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Súmula n. 291
SÚMULA N. 291
A ação de cobrança de parcelas de complementação de aposentadoria pela
previdência privada prescreve em cinco anos.
Referências:
Lei Complementar n. 109/2001, art. 75.
CC/1916, art. 178, § 10, II.
Lei n. 8.213/1991, art. 103.
Precedentes:
REsp 89.416-DF (3ª T, 27.04.1998 – DJ 03.08.1998)
REsp 173.826-RS (3ª T, 21.09.1999 – DJ 13.12.1999)
REsp 203.963-RS (4ª T, 03.06.2003 – DJ 08.09.2003)
REsp 297.547-MG (3ª T, 16.05.2002 – DJ 05.08.2002)
REsp 424.181-RS (3ª T, 06.12.2002 – DJ 10.03.2003)
REsp 450.352-RS (4ª T, 03.02.2004 – DJ 16.02.2004)
REsp 466.693-PR (4ª T, 07.08.2003 – DJ 22.09.2003)
Segunda Seção, em 28.04.2004
DJ 13.05.2004, p. 201
RECURSO ESPECIAL N. 89.416-DF (96.0012384-5)
Relator: Ministro Eduardo Ribeiro
Recorrente: Euridice Carolina Pessoa Faria
Recorrido: Capemi Caixa de Pecúlios Pensões e Montepios Benefi cente
Advogados: Benedito José Barreto Fonseca e outros
Antônio Walter Galvão
EMENTA
Previdência privada. Pensão. Prescrição de parcelas não pagas integralmente.
Contrato de seguro, embora com peculiaridades, podendo, em certas circunstâncias, ser assimilado ao de constituição de renda. Não incidência da prescrição vintenária.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Menezes Direito e Costa Leite.
Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Nilson Naves e Waldemar Zveiter.
Brasília (DF), 27 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro Costa Leite, Presidente
Ministro Eduardo Ribeiro, Relator
DJ 03.08.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Trata-se de ação ajuizada por Eurídice
Carolina Pessoa Faría, sendo ré Capemi - Caixa de Pecúlios, Pensões e
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
218
Montepios Benefi cente. Pretende a autora que se mantenha a atualização da pensão, havida por morte de seu marido, pelas regras iniciais que determinavam reajustes de acordo com os do soldo correspondente ao posto de coronel.
A sentença julgou procedente em parte o pedido, excluída a pretensão da autora de receber 10% dos resultados dos balanços anuais da ré.
A autora manifestou dois embargos de declaração, acolhido o primeiro e rejeitado o segundo.
Recorreram as partes, tendo sido negado provimento a ambas apelações.
Esta a ementa do acórdão:
Previdência privada. Capemi. Pensão. Reajuste.
A lei de ordem pública não tem aplicação imediata aos contratos em curso.
A idéia de ordem pública não pode ser posta em oposição ao princípio da não-retroatividade da lei, pelo motivo que, numa ordem jurídica fundada em lei, a não-retroatividade das leis, é ela mesma uma das colunas de ordem pública.
A autora interpôs recurso especial. Alegou que contrariados os artigos 177 e 178, § 10, II do Código Civil, bem como divergência com julgados que arrolou. Argumentou que a obrigação da ré, de pagar o pecúlio, decorre de um contrato, sendo inadmissível entender-se incidir a prescrição qüinqüenal. Admitido pela letra a do permissivo constitucional.
A ré também utilizou-se do especial que não foi admitido.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): - Sustenta o recurso que o acórdão violou o disposto nos artigos 178 § 10, II e 177 do Código Civil, na medida em que deixou de aplicar o último, por ter o primeiro como incidente. Afi rma que, sendo a pensão fruto de contrato, a ação é de natureza pessoal.
Não há a menor dúvida de que o direito em questão é pessoal. Isso, entretanto, de nenhum modo é decisivo para o julgamento. As obrigações pessoais sujeitam-se, em regra, à prescrição vintenária. Numerosos outros prazos menores são previstos, entretanto, quanto a relações jurídicas com essa natureza.
Tenho para mim que se trata de um contrato de seguro, embora com algumas peculiaridades que o fazem participar, também, em algumas de suas manifestações, da constituição de renda.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 219
No caso específi co em exame, tem-se um contrato de seguro. Mediante o pagamento de determinadas prestações, que correspondem ao prêmio, cobriu-se o risco morte. Verifi cado esse fato, surgiu a obrigação de efetuar, à benefi ciária, o pagamento das prestações.
Já antiga doutrina se referia ao montepio como um seguro de vida, como se verifi ca de Clóvis, ao comentar o artigo 1.430 do Código Civil. E a Lei n. 6.435/1977 vincula a previdência privada aberta ao sistema de seguros.
Quando se trate de prestações devidas ao próprio segurado, não em virtude de acidente, mas por decurso de tempo, poder-se-á ter a fi gura da constituição de renda.
Seja uma a hipótese, seja a outra, de qualquer sorte terá havido prescrição das parcelas de que se cuida no recurso.
Não conheço do especial. O dissídio não está demonstrado. A questão relativa a tratar-se de contrato de constituição de renda foi afastada em virtude de circunstâncias de fato do caso concreto no julgamento invocado do Supremo Tribunal Federal.
RECURSO ESPECIAL N. 173.826-RS (98.0032208-6)
Relator: Ministro Waldemar Zveiter
Recorrente: Associação dos Funcionários do Banco da Província do Rio Grande do Sul S/A - DAB e outros
Advogado: Athos Gusmão Carneiro e outros
Recorrido: Adão Alves de Oliveira e outros
Advogado: José Alves da Rocha
Sustentação oral: Athos Gusmão Carneiro, pelos recorridos
EMENTA
Previdência privada. Complementação de aposentadoria. Bancários. Insurgência assentada em disposições estatutárias e regulamentares, de apreciação inviável no especial (Súmula n. 5-STJ). Prescrição quinquenal. Precedentes. Provimento parcial do recurso.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
220
I - A estreita via do recurso especial não comporta o reexame de
pretensão articulada com fundamento em disposições estatutárias e
regulamentares de entidades de previdência privada.
II - Consolida-se nesta Corte jurisprudência no sentido de
que, em se tratando de parcelas devidas em decorrência de plano de
benefício de previdência privada, prevalece a prescrição qüinqüenal,
prevista na legislação de regência (Lei n. 8.213, de 24.07.1991, art.
103), não incidindo a prescrição vintenária.
III - Recurso especial conhecido em parte e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e dar-lhe provimento. Sustentou oralmente, o Dr. Athos Gusmão Carneiro, pelos recorrentes. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Ari Pargendler, Menezes Direito, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro.
Brasília (DF), 21 de setembro de 1999 (data do julgamento).
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente
Ministro Waldemar Zveiter, Relator
DJ 13.12.1999
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Adão Alves de Oliveira e outros, bancários aposentados, ajuizaram ação de rito ordinário contra a Associação dos
Funcionários do Banco da Província do Rio Grande do Sul S/A e outras entidades de previdência privada, visando a complementação de seus proventos, quanto a valores inerentes à Gratifi cação Especial de Função e ao Abono de Permanência em Serviço, na forma de inclusão, complementação e/ou reajuste.
Em Primeiro Grau, o pedido foi julgado procedente e estabelecida a prescrição vintenária.
Inconformados com o improvimento de sua apelação, por decisão unânime
da Quinta Câmara Cível do Eg. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 221
do Sul, os Réus manifestaram recurso especial, com fundamento nas alíneas a e
c, do permissivo constitucional, sob a alegação de negativa de vigência aos arts.
178, § 10, II e 1.090, do Código Civil, além da dissidência exegética.
Propugnam pela prevalência na prescrição qüinqüenal, argüindo
o cabimento da aplicação subsidiária da legislação da previdência ofi cial às
entidades de previdência privada, especificamente o art. 103, da Lei n.
8.213/1991, que prevê tal prazo prescricional e, quanto ao mérito, aduzem a
ilegitimidade do pleito, ao argumento de que a pretendida complementação de
proventos não está prevista em seus respectivos regulamentos, cujas disposições
hão de ser interpretadas de maneira restritiva, sob pena de haver ofensa ao
citado art. 1.090, da Lei Substantiva.
Na demonstração do dissídio, apontam julgados dos Tribunais Regionais
do Trabalho da Segunda e Quarta Regiões, tanto no que diz com a prescrição
como no que tange ao mérito.
Oferecidas as contra-razões (fl s. 262-264) o recurso foi admitido pela letra
c, ao entendimento de que caracterizado dissídio, no atinente à prescrição.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): A pretensão de ofensa ao
art. 1.090, do Código Civil e de dissídio jurisprudencial, quanto ao direito à
complementação de proventos, está assentada em disposições regulamentares
e estatutárias, cujo reexame, em sede de especial, se acha vedado pela Súmula
n. 5, deste Superior Tribunal de Justiça. Daí que, nesse ponto, o apelo não logra
prosperar.
No atinente à prescrição, em que se pretendeu violada o art. 178, § 10, II, do
Código Civil, apesar de os Recorrentes não haverem enfrentado os fundamentos
do aresto, no sentido de que a “complementação da aposentadoria representa
negócio jurídico diverso da constituição de renda, prevista no art. 1.424, do
Código Civil”, merecendo prescrição vintenária, melhor sorte lhes assiste nessa
parte, porque caracterizado o dissídio com a jurisprudência desta Corte, segundo
a qual, em tais hipóteses, aplica-se a Lei Especial de regência (Lei n. 8.213, de
24.07.1991, art. 103), que prevê a prescrição qüinqüenal, e não o art. 177, do
Código Civil.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
222
Vale conferir as razões deduzidas pelo Exmo. Sr. Ministro Menezes Direito,
no Recurso Especial 180.833-RJ, de que foi relator, acórdão publicado no DJ.
1º.07.1999:
Tem razão a entidade apelante no que se refere à prescrição. No caso, aplica-se a lei especial de regência e não o art. 177 do Código Civil. Em precedente de que foi Relator o Ministro Willian Patterson, fi cou assentado:
Na verdade, a prescrição, in casu, está claramente prevista na legislação de regência (Lei n. 6.435, de 1977 - art. 94), ao mandar observar o critério do regime da previdência social. É ler-se:
Art. 94 - Ressalvado o disposto no parágrafo 3º do art. 14, aplicam-se ao recebimento das importâncias mensais das suplementações os mesmos critérios previstos nos artigos 418 e 419 do Regulamentado Regime Jurídico da Previdência Social (Decreto n. 72.771, de 06 de setembro de 1973).
Tal recomendação é, atualmente, regra contida na Lei n. 8.213, de 24.07.1991 (art. 103).
Isso é o bastante para a consideração do princípio. Já que não se discute a prescrição do fundo de direito, por se cuidar de prestação de trato sucessivo, onde, apenas, tem lugar a quinquenal, penso que, na execução, poder-se-á apurar as parcelas que estão sob alcance do instituto jurídico (REsp n. 61.134-RJ, DJ de 12.05.1997; no mesmo sentido: REsp n. 135.584-RJ, Relator o Ministro José Arnaldo, DJ de 1º.12.1997).
No REsp n. 89.416-DF (DJ de 03.08.1998), relator o Ministro Eduardo Ribeiro, afastando a prescrição vintenária, destacou a ementa:
Previdência privada. Pensão. Prescrição de parcelas não pagas integralmente.
Contrato de seguro, embora com peculiaridades, podendo, em certas circunstâncias, ser assimilado ao de constituição de renda. Não incidência da prescrição vintenária.
Forte em tais lineamentos, conheço do recurso pela letra c, e lhe dou
provimento, para reformar o acórdão na parte relativa à prescrição, e nessa
parte para reconhecê-la qüinqüenal, apurando-se em liquidação as parcelas
alcançadas.
É como voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 223
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Sr. Presidente, acompanho o voto do
eminente Ministro Relator para reconhecer a prescrição das parcelas vencidas e
não pagas há mais de 05 anos antes da propositura da ação.
RECURSO ESPECIAL N. 203.963-RS (99.0013247-5)
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira
Recorrente: MBM Previdência Privada
Advogado: Darci de oliveira e outro
Recorrido: Doralina Ferreira Benites
Advogado: Teresinha de Brito e outro
EMENTA
Civil e Processual Civil. Prescrição extintiva. Possibilidade de ser alegada pela primeira vez na apelação. Precedentes. Doutrina. Arts. 162, CC/1916 (193, CC/2002) e 303, III, CPC. Previdência privada. Benefícios. Prescrição qüinqüenal. Art. 178, § 10, II, CC/1916. Precedentes. Recurso provido.
I - Na linha da jurisprudência desta Corte, a prescrição extintiva pode ser alegada em qualquer fase do processo, nas instâncias ordinárias, mesmo que não tenha sido deduzida na fase própria de defesa.
II - É qüinqüenal a prescrição, em casos de parcelas oriundas dos planos de previdência privada, nos termos do art. 178, § 10, II, do Código Civil de 1916.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
224
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, ressalvado o ponto de vista do Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Junior. Ausente, ocasionalmente, o Ministro Fernando Gonçalves. Presidiu a Sessão o Ministro Aldir Passarinho Junior.
Brasília (DF), 03 de junho de 2003 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator
DJ 08.09.2003
EXPOSIÇÃO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Trata-se de recurso especial
contra acórdão assim ementado:
Previdência privada. Prescrição em nível recursal. Impossibilidade. Art. 162 do Código Civil.
A prescrição pode ser alegada em qualquer instância enquanto a causa pender de julgamento, mas evidentemente deverá ser feita no momento processual em que a parte argüente falar pela primeira vez no processo.
Após a sentença, somente se superveniente.
Alegação intempestiva.
Embargos infringentes desacolhidos (fl . 329, v. 2).
Aponta a recorrente violação dos arts. 162 e 178, § 10, II, CC/1916, e 303, III, CPC, além de divergência jurisprudencial. Sustenta que, no processo de conhecimento, a prescrição pode ser alegada pela primeira vez na apelação. Pretende o reconhecimento do prazo prescricional de cinco anos, “determinando o pagamento das pensões vencidas desde cinco anos anteriores ao ajuizamento da ação” (fl . 355), em vez do período de abril de 1982 a abril de 1989, como descrito na inicial.
Contra-arrazoado, foi o recurso admitido na origem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): 1. A prescrição
pode ser alegada pela primeira vez na apelação, pela parte a quem aproveita, na
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 225
linha do art. 162, CC/1916, correspondente ao 193 do novo Código Civil (Lei
n. 10.406/2002). Neste sentido orienta-se a jurisprudência desta Corte, ao que
se vê dos REsps n. 157.840-SP (DJ 07.08.2000), n. 86.343-RS (DJ 14.09.1998)
e n. 35.145-MG (DJ 16.09.1996), da minha relatoria, e n. 205.130-RJ (DJ
1º.07.1999), n. 204.276-MG (DJ 08.11.1999) e n. 5.314-RS (DJ 11.11.1991),
relatores os Ministros Ruy Rosado, José Arnaldo e Hélio Mosimann, assim
ementados, no pertinente:
Direitos Civil e Processual Civil. Prescrição. Espécie extintiva. Alegação. Apelação. Possibilidade. Art. 162, CC. Silêncio em contestação. Irrelevância. Precedentes.
[...]
I - A prescrição extintiva pode ser alegada em qualquer fase do processo, nas instâncias ordinárias, mesmo que não tenha sido deduzida na fase própria de defesa ou na inicial dos embargos à execução.
Direitos Civil e Processual Civil. Prescrição. Espécie extintiva. Alegação. Apelação. Momento. Art. 162, CC. Silêncio do Tribunal. Precedentes. Recurso provido.
- A prescrição extintiva pode ser alegada em qualquer fase do processo, nas instâncias ordinárias, mesmo que não tenha sido deduzida na fase própria de defesa ou na inicial dos embargos à execução.
A prescrição extintiva pode ser alegada em qualquer fase do processo, nas instâncias ordinárias.
Prescrição. Alegação. Art. 162 do CC.
A prescrição pode ser alegada em qualquer instância ordinária, ainda que não suscitada na contestação. Precedentes.
Recurso conhecido e provido.
Recurso especial. Locação. Benfeitorias. Indenização. Prescrição. Alegação somente nas contra-razões de apelação. Art. 162, do Código Civil. Não conhecimento pela Corte a quo por ter sido objeto do recurso.
A prescrição pode ser levantada em qualquer instância. Não deduzida em primeira, pode ser alegada em segunda instância, nas razões do recurso. E se pode, nas razões de recurso, pode também ser deduzida nas contra-razões em homenagem ao princípio de igualdade de tratamento às partes (CPC, art. 125, I).
Recurso conhecido e provido para que o Tribunal, na origem, aprecie e delibere como entender de direito a prescrição articulada.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
226
Recurso especial. Ação de procedimento ordinário. Prescrição. Matéria alegada nas razões recursais. Silencio da contestação, a respeito. Artigo 162 do Código Civil.
- Pode o Estado, réu na ação, alegar a prescrição ao interpor seu recurso, ainda que não o tenha feito ao apresentar a defesa, pois a prescrição pode ser alegada em qualquer instância, pela parte a quem aproveita.
A doutrina não destoa, como se vê nas lições de Sérgio Bermudes (Comentários ao Código de Processo Civil, vol. VII, 2. ed., RT, 1977, art. 517, n. 114, p. 142), Wellington Moreira Pimentel (Comentários, v. III, 2. ed., RT, 1979, art. 303, n. 4, p. 281), Calmon de Passos (Comentários, v. III, 8. ed., Forense, 1998, art. 303, n. 201, p. 290), Barbosa Moreira (Comentários, v. V, 10. ed., Forense, 2002, art. 517, n. 249, p. 453-454), Manoel Caetano Ferreira Filho (Comentários, v. 7, RT, 2001, art. 517, n. 2, p. 145) e, invocando precedente desta Corte, Nelson Nery Júnior (Princípios fundamentais - teoria geral dos recursos, 2. ed., RT, 1993, n. 2.5.1, p. 200), Joel Dias Figueira Júnior (Comentários, v. 4, t. II, RT, 2001, art. 303, n. 4, p. 262) e Th eotônio Negrão e José Roberto Ferreira Gouvêa (Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 35. ed., Saraiva, 2003, art. 303, nota 8, p. 394, art. 517, nota 8, p. 567).
2. Uma vez assentada a possibilidade de alegação da prescrição, resta aplicar o direito à espécie, na forma do art. 257 do Regimento Interno.
No ponto, a recorrente invoca o prazo qüinqüenal previsto no art. 178, § 10, II, CC/1916, com esta redação:
Art. 178. Prescreve:
[...]
§ 10. Em cinco anos:
[...]
II - As prestações de rendas temporárias e vitalícias.
Os precedentes desta Corte alinham-se no sentido da aplicação desse
dispositivo aos benefícios de previdência privada, como na espécie. É o que se
colhe, entre outros, dos REsps n. 424.181-RS (DJ 10.03.2003), n. 314.511-
RS (DJ 18.03.2002), n. 323.379-RS (DJ 18.02.2002), n. 180.833-RJ (DJ
1º.07.1999), todos eles relatados pelo Ministro Menezes Direito, n. 89.416-DF
(DJ 03.08.1998) e n. 61.134-RJ (DJ 12.05.1997), da relatoria dos Ministros
Eduardo Ribeiro, o primeiro, e William Patterson os dois últimos, assim
ementados:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 227
Previdência privada. Prescrição. Art. 178, § 10, II, do Código Civil. Precedentes da Corte.
1. Já assentou a Corte que a prescrição, em casos de parcelas devidas oriundas dos planos de previdência privada, é qüinqüenal.
2. Recurso especial conhecido e provido.
Previdência privada. Pensão. Prescrição de parcelas não pagas integralmente.
Contrato de seguro, embora com peculiaridades, podendo, em certas circunstâncias, ser assimilado ao de constituição de renda.
Não incidência da prescrição vintenária.
Previdência social. Entidade fechada. Benefícios. Reajustes. Prescrição. Critérios. Correção monetária. Compensação.
- Tratando-se de parcelas de trato sucessivo, a prescrição qüinqüenal deve ser reconhecida.
3. Ante o exposto, conheço do recurso especial, pela violação dos arts. 162, CC/1916, e 303, III, CPC, e dou-lhe provimento para reconhecer a prescrição qüinqüenal, na forma do art. 178, § 10, II, CC/1916, tornando devidos os benefícios no período de cinco anos anteriores ao “ajuizamento da ação”, como pretende a recorrente em seu apelo especial (fl . 355, v. 2).
VOTO-MÉRITO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Sr. Presidente, acompanho o Sr.
Ministro-Relator, conhecendo do recurso e dando-lhe provimento, com ressalva
do meu ponto de vista.
RECURSO ESPECIAL N. 297.547-MG (2000/0143960-0)
Relator: Ministro Ari Pargendler
Recorrente: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ
Advogado: Walfredo Frederico de Siqueira Cabral Dias e outros
Recorrido: Francisco Ribeiro da Silva
Advogado: Taline Dias Maciel
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
228
EMENTA
Previdência privada. Prescrição qüinqüenal. A cobrança dos
valores devidos a título de complementação da aposentadoria prevista
em plano de previdência privada está sujeita à prescrição qüinqüenal.
Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar provimento. Os Srs.
Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi, Castro Filho e
Antônio de Pádua Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 16 de maio de 2002 (data do julgamento).
Ministro Ari Pargendler, Presidente e Relator
DJ 05.08.2002
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ari Pargendler: Francisco Ribeiro da Silva propôs ação de
cobrança contra a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil -
Previ, para vê-la condenada a pagar-lhe diferenças a título de complementação
de aposentadoria (fl s. 02-10).
O MM. Juiz de Direito Dr. Antônio de Pádua Oliveira julgou procedente
o pedido (fl . 200-204), sentença que foi mantida pela Egrégia Sexta Câmara
Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, Relator o eminente
Juiz Alexandre Victor de Carvalho, em acórdão assim ementado:
Ação de cobrança. Complementação de aposentadoria. Previdência privada. Aplicação das normas estatutárias. Inclusão da gratifi cação natalina no cálculo do benefício. Cabimento. Recurso desprovido. A relação entre a entidade de previdência privada e seu associado é regida pelo Estatuto, sendo cabível a complementação de aposentadoria quando, indevidamente, foi excluída da base de cálculo do benefício a contribuição incidente sobre o 13º Salário. (fl . 244).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 229
Opostos embargos de declaração (fl . 250-255), foram rejeitados (fl . 258-260).
Daí o recurso especial, interposto pela Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ, com base no artigo 105, inciso III, letra a da Constituição Federal, por violação dos artigos 177 e 178, § 10º, inciso II, do Código Civil e do artigo 103 da Lei n. 8.213, de 1991 (fl s. 263-269).
VOTO
O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): Trata-se de saber se a prescrição qüinqüenal é aplicável à ação de cobrança de complementação de aposentadoria, devida em razão de plano de previdência privada.
A Turma fi rmou o entendimento de que, neste caso, prescreve em cinco anos a ação para cobranças de diferenças devidas e não pagas, de que é exemplo o acórdão proferido no REsp n. 314.511, RS, Relator o Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, assim ementado:
Previdência privada. Prescrição. Art. 178, § 10, II. Precedentes da Turma. Art. 1.090 do Código Civil. Prequestionamento. 1. Está orientada a jurisprudência da Corte no sentido de que, em se tratando de parcelas devidas em decorrência de plano de benefício de previdência privada, não se aplica a prescrição vintenária, mas, sim, a qüinqüenal (...) - D.J.U. 18.03.2002.
Voto, por isso, no sentido de conhecer do recurso especial e de lhe dar provimento para reconhecer a prescrição das parcelas vencidas há mais de cinco anos antes da propositura da ação.
RECURSO ESPECIAL N. 424.181-RS (2002/0037408-7)
Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito
Recorrente: Caixa de Auxilio dos Funcionários do Banco Nacional do Comércio - Caciban
Advogado: Roberto Carneiro da Cunha Moreira e outros
Recorrido: Ivanise Th ereza Mantovani
Advogado: Adalberto Libório Barros Filho e outros
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
230
EMENTA
Previdência privada. Prescrição. Art. 178, § 10, II, do Código Civil.
Precedentes da Corte.
1. Já assentou a Corte que a prescrição, em casos de parcelas
devidas oriundas dos planos de previdência privada, é qüinqüenal.
2. Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar provimento. Os Srs.
Ministros Nancy Andrighi e Ari Pargendler votaram com o Sr. Ministro
Relator. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Castro Filho e Antônio de
Pádua Ribeiro.
Brasília (DF), 06 de dezembro de 2002 (data do julgamento).
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator
DJ 10.03.2003
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Caixa de Auxílio dos
Funcionários do Banco Nacional do Comércio - Caciban interpõe recurso
especial, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra
acórdão da Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul, assim ementado:
Previdência privada. Caixa de Auxílio dos Funcionários do Banco Nacional do Comércio. Caciban. Prescrição. Lapso vintenário. Aplicação do art. 177/CC. Aposentadoria. Complementação. Princípio da isonomia. Detém o jubilado o direito de receber os proventos de aposentadoria como se na ativa estivesse. Incabível a interpretação restritiva ditada pelo art. 1.090/CC. Princípio da boa-fé. Na interpretação dos contratos há de vigorar acima de tudo o princípio da boa-fé. GEF. APS. Realinhamentos e reestruturações. Destas rubricas somente mostra-se incabível o APS, porquanto confi gura benefício de caráter transitório
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 231
criado pelo INSS não vinculando a apelante. Juros de mora. Mantida a taxa de 6% ao ano, reformando-se, entretanto, o termo inicial de fl uência para o da citação. Inteligência do art. 1.536, § 1º, do CC e Súmula n. 163 do STF. Encargos decorrentes da sucumbência inalterados. Apelação parcialmente provida. (fl s. 179).
Sustenta a recorrente ofensa aos artigos 177, 178, § 10, inciso II e 1.090
do Código Civil e 103 da Lei n. 8.213/1991, aduzindo que, em se tratando de
parcelas decorrentes de plano de benefícios de entidade de previdência privada,
deve prevalecer a prescrição qüinqüenal, pois esta “aplica-se não apenas às
prestações vencidas há mais de cinco anos, como igualmente aplica-se ao próprio
fundo do direito questionado” (fl s. 213-214).
Alega que “seja porque o Regulamento de Benefícios não prevê a
concessão de outros benefícios além dos já concedidos, quer pela inexistência
de contribuições sobre as parcelas ora postuladas, é evidente a ofensa do
aresto recorrido ao art. 1.090 do Código Civil, que determina seja estrita a
hermenêutica dos contratos benéfi cos” (fl s. 219).
Para caracterizar a divergência jurisprudencial, colaciona julgados, também,
desta Corte.
Contra-arrazoado (fl s. 243 a 251), o recurso especial (fl s. 194 a 225) foi
admitido (fl s. 253 a 259).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): A recorrida
ajuizou ação para receber diferenças relativas ao seu plano de previdência
privada. A ação foi contestada com alegação preliminar de prescrição, apoiada
no artigo 103 da Lei n. 8.213/1991.
A sentença afastou a prescrição porque a Lei invocada é posterior
aos benefícios que a ré alega estarem prescritos. No mérito, assinala que o
regulamento assegura aos associados a equivalência no pagamento dos proventos
especifi cados.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul proveu, em parte, a apelação.
Primeiro, afi rma que a prescrição é vintenária, não se aplicando o art. 178,
§ 10, II, do Código Civil; segundo, no mérito, interpretando os estatutos da
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
232
ré, entendeu estar presente a previsão de “reajustamento dos benefícios dos
associados sempre que o banco empregador conceder vantagens, em caráter
coletivo, a seus funcionários”. Afastou o Tribunal local, contudo, o abono de
permanência em serviço (APS) porque não previsto nos estatutos e porque foi
criado pelo INSS, “revestindo-se de caráter transitório tendo pertinência apenas
naqueles casos nos quais o funcionário que adimpliu o prazo para aposentadoria
permanece trabalhando. A ressalva, porém, é que deve cessar a fruição desse
prêmio a partir do início da jubilação”. Deferiu, ainda, a fl uência dos juros de
mora da citação.
O especial começa por combater o julgado na parte relativa à prescrição.
Entende aplicável o artigo 178, § 10, II, do Código Civil. E com razão, na
linha dos precedentes da Corte apresentados no recurso. Ainda recentemente a
orientação foi mantida, aplicando-se a prescrição qüinqüenal e não a vintenária
(REsp n. 314.511-RS, da minha relatoria, DJ de 18.03.2002). Peço vênia
aos meus eminentes colegas para reproduzir a fundamentação que, naquela
oportunidade, apresentei:
O especial enfrenta, primeiro, a questão da prescrição, apontando violado o art. 178, § 10, II, e 177 do Código Civil. Sustentam os recorrentes que a prescrição é qüinqüenal; sendo elas entidades de previdência privada fechada, a prestação de rendas, expressão utilizada pela Lei n. 6.435/1977, não é vintenária. Indica precedente desta Terceira Turma.
A regra do art. 178, § 10, II, menciona rendas temporárias ou vitalícias. E é este o caso das entidades de previdência privada. Elas prestam rendas vitalícias na complementação da aposentadoria. Em precedente da minha relatoria (REsp n. 180.833-RJ, DJ de 1º.07.1999), aplicou-se precedente da relatoria do Senhor Ministro William Patterson, destacado o trecho que se segue:
Na verdade, a prescrição, in casu, está claramente prevista na legislação de regência (Lei n. 6.435, de 1977 - art. 94), ao mandar observar o critério do regime da previdência social. É ler-se:
Art. 94 - Ressalvado o disposto no parágrafo 3º do art. 14, aplicam-se ao recebimento das importâncias mensais das suplementações os mesmos critérios previstos nos artigos 418 e 419 do Regulamentado do Regime Jurídico da Previdência Social (Decreto n. 72.771, de 06 de setembro de 1973).
Tal recomendação é, atualmente, regra contida na Lei n. 8.213, de 24.07.1991 (art. 103).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 233
Isso é o bastante para a consideração do princípio. Já que não se discute a prescrição do fundo de direito, por se cuidar de prestação de trato sucessivo, onde, apenas, tem lugar a qüinqüenal, penso que, na execução, poder-se-á apurar as parcelas que estão sob alcance do instituto jurídico. (REsp n. 61.134-RJ, DJ de 12.05.1997; no mesmo sentido: REsp n. 135.584-RJ, Relator o Ministro José Arnaldo, DJ de 1º.12.1997).
Na mesma direção decidiu a Corte, com a relatoria do Senhor Ministro Eduardo Ribeiro (REsp n. 89.416-DF, DJ de 03.08.1998), afastando a prescrição vintenária:
Previdência privada. Pensão. Prescrição de parcelas não pagas integralmente.
Contrato de seguro, embora com peculiaridades, podendo, em certas circunstâncias, ser assimilado ao de constituição de renda. Não incidência da prescrição vintenária.
Finalmente, merece, ainda, referido precedente da Turma, Relator o Senhor Ministro Waldemar Zveiter, destacando a ementa que está consolidada a jurisprudência “no sentido de que, em se tratando de parcelas devidas em decorrência de plano de benefício de previdência privada, prevalece a prescrição qüinqüenal, prevista na legislação de regência (Lei n. 8.213, de 24.07.1991, art. 103), não incidindo a prescrição vintenária” (REsp n. 173.826-RS, DJ de 13.12.1999).
Em seguida, aponta o especial violação ao art. 1.090 do Código Civil. Mas, não há prequestionamento, sendo certo que o deferimento nos termos postos pelo acórdão recorrido está amparado na interpretação dos estatutos das entidades rés, coberta a interpretação pela Súmula n. 5 da Corte.
Com tais razões, eu conheço do especial, em parte, e, nessa parte, dou-lhe provimento para reconhecer a prescrição das parcelas vencidas e não pagas há mais de cinco anos antes da propositura da ação, apurando-se em liquidação as parcelas alcançadas.
Quanto ao mérito, a impugnação está amparada no art. 1.090 do Código
Civil. Mas, não creio que mereça prosperar diante dos termos do acórdão
recorrido. O ilustre Relator, Desembargador Carlos Alberto Alvaro de Oliveira,
demonstrou que a “fi nalidade da vinculação do apelado à apelante decorre
justamente da garantia regulamentar da paridade de seus benefícios com os
salários que perceberiam se permanecessem em atividade. Ademais, não se há
de falar em contrato benéfi co propriamente dito, isto é, aquele por meio do
qual alguém intenta propiciar a outrem uma vantagem sem exigir compensação
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
234
equivalente. Isto porque, o associado para usufruir dos benefícios arca com o
custo necessário para tanto”. Por outro lado, considerou o princípio da boa-fé
para entender incabível a interpretação restritiva das disposições regulamentares,
devendo vigorar, “em casos como o dos autos, a aplicação do princípio da
isonomia. Daí decorre a necessidade de ser concedida ao recorrido que teve,
quando em atividade, funções similares aos funcionários ainda operantes, a
possibilidade de perceber reajustamento de benefícios”.
Veja-se que o especial anota que uma das conseqüências do acórdão
recorrido “que mais choca, dada a enorme injustiça, é a isonomia forçada com
os empregados em atividade!! Com efeito, o recorrido não é funcionário do
Banco, não está trabalhando, e mesmo assim obtiveram (sic) acesso a parcelas
pagas exclusivamente a quem está em atividade”. Ora, o acórdão recorrido
mostrou o contrário com o exame dos estatutos da ré. Afi rmou que neles está
prevista a majoração das complementações toda vez que houver aumentos para
os associados em atividade. Não há absurdo na prescrição regulamentar. Além
disso, esbarra o tema na Súmula n. 5 da Corte.
A meu sentir, a alegação de violação ao art. 1.090 do Código Civil está
fora de foco diante, também, das próprias assertivas do especial que reconhece
que as vantagens foram pagas apenas ao pessoal em atividade, “portanto de
natureza, transitória e personalíssima, decorrente da Convenção Coletiva de
Trabalho, cuja seriedade ninguém pôs em dúvida”. O que o acórdão recorrido
alinhavou, ademais dos anteriores fundamentos mencionados, foi que as verbas
não eram transitórias e sim coletivas, com o que se não pode ultrapassar tal
confi guração fática, pouco relevando que ao tempo da aposentadoria as parcelas
em discussão não eram pagas. Se fossem, é curial, não haveria necessidade de
prever a majoração das complementações.
Não há, portanto, sob nenhum ângulo, a alegada violação ao artigo 1.090
do Código Civil.
Por último, não bastasse o tanto que já foi deduzido no ponto, anote-
se que o especial pede, tão-somente, o conhecimento e provimento para o
reconhecimento da prescrição.
Em conclusão: eu conheço do especial e lhe dou provimento para
reconhecer a prescrição na forma do art. 178, § 10, II, do Código Civil.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 235
RECURSO ESPECIAL N. 450.352-RS (2002/0091763-2)
Relator: Ministro Fernando Gonçalves
Recorrente: Montpépio dos Funcionários do Município de Porto Alegre
Advogado: Luciana Farias e outros
Recorrido: Maria Francisca Silvino
Advogado: Hélio Neumann Sant Anna e outros
EMENTA
Previdência privada. Pensão. Diferenças. Parcelas. Prescrição.
Prazo. Cinco anos.
1 - Em tema de previdência privada o prazo prescricional é
de cinco anos, razão pela qual prescritas estão, na espécie, todas as
parcelas anteriores ao último qüinqüênio precedente à propositura da
ação.
2 - Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Os Ministros Aldir Passarinho Junior, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha votaram com o Ministro Relator. Ausente, justifi cadamente, o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.
Brasília (DF), 03 de fevereiro de 2004 (data do julgamento).
Ministro Fernando Gonçalves, Relator
DJ 16.02.2004
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Fernando Gonçalves: Trata-se de recurso especial interposto
pelo Montepio dos Funcionários do Município de Porto Alegre, com fundamento no
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
236
art. 105, inciso III, letra a da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal
de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado:
Previdência privada. Ação de revisão de pensão cumulada com cobrança de diferenças pretéritas.
É devida a equiparação do valor da pensão ao valor dos proventos, incluídas as vantagens pessoais, conforme nova redação do art. 40, § 5º, da CF/1988. Emenda Constitucional n. 20.
A correção monetária é devida desde a data em que deveriam ter sido pagas as prestações.
A prescrição regula-se pela regra geral disposta no artigo 177 do CC.
Honorários fi xados de acordo com os parâmetros estipulados no art. 20, § 3º do CPC.
Preliminares rejeitadas, apelo do réu desprovido. Apelo da autora provido. (fl . 181).
Afi rma o recorrente violação ao art. 178, § 10, I e II do Código Civil,
argumentando que a prescrição é qüinqüenária e não vintenária, porquanto
versa a espécie pensão alimentar de previdência privada.
Apresentadas as contra-razões (fl s. 202-206), o recurso teve admitido o seu
processamento (fl s. 208-210), ascendendo os autos a esta Corte.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Fernando Gonçalves (Relator): A irresignação merece
acolhida, dado que é pacífi co o entendimento desta Corte, por suas duas Turmas
que compõem a Segunda Seção, no sentido de ser qüinqüenária a prescrição
para cobrança de parcelas, decorrentes de previdência privada.
A propósito:
Previdência privada. Pensão. Prescrição de parcelas não pagas integralmente.
Contrato de seguro, embora com peculiaridades, podendo, em certas circunstâncias, ser assimilado ao de constituição de renda. Não incidência da prescrição vintenária. (REsp n. 89.416-DF, Rel. Ministro Eduardo Ribeiro, DJU, 03.08.1998).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 237
Previdência privada. Prescrição. Art. 178, § 10, II, do Código Civil. Precedentes da Corte.
1. Já assentou a Corte que a prescrição, em casos de parcelas devidas oriundas dos planos de previdência privada, é qüinqüenal.
2. Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 424.181-RS, Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJU, 10.03.2003).
Civil e Processual Civil. Prescrição extintiva. Possibilidade de ser alegada pela primeira vez na apelação. Precedentes. Doutrina. Arts. 162, CC/1916 (193, CC/2002) e 303, III, CPC. Previdência privada. Benefícios. Prescrição qüinqüenal. Art. 178, § 10, II, CC/1916. Precedentes. Recurso provido.
I - Na linha da jurisprudência desta Corte, a prescrição extintiva pode ser alegada em qualquer fase do processo, nas instâncias ordinárias, mesmo que não tenha sido deduzida na fase própria de defesa.
II - É qüinqüenal a prescrição, em casos de parcelas oriundas dos planos de previdência privada, nos termos do art. 178, § 10, II, do Código Civil de 1916. (REsp n. 203.963-RS, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU, 08.09.2003).
Civil e Processual. Previdência complementar. Desligamento do empregado. Devolução de contribuições. Ação que postula diferenças. Prescrição qüinqüenal. Inocorrência. Leis n. 6.435/1977, n. 8.213/1991. LC n. 109/2001. CC, art. 177. Termo inicial.
I. A prescrição das ações que discutem direitos advindos de Previdência Complementar é de cinco anos e não vintenária, sendo inaplicável à espécie o art. 177 do Código Civil.
II. Inobstante o reconhecimento da aplicabilidade do prazo mais breve, a sua fl uição, no caso dos autos, se dá a partir da data da restituição das contribuições feitas à ex-empregada, quando, então, surgiu o seu direito de postular as diferenças em face do recebimento a menor do que o efetivamente devido.
III. Ajuizada a ação em lapso inferior a cinco anos a contar daquele termo, é de ser afastada a prejudicial.
IV. Recurso especial conhecido e improvido. (REsp n. 466.693-PR, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, DJU, 22.09.2003)
Ante o exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento para decretar
prescritas todas as parcelas anteriores ao último qüinqüênio precedente à
propositura da ação.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
238
RECURSO ESPECIAL N. 466.693-PR (2002/0106876-1)
Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior
Recorrente: Fundo de Pensão Multipatrocinado Funbep
Advogado: Rafael Linne Netto e outros
Recorrido: Marlisa Dias Pinto
Advogado: Marlisa Dias Pinto (em causa própria)
EMENTA
Civil e Processual. Previdência complementar. Desligamento
do empregado. Devolução de contribuições. Ação que postula
diferenças. Prescrição qüinqüenal. Inocorrência. Leis n. 6.435/1977,
n. 8.213/1991. LC n. 109/2001. CC, art. 177. Termo inicial.
I. A prescrição das ações que discutem direitos advindos de
Previdência Complementar é de cinco anos e não vintenária, sendo
inaplicável à espécie o art. 177 do Código Civil.
II. Inobstante o reconhecimento da aplicabilidade do prazo
mais breve, a sua fl uição, no caso dos autos, se dá a partir da data da
restituição das contribuições feitas à ex-empregada, quando, então,
surgiu o seu direito de postular as diferenças em face do recebimento
a menor do que o efetivamente devido.
III. Ajuizada a ação em lapso inferior a cinco anos a contar
daquele termo, é de ser afastada a prejudicial.
IV. Recurso especial conhecido e improvido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer do
recurso, mas negar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas
constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor
Rocha e Fernando Gonçalves. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Sálvio
de Figueiredo Teixeira.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 239
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 07 de agosto de 2003 (data do julgamento).
Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator
DJ 22.09.2003
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Funbep - Fundo de Pensão
Multipatrocinado interpõe, pelas letras a e c do art. 105, III, da Constituição
Federal, recurso especial contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do
Paraná, assim ementado (fl . 374):
Ação de restituição. Contribuição. Seguridade social. Contrato de trabalho. Rescisão. Direito à devolução. 70% de todos os valores. Artigo 25, I e II regulamento básico do Fubep.
Embargos de declaração. Ausência de efeito modificativo. Suprimento de omissão.
Prescrição. Inocorrência. Prazo de 20 anos.
Julgamento extra petita. Inocorrência.
Improvimento do recurso.
Alega o recorrente que a decisão violou o art. 103 da Lei n. 8.213/1991,
eis que o prazo prescricional para ações dessa natureza é de cinco anos e não de
vinte, inaplicável à espécie o art. 177 do Código Civil.
Invoca dissídio jurisprudencial, apontando como paradigma a decisão
prolatada pela Egrégia 3ª Turma, no REsp n. 17.826-RS, de relatoria do
eminente Ministro Waldemar Zveiter.
Contra-razões às fls. 423-427, com preliminar de não conhecimento
porquanto não identifi cada propriamente a divergência. No mérito, diz que o
art. 103 não incide na espécie, eis que a Lei n. 8.213/1991 se refere a benefícios
e não à restituição de valores por desligamento após demissão sem justa causa.
O recurso especial foi admitido na instância de origem pelo despacho
presidencial de fl s. 439-440.
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
240
VOTO
O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): - Trata-se de recurso
especial em que é discutido qual o prazo prescricional, de cinco ou vinte anos,
para ação em que é postulada a restituição de diferenças de contribuições em
face de desligamento da autora - ex-empregada do Banco do Estado do Paraná
S/A - do Funbep, fundo de pensão de seguridade social que assiste os servidores
daquela instituição.
O Tribunal a quo considerou o prazo vintenário do art. 177 do Código
Civil, enquanto a Fundação recorrente postula a aplicação do art. 103 da Lei n.
8.213/1991.
O referenciado diploma legal dispõe sobre os planos de benefício da
Previdência Social, nesses termos:
Art. 9º A Previdência Social compreende:
I - o Regime Geral de Previdência Social;
II - o Regime Facultativo Complementar de Previdência Social.
§ 1º O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) garante a cobertura de todas as situações expressas no art. 1º desta lei, exceto a de desemprego involuntário, objeto de lei específi ca.
§ 2º O Regime Facultativo Complementar de Previdência Social será objeto de lei específi ca.
(...)
Art. 153. O Regime Facultativo Complementar de Previdência Social será objeto de lei especial, a ser submetida à apreciação do Congresso Nacional dentro do prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
Verifi ca-se, portanto, que tal diploma legal, que veio a lume, diga-se de
passagem, juntamente com a Lei n. 8.212/1991, que baixou o regulamento
de custeio, trata, especificamente, dos benefícios, em suas mais variadas
espécies e formas, concedidos pela Previdência Social Pública, não atinando
à complementação facultativa, que vem mediante a adesão de empregados
ou aderentes a regimes instituídos por entidades de previdência abertas ou
fechadas, custeados ou não por empresas patrocinadoras.
É certo que o entendimento que se consagrou em julgados do STJ é no
sentido da prescrição qüinqüenal, a partir da interpretação de que o art. 94 da
Lei n. 6.435/1977 remetia ao Regulamento do Regime Jurídico da Previdência
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 241
Social, baixado pelo Decreto n. 72.771/1973 (cf. REsp n. 89.416-DF, Rel. Min.
Eduardo Ribeiro, 3ª Turma, DJU de 03.08.1998; REsp n. 173.826-RS, Rel.
Min. Waldemar Zveiter, 3ª Turma, DJU de 13.12.1999 e REsp n. 297.547-MG,
Rel. Min. Ari Pargendler, 3ª Turma, DJU de 05.08.2002), afi rmando o ilustre
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, no REsp n. 180.833-RJ, que:
Tal recomendação é, atualmente, regra contida na Lei n. 8.213, de 24.07.1991 (art. 103).
Tenho, todavia, que tal regra é inaplicável.
Em face do novo disciplinamento jurídico dado à Previdência Social,
frisa-se, o art. 9o, parágrafo 2º, afastou da Lei n. 8.213/1991 a Previdência
Complementar, de sorte que não se tem como considerar que o art. 103 desta
mesma lei faz as vezes do antigo art. 94 da Lei n. 6.435/1977.
Quanto ao art. 153, ele previu o prazo de seis meses para que houvesse o
disciplinamento da Previdência Complementar.
Veio, somente agora, a Lei Complementar n. 109, de 29 de maio de 2001, a
suprir a lacuna, nesses termos:
Art. 1º O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, é facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício, nos termos do caput do art. 202 da Constituição Federal, observado o disposto nesta Lei Complementar.
Art. 2º O regime de previdência complementar é operado por entidades de previdência complementar que têm por objetivo principal instituir e executar planos de benefícios de caráter previdenciário, na forma desta Lei Complementar.
Art. 75. Sem prejuízo do benefício, prescreve em cinco anos o direito às prestações não pagas nem reclamadas na época própria, resguardados os direitos dos menores dependentes, dos incapazes ou dos ausentes, na forma do Código Civil.
Diante desse quadro legal, há, portanto, que se compreender que no vácuo
legislativo entre a Lei n. 8.213/1991 e a novel Lei Complementar n. 109/2001,
permaneceu em vigor, no concernente à prescrição, a antiga Lei n. 6.435/1977,
porque, no particular, não revogada pela lei de benefícios, já que a mesma se
auto-excluíra do disciplinamento da previdência complementar.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
242
Também é de se registrar que não há prazo diverso consoante a natureza
da pretensão - se benefício ou restituição de contribuições - posto que o sistema
não permite distinção dessa ordem, em se cuidando de direito originário de uma
única relação jurídica.
Acontece, porém, que inobstante o reconhecimento de que a prescrição é
quinquenal, não há como se atender ao recurso especial.
É que equivocado o raciocínio do recorrente, no tocante ao termo inicial
do prazo prescricional.
A autora foi demitida do Banco do Estado do Paraná em 04.06.1992 e
recebeu a restituição das contribuições em 19.01.1993, segundo a inicial, não
infi rmada, no particular.
O que se postula, aqui, é o recebimento das diferenças, portanto se a
restituição foi dada a menor do que o esperado e devido, somente a contar dessa
data, ou seja, 19.01.1993, é que passou a fl uir o prazo prescricional qüinqüenal,
de modo que a ação, ajuizada em 15.01.1997, é tempestiva.
Ante o exposto, conheço do recurso especial, mas nego-lhe provimento.
É como voto.