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Súmula 519-STJ – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Súmula 519-STJ Márcio André Lopes Cavalcante DIREITO PROCESSUAL CIVIL IMPUGNAÇÃO EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Não cabimento de honorários advocatícios na impugnação Súmula 519-STJ: Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis honorários advocatícios. STJ. Corte Especial. Aprovada em 26/02/2015. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas: a) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial; b) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença). Imagine a seguinte situação hipotética: “A” ajuíza uma ação de cobrança contra “B”. O juiz julga a sentença procedente, condenando “B” a pagar 1 milhão de reais a “A”. “B” perdeu o prazo para a apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado. O que acontece agora? “A” terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença. O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz? Não. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o trânsito em julgado da decisão. Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante memória de cálculo discriminada e atualizada (STJ REsp 940274/MS). Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor. A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz? O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias, sob pena do valor da condenação ser acrescido de multa de 10%, conforme o art. 475-J do CPC. Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 475-J, é contado a partir de quando? A multa de 10% prevista no artigo 475-J depende de intimação prévia do devedor, ainda que na pessoa de seu patrono. Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da sentença que o condenou. Para começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova intimação. A intimação para que o devedor pague, nos termos do art. 475-J, precisa ser pessoal (ou seja, para o próprio devedor) ou pode ser feita no nome de seu advogado por meio de publicação na imprensa oficial?

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Súmula 519-STJ Márcio André Lopes Cavalcante

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

IMPUGNAÇÃO EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Não cabimento de honorários advocatícios na impugnação

Súmula 519-STJ: Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis honorários advocatícios.

STJ. Corte Especial. Aprovada em 26/02/2015.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas: a) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial; b) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença). Imagine a seguinte situação hipotética: “A” ajuíza uma ação de cobrança contra “B”. O juiz julga a sentença procedente, condenando “B” a pagar 1 milhão de reais a “A”. “B” perdeu o prazo para a apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado. O que acontece agora? “A” terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença. O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz? Não. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o trânsito em julgado da decisão. Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante memória de cálculo discriminada e atualizada (STJ REsp 940274/MS). Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor. A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz? O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias, sob pena do valor da condenação ser acrescido de multa de 10%, conforme o art. 475-J do CPC. Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 475-J, é contado a partir de quando? A multa de 10% prevista no artigo 475-J depende de intimação prévia do devedor, ainda que na pessoa de seu patrono. Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da sentença que o condenou. Para começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova intimação. A intimação para que o devedor pague, nos termos do art. 475-J, precisa ser pessoal (ou seja, para o próprio devedor) ou pode ser feita no nome de seu advogado por meio de publicação na imprensa oficial?

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Não precisa haver intimação pessoal. A intimação pode ser realizada na pessoa do advogado do devedor, por meio da publicação na imprensa oficial. Essa multa pode ser aplicada em caso de execução provisória ou somente se houver trânsito em julgado? Essa multa é própria da execução definitiva, de modo que deve ter havido o trânsito em julgado da sentença. A execução provisória de sentença não comporta a cominação da multa prevista no art. 475-J do CPC (STJ AgRg nos EDcl no REsp 1229705/PR). Se o devedor condenado é intimado para pagar e não efetua o pagamento no prazo de 15 dias, o que acontecerá em seguida? 1) o montante da condenação será automaticamente acrescido de multa de 10%; 2) o credor deverá formular petição ao juiz apresentando o demonstrativo do débito atualizado e

requerendo a expedição de mandado para que sejam penhorados e avaliados os bens do devedor para satisfação do crédito. Neste momento, inicia-se a execução forçada do título, diante do não cumprimento espontâneo.

Há condenação de honorários advocatícios na fase de cumprimento de sentença? Em outras palavras, o devedor pode ser condenado a pagar novos honorários advocatícios de sucumbência? SIM. Súmula 517-STJ: São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação, depois de escoado o prazo para pagamento voluntário, que se inicia após a intimação do advogado da parte executada. Para que haja condenação em honorários, é necessário que o devedor tenha apresentado impugnação? NÃO. São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação. Passou o prazo de 15 dias e o devedor não pagou, já incidirão os honorários e mais a multa de 10%. IMPUGNAÇÃO

Na fase de cumprimento de sentença existe alguma forma de “defesa” do devedor? Sim. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada impugnação. Qual é a natureza jurídica da impugnação? Possui natureza jurídica de ação? NÃO. Para o STJ, trata-se de mero incidente processual (REsp 1134186/RS). Obs: existem posições diferentes na doutrina. Para que o devedor apresente impugnação é indispensável a garantia do juízo, ou seja, é necessário que haja penhora, depósito ou caução? SIM. A garantia do juízo constitui condição para a própria apresentação de impugnação ao cumprimento de sentença, e não apenas para sua apreciação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.265.894-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/6/2013 (Info 526). Vamos agora voltar ao nosso exemplo: “A” ajuíza uma ação de cobrança contra “B”. O juiz julga a sentença procedente, condenando “B” a pagar 1 milhão de reais a “A”. “B” perdeu o prazo para a apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado. “A” ingressou com uma petição requerendo ao juízo o cumprimento da sentença. O juízo determinou a intimação do devedor, na pessoa de seu advogado. Passaram-se os 15 dias e o devedor não fez o pagamento voluntário. Isso significa que, a partir de agora, o credor terá, em tese, direito aos honorários advocatícios decorrentes

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do cumprimento de sentença já que não houve pagamento voluntário. O credor formula petição ao juiz apresentando o demonstrativo do débito atualizado e requerendo a expedição de mandado para que sejam penhorados e avaliados os bens do devedor. O juízo consegue penhorar um prédio do devedor no valor de 2 milhões de reais. Tendo havido penhora, considera-se que o juízo está garantido e, diante disso, o devedor oferece impugnação ao cumprimento de sentença. A impugnação é julgada improcedente (rejeitada). O credor pede, então, que o devedor seja condenado a pagar, além dos honorários advocatícios já fixados em virtude de ele não ter feito o pagamento voluntário (cumprimento de sentença – Súmula 517), outro percentual de honorários por causa do fato de o executado ter perdido a impugnação proposta. Em outras palavras, o credor pediu X% de honorários advocatícios por força do cumprimento de sentença mais Y% de honorários por causa da impugnação rejeitada. A tese do credor é aceita pelo STJ? Se a impugnação oferecida pelo devedor é julgada improcedente, o devedor terá que pagar, por causa disso, novos honorários advocatícios (além dos que já deverá pagar por força do cumprimento de sentença ter se iniciado)? NÃO. Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis novos honorários advocatícios. Dito de outro modo: o devedor não terá que pagar novos honorários advocatícios pelo fato de ter perdido a impugnação (obs: esse devedor continuará tendo que pagar honorários advocatícios por não ter pago voluntariamente a obrigação, ou seja, terá que pagar honorários advocatícios por causa do cumprimento de sentença). E se a impugnação oferecida pelo devedor for julgada procedente, haverá condenação em honorários? SIM. Se a impugnação for julgada procedente o credor será condenado a pagar honorários advocatícios em favor do devedor. Em suma:

Se a impugnação é rejeitada: NÃO cabem novos honorários advocatícios.

Se a impugnação é acolhida (ainda que parcialmente): serão arbitrados honorários em benefício do executado, com base no art. 20, § 4º, do CPC.

Relação entre as súmulas 517 e 519 Não se pode confundir o raciocínio das Súmulas 517 e 519. Elas não são contraditórias. Ao contrário, completam-se:

SITUAÇÃO A SITUAÇÃO GERA

HONORÁRIOS? FUNDAMENTO

No cumprimento de sentença, devedor é intimado e não faz o pagamento voluntário no prazo de 15 dias. Não interessa se houve ou não impugnação.

SIM Súmula 517-STJ O devedor deu causa ao início da execução forçada.

Devedor apresenta impugnação e esta é rejeitada.

NÃO

Súmula 519-STJ O devedor, ao apresentar impugnação, iniciou um mero incidente no processo, sendo isso insuficiente para gerar novos honorários. Ele continua tendo que pagar os honorários por causa do cumprimento de sentença.

Devedor apresenta impugnação e esta é acolhida (ainda que parcialmente).

SIM STJ. REsp 1.134.186/RS (recurso repetitivo).

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Veja o REsp repetitivo que foi o principal precedente que originou a súmula:

(...) 1.1. São cabíveis honorários advocatícios em fase de cumprimento de sentença, haja ou não impugnação, depois de escoado o prazo para pagamento voluntário a que alude o art. 475-J do CPC, que somente se inicia após a intimação do advogado, com a baixa dos autos e a aposição do "cumpra-se" (REsp. n.º 940.274/MS). 1.2. Não são cabíveis honorários advocatícios pela rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença. 1.3. Apenas no caso de acolhimento da impugnação, ainda que parcial, serão arbitrados honorários em benefício do executado, com base no art. 20, § 4º, do CPC. 2. Recurso especial provido. STJ. Corte Especial. REsp 1134186/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 01/08/2011.

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