupou do tema nas obras “Organon” e “Metafísica”, embora não a

designasse por este termo.

No século IV a.C., Aristóteles chamou de “analítica” o que ficaria

conhecido como lógica séculos mais tarde.

O termo lógica só passou a ser utilizado no século II a.C., quando

filósofos estoicos passaram a adotar a palavra como centro do seu

pensamento.

Regras básicas da lógica.

Desde Aristóteles, a lógica possui três regras básicas: o princípio de

identidade, o princípio de não contradição e o princípio do terceiro excluído.

O Princípio de Identidade expressa uma tautologia, demonstra que algo

é idêntico a si mesmo, sendo sempre verdadeiro.

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Por definição, a tautologia é um enunciado que é verdadeiro

independente dos valores de verdade, sendo, portanto, sempre verdadeira.

Assim, a identidade é uma tautologia.

Sendo, P = E, portanto E = P.

O Princípio da Não-Contradição diz que uma proposição verdadeira não

pode ser falsa e uma proposição falsa não pode ser verdadeira.

Portanto, nenhuma proposição pode ser os dois ao mesmo tempo.

“O que é confirmado pelos contraditórios “Laura é psicóloga” e Laura não

é psicóloga”.

Já que ela “é” ou “não é”, os dois ao mesmo tempo nunca, pois entraria

em contradição.

O Princípio do Terceiro Excluído afirma que toda proposição ou é

verdadeira ou é falsa, e não há um terceiro caso possível.

O que confirma as tautologias e o principio da não-contradição, além dos

chamados contingentes.

Os ditos contingentes, apesar de serem enunciados que dependem do

valor de verdade de suas partes mais elementares, cabendo analisar cada

valor obtido, tem como resultado final apenas duas possibilidades, verdadeiro

ou falso, não existindo um terceiro caso.

Conceitos básicos da lógica.

A lógica aristotélica precisou fazer uso de três conceitos básicos para

tornar-se funcional: Premissa, Inferência e Argumento.

1. Uma Premissa é um enunciado com razões apresentadas para dar

sustentação a uma afirmação, possibilitando construir argumentos para atingir

uma conclusão. Portanto, uma premissa é um indicador que, coordenado com

outros, constitui um argumento que sustentará a conclusão.

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2. Uma Inferência é uma operação intelectual que afirma a verdade de

uma proposição por meio de sua ligação com premissas já reconhecidas como

verdadeiras. Assim, a inferência é uma operação lógica que liga as premissas,

construindo o argumento que sustenta a conclusão. A inferência faz uso do

princípio de causalidade, o qual afirma que tudo tem uma causa e efeito, uma

conexão.

3. Argumento é uma sequência de enunciados, um grupo de premissas

ligadas por inferência, apresentando razões para sustentar uma afirmação.

Neste sentido, os argumentos podem ser simples ou complexos. Um

argumento simples possui poucas premissas, permitindo chegar à conclusão

rapidamente.

Um argumento complexo é desenvolvido em etapas, cada qual composta

por um conjunto de premissas e conclusões parciais, unindo as conclusões por

inferência para chegar a um resultado final.

Além disto, os argumentos podem ser de natureza categórica ou

hipotética.

O argumento categórico é formado por premissas aceitas como verdades

dogmáticas, inquestionáveis.

O argumento hipotético é construído através de conjecturas, premissas

que adotam verdades provisórias, trabalhando com probabilidades.

SILOGISMO E FALÁCIA.

No texto “Analíticos”, Aristóteles definiu uma proposição como “o discurso

que afirma ou nega alguma coisa”, propondo termos como verdadeiros, criando

a base da chamada lógica aristotélica.

Aristóteles estruturou a argumentação através de silogismos, propondo a

busca da verdade por meio de operações intelectuais lógicas.

Um silogismo é um raciocínio que sempre demonstra a validade de uma

conclusão, usando premissas tidas como verdadeiras para, por inferência,

compor argumentos que permitiriam chegar à verdade.

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Para alcançar este resultado, o silogismo utiliza pelo menos duas

premissas.

Ao passo que as premissas podem ser universais ou particulares,

afirmativas ou negativas, compondo por inferência um argumento ou conjunto

de argumentos, permitindo chegar a uma conclusão válida, embora nem

sempre verdadeira.

Um silogismo pode compor um raciocínio válido e verdadeiro, tal como no

exemplo a seguir:

1. Todo homem é mortal. – Premissa universal afirmativa.

2. Sócrates é homem. – Premissa particular afirmativa.

3. Portanto, Sócrates é mortal. – Conclusão = Premissa Particular

afirmativa.

No entanto, um silogismo também pode compor um raciocínio válido e

não verdadeiro, como no exemplo que segue:

1. Os biscoitos são feitos de água e sal. – Premissa universal afirmativa.

2. O mar é feito de água e sal. – Premissa universal afirmativa.

3. Portanto, o mar é um grande biscoito. – Conclusão = Premissa

universal afirmativa.

Nem mesmo um silogismo complexo escapa deste problema, pois

também pode ser válido, apesar de não verdadeiro, tal como no exemplo que

segue:

01. Deus é amor.

02. O amor é cego.

03. Steve Wonder é cego.

04. Portanto, Steve Wonder é Deus.

05. Disseram-me que sou ninguém.

06. Ninguém é perfeito.

07. Portanto, eu sou perfeito.

08. Só Deus é perfeito.

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09. Portanto, eu sou Deus.

10. Se Steve Wonder é Deus, eu sou Steve Wonder.

11. Portanto, estou cego.

Enquanto o silogismo, cujo significado em grego é “reunir com o

pensamento”, utiliza premissas bem definidas e que trabalham com a aceitação

de afirmações tidas como verdadeiras, compondo raciocínios válidos; a falácia

expressa um argumento não válido, mas que se aparenta válido e verdadeiro.

A origem da falácia está fixada na antiguidade, inserindo-se na tradição

dos sofistas gregos, extremamente vinculada com a retórica e a política.

Portanto, a falácia não é um argumento que deduz suas conclusões de

premissas necessariamente válidas ou verdadeiras, constituindo um raciocínio

que, quando decomposto e analisado pela lógica, demonstra não ser válido

devido à contradições internas, configurando um erro de construção lógica.

Em geral, a falácia procura se sustentar por meio de influências exteriores

à sua própria demonstração, valendo-se de ambiguidades, duplos sentidos,

apelo à emoção ou utilizando um argumento de autoridade descontextualizado.

Assim, a falácia fere duas regras básicas da lógica: o princípio da não

contradição e o princípio do terceiro excluído.

A aplicação da lógica ultrapassa o silogismo e as falácias, adentrando a

construção e depuração conceitual e, consequentemente, a diferenciação entre

argumentações.

É interessante notar que três conceitos vinculados decorrem da lógica

aristotélica: dedução, indução e hipótese.

Concepções importantes para a lógica, mas também para a filosofia em

sentido amplo e para a ciência. Sem os quais a moderna ciência, tal como

entendida hoje, nem sequer existiria.

A dedução constitui um método formal de verificação da verdade e

validade das conclusões, partindo de premissas verdadeiras para chegar,

pretensamente, à conclusões, igualmente, verdadeiras.

A dedução parte de premissas universalmente aceitas, consideradas

como comprovadas, para analisar casos particulares, estabelecendo, por

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inferência, uma relação entre os argumentos, tentando evitar os mesmos erros

do silogismo.

Enumera as premissas para construir cadeias de pensamento que

permitam conclusões, em concordância com a realidade observável ou

perceptível.

Ao contrário da dedução, a indução parte do particular para chegar ao

universal ou a uma generalização, valendo-se da probabilidade.

O método típico das ciências naturais, onde as conclusões são induzidas

pela probabilidade, muitas vezes se mostrando válidas, embora nem sempre

verdadeiras.

No entanto, permite criar modelos interpretativos que ajudam a

sistematizar o conhecimento.

Já a hipótese está vinculada tanto com a dedução como com a indução,

constitui a suposição de uma verdade, sugerida geralmente pela probabilidade

fornecida pela indução.

Porém, a hipótese é analisada, embora também possa ser criada, pela

dedução para comprovar sua validade, confirmando ou não sua verdade.

O SENSO COMUM

Senso comum é um tipo de conhecimento que resulta do uso espontâneo

da razão, mas que também é fruto dos sentidos, da memória, do hábito, dos

desejos, da imaginação, das crenças e tradições. Como interpretação do

mundo, o senso comum nos orienta na busca do sentido da existência, ao

mesmo tempo em que nos dá condições de operar sobre ele.

Senso comum (ou conhecimento vulgar do ser humano comum) a

primeira compreensão do mundo resultante da herança fecunda de um grupo

social e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas. Pelo senso

comum, fazemos julgamentos, estabelecemos projetos de vida, adquirimos

convicções e confiança para agir.

O senso comum mesmo sendo racional, faz uso não refletido da razão.

Por se tratar de um conjunto de concepções fragmentadas, muitas vezes

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incoerentes, condiciona a aceitação mecânica e passiva de valores não

questionados e se impõe sem críticas ao grupo social.

Características do Senso Comum

São subjetivos, isto é, exprimem sentimentos e opiniões individuais e

de grupos, variando de uma pessoa para outra, ou de um grupo para outro,

dependendo das condições em que vivemos.

São qualitativos, isto é, as coisas são julgadas por nós como grandes

ou pequenas, doces ou azedas, pesadas ou leves, novas ou velhas, belas ou

feias, quentes ou frias, úteis ou inúteis, desejáveis ou indesejáveis, coloridas ou

sem cor, com sabor, odor, próximas ou distantes, etc.

São heterogêneos, isto é, referem-se a fatos que julgamos diferentes,

porque os percebemos como diversos entre si.

São individualizadores por serem qualitativos e heterogêneos, isto é,

cada coisa ou cada fato nos aparece como um indivíduo ou como um ser

autônomo: a seda é macia, a pedra é rugosa, o mel é doce, o fogo é quente, o

mármore é frio, a madeira é dura, etc.

Mas também são generalizadores, pois tendem a reunir numa só

opinião ou numa só ideia coisas e fatos julgados semelhantes: falamos dos

animais, das plantas, dos seres humanos, dos astros, dos gatos, das mulheres,

das crianças, das esculturas, das pinturas, das bebidas, dos remédios, etc.

Em decorrência das generalizações, tendem a estabelecer relações de

causa e efeito entre as coisas ou entre os fatos. Ex: onde há fumaça, há fogo.

Não se surpreendem nem se admiram com a regularidade, constância,

repetição e diferença das coisas, mas, ao contrário, a admiração e o espanto

se dirigem para o que é imaginado como único, extraordinário, maravilhoso ou

miraculoso.

Pelo mesmo motivo e por não compreenderem o que seja a investigação

científica, tendem a identificá-la com a magia, considerando que ambas lidam

com o misterioso, o oculto, o incompreensível. Ex: o programa Fantástico, que,

como o nome indica, mostra aos telespectadores resultados científicos como

se fossem espantosa obra de magia, assim como exibem magos ocultistas

como se fossem cientistas.

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Costumam projetar nas coisas ou no mundo sentimentos de angústia e

de medo diante do desconhecido.

Por serem subjetivos, generalizadores, expressões de sentimentos de

medo e de angústia, e de incompreensão quanto ao trabalho científico, nossas

certezas cotidianas e o senso comum de nossa sociedade ou de nosso grupo

social cristalizam-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar

toda a realidade que nos cerca e todos os acontecimentos.

A ATITUDE CIENTÍFICA

Sob quase todos os aspectos, podemos dizer que o conhecimento

científico opõe-se ponto por ponto às características do senso comum:

É objetivo, isto é, procura as estruturas universais e necessárias das

coisas investigadas.

É quantitativo, isto é, buscam medidas, padrões, critérios de

comparação e de avaliação para coisas que parecem ser diferentes.

É homogêneo, isto é, busca as leis gerais de funcionamento dos

fenômenos, que só estabelece relações causais depois de investigar a

natureza ou a estrutura do fato estudado e suas relações com outros

semelhantes ou diferentes.

Surpreende-se com a regularidade, a constância, a frequência, a

repetição e a diferença das coisas e procura mostrar que o maravilhoso, o

extraordinário ou o “milagroso”, é um caso particular do que é regular, normal,

frequente.

Distingue-se da magia. A atitude científica opera um desencantamento

ou desfeitiçamento do mundo, mostrando que nele não agem forças secretas,

mas causas e relações racionais que podem ser conhecidas e que tais

conhecimentos podem ser transmitidos a todos.

São as mesmas para fatos que nos parecem diferentes.

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É generalizador, pois reúne individualidades, percebidas como

diferentes, sob as mesmas leis, os mesmos padrões ou critérios de medida,

mostrando que possuem a mesma estrutura.

É diferenciador, pois não reúne nem generaliza por semelhanças

aparentes, mas distingue os que parecem iguais, desde que obedeçam a

estruturas diferentes.

Afirma que, pelo conhecimento, o homem pode libertar-se do medo e

das superstições, deixando de projetá-los no mundo e nos outros.

Procura renovar-se e modificar-se continuamente, evitando a

transformação das teorias em doutrinas e destas, em preconceitos sociais.

A EXISTÊNCIA ÉTICA

Senso moral e consciência moral

Muitas vezes, tomamos conhecimento de movimentos nacionais e

internacionais de luta contra a fome. Ficamos sabendo que, em outros países e

no Brasil, milhares de pessoas morrem de penúria e inanição. Sentimos

piedade e ficamos indignados. Movidos pela solidariedade, participamos de

campanhas contra a fome. Esses sentimentos e as ações desencadeadas por

eles exprimem nosso senso moral, a maneira como avaliamos nossa situação

e a de nossos semelhantes segundo ideias como as de justiça e injustiça.

Quantas vezes, levados por um impulso incontrolável ou por uma emoção

forte, fazemos alguma coisa de que, depois, sentimos vergonha, remorso,

culpa? Esses sentimentos também exprimem nosso senso moral, isto é, a

avaliação de nosso comportamento segundo ideias como as de certo e errado.

Em muitas ocasiões ficamos contentes e emocionados diante de uma

pessoa cujas palavras e ações manifestam honestidade, honradez, espírito de

justiça, altruísmo. Sentimos que há grandeza e dignidade nessa pessoa.

Sentimos admiração por ela e desejamos imitá-la. Tais emoções e sentimentos

também exprimem nosso senso moral, isto é, a maneira como avaliamos a

conduta e a ação de outras pessoas segundo ideias como as de mérito e

grandeza de alma.

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Não raras vezes somos tomados pelo horror diante da violência: chacina

de seres humanos e animais, linchamentos, assassinatos brutais, estupros,

genocídio e torturas. Com frequência, ficamos indignados ao saber que um

inocente foi injustamente acusado e condenado, enquanto o verdadeiro

culpado permanece impune. Sentimos cólera diante do cinismo dos

mentirosos, dos que usam outras pessoas como instrumento para seus

interesses e para conseguir vantagens à custa da boa-fé de outros. Esses

sentimentos também manifestam nosso senso moral, ou a maneira como

avaliamos as condutas alheias seguindo as ideias de justiça e injustiça.

Um pai de família desempregado, com vários filhos pequenos e a esposa

doente, recebe uma oferta de emprego que exige que seja desonesto e cometa

irregularidades que beneficiem seu patrão. Sabe que o trabalho lhe permitira

sustentar os filhos e pagar o tratamento da esposa. Pode aceitar o emprego?

Ou deve recusá-lo e ver os filhos com fome e a mulher morrendo?

Uma mulher vê uma criança maltrapilha e esfomeada pegar frutas e pães

numa mercearia. Sabe que o dono da mercearia está passando dificuldades e

que o furto fará diferença para ele. Mas também vê a miséria e a fome da

criança. Deve denunciá-la, julgando que com isso a criança não se tornará um

adulto ladrão e o proprietário da mercearia não terá prejuízo? Ou deverá

silenciar, pois a criança corre o risco de receber punição excessiva, ser levada

pela polícia, ser jogada novamente as ruas e, agora, revoltada, passar do furto

ao homicídio? Que fazer?

Uma pessoa vê, nas portas de uma escola, um jovem vendendo droga a

outro. Essa pessoa sabe que tanto o jovem traficante como o jovem

consumidor está realizando ações a que foram levados pela atividade do crime

organizado, contra o qual as forças policiais parecem importantes. Deve

denunciar o jovem traficante, mesmo sabendo que com isso não atingirá as

poderosas forças que sustentam o tráfico, mas apenas um fraco anel de uma

corrente criminosa que permanecerá impune e que poderá voltar-se contra

quem fez a denúncia? Ou deve falar com as autoridades escolares para que

tomem alguma providência com relação ao jovem consumidor?

Mas de que adiantará voltar-se contra o consumo, se nada pode fazer

contra a venda propriamente dita? No entanto, como poderá sentir-se em paz

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sabendo que há um jovem que talvez possa ser salvo de um vício que irá

destruí-lo? Que fazer?

Consciência moral

Situações como essas surgem a todo o momento em nossa vida. Nossas

dúvidas quanto à decisão a tomar não manifestam nosso senso moral, mas

põem à prova nossa consciência moral, pois exigem que, sem sermos

obrigados por outros, decidamos o que fazer que justifiquemos para nós

mesmos e para os outros as razões de nossas decisões e que assumamos

todas as consequências delas.

Em outras palavras, a consciência moral não se limita aos nossos

sentimentos morais, mas se refere também a avaliações de conduta que nos

levam a tomar decisões por nós mesmos, a agir em conformidade com elas e a

responder por elas perante os outros.

Os exemplos mencionados indicam que o senso moral e a consciência

moral referem-se a valores (justiça, honradez, espírito de sacrifício, integridade,

generosidade), a sentimentos provocados pelos valores (admiração, vergonha,

culpa, remorso, contentamento, cólera, amor, dúvida, medo) e as decisões que

conduzem a ações com consequências para nós e para os outros. Embora os

conteúdos dos valores variem, podemos notar que se referem a um valor mais

profundo, mesmo que apenas subentendido: o bom ou o bem.

Os sentimentos e as ações, nascidos de uma opção entre o bem e o mal,

também se referem a algo mais profundo e subentendido: nosso desejo de

afastar a dor e o sofrimento e de alcançar a felicidade, seja por ficarmos

contentes conosco, seja por recebermos a aprovação dos outros.

Além disso, os sentimentos e as ações morais são aqueles que

dependem apenas de nós mesmos, que nascem de nossa capacidade de

avaliar e decidir por nós mesmos e não levados por outros ou obrigados por

eles; em outras palavras, o senso e a consciência morais têm como

pressuposto fundamental a ideia de liberdade do agente.

22

O senso moral e a consciência moral dizem respeito à valores,

sentimentos, intenções, decisões e ações referidas ao bem e ao mal, ao desejo

de felicidade e ao exercício da liberdade. Dizem respeito às relações que

mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte de nossa

vida com outros agentes morais. O senso e a consciência morais são por isso

constitutivos de nossa existência intersubjetiva, isto é, de nossas relações com

outros sujeitos morais.

JUÍZO DE FATO E DE VALOR

Se dissermos: “Está chovendo”, estaremos enunciando um acontecimento

constatado por nós e o juízo proferido é um juízo de fato. Se, porém, falarmos:

“A chuva é boa para as plantas” ou “A chuva é bela”, estaremos interpretando e

avaliando o acontecimento. Nesse caso, proferimos um juízo de valor.

Juízos de fato são aqueles que dizem o que as coisas são como são e

porque são. Em nossa vida cotidiana, mas também na metafísica e nas

ciências, os juízos de fato estão presentes. Diferentemente deles, os juízos de

valor - avaliações sobre coisas, pessoas e situações - são proferidos na moral,

nas artes, na política, na religião.

Juízos de valor avaliam coisas, pessoas, ações, experiências,

acontecimentos, sentimentos, estados de espírito, intenções e decisões como

bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis.

Os juízos éticos de valor são também normativos, isto é, enunciam

normas que determinam o dever de ser de nossos sentimentos, nossos atos,

nossos comportamentos. São juízos que enunciam obrigações e avaliam

intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto.

Os juízos éticos de valor nos dizem o que são o bem, o mal, a felicidade.

Os juízos éticos normativos nos dizem que sentimentos, intenções, atos e

comportamentos deveriam ter ou fazer para alcançarmos o bem e a felicidade.

Enunciam também que atos, sentimentos, intenções e comportamentos são

condenáveis ou incorretos do ponto de vista moral.

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Como se pode observar, senso moral e consciência moral são

inseparáveis da vida cultural, uma vez que esta define para seus membros os

valores positivos e negativos que devem respeitar ou detestar.

Qual a origem da diferença entre os dois tipos de juízos? A diferença

entre a Natureza e a Cultura? A primeira, como vimos, é constituída por

estruturas e processos necessários, que existem em si e por si mesmos,

independentemente de nós: a chuva é um fenômeno meteorológico cujas

causas e cujos efeitos necessários podemos constatar e explicar.

Por sua vez, a Cultura nasce da maneira como os seres humanos

interpretam a si mesmos e suas relações com a Natureza, acrescentando-lhe

sentidos novos, intervindo nela, alterando-a através do trabalho e da técnica,

dando-lhe valores. Dizer que a chuva é boa para as plantas pressupõe a

relação cultural dos humanos com a Natureza, através da agricultura.

Considerar a chuva bela pressupõe uma relação valorativa dos humanos com a

Natureza, percebida como objeto de contemplação.

Frequentemente, não notamos a origem cultural dos valores éticos, do

senso moral e da consciência moral, porque somos educados (cultivados) para

eles e neles, como se fossem naturais ou fáticos, existentes em si e por si

mesmos. Para garantir a manutenção dos padrões morais através do tempo e

sua continuidade de geração a geração, as sociedades tendem a naturalizá-

los. A naturalização da existência moral esconde, portanto, o mais importante

da ética: o fato de ela ser criação histórico-cultural.

Ética e violência.

A história das ideias éticas desde a antiguidade clássica grecorromana

até nossos dias está relacionada com o problema da violência e dos meios

para evitá-la ou controlá-la. Os padrões de condutas e os conjuntos de valores

éticos e as relações intersubjetivas e entre pessoas foram instituídos por

diferentes formações culturais e sociais. Certos aspectos da violência também

são percebidos nas várias culturas e sociedades que servem de base para os

valores éticos se erguerem.

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A ética pode ser considerada o estudo e a análise dos conceitos

envolvidos no raciocínio prático como o bem, a ação correta, o dever, a

obrigação, as virtudes, a liberdade, mas no geral, é tido como a ciência da

conduta, o fio orientador da conduta que visa o seu direcionamento e disciplina.

Embora, a ethé“ e´mores“ signifiquem o mesmo, ou seja, costumes e

modos de agir de uma sociedade, entretanto, no singular ´´ethos“ é o caráter

ou temperamento individual que deve ser educado para os valores e das

condutas humanas, indagando sobre seu sentido, sua origem, seus

fundamentos e finalidades. Sob essa perspectiva geral, a ética procura definir,

antes de qualquer coisa, a figura do agente ético e de suas ações e o conjunto

de noções (ou valores) que balizam o campo de uma ação que se considera

ética.

O agente ético é pensado como sujeito ético, isto é, como um ser racional

e consciente que sabe o que faz, como um ser livre que decide e escolhe o que

faz e como um ser responsável que responde pelo que faz. A ação ética é

balizada pelas ideias de bem e mal, justo e injusto, virtude e vício. Assim, uma

ação só será ética se for consciente, livre e responsável; e será virtuosa se

realizada em conformidade com o bem e o justo. A ação ética só é virtuosa se

for livre e só será livre se for autônoma, isto é, se resultar de uma decisão

interior do próprio agente e não de uma pressão externa. Evidentemente, isso

leva a perceber que há um conflito entre a autonomia da vontade do agente

ético (a decisão emana apenas do interior do sujeito) e a heteronomia dos

valores morais de sua sociedade (os valores são dados externos ao sujeito).

Esse conflito só pode ser resolvido se o agente reconhecer os valores de

sua sociedade como se tivesse sido instituído por ele, como se ele pudesse ser

o autor desses valores ou das normas morais, pois, nesse caso, ele será

autônomo, agindo como se tivesse dado a si mesmo sua própria lei de ação.

Enfim, a ação só é ética se realizar a natureza racional livre e responsável do

sujeito e se este respeitar a racionalidade, liberdade e responsabilidade dos

outros agentes, de sorte que a subjetividade ética é uma intersubjetividade

socialmente determinada.

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Sob essa perspectiva, ética e violência são opostas, uma vez que

violência significa:

1) tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser

(é desnaturar);

2) todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de

alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar);

3) todo ato de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa

valorizada positivamente por uma sociedade (é violar);

4) todo ato de transgressão contra o que alguém ou uma sociedade

define como justo e como um direito. Consequentemente, violência é um ato de

brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza

relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo

medo e o terror. A violência se opõe à ética porque trata de seres racionais e

sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade, como se fossem coisas, isto é,

irracionais, insensíveis, mudos e inertes ou passivos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

*CHAUÍ, Marilena. Filosofia. Ed. Ática. SP.

*COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. Ed. Saraiva. SP.

*SOUZA, Sônia Maria Ribeiro de. Um Outro Olhar. FTD. SP.

*ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & Maria Helena Pires. Temas de Filosofia.

Ed. Moderna. SP.

*SÀTIRO, Angélica & Ana Miriam Wuensch. Pensando Melhor, Iniciação ao

Filosofar. Ed. Saraiva. SP.

*ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & Maria Helena Pires Martins. Filosofando,

Introdução à Filosofia. Ed. Moderna. SP.

Sites de Filosofia.