Sustentabilidade Da Ideia de Patrimonio (1)

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  • 8/19/2019 Sustentabilidade Da Ideia de Patrimonio (1)

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    PATRIMONIALIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE DO PATRIMÓNIO:REFLEXÃO E PROSPECTIVALisboa, 27|28|29 novembro 2014

    SUSTENTABILIDADE DA IDEIA DEPATI!"NI# NU!A S#$IEDADE E!TANS%#!A&'# A$ELEADA DE

    PAADI(!A (EAL

    Vítor Oliveira Jorge1

    es)mo: Este texto visa refetir criticamente sobre a viabilidade epertinência de se tentar continuar a desenvolver uma políticapatrimonial consequente numa sociedade neoliberal globalizada,tendo em aten!o que, com raras exce"es, podemos estarsobretudo perante um ecr! ret#rico que oculta a pr#priaimpossibilidade, inoper$ncia, ou obsolescência dessa mesmapolítica%

    Pa*avras+-ave: patrim#nio& capitalismo& ideologia& desigualdadesocial& perspectiva crítica

    '(a bêtise n)est *amais +trangre au savoir: le savoir lui-même peut devenir labêtise par excellence .%%%/0

    % 2tiegler, 3411, p% 56

    '.%%%/ vicious circle o7 belie7: t8e reasons 98 9e s8ould believe are persuasiveonl to t8ose 98o alread believe%0

    2% ;ize=

    '?n ideolog is reall '8olding us0 onl 98en 9e do not 7eel an oppositionbet9een it and realit @ t8at is, 98en t8e ideolog succeeds in determining t8e

    mode o7 our everda experience o7 realit itsel7%0

    2% ;ize

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    tamb+m da ideologia democrBtica e da no!o decidad!o, teoricamente uma pessoa com direitos edeveres consagrados numa Honstitui!o eintegrada num Estado de direito%

    uito esquematicamente, nesse Estado, paraal+m da propriedade privada, nomeadamente ados meios de produ!o - elemento que pelo menosdesde arx sabemos que + 7undamental, edistingue em termos de posse.s/ as classes sociaisumas das outras3  - e de 7ormas 'mistas0>, existeuma propriedade ou sector pCblico dos meios de

    produ!o, al+m de uma s+rie de bens ditos dedomínio pCblico, que + suposto serem 7ruídos livree igualmente por todos os cidad!os, e que implicaobviamente um certo nCmero de normas deutiliza!o e, a montante, uma cultura partil8ada%

    Esta moldura política pressup"e portantoeduca!o dos indivíduos e sua prepara!o para

    utilizarem os tempos livres em atividades lCdicasde valoriza!o cultural, nomeadamente atrav+s dacontempla!o de 'bens0 8erdados do passado,devidamente acautelados em institui"esKespaos,por 7orma a serem preservados e enriquecidos% Ouse*a, implica um compromisso com as gera"esseguintes, um 8orizonte de 7uturo%

    Luer dizer, como dantes o patrim#nio 7amiliar,

    trata-se de valores que simbolizam a colectividade.nomeadamente o Estado-na!o ou ascomunidades locais, a vBrias escalas/ e que seprocura acautelar, manter, e transmitir, se possível

    3 Hlaro que bem sabemos quanto as classes sociais se distinguem por umagrande variedade de 7atores, dos quais o capital simb#lico + um deles, e muitoimportante%

    > Dor exemplo, a Honstitui!o portuguesa consagra a coexistência do sectorpCblico, do sector privado e do sector cooperativo e social de propriedade dosmeios de produ!o .artigos =4M e =3M/%

    3

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    acrescentando-l8es ainda mais valor, adentro deum modo capitalista de acumula!o, o Cnicoexistente%

    Valor esse que tanto pode ser 'material0,como 'imaterial0, integrando-se neste domíniocrescente do 'imaterial0 ou 'incorp#reo0 todo oaumento de valor educativo-7ormativo resultanteda pr#pria 7rui!o das pessoas, e por essa via ore7oro da c8amada coes!o social @ ou se*a, daincorpora!o da ideologia que rege a colectividade,a sua a!o, a sua pr#pria continuidade como

    realidade estBvel partil8ada, o senso comum emque se baseia, mesmo @ e sobretudo - quando isson!o + consciencializado% Nrata-se de um processode naturaliza!o de algo contingente e construído%Fma vis!o oposta, por exemplo, ao mecanismoque arx designou 'luta de classes0%

    Ou se*a, podemos considerar que a 'mBquina

    do patrim#nio0 7unciona como componente de algoa que ?lt8usser c8amaria, no $mbito cultural, um'?parel8o Gdeol#gico do Estado0, quer dizer, uma7orma .que assume aspectos altamentediversicados/ de cria!o, acrescentamento,acumula!o de valor .sobretudo 'imaterial0/, muitoecaz e poderosa, de gera!o de sentimento decomunidade, partil8a, pertena, identidade,

    mesmo em sociedades em que as desigualdadessociais s!o marcadas e evidentes% Em suma, umapoderosa mBquina ideol#gica%

    Pecentemente, e na sequência de numerososestudos que .desde arxQ/ têm marcado atentativa de compreender o 7uncionamento docapitalismo e a sua extraordinBria e surpreendentedin$mica, adaptabilidade, perdurabilidade, N8omas

    Di

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    de radical/ mostrou, no seu livro 'O Hapital no2+culo RRG0, entretanto *B publicado em português,que a gera!o de desigualdades de riqueza +intrínseca ao capitalismo%

    2egundo um breve resumo do Dro7% Jo!oHonst$ncioA  , '.Q/ o capitalismo 7oi sempre @ econtinua a ser 8o*e, na +poca da sua maiorglobaliza!o e nanciariza!o @ um capitalismopatrimonial, isto +, um sistema de produ!o edistribui!o de rendimento que, a partir de umamaior ou menor desigualdade inicial, gera sempre,

    de 7orma end#gena e progressiva, acumula!o econcentra!o de patrim#nio .ou capital/ nas m!osde uma percentagem muito minoritBria de7amílias%0 Seste contexto, note-se bem, patrim#nioaparece obviamente na sua acep!o econ#micamais gen+rica ou tradicional%

    Dor outro lado, Di

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    quando, cada vez mais, os 7ossos sociais seacentuam no domínio das desigualdades deoportunidades e de condi"es dignas de vida, ouse*a, quando o pr#prio ordenamento social .comorealidade e como utopia positiva, geradora deesperana/ que deu origem ao patrim#niomoderno, valor pCblico, se esboroaY

    ? pergunta parece ter pertinência,nomeadamente numa +poca em que as indCstriasculturais, nas quais o patrim#nio, o turismo, e asvBrias 'mBquinas0 de capta!o da aten!o

    .permanentemente interrompida, 7ragmentada, poressas 'mBquinas0, numa generaliza!o doprocesso do 'zapping0/ @ televis!o, internet,7ormas instant$neas de comunica!o compulsiva,etc% @ nos 'roubaram0 o tempo, provocando 7ormasde sub*etividade e des-sub*etiva!o *amaisexperimentadas antes, na 8ist#ria 8umana%W 

    Dergunta a que logo se segue esta outra: n!oserB a pr#pria expans!o da ideia de patrim#nioimaterial coeva da, solidBria com, o.impropriamente, decerto/ c8amado capitalismoimaterial, ou cognitivo, isto +, um modo deprodu!oKacumula!o de riqueza que *B n!o sebaseia na indCstria pesada mas em tecnologiasmuito sosticadas de ponta, e em processos de

    lucro obtidos sobretudo atrav+s da 'renda0Y

    W O su*eito contempor$neo + assim, nestas condi"es, um su*eito desencantado,cindido, 8eteronímico, n#mada mesmo quando estB parado, como algu+m que,estando num lugar, estivesse 'desterritorializado0, permanentemente atraído porlugares-outros, com a sensa!o de estar a perder algo a acontecer al8ures%

    Fm exemplo particularmente bom disso + a empresa 7aceboo

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    ?quilo que parecia ainda 8B umas d+cadas seruma vis!o pessimista e apocalíptica, tornou-serealidade, se + que n!o estamos para al+m detodas essas antevis"es: grande parte da popula!omundial vive em condi"es miserBveis, o meio-ambiente so7re altera"es irreversíveis, e asclasses m+dias dos países ditos 'desenvolvidos0est!o a ser proletarizadas, gerando-se aquilo a queernard 2tiegler c8ama a 'bêtise0.embrutecimento/ contempor$nea%

     Nudo o que acabei de dizer s!o generalidades,

    e qualquer delas estB su*eita obviamente a ampladiscuss!o .porque o saber, em Cltima anBlise, +incontornavelmente político e implica um 'pontode vista0& aquele que se apresenta como 'neutro0ou 'ob*etivo0 visa sempre naturalizar umaideologia, de7ender uma posi!o de poder/,implicando obviamente desenvolvimentos% Nentarei7azê-lo brevemente para alguns t#picos

    7undamentais%Uiorgio ?gamben, num texto iluminado5 como

    quase todos os seus, mostrou como o conceito dedemocracia tem, desde a sua raiz grega, umaspecto duplo, bído: + um modelo de política, devida em comum, de concep!o do 'corpocolectivo0, e + tamb+m, de 7orma mais comezin8a,

    digamos, um modo de 'gest!o da coisa pCblica0,de administra!o% ? 'mBquina governamental0necessita desses dois elementos 8eterog+neos,isto +, como escreve o autor, de 'umaracionalidade político-*urídica e Zde[ umaracionalidade econ#mico-governamental, uma'7orma de constitui!o0 e uma '7orma de governo0.op. cit., p% 13/% as para ?gamben n!o 8B modo

    5 Sote limimaire sur le concept de d+mocracie, Démocracie, Dans Quel État , pp%6-1>%

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    de articular os dois elementos constitutivamentecindidos, e + nesse ponto de ingovernabilidade quese encontra a verdadeira atitude política, adiadapela n!o consciencializa!o de que o centro queuniria legitimamente tais dois elementos, ocupadopelo poder do 'soberano0 .no sentido mais amplodeste conceito/, estB vazio%= O que leva a que na+poca moderna o governo se ten8a tornado, naprBtica, cada vez mais um simples poderexecutivo, uma 7orma de gest!o, acompan8ada deuma ret#rica oca de 'vontade geral0, 'soberaniapopular0 .?gamben, 3446, p% 13/, etc% Uest!o essacada vez mais coordenada pela minoria dominanteda inana globalizada, sem centro, sem rosto,sem controlo sequer pelos Estados% Ueneraliza-se,assim, o 'estado de exce!o0, que, sob aroupagem da ret#rica democrBtica, passou a ser aregra%

    Este pequeno texto do autor +, na sua

    condensa!o .como aliBs + timbre de tantos dosseus escritos, que s!o de uma economia exemplar/absolutamente capital, mostrando como os lugarescomuns da 'democracia0 e do universo ideol#gicoque em torno das suas vBrias concep"es se tececonstantemente ignoram o essencial: o 7uturo s#se pode abrir se se iniciar uma discuss!o radicalsobre o que signica a democracia na sua dupla

    7ace de '7orma de constitui!o0 e de 't+cnica degoverno0 .id%, p% 1>/, e que solu"es alternativas sepodem conceber%

    O debate sobre a quest!o do patrim#nio, comoelemento consubstancial ao modelo da democraciaocidental parlamentar moderna, modelo agoratamb+m ele .pelo menos como utopia, 8orizonte,

    = Ver sobre isso a notBvel obra do autor Le Règne et la Gloire: our uneGénéalogie !"éologi#ue $e l%&conomie et $u Gou'ernement , Daris, 2euil, 344=%

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    ret#rica/ globalizado, depende daquela discuss!ode 7undo, que, evidentemente, n!o + aqui quepoderei ter a veleidade de iniciar sequer% as ca oapontamento, a advertência, se se quiser: oconceito de democracia + um problemaabsolutamente bBsico& um problema n!o resolvido%E isso, + claro, arrasta a quest!o do patrim#nio.entendido aqui sobretudo como patrim#niocultural/, e muitas outras%

    ? deni!o de um valor pCblico a preservar,de7ender, valorizar e transmitir constitui uma

    política, como Uuillaume .344> @ or% 16=4/ bemmostrou& uma política da mem#ria colectiva% O que+ que se conserva, o que + que se erige emsímbolo colectivo, e o que se descarta, o que sedestr#i, na sociedade de consumo e daobsolescência rBpida: eis uma problemBticatransversal e abrangente, porque desde logoimplica tamb+m a pergunta: quem dene tal

    partil8a, e mandatado .como representante de quecolectivo/ por quemY Luem dene, e com quelegitimidade, o 'bem comum0Y Nem sentido apartil8a .que como em quase todas as dicotomiasimplica sempre a subordina!o de um polo aooutro/ entre decis"es 't+cnicas0 e decis"es'políticas0Y

    2abendo-se que em qualquer colectivo, emqualquer 'comunidade0 .e teríamos tamb+m dequestionar o que isso signica, 'comunidade0, aqual implica o pol+mico t#pico da identidade6/, emqualquer 'n#s0 8B sempre um *ogo de poderes,que 7uncionam como um campo de 7oras mais oumenos 7ormais ou di7usas, mais ou menos visíveis

    6 Dor exemplo, sobre este tema da identidade, ver o texto de 2ilvina Podrigues(opes, Pesistir \s mBquinas identitBrias, Inter'alo, >, aio de 3445, pp% WA-=%

    =

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    ou invisíveis14, teríamos de perguntar quem +, emCltima anBlise, o agente de poder, o depositBrio dacapacidade de denir o que se conserva e o que sedeita 7ora, aquilo que se deve lembrar e o que sedeve esquecer, o que se p"e no arquivo ou o quese p"e no lixo, o que se produz de novo e o que serecicla% ais uma vez o ambíguo conceito de'povo0, um 'pronto a vestir0 para todas asocasi"es, cria problemas%

    ?qui teríamos de convocar ic8el oucault, e omodo, bem con8ecido, como mostrou quanto, nas

    sociedades modernas, o poder se tornou num bio-poder, a política numa biopolítica, ou se*a, aorganiza!o das pessoas enquanto popula!o,devidamente disciplinada no que toca \ saCde,8igiene, alimenta!o, sexualidade, natalidade, etc%@ quer dizer, uma política que se estende aoscorpos constituintes desse corpo colectivo que + a'popula!o0%11

    Ora, esta nova 7orma de coordena!o e dedisciplinariza!o dos corpos e dos comportamentos@ ligada em Cltima anBlise ao controlo, peloliberalismo burguês, da 7ora de trabal8o dosindivíduos @ tem tamb+m a ver com a educa!opCblica, com a cria!o de um con*unto deinstitui"es e de prBticas que mudam a rela!o do

    poder com os governados, e nos quais se inclui apris!o, o asilo dos loucos, o 8ospital, etc% ormas,em suma, de '7ec8amento0, de 'classica!o0 e de'encarceramento0, sendo a Escola a responsBvel

    14 ? perspectiva dos poderes di7usos n!o nos deve nunca 7azer esquecer acentralidade e import$ncia do poder central do Estado e 8o*e, cada vez mais, obviamente, a existência de entidades supra-estatais que em larga medidaultrapassam os poderes e competências dos estados nacionais%

    11 Ver resumo dos conceitos de oucault em Judit8 Pevel, Dictionnaire (oucault ,

    Daris, Xd%, 344=% Ver tamb+m os vBrios 2eminBrios de oucault no Hollge derance, publicados pelas ed% UallimardK2euil%, al+m dos seus livros seminais, bemcon8ecidos%

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    pela .con/7orma!o dos corposKespíritos, tornadosd#ceis, e necessBrios \ nova sociedade laica,'democrBtica0, constitucional e .em muitos casos/republicana% Namb+m a reorganiza!o dos c#digoscivis de procedimento e da tropa .levadas porexemplo a cabo por Sapole!o/ se inserem nestapolítica, que +, cada vez mais, genericamente,uma prBtica de gest!o e uma prBtica de polícia,como o pr#prio oucault 7ez notar%

     Nrata-se de, consoante as classes e as idades,reorganizar os cidad!os e 'a cidade0 no seu

    con*unto, o que implica uma arquitetura .incluindouma pan#ptica/, uma urbanística e uma s+rie deinstitui"es especializadas, umas no encerramento.as pris"es, os asilos, at+ certo ponto as pr#priasinstitui"es de ensino/, outras que, nesseencerramento, se destinavam a exibir, como Nonennett, por exemplo, mostrou%13  Exibir o quê,como e ondeY Exibir o pr#prio poder numa nova

    con*untura 8ist#rica em que esse poder *B n!otin8a origem divina nem se centrava no corpo dosoberano .o corte da cabea de (uís RVG pelaguil8otina em Daris mudou muita coisa na 8ist#riado mundo%%%/ mas nesse mito que se c8amou'povo0, isto +, nos seus representantes e em todaa liturgia que o novo poder teve de inventar%

    Entre as 7ormas de ostenta!o, de exibi!o dacomunidade a si pr#pria, e dos signos do poder \smassas, est!o as grandes exposi"es universais,dos ns do s+culo RGR e início do s+culo RR @tipicadas pela de Daris com a torre Ei]el de ondese podia observar todo o panorama da 7eira, mastamb+m da cidade 'como natureza0 @ e,evidentemente, os museus%

    13 V% N8e ex8ibitionar complex, 16==% Este texto 7oi posteriormente incluído emnumerosas antologias%

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    2e os grandes museus, como o (ouvre ou ouseu rit$nico, se destinavam a exibir o poderdos imp+rios @ na amplia!o de uma antiga prBticacolecionista dos grandes sen8ores e da Ggre*a dePoma, que vin8a da Penascena @ os museus dospaíses n#rdicos da Europa, que n!o tin8am tidoocupa!o romana ou n!o estavam ligadosparticularmente a imp+rios coloniais,mani7estaram antes o interesse de salientar asantiguidades locais, numa arma!o da identidadepr#pria, do Estado-na!o, que, aliBs, em toda aparte estB ligado ao desenvolvimento exponencialda 'mBquina do patrim#nio0%

    X ent!o preciso, com ou contra as mem#riasorais, locais e evanescentes, construir umamem#ria colectiva alicerada em monumentos,sítios 8ist#ricos, tradi"es mais ou menos'inventadas0 .uma tradi!o, como todo o elementomemorial, tem sempre uma componente de

    c!o/, algo que crie uma identidade di7erenciadada do 2ul da Europa, greco-latina% 2# a ?leman8a,como + bem sabido, irB sempre, do s+culo RGR at+aos nossos dias .ve*a-se a atividade do vetustoGnstituto ?rqueol#gico ?lem!o/, conservar a ideiade ser a 8erdeira 'espiritual0 da ?ntiguidade,principalmente da Ur+cia%1>

    Hlaro que a vontade de parar o tempo, delacar o mundo, de criar espaos de refex!o e desilêncio .bibliotecas, arquivos, museus, lugares8ist#ricos, ruínas visitBveis, parques temBticos,Breas de paisagem protegida, parques naturais,etc%/ corresponde a uma atitude compensat#riarelativamente \ acelera!o e ansiedade geradaspela industrializa!o e pela modica!o mais

    1> Ve*a-se por exemplo o interessante lme N8e Gster -8ttps:KK999%outube%comK9atc8Yv^oPEW85*U_g

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    pro7unda que se prende com a laiciza!o dasociedade, ou se*a, com a tendência para a 7ontede valor passar do plano da transcendência .`eus/para o da imanência .vivência 8umana e, emCltima anBlise, o capital, entendido como elemento7etic8e capaz de dar acesso a tudo o resto, de sero motor dessa vivência/% Esses 'lugares demem#ria0, como l8es c8amou Dierre Sora, s!o ostemplos modernos, e a cultura .primeiro de elites,depois de massas, 8o*e cada vez mais7ragmentada em pCblicos diversos e especícos,mas n!o menos generalizada comoentretenimento/ a 7onte de todos os rituais%

    Os rituais da modernidade, em rela!o estreitacom a tecnologia dos transportes .por exemplo,mBquina a vapor, que permitiu as grandesdesloca"es por mar e o camin8o de 7erro,responsBvel, entre mCltiplos aspectos, pelosurgimento da moda das praias no s+culo RGR/,

    têm a ver com a mobilidade e portanto com agrande indCstria que + o turismo% O turismo + umaindCstria cultural .consiste na compra dapossibilidade de contempla!o @ e de grava!o em7otograas, etc% @ de paisagens por umdeterminado espao de tempo/, a dodespaisamento, que se de início + apanBgio daselites cultas .Urand Nour, etc%/, logo se generaliza

    progressivamente ao con*unto da popula!o e dasclasses trabal8adoras at+ se tornar na maiorindCstria contempor$nea%

    _o*e, a circula!o das pessoas .desde logo emcamin8adas, que se organizam por toda a parte/ +a contrapartida da circula!o do din8eiro% Nempo +din8eiro, estar parado + ser improdutivo, estB-se

    sempre 'a perder tempo0, + preciso pr o capitalem circula!o, investir, arriscar, experienciar, ir at+

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    aos limites, etc% Nudo isto 7az parte da mesmaideologia 8edonista e individualista da sociedadeda 7ugacidade, da excita!o, da rapidez, dainternet, das redes sociais e dos lances em bolsa:visita-se uma exposi!o, mas ningu+m se demorademasiado *unto de cada obra .mesmo quandoesta @ como uma instala!o de vídeo @ assim oexigiria/% O turista quer passar de uma excita!o7orte para outra excita!o 7orte, tal como o

     *ornalista procura a vida .e a morte/ em direto paraa televis!o, tal como toda a gente procura, pelos

     *ogos de azar, o son8o semanal de mudarsubitamente a sua vida desencantada% 1A

    ?ssim, os museus multiplicam-se ediversicam-se, diversicando tamb+m a suao7erta e procurando 7azer como qualquer neg#cio:seduzir o cliente, o visitante, o potencialcomprador, \ saída encontrando na lo*a do museuou sítio alguma coisa que marque a sua 7ugaz

    passagem pelo local% O capitalismo 'cultural0 + um7abuloso sedutor, captador do dese*o, que, comose sabe bem, + sempre o dese*o de dese*ar, querdizer, de preenc8er um vazio indizível eimpreenc8ível @ e s# assim se mant+m .o dese*o'vive0 da sua pr#pria insatis7a!o/% ?s aquisi"esda psicanBlise, in7elizmente ignoradas ouincompreendidas por certos cientistas sociais,

    7oram inteligentemente incorporadas pelospensadores ao servio da publicidade, domar

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    de ser 'atraentes0 por qualquer meio, como meramercadoria%

    O patrim#nio e as indCstrias que l8e est!o

    associadas @ e s!o quase todas, para n!o dizertodas, porque, 8o*e, tudo passa pela 'cultura0como um valor, num sentido 8orizontal de cultura.totalmente oposto ao da antiga 'alta cultura0'ersus  cultura popular ou de massas& essadistin!o + *B obviamente obsoleta/ @ est!o assimomnipresentes na nossa sociedade%

    as, se tudo @ ou tendencialmente tudo @ +patrimonializBvel .at+ porque 8B uma componentea7etiva e sub*etiva que + intrínseca \ ideia de valorneste sentido geral e abstracto/ @ ent!o tudo + in-di7erente em termos de possuir capacidadedistintiva% Ou mel8or: aquilo que provoca'distin!o0 .no sentido de Dierre ourdieu1W/ tendea tornar-se invisível, \ medida que o espao

    pCblico e os #rg!os de comunica!o lig8t exibemcada vez mais as aquisi"es dos 'novos ricos0.7utebolistas, cantores de mCsica pimba, pivots detelevis!o, toda esse mundo de indivíduos 'saídosdo nada0 para a '7ama e a 7ortuna0/%

    O espao de exibi!o .mesmo o do museu, +claro/ + sempre um espao de segredo tamb+m.tem de surpreender de vez em quando com um

    'evento0 inesperado/& e a in7orma!o, comomercadoria que +, + cuidadosamente 'gerida0 parasair a pCblico no momento em que poderB causarmais impacto, ou se*a, mais lucro% X o valoracrescentado da surpresa, liga!o \ no!oobcecante de 'criatividade0, de originalidade, e de'inova!o0: captura da aten!o, de audiências, de

    1W V% deste autor La Dintinction: Criti#ue Sociale $u ugement , Daris,inuit, 1656%

    1A

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    pCblicos, traduzida em Cltima anBlise em gan8ocompetitivo, em acumula!o de valor numa l#gicade permanente fuir de novos produtos, novasmercadorias, novos1  ob*etos de xa!o do ol8ardese*ante% Este + o motor de todos os outrosvalores, 'materiais0 ou 'espirituais0%%% aliBs, umadicotomia que, como tantas outras, se esbateu: ocapitalismo +, desde sempre, um derrubador debarreiras, em todos os sentidos%

    useu e montra, centro cultural e centrocomercial, contempla!o, sedu!o e compra,

    todos regidos pela l#gica da publicidade, domar, p% 5/%

    1 `e tanto usada, a pr#pria palavra 'novo0 + 8o*e praticamente desprovida designicado%

    1W

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    Hlaro que esta + uma 7ormula!o muito geral,desenvolvida por ;ize< quer no decorrer dessetexto15, quer depois no contributo mais substancialdo l#so7o esloveno para o mesmo livro .ib%, pp%>36->54/1=, onde, a certa altura .pp% >>=->>6/, eleescreve .traduzo/: '.%%%/ a ideologia n!o +simplesmente uma '7alsa consciência0, umarepresenta!o ilus#ria da realidade& ela + antesesta pr#pria realidade, a qual se deve *B concebercomo 'ideol#gica0 @ -i$eolgica/ é uma reali$a$esocial cu0a prpria exist1ncia implica o n2ocon"ecimento $a sua ess1ncia por parte $os

     participantes nela @ quer dizer, a e7etividade social,a pr#pria reprodu!o daquilo que implica que osindivíduos 'n!o saibam o que est!o 7azendo0%-I$eolgica/ n2o é a 3alsa consci1ncia/ $e um ser 4social5, mas antes este prprio ser na me$i$a em#ue ele est6 7asea$o na -3alsa consci1ncia/. 16 Ouse*a, nada 8B de mais di7ícil do que'desnaturalizar0 uma ideologia, ob*etivar supostasverdades, ou valores indiscutíveis .entre eles o dopatrim#nio/ como 'ideol#gicos0%

    Dara entender convenientemente aperspectiva de ;ize< + indispensBvel lê-lo,con8ecer algumas 7ontes bBsicas de que parte._egel, (acan, arx, etc%/& na verdade, +

    15 Sa verdade, poderíamos dizer, no con*unto da sua obra%

    1= Fm trabal8o absolutamente notBvel, diria 'de leitura obrigat#ria0, intitulado'Homo + que arx inventou o sintomaY0, e que *B constituía o 1M capítulo doc+lebre livro de 16=6 .;ize

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    impossível resumir aqui a sua concep!o, t!o7ulcral para entendimento da sociedadecontempor$nea, de ideologia% ?penas gostaria dec8amar a aten!o para o 7acto de que, adentro daideologia demoliberal contempor$nea, a ideologia.ou 'sub-ideologia0, se quisermos/ do patrim#nio.e t#picos conexos/ tem uma import$ncia muitogrande, como ao longo deste curto texto tenteisugerir, de 7orma muito sucinta e meramentealusiva%

    `igamos que o patrim#nio .tangível e

    intangível%%% e s# esta dicotomia diz muito%%%/ + anova palavra-passe para designar qualquer coisaou realidade que, pelo menos em parte, substituios valores transcendentes das 'sociedadestradicionais0, nas modernas comunidades daimanência% _o*e existem, + claro, muitos 'crentes0&mas, tal como os restantes pCblicos, encontram-se'7atiados0 numa miríade de correntes, de

    interpreta"es, de igre*as, e de seitas, isto +, deconsumidores do 'espiritual0 .incluindo os budistasocidentais e em geral as prBticas Se9 ?ge/totalmente mercantilizado e, a um observadorexterior, agn#stico, per7eitamente alienante% 34

    as, perante o estado calamitoso em que seencontra o mundo atual, num processo de

    'privatiza!o0 em que as 'il8as0, o 'arquip+lago dopatrim#nio .dos locais de 'mem#ria0/ aparece

    34 ? sociedade de consumo neoliberal + a sociedade dos comportamentosaditivos por excelência, ou se*a, como diz a 7rase consagrada, 'primeiro estran8a-se e depois entran8a-se%0 X como se tivessem lido Dascal, que bem percebeu quea sequência 'pratico porque creio0 + errada, antes devendo, como ;ize< 7az notar,ser substituída por 'creio porque pratico0% `e tanto a*oel8ar e rezar acabo n!o s#por crer na entidade a que estou supostamente a dirigir-me como re7oroconstantemente a crena na existência dessa presumida entidade: retroa!opositiva que 7ec8a o círculo da aliena!o completa% Homo o que ama, aliBs .denovo me inspiro em ;ize

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    como a outra 7ace da mesma moeda, perguntamo-nos por vezes, por um lado, por que se n!orebelam as pessoas que, na sua maioria, est!o aser atingidas .de di7erentes modos, em todo oplaneta/ t!o pro7undamente na sua pr#priadignidade de cidad!os& e por que + que, comsurpreendente din$mica, e apesar de todo osentido crítico que se vai desenvolvendo, aspessoas continuam a patrimonializar, a 7azermuseus, a cuidar de bibliotecas, arquivos,in7orma!o%%% por que + que n!o param um pouco,para ver de 7ora esse mundo produtivo, e seinterrogam, mas de 7acto radicalmente: quesentido tem ainda tudo issoY

    Luando o con8ecimento se trans7ormousobretudo em in7orma!o, quando estamos aassistir a uma trans7orma!o de paradigmaecon#mico, social, +tico .+ isto a c8amada 'crise0,uma etapa de crescimento @ para alguns @ e

    concentra!o do Hapital/ t!o pro7unda,acompan8ada de muta"es tecnol#gicas a umavelocidade in+dita, em que as mBquinas seapoderaram de n#s, cada vez maismaquinizados31  , que sentido tem aindapermanecermos na tentativa de alimentar asantigas estruturas da cidadania, em grande parte'desnaturadas0, entre as quais se encontrava a

    utopia de um con8ecimento cada vez maispartil8ado, de um patrim#nio comumY X certo que8B 7ocos de resistência, mas t!o parcelares que, ous!o e7+meros e 7rBgeis, ouKe servem anal \svezes involuntariamente o que pretendemcontrariar, contribuindo para dar a impress!o,

    31 E note-se que n!o digo isto com nostalgia de uma +poca anterior, mas com aconsciência de que a maioria de n#s estB sob controlo de entidades 'sem centro esem rosto0, in+dito na 8ist#ria%

    1=

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    como se diz, de que 'a crise + uma oportunidade0%Sada de mais perverso%

    ? menos que ocorra um evento que, por

    deni!o, + sempre inesperado33

      a situa!o8ist#rica in+dita que vivemos - e que ao nívelideol#gico se pode caracterizar pela ideia de p#s-modernismo relativista, que tende a acentuar asdi7erenas sociais e a prBtica neoliberal deac8atamento, num mesmo plano, de todos osvalores .em nome da 'liberdade individual0 decada um escol8er - ilus!o, dist$ncia entre su*eito

    dese*ante e ob*eto de dese*o que + a 7orma porexcelência do condicionamento sosticado/ @ n!odB lugar ao optimismo que parece estarpressuposto na ideia de espao pCblico, de 7rui!ocrítica, de partil8a democrBtica, etc% Suma palavra,na no!o de patrim#nio como elemento da antigacidadania% Estamos mais num mundo deconsumidores do que de cidad!os, de 7acto%

     Nodos constatamos que nesse mundo a pr#pria'7atia!o0 de pCblicos consumistas concorre para ageneraliza!o alienante das 'multid"es solitBrias0,onde se assiste, por exemplo, na 'cultura *ovem0.na indCstria cultural 7abricada para os *ovens, umarealidade p#s maio =, que + a apropria!o pelomercado, a resposta deste, ao dese*o dos *ovens

    de 'pedir o impossível0/ ora \ generaliza!o derituais colectivos .concertos, com toda a pan#pliade comportamentos que os acompan8a, etc%/ porvezes violentos, pornogrBcos, ou mesmo cripto-7ascistas .praxes, etc%/, ora ao isolamento daspessoas perante ecr!s de computador,in7antilizadas% ?nal, o anverso e o reverso da

    33 V%, por exemplo de 2% ;ize

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    mesma aliena!o obscena: n!o + preciso termomedo da palavra%

    ? 7acilidade de 'comunica!o0 instant$nea vai

    a par, neste universo, de uma extrema dispers!o eisolamento das pessoas, que torna di7íceis .7orados meios 'populares0/ as prBticas associativas, asrefex"es de grupo3>  , as atividades e7etivamente'criativas0, cada vez mais connadas a elites% 3A

    Sesta con*untura deserticada, o consumotendencialmente acrítico do 'passado0, pelamaioria das pessoas que visitam sítios,monumentos ou museus, + compreensível% azem-no, em regra, de 7orma apressada .pr#pria do'turismo0 de todos os matizes/ ou mesmo emcontexto de 7esta .outra das palavras de ordematuais - recria"es, comemora"es, '7eirasmedievais0, etc%- tudo se resumindo no sintomBticoconceito 'mBgico0 de 'anima!o0/, e, com

    exce"es, evidentemente, aceitam com 7acilidadeas narrativas de mediadores que nem sempre têm.nem o sistema visa terem/ a necessBriaprepara!o para o e7eito% Nanto mais que o pCblicoin7antil e *ovem exigiria, evidentemente, todo umpessoal especializado nesse ato de transmiss!o,t!o importante para a dissemina!o do gosto pela8ist#ria, nas idades mais marcantes da

    personalidade%

    3> Dor vezes esses espaosKpCblicos s!o 7acilmente capturados porentidades religiosas de tipo mais ou menos sectBrio%

    3A Doderia acrescentar muitos outros t#picos, bem con8ecidos de todos,como a degrada!o da escola pCblica e o aumento do 'et8os0 8edonista,'tolerante0, em que a dicotomia contida em express"es como '+ divertidoK +

    c8ato0 divide denitivamente as prBticas e os indivíduos%

    34

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    Fm trabal8o di7ícil, esse, como todo o bomtrabal8o de divulga!o, que implica sempre umaa!o de tradu!o de um saber especializado numsaber comum .no sentido mais 'digno0 destapalavra/, um ato de pedagogia, mas no bomsentido% Dorque realmente quando n!o 8B essatradu!o, ou 8B entretenimento pastic8e .a'bêtise0/ ou 8B venera!o de algo que n!o seentende, n!o se incorpora, n!o se amaverdadeiramente& neste Cltimo caso, o patrim#nio,a sua visita!o, torna-se um culto laico, associadoquando muito ao 7etic8ismo do antigo, do original,do raro, que logo se procura reproduzir em7otograas para mostrar aos 'amigos0 .das redessociais ou n!o/%

    otograa, viagem e patrim#nio @ e a suaexibi!o @ + bem sabido, s!o indissociBveis,elementos de prestígio, de 'distin!o0, revelando.nas pessoas mais 'educadas0/ bom gosto na

    escol8a, desprezo pelo simplesmente belo emproveito do sublime, etc% Fm 'sublime0 que, de t!ogeneralizado, massicado, exibido, se tornou

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    longe0%%% ou mais de cima, claro% O es7oro decienticidade tem sempre uma l#gica religiosasub*acente de que se n!o liberta por completo:modesto, o verdadeiro 'sBbio0 ol8a para toda arealidade, na sua variedade complexa, com o ol8ardistanciado e complacente de quem quer, apenase unicamente, atingir a verdade, desprendido deoutros interesses comezin8os ? bata branca docientista .ou do restaurador de patrim#nio, no seulabor ou laborat#rio, outra palavra mBgica/substitui muitas vezes, demasiadas vezes, a batinanegra do padre%

    E por vezes, lamentavelmente, as narrativas8ist#ricas podem corresponder mesmo a 'vers"es0completamente inventadas, perpetuando mitosnacionais ou locais, como por exemplo iguel-?nxourado mostrou no caso espan8ol%3 Noda a 8ist#ria'cientíca0 convive, realmente, com uma 8ist#ria'popular0, muito mais di7undida, e impregnada de

    mitos% Dor outro lado, a 8ist#ria 7oi sempre umaaliada indispensBvel da ideologia do estado-na!o,como 8o*e o tenta ser das realidades supra-nacionais, o palco globalizado em que a a!o8umana se desenrola%

    ?o contrBrio de toda uma 'vulgariza!o0vulgar, importaria sim promover a todos os níveis e

    escalas a pesquisa, prosseguir muitas iniciativaspatrimoniais merit#rias .locais ou nacionais/ quetendem a car paradas .caso se n!o utilizeadequadamente as verbas disponibilizadas peloquadro de nanciamento europeu35/, di7undir umapolítica da mem#ria crítica, pensar 'passados

    3 La In'encin $el asa$o. er$a$ 8 (iccin en la +istoria $e &spa%

    35 Dara alavancarem n!o s# pro*etos pontuais, na base de oportunidades denanciamento, mas estruturas com 7uturo%

    3>

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    alternativos0 que contribuíssem para a elabora!ode 8ist#rias baseadas numa refex!o e organiza!oplural do tempo, nomeadamente numa perspectivan!o linear, etc%3= Em rana, por exemplo, as vBriasgera"es ligadas \ revista  ;nnales  têm dadoexemplo de uma constante preocupa!o inter etransdisciplinar, mostrando como a 8ist#ria,7ec8ada em si mesma, n!o tem sentido,publicando artigos de antropologia da mem#ria,por exemplo, revelando di7erentes concep"es erepresenta"es do tempo e de 8istoricidade, etc%

    ?liBs, a antropologia sempre teve essavoca!o ou pretens!o de nos descentrar da nossatendência 'ocidentalista0& mas acaba, em regra,por a re7orar na sua atitude de respeitomulticultural, tanto mais que muitos autores do'8emis7+rio sul0 se 7ormaram nas universidades doOcidente& e, de 7acto, muitas vezesdescon8ecemos essas 'epistemologias do 2ul0 de

    que gosta de 7alar o Dro7% oaventura 2ousa2antos, perguntando-nos at+ que ponto podem prem causa, como se gostaria, a nossa tendência de'ocidentalocentrismo0, na maioria de raiz crist!, amais 8ist#rica das religi"es%%%

    Sa verdade, as pessoas gostam de 8ist#rias,precisam de 8ist#ria% Ve*a-se por exemplo o êxito

    que tiveram .e ainda têm, retransmitidos/ osprogramas televisivos de Jos+ _ermano 2araiva,exemplo do 'comunicador0 de palavra 7Bcil, ouse*a, acalentando esse 8Bbito t!o impregnado napopula!o de escutar 'a voz do mestre0, quando

     *unta a real ou suposta erudi!o ao mais comumdos saberes, trazendo portanto a '8ist#ria0 para o

    3= Dor exemplo, n!o existe at+ ao momento uma 8ist#ria da arqueologiaportuguesa, obra que seria muitíssimo valiosa, se s+ria, na valoriza!o destadisciplina e atividade%

    3A

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