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Súmula 571-STJ Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Súmula 571-STJ Márcio André Lopes Cavalcante DIREITO ADMINISTRATIVO / DIREITO DO TRABALHO FGTS Taxa progressiva de juros do FGTS e trabalhador avulso Súmula 571-STJ: A taxa progressiva de juros não se aplica às contas vinculadas ao FGTS de trabalhadores qualificados como avulsos. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 27/04/2016, DJe 02/05/2016. FGTS FGTS é a sigla para Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. O FGTS foi criado pela Lei n.º 5.107/66 com o objetivo de proteger o trabalhador demitido sem justa causa. Atualmente, o FGTS é regido pela Lei n.º 8.036/90. Em que consiste o FGTS? O FGTS nada mais é do que uma conta bancária aberta em nome do trabalhador e vinculada a ele no momento em que celebra seu primeiro contrato de trabalho. Nessa conta bancária, o empregador deposita todos os meses o valor equivalente a 8% do salário pago ao empregado, acrescido de juros e atualização monetária (conhecidos pela sigla “JAM”). Assim, vai sendo formado um fundo de reserva financeira para o trabalhador, ou seja, uma espécie de “poupança”, que é utilizada pelo obreiro quando fica desempregado sem justa causa ou quando precisa para alguma finalidade relevante, assim considerada pela lei. Se o empregado for demitido sem justa, o empregador é obrigado a depositar, na conta vinculada do trabalhador, uma indenização compensatória de 40% do montante de todos os depósitos realizados na conta vinculada durante a vigência do contrato de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos dos respectivos juros (art. 18, § 1º da Lei nº 8.036/90). O trabalhador que possui conta do FGTS vinculada a seu nome é chamado de trabalhador participante do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. O trabalhador poderá levantar (“sacar”) o valor depositado em sua conta do FGTS? SIM, mas somente em algumas situações previstas na Lei. O art. 20 da Lei n.º 8.036/90 prevê as hipóteses em que o trabalhador poderá movimentar a sua conta vinculada no FGTS. São exemplos: Se o trabalhador for despedido sem justa causa; Se se aposentar; Se ele (ou algum dependente) for acometido de neoplasia maligna (câncer), HIV ou outra doença grave; Se houver necessidade pessoal, cuja urgência e gravidade decorra de desastre natural. Taxa progressiva de juros - histórico Os valores depositados na conta do FGTS são atualizados monetariamente (para recompor as perdas da inflação) e sobre eles também incidem juros remuneratórios. Isso tudo com o objetivo de que, quando o trabalhador for sacar tais quantias, elas tenham sido beneficiadas com uma rentabilidade. Sobre os juros que incidem no FGTS, é importante traçar o seguinte histórico:

Súmula 571-STJ · Súmula 571-STJ – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 Trabalhadores avulsos De acordo com o art. 9º, VI, do Decreto 3.048/99, trabalhador avulso é "aquele que,

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Súmula 571-STJ Márcio André Lopes Cavalcante

DIREITO ADMINISTRATIVO / DIREITO DO TRABALHO

FGTS Taxa progressiva de juros do FGTS e trabalhador avulso

Súmula 571-STJ: A taxa progressiva de juros não se aplica às contas vinculadas ao FGTS de trabalhadores qualificados como avulsos.

STJ. 1ª Seção. Aprovada em 27/04/2016, DJe 02/05/2016.

FGTS FGTS é a sigla para Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. O FGTS foi criado pela Lei n.º 5.107/66 com o objetivo de proteger o trabalhador demitido sem justa causa. Atualmente, o FGTS é regido pela Lei n.º 8.036/90. Em que consiste o FGTS? O FGTS nada mais é do que uma conta bancária aberta em nome do trabalhador e vinculada a ele no momento em que celebra seu primeiro contrato de trabalho. Nessa conta bancária, o empregador deposita todos os meses o valor equivalente a 8% do salário pago ao empregado, acrescido de juros e atualização monetária (conhecidos pela sigla “JAM”). Assim, vai sendo formado um fundo de reserva financeira para o trabalhador, ou seja, uma espécie de “poupança”, que é utilizada pelo obreiro quando fica desempregado sem justa causa ou quando precisa para alguma finalidade relevante, assim considerada pela lei. Se o empregado for demitido sem justa, o empregador é obrigado a depositar, na conta vinculada do trabalhador, uma indenização compensatória de 40% do montante de todos os depósitos realizados na conta vinculada durante a vigência do contrato de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos dos respectivos juros (art. 18, § 1º da Lei nº 8.036/90). O trabalhador que possui conta do FGTS vinculada a seu nome é chamado de trabalhador participante do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. O trabalhador poderá levantar (“sacar”) o valor depositado em sua conta do FGTS? SIM, mas somente em algumas situações previstas na Lei. O art. 20 da Lei n.º 8.036/90 prevê as hipóteses em que o trabalhador poderá movimentar a sua conta vinculada no FGTS. São exemplos:

Se o trabalhador for despedido sem justa causa;

Se se aposentar;

Se ele (ou algum dependente) for acometido de neoplasia maligna (câncer), HIV ou outra doença grave;

Se houver necessidade pessoal, cuja urgência e gravidade decorra de desastre natural. Taxa progressiva de juros - histórico Os valores depositados na conta do FGTS são atualizados monetariamente (para recompor as perdas da inflação) e sobre eles também incidem juros remuneratórios. Isso tudo com o objetivo de que, quando o trabalhador for sacar tais quantias, elas tenham sido beneficiadas com uma rentabilidade. Sobre os juros que incidem no FGTS, é importante traçar o seguinte histórico:

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A Lei nº 5.107/66 criou o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), mas este sistema não era obrigatório. Assim, os trabalhadores poderiam continuar vinculados ao sistema antigo (estabilidade) ou optar pelo FGTS. A Lei conferiu um prazo de 365 dias para os trabalhadores decidirem se queriam ou não optar pelo regime do FGTS;

O art. 4º da Lei nº 5.107/66 previu que os valores depositados pelos empregadores nas contas individuais dos empregados teriam direito às seguintes taxas de juros: I - 3% durante os 2 primeiros anos de permanência na mesma empresa; II - 4% do 3º ao 5º ano de permanência na mesma empresa; III - 5% do 6º ao 10º ano e permanência na mesma empresa; IV - 6% do 11º ano de permanência na mesma empresa, em diante.

Essa tabela acima ficou conhecida como “taxa progressiva de juros” do FGTS, considerando que ela ia aumentando com o passar dos anos na mesma empresa;

Dessa forma, a taxa progressiva de juros foi prevista inicialmente pelo art. 4º da Lei nº 5.107/66 (Lei que criou o FGTS);

Ocorre que a Lei nº 5.705/71 (que entrou em vigor em 22/09/1971) extinguiu a taxa progressiva de juros e determinou que só incidiriam juros fixos de 3% ao ano, independentemente dos anos de empresa que o trabalhador tivesse. No entanto, a Lei nº 5.705/71 trouxe uma regra de transição e permitiu que os trabalhadores que já estavam no FGTS antes da sua vigência (22/09/1971) pudessem optar pela continuidade das taxas progressivas;

Sobre o tema, vale ainda mencionar a Lei nº 5.958/73, que disse o seguinte: os trabalhadores que começaram a trabalhar antes da Lei nº 5.107/66 e que ainda não estavam vinculados ao FGTS poderão optar por este regime, de forma retroativa. Veja a redação da Lei: “Art. 1º Aos atuais empregados, que não tenham optado pelo regime instituído pela Lei nº 5.107, de 13 de setembro de 1966, é assegurado o direito de fazê-lo com efeitos retroativos a 1º de janeiro de 1967 ou à data da admissão ao emprego se posterior àquela, desde que haja concordância por parte do empregador.”

Essas pessoas que fizeram a opção, nos termos do art. 1º da Lei nº 5.958/73, possuem também direito de opção pelos juros progressivos. Nesse sentido: Súmula 154-STJ: Os optantes pelo FGTS, nos termos da Lei nº 5.958, de 1973, tem direito a taxa progressiva dos juros, na forma do art. 4º, da Lei nº 5107, de 1966;

A Lei que atualmente rege o FGTS (Lei nº 8.036/90) repetiu a mesma regra da Lei nº 5.705/71 e confirmou que a taxa de juros somente é devida para os trabalhadores que, em 22/09/1971, já possuíam contas do FGTS e que optaram pela taxa progressiva. Veja o que diz a Lei nº 8.036/90:

Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e capitalização juros de (três) por cento ao ano. (...) §3º Para as contas vinculadas dos trabalhadores optantes existentes à data de 22 de setembro de 1971, a capitalização dos juros dos depósitos continuará a ser feita na seguinte progressão, salvo no caso de mudança de empresa, quando a capitalização dos juros passará a ser feita à taxa de 3 (três) por cento ao ano: I - 3 (três) por cento, durante os dois primeiros anos de permanência na mesma empresa; II - 4 (quatro) por cento, do terceiro ao quinto ano de permanência na mesma empresa; III - 5 (cinco) por cento, do sexto ao décimo ano de permanência na mesma empresa; IV - 6 (seis) por cento, a partir do décimo primeiro ano de permanência na mesma empresa.

Vale ressaltar que esta opção pela taxa progressiva pode ser feita a qualquer momento, com efeito retroativo (art. 14, § 4º, da Lei nº 8.036/90). Basta, para isso, que, em 22/09/1971, o trabalhador já possuísse contas do FGTS.

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Trabalhadores avulsos De acordo com o art. 9º, VI, do Decreto 3.048/99, trabalhador avulso é "aquele que, sindicalizado ou não, presta serviço de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, com a intermediação obrigatória do órgão gestor de mão-de-obra, nos termos da Lei nº 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, ou do sindicato da categoria, assim considerados". Os trabalhadores avulsos possuem direito ao FGTS? SIM. Os trabalhadores avulsos possuem direito ao FGTS (art. 7º, XXXIV, da CF/88). Taxa de juros das contas do FGTS no caso de trabalhadores avulsos No caso das contas de FGTS vinculadas a trabalhadores avulsos a Caixa Econômica não faz a atualização dos valores aplicando a taxa de juros progressivos, acima explicada. Segundo entende a CEF, art. 4º da Lei nº 5.107/66 (atual 3º do art. 13 da Lei nº 8.036/90), ao falar em “anos de permanência na mesma empresa” restringe à incidência da taxa de juros progressivos apenas aos trabalhadores empregados. Os trabalhadores avulsos, por sua vez, contra-argumentam alegando que a expressão “anos de permanência na mesma empresa” pode ser interpretada também como anos de permanência na mesma atividade. Logo, sustentam que eles também teriam direito às taxas de juros progressivos. Qual foi o entendimento do STJ sobre o tema? Os trabalhadores avulsos possuem direito à taxa progressiva de juros do FGTS? NÃO. A taxa progressiva de juros não se aplica às contas vinculadas ao FGTS de trabalhadores qualificados como avulsos. Como visto acima, é condição básica para a obtenção desse direito a “permanência na mesma empresa” por certo tempo. Para o STJ, não se pode confundir permanência na mesma empresa com permanência na mesma atividade profissional. O trabalhador avulso não permanece trabalhando anos “na mesma empresa”. Ao contrário, ele presta serviços a diversas empresas, sem vínculo empregatício. Logo, o trabalhador avulso não tem direito ao crédito de juros, na sua conta de FGTS, calculado na forma progressiva porque não se enquadra na previsão legal. Este já era o entendimento consolidado do STJ, inclusive em recurso repetitivo: STJ. 1ª Seção. REsp 1.349.059-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/3/2014 (recurso repetitivo) (Info 546).