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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL · Ninguém, ninguém mais que Rafael Caldera, ninguém mais credenciado por sua própria história a ser o portador daquela imagem que nos mandava a pátria

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

VISITA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DA VENEZUELA RAFAEL CALDERA RODRIGUEZ

(Sessão solene realizada em 20-05-96)

Brasília 1996

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Departamento de Documentação, Jurisprudência e Divulgação: Diretora: Marlene Freitas Rodrigues Alves

Serviço de Divulgação: Diretora: Maria do Socorro da Costa Alencar

Divisão de Edições: Diretora: Almeria Machado Godói

Seção de Controle e Distribuição: Supervisora: Maria Elena Alves

Capa: Marlene

Flávio

Jander

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Palavras do Senhor Ministro SEPULVEDA PERTENCE,

Presidente

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Declaro aberta esta sessão solene do Supremo Tribunal Federal, especialmen­te convocada para receber a visita de Sua Excelência, o Senhor Rafael Caldera Rodriguez, Digníssimo Presidente da República da Venezuela.

Para saudar o eminente visitante, em nome da Corte, concedo a palavra ao Sr. Ministro Francisco Rezek.

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Discurso do Senhor Ministro FRANCISCO REZEK

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Egrégio Tribunal, Excelências, Senhoras, Senhores, Senhor Presidente Ra­fael Caldera.

Não é um dia comum. A casa maior da Justiça do Brasil recebe uma vez mais o amigo de tantos anos, o amigo fiel deste país e de seu povo, da instituição judiciária e da ciência do direito; o expoente da civilização latino-americana e o artífice consagrado da democracia. E a casa se enternece ao vê-lo de volta, quinze anos passados desde que nos trouxe, no bicentenário de Don Andrés Bello, a imagem de bronze do precursor, para ficar conosco e acender-nos no espírito a todo instante as luzes do discernimento.

Ninguém, ninguém mais que Rafael Caldera, ninguém mais credenciado por sua própria história a ser o portador daquela imagem que nos mandava a pátria de ambos, a mais ao norte das repúblicas amazônicas, a que Don Alonso de Ojeda, no penúltimo ano do século quinze, entendeu de chamar a pequena Veneza ao ver as casas indígenas sobre o lago de Maracaibo.

Sua palavra nesta corte, em 11 de junho de 1981, evocava as raízes do pensamento latino-americano sobre o direito das gentes, o difícil cenário político onde florescia uma nova doutrina.

E ele nos recordava então:

«Sobre todo Ias nuevas naciones, desde el primer momento, experimentaron la necesidad de un derecho internacional, cuya formu-lación y mantenimiento se convertian en atributo irrenunciable de Ia soberania y en un instrumento para defender, com los escasos recursos de que se disponia, los derechos de los pueblos, convertidos en sujeto de Ias nuevas organizaciones políticas frente a los grandes poderes, dispuestos com frecuencia, como Io sefíaló Andrés Bello, 'a intervenir y a usurpar'.»

No desfecho, a palavra última de Rafael Caldera era para lembrar que o presente de bronze tinha como contrapartida um compromisso. A imagem de Andrés Bello reclamaria de nossa parte um «compromisso de unidade», um «compromisso de americanidade».

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E nada mais verdadeiro que a afirmação de o termos honrado. Entre Vene­zuela e Brasil o entendimento já se qualificou por vezes como um exercício requintado de engenharia diplomática. Aquela fronteira, reconhecida como exata a cada palmo, pedia não obstante um trabalho de demarcação que evitasse incidentes, obra de particulares pouco afeiçoados à lei, agentes de um dano constante aos interesses comuns, agressores crônicos do meio ambiente e da integridade dos povos da floresta. Não era simples, contudo, que os dois governos fizessem entender a toda a extensão das respectivas sociedades a natureza do problema; que convencessem os meios de comunicação de que não há como tolerar o sacrifício de valores protegidos pelo direito constitucional, em benefício de empreendimentos alegada-mente progressistas, usuários de uma metodologia reprimida pelo direito penal. O modo como se conduziram a todo tempo os governos dos dois países resultou para ambos em razão de justificado orgulho. O orgulho de profissionais, operando num domínio sensível, onde não há lugar para amadores. O orgulho de patriotas, cons­cientes de que a melhor garantia da segurança do Estado é a virtude que tenham seus governantes, no piano externo, de não gerar tensões nem produzir ressentimentos com o objetivo insensato de seduzir os setores mais ingênuos e primitivos do público interno.

Mas na obstinação construtiva do trabalho comum, Senhor Presidente, é pouco provável que venezuelanos e brasileiros possam juntos um dia rivalizar, em excelência, com o privilégio que lhes concederam a natureza e o compasso da história, mais que tudo no espaço mágico onde confluem seus territórios. Ao imaginário das civilizações indígenas aquela selva, prodígio de densidade e de mistério, inspirou lendas estranhas. Segundo os Jivaros, ela é a arte inacabada do deus criador, que um dia, quando já extinta a raça humana, ali voltará para, em paz absoluta, terminar a sua obra.

Da sua obra, Presidente Rafael Caldera, falam academias e tribunais; regis­tram-na a crônica parlamentar e a história da política maior do nosso tempo. Não se alcança tamanha estatura sem um começo precoce: de antes dos seus vinte anos a publicação da clássica biografia e síntese do pensamento de Andrés Bello; e é dos seus vinte e três anos a primeira edição do compêndio de Direito do Trabalho que ainda hoje adotam as universidades. Estas o receberam, honoris causa, em países tantos, mesmo distantes da nossa área e distintos do nosso modo de pensar o direito, transparecendo a universalidade da antiga ciência que professamos.

Estou a vê-lo ainda, de um banco da platéia, na cátedra da Academia da Haia, em 8 de julho de 1986, apresentado pelo saudoso Presidente Roberto Ago aos estudantes, a ensinar-nos as bases jurídicas de uma nova ordem internacional, a lembrar-nos que a paz é produto da justiça, sem a qual não vale a pena; e a destacar que a noção de justiça social, depurada e consagrada no direito interno de todos os países, deveria prevalecer como prioridade também no domínio das relações inter­nacionais.

Professor e Presidente.

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Exilado após a queda da segunda república na Venezuela, Simón Bolivar escreveria a célebre carta da Jamaica, sumário de doutrina da liberdade para o novo mundo.

«Nós somos — dizia o Libertador com orgulho — um micro­cosmo da raça humana. Somos um mundo à parte, confinado entre dois oceanos, jovem nas artes e ciências, mas antigo como sociedade huma­na. Não somos nem europeus nem índios, mas somos partes das duas coisas.»

Assim se construíram as nações de nossa América, Senhor Presidente, sob o signo da composição entre valores diversos, ainda hoje atual no cenário político onde o nome de Rafael Caldera e seu ideário da social democracia têm lugar assegurado. O contraste de teses sobre a salvação pública, o debate candente de proposições sobre o que seja o interesse coletivo, nada disso parece poder afastar-nos de novo do Estado de direito, nem há por que pensar que a turbulência nesses ares não seja ela própria um fator de aprimoramento da sociedade. Aprendemos finalmente a lição de Don Miguel de Unamuno:

«La vida es lucha, y la solidaridad para la vida es lucha y se hace en la lucha. No me cansaré de repetir que Io que más nos une a los hombres unos con otros son nuestras discórdias. Y Io que más le une a cada uno consigo mismo, Io que hace Ia unidad intima de nuestra vida, son nuestras discórdias íntimas, Ias contradiciones interiores de nues­tras discórdias. Solo se pone uno en paz consigo mismo, como Don Quijote, para morir.»

Senhor Presidente.

Um novo tempo começou para as repúblicas do nosso continente, tantas vezes ofendidas em passado remoto, e em passado recente, pelo desabamento da democra­cia, pela quebra da ordem constitucional. Sabemos que desta vez a conquista é definitiva, e por tê-la como consumada ousamos esperar mais, esperar que o novo século, que nos espreita do horizonte visível, encontre estas nações redimidas pelo completo desenvolvimento das suas economias e pela realização, há tanto esperada, de justiça social. No limiar desse novo tempo, é sugestivo encontrá-lo pela segunda vez na regência de uma das nações mais promissoras da América. É prova de que o que conseguimos e o que de pronto nos espera não são conquistas de uma geração, mas de uma espécie, de uma linhagem de cidadãos e de estadistas presentes entre nós desde o começo da história, e que finalmente parecem vitoriosos, recompensa do destino à coragem, à integridade, à inteligência, ao amor da liberdade, da democracia, da causa pública.

Que Deus o guarde, Senhor Presidente, de modo que prossiga a governar com sabedoria e a liderar por força da virtude e do exemplo. Pela visita com que nos honra, o Tribunal uma vez mais, e com profundo respeito, lhe agradece.

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Palavras do Senhor Ministro SEPULVEDA PERTENCE,

Presidente

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Tenho a honra de passar a palavra a Sua Excelência o Senhor Presidente Rafael Caldera.

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Palavras do Senhor Presidente da República da Venezuela,

RAFAEL CALDERA RODRIGUEZ

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Senhor Presidente, Srs. Magistrados, chego com verdadeira e sincera reve­rência a esta Sala na qual se tem a altíssima responsabilidade de dirigir a adminis­tração de justiça para o povo brasileiro. Chego com reconhecimento, porque sei que os que aqui se encontram são cultores eminentes da ciência jurídica e administradores justos e imparciais da Justiça, que é o dom mais precioso de que podem valer-se os povos.

Recordo com emoção a oportunidade, que o Sr. Ministro Francisco Rezek generosamente mencionou, da entrega do busto de Andrés Bello, que foi trazido a esta Casa no centenário de seu nascimento, em 1981, e que tive o privilégio de entregar ao Supremo Tribunal do Brasil.

Sinto que neste momento, mais do que nunca, os povos estão ansiosos por justiça, e que uma das necessidades profundas da grande transformação que estamos obrigados a realizar em nossa América Latina é a de dar plena confiança à sociedade civil na administração da justiça. Em meu País, atravessamos muitas e duras circunstâncias e estamos convencidos da necessidade de uma profunda reforma estrutural, uma reforma do Estado, uma reforma de suas instituições, e no seu bojo, uma das mais proeminentes é precisamente a necessidade de administração da Justiça. Temos Magistrados sábios e probos, mas infelizmente também temos alguns que não o são, e lamentavelmente a conduta de alguns deles se estende como mancha de suspeita e de dúvida na relação entre o povo e os magistrados. Temos pensado muito neste tema, e na reforma constitucional que temos a intenção de instaurar existe um cuidado especial por este empenho que temos em restabelecer plenamente a confiança da sociedade na administração de justiça.

Retornei num momento difícil à Presidência da República em meu País, e retornei convencido da necessidade dessa reforma transcendental que as instituições estão reclamando, mas, homem de direito que sou, vinculado toda minha vida à busca da justiça como elemento de valor fundamental, propus-me com firmeza a descon­siderar todos os convites que possam conduzir à ruptura da ordem institucional e a transmitir a meus compatriotas, que em mim depositaram sua confiança para que dirigisse o Executivo nacional, a convicção de que toda a transformação que temos de fazer, devemos fazê-la dentro das normas do Direito, mantendo e fortalecendo as instituições, cuja debilidade é um dos males que necessitamos combater.

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Creio que em todos os países da América Latina, e talvez no mundo inteiro, o problema da Justiça volta a converter-se em algo fundamental. E como observou brilhantemente o Sr. Ministro Rezek, a justiça social é um valor permanente que não pode ser esquecido, e por mais importantes que sejam os novos conceitos estabele­cidos em matéria econômica, com os novos ares de globalização, temos de ter presente a idéia de que todo progresso material tem como condição para sua durabilidade, para sua subsistência, para sua fortaleza o buscar a Justiça, que deve ser, para todos e para cada um, a participação nos bens produzidos pelos países e pela sociedade.

Sou um apaixonado pela justiça social, sou um apaixonado pela idéia de que a justiça social, que existe, que se defende no seio do direito interno, precisa ser também norma nas relações entre os países, precisa converter-se em norma de relação internacional. Se existe a comunidade de nações, têm de prevalecer no seio dessa comunidade aquelas normas indispensáveis para que cada um possa participar efetivamente no bem comum.

Sinto que neste momento as idéias daqueles grandes juristas do século passado — que perceberam, como o fez Andrés Bello e como bem o recordou o ilustre Ministro Francisco Rezek, que a fortaleza das novas nações estava vinculada ao culto do Direito e da Justiça — essas idéias renascem, mantêm-se e se fortificam, e por isso a memória de tão ilustres juristas, como Bello, Bezerra de Freita e tantos outros que encheram de mérito e de glória a história do Direito na América Latina, nos inspiram a manter e defender a todo transe e em todas as circunstâncias as normas do Direito, fundamentais ao progresso das sociedades.

Como Senador vitalício que fui em meu País e na condição de ex-Presidente, após o meu primeiro mandato, propus uma reforma constitucional. Durante cinco anos trabalhamos para elaborar um projeto de mudança profunda de uma constitui­ção, a única no país a ultrapassar os trinta anos, a única que teve suficiente vitalidade para manter-se em meio às circunstâncias mutáveis da sociedade. Creio que essa reforma constitucional pode e deve tomar impulso, e não perco a esperança de que neste mesmo período constitucional se realize essa reforma fundamental, e dentro dessa reforma, a mudança fundamental na administração de justiça é um dos elementos básicos. E temos o exemplo do Brasil, o exemplo de Vossas Excelências, Srs. Magistrados, como um estímulo poderoso para levar adiante nossa preocupação com essa mudança que precisamos realizar. Na verdade, como disse Andrés Bello, nossas nações, para poderem permanecer dentro da ordem soberana, para poderem manter a soberania conquistada através das duras lutas pela independência têm de fazer do Direito um verdadeiro culto, para não dar motivo às potências estrangeiras de usurpar, de dominar, de prejudicar, de impor arbitrariamente uma vontade errônea. Este conceito fez com que tanto Bello como o libertador Simón Bolivar, cuja memória tem tantos cultores e tantos amigos na cultura brasileira, considerassem que a administração de justiça era o elemento fundamental para o funcionamento da sociedade, ou seja, que as instituições democráticas têm como condição indispensá-

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vel a consciência de cada indivíduo de que as disposições legais que surgem da vontade das comunidades de homens livres sejam cumpridas lealmente e exista um poder capaz de impô-las e fazê-las cumprir.

Penso que nesta visita que faço a esta grande Nação, num momento em que as relações entre Brasil e Venezuela são melhores que nunca, em que ambos os Governos têm consciência de que a própria natureza e o destino de nossos Países nos obrigam a fazer um esforço positivo, um esforço altivo e generoso por um maior intercâmbio e maior cooperação, um dos marcos mais honrosos para mim é esta vinda a este Tribunal Supremo. Realmente me sinto comovido, neste ambiente tão cheio de significação e esperança, e quero expressar aos Srs. Magistrados meu respeito e minha admiração. Sei que também no Brasil, como em todos os nossos países, nem tudo é perfeito no âmbito da Justiça, mas o Supremo Tribunal goza de respeito pleno e absoluto, de um reconhecimento por sua integração, pelas qualidades dos que o compõem e pela maneira transparente, limpa e honesta com que adminis­tram a Justiça. Quero manifestar meu profundo agradecimento e dizer que me sinto realmente feliz em voltar aqui. A lembrança de Andrés Bello, aquele venezuelano que dedicou os últimos anos de sua vida à formação do Estado chileno, e que dividiu suas atividades entre a ciência, a literatura, a filosofia e a gramática, por um lado, e por outro lado o direito, é um compromisso que nos vincula a todos de maneira solene e indestrutível, porque é verdade, curiosamente, que se Bello é reconhecido como autor da melhor gramática da língua castelhana, como autor dos primeiros e melhores poemas que abriram caminho à poesia latino-americana, como o homem que escreveu páginas inesquecíveis sobre filosofia, foi ele também o homem que abriu o caminho do direito internacional na América Latina e que redigiu aquele magnífico Código Civil que é uma das obras-primas da construção jurídica em nosso Conti­nente. Por isso, a sua memória, e o culto que lhe prestamos, nos convidam a manter-nos firmes nesta busca incessante do Direito, nesta luta pela Justiça, tanto a comutativa quanto a justiça social, que é fundamental para que as sociedades sejam verdadeiramente felizes.

Estamos em um momento de transformação, procurando fazer com que o desenvolvimento econômico permita a nossos países assegurar a seus habitantes uma vida melhor, mas precisamente para que seus habitantes vivam melhor, para que as liberdades possam exercer-se dentro do possível, para que todos possam participar do bem-estar comum, a luta pela justiça social, a manutenção das normas do trabalho dentro do Direito, a manutenção das normas da justiça social internacional são algo indispensável, e quero neste momento reiterá-lo, como o expressei quando tive a altíssima honra de trazer a esta Casa o busto de Andrés Bello, o que permitiu deixar o melhor representante venezuelano de todas as disciplinas jurídicas e de todas as disciplinas humanísticas como o melhor testemunho de amizade e reconhecimento que se possa fazer a este grande País, o Brasil.

Recebam, Srs. Magistrados, a expressão renovada de meu profundo agrade­cimento. A V. Exa., Sr. Ministro Rezek, obrigado por suas palavras. Recordou V.

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Exa. nosso encontro em Haia, numa época em que V. Exa. era ainda muito jovem do que agora, iniciando uma carreira que o levou a grandes destinos no campo do Direito. Suas palavras, suas lembranças, sua mensagem, seus generosíssimos elogios empenham minha mais profunda gratidão.

Mais uma vez, Srs. Magistrados, em nome da Venezuela, quero reiterar a solidariedade indestrutível entre nossos povos. Sinto-me feliz, porque acredito que estamos realizando um trabalho histórico ao por em contato dois povos que por uma incompreensão temporária, talvez porque não estivessem maduras as circunstâncias, pareciam afastados, mas hoje estão cada vez mais próximos, e se aproximarão ainda mais, não somente porque com nossos modestos esforços estamos incentivando tal aproximação, mas também porque a própria natureza das coisas, a geografia, a história, a índole de nossos países, a simpatia entre nossos povos são fatores indestrutíveis que nos conduzirão cada vez mais a uma união sadia, forte, solidária, justa e legítima, que será uma contribuição valiosa para a grande solidariedade da América Latina, num mundo melhor.

Muito obrigado.

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Palavras do Senhor Ministro SEPULVEDA PERTENCE,

Presidente

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Registro e agradeço em nome do Supremo Tribunal a presença de Suas Excelências os ilustres Membros da Comitiva do Presidente da República da Venezuela; do Exmo. Sr. Ministro Xavier de Albuquerque, aposentado deste Tribu­nal; do Sr. Procurador-Geral da República; do Sr. Representante de Sua Eminência, o Núncio Apostólico; dos Senhores Embaixadores da República da Turquia; da Nicarágua; da Coréia; do Chile; do Equador; da Costa do Marfim; da Guiana; da Guatemala; de Angola; da Finlândia; do Chile; da República Gabonesa; do Uruguai; do Paraguai; da Espanha; da Bolívia; da República Islâmica; dos Emirados Árabes Unidos; dos Srs. Encarregados de Negócios das Filipinas; da República Helênica; da República Árabe da Síria; do Sr. Ministro Bueno de Souza, Presidente do Superior Tribunal de Justiça; do Sr. Deputado Átila Lins, Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados; do Sr. Subprocurador-Geral da República, Dr. Miguel Frauzino Pereira; do Sr. Representante do Tribunal Regional do Trabalho, Juiz Paulo Mascarenhas Borges; do Sr. Representante do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Dr. Reginaldo Oscar de Castro; do Presidente do IAB, Dr. Carlos Robichez Pena; das demais autoridades presentes, das Senhoras e Senhores que nos honraram, presentes a esta solenidade.

Peço a todos que permaneçam em seus lugares, até que a Corte e o ilustre Presidente Rafael Caldera, retirem-se para o Salão Branco ao lado, onde Sua Excelência receberá os cumprimentos.

Está encerrada a Sessão.

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ESTA OBRA FOI COMPOSTA E IMPRESSA PELA

IMPRENSA NACIONAL, SIG, QUADRA 6, LOTE 800, 70604-900, BRASÍLIA, DF,

EM 1996, COM UMA TIRAGEM DE 200 EXEMPLARES

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