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CULTURA

Suspense, policial e ‘noir’Romance policial evolui para incorporar novos temas, geografias

e tecnologia

29 JAN 2016 - 21:04 BRST

BERNA GONZÁLEZ HARBOUR

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Ilustração de Fernando Vicente.

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Existiu um campeonato de primeira divisão que não teve muitos campeões.

Chandler, Hammett e depois Patricia Highsmith – com a permissão de

Conan Doyle e Agatha Christie – se tornaram grandes com o aplauso do

público, mas sem grande reconhecimento porque o romance policial era um

gênero menor. Hoje, está na moda e seu reconhecimento ultrapassa às

vezes a própria qualidade da obra publicada porque (tenham cuidado): alémda primeira divisão existe a segunda, terceira e até a quinta, e nem sempre

estão diferenciadas. Mas o certo é que o

noir/suspense/intriga/thriller/policial/antipolicial e seus autores crescem

ao calor de prêmios (Leonardo Padura, Príncipe de Asturias; Jorge Zepeda e

Alicia Giménez Bartlett, Planeta; Víctor del Árbol, Nadal), do sucesso e de

uma renovação galopante ao ritmo da atualidade. Sua contaminação pelo

cinema e vice-versa também desempenhou um papel relevante, já que as

duas linguagens se alimentam de uma representação visual comum,

próxima ao público, e de uma sintonia que dividem intensamente com o

espectador/leitor.

Galveston de Pizzolatto veio antes ou foi True Detective?

Bron foi antes série ou romance, ou nunca foi romance?Boardwalk Empire foi antes um romance poderoso ou

sua potência cinematográfica atraiu depois um grande

como Dennis Lehane? Aqui vão algumas respostas:

—Sim, Pizzolatto escreveu Galveston antes da série, mas

a maioria de nós o leu depois.

—Não, Bron não foi um romance.

—E sim, Boardwalk... foi um romance de Nelson Johnson

que adquiriu fama após ser comprado pela HBO. Lehane

trabalhou depois como roteirista em alguns de seus

capítulos.

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O próprio Quirke, o lúgubre e pesaroso personagem de Benjamin Black que

coleciona sucessos em 30 países, foi uma criação para a televisão que não

deu certo e que John Banville transformou em livro com uma nova

assinatura noir para a ocasião: Black. Boa parte dos 14 autores

internacionais entrevistados para essa reportagem são roteiristas, desde

Peter May (a nova contratação da editora Salamandra) a Lauren Beukes(Siruela) e Pierre Lemaitre (Alfaguara). A Reservoir contratou Noah Hawley

(Bones, Fargo). E a trilogia de Erik Axl Sund (Roja & Negra) logo será uma

série, como antes Chandler encontrou aliados em Howard Hawks e Robert

Altman, levando em consideração as enormes distâncias entre eles.

A passagem entre os dois mundos, portanto, está pronta.

Gênero visual, de atmosfera e traços claros, de personagens empáticos e

enredos de cunho social, o certo é que o noir cresce, evolui, se adapta e

incorpora temas, geografias, tecnologia e recursos fantásticos e históricos

sem limitação.

Anik Lapointe, editora: "A qualidade sempre estevepresente no gênero para quem prestou atenção"

A ampliação de suas fronteiras sugere que a última aposta da Siruela, a sul-

africana Beukes, não enche as páginas de cadáveres com um tiro na

mandíbula ou uma facada no estômago. Isso, a rotina do crime comum,

parece superada ao segurarmos essas páginas sangrentas. A vítima de

Broken Monsters tem tronco de criança e pernas de cervo. E vocês me dirão:

a primeira vítima de Bron já fundia duas metades de mulheres diferentes sob

a aparência de um só cadáver, e além disso o fazia na linha fronteiriça da

ponte que une a Suécia e a Dinamarca em uma overdose de atmosferanórdica feita para derrubar os mais frágeis. Mas Beukes não nos fala de

mescla de humanos, mas de animal e humano que se unem como o

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Minotauro e as sereias na mitologia grega, e o fazem em Detroit, a cidade

metáfora das fraturas, da derrocada que vivemos.

As crianças-cervo de Beukes, construídas com uma prosa rápida, envolvente

e eficaz, são uma amostra de que o gênero amplia fronteiras e se atreve a

penetrar em mundos mais heterodoxos? “Existe um ponto de fratura”,

afirma Beukes. “E existe mais espaço para se trabalhar com elementos

sobrenaturais e de ficção científica”.

O mágico não é exatamente novo: há anos acompanhamos John Connolly à

região de sombras tão naturalmente que nem nos demos conta de que

aquilo era sobrenatural. A ficção científica também não é nova, a história emuitos outros caminhos aos quais os clássicos nunca nos acostumaram. O

que verdadeiramente é novo, afirma a editora Anik Lapointe (Salamandra), é

a receptividade que o gênero agora encontra entre o público.

“O que realmente mudou é nossa percepção do romance noir, que deixou de

ser considerado um gênero menor e conquistou totalmente o gosto de um

público massivo”, afirma Lapointe. “É difícil dizer se os autores

contemporâneos superaram ou não escritores clássicos como Chandler,

Hammett, Mcdonald, Crumley, etc. Mas o que está claro é que a qualidade

sempre esteve presente no gênero para quem verdadeiramente prestou

atenção”.

Paco Camarasa, curador da BCNegra: "O romance 'noir' setronou mais global, mas também mais local"

Paco Camarasa, de quem o fechamento de sua livraria barcelonesa, Negra y

Criminal, não irá retirar seu título tão informal como vitalício de livreiro porantonomásia do gênero noir, acredita que este progrediu à medida que a

realidade evoluiu, incorporando temas que antes não existiam. “O Alzheimer,

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por exemplo, há 10 ou 12 anos não se sabia bem o que era e agora já existem

5 romances nos quais essa doença é um elemento fundamental”, afirma

Camarasa. “Hoje temos romances que se passam desde a Lapônia e o

mundo sami, de Olivier Truc, a países subsaarianos e as profundas florestas

do Canadá”.

Camarasa é curador da BCNegra, o grande encontro do gênero que ocorre

por esses dias na cidade de Vázquez Montalbán e que ao lado da Semana

Noir de Gijón abriu o caminho a uma dúzia de festivais noir que se espalham

pela Espanha (e o Facebook), como antes se espalharam pelas cidades da

França. Uma grande mudança no panorama, na opinião de Camarasa: “O

novo romance noir-policial se tornou mais global, mas também mais local”.

O noir pode se utilizar de elementos irreais como os de Connolly e Beukes e

rolar na poeira até senti-la na garganta como o já citado e imbatível

Galveston (Salamandra). Tudo está aberto.

Élmer Mendoza, autor: "É um gênero que cresce na arteda possibilidade. E amplia fronteiras ao ritmo dosdelinquentes"

Mas o que conseguiu, sobretudo, foi desenhar um novo mapa do mundo no

qual sem a Wikipedia, sem lições de geografia e política, sem jornais à

disposição, a pessoa pode se inteirar da truculência a qual são expostas as

mexicanas que viajam aos Estados Unidos através de uma fronteira sinistra

(Yuri Herrera); da penúria na qual sobrevivem estaticamente os gregos

(Petros Markaris); da crueldade da Operação Condor, que fulminou milhares

de jovens esquerdistas no Cone Sul pelas mãos do terrorismo de Estado

(Santiago Roncagliolo); as negociatas e corrupção da Sicília (AndreaCamilleri); da grosseira destreza dos funcionários chineses corruptos (Qiu

Xiaolong); da perfídia vital do modelo de família numerosa com altas doses

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de alcoolismo, abuso e precariedade na Irlanda (Tana French, Benjamin

Black); das falhas do aparentemente perfeito Estado de bem-estar social dos

países nórdicos (Henning Mankell, Stieg Larsson); do submundo de Los

Angeles (Michael Connolly); e da ríspida hostilidade do clima e da natureza

da Islândia(Arnaldur Indridason). Pudemos apalpar, cheirar, imaginar,

recriar e sentir desertos, povoados devastados pelo abandono e cidadesdesumanizadas, como antes nos sujou o barro dos caminhos de Devon e

saboreamos o chá inglês com Agatha Christie e alucinamos com as drogas

de Conan Doyle.

“Ele se tornou mais sociológico e cultura e por isso é mais atrativo aos

leitores de todo o mundo”, afirma o chinês Qiu Xiaolong (Tusquets). “Osromancistas noir se transformaram em romancistas nacionais. Os autores

cruzam fronteiras ao não cruzá-las, mantendo-se fiéis às preocupações de

seus países”, diz o peruano Santiago Roncagliolo (Alfaguara). “Estamos na

era pós-moderna, no sentido de que foi eliminada a hierarquia entre cultura

popular e alta cultura”, afirma o francês Bernard Minier (Salamandra). “O

romance noir se transformou em um gênero social”, diz o polonês Zygmunt

Miloszewski (Alfaguara).

O mexicano Élmer Mendoza explica dessa forma a evolução do gênero: “Ele

se desenvolve à medida que os delinquentes aperfeiçoam seus métodos. Os

crimes resolvidos por Marlowe nada têm a ver com os de Filiberto García de

El Complot Mongol [Rafael Bernal] e os resolvidos por Bevilacqua e

Chamorro [Lorenzo Silva]. Os temas aumentaram, do crime estilo tragédiagrega ao narcotráfico, a corrupção e a espionagem industrial”. A qualidade,

afirma, também evoluiu, mas com um requisito imprescindível: “Os modelos

de qualidade são estabelecidos pelos escritores que não têm pressa.

Decidem um estilo e o conseguem”.

Claudia Piñeiro: "O gênero é eterno e se reinventa. Já nãoimporta quem matou e por que, o que vale é um estado decoisas"

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O anúnciocensurado peloSuper Bowl

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A qualidade nem sempre é acompanhada pela quantidade que hoje chega às

livrarias, como lembra Camarasa: “Existe mais qualidade, mas com uma

quantidade maior também existe mais mediocridade”.

A eclosão, entretanto, é realidade, e tem uma causa maior apontada pela

editora Anik Lapointe: “É um gênero extremamente manejável, dotado ao

mesmo tempo de bases estruturais muito definidas e uma grande

flexibilidade. É capaz de absorver e incorporar elementos de diversos

gêneros sem perder sua identidade”. E essa característica de esponja,

afirma, o enriquece sem que perca seu caráter.

O gênero, portanto, dá jogo. E campeonato mundial.

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