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Surgimento Disciplina relativamente nova. Surgiu como uma das manifestações do pensamento moderno. A evolução do pensamento científico intenta cobrir uma nova área do conhecimento humano ainda não incorporada ao saber científico, qual seja, o mundo social. Reinaldo Dias (2005, p. 3)diz que a sociologia surgiu seguramente no século XIX como decorrência da necessidade dos homens de compreender os inúmeros problemas sociais que estavam aparecendo. Enquanto ciência, a sociologia tinha o objetivo de sistematizar o estudo dos fenômenos sociais em busca de resolução aos problemas sociais. Os sociólogos buscam compreender as diferentes interações entre as pessoas para que possam estabelecer relações de causa e efeito dos diferentes fenômenos sociais e “assim indicar para as organizações públicas e privadas maneiras de atender às necessidades dos indivíduos, buscar os seus direitos, estabelecer os seus deveres ou o que quer que seja para a humanidade como um todo avance em busca de melhor qualidade de vida” (DIAS, idem). Augusto Comte (positivista 2 ): “as sociedades estavam em estado de caos social, era necessário restabelecer a ordem nas idéias e nos conhecimentos”. Comte estabeleceu as bases iniciais do que seria uma ciência social, abriu perspectivas para um novo campo de pesquisa científica o qual se ocupou dos fenômenos sociais. Surgimento da Sociologia: mudanças provocadas pela revolução científico-tecnológica (Revolução Industrial) iniciada no século XVIII. Influência também da Revolução Francesa de 1789. Esse surgimento ocorre num contexto histórico específico: nos derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da sociedade capitalista. (MARTINS, 2007, p. 10). Mudanças profundas no campo social.

Surgimento da sociologia

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Surgimento

Disciplina relativamente nova. Surgiu como uma das manifestações do pensamento moderno. A evolução do pensamento científico intenta cobrir uma nova área do conhecimento humano ainda não incorporada ao saber científico, qual seja, o mundo social.

Reinaldo Dias (2005, p. 3)diz que a sociologia surgiu seguramente no século XIX como decorrência da necessidade dos homens de compreender os inúmeros problemas sociais que estavam aparecendo.

Enquanto ciência, a sociologia tinha o objetivo de sistematizar o estudo dos fenômenos sociais em busca de resolução aos problemas sociais. Os sociólogos buscam compreender as diferentes interações entre as pessoas para que possam estabelecer relações de causa e efeito dos diferentes fenômenos sociais e “assim indicar para as organizações públicas e privadas maneiras de atender às necessidades dos indivíduos, buscar os seus direitos, estabelecer os seus deveres ou o que quer que seja para a humanidade como um todo avance em busca de melhor qualidade de vida” (DIAS, idem).

Augusto Comte (positivista2): “as sociedades estavam em estado de caos social, era necessário restabelecer a ordem nas idéias e nos conhecimentos”. Comte estabeleceu as bases iniciais do que seria uma ciência social, abriu perspectivas para um novo campo de pesquisa científica o qual se ocupou dos fenômenos sociais.

Surgimento da Sociologia: mudanças provocadas pela revolução científico-tecnológica (Revolução Industrial) iniciada no século XVIII. Influência também da Revolução Francesa de 1789.

Esse surgimento ocorre num contexto histórico específico: nos derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da sociedade capitalista. (MARTINS, 2007, p. 10). Mudanças profundas no campo social.

As relações entre as pessoas de uma realidade rural (relações pouco complexas) passam a sofrer modificações em função das novas estruturas sociais que se desenvolveram em torno de uma nova realidade industrial complexa.

“(...) em cerca de cem anos, a Europa de sítios, rendeiros e artesãos tornou-se uma Europa de cidades abertamente industriais (...). Os utensílios manuais e os dispositivos mecânicos simples foram substituídos por máquinas, a lojinha do artífice pela fábrica. (...) Os aldeãos, como as suas antigas ocupações se tornavam supérfluas, emigravam para as minas e para as cidades fabris, tornando-se os operários da nova era (...), enquanto uma classe profissional de empreiteiros, financeiros e empresários, de cientistas, inventores e engenheiros se salientava e se expandia rapidamente”.(HENDERSON apud DIAS, 2005, p. 15).

Principais características da Revolução Industrial:

1. Transformação da economia inglesa, que passou de predominantemente agrária a uma economia industrial.

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1. Relação patrão x empregado; homem x máquina.

Com o advento da Revolução Industrial, surgem novos papéis sociais, principalmente o empresário capitalista e o de operário.

Com a consolidação industrial se configura um ‘mercado de trabalho’, no qual se vendem as ‘capacidades de trabalho’ (na linguagem de Marx, a alienação da força de trabalho). Os novos trabalhadores industriais têm que empregar disciplinadamente3 sua força laboral em benefício dos detentores dos meios-de-produção, do local de trabalho, do maquinário e da matéria-prima (os capitalistas).

“o empresário capitalista foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob o seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos. Cada avanço com relação à consolidação da sociedade capitalista representava a desintegração, o solapamento de costumes e instituições até então existentes e a introdução de novas formas de organizar a vida social” (MARTINS, 2007, p. 12).

Em decorrência da rápida urbanização, é provocado o aumento de problemas sociais, como ausências de moradia, miséria, precariedade de serviços sanitários e de saúde, prostituição, alcoolismo, suicídios, infanticídios, surtos de violências e de epidemias (cólera, tifo) entre outros.

Características fundamentais das novas formas de organização social:

1. Substituição progressiva do trabalho humano por máquinas

1. A divisão do trabalho e a necessidade de sua coordenação (que resulta no empobrecimento intelectual do empregado e não do aumento da habilidade individual).

1. Mudanças culturais no trabalho (problemas na gestão do fator humano – imposição de disciplina rígida e articulação dos indivíduos isolados);

1. Produção de bens em grande quantidade;

1. Surgimento de novos papéis sociais (empresário X operário). Agora os trabalhadores não vendiam mais os seus produtos, mas sua ‘capacidade de trabalho’4.

- Surgimento do proletariado:

Um dos pontos mais significativos dos anos que se seguiram a este estado de coisas foi o surgimento do proletariado, que desempenha um papel histórico essencial ao desenvolvimento da sociedade capitalista.

Os trabalhadores começam a negar suas condições de vida. Passam a se revoltar e destruir máquinas, sabotar oficinas, cometer roubos e crimes, evoluindo para as associações livres, criação de sindicatos, etc. A classe operária começou a organizar-se.

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- Todos esses eventos de impacto social profundo colocaram a sociedade num plano de análise. A sociedade passa a se constituir em “problema”, em “objeto” a ser analisado.

Os primeiros homens que se preocuparam com essas transformações não eram homens da ciência (ainda), mas homens que, pela ação, queriam empreender uma mudança (no século XVIII para o XIV: Owen, Willian Thompson, Jeremy Bentham, por exemplos).

A sociologia surge como constituição de um saber sobre a sociedade, ela constitui uma resposta intelectual às novas situações colocadas pela revolução industrial.

- Mudança no pensamento:

Não só as transformações sociais foram importantes no surgimento da sociologia, mas também uma mudança no pensamento:

Renúncia a uma visão sobrenatural para explicar os fatos, substituindo-a por uma indagação racional. Há modificações na forma de se conhecer a natureza e a cultura.

A experimentação e o método científico são aplicados para o conhecimento da natureza (domínio racional da natureza). O progresso nesse campo é intenso, desde Copérnico a Newton.

A crença cede lugar à dúvida metódica a fim de possibilitar um conhecimento objetivo da realidade.

Esse conhecimento deveria ser estendido e aplicado ao estudo da sociedade. Passa-se a buscar leis gerais sobre a sociedade, campo em que deveriam ser evitadas conjecturas e especulações (Ferguson apud Martins, 2007, p. 19).

O método é o empírico e indutivo (baseado no método das ciências da natureza).

Compreensão de uma lógica do processo histórico (Vico, Hegel, Marx).

Alie-se a esses fatos que o iluminismo e a revolução burguesa (1789) questionavam as instituições da época denunciando-as injustas e irracionais, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e impediam a liberdade do homem.

Surge uma crescente racionalização da vida social. As instituições começam a ser vistas como produtos da atividade do próprio homem, e não fenômenos sagrados e imutáveis. Sendo produtos do homem, elas podem ser transformadas com a ajuda da filosofia e da sociologia (Marx).

A partir da terceira década do século XIX intensificam-se as crises econômicas e as lutas de classe na sociedade francesa. A burguesia, já no poder, começa a utilizar as instituições estatais para conter o movimento social e a “desordem”. Tornam-se evidentes os motivos da revolução burguesa (em prol da burguesia, que se torna elite).

A Revolução segue seu curso: à medida que vai aparecendo a cabeça do monstro, descobre-se que, após ter destruído as instituições políticas, ela suprime as instituições e muda, em seguida, as leis, os usos, os costumes e até a língua; após ter arruinado a

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estrutura do governo, mexe nos fundamentos da sociedade e parece querer agredir até Deus; quando essa mesma Revolução expande-se rapidamente por toda a parte com procedimentos desconhecidos, novas táticas, máximas mortíferas, poder espantoso que derruba as barreiras dos impérios, quebra coroas esmaga povos e – coisa estranha – chega ao mesmo tempo ganhá-los para a sua causa; à medida que todas as coisas explodem o ponto de vista muda. O que à primeira vista parecia aos príncipes da Europa e aos estadistas um acidente comum na vida dos povos, tornou-se um fato novo, tão contrário a tudo que aconteceu antes no mundo e no entanto tão geral, tão monstruoso, tão incompreensível que, ao apercebê-lo, o espírito fica como que perdido (Alexis de Tocqueville apud Martins, 2007 p. 24-26).

Passada a revolução, alguns pensadores franceses como Durkheim e Comte começam a fomentar uma ciência social ao buscar entender a nova realidade provocada pela revolução. Esses pensadores nutriam certo rancor pela revolução, principalmente pelos seus falsos dogmas (liberdade, igualdade e importância do indivíduo em face das instituições sociais). Esses primeiros teóricos começam a utilizar os termos “anarquia”, “perturbação”, “crise”, “desordem” para julgar aquele estado de coisas.

Os novos teóricos propõem racionalizar a nova ordem e encontrar soluções. Para tanto era necessário conhecer as “leis” (científicas) que regem os fatos sociais.

Saint-Simon: “a filosofia do último século foi revolucionária; a do século XX deve ser reorganizadora” (apud Martins, 2007, p. 28).

Auguste Comte: “a nova teoria positiva da sociedade deve ensinar os homens a aceitar a ordem (industrial) existente, deixando de lado sua negação” (idem).

- A sociologia, nova ciência da sociedade, surge com fins e interesses práticos.

A nova ciência assumia como tarefa intelectual repensar o problema da ordem social, enfatizando a importância de instituições como a autoridade, a família5, a hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade.

Mas, no início, a sociologia surge tentando instaurar um estado de equilíbrio, pregando a ordem e a obediência (como a defesa do papel chefe de família por Le Play). A sociologia revestiu-se de indisfarçável conteúdo estabilizador, ligando-se aos movimentos de reforma conservadora da sociedade.

Comte intentava atribuir o status de ciência natural à sociologia, inclusive separando-a, por seu objeto, da filosofia e da economia:

Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que são considerados os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é o objetivo de suas pesquisas. Os resultados de suas pesquisas tornam-se o ponto de partida positivo dos trabalhos do homem de Estado, que só tem, por assim dizer, como objetivo real descobrir e instituir as formas práticas correspondentes a esses dados fundamentais, a fim de evitar, ou pelo menos mitigar, quanto possível, as crises mais ou menos graves que um movimento espontâneo determina, quando não foi

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previsto. Numa palavra, a ciência conduz à previdência, e a previdência permite regular a ação. (apud Martins, 2007 p. 32).

- A sociologia só se liga ao socialismo e ao comunismo posteriormente. À época de Comte se pretendia colocar em questão os fundamentos da sociedade capitalista por intermédio de um estudo por uma ciência positivista.

1.2 O Positivismo

- O positivismo foi uma reação intelectual conservadora às transformações desencadeadas pela Revolução Francesa e Industrial, transformações que não eram previstas pelos filósofos e intelectuais (urbanização, miséria, suicídio, epidemias, etc.).

- Esses conservadores construíram suas obras contra a herança iluminista que, na visão de Auguste Comte, só fazia criticar as velhas instituições sociais (negativismo). O Positivismo tinha a intenção de construir (positiva, portanto) uma nova coesão social, uma nova sociedade saudável sob o solo de instituições fortes como a família, a religião e o grupo social.

- Não obstante, antes de se falar propriamente dos positivistas, é mister mencionar os críticos pioneiros aos revolucionários, os pensadores conhecidos como profetas do passado.

- Os conservadores que foram chamados profetas do passado construíram suas obras contra a herança dos filósofos iluministas. A inspiração desses “profetas” era a sociedade feudal, com sua estabilidade e acentuada hierarquia social (não defendiam propriamente o capitalismo por sua faceta industrial e financeira).

- Responsabilizavam os iluministas e suas idéias como desencadeadores da Revolução de 1789 (um castigo de Deus à humanidade, segundo tais conservadores).

- Os conservadores, defensores fervorosos das instituições religiosas, monárquicas e aristocráticas, que se encontravam em processo de desmoronamento, consideravam as crenças iluministas como aniquiladoras da propriedade, da autoridade, da religião e da própria vida. Julgavam a época moderna era dominada pelo caos social. A Revolução de 1789 era o último elo dos acontecimentos nefastos iniciados com o Renascimento, a Reforma Protestante e a era da razão.

- Exemplos desses pensadores: Edmund Burke (1729-1797), Joseph de Maistre (1754-1821), Louis de Bonald (1754-1840).

- Pois bem. Estes profetas do passado, conservadores, constituíram um ponto de referência para os pioneiros da sociologia, interessados na preservação da nova ordem econômica e política que estava sendo implantada na Europa daquela época.

- Mas estes pioneiros adaptaram as concepções dos profetas do passado às novas circunstâncias históricas. Não era possível o retorno à sociedade feudal e a restauração de suas instituições. Mas o que encantava os pensadores pioneiros da sociologia era a devoção daqueles “profetas” na tentativa de manutenção da ordem.

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- Os primeiros positivistas, Sait-Simon (1760-1825), Auguste Comte (1798-1857) e Émile Durkheim (1858-1917), revisaram algumas das idéias conservadoras e as adaptaram na tentativa de alcançar meios de manutenção da ordem na nova sociedade, defendendo os interesses dominantes da sociedade capitalista (Martins, 2007 p. 40).

- Saint-Simon é considerado o mais eloqüente dos profetas da burguesia, um entusiasta da sociedade industrial. Para ele as relações sociais haviam se tornado instáveis e o problema a ser enfrentado era o da restauração da ordem. Via no industrialismo a possibilidade de satisfação das necessidade humanas e constituía a única fonte de riqueza e prosperidade.

- A função do pensamento social neste contexto deveria ser a de orientar a industria e a produção.

Os fundamentos da reflexão sociológica a partir da problematização do mundo social .

Para alguns, a Sociologia representa uma poderosa arma a serviço dos interesses dominantes; para outros, é a expressão teórica dos movimentos revolucionários. Mas afinal, o que é Sociologia ?

A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições.

Enquanto o indivíduo isolado é estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda os fenômenos que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos de tamanhos diversos, e interagem no interior desses grupos.

Pondo-se de lado alguns trabalhos precursores, como os de Maquiavel ( Itália em Florença, 1469 - 1527) e Montesquieu ( França em Bordéus, 1689 - 1755), o estudo científico dos fatos humanos somente começou a se constituir em meados do século XIX. Nessa época, assistia-se ao triunfo dos métodos das ciências naturais.

Diante da comprovação inequívoca da fecundidade do caminho metodológico apontado por Galileu ( Itália em Pisa, 1564 - 1642) e outros, alguns pensadores que procuravam conhecer cientificamente os fatos humanos passaram a abordá-los segundo as coordenadas das ciências naturais. Outros, ao contrário, afirmando a peculiaridade do fato humano e a conseqüente necessidade de uma metodologia própria. Essa metodologia deveria levar em consideração o fato de que o conhecimento dos fenômenos naturais e um conhecimento de algo externo ao próprio homem, enquanto nas ciências sociais o que se procura conhecer é a própria experiência humana ( interna ).

De acordo com a distinção entre experiência externa e experiência interna, poder-se-ia distinguir uma série de contrastes metodológicos entre os dois grupos de ciências. As ciências exatas partiriam da observação sensível e seriam experimentais, procurando obter dados mensuráveis e regularidades estatísticas que conduzissem à formulação de leis de caráter matemático.

As ciências humanas, ao contrário, dizendo respeito à própria experiência humana, seriam introspectivas, utilizando a intuição direta dos fatos, e procurariam atingir não

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generalidades de caráter matemático, mas descrições qualitativas de tipos e formas fundamentais da vida do espírito.

Os positivistas (como eram chamados os teóricos da identidade fundamental entre as ciências exatas e as ciências humanas) tinham suas origens sobretudo na tradição empirista inglesa que remonta a Francis Bacon ( Inglaterra em Londres, 1561 – 1626 ) e encontrou expressão em David Hume ( Escócia em Edimburgo, 1711 – 1776 ), nos utilitaristas do século XIX e outros. Nessa linha metodológica de abordagem dos fatos humanos se colocariam Augusto Comte ( França, 1798 – 1857 ) e Émile Durkheim ( França, 1858 – 1917 ), este considerado por muitos como o fundador da sociologia como disciplina científica. Os antipositivistas, adeptos da distinção entre ciências humanas e ciências naturais, foram sobretudo os alemães, vinculados ao idealismo dos filósofos da época do Romantismo, principalmente Hegel ( Alemanha em Esturgarda, 1770 – 1831 ) e Schleiermacher ( Polônia em Breslau, 1768 – 1834 ). Os principais representantes dessa orientação foram os neokantianos Wilhelm Dilthey ( Alemanha em Briebrich, Renânia, 1833 – 1911 ), Wilhelm Windelband ( Alemanha em Potsdam, 1848-1915) e Heinrich Rickert ( Alemanha em Danzig, 1863 – 1936 ).

Dilthey estabeleceu uma distinção que fez fortuna: entre explicação (erklären) e compreensão (verstehen). O modo explicativo seria característico das ciências naturais, que procuram o relacionamento causal entre os fenômenos. A compreensão seria o modo típico de proceder das ciências humanas, que não estudam fatos que possam ser explicados propriamente, mas visam aos processos permanentemente vivos da experiência humana e procuram extrair deles seu sentido.

Os sentidos (ou significados) são dados, segundo Dilthey, na própria experiência do investigador, e poderiam ser empaticamente apreendidos por outros em interação com ele conforme a vivência de cada um.

Dilthey (como Windelband e Rickert), contudo, foi sobretudo filósofo e historiador e não, propriamente, cientista social, no sentido que a expressão ganharia no século XX. Outros levaram o método da compreensão ao estudo de fatos humanos particulares, constituindo diversas disciplinas compreensivas. Na sociologia, a tarefa ficaria reservada a Max Weber.

Levando-se em conta os esforços realizados por tantos pensadores, desde a Antigüidade, para entender a sociedade e o seu desenvolvimento , a Sociologia poderia ser considerada a mais velha de todas as ciências, e a mais acolhedora. Tanto que hoje em dia praticamente todo mundo é “sociólogo” — “porque todos estamos sempre analisando os nossos comportamentos e as nossas experiências interpessoais”1 —, pois, até por razões emocionais, de alguma forma nos acostumamos a contemplar e a dar palpite sobre os movimentos da sociedade, as forças que conduzem os seres humanos, as razões dos conflitos sociais, as origens da família, as relações entre Estado e Direito, o funcionamento dos sistemas políticos, a função das ideologias e das religiões etc. Segundo esse raciocínio, podem ter sido sociólogos os veneráveis santos Agostinho (Tagasta, Numídia ao norte da África, 354 – 430 ) e Tomás de Aquino ( Campânia no sul da Itália, 1225 – 1274 ) e padre Antônio Vieira (Portugal em Lisboa, 1608 - 1697), que interpretavam a realidade social de acordo com os dogmas e interesses da Igreja Católica, bem como os notáveis lbn Khaldun, historiador islâmico ( Tunísia, 1332 – 1406 ) e Maquiavel, que criticavam toda interpretação teológica da sociedade.

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Ibn Khaldun, é um precursor das ciências sociais e é reconhecido como o historiador principal do mundo árabe em seu tempo. Mas, o mundo árabe de então dominava também o Mediterrâneo, Espanha e metade de Europa do leste. É considerado como hispânico-árabe pois sua família foi uma das principais e mais antigas de Sevilha, embora tivesse nascido na Tunísia e morrido no Cairo. Era diplomata e estadista, professor nas instituições precursoras do que hoje associamos a idéia de universidade e magistratura.

Sua obra mestra é “Muqaddimah” ou “introdução à história”, que trata do mundo árabe e muçulmano. Entretanto, julgou necessário conformar uma teoria da história e do seu método, e ao o fazê-lo, produziu um tratado que segundo alguns, como Arnold Toynbee ( Inglaterra, 1889 – 1975 ) , «desarrolla una filosofía de la historia que es sin duda lo más grandioso de su tipo jamás escrito, en cualquier tiempo o lugar». Mais do que um tratado da história ou da sua filosofia, é um exemplo de um enfoque analítico sobre o fenômeno social que hoje em dia nós chamamos Sociologia. O livro I de sua história é um tratado geral da Sociologia; o II e o III são sobre a sociologia da política (o que hoje chamamos de Ciência Política); o IV é sobre economia política e o V versa sobre educação e conhecimento.

Toda a obra está estruturada em torno de um conceito que chamou “asabiyah”, ou coesão social. Este é o elemento ordenador do fenômeno social que surge espontaneamente das relações entre as pessoas e os grupos, que pode ser conformado e institucionalizado pela cultura e a religião, mas que também pode ser destruído ou debilitado pela decadência.

Ibn Khaldun é um precursor das ciências sociais modernas ao anunciar a existência de determinada ordem social subjacente ao fenômeno político, econômico, legal e moral.

Em suas palavras, ao definir, o que viu como a ciência nova que chamou “im al umran”, ou ciência da cultura: “Esta ciência tem seu próprio objeto de estudo, ou seja, a sociedade humana, com seus problemas e suas mudanças que se sucedem conforme essa natureza própria da sociedade”. ( traduzido do artigo original em espanhol )

Porém, a trajetória da Sociologia no Ocidente , só começa a ser delineada com o movimento político e intelectual conhecido como Iluminismo ( Inglaterra, Holanda e França, 1590 - séc XVII e XVIII ), que exerceu enorme influência no século XVIII, propondo reformas no interesse das classes privilegiadas ( elite ), conforme leis que regeriam ao mesmo tempo a sociedade, o universo e a natureza e a Revolução Industrial ( Inglaterra, 1750 com introdução da máquina a vapor - séc. XVIII em diante ). Em seguida, após a Revolução Francesa ( França, 1789 – 1799 ) e a queda do Antigo Regime (regime político vigente na França até a Rev. Francesa ), a Sociologia adquiriu os traços que ostenta hoje em dia, aos poucos destituindo-se da roupagem de ciência ética, de filosofia política ou social, preocupada em determinar uma ordem justa das relações humanas, para concentrar-se na descrição e interpretação dos elementos — desempenhos, grupos, valores, normas e modelos sociais de conduta — que determinam a integração dos sistemas sociais.

Revolução Século / Ano Esfera de atuação e impactoIluminismo a partir de 1590, séc. XVII – XVIII ideológica

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Industrial segunda metade do séc. XVIII ( 1750 ) econômicaFrancesa segunda metade do séc. XVIII ( 1789 ) política

Nesse sentido, a Sociologia é um fenômeno estrito e uma ciência, característica da sociedade moderna.

O termo Sociologie foi cunhado por Auguste Comte, que esperava unificar todos os estudos relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e a Economia. Seu esquema sociológico era tipicamente positivista, (corrente que teve grande força no século XIX), e ele acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas fases históricas distintas e que, se a pessoa pudesse compreender este progresso, poderia prescrever os remédios para os problemas de ordem social.

O surgimento da sociologia ocorreu num momento de grande expansão do capitalismo, desencadeado pela dupla revolução – a industrial e a francesa. O triunfo da indústria capitalista na revolução industrial desencadeou uma crescente industrialização e urbanização, o que provocou radicais modificações nas condições de existência e nas formas habituais de vida de milhões de seres humanos. Estas situações sociais radicalmente novas, impostas pela sociedade capitalista, fizeram com que a sociedade passasse a se constituir em "problema". Diante disso, pensadores ingleses da época procuraram extrair dessas novas situações temas para a análise e a reflexão, no objetivo de agir, tanto para manter como para reformar ou modificar radicalmente a sociedade de seu tempo. Isto foi fundamental para a formação e a constituição de um saber sobre a sociedade. Outra circunstância que também influenciou e contribui para a formação da sociologia se deve às transformações ocorridas nas formas de pensamento, originadas pelo Iluminismo.

As transformações econômicas que o ocidente europeu presenciou desde o século XVI, provocaram modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura. A partir daí, o pensamento deixa de ter uma visão sobrenatural para a explicação dos fatos da natureza e passa a ser substituído pelo uso da razão.

O emprego sistemático da razão representou um avanço para libertar o conhecimento do controle teológico, da tradição, da revelação e para a formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura. Essas novas maneiras de produzir e viver, propiciaram um visível progresso das formas de pensar e contribuíram para afastar interpretações baseadas em superstições e crenças infundadas, abrindo conseqüentemente um espaço para a constituição de um saber sobre os fenômenos histórico-sociais.

Esta crescente racionalização da vida social não era um privilégio somente de filósofos e homens que se dedicavam ao conhecimento, mas também, do homem comum dessa época, que renunciava cada vez mais os fatos submetidos às forças sobrenaturais, passando a percebê-los como produtos da atividade humana, passíveis de serem conhecidos e transformados.

A revolução francesa contribuiu para o surgimento da sociologia na medida em que o objetivo dessa revolução era mudar a estrutura do Estado monárquico e, ao mesmo tempo, abolir radicalmente a antiga forma de sociedade; promover profundas inovações na economia, na política, na vida cultural, etc; além de desferir seus golpes contra a

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Igreja. Tais atitudes ocasionaram profundos impactos, causando espanto aos pensadores da época e à própria burguesia, já instalada no poder. Diante disso, esses pensadores se incumbem à tarefa de racionalizar a nova ordem e encontrar soluções para o estado de "desorganização" então existente. Mas, para estabelecer esta tarefa seria necessário, segundo eles, conhecer as leis que regem os fatos sociais e instituir uma ciência da sociedade.

Assim, pensadores positivistas da época concluíram que, para restabelecer a organização e o aperfeiçoamento na sociedade, seria necessário fundar uma nova ciência. Essa nova ciência assumia, como tarefa intelectual, repensar o problema da ordem social, ressaltando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade. A oficialização da sociologia foi, portanto, em larga medida, uma criação do positivismo que procurará realizar a legitimação intelectual do novo regime.

Foram as idéias desenvolvidas por incontáveis homens e mulheres, ao longo da história humana, que começa na Mesopotâmia e no Egito a mais de quatro mil anos antes do nascimento de Cristo, que reunidas, trabalhadas e revistas, formaram o que hoje temos como CONHECIMENTO em todas as áreas da vida.

A Sociologia foi o resultado da união de inúmeros pensadores, nas diversas partes do mundo. Alguns se conheciam, muitos outros nunca se viram. Uns complementando outros, até formar o que conhecemos como ciência sociológica ou ciência da sociedade ou Sociologia. Destes tantos, quatro pensadores foram responsáveis por estruturar os fundamentos da Sociologia possibilitando criar três linhas mestras explicativas, fundadas por eles e aos quais iremos estudar com mais profundidade:

1) a Positivista-Funcionalista, tendo como fundador Auguste Comtee seu principal expoente clássico Émile Durkheim( França, 1858 – 1917 ), de fundamentação analítica;

2) a Sociologia Compreensiva iniciada por Max Weber( Alemanha, 1864 – 1920 ), de matriz teórico-metodológica hermenêutico-compreensiva; e

3) a Sociologia dialética, iniciada por Karl Marx( Inglaterra, 1818 – 1883 ) que mesmo não sendo um sociológo e sequer se pretendendo a tal, deu início a uma profícua linha de explicação sociológica.

Teórico Princípios TeóricosAuguste Comte

Positivismo

Émile Durkheim 

Fato Social, Consciência coletiva, Anomia

Max Weber Ação Social

Karl Marx Modo de produção, mais-valia, acumulação primitiva, alienação, materialismo histórico, ideologia, luta de classes, materialismo dialético

Como fazer ciência ? Com OBJETO e MÉTODO

Parte II – os Clássicos da Sociologia

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Auguste Comte

O núcleo da filosofia de Comte radica na idéia de que a sociedade só pode ser convenientemente reorganizada através de uma completa reforma intelectual do homem. Ele achava que antes da ação prática, seria necessário fornecer aos homens novos hábitos de pensar de acordo com o estado das ciências de seu tempo. Por essa razão, o sistema comteano estruturou-se em torno de três temas básicos : em primeiro lugar, uma filosofia da história com o objetivo de mostrar as razões pelas quais uma certa maneira de pensar (chamada por ele filosofia positiva ou pensamento positivo) deve imperar entre os homens. Em segundo lugar, uma fundamentação e classificação das ciências baseadas na filosofia positiva. Finalmente, uma sociologia que, determinando a estrutura e os processos de modificação da sociedade permitisse a reforma prática das instituições.

A contribuição principal de Comte à filosofia do positivismo foi sua adoção do método científico como base para a organização política da sociedade industrial moderna.

O estado positivo corresponde à maturidade do espírito humano. O termo positivo designa o real em oposição ao quimérico, a certeza em oposição à indecisão, o precisoem oposição ao vago. É o que se opõe as formas teológicas ou metafísicas de explicação do mundo.

Ex: a explicação da queda de um objeto ou corpo: o primitivo explicaria a queda como uma ação dos deuses; o metafísico Aristóteles explicaria a queda pela essência dos corpos pesados, cuja natureza os faz tender para baixo, onde seria seu lugar natural; Galileu, espírito positivo, não indagaria o porquê, não procuraria as causas primeiras e últimas, mas se contentaria em descrever como o fenômeno da queda ocorre.

Não era apenas quanto ao método de investigação que a filosofia positivista se aproximava das ciências da natureza. A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo.

Características do Positivismo

A realidade é formada por partes isoladas, de fatos atômicos; a explicação dos fenômenos se dá através da relação entre eles; não se interessa pelas causas, mas pelas relações entre os fenômenos; rejeição ao conhecimento metafísico; há somente um método para a investigação dos dados naturais e sociais. Tanto um quanto outro são regidos por leis invariáveis.

Em sua Lei dos três estados ou estágios do desenvolvimento intelectual, Comte teoriza que o desenvolvimento intelectual humano havia passado historicamente primeiro por um estágio teológico, em que o mundo e a humanidade foram explicados nos termos dos deuses e dos espíritos; depois através de um estágio metafísico transitório, em que as explanações estavam nos termos das essências, de causas finais, e de outras abstrações; e finalmente para o estágio positivo moderno. Este último estágio se distinguia por uma consciência das limitações do conhecimento humano.

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Lei dos Três Estados - característicasEstado Teológico Estado Metafísico Estado Positivo

- tudo tem origem no sobrenatural- época dos sacerdotes e militares- domínio da organização militar

- tudo tem origem na razão, na natureza e em forças misteriosas|- época jurídica- prevalece a organização jurídica

- ciência substitui a razão, natureza e forças misteriosas- época industrial- predomínio do intelectual, principalmente o sociólogo|- a economia se junta à sociologia para, juntas, guiarem os destinos da organização social

Comte tentou também uma classificação das ciências; baseada na hipótese que as ciências tinham se desenvolvido a partir da compreensão de princípios simples e abstratos, para daí chegarem à compreensão de fenômenos complexos e concretos.

Assim as ciências haviam se desenvolvido a partir da matemática, da astronomia, da física, e da química para atingir o campo mais complexo da biologia e finalmente da sociologia.

De acordo com Comte, esta última disciplina, a Sociologia, não somente fechava a série mas também reduziria os fatos sociais a leis científicas, e sintetizaria todo o conhecimento humano, como ápice de toda a ciência.

Embora não fosse dele o conceito de sociologia ou da sua área de estudo, Comte ampliou seu campo e sistematizou seu conteúdo. Dividiu a Sociologia em dois campos principais: Estática social, ou o estudo das forças que mantêm unida a sociedade; e Dinâmica social, ou o estudo das causas das mudanças sociais.

ESTUDO DA ESTÁTICA SOCIAL = ORDEM

O estudo da estática social deve ser iniciado com o entendimento do Consenso Social, que é a interdependência social ou interpenetração dos fenômenos sociais. Segundo Comte os fenômenos sociais só podem ser estudados em conjunto porque eles são fundamentalmente conexos. E é pelo Consenso Social que pode existir a Harmonia Social.

A sociedade é composta de unidades chamadas de células sociais. Essas células são famílias e não indivíduos. A família, portanto, é a verdadeira unidade social por ser a associação mais espontânea que existe. Ela é a fonte espontânea da educação moral e constitui a base natural da organização política.

A sociedade deve ser organizada com base no "organismo doméstico", que tem como características principais:

subordinação - subordinação espontânea da mulher ao homem e dos filhos aos pais

união - a família é possível graças a união de seus membros cooperação - a sociabilidade no meio familiar é possível graças à cooperação altruísmo - o sentimento familiar desenvolve o prazer de fazer pelo outro e para

o outro.

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Toda sociedade deve possuir uma ordem, proveniente dos instintos sociais do indivíduo e que se manifesta através da família. Essa ordem exige, para sua sobrevivência, de uma autoridade. Na família essa autoridade é o marido e na sociedade é o governo. Não há sociedade sem governo, nem governo sem sociedade.

O governo deve manter uma intervenção "universal e contínua" na sociedade, de forma material, intelectual e moral, para evitar que o progresso a inviabilize. Segundo Comte, o progresso enfraquece a união e a cooperação, fragilizando a ordem. Essa é a intervenção do "conjunto sobre as partes".

As forças sociais que determinam as estruturas sociais são a material, a intelectual e a moral. A organização social baseia-se na divisão do trabalho social e na combinação de esforços.

ESTUDO DA DINÂMICA SOCIAL = PROGRESSO

Todo estado social é uma conseqüência do passado e uma preparação para o futuro. Não há espaço para quaisquer vontades superiores. As leis que regem o estado social são leis análogas às leis biológicas. E exatamente por essa analogia conclui-se que a humanidade caminha para a completa autonomia, o que ocorrerá quando for ultrapassada a sua etapa metafísica.

Mas nada é eterno! A evolução da sociedade, da mesma forma que no indivíduo, leva-a para o inevitável caminho da decadência final.

No início a humanidade assumiu a fase teológica ou fictícia, que foi uma fase provisória, mas o ponto de partida necessário para todo o processo cultural.

A segunda fase é a metafísica ou abstrata, que é transitória, onde os agentes sobrenaturais são substituídos por força abstratas, entendidas como seres do mundo.

A terceira fase é a positiva, científica ou real, que é a fase definitiva da humanidade, quando o homem descobre a impossibilidade de obter conhecimentos absolutos e desiste de indagar sobre a origem e a finalidade do universo, assim como sobre as causas íntimas dos fenômenos. O homem passa a se preocupar apenas em descobrir as leis efetivas que estabelecem as relações invariáveis de sucessão e semelhança. Estuda-se as leis a abandona-se a pesquisa das causas.

Problema fundamental do estado positivo: conciliação da ordem com o progresso, que é a condição necessária ao aparecimento do verdadeiro sistema político. Toda ordem estabelecida deverá ser compatível com o progresso, assim como todo progresso, para ser realizado, deverá permitir as consolidação da ordem.

Estado Positivo significa o fracasso da Teologia e da Metafísica. Em seguida virá o domínio do Positivismo e da Sociologia, fazendo surgir a "Religião da Humanidade", com o predomínio do altruísmo e da harmonia social.

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COMO SURGIU A SOCIOLOGIA?

A sociologia, ciência que tenta explicar a vida social, nasceu de uma mudança radical da sociedade, resultando no surgimento do capitalismo.

O século XVIII foi marcado por transformações, fazendo o homem analisar a sociedade, um novo "objeto" de estudo. Essa situação foi gerada pelas revoluções industrial e francesa, que mudaram completamente o curso que a sociedade estava tomando na época. A Revolução Industrial, por exemplo, representou a consolidação do capitalismo, uma nova forma de viver, a destruição de costumes e instituições, a automação, o aumento de suicídios, prostituição e violência, a formação do proletariado, etc. Essas novas existências vão, paulatinamente, modificando o pensamento moderno, que vai se tornando racional e científico, substituindo as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum.

Na Revolução Francesa, encontra-se filósofos a fim de transformar a sociedade, os iluministas, que também objetivavam demonstrar a irracionalidade e as injustiças de algumas instituições, pregando a liberdade e a igualdade dos indivíduos que, na verdade, descobriu-se mais tarde que esses eram falsos dogmas. Esse cenário leva à constituição de um estudo científico da sociedade.

Contra a revolução, pensadores tentam reorganizar a sociedade, estabelecendo ordem, conhecendo as leis que regem os fatos sociais. Era o positivismo surgindo e, com ele, a instituição da ciência da sociedade. Tal movimento revalorizou certas instituições que a revolução francesa tentou destruir e criou uma "física social", criada por Comte, "pai da sociologia". Outro pensador positivista, Durkheim, tornou-se um grande teórico desta nova ciência, se esforçando para emancipa-la como disciplina científica.

Foi dentro desse contexto que surgiu a sociologia, ciência que, mesmo antes de ser considerada como tal, estimulou a reflexão da sociedade moderna colocando como "objeto de estudo" a própria sociedade, tendo como principais articuladores Auguste Conte e Émile Durkheim.

(AUGUSTO COMTE, O CRIADOR DA SOCIOLOGIA)O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA

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Podemos entender a Sociologia como uma das manifestações do pensamento moderno.O seu surgimento ocorre num contexto histórico específico, que coincide com os derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista. O século XVIII constitui um marco importante para a história do pensamento ocidental e para o surgimento da Sociologia.A dupla revolução que este século testemunha. – A industrial e a francesa – constituía os dois lados de um mesmo processo, qual seja a instalação definitiva da sociedade capitalista.Na Revolução industrial significou algo mais do que a introdução da máquina a vapor e dos sucessivos aperfeiçoamentos dos métodos produtivos. Ela representou o triunfo da indústria capitalista, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos.A cada avanço com relação á consolidação da sociedade capitalista representava a desintegração, o solapamento de costumes e instituições até então existentes e a introdução de novas formas de organizar a vida social.A utilização da máquina na produção não apenas destruiu o artesão independente. Este foi também submetido a uma severa disciplina, a novas formas de conduta e de relações de trabalho, completamente diferentes das vividas anteriormente por ele.A formação de uma sociedade que se industrializava e urbanizava em ritmo crescente implicava a reordenação da sociedade rural, a destruição da servidão, o desmantelamento da família patriarcal, etc.A transformação da atividade artesanal em manufatureira e, por último, em atividade fabril, desencadeou uma maciça emigração do campo para a cidade, assim como engajou mulheres e crianças em jornadas de trabalho de pelo menos doze horas. A desaparição dos pequenos proprietários rurais, dos artesões independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho, teve um efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modifi car radicalmente suas formas habituais de vida. As desaparições dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho, tiveram um efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modifi carradicalmente suas formas habituais de vida.Estas transformações, incluindo as cidades, passavam por um vertiginoso crescimento demográfi co, sem possuir, no entanto, uma estrutura de moradias, de serviços sanitários, de saúde.As conseqüências da rápida industrialização e urbanização levadas a cabo pelo sistema capitalista foram tão visíveis quanto trágicas: aumento da prostituição, do suicídio, de surtos de epidemia de tifo e cólera.Um dos fatos de maior importância relacionados com a revolução industrial é sem dúvida o aparecimento do proletariado e o papel histórico que ele desempenharia. Os efeitos catastróficos que esta revolução acarretava para a classe trabalhadora levaramna a negar suas condições e vida. As manifestações atravessam várias fases:destruição as máquinas, atos de sabotagem, roubos e crimes, evoluindo para a criação de associações livres, etc.A conseqüência desta crescente organização foi a de que os “pobres” deixaram de se confrontar com os “ricos”; mas uma classe específi ca, a classe operária, começava a organizar-se.Qual a importância desses acontecimentos para a sociologia?O que merece ser salientado é que a profundidade das transformações em curso colocava a sociedade num plano de análise, ou seja, Visto que na nascente sociedade industrial produziria fenômenos inteiramente novos que mereciam serem analisados.A sociologia constitui em certa medida uma resposta intelectual ás novas situações

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colocadas pela revolução industrial. É a formação de uma estrutura social muito específica – a sociedade capitalista – que impulsiona uma reflexão sobre a sociedade.O pensamento paulatinamente vai renunciando a uma visão sobrenatural para explicar os fatos e substituindo-a por uma indagação racional. A aplicação da observação e da experimentação, ou seja, do método científi co para a explicação da natureza, conhecia uma fase grandes avanços.O emprego sistemático da observação e da experimentação como fonte para a exploração dos fenômenos da natureza estava possibilitando uma grande acumulação de tatos. Possibilitando controlar e dominar.Outro fator para o surgimento da sociologia foi dada pelas modifi cações que vinham ocorrendo nas formas de pensamento. Assim como abriu um espaço para a constituição de um saber sobre os fenômenos históricos sociais.Nesse caso, o “homem comum” também deixava, cada vez mais, de encarar as instituições sociais, as normas, como fenômenos sagrados e passando a percebê-las como produtos da atividade humana.Nesse período segue-se a tomada do poder pela burguesia, 1789, a tarefa que esses pensadores se propõem é a de racionalizar a nova ordem, encontrando soluções para o estado de “desorganização” então existente. Mas para restabelecer a “ordem e a paz”, pois é a esta missão que esses pensadores se entregam, para encontrar um estado de equilíbrio na nova sociedade, seria necessário, segundo eles, conhecer as leis que regem os fatos sociais, instituindo, portanto uma ciência da sociedade.A verdade é que a burguesia, uma vez instalada no poder, se assusta com a própria revolução (por exemplo, os jacobinos).Seria necessário controlar e neutralizar novos levantes revolucionários. Assim, o projeto revolucionário da burguesia, deveria de agora em diante ser “superada”por uma outra que conduzisse não mais à revolução, mas à “organização”, ao “aperfeiçoamento” da sociedade.Determinados pensados da época estavam imbuídos da crença de que para introduzir uma “higiene” na sociedade, para “reorganizá-la”, seria necessário fundar uma nova ciência. Enquanto resposta intelectual à “crise social” de seu tempo, os primeiros sociólogos irão revalorizar determinadas instituições que segundo eles desempenham papéis fundamentais na integração e na coesão da vida social.

ATIVIDADESQUESTÃO 0101. “A Sociologia é a ciência é dos problemas sociais que emergem com a chegada do século XVIII. Que tem um marco econômico e outro político e social”. TELES, Mª Luiza. Sociologia para Jovens. Petropólis – RJ, Ed. Vozes: 2002. Sobre os aspectos que determinam o surgimento da sociologia é correto afirma que:a) O renascimento Comercial e Urbano, assim com, a ascenção das monarquias absolutistas determinou o surgimento das ciências sociais.b) Com a revolução Francesa e a Revolução Industrial a Europa passa por grandes transformações sociais, políticas e econômicas que determinam o surgimento da Sociologia.c) É a partir da desagregação feudal e da consequênte consolidação do trabalho servil que a sociologia passa a ter seus fundamentos estabelecidos.d) A partir da consolidação do modo de produção feudal a Sociologia passa a ser todos os fundamentos necessários para se organizar sistematicamente como ciência.e) É somente com a revolução Francesa que a sociedade européia passa a ter a consolidação do poder nobiliárquico e o surgimento da sociologia.

QUESTÃO 02

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02. Nos séc. XV e XVI o conhecimento racional do universo e da dos homens em sociedade começa a ser uma regra seguida; é uma mudança lenta, sempre enfrentando embates contra o dogmatismo e a autoridade da igreja, criando uma nova atitude diante das possibilidades de explicar a sociedade humana”. Essas formas de conhecer a sociedade eram fundamentadas:a) O homem não deveria questionar sobre a sua realidade social, suas mazelas, visto que era a natureza das coisas, somente.b) A irracionalidade e a busca do pensamento religioso explicaria a realidade.c) A desigualdade social seria apenas fruto da vontade divina.d) a experimentação e a observação, como fundamentos para compreender as leis da natureza e da sociedade.e) O universo teria que se visto apenas de um ponto de vista, apoiado na racionalidade.

QUESTÃO 0303. Selecione as afirmativas que Indicam o contexto histórico, social e filosófico que possibilitou a gênese da sociologia.I. A sociologia é um produto das revoluções francesa e industrial e foi uma resposta as novas situações colocadas por estas revoluções.II. O pensamento filosófico dos séculos XVII e XVIII contribuiu para popularizar os avanços científicos, sendo a teologia a forma norteadora desse pensamento.III. A formação de uma sociedade, que se industrializava e urbanizava em ritmo crescente, propiciou o fortalecimento da servidão e da família patriarcal.Assinale a alternativa correta.a) apenas I, II b) todas I, II e IIIc) apenas II e III d) apenas I

QUESTÃO 0404. Sobre o surgimento da Sociologia, podemos firmar que:I. A consolidação do sistema capitalista na Europa no século XIX forneceu os elementos que serviram de base para o surgimento da sociologia como ciência particular.II. O homem passou ser a visto, do ponto de vista sociológico, a partir de sua inserção na sociedade e nos grupos sociais que a constituem.III. Aquilo que a sociologia estuda constitui-se historicamente como o conjunto de relacionamentos que os homens estabelecem entre si na vida em sociedade.IV. Interessa para a sociologia não os indivíduos isolados, mas inter-relacionados com os diferentes grupos sociais dos quais fazem parte, como a escola, a família, as classes sociais etc.a) II e III estão corretas.b) Todas as afirmativas estão corretas.c) I e IV estão corretas.d) I, III e IV estão corretas.e) II, III e IV estão corretas.

QUESTÃO 0505. Assinale a alternativa correta. O surgimento da sociologia foi propiciado pela necessidade de:a) Manter a interpretação mágica da realidade, como patrimônio de um restrito círculo sacerdotal.b) Manter uma estrutura de pensamento mítica para a aplicação do mundo.c) Condicionar o indivíduo, através dos rituais, a agir e pensar conforme os

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ensinamentos transmitidos pelos deuses.d) Considerar os fenômenos sociais como propriedade exclusiva de força transcendentais.e) Observar, medir e comprovar as regras que tornassem possível, através da razão, prever e controlar os fenômenos sociais

O lugar e o limite da contribuição de Karl Marx para a Sociologia do Conhecimento na perspectiva de Karl Mannheim DEFFACCI, Fabricio.A.1

CEPÊDA, Vera.A.2

IntroduçãoO sociólogo alemão Karl Mannheim (1894-1947) é freqüentemente citado como idealizador da Sociologia do Conhecimentoe por extensão pela apresentação de uma nova metodologia de interpretação dos fenômenos sociais.Em sua maioria estas referências destacam traços gerais de sua obra e poucos estudostrabalham com a totalidade do pensamento mannheiniano que se multiplica em váriasdireções (epistemologia, sociologia, política e educação), ou se aprofundam no papel quesuas teses representaram na consolidação das ciências sociais, notadamente a sociologia sistêmica. Nesta comunicação o objetivo é analisar especificamente parte importante dessa contribuição, a concepção de ontologiasocial(base epistemológica da Sociologia do Conhecimento) e sua relação com a teoria marxista, em especial a determinação materia

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l do pensamento na configuração do tema da ideologia. Propomos em primeiro lugar estabelecer o percurso histórico que permitiu a ruptura com o idealismo metafísico – destacando o papel exercido pela publicação de A ideologia alemã e a ressonância dessa concepção na formulação de Mannheim; e em segundo lugar, analisar as características singulares da contribuição mannheiniana a este problema, utilizando como base Sociologia do Conhecimento (1925) e Ideologia e Utopia (1929). Um primeiro ponto a ser investigado (ou enunciado) ao se tratar da metodologia proposta pela sociologia do conhecimento deve ser oestudo de sua própria emergência no cenário histórico. Esta preocupação é central em Mannheim ao analisar o processo pelo qual teria ocorrido um descolamento tanto das concepções apriorísticas do conhecimento (tomado como Verdade absoluta), como da multiplicação dos focos produtores de ‘verdades’ concorrentes. Assim, sua análise reconstitui o percurso do pensamento moderno que, segundo ele, tem sua origem na gestação do Sujeito empreendida por Descartes e seu 1

Mestrando do programa de Ciências Sociais / UFSCar. 2

Docente do departamento de Ciências Sociais/ UFSCar. respectivo declínio na crise resultante das críticas à filosofia do sujeito no século XIX, dentre as quais destaca-se a crítica elaborada por Marx. Nessa direção, Marx ocupa na análise mannheimiana dois momentos. No primeiro sua teoria estaria operando na direção oposta do pensamento moderno, fragmentando as bases do Iluminismo delineadas pela filosofia do sujeito; sendo este momento caracterizado pela desconstrução do racionalismo. Osegundo momento traz a construção de um novo paradigma, mas agora não mais pelo viés do sujeito cognoscente e sim através do horizonte da história, o qual, conforme afirma M

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annheim, derivou da Filosofia da Históriadescoberta por Hegel. Contudo, o fio de ligação entre os dois momentos e também o pilar de sustentação de uma contribuição inaugural à Sociologia do conhecimento na teoria marxista é a noção de ideologia. Em meio a todos os argumentos pertinentes à crítica feita por Marx em direção a noção de sujeito, o marco fundamental aparece n’A Ideologia Alemã, obra com conteúdo capaz de inverter a ordem explicativa da formação da consciência, constituindo um novo horizonte de sentido acerca do pensamento humano. O enfoque neste ponto é sobre o papel revolucionário desta concepção marxista, tomando o conceito de ideologiacomo ferramenta de desconstrução e reconstrução do pensamento moderno e sua influência na posterior formulação de Mannheim (que sempre reconheceu a presença na Sociologia do Conhecimento da tese de Marx, ainda que apontando para seu aprofundamento e cinzelamento final). Descentralização do paradigma da consciência A capacidade racional do homem em decodificar as leis da natureza e com isso controlá-la foi elevada ao ápice a partir do séculoXVI, em especial quando Descartes fundamentou o racionalismo moderno. Na base desta concepção apareceu a noção de Sujeito, enquanto uma entidade metafísica autônoma e capaz de por si mesma atingir a verdade. Os recursos empregados pelo raciocínio cartesiano para promover a Razão ao topo da hierarquia das faculdades humanas também proporcionaram o afastamento das condições exteriores como a realidade social, por exemplo, na determinação do pensamento humano. O pensamento adquiriu uma formatação auto-suficiente, bastando-lhe um processo de auto-experiência para alcançar as verdades com características universais. Este processo teria, segundo Mannheim3

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, sido impulsionado pela desintegração da estrutura de pensamento do mundo medieval, a qual era caracterizada por um estrato fechado de intelectuais capaz de recolher as diferentes percepções da realidade e canalizá-las numa mesma direção. Paralelo a isso, a crise que atingiu tal estrato de intelectuais diante de uma sociedade em transformação nas suas nuances econômicas e políticas também ocasionou o aparecimento de modos de experiência e pensamento divergentes, sem um centro de convergência em comum. Assim, o racionalismo cartesiano emerge como uma resposta a esse estrato livre de intelectuais, sendo uma unidade para as concepções acerca da realidade que no momento apresentavam-se como multifacetadas. Este novo centro explicativo e ordenador da realidade, no instante em que proporciona um sentido englobante dos pontos de vista dispersos no pensamento da época também absorve as diferenças oriundas das várias camadas da sociedade, que passam a ter espaço e voz na elevação de suas concepções particulares, unificando-as no propósito único de defesa da Razão enquanto uma entidade absoluta capacitada a obter e controlar a natureza. A Razão humana associada a ascensão das ciências experimentais com finalidades práticas4

tornou-se a referência para os diferentes estilos de pensamento da época, passando da condição de meio de apreensão das verdades divinas para fim último na própria validação da realidade: o real é racional e vice-versa; sendo assim o paradigma que sustenta a modernidade num projeto de realização do homem no mundo por meio do progresso a ser alcançado com a ciência. Se por um lado a descoberta do mundo se dá na capacidade imanente ao próprio homem, sua realização passa agora a depender somente dele. Esse circuito que tem como ponto de partida e também de chegada uma base puramente antropocêntrica propicia a substituição do paradigma divino pelo paradigma da consciência humana, a qual é separada da dimensão moral para constituir-se, num primeiro momento, como suporte de uma nova dimensão ontológica e epistemológica. As i

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mplicações desse novo paradigma que abandonou as referências transcendentes, para aos poucos erigir uma visão de homem auto-suficiente no uso da razão, são encontradas nocampo econômico, político e moral; o que converte o homem em indivíduo livre, proprietário absoluto de seus bens materiais e capaz de prever/prover todos os seus julgamentos. 3

Mannheim (1976: .37; 41) e também Horkheimer (1976). 4

Cf. Hobsbawm (1979). No capítulo XV o autor discute o surgimento dos procedimentos científicos da química em paralelo com as necessidades da industrialização no período, isso torna clara a noção de ciência com finalidade práticaque utilizamos nesse ponto. Em traços gerais, a dissolução das particularidadesno âmbito do pensamento em vista da consolidação hegemônica do paradigma da consciência neste período, representa segundo Mannheim a expressão de uma ideologia total5

e, portanto, a primeira síntese alcançada pelo pensamento moderno após a crise da visão de mundo medieval. Entretanto, a legitimidade desse novo modo de conceber a realidade a partir da Razão consegue permanecer intacta até o momento em que os elementos históricos apresentam-se com força suficiente para exigir uma outra via explicativa, a qual passa a transcender os conteúdos puramente cognoscíveis e racionais. Durante o Iluminismo, o sujeito, enquanto portador da unidade da consciência, era visto como uma entidade totalmente abstrata, supra-temporal e supra-social: ‘a consciência em si’. Durante este período, o volksgeist, o ‘folk spirit’vem a representar os elementos historicamente diferenciados da consciência, que Hegel integra em um ‘espírito no mundo’. É evidenteque a crescente concreção deste tipo de Filosofia resulta da preocupação maisimediata com as idéias surgidas da interação social e da incorporação de correntes histórico-políticas de pensamento ao domínio da Filosofia. (Mannheim, 1976: 93)

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A Filosofia da História arquitetada por Hegel ao sepropor a preservação da consciência e, ao mesmo tempo, absorver nela os conteúdos dinâmicos da dimensão histórica, abre a possibilidade de se pensar os elementos históricos como decisivos na constituição (realização) da realidade e, a partir disso, na formação da consciência e do pensamento humano. Nessa perspectiva, Hegel estariadando início à passagem – mesmo que sua pretensão tenha sido evitá-la – para uma outra via crítica na modernidade, que não mais estaria preocupada somente em se afastar das explicações religiosas e transcendentes do mundo, mas sim em incorporar no horizonte da Razão a sua autocrítica e os elementos de cunho social que lhe foram renegados. Foi por conta disso que o século XIX viu surgir no meio dos debates teóricos os pensadores da suspeita6

, foram eles que por primeiro denunciaram a fragilidade do projeto racionalista/iluminista centrado numa perspectiva inovadora – no que tange ao lugar do sujeito antropocêntrico – mas presos numa outra teia: a da estrutura ou elementos capazes de uma explicação não contingente e caótica sob o impulso de uma maximização da volição humana. Dentre tais pensadores, aparece como uma cunha que dá impulso à crise do pensamento moderno a obra de Karl Marx. Isto se explica pelo fato de que a denúncia nela contida atinge a unidade que havia sido constituída através do pressuposto da Razão, a qualperde espaço dando lugar novamente a 5

, É possível detectar aqui uma similitude, neste ponto entre Mannheim e Weber na idéia de que a modernidade é mais que um conteúdo – é um modo ou uma lógica de pensar e de orientar a ação humana quepor extensão cristaliza estruturas (no caso de Weber a idéia de cálculo racional). 6

Habermas (1990). duplicidade dos valores e interesses próprios do contorno social. Por um lado, essa denúncia está carregada da proposta de uma recolocação da visão de mundo e, por outro, traz consigo a adequação entre o pensamento e a existência, colocando as condições existenciais como bases para o próprio pensar. Em o

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utras palavras, essa denúncia pode ser entendia na noção de ideologia, de sorte que em suaconcretização encontramos o fundamento da Sociologia do Conhecimento utilizado por Mannheim: a base material do pensamento. Da noção de ideologia para a Sociologia do Conhecimento Entendido enquanto um mecanismo de recolocação ontológica, a noção de ideologia descoberta por Marx passa a incorporar oselementos extra-teóricos na constituição do pensamento e, por conseguinte, na estrutura da consciência. “O primeiro pressuposto de toda a história humana é naturalmente a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro fator a constatar é pois a organização corporal destes indivíduos e, por meio disto, sua relação dada com o resto da natureza.”(Marx & Engels, 1987: 27). A crítica erguida na perspectiva marxista destitui o estatutodo sujeito que pensa o mundo isolado do mesmo, tornado-se de fundamental importância para opróprio pensar a dimensão do “estar no mundo”, a qual é efetivada por meio da atividadesensível: o trabalho7

. Apesar de Hegel ter enfocado o processo de constituição da consciência através do movimento da história, essa possível historicizaçãoainda permaneceu no âmbito da realização da própria consciência e não dos indivíduos concretos que ocupam a centralidade da via histórica em Marx. A partir desse momento o pensamento foi sendo separado das últimas demarcações estáticas que o haviam determinado desde o racionalismo cartesiano e, ao mesmo tempo, submetido às determinações do contexto histórico e social que viabilizou a transubstanciação de sua natureza por meio da concepção de uma gênese dinâmica8

. 7

O lugar do trabalho na antropologia filosófica de Marx é fundamental, constituindo o eixo da condição

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humanaenquanto ato da própria açãohumana (o trabalho funda o homem: trabalhar é abstrair, planejar e intervir alterando um cenário que novamente será superado pela condição dialética de evolução das forças produtivas e que redesenhará as possibilidades da ação humana). Mas na sua estrutura trabalho é civilização pois se organiza enquanto ‘divisão social do trabalho’, estabelecendo relações e normas societárias (das condições materiais de produção para o reino sofisticado das relações sociais e políticas). 8

Mannheim. O Historicismo. In: Sociologia do Conhecimento (s/d). A crítica de Marx torna-se pontual ao apontar na configuração da ideologia na Alemanha a separação promovida pelo idealismo entreo produto do pensamento e o meio material no qual o mesmo está inserido; uma vez quetornou a dimensão material um elemento da consciência e fez da ação dos homens umobjeto abstrato. O rompimento com o idealismo só pode ser viabilizado pela restituição dos indivíduos enquanto reais (concretos), mantendo relação uns com os outros em suas ações e em suas condições materiais de vida, percebidos por um processo não mais abstrato, mas sim empírico. Nesta direção é possível apreender o modo de sua organização e também a relação que mantêm com a natureza. Os pressupostos não são arbitrários, nem dogmas. São pressupostos reais de que não se pode fazer abstração a não ser na imaginação. São os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de vida, tanto aquelas por eles já encontradas, como as produzidas por sua própria ação. Estes pressupostos são, pois, verificáveis por via puramente empírica. (Marx & Engels, 1987: 26) Este pressuposto que abre o caminho para a noção deideologia é resgatado da percepção de que os indivíduos existindo são atuantes, disponibilizam-se em face de suas

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necessidades e, portanto, pensam conforme tais necessidades se apresentam. Percebe-se, pois, que o pensamento enquanto um fenômeno fortemente firmado pelo idealismo como anterior a qualquer outro elemento, torna-se neste momento secundário, sendo determinado por condições exteriores ao homem e, em grande medida, pelas suas necessidades. Assim, evidenciado o fato de que o pensamento é decorrenteda produção dos meios de sobrevivência, Marx sustenta a base material do pensamento, fragmentando a primazia adquirida pelo paradigma da consciência no idealismo.Na interpretação feita por Mannheim acerca da gestação e desenvolvimento da Sociologia do Conhecimento, este processo de descoberta e postulação da noção de ideologia representa a base de um momento constituído por quatro etapas que ocasionou a mudança de enfoque teórico na modernidade9

. Na primeira delas, o pensamento, que hegemonicamente era entendido em si mesmo, incorpora o fracionamento advindo da dimensão social que o coloca para além do tratamento acadêmico/escolástico, enquadrando-o agora numa perspectiva existencial. Tal fracionamento reflete a auto-relativização do pensamento e do conhecimento, uma vez que os critérios de sua validação estão determinados por elementos não apenas lógicos, mas sim existenciais. 9

Mannheim. O problema da Sociologia do ConhecimentoIn: Sociologia do Conhecimento(SD). A relativização do pensamento foi aprofundada com adescoberta de que os condicionantes sociais do próprio pensar permanecemligados aos interesses particulares dos grupos no campo da disputa simbólica. Em outraspalavras, grupos distintos expressam a realidade de maneira distinta e, por conseqüência, a hegemonia de um modo de pensar é também a sobreposição da visão de mundo de um gruposobre o outro. Neste caso, a segunda etapa de desconstrução das bases teóricas do pensamento moderno passa pela via

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do confronto político no âmbito do desmascaramento da mentalidade parcialde um grupo. As duas primeiras etapas garantem a sustentação de um terceiro passo, a saber, a autonomia da esfera socialcomo um sistema de referência para entender a gênese e o desenvolvimento do pensamento. Em vista disso, os fundamentos ontológicos da modernidade são definitivamente transportados do campo da consciência para o contexto social, recebendo uma nova configuração a partir daintrodução de uma perspectiva englobante e dinâmica da realidade. Tal perspectiva, caracterizada como sendo a quarta etapa, corresponde à proposta de vincular todas as idéias de uma época, embora fracionadas e conflitantes, numa única base: a realidade social (Weltanschauung). Apesar de identificar a correlação entre a dimensãosocial e o pensamento, a tese marxista da ideologia comportada um entrave que segundo Mannheim não lhe proporcionou o avanço até a completa consolidação da Sociologia do Conhecimento. Sendo assim, podemos encontrar em Marx somente o postulado deste novo horizonte ontológico e epistemológico desenvolvido em meio a questões filosóficas e apropriado pelas Ciências Sociais. A Sociologia do Conhecimento surgiu realmente com Marx, cujas contribuições profundamente sugestivas atingiram o cerne da questão. Entretanto, em sua obra, a Sociologia do Conhecimento é ainda indistinguível do desmascaramento das ideologias, visto que, para ele, os estratos e classes sociais eram os portadores de ideologias (Mannheim, 1976: 329) A superação deste obstáculo em direção à completa consolidação da Sociologia do Conhecimento somente pode ser atingida no instante em que a dimensão particular da ideologia é ultrapassada em vista da apreensão do elemento que sustenta e germina as

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ideologias parciais. Reconhece Mannheim que se todopensamento é a manifestação da condição social do seu portador – seja ele o indivíduo ou o grupo –, então a questão a ser proposta por uma ciência enquanto investigadora do pensamento de base existencial, como é o caso da Sociologia do Conhecimento, deve explicitar a realidade social como um todo. Em paralelo a isso, a realidade social somente podeser expressa em sua totalidade no momento em que o próprio enunciador possa reconhecer no seu enunciado apenas um dos inúmeros pontos-de-vista possíveis. Desse modo,a contribuição da ideologia para a fundamentação da abordagem sociológica ocorre na ausência de hierarquização entre os distintos posicionamentos dentro de um contexto social, tornando necessária a aplicação de um mecanismo compreensivo em que todas as partes possam ser elucidadas na sua relação com a estrutura mental coletiva. A Sociologia do Conhecimento não critica o pensamento ao nível das próprias afirmativas, que podem envolver enganos e disfarces, mas as examina ao nível estrutural ou noológico, que vê não como sendo necessariamente o mesmo para todos os homens, mas, ao contrário, como permitindo que um mesmo objeto assuma diferentes formas e aspectos no decurso do desenvolvimento social (Mannheim, 1976: 288) A recolocação feita por Mannheim do pressuposto da Sociologia do Conhecimento descoberto por Marx exige que a noção de ideologia seja entendida em dois aspectos. No primeiro deles é tão somente um dado da realidade social, aparece multifacetada e recebe inúmeras variações. Este aspecto Mannheim denomina de nível particular de ideologia, o qual está fundido nas percepções particulares dos indivíduos que, por sua vez, retiram do convívio com os grupos o seu conteúdo. Uma análise sociológica direcionada a este nível da ideologia é incompleta, pois tende a apreender somente os traços não estruturados do pensamento social. No segundo nível de manifestação a ideologia se dá de forma completa (Ideologia

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Total, Weltanschauung, nível Noológico), condensando em sua amplitude os traços manifestados pela dimensão psicológica dos indivíduos e, para além destes, revela a essência do processo social. No entanto, para que essa dimensão da ideologia seja apreendida faz-se necessário a revisão radical da epistemologia moderna e dos aparatos metodológicos de investigação. Em se tratando de uma abordagem empírica é preciso ter clareza quanto a dois passos: 1) os conteúdos parciais que são manifestados pelo pensamento, como os interesses particulares dos indivíduos e/ou dos grupos, são respostas ou reações apresentadas diante de uma concepção de mundo divergente. No tocante a uma situação deste tipo, o sociólogo do conhecimento requer uma análise relacional para sua pesquisa com o intuito de estabelecer a base comum aos dois lados da disputa; 2) por outro lado, tal análise somente é viável quando a correlação entre o pensamento manifestado e sua base existencial tiver sido suficientemente estabelecida. Assim, a passagem da apreensão particular para a total da ideologia necessita também da particularização dos pontos-de-vista em questão. Diante disso, a crítica ao posicionamento marxiano frente à questão da ideologia é retomada por Mannheim, tendo em vista que ao atribuir a ideologia a uma classe em específico e, ao mesmo tempo, carregá-la de um aspecto moral, construiu-se um obstáculo para sua abordagem de um modo compreensivo. A passagem do nível particular para o nível total foi interrompida no instante em que apenas uma classe pôde ser a portadora da “verdadeira” visão de mundo. Considerações Finais Este trabalho procurou permanecer no âmbito da discussão epistemológica desenvolvida por Mannheim. Assim, a pretensão manteve-se distante de avaliar em que medida a influência de Marx aparece no pensamento do autor em outros níveis para além do debate acerca das bases da Sociologia do Conhecimento. Por outro lado, o percurso

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escolhido permaneceu distante das demais influências recebidas por Mannheim, como é o caso da corrente fenomenológica assimilada via Max Scheler. Isto se explica pelo fato de que observar a presença de Marx na confecção teórica sugerida por Mannheim guarda uma singularidade em vista de análises sobre outras possíveis contribuições, uma vez que a postura mannheimiana não somente apresenta, mas recoloca a tese adotada. Ao final do texto ficamos com uma visão geral do surgimento da noção de ideologia em face às questões teóricas levantadas pelo pensamento moderno e, ao mesmo tempo, do reflexo do desdobramento dessa noção paradentro do horizonte das Ciências Sociais. Assim, observar a teoria marxista através da perspectiva mannheimiana é também constatar suas mutações no decurso da história, desembocando em parte na sua revalidação e em parte na readequação aos novos desafios a serem problematizados. Referências Bibliográficas HABERMAS, J. Conhecimento e Interesse. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1987. ___________. O Discurso Filosófico da Modernidade. Lisboa: Dom Quixote, 1990. HOBSBAWM, E. J. Era das Revoluções. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. Rio de Janeiro: Labor, 1976.