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Junho/2011
SUPERSECRETARIAS EQUIPARAM O PARANÁ A REINADO MEDIEVAL
Enio Verri
O Paraná elegeu governador Beto Richa com o pressuposto de que o Estado iria experimentar um
novo modelo de gestão pública, pautado pelas concepções mais modernas de gerenciamento
estatal. Menos de seis meses depois de chegar ao Palácio das Araucárias, entretanto, Richa adota
uma medida extremamente ultrapassada, medieval.
A reforma administrativa do governador propõe a criação de duas supersecretarias, comandadas por
Fernanda Richa e José Richa Filho, esposa e irmão de Beto Richa. Juntas, as pastas serão
responsáveis por, no mínimo, 80% do orçamento do Estado. Tamanha concentração de poder
encontra paralelo, com as devidas proporções, no final da Idade Média, quando alguns reis (e suas
famílias) detinham todo o poder de decisão sobre a organização do Estado.
A proposta que o governador enviou à Assembleia Legislativa sugere a implosão da Secretaria da
Criança e da Juventude, que passa a se chamar Secretaria da Família e do Desenvolvimento Social. A
nova pasta irá coordenar toda a área de assistência social, gerenciando os programas sociais do
governo federal no Paraná, entre eles o Bolsa Família, Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) –
Compra Direta, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e Brasil Sem Miséria.
O projeto ainda prevê a dissolução das Secretarias de Obras Públicas e dos Transportes. Elas serão
unificadas na Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística. A pasta ficará encarregada por
planejar e executar a estruturação física do Paraná: rodovias, ferrovias e aeroportos, além de
subordinar importantes órgãos estatais como o Porto de Paranaguá, Departamento de Estradas de
Rodagem (DER) e Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Com as mudanças, esposa e irmão, secretários da Família e Desenvolvimento Social e de Obras
Públicas e dos Tranportes, serão responsáveis por 80% de aproximadamente R$ 23 bilhões,
orçamento estimado do Paraná para 2011.
A mensagem também legisla sobre alterações na Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos
Humanos; Secretaria de Trabalho, Emprego e Economia Solidária e a criação de 295 cargos
comissionados, de livre nomeação, para serem distribuídos entre as novas pastas e a Procuradoria
Geral do Estado.
O debate, entenda-se, não está na capacidade gerencial e competência técnica de Fernanda Richa e
José Richa Filho, não ocorre no âmbito legal – a criação das pastas não desrespeitam a Lei de
Responsabilidade Fiscal – nem tampouco no impacto financeiro das mudanças para os cofres do
governo. O questionamento ocorre na esfera política e da gestão pública.
A medida enfraquece as demais secretarias, que terão invariavelmente menos possibilidades de
persuadir o governador em favor de suas políticas e debilita o debate com os próprios aliados.
Ademais, potencializa uma inquietante possibilidade: a crescente indisposição do núcleo do governo
em lidar com vozes dissonantes, uma vez que, com a medida, o Paraná é tomado como um reinado
medieval. Justifica-se aqui remeter à censura que o governador impõe a um jornalista blogueiro do
Estado.
Sob a ótica da gestão pública, tão maléfico quanto um governo acéfalo é um governo altamentre
centralizador. O Paraná, desta maneira, percorre o caminho inverso que qualquer modelo moderno
de gestão indica, baseado fundamentalmente no equilíbrio, na multiplicidade de opiniões e na
participação coletiva na elaboração de políticas públicas. Com a medida, o governo Beto Richa
apresenta nos primeiros meses de mandato uma perigosa incoêrencia entre o dizer e o agir.
* Enio Verri é Economista, Deputado Estadual líder da oposição na Assembleia Legislativa e
presidente do Diretório Estadual do PT Paraná.