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ÉLISSON MIESSA DOS SANTOS HENRIQUE CORREIA 2012 www.editorajuspodivm.com.br Comentadas e organizadas por assunto SÚMULAS E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DO NOTA DE ATUALIZAÇÃO Da 1ª edição para a 2ª edição

Súmulas e OJ - TST - Nota de atualizacao

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ÉLISSON MIESSA DOS SANTOS HENRIQUE CORREIA

2012

www.editorajuspodivm.com.br

Comentadas e organizadas por assunto

SÚMULAS E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DO

NOTA DE ATUALIZAÇÃODa 1ª edição para a 2ª edição

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PARTE I

NOVAS SÚMULAS E OJS

» Capítulo IV – contrato de trabalho3.1.2. Ausência de concurso público na administração pública indireta. Posterior privatização. Convalidação

Súmula nº 430 do TST. Administração pública indireta. Contratação. Ausência de concurso público. Nulidade. Ulterior privatização. Convalidação. Insubsistência do vício.

Convalidam-se os efeitos do contrato de trabalho que, considerado nulo por ausência de concurso público, quando celebrado originalmente com ente da Administração Pública In-direta, continua a existir após a sua privatização.

Como visto, a Constituição Federal, no art. 37, II e § 2º, veda, expressamente, a contratação sem o prévio concurso público com base nos princípios da legalidade, moralidade, impessoalidade e publicidade. Não há, portanto, aplicação do princí-pio da primazia da realidade e tampouco a possibilidade de contrato de trabalho tácito com a Administração Pública (art. 442 da CLT).

A consequência da contratação, sem prévio concurso público, é a nulidade do contrato de trabalho. O servidor que estiver de forma irregular, na Administração, receberá apenas saldo de salário e os depósitos do FGTS, conforme Súmula nº 363 do TST:

Súmula nº 363 do TST. A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário-mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS.

A recente Súmula nº 430 do TST trata da privatização de empresa pública da administração indireta. A privatização ocorre quando uma empresa pública é

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adquirida pelo setor privado. Esse fenômeno também é conhecido por desesta-tização. Exemplos: Vale do Rio Doce foi adquirida e se tornou a empresa Vale; o banco Banespa foi comprado pela Santander.

Na hipótese de privatização, as antigas contratações sem o prévio concurso serão convalidadas, pois não se exige, na iniciativa privada, o requisito do concur-so. Assim sendo, o servidor que antes estava trabalhando de forma irregular, por ausência do prévio concurso público, após a privatização, terá todos os direitos trabalhistas garantidos.

A seguir, dois precedentes que deram origem à recente Súmula nº 430:RECURSO DE REVISTA. CONTRATO NULO. SOCIEDADE DE ECONOMIA MIS-TA. PRIVATIZAÇÃO. Na linha dos precedentes desta Corte Uniformizadora, a privatização de sociedade de economia mista convalida contrato de empre-gado admitido, anteriormente, sem concurso público, inexistindo nulidade a ser declarada. Precedentes. Recurso de revista de que não se conhece. (RR-1154000-87.2002.5.09.0003, 1ª Turma, Rel. Min. Walmir Oliveira da Costa, D.J. de 24/4/2009)

RECURSO DE REVISTA. ARGUIÇÃO DE NULIDADE DO CONTRATO DE TRA-BALHO. AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. SUCESSÃO. EMPRESA PRIVA-DA. Impertinente a alegação de contrariedade à Súmula nº 363 do TST e de violação ao artigo 37, II e § 2º, da Constituição da República, tendo em vista que a empresa sucessora da sociedade de economia mista é empre-sa privada, não se lhe aplicando a vedação de contratação por ausência de concurso público. Como bem asseverou a Corte de origem, a aceitação pela sucedida da continuidade da prestação dos serviços pelo reclamante, não submetido anteriormente a concurso público para ingresso na sucedida, con-validou o ato, não podendo posteriormente arguir a nulidade da contratação se não o fez no momento oportuno. Recurso de revista não conhecido. (E-RR-157500-70.2000.5.19.0004, 1ª Turma, Rel Min. Lelio Bentes Corrêa, D.J. de 28/3/2008)

Essa nova súmula também trata do fenômeno da sucessão trabalhista, pois o novo adquirente (sucessor) assumirá todos os débitos trabalhistas do antigo pro-prietário (Estado). Deverá pagar os contratos de trabalho, inclusive dos emprega-dos admitidos sem concurso público.

O fenômeno da estatização, entretanto, é inverso. Nesse caso, o Estado adquire uma empresa privada, e os empregados que antes poderiam ser contratados livre-mente, após a estatização, deverão ser submetidos ao prévio concurso público, conforme art. 37, II, da CF/88. Não há, portanto, sucessão trabalhista entre o suce-dido (empresa privada) e sucessor (Estado). Caso não haja realização de concur-so após a estatização, os empregados estarão em situação irregular, tendo direito apenas ao saldo de salário e depósitos do FGTS, conforme posicionamento do TST:

Súmula nº 363 do TST. Contrato nulo. Efeitos

A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe

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conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário-mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS.

Por fim, para os empregados que ingressaram com a ação judicial, antes da estatização, e se a ação já estiver na fase de execução com penhora de bens, não será submetida ao precatório previsto no art. 100 da CF/88, com base no princípio da segurança jurídica e do direito adquirido. No tocante às entidades públicas que explorem atividade econômica (art. 173, § 1º, II, da CF/88), elas não se submetem ao regime diferenciado de execução (precatório), podendo ter seus bens penhora-dos. Os Correios, por outro lado, não estão sujeitos à penhora, pois o STF1 entende que é pessoa jurídica equiparada à Fazenda Pública, aplicando a ele a impenhora-bilidade de seus bens, rendas e serviços. Nesse sentido, prevê a jurisprudência do TST:

Orientação Jurisprudencial nº 343 da SDI-I do TST. Penhora. Sucessão. Art. 100 da CF/1988. Execução

É válida a penhora em bens de pessoa jurídica de direito privado, realizada anteriormente à sucessão pela União ou por Estado-membro, não podendo a execução prosseguir mediante precatório. A decisão que a mantém não viola o art. 100 da CF/1988.

Orientação Jurisprudencial nº 87 da SDI-I do TST. Entidade pública. Ex-ploração de atividade eminentemente econômica. Execução. Art. 883 da CLT.

É direta a execução contra a APPA e MINASCAIXA (§ 1º do art. 173 da CF/88)

» Capítulo VI – Remuneração

1.9.1.4. Cálculo das horas extras. Jornada de 40 horas semanais

Súmula nº 431 do TST. Salário-hora. 40 horas semanais. Cálculo. Aplicação do divisor 200.

Aplica-se o divisor 200 (duzentos) para o cálculo do valor do salário-hora do empregado sujeito a 40 (quarenta) horas semanais de trabalho.

A duração normal do tempo de trabalho do empregado em geral é de 8 horas diárias e 44 horas semanais. Se ultrapassado esse período, terá incidência de adi-cional, chamado de hora extraordinária ou suplementar. De acordo com art. 7º, XVI, da CF/88:

São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: remuneração do serviço extraordinário su-perior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal.

1. RE 222.906. Essa decisão entendeu que o Decreto-Lei nº 509/69 foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988.

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Assim sendo, o pagamento da hora extraordinária será: hora normal acrescida de adicional de, no mínimo, 50%.

O cálculo para se chegar à hora normal, para os empregados que trabalham 8 horas, é feito dividindo o salário do empregado por 2202. Para o empregado que trabalha 6 horas diárias, deverá utilizar o divisor 180 (30 dias x 6 horas diárias), considerando, portanto, os dias remunerados do mês e não os efetivamente traba-lhados. A seguir a jurisprudência do TST em que, embora os precedentes tenham sido de ações judiciais de bancários, o raciocínio será utilizado para outros casos:

Súmula nº 124 do TST. Bancário. Hora de salário. Divisor

Para o cálculo do valor do salário-hora do bancário mensalista, o divisor a ser adotado é 180.

Súmula nº 343 do TST. Bancário. Hora de salário. Divisor

O bancário sujeito à jornada de 8 horas (art. 224, § 2º, da CLT), após a CF/1988, tem salário-hora calculado com base no divisor 220, não mais 240.

A recente Súmula nº 431 do TST traz o divisor para os empregados que tra-balham 40 horas semanais, ou seja, aqueles que, em regra, trabalham de segunda a sexta-feira com jornada de 8 horas diárias. Para o cálculo da hora trabalhada (salário-hora) deve-se dividir o salário mensal por 200 (5 semanas X 8 horas). Uma vez encontrado o valor da hora normal, será tarefa fácil calcular a hora extra (hora normal + adicional 50% = valor da HE). Dessa forma, alcançado o valor da hora suplementar, é só multiplicar pelo número de horas efetivamente prestadas além do horário normal e acrescentar o adicional de, no mínimo, 50%.

A seguir dois precedentes que deram origem a essa recente súmula nº 431:RECURSO DE REVISTA. HORAS EXTRAS. FÓRMULA DE CÁLCULO. DIVI-SOR. JORNADA SEMANAL DE 40 HORAS. A partir da edição da Constituição de 1988, o divisor a ser utilizado no cálculo do salário-hora, na hipótese de duração semanal do trabalho de quarenta e quatro horas e com jornada de oito horas, é o 220. Para o empregado que labora quarenta horas sema-nais, o divisor aplicável é 200. Recurso de revista conhecido e provido (TST--RR-1.238/2007-028-12-00, Ac. 3ª Turma, Rel. Ministro Alberto Bresciani, DJ 27/6/2008).

RECURSO DE REVISTA. HORAS EXTRAS. DIVISOR. A Seção Especializada em Dissídios Individuais I, uniformizadora de jurisprudência, já consagrou o en-tendimento de que, com a instituição da carga de 44 horas semanais pela atual Constituição Federal, o divisor passou a ser 220. Para os empregados que tra-balham 40 horas, como na hipótese, deve ser utilizado o divisor 200. Recur-so de revista a que se dá provimento (TST-RR-2.471/2005-007-12-00, Ac. 5ª Turma, Rel. Ministra Katia Magalhães Arruda, DJ 20/6/2008).

2. O divisor 220 ocorre em razão de duração de 44 horas, multiplicadas por 5 semanas de trabalho.

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Ademais, o cálculo desse adicional deve ser realizado sobre a globalidade sa-larial, ou seja, as horas extras são calculadas com base na hora normal, acrescida de adicional noturno, de insalubridade, de periculosidade etc., conforme previsto na Súmula nº 264 do TST3.

Por fim, caso o salário seja pago por produção ou comissão, o empregado re-ceberá apenas o adicional de 50%, pois a hora trabalhada será paga com a produ-tividade. Nesse sentido, prevê a jurisprudência do TST:

Súmula nº 340 do TST. Comissionista. Horas extras

O empregado, sujeito a controle de horário, remunerado à base de comissões, tem direito ao adicional de, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) pelo tra-balho em horas extras, calculado sobre o valor-hora das comissões recebi-das no mês, considerando-se como divisor o número de horas efetivamente trabalhadas.

Orientação Jurisprudencial nº 235 da SDI – I do TST. O empregado que recebe salário por produção e trabalha em sobrejornada faz jus à percepção apenas do adicional de horas extras.

1.9.1.6. Critério de dedução/abatimento dos valores relativos às horas extras comprova-damente pagos no curso do contrato de trabalho

Orientação Jurisprudencial nº 415 do TST. Horas extras. Reconhecimento em juízo. Crité-rio de dedução/abatimento dos valores comprovadamente pagos no curso do contrato de trabalho.

A dedução das horas extras comprovadamente pagas daquelas reconhecidas em juízo não pode ser limitada ao mês de apuração, devendo ser integral e aferida pelo total das horas extraordinárias quitadas durante o período imprescrito do contrato de trabalho.

O contrato de trabalho é regido pelo princípio da lealdade contratual. Logo, as partes devem agir com boa fé no ato da contratação, durante e no término do contrato. Decorre desse princípio o não enriquecimento sem causa. Dessa forma, o trabalho prestado pelo empregado deve ser, sempre, pago nos moldes ajustados. Por outro lado, os valores pagos pelo empregador devem ser deduzidos/abatidos no montante das verbas rescisórias, do contrário ocorrerá duplo pagamento e o enriquecimento ilícito do trabalhador.

A recente OJ 415 trata da possibilidade do critério de abatimento do valor das horas extras pagas durante o contrato de trabalho. O abatimento consiste no valor pago sob o mesmo título, para evitar o enriquecimento ilícito de uma das partes. No caso das horas extras, cabe o abatimento global, ou seja, de todo o contrato

3. Súmula nº 264 do TST: “A remuneração do serviço suplementar é composta do valor da hora normal, integrado por parcelas de natureza

salarial e acrescido do adicional previsto em lei, contrato, acordo, convenção coletiva ou sentença normativa”.

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de trabalho cujo período não tenha sido alcançado pela prescrição. Não cabe ao trabalhador, portanto, alegar que o abatimento está restrito a um mês de salário como se tratasse de compensação.

Para tentar ficar mais claro, segue o exemplo: A sentença condena a empresa a pagar 1 hora extra por dia de segunda a sexta-feira, dando um média de 22 horas extras por mês (22 dias trabalhados). Nos contracheques da empresa, entretanto, dos meses de janeiro a abril, foi possível verificar o pagamento de 10 horas extras em janeiro, 30 em fevereiro, 12 em março e 25 em abril. Se a dedução fosse mês a mês, em janeiro, o empregado teria 12 horas extras, em fevereiro nenhuma, em março 10 horas extras e em abril nenhuma. O empregado, nessa hipótese, teria direito a 22 horas extras. As horas extras pagas além da condenação, neste caso, eram consideradas como pagamento por mera liberalidade. O entendimento, an-tes da recente OJ 415, era nesse sentido, porque eles utilizavam a mesma base cronológica que a do salário, ou seja, mês a mês, já que o salário deve ser pago a cada mês (art. 459 da CLT). Atualmente, com a OJ 415, se o empregado fez 88 horas extras (4 x 22h) e se o empregador já pagou 77 horas (10, 30, 12 e 25 como no exemplo), o trabalhador terá direito a apenas 11 horas extras (global) e não 22 horas extras, como no cálculo mês a mês. O TST, de forma acertada, entende dessa forma, com base no princípio da vedação do enriquecimento sem causa.

A seguir alguns julgados do TST que serviram de precedentes à OJ 415:LIMITAÇÃO DA COMPENSAÇÃ O OU ABATIMENTO DOS VALORES PAGOS. I – I – Tratando-se de dedução de horas extras pagas a menor essa deve observar o universo do sobretrabalho quitado, sem a limitação imposta pelo critério da competência mensal, de modo a evitar a enriquecimento sem causa do traba-lhador. II – Isso porque pode ocorrer que as horas extras prestadas num deter-minado mês tenham sido pagas conjuntamente com outras que o tenham sido no mês subseqüente, de sorte que, a prevalecer o critério da dedução mês a mês, as que foram prestadas em determinado mês e pagas no mês subseqüen-te juntamente com as que ali o foram não seriam deduzidas da sanção jurídica. III – Recurso conhecido e provido. (TST-RR-26727/1998-005-09-00.2, Min. Barros Levenhagen, 4ª Turma, DJ 24/10/2008)

EMBARGOS. HORA EXTRAORDINÁRIA – CRITÉRIO GLOBAL DE DEDUÇÃ O DOS VALORES PAGOS. POSSIBILIDADE. O atual posicionamento da c. SDI é no sentido de que o abatimento dos valores pagos a título de horas extraordiná-rias já pagas não pode ser limitado ao mês da apuração, devendo ser integral e aferido pelo total das horas extraordinárias quitadas durante o período im-prescrito do contrato de trabalho de trabalho. Embargos conhecidos e pro-vidos. (E-ED-RR322000-3 4.2006.5.09.0001, SDI-1, Relator Ministro Aloysio Corrê a da Veiga, publicado no DEJT em 3/12/2010)”

Cabe destacar que abatimento não se confunde com a compensação, pois ela é forma de extinção de uma obrigação. Na compensação empregado e empregador são credores e devedores ao mesmo tempo e as dívidas estão restritas as de natu-reza trabalhista, conforme jurisprudência do TST:

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Súmula nº 18 do TST. Compensação

A compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita a dívidas de natureza trabalhista.

Aliás, didática a diferenciação feita pelo coautor desse livro, Élisson Miessa dos Santos, ao comentar a parte de processo do trabalho, mais especificamente a Súmula 48 do TST:

Não se confunde, no entanto, compensação com dedução:

A compensação, como aludido anteriormente, ocorre quando duas pessoas fo-rem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, sendo matéria de defesa, o que significa que depende da alegação do réu (reclamado), sob pena de operar a preclusão, ou seja, não poder argui-la em outra oportunidade. O exemplo clás-sico de compensação diz respeito à possibilidade de o empregador compensar o aviso-prévio não concedido pelo empregado, quando este pedir demissão.

A dedução, por sua vez, é matéria de ordem pública embasada no princípio do não enriquecimento sem causa, razão pela qual pode ser arguida em qualquer tempo e, principalmente, manifestada ex officio. É o que ocorre, por exemplo, na hipótese de a empresa ser condenada ao pagamento de horas extras, e o juiz determinar a dedução das horas extras já pagas. Percebe-se, nessa hipóte-se, que o empregador não é credor do empregado, mas simplesmente já pagou parte de sua obrigação contratual. Noutras palavras, a simples desoneração da obrigação do empregador não pode ser tida como crédito capaz de gerar a compensação, tratando-se, pois, de mera dedução.

Em resumo, a recente OJ 415 utiliza-se do abatimento/dedução dos valores globais pagos a título de hora extra.

1.6.5. Ajuda-alimentação e a possibilidade de alterar a natureza jurídica em ra-zão de norma coletiva

Orientação Jurisprudencial nº 413 da SDI – I do TST. Auxílio-alimentação. Alteração da natureza jurídica. Norma coletiva ou adesão ao PAT.

A pactuação em norma coletiva conferindo caráter indenizatório à verba “auxílio-alimen-tação” ou a adesão posterior do empregador ao Programa de Alimentação do Trabalhador — PAT — não altera a natureza salarial da parcela, instituída anteriormente, para aqueles empregados que, habitualmente, já percebiam o benefício, a teor das Súmulas nº 51, I, e 241 do TST.

Como visto na Súmula 241, se a alimentação é fornecida habitualmente, por força do contrato de trabalho ou do costume, integrará o salário do empregado, configurando salário-utilidade. Nesse caso, o valor da alimentação, uma vez confi-gurado salário in natura, vai incidir na contribuição previdenciária, depósitos do FGTS, cálculo do décimo terceiro e 1/3 de férias.

Por outro lado, se a alimentação é fornecida com base no Plano de Alimen-tação do Trabalhador – PAT –, previsto na Lei nº 6.321/76, não tem natureza salarial (OJ 133). Dessa forma, se a empresa aderir a esse programa, não haverá

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incidência, sobre o valor pago a título de alimentação, de contribuição previdenci-ária, reflexos em demais verbas trabalhistas ou nos depósitos do FGTS. Aliás, essa lei autoriza a dedução do Imposto de Renda das empresas que adotam o PAT.

De acordo com o art. 6º do Decreto nº 5/1991 que regulamenta a Lei nº 6.321/76:

Nos programas de Alimentação do Trabalhador – PAT −, previamente apro-vados pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, a parcela paga in natura pela empresa não tem natureza salarial, não se incorpora à remune-ração para quaisquer efeitos, não constitui base de incidência de contribuição previdenciária ou de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço nem se configu-ra como rendimento tributável do trabalhador. (grifos acrescidos)

A OJ 413 trata da mudança da natureza jurídica da parcela paga a título de alimentação durante o contrato de trabalho. As regras da contratação e os direitos conquistados durante o contrato integram o patrimônio jurídico do trabalhador, com base no princípio da condição mais benéfica e conforme art. 468 da CLT. Dian-te disso, caso o empregador adira ao PAT – Programa de Alimentação ao Traba-lhador – , a parcela com natureza indenizatória somente atingirá novos contratos. Ressalta-se que nem mesmo a norma coletiva pode alterar, durante o contrato, a mudança da natureza jurídica da alimentação aos atuais empregados.

Nesse sentido, prevê a jurisprudência do TST:Súmula nº 51 do TST. Norma regulamentar. Vantagens e opção pelo novo regulamento. Art. 468 da CLT

I – As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferi-das anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento.

» Capítulo X – prescrição e decadência 1.3.4. Contagem do prazo prescricional do contrato em curso à época da promul-gação da EC/28-2000

Orientação jurisprudencial nº 271 da SDI – I do TST. Rurícola. Prescrição. Contrato de em-prego extinto. Emenda constitucional nº 28/2000. Inaplicabilidade O prazo prescricional da pretensão do rurícola, cujo contrato de emprego já se extinguira ao sobrevir a Emenda Constitucional nº 28, de 26/5/2000, tenha sido ou não ajuizada a ação tra-balhista, prossegue regido pela lei vigente ao tempo da extinção do contrato de emprego.

Orientação Jurisprudencial nº 417 da SDI – I do TST. Prescrição. Rurícola. Emenda Consti-tucional nº 28, de 26.05.2000. Contrato de trabalho em cursoNão há prescrição total ou parcial da pretensão do trabalhador rural que reclama direi-tos relativos a contrato de trabalho que se encontrava em curso à época da promulgação da Emenda Constitucional nº 28, de 26.05.2000, desde que ajuizada a demanda no prazo de cinco anos de sua publicação, observada a prescrição bienal.

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Violado o direito do trabalhador, nasce a pretensão de exigi-lo judicialmente. Assim sendo, o empregado terá um determinado prazo para exigir, na Justiça do Trabalho, o cumprimento da obrigação não respeitada pelo empregador. O funda-mento para a existência do prazo prescricional encontra-se na paz social. Se não existisse a prescrição, as empresas deveriam guardar documentos eternamente, esperando que um ex-empregado, algum dia, ajuizasse reclamações trabalhistas. Tal fato ocasionaria insegurança nas relações jurídicas.

O instituto da prescrição está intimamente ligado ao tempo e à inércia do titu-lar da pretensão. Prescrição retira a possibilidade de exigir um determinado direi-to em razão do decurso do tempo.

O prazo prescricional para o empregado rural era de 2 anos, a contar do tér-mino do contrato de trabalho, conforme previsto no art. 10 da Lei nº 5.889/73. Ele poderia pleitear as verbas trabalhistas de todo o período trabalhado, pois não havia prescrição durante o curso da relação de emprego, como ocorria para o em-pregado urbano. O fundamento para ausência do prazo prescricional (de 5 anos) durante o contrato era em razão da pouca instrução e do isolamento geográfico dos empregados rurais.

Ocorre que a Emenda Constitucional nº 28, de maio de 2000, alterou o art. 7º, XXIX, alínea b, da CF/88, e o prazo prescricional do trabalhador rural passou a ser o mesmo do urbano: 2 anos para ingressar com a ação judicial, após a extinção do contrato (permaneceu igual nesse ponto), com possibilidade de pleitear apenas dos últimos 5 anos, a contar da propositura da ação.

Surgiu, assim, o conflito intertemporal para os empregados contratados antes da emenda constitucional, dando origem a vários posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais. Repete-se: todas as correntes a seguir tratam dos contratos iniciados antes da entrada em vigor da EC/28-2000, pois os iniciados após já estão sujeitos ao novo prazo.

O primeiro posicionamento defendia a inconstitucionalidade do art. 1º da EC/28-2000, pois, ao reduzir o prazo prescricional do empregado rural, o legisla-dor constituinte derivado teria afrontado além do art. 60, § 4º, IV, da CF, também o princípio da proibição do retrocesso social. Essa tese não prosperou. As críticas feita a ela consistiam em: a) prescrição não é direito social, mas norma de ordem pública com finalidade de paz social; b) não há direito adquirido a determinado prazo prescricional; e c) o antigo prazo prescricional diferenciado do rural afron-tava diretamente o princípio da igualdade.

A segunda corrente, defendida por vários doutrinadores4, e recentemente ado-tada no TST pela Orientação Jurisprudencial nº 417, estabelece que a alteração

4. BARROS, Alice Monteiro de. Contratos e regulamentações especiais de trabalho: peculiaridades, aspectos controvertidos e tendências. 3. ed. rev. e

ampl. São Paulo: LTr, 2008. p. 504.

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do prazo prescricional teve eficácia imediata e se aplicava a situações em cur-so, mas os 5 anos deverão ser contados a partir da entrada em vigor da Emenda (maio/2000), do contrário haveria retroatividade da lei. Assim sendo, com base na OJ 417, somente após 5 anos da entrada em vigor da emenda, portanto em 26 de maio/2005, poder-se-iam atingir os contratos que estavam em curso anteriores a maio/2000. Em resumo, não há prescrição total ou parcial para os empregados que ajuizaram a reclamação trabalhista até 26 de maio de 2005.

Nesse sentido, segue uma das decisões que serviram de precedente ao tema agora em análise:

PRESCRIÇÃO. TRABALHADOR RURAL. CONTRATO DE TRABALHO EXTINTO APÓS O ADVENTO DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 28/2000. AÇÃO AJUI-ZADA ANTES DE CINCO ANOS CONTADOS DA DATA DA PROMULGAÇÃO DA REFERIDA EMENDA. A partir de 26/5/2000, por ocasião da promulgação da Emenda Constitucional nº 28/2000, começou a fluir, para os contratos de tra-balho vigentes à época, o prazo de prescrição quinquenal para o trabalhador rural pleitear a reparação de todos os direitos trabalhistas violados até então ao longo do contrato, conforme a nova redação dada ao artigo 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal. No caso, extinto o contrato de trabalho somente após a promulgação da aludida norma constitucional e tendo a ação trabalhista sido ajuizada em 19/05/2005, antes de cinco anos contados da data da pro-mulgação da referida emenda, não há prescrição a ser pronunciada, consoan-te os precedentes desta Corte. Embargos conhecidos e não providos. (Proces-so: E-ED-RR – 62500-03.2005.5.15.0029 Data de Julgamento: 04/08/201 1 , Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 12/08/2011. )

Por fim, de acordo com a OJ 271, o TST leva em conta a data da extinção do contrato. Se o término do contrato ocorreu antes da entrada em vigor da emenda, não haverá o prazo de 5 anos. Se a extinção do contrato de trabalho fosse posterior à EC/28-2000, estaria sujeito ao novo prazo prescricional.

» Capítulo XI – Direito Coletivo do Trabalho

5. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL

Súmula nº 432 do TST. Contribuição sindical rural. Ação de cobrança. Penalidade por atraso no recolhimento. Inaplicabilidade do art. 600 da CLT. Incidência do art. 2º da Lei nº 8.022/1990.

O recolhimento a destempo da contribuição sindical rural não acarreta a aplicação da multa progressiva prevista no art. 600 da CLT, em decorrência da sua revogação tácita pela Lei nº 8.022, de 12 de abril de 1990.

A Súmula nº 432 trata da contribuição sindical obrigatória. Era chamada, an-tigamente, de imposto sindical. É prevista em lei e no texto constitucional, sendo

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obrigatória para todos os empregados, profissionais liberais e, ainda, obrigatória aos empregadores, conforme previsto nos artigos 578 a 610 da CLT. Essa contri-buição compulsória tem natureza de tributo.

O Brasil é um dos únicos países que ainda exige a contribuição compulsória de todos os empregados (associados ou não) e empregadores, via contribuição sindical. De acordo com a CF/88:

Art. 8º, IV. A assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema con-federativo da representação sindical respectiva, independentemente da con-tribuição prevista em lei.

O valor a ser descontado dos empregados é da remuneração de 1 dia de tra-balho5. Esse valor será descontado no mês de março e repassado ao sindicato no mês de abril. O empregado deve ter prova da quitação da contribuição sindical, pois será solicitada na admissão. Se não estiver trabalhando ou não tiver prova da quitação, deverá ser descontado no primeiro mês subsequente ao reinício do trabalho.

Para os empregadores, o valor cobrado será proporcional ao capital social da empresa, e o recolhimento ocorrerá no mês de janeiro.

O rateio da contribuição sindical, cobrada dos trabalhadores, é feita de acordo com o artigo 589 CLT:

• 5% para as confederações;

• 10% para centrais sindicais6;

• 15% para as federações;

• 60% para os sindicatos;

• 10% restantes para conta especial do emprego e salário.

De acordo com o art. 600 da CLT, o atraso no pagamento da contribuição sin-dical deverá incluir as multas. O valor da contribuição é rateado entre as pessoas indicadas anteirormente, no art. 589 da CLT, mas as multas serão revertidas ex-clusivamente ao sindicato. A competência processual para julgar as causas envol-vendo cobrança de multa é da Justiça do Trabalho. A antiga Súmula nº 222 do STJ7 foi superada com o novo art. 114 da CF/88, pois previa a competência da Justiça Comum para julgar ações envolvendo contribuição sindical.

5. Se a remuneração for paga por tarefa, empreitada ou comissão, será 1/30 da quantia recebida no mês anterior. Aliás, quando o empregado

receber salário-utilidade ou, ainda, gorjetas, a contribuição sindical corresponderá a 1/30 da importância que tiver recebido no mês de janeiro,

para a contribuição do empregado à previdência social, conforme previsto no art. 582 da CLT.

6. O sindicato de trabalhadores indicará ao Ministério do Trabalho e Emprego a central sindical a que estiver fi liado como benefi ciária da respectiva

contribuição sindical.

7. Súmula nº 222 do STJ: Compete à justiça comum processar e julgar as ações relativas à contribuição sindical prevista no art. 578 da CLT.

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De acordo com o texto da CLT:Art. 600 – O recolhimento da contribuição sindical efetuado fora do prazo re-ferido neste Capítulo, quando espontâneo, será acrescido da multa de 10% (dez por cento), nos 30 (trinta) primeiros dias, com o adicional de 2% (dois por cento) por mês subseqüente de atraso, além de juros de mora de 1 % (um por cento) ao mês e correção monetária, ficando, nesse caso, o infrator, isento de outra penalidade. (Redação dada pela Lei nº 6.181, de 11.12.1974)

§ 1º – O montante das cominações previstas neste artigo reverterá sucessiva-mente: (Redação dada pela Lei nº 6.181, de 11.12.1974)

a) ao Sindicato respectivo;

b) à Federação respectiva, na ausência de Sindicato;

c) à Confederação respectiva, inexistindo Federação.

§ 2º – Na falta de Sindicato ou entidade de grau superior, o montante a que alude o parágrafo precedente reverterá à conta “Emprego e Salário”. (Redação dada pela Lei nº 6.181, de 11.12.1974)

Conforme a recente Súmula nº 432, a multa do art. 600 da CLT não se apli-ca à contribuição sindical rural, pois houve revogação pelo art. 2º, II, da Lei nº 8.022/90, conforme previsto abaixo:

Art. 1° É transferida para a Secretaria da Receita Federal a competência de ad-ministração das receitas arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e para a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional a competência para a apuração, inscrição e cobrança da respectiva dívida ativa.

(...)

Art. 2º As receitas de que trata o art. 1° desta lei, quando não recolhidas nos prazos fixados, serão atualizadas monetariamente, na data do efetivo paga-mento, nos termos do art. 61 da Lei n° 7.799, de 10 de julho de 1989, e cobra-das pela União com os seguintes acréscimos:

I – juros de mora, na via administrativa ou judicial, contados do mês seguinte ao do vencimento, à razão de 1% (um por cento) ao mês e calculados sobre o valor atualizado, monetariamente, na forma da legislação em vigor;

II – multa de mora de 20% (vinte por cento) sobre o valor atualizado, moneta-riamente, sendo reduzida a 10% (dez por cento) se o pagamento for efetuado até o último dia útil do mês subseqüente àquele em que deveria ter sido pago;

O TST acompanhou as decisões que já vinham sendo dadas pelo Superior Tri-bunal de Justiça, conforme a seguir mencionada a ementa:

DIREITO SINDICAL. CONTRIBUIÇÃ O SINDICAL RURAL. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA. CNA. MULTA. JUROS. CORREÇÃ O MONETÁ-RIA. TERMO INICIAL. ARTIGO 600 DA CLT. IMPOSSIBILIDADE. REVOGAÇÃ O TÁCITA DO DISPOSITIVO LEGAL. Afigura-se contrasenso a análise de tese que busca ampliar o termo inicial dos consectários previstos no artigo 600 da CLT, pois referido dispositivo foi tacitamente revogado pelo artigo 2.º da Lei nº 8.022/90. Precedentes. Recurso especial de que não se conhece.” (STJ--Resp-731175/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Carlos Fernando Mathias – Convocado, DJ, 6/3/20 08 p. 1.)

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OUTRAS ATUALIZAÇÕES

» Item 1.9.3. Adicional de Transferência

Foi incluído o Informativo abaixo:

De acordo com o Informativo nº 2 do TST: Adicional de transferência. Inde-vido. Ânimo definitivo. Período imprescrito. Contrariedade à Orientação Ju-risprudencial n.º 113 da SBDI-I. A transferência do empregado para localidade diversa da estipulada no pacto laboral, em que permanece, por largo período de tempo, até o fim do contrato, evidencia o ânimo de definitividade da alteração e afasta, por consequência, o pagamento do adicional de transferência ao trabalha-dor. No caso dos autos, ressaltou-se ainda que, não obstante a ocorrência de suces-sivas transferências durante a contratualidade, apenas esta última, com duração de nove anos, ocorreu no período imprescrito, afastando-se, portanto, seu caráter provisório. Com esse posicionamento, decidiu a SBDI-I, por maioria, vencidos os Ministros Augusto César Leite de Carvalho, relator, José Roberto Freire Pimenta, Renato de Lacerda Paiva, Horácio Raymundo de Senna Pires e Delaíde Miranda Arantes, conhecer dos embargos por contrariedade à Orientação Jurisprudencial n.º 113 da Subseção e, no mérito, dar-lhes provimento para excluir da condenação o adicional de transferência. TST-E-ED-RR-1345800-08.2001.5.09.0015, SBDI-1, rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, red. p/ acórdão Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho, 15.3.2012.

» No item 1.2.3.17

Nos comentários da Oj 379 incluir um último parágrafo:

Por fim, há intensa discussão se os empregados da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) são equiparados a bancários. Há dois posiciona-mentos. O primeiro deles, minoritário, defende a ideia de que os empregados dos Correios, após o convênio com o Banco Bradesco, em 2001, exercem ati-vidades tipicamente bancárias, portanto os empregados que executam essas tarefas devem ter os direitos da categoria, como jornada reduzida de 6 horas etc. A segunda corrente, majoritária e adotada pelo TST8, defende a ideia de que o enquadramento do empregado é feito pela atividade preponderante do empregador. Logo, a atividade principal dos Correios está ligada a serviços postais, ainda que haja algumas transações envolvendo banco postal. Aliás, há outros estabelecimentos que prestam os mesmos serviços de bancos, como lotéricas, supermercados e drogarias e nem por isso são equiparados aos bancos.

8. E-RR-158600-77.2006.5.18.0004. Relator Ministro Horácio de Senna Pires.

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» Terceirização – Pág. 165Nos comentários do item IV, foi incluído um parágrafo:

Dessa forma, para que o tomador seja responsabilizado deverá figurar no pólo passivo, juntamente com a empresa prestadora. Caso o empregado/terceirizado ingresse com a reclamação trabalhista apenas contra seu empregador (empresa prestadora), e não encontre bens para o pagamento dos seus débitos, não poderá, no futuro, ingressar com ação autônoma contra o tomador de serviços. Nesse sen-tido, prevê a jurisprudência majoritária9 do TST (Informativo nº 1):

Responsabilidade subsidiária. Ajuizamento de ação autônoma apenas con-tra o tomador de serviços. Impossibilidade. Existência de sentença conde-natória definitiva prolatada em ação em que figurou como parte somente o prestador de serviços. Não é possível o ajuizamento de ação autônoma pleite-ando a responsabilidade subsidiária do tomador de serviços quando há sentença condenatória definitiva prolatada em ação anteriormente proposta pelo mesmo reclamante, em que figurou como parte apenas o prestador de serviços. Tal pro-cedimento afrontaria a coisa julgada produzida na primeira ação e o direito à ampla defesa e ao contraditório, resguardado ao tomador de serviços. Assim, reiterando a jurisprudência da Corte, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos por divergência jurisprudencial e, no mérito, por maioria, negou-lhes provimento. Vencidos os Ministros Augusto César Leite de Carvalho, José Roberto Freire Pimenta e Delaíde Miranda Arantes. TST-E-RR-9100-62.2006.5.09.0011, SBDI-I, rel. Min. Horácio Raymundo de Senna Pires, 8.3.2012.

» Hora in itinere – Pág. 217Foi incluído parágrafo abaixo:

O que o TST não admite, porém, é a mera supressão da jornada itinerária. A seguir a jurisprudência recente prevista no Informativo nº 2 do TST:

Horas “in itinere”. Limitação por norma coletiva. Possibilidade. É válida cláu-sula coletiva que prevê a limitação do pagamento das horas in itinere, em atenção ao previsto no art. 7º, XXVI, da CF. Com esse entendimento, a SBDI-I, por maioria, conheceu dos embargos por divergência jurisprudencial e, no mérito, negou-lhes provimento, reafirmando a jurisprudência da Subseção no sentido de considerar válida cláusula de acordo coletivo que limita o pagamento das horas gastas no per-curso até o local de trabalho a uma hora diária, conquanto o contexto fático deline-ado nos autos tenha revelado que o tempo efetivamente gasto pelo trabalhador até o local da prestação de serviços fora, em média, de duas horas e quinze minutos. Vencidos os Ministros Lelio Bentes Corrêa, relator, Renato de Lacerda Paiva, José Ro-berto Freire Pimenta e Delaíde Miranda Arantes, que admitiam a possibilidade de a norma coletiva estabelecer tempo fixo para fins de pagamento das horas in itine-re, desde que constatada a devida proporcionalidade em relação ao tempo efetiva-mente gasto no percurso. TST-E-RR-471-14.2010.5.09.0091, SBDI-I, rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, red. p/ acórdão Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho, 15.3.2012.

9. Há posicionamento minoritário no sentido de que o terceirizado poderá ingressar com ação autônoma, pois discutirá com o tomador apenas a

responsabilidade subsidiária dos débitos. Aliás, a primeira ação em nada interfere nessa segunda ação judicial, pois as partes são diferentes.

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PARTE II

NOVAS SÚMULAS E OJS

» Capítulo II – Competência

2. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. ORGANIZAÇÃO OU ORGANISMO INTERNA -CIONAL

Orientação Jurisprudencial nº 416 da SDI – I do TST. Imunidade de jurisdição. Organiza-ção ou organismo internacional

As organizações ou organismos internacionais gozam de imunidade absoluta de jurisdição quando amparados por norma internacional incorporada ao ordenamento jurídico brasi-leiro, não se lhes aplicando a regra do Direito Consuetudinário relativa à natureza dos atos praticados. Excepcionalmente, prevalecerá a jurisdição brasileira na hipótese de renúncia expressa à cláusula de imunidade jurisdicional.

Os entes de direito público externo podem ser divididos em: 1) Estados es-trangeiros e; 2) Organizações (ou organismos) internacionais. Partindo dessa di-visão, passamos a analisar a submissão de tais entes à jurisdição brasileira, vale dizer, se estão sujeitos às imposições do Judiciário brasileiro ou se estão imunes a esta Jurisdição.

No que se refere aos Estados estrangeiros, a doutrina e a jurisprudência fra-cionam os atos por eles praticados em: atos de império e atos de gestão.

Os atos de império são aqueles praticados no exercício de suas prerrogativas soberanas. Nesse caso, os Estados estrangeiros possuem imunidade absoluta de jurisdição, ou seja, não se submetem à jurisdição brasileira.

Já os atos de gestão são aqueles em que o Estado estrangeiro atua em matéria de ordem estritamente privada, equiparando-se ao particular, como é o caso da

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aquisição de bens, contratação de empregados etc. Nessa hipótese, a jurisprudên-cia brasileira (STF e TST) não contempla a imunidade de jurisdição. Assim, os Es-tados estrangeiros, nos litígios trabalhistas, submetem-se às decisões proferidas pelos juízes e tribunais brasileiros.

Observa-se, porém, que a imunidade de jurisdição está ligada à fase de conhe-cimento. No âmbito da execução, o STF entende que o Estado estrangeiro tem imu-nidade absoluta (imunidade executória)1. Já o C. TST tem entendido no sentido de que somente haverá imunidade se os bens estiverem afetos às atividades diplomá-ticas e consulares, de modo que, havendo bens não afetados, eles se submeterão à execução trabalhista2.

É interessante registar que “o tema da imunidade de jurisdição do Estado não é objeto de nenhum tratado, tendo sido regulado, no âmbito internacional, por normas costumeiras, cujo teor vem refletindo na doutrina e na jurisprudência das cortes internas dos entes estatais”.3 Noutras palavras, a imunidade dos Estados estrangeiros, em regra, decorre do direito consuetudinário.

Quanto aos organismos (organizações) internacionais como, por exemplo, a ONU, OIT, OMC etc., o C.TST adotou entendimento diverso, no sentido de que para tais entidades a imunidade de jurisdição (processo de conhecimento) é abso-luta, conforme se verifica pela orientação em apreço.

A Corte Trabalhista justifica seu posicionamento nos seguintes fundamentos.

O tema das imunidades das organizações internacionais, em regra, decorre do direito convencional, ao contrário da imunidade dos Estados estrangeiros que se embasa no direito consuetudinário4. Em outros termos, as imunidades dessas organizações vêm estabelecidas em tratados internacionais, os quais, depois de ratificados, integram o ordenamento interno brasileiro.

Em decorrência disso, o Estado brasileiro tem obrigação de cumprir os trata-dos firmados, vez que são pactuados livremente pelo Brasil, sendo compromissos internacionais de caráter vinculante. Ademais, o descumprimento dos tratados firmados pelo Brasil sujeita o Estado brasileiro à responsabilização internacional.

Com efeito, estando a imunidade de jurisdição prevista em tratado internacio-nal, para o TST o organismo internacional não se submete à jurisdição brasileira. Excepciona-se, porém, o caso do organismo internacional, expressamente, renun-ciar a imunidade a ele conferida. Nesse sentido, seguem precedentes do C. TST:

EMBARGOS. INTIMAÇÃO DO ENTE PÚBLICO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 11.496/2007. CIÊNCIA EM 24.08.2007. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO.

1. STF – ACO-AgR 633/SP. Tribunal Pleno. Relª Minª. Ellen Gracie. DJ 22.6.07.

2. TST –ROMS 28200-14.2003.5.10.0000. Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva. DJ. 26.8.05

3. PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional público e privado. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2011.p. 184.

4. PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional público e privado. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2011.p. 189.

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ORGANISMOS INTERNACIONAIS. ONU/PNUD. 1. Diferentemente dos Estados estrangeiros, que atualmente têm a sua imunidade de jurisdição relativizada, segundo entendimento do próprio Supremo Tribunal Federal, os organismos internacionais permanecem, em regra, detentores do privilégio da imunida-de absoluta. 2. Os organismos internacionais, ao contrário dos Estados, são associações disciplinadas, em suas relações, por normas escritas, consubstan-ciadas nos denominados tratados e/ou acordos de sede. Não têm, portanto, a sua imunidade de jurisdição pautada pela regra costumeira internacional, tradicionalmente aplicável aos Estados estrangeiros. Em relação a eles, segue--se a regra de que a imunidade de jurisdição rege-se pelo que se encontra efetivamente avençado nos referidos tratados de sede. 3. No caso específi-co da ONU, a imunidade de jurisdição, salvo se objeto de renúncia expressa, encontra-se plenamente assegurada na Convenção sobre Privilégios e Imuni-dades das Nações Unidas, também conhecida como -Convenção de Londres-, ratificada pelo Brasil por meio do Decreto nº 27.784/1950. Acresça-se que tal privilégio também se encontra garantido na Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Agências Especializadas das Nações Unidas, que foi incorpo-rada pelo Brasil por meio do Decreto nº 52.288/1963, bem como no Acordo Básico de Assistência Técnica com as Nações Unidas e suas Agências Especia-lizadas, promulgado pelo Decreto nº 59.308/1966. 4. Assim, porque ampara-da em norma de cunho internacional, não podem os organismos, à guisa do que se verificou com os Estados estrangeiros, ter a sua imunidade de jurisdi-ção relativizada, para o fim de submeterem-se à jurisdição local e responde-rem, em conseqüência, pelas obrigações contratuais assumidas, dentre elas as de origem trabalhista. Isso representaria, em última análise, a quebra de um pacto internacional, cuja inviolabilidade encontra-se constitucionalmente assegurada (art. 5º, § 2º, da CF/88). 5. Embargos conhecidos, por violação ao artigo 5º, § 2º, da Constituição Federal, e providos para, reconhecendo a imu-nidade absoluta de jurisdição da ONU/PNUD, restabelecer o acórdão regional, no particular.5

RECURSO DE EMBARGOS. ORGANISMO INTERNACIONAL. IMUNIDADE DE JU-RISDIÇÃO. RECONHECIMENTO DO TRATADO INTERNACIONAL INSERIDO NO ORDENAMENTO JURÍDICO. Fonte de Direito Internacional o tratado nasce no ordenamento jurídico pela manifestação autônoma e soberana dos sujeitos que o celebram. É pela ratificação que o tratado passa a integrar o direito in-terno, depois de aprovado pelo Congresso Nacional. A autoridade do tratado apenas é mitigada, por entendimento ainda não pacificado, quando ingressa no ordenamento jurídico norma legal de direito interno, que revogue o seu conteúdo. Os fundamentos que nortearam o rompimento com a imunidade absoluta de jurisdição não podem ser aplicados, nem por analogia, aos orga-nismos internacionais. A análise da origem Estado estrangeiro x organismo internacional, em face do alcance da imunidade de jurisdição, deve ter como norte os princípios de direito internacional, em especial os relativos à reci-procidade e à natureza da constituição do privilégio. Quanto ao primeiro, a imunidade de jurisdição funda-se no costume e, quanto ao segundo, a imuni-dade funda-se no tratado internacional de que o Brasil, em sendo signatário, pela ratificação, tem inserido no ordenamento jurídico interno e não pode

5. TST – E-RR90000-49.2004.5.10.0019. Rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos. DEJT 4.12.2009.

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descumprir. Deve ser reformado o entendimento da c. Turma que relativizou a imunidade de jurisdição do organismo internacional, em face do mandamento constitucional inserido no art. 5º, § 2º, da Constituição Federal, que prevê, no capítulo relativo aos direitos fundamentais, o reconhecimento do tratado internacional. Embargos conhecidos e providos.6

Em suma, para o C. TST, tratando-se de Estado estrangeiro, não há imunidade de jurisdição nas lides trabalhistas. Por outro lado, sendo organizações (organis-mos) internacionais, tais entidades têm o privilégio da imunidade de jurisdição.

» Capítulo II – Competência

2.6. Competência para execução da contribuição social referente ao seguro de acidente de trabalho (SAT)

» Capítulo XV – Execução trabalhista

3.3. Competência para execução da contribuição social referente ao seguro de acidente de trabalho (SAT)

Orientação Jurisprudencial nº 414 da SDI – I do TST. Competência da justiça do trabalho. Execução de ofício. Contribuição social referente ao seguro de acidente de trabalho (SAT). Arts. 114, VIII, e 195, I, “a”, da Constituição da República 

Compete à Justiça do Trabalho a execução, de ofício, da contribuição referente ao Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), que tem natureza de contribuição para a seguridade social (arts. 114, VIII, e 195, I, “a”, da CF), pois se destina ao fi nanciamento de benefícios relativos à incapacidade do empregado decorrente de infortúnio no trabalho (arts. 11 e 22 da Lei nº 8.212/1991).

O art. 114, VIII, da CF/88 vaticina que a Justiça do Trabalho é competente para “a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir”.

Percebe-se, de plano, que a competência da Justiça laboral, para a execução de tais contribuições, passa pela análise do art. 195, I, a, e II, da CF/88, que estabelece:

Art . 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos or-çamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:

6. TST – E-ED-ED-RR-12100-84.2004.5.10.0020. Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga. DEJT 12.11.2010.

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a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

(...)

II – do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidin-do contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;

Verifica-se, portanto, que a Justiça do Trabalho tem competência para a execu-ção das contribuições sociais a cargo do empregador, empresa e entidades equipa-radas incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço.

Em regra, as empresas têm a obrigação de recolher 20% sobre o total da folha de salários dos empregados e trabalhadores avulsos.

Além desse percentual, existem dois adicionais que também incidem sobre a folha de pagamento.

O primeiro é a contribuição conhecida como SAT (seguro por acidente de trabalho)ou GILRAT (grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho), destinado a financiar benefícios de natureza acidentária.

Essa contribuição impõe que as empresas recolham mais 1%, 2% ou 3% sobre a remuneração dos trabalhadores empregados e avulsos, a depender do risco de acidente de trabalho na empresa (art. 22, II, da Lei nº 8.212/91). Desse modo, se o risco da empresa é leve, deve recolher 1%, sendo médio 2%, e máximo, 3%.

É interessante anotar que o risco é verificado de acordo com a atividade pre-ponderante da empresa, e não o risco da atividade individual do trabalhador, res-saltando que, havendo diferentes estabelecimentos com CNPJ diversos, a alíquota será analisada considerando cada um dos estabelecimentos (Súmula nº 351 do STJ7).

Atente-se que esse adicional incide sobre a remuneração dos trabalhadores empregados e avulsos, independentemente de estarem expostos a condições es-peciais de trabalho.

Além disso, é importante observar que o Ministério da Previdência Social po-derá alterar o enquadramento das empresas para efeito de adicional, com base nas estatísticas de acidentes do trabalho, apuradas em inspeção, a fim de estimular investimentos em prevenção de acidentes (art. 10 da Lei nº 10.666/03). Desse

7. Súmula nº 351 do STJ: “Alíquota de Contribuição para o Seguro de Acidente do Trabalho (SAT). A alíquota de contribuição para o Seguro de

Acidente do Trabalho (SAT) é aferida pelo grau de risco desenvolvido em cada empresa, individualizada pelo seu CNPJ, ou pelo grau de risco da

atividade preponderante quando houver apenas um registro”.

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modo, a alíquota poderá ser diminuída em até 50% e majorada para até 100%, o que significa que pode variar de 0,5% a 6%, a depender do investimento feito em segurança do trabalho.

O segundo adicional que incide na folha de pagamento é o destinado a finan-ciar as aposentadorias especiais. Nesse caso, as alíquotas de 1%, 2% e 3%, anun-ciadas acima (segundo a atividade de risco), são acrescidas de 6%, 9% ou 12%, a depender da aposentadoria especial dos trabalhadores, vale dizer, 25, 20 ou 15 anos, respectivamente (art. 57, § 6º, da Lei 8.213/91). Nessa hipótese, o adicional incide apenas sobre a folha dos trabalhadores com direito, em tese, à aposentado-ria especial.

Da análise desses adicionais é possível extrair que ambos integram o art. 195, I, a, da CF/88, embora a orientação em análise verse apenas sobre o primeiro (con-tribuição do SAT), sendo destinados a custear a seguridade social.

Além disso, o art. 114, VIII, da CF/88 é enfático em conceder à Justiça labo-ral competência para executar “contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais”. A expressão acréscimos legais não deixa nenhuma dúvida acerca da competência dessa Justiça Especializada para a execução da con-tribuição do SAT.

Com efeito, havendo decisão condenatória, incumbe à empresa recolher sua cota parte de 20%, acrescida do adicional relativo ao risco de sua atividade (1%, 2% ou 3%), as quais serão executadas, de ofício, na Justiça do Trabalho.

Antes de finalizar os comentários dessa orientação, é necessário fazer duas observações.

Primeira, a competência da Justiça do Trabalho para a execução de tais adicio-nais está limitada às condenações em pecúnia que proferir ou que seja objeto de acordo judicial homologado nessa Especializada, nos termos da Súmula nº 368, I, do TST.

A segunda observação diz respeito às contribuições de terceiros, ou seja, aque-las destinadas ao sistema S (Sesi, Senai, Sest, Senat, Senac, Senar, Sebrae, Incra etc.). Tais contribuições não têm como finalidade custear a seguridade social, es-tando excluída do art. 195, I, a, e II, da CF/88. Isso decorre de disposição expressa da Constituição da República, ao mencionar em seu art. 240 que “ficam ressalva-das do disposto no art. 195 as atuais contribuições compulsórias dos empregado-res sobre a folha de salários, destinadas às entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical”.

Assim, não estando incluídas no art. 195, I, a, e II, da CF/88, a Justiça do Tra-balho é incompetente para executá-las, por força do art. 114, VIII, da CF/88. Nesse sentido, caminha a jurisprudência da Corte Trabalhista:

RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRA-BALHO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DE TERCEIROS. SISTEMA ‘S’. SEGURO DE

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SÚMULAS E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DO TST | NOTA DE ATUALIZAÇÃO 23

ACIDENTE DE TRABALHO – SAT. Compete à Justiça do Trabalho a execução, de ofício, da contribuição social do empregador referente ao seguro de aci-dente de trabalho – SAT, incidente sobre a remuneração e destinado ao finan-ciamento da seguridade social, nos moldes dos arts. 114, VIII, e 195, I, “a”, e II, da Carta Política. Por outro lado, à luz da jurisprudência desta Corte, a exação da contribuição social de terceiros, de interesse das categorias profissional ou econômica (CF, art. 149), que constituem o denominada sistema ‘S’, refoge à competência material desta Justiça Especializada porquanto não se enquadra na hipótese constitucional de execução ex officio das contribuições previden-ciárias stricto sensu, assim entendidas as compreendidas pelo art. 195, I, “a”, e II, da Constituição da República e decorrentes de condenação ou de sentença homologatória de acordo, nos termos do art. 114, VIII, da Carta Magna.8

De todo o exposto, conclui-se que a Justiça do Trabalho é competente para a execução, de ofício, das contribuições do SAT, decorrentes das sentenças condena-tórias em pecúnia que proferir e de seus acordos homologados, sendo incompe-tente para a execução das contribuições de terceiros.

» Capítulo XIV – Recurso

2.4.7. Embargos para a SDI na fase executiva

Súmula nº 433 do TST. Embargos. Admissibilidade. Processo em fase de execução. Acórdão de Turma publicado na vigência da Lei nº 11.496, de 26.06.2007. Divergência de interpreta-ção de dispositivo constitucional

A admissibilidade do recurso de embargos contra acórdão de Turma em recurso de revista em fase de execução, publicado na vigência da Lei nº 11.496, de 26.06.2007, condiciona-se à demonstração de divergência jurisprudencial entre Turmas ou destas e a Seção Especiali-zada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho em relação à interpretação de dispositivo constitucional.

A presente súmula busca disciplinar o cabimento dos embargos à SDI, na fase executiva, após o advento da Lei nº 11.496/07, que suprimiu os embargos de nulidade.

É sabido que, na fase de execução, não se admite, como regra, o recurso de re-vista, permitindo-o tão somente quando houver violação da Constituição Federal, como se verifica pelo disposto no § 2º do art. 896 da CLT, in verbis:

§ 2º Das decisões proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho ou por suas Turmas, em execução de sentença, inclusive em processo incidente de embargos de terceiro, não caberá Recurso de Revista, salvo na hipótese de ofensa direta e literal de norma da Constituição Federal.

8. TST – RR 1765442-12.2004.5.09.0009. Relª. Min. Rosa Maria Weber. 3ª T. DEJT 27.11.2009.

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Vislumbra-se por aludido dispositivo que o recurso de revista, na fase execu-tiva, está limitado à decisão que viola direta e literalmente a Constituição Federal. Afastou-se nessa hipótese, portanto, o cabimento do recurso por violação à lei fe-deral, contrariedade de súmula, bem como por divergência jurisprudencial.

Diante dessa limitação e, principalmente, pelo novo regramento dos embargos para a SDI, estabelecido pela Lei nº 11.496/2007, passou-se a questionar o cabi-mento dos embargos na fase de execução e, sendo cabíveis, em quais hipóteses serão admitidos.

Isso ocorreu porque antigamente os embargos seguiam praticamente as mes-mas diretrizes do recurso de revista, exercendo a função revisora das decisões da Turma, assim como a função unificadora da jurisprudência do TST.

Com o advento da Lei nº 11.496/2007, os embargos de nulidade, que tinham a função revisora, foram suprimidos, de modo que atualmente os embargos servem tão somente para unificar o entendimento interno do TST. Isso significa que ape-nas têm cabimento, nos dias atuais, os embargos de divergência.

Desse modo, questiona-se: sendo o recurso de revista antecedente dos embar-gos à SDI, e sabendo que aquele recurso (revista), na fase executiva, não é admi-tido com fundamento na divergência jurisprudencial, serão cabíveis os embargos para a SDI por divergência jurisprudencial?

O C. TST, acertadamente, vem contemplar na, presente súmula, o cabimento dos embargos à SDI na fase de execução. E isso se justifica porque as hipóteses de cabimento do recurso de revista e dos embargos à SDI são diversas na atualidade.

O recurso de revista tem cabimento, nessa fase, apenas quando violar direta e literalmente a Constituição Federal, enquanto os embargos à SDI serão admitidos quando houver decisões das Turmas do TST que divergirem entre si, ou das deci-sões proferidas pela Seção de Dissídios Individuais (CLT, art. 894, II).

Portanto, a violação à Constituição Federal, na fase de execução, serve para adentar no TST, por meio do recurso de revista. Já estando no TST, caso a Turma, examinando o dispositivo constitucional objeto do recurso de revista, profira in-terpretação diversa de outra Turma ou da SDI, serão cabíveis os embargos à SDI, com a finalidade de unificar o entendimento interno do TST9.

É interessante anotar, no entanto, que a divergência, na hipótese, estará limi-tada à violação Constitucional.

Isso porque, sendo os embargos de divergência um recurso de natureza extra-ordinária, ele está submetido ao prequestionamento. Com efeito, cabendo o recurso

9. PEREIRA, João Batista Brito. Os embargos no TST na vigência da Lei 11.496/2007 – art. 894, inc. II, da CLT. Revista do Tribunal Superior do Traba-

lho. Brasília, vol. 74, nº2, abr/jun 2008. p. 43.

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de revista exclusivamente por violação da Constituição Federal, apenas tal tema será prequestionado e, consequentemente, poderá alcançar os embargos à SDI.

Assim, concluímos que os embargos de divergência na fase executiva são ca-bíveis apenas quando a divergência jurisprudencial entre as Turmas do TST ou destas com a SDI estiver fundada na interpretação da Constituição Federal.

» Capítulo VI – Atos processuais

3.4.9. Interposição do recurso antes da publicação do acórdão impugnado

» Capítulo XIV – Recurso

1.4.2.7. Interposição do recurso antes da publicação do acórdão impugnado

Súmula nº 434 do TST. Recurso. Interposição antes da publicação do acórdão impugnado. Extemporaneidade.

I – É extemporâneo recurso interposto antes de publicado o acórdão impugnado.

II – A interrupção do prazo recursal em razão da interposição de embargos de declaração pela parte adversa não acarreta qualquer prejuízo àquele que apresentou seu recurso tempestivamente.

I – É extemporâneo recurso interposto antes de publicado o acórdão impugnado.

O C. TST disciplinou o tema, inicialmente, por meio da OJ nº 357 da SDI-I do TST, convertendo-a na presente súmula que passamos a analisar.

O julgamento do mérito do recurso pressupõe a análise prévia do juízo de admissibilidade, oportunidade em que se verifica a presença dos pressupostos recursais, tendo dentre eles o pressuposto extrínseco da tempestividade. Por-tanto, o recurso somente terá seu mérito julgado se interposto no prazo previsto em lei, além de preencher os demais pressupostos recursais. Assim não agindo, o recurso não será conhecido pelo juízo ad quem ou não terá seguimento pelo juízo a quo.

A constatação da regularização do prazo depende de dois aspectos: a) o termo inicial (dies a quo) e b) o termo final (dies ad quem). Na presente súmula discute--se o termo inicialdo prazo para interpor recurso contra acórdão.

O art. 506 do CPC estabelece o momento em que deve ser iniciada a contagem do prazo recursal, declinando:

Art . 506. O prazo para a interposição do recurso, aplicável em todos os casos o disposto no art. 184 e seus parágrafos, contar-se-á da data:

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I – da leitura da sentença em audiência;

II – da intimação às partes, quando a sentença não for proferida em audiência;

III – da publicação do dispositivo do acórdão no órgão oficial.

Interpretando o inciso III do artigo supramencionado, o C. TST entendeu que somente após a publicação no órgão oficial se dá existência jurídica ao acórdão, de modo que apenas depois de preenchido esse requisito poderá a parte interpor recurso, sob pena de se recorrer do que ainda não existe. Trata-se do chamado recurso prematuro ou intempestividade ante tempus adotado pela jurispru-dência do Supremo Tribunal Federal:

– a intempestividade dos recursos tanto pode derivar de impugnações pre-maturas (que se antecipam às publicações dos acórdãos) quanto decorrer de oposições tardias (que se registram após o decurso dos prazos recursais)

Em qualquer das duas situações – impugnação prematura ou oposição tardia –, a conseqüência de ordem processual é uma só: o não conhecimento do recurso, por efeito de sua extemporânea interposição.

– A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem advertido que a sim-ples notícia do julgamento, além de não dar início à fluência do prazo recur-sal, também não legitima a prematura interposição do recurso, por absoluta falta de objeto. Precedentes. (grifos no original) 10

Portanto, com base nesse entendimento, a parte somente poderá interpor recurso após a publicação do acórdão no órgão oficial, mesmo que tenha ci-ência da decisão antes da publicação, sob pena de seu recurso não ser co-nhecido por extemporaneidade. Registra-se que, nessa hipótese, o TST já de-cidiu que o recorrente poderá interpor novamente o recurso depois do início do prazo recursal, vez que o primeiro recurso não produziu nenhum efeito11.

Aludido posicionamento não encontra guarida na doutrina, nem mesmo no Superior Tribunal de Justiça12. Fundamenta-se que a juntada da decisão aos au-tos, ou seja, sua integração no processo é capaz de dar-lhe existência jurídica, sen-do desde já recorrível, independentemente de publicação no órgão oficial13. Nesse sentido, Cândido Rangel Dinamarco:

10. STF – AI n. 375.124-3.2ª T. Rel. Min. Celso de Mello. DJU 28.06.2002.

11. “INTEMPESTIVIDADE – RECURSO PREMATURO – ADITAMENTO – RATIFICAÇÃO – PRECLUSÃO CONSUMATIVA – A intempestividade decorrente

da interposição de recurso antes do início do prazo não gera a preclusão consumativa, porquanto o recurso prematuro não produz qualquer

efeito, razão por que o segundo recurso, interposto no prazo recursal, revela-se regular. Recurso de Embargos de que se conhece e a que se dá

provimento.” (TST – E-ED-RR 625419/2000 – Rel. Min. João Batista Brito Pereira – DJe 21.5.2010).

12. STJ – AgRg nos EREsp 492.461-MG. Rel. originário Min. Gilson Dipp, Rel. para acórdão Min. Eliana Calmon, julgado em 17.11.2004.

13. Para Júlio César Bebber: “A decisão adquire publicidade e passa a ter existência como ato jurídico quando se torna pública. E se torna pública

quando redigida em sessão de julgamento ou entregue na secretaria do juízo. Tornada pública a decisão as partes serão dela intimadas mediante

publicação no órgão ofi cial. Assim, se a publicidade dá existência jurídica à decisão, a partir dela permite-se a impugnação, independentemente

da sua publicação no órgão ofi cial. Interposto o recurso, então, tem-se por antecipada a intimação da parte”. BEBBER, Júlio César.Recursos no

processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 110-111.

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Não se confundem, pois, publicação da sentença, como ato de sua integração ao processo, e sua publicação pela imprensa. Esta é apenas um dos modos pe-los quais se dá ciência da sentença aos defensores das partes. Mas, o Supremo Tribunal Federal chegou a implantar uma indesejável linha jurisprudencial portadora dessa confusão, ao considerar intempestivos os recursos que fos-sem interpostos depois de publicado o acórdão ou a sentença nos autos e an-tes de sua publicação pela imprensa (intempestividade por prematuridade). Felizmente o Superior Tribunal de Justiça repudiou com veemência essa tese, mas infelizmente ela ainda continua viva no Supremo Tribunal Federal. É pre-ciso bani-la de vez.14 (grifos no original)

O mesmo doutrinador, em estudo específico sobre a matéria, adverte:A técnica dos julgamentos nos tribunais brasileiros inclui, entre outras provi-dências menores e sem interesse para o presente estudo, (a) a discussão da causa ou recurso pelos integrantes do órgão colegiado, com eventual susten-tação oral, (b) a manifestação do voto de cada um, seguida da proclamação do resultado pelo presidente do órgão, (c) a publicação desse resultado pela im-prensa oficial, (d) os trabalhos de datilografia, digitação e impressão dos votos e do acórdão, realizados pelo pessoal auxiliar, (e) a assinatura pelo re-lator ou, quando assim dispõe o regimento interno, também pelo presidente, (f) o registro do acórdão, sua anexação aos autos e finalmente (g) a publicação das conclusões do acórdão, ou de sua parte dispositiva, pela imprensa oficial.

...

No caso de decisões tomadas pelos órgãos colegiados de um tribunal (câma-ra, turma, seção, plenário etc.), a mera pronúncia de votos em sessão de julgamento não dá corpo ainda a um julgamento acabado, porque os votos são pronunciados oralmente sem serem reduzidos a termo ou regis-trado em ata o teor de cada um. Por isso, e como verba volant, a formação do ato processual acórdão só se consuma quando este élavrado e impresso em papel, sendo então registrado e levado aos autos. Apenas depois de rea-lizadastais providências, com o concurso dos serviços auxiliares do tribunal, é que a decisão dos órgãos colegiados se considera publicada. E daí o acerto daqueles precedentes do Supremo Tribunal Federal, na parte em que afirmam ser insuficiente a mera notícia do julgamento, como ato capaz de desencade-ar a admissibilidade de eventual recurso. Mas, realizadas as providências de lavratura, assinatura,registro e juntada aos autos, o julgamento reputa-se acabado e portanto existente, não sendo adequado afirmar que um recurso interposto antes da publicação pela imprensa caísse no vazio por voltar--se contra um ato juridicamente inexistente. Realizadas tais providências,o julgamento do tribunal já existe perante o direito; ele já será então, a partir daí, um autêntico ato do processo.

...

Outro significado e outra finalidade têm as publicações de conclusões e ementas, a serem feitas pela imprensa oficial (CPC, art. 506, incs. II--III). Elassão feitas com o objetivo de levar aos defensores das partes o

14. DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 6. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2009. v. 3, p. 707.

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conhecimento de uma sentença, decisão ou acórdão já previamente exis-tente. São, pois,puros atos de comunicação processual, sabendo-se que, por força de uma determinação legal bastante ampla, as intimações aos advoga-dos se realizam por esse meio (CPC, art. 236). Publica-se pela imprensa, para intimar. Mas intimam-se os advogados do teor de uma sentença, decisão ou acórdão já presente nos autos e existente perante o direito.

...

Ora se o valor das publicações, de decisões, sentenças ou acórdãos pela im-prensa oficial é representado pela ciência desses atos, a ser obtida através delas, é imperioso, em cada caso, dar muito mais atenção à obtenção desse resultado do que ao cumprimento da formalidade consistente em pu-blicar. Publica-se para intimar e intima-se para fazer saber. Por isso, não tem qualquer necessidade ou relevância uma intimação a quem já sabe.

E conclui trazendo os significados do verbo publicar: As decisões tomadas pelos órgãos colegiados de um tribunal são sujeitas a um complexo iter de formação, principiando pela discussão da causa ou recurso em sessão de julgamento, tomada dos votos dos julgadores, proclamação do resultado pelo presidente e intimação desse resultado pela imprensa, seguin-do-se a tudo isso uma série de providências destinadas à lavratura, assinatura e registro do acórdão, o qual será afinal anexado aos autos. Nesse momento o acórdão está publicado, ou seja, a partir daí existe no mundo jurídico um julgamento que poderá ser objeto do recurso que em cada caso o sistema pro-cessual admitir. Estamos no campo da existência de um ato jurídico processu-al perfeito e acabado, o qual poderá então ter a eficácia que a lei lhe atribuir. A outra publicação, aquela que pelo jornal oficial se faz, não se confunde com aquela primeira. O acórdão cuja ementa e conclusões são enviados à impren-sajá está previamente publicado, no sentido de que já é um ato público, um ato processual perfeito e acabado e, portanto, recorrível conforme as dispo-sições legais pertinentes (recorrível pela via de embargos infringentes, recurso especial, extraordinário etc.)15.

Assim, com a integração do acórdão ao processo, que se faz por meio da junta-da aos autos, ele passa a ter existência jurídica, podendo, portanto, ser impugná-vel via recurso, independentemente de publicação no órgão oficial. A exigência da juntada aos autos é necessária, pois é conhecida a máxima de que “o que não está nos autos não está no mundo”.

Registra-se que admitir o recurso antes da publicação na imprensa oficial não somente é juridicamente cabível, como demonstrado anteriormente, vez que a juntada da decisão nos autos lhe confere existência jurídica, como também privi-legia os princípios da celeridade e efetividade processual, os quais são tão procla-mados atualmente, razão pela qual deveriam ser incentivados e não penalizados como faz o Tribunal Superior do Trabalho na presente súmula.

15. In:Revista Dialética de Direito Processual. São Paulo: Dialética, 2004, n. 16, p. 9-23.

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Interessante notar que o Supremo Tribunal Federal alterou seu posiciona-mento quando se tratar dedecisão monocrática. Isso porque entendeu a Su-prema Corte que nesse caso a decisão já sai do gabinete devidamente juntada aos autos, ou seja, publicada. Difere, na visão do STF, da decisão colegiada que somen-te é juntada ao processo depois da remessa ao diário oficial.

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL CONTRA DECISÃO DE RELATOR QUE, POR INTEMPESTIVIDADE, NEGOU SEGUIMENTO A OUTRO AGRAVO REGIMEN-TAL. RECURSO NÃO RATIFICADO OPORTUNAMENTE. Conforme entendimen-to predominante nesta colenda Corte, o prazo para recorrer só começa a fluir com a publicação do acórdão no órgão oficial, sendo prematuro o recurso que o antecede. Entendimento que não se aplica no caso de decisão monocrática, a cujo inteiro teor as partes têm acesso nos próprios autos, antes da respectiva publicação. Recurso provido para, afastada a intempestividade do primeiro agravo,dar-se-lhe seguimento.16

Desse modo, ao menos quanto à decisão monocrática do relator, urge modifi-cação do posicionamento do TST, pois está afastado do entendimento do STF.

II – A interrupção do prazo recursal em razão da interposição de embargos de declaração pela parte adversa não acarreta qualquer prejuízo àquele que apresentou seu recurso tempestivamente.

A OJ nº 357 da SDI I do TST não fazia referência aos embargos de declaração, sendo incluídos no item II da súmula ora comentada.

Para melhor compreensão do tema e ampliação dos casos existentes, anali-saremos a interposição de recurso quando pendente o julgamento dos embargos de declaração em duas hipóteses: a) recurso interposto por uma das partes e os embargos de declaração pela parte adversa; b) recurso e embargos de declaração interpostos pela mesma parte.

A primeira proposição vem disciplinada no item II da presente súmula.

Nesse caso, sendo interpostos os embargos de declaração, o Superior Tribu-nal de Justiça17 tem decidido no sentido de que o recurso “principal” interposto deve ser reiterado, após o julgamento dos embargos de declaração, sob pena de ser considerado prematuro (intempestividade ante tempus), conforme explanado anteriormente no item I.

O C. TST, porém, de modo acertado, não aplicou a intempestividade ante tempus na hipótese de interposição de recurso pela parte adversa da que apre-sentou os embargos de declaração.

16. STF – AO 1133AgR-AgR/DF. Pleno. Rel. Min. Carlos Brito. DJ. 24.03.2006.

17. STJ – Resp 659.663/MG. 4º Turma. Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJe. 22.03.2010.

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Entendeu a Corte trabalhista que a parte que não interpôs os embargos de declaração e já tenha interposto seu recurso “principal”, tempestivamente, não pode ser prejudicada, ou seja, seu recurso produzirá todos os efeitos, não haven-do necessidade de reiteração ou ratificação. Nesse caso, a interrupção do prazo recursal, no entendimento do C. TST, somente atingirá a parte que interpôs os em-bargos de declaração e não a parte contrária que já interpôs o recurso “principal”. Exemplificamos:

A sentença condena a empresa X ao pagamento das horas extras, julgando improcedente o pedido de adicional de insalubridade. O reclamante interpõe embargos de declaração, dentro do prazo legal de 5 dias, alegando obscurida-de na análise do pedido de adicional de insalubridade. A empresa X, por sua vez, dentro do prazo recursal (8 dias), interpõe recurso ordinário quanto à condenação ao pagamentodas horas extras. Nesse caso, a empresa não pre-cisará ratificar seu recurso ordinário, depois do julgamento dos embargos de declaração.

Isso não significa, porém, que a parte adversa não terá seu prazo interrompi-do na hipótese de não ter interposto nenhum recurso. Noutras palavras, o C. TST disciplina, nessa súmula, apenas a hipótese de já existir um recurso interposto pela parte adversa. Se ambas as partes não apresentaram, por exemplo, recurso ordinário, e uma delas interpôs embargos de declaração, a interrupção do prazo recursal atingirá as duas partes.

Desse modo, a aplicação do presente item sumular somente terá incidência quando há interposição de embargos de declaração por uma parte e de recurso “principal” pela outra.

Cabe registrar, nesse momento, que ocorrendo alteração ou integração da de-cisão, em razão do acolhimento dos embargos, nasce para a parte adversa o direito (e não obrigação ou dever) de complementar a fundamentação do seu recurso, com a finalidade de atacar a decisão em seus termos atuais, limitado à nova su-cumbência, observando assim o princípio do contraditório.

Por fim, cumpre analisar a hipótese em que o recurso e embargos de declara-ção são interpostos pela mesma parte.

Nesse caso, s.m.j., o segundo recurso interposto não produzirá efeitos, tendo em vista o princípio da unirrecorribilidade. Em outros termos, por vezes as partes, não sabendo se os embargos de declaração serão conhecidos e avaliando o enten-dimento de alguns juízes no sentido de que o não conhecimento dos embargos não interrompe o prazo recursal, interpõem, simultaneamente18, embargos de declaração e um outro recurso (por exemplo, ordinário). Aqui, o ato impugnável

18. “(...) apesar de concordar com a possibilidade de uma das partes, por exemplo, apelar da sentença, enquanto a outra ingressa com embargos de

declaração – não parece admissível que a mesma parte ingresse com os dois recursos simultaneamente (...)”. NEVES, Daniel Amorim Assumpção.

Manual de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2010.p. 556.

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SÚMULAS E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DO TST | NOTA DE ATUALIZAÇÃO 31

é apenas um, a sentença, não comportando dois recursos, sob pena de violar o princípio da unirrecorribilidade. Assim, considerando que a unirrecorribilidade é solucionada pela preclusão consumativa19, o primeiro recurso interposto será o válido, sendo o posterior ineficaz. Com efeito, caso os embargos de declaração sejam interpostos primeiro que o outro recurso, após a decisão dos embargos, a parte deverá interpor novamente o recurso, por exemplo, o recurso ordinário.

» Capítulo XIV – Recurso

1.2.1.3. e 2.7.2.3. Interposição de agravo inominado ou regimental de decisão colegiada. Erro grosseiro

Orientação jurisprudencial nº 412 da SDI – I do TST. Agravo inominado ou agravo regi-mental. Interposição em face de decisão colegiada. Não cabimento. Erro grosseiro. Inaplica-bilidade do princípio da fungibilidade recursal 

É incabível agravo inominado (art. 557, § 1º, do CPC) ou agravo regimental (art. 235 do RITST) contra decisão proferida por Órgão colegiado. Tais recursos destinam-se, exclusivamente, a impugnar decisão monocrática nas hipóteses expressamente previstas.Inaplicável, no caso, o princípio da fungibilidade ante a confi guração de erro grosseiro.

Conforme já estudado nesta obra, as decisões dos tribunais devem ser proferi-das por órgão colegiado (princípio do colegiado).

Contudo, com base nos princípios da economia e celeridade processual, o le-gislador passou a mitigar o princípio do colegiado, atribuindo poderes ao relator para julgar monocraticamente os recursos, como se observa, por exemplo, nos arts. 896, § 5º, da CLT e 557 do CPC. A atuação do relator, porém, é mera delegação de poder, “mantendo-se com o órgão colegiado a competência para decidir”20.

Desse modo, para manter a substância do tribunal (órgão colegiado) e a com-petência do colegiado, a decisão monocrática do relator está sujeita ao agravo in-terno (inominado) ou regimental, o qual será analisado pelo órgão colegiado do tribunal competente (por exemplo, Turma).

Percebe-se, por essa sistemática, que o agravo interno ou regimental tem como foco sempre uma decisão monocrática. A razão da existência desse recurso é justamente levar ao colegiado a decisão monocrática do relator.

Isso quer dizer que não será cabível a interposição de agravo regimental ou interno de decisão colegiada.

19. BEBBER, Júlio César. Recursos no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 210.

20. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2010.p. 643.

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A propósito, não se aplica, na hipótese, o princípio da fungibilidade recursal. Isso porque é sabido que tal princípio tem incidência quando presente três re-quisitos: a) dúvida objetiva; b) inexistência de erro grosseiro; e c) observância do prazo do recurso correto (teoria do prazo menor).

O erro grosseiro consiste na interposição de recurso manifestamente ilegal, ou seja, aquele que interpôs o recurso não possui nenhuma dúvida sobre o recurso interposto, faltando-lhe, contudo, conhecimento jurídico. Portanto, ocorre quando a lei (ou o regimento interno do Tribunal) expressamente estabelece a forma de impugnação da decisão, mas o recorrente não observa o comando legal.

Na hipótese, o art. 239 do Regimento Interno do TST declina expressamente:Art. 239. Cab erá agravo ao órgão colegiado competente para o julgamento do respectivo recurso, no prazo de oito dias, a contar da publicação no órgão oficial:

I – da decisão do Relator, tomada com base no § 5.º do art. 896 da CLT;

II – da decisão do Relator, dando ou negando provimento ou negando se-guimento a recurso, nos termos do art. 557 e § 1.º-A do CPC. (grifos nossos)

Conclui-se, portanto, que, seja pela própria sistemática do agravo interno ou regimental, seja porque o regimento interno do TST dispõe sobre qual o recurso correto, é incabível a interposição desses recursos para impugnar decisão colegia-da, afastando, inclusive, a aplicação do princípio da fungibilidade, por se tratar de erro grosseiro.

Por fim, ressalta-se que, sendo manifestamente inadmissível o agravo interno ou regimental no presente caso, poderá ser aplicada a multa descrita no art. 557, § 2º, do CPC, a qual é aplicada subsidiariamente ao processo do trabalho (TST-IN 17/99, item III)21.

21. Para maiores detalhes acerca da aplicação da multa do art. 557, § 2º, do CPC, vide os comentários da OJ nº 389 da SDI – I do TST, no capítulo XIV,

item 1.4.6.2.

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SÚMULAS E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DO TST | NOTA DE ATUALIZAÇÃO 33

SÚMULAS E OJS QUE TIVERAM SUA REDAÇÃO ALTERADA

» Capítulo XVII – Ação rescisória

9.4.4.1. Necessidade quando se tratar de violação à lei

Súmula nº 298 do TST. Ação rescisória. Violação a disposição de lei. Pronunciamento explícito

I – A conclusão acerca da ocorrência de violação literal a disposição de lei pressupõe pronun-ciamento explícito, na sentença rescindenda, sobre a matéria veiculada.

II – O pronunciamento explícito exigido em ação rescisória diz respeito à matéria e ao enfo-que específi co da tese debatida na ação, e não, necessariamente, ao dispositivo legal tido por violado. Basta que o conteúdo da norma reputada violada haja sido abordado na deci-são rescindenda para que se considere preenchido o pressuposto.

III – Para efeito de ação rescisória, considera-se pronunciada explicitamente a matéria trata-da na sentença quando, examinando remessa de ofício, o Tribunal simplesmente a confi rma.

IV – A sentença meramente homologatória, que silencia sobre os motivos de convencimen-to do juiz, não se mostra rescindível, por ausência de pronunciamento explícito.

V – Não é absoluta a exigência de pronunciamento explícito na ação rescisória, ainda que esta tenha por fundamento violação de dispositivo de lei. Assim, prescindível o pronuncia-mento explícito quando o vício nasce no próprio julgamento, como se dá com a sentença "extra, citra e ultra petita".

O prequestionamento é um pressuposto recursal específico dos recursos de natureza extraordinária, consistente na obrigatoriedade de que haja decisão prévia acerca do direito objetivo supostamente violado ou aplicado de forma divergente. Tem como objetivo impedir a decisão dos Tribunais Superiores sobre matérias não decididas nas instâncias ordinárias, obstando inclusive a existência de teses originárias nesses tribunais22.

Isso se justifica, porque os recursos de natureza extraordinária são julgados pelos Tribunais Superiores (STF, TST e STJ), que são órgãos revisores da instância ordinária, tendo a missão de unificar a interpretação do direito brasileiro, definin-do a exata aplicação da norma. Com efeito, tratando-se de órgão revisor, somente se alcança, por exemplo, o recurso de revista ou de embargos para a SDI após o esgotamento da instância ordinária, o que significa que o TST apenas julgará tais recursos se as matérias já tiverem sido discutidas e decididas anteriormente. É o que estabelece a Súmula nº 297 do TST.

O prequestionamento, portanto, é instituto criado para os recursos de nature-za extraordinária, o que gerou dúvida acerca de sua aplicação na ação rescisória.

22. BEBBER, Júlio César. Recursos no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 306.

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Para parcela da doutrina e da jurisprudência, diga-se majoritária, não há fa-lar em prequestionamento na ação rescisória. Primeiro, porque não se trata de recurso, mas de ação autônoma de impugnação. Segundo, porque o objetivo do recurso de natureza extraordinária é o de unificar o entendimento nacional acerca do direito federal. Assim, para atingir seu objetivo “é imprescindível que a justiça local haja emitido um derradeiro pronunciamento acerca da matéria”23. Na ação rescisória, por sua vez, embora tenha por fim preservar a exata aplicação da lei, não se busca unificar a jurisprudência, o que significa que a matéria, mesmo que não debatida e decidida anteriormente, poderá ser invocada na ação rescisória. Nesse sentido, lecionaFlávio Luiz Yarshell:

Em qualquer dessas hipóteses, convém enfatizar, a propósito do disposto no art. 485, V, do CPC, que não se exige para a rescisória o requisito do preques-tionamento – entendido como o enfretamento da questão fática ou jurídica pela decisão (aqui) rescindenda. Nem mesmo parece desejável, de lege feren-da, fosse ele exigido para a ação rescisória, porque exigência dessa natureza não teria – como não tem – qualquer justificativa lógica no sistema (como, diversamente, tem nos casos de recurso extraordinário e especial); exceto para, sob o ângulo pragmático, criar maiores obstáculos à desconstituição das decisões transitadas em julgado, ao argumento de se prestigiar a estabilidade das decisões judiciais24.

No mesmo caminho já decidiu o Supremo Tribunal Federal:AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO – CONSTITUCIO-NAL – RESCISÓRIA – CABIMENTO – EXIGÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO – PRAZO DECADENCIAL – INOBSERVÂNCIA – VIOLAÇÃO EFETIVA À COISA JULGADA – 1. Ação rescisória. Cabimento. Exigência de prequestionamento para a sua admissibilidade. Insubsistência. O Supremo Tribunal Federal, à época em que detinha competência para apreciar a negativa de vigência de legislação federal, assentou que as hipóteses enunciadas nos incisos do artigo 485 do Código de Processo Civil evidenciam a inaplicabilidade, à rescisória, do pressuposto concernente ao prequestionamento, dado que a rescisória não é recurso, mas ação contra a sentença transitada em julgado. Precedentes. 2. Ação rescisória. Julgamento sem observância do prazo bienal. Decadência. Há efetiva violação à coisa julgada, se conhecida e julgada procedente ação rescisória proposta quando já decorrido o prazo bienal, contado a partir do trânsito em julgado da decisão rescidenda. Agravo regimental não provido25.

DIREITO DO TRABALHO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO DE INS-TRUMENTO. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. ANULAÇÃO DE DEMIS-SÃO. AÇÃO RESCISÓRIA. PREQUESTIONAMENTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA TST 298 AFASTADA. RETORNO DOS AUTOS AO TST. ART. 557, § 1º, CPC. JU-RISPRUDÊNCIA DOMINANTE. DECISÃO MONOCRÁTICA DE RELATOR. 1. Em-bargos de declaração recebidos como agravo regimental, consoante iterativa

23. TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho . São Paulo: LTr, 2009. v. 3, p. 2.750.

24. YARSHELL, Flávio Luiz.Ação rescisória: juízos rescindente e rescisório. São Paulo: Malheiros Editores Ltda., 2005. p. 324-325.

25. STF – RE-AgR 444810 – DF. 1ª T. Rel. Min. Eros Grau. DJU 22.4.2005.

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jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, além da evidente infringência ao julgado. 2. Aplicação da Súmula TST 298 (ausência de prequestionamento) em ação rescisória, óbice afastado. 3. Matéria sedimentada na jurisprudên-cia desta Corte possibilita ao relator julgá-la, monocraticamente, nos termos do art. 557, § 1º, do CPC. Precedentes. 4. Agravo regimental a que se nega seguimento26.

Da mesma forma, o Superior Tribunal de Justiça:PROCESSO CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. VIOLAÇÃO À LITERAL DISPOSITIVO DE LEI. NECESSIDADE DE PREQUESTIONAMENTO NO JULGADO RESCINDENDO. A jurisprudência do colendo Pretório Excelso e a doutrina encontram-se orientadas no entendimento de que a ação rescisória alicerçada no art. 485, V, do Código de Processo Civil não exige que a indigitada norma apontada como infringida tenha sido prequestionada no r. julgado rescindendo. Recur-so provido27.

O Tribunal Superior do Trabalho, por sua vez, adotou posicionamento dia-metralmente oposto, exigindo, na redação original dessa súmula, o prequestio-namento na ação rescisória.

Em sessão do Tribunal Pleno realizada em 6.2.2012, o C. TST alterou a redação da presente súmula modificando o termo prequestionamento por pronunciamen-to explícito, tentando adequar-se à doutrina e à jurisprudência majoritária.

No entanto, a modificação da redação não altera o conteúdo do verbete. Isso porque pronunciamento explícito significa tese jurídica apreciada e decidida na decisão rescindenda, ou seja, decisão prévia acerca da matéria. Mantém-se, portanto, a exigência do prequestionamento, embora escrito de outra forma.

Registra-se, contudo, que a súmula em comentário terá aplicação apenas quando se tratar de ação rescisória calcada em violação à literal disposição de lei(inciso V), e não nas demais hipóteses do art. 485 do CPC. Aliás, o próprio C. TST afastou a exigência do prequestionamento (pronunciamento explícito) na hipó-tese de incompetência absoluta, como se verifica pela OJ nº 124 da SDI-II do TST.

Assim, considerando que a Corte Trabalhista exige o pronunciamento explícito na ação rescisória, passamos a analisar cada um dos itens da presente súmula.

I – A conclusão acerca da ocorrência de violação literal a disposição de lei pressupõe pronun-ciamento explícito, na sentença rescindenda, sobre a matéria veiculada.

A doutrina diverge sobre o conceito de prequestionamento. Para a primei-ra corrente, prequestionamento é o debate prévio da matéria (antes do julga-mento), por meio de provocação da parte interessada. Para a segunda corrente, o prequestionamento consiste em decisão prévia, isto é, quando há juízo de valor

26. STF – AI 758148 ED / PR. 2ª T. Rel.  Min. Ellen Gracie. DJ. 18.5.2011.

27. STJ – Resp 468.229/SC. 5ª T. – Rel. Min. Felix Fischer. DJ 28.06.2004.

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proferido no acórdão, independentemente de manifestação da parte interessada. Já para a terceira corrente, o prequestionamento significa a conjunção de debate e decisão prévios, impondo a provocação da parte interessada e a manifestação da matéria no acórdão.

O C. TST adotou, para a ação rescisória, a segunda corrente, pois conceituou o prequestionamento como decisão prévia (pronunciamento explícito) acerca da matéria. Segue a mesma sistemática da Súmula nº 297, I, do TST, bem como da Súmula nº 282 do STF, quando tratam do prequestionamento nos recursos de na-tureza extraordinária.

Portanto, o prequestionamento, na ação rescisória, é analisado com base no conteúdo da decisão rescindenda, devendo existir manifestação explícita sobre a matéria impugnada na ação rescisória.

II – O pronunciamento explícito exigido em ação rescisória diz respeito à matéria e ao enfo-que específi co da tese debatida na ação, e não, necessariamente, ao dispositivo legal tido por violado. Basta que o conteúdo da norma reputada violada haja sido abordado na deci-são rescindenda para que se considere preenchido o pressuposto.

Esse item é complementar do item I, tendo como objetivo delimitar a expres-são pronunciamento explícito.

Por pronunciamento explícito deve-se entender a tese jurídica apreciada e decidida na decisão rescindenda, independentemente de ter constado, na decisão impugnada, referência ao dispositivo legal. O que se impõe, portanto, é juízo de valor proferido expressamente na decisão rescindenda, a fim de permitir ao tri-bunal, em sede de juízo rescindente, o exame da norma que está por baixo e que se diz ter sido agredida no processo rescindendo.

Isso quer dizer que há pronunciamento explícito se, por exemplo, a decisão rescindenda analisou a regularidade da notificação, chegando à conclusão de que o princípio do contraditório não foi violado. Nesse caso, como o conteúdo do art. 841 da CLT foi analisado, mesmo que não haja especificação ao referido artigo, estará preenchido o requisito do prequestionamento (pronunciamento explícito). O que o C. TST não admite é que não haja qualquer decisão no processo originário sobre a regularidade da notificação, buscando discutir-se a matéria tão somente na ação rescisória. Segue aqui a mesma ideologia da OJ nº 118 da SDI do TST.

Assim, o pronunciamento explícito estará presente se a decisão rescindenda adotar expressamente tese jurídica a respeito da matéria, independente de ter in-dicado o artigo violado.

III – Para efeito de ação rescisória, considera-se pronunciada explicitamente a matéria trata-da na sentença quando, examinando remessa de ofício, o Tribunal simplesmente a confi rma.

Conforme analisado nos itens anteriores, o C. TST exige pronunciamento ex-plícito na decisão rescindenda acerca da matéria impugnada na ação rescisória, ou

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seja, impõe que haja tese jurídica apreciada e decidida na decisão rescindenda, independentemente de ter constado, na decisão impugnada, referência ao dispo-sitivo legal.

Diante disso, quando o acórdão regional decide por manter a sentença pelos seus próprios fundamentos, o tribunal regional não expede tese jurídica acerca do tema, vez que profere decisão ausente de fundamentação. Ademais, ao limitar-se aos fundamentos da sentença, a tese jurídica é da sentença e não do acórdão, vez que neste nada consta. Nesse contexto, o C. TST, ao menos quanto aos recursos de natureza extraordinária, entende que não há prequestionamento no acórdão regional quando este simplesmente confirma a sentença adotando seus fundamentos (OJ nº 151 da SDI-I do TST).

No entanto, na ação rescisória de decisão submetida ao reexame necessá-rio, o E.TST adota posicionamento diverso, considerando existente o pronun-ciamento explícito mesmo que o acórdão do tribunal simplesmente confirme a sentença. Tal posicionamento se justifica pelos seguintes fundamentos.

As decisões total ou parcialmente desfavoráveis à pessoa jurídica de direito público que não explore atividade econômica estão sujeitas ao reexame necessá-rio, a teor do disposto do art. 1º, V, do Decreto-Lei nº 779/69.

Assim, mesmo que tais pessoas jurídicas não interponham recurso voluntário, a decisão desfavorável obrigatoriamente será submetida ao tribunal, a fim de dar eficácia à decisão judicial. Essa obrigatoriedade é afastada apenas nas hipóteses do art. 475, §§ 2º e 3º, do CPC (Súmula nº 303 do TST).

O reexame necessário, embora denominado equivocadamente pelo art. 1º, V, do Decreto-Lei nº 779/69 de recurso ex officio, não tem natureza recursal, vez que lhe falta “tipicidade, voluntariedade, tempestividade, dialeticidade, legitimi-dade, interesse em recorrer e preparo, características próprias dos recursos”28. Trata-se, na verdade, de condição de eficácia da sentença impedindo o trânsito em julgado da decisão29 e sua produção de efeito, até que seja realizado o duplo grau de jurisdição.

Disso resulta que a atuação do tribunal tem o condão de permitir a produção de efeitos práticos da decisão desfavorável ao ente público. Noutras palavras, a ausência do reexame necessário torna sem efeito a sentença, não produzindo in-clusive coisa julgada (OJ nº 21 da SDI-II do TST).

Com efeito, a simples confirmação da sentença pelo tribunal tem a capacidade de preencher o reexame necessário, permitindo que essa decisão produza coisa julgada material, sendo suscetível de ação rescisória.

28. NERY Jr., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 11. ed. São Paulo: RT, 2010. p.

742-743.

29. Súmula 423 do STF: “Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ‘ex offi cio’, que se considera interposto ex lege”.

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Além disso, se a matéria já foi decidida previamente na sentença, tem-se que ela já pronunciou acerca da tese jurídica, até mesmo porque, repete-se, o reexame necessário não é recurso, mas condição de eficácia da sentença.

Desse modo, tratando-se de reexame necessário, a simples confirmação da sentença, que pronunciou sobre a matéria, pelo tribunal, já é capaz de preencher a exigência do pronunciamento explícito, podendo o acórdão ser atacado pelo corte rescisório.

IV – A sentença meramente homologatória, que silencia sobre os motivos de convencimento do juiz, não se mostra rescindível, por ausência de pronunciamento explícito.

Inicialmente, cabe consignar que o presente item dessa súmula tem como foco a decisão homologatória de cálculos, como se verifica pelos precedentes que o originaram. Isso quer dizer que não tem aplicação na hipótese de decisão que homologa acordo judicial, a qual é suscetível do corte rescisório, por força da Súmula nº 259 do TST. Partindo dessa premissa, passamos a analisar este item sumular.

A Súmula nº 399, II, do TST estabelece:

A decisão homologatória de cálculos apenas comporta rescisão quando en-frentar as questões envolvidas na elaboração da conta de liquidação, quer solvendo a controvérsia das partes quer explicitando, de ofício, os motivos pelos quais acolheu os cálculos oferecidos por uma das partes ou pelo setor de cálculos, e não contestados pela outra.

Interpretando aludida súmula, chegamos à conclusão de que a Corte Traba-lhista considera a decisão que homologa os cálculos de liquidação sob dois en-foques: a) a que analisa controvérsia; b) a que apenas homologa os cálculos, sem proferir juízo de valor.

Na primeira hipótese, o E.TST declina que a decisão é de mérito e não mera-mente homologatória, estando, portanto, suscetível ao corte rescisório.

No segundo caso, entende o C. TST que, não havendo controvérsia acerca dos cálculos de liquidação, a decisão é meramente homologatória, o que sig-nifica que não é suscetível de ação rescisória.

Além disso, para o TST, a sentença meramente homologatória, que silen-cia sobre os motivos de convencimento do juiz, não se mostra rescindível, por ausência de pronunciamento explícito. Noutras palavras, quando o juiz sim-plesmente homologa os cálculos sem proferir juízo de valor, falta tese jurídica apreciada e decidida na decisão rescindenda capaz de dar ensejo ao corte resci-sório.

Assim, por se tratar de decisão ausente de pronunciamento explícito, o Tribu-nal Superior do Trabalho conclui que ela não é apta a ensejar o corte rescisório.

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V – Não é absoluta a exigência de pronunciamento explícito na ação rescisória, ainda que esta tenha por fundamento violação de dispositivo de lei. Assim, prescindível o pronuncia-mento explícito quando o vício nasce no próprio julgamento, como se dá com a sentença “extra, citra e ultra petita”.

É sabido que o princípio da inércia estabelece que o Poder Judiciário somente poderá se manifestar acerca do que foi provocado. Em decorrência desse prin-cípio, veda-se que o Judiciário possa conceder pedido diverso (extra petita) ou superior (ultra petita) ao formulado.

Além disso, uma vez provocado, as partes têm direito à prestação jurisdicio-nal30, impondo ao Judiciário o dever de julgar o mérito do processo, quando pre-sentes os pressupostos processuais e as condições da ação. Com efeito, caso haja pedido não analisado na sentença, esta fica eivada de nulidade, sendo denominada de sentença citra petita.

Surge assim o chamado princípio da congruência ou adstrição, segundo o qual o magistrado não pode proferir sentença além, fora ou aquém do pedido, sob pena de violação dos arts. 128 e 460 do CPC.

Havendo tais vícios na decisão, é possível o ajuizamento da ação rescisória por violação literal de lei. Nesse caso, no entanto, o C. TST afasta a necessidade de pro-nunciamento explícito, vez que se trata de vício que nasce no próprio julgamento da decisão rescindenda.

É estranho o posicionamento do C.TST no que se refere às decisões ultra e ex-tra petita. Isso porque, para que a decisão julgue além ou fora do pedido, há neces-sidade de pronunciamento sobre pedidos não colocados na petição inicial, ou seja, o pronunciamento judicial é, de certo modo, consequência lógica dessas decisões.

Parece-nos, contudo, que a Corte Trabalhista quis fazer duas afirmações nesse item sumular.

Primeiro, no sentido de que não se exige debate prévio acerca da matéria impugnada nessas hipóteses, adotando posicionamento similar ao declinado na OJ nº 119 da SDI-I do TST31.

Segundo, que não há necessidade de recurso da decisão ultra, extra ou citra-petita proferida no processo originário, com o intuito de declarar expressamente tais vícios. É o que se extrai inclusive da OJ nº 41 da SDI-II do TST em que, na hi-pótese de decisão citra petita, a Corte Trabalhista admite a ação rescisória mesmo que não tenham sido interpostos os embargos de declaração.

30. Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional.

31. OJ nº 119 da SDI-I do TST. Prequestionamento inexigível. Violação nascida na própria decisão recorrida. Súmula nº 297. Inaplicável. É inexi-

gível o prequestionamento quando a violação indicada houver nascido na própria decisão recorrida. Inaplicável a Súmula n.º 297 do TST.

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Do exposto, concluímos que, havendo decisões citra, extra ouultra petita, mes-mo não existindo debate prévio sobre a matéria e recurso, no processo originário, para declaração expressa da violação, elas ficam sujeitas ao corte rescisório.

» Capítulo XIV – Recurso

2.1.2.2. Necessidade do contraditório

Orientação Jurisprudencial nº 142 da SDI-I do TST. Embargos de declaração. Efeito modi-fi cativo. Vista à parte contrária

I – É passível de nulidade decisão que acolhe embargos de declaração com efeito modifi cati-vo sem que seja concedida oportunidade de manifestação prévia à parte contrária.

II – Em decorrência do efeito devolutivo amplo conferido ao recurso ordinário, o item I não se aplica às hipóteses em que não se concede vista à parte contrária para se manifestar so-bre os embargos de declaração opostos contra sentença.

I – É passível de nulidade decisão que acolhe embargos de declaração com efeito modifi cati-vo sem que seja concedida oportunidade de manifestação prévia à parte contrária.

Em princípio, os embargos de declaração não estão submetidos ao contradi -tório.

No entanto, conforme explanado nos comentários da Súmula nº 278 do TST, o art. 897-A da CLT admitiu expressamente os embargos de declaração com efeito modificativo nas hipóteses de omissão, contradição e manifesto equívoco no exa-me dos pressupostos extrínsecos do recurso.

Assim, diante da possibilidade de os embargos de declaração poderem alterar o conteúdo da decisão embargada, a doutrina passou a divergir acerca da necessi-dade de se conceder o contraditório à parte contrária.

Parcela da doutrina entende que é dispensável a intimação do embargado, uma vez que não há alegação de matéria nova no processo, mas simplesmente pedido de esclarecimento ou integração do julgado.

O C. TST, no entanto, adotou tese contrária, entendendo que, na hipótese de os embargos terem efeito modificativo, há necessidade de intimação do embargado para se manifestar, pois, existindo a possibilidade de se alterar o julgado, poderá criar prejuízo para a parte contrária, sendo-lhe permitido se manifestar previa-mente em homenagem aos princípios do contraditório e da ampla defesa. No mes-mo sentido, já decidiu o Supremo Tribunal Federal:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, EFEITO MODIFICATIVO E CONTRADITÓRIO (CF, ART. 5º, LV) – Firme o entendimento do Tribunal que a garantia constitu-cional do contraditório exige que à parte contrária se assegure a possibilidade

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de manifestar-se sobre embargos de declaração que pretendam alterar deci-são que lhe tenha sido favorável.32

Tratando-se de recurso, a manifestação do embargado será por meio de con-trarrazões, a qual possui o mesmo prazo do recurso. Desse modo, interpostos os embargos de declaração, será concedido ao embargado o prazo de 5 dias para apresentar suas contrarrazões, sob pena de poder ser configurada a nulidade.

Registra-se que a orientação em comentário declina ser “passível” de nulida-de. Isso porque a decretação da nulidade ocorrerá apenas quando demonstrado o prejuízo processual, a teor do disposto no art. 794 da CLT, que assim vaticina:

Art. 794 – Nos processos sujeitos à apreciação da Justiça do Trabalho só have-rá nulidade quando resultar dos atos inquinados manifesto prejuízo às partes litigantes.

É o que estabelece o C.TST no item II, que passamos a analisar.

II – Em decorrência do efeito devolutivo amplo conferido ao recurso ordinário, o item I não se aplica às hipóteses em que não se concede vista à parte contrária para se manifestar so-bre os embargos de declaração opostos contra sentença.

Conforme anunciado no item anterior, havendo embargos de declaração com efeito modificativo, em regra, há necessidade de observância do contraditório pré-vio, sob pena de nulidade. No entanto, somente se pode falar em nulidade quando demonstrado o prejuízo à parte (CLT, art. 794). Tal prejuízo deve ser de índole processual, não se cogitando, nessa hipótese, de prejuízo “material, financeiro, econômico ou moral decorrente do conflito de direito material”33.

É com fundamento na ausência de prejuízo processual que o C.TST deixou ex-presso no item II em comentário que,sendo a sentença sujeita a recurso ordinário, não será obrigatório o contraditório prévio nos embargos de declaração.

E assim agiu, porque o recurso ordinário, por ser um recurso de natureza ordi-nária e de fundamentação livre, admite a rediscussão de forma ampla da matéria fática, o exame total das provas e debate pleno da aplicação do direito, poden-do fundar-se no mero inconformismo da parte vencida34. Em decorrência disso, o efeito devolutivo tem aplicação plena nessa modalidade de recurso, incidindo de forma supletiva no processo do trabalho o art. 515 do CPC35.

Isso quer dizer que todas as matérias tratadas na sentença poderão ser levantadas oportunamente no recurso ordinário, ou seja, não haverá prejuí-zo, porque o contraditório será diferido, vale dizer, será exercido, posteriormente,

32. STF – RE 384031 – AL – 1ª T. Rel. Min. Sepúlveda Pertence. DJU 4.6.2004.

33. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2011.p. 383.

34. BEBBER, Júlio César. Recursos no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 46.

35. Para o estudo específi co do efeito devolutivo, vide comentários da Súmula nº 393 do TST, no capítulo XIV, item 1.6.1.

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no recurso ordinário. Nesse contexto, vislumbram-se os precedentes do E. TST transcritos a seguir:

NULIDADE PROCESSUAL – EMBARGOS DECLARATÓRIOS OPOSTOS À SEN-TENÇA – EFEITO MODIFICATIVO – AUSÊNCIA DE VISTA À PARTE CONTRÁ-RIA – DEVOLUÇÃO AO TRIBUNAL DE TODA A MATÉRIA DEBATIDA EM PRI-MEIRO GRAU – INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO – NULIDADE NÃO DECRETADA – APLICAÇÃO CONJUGADA DA OJ 142 DA SBDI-1 DO TST COM O ART. 794 DA CLT – PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA NÃO ATINGI-DOS. Tendo o Regional negado a existência de prejuízo para as Partes (ante a ausência de intimação dos embargos declaratórios do Reclamante opos-tos à sentença, acolhidos com efeito modificativo do julgado), em razão da oportunidade que tiveram de devolver ao Tribunal, mediante a interposição do recurso ordinário, toda a matéria decidida na sentença, não há demons-tração de contrariedade à Orientação Jurisprudencial nº 142 da SBDI-1 do TST, nem de vulneração dos princípios do contraditório e da ampla defesa. Isso porque a referida orientação giza ser passível de nulidade a decisão que acolhe os embargos declaratórios com efeito modificativo, sem ser dada opor-tunidade para a parte contrária se manifestar a respeito. Mas, consoante a norma prescrita no art. 794 da CLT, não havendo prejuízo, não há que se falar em nulidade. Como se vê, a orientação jurisprudencial em comento afirma que ‘pode ser decretada a nulidade’ da decisão, mas a nulidade também pode deixar de ser decretada no caso de não ter havido preju-ízo para a parte a quem aproveitaria, o que demonstra a razoabilidade da aplicação conjugada do seu entendimento com a norma contida no art. 794 da CLT. Ademais, podendo ser devolvida ao Regional mediante o recurso ordinário das Partes, toda a matéria discutida na sentença, sem nenhum prejuízo à sua apreciação ainda à luz dos fatos e das provas co-ligidos nos autos, não restou demonstrada a ofensa aos princípios da ampla defesa e do contraditório inscritos no art. 5º, LV, da Carta Magna. Recurso de revista não conhecido (grifos acrescidos)36.

RECURSO DE REVISTA. NULIDADE PROCESSUAL. EMBARGOS DE DECLARA-ÇÃO. CONCESSÃO DE EFEITO MODIFICATIVO SEM INTIMAÇÃO DA PARTE CONTRÁRIA. OJ 142 DA SBDI-1/TST. A Orientação Jurisprudencial 142 da SBDI-1/TST dispõe ser passível de nulidade a decisão que acolhe os embargos declaratórios com efeito modificativo, sem que seja dada oportunidade para a parte contrária se manifestar a respeito. Todavia, ela não contém uma regra absoluta, devendo ser compatibilizada com a norma prescrita no art. 794 da CLT, segundo a qual não haverá nulidade se não houver manifesto prejuízo aos litigantes. Na hipótese, consignou o v. acórdão regional que a Reclamada, embora não tenha sido intimada para manifestar-se sobre os embargos de declaração acolhidos com efeito modificativo, já havia exaurido a oportuni-dade de contestar o pedido de seguro-desemprego postulado na inicial e, no recurso ordinário, manifestou seu inconformismo contra o deferimento da parcela. Ou seja, foi-lhe garantida a oportunidade de devolver à instância re-visora, mediante a interposição do seu recurso ordinário, a análise da matéria de fato e de direito decidida na primeira instância (Princípios do Duplo Grau

36. TST – RR 01500-2002-906-06-00-8. 4ª T. Rel. Min. Ives Gandra Martins Filho. DJU 23.4.2004.

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de Jurisdição e do Tantum Devolutum Quantum Appellatum). Assim, não se vislumbra a alegada ofensa aos princípios constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, garantidos pelo art. 5º, LIV e LV, da CF. Precedentes da Corte, pelas Turmas e pela SBDI-1. Recurso de revista não conhecido.37

Com efeito, tratando-se de sentença, por estar sujeita ao recurso ordinário, não é obrigatória a ciência da parte contrária para se manifestar dos embargos de declaração interpostos.

Nos demais casos, porém, a regra continua sendo a exigência do contraditório prévio, incidindo o item I da orientação em análise. A propósito, na hipótese de decisão sujeita a recurso de índole extraordinária (ex. recurso de revista e em-bargos para a SDI), impõe-se o contraditório prévio, ou seja, antes do julgamento dos embargos de declaração. Isso ocorre porque, nesses recursos, não se admite a verificação de fatos e provas, ficando limitado à análise de direito, o que significa que o prejuízo para a parte é presumido, pois não poderá alegar todas as maté-rias que poderia levantar na instância ordinária, e inclusive nas contrarrazões dos embargos de declaração, que poderiam influenciar o julgador a acolher sua tese.

2.4.4.5. Recurso não conhecido com base em orientação jurisprudencial

Orientação Jurisprudencial nº 336 da SDI-I do TST. Embargos interpostos anteriormente à vigência da Lei n.º 11.496/2007. Recurso não conhecido com base em orientação jurispru-dencial. Desnecessário o exame das violações de lei e da constituição federal alegadas no recurso de revista

Estando a decisão recorrida em conformidade com orientação jurisprudencial, desnecessá-rio o exame das divergências e das violações de lei e da Constituição alegadas em embargos interpostos antes da vigência da Lei n.º 11.496/2007, salvo nas hipóteses em que a orienta-ção jurisprudencial não fi zer qualquer citação do dispositivo constitucional.

A Súmula nº 333 do TST não permite o cabimento do recurso de revista quan-do a decisão estiver superada por “iterativa, notória e atual jurisprudência do Tri-bunal Superior do Trabalho”. O regramento dessa súmula foi contemplado no art. 896, § 4º, da CLT, o qual estabelece:

§ 4º. A divergência apta a ensejar o Recurso de Revista deve ser atual, não se considerando como tal a ultrapassada por súmula, ou superada por iterativa e notória jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho.

Como forma de objetivar o que seria decisão superada por iterativa e notória jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, o C. TST criou as orientações jurisprudenciais, as quais demonstram qual é o entendimento predominante em cada órgão da Corte Trabalhista (por exemplo, da SDI-I).

37. TST -RR 202700-73.2005.5.02.0465.6ª T. Rel. Min. Maurício Godinho Delgado. DEJT 30.4.2010.

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Assim, a orientação jurisprudencial visa a unificar o entendimento no âmbito do Judiciário trabalhista, o que significa que, estando uma decisão de acordo com determinada orientação, não há divergência atual acerca do tema, afastando as-sim o cabimento do recurso de revista e também dos embargos à SDI com funda-mento em divergência jurisprudencial.

Ademais, ao criar as orientações jurisprudenciais, o TST tem como base deci-sões reiteradas do tribunal (precedentes) que analisam possíveis violações legais e constitucionais a respeito do tema. Nesse sentido, as violações legais e constitu-cionais sobre a matéria já foram analisadas e pacificadas com a criação da OJ, o que impossibilita novos questionamentos. Pensar de forma contrária seria retirar toda a razão de ser das OJs.

A mesma justificativa, e com maior razão, há de ser invocada quando a decisão recorrida estiver em consonância com súmula do TST, como se verifica pelo julga-mento abaixo:

RECURSO DE REVISTA – ENQUADRAMENTO BANCÁRIO – HORAS EXTRAS – O eg. TRT manteve o enquadramento do obreiro na regra do artigo 224 da Consolidação das Leis do Trabalho, decidindo em consonância com o dispos-to na Súmula/TST nº 55, a saber: “As empresas de crédito, financiamento ou investimento, também denominadas financeiras, equiparam-se aos estabele-cimentos bancários para os efeitos do art. 224 da CLT”. Ao que se verifica, os arestos trazidos a dissenso esbarram no óbice da Orientação Jurisprudencial nº 336 da C. SBDI-1 do TST. Recurso de revista não conhecido. APLICAÇÃO DAS NORMAS COLETIVAS DOS BANCÁRIOS. Os empregados das ditas empre-sas financeiras, conquanto equiparados aos bancários para os fins do art. 224 da CLT, não podem beneficiar-se das normas coletivas celebradas entre estes últimos, uma vez que ditas normas não foram subscritas pela sua própria em-pregadora. Recurso de revista conhecido e provido.38

Dessa forma, estando a decisão recorrida de acordo com súmula ou orientação jurisprudencial do TST, não há necessidade de verificar a divergência jurispruden-cial invocada, tampouco a alegação de violações legais e constitucionais.

No que tange,especificamente, aos embargos à SDI, antes do advento da Lei nº 11.496/2007, eles eram admitidos para: 1) sanar a divergência interna no TST (embargos de divergência); 2) na hipótese em que a decisão da Turma do TST vio-lasse literalmente preceito de lei federal ou da Constituição da República, sendo denominados, nesse último caso, de embargos de nulidade.

É por isso que o C. TST fazia a ressalva na orientação, no sentido de que,quando a orientação jurisprudencial não fizesse nenhuma referência ao texto constitucio-nal, seriam cabíveis os embargos para a SDI (embargos de nulidade).Em outros termos, se o recorrente alegasse violação à norma constitucional que não estava descrita na OJ confrontante, seriam cabíveis os embargos para a SDI.

38. TST – RR 3184/2003-001-12-00. Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva. DJe 26.02.2010.

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Contudo, com o advento da Lei nº 11.496/2007, foram suprimidos do or-denamento os embargos de nulidade, ou seja, atualmente, não são cabíveis os embargos quando a decisão da Turma do TST viola literalmente preceito de lei federal ou da Constituição da República, o que afasta a necessidade da ressalva descrita na presente orientação, até porque, repete-se, o recorrente não poderá alegar violação de norma constitucional.

Além disso, depois da entrada em vigor da aludida lei, torna-se desnecessária a presente orientação, vez que o art. 894, II, da CLT expressamente declina não se-rem cabíveis os embargos à SDI quando “a decisão recorrida estiver em consonân-cia com súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal”. Noutras palavras, o artigo celetista já contempla o teor da presente orientação jurisprudencial.

Atento a essa nova sistemática dos embargos à SDI, o pleno do C. TST, em ses-são realizada no dia 6.2.2012, modificou a redação original da presente orientação, para aplicá-la tão somente aos casos anteriores à vigência da Lei nº 11.496/2007.

Por fim, registra-se que, nos dias atuais, se a decisão da Turma do TST con-trariar texto constitucional, somente caberá recurso extraordinário para o STF, ficando vedado o aviamento dos embargos à SDI, que estão restritos à divergência jurisprudencial.

2.3.8.2. Recurso de revista fundado em contrariedade à orientação jurisprudencial

Orientação jurisprudencial nº 352 da SDI-I do TST. Procedimento sumaríssimo. Recurso de revista fundamentado em contrariedade a orientação jurisprudencial. Inadmissibilidade. Art. 896, § 6º, da CLT, acrescentado pela lei nº 9.957, de 12.01.2000

Nas causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, a admissibilidade de recurso de revista está limitada à demonstração de violação direta a dispositivo da Constituição Federal ou contrariedade a Súmula do Tribunal Superior do Trabalho, não se admitindo o recurso por contrariedade a Orientação Jurisprudencial deste Tribunal (Livro II, Título II, Capítulo III, do RITST), ante a ausência de previsão no art. 896, § 6º, da CLT.

O recurso de revista é um recurso de natureza extraordinária, porque se em-basa na tutela do direto objetivo, buscando sua correta aplicação. Além disso, ele é um recurso de fundamentação vinculada, vez que a lei exige a indicação pelo recorrente de vício específico. A teor do disposto no art. 896 da CLT, os vícios que legitimam o recurso de revista no rito ordinário são: 1) divergência jurispruden-cial; 2) violação de súmula do TST; 3) violação de orientação jurisprudencial (OJ nº 219 da SDI-I do TST); 4) violação da lei federal; 5) violação da Constituição Federal.

Com o advento do rito sumaríssimo no processo do trabalho, o legislador buscou conceder a tutela jurisdicional de forma mais célere e efetiva. Para tanto, restringiu o cabimento do recurso de revista, limitando-o a apenas dois vícios: 1)

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violação da Constituição Federal; e 2) violação de súmula do TST. É o que se verifi-ca pelo art. 896, § 6º, da CLT, in verbis:

§ 6º Nas causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, somente será admi-tido recurso de revista por contrariedade a súmula de jurisprudência uni-forme do Tribunal Superior do Trabalho e violação direta da Constituição da República.

Tratando-se de norma restritiva, não cabe ao intérprete ampliar o seu conteú-do. Ademais, como já analisado nos comentários da Súmula nº 333 do TST, a vio-lação às orientações jurisprudenciais enseja o recurso de revista no rito ordinário, por força do § 4º do art. 896 da CLT, o qual não tem aplicação ao rito sumaríssimo, vez que este tem regra própria estabelecida no § 6º citado anteriormente.

A impossibilidade de se admitir o recurso de revista no rito sumaríssimo, por violação à orientação jurisprudencial, tem a função de transferir aos TRTs o papel de unificar a jurisprudência em seu âmbito de atuação. Por outro lado, “ao preservar a violação a suas súmulas, o que o TST quis foi manter uniforme a jurisprudência, vedando-se aos TRTs a possibilidade de desfazer a orientação nelas contidas”39.

Assim, conclui-se que a violação à orientação jurisprudencial não é vício específico a ensejar o recurso de revista no rito sumaríssimo, ficando limita-do às hipóteses de violação da Constituição Federal e contrariedade de súmulas do TST.

» Capítulo XVII – Ação rescisória

2.1. Competência para ajuizamento da ação rescisória e possibilidade jurídica do pedido

Súmula nº 192 do TST. Ação rescisória. Competência e possibilidade jurídica do pedido I – Se não houver o conhecimento de recurso de revista ou de embargos, a competência para julgar ação que vise a rescindir a decisão de mérito é do Tribunal Regional do Trabalho, ressalvado o disposto no item II. II – Acórdão rescindendo do Tribunal Superior do Trabalho que não conhece de recurso de embargos ou de revista, analisando argüição de violação de dispositivo de lei material ou decidindo em consonância com súmula de direito material ou com iterativa, notória e atual jurisprudência de direito material da Seção de Dissídios Individuais (Súmula nº 333), examina o mérito da causa, cabendo ação rescisória da competência do Tribunal Superior do Trabalho. III – Em face do disposto no art. 512 do CPC, é juridicamente impossível o pedido explícito de desconstituição de sentença quando substituída por acórdão de Tribunal Regional ou superveniente sentença homologatória de acordo que puser fi m ao litígio. 

39. SILVA, Antônio Álvares da. Procedimento Sumaríssimo na justiça do trabalho. São Paulo: LTr, 2000. p. 212.

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IV – É manifesta a impossibilidade jurídica do pedido de rescisão de julgado proferido em agravo de instrumento que, limitando-se a aferir o eventual desacerto do juízo negativo de admissibilidade do recurso de revista, não substitui o acórdão regional, na forma do art. 512 do CPC. V – A decisão proferida pela SBDI, em sede de agravo regimental, calcada na Súmula nº 333, substitui acórdão de Turma do TST, porque emite juízo de mérito, comportando, em tese, o corte rescisório.

I – Se não houver o conhecimento de recurso de revista ou de embargos, a competência para julgar ação que vise a rescindir a decisão de mérito é do Tribunal Regional do Trabalho, ressalvado o disposto no item II.

A ação rescisória é uma ação especial destinada a atacar a decisão judicial que enseja a coisa julgada material. Diante de sua natureza especial, o legislador esta-beleceu que terá competência para julgá-la sempre um tribunal, o que significa que jamais a ação rescisória será ajuizada na Vara do Trabalho. Trata-se de com-petência funcional e, portanto, de natureza absoluta.

A definição de qual tribunal irá processar e julgar a ação rescisória é alcançada pela decisão de mérito que se busca desconstituir. Noutras palavras, é a decisão de mérito proferida no processo originário que vai delimitar a competência da ação rescisória.

Nesse contexto, define-se a competência dos Tribunais Regionais para o julga-mento da ação rescisória da seguinte forma:

a) competência para rescindir seus próprios julgamentos;

b) competência “recursal”, ou seja, a decisão de mérito da Vara do Trabalho será rescindida pelo tribunal que seria competente para julgar o recurso con-tra a sentença (por exemplo, o TRT será competente porque seria competente para julgar o recurso ordinário).

Nos Tribunais Superiores a regra fica limitada ao primeiro item, isto é, o Tri-bunal Superior do Trabalho tem competência para rescindir seus próprios julgamentos. Tratando-se de dissídios individuais, a competência no TST ficará a cargo da Seção de Dissídios Individuais, seja para as decisões das Turmas, como para as decisões da própria SDI (art. 3º, I, a, da Lei nº 7.701/88). Nesse caso, a competência será da SDI-II do TST, nos termos do art. 71, III, a, 1, do Regimento Interno do TST. Por outro lado, sendo dissídio coletivo a competência será da SDC (art. 2º, I, c, da Lei nº 7.701/88).

Nesse momento, cabe fazer duas observações quanto à competência do TST para o julgamento da ação rescisória:

1) tem competência para rescindir suas próprias decisões, quando decorren-tes dos processos de sua competência originária (ex., ação rescisória de mandado de segurança de competência originária do TST ou ação rescisória de sentença normativa de competência originária do TST);

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2) tem competência para rescindir seus próprios julgamentos, quando deri-vados de sua competência recursal (ex., julgamento do recurso de revista e embargos para a SDI).

Em todos os casos, o que se deve buscar para delimitar a competência para a ação rescisória é a decisão de mérito, pois é esta que está sujeita à rescin-dibilidade.

Isso quer dizer que o TST somente terá competência para a ação rescisória derivada de julgamento do recurso de revista e dos embargos quando proferir decisão de mérito, o que não ocorrerá se não conhecer de tais recursos. Melhor explicando, é cediço que, interposto o recurso, ele passa, inicialmente, pelo juízo de admissibilidade, oportunidade em que o Tribunal irá analisar a presença dos pressupostos recursais. Ausentes tais pressupostos, o recurso não será conhecido (admitido), não proferindo, dessa forma, decisão de mérito. Nessa hipótese, a últi-ma decisão de mérito é a decisão impugnada no recurso (por exemplo, acórdão do TRT que foi impugnado no recurso de revista). Por outro lado, estando presentes os pressupostos recursais, o recurso será conhecido, passando-se à análise do mé-rito do recurso (juízo de mérito), o qual será provido ou não. Nesse último caso, temos decisão de mérito, que poderá ser rescindida.

Assim, não sendo conhecido o recurso de revista por ausência de pressupostos recursais (ex., tempestividade, depósito recursal etc.), não há decisão de mérito no TST, razão pela qual a ação rescisória deve atacar a última decisão de mérito, qual seja, o acórdão regional, devendo, por isso, ser ajuizada no TRT. É interessante analisar, porém, a ressalva feita no item II dessa súmula comentada abaixo.

Por fim, cabe registrar que, quanto aos embargos para a SDI, há de se dife-renciar a natureza da decisão impugnada, não podendo ser interpretado lite-ralmente o presente item da súmula em comentário.

Isso porque os embargos para a SDI são cabíveis “das decisões das Turmas que divergirem entre si, ou das decisões proferidas pela Seção de Dissídios In-dividuais, salvo se a decisão recorrida estiver em consonância com súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal” (CLT, art. 894, II, do TST). Assim, em regra, os embargos para a SDI são interpostos de decisão de mérito proferida pela Turma do TST. No entanto, por força da Súmula nº 353 do TST, são admitidos os embargos das decisões das Turmas proferidas em agravo quando divergirem a respeito da pre-sença dos pressupostos extrínsecos, ou seja, neste caso são admitidos os embar-gos das decisões prolatadas no juízo de admissibilidade do recurso, que não são dotadas de mérito.

Com efeito, devemos interpretar a presente súmula, quanto aos embargos, da seguinte forma: a) havendo embargos para a SDI de decisão de mérito da Turma, o não conhecimento dos embargos, torna rescindível a última decisão de mérito: a de-cisão da Turma do TST, o que atrai a competência do TST para o julgamento da ação

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rescisória; b) havendo embargos para SDI de decisão da Turma que não conheceu do recurso de revista (decisão ausente de mérito), o não conhecimento dos embar-gos torna rescindível o acórdão regional, pois é a última decisão de mérito.

» Capítulo I – Introdução ao Direito do Trabalho (Parte I)

2.2.2. Princípio da irretroatividade da lei. Juros

» Capítulo XV – Execução trabalhista

1.3. Juros capitalizados. Irretroatividade do Decreto-Lei nº 2.322, de 26.2.1987

Súmula nº 307 do TST. Juros. Irretroatividade do Decreto-lei nº 2.322, de 26.02.1987.

A fórmula de cálculo de juros prevista no Decreto-Lei nº 2.322, de 26.02.1987 somente é aplicável a partir de 27.02.1987. Quanto ao período anterior, deve-se observar a legislação então vigente.

Com o advento do Decreto-Lei nº 2.322 de 26.2.1987, os juros capitalizados passaram a incidir nos créditos trabalhistas. Juros capitalizados são definidos como a aplicação dos juros sobre o capital principal e os juros já acumulados (art. 3º). Permitiu-se, assim, a incidência de juros sobre juros. Diante dessa inovação, surgiu dúvida acerca da eficácia temporal do referido Decreto-Lei.

Para uns, o Decreto-Lei deveria retroagir, vez que seria permitida a retroativi-dade da norma para beneficiar o empregado, ou seja, a “retroatividade trabalhista benéfica”, conforme previsto na Orientação Jurisprudencial nº 362 da SDI – I do TST.

O C. TST, no entanto, adotou posicionamento diametralmente oposto, consig-nando na presente súmula que as normas trabalhistas, por tratarem de normas de ordem pública, têm aplicação imediata aos contratos de trabalho, ou seja, efeitos ex nunc. No entanto, ela não retroage, ou seja, não atinge os atos pretéritos.

E assim agiu, por força do disposto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (antiga LICC), que estabelece que “a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada” (art. 6º). Impõe-se, portanto, a aplicação imediata da nova legislação, sem que atinja o ato jurídico perfeito e o direito adquirido, garantindo assim o respeito à irretroati-vidade das normas, como também exige o art. 5º, XXXVI, CF/88.

Desse modo, o Decreto-Lei somente teria aplicação a partir de sua publica-ção, ou seja, os juros compostos (capitalizados) somente incidiriam após o dia 27.2.1987 (data da publicação).

Registra-se, por fim, que atualmente os juros, na seara trabalhista, estão pre-vistos no art. 39, § 1º, da Lei nº 8.177/91. São calculados em 1% ao mês de forma

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simples, sem capitalização, incidentes a partir do ajuizamento da ação. Os entes públicos, por sua vez, pagam os juros aplicados à caderneta de poupança, confor-me art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 (OJ nº 7 do Tribunal Pleno do TST).

» Capítulo XV – Execução trabalhista

6.1. Competência na execução por carta precatória

Súmula nº 419 do TST. Competência. Execução por carta. Embargos de terceiro. Juízo deprecante

Na execução por carta precatória, os embargos de terceiro serão oferecidos no juízo depre-cante ou no juízo deprecado, mas a competência para julgá-los é do juízo deprecante, salvo se versarem, unicamente, sobre vícios ou irregularidades da penhora, avaliação ou alienação dos bens, praticados pelo juízo deprecado, em que a competência será deste último.

O processo do trabalho não estabelece os embargos de terceiros, razão pela qual se aplica subsidiariamente o CPC (CLT, art. 769 c/c art. 889).

Nesse contexto, dispõe o art. 1046 do CPC que “quem, não sendo parte no pro-cesso, sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação ju-dicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer lhe sejam manutenidos ou restituídos por meio de embargos”.

Trata-se, pois, de ação autônoma de conhecimento, incidente na fase de co-nhecimento ou na fase de execução, destinada a eliminar ou evitar a constrição de bens de terceiros que não participa do processo ou não responde patrimonial-mente pela dívida.

Diante da possibilidade dos bens apreendidos não se localizarem no local do juiz que determina a constrição, surgiu divergência na doutrina e na jurisprudên-cia acerca de qual o juízo competente para o julgamento dos embargos de tercei-ros. Noutras palavras, na hipótese de expedição de carta precatória para a apre-ensão de bens, em qual juízo o terceiro deverá interpor os embargos: no juízo deprecante ou no juízo deprecado?

O Superior Tribunal de Justiça buscou pacificar a divergência por meio da Sú-mula nº 4640, o que igualmente foi seguido pelo TST na presente súmula. Ademais, o legislador alterou o art. 747 do CPC, o qual passou a estabelecer:

Art. 747. Na execução por carta, os embargos serão oferecidos no juízo de-precante ou no juízo deprecado, mas a competência para julgá-los é do juízo

40. No mesmo sentido, a Súmula nº 32 do TRF.

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deprecante, salvo se versarem unicamente vícios ou defeitos da penhora, ava-liação ou alienação dos bens.

Definiu-se, portanto, que os embargos de terceiros podem ser interpostos tan-to no juízo deprecante, como no juízo deprecado. Contudo, a competência fun-cional para julgamento é, em regra, do juízo deprecante, ficando na competência do juízo deprecado somente quando o vício ou defeito levantado versar sobre a penhora, avaliação ou alienação dos bens, ou seja, sobre vícios atinentes aos atos praticados no juízo deprecado41. Registra-se que se trata de competência exclu-siva e não concorrente, o que significa que, sendo o vício ligado a atos praticados no juízo deprecado (por exemplo, penhora), a competência funcional (absoluta) é do juízo deprecado.

Agora, se nos embargos de terceiros são arguidos vícios praticados pelo juízo deprecante (ex., ausência de pressupostos processuais) e também vícios realizados pelo juízo deprecado, não há que se falar em interposição de dois embargos. Na hipótese, deverá ser interposto apenas um embargos de terceiros de competência do juízo deprecante.42

Por fim, cabe consignar que a Lei nº 11.232/2005 introduziu o art. 475-P no CPC, o qual declina:

Art. 475-P. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:

I – os tribunais, nas causas de sua competência originária;

II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição;

III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenató-ria, de sentença arbitral ou de sentença estrangeira.

Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste artigo, o exeqüente pode-rá optar pelo juízo do local onde se encontram bens sujeitos à expropriação ou pelo do atual domicílio do executado, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem.

Pela análise do parágrafo único desse dispositivo, percebe-se que o legislador criou foros concorrentes para a fase executiva, isto é, permitiu que a fase executiva seja processada no juízo que prolatou a sentença, no local onde se encontram os bens sujeitos à expropriação ou no atual domicílio do executado.

Conquanto a CLT tenha dispositivo acerca do juízo competente na fase execu-tiva (CLT, arts. 877 e 877-A), pensamos que o novel dispositivo do processo civil deve ser aplicado na seara trabalhista43, vez que há lacuna normativa no processo do trabalho quanto ao referido foro concorrente e porque ele busca conferir ao jurisdicionado o bem da vida de forma mais célere e efetiva, o que se coaduna com

41. NERY Jr., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 11. ed. São Paulo: RT, 2010. p. 1140.

42. KLIPPEL, Bruno. Direito sumular esquematizado – TST. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 569.

43. Em sentido contrário, não admitindo a aplicação do art. 475-P do CPC ao processo do trabalho: TST-CC-3533-59.2011.5.00.0000, SBDI-II. Rel.

Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 6.3.2012. In: Informativo nº 1 do TST.

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o disposto no art. 5º, LXXVIII, da CF/88. No caso, o exequente deverá requerer a re-messa dos autos do processo ao juízo de origem, o qual remeterá ao juízo pelo qual optou o exequente, afastando assim a utilização de cartas precatórias. Registra-se, por derradeiro, que a escolha do juízo que processará a execução “ é faculdade do credor, não podendo o Juiz do Trabalho aplicá-la de ofício”44.

» Capítulo XIV – Recurso

1.4.5.6. Utilização da guia GFIP

Súmula nº 426 do TST. Depósito recursal. Utilização da guia GFIP. Obrigatoriedade

Nos dissídios individuais o depósito recursal será efetivado mediante a utilização da Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social – GFIP, nos termos dos §§ 4º e 5º do art. 899 da CLT, admitido o depósito judicial, realizado na sede do juízo e à disposição deste, na hipótese de relação de trabalho não submetida ao regime do FGTS.

O depósito recursal previsto no art. 899 da CLT é feito em conta vinculada do Fundo de Garantia do Tempo de Serviços ( FGTS), aberta com esse fim específico, conforme se depreende dos parágrafos 4º e 5º do referido artigo.

Com a finalidade de regulamentar a forma de realizar o depósito recursal, o Tribunal Superior do Trabalho expediu a Instrução Normativa nº 26/2004, a qual vaticina:

I – O depósito recursal previsto no art. 899 da CLT poderá ser efetuado me-diante a utilização da Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Pre-vidência Social – GFIP, gerada pelo aplicativo da Caixa Econômica Federal denominado “Sistema Empresa de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social – SEFIP” (GFIP emitida eletronicamente), conforme Anexo 1, ou por intermédio da GFIP avulsa, disponível no comércio e no sítio da Cai-xa Econômica Federal (Anexo 2).

II – A GFIP emitida eletronicamente, para fins de depósito recursal, ostentará no seu cabeçalho o seguinte título “Guia de Recolhimento para Fins de Recur-so Junto à Justiça do Trabalho”.

III – O empregador que fizer uso da GFIP gerada eletronicamente poderá efe-tuar o recolhimento do depósito judicial via Internet Banking ou diretamente em qualquer agência da Caixa Econômica Federal ou dos bancos conveniados.

IV – A comprovação da efetivação do depósito recursal, dar-se-á obrigatoria-mente das seguintes formas:

a) No caso de pagamento efetuado em agências da Caixa Econômica Federal ou dos bancos conveniados, mediante a juntada aos autos da guia GFIP devi-damente autenticada, e

44. SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p. 46.

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SÚMULAS E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DO TST | NOTA DE ATUALIZAÇÃO 53

b) na hipótese de recolhimento feito via Internet, com a apresentação do “Comprovante de Recolhimento/ FGTS – via Internet Banking” (Anexo 3), bem como da Guia de Recolhimento para Fins de Recurso Junto à Justiça do Tra-balho (Anexo 2), para confrontação dos respectivos códigos de barras, que deverão coincidir.

Verifica-se por aludida instrução que o recolhimento do depósito recursal é feito por meio de Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência So-cial – GFIP –, direcionada à conta vinculada do trabalhador.

No entanto, só há falar em conta vinculada para os casos de relação de empre-go, pois apenas o empregado faz jus ao recebimento do FGTS, ou seja, tem conta vinculada. Nesse sentido, todas as demais ações ajuizadas na Justiça do Trabalho que não estejam relacionadas ao vínculo empregatício, mormente as decorrentes da EC nº 45/04, não estão sujeitas ao recolhimento por meio de Guia GFIP, admi-tindo-se o depósito judicial realizado na sede do juízo e à disposição deste.

A propósito, o C. TST considera “válida para comprovação do depósito recur-sal na Justiça do Trabalho a guia respectiva em que conste pelo menos o nome do Recorrente e do Recorrido; o número do processo; a designação do juízo por onde tramitou o feito e a explicitação do valor depositado, desde que autenticada pelo Banco recebedor” (TST-IN 18/99). Nesse sentido, colacionamos precedente do TST:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – RECURSO DE REVISTA – DESERÇÃO – DEPÓ-SITO RECURSAL EFETUADO EM GUIA DE DEPÓSITO/LEVANTAMENTO DA JUSTIÇA DO TRABALHO – Conforme entendimento majoritário desta Corte Superior, o depósito recursal efetuado em denominada “Guia para Depósito Judicial Trabalhista”, fornecida pela Caixa Econômica Federal, em que consta a identificação das partes, do processo e da finalidade, é suficiente para garantia do Juízo nos termos do art. 899, § 1º, da CLT. Agravo de instrumento a que se dá provimento, a fim de processar o recurso de revista. RECURSO DE REVIS-TA – DESERÇÃO – DEPÓSITO RECURSAL EFETUADO EM GUIA DE DEPÓSITO/LEVANTAMENTO DA JUSTIÇA DO TRABALHO – POSSIBILIDADE – A Instrução Normativa nº 18/2000 do TST considera válida, para efeitos de comprovação do depósito recursal, a guia em que constem, pelo menos, o nome do Recor-rente e do Recorrido; O número do processo; A designação do juízo por onde tramitou o feito e a explicitação do valor depositado, desde que autenticada pelo Banco recebedor. Identificados esses elementos na guia que instruiu o recurso ordinário do Reclamado, ainda que essa não seja a GRE (Guia de Re-colhimento do FGTS) ou GFIP (Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social), não se há falar em deserção do recurso. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido45.

Entretanto, consigna-se que, não preenchendo a guia os requisitos mínimos, a saber: nome do Recorrente e do Recorrido; o número do processo; a designação do juízo por onde tramitou o feito e a explicitação do valor depositado, desde que autenticada pelo Banco recebedor, não será conhecido o recurso, como se verifica no acórdão a seguir transcrito, publicado no informativo nº1 do TST:

45. TST – RR 765/2008-108-03-40.2. Rel. Min. Horácio Raymundo de Senna Pires. DJe 11.6.2010.

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Depósito recursal. Guia GFIP. Indicação equivocada do número do processo e da vara na guia de recolhimento. Deserção. Configuração.

O preenchimento incorreto da guia de depósito recursal constitui irregulari-dade que compromete a eficácia do ato processual praticado, visto que não atendida a sua finalidade de garantia do juízo. Na hipótese, a guia GFIP foi pre-enchida erroneamente quanto ao número do processo e da vara por onde tra-mitou o feito, em desacordo com a diretriz da Instrução Normativa n.º 18/99 do TST. Com esse entendimento, a SBDI-I, por maioria, conheceu dos embar-gos e deu-lhes provimento para restabelecer o acórdão do Regional que jul-gou deserto o recurso ordinário da reclamada. Vencidos os Ministros Renato de Lacerda Paiva, relator, Maria Cristina IrigoyenPeduzzi, Antônio José de Bar-ros Levenhagen, Brito Pereira, Aloysio Corrêa da Veiga e João OresteDalazen46.

Em resumo, tratando-se de relação de emprego, é exigido o depósito por meio da guia GFIP. Por outro lado, não sendo relação de emprego, o depósito recursal poderá ser realizado por meio de depósito judicial à disposição do juízo, cons-tando pelo menos o nome do recorrente e do recorrido, o número do processo, a designação do juízo por onde tramitou o feito, a explicitação do valor depositado e a autenticação do banco recebedor.

» Capítulo XIV – Recurso

1.4.4.8. APPA. Não isenção

Orientação Jurisprudencial nº 13 da SDI – I do TST. APPA. Decreto-lei nº 779/69. Depósito recursal e custas. Não isenção

A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina – APPA, vinculada à Administração Pública indireta, não é isenta do recolhimento do depósito recursal e do pagamento das custas processuais por não ser benefi ciária dos privilégios previstos no Decreto-Lei n.º 779, de 21.08.1969, ante o fato de explorar atividade econômica com fi ns lucrativos, o que desca-racteriza sua natureza jurídica, igualando-a às empresas privadas.

Conforme explanado nos comentários da Súmula nº 170 do TST, o art. 1º, in-ciso VI, do Decreto-Lei nº 779/69 foi revogado pelo art. 790-A, inciso I, da CLT, de modo que atualmente a União, os Estados, o Distrito Federal, os municípios, as autarquias e as fundações de direito público que não explorem atividade econô-mica estão isentos do pagamento das custas processuais. Além disso, o inciso IV do decreto-lei supramencionado dispensa tais pessoas jurídicas de direito público do depósito recursal.

Vislumbra-se por tais dispositivos que a isenção alcança tão somente a pessoa jurídica que não explore atividade econômica, o que não é o caso da Administração

46. TST-E-ED-RR-877540-47.2001.5.09.0013, SBDI-I. Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, red. p/ acórdão Min. Lelio Bentes Corrêa. 8.3.2012.

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SÚMULAS E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DO TST | NOTA DE ATUALIZAÇÃO 55

dos Portos de Paranaguá e Antonina ( APPA), pertencente ao estado do Paraná. Isso porque tal entidade tem como objetivo a exploração comercial e industrial dos respectivos portos, o que constitui exploração de atividade econômica.

Registra-se que, conquanto a APPA seja constituída como autarquia, por pres-tar atividade eminentemente econômica, afasta-se do regime especial das autar-quias, aplicando-lhe o art. 173, § 1º, da CF/88 (STF, AI 399.866 e Adin. 83-7).

Com efeito, a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina ( APPA) não está isenta do pagamento das custas processuais e do depósito recursal.

» Capítulo V – Processo

4.2.1.3. Requisitos

Orientação Jurisprudencial nº 305 da SDI – I do TST. Honorários advocatícios. Requisitos. Justiça do Trabalho

Na Justiça do Trabalho, o deferimento de honorários advocatícios sujeita-se à constatação da ocorrência concomitante de dois requisitos: o benefício da justiça gratuita e a assistência por sindicato.

O Tribunal Superior do Trabalho não permite o pagamento dos honorários ad-vocatícios pela mera sucumbência nas ações decorrentes da relação de emprego, exigindo para tanto que o empregado cumpra dois requisitos: a) seja beneficiário da justiça gratuita; b) esteja assistido pelo sindicato da categoria.

A assistência judiciária gratuita não se confunde com o benefício da justiça gratuita. Aquela é gênero e este, espécie.

A assistência judiciária gratuita é o direito de postular em juízo sem ter que pagar as despesas do processo e os honorários ao seu advogado, concedido àquele que está em estado de miserabilidade. Tal assistência, no processo do tra-balho, é oferecida pelo sindicato da categoria, conforme se depreende do art. 14 da Lei nº 5.584/70.

Por outro lado, o benefício da justiça gratuita consiste na possibilidade de a parte postular em juízo sem ter que arcar com as despesas processuais, ante a declaração de sua miserabilidade. Assim, nos termos do art. 790, § 3º, da CLT, ela poderá ser deferida a requerimento ou de ofício, independentemente de a parte estar assistida pelo sindicato ou advogado particular, desde que perceba salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal ou declare não estar em condições de arcar com as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

A isenção do pagamento das despesas processuais engloba as taxas judiciá-rias e os selos; os emolumentos e custas devidos aos juízes, órgãos do Ministério Público e serventuários da justiça; as despesas com as publicações na imprensa

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oficial; as indenizações devidas às testemunhas; os honorários de advogado da parte contrária e peritos; as despesas com a realização do exame de código genéti-co –DNA–, que for requisitado pela autoridade judiciária nas ações de investigação de paternidade ou maternidade; os depósitos previstos em lei para interposição de recurso , ajuizamento de ação e demais atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório (art. 3º da Lei nº 1.060/50).

Verifica-se, por tal diferenciação, que a C. Trabalhista entende cabível a con-denação em honorários advocatícios tão somente no caso de assistência judiciária gratuita, que pressupõe cumulativamente a assistência do sindicato e a conces-são do benefício da justiça gratuita47.

Por fim, salientamos que essa orientação se limita à relação de emprego. Isso porque, em decorrência da ampliação da competência da Justiça do Trabalho dis-posta na Emenda Constitucional nº 45/04, o TST editou a Instrução Normativa nº 27/2005, admitindo a concessão de honorários advocatícios pela mera sucum-bência nas ações decorrentes de relação de trabalho. No mesmo sentido, dispõe a Súmula nº 219, III, do TST.

» Capítulo V – Processo

5.4. Honorários periciais. Benefi ciário da justiça gratuita

Orientação Jurisprudencial nº 387 da SDI-I do TST. Honorários periciais. Benefi ciário da justiça gratuita. Responsabilidade da união pelo pagamento. Resolução nº 35/2007 do CSJT. Observância

A União é responsável pelo pagamento dos honorários de perito quando a parte sucum-bente no objeto da perícia for benefi ciária da assistência judiciária gratuita, observado o procedimento disposto nos arts. 1º, 2º e 5º da Resolução n.º 35/2007 do Conselho Superior da Justiça do Trabalho – CSJT.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, LXXIV, reconheceu como di-reito fundamental “a assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.

Como forma de efetivar referido direito, a CLT afastou a necessidade de pa-gamento de honorários do perito ao beneficiário da justiça gratuita, quando su-cumbente no objeto da perícia (art. 790-B). Com efeito, mesmo que a parte tenha perdido a questão relativa à perícia, não deverá arcar com os honorários do perito quando for beneficiária da justiça gratuita, uma vez que esta engloba todas as des-pesas processuais, nos termos do art. 3º da Lei nº 1.060/50.

47. Vide comentários das Súmulas nº 219 e 329 do TST.

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Contudo, não se pode exigir que o perito preste seus serviços sem qualquer retribuição, pois o expert não faz assistencialismo nos autos, mas exerce munus público e atividade profissional que deve ser remunerada.

Dessa forma, o Estado se incumbe de arcar com os honorários periciais, a fim de resguardar o benefício da justiça gratuita e não violar direito de outrem, como declinava a Resolução nº 35/2007 do CSJT. Esta resolução foi revogada pela Reso-lução nº 66/2010, que tem texto muito semelhante ao anterior, ficando mantida a mesma substância, como se verifica abaixo:

Art. 1º Os Tribunais Regionais do Trabalho deverão destinar recursos orça-mentários para:

I – o pagamento de honorários periciais, sempre que à parte sucumbente na pretensão for concedido o benefício da justiça gratuita;

II – o pagamento de honorários a tradutores e intérpretes, que será realizado após atestada a prestação dos serviços pelo juízo processante, de acordo com a tabela constante do Anexo.

§ 1º Os valores serão consignados sob a rubrica “Assistência Judiciária a Pes-soas Carentes”, em montante estimado que atenda à demanda da Região, se-gundo parâmetros que levem em conta o movimento processual.

§ 2º O juiz poderá ultrapassar em até 3 (três) vezes os valores fixados na ta-bela constante do Anexo, observados o grau de especialização do tradutor ou intérprete e a complexidade do trabalho, comunicando-se ao Corregedor do Tribunal.

Art. 2º A responsabilidade da União pelo pagamento de honorários periciais, em caso de concessão do benefício da justiça gratuita, está condicionada ao atendimento simultâneo dos seguintes requisitos:

I – fixação judicial de honorários periciais;

II – sucumbência da parte na pretensão objeto da perícia;

III – trânsito em julgado da decisão.

§ 1º A concessão da justiça gratuita a empregador, pessoa física, dependerá da comprovação de situação de carência que inviabilize a assunção dos ônus decorrentes da demanda judicial.

§ 2º O pagamento dos honorários poderá ser antecipado, para despesas ini-ciais, em valor máximo equivalente a R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais), efetuando-se o pagamento do saldo remanescente após o trânsito em julgado da decisão, se a parte for beneficiária de justiça gratuita.

§ 3º No caso de reversão da sucumbência, quanto ao objeto da perícia, caberá ao reclamado-executado ressarcir o erário dos honorários periciais adianta-dos, mediante o recolhimento da importância adiantada em GRU – Guia de Re-colhimento da União, em código destinado ao Fundo de “assistência judiciária a pessoas carentes”, sob pena de execução específica da verba. (NR)

(...)

Art. 5º O pagamento dos honorários efetuar-se-á mediante determinação do presidente do Tribunal, após requisição expedida pelo Juiz do feito, observan-do-se, rigorosamente, a ordem cronológica de apresentação das requisições e

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as deduções das cotas previdenciárias e fiscais, sendo o valor líquido deposi-tado em conta bancária indicada pelo perito, tradutor ou intérprete.

Parágrafo único. O valor dos honorários será atualizado pelo IPCAE ou ou-tro índice que o substitua, a partir da data do arbitramento até o seu efetivo pagamento.

Da análise da Resolução nº 66/2010 supracitada é possível verificar que o pa-gamento dos honorários periciais ao beneficiário da justiça gratuita somente será custeado pela União quando cumulativamente forem preenchidos 3 requisitos: 1) o juiz fixar; 2) sucumbência da parte no objeto da perícia e 3) trânsito em julgado.

Do primeiro requisito exclui-se o pagamento do assistente do perito, uma vez que é indicado pela parte (Súmula nº 341 do TST). O segundo indica que, somente quando a parte beneficiária da justiça gratuita for sucumbente no objeto da perí-cia, a União suportará com o ônus dos honorários periciais, até porque, se a parte for vencedora no objeto da perícia, será a outra parte (em regra, o empregador) que deverá pagar os honorários do perito. Por fim, o terceiro requisito impõe que a discussão tenha sido sepultada por meio da formação da coisa julgada.

Interessante notar que a referida resolução permitiu ao juiz a antecipação dos honorários periciais, de modo que, sendo o beneficiário da justiça gratuita vencedor no objeto da perícia, a parte vencida, no fim, deverá ressarcir os cofres públicos.

Registramos ainda que a resolução em comentário, dando amplo acesso ao Judiciário, admitiu a concessão da justiça gratuita ao empregador, desde que seja pessoa física e comprove a situação de carência que inviabilize a assunção dos ônus decorrentes da demanda judicial.

Por fim, o C. TST entende que aludida resolução tem aplicação imediata, inci-dindo nos processos em curso, mesmo que ajuizados e fixados os honorários antes de sua entrada em vigor.

» Capítulo II – Competência

5. COMPETÊNCIA TERRITORIAL-FUNCIONAL (ACP)

» Capítulo III – Ministério Público do Trabalho

3. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA

Orientação Ju risprudencial nº 130 da SDI – II do TST. Ação civil pública. Competência territorial. Extensão do dano causado ou a ser reparado. Aplicação analógica do art. 93 do código de defesa do consumidor Para a fi xação da competência territorial em sede de ação civil pública, cumpre tomar em conta a extensão do dano causado ou a ser reparado, pautando-se pela incidência analógica

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do art. 93 do Código de Defesa do Consumidor. Assim, se a extensão do dano a ser reparado limitar-se ao âmbito regional, a competência é de uma das Varas do Trabalho da Capital do Estado; se for de âmbito supra-regional ou nacional, o foro é o do Distrito Federal.

A presente orientação decorreu, inicialmente, de divergência acerca da compe-tência funcional para o julgamento da ação civil pública, uma vez que alguns juízes entendiam que essa ação se aproximava do dissídio coletivo, sendo de competên-cia, portanto, dos Tribunais48. O Tribunal Superior do Trabalho, de forma acertada, reconheceu a competência funcional da Vara do Trabalho para o julgamento da ação civil pública, pois nessa ação não se busca a criação de direitos como no dissídio coletivo, mas, sim, a aplicação do direito preexistente. Além disso, a com-petência funcional dos Tribunais decorre de imposição legal, o que não ocorre no caso da ação civil pública, em que a competência vem estabelecida no art. 2º da Lei nº 7.347/85, como sendo da primeira instância.

O acerto da Corte Trabalhista, s.m.j., termina aqui, restando evidente equívoco quanto à aplicação analógica do art. 93 do CDC para delimitação da competência territorial-funcional no julgamento da ação civil pública. Vejamos.

A competência da ação civil pública vem estampada no art. 2º, da Lei nº 7.347/85 (LACP), o qual declina:

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para to-das as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

A competência estabelecida no referido dispositivo é, pacificamente, reconhe-cida pela doutrina49 como de natureza absoluta, pois não se trata de mera com-petência territorial, mas, sim, de competência funcional-territorial, porquanto o escopo da lei é de tutelar interesse público e não meramente particular, como ocorre na competência relativa. Portanto, tal competência é inderrogável e im-prorrogável por vontade das partes.

Ademais, cabe registrar que, conquanto o sistema unificado da LACP e do CDC (art. 21 e 90, respectivamente) tenha criado a chamada jurisdição coletiva, não se pode perder de vista que a lei de ação civil pública busca tutelar interesses difusos

48. Interessante notar que o TST por meio do art. 6º, do Ato Regimental 05, aprovado pela Resolução Administrativa 697/2000, estabelecia a

competência originária da Seção Especializada em Dissídios Coletivos para julgar as Ações Civis Públicas que excediam a jurisdição dos Tribunais

Regionais do Trabalho. A Resolução 743/2000, felizmente, alterou referido art. 6º. excluindo a competência da SDC para o julgar originariamente

as Ações Civis Públicas.

49. Por todos MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e

outros interesses. 19. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo:Saraiva, 2006. p. 246.

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e coletivos, enquanto o código de defesa do consumidor tem como foco a tutela de interesses individuais homogêneos. Assim, quando se estiver tutelando interes-ses difusos e/ou coletivos, a ação cabível é a ação civil pública, aplicando-se, prioritariamente, a LACP, ou seja, o art. 2º da LACP. Por outro lado, quando for resguardar direitos individuais homogêneos, tem-se a ação civil coletiva.

Com efeito, tratando-se de regra de competência, sua delimitação decorre do direito positivo50, não comportando interpretação extensiva ou aplicação analó-gica, como pretende a orientação sob comentário, pois, na ausência de norma, aplica-se a regra geral51.

Poder-se-ia invocar o sistema unificado da LACP e do CDC para a aplicação do art. 93 do CDC no caso da ação civil pública. Contudo, só há aplicação subsidiá-ria do CDC à lei de ação civil pública, e vice-versa, naquilo em que for compatível (LACP, art. 21). Portanto, havendo norma expressa de competência na LACP que é incompatível com regra do CDC, não há falar em aplicação do art. 93 do CDC para a ação civil pública, que tutela interesses difusos e coletivos52.

Além disso, a competência declinada na LACP busca dar acesso ao judiciário, fa-cilitar a defesa dos direitos transindividuais, inclusive para a colheita da prova, bem como aproximar o julgador dos fatos ocorridos que, pela proximidade com os fatos discutidos na causa, ostenta, naturalmente, melhores condições para proferir o jul-gamento em relação a juízes de outras localidades não atingidas pela lesão ou amea-ça de lesão tutelada na ACP53. É por isso que a LACP adotou a regra do local do dano.

Pensamos que a competência do juízo do local do dano aproxima-se mais dos escopos da jurisdição coletiva do que o estabelecido no art. 93 do CDC, que leva em conta a extensão do dano. A propósito, a regra do art. 2º da CLT identifica-se, de certa forma, com o art. 651 da CLT, que estabelece o local da prestação dos ser-viços como a regra de competência para as ações trabalhistas54.

Consigna-se que o entendimento adotado pela Corte Trabalhista cria verda-deiros entraves à tutela dos direitos metaindividuais.

Primeiro, porque afasta o acesso ao judiciário, ao impor competência fora do local do dano, onde estão os atores do processo coletivo. Aliás, tratando-se de as-sociações e sindicatos, a tutela fica prejudicada veementemente, pois geralmente estão sediados em apenas um Estado ou município da Federação. O mesmo se diga

50. DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 6. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2009. v. 1, p. 428.

51. SANTOS, Ronaldo Lima dos. Análise da orientação jurisprudencial n. 130 da SDI – II do TST – A competência territorial das ações coletivas traba-

lhistas. Revista LTr. ano 71. n. 03. Março 2007. p. 362

52. Nesse sentido: MELO, Raimundo Simão de. Ação civil pública na Justiça do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2004. p. 162.

53. “(...) o escopo da norma é facilitar o ajuizamento da ação e a coleta da prova, bem como assegurar que a instrução e o julgamento sejam realiza-

dos pelo juízo que maior contato tenha tido ou possa ter com o dano efetivo ou potencial aos interesses transindividuais”. MAZZILLI, Hugo Nigro.

A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 19. ed. rev. ampl.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 237-238.

54. SANTOS, Ronaldo Lima dos. Sindicatos e Ações coletivas: Acesso à justiça, jurisdição coletiva dos interesses difusos, coletivos e individuais homogê-

neos. São Paulo: LTr, 2003. p. 382.

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SÚMULAS E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DO TST | NOTA DE ATUALIZAÇÃO 61

da parte passiva, vez que a empresa poderá ser demandada em localidade distante da sua sede ou de suas filiais.

Segundo, porque dificulta a colheita das provas, pois é no local dos fatos que, em regra, estão as provas a serem colhidas para instrução do feito.

Terceiro, porque afasta o julgador do local dos fatos, retirando-lhe a possi-bilidade de se utilizar dos conhecimentos locais para o julgamento da demanda. Exemplo:

Imagine-se um dano ocorrido entre duas cidades limítrofes, uma no Estado do Rio Grande do Sul e a outra em Santa Catarina, versando sobre a plantação de café. No entendimento do TST, referida ação será julgada no Distrito Federal.

Assim, não vislumbramos nenhuma lacuna no art. 2º da LACP a ensejar a in-vocação suplementar do art. 93 do CDC, razão pela qual pensamos que, versando a ação sobre direitos difusos e coletivos, a competência será do juízo do local do dano, independentemente da sua abrangência. Ocorrendo o dano em mais de um local, define-se a competência pelo critério da prevenção como claramente dispõe o parágrafo único do art. 2. da LACP.

Não se diga que a interpretação anterior ficará inviabilizada pela aplicação do art. 16 da LACP, o qual delimita os efeitos da coisa julgada aos limites da com-petência territorial do órgão prolator. Isso porque tal dispositivo é ineficaz, pois esqueceu de revogar o art. 103 do CDC, que estabelece os efeitos da coisa julgada nas ações coletivas. Além disso, tal dispositivo “confundiu limites subjetivos da coisa julgada, matéria tratada na norma, com jurisdição e competência, como se, v.g, a sentença de divórcio proferida por juiz de São Paulo não pudesse valer no Rio de Janeiro e nesta última comarca o casal continuasse casado! O que importa é quem foi atingido pela coisa julgada material (...) Portanto, se o juiz que proferiu a sentença na ação coletiva tout court, quer verse sobre direitos difusos, quer cole-tivos ou individuais homogêneos, for competente, sua sentença produzirá efeitos erga omnes ou ultra partes, conforme o caso (v. CDC 103), em todo o território na-cional – e também no exterior –, independentemente da ilógica e inconstitucional redação dada à LACP 16 pela L. 9494/97”.55

Dessa forma, melhor seria o cancelamento da orientação jurisprudencial ora comentada, passando-se a admitir o ajuizamento da ação civil pública no local do dano, independentemente de sua abrangência.

− aplicação genérica do art. 93 do CDC Sem prejuízo do posicionamento adotado anteriormente, passamos a analisar

hipoteticamente o cabimento do art. 93 do CDC para a ação civil pública, tendo em

55. NERY Jr., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 11. ed. São Paulo: RT, 2010. p.

1474-1475.

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vista que se trata de entendimento adotado por parte da doutrina56 e, principal-mente, pela orientação jurisprudencial em comentário.

O art. 93 do CDC estabelece:Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a cau-sa a justiça local:

I – no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

II – no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.

Pela análise do artigo supracitado é possível extrair as seguintes regras: 1) sen-do o dano local, a competência será do juízo do local do dano; 2) sendo o dano na-cional ou regional, o juízo competente será concorrentemente o das capitais dos Estados envolvidos, incluindo o Distrito Federal, resolvendo-se pela prevenção.

A primeira regra identifica-se com a descrita no art. 2º da LACP, ou seja, o local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano que define a competência. Para a doutrinadora Ada Pellegrini Grinover, autora do anteprojeto do CDC, dano local “será o caso de da-nos mais restritos, em razão da circulação limitada de produtos ou da prestação de serviços circunscritos, os quais atingirão pessoas residentes num determinado local (...) não sendo o dano propriamente regional, mas estendendo-se por duas comar-cas, tem-se entendido que a competência concorrente é de qualquer uma delas”57.

Verifica-se que o dano local não significa sua ocorrência em um único muni-cípio, podendo se espalhar para municípios limítrofes ou próximos que con-tinuará sendo local. Tal interpretação tem a virtude de afastar situações terato-lógicas (absurdas) como a de encaminhar o processo coletivo para a capital do Estado ou para o Distrito Federal, quando se trata de questões pontuais de uma determinada localidade. No caso, os juízos locais serão competentes, resolvendo--se pela prevenção. Para o TST, no entanto, o dano local é aquele que ocorre dentro da circunscrição de uma Vara do Trabalho, não havendo necessidade de se aplicar a prevenção.

Na segunda regra residem as maiores divergências.Inicialmente, registra-se que o Tribunal Superior do Trabalho criou a figura do

dano suprarregional, a qual não está prevista no art. 93 do CDC. Portanto, para a Corte Trabalhista o dano pode ser local, regional, suprarregional e nacional.

56. MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros in-

teresses. 19. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 247; GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código brasileiro de defesa do consumidor:

comentado pelos autores do anteprojeto. 9. ed. Rio de janeiro: Forense Universitária, 2007. p. 894; Silva, Marcello Ribeiro. A ação civil pública e o

processo do trabalho. Ribeirão Preto, SP: Nacional de Direito Livraria Editora, 2001. p. 65.

57. GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 9. ed. Rio de janeiro: Forense

Universitária, 2007. p. 898.

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SÚMULAS E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DO TST | NOTA DE ATUALIZAÇÃO 63

Para a doutrina majoritária, o dano regional é aquele que se espraia para uma determinada região, não se limitando a um único Estado. Para o TST, en-tretanto, o dano regional é aquele que atinge mais de uma Vara do Trabalho dentre de um único Estado.

Nesse caso a competência será da capital do Estado. Cabe salientar que o TST entende como dano suprarregional aquele que a

doutrina declina como regional, ou seja, o que atinge Estados de uma determi-nada região (ex. região Sudeste).

Equivoca-se o TST, porque o dano ocorrido em uma determinada região per-mite o ajuizamento de ação em qualquer das capitais envolvidas, resolvendo-se, novamente, pela prevenção. O critério adotado pelo TST afasta a competência das capitais, atribuindo-a ao Distrito Federal.

A propósito, a posição da orientação jurisprudencial não define a competên-cia para os danos ocorridos dentro do Estado de São Paulo, o qual possui dois tribunais regionais (2ª e 15ª Região). Da mesma forma, não impõe diferenciações para os Tribunais que abrangem mais de um Estado, como o da 8ª, 10ª, 11ª e 14ª Região. Assim, adotando-se a orientação jurisprudencial, a Vara do Trabalho de Campinas (TRT da 15ª Região) jamais terá competência, mesmo que o dano te-nha ocorrido em Varas do Trabalho da 15ª Região, deslocando-se sempre para a capital do Estado: São Paulo. Além disso, um dano ocorrido no Estado do Acre e em Rondônia, apesar de estarem dentro da mesma Região (TRT da 14ª Região) a competência será deslocada para o Distrito Federal.

É de se registrar que o art. 93, II, do CDC adotou a competência concorrente e não exclusiva entre os Estados e o Distrito Federal. Isso porque este (DF) foi considerado no texto como unidade da Federação e não como ente superior aos demais Estados. Noutras palavras, sendo o dano regional ou nacional, a compe-tência será concorrente entre a capital de todos os Estados envolvidos, inclusive o Distrito Federal, caso o dano também tenha ocorrido nesse local, resolvendo-se pela prevenção.

Nesse sentido, leciona Pedro Lenza:Se o legislador objetivasse erigir o distrito Federal como foro exclusivo de ações de âmbito nacional, teria dito ‘no foro da Capital do Estado ou no dis-trito Federal, para os danos de âmbito regional ou nacional’, aí sim havendo correspondência lógica. O distrito Federal, no art. 93, II, CDC, é tomado como unidade federativa autônoma, nos mesmos termos dos Estados-membros.58

Reconhecendo a competência concorrente, reiteradamente vem decidindo o Superior Tribunal de Justiça como se verifica pelas ementas abaixo:

58. LENZA, Pedro apud MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública em defesa do meio ambiente, do patrimônio cultural e dos consumidores. 10.

ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 82-83.

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HENRIQUE CORREIA E ÉLISSON MIESSA DOS SANTOS 64

COMPETÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DE CONSUMIDORES. INTER-PRETAÇÃO DO ART. 93, II, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DANO DE ÂMBITO NACIONAL.

Em se tratando de ação civil coletiva para o combate de dano em âmbito na-cional, a competência não é exclusiva do foro do Distrito Federal.

Competência do Juízo de Direito da Vara Especializada na Defesa do Consumi-dor de Vitória/ES59.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. POUPANÇA. DANO NACIONAL. FORO COMPETENTE. ART. 93, INCISO II, DO CDC. COMPETÊNCIA CONCORRENTE. CAPITAL DOS ES-TADOS OU DISTRITO FEDERAL. ESCOLHA DO AUTOR.

1. Tratando-se de dano de âmbito nacional, que atinja consumidores de mais de uma região, a ação civil pública será de competência de uma das varas do Distrito Federal ou da Capital de um dos Estados, a escolha do autor.

2. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo de Di-reito da 7ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba/PR60.

Para o Tribunal Superior do Trabalho, porém, em caso de dano suprarregional ou nacional, a competência será da Vara do Trabalho do Distrito Federal61.

Em suma, o TST define a competência para o julgamento da ação civil pública da seguinte forma:

Extensão do dano Competência

Dano local (dentro da circunscrição da Vara do Trabalho)

Vara do Trabalho do local do dano

Dano regional (mais de uma Vara do Trabalho den-tro de um Estado)

Capital do Estado em que ocorreu o dano

Dano suprarregional (alguns Estados da Federação) Distrito Federal

Dano nacional (maioria dos Estados) Distrito Federal

Pelo quadro anterior, é possível vislumbrar que o TST fulminou com o critério da competência concorrente, pois criou determinações estanques para cada dano, levando sempre em conta a sua extensão. Permanece, porém, a competência por distribuição entre as varas do Distrito Federal, dos Estados e do local do dano, ou seja, dentro de um único fórum. Noutras palavras, para o TST, sendo, por exemplo, o dano nacional, a ação civil pública deverá ser ajuizada no Distrito Federal, ha-vendo competência por distribuição entre as varas do trabalho do DF para julgar a causa.

59. STJ – CC nº 26.842. Rel. Min. César Asfor Rocha. DJU 5.8.2002.

60. STJ – CC 112235 / DF. Rel. Min. Maria Isabel Gallotti. DJe 16.2.2011.

61. Entendendo que, sendo o dano de âmbito nacional, e não meramente suprarregional, será competente o Distrito Federal. GRINOVER, Ada Pellegrini.

et al. Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 9. ed. Rio de janeiro: Forense Universitária, 2007. p. 898.

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SÚMULAS E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DO TST | NOTA DE ATUALIZAÇÃO 65

De nossa parte, pensamos que, caso aplicado o art. 93 do CDC para a ação civil pública, melhor seria definir a competência assim:

Extensão do dano Competência

Dano local (ocorrido em determinada localidade, por exemplo, cidades limítrofes ou dentro de uma mesma região metropolitana)

Qualquer das Varas locais (concorrente)

Dano regional (ocorrido entre Estados limítrofes ou dentro de uma região do país, por exemplo, re-gião Sul, Sudeste etc)

Qualquer das Varas das capitais dos Estados envol-vidos, incluindo o DF (concorrente)

Dano nacional (atinge a maioria dos Estados) Qualquer das Varas das capitais dos Estados envol-vidos, incluindo o DF (concorrente)

Por fim, registra-se que a competência declinada no art. 93 do CDC leva em conta o pedido do autor62, vez que esse definirá a extensão do dano, pois o autor poderá requerer uma condenação, por exemplo, para apenas uma filial da empre-sa ou para todas as filiais situadas em vários Estados da Federação.

62. MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública em defesa do meio ambiente, do patrimônio cultural e dos consumidores. 10. ed. São Paulo:

Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 80.

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