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Clipping 14/05/2011

sunday - prefeitura.sp.gov.br fileentrega do novo terminal. "Você tem de ter a restrição, mas oferecendo também a solução, que é o terminal funcionando." Contatado pela reportagem

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Clipping 14/05/2011

Fernão terá novo terminal de cargas Prefeitura prevê concessão de 35 anos a empresa que construir entreposto; obra de R$ 750 milhões deve ficar pronta no ano que vem. Rodrigo Burgarelli Para segurar os caminhões do lado de fora da cidade, a Prefeitura de São Paulo vai construir um terminal de cargas no cruzamento entre as Rodovias Fernão Dias e Dutra. O entreposto terá 500 mil m² de área e custará R$ 750 milhões. O objetivo é possibilitar que carretas sejam descarregadas ali, deixando de congestionar vias como a Marginal do Tietê e as Avenidas do Estado e Salim Farah Maluf. A obra deve ser entregue em 2012. Atualmente, há um terminal privado a poucas quadras dali, na Vila Medeiros, na zona norte, mas caminhoneiros reclamam que sua capacidade já está esgotada. Como resultado, pátios clandestinos começaram a ser explorados em terrenos no entorno e há filas de carretas na região. Com o novo terminal, a Prefeitura pretende tanto resolver esse problema quanto criar condições para que, no futuro, seja adotada uma restrição mais severa aos caminhões em São Paulo. Uma decisão assim só será possível após a inauguração do Trecho Norte do Rodoanel - o governo estadual planeja entregar essa parte do anel viário em 2014. Assim, os caminhões vindo de Minas Gerais ou do Rio com destino ao Porto de Santos ou ao interior poderão usar o Rodoanel, sem passar por São Paulo. Já os que forem abastecer a capital teriam de descarregar no novo entreposto e deixar a parte final do transporte para veículos urbanos de carga (VUCs). A Prefeitura espera, no entanto, que essa prática seja adotada quando o terminal for inaugurado, independente de o Trecho Norte do Rodoanel estar funcionando. O projeto está sendo feito na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho e ficou pronto no fi m do mês passado. A previsão é que o edital para licitação da obra seja lançado até junho e os trabalhos comecem em setembro. A Prefeitura estima que uma parte do pátio poderá ser inaugurada no fim da gestão Gilberto Kassab (PSD), mas o funcionamento completo só começaria alguns meses depois.

Privatização. Segundo o titular da pasta de Desenvolvimento, Marcos Cintra, o terminal será custeado pela iniciativa privada, que, em troca, poderá explorar o entreposto por 35 anos. "A expectativa é que o vencedor pague à Prefeitura cerca de R$ 100 milhões nesse período pelo direito de explorar o terminal", diz. O pátio será construído às margens da Fernão, onde já existem os estacionamentos irregulares. A promessa é que esse será o terminal mais moderno do País. Segundo o projeto, haverá um painel eletrônico mostrando os caminhões autorizados a entrar, marcação de horários por telefone e internet, empresas de logísticas e de aluguel de VUCs, oficinas de caminhões, hotel para os motoristas, restaurantes e outras funcionalidades.

Obra abre espaço para novas restrições Embora apoiem o projeto do novo terminal de cargas da Rodovia Fernão Dias, especialistas ouvidos pelo Estado acreditam que a cidade seria ainda mais beneficiada

se a entrada de caminhões fosse proibida após a inauguração do entreposto. "Com o terminal e o Trecho Norte do Rodoanel, não há mais necessidade desses veículos entrarem na cidade", explica o especialista em transportes Jorge Hori. Segundo ele, o terminal "já chega atrasado". "Isso já deveria estar sendo feito há muito tempo", afirma Hori. Ele diz que várias empresas privadas já construíram seus próprios terminais de logística nos mesmos moldes do planejado para a Fernão Dias, mas a maior parte das carretas que cortam a capital paulista pertence a caminhoneiros autônomos, que ficam sem ter a opção de descarregar a carga e evitar entrar na cidade. "Para esses caminhões, têm de ser uma iniciativa do poder público." Hori também acredita que pátios assim também deveriam ser erguidos às margens das outras rodovias que cortam a cidade. No entanto, a Prefeitura de São Paulo não possui planos para construir outros terminais. Já o especialista em logística Antonio Wrobleski acredita que isso não é necessário. "Basta o terminal estar perto do Rodoanel para que seja atraente para os caminhões que vêm de qualquer rodovia." Wrobleski também apóia a idéia de intensificar a restrição dos veículos de carga com a entrega do novo terminal. "Você tem de ter a restrição, mas oferecendo também a solução, que é o terminal funcionando." Contatado pela reportagem do Estado, o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo (Setcesp) afirmou que ainda estava estudando o novo projeto e não se pronunciaria antes de completar a análise.

Na SP rural, 0,9% dos paulistanos vive longe de trânsito, estresse e poluição William Cardoso A capital paulista esconde nas suas bordas moradores que fogem do ar poluído, dos congestionamentos e do estresse, típicos da região central da cidade. Segundo o Censo 2010, divulgado neste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), 101.159 pessoas (0,9% da população total) vivem em áreas rurais, fora do perímetro urbano – um território que representa pouco menos da metade da área do Município. Dos paulistanos que moram na área rural, 46.477 estão em distritos da zona sul da cidade. Distante mais de 50 quilômetros da região central e já na divisa com a litorânea Itanhaém, é o distrito de Marsilac que tem a maior proporção de moradores fora da zona urbana (83,17%). Árvores, riachos, pastagens e plantações fazem parte do dia a dia desses paulistanos que trocam o asfalto pelo campo. Eles contam que a vida rural em meio à metrópole é um privilégio do qual não abrem mão. "Aqui não tem aquela montoeira de gente, como na cidade. Meus netos brincam na terra, se sujam e não ficam doentes", diz a doméstica Maria Aparecida Cordeiro Antonio, de 50 anos, pouco mais de 20 deles em Marsilac. Maria Aparecida nasceu em São João do Ivaí (PR). Lá, trabalhava como agricultora com o marido. O casal seguiu para São Paulo nos anos 1980 em busca de oportunidades, mas não se acostumou à vida turbulenta. "A gente não se deu bem. Aí passamos a viver como caseiros em sítios aqui de Marsilac. Depois de um tempo, conseguimos comprar esse terreno, onde criamos nossos filhos e netos." Em casa, a doméstica cria um tucano de estimação, entre outros bichos, e vê vizinhos que usam animais como meio de transporte. É o caso do agricultor Florisvaldo Cardoso, de 61 anos, que vive montado na mula Estrelinha, de 20, seu xodó. "Quando deixo na cocheira, ela fica bem bonita. Gasto dois sacos de ração e três de farelo por mês. Mas ela também come cana, banana, maçã e pão velho." Cachoeira. Mais ao sul, ainda em Marsilac, o paulistano "da cidade"

se espanta quando cruza com vacas e bezerros no atoleiro. No fim do caminho, encontra uma cachoeira de água límpida. Luciano Ré, de 72 anos, escolheu ali como cenário para viver depois da aposentadoria. "Tenho casa na Avenida João Dias (em Santo Amaro), mas fico lá só uns dois dias por mês. Gosto do sossego." Ele reclama só da estrada malcuidada e das falhas do celular. A lanchonete de Luciano, ao lado da cachoeira, está em reforma. Os trabalhadores que consertam o telhado aproveitam a pausa à tarde para tomar goladas de cachaça Janaína e pitar um cigarrinho de palha. Todos vivem nas redondezas. "O problema é quando falta a pinga e o fumo. Aí a gente tem de buscar na cidade", diz, sorrindo, José Felix dos Reis, de 57 anos. Em outra ponta da zona sul, na Ilha do Bororé, os moradores cruzam a Represa Billings em uma balsa para chegar à cidade. Alberto Florentino, de 52 anos, comprou uma chácara ali há oito, mas foi há um ano e meio que se mudou de vez. "O Bororé é tudo para mim. Aliás, nem vou fazer muita propaganda, senão logo, logo vai estar cheio de gente por aqui e acaba o sossego." Também morador do Bororé (que na verdade é uma península, não uma ilha, porque está ligada ao restante da cidade por uma faixa de terra), o edificador Diego Angelo, de 22 anos, trabalha na região de Socorro. "Falam que eu moro no meio do mato, mas nem esquento. Só sei que quando chego em casa posso relaxar e curtir a natureza." Tremembé. Não é só a zona sul que abriga moradores da área rural de São Paulo. No outro extremo da cidade, na zona norte, é possível encontrar sítios e chácaras, embora já cercados por ocupações irregulares. Os 75 anos de idade não impedem Hideko Yogui de repetir os gestos que faz há quase meio século, desde que seu pai comprou a área de um alqueire no Tremembé para plantar chuchu. Ela segura o cabo da enxada, lavra a terra e diz que o trabalho faz bem. "Muita gente vai para a academia fazer exercício. Aqui eu trabalho e ainda ganho um dinheirinho. Quero continuar até os 80 anos. Depois, eu descanso um pouquinho."

Prefeitura marca invasões como áreas rurais Nem todos os 101 mil paulistanos que foram listados pelo Censo 2010 como habitantes da zona rural estão, de fato, próximos a plantações e pastagens ou vivem com hábitos típicos dos moradores do campo. Por causa do mapeamento definido pela Prefeitura, até mesmo aqueles que vivem em áreas de preservação ambiental que foram invadidas na periferia da cidade entram na conta do IBGE como moradores de área rural. O Jardim Helena, na zona leste, é o que tem o maior número de habitantes na zona rural (16.758), segundo o Censo. Mas, segundo Alvaro Fernandes Gonçalves, responsável pela agência Leste 1 do IBGE, dificilmente aspectos da vida no campo serão encontrados por lá. "Caracteriza- se como zona rural somente pela força da lei." Morador da Chácara Três Meninas, bairro na região do Jardim Helena, o líder comunitário Cristóvão de Oliveira, de 48 anos, diz que é preciso achar uma solução habitacional para quem vive ali, às margens do Rio Tietê. "Chamamos as autoridades para falar sobre isso. Queremos sair, mas precisamos ir para um lugar melhor", afirma. Para a urbanista Maria Lucia Refinetti Martins, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a realidade se sobrepõe ao limite legal. Ela diz também que a regularização de áreas ocupadas não deveria isentar os antigos loteadores das responsabilidades cabíveis. Sobre a reversão de áreas já ocupadas, diz que isso dificilmente ocorrerá. "Se está numa área de risco, tem de pensar em remoção, mas é preciso dar alternativa às pessoas. Não dá para mandar sair e dar um "cheque-despejo", porque aí a pessoa vai para outro lugar igual." A Prefeitura diz que não é a proprietária da maioria das áreas invadidas e a eliminação de loteamentos irregulares é complexa, porque é preciso prover moradia para essa população. Também diz que dá prioridade à remoção em locais onde existe risco alto ou muito alto aos habitantes, como ameaça iminente de deslizamento.