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Superior Tribunal de Justiça AgRg na MEDIDA CAUTELAR Nº 11.835 - RS (2006/0164384-6) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINS AGRAVANTE : ROSELI VARGAS ADVOGADO : SOELI BECK AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADOR : ROBERTO BANDEIRA PEREIRA AGRAVADO : CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DE HORIZONTINA COMDICA EMENTA ADMINISTRATIVO – AGRAVO DE INSTRUMENTO – NÃO-CONHECIMENTO – PENDÊNCIA DE RECURSO – NÃO CARACTERIZAÇÃO DE PERDA DO OBJETO – AÇÃO CAUTELAR – EFEITO SUSPENSIVO – ELEIÇÃO DE CONSELHEIRO TUTELAR – EXIGÊNCIA DE PROVA ESCRITA – LEI MUNICIPAL – POSSIBILIDADE. 1. A perda de objeto da ação cautelar, diante de não-conhecimento de agravo de instrumento, não ocorre quando o acórdão que nega provimento ao agravo regimental ainda se encontra passível de recurso. 2. O Município, com fundamento no art. 30, II, da CF/88, pode estabelecer requisitos outros além dos estampados no art. 133, do ECA, para eleição de membro do conselho tutelar, porquanto o referido dispositivo somente veiculou condições mínimas, que necessitam ser alongadas, a fim de sublevar a referida função. Precedente: Resp 402155/RJ; Rel. Min. Francisco Falcão - PRIMEIRA TURMA, DJ 15.12.2003. Agravo regimental improvido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)- Relator(a)." Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Eliana Calmon, João Otávio de Noronha e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 13 de março de 2007 (Data do Julgamento) MINISTRO HUMBERTO MARTINS Relator AgRg na MEDIDA CAUTELAR Nº 11.835 - RS (2006/0164384-6) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINS AGRAVANTE : ROSELI VARGAS ADVOGADO : SOELI BECK AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADOR : ROBERTO BANDEIRA PEREIRA AGRAVADO : CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DE HORIZONTINA COMDICA RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator): Cuida-se de ação cautelar com pedido liminar ajuizada por ROSELI VARGAS visando atrelar efeito suspensivo a agravo de instrumento interposto contra indeferimento de

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Superior Tribunal de JustiçaAgRg na MEDIDA CAUTELAR Nº 11.835 - RS (2006/0164384-6)RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINSAGRAVANTE : ROSELI VARGASADVOGADO : SOELI BECKAGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPROCURADOR : ROBERTO BANDEIRA PEREIRAAGRAVADO : CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DE HORIZONTINA COMDICAEMENTAADMINISTRATIVO – AGRAVO DE INSTRUMENTO – NÃO-CONHECIMENTO – PENDÊNCIA DE RECURSO – NÃO CARACTERIZAÇÃO DE PERDA DO OBJETO – AÇÃO CAUTELAR – EFEITO SUSPENSIVO – ELEIÇÃO DE CONSELHEIRO TUTELAR – EXIGÊNCIA DE PROVA ESCRITA – LEI MUNICIPAL – POSSIBILIDADE.1. A perda de objeto da ação cautelar, diante de não-conhecimento de agravo de instrumento, não ocorre quando o acórdão que nega provimento ao agravo regimental ainda se encontra passível de recurso.2. O Município, com fundamento no art. 30, II, da CF/88, pode estabelecer requisitos outros além dos estampados no art. 133, do ECA, para eleição de membro do conselho tutelar, porquanto o referido dispositivo somente veiculou condições mínimas, que necessitam ser alongadas, a fim de sublevar a referida função. Precedente: Resp 402155/RJ; Rel. Min. Francisco Falcão - PRIMEIRA TURMA, DJ 15.12.2003.Agravo regimental improvido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Eliana Calmon, João Otávio de Noronha e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.Brasília (DF), 13 de março de 2007 (Data do Julgamento)MINISTRO HUMBERTO MARTINSRelator

AgRg na MEDIDA CAUTELAR Nº 11.835 - RS (2006/0164384-6)RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINSAGRAVANTE : ROSELI VARGASADVOGADO : SOELI BECKAGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPROCURADOR : ROBERTO BANDEIRA PEREIRAAGRAVADO : CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DE HORIZONTINA COMDICARELATÓRIOO EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator):Cuida-se de ação cautelar com pedido liminar ajuizada por ROSELI VARGAS visando atrelar efeito suspensivo a agravo de instrumento interposto contra indeferimento de

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Recurso Especial. Aduz a requerente que ingressou com mandado de segurança contra o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Horizontina - COMDICA, tendo sido deferida a medida liminar que lhe assegurou o direito de participar do prélio, restando vencedora.Sua inconformidade derivou-se da Resolução n. 01/2004, ou seja, EDITAL DE ELEIÇÃO, que fez exigência de prova escrita. Impetrado o mandamus, foi concedida a segurança, tendo o Ministério Público Estadual ingressado com recurso de apelo que restou provido.Irresignada, a requerente interpôs recurso especial, cujo trânsito foinegado pelo Tribunal a quo.Ofertado agravo de instrumento, comparece a esta Corte a requerente com a presente Medida Cautelar, buscando efeito suspensivo, para que o Juiz de Direito abstenha-se de implementar a decisão proferida no acórdão recorrido até o julgamento final do recurso.Suscita, na exordial, que as exigências para o acesso a Conselheiro Tutelar somente são aquelas encartadas na Lei Federal n. 8.069/90, não podendo ser estipuladas outras.Liminar indeferida, fls. 78/79.Citados, os requeridos apresentaram tempestivamente contestação, fls. (87/115).É, no essencial, o relatório.

AgRg na MEDIDA CAUTELAR Nº 11.835 - RS (2006/0164384-6)EMENTAADMINISTRATIVO – AGRAVO DE INSTRUMENTO – NÃO-CONHECIMENTO – PENDÊNCIA DE RECURSO – NÃO CARACTERIZAÇÃO DE PERDA DO OBJETO – AÇÃO CAUTELAR – EFEITO SUSPENSIVO – ELEIÇÃO DE CONSELHEIRO TUTELAR – EXIGÊNCIA DE PROVA ESCRITA – LEI MUNICIPAL – POSSIBILIDADE.1. A perda de objeto da ação cautelar, diante de não-conhecimento de agravo de instrumento, não ocorre quando o acórdão que nega provimento ao agravo regimental ainda se encontra passível de recurso.2. O Município, com fundamento no art. 30, II, da CF/88, pode estabelecer requisitos outros além dos estampados no art. 133, do ECA, para eleição de membro do conselho tutelar, porquanto o referido dispositivo somente veiculou condições mínimas, que necessitam ser alongadas, a fim de sublevar a referida função. Precedente: Resp 402155/RJ; Rel. Min. Francisco Falcão - PRIMEIRA TURMA, DJ 15.12.2003.Agravo regimental improvido.VOTOO EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator):Inicialmente, observo que a preliminar deduzida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, no sentido da perda do objeto desta ação cautelar, diante do não-conhecimento do agravo de instrumento, ao qual se busca outorga de eficácia suspensiva, deve ser rechaçada.Com efeito, verifica-se que o acórdão que negou provimento ao agravo regimental interposto pela ora requerente ainda se encontra passível de recurso, de forma que poderá restar modificado deferindo a pretensão da requerente de subida do recurso especial.A pretensão cautelar requer para o seu deferimento a presença do fumus boni iuris e periculum in mora, que constituem requisitos do mérito da tutela de urgência cautelar.No caso em tela, observo que se encontra ausente o fumus boni iuris. Explico.A discussão travada cinge-se à possibilidade do Município, com fundamento no art. 30, II, da CF/88, estabelecer requisitos a mais que os estampados no art. 133 do ECA, para eleição de membro do conselho tutelar.Ora, o Município pode regulamentar o processo seletivo de conselheiro tutelar instituindo

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novos requisitos, porquanto o ECA somente veiculou condições mínimas, que necessitam ser alongadas, a fim de sublevar a referida função. Nada há de exorbitância, pelo contrário estar-se apenas, com apoio no princípio da razoabilidade, estabelecendo-se um nível de qualidade técnica mais acentuado para aqueles que pretendem exercer a função conselheiro tutelar.Ademais, a exigência de prova escrita para auferiu conhecimentos essenciais do candidato a conselheiro tutelar, como ocorre in casu, já foi enfrentada por esta Corte, tendo sido sedimentado o entendimento dessa possibilidade, conforme exemplifica o julgado abaixo transcrito:"RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CANDIDATURA A MEMBRO DO CONSELHO TUTELAR. LEI MUNICIPAL EXIGÊNCIA DE ESCOLARIDADE MÍNIMA. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 133 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.I - A Lei nº 620/98, do Município de Duas Barras, Estado do Rio de Janeiro, ao exigir que os candidatos a Conselheiro do Conselho Tutelar possuíssem, pelo menos, o primeiro grau completo, apenas regulamentou a aplicação da Lei nº 8.069/90, adequando a normas às suas peculiaridades, agindo, portanto, dentro da sua competência legislativa suplementar (art. 30, inc. II, da CF).II - O art. 133 do ECA não é taxativo, vez que apenas estabeleceu requisitos mínimos para os candidatos a integrante do Conselho Tutelar, que é serviço público relevante, podendo, inclusive, ser remunerado.III - Recurso especial provido."(REsp 402155/RJ; Rel. Min. Francisco Falcão – PRIMEIRA TURMA, DJ 15.12.2003 p. 189.).Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental. É como penso. É como voto.MINISTRO HUMBERTO MARTINSRelator

CERTIDÃO DE JULGAMENTOSEGUNDA TURMAAgRg naNúmero Registro: 2006/0164384-6 MC 11835 / RSNúmeros Origem: 10410400013646 70011318250 70012860623 70013965207EM MESA JULGADO: 13/03/2007RelatorExmo. Sr. Ministro HUMBERTO MARTINSPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHASubprocuradora-Geral da RepúblicaExma. Sra. Dra. MARIA CAETANA CINTRA SANTOSSecretáriaBela. VALÉRIA ALVIM DUSIAUTUAÇÃOREQUERENTE : ROSELI VARGASADVOGADO : SOELI BECKREQUERIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPROCURADOR : ROBERTO BANDEIRA PEREIRAREQUERIDO : CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DOADOLESCENTE DE HORIZONTINA COMDICAASSUNTO: Administrativo - Eleição - Conselho TutelarCERTIDÃOCertifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

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"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Eliana Calmon, João Otávio de Noronha e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.Brasília, 13 de março de 2007VALÉRIA ALVIM DUSISecretária

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Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 557.117 - SP (2003/0109220-2)RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRARECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULORECORRIDO : WALTER TAVARES DA SILVAADVOGADO : MARCOS RIBEIRO DE FREITAS E OUTROEMENTAPROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CASSAÇÃO DE MANDATO DE MEMBRO DE CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. COMPETÊNCIA. JUÍZO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE . ART. 148, INCISO IV, DO ECA.1. Ao intentar ação civil pública com o fito de cassar o mandato de Conselheiro Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, suspeito da prática de atos de improbidade no desempenho de seu múnus, o Parquet estadual objetivou tutelar o adequado funcionamento e a regular composição do órgão municipal que - previsto no art. 88, inciso II, do ECA - é responsável pelo estabelecimento da política de atendimento aos direitos das crianças e adolescentes.2. Afetando os interesses difusos e coletivos das crianças e adolescentes do Município de Santos/SP, à presente ação civil pública é de se aplicar a regra encartada no art. 148, inciso IV, do ECA. Precedente: REsp 47.104/PR, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 5.6.00.3. Recurso especial provido.ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator." Os Srs. Ministros Eliana Calmon e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.Brasília (DF), 04 de maio de 2006 (Data do Julgamento).Ministro Castro MeiraRelator

RECURSO ESPECIAL Nº 557.117 - SP (2003/0109220-2)RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRARECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULORECORRIDO : WALTER TAVARES DA SILVAADVOGADO : MARCOS RIBEIRO DE FREITAS E OUTRORELATÓRIOO EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Cuida-se de recurso especial fundado na alínea "a" do inciso III do art. 105 da Constituição da República, interposto contra acórdão da Câmara Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, assim ementado:"ECA - CONSELHO TUTELAR - Ação civil pública que trata de cassação de mandato de conselheiro tutelar. Questão de Direito Administrativo e, não, de proteção de interesses difusos e coletivos da criança e do adolescente. Competência recursal da Seção de Direito Público" (fl. 442).O Ministério Público do Estado de São Paulo aponta ofensa ao art. 148, inciso IV, da Lei n.º 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA). Segundo entende, a competência para apreciação da ação civil pública seria do Juízo da Infância e da Juventude, já que proposta "em face do ora recorrido, na qualidade de Conselheiro Tutelar do Município de Santos, imputando-se-lhe ato de improbidade administrativa, em virtude de ato omissivo relacionado com o exercício de seu mister, id est, por haver deixado de prestar o devido atendimento à criança Akita Inajara Serra Mendonça Silva, a qual veio a falecer vítima de maus tratos" (fl. 451).As contra-razões foram apresentadas às fls. 458-559. Em preliminar, pugna pelo não conhecimento do recurso por ausência de comprovação do divergência jurisprudencial nos termos legais e regimentais e, no mérito, pela manutenção da decisão recorrida.Admitido o recurso especial na origem (fls. 561-562), subiram os autos a esta Corte de Justiça.

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Instado a se manifestar, o Subprocurador-Geral da República opinou pelo conhecimento e provimento do recurso especial. O parecer encontra-se ementado nos seguintes termos:"Recurso Especial. Conselheiro Tutelar. Destituição. Ação civil pública que se assenta em interesses regulados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, cujo objetivo mediato é a regular composição do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, órgão responsável pela política de atendimento a esse segmento social (artigo 88, inciso 11, da Lei 8.069/90). Competência absoluta da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Santos. Artigo 148, inciso IV, da Lei 8.069/90. Precedentes. Parecer pelo conhecimento e provimento do recurso especial".É o relatório.

RECURSO ESPECIAL Nº 557.117 - SP (2003/0109220-2)EMENTAPROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CASSAÇÃO DE MANDATO DE MEMBRO DE CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. COMPETÊNCIA. JUÍZO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE . ART. 148, INCISO IV, DO ECA.1. Ao intentar ação civil pública com o fito de cassar o mandato de Conselheiro Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, suspeito da prática de atos de improbidade no desempenho de seu múnus, o Parquet estadual objetivou tutelar o adequado funcionamento e a regular composição do órgão municipal que - previsto no art. 88, inciso II, do ECA - é responsável pelo estabelecimento da política de atendimento aos direitos das crianças e adolescentes.2. Afetando os interesses difusos e coletivos das crianças e adolescentes do Município de Santos/SP, à presente ação civil pública é de se aplicar a regra encartada no art. 148, inciso IV, do ECA. Precedente: REsp 47.104/PR, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 5.6.00.3. Recurso especial provido.VOTOO EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): De início, cumpre destacar que o recurso especial não foi interposto com supedâneo na alínea "c" do inciso III do art. 105 da Constituição da República. Desse modo, não há que se cogitar, como pretendeu a recorrida, de impossibilidade de conhecimento da irresignação por descumprimento das formalidades legais e regimentais relativas à demonstração do dissídio pretoriano.Por outro lado, prequestionada a tese sobre a qual gravita o dispositivo tido por vulnerado, conheço do recurso pela alínea "a" do permissivo constitucional.Passo a analisá-lo.A solução da controvérsia implica em decidir se a competência para processar ação civil pública que objetiva cassar o mandato de Conselheiro Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, ao qual se atribui suposta violação a deveres funcionais previstos no ECA, é do Juízo da Fazenda ou do Juízo da Infância e da Juventude.O Tribunal a quo manteve a decisão da juíza de primeira instância que, acolhendo exceção proposta pela recorrida, declinou da competência para o Juízo da Fazenda. Do voto condutor do julgamento, calha reproduzir o seguinte excerto:"O entendimento da MM. Juíza excepta (f. f. 25/30) tem basicamente por fundamento o desempenho do Conselho Tutelar como órgão público, o que afasta a competência da da Vara da Infância e da Juventude.Em questões de direitos de criança e adolescente, vigora o disposto no art. 148 do ECA, não se enquadrando em nenhum dos seus itens a questão relacionada à cassação dos membros dos Conselhos Tutelares e muito menos relaciona-se a assunto de interesse difuso e coletivo da criança e do adolescente" (fl. 443).A solução perfilhada pela Corte de origem merece reforma. Explica-se.Ao intentar ação civil pública com o fito de cassar o mandato de Conselheiro Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, suspeito da prática de atos de improbidade no desempenho deseu múnus, o Parquet estadual objetivou tutelar o adequado funcionamento e a regular composição do órgão municipal que - previsto no art. 88, inciso II, do ECA - é responsável pelo estabelecimento da política de atendimento aos direitos das crianças e adolescentes.Com efeito, afetando os interesses das crianças e adolescentes do Município de Santos/SP, à presente ação civil pública é de se aplicar a regra encartada no art. 148, inciso IV, do ECA, de

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seguinte teor:"Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:(...)IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209;"Depreende-se, pois, que fundada a ação civil pública nos interesses difusos e coletivos das crianças e adolescentes do Município de Santos/SP em verem regularmente composto e em funcionamento o Conselho Municipal referenciado, não há como se afastar a competência do Juízo da Infância e da Juventude para apreciar a demanda.Ao comentar a norma do ECA supra transcrita, escreve José de Farias Tavares: "O mesmo se dá no inciso IV quanto às causas da natureza cível afetar às crianças e aos adolescentes, tendo-se em conta a competência do foro (art. 209).Observem-se as expressas menções a interesses: individuais, difusos ou coletivos. Os primeiros decorrem da natureza mesma dos direitos privados. Os interesses difusos são os que dizem respeito ao público em geral que ultrapassam os clássicos limites do art. 6º do Código de Processo Civil. Assim, a Ação Civil Pública, instituída pela Lei n.º 7.347, de 24.07.1985 (recepcionada e ampliada na Constituição de 1988, art. 129, inciso III), e que visa a defender bens como o meio ambiente, o patrimônio cultural, a proteção do consumidor. Quando afetar interesses das crianças e adolescentes, indiscriminadamente será proposta no Juizado da Infância e da Juventude.Competência extravagante, e legitimidade extravagante de parte processual, evidentemente"(sem grifos no original) (In, "Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente". 5ª Ed.. Rio de Janeiro: Forense, 2005, págs. 157-158).No mesmo toar, em caso análogo, o seguinte julgado da Turma:"PROCESSO CIVIL - COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - LEI N. 8.069/90 - RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO.1. Ação civil pública que busca o exame de diplomas locais, sob o aspecto legal, mas que se assenta em interesses regulados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.2. Aplicabilidade do art. 148, IV da Lei n. 8.069/90.3. Recurso conhecido e provido" (REsp 47.104/PR, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 5.6.00).Do precedente acima, oportuno transcrever o seguinte fundamento adotado pela ilustre Ministra Relatora para decidir competente a Vara da Infância e Juventude:"A Constituição Federal de 1988 buscou priorizar o atendimento às necessidades da criança e do adolescente, conforme previsão inserta no art. 227 da Carta Magna, que veio a se consolidar no mundo jurídico com a edição do Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei n. 8.069/90, que dispõe em seus arts. 148, IV, e 209 (...).O Tribunal recorrido entendeu que a discussão dos autos girava em tomo da legalidade de decretos do Poder Público Municipal, o que ensejaria a competência de uma das varas da Fazenda Pública, segundo a legislação de organização judiciária local.Entretanto, merece correção o julgado, eis que, se a princípio busca a ação civil pública o exame dos diplomas locais, sob o aspecto da legalidade, o interesse mediato é a regular composição do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, órgão responsável pela política de atendimento a esse segmento social, conforme previsão do art. 88, 11, da Lei n. 8.069/90.É importante ressaltar que a referida ação é fundada na Lei n. 8.069/90 (fl. 72) e tem por objetivo resguardar os interesses da criança e do adolescente, sendo pertinente, portanto, a aplicação do art. 148, IV, do referido estatuto.Em conclusão conheço do recurso especial, pela letra 'a' do permissivo constitucional, e dou-lhe provimento, a fim de que a ação civil pública seja processada perante a Vara da Infância e da Juventude da Comarca de Curitiba, determinando o retomo dos autos ao Tribunal de origem, para o julgamento do mérito do agravo de instrumento".Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial.É como voto.

CERTIDÃO DE JULGAMENTOSEGUNDA TURMANúmero Registro: 2003/0109220-2 REsp 557117 / SP

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Número Origem: 973170PAUTA: 04/05/2006 JULGADO: 04/05/2006RelatorExmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRAPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHASubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. WALLACE DE OLIVEIRA BASTOSSecretáriaBela. VALÉRIA ALVIM DUSIAUTUAÇÃORECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULORECORRIDO : WALTER TAVARES DA SILVAADVOGADO : MARCOS RIBEIRO DE FREITAS E OUTROASSUNTO: Ação Civil Pública - Improbidade AdministrativaCERTIDÃOCertifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:"A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator."Os Srs. Ministros Eliana Calmon e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. MinistroRelator.Brasília, 04 de maio de 2006VALÉRIA ALVIM DUSISecretária

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Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 822.807 - SC (2006/0039660-3)RELATOR : MINISTRO LUIZ FUXRECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINARECORRIDO : SYLVIO SNIECIKOVSKIADVOGADO : EDUARDO FABRICIO TEICOFSKI E OUTRO(S)EMENTAPROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (LEI 8.069/90). SECRETÁRIO MUNICIPAL. DESCUMPRIMENTO DEDETERMINAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA (ART. 249 DO ECA). NÃO-CONFIGURAÇÃO. PRECEDENTES DO STJ.1. O art. 249 da Lei 8.069/90, do cognominado Estatuto da Criança e do Adolescente, destina-se aos pais ou responsáveis que descumprirem dolosa ou culposamente "os deveres inerentes ao pátrio poder ou decorrentes da tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar", por isso que, a fortiori , não podem recair sobre quem não exerça tais deveres. Precedentes do STJ: RESP 769.443/SC, 1ª Turma, DJ de 04.12.2006 e RESP 779.055/SC, 1ª Turma, DJ de 23.10.2006.2. In casu, trata-se de representação engendrada por Conselho Tutelar em face de Secretário Municipal de Educação e Cultura, por infração ao art. 249, in fine, do Estatuto da Criança e do Adolescente, decorrente do não atendimento à requisição atinente ao atendimento de menor emCentro de Educação Infantil.3. Recurso especial desprovido.ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki (Presidente), Denise Arruda, José Delgado e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.Brasília (DF), 02 de outubro de 2007(Data do Julgamento)MINISTRO LUIZ FUXRelator

RECURSO ESPECIAL Nº 822.807 - SC (2006/0039660-3)RELATÓRIOEXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX(Relator): Trata-se de recurso especial interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA (fls. 158/174), com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas "a" e "c", Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, assim ementado:"ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. REJEIÇÃO DE REPRESENTAÇÃO. CARÊNCIA DA AÇÃO. AUSÊNCIA DE POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. FATO NARRADO QUE NÃO SE ENQUADRA COMO INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA DO ARTIGO 249 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. RECONHECIMENTO EM QUALQUER TEMPO DO PROCESSO E GRAU DE JURISDIÇÃO. PROCESSO EXTINTO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. ARTIGO 152 DO ECA C/C ARTIGO 267, VI, DO CPC.A norma do artigo 249 do Estatuto da Criança e do adolescente dirige-se aos pais ou responsáveis que descumprirem dolosa ou culposamente "os deveres inerentes ao pátrio poder ou decorrentes da tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar", não podendo recair sobre quem não exerça tais deveres. É carecedora de ação representação objetivando impor multa por descumprimento de determinação do Conselho Tutelar ou da Autoridade Judiciária a quem não exerça deveres decorrentes do poder familiar, da tutela ou da guarda.

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PROCESSUAL. PREPARO DO RECURSO DE APELAÇÃO. DESNECESSIDADE PERANTE O ARTIGO 198, I, DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. RESTITUIÇÃO QUE SE IMPÕE NOS MOLDES DO ARTIGO 503 DO CÓDIGO DE NORMAS DA CORREGEDORIA-GERAL DE JUSTIÇA."O art. 198, I, do ECA afirma que"os recursos serão interpostos independentemente de preparo". (fl. 150) Versam os autos, originariamente, representação apresentada pelo Conselho Tutelar de Joinville/SC em face de Silvio Sniecikovski, Secretário Municipal da Educação e Cultura de Joinville/SC, objetivando a apuração de infração administrativa, no âmbito da jurisdição da Infância e juventude, por infração ao art. 249, in fine, do Estatuto da Criança e do Adolescente, decorrente do não atendimento à requisição atinente ao atendimento de menor em Centro de Educação Infantil.O Juiz Singular julgou procedente a representação formulada pelo Conselho Tutelar de Joinville para condenar o Secretário Municipal da Educação e Cultura ao pagamento de 03 (três) salários mínimos em favor do Fundo Municipal da Criança e do adolescente, por infração do art. 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente, consoante sentença de fls. 53/65.Irresignado o Secretário Municipal da Educação e Cultura de Joinville/SC interpôs apelação perante o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, que deu provimento ao recurso, nos termos da ementa cima transcrita.O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, em sede de recurso especial, sustenta, em síntese, que o acórdão hostilizado, ao entender que a responsabilização pela infração administrativa inserta no art. 249, in fine, do ECA, somente se aplica aos pais e responsáveis, no seu entender, violou o disposto no mencionado dispositivo legal, além de ter divergido de julgado do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.Mais adiante, em apoio à sua tese, afirma que: "o respeitável acórdão objurgado, ao contemplar o entendimento de que a parte final da norma prevista no artigo 249 do ECA não se destina às pessoas que não exercem os deveres inerentes ao pátrio poder familiar ou decorrente de guarda ou tutela, que o dispositivo em comento tem aplicabilidade restrita a estas pessoas, negou-lhe vigência, razão pela qual merece ser reformado, sendo imperioso o provimento da presente pretensão recursal. (...)"O recorrido, em contra-razões apresentadas às fls. 186/196, pugna pelo desprovimento do recurso e, consectariamente, pela manutenção do acórdão recorrido. O recurso especial foi admitido no Tribunal local, consoante despacho de fls. 214/215.É o relatório.

RECURSO ESPECIAL Nº 822.807 - SC (2006/0039660-3)EMENTAPROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (LEI 8.069/90). SECRETÁRIO MUNICIPAL. DESCUMPRIMENTO DE DETERMINAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA (ART. 249 DO ECA). NÃO-CONFIGURAÇÃO. PRECEDENTES DO STJ.1. O art. 249 da Lei 8.069/90, do cognominado Estatuto da Criança e do Adolescente, destina-se aos pais ou responsáveis que descumprirem dolosa ou culposamente "os deveres inerentes ao pátrio poder ou decorrentes da tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar", por isso que, a fortiori , não podem recair sobre quem não exerça tais deveres. Precedentes do STJ: RESP 769.443/SC, 1ª Turma, DJ de 04.12.2006 e RESP 779.055/SC, 1ª Turma, DJ de 23.10.2006.2. In casu, trata-se de representação engendrada por Conselho Tutelar em face de Secretário Municipal de Educação e Cultura, por infração ao art. 249, in fine, do Estatuto da Criança e do Adolescente, decorrente do não atendimento à requisição atinente ao atendimento de menor em Centro de Educação Infantil.3. Recurso especial desprovido.VOTOEXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX(Relator): Preliminarmente, conheço do recurso especial pela alínea "a", do permissivo constitucional, uma vez que a matéria restou devidamente

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prequestionada, bem como demonstrada a divergência, nos moldes exigidos pelo RISTJ.Versam os autos, originariamente, representação apresentada pelo Conselho Tutelar de Joinville/SC em face de Silvio Sniecikovski, Secretário Municipal da Educação e Cultura de Joinville/SC, objetivando a apuração de infração administrativa, prevista no art. 249, parte final, do Estatuto da Criança e do Adolescente, no âmbito da jurisdição da Infância e juventude, decorrente do não atendimento à requisição atinente ao atendimento de menor em Centro de Educação Infantil.O Juiz Singular julgou procedente a representação formulada pelo Conselho Tutelar de Joinville para condenar o Secretário Municipal da Educação e Cultura ao pagamento de 03 (três) salários mínimos em favor do Fundo Municipal da Criança e do adolescente, por infração do art. 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente, consoante sentença de fls. 53/65.O cerne do recurso sub examine cinge-se à delimitação dos destinatários da norma inserta no art. 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90).O art. 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), dispõe:Das Infrações Administrativas(...)"Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao pátrio poder ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar:Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.Ab initio, a pretensão engendrada pelo Ministério Púbico Estadual não revela condição de prosperar, máxime porque a jurisprudência desta Corte, no exame de hipóteses análogas, decidiu que o art. 249 da Lei 8.069/90, do cognominado Estatuto da Criança e do Adolescente, destina-se aos pais ou responsáveis que descumprirem dolosa ou culposamente "os deveres inerentes ao pátrio poder ou decorrentes da tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar", consoante se infere dos julgados, verbis :"PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (LEI 8.069/90). SECRETÁRIO MUNICIPAL. DESCUMPRIMENTO DE DETERMINAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA (ART. 249 DO ECA). NÃO-CONFIGURAÇÃO. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.1. Só responde pela infração administrativa prevista no art. 249 do ECA o responsável pelo descumprimento dos deveres inerentes ao pátrio poder ou aqueles decorrentes de tutela ou guarda, atuando dolosa ou culposamente.2. Precedentes do STJ.3. Desprovimento do recurso especial." (RESP 769.443/SC, Relatora Ministra Denise Arruda, DJ de 04.12.2006)ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. SECRETÁRIO MUNICIPAL. DESCUMPRIMENTO DE DETERMINAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR. ARTIGO 249 DO ECA. INAPLICABILIDADE.I - Deve ser considerada inepta a autuação lavrada com esteio no artigo 249, do ECA, contra o Secretário Municipal da Educação que descumpriu a ordem para disponibilizar vagas em creche e pré-escola para duas crianças.II - O artigo 249, do Estatuto da Criança e do Adolescente tem como destinatários os pais, tutores e guardiões que descumprirem determinação do juiz ou do Conselho Tutelar, referente ao exercício do pátrio poder. Precedente: REsp nº 767.089/SC, Relator Ministro FRANCISCO FALCÃO, julgado em 15/09/2005.III - Recurso especial improvido. (REsp 779.055/SC, Relator Ministro Francisco Falcão, DJ de 23.10.2006)Sobre o thema destaque-se, pela juridicidade de suas razões, os fundamentos desenvolvidos pela Ministra Denise Arruda, no voto condutor do acórdão proferido no RESP 763.443/SC, litteris :"A pretensão recursal não merece acolhimento. Dispõe o art. 249 do Estatuto da Criança e doAdolescente (Lei 8.069/90): "Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao pátrio poder ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou

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Conselho Tutelar."O recorrido foi autuado pela prática da conduta descrita no referido artigo, pois, na condição de Secretário de Educação, teria deixado de cumprir deliberação do Conselho Tutelar no sentido de disponibilizar vagas em creche e pré-escola para crianças.A infração administrativa prevista no art. 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente alcança tão-somente os deveres inerentes ao pátrio poder ou decorrentes de tutela ou guarda, como claramente enuncia o aludido preceito legal.O doutrinador Paulo Lúcio Nogueira, comentando o referido preceito legal, assevera que “Tal disposição já constava do Código de Menores revogado (art. 72), e aplica-se aos pais ou responsável pela guarda ou tutela, assim como pelos deveres inerentes ao pátrio poder. Trata-se de preceito de ordem administrativa , que não exclui as possíveis medidas criminais ou mesmo civis que possam advir do descumprimento desses deveres”, acrescentando que “... o legislador exige que o descumprimento dos deveres seja doloso ou culposo para ser punido.” (Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado , São Paulo: ed. Saraiva, 1991, p. 327).No mesmo sentido, o entendimento de Wilson Donizeti Liberati (O Estatuto da Criança e do Adolescente , Brasília: IBPS, 1991, p. 176):"Sujeito ativo. São agentes da infração administrativa os pais, os tutores e os guardiães que estejam exercendo, definitiva ou temporariamente, o munus do pátrio poder. Serão também considerados infratores aqueles que, dolosa ou culposamente, descumprirem determinação do juiz ou do Conselho Tutelar, referente ao exercício do pátrio poder."Esta Corte Superior já se manifestou especificamente sobre a questão:"ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. SECRETÁRIO MUNICIPAL. DESCUMPRIMENTO DE DETERMINAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR. ARTIGO 249 DO ECA. INAPLICABILIDADE.I - Deve ser considerada inepta a autuação lavrada com esteio no artigo 249, do ECA, contra o Secretário Municipal da Educação que descumpriu a ordem para disponibilizar vagas em creche e pré-escola para duas crianças.II - O artigo 249, do Estatuto da Criança e do Adolescente tem como destinatários os pais, tutores e guardiões que descumprirem determinação do juiz ou do Conselho Tutelar, referente ao exercício do pátrio poder. Precedente: REsp nº 767.089/SC, Relator Ministro FRANCISCO FALCÃO, julgado em 15/09/2005.III - Recurso especial improvido." (REsp 779.055/SC, 1ª Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de 23.10.2006, p. 270)Assim, atuou com acerto o Tribunal de origem ao afastar uma possível penalidade administrativa, pretensamente atribuída ao Secretário de Educação do Município de Joinville/SC, quando este não exerce qualquer dos deveres elencados no dispositivo legal mencionado.Ante o exposto, o desprovimento do recurso especial se impõe, mantendo-se integralmente o acórdão recorrido. É o voto."Ex positis , cumprindo a função uniformizadora desta Corte, NEGO PROVIMENTO ao recurso especial.É como voto.

CERTIDÃO DE JULGAMENTOPRIMEIRA TURMANúmero Registro: 2006/0039660-3 REsp 822807 / SCNúmeros Origem: 20040108737 38030040377PAUTA: 02/10/2007 JULGADO: 02/10/2007RelatorExmo. Sr. Ministro LUIZ FUXPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKISubprocuradora-Geral da RepúblicaExma. Sra. Dra. DEBORAH MACEDO DUPRAT DE BRITTO PEREIRA

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SecretáriaBela. MARIA DO SOCORRO MELOAUTUAÇÃORECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINARECORRIDO : SYLVIO SNIECIKOVSKIADVOGADO : EDUARDO FABRICIO TEICOFSKI E OUTRO(S)ASSUNTO: Administrativo - Infração - Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA - MultaCERTIDÃOCertifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki (Presidente), Denise Arruda, José Delgado e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.Brasília, 02 de outubro de 2007MARIA DO SOCORRO MELOSecretária

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Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 564.722 - ES (2003/0125821-7)RELATOR : MINISTRO LUIZ FUXRECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTORECORRIDO : GENTIL BERNARDINO ALVESADVOGADO : ONIAS ALVESEMENTAESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. MULTA APLICADA EM DECORRÊNCIA DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. DEPÓSITO EM CONTA DESTINADA A MANTER A VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. CONTRARIEDADE AOS ARTIGOS 154 E 214 DO ECA.1. O valor da multa aplicada por infração administrativa ou por descumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer, previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, deve ser revertido ao Fundo Municipal da Infância e Adolescência.2. A multas cominadas pelo ECA sejam elas decorrentes de infrações administrativas ou originárias de obrigação de fazer ou não fazer só divergem quanto à sua origem e não quanto à sua destinação, motivo pelo qual, em ambos os casos, incide o art. 214, da Lei n.º 8.069/90, verbis:"Os valores dasmultas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Respectivo Município."3. Precedentes: RESP n.º 562.391/ES, Rel. Min. Felix Fischer, DJ de 30.08.2004; RESP n.º 614.985/ES, Rel. Min.ª Laurita Vaz, DJ de 23.08.2004; RESP n.º 512.145/ES, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ de 24.11.2003.4. Recurso conhecido e provido.ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Denise Arruda, José Delgado e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.Brasília (DF), 21 de outubro de 2004 (Data do Julgamento)MINISTRO LUIZ FUXPresidente e Relator

RECURSO ESPECIAL Nº 564.722 - ES (2003/0125821-7)RELATÓRIOO EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX(Relator):Trata-se de recurso especial interposto pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo, com fulcro na alínea "a", do inciso III, do art. 105, da Constituição Federal, contra acórdão proferido em sede de apelação pelo Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, assim ementado:"EMENTA - CONSELHO DA MAGISTRATURA – APELAÇÃO APLICAÇÃO DE MULTA ADMINISTRATIVA - A SER RECOLHIDA NOS TERMOS DO PROVIMENTO N.º 007/98 DACORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA – INCONFORMISMO DO MP - ALEGAÇÃO DE QUE A MULTA ARRECADADA DEVERIA TER SIDO RECOLHIDA PARA O FUNDAM MUNICIPAL DA INFÂNCIA E JUVENTUDE - IMPOSSIBILIDADE - ART. 214 DO ECA – MULTAS COMINADAS NA APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL DEFINIDO COMO CRIME - VALORES A SEREM DESTINADOS AOS CONSELHOS MUNICIPAIS - MULTAS DECORRENTES DO COMETIMENTO DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA – ECA PERMANECEU OMISSO - PROVIMENTO N.º 007/98 DA EGRÉGIA CORREGEDORIA - VALORES DAS MULTAS DEPOSITADAS EM CONTA CORRENTE À ORDEM DA RESPECTIVA VAR DA INFÂNCIA E JUVENTUDE – NÃO VISLUMBRADA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE - IMPROVIMENTO DO RECURSO.

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'O Estatuto não regula a destinação a ser dada aos valores das multas administrativas. Ademais, o depósito das multas atende às necessidades e anseios do próprio juizado, uma vez que os valores arrecadados são utilizados na manutenção das Equipes Interprofissionais, que é de vital importância para os jurisdicionados'"Alega o recorrente que o acórdão recorrido violou o disposto nos arts. 154 e 214, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que assim dispõem:"Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214""Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Respectivo Município.1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária"Sustenta, em síntese, que a multas cominadas pelo ECA sejam elas decorrentes de infrações administrativas ou originárias de obrigação de fazer ou não fazer só divergem quanto à sua origem e não quanto à sua destinação, motivo pelo qual devem ser revertidas para o Fundo da Infância e da Adolescência. Assim, aduz o Parquet que "a reversão do valor da multa à outra conta (Juizado da Infância e da Juventude), que não aquela expressamente prevista (Fundo da Infância e da Adolescência), fez letra morta dos artigos supratranscritos, a eles negando vigência (...)"Não foram apresentadas contra-razões, consoante certidão de fl. 63.O Parquet Federal, em parecer de fls. 69/72, opinou pelo provimento do recurso, sob os fundamentos sintetizados na seguinte ementa:"EMENTA: RESP. MULTA ADMINISTRATIVA APLICADA COM FUNDAMENTO NO ECA. DESTINAÇÃO EM DESACORDO COM OS ARTS. 154 E 214 DO MESMO DIPLOMA. IMPOSSIBILIDADE. PARECER PELO PROVIMENTO DO RECURSO.É o relatório.

RECURSO ESPECIAL Nº 564.722 - ES (2003/0125821-7)EMENTAESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. MULTA APLICADA EM DECORRÊNCIA DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. DEPÓSITO EM CONTA DESTINADA A MANTER A VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. CONTRARIEDADE AOS ARTIGOS 154 E 214 DO ECA.1. O valor da multa aplicada por infração administrativa ou por descumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer, previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, deve ser revertido ao Fundo Municipal da Infância e Adolescência.2. A multas cominadas pelo ECA sejam elas decorrentes de infrações administrativas ou originárias de obrigação de fazer ou não fazer só divergem quanto à sua origem e não quanto à sua destinação, motivo pelo qual, em ambos os casos, incide o art. 214, da Lei n.º 8.069/90, verbis:"Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Respectivo Município."3. Precedentes: RESP n.º 562.391/ES, Rel. Min. Felix Fischer, DJ de 30.08.2004; RESP n.º 614.985/ES, Rel. Min.ª Laurita Vaz, DJ de 23.08.2004; RESP n.º 512.145/ES, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ de 24.11.2003.4. Recurso conhecido e provido.VOTOO EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX(Relator):Preliminarmente, o recurso merece ser conhecido haja vista que que a matéria federal foi devidamente prequestionada pelo acórdão recorrido, consoante se colhe do seguinte excerto do voto-condutor:"Após o exame dos autos, na esteira do entendimento firmado por este Egrégio Conselho da Magistratura, tenho que não assiste razão ao órgão Ministerial. O art. 214 do Estatuto da Criança

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e do Adolescente que trata 'Da proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e Coletivos', dispõe:'Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Respectivo Município.'Ora, a multa a que se refere o aludido dispositivo diz respeito à sanção cominadas nas ações que tenham por objeto obrigação de fazer ou não fazer, previstas no art. 213 do referido Estatuto.O douto magistrado e mestre Nagib Slaibi Filho, ensina que 'faltou técnica legislativa, por que o art. 214 e seus parágrafos deveriam estar, como parágrafos, no art. 213, pois a ele se referem, não podendo ser entendidos em separado' (in, Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente, p. 248, ed. Forense, 1991).Por outro lado, o art. 154, localizado no capítulo que trata dos procedimentos para apuração de ato infracional, diz que para as multas cominadas na apuração de ato infracional definido como crime deve ser aplicado o disposto no art. 214. De conformidade com os citados artigos, os valores das multas impostas com sanção penal devem ser destinadas aos Conselhos Municipais.Entretanto, no tocante ao destino das multas decorrentes do cometimento de infração administrativa, o Estatuto da Criança e do Adolescente permaneceu omisso. Não há previsão a quem deve receber os valores das multas administrativas.Poder Judiciário na elaboração de sua proposta orçamentária, compete destinar recursos para a manutenção da Equipe Interprofissional, que assessora a Justiça da Infância e da Juventude. Contudo, em razão do não pronunciamento do legislador e da não regulamentação do art. 150 do Estatuto a Egrégia Corregedoria-Geral da Justiça, objetivando assegurar o aludido recurso, baixou o Provimento n.º 007/98. Determina o provimento que os valores das multas aplicadas pelo cometimento de infrações administrativas fossem depositados em conta corrente à ordem da respectiva Vara da Infância e da Juventude.Em sendo assim, não vislumbro violação ao princípio da legalidade disposto no art. 37 da Carta Magna e consequentemente, aos demais dispositivos constitucionais aventados nas razões recursais.O Estatuto não regula a destinação a ser dada aos valores das multas administrativas. Ademais, o depósito das multas atende às necessidades e anseios do próprio juizado, uma vez que os valores arrecadados são utilizados na manutenção das Equipes Interprofissionais, que de vital importância para os jurisdicionados."Deveras, o Tribunal a quo considerou que os valores das multas aplicadas pelo cometimento de infrações administrativas deveriam ser depositados em conta corrente à ordem da respectiva Vara da Infância e da Juventude nos termos de seu provimento n.º 007/98 sob o fundamento de que o art. 214, do ECA se refere, tão-somente, às multas por descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, previstas no art. 213, do mesmo diploma legal.Por sua vez, o Ministério Público do Estado do Espírito santo sustenta que a multas cominadas pelo ECA sejam elas decorrentes de infrações administrativas ou originárias de obrigação de fazer ou não fazer só divergem quanto à sua origem e não quanto à sua destinação, motivo pelo qual devem ser revertidas para o Fundo Municipal da Infância e da Adolescência - FIA. Assim, aduz o Parquet que "a reversão do valor da multa à outra conta (Juizado da Infância e da Juventude), que não aquela expressamente prevista (Fundo da Infância e da Adolescência)," contrariou os arts. 154 e 214, do ECA, que assim dispõem:"Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214""Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Respectivo Município.1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária"Deveras, segundo Paulo Lúcio Nogueira in "Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado" (p.

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226, 1991), "as multas previstas para as infrações capituladas no Estatuto devem reverter ao Conselho de Defesa da Criança e do Adolescente do Município" .No mesmo sentido, a lição de José Luís Mônaco in "Estatuto da Criança e do Adolescente, Comentários" (RT, 1994, p. 261-262), ao comentar o art. 154, da Lei n.º 8.069/90, verbis:'As multas são impostas aos transgressores do Estatuto, seja em decorrência da propositura de ação civil pública (arts. 208 a 224), seja em razão da instauração de procedimento tendente a apurar uma das infrações administrativas capituladas nos arts. 245 a 258. O presente dispositivo estende o campo de aplicabilidade do procedimento reservado às multas impostas pela autoridadejudiciária aos casos de infração administrativa referidos à pouco.'Pelo mesmo caminho, enveredou Valter Kenji Ishida, in "Estatuto da Criança e do Adolescente - Doutrina e Jurisprudência" (Atlas, 3ª ed., p. 358), ao assentar que "o valor recolhido em ação civil pública deve ser destinado ao fundo que será gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente. Igual destino terão os valores recolhidos pelas multas relativas a infrações administrativas."A corroborar referido entendimento, Wilson Donizeti Liberati e Públio Caio Bessa Cyrino, in "Conselhos e Fundos no Estatuto da Criança e do Adolescente", (Malheiros, 1ª ed., p. 190), também concluíram que os valores das multas administrativas devem ser revertidos ao Fundo Municpal da Infância e da Adolescência, verbis :"O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê multas decorrentes de apuração de infrações administrativas (art. 245 e 258) e de crimes em espécie (art. 228 a 244), além das multas decorrentes de sanções cominatórias em ação civil pública. Tais multas, quando recolhidas ou executadas judicialmente, deverão ser revertidas para o Fundo Municipal dos Direitos da Criança, por força do art. 214 do ECA. (...) apesar de os conselhos estarem nos três níveis da Administração (nacional, estadual e municipal), o legislador, no art. 214, cometeu apenas ao Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente Municipal o título para receber os valores de multas eventualmente cobradas no âmbito do Judiciário."Consectariamente, o presente recurso merece ser provido haja vista que a destinação das multas por infração administrativa ou por descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer divergem, tão-somente, quanto à sua origem porquanto os valores relativos a ambas, segundo expressa disposição legal, devem ser revertidos ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Respectivo Município Aliás, nesse sentido, os seguintes julgados da Quinta Turma desta Corte Superior, assim ementados:"ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 154 E 214 DO ECA. MULTA ADMINISTRATIVA DESTINADA À MANUTENÇÃO DO FORUM LOCAL E NÃO AO FUNDO GERIDO PELO CONSELHO MUNICIPAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.Nos termos do art. 214 do Estatuto da Criança e do Adolescente, as multas de natureza administrativa, impostas nas Varas da Infância e da Juventude devem ser revertidas aos Fundos Municipais da Infância e da Juventude. (Precedente).Recurso provido."(RESP n.º 562.391/ES, Rel. Min. Felix Fischer, DJ de 30.08.2004)"RECURSO ESPECIAL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. DEST NAÇÃO DAS MULTAS. FUNDO MUNICIPAL DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA (FIA).VIOLAÇÃO AOS ARTS. 154 E 214 DA LEI N.º 8.069/90 RECONHECIDA.1. Segundo o entendimento desta Egrégia Quinta Turma, as multas e penalidades previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, sejam elas oriundas de infração administrativa ou de sanções penais, devem ser revertidas ao Fundo Municipal da Infância e Juventude (FIA), em obediência ao que estabelece o art. 214 da Lei n.º 8.069/90. Precedente.2. Recurso especial conhecido e provido." (RESP n.º 614.985/ES, REl. Min.ª Laurita Vaz, DJ de 23.08.2004)"ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. MULTA APLICADA EM DECORRÊNCIA DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. DESCUIDO DOS PAIS. DEPÓSITO EM CONTA

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DESTINADA A MANTER A VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. CONTRARIEDADE AOS ARTIGOS 154 E 214 DO ECA. O VALOR DA PENA PECUNIÁRIA TEM DE SER REVERTIDO AO FUNDO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.As multas e penalidades eventualmente impostas no âmbito das Varas da Infância e da Juventude devem ser revertidas ao Fundo Municipal da Infância e da Juventude, como prevê o artigo 214 doECA.Recurso conhecido e provido."(RESP n.º 512.145/ES, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ de 24.11.2003)Ex positis , cumprindo a função uniformizadora do STJ, dou provimento ao recurso especialÉ como voto.

CERTIDÃO DE JULGAMENTOPRIMEIRA TURMANúmero Registro: 2003/0125821-7 RESP 564722 / ESNúmeros Origem: 258799 48990072604PAUTA: 21/10/2004 JULGADO: 21/10/2004RelatorExmo. Sr. Ministro LUIZ FUXPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro LUIZ FUXSubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. JOÃO PEDRO BANDEIRA DE MELOSecretáriaBela. MARIA DO SOCORRO MELOAUTUAÇÃORECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTORECORRIDO : GENTIL BERNARDINO ALVESADVOGADO : ONIAS ALVESASSUNTO: Administrativo - Ato - Multa - Infração a Lei ou RegulamentoCERTIDÃOCertifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Denise Arruda, José Delgado e FranciscoFalcão votaram com o Sr. Ministro Relator.O referido é verdade. Dou fé.Brasília, 21 de outubro de 2004MARIA DO SOCORRO MELOSecretária

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Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 604.632 - ES (2003/0199218-3)RELATOR : MINISTRO FRANCIULLI NETTORECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTOPROCURADOR : ROVENA FERRAZ DE SOUZARECORRIDO : FÁBIO DOS SANTOS FERREIRA CORRÊA - MICROEMPRESAADVOGADO : EUZÉBIO VIZEU ALEXANDRE FERREIRAEMENTARECURSO ESPECIAL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA. MULTA. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. ARTIGOS 154 E 214 DO ECA. VALOR REVERTIDO AO FUNDO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.O artigo 154 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA não faz distinção quanto à destinação dos recursos provenientes das multas previstas pelo Estatuto. Ao contrário, estabelece que se aplica às multas o disposto no artigo 214 do ECA, segundo o qual os valores reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município."As multas e penalidades eventualmente impostas no âmbito das Varas da Infância e da Juventude devem ser revertidas ao Fundo Municipal da Infância e da Juventude, como prevê o artigo 214 do ECA" (REsp 512.145/RS, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 24.11.2003).Dessa forma, deve ser reformado o acórdão da Corte de origem, que esposou entendimento segundo o qual "inexiste qualquer irregularidade no Provimento 007/98, da Egrégia Corregedoria Geral de Justiça, que regula a matéria, determinando que os valores recolhidos sejam utilizados na manutenção dos Juizados da Infância e da Juventude" (fl. 59).Recurso especial provido.ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso e lhe deu provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator." Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Castro Meira e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins.Brasília (DF), 19 de outubro de 2004 (Data do Julgamento)MINISTRO FRANCIULLI NETTORelator

RECURSO ESPECIAL Nº 604.632 - ES (2003/0199218-3)RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTOPROCURADOR : ROVENA FERRAZ DE SOUZARECORRIDO : FÁBIO DOS SANTOS FERREIRA CORRÊA - MICROEMPRESAADVOGADO : EUZÉBIO VIZEU ALEXANDRE FERREIRARELATÓRIOO EXMO. SR. MINISTRO FRANCIULLI NETTO(Relator):Cuida-se de recurso especial, interposto pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo, com fundamento na alínea "a" do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, contra v. acórdão do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo.Emerge dos autos que o r. Juízo de primeiro grau julgou "procedente o Auto de Infração nº 017/96, por infringência ao art. 5º da Portaria 006/96 deste Juizado, e, em conseqüência, arbitro multa administrativa no valor de 3 (três) salários mínimos" (fl. 24). Dessa forma, determinou o depósito da multa administrativa na conta de manutenção do

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Juizado da Infância e da Juventude da Serra.Diante desse desate, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo interpôs recurso de apelação, ao fundamento de que as multas previstas nos procedimentos regulados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, exceto as aplicadas como sanção penal, constituem receita do Fundo Municipal da Infância e da Juventude.O egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo negouprovimento ao recurso em acórdão que restou ementado nos seguintes termos: "ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - MULTA ADMINISTRATIVA COMINADA - DESTINAÇÃO - PROVIMENTO 007/98 DA CORREGEDORIA GERAL DE JUSTIÇA.1. Considerando que o Estatuto da Criança e do Adolescente não trata da destinação das multas administrativas cominadas, inexiste qualquer irregularidade no Provimento 007/98, da Egrégia Corregedoria Geral de Justiça, que regula a matéria, determinando que os valores recolhidos sejam utilizados na manutenção dos Juizados da Infância e da Juventude.2. Recurso a que se nega provimento" (fl. 59). Asseverou a Corte de origem que "o Estatuto não regula a destinação a ser dada aos valores das das multas administrativas. De outra banda, cumpre ressaltar que o depósito das multas na conta corrente do Juizado de Infância e da Juventude, no momento atual, vai ao encontro dos anseios do Estatuto da Criança e do Adolescente, vez que os referidos valores são utilizados na manutenção das Equipes Interprofissionais, essenciais no correto desenrolar dos procedimentos envolvendo menores e adolescentes" (fl. 62).Alega o recorrente negativa de vigência dos artigos 154 e 214 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Sustenta que, "quando a Lei destinou ao Fundo Municipal da Infância e da Juventude (FIA) o valor das multas, o fez o legislador com a intenção de que tais valores se revertesse em benefícios sociais para os menores, e não para a melhoria do Fórum da Serra - Juizado da Infância e da Juventude. A intenção, certamente, foi a de destinar os valores ao FIA para que pudessem ser convertidos em ação sociais em benefício dos menores" (fl. 77).Opina o d. Ministério Público Federal pelo provimento do recurso (fls. 88/91).É o relatório.

RECURSO ESPECIAL Nº 604.632 - ES (2003/0199218-3)EMENTARECURSO ESPECIAL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA. MULTA. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. ARTIGOS 154 E 214 DO ECA. VALOR REVERTIDO AO FUNDO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.O artigo 154 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA não faz distinção quanto à destinação dos recursos provenientes das multas previstas pelo Estatuto. Ao contrário, estabelece que se aplica às multas o disposto no artigo 214 do ECA, segundo o qual os valores reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município."As multas e penalidades eventualmente impostas no âmbito das Varas da Infância e da Juventude devem ser revertidas ao Fundo Municipal da Infância e da Juventude, como prevê o artigo 214 do ECA" (REsp 512.145/RS, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 24.11.2003).Dessa forma, deve ser reformado o acórdão da Corte de origem, que esposou entendimento segundo o qual "inexiste qualquer irregularidade no Provimento 007/98, da Egrégia Corregedoria Geral de Justiça, que regula a matéria, determinando que os valores recolhidos sejam utilizados na manutenção dos Juizados da Infância e da Juventude" (fl. 59).Recurso especial provido.VOTO

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O EXMO. SR. MINISTRO FRANCIULLI NETTO(Relator):Preliminarmente, cumpre registrar que a matéria versada nos presentes autos, qual seja, a destinação de multa administrativa prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, insere-se na competência da Primeira Seção, nos termos do inciso XI do artigo 9º do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça.A Lei n. 8.069/90, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, determina, em seus artigos 154 e 214, caput, que:"Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.""Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município."Da leitura dos dispositivos legais acima transcritos, verifica-se que o artigo 154 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA não faz distinção quanto à destinação dos recursos provenientes das multas previstas pelo Estatuto. Ao contrário, estabelece que se aplica às multas o disposto no artigo 214 do ECA, segundo o qual os valores reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município.Nesse diapasão, confiram-se os seguintes precedentes deste Superior Tribunal de Justiça:"ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 154 E 214 DO ECA. MULTA ADMINISTRATIVA DESTINADA À MANUTENÇÃO DO FORUM LOCAL E NÃO AO FUNDO GERIDO PELO CONSELHO MUNICIPAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.Nos termos do art. 214 do Estatuto da Criança e do Adolescente, as multas de natureza administrativa, impostas nas Varas da Infância e da Juventude devem ser revertidas aos Fundos Municipais da Infância e da Juventude. (Precedente).Recurso provido" (REsp 562.397/ES, Rel. Min. Felix Fisher, DJ 30.08.2004);* * * * * *"ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. MULTA APLICADA EM DECORRÊNCIA DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. DESCUIDO DOS PAIS. DEPÓSITO EM CONTA DESTINADA A MANTER A VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. CONTRARIEDADE AOS ARTIGOS 154 E 214 DO ECA. O VALOR DA PENA PECUNIÁRIA TEM DE SER REVERTIDO AO FUNDO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.As multas e penalidades eventualmente impostas no âmbito das Varas da Infância e da Juventude devem ser revertidas ao Fundo Municipal da Infância e da Juventude, como prevê o artigo 214 do ECA.Recurso conhecido e provido" (REsp 512.145/RS, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 24.11.2003).Dessa forma, deve ser reformado o acórdão da Corte de origem, que esposou entendimento segundo o qual "inexiste qualquer irregularidade no Provimento 007/98, da Egrégia Corregedoria Geral de Justiça, que regula a matéria, determinando que os valores recolhidos sejam utilizados na manutenção dos Juizados da Infância e da Juventude" (fl. 59).Diante do exposto, dou provimento ao recurso especial.É como voto.Ministro FRANCIULLI NETTO, Relator.

CERTIDÃO DE JULGAMENTOSEGUNDA TURMANúmero Registro: 2003/0199218-3 RESP 604632 / ESNúmeros Origem: 0408990070178 259499PAUTA: 19/10/2004 JULGADO: 19/10/2004Relator

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Exmo. Sr. Ministro FRANCIULLI NETTOPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro FRANCIULLI NETTOSubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. ALCIDES MARTINSSecretáriaBela. VALÉRIA ALVIM DUSIAUTUAÇÃORECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTOPROCURADOR : ROVENA FERRAZ DE SOUZARECORRIDO : FÁBIO DOS SANTOS FERREIRA CORRÊA - MICROEMPRESAADVOGADO : EUZÉBIO VIZEU ALEXANDRE FERREIRAASSUNTO: Administrativo - Infração - Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA - MultaCERTIDÃOCertifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:"A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso e lhe deu provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator."Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Castro Meira e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins.O referido é verdade. Dou fé.Brasília, 19 de outubro de 2004VALÉRIA ALVIM DUSISecretária