Surdez Na Antiguidade

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  • 7/24/2019 Surdez Na Antiguidade

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    Surdez na Antiguidade

    (Por Hugo Eiji)Caminhar pelo horizonte historiogrfico da surdez , em partes do trajeto, enfrentar

    terreno agreste, com poucas paragens seguras e ainda menos ribeiras para matar asede.

    Aescassezde registos histricos, o distanciamento das fontes primrias e as poucasinvestigaes sobre o assunto no raro levam a afirmaes imprecisas e poucoconsistentes sobre a surdez na !dade Antiga. "uais eram as representaes sociaisdos surdos na Antiguidade# "ue espaos esse$s% grupo$s% ocupavam na vida p&blicada plis, das pe'uenas vilas ou tribos# (avia sistemas gestuais 'ue levassem a caboalgum tipo de comunicao poss)vel, mesmo 'ue precria, entre surdos e ouvintes#*ram todos alijados, marginalizados, animalizados e abandonados + prpria sorte# e'ue surdo se fala 'uando se anuncia o surdo na Antiguidade#-ara se desenhar o cenrio hostil 'ue vigorou durante a !dade Antiga, seja emhistoriais de sites dedicados + surdez, seja em cap)tulos introdutrios de tetos sobreo assunto, frases e epresses como /desprovidos de 'ual'uer direito0,/bestializados0, /abandonados em praas p&blicas0, /lanados ao mar0 e /atirados derochedos0 por vezes saltam aos olhos, enfticas, repugnantes, com o horror 'ue abrutalidade de outrora provoca hoje.

    1as, em certa medida, essas so afirmaes totalizadoras e reducionistas. Com ainteno de no enfatiz2las de maneira descuidada, evitar2se2, a'ui, esse tipo degeneralizao, com a ateno de 'uem caminha por solo pedregoso.

    *s'uivar2se de afirmaes generalizadoras, no entanto, no implica supor um contetosempre acolhedor para as pessoas surdas. Ao mesmo tempo em 'ue a surdez eoutras /anormalidades0 eram recebidas com gestos caridosos 3 sob as leis hebraicas,por eemplo, os /surdos2mudos0 eram cuidados e protegidos como crianas$45A6C78 -A5!9(, :;;

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    l)ngua oral no dia2a2dia da vida p&blica $nos espaos de participao pol)tica, noscom)cios e festejos, nas transaes de vrios tipos, etc.%, bem como a importBncia daoratria na formao de um cidado, levam a crer 'ue + grande parte dos surdos

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    sem linguagem no haveria sociedade pol)tica. $J% A natureza no faz nada em vo e,dentre os animais, o homem o &nico 'ue ela dotou de linguagem. 9em d&vida a voz$phon% uma indicao de prazer ou de dor, e tambm se encontra nos outrosanimais8 o lgos, porm, tem por fim dizer o 'ue conveniente ou inconveniente e,conse'Rentemente, o 'ue justo ou injusto0 $*S*9,

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    9e eram antes percebidos como pessoas /portadoras0 de uma enfermidade 'ue asape'uenava diante de um mundo ouvinte, ou como um grupo de deficientes $naacepo vulgar e redutora do termo% acolhidos com caridade e compaio porinstituies filantrpicas2assistenciais, hoje muitos surdos enlaam2se em lutaspol)ticas, organizados em associaes e movimentos populares, a reafirmarem e

    reivindicarem direitos.

    6 vocabulrio das lutas surdas enche2se com palavras e epresses como /surdismo0,/ouvintismo0, /audismo0, /deafhood0, /identidades surdas0, /l)nguas de sinais0, etc.Selhos termos so problematizados, colocados em 'uesto. 6utros soressignificados, promovidos e trazidos + baila na torrente de transformaes dascompreenses sobre a surdez.

    istante dos discursos do /corpo danificado0 e dos comp@ndios da medicina, muitossujeitos surdos lutam hoje pelo reconhecimento da surdez como uma, entre outrastantas, formas de estar no mundo3 assumindo os conflitos e a compleidade 'ue esta

    frase, de apar@ncia ing@nua, apresenta. *m in&meras comunidades surdas, uma lutacomum se desenha no dia2a2diaE a luta pelo reconhecimento da surdez comodiferena.

    /A diferena, como significao pol)tica, constru)da histrica e socialmente8 umprocesso e um produto de conflitos e movimentos sociais, de resist@ncias +sassimetrias de poder e de saber, de uma outra interpretao sobre a alteridade esobre o significado dos outros no discurso dominante0 $97U!A5, :;;Kb, p. M%.

    -or uma ruptura epistemolgica, a surdez abandona o campo discursivo dasdefici@ncias, da patologia e dos vrios enunciados biomdicos e passa a ocupar um

    lugar privilegiado no campo dos estudos da cultura, das ci@ncias sociais, da lingu)stica,da educao e da antropologia, como um objeto novo a suscitar cada vez maisinteresse por parte de militantes e investigadores. -ara alm de narrativas cl)nicas ede postulados mdicos, falar e sinalizar sobre a surdez adentrar em 'uestes deidentidades, epresses culturais, diferenas, lutas por con'uistas e efetivaes dedireitos. 6s deslocamentos de linguagem 'ue aos poucos se promovem no terrenodos *studos 9urdos so, muito mais 'ue revises terminolgicas, rompimentos comas epistemes

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    /A identidade torna2se uma [celebrao mvel\E formada e transformada continuamenteem relao +s formas pelas 'uais somos representados ou interpelados nos sistemasculturais 'ue nos rodeiam $(all,

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    das prticas culturais surdas firmam2se como os principais eios dessas epressesde identidades.

    *m sujeitos 'ue, nascidos ouvintes, tornaram2se surdos, a investigadora aponta asidentidades surdas h)bridas. Valantes nativos das l)nguas orais majoritrias, com

    eperi@ncia do mundo sonoro, a surdez e as l)nguas de sinais fazem2se condiessobrevindas ao universo da fala e da audio. /Q uma espcie de uso de identidadesdiferentes em diferentes momentos0 $-*5U!, :;;K, p. MH%, com a apropriao dal)ngua gestual como segunda l)ngua.

    Ainda, a identidade surda de transio epressa2se em surdos 'ue, aps anos de/cativeiro da hegem>nica eperi@ncia ouvinte0 $-*5U!, :;;K, p. MI%, passam afre'uentar as comunidades surdas e a partilhar das prticas simblicas desses grupos.As novas interaes surdo29urdo, o aprendizado das l)nguas de sinais, as novasrepresentaes e discursos, aos poucos, refazem as formas de olhar, sentir, pensar eepressar o mundo desses sujeitos 'ue vivenciam 3 em fase de transio 3 a des2

    ouvintizao das representaes da identidade.

    Como grande parte dos surdos so filhos de pais ouvintes, no raro distantes dascomunidades surdas e das l)nguas de sinais, o momento de descoberta $sejam aindacrianas, jovens ou adultos% de um novo mundo 9urdo comumente ressaltado comentusiasmo nas narrativas autobiogrficas de muitos desses sujeitosE marcam2secomo um ponto de mutao em 'ue novos horizontes engraam o olhar e, aospoucos, pem2se a desafiar a ideologia do normal.

    /6s 9urdos [aptridos\, filhos de pais ouvintes, t@m nas suas memrias subterrBneas osentimento de ecluso em relao +s suas fam)lias de ouvintes. A aus@ncia de uma

    l)ngua competente, por mais de dez anos, leva muitos desses sujeitos a pensarem'ue estavam sozinhos no mundo, impossibilitando a construo do seu passado efuturo0 $U6F1A, :;;N, p. I:%.

    A antiga sensao de despertencimento parece ganhar novos contornos naaproimao com o outro29urdo e no encontro com as novas possibilidades de /ser0 ede se comunicar. *sses momentos, em 'ue prevalece a epresso da identidadesurda de transio, para muitos figuram como tempos de redeno.

    *m surdos 'ue se distanciam das identidades, comunidades e culturas 9urdas,figurariam as identidades surdas incompletas, como subjugadas + ideologia ouvinte

    dominante.

    /A hegemonia dos ouvintes eerce uma rede de poderes dif)cil de ser 'uebrada pelossurdos, 'ue no conseguem se organizar ou mesmo ir +s comunidades para resistiremao poder. A) pode dar in)cio ao 'ue chamo de situaes dominantes de tentativa dereproduo da identidade ouvinte, com atitudes ainda necessrias para sustentar asrelaes dominantes0 $-*5U!, :;;K, p. MI%.

    Sale ressaltar, mais uma vez, o carter transitrio, contraditrio, contetual econtingente da ideia a'ui assumida de identidade. o como estados absolutos,permanentes e monol)ticos 'ue configuram e conformam de forma inabalvel o sujeito,as vrias identidades surdas 3 como construtos histricos e no como essenciais 3

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    so constantemente refeitas nas interaes com o mundo ouvinte, nas encruzilhadascom os discursos dominantes e na conviv@ncia com o outro2surdo.

    A celebrao das identidades surdas, no 'ue diz respeito aos seus carteresinconstantes, imprevis)veis, no fios, rejeita e ope2se + ideia de ess@ncia 'ue tanto

    assola o cotidiano da surdez.

    /5econhecer2se numa identidade supe, pois, responder afirmativamente a umainterpelao e estabelecer um sentido de pertencimento a um grupo social derefer@ncia. ada h de simples ou de estvel nisso tudo, pois essas m&ltiplasidentidades podem cobrar, ao mesmo tempo, lealdades distintas, divergentes ou atcontraditrias. 9omos sujeitos de muitas identidades. *ssas m&ltiplas identidadessociais podem ser, tambm, provisoriamente atraentes e, depois, nos pareceremdescartveis8 elas podem ser, ento, rejeitadas e abandonadas. 9omos sujeitos deidentidades transitrias e contingentes0 $U6L56, :;;;, p. M%.

    Assume2se, neste teto e neste blog, as tipologias identitrias citadas por -erlin$:;;K%, entendendo2as como definies terminolgicas fundadas sob uma perspectiva9urda, com intencionalidades pol)ticas claras e atuais, como a valorizao, apromoo e a defesa dos direitos dos 9urdos e das comunidades surdas, com @nfaseem seus patrim>nios lingu)sticos e culturais.

    Alguns pormenores precisam ser postos, porm, em uma breve paragem 'ue se 'uersegura em meio a arames2farpados.

    !nvestigar a surdez, o povo surdo, as comunidades e culturas surdas, adentrar porum universo heterog@neo, cheio de contradies, atravessado por um sem2fim de

    fatores, ligados ou no ao atributo surdo.

    ( diferentes tipologias e etiologias da surdez $surdez leve, moderada, severa ouprofunda8 condutiva, neurossensorial, mista, etc%. ( surdos cong@nitos ID, surdospr2lingu)sticos KD e ps2lingu)sticos MD. ( surdos usurios das l)nguas de sinais, hsurdos oralizados, h surdos 'ue transitam 3 sem grandes constrangimentos, nemdificuldades 3 entre os gestos e a fala. ( surdos usurios de aparelhos auditivos$Aparelhos de Amplificao 9onora !ndividual 3 AA9!%, h surdos implantados$!mplantes Cocleares 3 !C%, h surdos 'ue, por uma srie de motivos, rejeitam edesdenham 'uais'uer tipos de prteses. ( surdos filhos de pais ouvintes $a grandeparte dos surdos%, h surdos filhos de pais surdos. *ntre esses e tantos outros /hs0,

    emerge um mundo de diferenas ligadas + surdez.

    *m pa)ses como o 4rasil, ou em outros em 'ue a pobreza um problema comum agrande parte da populao, a 9urdez $como outras epresses identitrias% enovela2sea uma srie de fatores scio2econ>micos, sendo por eles redefinida.

    Assim, antes de se adentrar por discusses como /oralizao l)ngua de sinais0,/incluso no ensino regular promoo de escolas bil)ngues0, /uso ou no deprteses eletr>nicas0, etc., faz2se necessrio salientar o fato de 'ue $em muitas partesdo mundo% uma parcela considervel do povo surdo se'uer tem acesso + educaoformal, a servios bsicos de sa&de ou ao lazer, tampouco contato com outraspessoas 9urdas. 1uitas vezes so alijados no s de uma viv@ncia escolar como do

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    aprendizado de uma l)ngua $seja oral ou gestual%, ficando 3 'uando muito 3 restritosao uso de sinais caseiros, convencionados e articulados em Bmbito domstico.

    A misria, a falta de acesso + educao e ao sistema de sa&de, as condiesprecrias de subsist@ncia, entre outros problemas sociais, produzem formas ainda

    mais perversas de marginalizao, reforando e refazendo situaes ecludentes jimpostas a sujeitos surdos. As /ecluses0 $ou /incluses perversas0 em estruturassociais injustas, flageladas pelos interesses do grande capital% do2se em vriasinstBncias e por vrios fatores $raciais, tnicos, econ>micos, ligados a 'uestes deg@nero, etc.% 'ue as legitimam e as reproduzem.

    Assim, destaca2se a importBncia de se redefinir as eperi@ncias da surdez enredadasentre diferentes condies materiais e entre vrias epresses identitrias, semimagin2las un)vocas, essencializadas, totalizantes e $re%produtoras de epectativas ecomportamentos &nicos. A surdez, por isso, entendida como um entre outros vriosfatores 'ue atravessam os sujeitos.

    *vanglicos, muulmanos, budistas, negros, brancos, ind)genas, moradores degrandes centros urbanos, habitantes de pe'uenos vilarejos rurais, pobres, ricos,heterosseuais, gaXs, universitrios, no escolarizados, asiticos, latino2americanosJ!n&meras categorias compem, fluidas e emaranhadas ao atributo surdo $em todas assuas diferenas%, um mosaico impermanente 'ue recria, em incontveis combinaes,infinitas possibilidades de /estar no mundo0, marcadas por uma srie de conflitos edistenses.

    Valar em povo surdo, assim, no assumir a imagem cristalizada de um sujeito 9urdousurio de l)ngua gestual, 'ue partilha das comunidades e das prticas culturais

    9urdas8 tampouco reforar esteretipos ouvintizadores da surdez. Q, antes, atentar +diferena e entender esse universo como um campo de foras compleo, noharm>nico, movimentado por diferentes atores e lugares do discurso.

    este blog, enfatizam2se os grupos 9urdos usurios de l)nguas de sinais, 'uepartilham das comunidades e culturas surdas, promovendo suas lutas, prticas eprodues culturais.

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    - [1] Aqui se entende episteme como o solo de onde crescem as !rias redes deenunciados" signi#icados e discursos que permeiam a surdez$[%] &'rupo minorit!rio" aqui" entendido como &um lugar onde se animam os#lu*os de trans#orma+,o de uma identidade ou de uma rela+,o de poder$ mplicauma tomada de posi+,o grupal no interior de uma din.mica con#litual (S/02"%334" p$ 1%)$ 5om algumas caracter6sticas 7!sicas" como a ulnera7ilidadejur6dico-social" a manuten+,o de lutas contra-8egem9nicas e a cria+,o deestratgias discursias de resist:ncia" a no+,o de minorias &re#ere-se ;possi7ilidade de terem oz atia ou interirem nas inst.ncias decis] 0i#erencia+,o adotada em !rias l6nguas (0ea#" Sourd" Sordo" etc$) paraindicar sujeitos que assumem as identidades surdas e as identidades pol6ticassurdas$[?] @ascidos surdos$

    [4] Pr-linguais ou pr-locutios que perderam a audi+,o antes da aquisi+,o dal6ngua oral$[B] P

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    *ntende2se /comunidade surda0 como um espao de trocas simblicas em 'ue asl)nguas de sinais, a eperi@ncia visual e os artefatos culturais surdos so partilhadosentre sujeitos 9urdos $e ouvintes% 'ue congregam interesses comuns e projetoscoletivos. Lm espao 'ue acena para outras possibilidades de eistir e vivenciar adiferena, para alm das prticas e discursos ouvintistas.

    /-ara 'ue um grupo se constitua e se configure como uma comunidade, algumascondies so necessrias. Zemos como eemplosE afinidades entre os diferentesindiv)duos 'ue constituem o grupo, interesses comuns 'ue possam conduzir as aesdo grupo por caminhos comuns, continuidade das relaes estabelecidas, bem comotempo e espao comuns, em 'ue os encontros do grupo possam acontecer0 $U6-*98S*!FA2*Z6, :;;M, p. O:%.

    A formao das comunidades surdas, onde as foras hegem>nicas $ouvintistas% sorefratadas por novos olhares e prticas sobre a surdez, decorrem 3 em grande medida3 da epresso de identidades de resist@ncia

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    9urdos atualmente estimada em algumas dezenas de milhes de indiv)duos, otamanho de um pa)s mediano8 /no entanto, um [pa)s\ sem um [s)tio\ prprio. Q umacidadania sem uma origem geogrfica0 KD $]5!FU*^,

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    Lm dos principais marcadores culturais das comunidades surdas, as l)nguas de sinaisdeiam claras, j em um primeiro momento, as regies fronteirias entre as culturassurdas e as culturas ouvintes majoritrias. Lm trao distintivo 'ue configura econforma grande parte das prticas simblicas de sujeitos 9urdos.

    Apesar de sua celebrao, dos movimentos identitrios 'ue a $re%afirmam comopatrim>nio maior das culturas surdas e de sua crescente eposio, a l)ngua de sinaisainda pouco conhecida por grande parte dos no2sinalizadores. 9e no cotidiano degrandes cidades no raro veem2se grupos de surdos a sinalizarem $em >nibus,restaurantes, centros comerciais, ruas, etc.%, os gestos 'ue pronunciam em conversas/silenciosas0 ainda so cercados de preconceitos e mal2entendidos pela maior parteda populao ouvinte.

    As l)nguas de sinais $U.9.% so sistemas de linguagem compleos 'ue permitem ummeio de interao cinsico2visual cheio de possibilidades para os seus usurios, e noum arremedo de gestos fortuitos, improvisados em uma forma de comunicao

    precria. As l)nguas de sinais, em toda as suas ri'uezas, so compostas por diferentesn)veis lingu)sticos $fonologia, morfologia, sintae, semBntica, etc.% cada vez maisinvestigados por pes'uisadores de todo o mundo.

    istante do 'ue muitos acreditam, as l)nguas de sinais no so criadas pelagestualizao das l)nguas orais majoritrias, como um conjunto de gestos amarrados +gramtica das l)nguas hegem>nicas. Ao contrrio de um cdigo alternativo criado parasuprir a impossibilidade de oralizao das l)nguas majoritrias, tendo essas l)nguasorais como substrato norteador, as estruturas frasais das l)nguas gestuais obedecem auma sintae prpria, complea, apoiada em uma gramtica espec)fica. Assim, comouma l)ngua natural $e no artificial%, desenvolve2se no seio dos povos surdos, na

    interao com outras l)nguas, nos usos e desusos de seus sinalizadores.

    As l)nguas gestuais, como 'uais'uer outras l)nguas, no so estticas, hermticas eimutveis, mas mudam de acordo com as regies em 'ue so sinalizadas $variaesdiatpicas%, de acordo com os diferentes estratos socioculturais de seus usurios$diastrticas% e consoante os momentos e as circunstBncias da enunciao$diafsicas%. 9o sistemas dinBmicos, vivos, 'ue a cada dia se refazem. Lma l)ngua2rio 'ue corre nas mos de surdos e ouvintes, desaguando em diversos idioletos. Aprpria influ@ncia das l)nguas majoritrias sobre as l)nguas gestuais, intensificada peloaumento da 'uantidade de sinalizadores no surdos

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    A0 do alfabeto dactilolgico das l)nguas de sinais, e tambm no 3 necessariamente3 uma representao ic>nica da imagem mental estereotipada de /casa0E en'uanto naU)ngua de 9inais 4rasileira $Uibras% o item leical 'ue representa /casa0 liga2seiconicamente ao objeto etra2lingu)stico, na U)ngua Festual -ortuguesa $UF-% o gestoem nada remete + materialidade da /coisa0 apresentada HD. Assim com outros tantos

    sinais, em outras vrias l)nguas gestuais.

    ? 'ue citada de forma breve uma diferena entre a Uibras e a UF- $duas l)nguas desinais distintas em pa)ses 'ue partilham uma mesma l)ngua majoritria%, vale ressaltar'ue as U.9. no so 3 como muitos ainda acreditam 3 universais. Cada pa)s $algumasvezes, cada regio aut>noma dentro de um pa)s% conta com uma ou vrias ID l)nguasde sinais diferentes, e cada grupo de sinalizadores epressa, por sua vez,caracter)sticas espec)ficas 'uanto aos seus usos KD.

    As dezenas de l)nguas de sinais espalhadas pelo mundo gozam de diferentesestatutos e representaes sociais 'ue variam de acordo com o conteto pol)tico,

    econ>mico e cultural dos pa)ses em 'ue so usadas. *n'uanto em alguns *stados asU.9. so reconhecidas como /l)nguas oficiais0 ou meios de epresso legal $como ocaso do 4rasil e de -ortugal%, ou dispem de uma srie de dispositivos constitucionais'ue as regulam, em outros se'uer so mencionadas em pr2projetos de leis ou emagendas pol)ticas de parlamentares.

    6 reconhecimento oficial das l)nguas gestuais no meritrio pelo simples fato de p>rem plano superior 3 com a chancela do governo 3 o prest)gio das U.9., mas pelosdesdobramentos prticos e pol)ticos 'ue implica. Ancorado em um substrato legal,desdobra2se na criao e no fomento de medidas $f)sicas e simblicas% 'ueasseguram a difuso e a efetivao do uso das U.9.E como a regulamentao de novas

    profisses $formadores, consultores, instrutores, intrpretes de l)nguas de sinais, etc.%,a eig@ncia de recursos de acessibilidade para o p&blico 9urdo $como as janelas detraduo em emisses televisivas ou os video relay services3 S59 MD%, a criao e avalorizao de espaos de ensino e investigao $cursos, oficinas, programas, eamese licenciaturas espec)ficas%, entre outras.

    Lm corolrio de novos direitos, aos poucos 3 e com muita luta 3, desdobra2se a partirde novas disposies legais, pavimentando o caminho para uma vida mais cheia depossibilidades para o povo surdo, em todas as suas diferenas.

    "uando interpelados sobre as /linguagens de sinais0, muitos sujeitos envolvidos com

    as U.9. prontamente corrigemE /l)nguas de sinais0. A diferenciao entre linguagem el)ngua, bem como a constante @nfase desse estatuto, evidencia a batalha ideolgicatravada pelo reconhecimento das comunidades surdas como minorias lingu)sticaspossuidoras de uma l)ngua prpria e aut>noma e como espaos de reiterao dasmodalidades viso2motoras de comunicao, /livres0 do jugo ouvintista e oralizador./U)ngua, e no linguagem0, repete2se 3 incansavelmente_ 3 a'ui e alhures.

    -elo senso comum, tambm, ecoam 'uestes comoE /mas um surdo conseguirdiscutir problemas compleos, 'ue eigem uma profunda empreitada terica, por meiodas l)nguas de sinais#0, ou /a simplicidade das l)nguas gestuais permite 'ue autorescomo (egel e (eidegger sejam revisitados e eplicados#0. Zais indagaes desvelama crena, 'uase ine'u)voca, de uma l)ngua cheia de restries e limitaes, como umsistema compensatrio e improvisado de comunicao, por isso pobre e incapaz de

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    assegurar a abordagem de assuntos 'ue eigem /abstraes0 $como referido emfalas corri'ueiras% e recursos lingu)sticos 'ue vo alm de termos simples, imediatos econcretos.

    As l)nguas de sinais, em todas as suas ri'uezas e constantes transformaes,

    garantem a capacidade de epresso e lucubrao sobre 'uais'uer assuntos 'uepossam ser abordados tambm em outras l)nguas, sem preju)zos para os seususurios. A cada dia, milhares de novos gestosTsinais surgem no mundo pararepresentar termos tcnicos, nomes prprios ou conceitos espec)ficos de dezenas dereas do saber distintas.

    Alguns 9urdos $e ouvintes%, em sua maioria escolarizados eTou pes'uisadores dasl)nguas gestuais, dominam um tipo de notao 'ue, graficamente, representa em tetoescrito as U.9E o 9ign]riting $ou *scrita de 9inais%.

    /$J% o sistema pode representar l)nguas de sinais de um modo grfico es'uemtico

    'ue funciona como um sistema de escrita alfabtico, em 'ue as unidades grficasfundamentais representam unidades gestuais fundamentais, suas propriedades erelaes. 6 9ign]riting pode registrar 'ual'uer l)ngua de sinais do mundo sem passarpela traduo da l)ngua falada. Cada l)ngua de sinais vai adapt2lo a sua prpriaortografia0 $9ZL1-V, :;;N, p. K;%.

    *mbora ainda no muito difundido, esse sistema de escrita vem possibilitandoimportantes registos de produes em l)nguas de sinais, preservando2as eeternizando2as sem a mediao e a interfer@ncia das l)nguas majoritrias. *m algumasescolas de surdos, esse tipo de notao grfica introduzido aos alunos, permitindonovas possibilidades de criao de tetos escritos ND.

    Q sobretudo nessas escolas, em consonBncia com outros aparelhos culturais do povosurdo, 'ue se d o ensino e a aprendizagem das l)nguas de sinais e das prticassimblicas das comunidades surdas. A a'uisio das U.9. por crianas surdasacontece em processos semelhantes + a'uisio da fala por crianas ouvintes. Aindape'ueninas, balbuciam os primeiros sinais $o /balbucio manual0%, dando nomes esignificados +s novidades de um mundo por conhecer. * assim percorrem longostrajetos de aprendizagem, como outros tantos pe'uenos OD.

    1uitas so as posies, as convices e os conflitos sobre o ensino e o papel dasl)nguas de sinais em escolas bil)ngues2biculturais e em escolas regulares, dividindo

    surdos, ouvintes, profissionais e pes'uisadores da rea. Alguns defendem o ensinodas U.9. como primeira l)ngua $U

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    - [1] Aumento proocado" so7retudo" pela promo+,o das G$S$ e pelo incrementoda o#erta de cursos e o#icinas de #orma+,o$[%] As unidades m6nimas de signi#ica+,o a menor unidade gramatical que sepode identi#icar" constituinte dos sinais" assim como os mor#emas das l6nguasorais$[>] Em Gi7ras" o sinal de 5ASA #ormado por duas m,os espalmadas que setocam no topo de um tri.ngulo" remetendo ; imagem mental de uma casa$ EmG'P" o gesto indicado por uma m,o #ec8ada indo ao encontro da partesuperior do peito" do lado oposto ; m,o utilizada$[?] @o 5anad!" por e*emplo" utilizam-se a American Sign Ganguage (ASG) e aGangue des Signes u7coise (GS)" consoante a regi,o do pa6s$ Fam7m naEspan8a" onde a Gengua de Signos EspaQola (GSE)" a Glengua de Signes5atalana (GS5) e outras ariantes regionais s,o usadas por Surdos do pa6s$[4] H! algumas dcadas" tenta-se promoer o uso do &'esto nternacional" ou&G6ngua de Sinais nternacional" uma l6ngua criada e usada em algunscongressos" encontros" eentos e atiidades que renem Surdos de di#erentes

    pa6ses$[B] Seri+os de 6deo-interpreta+,o que permitem a tradu+,o das G$S$ para al6ngua oral (e ice-ersa) em comunica+=es ; dist.ncia entre surdos e ouintes"seja por telem

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    estereotipados de fam)lias nucleares heterosseuais, monogBmicas e crists,formadas por me, pai e filhosE entende2se, ao contrrio, a surdez como intricada emdiferentes $poss)veis% arranjos familiares.

    6s conceitos de fam)lia e cultura unem2se de maneira indissocivelE ao mesmo tempo

    em 'ue as configuraes e dinBmicas familiares so atravessadas e regidas pelosimperativos das culturas em 'ue se fundam, as fam)lias so tambm n&cleos de$re%produo de prticas culturais, onde os sujeitos assimilam e incorporam teias designificados 'ue os ordenam e 'ue dirigem as comunidades de 'ue fazem parte.

    Assim, destacam2se as diferenas na constituio de identidades de um sujeito surdocriado em fam)lia ouvinte e outro nascido em fam)lia surda $em 'ue grande parte dosmembros so surdos%. As dinBmicas internas dessas diferentes fam)lias, oaprendizado de vrias prticas simblicas e os processos de endoculturao do2sesobre diferentes eios, $re%definidos por substratos culturais distintos

  • 7/24/2019 Surdez Na Antiguidade

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    esses casos, o ambiente familiar figura como um espao de partilha lingu)stica, ondeadultos e crianas conseguem trocar, desde cedo, conversas, conselhos, ralhos,piadas, ensinamentosJ em uma interao fluida, sem grandes obstculos decomunicao, por meio de uma l)ngua comum $'ue ad'uirida com muito maisfacilidade pelos pe'ueninos%. ?ovens e crianas surdas, no contato com adultos

    9urdos, ganham refer@ncias e modelos de comportamentos bastante vis)veis eempticos, com os 'uais podem afinar suas epectativas, seus desejos e suas aes.As prticas 9urdas, nesse conv)vio primo, so mais facilmente internalizadas, emum processo cont)nuo de aprendizado e $re%ajustamentos.

    *m uma primeira visita a uma casa de surdos, alguns aparelhos logo chamam aatenoE em especial a'ueles 'ue transformam avisos sonoros em sinais luminososou vibratrios. Assim, uma campainha luminosa logo se acende, ao cimo da porta,'uando acionada 3 comumente tambm piscam luzes pela casa. 6 telefone, 'uemuitas vezes possui teclado alfabtico $assim como os telefones p&blicos acess)veispara o p&blico surdo, chamados de Z 3 do ingl@s elecommunications !evice for

    the !eaf%, tambm apita por pisca2pisca de luzes. espertadores vibratrios, babseletr>nicas 'ue reconhecem o choro de beb@s e acionam avisos luminosos no 'uartodos pais, televises com closed"captioncontinuamente ativado $'uando sodisponibilizados%, alm de outros vrios gadgets'ue permitem aos surdos usufru)remsem grandes preju)zos de objetos 'ue 3 geralmente 3 fazem uso do som, compem amob)lia de muitos lares de surdos.

    Alm das fam)lias surdas e das fam)lias ouvintes 'ue esperam de seus filhos surdospadres de comportamentos ouvintes, destacam2se 3 a cada dia mais numerosas 3 asaes de familiares ouvintes $de crianas surdas% 'ue, por reconhecerem aimportBncia das culturas surdas e das l)nguas de sinais para o processo de formao

    de seus filhos, buscam a integrao e a incluso destes no s no universo dos 'ueouvem, mas tambm no mundo 9urdo. o raro buscam profissionais, instituies deapoio, escolas e associaes 'ue permitem novas viv@ncias 9urdas aos seus filhos.esses espaos, conseguem no s apoio para as tarefas de educao dos pe'uenoscomo os introduzem a um mundo de novos significados.

    - [1] @o que diz respeito ;s pr!ticas culturais surdas ou n,o$[%] As in#orma+=es n,o s,o rigorosas" dado as imprecis=es no recenseamento

    desses dados" mas estima-se que mais de J3Y dos surdos #azem parte de#am6lias ouintes$[>] 5omo 7rinca o t6tulo de um liro in#antil escrito por Godenir Iarnopp eVa7iano osa (%334)$