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SUPLEMENTO DIDÁTICO Autora: Viviane Beineke Sons para descobrir: das pipocas sonoras aos peixinhos do mar 12

Suplemento Viviane Beineke

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Atividades musicais para educação infanto juvenilViviane Beineke

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SUPLEMENTO DIDÁTICO

Autora: Viviane Beineke

Sons para descobrir: das pipocas sonoras aos peixinhos do mar12

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1 SÍNTESE E CONTEXTUALIZAÇÃO DE LIVROS E CDs 2

2 APLICAÇÕES EM ATIVIDADES MUSICAIS 3

2.1 Proposta musical 1: Pipoca sonora 5

2.2 Projeto musical 2: Caixas sonoras 7

2.3 Aferição dos resultados 9

2.4 Organização dos alunos para as aulas 10

2.5 Infra-estrutura e materiais necessários 10

2.6 Referências complementares 10

AtiVidAdes pArA leVAr pArA cAsA 11

são paulo i OUtUBrO i 2008

Viviane BeinekeMestre e Doutoranda em Educação Musical pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora no Curso de Licenciatura em Música da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Criou e implementou o Programa NEM – Núcleo de Educação Musical (www.ceart.udesc.br/nem) da UDESC, um programa que visa a criação de espaços para a educação musical e a formação de professores para a escola pública. Autora da coleção “Canções do mundo para tocar”, com arranjos para grupo instrumental e do livro/CD/CD-ROM infantil “Lenga la lenga: jogos de mãos e copos”, publicado no Brasil, Portugal e Uruguai. Tem artigos e capítulos de livros publicados no Brasil e exterior. Tem artigos publicados em importantes revistas nacionais da área de música, além de trabalhos e workshops apresentados em congressos nacionais e internacionais. Ministrou cursos e oficinas em diversos estados brasileiros, Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, Peru, Portugal e Uruguai. Desenvolve pesquisas sobre a formação de educadores musicais e sobre a criatividade no ensino de música.

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O livro do músicoArthur NestrovskiNeste livro, Arthur Nestrovski conta algumas histórias, por ele vividas, sobre a chamada “música clássica” – música das orquestras sinfônicas, violinistas, pianistas, cantores de ópera e maestros. Através dessas narrativas pessoais, o autor informa o leitor sobre uma variedade de instrumentos musicais, instrumentistas, compositores, maestros, professores, críticos, períodos da história da música, gêneros musicais, conceitos musicais e curiosidades. O livro tem uma escrita clara e emocionada, revelando a grande paixão do autor pela música. Pode ser lido de forma não-linear, em qualquer ordem, percorrendo diferentes capítulos e caixas explicativas.

Destinado para crianças e jovens.

1 sÍNtese e cONteXtUAliZAÇÃO de liVrOs e cds

Som: uma jornada que transforma o silêncio em somcaroline GrimshawO livro propõe uma viagem pelo uni-verso do som para descobrir como os sons são produzidos, ouvidos e o seu efeito sobre as pessoas e o pla-neta. Com uma linguagem interativa, permite que o leitor construa a sua rota, passando por atalhos, botões de desvio e consulta de painéis com informações que aprofundam a in-formação inicial sobre o tema, além de módulos de verificação e teste. O livro tem uma linguagem dinâmica, com muitas ilustrações e fotos coloridas, sugestões de experiências e brincadeiras.

Destinado para crianças e jovens.

Canções de brincar palavra cantadaO CD apresenta 15 canções para crianças, com temas do cotidiano infantil, como o dia do aniversário, animais e água. Os arranjos são elaborados, sendo utilizada uma variedade de instrumentos musicais convencionais e alternativos. O trabalho de Sandra Peres e Paulo Tatit conta também com as parcerias de Arnaldo Antunes, Luiz Tatit, Zé Tatit e Edith Derdyk. Como convidados, participam Mônica Salmaso, João Milliet, Suzana Salles, entre outros.

Destinado para crianças.

O corpo do somBarbatuquesSegundo o próprio grupo, Corpo do som “é um trabalho de percussão corporal. É também o registro de uma linguagem artística e pedagógica em pleno desenvolvimento. (...) Estão presentes também as principais descobertas: ritmos, méto-dos de improvisação, técnicas de combinar sons e a diversidade de timbres que temos em nós”. Com repertório variado, influenciado por ritmos, danças e canções de várias partes do Brasil, são explorados ritmicamente sons de palmas, sapateados, batidas no peito e no rosto, além da voz cantada e percussiva. (Adaptado de http://www.barbatuques.com.br/index_frame.htm)

Destinado para todas as idades.

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2 AplicAÇÕes eM AtiVidAdes MUsicAis

Objetivos Gerais

Objetivos Específicos

Ampliar as possibilidades de realização e escuta musical, conscientizando sobre as funções de di-ferentes instrumentos e recursos sonoros, partes solo e com acompanhamento, diálogos entre os instrumentos e recursos expressivos, incluindo a análise de composições e improvisos realizados em sala de aula.

Explorar, selecionar e combinar sonoridades variadas utilizando objetos sonoros e/ou instru-mentos musicais em atividades de improvisação, composição, arranjo e execução musical.

Construir e interpretar diferentes formas de representação musical.

Tocar e cantar o repertório proposto e arranjos do grupo, utilizando sonoridades e instrumentos variados (convencionais e não convencionais).

Analisar as fontes sonoras, caráter expressivo e elementos de repetição e contraste utilizados em composições próprias e no repertório sugerido.

Executar pequenas peças musicais e composi-ções próprias a partir da leitura de diferentes tipos de notação musical*.

* Observação: se o grupo ainda não tem contato prévio com a notação tradicional, podem ser trabalhadas formas não convencionais de notação e, caso os alunos participem de aulas de instrumento e/ou lêem partituras convencionais simples, podem ser incentivados a lerem partituras convencionais do repertório proposto.

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Caro professor, neste suplemento são propostos dois conjuntos de atividades: Pipoca sonora e Caixas sonoras. Na primeira, são exploradas relações entre música, som e silêncio, fontes sonoras, significados e lembranças evocados por músicas e sonoridades nas nossas vidas. Utilizando recursos sonoros variados, como a percussão corporal, são propostas atividades de improvisação e composição de músicas com o tema “estouro da pipoca” e utili-zando onomatopéias, introduzindo também idéias sobre regência, organização de naipes, maneiras de representar a música por escrito e sobre o papel do crítico musical na sociedade (relacio-nando com a importância de as músicas realizadas em sala de aula serem analisadas e discutidas construtivamente pelos colegas). No contexto dessas propostas, também são sugeridas músicas para execução e apreciação musical, conectando as realizações musicais das crianças com repertórios variados, como os trabalhos do Barba-tuques e do Palavra Cantada.

Na segunda proposta, o tema central é a composição, abordada em relação às idéias de composição das próprias crianças, às práticas dos compositores e ao seu campo de atuação profissional. Após uma conversa sobre o tema, a partir de O livro do músico, é suge-rida uma composição com sons vocais e corporais utilizando uma partitura-roteiro, explorando diferentes maneiras de organização e estruturação das idéias musicais das crianças em uma composição coletiva. Nessa atividade também é ressaltado o papel da regência na realização musical. Conectando a composição dos alunos com a escuta do Barbatuques, na continuidade é sugerido que as crianças cantem a canção Peixinhos do mar e elaborem um arranjo em pequenos grupos utilizando a voz, assobios e percussão corporal.

As propostas são bastante abertas e podem ser conectadas ou combinadas de diferentes maneiras, de acordo com a maneira como você e as crianças forem encaminhando a sua realização. As propostas 1 e 2 realizadas uma após a outra, não importando com qual você vai começar. Além disso, cada idéia de composição, improvisação ou escuta musical pode dar novos rumos ao trabalho, ampliando ou enriquecendo os conteúdos ou atividades.

Orientações gerais

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2.1 proposta musical 1: Pipoca sonora

Duração: de três a cinco aulas

Podemos sentir o som? O livro Som propõe a reflexão sobre as relações entre espaço e tempo, entre silêncio e som. Um ponto interessante para dialogar com os alunos é a afirmação de que “Não só podemos ouvir o som, como podemos senti-lo – e vê-lo também!” (p. 4). A partir dessa idéia, você pode propor que os alunos falem sobre sons que podem ser vistos e sentidos. Depois de ouvir as crianças, veja também alguns exemplos no Painel 4 do livro Som (pp. 8 e 9). Como o livro é bastante atrativo para as crianças, seria interessante que elas pudessem manuseá-lo em aula, o que também poderia despertar para outros interesses e curiosidades sobre o tema. Outra maneira de iniciar essa atividade poderia ser a leitura de um trecho de O livro da música, de Arthur Nestrovsky. No capítulo “Coincidências” (pp. 61-4), o autor faz um relato emocionado sobre os vários significados e lembranças evocados pelo som dos estalos da madeira queimando em uma lareira. A partir dessa leitura com/para os alunos, você pode incentivá-los a lembrar de sons e músicas que são ou foram importantes em suas vidas, compartilhando essas experiências com os colegas, assim como fez o autor ao contar sua história. A atividade também pode ser enriquecida com o texto “Por que nos lembramos de alguns grupos de sons”, do livro Som (p. 25). Lembre que é importante procurar compreender como os alunos entendem a relação entre som e movimento.

Descobrindo e organizando sonsProponha que os alunos explorem os materiais disponíveis na sala (objetos e/ou instrumentos), buscando produzir diferentes sons. Incentive-os a procurar por sons inesperados, curiosos, imprevistos, barulhentos, miste-riosos... No livro Som, você também encontra sugestões para a criação de efeitos sonoros utilizando materiais simples (p. 31), que podem ser expe-rimentados em sala de aula. Você também pode solicitar que as crianças pesquisem em casa a sonoridade de pequenos objetos que possam ser trazidos na próxima aula. Reunidos em roda no chão, proponha a apresentação dos sons que as crianças “descobriram”, refletindo sobre as suas propriedades: são longos, curtos, fortes, fracos, suaves, delicados, assustadores? Pergunte como esses sons poderiam ser separados por grupos (naipes). Qual poderia ser o critério? Pelo tipo de material que produz o som? Pelo efeito que ele produz nas pessoas (medo, amor, susto...)? Você também pode relacionar essa discussão com Painel 2 do livro Som, que discute “Como descre-vemos o som?”. Veja também as curiosidades sobre diferentes usos dos sons, apresentadas nos Painéis 6 e 7 (pp. 10 e 11).Depois de decidir conjuntamente com as crianças sobre a divisão por nai-pes das sonoridades exploradas, organize a turma por naipes e proponha a realização de um improviso musical com esses sons. Você pode propor que uma criança seja o “maestro”, regendo como esses sons devem ser exe-cutados: “ligando” e “desligando” os sons, movendo-se entre os colegas, tocando em solos ou tuttis, lento e rápido, forte e fraco etc. A atividade pode ser realizada em roda (formação mais convencional, simulando uma orquestra) ou também explorando o espaço de forma mais ampla, com os naipes espalhados pela sala, decidindo com os alunos onde cada som deve ficar. Outra possibilidade é que você, em um primeiro momento, atue como regente, explorando na improvisação diversas possibilidades de combina-ção e organização dos sons selecionados pelas crianças. Converse sobre a experiência de improvisação. Se houver a possibilidade de gravar os improvisos, escute a gravação com os alunos e reflitam sobre a experiência também com base na gravação. Uma atividade adicional poderia ser o registro escrito do improviso. Construa com eles esta idéia: como podemos escrever os sons, como se pode escrever música? No item “Como registramos os sons?” (p. 7), no Painel 2 do livro Som, você também encontra alguns exemplos de escrita que podem ser trabalhados com as crianças. Nesse tipo de atividade, sempre é importante propor a escuta de músicas que utilizem recursos sonoros não convencionais, ampliando as “idéias de música” (Brito, 2007) das crianças. Você pode propor, por exemplo, a es-cuta de Num deu pra creditá (CD Corpo do som – Barbatuques), chamada pelo grupo de uma “viagem tecno-acústica”, na qual várias improvisações e gravações foram posteriormente organizadas no computador. “A Torre de Babel de línguas fictícias, blablações e efeitos vocais desaba, permitindo o encontro de várias tribos, que em nosso imaginário musical não estão separadas” (encarte do CD).

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1. Veja também as composições O estouro da pipoca, elaborada por crianças da Teca Oficina de Música, registrada no CD Canto do povo daqui e Pipoca de microondas, do quinteto de clarinetas “Sujeito a guincho” (França, 2008).2. CD Canções de brincar (Palavra Cantada). O encarte do CD contém a letra da música e a partitura encontra-se disponível no site do Palavra Cantada.

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Compondo “pipocas sonoras”Uma próxima atividade pode ser a produção de uma música muito cheirosa: a música da Pipoca! Converse com as crianças sobre como poderia ser feita uma música sobre a “Pipoca Sonora”1. A partir das idéias das crianças, organize com elas uma composição: decidam sobre os sons que serão utilizados, como devem ser executados e organizados na música, construindo conjunta-mente a música. Nesse momento, é muito importante a sua participação no sentido de ouvir os alunos, mediando a conversa no grande grupo; incentivar as crianças a exporem suas idéias musicais; auxiliar na “combinação” de como vai ser a composição e conduzir o ensaio e execução da música pela turma. Outra proposta de composição com o tema da pipoca poderia partir da exploração de sons com a boca, delimitando esses sons para a realização da composição. Você poderia ampliar essa idéia com a escuta da música Peixinhos do mar/Marinheiro (Corpo do som –Barbatuques), conectando esta atividade com a próxima, na qual são propostas atividades com essa música.Toquem em conjunto e conversem sobre a experiência, analisando o resultado. Nessa plenária, também pode ser utilizado um trecho de O livro do músico, refletindo com os alunos sobre o papel do crítico musical (pp. 67-8). Quando forem discutidas suas composições, construa com as crianças a idéia de que elas estão assumindo o lugar de críticos musicais na sala de aula!Escutem a canção Pipoca, de Paulo Tatit e Arnaldo Antunes2. Converse sobre a forma como o som da pipoca é representado na canção, utilizando a própria sonoridade da palavra, com consoantes explosivas (“p”, “k”, “t”). Cante a canção com os alunos e proponha que façam, em pequenos grupos, um arranjo utilizando os sons do improviso acima. Nesse tipo de atividade, é importante que você acompanhe o trabalho dos grupos, orientando quando necessário. A apresentação e reflexão sobre os trabalhos produzidos também é fundamental, pois, além de possibilitar a ampliação das idéias de música das crianças, proporciona a experiência de apresentar-se em pú-blico, comunicar suas idéias musicais, ouvir criticamente as composições dos colegas e receber críticas sobre o próprio trabalho.

Compondo com onomatopéiasUma maneira de dar continuidade à atividade poderia ser a idéia de que algumas palavras têm uma sonoridade que está relacionada àquilo que representa (onomatopéias). Os alunos conhecem palavras desse tipo? Procurem descobrir algumas dessas palavras “especiais” e depois proponha que, em pequenos grupos, as crianças componham uma música com elas. Uma outra maneira interessante de relacionar o tema de uma música com os sons que ela representa pode ser ouvida em A sopa, canção de Sandra Peres (CD Canções de brincar), na qual são utilizados pratos, talheres e panelas no arranjo.

Na condução desse tipo de atividade, é fundamental que você fique atento aos processos de composição das crianças, acompanhando a realização dos trabalhos nos grupos. Quando você percebe que as discussões das crianças estão sendo musicalmente produtivas e que elas estão conseguin-do administrar a sua produção, não é necessário intervir, mas em muitos casos pode ser necessário que você ajude as crianças a expor e discutir suas idéias musicais nos grupos, atuando como um mediador na realização das composições.

Podem ser utilizados sons onomato-paicos como zum-zum, tique-taque, ding-dong, ou onomatopéias relacio-nadas aos sons dos animais, como: abelha zunindo, gato miando, galinha cacarejando, gralha grasnando, lobo uivando, peru grugrulejando etc.

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2.2 proposta musical 2: Caixas sonoras

Duração: de três a cinco aulas

O que é ser compositor?Uma maneira de iniciar esta proposta é através de uma conversa com os alunos sobre o que é ser “compositor”, a partir da leitura de um trecho de O livro do músico (pp. 19-21), no qual o autor fala sobre essa profissão, em diferentes períodos e contextos3. O autor escreve que os compositores podem escrever música para cinema, teatro, televisão, ou que a música pode ser escrita em partitura, para depois ser tocada por um intérprete, ou composta no computador. Veja também os Painéis 26 e 27 do livro Som (pp. 30-31), nos quais são apresentadas algumas formas de composição, nas quais músicos, intérpretes e artistas visuais usam o som para trans-mitir mensagens, sentimentos e experiências.

Reflita com os alunos sobre “composição”: o que significa compor para eles, o que entendem como composição, porque acreditam que as pessoas compõem música. Fique atento ao que as crianças falam, elas podem surpreender com suas perspectivas sobre o tema! Nessa discussão, pode ainda ser introduzido o conceito de improviso – o que diferencia a improvisação da composição? Outra questão relevante em relação ao trabalho que se segue é a idéia de compor em grupo. Converse com os alunos sobre essa possibilidade e sobre como isso pode ser feito4. Nesse momento, o desafio é viver essa experiência: comporem colaborativamente suas próprias músicas!

Essa idéia pode ser ampliada através da “atividade para levar para casa”, ao final deste suplemento, na qual é proposto que os alunos desenhem uma história em quadrinhos e a sonorizem com os colegas.

3. Nessa parte do livro, o autor faz referência a vários compositores, podendo ser feitas relações com outros materiais do acervo didático do Projeto Guri que tratam especificamente sobre a vida e obra de compositores. 4. Em outro momento, essas idéias podem ser retomadas, a partir da música do Barbatuques, visto que várias músicas do CD Corpo do som são registros de trabalhos de improvisação coletiva (como Na tribo, Ule ule, Num deu pra creditá e Capuera).

Na área de educação musical, normalmente a atividade de composição é compreendida de forma ampla, “incluindo trabalhos de improvisação e arranjo, pequenas idéias organizadas esponta-neamente com a intenção de articular e comunicar seus pensamentos musicais ou peças mais elaboradas, sem que seja considerada a necessidade de algum tipo de registro” (Beineke, 2008, p. 19). Dessa forma, os trabalhos de improvisação e arranjo podem ser entendidos como modalidades da atividade de composição, com algumas especificidades. Segundo Brito (2003), improvisar, em um sentido geral, significa criar respostas imediatas a situações cotidianas. Assim, improvisar musicalmente quer dizer “compor em tempo real” (Sawyer, 1996), isto é, a composição acontece ao mesmo tempo em que ela é tocada ou cantada. É importante ressaltar que isso não quer dizer que a improvisação seja desordenada, pois é necessário que existam critérios que organizem o improviso. Como explica Brito (2003, p. 150), com base em suas experiências, o músico (ou criança) seleciona o material com o qual irá trabalhar (fontes sonoras, tema, modo, escala...), mas durante a improvisação surgem novas idéias que se transformam e são incorporadas na realização musical. O arranjo, como outra modalidade de composição, implica em organizar criativamente a forma como uma obra musical será executada. Dessa forma, o arranjo se desenvolve a partir de uma compo-sição preexistente (que pode ser uma canção conhecida pelos alunos ou mesmo a criação de um arranjo para uma composição das próprias crianças).

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Compondo com “caixas sonoras”Uma maneira de começar uma atividade de improvisação ou composição é pelo processo de sobreposição progressiva de diferentes células rítmicas e/ou melódicas. Você pode pedir que cada aluno crie uma pequena célula rítmica ou melódica utilizando sons corporais e vocais. Depois, sentados em roda, um aluno (ou você) começa a tocar a sua célula, mantendo-a sempre, enquanto, um a um, todos na roda vão acrescentando a sua própria célula. Quando todo o grupo estiver tocando junto, você começa a reger, explorando variações de solo e tutti, diferentes combinações entre as células, silêncios, variando dinâmica e intensidade. O resultado pode ser algo parecido com a representação sugerida nas partituras “Caixas Sonoras” (cada “grupo” sendo representado por uma criança, havendo tantos grupos como crianças).

As partituras também poderiam ser trabalhadas em grupos pelas crianças. Você pode propor que os alunos se dividam em quatro grupos e que cada grupo elabore em conjunto uma pequena célula rítmica utilizando sons corporais para, em um segundo momento, essas células serem progressi-vamente combinadas, todos tocando juntos. A mesma proposta pode ser realizada utilizando instrumentos musicais e/ou objetos sonoros variados. Outra idéia seria propor que as crianças escrevessem e interpretassem suas próprias partituras ou então que trocassem as partituras entre os grupos, experimentando tocar as propostas dos colegas.

Você também pode propor que cada grupo de alunos interprete a mesma partitura utilizando materiais diferentes (vozes, objetos sonoros, sons corporais, instrumentos etc.). Depois de ouvir e analisar os resultados, proponha que eles realizem em conjunto uma grande música utilizando todos os recursos sonoros explorados. O trabalho pode funcionar como uma improvisação, em que um regente (você ou um aluno) vai determinando quem deve tocar em cada momento e de que forma. Experimente variar a densidade, intensidade e andamento, contrastar os timbres e momentos em que o tempo é métrico ou rítmico e outros em que o tempo é livre, não-métrico. Depois de realizar alguns improvisos, a turma pode construir uma áudio-partitura da música criada em conjunto, buscando formas de representar os sons utiliza-dos e a seqüência em que eles devem ser tocados.

Caixa sonora 1

Caixa sonora 2

Grupo 1

Grupo 2Grupo 3Grupo 4

Grupo 1Grupo 2Grupo 3Grupo 4

Caixa sonora I

Caixa sonora II

Grupo 1

Grupo 2Grupo 3Grupo 4

Grupo 1Grupo 2Grupo 3Grupo 4

Caixa sonora I

Caixa sonora II

Grupo 1

Grupo 2Grupo 3Grupo 4

Grupo 1Grupo 2Grupo 3Grupo 4

Caixa sonora I

Caixa sonora II

Grupo 1

Grupo 2Grupo 3Grupo 4

Grupo 1Grupo 2Grupo 3Grupo 4

Caixa sonora I

Caixa sonora II

GRUPO 1GRUPO 2GRUPO 3GRUPO 4

GRUPO 1GRUPO 2GRUPO 3GRUPO 4

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Ampliando as escutasDando continuidade a essa atividade, é interessante propor a audição de músicas que trabalhem com sonoridades corporais e vocais, explorando de diferentes maneiras a sobreposição e combinação de temas melódicos e motivos rítmicos. Com essa finalidade, você pode utilizar as músicas Barbapapa’s groove e Baião destemperado, do CD Corpo do som (Barbatu-ques). Em Babapapa’s groove, o grupo apresenta sua “bateria humana”, inicialmente tocando todos juntos, depois em naipes e depois em solos individuais. Baião destemperado apresenta uma viagem pelo Brasil, através de diversos diálo-gos e sobreposições entre os instrumentos musicais (pifes, flauta, baixo acústico), assobios, vozes e percussão corporal. Em um primeiro momento, é importante que você não direcione as escutas para os conteúdos musicais. O que se espera é que as atividades realizadas anteriormente ajudem os alunos a tomar consciência dessa forma de estruturação do discurso musical, em vez de propor uma escuta “dirigida”. Depois de ouvir as músicas, todos podem relatar o que perceberam, refletindo e ampliando coletivamente suas análises, compre-ensão e vocabulário musicais. Caso você considere que nesse momento poderia ser aprofundado o trabalho com partituras não convencionais, ampliando as escutas das crianças, seria interessante que elas conhecessem músicas do século XX escritas de forma analógica ou utilizando áudio-partituras5. Pela internet, você pode obter alguns exemplos, como partes da partitura e vídeos de Stripsody (1966), de Cathy Berberian, para voz solo e a obra eletroacústica Artikulation (1958), de Györgi Ligeti. Em Stripsody, a cantora interpreta uma partitura gráfica muito lúdica, com desenhos de animais e quadros sonoros, explo-rando uma variedade de sonoridades vocais. Já no vídeo de Artikulation, a áudio-partitura elaborada por Rainer Wehinger é sincronizada com a música, associando cada evento sonoro com a grafia, proporcionando uma interessante experiência de escuta (veja os links nas referências complementares, no final do suplemento).

Criando um arranjo para Peixinhos do marDando continuidade à atividade, a sugestão é trabalhar a canção Peixinhos do mar 6. Depois de cantar a música, a idéia é que os alunos, em pequenos grupos, elaborem um arranjo para a canção, utilizando a voz, assobios e percussão corporal. A audição da gravação de Peixinhos do mar (Barbatuques)7 pode ser feita tanto antes de cantar e fazer o arranjo, como depois de apresentados e discutidos os arranjos da turma. Na gravação do Barbatuques, Peixinhos do mar é combinada com outra canção – Marinheiro 8, que também pode ser cantada e/ou executada instrumentalmente pelas crianças, abrindo um novo leque de possibilidades para a continuidade do trabalho em sala de aula. Converse com os alunos sobre as atividades realizadas, avalie com as crianças o trabalho e procure conhecer mais sobre os seus interes-ses e curiosidades sobre música, elementos fundamentais para a continuidade do seu planejamento.

A partir dessa aproximação com a canção Marinheiro só, pode ser introduzida a escuta da gravação de Clementina de Jesus desta música, em um arranjo mais “tradicional”, no sentido da formação instrumental utilizada, arranjo e raízes culturais afro-brasileiras relacionadas ao samba-de-roda (gênero da canção). Nesse sentido, é importante também contextualizar a importância de Clementina de Jesus para a música brasileira, contribuindo para a valorização e reconhe-cimento da cultura negra brasileira através dos seus discos, recheados de cânticos que ela aprendeu com a mãe, filha de escravos. Visando conhecer mais um pouco o trabalho de Clementina, pode-se também ouvir, cantar e arranjar a canção Moro na roça, gravada por ela em 1973 e regravada por inúmeros intérpretes brasileiros, como Zeca Pagodinho, Mônica Salmaso (CD Iaiá, Biscoito Fino) e Ney Lopes (CD Samba pras crianças, Biscoito Fino).

5. Outra opção seria passar diretamente para a proposta seguinte, com a canção Peixinhos do mar. 6. Partitura disponível para distribuição e reprodução para os alunos na “atividade para levar para casa”, ao final do suplemento. 7. Se possível, assista com os alunos o vídeo da música no DVD Corpo do som ao vivo (Barbatuques). Também chamada de Marinheiro só (arranjo e adaptação de Caetano Veloso). Seria interessante ouvir outros arranjos dessas canções, como a gravação de Marinheiro só por Moska, no CD Samba pras crianças (Biscoito Fino).

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2.3 Aferição dos resultados

No processo de avaliação, é importante pensar em processos colaborativos entre você e os alunos, incluindo a auto-avaliação das crianças, que lhe fornece um feedback sobre como elas estão vivenciando a música, as aulas, como percebem sua aprendizagem e a própria relação com você. Dessa forma, a avaliação se configura como um processo de reflexão sobre a prática, revendo o programa proposto e, conse-qüentemente, a participação e atuação, tanto sua como das crianças. Essa avaliação é de ordem qualitativa, não quantitativa. No decorrer de todo o trabalho desenvolvido, é importante que você procure compreender como os alunos estão significando o fazer/pensar música, elementos que podem fundamentar uma avaliação mais individualizada e significativa de todo o processo. Estabelecido este círculo na avaliação, onde o aluno, o programa e o professor são avaliados, e no qual o resultado em cada avaliação interage e atua um sobre o outro, tem-se meios para compreender e transformar a realidade em uma relação construtiva e dialética.

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2.4 Organização dos alunos para as aulas

De preferência, procure trabalhar em um espaço amplo, com poucas mesas e cadeiras, de forma que os alunos pos-sam fazer uma roda no chão quando estiverem tocando em conjunto, conversando sobre os trabalhos, apresentando trabalhos realizados em grupos ou ouvindo música. Da mesma forma, o espaço deve permitir que os alunos tenham fácil acesso aos instrumentos/materiais propostos para a atividade e que se organizem facilmente para trabalhar em pequenos grupos, espalhados pela sala, para minimizar a interferência sonora de um para outro grupo.

2.5 infra-estrutura e materiais necessários

Sala de aula ampla, com espaço para os alunos trabalharem no chão, em roda com o professor ou reunidos em pequenos grupos.Objetos variados presentes na sala de aula ou trazidos pelos alunos.Opcionalmente, podem ser utilizados instrumentos musicais: xilofones, metalofones, flautas doces, percussões variadas (tambores de diversos tipos, caxixi, agogô, triângulo, ganzás, pandeiros, clavas etc.). A variedade de ma-teriais disponíveis, incluindo outros instrumentos, como violino, violão etc., é desejável, enriquecendo os trabalhos realizados em aula.

livros, teses e artigosBEINEKE, Viviane. A composição no ensino de mú-sica: perspectivas de pesquisa e tendências atuais. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 20, p. 19-33, 2008.BEINEKE, Viviane; FREITAS, Sérgio Paulo Ribeiro de. Lenga la lenga: jogos de mãos e copos. São Paulo, Ciranda Cultural, 2006.BERNHARD, Emmanuel. Som. Tradução de Ana Maria Ramos Augusto. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2006. BRITO, Maria Teresa Alencar de. Música na educação infantil: propostas para a formação integral da criança. São Paulo: Peirópolis, 2003. BRITO, Maria Teresa Alencar de. Por uma educação musical do pensamento: novas estratégias de comunicação. Tese de doutorado. Programa de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007.FRANÇA, Cecília Cavalieri. Para fazer música. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2008. SAWYER, R. Keith. Group Creativity: music, theater, collaboration. Mahwah: Lawrence Erlbaum Associa-tes, 2003.

cds e dVdsBarbatuques: Corpo do som ao vivo, MCD, 2007 (DVD). Clementina de Jesus: Marinheiro só, EMI, 1973 (CD).Mônica Salmaso: Iaiá, Biscoito Fino, 2004 (CD).Teca Oficina de Música: Canto do povo daqui, 1998 (CD).Zé Renato e convidados: Samba pras crianças, Biscoito Fino, 2003 (CD).

sitesBarbatuques: www.barbatuques.com.brPalavra Cantada: www.palavracantada.com.brEntrevista com Arthur Nestrovski: http://www.cosacnaify.com.br/infanto/autor/arthur_nestrovski.htmSite pessoal de Arthur Nestrovski: http://www.arthurnestrovski.comSites com vídeos de Artikulation, de Györgi Ligeti: http://www.youtube.com/watch?v=71hNl_skTZQ e http://www.dailymotion.com/video/x26gno_ligeti-artikulation_musicSites com vídeos e partituras de Stripsody, de Cathy Berberian: http://puzzlet.springnote.com/pages/1174640 http://www.youtube.com/watch?v=EBiz2EYUnUAhttp://www.youtube.com/watch?v=L0Xu0qw1C50http://www2.ac-lyon.fr/enseigne/musique/gobert/strip2.jpg

2.6 referências complementares

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3 AtiVidAdes pArA leVAr pArA cAsA

partituras musicais utilizando escrita musical convencional e analógica

Visando colocar os alunos em contato com diferentes formas de representação musical, nes-sa atividade são apresentadas duas partituras aos alunos: uma partitura da canção Peixinhos do mar, utilizando notação convencional, e uma partitura analógica. Na primeira, sugiro que os alunos levantem hipóteses sobre os códigos e símbolos musicais, no caso de ainda não terem contato com esse tipo de notação. Caso já conheçam a escrita musical convencional, podem tentar solfejar a música ou tocá-la utilizando instrumentos musicais. A partitura analógica apresenta outra forma de escrita musical, na qual os alunos podem experimentar diferentes maneiras de representar sonoramente as idéias sugeridas graficamente. Nessa partitura, também sugiro que os próprios alunos dêem um título para a música. Em sala de aula, é importante retomar essas atividades, refletindo com os alunos sobre as funções da escrita musical na sociedade e as concepções de escrita das próprias crianças.

criação e sonorização de uma história em quadrinhos

Nessa atividade é dada continuidade à proposta de oportunizar diferentes tipos de experiências composicionais aos alunos, através da criação e sonorização de uma história em quadrinhos. É importante conversar sobre a idéia da atividade com as crianças, contextualizando-a em relação às diferentes possibilidades de atuação do compositor (composição de trilhas sonoras de filmes, desenhos animados ou teatro) e depois retomar os trabalhos dos alunos em sala de aula.

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Sons para descobrir: das pipocas sonoras ao peixinhos do mar 0 Viviane Beineke 11

Nome do aluno:

Peixinhos do mar

Veja também a partitura abaixo, que representa a música de outra maneira, bem diferente! Como você imagina que essa música poderia ser tocada? Dê um nome para ela e convide seus amigos para tocarem com você! Experimentem interpretar a música de várias maneiras, utilizando instrumentos musicais, objetos sonoros variados, sons produzidos com o corpo e a boca. Como fica a música utilizando somente sons do mesmo tipo? E misturando os sons? Depois de escolher os sons que serão utilizados e combinar com o grupo como vocês vão tocar a música, ensaiem e apresentem aos colegas.

Título da música: _____________________________________________________________ Título da música: ____________________________________________

projeto Guriprojeto Acervo culturalsuplemento: sons para descobrir: das pipocas sonoras aos pexinhos do marAutora: Viviane Beineke

AtiVidAde pArA leVAr pArA cAsA

Veja só a partitura da canção Peixinhos do mar. Cante a canção em casa, prestando atenção aos símbolos musicais. Descubra alguns dos códigos da partitura e conte aos colegas na próxima aula!

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VOLUME 12 [12]12

Nome do aluno:

Os compositores fazem música com diversas finalidades, como música para teatro, cinema, TV ou desenhos animados. Experimente desenhar abaixo uma pequena história em quadrinhos, imaginando como poderia ser a música da sua história. Na próxima aula, convide os colegas para tocar a música com você.

Título da música:

Desenhe aqui os quadrinhos para a sua história:

projeto Guriprojeto Acervo culturalsuplemento: sons para descobrir: das pipocas sonoras aos pexinhos do marAutora: Viviane Beineke

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