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Súmula n. 114

Súmula n. 114 - ww2.stj.jus.br · Na fase de liquidação, elaborada e ho mologada a conta, houve novo recurso por parte do DER, igualmente provido (fl . 482). Daí o presente recurso

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Súmula n. 114

SÚMULA N. 114

Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidem a partir da

ocupação, calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.

Referências:

CF/1988, arts. 5º, XXIV e 182, § 3º.

Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2º, com redação da Lei n. 4.686/1965.

Precedentes:

REsp 2.101-PR (2ª T, 17.03.1993 — DJ 05.04.1993)

REsp 25.201-PR (1ª T, 16.12.1992 — DJ 15.03.1993)

REsp 38.970-SP (2ª T, 20.06.1994 — DJ 15.08.1994)

REsp 43.796-SP (2ª T, 02.05.1994 — DJ 23.05.1994)

Primeira Seção, em 25.10.1994

DJ 03.11.1994, p. 29.768

RECURSO ESPECIAL N. 2.101-PR

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Tsikanori Koyama e outros

Advogada: Luciani Regina Martins de Paula

Recorrido: Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Paraná

— DER-PR

Advogados: Antonio Carlos de Arruda Coelho e outros

EMENTA

Desapropriação indireta. Juros moratórios e compensatórios.

Termo inicial e forma de cálculo. Súmula n. 67 do STJ.

À falta de recurso, os juros moratórios fi xados na decisão de

conhecimento permanecem inalterados.

Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, são devidos

a partir da efetiva ocupação do imóvel, calculando-se até a data do

laudo sobre o valor simples da indenização; desde então, sobre referido

valor corrigidos monetariamente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos

do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros

Américo Luz, Pádua Ribeiro e José de Jesus. Ausente, justifi cadamente, o Sr.

Ministro Peçanha Martins.

Brasília (DF), 17 de março de 1993 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro Hélio Mosimann, Relator

DJ 05.04.1993

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Recurso especial interposto pelos

expropriados, em ação de desapropriação indireta, buscando supedâneo na letra

a do inciso III do art. 105 da Carta Federal.

A ação, julgada procedente, teve recurso do Departamento de Estradas

de Rodagem provido, para excluir da indenização as benfeitorias, excluir os

juros compensatórios em favor dos proprietários sucessores e reduzir a verba

honorária a oito por cento. No mais, foi mantida a sentença (fl . 376).

Na fase de liquidação, elaborada e homologada a conta, houve novo recurso

por parte do DER, igualmente provido (fl . 482).

Daí o presente recurso especial, este interposto pelos autores.

Alegam, basicamente, contrariedade aos arts. 467, 474 e 610 do Código

de Processo Civil, pois o acórdão alterou a sentença exeqüenda, modifi cando-a.

Com efeito, decidido no processo de conhecimento que sobre os valores

descritos serão acrescidos os juros compensatórios de 12% ao ano a contar das

ocupações, não poderia o acórdão, na liquidação, determinar o cálculo desses juros

a partir do valor encontrado na data do apossamento (fl s. 507 a 518).

Admitido o processamento do recurso (fl . 546), a douta Subprocuradoria

se manifestou pelo seu não-conhecimento, mas se conhecido, pelo provimento

(fl s. 611 a 615).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): Ao admitir os recursos

extraordinário e especial, expondo com clareza as questões ainda em debate,

disse o Presidente do Tribunal de origem:

1. Da parte do v. acórdão unânime de fls. 481-485 (declarado às fls. 498-502), que, em liquidação de ação desapropriatória indireta, ao dar provimento a recurso de apelação do DER-PR, determinou, em observância ao decidido pelo STF na Ação Cível Originária n. 297-4-MT, que “o cálculo relativo aos juros compensatórios e moratórios deve ser feito pelos percentuais concedidos, a partir do valor encontrado na data do apossamento administrativo para os primeiros e na data da citação para os moratórios, tomando-se como base o preço da avaliação admitida, e aplicando-se retroativamente os índices da

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 169

correção monetária” (fl . 485), interpõem Tsikanori Koyama, sua mulher e outros, tempestivos recursos especial (fl . 504-518) e extraordinário (fl s. 521-533).

2. Conquanto o aresto impugnado, ao estabelecer o critério do cálculo relativo aos juros moratórios e compensatórios, tenha seguido a mais recente orientação do Supremo Tribunal Federal, penso que o momento adequado para o estabelecimento de tal critério já havia sido ultrapassado, consoante argumentam os recorrentes.

A sentença do processo de conhecimento (fls. 332-335), nessa parte confi rmada pelo v. aresto de fl s. 376-379, estabeleceu de forma clara, à fl . 335, que sobre os valores que descrevera, e que se referiam à avaliação do perito ofi cial, incidiriam os juros compensatórios e moratórios, a partir das datas determinadas e nos percentuais fi xados.

Na apelação que interpôs dessa sentença às fls. 336-341, o DERPR não se insurgiu contra o critério de cálculo relativo aos juros, razão pela qual, obviamente, veio a ser confi rmado pelo v. acórdão de fl s. 376-379, que transitou em julgado (ver agravo de instrumento em apenso).

Sendo assim, acredito que as invocações de ofensa ao art. 5º (XXXVI), da Constituição Federal e de contrariedade ao art. 610 do Código de Processo Civil, credenciam-se, por serem razoáveis, pelo menos a ultrapassar este prévio juízo de admissibilidade, posto que devidamente prequestionados esses dispositivos à fl . 492. (Fls. 546 e 547)

Cinge-se, portanto, a controvérsia, a esta altura, à elaboração do cálculo dos

juros.

Inicialmente, em relação aos moratórios, a sentença fi xou-os em 6% ao

ano a contar da citação inicial (fl . 335), não sofrendo alteração por qualquer

dos julgamentos subseqüentes. É certo que, atualmente, consolidou-se a

jurisprudência no sentido de que os juros de mora contam-se desde o trânsito

em julgado da sentença, constituindo, inclusive, matéria recentemente sumulada

(Súmula n. 70). Contudo, à falta de recurso dessa parte, restou inalterável a

decisão.

O problema reside, então, como se pode ver na petição recursal, apenas nos

juros compensatórios.

A matéria, sem dúvida, foi prequestionada, inclusive através de embargos

de declaração, afastando o óbice ao não-conhecimento.

No mérito, em verdade, a decisão monocrática fez incidir juros

compensatórios de 12% ao ano a contar das ocupações, computando-se sobre o

valor principal corrigido monetariamente (fl . 335).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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A questão não foi modifi cada ao ser apreciado o recurso da sentença de procedência do pedido inicial (processo de conhecimento — acórdão às fl s. 376 a 379).

Ao ser julgada, entretanto, a apelação da sentença homologatória do cálculo, a Câmara julgadora mandou observar o decidido na Apelação Cível Originária n. 297-4, do Mato Grosso (Rel. Min. Aldir Passarinho), calculando-se os juros sobre o valor à data do apossamento, tomando-se como base o preço da avaliação e aplicando-se retroativamente a correção.

Se assim ocorreu, houve, realmente, ofensa à coisa julgada, malferindo o art. 610 do Código de Processo — é defeso, na liquidação, discutir de novo a lide, ou modifi car a sentença que a julgou.

Além disso, tal princípio já não prevalece neste Tribunal, que aprovou, também recentemente, a Súmula n. 69: na desapropriação indireta (é o caso) os juros compensatórios são devidos a partir da efetiva ocupação. E assim determinou a decisão irrecorrida, devendo-se apenas tomar por base as datas encontradas pelo perito ofi cial, uma vez que diversas foram as áreas ocupadas e em datas diferentes.

Sobre a forma do cálculo, conforme vem decidindo este Tribunal, incidem até a data do laudo sobre o valor simples da indenização e, desde então, sobre referido valor corrigido monetariamente (Agr. Regimental no AI n. 11.595-SP; AI n. 11.591-SP, Min. Pádua Ribeiro; REsp n. 4.284-SP, Min. Américo Luz; REsp n. 28.318, de que fui Relator).

Nessas condições, conheço do recurso pela letra a e lhe dou provimento.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 25.201-PR

Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrentes: Eduardo Pozza e outros

Recorridos: Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Paraná

e outro

Advogados: Jacy Gabardo e outros e Francisco Carlos Duarte e outros

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 171

EMENTA

Desapropriação. Juros compensatórios. Cálculo. Correção monetária.

1. Em desapropriação, os juros compensatórios integram o quantum da indenização e têm por escopo ressarcir o proprietário pela perda antecipada do bem.

2. Em tempos de inflação crônica, o pagamento de juros compensatórios sobre a quantia histórica do ressarcimento, não recompõe a diminuição patrimonial sofrida pelo expropriado, em face da imissão provisória na posse, deferida ao expropriante. Semelhante forma de calcular os juros, desviam-nos da função social para a qual foram concebidos.

3. A atualização monetária da indenização deverá ser integral, de modo a abranger o principal e os acessórios, em observância ao impositivo constitucional da justa indenização.

4. Revisão da Súmula n. 74 do Tribunal Federal de Recursos.

5. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Milton Pereira, Cesar Rocha e Garcia Vieira. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo.

Brasília (DF), 16 de dezembro de 1992 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator

DJ 15.03.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Cuida-se de recurso especial,

interposto por Eduardo Pozza e outros contra o Departamento de Estradas

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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de Rodagem do Estado do Paraná, com base nas alíneas a e c da permissão

constitucional.

O aresto recorrido, em ação de indenização por desapropriação indireta,

defi niu a forma de cálculo dos juros compensatórios, nestes termos:

Os juros compensatórios devem ter seu cômputo inicial na data da ocupação do imóvel, porém devidamente defl acionados a partir do valor encontrado no laudo pericial, pois não é possível que se transporte o valor atualizado apontado pela perícia e se recue no tempo para fazê-los incidir em quantia muito superior à realidade da época do indevido apossamento. (Fl. 174)

A essa decisão os expropriados ofereceram embargos de declaração, alegando que a sentença, para efeito de cálculo dos juros compensatórios, não determinou fosse deflacionado o valor da avaliação, nem tampouco houve impugnação da parte contrária quanto a esse ponto da decisão.

O acórdão de fl . 190 rejeitou os embargos ao fundamento de que:

Inexiste contradição a ser sanada pelo recurso de embargos declaratórios quando o acórdão mantém a decisão monocrática integralmente, apenas registrando a forma de cálculo a ser adotado na liquidação do julgado, para o efeito de se apurar o quantum correspondente aos juros compensatórios.

Inconformados, os recorrentes afi rmam que a decisão atacada contrariou

o disposto nos arts. 128, 512 e 515 do CPC, no art. 26 do Decreto-Lei n.

3.365/1941 e no art. 1º da Lei n. 6.899/1981. Apontam, também, divergência de

interpretação com julgados do STF.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): Os recorrentes se insurgem com a exclusão da correção monetária, incidente sobre os juros compensatórios, no período compreendido entre a ocupação do imóvel e a data do laudo pericial. Sustentam, ainda, que o acórdão recorrido, no tocante ao cálculo dos juros compensatórios, reformou a sentença, sem que houvesse recurso.

Com efeito, ausente impugnação quanto a algum ponto da decisão ocorre a preclusão, pelo que é vedado ao Tribunal, de ofício, reexaminar a questão, em respeito ao princípio tantum devolutum quantum appelatum.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 173

Em relação à atualização monetária dos juros compensatórios, a

jurisprudência da Corte, na esteira da orientação sedimentada no extinto TFR,

assentou que:

Na chamada justa indenização, incluem-se os juros compensatórios que incidem a partir da imissão na posse e devem ser calculados, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização e, a partir de então, sobre referido valor corrigido monetariamente (REsp n. 14.783, Relator Ministro José de Jesus. No mesmo sentido: REsp n. 11.470, Relator Ministro Peçanha Martins; REsp n. 14.448, Relator Ministro José de Jesus, e REsp n. 17.224, Relator Ministro Garcia Vieira)

Não obstante o entendimento fi rmado, ouso dissentir.

A Súmula n. 74 do TFR foi editada em momento de infl ação tolerável.

Hoje, sua aplicação ofenderia à Constituição, à Justiça e à realidade econômica.

A jurisprudência não é uma rocha sedimentar, imóvel e indiferente aos acontecimentos. Ela é filha da vida. Sua função é manter o ordenamento jurídico, vivo e sintonizado com a realidade.

Na capacidade da Suprema Corte norte-americana, de adaptar-se à realidade emergente, está o segredo da eterna juventude que tem caracterizado a Constituição daquele país.

Todos sabemos que os juros compensatórios integram o quantum da indenização e têm por escopo ressarcir o expropriado pela perda antecipada do bem.

Em tempos de infl ação crônica, o pagamento de juros compensatórios sobre a quantia histórica da indenização, até a data do laudo, não pode recompor a diminuição patrimonial sofrida pelo expropriado. Semelhante forma de calcular os juros, desviam-nos da função social para a qual foram concebidos.

Desta forma, a atualização da indenização deverá ser integral, de modo a alcançar o principal e os acessórios. Somente assim, cumpre-se impositivo constitucional da justa indenização.

Com efeito, no regime infl acionário que assola o País, a correção monetária do valor da indenização expressa consectário inarredável do princípio da restitutio in integrum.

Ouso, assim, propor a revisão da jurisprudência para sua adequação à realidade hodierna.

Dou provimento ao recurso.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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RECURSO ESPECIAL N. 38.970-SP (1993/0026228-9)

Relator: Ministro Peçanha Martins

Recorrente: Cia. Energética de São Paulo — Cesp

Recorridos: Pecuária Damha Ltda e outros

Advogados: José Eduardo Rangel de Alckmin e outros e Celso Laet de Toledo César Filho e outro

EMENTA

Administrativo. Desapropriação indireta. Juros compensatórios. Incidência. Termo inicial. Súmulas ns. 69-STJ e 74-TFR.

Na desapropriação indireta, os juros compensatórios são calculados sobre o valor do imóvel e devidos a partir da efetiva ocupação, ressarcindo o expropriado pela perda da posse do bem.

Divergência jurisprudencial com a Súmula n. 74-TFR, comprovada.

Recurso conhecido, mas desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas lhe negar provimento. Votaram com o Relator os Ministros Américo Luz, Antônio de Pádua Ribeiro, José de Jesus e Hélio Mosimann.

Brasília (DF), 20 de junho de 1994 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente

Ministro Peçanha Martins, Relator

DJ 15.08.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Peçanha Martins: A Cia. Energética de São Paulo — Cesp,

manifestou recurso especial, fundamentado no art. 105, III, c, da Constituição

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 175

Federal, contra decisão do Tribunal de Justiça Estadual que determinou, em

grau de apelação, nos autos de ação ordinária de indenização por desapropriação

indireta, que os juros compensatórios incidam sobre a indenização corrigida

desde a data da imissão provisória na posse.

Sustentando a tese que tais juros sejam contados em duas etapas (antes

do laudo, sobre a indenização simples e, após, sobre a indenização corrigida),

alega a recorrente divergência jurisprudencial com a Súmula n. 74-TFR e com

julgados do STF.

Contra-razões oferecidas às fl s. 336-339.

O recurso foi admitido no Tribunal de origem.

Dispensei a manifestação da Subprocuradoria Geral da República, nos

termos regimentais.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Peçanha Martins (Relator): A questão posta nos autos

cinge-se à incidência dos juros compensatórios na desapropriação indireta.

Determinou a v. decisão recorrida que os juros compensatórios, destinados

a compensar, como renda, a perda do uso e o gozo do bem imóvel, desde esse

momento são devidos.

Esse o entendimento desta Corte, consubstanciado na Súmula n. 69-STJ,

in verbis.

Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.

Pugna a recorrente pela aplicação da Súmula n. 74, TFR, que diz:

os juros compensatórios, na desapropriação, incidem a partir da imissão na posse e são calculados, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização e, desde então, sobre referido valor corrigido monetariamente.

Quando do julgamento do REsp n. 28.275-9-SP proferi voto sobre a

matéria, do qual vale transcrever:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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A interpretação literal do texto pode conduzir à diminuição do valor indenizatório. É que a parcela dos juros compensatórios calculada sobre o valor simples da indenização até a data do laudo, exprimirá uma expressão monetária até a data do evento, que, é de se supor, indica, sugere, o valor atual, no tempo, da indenização. Pergunta-se: E de então para a data do cálculo da indenização, permanecerá tal parcela fixa no tempo, mantida imutável a sua expressão monetária, como induz a literalidade do texto? Tenho afi rmado que não, e por isso mesmo sugerido que se altere o contexto da antiga súmula, que vem sendo erradamente aplicada a partir da sua edição por inúmeros contadores. Para que se mantenha atualizado o valor indenizatório arbitrado pela sentença, uma de três providências haverá de ser adotada: 1) a atualização monetária da parcela calculada sobre o ‘valor simples da indenização’, até a data do efetivo pagamento; 2) ou a incorporação dela à indenização simples, para atualização até o pagamento; 3) ou, a forma preconizada pelo acórdão recorrido, vale dizer, procedendo-se ao cálculo dos juros compensatórios relativos a todo o período em que são devidos, ou seja, desde a imissão de posse ao efetivo pagamento da indenização sobre a expressão monetária atualizada da indenização, que retrata o seu ‘valor integral’ ou real. As duas primeiras alternativas correspondem à interpretação possível da Súmula n. 74, nos aspectos jurídico, econômico-fi nanceiro e matemático. A terceira, sem dúvida a melhor, afastará de vez quaisquer dúvidas em torno da matéria. Inclino-me por ela, razão por que não conheço do recurso.

Conheço do recurso pela letra c, face à equivocada interpretação da Súmula n. 74 do TFR, mas lhe nego provimento.

RECURSO ESPECIAL N. 43.796-SP (1994/0003559-4)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Companhia Energética de São Paulo — Cesp

Advogados: José Eduardo Rangel de Alckmin e Martim Outeiro Pinto e outros

Recorridos: Valdo José Bellodi e outros

Advogados: Argemiro de Castro Carvalho Júnior e outros

EMENTA

Desapropriação. Juros compensatórios. Correção monetária.

Súmula n. 74-TFR. Inaplicação.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 177

I - Na desapropriação, os juros compensatórios são contados, desde a imissão na posse do imóvel até a data do efetivo pagamento da indenização, sobre o valor desta, corrigido monetariamente.

II - A Súmula n. 74-TFR, no sentido de que os citados juros são devidos, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização, e, a partir de então, sobre o referido valor corrigido monetariamente, não pode prevalecer, porquanto implica congelar parte daqueles acréscimos, com ofensa à legislação de regência e ao princípio constitucional da justa indenização.

III - A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, nas ações de desapropriação, não constitui anatocismo vedado em lei.

IV - Recurso especial conhecido, mas desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, conhecer do recurso, mas negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus, Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz.

Brasília (DF), 02 de maio de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 23.05.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso especial

interposto pela Cesp — Companhia Energética de São Paulo, com fundamento

no art. 105, III, letra c, da Constituição Federal, contra v. acórdão da Décima

Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, objetivando que

os juros compensatórios sejam computados nos moldes da Súmula n. 74 do

extinto TFR, sem que os juros moratórios incidam sobre os compensatórios.

Sustenta a recorrente que o aresto guerreado dissente de julgados do STF,

STJ e do próprio Tribunal a quo, colacionando vários arestos.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

178

Contra-arrazoado (fls. 772-778), o recurso, cujo processamento foi

admitido (fl s. 784-786), subiu a esta Corte onde me veio distribuído.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): No seu recurso

especial, alega a expropriante que o acórdão recorrido dissentiu, quanto ao

critério da contagem dos juros compensatórios, de precedentes de outros

Tribunais e desta Corte sobre a matéria.

O dissídio de julgados é manifesto: enquanto o acórdão recorrido afastou a

aplicação do critério estabelecido pela Súmula n. 74-TFR, quanto à contagem,

na desapropriação, dos juros compensatórios, os paradigmas colacionados

concluíram no sentido de que referidos juros devem ser computados,

desde a imissão na posse do imóvel, sobre o valor da indenização, corrigido

monetariamente.

Conheço, pois, do recurso.

No mérito, porém, nego-lhe provimento.

Sempre, nos meus votos, vinha seguindo a jurisprudência desta Turma,

aplicando o questionado verbete do extinto e sempre lembrado Tribunal Federal

de Recursos. Aliás, no sentido da citada súmula sempre votei na qualidade

de integrante daquela Corte extinta, porquanto foi editada com apoio na sua

pacífica jurisprudência, em vigor quando nela ingressei, como um de seus

componentes, nos idos de 1980 (ver Revista TFR n. 80/156).

Todavia, em razão dos julgados divergentes do egrégio Tribunal paulista,

alguns dos quais já encampados por precedentes da egrégia Primeira Turma,

passei a refletir sobre o tema e cheguei à conclusão de que a razão está

com aqueles que dissentem da aplicação do referido verbete, atentos à sua

interpretação literal.

Na verdade, o critério de contagem dos juros compensatórios, adotado pela

Súmula n. 74-TFR, implica congelar parte dos aludidos acréscimos, com ofensa

à legislação de regência e ao princípio constitucional da justa indenização.

De ter-se em conta, outrossim, que referidos juros integram a indenização

e, por isso mesmo, devem ser atualizados na mesma proporção que a verba a ela

correspondente.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 179

Por isso, ao proferir voto no REsp n. 37.977-6-SP, retifi quei o meu anterior

posicionamento para entender que, na desapropriação, os juros compensatórios

devem ser contados, desde a imissão na posse do imóvel até o efetivo pagamento

da indenização sobre o valor desta, corrigido monetariamente (na desapropriação

indireta: a partir da ocupação do imóvel).

Finalmente, cumpre assinalar que a incidência de juros moratórios sobre

os compensatórios não constitui anatocismo vedado em lei. Nesse sentido, os

seguintes precedentes:

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios. Cabimento.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta abrangidos os juros compensatórios.

II - Essa incidência de juros sobre juros não constitui, no caso, anatocismo, não se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF, segundo precedente daquela colenda Corte.

III - Recurso especial conhecido e desprovido. (REsp n. 35.661-0-SP (93.0015643-8), julg. 22.09.1993, publ. DJ 11.10.1993).

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios. Cabimento.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta abrangidos os juros compensatórios.

II - Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 36.143-5-SP (93.0017159-6), julg. 20.09.1993, publ. DJ 04.10.1993).

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios. Cabimento. Cumulação dos compensatórios. Dissídio não confi gurado.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta abrangidos os juros compensatórios.

II - Essa incidência de juros sobre juros não constitui, no caso, anatocismo, não se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF, segundo precedente daquela colenda Corte.

III - Quanto à cumulação dos juros compensatórios, improcede o alegado dissídio pretoriano.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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IV - Recurso especial parcialmente provido (REsp n. 19.008-SP (1992/0004071-3), julg. 14.04.1993, publ. DJ 03.05.1993).

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios. Cabimento.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta abrangidos os juros compensatórios.

II - Essa incidência de juros sobre juros não constitui, no caso, anatocismo, não se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF, segundo precedente daquela colenda Corte.

III - Recurso especial desprovido. (REsp n. 20.652-SP (1992/0007298-4), julg. 24.06.1992, publ. DJ 03.08.1992).

Em conclusão, pois, conheço do recurso, mas nego-lhe provimento.