Sumarizacao a Estrategia Do Golfinho

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Tamanho Original: 270 pginas Sumarizador: Sulamita P. Castellani de Oliveira Tamanho desta Sumarizao: 62 Pginas

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A ESTRATGIA DO GOLFINHOA conquista de vitrias num mundo catico

Traduo PAULO CESAR DE OLIVEIRA

EDITORA CULTRIX So Paulo

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A Delphinus Delphis Pacincia

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AGRADECIMENTOSConceitual e intelectualmente, h trs diferentes conjuntos de idias onde foram colhidos os conceitos utilizados na produo deste livro. Um deles o ponto de vista de que a biologia est intimamente associada s realizaes humanas ou seja, a idias de que, ao estudarmos os valores e o comportamento humano, estamos nos dedicando a uma tarefa psicobiosocial. Para ns, a principal figura aqui a do falecido Dr. Clare W. Graves, que trabalhou durante boa parte de sua carreira no Union College. Outra grande personalidade cujas idias permeiam este livro Buckminster Fuller Bucy para os milhes de pessoas de todas as partes do mundo que sempre sentiro afinidade com esse pequeno sbio brilhantemente estranho com mente de sciencefiction. H, por fim, aquelas mentes perspicazes que contriburam para o meu entendimento dos sistemas abertos, em especial o crebro, tanto o do golfinho como o dos seres humanos: Michael Hutchison, autor de Megabrain; Frank Robson, o homem golfinho de Taradale, Nova Zelndia, que mergulhou em anotaes e em fotografias de toda uma existncia para me proporcionar o equivalente a um curso de ps-graduao sobre as capacidades dos golfinhos. Sei que minha famlia me ama, pois, caso contrrio, no teria tolerado a perturbao que um projeto como esse causa na vida de todos ns. O meu parceiro intelectual neste empreendimento, Paul L. Kordis, surgiu em meu horizonte pessoal como se fosse um nascer do sol, e passei o restante de minha carreira, lidando com as implicaes e conseqncias das coisas que aprendi com ele. Quanto aos dois tipos de golfinhos, da terra e do mar, gostaria que soubessem que estou empenhado em dar continuidade a isto que comeamos juntos aqui. Estarei em contato.

Dudley Lynch Fort Collins 11 de outubro de 1988

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O paradoxo dos agradecimentos que quase impossvel ser completamente inclusivo e aceitavelmente breve. Portanto, agradeo aos meus pais, familiares e amigos por terem suportado um escritor em meio a eles e por sua contnua inspirao e a Pauline lson, Rich Vliet, Gary Young e Wayne Viney, que em momentos crticos de minha vida deram-me o apoio de que eu precisava quando menos o mereci. Essas pessoas deveriam ser clonadas e distribudas por todo o universo.

Paul L. Kordis Fort Collins 11 de outubro de 1988

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SUMRIOINTRODUO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06

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BUSCANDO UM RESULTADO ELEGANTE: OS GOLFINHOS SO AQUILO QUE OS GOLFINHOS FAZEM. . . . . APROVEITANDO A ONDA: OS SEGREDOS ESPECIAIS DOS GOLFINHOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LEVANTAR PERISCPIO: A CAPACIDADE FUNDAMENTAL DO GOLFINHO DE BUSCAR NOVOS CAMINHOS. . . . . . . . . . . . . VIVENDO VOLTADO PARA UM PROPSITO: EVITANDO O DESTINO QUE FAZ SOFRER. . . . . . . . . . . . . . . . . CONSTRUO DE VISES: ATRAVESSANDO A JANELA DO TEMPO DO CREBRO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LIBERAO PARA UMA ORDEM SUPERIOR: A PICE DE RSISTANCE DOS GOLFINHOS. . . . . . . . . . . . . . . . .

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A ORQUESTRAO DA PERTURBAO: COMO OS GOLFINHOS AMPLIAM SEUS LIMITES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50 O MUNDO AUTOCATALTICO DO GOLFINHO: PODEMOS MUDAR O TEMPO? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

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OS IMPLEMENTOS PARA O APRENDIZADO DO GOLFINHO. . . . . . . . . . . . 62

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INTRODUONa fronteira, a vida floresce. - James Gleick, Chaos

Durante pelo menos quarenta mil anos, e provavelmente por muito mais tempo, as pessoas, suas famlias e suas organizaes, tanto comerciais como sociais, tm seguido, na maioria das vezes, duas estratgias para lidar com o mundo. A estratgia da carpa. E a estratgia do tubaro. Este livro trata de uma nova e poderosa estratgia, que brotou tardiamente, porm de forma plenamente desenvolvida, a partir de um crebro dotado da compreenso de que o mundo mudou e, portanto, de que tambm devemos mudar. O que precisa ser mudado a qualidade e a quantidade de nossa percepo da complexidade e as nossas habilidades e o nosso nvel de comodidade ao lidarmos com ela. As pessoas que utilizam apenas a estratgia da carpa sofrem de uma hipnose cegante uma incapacidade de reconhecer aspectos fundamentais do mundo como um todo, e aceita-los como verdadeiros. Por outro lado, as pessoas que esto habituadas estratgia do tubaro so viciadas. Os seus vcios e compulses as condenam a serem eternamente rinocerontes em lojas de louas ou coisa pior no mbito de nossas sociedades, organizaes e famlias. Originalmente motivados pelo prazer, os tubares, em longo prazo, passam a ser motivados pela evitao da dor. Tanto a estratgia da carpa como a do tubaro permanecem conosco porque esto profundamente implantadas dentro de ns. Voc reconhecer imediatamente essas estratgias, a no ser que prefira faz-lo; esta seria uma situao do tipo Catch22*, pois optar por no reconhecer alguma coisa de valor , em si mesmo, o uso de uma das estratgias. No caso, a estratgia da carpa. O crebro antigo nos oferece trs alternativas de comportamento para reagirmos aos acontecimentos externos: lutar, fugir ou nos imobilizarmos. Uma carpa (isto , uma pessoa que utiliza a estratgia da carpa) geralmente recorre apenas a duas dessas opes, fugir ou imobilizar-se. Obviamente as carpas so muito predadas; todavia, se algum se der ao trabalho de permanecer nas guas das carpas, em meio a muitos amigos-carpas e fazendo principalmente trabalhos de carpa, em determinadas ocasies essa pessoa ser capaz de levar uma vida relativamente segura. Se tiverem uma escolha, as carpas geralmente vo em frente. No entanto, se puderem, elas evitam inteiramente fazer escolhas. H ocasies em que faz sentido ser uma carpa dentro de uma organizao. H tambm casos em que faz sentido ser um tubaro. A estratgia do tubaro , muitas vezes, vista como uma estratgia voltada para produzir um ganho pessoal, independentemente dos custos. Quando voc precisa nadas nas vizinhanas do tubaro, as regras so bastante claras:

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Descubra qual o aspecto dos tubares e quem so eles (os tais com dentes aguados). No os menospreze e faa um bocado de barulho. No ande por a junto com os peixes que servem de isca (as carpas). No tenha medo de afugentar um tubaro quando algum deles se aproximar de voc com o nariz empinado (s vezes basta uma boa pancada no focinho). Se for mordido, no sangre. No se canse nadando contra a mar. E o mais importante de tudo: encontre alguns outros golfinhos para nadarem ao seu lado. Os verdadeiros golfinhos so algumas das criaturas mais apreciadas das profundezas. Podemos suspeitar que eles sejam muito inteligentes talvez, sua prpria maneira, mais inteligente do que o Homo Sapiens. Seus crebros, com certeza, so suficientemente grandes cerca de 1,5 quilogramas, um pouco maiores do que o crebro humano mdio e o crtex associativo do golfinho, a parte do crebro especializada no pensamento abstrato e conceitual, maior do que o nosso. O comportamento dos golfinhos em volta dos tubares legendrio e, provavelmente, eles fizeram por merecer essa fama. Usando sua inteligncia e sua astcia, eles podem ser mortais para os tubares. Mata-los a mordidas? Oh, no! Os golfinhos nadam e, torno e martelam. Usando seus focinhos bulbosos como clavas, eles esmagam metodicamente a caixa torcica do tubaro at que a mortal criatura deslize impotente para o fundo. Os golfinhos pensam? Sem dvida. Quando no conseguem o que querem, eles alteram os seus comportamentos com preciso e rapidez, algumas vezes de forma engenhosa, para buscar aquilo que desejam. Se os golfinhos podem fazer isso, por que no ns? Achamos que podemos. A estratgia do golfinho exige que pensemos a respeito do modo como pensamos. Isto eleva em uma ordem de magnitude as capacidades humanas de competir e de se modificar. Os golfinhos apreciam, utilizam, exploram e experimentam ao mximo a capacidade de um crebro humano plenamente envolvido, integrado e altamente social (interiormente) de ajudar a si mesmo e a outros crebros a fazerem uma avaliao crtica de suas decises. Ao escrever este livro tivemos a esperana de poder ajud-lo a evitar, regularmente e com um mnimo de esforo, as principais armadilhas das estratgias da carpa e do tubaro. varivel a facilidade com que as diversas categorias de pessoas e de organizaes podem alcanar a golfinizao. bvio que algumas tero de lutar com as barreiras naturais da alma para fazer isso acontecer. Por exemplo: os adeptos dos nossos sistemas de crenas tradicionais e autoritrios incluindo a maioria das nossas corporaes e outras burocracias vo ser desafiados pela idia de se permitir o surgimento de uma nova dimenso de abundncia pessoal. Ao optarmos por batizar esse novo tipo de mentalidade com o nome do mais antigo smbolo de inteligncia do mundo delphinus delphis estamos sendo inspirados mais por sua tenacidade, pelo seu encanto, pela sua intuio e pela sua inteligncia do que pelo seu comportamento real como a espcie dotada do melhor

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crebro do oceano. Todavia, temos de admitir que h semelhanas muito interessantes entre os golfinhos do mar e a subespcie dotada de uma nova forma de pensamento, o homo sapiens delphinus, que estamos descrevendo. Golfinhos de ambas as variedades do mar e da terra prosperam num ambiente difcil. Ambos esto sempre vigilantes, interpretando as correntes, buscando informaes e monitorando desenvolvimentos. Ambos nadam bem em qualquer oceano, flutuam em qualquer corrente e mergulham em qualquer tanque. Eles se saem bem operando em conjunto e agem com competncia quando esto sozinhos. Se as coisas no esto funcionando, eles muitas vezes procuram implacavelmente algo diferente, algo que realmente funcione. E, como j dissemos se for necessrio, eles podem matar um tubaro. Poderamos argumentar para ns, seres humanos, a estratgia do golfinho o primeiro sistema realmente novo de buscar o xito a surgirem quase meio sculo. Como h muitas outras maneiras de pensar num mundo onde esto ocorrendo inmeras mudanas, queremos substituir essa venervel, mas ultrapassada idia por uma ainda melhor: pense poderosamente. Entretanto, queremos faz-lo de uma maneira que ajude todas as pessoas a terem as suas necessidades atendidas. Que ajude todas as pessoas a serem bem-sucedidas, no limite de suas competncias pessoais. E que faa do mundo um lugar melhor para se viver.

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1 BUSCANDO UM RESULTADO ELEGANTE: OS GOLFINHOS SO AQUILO QUE OS GOLFINHOS FAZEM

A estratgia do golfinho uma busca eficaz daquilo que funciona, daquilo que faz sentido. a busca daquilo que levar a cabo uma tarefa, que nos permitir atingir as nossas metas e nos trar um futuro em que teremos uma razovel confiana em que o planeta, a humanidade e tantas espcies quanto pudemos levar conosco iro sobreviver e, se possvel, prosperar. A estratgia do golfinho tem uma maneira de assustar as vacas das outras pessoas. Os golfinhos no se do por vencidos nem desistem at que faa uma diferena. Quando isto acontece, ento eles podem se render. Os golfinhos so inflexveis em questes de princpios, a no ser que o princpio no faa mais qualquer sentido. Embora os golfinhos gostem de vencer, eles no precisam que voc saia perdendo a menos que voc insista nisso. Os golfinhos dizem a verdade e, assim, evitam desperdiar tempo, energia e recursos para manter uma encenao intil e improdutiva. Os golfinhos tm uma viso de como eles gostariam que fosse uma corporao, uma organizao ou o prprio mundo mas no se comportam como camicases em relao a isto. Os golfinhos quase sempre atuam tendo em mente o quadro geral, mas tambm conseguem concentrar-se nos menores detalhes. Os golfinhos do extraordinrios lderes e administradores e, num mundo onde colocam suas capacidades superiores de raciocnio ttico e estratgico para funcionar, sempre que desafiados eles ento acabam mantendo as carpas e os tubares numa situao cada vez mais desequilibrada e desvantajosa. Mesmo que esteja determinado a continuar sendo uma carpa ou um tubaro, voc talvez ache interessante expandir os seus conhecimentos a respeito dos golfinhos e de sua maneira de pensar. Quando os tubares encontram um golfinho, eles presumem equivocadamente que esto lidando com uma carpa. As carpas, por outro lado, tomam os golfinhos por tubares. Alm do mais, muitas pessoas nas organizaes pensam que sabem como os golfinhos so, mas deixam de perceber muitas distines sutis e ainda encontram outras totalmente ilusrias. claro que existe aqui uma certa confuso que precisa ser esclarecida. Primeiro, uma palavra sobre aquilo que os golfinhos no so. Eles no so superpeixes revestidos de platina, nadando arrogantemente pela loja, pelo escritrio, pela sala da diretoria ou pelo centro de computao enquanto aguardam o momento certo para nos emprestar sua sabedoria superior, ou seus formidveis ideais revolucionrios e suas inspiradoras solues. Os golfinhos no so criaturas que vivem de acordo com as regras, mesmo que elas estejam codificadas num livro chamado A Estratgia do Golfinho.

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Embora os golfinhos possam ser os tais em suas organizaes, muitas vezes assemelham-se mais a abelhas operrias, principalmente em organizaes de alta tecnologia e em outras da era da informao. Os golfinhos no se opem a vencer. Se houver pouca coisa em jogo ou se pudermos aprender com isto alguma coisa significativa, eles tambm no se opem a perder. Eles no se importam com o calor do conflito nem com os sacrifcios impostos pela luta se isto fizer realmente sentido. Se fizer sentido de forma elegante. O que queremos dizer com elegante? Consultando o nosso Websters Third New International Dictionary, descobrimos o significado que procuramos na definio 1 (d): caracterizado pela preciso *cientfica+, pela correo e pela simplicidade. Solues elegantes nos escapam em muitas negociaes porque, na realidade, em virtude dos nossos arraigados sentimentos a respeito do suposto valor da competio e a respeito da vitria e da derrota nas culturas dominantes em nossas organizaes, nenhuma das partes chega a ter alguma vez as suas necessidades plenamente atendidas. Mesmo na Era Industrial, a flexibilidade e uma mentalidade elegante no eram exigidas ou valorizadas em demasia, nem mesmo por Frederick Taylor, o gnio do sculo XIX que, mais do que ningum, criou a matriz organizacional para a poca. Agora, no entanto, isso importa. Percebendo isto, alguns formadores de opinio e tericos de administrao defendem a adoo de respostas cada vez mais rpidas. Acreditamos que no final da dcada de 80 e 90 a maioria das organizaes bem sucedidas ter a capacidade de resolver seus desafios e problemas mais fundamentais com elegncia. Elegncia do golfinho. Acreditando nisso vamos agora mergulhar no tanque, tendo em mente que em algumas ocasies devemos agir como uma carpa, e em outras como um tubaro e em outras, ainda, pensar como um golfinho.

RupturaOs golfinhos nadam por toda a parte e geralmente tornam o tanque maior

O Tanque

ConquistaOnde nadam os tubares

Troca

RendioOnde nadam as carpas Pseudo-esclarecidas

FugaOnde costumam nadar as carpas

Figura 1.1 Onde as Carpas, os tubares e os Golfinhos 10

O que o tanque? Fcil. O tanque aquilo que possvel. Em todo o imenso universo? No, aquilo que possvel no seu universo pessoal, no nosso universo de nossas organizaes. Por isso, os nossos universos pessoais e os de nossas organizaes podem ser muito diferentes, dependendo daquilo que acreditamos. As carpas e os tubares acreditam que vivemos num mundo de escassez. Sem que tenham conscincia disso as carpas basicamente repetem para si mesmas este tipo de metodologia de crena:

Sou uma carpa e acredito na escassez. Em virtude dessa crena, no espero jamais fazer ou ter o suficiente. Assim, se no posso escapar do aprendizado e da responsabilidade permanecendo longe deles, eu geralmente me sacrifico.A formao de uma carpa geralmente comea na infncia, com um ou mais acontecimentos suficientemente traumticos para que o indivduo tome esta incapacitante deciso: No sou capaz de vencer; no consigo agora, nem depois e nem nunca. Com essa crena, o indivduo passa a se concentrar em no perder. Acreditando nisso, nada ameaa mais uma carpa do que a possibilidade de abundncia. A crena da carpa nos limites nada menos do que hipntica. A carpa fica o tempo todo no canto das vtimas, espremida como sempre entre os outros perdedores e infligindo-se com o infortnio de tomar conta das outras pessoas e no receber uma ateno correspondente. A hipnose que impede a carpa de reconhecer a possibilidade de mudana e de conquista da abundncia algo quase extraordinrio para se observar e se analisar. Os co-dependentes [as nossas carpas]... passam a maior parte do tempo compreendendo as necessidades dos outros e captando indicaes sutis a respeito de que as outras pessoas esperam delas.

Ao se empenharem em evitar a possibilidade de abundncia, as carpas, com freqncia, se consideram moradoras de uma outra parte do Tringulo do Drama. fcil para as carpas pensar em nascerem para salvar. No canto dos seus salvadores, as carpas seguram um aviso que diz: Consertamos sentimentos, pensamos pelos outros e sofremos as suas conseqncias por voc. Esse posto de socorro para as vtimas da vida pode gerar belos sentimentos, a sensao de ser til e de estar fazendo o bem mas s durante algum tempo. Para repelir a oportunidade de se regalar com a abundncia e excluir qualquer possibilidade de mudana real, a carpa adere a solues prescritas por ela mesma e voltada para impedir a ocorrncia de situaes de ruptura. Uma vez mais, Stewart Emery um sagaz observador. Ele identificou as seis solues primrias que as carpas

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prescrevem para si mesmas a fim de evitarem assumir responsabilidade pessoal pela obteno de abundncia e realizao de mudanas: No tomar parte no jogo. Impedir os outros de vencer. No levar at o fim coisa alguma. Destruir o jogo. Desempenhar a rotina do bom sujeito. Tornar-se um problema. Na figura 1.1, o tanque, para as carpas, est limitado a uma rea alongada no canto inferior direito, caracterizada, de um lado, por um modo de pensar que chamamos de Fuga e, de outro, por um modo de pensar que chamamos de Rendio. O uso consistente da estratgia da Fuga no representa uma grande contribuio para a sua sobrevivncia. Por que isto acontece? Porque cada uma das outras estratgias ao menos produz um resultado ou cria algum tipo de vnculo ou de relacionamento com os outros. Na maioria dos casos a carpa adota a estratgia da Fuga. A longo prazo, a estratgia da Rendio no muito melhor. De fato, ela pode ser muito pior. Adote a estratgia da Rendio de maneira consistente e voc corre o risco de se extinguir. Por qu? Por duas razes que atingem um grau elevado na Escola Richter de resoluo de dilemas. Em primeiro, lugar, os jogadores aos quais voc tem maior probabilidade de se render so, geralmente, tubares, e se voc continua a no fazer nada a no ser se render acabar perdendo tudo o que tem. A outra escolha jogar com os golfinhos, e eles rapidamente descobriro que voc no tem estomago para lidar com questes desafiadoras e que s pode contribuir com pouco, ou com nada, para a proposio de solues elegantes; consequentemente eles preferiro nadar com outros parceiros. Qualquer que seja o caso, voc no mais capaz de contribuir ou de receber positivamente. O maior perigo de adotar a estratgia da Fuga est no fato de que voc precisa cometer todos os seus erros sozinho. Ela no permite que voc se beneficie com as experincias dos outros. Os tubares agem de maneira muito diferente. Eles dizem a si mesmos repetidamente e, uma vez mais, de maneira quase que totalmente inconsciente:

Sou um tubaro e acredito na escassez. Em razo dessa crena, procuro obter o mximo que posso, sem nenhuma considerao pelos outros. Primeiro tento venc-los; se no consigo, procuro juntar-me a eles.

O tubaro acredita que precisa haver um perdedor e est determinado a fazer com que este seja uma outra pessoa e no ele.

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Voc pode inferir que est na zona de perigo constituda pelas guas onde os tubares se alimentam quando se depara constantemente com: O trapaceiro. Se no houver perigo imediato e se voc compreender o que estiver acontecendo, pode ser fascinante observar at onde vai um tubaro consumado para evitar ter de assumir responsabilidade. O seu propsito sempre o mesmo: minimizar os riscos (com probabilidade de sofrer) de no ser um vencedor. A obscuridade. A confuso uma cobertura natural para os tubares. Para os tubares, turvar a gua uma ttica to comum quanto deslizar silenciosamente nas sombras. A negao. Aquilo que no reconhecido no pode ser confrontado. Os tubares tm uma grande capacidade para evitar a realidade dos fatos. O pico. Em seu narcisismo, os tubares assemelham-se corrente alternada. Em sua viso deformada, todas as coisas que esto dispostos a reconhecer fluem a favor deles ou contra eles. A pressuposio. Visite qualquer feira industrial para efetuar um grande contrato de negcios e voc se ver rodeado pela pressuposio. A pressuposio baseia-se na necessidade do tubaro de acreditar que, se tudo o mais falhar, ele ou seu produto no falharo. A crise e o poder. Estar nas garras de algum ou de alguma coisa significa ser mantido sob controle. Os tubares querem que voc esteja sob o controle deles e, portanto, esto sempre fabricando crises que foram voc a se comportar de maneira como eles querem. Sendo este o caso, no deveramos estranhar o fato de que duas das principais estratgias no espao elptico da figura 1.1, indicado como guas dos tubares, sejam a Conquista e a Troca. Estas duas estratgias so, de longe, as preferidas por executivos, administradores, proprietrios, supervisores, advogados, banqueiros, investidores e inmeros outros jogadores que buscam o poder no mundo dos negcios. Em 1976, o dramaturgo, Tom Stoppard fez que o protagonista do seu Travesties dissesse: A guerra o capitalismo sem luvas. Toda uma gerao de administradores modernos comportou-se de modo a endossar o ponto de vista de Stoppard a respeito do capitalismo. Em The Corporate Warriors, o escritor Douglas K. Ramsey, especializado em questes empresariais, discriminou nove princpios da estratgia militar, que considerava igualmente aplicveis aos conflitos empresariais, tais como aqueles personificados pelos invasores: 1. Manobra: preciso ter flexibilidade, mantendo abertas opes para dispor as tropas em formao de combate. 2. Objetivo: definir claramente o objetivo do combate. Definir a situao que a empresa dever estar no final da operao. 3. Ofensiva: atacar o inimigo, ou o competidor. 4. Surpresa: o fundamento de todas as iniciativas militares.

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5. Economia de foras: mobilizar o mnimo de recursos para atingir o objetivo. 6. Massa: Concentre a sua fora. 7. Unidade de comando: linhas de autoridade bem definidas. 8. Simplicidade: aquilo que os departamentos militares resumem com o acrnimo KISS: Keep It Simple, Stupid (no complique estpido). 9. Segurana: manter a lealdade e discrio dentro da unidade militar ou empresarial. Por volta do final da dcada de 80, alguns dos maiores invasores individuais ajudaram a ilustrar o lado ruim da estratgia da Conquista, da mesma forma como, alguns anos antes, eles tinham se revelado alguns dos exemplos mais visveis, sonoros e viveis da eficcia da tcnica. Embora um tubaro como o invasor empresarial com freqncia chamada nas manchetes possa ter um grande retorno potencial em termos de poder, de influncia e de controle utilizando a estratgia da Conquista, isto acontece apenas durante algum tempo. Cedo ou tarde, medida que cresce o nmero de seus inimigos, medida que seus oponentes se tornam mais sbios e ardilosos e que o suprimento de vtimas apropriadas diminui, essa estratgia entra em colapso, reduzindo a zero suas chances de sobrevivncia ao ser ultrapassada pelas duas outras estratgias, a da Troca e da Ruptura. Esse fenmeno s no reconhecido de maneira mais ampla porque o suprimento de tubares humanos parece limitado. Em Dealmaking: All de Negotiating Skills and Secrets You Need, Robert Lawrence Kuhn, de um banco de investimentos, afirma: Chegar a um acordo a arte de fazer ambos os lados concordarem com uma soluo que no agrada a nenhum deles. Desde que todos estejam descontentes, diz o adgio, o acordo justo. Um acordo justo. Esta a maneira a maneira do tubaro de encarar a estratgia que estamos chamando de Troca. Em termos de resultado, uma palavra caracteriza quase qualquer coisa que acontece na estratgia da Troca: moderada. H um moderado ganho de alguma espcie para todos os jogadores. H um moderado acesso pessoal ao poder, influncia e ao controle para todos os jogadores. Se a estratgia da Troca permite a ocorrncia de progresso em tantas frentes distintas, por que deveramos ser to cautelosos a ponto de colocar um aviso de perigo ao lado dela? No final das contas, em certos aspectos ela parece um resultado em que todas as partes ganham algo, talvez at mesmo o suficiente para continuarem em frente na busca de coisas maiores e mais importantes. Quando usada de maneira consistente, a estratgia da Troca pode reduzir a qualidade de vida que voc poderia ter nos perodos mais favorveis e colocar em risco a prpria sobrevivncia de sua empresa, sua auto-estima e seu futuro. Por qu? Porque cada vez que se faz uma Troca, aquilo que voc esperava ganhar , na verdade, reduzido pela metade. por isso que em nossa maneira de ver, a Troca no representa

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um resultado do tipo ganha/ganha, mas apenas meio ganha/ganha. Um ganha/ganha dividido por dois. Quando est disputando com golfinhos, o tubaro que adota a estratgia da Troca no tem muita chance. Os golfinhos so golfinhos porque esto acostumados a utilizar as estratgias de ganha/ganha e, s vezes, estratgias com um potencial de resultados geomtricos ainda maiores. Examinemos agora a parte do tanque onde os golfinhos nadam, procurando identificar, a caracterstica central que distingue um golfinho de uma carpa ou de um tubaro. Lembre-se de que tanto as carpas como os tubares acreditam na escassez. Em virtude dessa crena, eles acreditam que a sua sobrevivncia resultado de seus comportamentos. Eles agem de modo caracterstico: carpas Fogem e se Rendem e tubares Conquistam e fazem Trocas. Num mundo assim, as carpas e os tubares correm um risco cada vez maior, pois esto presos aos seus comportamentos, pensando equivocadamente que esses so os seus comportamentos. Os golfinhos no. Eles acreditam que o seu valor independe dos seus comportamentos. Aos golfinhos, aplica-se o seguinte prembulo psicolgico:

Sou um golfinho e acredito na escassez e na abundncia potenciais. Assim como acredito que posso ter qualquer uma dessas duas coisas esta a nossa escolha e que podemos aprender a tirar o melhor proveito de nossa fora e utilizar nossos recursos de um modo elegante, os elementos fundamentais do modo como crio o meu mundo so a flexibilidade e a capacidade de fazer mais com menos recursos.Sendo adeptos dessa crena, os golfinhos no vm o tanque de uma maneira convencional. Visto pelos olhos dos golfinhos, o tanque aparece de forma como representado na figura 1.2. Em vez de deixarem que os comportamentos determinem quem eles so, os golfinhos assumem qualquer comportamento que ls permita em primeiro lugar, fazer mais com menos, e, em segundo lugar, procurar obter resultados elegantes. Isto equivale a dizer que a diferena entre a estratgia do golfinho e as estratgias da carpa e do tubaro reside no modo como lidam com o fator surpresa.

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Ganha/Ganha4Ganha/GanhaGanha/Ganha2

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O TanqueSoma Positiva

Ruptura ConquistaCooperao

Acrescenta riqueza ao universo

Rendio

Soma Zero

Troca

Soma Negativa

Fuga

Subtrai riqueza ao universo

Preocupao consigo mesmo

Preocupao com os outros

Figura 1.2 Valor Adicionado, Valor Trocado, Valor perdido

Num jogo finito, procuramos controlar todas as possveis eventualidades controlar totalmente o futuro e o passado como uma forma de anestesiar o presente. Queremos controlar o jogo, os jogadores, o resultado e a platia. As carpas o fazem repetidamente rendendo-se ou fugindo, e os tubares sendo impiedosos ao tomarem o que desejam ou ao fazerem presso para conseguir vantagens nas Trocas. Atualmente, o crebro humano muitas vezes est programado dessa maneira aberrante por razes em grande parte desconhecidas. Num jogo infinito que nico, o futuro se aproxima desafiando o presente e modificando o passado. Se isto for possvel, o jogo infinito sempre oferece ao presente a perspectiva de um novo incio e de um novo fim. Algum participante est pensando que esta a nica maneira pela qual a partida pode ser jogada? Algum est insistindo para que apenas determinados jogadores possam participar? Algum est dizendo que o tempo est acabando? Algum est afirmando enfaticamente que as regras no podem ser mudadas? Conforme observa Carse: Os jogadores finitos jogam dentro de limites; os jogadores infinitos jogam com os limites... As regras de um jogador finito no podem mudar, as regras de um jogador infinito precisam mudar. Dentro de um jogo infinito so jogados inmeros jogos finitos. Enquanto golfinhos, sempre abordamos o tanque a partir de uma posio de fora e no de fraqueza, embora os golfinhos compreendam e, quando necessrios, possam utilizar a paradoxal fora que reside na vulnerabilidade. Para sobrevivermos jogando com os tubares ameaadores e traioeiros, temos sempre de agir para preservar a nossa capacidade de, se necessrio, sair do tanque. Ou ento, se precisarmos nos proteger ou convencer os outros dos benefcios

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de nos levar a srio e de jogar limpo, devemos conservar a capacidade de dar uma boa pancada no focinho do adversrio. Conquista, Rendio e Troca so todos eles, jogos de soma zero nos quais nenhuma riqueza criada. Em vez disto, a riqueza apenas muda de mos. Os golfinhos sabem que, com o tempo, todas as estratgias de soma zero tendem a degenerar em estratgias de soma negativa, ou de perde/perde, nas quais no h ganhadores, temporrios ou permanentes. Sabendo disso, por que os golfinhos sempre entram em jogos de soma zero? Pelas seguintes razes: Os Golfinhos no so mgicos: No tendo varinhas mgicas, os golfinhos percebem que tm de lidar com o mundo como ele . Ele muitas vezes pode jogar sem que a sua sobrevivncia seja ameaada, desde que os resultados sejam aceitveis, inofensivos ou mantenham as coisas em movimento. Os resultados de soma zero podem ser teis mesmo quando consomem tempo e recursos. Os golfinhos utilizam deliberadamente as estratgias ganha/perde nestas ocasies: Conquista: Quando o tempo muito limitado e um resultado especfico crucial. Quando um relacionamento pouco importante e um resultado especfico crtico. Quando uma retaliao apropriada necessria. Troca: Quando o tempo curto. Quando a questo de trivial a moderada em importncia. Quando outros no tm boa-vontade em cooperar plenamente. Rendio: Quando a questo trivial e o relacionamento fundamental. Quando esta for uma boa maneira de ajudar os outros a aprender com a experincia. Quando voc descobre que est errado. Em algumas ocasies, as estratgias de soma zero podem ser muito eficazes. Se for preciso corrigir os rumos de uma situao ou de um relacionamento, talvez faa sentido utilizar uma estratgia de Rendio na qual o usurio aceita conscientemente os limites e sofre as conseqncias. A Conquista a nica estratgia que faz sentido. Por exemplo: nenhum paramdico ir tolerar a interferncia de outros em questes de vida ou morte. No entanto, o mdico o mdico tambm poderia ter optado por uma Troca caso fosse necessrio abrir caminho para preocupaes mais importantes. Quando um golfinho no v nenhuma vantagem em permanecer num jogo de soma zero, ele tem ainda outra opo: fugir.

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Fugir pode ser uma estratgia de vida. Conforme vimos acima, trata-se de uma estratgia de soma negativa; a nica das opes do golfinho que subtrai riqueza do universo ou de um indivduo. Os golfinhos, porm, utilizam a estratgia da Fuga por outras razes. Eles a utilizam: Quando o resultado no importa muito. Quando h outra necessidade mais premente. Quando preciso acalmar os nimos para que problemas mais fundamentais recebam a devida ateno. Quando precisam obter informaes. Estas so razes tticas. Os golfinhos tambm utilizam a Fuga estrategicamente. Em parte, os golfinhos so golfinhos porque se esforam muito para estar voltados para um propsito, da mesma forma como faz um piloto de avio que procura manter o seu curso. Dificilmente passaria pela cabea de um golfinho a idia de eliminar o individualismo, pois num sentido mais profundo, ningum mais individualista do que um golfinho. Por outro lado, se existe uma coisa que um golfinho considera importante isto: nada mais fundamental que a cooperao. A percepo de que as coisas so assim produziu uma enxurrada de teorias sobre trabalho e esprito de equipe, negociao e organizao, as quais esto frouxamente reunidas em torno da idia de se buscar resultados em que todas as partes saiam ganhando. Uma estratgia do tipo ganha/ganha cooperao simplesmente uma porta, o ponto de partida do jogo da Ruptura em vez de serem festejados em excesso, muitos jogadores adeptos de estratgias do tipo ganha/ganha devem ser vistos como realmente so: pensadores apanhados na penumbra que precede a era dos golfinhos, uma penumbra que combina muitas promessas e muito sofrimento. Ns os chamamos de carpas pseudo-esclarecidas e, como existem muitas delas entre os nossos amigos ntimos, ns celebramos suas ddivas e seus talentos, ao mesmo tempo em que nos afligimos com a paralisia que tomou conta de seu autodesenvolvimento. Esta a declarao inconsciente de uma Carpa Pseudo-Esclarecida a nossa CPE. Sou uma CPE e acredito num universo de absoluta abundncia. Portanto, no acredito no verdadeiro mal e na existncia de perdedores verdadeiros s uma questo de tempo at que todos venam. Como minha necessidade bsica a da cura, no me sinto vontade com a retaliao ou com a fuga e, assim simplesmente no posso demonstrar amor ao poder. Isto me faz impotente e a minha impotncia me deixa irritada; todavia, como importante para mim manter uma imagem de espiritualidade, expresso a minha raiva secretamente. Acredito que tudo que precisamos na vida aprender a nos soltar, a fluir, a nos transformar num canal para uma fora maior, e assim que justifico a minha existncia.

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No lado positivo esto as habilidades e a sensibilidade das CPEs na arte de curar as emoes. A viso de mundo da CPE , obviamente, mais esclarecida que a de um tubaro. Ela se processa numa ordem de complexidade maior e comea a utilizar um espectro de possibilidades que est fora do alcance da mentalidade do tubaro. Entretanto, o calcanhar-de-aquiles da CPE tambm se encontra em seu conceito de lugar seguro. Em seu refgio, a CPE est agora hipnoticamente atrada por um senso de absoluta abundncia. Na prtica, as CPEs oscilam entre dois extremos. Um deles a crena no fato de que qualquer coisa possvel. Pensando assim, elas frequentemente lanam mo das evidncias mais tnues e da mais grosseira supergeneralizao que possa ser citada para sugerir que o mundo da realidade corresponde de fato ao mundo utpico de seus sonhos e de suas vises. A crena das CPEs na ausncia de limites faz com que elas se tornem vulnervel seguinte suposio: qualquer coisa que seja possvel , portanto, provvel e universal. Quando as coisas no acontecem da maneira como ela esperava, a CPE fica irritada: irritada porque o mundo no est se modificando instantaneamente, porque existem de fato limites e porque o sistema de crena das CPEs demasiado impotente contra os tubares. Num mundo de rpidas mudanas, as CPEs e sua ausncia de fronteiras acabam sendo foradas a se definirem e aos seus lugares seguros quase que exclusivamente pelas coisas em relao s quais elas so contra; assim, elas e o objeto de sua ira esto constantemente se fustigando. As posies das CPEs so cheia de paradoxos. Embora elas se vejam como perenes e consumadas salvadoras, determinadas a lutar contra as mais revoltantes injustias, as CPEs frequentemente dirigem os seus protestos contra os alvos menos ameaadores. A organizao pode encontrar CPEs sob uma das duas formas: a CPE metafsica e a CPE social. A primeira, muito provavelmente ser um funcionrio da empresa; a segunda, algum de fora censurando a organizao por causa de suas falhas, reais ou imaginrias. Em sua fuga do mundo da realpolitik elas preferem acreditar no feminino, no feminino, no etreo, no livre fluxo do universal e se abster de reconhecer a existncia de qualquer forma de mal. Como a maioria das CPEs so definidas com base nas coisas s quais se opem, a CPE metafsica : Contra a matria. A CPE metafsica procura com freqncia escapar por intermdio de uso de drogas, de retiros, meditao e terapias que supostamente, promoveriam a desmaterializao. Contra o masculino. O seu humano do sexo masculino deveria ser desqualificado para cargos importantes. Contra a estrutura. Estrutura implica a existncia de limites, uma idia que as CPEs no aceitam. J a CPE social, provavelmente atacar a organizao a partir de fora, acreditando que os males do mundo so produzidos por um complexo industrialtecnolgico, dominado pelos tubares. Elas procuram cercar-se daquilo que natural,

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puro; elas se lanam na busco do holstico. Portanto, em seu negativismo, as CPEs sociais so: Contra a tecnologia. A tecnologia pode perturbar o fluxo, que elas vem como uma resposta universal para os problemas da condio humana. Contra a complexidade. A complexidade oferece muitos esconderijos e as CPEs geralmente consideram que os labirintos do pensamento abstrato conferem vantagem ttica aos tubares. Contra a autoridade. Aceitar o ponto de vista de que a autoridade algo necessrio para a organizao da sociedade significa ter de aceitar a realidade do mal. Em suma, as CPEs metafsicas e sociais so consumidas por um ofuscante enfaturamento com uma nova descoberta: a busca constante e aperfeioante da fora vital do universo. No se sentindo psicologicamente vontade com a gerao interna de poder, as CPEs relutam em assumir o controle sobre suas vidas. As CPEs geralmente: Acreditam apenas na abundncia. Evitam assumir a responsabilidade pessoal de corrigir os males da sociedade. Acreditam que estar no fluxo uma resposta para todos os problemas. Compreendem que h necessidade de se ter um propsito. Tm uma extraordinria f num resultado positivo, acreditando que o universo sempre ajeitar as coisas. Para as CPEs, o golfinho se parece com o tubaro, que ela tanto teme. Trs elementos cruciais, caractersticos dos golfinhos, esto ausentes da maioria das frmulas do tipo ganha/ganha, que agora esto sendo avidamente apresentados comunidade empresarial e organizacional: Uma genuna compreenso do modo de usar o crebro para fazer mais com menos. Uma avaliao do que necessrio para utilizao dos recursos de maneira elegante. A capacidade de exercer o poder, incluindo a retirada com dignidade e a retaliao quando for apropriada. Mais do que qualquer outra pessoa at agora, o cientista poltico Robert Axelrod ajudou-nos a compreender o que h de importante acerca da retaliao. Para isso, precisamos utilizar uma ferramenta de pesquisa de que os psiclogos gostam muito, um jogo chamado Dilema do Prisioneiro. Axelrod perguntou-se como fazer com que os jogadores percebessem rapidamente, em qualquer situao as vantagens da cooperao.

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Na primeira rodada o vencedor foi a estratgia do olho por olho, dente por dente. Depois de informar os participantes do sucesso do Olho por Olho, Axelrod realizou um segundo torneio. Embora o nmero de inscries fosse menor, o resultado foi o mesmo. Ele acredita que as abordagens Olho por Olho de retaliao estrategicamente limitada foram bem sucedidas devido ao fato de evocarem a cooperao dos outros em vez de derrot-los. Ele acrescenta: A cooperao baseada na reciprocidade pode ter incio num mundo predominantemente no-cooperativo, pode prosperar num ambiente diversificado e pode manter-se depois de plenamente estabelecida. O experimento de Axelrod foi conduzido num mundo artificial de jogadores simulados e foi muito simplista. Quando voc est preso a uma situao da qual no pode escapar, e os outros envolvidos no esto cooperando nem se comunicando, restam-lhe apenas trs escolhas: 1. Voc pode ser uma carpa. 2. Voc pode ser um tubaro. 3. Voc pode adotar a estratgia do Olho por Olho. Veja como os golfinhos jogam segundo a estratgia do Olho por Olho: Eles entendem que, se o chefe no suporta a cooperao, leva mais tempo para que a estratgia Olho por Olho vena. Pode ser necessrio recorrer a uma guerra de guerrilha ou, at mesmo, derrubar o chefe. O fundamental estabelecer conexes rapidamente com outros golfinhos e aumentar a interao entre os jogadores cooperativos. Eles ampliam a influncia do futuro sobre o presente. Quanto mais os jogadores souberem que iro se ver e que tero de lidar uns com os outros no futuro, maior ser a probabilidade de desenvolvimento de cooperao. Sabendo disso, os golfinhos agem no sentido de estabelecer ligaes durveis. Eles evitam conflitos desnecessrios cooperando, enquanto os outros jogadores tambm o fazem. Essa poltica de reciprocidade bsica fundamental, pois qualquer tentativa de tirar proveito da cooperao, mesmo ocasionalmente, pode deflagrar o Efeito Eco. O Eco um efeito colateral potencialmente srio do Olho por Olho, no qual as duas partes ficam trancadas numa competio mtua. Eles reagem prontamente a um lance mesquinho retaliando de forma apropriada. A importncia de manter um baixo limiar de probabilidade surpreendeu Axelrod. Ele admitiu haver iniciado o seu torneio computadorizado acreditando que a

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melhor poltica era a de ser lento em demonstrar irritao. Todavia, os resultados convenceram-no de que esperar para reagir provocao pode conduzir a um erro de interpretao, equivalendo misso de um sinal errado. O golfinho diz: Quero que ambos ganhemos e ganhemos de forma simples, precisa e retumbante, no importando quais sejam as nossas chances, as dificuldades que temos pela frente ou o tempo que vai levar. Deixando os lemingues se lanarem no mar, se necessrio os golfinhos substituem os cantos de sereia da competio, do desastre, da confuso e do sacrifcio, profundamente implantados no crebro humano, trocando-os por sublimes melodias de mudana e de criao. So estas as estrofes importantes da cano do golfinho: Precisamos aprender a aproveitar a onda. Precisamos aprender a relaxar e ficar soltos. Precisamos aprender a trabalhar cooperativamente. Precisamos nos concentrar em fazer mais com menos. Precisamos aprender a inovar.

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2 APROVEITANDO A ONDA: OS SEGREDOS ESPECIAIS DOS GOLFINHOS

As focas adoram bolas, e os golfinhos smbolos, e mais ou menos pelas mesmas razes. Ambos apresentam uma boa flutuabilidade e manobralidade. Neste final de sculo XX, dois dos smbolos/bolas mais importantes para os golfinhos so:

O smbolo = na frmula de Albert Einstein, E = mc.

E A palavra nanossegundo.

Eis o porqu: Para o golfinho, o sinal de igual de Einstein uma indicao de que, considerando-se todos os fatores, tudo o que vai acaba voltando. Isto no significa dizer que no existe nenhum limite para as informaes e para a velocidade de seu processamento. Conforme Sherry Turkle, todo mundo sabe que o jogo vai terminar algum dia, mas esse algum dia , potencialmente, infinito. Mencione um universo em expanso para um golfinho e ele imediatamente pensa em informaes e em nanossegundos. Um nanossegundo simboliza uma nova perspectiva de tempo na qual os golfinhos podem ter a esperana de serem os administradores e os lderes preferenciais. Um nanossegundo um bilionsimo de segundo. Em termos dos golfinhos, as novas perspectivas de tempo introduzidas pelos computadores e por outras formas de processamento, de armazenamento e de recuperao de informaes so basicamente estas: Existem l fora mais ondas para serem cavalgadas ou utilizadas de forma criativa do que jamais existiu antes. Os golfinhos compreendem que o princpio organizador mais importante do final do sculo XX e incio do sculo XXI a onda. A onda de mudana. E os administradores e lderes que no aprenderem a surfar na onda arriscam-se a ficar abandonados num tanque cada vez menor e com uma superpopulao de carpas e de tubares excitados, confusos e desalentados ou, ento, a serem transformados em seres ineptos e ineficazes pelos imprevisveis e implacveis turbilhes de um agitado oceano de mudanas. De acordo com o futurista Alvin Toffler, que foi o primeiro a nos lembrar disso, o predomnio da agricultura durou cerca de seis mil anos. Entre a chegada dessa

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onda e o desaparecimento da cultura nmade precedente, baseada na caa e na coleta, dezenas de geraes viveram e morreram com pouca ou nenhuma mudana em seus estilos de vida, tal a lentido que a mudana ocorria. Com a nova onda da era industrial, o ritmo se acelerou. Em trs centenas de anos, essa onda atingiu o seu mximo e, neste momento, est rapidamente se desfazendo nas economias avanadas. Nossa atual era da informao anunciada pelo advento do computador apenas algumas dcadas atrs j esto sendo suplantada nas frentes avanadas do desenvolvimento das idias e das tcnicas. J entrando em cena em seus estgios iniciais, o poder de uma nova onda potencialmente to grande que podemos apenas fazer uma idia de muitas de suas implicaes. Ela tambm chamada de Onda da produtividade, devido aos enormes ganhos que promete em energia, na reconstituio da matria bsica e de formas de vida, alm de avanos adicionais na rea da informao. A prxima onda a da Imaginao, porque podemos prever que esse novo ciclo de tecnologias vo nos capacitar a oferecer grande nmero de novas explicaes e de novas teorias sobre as questes mais fundamentais do universo. Embora eles efetivamente no saibam e no possam saber em detalhes a natureza de ondas futuras, os golfinhos entendem e esto preparados para agir com base nas seguintes realidades: Em virtude da acelerao da Curva de Informao, pode-se esperar que, num futuro prximo e por um tempo indeterminado depois disso, novas ondas de mudana chegaro praticamente nos calcanhares da onda anterior. Com ondas de mudana irrompendo em cena em todos os poucos anos, dentro em breve poderemos nos defrontar com um espetculo de diversidade global sem precedentes, no qual, talvez, quatro, cinco ou seis ou um nmero at maior de sistemas de idias e de crenas criadas por essas ondas de mudanas estaro concorrendo simultaneamente pelo domnio. Pode-se esperar que a situao daqueles que tentarem apenas surfar no lado descente de uma onda isto , simplesmente reagir ao que est acontecendo no ambiente torne-se cada vez mais precria. A sincronizao tudo. Em termos de onda, a vida est basicamente dividida em trs sees: a vida de um projeto; a vida de um indivduo; e a vida de um negcio, de um produto, de uma sociedade. Embora nenhuma experincia com a onda seja exatamente a mesma ao longo do tempo, a dinmica da onda permanece espantosamente constante. Os golfinhos no medem esforos para avaliar, de momento a momento, de ms a ms, em que parte da onda eles esto, como esto interagindo com a onda e o que podem esperar da onda para o futuro. Em suma, os golfinhos so sobreviventes. E eles sobrevivem, em grande parte, porque sabem como aproveitar a onda com um mnimo de tenso no produtiva ou com uma tenso produtiva voltada para um objetivo estratgico.

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Os sobreviventes tm uma idia clara de suas metas, sabem lidar com as surpresas e acreditam que detm o controle dos acontecimentos. A idia expressa escrita como se existisse no passado e no futuro. Esta maneira de imaginar os acontecimentos lhe permite tratar do presente como se ele fosse o passado do futuro. Ento, ao agir assim, voc pode puxar a sua estratgia a partir do futuro em vez de ser puxado por ela. Ao pensar no futuro do presente composto do modo indicativo durante a fase da descoberta da onda, voc, enquanto golfinho pode desfrutar das seguintes vantagens: Voc pode preparar o caminho para fazer uso de sua intuio. Voc pode encarar o tempo como um recurso e no como uma limitao. Voc pode evitar a Sndrome da Utopia, ou seja, lugar nenhum. Muitas carpas e mesmo tubares acabam em lugar nenhum por acreditarem em conversas como estas, provenientes de seu prprio crebro: A carpa comum: Se nunca vou chegar, para que comear a andar? A carpa pseudo-esclarecida: a jornada que importa, e no o destino; portanto, no importa se voc vai chegar ou no. O tubaro: O destino que importante; assim, procure chegar l o mais rpido que puder, no importando quem saia machucado no processo. O golfinho diz: Tolice! O fato de voc estar a caminho significa que voc j chegou. isso a. Voc est aqui! Se tudo o que importante para voc est l fora ento voc no tem nada disso, e nunca poder esperar obter isso. Os melhores tempos. No faz muito tempo, um conhecido com quem temos relaes de negcios observou: acho que existe algum tipo de cdigo gentico que determina se a pessoa ou no bem-sucedida. No importa o que eu faa, sempre tenho sucesso, enquanto que para algumas pessoas, por mais que se esforcem nada d certo. A maioria de ns conhece pessoas como essas ambos os tipos, de fato. Mas os autores deste livro ofereceriam um outro tipo de interpretao para os sucessos atuais desse indivduo, uma interpretao baseada na onda. Esse camarada, um prspero empreiteiro, simplesmente pegou a onda muitas vezes e navegou bem. Ele tem bons instintos para efetuar as mudanas. Neste momento em particular ele est naquela parte da onda que chamamos de os melhores tempos. Ele est surfando na onda com facilidade e sendo impelido por ela. Num sentido organizacional, ele est usufruindo daquilo que chamamos de fluir. O fluir ocorre quando o desafio e a habilidade so mais ou menos equivalentes, isto , a dificuldade de um desafio e a capacidade de uma pessoa para enfrent-lo esto em equilbrio. esse o poder procurado pelos surfistas nos grandes vagalhes do Hawa e da Austrlia. Esse o poder que os golfinhos procuram enquanto desenvolvem uma estratgia para as suas aes intuitivas. No fluir, se no est quebrado, no preciso consertar.

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Para uma carpa ou tubaro, essa parte da onda apenas mais um dia no escritrio cheio de dramas, de jogos e das incapacitantes conseqncias de no se ter uma resposta apropriada para a seguinte pergunta: Do que estamos nos ocupando? Tempo de mudar: Quando a curva para de crescer, ela atinge o ponto da bifurcao. Na verdade, a crista da onda est to apinhada quanto uma praia de banhistas batida por um vento hibernal ou seja, no tem muita gente por l. O ponto de bifurcao a onda inexoravelmente deixa para trs o seu apogeu, perdendo energia e oportunidade. Ela d lugar a um vale e cada vez mais abandonada pelas foras criativas do ambiente, doravante o escultor invisvel de forma externa e da dinmica da onda. A carpa deixa de notar o ponto em que a onda comea a diminuir simplesmente por causa de seu fatalismo e de sua recusa em reconhecer que alguma coisa diferente pode, deve ou deveria ser feita. Os tubares no se congregam em grande nmero no ponto de bifurcao porque invariavelmente recebem os primeiros sinais de diminuio do mpeto da onda com uma insensata retirada para guas mais familiares, guas onde tiveram sucesso no passado. Os tubares no se acham no ponto de bifurcao, pois esto por a batendo os tambores. E os golfinhos? Na maioria dos casos, voc tambm no deve esperar que eles possam ser vistos no ponto de bifurcao. Eles provavelmente mudaram de onda e comearam um novo processo de descoberta algum tempo antes de tornar-se claramente visvel que alguma coisa diferente precisaria ser feita. Os golfinhos intuem e deduzem a necessidade de mudar, em vez de esperar que o ambiente os golpeie repetidas vezes com lembretes cada vez mais dolorosos. O resultado que, quando chega o ponto de bifurcao, os golfinhos j avanaram muito e esto dominando firmemente sua estratgia e sua programao para a nova era. Os golfinhos iniciam o seu desengajamento muito tempo antes. Em resumo. A carpa se deixa levar pela onda, mesmo se ela estiver se desfazendo. O tubaro, como sempre, est feroz e furiosamente caa de vantagens e de presas fceis, mesmo com o grave risco de acabar numa armadilha, enquanto que os golfinhos aproveitam a onda. Perceba que voc o fluir. O fluir uma cincia revolucionria e genuna, de um tipo to instrumental e fundamental que o seu descobridor merece ser lembrado como Isaac Newton do sculo XX, Ilya Prigogine. Em poucas palavras, esse talentoso qumico belga de origem russa nos proporcionou uma compreenso do modo como diante da entropia e da invejvel

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perda de calor, um mundo eu est se exaurindo pode, no obstante, sustentar todos os tipos de processos, incluindo a vida humana, que se chama em expanso. Segundo Prigogine, a diferena entre um sistema como uma mquina a vapor e o crebro humano, por exemplo, que a mquina a vapor fechada, e o crebro aberto. Num sistema fechado, o sistema caba parando de funcionar. Quando compreendemos isto, o modo como vemos a onda e o fluir sofrem uma importante modificao. Anteriormente vamos o fluir como um estado de coisas em que as nossas habilidades estavam altura dos nossos desafios. Estar no fluir era estar naquela parte da onda onde o ambiente d um razovel apoio aos nossos esforos, um tipo de permuta que era atraente e produtiva. No entanto, vemo-nos diante de uma nova e surpreendente perspectiva. Cada vez que os sistemas abertos os mudam se tornam mais complexos. Quanto mais complexos eles se tornam mais entropia precisam dissipar. Quanto mais entropias precisam dissipar, mais energias precisam absorver. Quanto mais energia eles podem absorver, mais abertos eles esto reorganizao, ao colapso, ao caos, mudana e criao. Nos termos de Prigogine, no tanto uma questo de estar no fluir, mas sim de que, enquanto golfinhos, somos o fluir. Os golfinhos compreendem que eles so o fluir. por isso que os golfinhos, ao contrrio dos tubares e das carpas, investem to pesadamente no aprendizado da maneira de desencadear e de aproveitar a autotenso, autocolapso, autocaos, automudana e autocriao. Para atualizar uma viso do lugar onde voc quer estar preciso, antes de mais nada, compreender com muita clareza onde voc est no presente momento, para que voc saiba o que corrigir e o que mudar. E se o futuro estivesse lhe enviando sinais a respeito daquilo que voc precisa mudar esse voc deve fazer essa mudana, quais seriam essas mudanas, quais seriam os aspectos desses novos perfis, onde voc precisaria efetuar correes e como faze-las? O que essas mudanas lhe diriam acerca do rumo de sua vida? Quais as coisas que no mudariam e o que isso significaria para voc?

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3 LEVANTAR PERISCPIO: A CAPACIDADE FUNDAMENTAL DO GOLFINHO DE BUSCAR NOVOS CAMINHOS Buscar novos caminhos soa como algo no qual os tenistas profissionais Ivan Lendl ou Martina Navratilova poderiam ser ases. Os golfinhos certamente so muito bons para escapar das barreiras auto-impostas contra as novas perspectivas, as quais tendem a manter a mente presa apenas a uma idia, a uma s regra, a uma dimenso solitria. Sem essas habilidades, frequentemente descobrimos que os nossos resultados e as nossas oportunidades ficam rgidos. Buscar novos rumos algo sempre necessrio para se manter as organizaes sadias e no rumo certo, principalmente em pocas de rpidas mudanas. Todos os dias e, em certos dias, todas as horas voc precisa inovar de alguma maneira, adotar uma perspectiva diferente, desafiar o status quo, fazer uma pergunta diferente, ver o mundo de uma outra maneira e ajudar os seus colegas a perguntarem: Como ns gostaramos que isto fosse como precisamos realmente que isto seja? Para jogar como um golfinho, precisamos assumir responsabilidade pela maneira como respondemos quilo que acontece a ns. Os golfinhos compreendem que o importante aquilo que funciona. Para descobrir o que funciona voc precisa estar disposto a assumir as suas responsabilidades e a movimentar-se para descobrir as suas opes. O golfinho faz um esforo dirio e deliberado para evitar desapontamentos e desastres do tipo Se ao menos... usando constantemente uma estrutura mental do tipo E se... Infelizmente essa atitude no generalizada. Depois que a nossa ateno foi atrada para a armadilha relativa aos trabalhadores industriais, passou a ficar fcil perceb-la. Mas quando voc fica prisioneiro de um ponto de vista ou se encontra impedido de avistar outros horizontes devido linguagem que voc mesmo escolheu para descrever o problema e delinear a soluo que, em sua opinio, deve ser adotada, torna-se perigosamente difcil enxergar as coisas de uma outra maneira. Como os golfinhos conversam consigo mesmos para sair de dilemas? Eles usam tcnicas como estas: Quando vem que o que fazem no est funcionando, os golfinhos param de fazer o que esto fazendo e concentram-se naquilo que funciona. Ao parar de fazer o que vinha fazendo, voc cria a oportunidade para fazer alguma outra coisa. Os golfinhos criam novas palavras para falar sobre o seu problema. Um mestre zen, Tai-Hui, mostrou aos seus monges um basto e disse: Se voc diz que isso um basto, voc afirma; se voc diz que isto no um basto, voc nega. Para alm da afirmao e da negao, como voc chamaria isto? Ora bolas, mestre, chame a isso de ma, troo ou de prxima manh de segunda-feira.

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Os golfinhos falam muito uns com os outros sobre o processo e, como recompensa por isso, frequentemente descobrem a soluo no processo, onde ela estava o tempo todo. Faa aquilo que voc teme. Na psicoterapia, os golfinhos so peritos em conduzir os seus pacientes para uma genuna cura. Eles dizem aos insones para ficarem acordados durante a noite toda. Se a pessoa costuma sofrer desmaios, eles lhes dizem para prostrar-se. Eles instruem os perfeccionistas a cometerem erros. Ao orientarem os clientes a fazer o que temem e ao convencerem-nos a fazer isso esses terapeutas criam uma nova situao onde as velhas solues no fazem qualquer sentido. Se voc faz planos de ficar acordado durante a noite toda, subitamente parece tolice preocupar-se por no ser capaz de dormir. Nem sempre fcil fazer aquilo que voc teme. Nem sempre fcil chegar onde voc no pode ir ou fazer aquilo que no consegue. Viktor Frank, o pai da logoterapia contou a histria do estudante que chegara atrasado na aula. Ao repreend-lo, o professor quis saber a razo do atraso. Estava to escorregadio. Sempre que dava um passo para frente eu deslizava dois para trs, respondeu o garoto. Como ento voc conseguiu chegar at aqui?, perguntou o professor, indignado. O garoto respondeu: Fiz meia-volta e voltei para casa. Os golfinhos sabem que com freqncia, podem fazer significativas mudanas para melhor, tornando-se vulnerveis, fazendo aquilo que temem. Fazer aquilo que teme pode ser um pacto extremamente difcil de firmar consigo mesmo. As barreiras existentes em nossa mente podem ser terrveis, o que razo mais do que suficiente para que as desafiemos. Porm voc deve proceder com cuidado, e ter sempre em mente que algumas pessoas no conseguem fazer isso. Em boa medida os golfinhos so bem-sucedidos porque dominaram um princpio fundamental para se ultrapassar um paradoxo: o princpio da variao. Eis aqui alguns exemplos: Anuncie aquilo que voc geralmente esconde Faa sozinho aquilo que voc geralmente faz com os outros. No diga alguma coisa que voc geralmente diz Esconda aquilo que voc normalmente revela Diga o oposto daquilo que voc sempre diz Faa mais lento ou mais rpido, com maior e com menor esforo Faa por partes Acrescente uma tarefa desagradvel, mas salutar O falecido Milton Erickson era um gnio em se tratando de levar as pessoas a fazerem aquilo que temem, porm, com uma variao. Houve o caso, por exemplo, do jovem que ele curou do hbito de roer as unhas fazendo com que o paciente se comprometesse a roer a unha de um nico dedo. Ou o da mulher que estava sempre quebrando suas dietas, que conseguia perder peso rapidamente, mas logo o recuperava. A soluo dele: lev-la a concordar em ganhar dez quilos antes de comear a prxima dieta.

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Fazer aquilo que voc teme uma excelente maneira de procurar novos rumos, especialmente se voc faz com uma variao. Reestruture ou crie uma escolha modificando o significado de um acontecimento. Quando reestruturamos, ns modificamos o cenrio ou o ponto de vista conceitual e/ou emocional em relao ao qual a situao vivenciada e... a colocamos numa outra estrutura onde os fatos da mesma situao concreta encaixam-se igualmente bem ou ainda melhor e, assim, alteramos todo o seu significado? Os golfinhos frequentemente reestruturam o significado dos acontecimentos e de questes utilizando tcnicas como esta: Perguntando E se...? E se perguntarmos, e se...? Em primeiro lugar isto nos faz lembrar da observao de Antoine de Saint-Exupry segundo a qual a verdade no o que descobrimos mas sim o que criamos. Quando fazemos essa pergunta, levantamos a possibilidade de olhar para uma situao um problema a partir de diversos pontos de vista. Perguntar E se...? pode ser suficiente para nos fazer lembrar de que, provavelmente fomos ns que criamos a realidade que est a nossa volta, s que nos esquecemos de ter feito isso. Agora, depois de termos sido lembrados de que fomos, de fato, os criadores de uma realidade, podemos comear a mud-la.

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4 VIVENDO VOLTADO PARA UM PROPSITO EVITANDO O DESTINO QUE FAZ SOFRER

Uma das criaturas mais destitosas da natureza um peixe fora dgua. Para um peixe de verdade arrancado subitamente da gua real, esta de fato uma situao muito grave. Para a criatura humana, a morte no iminente quando nos vemos atirados praia. O nosso destino assemelha-se mais a um desconforto crnico, frequentemente de carter to vago e de natureza to enigmtica que, depois de algum tempo, simplesmente o aceitamos como uma contingncia da vida com a qual temos de conviver, algo como um eczema, uma artrite nos joelhos ou uma unha encravada crnica com o que a natureza cruelmente nos dotou. As carpas e os tubares so mais susceptveis a esse destino que faz sofrer. Os golfinhos so rpidos em reagir a qualquer sinal de uma nova tendncia ou de modificaes nas condies do ambiente. Os golfinhos insistem em manter uma sincronia entre aquilo que so; o que esto fazendo, pensando e sentindo; e a razo de estarem aqui. Os golfinhos procuram satisfao e harmonia interiores. Os golfinhos no aceitam durante muito tempo ou com demasiada freqncia a condio de peixe fora dgua. John Sculley o chefe executivo da Apple Computer, Inc. Antes de assumir este cargo, numa das trocas de executivos mais divulgada dos Estados Unidos, Sculley foi o mais jovem presidente da histria da Pepsi-Cola, aos 38 anos, e o provvel herdeiro necessrio do posto mais elevado da gigantesca Pepsico. Na poca, Sulley era supostamente um tubaro. Quando Sculley pediu demisso da Pepsi para ir para a Apple, os funcionrios da Pepsi ficaram incrdulos. Como ele poderia abandonar um futuro garantido o qual praticamente lhe assegurava o posto mais elevado de uma poderosa empresa admirada em todo o mundo em troca de uma situao problemtica (naquela poca) no universo ainda incerto dos computadores pessoais? A resposta talvez ainda no tenha sido plenamente compreendida por muitos dos antigos colegas e mentores de Sculley. Na verdade, porm, ela bastante simples. Subitamente, depois de passar anos cada vez mais encalhado na praia, Sculley voltara a nadar. De repente, depois de passar anos desviando-se cada vez mais do seu curso, John Sculley estava novamente voltado para o seu propsito. Ele sabia disso sem qualquer sombra de dvida porque o sentia. Os golfinhos nem sempre tm um propsito; a vida demasiado complicada para isso. Mas e este o propsito fundamental quando no tm um propsito, eles percebendo isso quase que imediatamente, e iniciam sem demora uma busca pelo que perdido ou tornou-se confuso, e o fazem com intensidade e com dedicao. Quando temos um propsito, achamos que a nossa vida faz sentido. Quando no temos um propsito, tropeamos cegamente de uma escolha errada para outra, e agentamos as conseqncias do destino que nos faz sofrer. No entanto, como estamos sem um propsito, descobrimos que estamos novamente nos

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sentindo infelizes, que somos vtimas do destino que nos faz sofrer e que, uma vez mais, samos em busca de um fracasso. Em tais circunstncias, temos quatro escolhas: Podemos fugir Podemos mudar a organizao ou o ambiente Podemos mudar a ns mesmos Podemos sofrer Pode-se esperar que os golfinhos escolham uma das trs primeiras opes. As carpas, as carpas-pseudo-esclarecidas e os tubares escolhem sofrer ou topar de alguma forma com o sofrimento. Como quer que se lide com esse papel, o produto final para qualquer organizao o afastamento das metas visadas: hora a hora, dia a dia, a organizao inexoravelmente arrastada para fora de seu curso. O fundamental para se evitar o destino que faz sofrer saber qual o nosso propsito pessoal e, usando esse conhecimento, fazer escolhas que esto alinhadas com os nossos valores mais profundos. Quando voc puder usufruir desse tipo de sincronia, ter conquistado a capacidade de operar com um senso de integridade. fundamental saber qual o seu propsito e manter-se fiel aos seus valores mais profundos. Depois que passamos a ter um propsito, o que resta em nossa busca para agir com integridade entrar em contato e em sincronia com os nossos valores mais profundos, os valores do nosso prprio mundo interior, onde so elaboradas questes relativas a propsitos e a outros assuntos graves e profundos. Os golfinhos compreendem que equipes, grupos, famlias e indivduos podem partilhar um propsito semelhante quando todos tm um propsito e, mesmo assim, estarem utilizando padres ou valores extremamente diversos. Desse modo, uma das habilidades fundamentais do golfinho a de apreciar e de ser capaz de reagir de modo a dar apoio aos propsitos dos outros quando eles tentam realizar o seu prprio na vida ou na organizao. Embora o crebro de um golfinho contenha, obviamente, os hemisfrios da carpa e do tubaro, o sistema de comando parece ser muito diferente. Em vez de atribuir o controle predominantemente a um ou ao outro hemisfrio, os golfinhos passaram o centro de ao para os lobos frontais. Em sua maior parte, os golfinhos so golfinhos porque podem nadar em qualquer parte do tanque, conforme os seus desejos e as suas necessidades. Os golfinhos percebem que o movimento rumo realizao do propsito pode fazer com que os indivduos mudem de um sistema de valorizao para outro. Ouvindo e observando cuidadosamente, os golfinhos fazem tabula rasa das realidades que precisam compreender e com as quais tm de conviver para estabelecer um relacionamento humano produtivo e para poderem lidar com integridade com as principais vises de mundo que se manifestaram na espcie at agora e que sero descritas a seguir.

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O Gregrio (Homo sapiens gregarius) Principal ideal na vida: Viver sacrificialmente pelo bem de sua famlia, tribo, cl ou grupo. Necessrio apoiar os seus valores: Segurana, superviso rigorosa, oportunidade de trabalhar e de permanecer perto de sua famlia e de seus amigos. As perguntas que sempre dominam sua mente: Algum cuidar de mim no futuro? Conseguirei ficar ao lado de pessoas parecidas comigo? O solitrio (Homo sapiens audax) Principal ideal na vida: Viver expressivamente ter as suas prprias necessidades atendidas e mandar para o inferno as das outras pessoas. Necessrio apoiar os seus valores: Oportunidades para demonstrar poder, audcia e bravura; permanecer ocupado e ganhar muita experincia prtica, usufruir imediata gratificao pessoal. As perguntas que sempre dominam a sua mente: Esta uma oportunidade para que eu possa ganhar poder, influncia ou domnio sobre as outras? Esta uma oportunidade para acionar as minhas prprias defesas ou demonstrar poder? Isto vai satisfazer os meus desejos? O Lealista (Homo sapiens stabilis) Principal ideal na vida: Viver sacrificialmente agora para obter recompensas no futuro. Necessrio apoiar os seus valores: Oportunidade de servir e de se mostrar til; regras e expectativas claramente definidas; um ambiente estvel, previsvel e de baixo risco; confirmao de crenas que ele j adotou. As perguntas que sempre dominam a sua mente: Esta uma oportunidade para provar o meu valor? Esta uma oportunidade de servir? Posso descobrir alguma coisa a respeito das regras e do que certo? O realizador (Homo sapiens perfectus) Principal ideal na vida: Viver expressivamente, mas de forma calculada, para no despertar a ira dos outros. Necessrio para apoiar os seus valores: Alto potencial de retorno em seu investimento; oportunidade de exercer controle e influncia; oportunidade de realizar progresso pessoal ou de obter reconhecimento, status e prestgio; ritmo rpido e elevado desenvolvimento. As perguntas que sempre dominam a sua mente: Posso obter um elevado retorno em meu investimento? Esta uma oportunidade para eu adquirir bens, status ou controle? Esta uma oportunidade para prosperar? Esta uma oportunidade para usufruir ou para exibir os frutos do meu sucesso?

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O participador (Involver) (Homo sapiens aquarius) Principal ideal na vida: Viver sacrificialmente abrindo mo de algo no futuro para ter alguma coisa agora, para si ou para outros. Necessrio para apoiar os seus valores: Situaes participativas, democrticas e voltadas para um trabalho em equipe; situaes casuais, pessoais, naturalistas, amistosas e divertidas. As perguntas que sempre dominam a sua mente: Esta uma pergunta para eu ser aceito e participar? Esta uma oportunidade para expandir a minha conscincia? Isto vai ser divertido? Vou experimentar um crescimento interior? Esta uma chance de ter intimidade e de compartilhar sentimentos com os outros? O buscador de opes (Homo sapiens delphinus) Principal ideal na vida: Viver expressivelmente e experimentalmente, encarando todas as questes, grandes ou pequenas, de forma altrusta e funcional. Necessrio apoiar os seus valores: Elevados nveis de escolha pessoal; oportunidade de se associar a indivduos altamente competentes em sua rea de interesse; chances de aumentar a probabilidade de sobrevivncia e a qualidade de toda a vida no planeta. As perguntas que sempre dominam a sua mente: Isto interessante e estimulante para mim? Isto faz sentido? Esta uma oportunidade para ter privacidade, para investigar e para pensar? Esta uma oportunidade para me associar a pessoas altamente competentes? Os golfinhos compreendem que os valores surgem em padres. Isto no deveria nos surpreender muito porque, quanto mais profundamente exploramos qualquer tipo de comportamento, seja o comportamento da natureza ao criar uma paisagem ou um pulmo, seja o comportamento da sociedade ao criar uma feira-livre ou um congestionamento de trfego, mas descobrimos que acontecimentos aparentemente caticos so governados por leis as leis do caos. A viso de mundo do Buscador de Opes a mais intrpida das novas fronteiras num sentido que nenhuma viso de mundo anterior pode reivindicar no sentido da elevao da autoconscincia sem fortes elementos de compulsividade. Se as habilidades de Graves como um estudioso do caos forem comprovadas ao longo de intervalos de tempo muito maiores, o salto, desta vez, traz consigo grandes promessas. Ele representa, em sua maior parte, a essncia da viso de mundo que est sendo expressada neste livro: o prateado salto do golfinho, de alto vo. Obviamente, estar voltado para um propsito e estar em sincronia com os prprios valores enquanto perseguimos esse propsito representa poder, esperana e progresso. Assim, os golfinhos sabem que uma das coisas mais fortalecedoras que podem fazer ajudarem os outros a ter um propsito de se alinharem, pelo menos temporariamente, com os propsitos dos outros. Olhando atravs do prisma de valores, os golfinhos vem um mundo de simultaneidade e de espontaneidade, que requer agilidade mental e respostas rpidas. Todas as vises de mundo funcionais estaro presentes em qualquer organizao de

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qualquer tamanho. H uma necessidade de mudar de uma onda, ou viso de mundo, para outra, talvez em questo de minutos, ou at mesmo de segundos. Com a humanidade dispersa numa caravana psicolgica to diversificada, os golfinhos geralmente utilizam o seu conhecimento a respeito da construo de propsitos e de valores para alcanar um desses dois objetivos: Ajudar as pessoas a mudar: Se isto fizer sentido, os golfinhos no tm medo de perturbar o sistema. Abal-lo. Os seus atos e suas expectativas nem sempre so previsveis. Eles tm a capacidade de lanar mo de abordagens como essas para desafiar o senso de propsito das pessoas ou para examinar seus valores pessoais: Desaparecer. Na guerra, a perda inesperada de um lder de peloto no calor da batalha pode perturbar o crebro de um modesto soldado que assume um papel de liderana. Os golfinhos no esperam pela guerra. Eles ficam atentos para as oportunidades para desaparecerem estrategicamente. Perturbar as tropas. Quando feita corretamente e na hora certa, uma repreenso severa um ato que pode ajudar as pessoas a saltarem para um nvel mais elevado. Conforme observou um treinador da Associao Nacional de Basquete dos EUA: Quando voc aplica o chicote num puro-sangue, ele responde. Quando voc o aplica num burro, ele empaca. Ponha alguma coisa nova na salada. Rabanetes, talvez. O importante no apenas o que voc coloca, mas quando e como. Uma sbita mudana nas expectativas e nas recompensas. A inesperada fuso de dois departamentos em conflito. Aceitar alguma coisa que a outra pessoa nunca pensou que voc aceitaria. Na verdade, voc provavelmente perturbar os membros de uma organizao sempre que mudar: o sua liderana o seus membros o sua funo o sua estrutura o seu ambiente Essas so tcnicas de golfinhos para sacudir o crebro. Criar harmonia ou ressonncia funcional. Uma orquestra dissonante uma orquestra cujos instrumentos e cujos msicos esto trabalhando uns contra os outros. Um maestro digno do nome traz profundidade e poder ao som, criando uma ressonncia funcional entre os elementos que fazem a msica. Os golfinhos, com freqncia, preferem encarar os crebros como sendo os maestros das organizaes. Eis como um golfinho procura criar essa harmonia: Coloque as pessoas em contato com os seus valores. Utilizando ferramentas de aprendizado e outros sistemas de medida para se fazer avaliaes, os golfinhos agiro no sentido de ajudar todas as pessoas da

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organizao a compreenderem mais claramente a viso de mundo central subjacente a cada um. Coloque as pessoas em contato com um propsito. Se tanto o propsito da organizao como o dos indivduos forem claros, estes tm o mximo de oportunidades de escolha, ou seja: o fugir o modificar-se o modificar a organizao Celebre a diversidade. Toda a viso de mundo tem os seus pontos cegos. Os membros de uma verdadeira equipe ajudar-se-o mutuamente de modo a compensar as deficincias de cada um. Os golfinhos sero bons empregadores e bons lderes, atuando com base em seu conhecimento a respeito de onde as pessoas vem e de quais so os seus propsitos e os seus valores. Compreenda que estar voltado para um propsito e em sincronia com os seus valores apenas metade da frmula para levar as pessoas que vivem ou que trabalham juntas a compartilharem eficazmente um objetivo. Estar voltado para um propsito e compreender os valores dos outros ajuda as pessoas a gostarem uma das outras e a valorizarem uma s outras. Porm, mesmo sabendo qual o seu propsito, ainda assim voc precisa saber de onde est comeando, como chegou at a, onde quer ir e como pretende chegar l. Se uma equipe de pessoas no construiu uma viso comum a respeito de como alcanar o seu propsito, ela provavelmente no chegar a lugar algum de maneira muito rpida ou muito satisfatria. Para demonstrar a importncia de alcanar um propsito por intermdio de uma viso compartilhada, ns frequentemente fazemos com que os membros de grupos visualizem a casa perfeita para si mesmos e para suas famlias. Depois que a parte de visualizao do exerccio est completa, pedimos aos membros do nosso grupo para compartilharem e para discutirem suas vises pessoais. Embora muitas organizaes definam os seus propsitos com clareza, sem uma viso compartilhada, as pessoas continuaro percebendo esse propsito de vrias maneiras, podendo, a longo prazo, at mesmo anularem os esforos umas das outras devido s suas vises individualizadas. Os golfinhos compreendem que a criao de uma viso comum uma tarefa que orienta os crebros simultaneamente para uma outra direo. O reconhecimento de como estar voltado para um propsito, depende, em sua maior parte, de se poder utilizar a capacidade do crebro para perceber quando, no passado, o futuro foi mais bem-sucedido em impelir o indivduo rumo a propsitos importantes. A construo competente de uma viso depende, necessariamente, da capacidade do crebro para se concentrar naquilo que, no futuro, ter maior probabilidade de criar sucesso no presente. O fundamental aqui, a medida segundo a qual o crebro pode ver a si mesmo e aos seus usurios operando adiante do tempo, em vez de deslocar-se ao longo dele.

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5 CONSTRUO DE VISES: ATRAVESSANDO A JANELA DO TEMPO DO CREBRO No sculo XVI, ainda estavam sendo impressos manuais dirigidos aos exrcitos europeus e aos prncipes que os financiavam nos quais as balas de canhes eram representadas fazendo estranhas coisas. Estranhas, pelo menos, para os padres modernos. Ao sarem das bocas dos canhes, essas balas, supostamente, deixavam a terra no ngulo do canho. Quando a energia da plvora terminava, dizia-se que a bala caa na vertical, acelerando-se enquanto procurava a felicidade de estar perto do centro da Terra. Os cientistas diziam que as coisas se passavam assim porque era isso o que previam as leis de Aristteles. Mas os artistas estavam bem mais informados. Leonardo da Vinci, por exemplo, desenhou balas de canho percorrendo uma trajetria curva. Os soldados tambm estavam bem mais informados. Eles podiam ver as suas flechas descrevendo uma trajetria curva e presumiam que as balas de canho no se comportavam de maneira diferente. Todavia, foi apenas em 1551 que os cientistas comearam a revisitar suas idias. Tartaglia, um professor de matemtica da Universidade de Veneza, mandou Aristteles as favas com um desenho de uma bala de canho percorrendo uma trajetria curva, a qual se supunha que apenas os corpos celestes pudessem descrever. Trs sculos depois, o escritor de fico cientfica, Jlio Verne ainda cometia o mesmo erro. Em Da Terra Lua, Verne fez os seus fogueteiros mirarem na lua e efetuarem o disparo. Se alguma vez lhe ocorreu que o seu alvo teria se deslocado dezenas de milhares de quilmetros quando a nave lunar o alcanasse, Verne nunca mencionou isso. Em 1969, quando Neil Armostrong saiu da nave Apollo e pisou na superfcie da lua, ns, obviamente, tnhamos aprendido alguma coisa sobre como fazer mira. De fato, a nave Apollo tinha percorrido os 360.000 quilmetros de distncia em linha reta entre a terra e a lua mantendo-se fora do curso durante 80% do tempo. Mesmo assim ela pousou a somente alguns metros de distncia do local planejado. Isto no representa nenhuma surpresa para os navegadores de avies a jato, para os navegadores de avies transatlnticos ou para os praticantes de pra-quedismo. O ato de manobrar durante qualquer intervalo de tempo na gua ou no espao exige constantes correes. Na maior parte do tempo, conforme aconteceu com a Apollo, o veculo est fora do curso. Voc chega ao seu destino sabendo de onde partiu, para onde quer ir e corrigindo seu curso e velocidade. E se no for feita a correo? Uma dentre duas possibilidades, com toda a certeza, ocorrer, nenhuma das quais muito desejvel. Voc erra o alvo ou repete a experincia do camarada que caiu da cobertura de um Arranha cu. Consta que ao passar pelo segundo andar, algum o ouviu dizer: At aqui, tudo bem. O ingls Elliott Jaques o Pai do Tempo. Mais do que qualquer outro pesquisador vivo ou morto, esse professor de sociologia forou-nos a reconhecer que uma das janelas mais importantes do crebro a janela do tempo. No incio dos seus trinta e tantos anos de pesquisa com o tempo e de competncia no trabalho, Jaques usou teorias convencionais para explicar sua controvertida concluso: se voc determina o que uma pessoa pensa a respeito do tempo, voc tambm pode determinar a sua capacidade de trabalho para que tipo de trabalho essa pessoa est

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talhada, o tipo de decises que ela capaz de tomar e o quanto ela precisa ganhar para ficar satisfeita. O neurocirurgio sovitico A. R. Luria continua sendo o mais conhecido dos pesquisadores do crebro anterior. Comeando com estudos de soldados feridos no crebro durante a Primeira Guerra Mundial e, posteriormente, usando dados provenientes de 40 mil lobotomias pr-frontais a controvertida castrao do crebro Luria chegou a esta concluso: os lobos frontais esto envolvidos num programa que assegura que o indivduo no apenas reaja a estmulos reais como tambm, dentro de certos limites, anteveja o futuro, preveja a probabilidade de um determinado evento acontecer, esteja preparado para o caso de isto vir a acontecer e, como consequncia, prepara um programa de comportamento. Ao comentar os estudos de Luria sobre pacientes lobotomizados, o futurista David Loye observa: Tem-se a impresso de que a pessoa, de alguma maneira fundamental, incapaz de mover-se para a frente, uma impresso de que eles se tornaram prisioneiros do passado. Eles ainda conseguem pensar e agir de determinadas maneiras, mas os seus pensamentos e aes limitamse a seqncias j aprendidas. Combinando as idias de Jaques, Luria e Loye, comeamos a compreender por que as carpas, carpas pseudo-esclarecidas e tubares sobrem de uma reduo do sentido daquilo que o futuro pode trazer: As carpas tendem a operar a partir de um horizonte de tempo muito limitado e dominado pela tendncia do hemisfrio carpa de considerar o tempo como circular. As profundas sombras do passado caem pesadamente sobre qualquer perspectiva da carpa para o futuro, limitando o alcance e a abrangncia de novas idias e a interao da imaginao com a possibilidade. O futuro automaticamente ajustado aos padres j existentes e, assim como o futuro cria o presente, o presente fica livre para recriar o passado e, uma vez mais, a viso circular de tempo da carpa preservada. Os tubares saem-se um pouco melhor, mas no muito, porque o hemisfrio do tubaro processa o tempo linearmente e qualquer coisa que opere linearmente pode ser apontada com alguma preciso. Em pocas de rpidas mudanas, a maioria dos alvos est se movendo e muitos esto mudando, alguns dos quais com incrvel rapidez. As carpas pseudo-esclarecidas se vem numa situao muito singular. Com os seus crebros se equilibrando beira de uma grande mudana na conscincia as carpas pseudo-esclarecidas tornam-se vtimas de um sentimento ocenico de que tudo possvel no momento do presente. Carecendo da capacidade de discriminar entre passado, presente e futuro, a carpa pseudo-esclarecida tem dificuldade para fixar-se a alguma coisa slida. Flutuar livremente no tempo no uma existncia das mais seguras.

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Quanto mais os pesquisadores de diversas reas sondam a mente como uma caixa de tempo, maior o consenso que emerge desses estudos. Em primeiro lugar, os pesquisadores esto confirmando que os seres humanos so criaturas limitadas pelo tempo. Cada indivduo coloca limites sobre aquilo que ele ir se permitir fazer com o seu tempo, e dentro desses limites ele vive a sua vida. Os golfinhos so eles prprios os melhores exemplos conhecidos do que acontece quando os envoltrios de tempo do crebro tornam-se maiores e mais amplos. Imagine, se desejar, uma substncia desconhecida vamos cham-la de fator X suspensa no ar e contida dentro de um saco plstico flexvel. O saco est confinado pelos lados, por cima e por baixo por formas de ao que limitam a sua expanso. De vez em quando as formas so movidas para trs de modo que o volume do saco possa aumentar. Quando isso acontece, o ar dentro dele se expande e a substncia desconhecida fica um pouco mais perto da materializao, da ativao de seus plenos poderes, de seu reconhecimento pelo que ela . O mrito do trabalho de Elliot Jaques que ele reconstituiu laboriosamente o surgimento dessa substncia no comportamento das pessoas. Durante mais de trs dcadas ele andou pelos corredores de numerosas organizaes como uma Pantera Cor-de-Rosa erudita, observando e medindo o surgimento do Fator X. Ainda que de forma simplificada, para que seja possvel um rpido entendimento, eis aqui a essncia do que ele descobriu: Quando o horizonte de tempo de uma pessoa de trs meses ou menos, nenhum fator X detectvel. Portanto, o crebro/mente gosta de coisas muito concretas, vai trabalhar apenas com uma dimenso de cada vez e raramente ir questionar uma tarefa, limitando-se a fazer aquilo que lhe mandam. Os crebros com este horizonte de tempo funcionam baseados em regras. Quando o horizonte de tempo de uma pessoa chega a um ano, pode-se discernir uma pequena quantidade de Fator X. Assim, este crebro/mente vai aceitar alguma diversidade, mas lida com ela separando imediatamente as coisas em pilhas diferentes, por assim dizer. Crebros com esse horizonte de tempo procuram efetuar julgamentos e agir de acordo com as regras. Quando o horizonte de tempo chega a dois anos, h no ar um toque de Fator X; em vez de beneficiar-se disso, porm, este indivduo procura isolar-se e evitar as suas conseqncias. Portanto, este crebro/mente comea com as regras e avana com dificuldade a partir da. Sua frase favorita O tempo dir a idia de que as coisas vo funcionar independentemente de um envolvimento pessoal. A importncia das coisas que no se ajustam simplesmente no considerada. Crebros com este horizonte de tempo fazem uma extrapolao a partir de uma determinada regra. Quando o horizonte de tempo de uma pessoa chega a cinco anos, a presena do Fator X palpvel embora ainda no esteja completamente ativada. Assim, esse crebro vai lidar com uma considervel desordem, mas apenas porque presume que no caos existem regras e temas subjacentes a serem descobertos. muito

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importante a procura e a descoberta das regras operacionais de qualquer estrutura. Os crebros com este horizonte de tempo procuram e depois conservam uma estrutura de regras subjacentes. Quando um horizonte de tempo de uma pessoa alcana dez anos ou mais, o Fator X se materializa de forma sbita e imperiosa. Portanto, este crebro escuta as regras e depois comea a pensar alm delas para estabelecer os seus prprios critrios. Em vez de buscar ordem, este crebro pode deliberadamente produzir desordem em sua busca por novos padres. Como os crebros com este horizonte de tempo fazem as regras, eles tambm sentem-se livres para ignor-las quando elas no se adaptam s circunstncias do momento. E o que o misterioso e inesperado Fator X cuja ausncia pode inutilizar de forma to trgica e dolorosa os melhores esforos e intenes das carpas, carpaspseudo-esclarecidas e tubares? Rufem os tambores, por favor! A resposta : A disposio de tolerar a ambigidade. Com o horizonte de tempo ampliado e expandido, qualidades como estas so cada vez mais autocatalticas. Considerar a incerteza como um recurso Pensar alm das regras Disposio para produzir teorias Uso de informaes contraditrias Receptividade para todos os recursos Prestar ateno ao que no foi dito Procurar mais de uma pessoa Caber aos golfinhos das futuras geraes de pesquisadores explicar o que faz o tempo ser assim to diferente de uma pessoa para outra. Talvez o caminho mais radical a ser explorado seja a idia de que o prprio crebro confere ao mundo um sentido de passado, presente e futuro que o tempo uma inveno da mente. O crebro capaz de orientar-se por diferentes relgios em diferentes circunstncias. Cabe ao golfinho, portanto, a responsabilidade de fazer do tempo um componente importante da construo e da administrao de equipes e organizaes. Eis aqui algumas das principais suposies com que os golfinhos trabalham e algumas das solues que eles aplicam: Na maior parte do tempo as pessoas relutam em construir uma viso genuna para si mesmas. Pense naquilo que ocorre em muitas ocasies quando uma comisso ou equipe se rene. Num ambiente de baixa energia no existe arrebatamento ou intercmbio

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sincero de opinies, da mesma forma como tambm no existem avaliaes honestas ou opinies enriquecedoras a respeito do que o grupo poderia realizar. Os golfinhos compreendem que a questo saber se o crebro antigo ou crebro novo que vai assumir a responsabilidade pelas questes pessoais. A resposta que isso ainda cabe aos antigos componentes dos hemisfrios carpa e tubaro. As carpas e tubares causam grandes sofrimentos a si mesmos porque abrem mo do controle sobre suas vidas. Eles deixam a definio dos resultados mais cruciais da sua vida nas mos de outras pessoas e/ou de acontecimentos externos. As carpas frequentemente colocam o seu futuro nas mos dos tubares e colhem sofrimento. Os tubares colocam o seu futuro nas mos de esquemas dbios ou de tendncias e acontecimentos que sobrecarregam a sua capacidade e tambm colhem sofrimento. Ao ajudar equipes e organizaes a construir uma viso para o seu futuro, os golfinhos procuram ajudar as carpas a tubares a compensarem os seus prprios horizontes de tempo demasiado rasos e estreitos proporcionando-lhes a ambigidade que eles no conseguem proporcionar a si mesmos. Ao trabalhar com esses grup