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Súmula n. 285

Súmula n. 285 - Site seguro do STJ · SÚMULA N. 285 Nos contratos bancários posteriores ao Código de Defesa do Consumidor incide a multa moratória nele prevista. Referências:

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Súmula n. 285

SÚMULA N. 285

Nos contratos bancários posteriores ao Código de Defesa do Consumidor

incide a multa moratória nele prevista.

Referências:

CDC, arts. 3º, § 2º, e 52, § 1º.

Lei n. 9.298/1996.

Decreto n. 22.626/1933.

Precedentes:

REsp 213.825-RS (4ª T, 22.08.2000 – DJ 27.11.2000)

REsp 263.642-RS (3ª T, 30.05.2001 – DJ 20.08.2001)

REsp 323.986-RS (3ª T, 28.08.2001 – DJ 1º.10.2001)

REsp 388.572-MS (4ª T, 18.11.2003 – DJ 1º.12.2003)

REsp 431.951-RS (3ª T, 22.05.2003 – DJ 18.08.2003)

REsp 500.011-PR (3ª T, 21.10.2003 – DJ 10.11.2003)

Segunda Seção, em 28.04.2004

DJ 13.05.2004, p. 201

RECURSO ESPECIAL N. 213.825-RS (99.0041288-5)

Relator: Ministro Barros Monteiro

Recorrente(s): Banco Itaú S/A

Advogado(s): André Vidigal de Oliveira e outros

Recorrido(s): Francisco Mallmann e outro

Advogado(s): Maria Helena Ferreira Viegas e outro

EMENTA

Contrato de fi nanciamento bancário. Nulidade de cláusulas.

Aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Disciplina legal

diversa quanto à taxa dos juros remuneratórios.

- Tratando-se de empréstimo tomado por consumidor fi nal, a

operação creditícia realizada pelo banco submete-se às disposições

do Código de Defesa do Consumidor, na qualidade de prestador

de serviços especialmente contemplado no art. 3º, § 2º, do citado

diploma legal.

- Diversa é, porém, a disciplina legal tocante à taxa dos juros

remuneratórios, área esta regida por legislação específi ca. Segundo

assentou o C. Supremo Tribunal Federal, o Sistema Financeiro

Nacional será regulado por lei complementar e, enquanto não advier

esta, observar-se-á a legislação anterior à Constituição de 1988 (ADIn

n. 4-DF).

- Fundamentação distinta expendida a respeito pelos Srs.

Ministro Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar.

Recurso especial conhecido, em parte, e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:

Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Cesar Asfor

Rocha, que decide conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe

provimento, sendo acompanhado pelos Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar,

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Aldir Passarinho Junior e Sálvio de Figueiredo Teixeira, a Quarta Turma do

Superior Tribunal de Justiça, decide por unanimidade, conhecer em parte

do recurso e, nessa parte, dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas

taquigrafi as precedentes que integram o presente julgado.

Brasília (DF), 22 de agosto de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente

Ministro Barros Monteiro, Relator

DJ 27.11.2000

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: - Francisco Mallmann e Maria Lúcia

Costa Cabral Mallmann ajuizaram ação ordinária de revisão de contrato de

fi nanciamento com garantia hipotecária contra o “Banco Itaú S/A”.

O MM. Juiz de Direito julgou procedente, em parte, a ação “para declarar

aplicável ao contrato de fi nanciamento hipotecário a taxa de juros de 12% a.a.,

capitalizada anualmente, mais a atualização mensal pela remuneração básica

da caderneta de poupança (TR), juros moratórios de 1% a.a., além de multa de

2%”. Declarou, ainda, nula a cláusula que prevê autorização irrevogável para o

débito das prestações mensais em conta-corrente.

A Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande

do Sul, por unanimidade, negou provimento ao apelo do banco em acórdão

cujos fundamentos se resumem na seguinte ementa:

Contratos bancários. Jurisprudência cimentada desta Câmara no sentido de que: a. o Código de Defesa do Consumidor aplica-se às relações com instituições fi nanceiras; b. os juros estão limitados a 12% ao ano, senão pela auto-aplicabilidade do art. 192, p. 3º da CF, em razão da vigência da Lei da Usura; c. salvo nas hipóteses de cédulas de crédito rural, industrial e comercial, regidas por legislação específi ca, aos demais contratos é vedada a capitalização de juros em periodicidade menor que a anual.

Apelo improvido. (fl s. 210).

Inconformado, o banco manifestou o presente recurso especial com arrimo

nas alíneas a e c do permissor constitucional, apontando negativa de vigência dos

arts. 2º e 52, § 1º, da Lei n. 8.078/1990, 4º, IX, e 9º da Lei n. 4.595/1964, além

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 427

de divergência com a Súmula n. 596-STF, com julgados desta Casa e de outros

Tribunais. Defendendo a legalidade da pactuação da taxa de juros acima de

12% ao ano, asseverou que o Dec. n. 22.626/1933 não se aplica às operações de

crédito realizadas por instituições fi nanceiras integrantes do Sistema Financeiro

Nacional. De outro lado, defendeu a Inaplicabilidade do Código de Defesa do

Consumidor às referidas operações.

Sem as contra-razões, o apelo extremo foi admitido na origem.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): - 1. Impugna a instituição

financeira recorrente a aplicação das normas do Código de Defesa do

Consumidor às operações bancárias, especifi camente ao presente caso, em que

se cuida de fi nanciamento concedido a adquirentes de bem imóvel mediante

garantia hipotecária. Sustenta o banco que, sendo impertinente à espécie o

CDC, hão de prevalecer as cláusulas livremente estipuladas pelas partes, dentre

elas: a) a que fi xa os juros moratórios; b) a que prevê a multa de 10%; c) a que

estabelece autorização para o débito em conta-corrente das prestações mensais.

À exceção da temática relativa aos juros moratórios que será objeto de

exame ao fi nal deste, ao banco recursante desassiste razão em suas objeções

concernentes à incidência do Código de Defesa do Consumidor à hipótese dos

autos, motivo pelo qual, sendo este o único fundamento por ele apresentado a

respeito, permanecem os comandos editados pela sentença quanto: a) à nulidade

da cláusula que prevê autorização irrevogável do mutuário para débito em

conta-corrente das parcelas mensais; b) à redução da multa a 2% (art. 52, § 1º,

da Lei n. 8.078/1990).

Isto porque, em princípio, tratando-se de mutuário que se dirigiu ao

estabelecimento bancário a fi m de obter fi nanciamento para aquisição de bem

imóvel, na qualidade, pois, de consumidor fi nal, os bancos fi cam submetidos às

disposições do Código de Defesa do Consumidor, como prestadores de serviços

especialmente contemplados no art. 3º, § 2º, do mesmo diploma legal. Esta,

por sinal, a jurisprudência predominante nesta Corte (REsp’s n. 57.974-0-RS,

relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar; e n. 142.799-RS, relator Ministro

Waldemar Zveiter).

Essa, também, a opinião da doutrina.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Confi ra-se o escólio de José Geraldo Brito Filomeno:

Resta evidenciado, por outro lado, que as atividades desempenhadas pelas instituições financeiras, quer na prestação de serviços aos seus clientes (por exemplo, cobrança de contas de luz, água e outros serviços, ou então expedição de extratos etc), quer na concessão de mútuos ou fi nanciamentos para a aquisição de bens, inserem-se igualmente no conceito amplo de serviços.

Aliás, o Código fala expressamente em atividade de natureza bancária, fi nanceira, de crédito e securitária, aqui se incluindo igualmente os planos de previdência privada em geral, além dos seguros propriamente ditos, de saúde etc.

Para Fábio Ulhôa Coelho: “considera-se bancário o contrato cuja função econômica se relaciona com o conceito jurídico de atividade bancária, preceituado no art. 17 da Lei n. 4.595/1964. Por atividade bancária, entende-se a coleta, intermediação em moeda nacional ou estrangeira. Esse conceito abarca uma gama considerável de operações econômicas, ligadas direta ou indiretamente à concessão, circulação ou administração do crédito. Estabelecendo-se paralelo entre a atividade bancária e a industrial, pode-se afi rmar que a matéria-prima do banco e o produto que ele oferece ao mercado é o crédito, ou seja, a instituição fi nanceira dedica-se a captar recurso junto a clientes (operações passivas) para emprestá-los a outros clientes (operações ativas)”.

E, mais adiante, esclarece que: “O contrato bancário pode ou não se sujeitar ao Código de Defesa do Consumidor, dependendo da natureza do vínculo obrigacional subjacente. O mútuo, por exemplo, será mercantil se o mutuário for exercente de atividade econômica, e os recursos obtidos a partir dele forem empregados na empresa. E será mútuo ao consumidor se o mutuário utilizar-se dos recursos emprestados para fi nalidades particulares, como destinatário final. No desenvolvimento das operações atípicas, isto é, não relacionadas especifi camente com o conceito de atividade bancária, como cobrança de títulos e recebimentos de tarifas e impostos, o banco age como prestador de serviços não somente para o cliente credor, mas direcionado a todos que procuram a agência simplesmente para realizar o pagamento. Em relação às operações típicas, como a aceitação de dinheiro em depósito, concessão do empréstimo bancário, aplicação fi nanceira e outras, o banco presta serviço a clientes seus, podendo classifi cá-los (de acordo com conceitos próprios da atividade bancária, como o da reciprocidade) para fi ns de liberar tratamento preferencial ou atendimento especial a certas categorias de consumidores”.

Também José Reinaldo da Lima Lopes acentua que: “É fora de dúvida que os serviços fi nanceiros, bancários e securitários encontram-se sob as regras do Código de Defesa do Consumidor. Não só existe disposição expressa na Lei n. 8.078/1990 sobre o assunto (art. 3º, § 2º), como a história da defesa do consumidor o confi rma, quando verifi camos que a proteção aos tomadores de crédito ao consumo foi das primeiras a ser criada. De outro lado, nas relações das instituições financeiras com seus ‘clientes’ podem-se ver duas categorias de agentes: os tomadores de empréstimos (mutuários) e os investidores (depositantes)” (Código

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 429

Brasileiro de Defesa do Consumidor - Comentado pelos Autores do Anteprojeto, p. 45-46, 6ª ed.).

Compartilham do mesmo pensamento Nelson Nery Júnior e José Cretella

Júnior, ambos citados pelo Prof. Arruda Alvim, Th ereza Alvim, Eduardo Arruda

Alvim e James Marins no seu “Código do Consumidor Comentado”, p. 40,

nota n. 28, 2ª ed., 2ª tiragem. Eduardo Gabriel Saad também considera que

esse contrato de empréstimo bancário se submete às normas de proteção ao

consumidor (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 107, 4ª ed.

- LTr.).

Ficam mantidas, portanto, as disposições da sentença, confi rmada pelo v.

acórdão, referentes aos dois itens supra referidos, atacados pelo recorrente.

2. Diversa é, todavia, a disciplina legal tocante às taxas dos juros

remuneratórios, desde que se cuida aí de área regida por legislação própria e

específi ca, não bastasse achar-se a taxa de juros atrelada à política monetária

do Poder Executivo Federal. Além disso, essa matéria tratada pelo art. 192, §

3º, da Constituição Federal, está a depender de regulamentação através de lei

complementar. É ler-se o decidido a respeito pelo Excelso Pretório quando

do julgamento da ADIn n. 4-DF, de que foi relator o em. Ministro Sydney

Sanches, no que ora interessa:

(...)

6. Tendo a Constituição Federal, no único artigo em que trata do Sistema Financeiro Nacional (art. 192), estabelecido que este será regulado por lei complementar, com observância do que determinou no caput, nos seus incisos e parágrafos, não é de se admitir a efi cácia imediata e isolada do disposto em seu parágrafo 3º, sobre taxa de juros reais (12% ao ano), até porque estes não foram conceituados. Só o tratamento global do Sistema Financeiro Nacional, na futura lei complementar, com a observância de todas as normas do caput, dos incisos e parágrafos do art. 192, é que permitirá a incidência da referida norma sobre juros reais e desde que estes também sejam conceituados em tal diploma.

7. Em conseqüência, não são inconstitucionais os atos normativos em questão (parecer da Consultoria-Geral da República, aprovado pela Presidência da República e circular do Banco Central), o primeiro considerando não auto-aplicável a norma do parágrafo 3º sobre juros reais de 12% ao ano, e a segunda determinando a observância da legislação anterior à Constituição de 1988, até o advento da lei complementar reguladora do Sistema Financeiro Nacional (RTJ vol. 147, p. 720).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Quanto a este aspecto, pacifi cou-se a jurisprudência no sentido de que não incide a Lei de Usura (Decreto n. 22.626, de 07.04.1933) quanto à taxa de juros, nas operações realizadas com instituições integrantes do sistema fi nanceiro nacional, entendimento este que se cristalizou com a edição da Súmula n. 596 do C. Supremo Tribunal Federal. Confi ram-se nesse sentido os julgados insertos nas RTJ’s 77/966 e 79/620. Nos dois julgados aludidos, a Suprema Corte assentou que os percentuais das taxas de juros se sujeitam unicamente aos limites fixados pelo Conselho Monetário Nacional. Nesta Casa, tem predominado a mesma orientação: REsp’s n. 4.285-RJ, relator Ministro Athos Carneiro; n. 5.212-SP, relator Ministro Dias Trindade; n. 19.294-SP, n. 26.927-5-RS, n. 29.913-9-GO e n. 32.632-5-RS, por mim relatados; n. 158.508-RS, relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar; n. 122.776-RS, relator Ministro Costa Leite; n. 124.779-RS, relator Ministro Carlos Alberto; n. 128.911-RS, relator Ministro Waldemar Zveiter; n. 130.875-RS, relator Ministro Cesar Asfor Rocha.

Assiste razão, por conseguinte, ao recorrente ao propugnar pela subsistência da taxa de juros remuneratórios tal como convencionada. Limitando-a ao teto estabelecido da denominada Lei de Usura, o acórdão recorrido afrontou o art. 4º, IX, da Lei n. 4.595/1964, bem como dissentiu do referido Verbete Sumular n. 596 e dos arestos desta Corte colacionados no REsp interposto.

Quanto à taxa de juros moratórios (elevação em até 1% ao ano), não há o que modifi car-se em face do disposto no art. 5º do Dec. n. 22.626/1933, conforme, por sinal, já teve ocasião de decidir esta Eg. Turma (REsp n. 169.285-RS, de que fui relator).

3. Do quanto foi exposto, conheço, em parte, do recurso e, nessa parte, dou-lhe provimento, a fi m de afastar o fundamento infraconstitucional oposto à cobrança dos juros remuneratórios na forma como pactuado entre as partes.

Oportunamente, remetam-se os autos ao C. Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário.

É como voto.

VOTO-VISTA

Ementa: Recurso especial. Comercial. Instituição fi nanceira.

Contrato de financiamento. Aplicação do Código de Defesa do

Consumidor aos contratos bancários. Juros remuneratórios.

Abusividade inexistente. Juros moratórios. Pactuação em 1% a.m.

Possibilidade.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 431

- O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/1990) é aplicável sobre todas as relações e contratos firmados entre as instituições fi nanceiras e seus clientes, inclusive quanto às taxas de juros remuneratórios, desde que pactuada de forma abusiva.

- Na hipótese, contudo, não se caracterizou a abusividade, pois a pactuação dos juros remuneratórios em 14,934% ao ano contém-se no círculo da razoabilidade, sem agredir os padrões da conjuntura econômica nacional, não sendo escorchantes para os mutuários.

- Nos contratos de financiamento bancário, à míngua de legislação especial limitadora, devem prevalecer as taxas de juros moratórios pactuadas, na forma do artigo 1.062 do Código Civil, podendo alcançar até 1% ao mês.

- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: - 01. O eminente Ministro Barros

Monteiro assim relatou o feito:

Francisco Mallmann e Maria Lúcia Costa Cabral Mallmann ajuizaram ação ordinária de revisão de contrato de financiamento com garantia hipotecária contra o “Banco Itaú S/A”.

O MM. Juiz de Direito julgou procedente, em parte, a ação “para declarar aplicável ao contrato de fi nanciamento hipotecário a taxa de juros de 12% a.a., capitalizada anualmente, mais a atualização mensal pela remuneração básica da caderneta de poupança (TR), juros moratórios de 1% a.a., além de multa de 2%”. Declarou, ainda, nula a cláusula que prevê autorização irrevogável para o débito das prestações mensais em conta-corrente.

A Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por unanimidade, negou provimento ao apelo do banco em acórdão cujos fundamentos se resumem na seguinte ementa:

Contratos bancários. Jurisprudência cimentada desta Câmara no sentido de que: a. o Código de Defesa do Consumidor aplica-se às relações com instituições fi nanceiras; b. os juros estão limitados a 12% ao ano, senão pela auto-aplicabilidade do art. 192, p. 3o da CF, em razão da vigência da Lei da Usura; c. salvo nas hipóteses de cédulas de crédito rural, industrial e comercial, regidas por legislação específi ca, aos demais contratos é vedada a capitalização de juros em periodicidade menor que a anual.

Apelo improvido. (fl . 210).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Inconformado, o banco manifestou o presente recurso especial com arrimo nas alíneas a e c do permissor constitucional, apontando negativa de vigência dos arts. 2º e 52, § 1º, da Lei n. 8.078/1990, 4º, IX, e 9º da Lei n. 4.595/1964, além de divergência com a Súmula n. 596-STF, com julgados desta Casa e de outros Tribunais. Defendendo a legalidade da pactuação da taxa de juros acima de 12% ao ano, asseverou que o Dec. n. 22.626/1933 não se aplica às operações de crédito realizadas por instituições fi nanceiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional. De outro lado, defendeu a inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor às referidas operações.

O ilustrado Ministro Relator, em primoroso voto, como de hábito, afastou

o conhecimento do recurso pela alegada violação aos arts. 2º e 52, § 1º, da Lei

n. 8.078/1990, dele conhecendo parcialmente apenas e, nessa parte, dando-

lhe provimento, a fi m de afastar o fundamento infraconstitucional oposto à

cobrança dos juros remuneratórios na forma como pactuado entre as partes.

Citando o escólio de renomada doutrina, o eminente Ministro Barros

Monteiro entendeu aplicável o Código de Defesa do Consumidor ao contrato

de fi nanciamento com garantia hipotecária em exame, fazendo as seguintes

judiciosas considerações:

À exceção da temática relativa aos juros moratórios que será objeto de exame ao fi nal deste, ao banco recursante desassiste razão em suas objeções concernentes à incidência do Código de Defesa do Consumidor à hipótese dos autos, motivo pelo qual, sendo este o único fundamento por ele apresentado a respeito, permanecem os comandos editados pela sentença quanto: a) à nulidade da cláusula que prevê autorização irrevogável do mutuário para débito em conta-corrente das parcelas mensais; b) à redução da multa a 2% (art. 52, § 1º, da Lei n. 8.078/1990).

Isto porque, em princípio, tratando-se de mutuário que se dirigiu ao estabelecimento bancário a fi m de obter fi nanciamento para aquisição de bem imóvel, na qualidade, pois, de consumidor fi nal, os bancos fi cam submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor, como prestadores de serviços especialmente contemplados no art. 3º § 2º, do mesmo diploma legal. Esta, por sinal, a jurisprudência predominante nesta Corte (REsp’s n. 57.974-0-RS, relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar; e n. 142.799-RS, relator Ministro Waldemar Zveiter).

Destarte, o Sr. Ministro Barros Monteiro não conheceu do recurso nos

pontos em que o r. aresto recorrido deu pela nulidade da cláusula que prevê a

autorização irrevogável do mutuário para débito em conta das parcelas mensais,

assim como no que reduziu a multa a 2%, tendo assim, nesses tópicos, por

aplicável o Código de Defesa do Consumidor.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 433

De maneira diferente entendeu o insigne Relator quanto às taxas de juros

remuneratórios, às quais considerou inaplicáveis as regras da Lei n. 8.078/1990,

sob o seguinte fundamento, verbis:

Diversa é, todavia, a disciplina legal tocante às taxas dos juros remuneratórios, desde que se cuida aí de campo regido por legislação específi ca (Lei n. 4.595, de 31.12.1964). Daí por que não se lhe aplicam os preceitos genéricos do Código de Defesa do Consumidor.

Nesse aspecto, pacifi cou-se a jurisprudência no sentido de que não incide a Lei de Usura (Decreto n. 22.626, de 07.04.1933) quanto à taxa de juros, nas operações realizadas com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, entendimento este que se cristalizou com a edição da Súmula n. 596 do C. Supremo Tribunal Federal. Confi ram-se nesse sentido os julgados insertos nas RTJ’s 77/966 e 79/620. Nos dois julgados aludidos, a Suprema Corte assentou que os percentuais das taxas de juros se sujeitam unicamente aos limites fi xados pelo Conselho Monetário Nacional. Nesta Casa, tem predominado a mesma orientação: REsp’s n. 4.285-RJ, relator Ministro Athos Carneiro; n. 5.212-SP, relator Ministro Dias Trindade; n. 19.294-SP, n. 26.927-5-RS, n. 29.913-9-GO e n. 32.632-5-RS, por mim relatados; n. 158.508-RS, relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar; n. 122.776-RS, relator Ministro Costa Leite; n. 124.779-RS, relator Ministro Carlos Alberto; n. 128.911-RS, relator Ministro Waldemar Zveiter; n. 130.875-RS, relator Ministro Cesar Asfor Rocha.

Assiste razão, por conseguinte, ao recorrente ao propugnar pela subsistência da taxa de juros remuneratórios tal como convencionada. Limitando-a ao teto estabelecido da denominada Lei de Usura, o acórdão recorrido afrontou o art. 4o, IX, da Lei n. 4.595/1964, bem como dissentiu do referido Verbete Sumular n. 596 e dos arestos desta Corte colacionados no REsp interposto.

Com efeito, o ilustre Ministro Relator deu por válida a pactuacão referente

aos juros remuneratórios, que no caso foi à taxa de 14,934% ao ano, entendendo

ter aplicação exclusiva a Lei n. 4.595/1964.

02. Pedi vista dos autos para melhor exame da matéria, após o que de

logo registro que no tocante à aplicação do Código de Defesa do Consumidor,

acompanho Sua Excelência, por entender que aquele diploma legal incide sobre

todas as relações e contratos pactuados pelas instituições fi nanceiras e seus

clientes e não apenas na parte relativa à expedição de talonários, fornecimento

de extratos, cobrança de contas, guarda de bens e outros serviços afi ns.

O próprio Código de Defesa do Consumidor se ocupa em trazer as

defi nições de consumidor, fornecedor, produto e serviço, para efeito de sua

incidência nas relações consideradas como de consumo, verbis:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

434

Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário fi nal.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, fi nanceira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

A lei é suficientemente clara ao definir o que sejam consumidores e fornecedores de produtos e serviços, enquadrando-se perfeitamente nesses conceitos as instituições fi nanceiras.

As relações existentes entre os clientes e o banco apresentam nítidos contornos de uma relação de consumo, inclusive nos contratos bancários de fi nanciamento, de forma a se concluir que o Código de Defesa do Consumidor aplica-se a todos os contratos bancários.

03. Como decorrência, ouso dissentir, data maxima venia, tão-somente na parte em que o eminente Relator considerou que as regras genéricas do CDC não se aplicam às taxas dos juros remuneratórios praticadas pelos bancos, porque regida a sua limitação pela Lei n. 4.595/1964, de natureza específi ca.

E o faço com fulcro nos fundamentos a seguir expostos.

É ponto pacífico nesta Corte que a limitação das taxas de juros remuneratórios prevista no Decreto n. 22.626/1933 foi revogada com a edição do artigo 4º, inciso IX, da Lei n. 4.595/1964, nas operações realizadas por instituições fi nanceiras, ressalvadas as hipóteses de legislação especial.

Todavia, considero que, em face da edição da Resolução n. 1.064/1985, do Bacen, autorizando que “as operações ativas dos bancos comerciais, de investimento e de desenvolvimento serão realizadas a taxas de juros livremente pactuáveis”, a estipulação das taxas de juros remuneratórios fi cou a exclusivo critério das instituições fi nanceiras, que estariam absolutamente livres para praticar a cobrança de juros remuneratórios da maneira que melhor lhes aprouver, sujeitando os consumidores ao seu exclusivo arbítrio.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 435

Afi rmo que estariam livres porque, a teor do regramento insculpido no

art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor, toda cláusula que apresente

abusividade, trazendo iniqüidade em prejuízo ao consumidor, afi gura-se nula de

pleno direito.

Desta forma, todas as vezes em que a contratação dos juros remuneratórios

se apresente excessivamente onerosa, em percentual caracterizadamente abusivo,

por extrapolar dos padrões da conjuntura econômica pátria, à qual devemos

estar atentos, pode e deve ser aplicada a norma protetora do consumidor, com o

fi to de coibir-se intoleráveis abusos por parte das instituições fi nanceiras.

Assim, a estipulação de aludido percentual não pode ser imposta de forma

assim tão desabrida, devendo se estabelecer uma convivência harmônica entre

a liberdade conferida pela Lei n. 4.595/1964 e a razoabilidade extraída pelo

Código de Defesa do Consumidor, para impedir a cobrança de taxas abusivas.

04. Na presente hipótese, entretanto, restou assentado na r. sentença que

os juros remuneratórios foram fi xados em 14,934% ao ano, ou 1,2445% ao mês,

portanto, dentro de um patamar razoável, apto a remunerar o banco mutuante,

sem onerar em demasia o consumidor, razão pela qual o art. 51 do CDC não

incide na espécie, apenas quanto aos juros remuneratórios.

O caso em análise configura perfeitamente a possibilidade de haver

harmoniosa convivência entre a tese pacifi camente assentada nesta Corte, de

que a limitação dos juros remuneratórios na taxa de 12% ao ano estabelecida

pela Lei da Usura não se aplica às operações realizadas pelas instituições do

Sistema Financeiro, em face da prevalência da liberdade conferida pela Lei 1º

n. 4.595/1964, com a que agora explicitamente externei, de se dar aplicação do

CDC sobre todas as relações e contratos pactuados pelas instituições fi nanceiras

e seus clientes, inclusive quanto às taxas de juros remuneratórios, porque na

hipótese se contém no círculo da razoabilidade a pactuação desses juros em

14,934% ao ano, que não agride os padrões da conjuntura econômica nacional,

não sendo escorchantes para os mutuários.

Observo que esta é a primeira vez que estou a examinar como pode se dar

a convivência do Código de Defesa do Consumidor com a Lei de Usura e a Lei

do Sistema Financeiro Nacional (Lei n. 4.595/1964).

05. Por derradeiro, no pertinente aos juros moratórios, o ilustre Min. Barros

Monteiro manteve a limitação em 1% ao ano imposta pelo Tribunal de origem,

nos seguintes termos, verbis:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

436

Quanto à taxa de juros moratórios (elevação em até 1% ao ano), não há o que modifi car-se em face do disposto no art. 5º do Dec. n. 22.626/1933, conforme, por sinal, já teve ocasião de decidir esta Eg. Turma (REsp n. 169.285-RS, de que fui relator).

Observo, todavia, novamente pedindo a mais respeitosa vênia ao eminente Relator, que o precedente indicado efetivamente limita os juros moratórios em 1% ao ano, com base no que disposto no art. 5º da Lei de Usura, mas o faz levando em consideração que os juros de mora já estavam pactuados em 1% ao ano, havendo, também, a previsão de cobrança da multa moratória e comissão de permanência, após o inadimplemento. Sendo assim, haveria uma tripla penalização do devedor em razão da cumulação das três parcelas, após a mora, o que não se admitiu naquela hipótese.

Ademais, no que tange à taxa de juros moratórios, verifi co a existência de precedentes de ambas as Turmas componentes da Seção de Direito Privado desta Corte, no sentido de que, à míngua de legislação especial restringindo a elevação das taxas dos juros remuneratórios em caso de mora, a exemplo dos créditos rural, comercial e industrial, devem prevalecer as taxas de juros de mora pactuadas, nos demais contratos de empréstimo bancário, em obediência aos artigos 1.062 e 1.262 do Código Civil, podendo as mesmas alcançar o patamar de 12% ao ano. Confi ra-se, a propósito, os seguintes acórdãos, cujas ementas transcrevo, no que interessa:

Juros moratórios. Contrato de abertura de crédito. Questão dos juros remuneratórios resolvida com fundamento exclusivamente constitucional. Aplicação da Súmula n. 596-STF quanto aos juros moratórios, fi xados em 1% a.m., à falta de lei limitadora.

Recurso conhecido em parte e nessa parte provido. (REsp n. 169.300-RS, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 28.09.1998).

Recurso especial assentado em dissídio jurisprudencial. Contrato de abertura de crédito. Limitação da taxa de juros. Capitalização dos juros. Juros de mora. Súmulas n. 596 e n. 121-STF. (... omissis ...)

3. No mútuo bancário comum, havendo convenção entre as partes, os juros moratórios podem alcançar 12% ao ano, na forma do artigo 1.062 do Código Civil.

4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. (REsp n. 160.692-RS, relator o eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 29.03.1999).

No mesmo sentido, os REsps n. 180.275-RS e n. 111.181-SC, Relator o

eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJs 07.06.1999 e 19.12.1997;

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 437

e REsp n. 208.838-RS, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ

07.02.2000.

Veja-se, ainda, as recentes decisões monocráticas: REsp n. 218.368-RS,

Relator o eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 14.10.1999; REsp

n. 232.356-RS, Relator o eminente Ministro Eduardo Ribeiro, DJ 23.11.1999; e

REsp n. 219.097, Relator o eminente Ministro Ari Pargendler, DJ 15.10.1999.

Extrai-se dos autos que as partes expressamente pactuaram os juros

moratórios à taxa de 1% ao mês, de forma que conheço do recurso também

nessa parte, para permitir a cobrança na forma em que contratada.

Diante de tais pressupostos, conheço parcialmente do recurso e, nessa

parte, dou-lhe provimento, a fi m de afastar o fundamento infraconstitucional

oposto à cobrança dos juros remuneratórios na forma como pactuado entre

as partes, isto é, de 14,934% ao ano, por não agredir o Código de Defesa do

Consumidor, bem como para permitir a cobrança dos juros moratórios na forma

contratada, ou seja, a taxa de 1% ao mês.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Presidente): - Com a devida vênia,

acompanho o voto do Sr. Ministro Relator quanto à sua conclusão, mas pelos

fundamentos do Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Acompanho os votos

precedentes, em suas conclusões.

RECURSO ESPECIAL N. 263.642-RS (2000.0060244-2)

Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Recorrente: Banco Bilbao Vizcaya Brasil S/A - sucessor

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

438

Advogado: Maria Terezinha Romero e outros

Recorrido: Andre Motta Ribeiro

Advogado: Silvia Leticia Tormes Prina e outros

EMENTA

Ação de revisão de cédula de crédito comercial. Alienação

fi duciária. Ação de busca e apreensão. Precedentes da Corte.

1. Nas cédulas de crédito comercial a jurisprudência da Corte

assentou: a) os juros estão limitados a 12% ao ano, nos termos do art.

5º do Decreto-Lei n. 413/1969; b) é possível a cobrança da comissão

de permanência, desde que não cumulada com a correção monetária;

c) é permitido o pacto de capitalização dos juros.

2. Não apontado qualquer dispositivo de Lei Federal não se pode

examinar a confi guração da mora.

3. Não prequestionado o art. 1.058 do Código Civil, não passa o

especial na parte da possibilidade de revisão contratual.

4. A jurisprudência da Corte admite a incidência do Código de

Defesa do Consumidor em casos como o presente.

5. Recurso especial conhecido e provido, em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar parcial provimento. Os

Srs. Ministros Nancy Andrighi, Antônio de Pádua Ribeiro e Ari Pargendler

votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 30 de maio de 2001 (data do julgamento).

Ministro Ari Pargendler, Presidente

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator

DJ 20.08.2001

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 439

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Banco Bilbao Vizcaya

S/A, sucessor de Banco Excel Econômico S/A interpõe recurso especial, com

fundamento na alínea a, do permissivo constitucional, contra Acórdão da 14ª

Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim

ementado:

Alienação fi duciária. Ação de revisão de cláusulas contratuais conexa a ação de busca.

Preliminar de cerceamento de defesa afastada.

Litigância de má-fé inaplicada.

Possibilidade da revisão ante o princípio da relatividade do contrato, prevalecente sobre o princípio do pacta sunt servanda, a fi m de assegurar a real concretização dos conceitos norteadores do equilíbrio da relação contratual, como da liberdade e da igualdade entre as partes.

LIMITAÇÃO DOS JUROS.

Reconhecida a abusividade na cláusula que estabelece juros, em verdadeiro contrato de adesão, é de ser declarada sua nulidade. Inteligência do art. 51, IV, do CDC e de regras legais sobre juros.

CAPITALIZAÇÃO.

Os juros devem ser capitalizados semestralmente, tratando-se de cédula de crédito comercial (art. 5º da Lei n. 6.840/1980 c.c. o art. 5º do Decreto n. 413/1969).

COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.

Nula é a cláusula que prevê o pagamento de comissão de permanência, por infringir a regra do art. 115 do Código Civil, devendo ser afastada de ofício. Aplicação do disposto no art. 51, IV, do CDC.

AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.

Ante a onerosidade excessiva das cláusulas contratuais, não se constituiu validamente a mora. Carência da ação.

1ª APELAÇÃO PROVIDA PARCIALMENTE.

2a APELAÇÃO PREJUDICADA. (fl . 118).

Sustenta o recorrente a legalidade da cobrança da comissão de permanência,

pois foi pactuada pelas partes, seguindo os índices do mercado fi nanceiro.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

440

Argüiu contrariedade ao art. 1.058 do Código Civil, pois não ocorreu caso

fortuito ou força maior para justifi car a revisão contratual, devendo ser mantido

o pactuado.

Alega ser inaplicável o Código de Defesa do Consumidor nas operações

bancárias, por não se confi gurar relação de consumo.

Aduz violação ao art. 4º da Lei n. 4.595/1964, haja vista que as taxas

de juros praticadas pelas instituições fi nanceiras não estão sujeitas ao limite

previsto na Lei de Usura, sendo reguladas pelo Conselho Monetário Nacional.

Afi rma ser possível a capitalização mensal de juros quando expressamente

pactuada, entendimento pacifi cado pela Súmula n. 93-STJ.

Sustenta que o ora recorrido não cumpriu suas obrigações contratuais,

estando caracterizada a mora, condição para a ação de busca e apreensão, nos

termos do art. 2º, § 2º, do Decreto-Lei n. 911/1969.

Aponta dissídio jurisprudencial, trazendo à colação julgados, também,

desta Corte.

Sem contra-razões (fl . 149), o recurso especial não foi admitido (fl s. 156 a

161).

Provido agravo de instrumento, determinou-se sua conversão em recurso

especial (fl s. 174-175).

Houve recurso extraordinário (fl s. 160 a 165), inadmitido (fl s. 156 a 161),

tendo sido interposto agravo de instrumento contra esta decisão (fl . 170).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): Ação de busca

e apreensão ajuizada pelo recorrente, tendo sido deferida a medida liminar, e

ação ordinária ajuizada pelo recorrido. A sentença julgou improcedente a ação

ordinária e procedente a ação de busca e apreensão. O Tribunal de Justiça do

Rio Grande do Sul inverteu o julgamento ao decidir que os juros são limitados,

que a capitalização é semestral, tratando-se de cédula de crédito comercial e que

é nula a cláusula que prevê a comissão de permanência. Diante da onerosidade

do contrato afastou a mora e julgou o autor da busca e apreensão carecedor da

ação.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 441

O acórdão recorrido dá conta que o autor assinou “contrato de operação

de crédito, fundada em cédula de crédito comercial, para adquirir um automóvel

Hyundai Accent”. Trata-se, portanto, de débito resultante de cédula de crédito

comercial subordinada ao Decreto-Lei n. 413/1969.

No especial, o recorrente destaca que a sentença assinalou que o bem já

havia sido vendido a terceiro, não mais estando na posse do recorrido.

O primeiro combate é sobre a comissão de permanência. E tem razão o

recorrente. A comissão de permanência não malfere, como pretende o acórdão

recorrido o art. 115 do Código Civil. Já assentou a Corte que desde que não

cumulada com a correção monetária (Súmula n. 30 da Corte) é possível a sua

cobrança: REsp n. 218.030-RS, da minha relatoria, DJ de 26.06.2000; REsp

n. 235.378-SP, da minha relatoria, DJ de 05.06.2000; REsp n. 226.752-PR, da

minha relatoria, DJ de 27.03.2000.

O segundo combate é sobre a possibilidade de revisão contratual, amparado

no art. 1.058 do Código Civil. Falta, contudo, o devido prequestionamento no

ponto.

O terceiro combate é sobre a incidência do Código de Defesa do

Consumidor. Mas, não tem razão o recorrente. Trata-se de financiamento

para compra de veículo, estando a relação entre o fi nanciado e o fi nanciador,

instituição fi nanceira, sob a égide do Código de Defesa do Consumidor. A

Corte já afi rmou que os bancos são prestadores de serviço e como tal estão

ao alcance do art. 3º, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor: REsp n.

57.974-RS, Relator o Senhor Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 29.05.1995;

REsp n. 142.799-RS, Relator o Senhor Ministro Waldemar Zveiter, DJ de

14.12.1998. Aplica-se, portanto, a Súmula n. 83 da Corte. O que está pendente

de pacifi cação é a incidência do Código nas relações decorrentes da aplicação

fi nanceira em caderneta de poupança.

O quarto combate é sobre a limitação dos juros. A revisão é da cédula

de crédito comercial, fi gurando no título a taxa de juros de 44,50% ao ano. O

recorrente quer a liberação da taxa com apoio na Sumula n. 596 do Supremo

Tribunal Federal. Ocorre que a Corte estabeleceu que a taxa de juros nas cédulas

de crédito comercial está limitada a 12% ao ano, uniformizando o entendimento

no âmbito da 2ª Seção, ao fundamento da falta de autorização do Conselho

Monetário Nacional para a cobrança de taxas superiores, nos termos do art. 5º

do Decreto-Lei n. 413/1969, afastando a liberação consolidada na Súmula n.

596 do Colendo Supremo Tribunal Federal; REsp n. 111.881-RS, da minha

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

442

relatoria, DJ de 16.02.1998; REsp n. 156.785-RS, Relator o Senhor Ministro

Cesar Asfor Rocha, DJ de 21.02.2000. Não há, portanto, chance de êxito. Está

presente, assim, a Súmula n. 83 da Corte.

O quinto combate é sobre a capitalização dos juros. Aqui tem razão o banco

recorrente. Já assentou a Corte que nas cédulas de crédito comercial admite-se o

pacto de capitalização de juros (Súmula n. 93), não havendo fundamento para a

sua limitação semestral: REsp n. 156.785-RS, Relator o Senhor Ministro Cesar

Asfor Rocha, DJ de 21.02.2000; REsp n. 100.512-RS, Relator o Senhor Ministro

Waldemar Zveiter, DJ de 21.02.2000.

Finalmente, apresenta o especial a questão da mora na ação de busca e

apreensão. Mas, com todo respeito, neste ponto o especial não apontou qualquer

contrariedade a dispositivo de Lei Federal, salvo a genérica afi rmação de que a

ação de busca e apreensão está “em plena conformidade com os ditames do DL

n. 911/1969, motivo pelo qual deve ser mantida a decisão de primeiro grau, que

entendeu pela sua total procedência”.

Em conclusão: eu conheço do especial, em parte, e, nessa parte, dou-

lhe provimento para autorizar a cobrança da comissão de permanência não

cumulada com a correção monetária e a capitalização na forma pactuada.

RECURSO ESPECIAL N. 323.986-RS (2001.0060353-9)

Relatora: Ministra Nancy Andrighi

Recorrente: Banco Fiat S/A

Advogado: Adriana Bitencourt Bertollo e outros

Recorrido: Ina Helena da Silva Bueno

Advogado: José Odilon M Vitola

EMENTA

Direito Comercial e Econômico. Recurso especial. Alienação

fi duciária. CDC. Aplicabilidade. Juros. Limitação. Cédula de crédito

industrial. Capitalização.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 443

A atividade bancária de conceder fi nanciamento e obter garantia

mediante alienação fi duciária sujeita-se às normas protetivas do Código

de Defesa do Consumidor, no que couber, convivendo este estatuto

harmoniosamente com a disciplina do Decreto-Lei n. 911/1969.

Às cédulas de crédito comercial aplica-se a limitação de 12% ao ano

prevista na Lei de Usura.

Se a pretensão do recorrente quanto a capitalização mensal dos juros

depende da análise das cláusulas contratuais para atestar sua estipulação,

inviável se afi gura o Recurso Especial.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer do recurso

especial. Os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Ari Pargendler e Carlos

Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente,

ocasionalmente, o Sr. Ministro Castro Filho.

Brasília (DF), 28 de agosto de 2001 (data do julgamento).

Ministro Ari Pargendler, Presidente

Ministra Nancy Andrighi, Relatora

DJ 1º.10.2001

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi: Cuida-se de Recurso Especial interposto

por Banco Fiat S/A, com espeque no art. 105, III, alíneas a e c contra acórdão

proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande.

O ora recorrido propôs ação de conhecimento sob o rito ordinário em

face do recorrente, com o fi to de revisar cláusulas atinentes a contrato de

fi nanciamento garantido por alienação fi duciária, ao argumento de cobrança

excessiva de juros e demais encargos.

O pedido daquela ação foi julgado procedente para “determinar a revisão

do contrato, com a exclusão dos juros que excederem a 12% a.a., com a exclusão

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

444

da capitalização e parcelas dela decorrentes, e apuração do saldo devedor,

considerados os valores depositados no feito”.

Inconformado, o recorrente apelou ao eg. Tribunal a quo. O v. acórdão

restou assim ementado:

Alienação fi duciária.

Ação revisional.

Cédula de crédito comercial.

Procedência da revisional, com a possibilidade de revisão e aplicação do CDC.

A taxa de juros está limitada a 12% ao ano, quer no plano constitucional, quer no infraconstitucional.

Capitalização semestral dos juros.

A compensação e ou devolução dos valores pagos a maior se impõe, ante a procedência da demanda e reconhecimento da exigência de encargos abusivos ou ilegais.

Distribuição dos encargos sucumbenciais mantida.

Afi rma o recorrente que o acórdão recorrido:

a) contrariou o disposto no Decreto-Lei n. 22.626/1933 ao limitar os juros

em 12% ao ano;

b) hostilizou o art. 4º, inc. IX, da Lei n. 4.595/1964 porque cabe ao

Conselho Monetário Nacional limitar as taxas de juros, até que advenha a lei

regulamentadora do art. 192, § 3º da CF/1988, norma esta não auto-aplicável;

c) divergiu da jurisprudência de outro Tribunal quanto à periodicidade da

capitalização de juros;

d) afrontou a Lei n. 8.078/1990, por incabível à espécie, o que infi rma

a revisão contratual, inexistindo valores a serem devolvidos ou compensados;

Ressalta que o art. 52 do CDC voltou-se, única e exclusivamente ao crédito

direto ao consumo, não abrangendo as atividades bancárias, sendo que apenas a

vendedora do veículo poderia ser considerada fornecedora;

e) não são abusivos os juros contratados;

f ) o STF já sumulou o entendimento de que a limitação instituída pela Lei

da Usura é inaplicável às instituições fi nanceiras (Súmula n. 596);

g) merece reforma quanto à capitalização dos juros que deve ser mensal e

não semestral como determinado;

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 445

Requer, por fi m, para que sejam invertidos os ônus sucumbenciais.

Contra-razões às fl s. 183-194.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relatora): A insurgência do agravante

arrima-se na sujeição das instituições bancárias às disposições do CDC, à

limitação da taxa de juros a 12% ao ano e à capitalização semestral dos juros.

No que guarda pertinência com a limitação da taxa de juros, a Lei n.

4.595/1964 preceitua, em seu art. 4º, IX, ser da competência do Conselho

Monetário Nacional a limitação, sempre que necessário, das taxas de juros,

descontos, comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e

serviços bancários e fi nanceiros, inclusive os prestados pelo Banco Central do

Brasil.

Com o advento da referida lei, regulando especialmente o Sistema

Financeiro Nacional, afastou-se a incidência do Decreto n. 22.626/1933 no

tocante à limitação da taxa de juros a 12% ao ano, conforme dispõe o caput de

seu artigo 1º. Dessa forma, a limitação imposta pelo referido decreto não se

aplica às taxas de juros cobradas pelas instituições bancárias.

As discussões jurídicas acerca do tema, já analisadas pelo Excelso Pretório,

foram pacifi cadas e consubstanciaram-se no Enunciado Sumular n. 596 do

Supremo Tribunal Federal, que assim dispõe: “As disposições do Decreto n.

22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados

nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o

Sistema Financeiro Nacional”.

Este entendimento todavia não se aplica a hipótese de cédula de crédito

comercial que é regida por legislação específi ca.

Pelo teor do art. 5º do DL n. 413/1969, e posterior disciplina da Lei n.

6.840/1980, estando a cargo do Conselho Monetário Nacional fi xar as taxas

de juros aplicáveis aos títulos de crédito comercial mas, omitindo-se este em tal

mister, incide a regra do art. 1º da Lei de Usura que detém os juros limitados à

12% a.a.

Registrem-se, neste sentido os seguintes julgados: REsp n. 223.746-SP,

Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 29.11.1999; REsp n. 120.186-RS, Rel.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

446

Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ: 20.09.1999: REsp n. 204.856-RS, REsp n.

132.986-SC; DJ: 10.11.1997, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Rel. Min.

Barros Monteiro, DJ: 13.09.1999. Este último com a ementa seguinte:

Cédula de crédito comercial. Taxa de juros. Limitação.

1. A cédula de crédito comercial, no tocante à limitação dos juros, tem a mesma disciplina da cédula de crédito rural (art. 5º da Lei n. 6.840, de 03.11.1980, c.c. o art. 5º do Dec. Lei n. 413, de 09.01.1969). À míngua de fi xação pelo Conselho Monetário Nacional, incide a limitação de 12% ao ano prevista no Dec. n. 22.626/1933 (Lei de Usura). Precedentes da 2ª Seção e da C. Terceira Turma.

2. Inadmite-se a capitalização mensal dos juros, uma vez não expressamente pactuada. É descabida, em sede de recurso especial, a interpretação de cláusula contratual, para daí inferir-se a pactuação da pretendida capitalização mensal dos juros.

Recurso especial não conhecido.

Portanto, o v. acórdão recorrido, ao limitar a taxa de juros em 12% ao ano

em cédula de crédito comercial, ainda que por outro fundamento, decidiu em

consonância com a jurisprudência pacífi ca deste C. STJ.

Pela interpretação do art. 3º, § 2º, do CDC, constata-se que as instituições

bancárias estão elencadas no rol das pessoas de direito consideradas como

fornecedoras, para fi m de aplicação do Código de Defesa do Consumidor às

relações entre essas e os consumidores, no caso, correntistas e mutuários.

Esse é o entendimento assente nesta Corte. Registrem-se, nesse sentido, o

Recurso Especial n. 57.974, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 29.05.1995

e o Recurso Especial n. 175.795, Rel. Min. Waldemar Zveiter, DJ de 10.05.1999.

A hipótese analisada é de contrato bancário, em que o objeto do consumo é

o papel-moeda, o fi nanciamento. Havendo, pois, prestação de serviços realizado

pelo banco submete-se às disposições do Código de Defesa do Consumidor

(art. 3º, § 2º) naquilo que couber pois, este estatuto tem aplicação harmônica

com o Dec. Lei n. 911/1969, que permanece em vigor nas especialidades que

encerra.

Há que se lembrar, outrossim, que a compra e venda do veículo deu-se

gravado com ônus de penhor cedular constituído a favor do Banco Fiat S/A, na

forma de cédula de crédito comercial.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 447

ANTÔNIO CARLOS EFING1, em monografi a sobre o tema, leciona

que:

(...) mesmo em se tratando de título de crédito, aplicando-se-lhe as normas de direito cambial comum para as hipóteses de inadimplência, segundo o disposto pelo art. 52 do Decreto-Lei n. 413/1969, não restam dúvidas de que tanto a cédula de crédito como a nota de crédito possuem forma contratual, sendo passível de serem aplicadas as normas do CDC quanto às condições contratadas.

Uma vez constatada a existência de cláusula ou condição abusiva, segundo as regras de proteção e defesa do consumidor, poderão ser revistas tais condições, bem como declaradas nulas tais avenças.

Podemos destacar, dentre outras condições consideradas abusivas, segundo as regras de proteção e defesa do consumidor, poderão ser revistas tais condições, bem como declaradas nulas tais avenças.

Por tal razão, possível é a revisão do contrato de alienação fi duciária à luz das normas consumeristas.

Por fi m, a Súmula n. 93-STJ prescreve que a “legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de capitalização de juros”.

Entretanto no que diz respeito à capitalização mensal dos juros haveria necessidade de examinar as cláusulas contratuais para conferir se expressamente pactuada, o que não se coaduna com a Súmula n. 5 do STJ.

Forte em tais razões, não conheço do Recurso Especial.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 388.572-MS (2001.0176131-2)

Relator: Ministro Fernando Gonçalves

Recorrente: Banco do Brasil S/A

Advogado: Patrícia Netto Leão e outros

Recorrido: Otávio Ferreira Fernandes - fi rma individual

Advogado: Gilmar Garcia Tosta

1 EFING, Antônio Carlos. Contratos e procedimentos bancários à luz do Código de Defesa do Consumidor.

São Paulo; RT, 2000, p. 143

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

448

EMENTA

Direito Bancário. Cédula de crédito comercial. Capitalização mensal. Possibilidade. Comissão de permanência. Não incidência. Multa moratória. Redução. CDC.

1. A cédula de crédito comercial admite o pacto de capitalização mensal dos juros. Súmula n. 93-STJ.

2. As cédulas de crédito contam com disciplina legislativa específi ca, perpetrada pelo do Decreto-Lei n. 413/1969, onde inexiste previsão para cobrança da comissão de permanência. Precedentes.

3. As operações realizadas pelas instituições fi nanceiras guardam nítidos contornos de relação de consumo, o que implica na redução da multa moratória para o teto máximo de 2% para os contratos celebrados após o advento da Lei n. 9.298/1996 que alterou a redação do parágrafo primeiro do art. 52 do CDC. Precedentes.

4. Recuso especial parcialmente conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer parcialmente do recurso

especial e, nessa parte, dar-lhe provimento. Os Ministros Aldir Passarinho

Junior, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha votaram com o Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília (DF), 18 de novembro de 2003 (data do julgamento).

Ministro Fernando Gonçalves, Relator

DJ 1º.12.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Fernando Gonçalves: Trata-se de recurso especial interposto

pelo Banco do Brasil S/A, com fundamento nas alíneas a e c, inc. III, art. 105 da

Carta Constitucional, tendo como recorrido Otávio Ferreira Fernandes - fi rma

individual.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 449

Insurge-se o recorrente contra a decisão proferida pelo Tribunal de Justiça

do Estado do Mato Grosso do Sul, determinando: a) a impossibilidade de

incidência da capitalização mensal dos juros, mesmo se tratando de cédula de

crédito comercial; b) a ilegalidade da cobrança da comissão de permanência; c)

a redução da multa moratória de 10% para 2% em decorrência da aplicação do

Código de Defesa do Consumidor; e d) a divisão dos encargos em decorrência

da existência da sucumbência recíproca.

Sustenta maltrato ao art. 4º, incisos VI, IX e XVII da Lei n. 4.595/1964,

art. 5º do Decreto-Lei n. 413/1969, parágrafo único do art. 21 do Código de

Processo Civil, bem como dissenso jurisprudencial.É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Fernando Gonçalves (Relator): Em relação à possibilidade

de capitalização mensal dos juros razão assiste ao recorrente.

O débito exeqüendo origina-se de Cédula de Crédito Comercial, com

disciplina legislativa específi ca, consubstanciada no Decreto-Lei n. 413/1969

que admite o pacto de capitalização mensal, entendimento há muito assentado

por este Tribunal, na esteira da Súmula n. 93-STJ, verbis:

A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de capitalização de juros.

Quanto à irresignação da impossibilidade de incidência de comissão de

permanência, sem razão o recorrente.

Conforme supra salientado, a legislação específi ca que disciplina as Cédulas

de Crédito não prevê a possibilidade da cobrança da comissão de permanência.

Nesta linha, destaco os seguintes precedentes:

Civil. Juros remuneratórios. Limitação. Comissão de permanência. Capitalização mensal. Multa.

(...)

2 - O Decreto-Lei n. 413/1969, legislação específi ca, não admite a cobrança de comissão de permanência para a cédula de crédito comercial, parcela que, ao contrário, pode ser aplicada aos contratos de abertura de crédito, para o período de inadimplência, não podendo ser cumulada com correção monetária (Súmula n. 30-STJ) e nem com juros remuneratórios, calculada pela taxa média dos juros

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

450

de mercado, apurada pelo Banco Central do Brasil, tendo como limite máximo a taxa do contrato.

(...)

5 - Recurso especial conhecido e provido em parte. (REsp n. 424.036-GO; Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ de 18.08.2003).

Cédula de crédito comercial. Comissão de permanência. Código de Defesa do Consumidor. Prequestionamento.

(...)

2. Nas cédulas de crédito comercial, como também assentado em inúmeros precedentes, não é permitida a cobrança da comissão de permanência.

(...)

5. Recurso especial conhecido e provido, em parte. (REsp n. 473.853-DF; Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 25.08.2003).

É pacífi co, no âmbito desta Corte, a incidência do Código de Defesa do

Consumidor aos contratos celebrados com as instituições fi nanceiras, o que

implica na redução da multa moratória de 10% para 2% para as operações

realizadas após o advento da Lei n. 9.298/1996 - hipótese dos autos - que

alterou a redação do parágrafo primeiro do art. 52 do CDC, conforme inúmeros

precedentes:

Civil. Juros remuneratórios. Limitação. Comissão de permanência. Capitalização mensal. Multa.

(...)

4 - A redução da multa para 2% somente apresenta-se correta para a cédula de crédito comercial, emitida após a edição da Lei n. 9.298/1996, que alterou o CDC.

5 - Recurso especial conhecido e provido em parte. (REsp n. 424.036-GO; Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ de 18.08.2003).

Civil. Juros remuneratórios. Limitação. Comissão de permanência. Capitalização mensal. Multa. Revisão de contratos fi ndos.

(...)

4 - Tanto para o contrato de abertura de crédito como para a cédula de crédito comercial, emitidos após a edição da Lei n. 9.298/1996, que alterou o CDC, é correta a redução da multa de 10% para 2%.

(...)

6 - Recurso conhecido em parte e, nesta extensão, provido. (REsp n. 409.424-RS; Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ de 04.08.2003).

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 451

Prejudicada, por óbvio, a irresignação quanto ao suposto maltrato ao art. 21 do CPC, diante da sucumbência recíproca, mantido o percentual e forma dos encargos estabelecidos em primeira instância.

Pelo exposto, conheço parcialmente do recurso e lhe dou provimento.

RECURSO ESPECIAL N. 431.951-RS (2002.0048721-4)

Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Recorrente: Banco Cidade S/A

Advogados: Rogério Reis de Avelar

Francisco Antônio de Oliveira Stockinger e outros

Recorrido: Telmo Costa Xavier

Advogado: Nilo Leo Kruger

EMENTA

Recurso especial. Mútuo bancário comum. Instrumento particular de consolidação de dívida. Capitalização mensal. Taxa referencial. Comissão de permanência. Multa contratual. Código de Defesa do Consumidor. Compensação de créditos. Incidência da Súmula n. 7-STJ. Compensação de honorários advocatícios.

1. Incide a vedação quanto à capitalização dos juros estabelecida na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933), a teor da Súmula n. 121-STF.

2. A Taxa Referencial (TR), apenas, quando contratada, pode ser utilizada como índice de correção monetária. Incidência, na hipótese, da Súmula n. 5-STJ quanto à verifi cação do pacto.

3. A comissão de permanência, por si só, é legal, não cumulada com a correção monetária (Súmula n. 30-STJ), nem com os juros remuneratórios, devendo ser calculada considerando a taxa média do mercado, segundo a espécie de operação, apurada pelo Banco Central do Brasil (REsp n. 271.214-RS, 2ª Seção, julgado em 12.03.2003), limitada à taxa contratada.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

452

4. O Código de Defesa do Consumidor incide nos contratos bancários em geral, presente relação de consumo entre o cliente e a instituição fi nanceira.

5. Sendo a Lei n. 9.298, de 1º.08.1996, que alterou o art. 52, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, anterior ao contrato de mútuo, é devida a redução da multa para 2%.

6. Existência de crédito para compensação. Incidência da Súmula n. 7-STJ.

7. Restou pacifi cada nesta Corte que, havendo sucumbência recíproca, é possível a compensação dos honorários advocatícios.

8. Recurso especial conhecido e provido, em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar parcial provimento. Os Srs.

Ministros Nancy Andrighi, Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro votaram

com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Ari

Pargendler.

Brasília (DF), 22 de maio de 2003 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator

DJ 18.08.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Banco Cidade S/A

interpõe recurso especial, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo

constitucional, contra Acórdão da 18ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do

Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado:

Confi ssão de dívida. Juros. Limitação. Capitalização. Comissão de permanência. Correção monetária. Mora. Juros moratórios. Multa. Repetição de indébito.

Não é auto-aplicável a norma do § 3º, do artigo 192 da Constituição Federal, que limita a taxa de juros reais em 12% ao ano. Ainda vigora a Súmula n. 596

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 453

do STF. Às entidades integrantes do Sistema Financeiro Nacional se aplicam as disposições da Lei n. 5.495/1964. Prevalência dos juros pactuados no contrato.

Impossível a capitalização de juros, pois subsiste “a vedação do artigo 4º do Decreto n. 22.626/1933, no que diz com a capitalização de juros, não afetado pelas disposições da Lei n. 4.595/1964. Excetuam-se as hipóteses previstas em legislação específi ca, como sucede com as cédulas de crédito rural, industrial e comercial” (precedente do STJ).

É vedada a imposição de comissão de permanência vinculada a taxas aleatórias porque retira do devedor a possibilidade de fi scalização efi caz à falta de conhecimento de sua compleição.

O IGP-M é o índice que mais justamente repõe o poder aquisitivo da moeda, por isto aplicável nos contratos bancários, substitutivo da TR que carrega componente de remuneração do capital.

Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento no tempo, lugar e forma convencionados (artigo 955, do Código Civil).

É admissível a cobrança de juros de mora de 1% ao mês, desde que prevista a possibilidade no contrato.

A cláusula penal de 10% deve ser reduzida a 2% nos contratos fi rmados após a alteração introduzida no artigo 52 do CDC pela Lei n. 9.298, de 1º.08.1996.

É entendimento, não unânime na Câmara, de que a repetição de indébito só se viabiliza se a parte comprovar que pagou em erro, na forma do artigo 965, do Código Civil. Entretanto, considera-se que face ao posicionamento pela não limitação dos juros remuneratórios nada restará, em princípio, a ser devolvido, e a discussão se torna inócua.

Apelação provida em parte. (Voto vencido) (fl . 194).

Sustenta o recorrente negativa de vigência ao art. 4º do Decreto

n. 22.626/1933, bem como às Súmulas n. 93-STJ e n. 596-STF, porque as

instituições fi nanceiras podem pactuar juros capitalizados mensalmente.

Argúi violação ao art. 115 do Código Civil e à Súmula n. 30-STJ, tendo

em vista que é legal a utilização da Taxa Referencial como índice de correção

monetária e a cobrança da comissão de permanência às taxas de mercado.

Aduz contrariedade ao art. 52, § 1º, da Lei n. 8.078/1990, uma vez que as

operações de crédito não confi guram relação de consumo, não se aplicando o

Código de Defesa do Consumidor.

Alega ofensa aos artigos 1.010 do Código Civil e 23 da Lei n. 8.906/1994,

por ser indevida a compensação de créditos e de honorários advocatícios.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

454

Contra-arrazoado (fl s. 237 a 242), o recurso especial não foi admitido (fl s.

244 a 251), tendo seguimento por força de despacho proferido em agravo de

instrumento (fl s. 262-263).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): Ação revisional

de contrato bancário proposta pelo recorrido, contra o recorrente, Banco Cidade

S/A, julgada parcialmente procedente em primeiro grau para afastar a multa e

os juros moratórios; determinar a utilização do IGP-M como indexador; limitar

os juros em 12% ao ano, sem capitalização e admitir a compensação de valores.

A 18ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do

Sul negou provimento à apelação do banco.

No recurso especial, a instituição fi nanceira aduz ser legal a cobrança

da capitalização mensal de juros; da Taxa Referencial e da comissão de

permanência. Alega, ainda, ser indevida a compensação de créditos e de

honorários advocatícios e que o Código de Defesa do Consumidor não se aplica

ao presente contrato.

A razão do recorrente é, apenas, parcial.

Quanto à capitalização de juros, permanece em vigor a vedação de sua

incidência mensalmente no mútuo comum. Anote-se: REsp n. 255.079-RS, 3ª

Turma, de minha relatoria, DJ de 20.11.2000; REsp n. 279.022-RS, 4ª Turma,

Relator o Senhor Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 12.03.2001; REsp n.

180.940-RS, 3ª Turma, Relator o Senhor Ministro Waldemar Zveiter, DJ de

22.02.1999.

A Taxa Referencial, de fato, segundo a orientação deste Tribunal, pode ser

utilizada como índice de correção monetária quando pactuada. Anote-se:

Sub-rogação. Débito decorrente de cédula de crédito rural. Juros. Capitalização. Precedentes da Corte.

1. Como já decidiu a Corte, o “Decreto-Lei n. 167/1967, art. 5º, posterior à Lei n. 4.595/1964 e específi ca para as cédulas de crédito rural, confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fi xar os juros a serem praticados. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide a limitação de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933), não alcançando a cédula de crédito

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 455

rural o entendimento jurisprudencial consolidado na Súmula n. 596-STF (REsp n. 111.881-RS)”.

2. É admissível a utilização da TR para atualizar o débito em “relação às cédulas rurais nas quais se prevê a atualização com base nos índices fixados para a caderneta de poupança, eis que esta é remunerada pela referida taxa”.

3. Não há prequestionamento sobre os termos da previsão contratual da capitalização dos juros, limitando-se o acórdão recorrido a asseverar que foi a mesma pactuada, ausentes os embargos de declaração.

4. Recurso especial conhecido e provido, em parte. (REsp n. 215.726-SP, 3ª Turma, de minha relatoria, DJ de 26.06.2000).

Embargos à execução. Comercial. Contrato de confi ssão de dívida bancária. Correção monetária. TR. Previsão contratual. Incidência.

I. Não há vedação legal para utilização da TR como indexador de contrato de renegociação de dívida fi nanceira, desde que livremente pactuada. Precedentes.

II. Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 232.484-MS, 4ª Turma, Relator o Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 17.04.2000).

Taxa de juros. Limitação. Recurso especial que não aborda todos os fundamentos do acórdão recorrido quando um deles é sufi ciente para manter a decisão. Incidência da Súmula n. 283 do STF.

Taxa Referencial. Adoção como indexador, desde que pactuada. (REsp n. 198.245-RS, 3ª Turma, Relator o Ministro Eduardo Ribeiro, DJ de 20.09.1999).

Recurso especial assentado em dissídio jurisprudencial. Contrato de abertura de crédito. Limitação da taxa de juros. Capitalização dos juros. Súmulas n. 596 e n. 121-STF.

1. Conforme jurisprudência desta Corte, em regra, ao mútuo bancário não se aplica a limitação dos juros em 12% ao ano, estabelecida na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933, art. 1º). Incidência da Súmula n. 596-STF.

2. No tocante à capitalização dos juros, permanece em vigor a vedação contida na Lei de Usura, exceto nos casos excepcionados em lei, o que não ocorre com o mútuo bancário comum, tratado nos presentes autos.

3. Quando pactuada, é possível a aplicação da Taxa Referencial (TR) na atualização do débito, na linha de precedentes desta Corte.

4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. (REsp n. 181.042-RS, 3ª Turma, de minha relatoria, DJ de 22.03.1999).

No caso dos autos, entretanto, a sentença e o acórdão recorrido são omissos

quanto à efetiva existência de cláusula que imponha a utilização da Taxa

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

456

Referencial como índice de correção monetária. Nesse caso, o acolhimento da

pretensão recursal demandaria o reexame do contrato, operação vedada nesta

instância especial, a teor da Súmula n. 5-STJ.

A comissão de permanência, por sua vez, não é ilegal, sendo certo que,

conforme já decidido e pacifi cado nesta Corte, tem fi nalidade semelhante,

precipuamente, à da correção monetária, qual seja atualizar o valor da dívida,

a contar de seu vencimento. Foi criada antes da correção monetária, sendo

facultada, com base na Lei n. 4.595/1964 e na Resolução n. 1.129/86-Bacen, a

sua cobrança pelas instituições fi nanceiras por dia de atraso no pagamento do

débito.

Observe-se o que disse o Senhor Ministro Eduardo Ribeiro, no REsp

n. 4.443-SP, julgado em 09.10.1990, RSTJ 33/249-253, sobre a função da

comissão de permanência, verbis:

(...)

Cumpre ter-se em conta que a comissão de permanência foi instituída quando inexistia previsão legal de correção monetária. Visava a compensar a desvalorização da moeda e também remunerar o banco mutuante. Sobrevindo a Lei n. 6.899/1981, a primeira função do acessório em exame deixou de justifi car-se, não se podendo admitir que se cumulasse com a correção monetária, então instituída.

Por outro lado, a própria Resolução n. 1.129/1986, do Banco Central

do Brasil, no item I, estabelece que a comissão de permanência será calculada

às mesmas taxas pactuadas no contrato original ou à taxa de mercado do dia

do pagamento. Não há aí potestatividade, já que as taxas de mercado não são

fi xadas pelo credor, mas, sim, defi nidas pelo próprio mercado ante as oscilações

econômico-fi nanceiras, estas fi scalizadas pelo Governo que, como sói acontecer,

intervém para sanar distorções indesejáveis.

Afastada a potestatividade da comissão de permanência, deve observar-se,

ainda, que não há vedação legal para que esta, nos mútuos bancários comuns

regidos por normas gerais, seja utilizada como meio de atualizar o débito, em

substituição dos índices ofi ciais tradicionais. Basta que o contrato a preveja,

como no caso (fl . 200).

Assim, legal é a cobrança da comissão de permanência, não podendo ser

cumulada com a correção monetária, bastando, para tanto, a reprodução dos

seguintes precedentes desta Corte:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 457

Embargos à execução.

Afi rmando o acórdão recorrido que não há capitalização, conclusão contrária demandaria reexame dos fatos. Aplicação da Súmula n. 7.

Tem-se como legal a cobrança de comissão de permanência, quando não cumulada com correção monetária. (REsp n. 224.178-GO, 3ª Turma, Relator o Ministro Eduardo Ribeiro, DJ de 06.12.1999)

Contrato de abertura de crédito. Juros. Súmula n. 30 da Corte. Precedentes.

1. É fi rme a jurisprudência da Corte no sentido de não se aplicar a Lei de Usura nos contratos de conta-corrente, no que concerne à limitação da taxa de juros, presente a Súmula n. 596 do Supremo Tribunal Federal.

2. A Súmula n. 30 da Corte não afasta a comissão de permanência, mas, apenas, impede seja cumulada com a correção monetária.

3. Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 184.186-RS, 3ª Turma, de minha relatoria, DJ de 06.12.1999).

Nota de crédito comercial. Juros. Comissão de permanência. Precedentes da Corte.

1. Já decidiu a Corte que nas cédulas de crédito comercial, salvo se provada a autorização do Conselho Monetário Nacional, não cabe a cobrança de juros acima do limite fi xado pela legislação infraconstitucional. Aplicação do entendimento adotado no REsp n. 111.881-RS, publicado no DJ de 16.02.1998.

2. Se o acórdão recorrido afirmou não existir prova da autorização, sem mencionar nenhuma Resolução ou Circular específi ca sobre o assunto, não pode a Corte ter como presente a referida autorização.

3. É vedada a cumulação da correção monetária com a comissão de permanência (Súmula n. 30 da Corte), mas não a substituição da primeira pela segunda.

4. Recurso especial conhecido, em parte, e, nessa parte, provido. (REsp n. 192.984-RS, 3ª Turma, de minha relatoria, DJ de 21.02.2000).

Comercial. Comissão de permanência. Exigibilidade a partir do inadimplemento. Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 223.122-MG, 3ª Turma, Relator o Ministro Ari Pargendler, DJ de 28.02.2000).

Trago a debate, agora, outra questão relativa à comissão de permanência.

É que entendo deva o seu percentual variar conforme a taxa média do mercado,

segundo a espécie de operação, apurada pelo Banco Central do Brasil, nos

termos do procedimento previsto na Circular da Diretoria n. 2.957, de 28 de

dezembro de 1999, à semelhança do que ocorre com os juros remuneratórios

após o vencimento, nos termos do que foi decidido no julgamento do REsp n.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

458

139.343-RS, pela 2ª Seção, Relator o Senhor Ministro Ari Pargendler, DJ de

10.06.2002.

A idéia de limitar o percentual da comissão de permanência decorre do

voto que proferi no julgamento do REsp n. 298.369-RS, em 07.06.2001, no

qual se discutia a possibilidade de cumular, ou não, a comissão de permanência

com os juros remuneratórios após o vencimento. Segundo a orientação que

adotei no voto mencionado, a comissão de permanência, apesar de criada com o

objetivo primeiro de atualizar os débitos, é formada, essencialmente, por juros de

mercado, o que lhe confere um duplo objetivo, isto é, corrigir monetariamente e

remunerar o capital fi nanciado.

Para demonstrar a incidência dos juros, observo, inicialmente, que a

Resolução n. 15/66, item XIV, seguida pelas Circulares n. 77/67 e n. 82/67, todas

do Banco Central do Brasil, já previa a cobrança de comissão de permanência,

calculada sobre os dias de atraso e nas mesmas bases proporcionais de juros e

comissões cobradas ao cedente na operação primitiva.

Por sua vez, a Resolução n. 1.129/86, do Banco Central do Brasil, repetindo

o que disse anteriormente, estabelece que a comissão de permanência seguirá as

taxas pactuadas no contrato ou a taxa de mercado, podendo ser cobrada dos

devedores, também, por dia de atraso no pagamento ou na liquidação de seus

débitos. Em sentido semelhante foi editada a Resolução n. 1.572/89, do Banco

Central do Brasil.

Respondendo à consulta que formulei junto ao Banco Central do Brasil,

o Dr. Sergio Darcy da Silva Alves, Diretor da Diret, encaminhou o Ofício n.

2001/0939, de 24.04.2001, ao meu Gabinete, contendo a seguinte informação,

verbis:

(...)

5. No que tange à questão n. 2, que interroga de que forma é composta a comissão de permanência (por ex. correção monetária + juros), consigno que os encargos fi nanceiros cobrados nas operações realizadas no âmbito do mercado fi nanceiro, inclusive a comissão de permanência, podem ser compostos de juros pré-fi xados ou de juros e base de remuneração na forma da Circular n. 2.905, de 30.06.1995 desta Autarquia.

Finalmente, o Professor e Magistrado paranaense Munir Karam, sobre a

comissão de permanência, escreve:

(...)

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 459

Outro encargo decorrente da mora é a comissão de permanência. O que é a comissão de permanência? É a somatória (o total) dos ônus a cargo do devedor moroso, visando compensar o credor dos prejuízos com o atraso.

Na lição de BARROS LEÃES: “Diz ela respeito à obrigação do devedor em mora sujeitar-se a um acréscimo sobre os dias de atraso, ou seja, sobre o período em que o título permanece sem ser liquidado após o seu vencimento, nas mesmas bases proporcionais de juros, correção monetária e encargos cobrados na operação primitiva, para que também permaneça imutável o rendimento produzido pelo capital investido.

Muito se discute sobre a estrutura da comissão de permanência. Não se trata de uma discussão apenas retórica, porque do seu entendimento defl uem importantíssimos efeitos.

Essa criação nativa, no dizer de WALDÍRIO BULGARELLI, teria cunho apenas compensatório, sendo justificada a sua instituição para garantir o credor, em época de infl ação elevada, contra os prejuízos causados pela mora do devedor, daí constituir um verdadeiro prolongamento das condições contratuais até o seu efetivo cumprimento.

E por que o Conselho Monetário Nacional, pela Resolução n. 1.129, instituiu a comissão de permanência? É porque não existe nenhuma outra norma autorizando o credor a cobrar a correção, após o vencimento do título, exceto os juros moratórios. A correção, nos títulos de crédito, só é permitida nas vias judiciais (e não extrajudiciais), nos termos da Lei n. 6.899. É por isso que, nos pagamentos feitos no Cartório de Protesto, veda-se a correção monetária.

Entendemos porém duvidoso o caráter compensatório da comissão de permanência. Como se sabe, a cláusula penal compensatória visa ao inadimplemento completo da obrigação. Neste caso, tem o credor a faculdade de exigir ou a prestação em espécie, ou o pagamento da pena (art. 918, do CC). Ora, como se sabe, a comissão de permanência é acrescida ao valor do débito principal. Ela é exigida cumulativamente com o cumprimento da obrigação principal. (Da Mora do Devedor nos Contratos Bancários, in Jurisprudência Brasileira, 1989, vol. 149, p. 16).

Não há dúvida, portanto, de que a comissão de permanência enseja mais do

que uma simples correção monetária, já que em sua formação é encontrada taxa

de juros.

Como conseqüência, sendo a comissão de permanência composta, também,

de juros remuneratórios, deve sofrer a limitação destes, determinada, volto a

esclarecer, no julgamento do REsp n. 139.343-RS.

Quanto à questão referente à incidência do Código de Defesa do

Consumidor, foi decidido pela Segunda Seção desta Corte no REsp n. 106.888-

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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PR, Relator o Senhor Ministro Cesar Asfor Rocha, julgado em 28.03.2001, que as relações existentes entre os clientes e a instituição fi nanceira apresentam nítidos contornos de uma relação de consumo. Considerou-se que o parágrafo 2º do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor assevera textualmente que entre as atividades consideradas como serviço encontram-se as de natureza bancária, fi nanceira e creditícia. Assim sendo, os serviços prestados pelos bancos a seus clientes estão garantidos pela lei de defesa do consumidor, em especial as cadernetas de poupança e os contratos tipicamente bancários de concessão de crédito, em suas diversas formas: mútuos em geral, fi nanciamentos rural, comercial, industrial ou para exportação, contratos de câmbio, empréstimos para capital de giro, abertura de crédito em conta-corrente e abertura de crédito fi xo, ou quaisquer outras modalidades do gênero. Incidente, portanto, o Código de Defesa do Consumidor no caso em tela.

Em relação ao percentual da multa, como a Lei n. 9.298, de 1º.08.1996, que alterou o art. 52, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, é anterior ao contrato de mútuo, de 19.12.1997 (fl . 203), é devida a redução da multa para 2%. Observem-se os seguintes precedentes:

Contrato de abertura de crédito. Juros. Comissão de permanência. Multa. Capitalização. Precedentes da Corte.

1. Já está assentado na jurisprudência da Corte: a) nos contratos de abertura de crédito não existe a limitação dos juros em 12% ao ano; b) é possível a cobrança da comissão de permanência a partir do inadimplemento, desde que não cumulada com a correção monetária, a teor da Súmula n. 30 da Corte; c) nos contratos de abertura de crédito não é possível a capitalização dos juros.

2. Se a lei especial que reduziu a multa prevista no art. 52, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor foi posterior ao contrato, aplica-se a multa nele prevista, nos limites constantes do próprio Código de Defesa do Consumidor, na redação então vigente, inaplicável o art. 924 do Código Civil.

3. Recurso especial conhecido e provido, em parte. (REsp n. 244.076-MG, 3ª Turma, de minha relatoria, DJ de 30.04.2001).

Contrato de abertura de crédito. Não observância do princípio tantum devolutum quantum appellatum. Taxa dos juros remuneratórios. Súmula n. 596-STF. Redução da multa de 10% para 2%. Inadmissibilidade no caso. - Havendo incorrido o julgado em ofensa ao princípio tantum devolutum quantum appellatum, dele expungem-se os excessos cometidos, por aplicação do brocardo utile per inutile non vitiatur.

- Cuidando-se de operações realizadas por instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional, não se aplicam as disposições do Decreto n. 22.626/1933 quanto à taxa dos juros remuneratórios. Súmula n. 596-STF.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 461

- Prevalecimento no caso da multa de 10% ante o entendimento de que as normas do Código de Defesa do Consumidor não retroagem para alcançar avenças celebradas antes de sua vigência.

Recurso especial conhecido, em parte, e provido. (REsp n. 247.504-RS, 4ª Turma, Relator o Ministro Barros Monteiro, DJ de 21.08.2000).

Comercial. Nota de crédito comercial. Multa moratória. Cabimento. Lei n. 9.296/1996. Inaplicabilidade nos contratos anteriores à sua vigência.

I. A redução da multa para 2%, tal como defi nida na Lei n. 9.296/1996, somente é possível para os contratos celebrados após sua vigência. Precedentes da Corte.

II. Recurso especial provido. (REsp n. 257.001-SC, 4ª Turma, Relator o Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 09.10.2000).

Em relação à alegada ausência de crédito para compensação, o acórdão

recorrido afirmou estar “demonstrada a existência de crédito em favor da

apelada em face dos expurgos determinados, e saldo devedor em favor do Banco

em relação aos contratos” (fl s. 204), sendo inviável o reexame da matéria, a teor

da Súmula n. 7-STJ.

No tocante à compensação dos honorários advocatícios, não merece

trânsito o recurso especial. A matéria restou pacifi cada nesta Corte com o

julgamento do REsp n. 290.141-RS na Corte Especial, Relator para Acórdão o

Senhor Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, DJ de 31.03.2003, onde se decidiu

que, havendo sucumbência recíproca, é possível a compensação dos honorários.

No mesmo sentido:

Honorários de advogado. Procedência parcial da ação. Compensação. Direito autônomo. Cédula rural. Juros. Capitalização.

1. O Cód. de Pr. Civil, no art. 21, ordena se aplique a regra da compensação, enquanto a Lei n. 8.906/1994, no art. 23, estabelece que os honorários pertencem ao advogado, tendo ele direito autônomo para executar.

2. Sucede, no entanto, que tais normas não são incompatíveis entre si, sendo lícito entender-se que uma não incomoda a outra, convivendo ambas perfeitamente no mundo jurídico.

3. Em caso de sucumbência recíproca, admite-se, por conseguinte, a compensação, ao ver de precedentes da 4ª Turma, entre outros, os REsp’s n. 149.147 e n. 186.613, cuja orientação foi, no presente caso, acolhida pela 2ª Seção, por maioria de votos. Improcedência da alegação de ofensa a texto de Lei Federal.

4. “A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de capitalização de juros” (Súmula n. 93). Neste ponto, “Não se conhece do

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recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se fi rmou no mesmo sentido da decisão recorrida (Súmula n. 83)”.

5. Recurso especial não conhecido. (REsp n. 155.135-MG, 2ª Seção, Relator o Ministro Nilson Naves, DJ de 08.10.2001).

Ante o exposto, conheço parcialmente do recurso e, nessa parte, dou-lhe provimento para autorizar a cobrança da comissão de permanência, não cumulada com a correção monetária, nos termos da Súmula n. 30 da Corte, nem com os juros remuneratórios. A comissão de permanência deverá ser calculada considerando a taxa média do mercado, segundo a espécie de operação, apurada pelo Banco Central do Brasil (REsp n. 271.214-RS, 2ª Seção, julgado em 12.03.2003), limitada à taxa contratada. Custas proporcionais, nos termos do art. 21 do Código de Processo Civil, e honorários advocatícios fi xados em 10% sobre o valor da causa, na proporção do respectivo proveito, compensados.

RECURSO ESPECIAL N. 500.011-PR (2003.0024642-1)

Relator: Ministro Castro Filho

Recorrente: Banco Citibank S/A

Advogado: Fabíola Polatti Cordeiro Fleischfresser e outros

Recorrido: Márcio Albino Darin e outros

Advogado: Claudinei Belafronte e outros

EMENTA

Recurso especial. Contratos bancários. Mútuo e confissão de dívida. CDC. Aplicabilidade. Atualização monetária pela TR. Pactuação. Possibilidade. Multa moratória. Contrato anterior à Lei n. 9.298/1996. Aplicabilidade da multa pactuada. Limitação dos juros. Lei n. 4.595/1964. Alegação de novação. Sumula n. 5-STJ.

I - É pacífico o entendimento nesta Corte no sentido da aplicabilidade das disposições do Código de Defesa do Consumidor aos contratos bancários, estando as instituições fi nanceiras inseridas na defi nição de prestadores de serviços, nos termos do artigo 3º, § 2º, do aludido diploma legal.

SÚMULAS - PRECEDENTES

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II - A taxa referencial pode ser adotada como indexador, desde

que expressamente pactuada.

III - A multa moratória é devida no percentual de 10% (dez

por cento), no caso de contrato fi rmado anteriormente à edição da

Lei n. 9.298/1996, devendo o percentual ser reduzido para 2% (dois

por cento) tão-somente no caso de pacto celebrado posteriormente à

referida alteração do Código de Defesa do Consumidor.

IV - No que se refere à taxa de juros, entende a Segunda Seção

deste Tribunal merecer prevalecer o entendimento consagrado na

Súmula n. 596 do Supremo Tribunal Federal e a legislação específi ca,

devendo ser reconhecidos eventuais abusos tão-somente quando

comprovado nos autos que discrepantes os juros pactuados em

relação à taxa média do mercado (REsp n. 271.214-RS, julgado em

12.03.2003).

V - Afastada a ocorrência de novação em razão da continuidade

negocial, tendo o contrato de confi ssão de dívida a função de amortizar

o débito decorrente dos contratos de mútuo, o reexame da questão

encontra óbice no Enunciado da Súmula n. 5 desta Corte.

Recurso especial parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, acordam os Srs. Ministros da

Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso

especial e, nessa parte, dar-lhe provimento nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator.

Os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro e Carlos Alberto Menezes

Direito votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros Ari Pargendler e Nancy

Andrighi.

Brasília (DF), 21 de outubro de 2003 (data do julgamento).

Ministro Castro Filho, Relator

DJ 10.11.2003

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RELATÓRIO

O Sr. Ministro Castro Filho: - Trata-se de recurso especial interposto

por Banco Citibank S/A, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo

constitucional, contra acórdão da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça

do Estado do Paraná, que deu parcial provimento à apelação de Márcio Albino

Darin e outros e negou provimento ao recurso adesivo da instituição bancária,

contra sentença que julgara improcedente pedido deduzido em ação ordinária

de revisão de contratos bancários (fl s. 427 a 437).

O acórdão recorrido restou assim ementado:

Apelação cível. Contrato de mútuo. Posterior contrato de confissão de dívida. Aplicação dos ditames do Código de Defesa do Consumidor. Laudo pericial. Limitação dos juros ao patamar de 12% ao ano. Art. 192, § 3º do CPC. Anatocismo. Inocorrência. Correção monetária c.c. comissão de permanência. Inexistência. Substituição da TR pelo índice do INPC. Multa contratual fixada em 2%. Despesas processuais reequacionadas. Recurso adesivo. Ocorrência de novação. Descabimento. Sentença reformada. Apelo provido parcialmente e recurso adesivo desprovido.

1 - O Código de Defesa do Consumidor deve ser aplicado aos contratos bancários.

2 - O artigo 192, § 3º da Constituição Federal é norma auto-aplicável não necessitando de regulamentação.

3 - A verba honorária deve ser suportada na proporção da derrota de cada parte.

4 - O Contrato de Confi ssão de Dívida teve a função de amortizar a dívida decorrente dos contratos de mútuo fi rmados entre as partes, consistindo assim em renegociação e não em novação.

Os embargos de declaração opostos foram rejeitados.

Em suas razões, a instituição bancária alega violação aos artigos 2º, § 3º,

43 e 52, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, 82, 145 e 999, I, do antigo

Código Civil, 129 do Código Comercial e 1º do Decreto n. 22.626/1933, além

de dissídio jurisprudencial.

Insurge-se contra a aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos

contratos bancários, o afastamento da TR enquanto indexador do contrato,

a redução da multa moratória pactuada, a limitação dos juros e a revisão dos

contratos anteriores à novação que reputa ocorrida com a confi ssão da dívida.

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Com contra-razões (fl s. 762 a 812), o recurso foi admitido pelo Des.

Troiano Netto, então Presidente do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do

Paraná (fl s. 846 a 849).

É o breve relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Castro Filho (Relator): - De início, ressalte-se ser pacífi co

o entendimento nesta Corte no sentido da aplicabilidade das disposições

do Código de Defesa do Consumidor aos contratos bancários, estando as

instituições fi nanceiras inseridas na defi nição de prestadores de serviços, nos

termos do artigo 3º, § 2º, do aludido diploma legal.

Confi ram-se, entre outros, os seguintes julgados: REsp n. 330.906-RS,

DJ 02.10.2001 (Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro); REsp n. 323.986-

RS, DJ 1º.10.2001 (Rel. Min. Nancy Andrighi); REsp n. 263.642-RS, DJ

20.08.2001 (Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito); REsp n. 213.825-

RS, DJ 22.08.2000 (Rel. Min. Barros Monteiro); e REsp n. 175.795-RS, DJ

10.05.1999 (Rel. Min. Waldemar Zveiter).

Com razão, no entanto, o Banco, no que se refere ao índice de correção

monetária, existindo entendimento pacífi co neste Superior Tribunal no sentido

de que é legítima a utilização da taxa referencial como índice de atualização,

desde que pactuada no contrato. Proíbe-se, tão-somente, o seu uso como

substitutivo de índices já extintos, em ajustes que não a previam.

A propósito, confi ram-se: REsp n. 304.727, Rel. Min. Carlos Alberto

Menezes Direito, DJ 25.2002; REsp n. 300.063, rel. Min. Carlos Alberto

Menezes Direito, DJ 25.03.2002; REsp n. 334.175, Rel. Min. Cesar Asfor

Rocha, DJ 18.03.2002; REsp n. 280.302, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes

Direito, DJ 15.10.2001; REsp n. 218.369, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ

21.08.2000; REsp n. 173.573, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 1º.02.1999;

REsp n. 173.386, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 1º.02.1999; e REsp n.

154.392, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ 30.11.1998.

Entende este Tribunal ser a multa moratória devida no percentual de

10% (dez por cento), no caso de contrato fi rmado anteriormente à edição da

Lei n. 9.298, de 1º.08.1996, devendo o percentual ser reduzido para 2% (dois

por cento) tão-somente no caso de pacto celebrado posteriormente à referida

alteração do Código de Defesa do Consumidor. Confi ram-se:

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Direito Bancário. Cédula rural pignoratícia e hipotecária. Multa contratual. Aplicação do CDC. Taxa de juros. Limitação.

I - Os contratos bancários confi guram relação de consumo, incidindo sobre eles o Código de Defesa do Consumidor.

II - Sendo a cédula rural pignoratícia anterior à Lei n. 9.298, de 1º.08.1996, que alterou o art. 52, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, aplica-se a multa nela prevista, de 10% (dez por cento), nos limites constantes do próprio CDC, em sua redação originária.

III - (...) omissis (...)

Agravos regimentais a que se nega provimento.

(AGA n. 355.047-GO, Terceira Turma, minha relatoria, DJ 04.02.2002).

Cédula rural. Embargos à execução. Taxa Referencial (TR). Omissões inexistentes. Título executivo. Cálculos aritméticos. Multa de 10% ou de 2%. Código de Defesa do Consumidor. Honorários advocatícios. Compensação.

1. Admite-se a utilização da Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária quando prevista expressamente ou quando contratado o índice da caderneta de poupança, já que esta é remunerada com base na referida taxa.

2. (...) omissis (...)

3. (...) omissis (...)

4. A Lei n. 9.298/1996 reduziu de 10% para 2% do valor da prestação a multa prevista no art. 52, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/1990), que somente se aplica aos contratos posteriormente fi rmados.

5. (...) omissis (...)

6. Recurso especial do banco conhecido e provido. Recursos dos embargantes não conhecido.

(REsp n. 177.637-RS, Terceira Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 23.10.2000).

Comercial. Cédula de crédito rural. Correção monetária. TR. Multa moratória. 10%.

I. Não há vedação legal para a utilização da TR como indexador de cédula de crédito rural livremente pactuada. Precedentes da Corte.

II. Legítima é a cobrança da multa de 10% prevista no contrato, no caso de inadimplemento da obrigação, fi rmado antes da vigência da Lei n. 9.298/1996, que modifi cou o Código de Defesa do Consumidor.

III. Recurso especial conhecido e provido.

(REsp n. 260.874-RS, Quarta Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ 20.11.2000).

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 421-467, agosto 2011 467

No mesmo sentido, destaquem-se, ainda: REsp n. 261.191-PR, Quarta

Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 05.03.2001; REsp n. 188.434-RS,

Quarta Turma, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ 05.04.1999.

Com razão ainda o Banco, no que se refere à questão da limitação dos juros,

pois entende a Segunda Seção deste Superior Tribunal de Justiça prevalecer o

entendimento consagrado na Súmula n. 596 do Supremo Tribunal Federal e a

legislação específi ca, devendo ser reconhecidos eventuais abusos tão-somente

quando comprovado nos autos que discrepantes os juros pactuados em relação

à taxa média do mercado (REsp n. 271.214-RS, julgado em 12.03.2003, Rel. p/

acórdão o Min. Carlos Alberto Menezes Direito).

Por fi m, tendo o Tribunal local expressamente decidido que se infere

“do contrato de confi ssão de dívida acostado às fl s. 77-78 dos autos que em

momento algum houve a menção expressa da intenção de novar”, mas que “teve

a função de amortizar a dívida decorrente dos contratos de mútuo fi rmados

entre as partes, consistindo assim em renegociação e não em novação” (fl .

670), entendo que a discussão sobre a ocorrência ou não de novação implicaria

reexame de cláusulas contratuais, inviável na via eleita, por expressa disposição

do Enunciado n. 5 da Súmula desta Corte.

Nesse sentido, entre outros precedentes: REsp n. 331.577-RS, Rel. Min.

Aldir Passarinho Junior, DJ 04.02.2002; REsp n. 256.041-RS, Rel. Min. Carlos

Alberto Menezes Direito, DJ 13.08.2001; e AG n. 427.744-SP, da minha

relatoria, DJ 12.11.2002.

Feitas essas considerações, dou parcial provimento ao recurso especial, para

permitir a correção monetária pela TR, desde que expressamente pactuada,

manter a multa moratória no percentual pactuado e afastar a limitação dos juros.

Em virtude da sucumbência recíproca entre as partes, determino a

distribuição dos ônus sucumbenciais na proporção de 90% (noventa por cento)

pelos recorridos e 10% pelo recorrente, redistribuídos os honorários advocatícios

fi xados pelo Tribunal: R$ 2.400,00 em favor dos recorridos e R$ 21.600,00 em

favor do recorrente.

É como voto.