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Swaps subscritos pelo Governo e empresasda Madeira sem controloSó as perdas potenciais dos dez derivados vendidos pelo Santander aumentaram 20% em apenas quatro meses. Nem Assembleia da República nem parlamento regional estão a fi scalizar Economia, 20/21
Treinador do Benfi ca será notifi cado nas próximas horas ou dias e fi cará com termo de identidade e residência. O técnico pode ainda incorrer numa sanção desportiva p48
Pais e docentes acusam ministro de “inconsistência”. Criticam a “rapidez” com que passou da desvalorização para a defesa de que deve ser obrigatório no 1.º ciclo do básico p14
Jesus arrisca três anos de suspensão e quatro de prisão
Crato baralha paise professores sobre ensino do Inglês
1924-2013RAMOS ROSA,O PURO POETADestaque, 6/7 e Opinião de Gastão Cruz
NUNO FERREIRA SANTOS
Seguro diz que Passos deve explicar o não regresso aos mercados p8/9TER 24 SET 2013EDIÇÃO LISBOA
GUINÉ-BISSAU“OS CAMARADAS ESTÃO A PERGUNTAR SE É ASSIM QUE SE TOMA A INDEPENDÊNCIA”ReportagemMundo, 30 a 33
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14 | PORTUGAL | PÚBLICO, TER 24 SET 2013
Escolas do básico e secundário vão ter esta semana mais 1558 professores
Dirigente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas lembra que cada docente tem várias turmas e que cada turma tem até 30 alunos que ainda estavam sem essas aulas
ENRIC VIVES-RUBIO
Foram contratados 1558 professores, dos quais 1376 não têm vínculo à função pública
Ontem, uma semana depois do iní-
cio das aulas, ainda havia muitas
crianças do 1.º ciclo em casa ou a
cargo de docentes substitutos, e um
número também não determinado
de alunos do 2.º e do 3.º ciclos e
do secundário sem professores a
diversas disciplinas. A colocação
de mais 1558 docentes, através da
2.ª bolsa de recrutamento, ao início
da tarde, provocou “algum alívio”,
como frisou Filinto Lima, da Asso-
ciação Nacional de Directores de
Agrupamentos e Escolas Públicas
(ANDAEP). Mas prosseguem as con-
tratações directas nas escolas com
autonomia e nos estabelecimentos
situados em Território de Interven-
ção Educativa Prioritária (TEIP).
“A única explicação para o minis-
tro da Educação afi rmar que o ano
lectivo arrancou com normalidade
é que, de facto, há muitos anos que
não arranca sem problemas. Com
essa ‘normalidade’ ainda vá que
não vá, mas bem não está a arrancar
com certeza”, frisou ontem Manuel
Pereira, presidente da Associação
Nacional de Dirigentes Escolares
(ANDE). Director de uma escola
TEIP, em Cinfães, estava a começar
a entrevistar docentes candidatos a
seis lugares vagos para a Educação
Especial – “Uma emergência, para
poder tirar de casa crianças com
multidefi ciências”, que não conse-
guiu ainda acolher na unidade cria-
da na escola para esses meninos.
Em Lisboa, Manuel Esperança,
presidente do Conselho das Escolas,
começava, também, a entrevistar
professores, mas do 1.º ciclo, nu-
ma tentativa de abrir a porta a seis
turmas de crianças que ainda não
foram à escola, na Boavista. “Não
lhe sei dizer quantos estão em ca-
sa, mas só neste caso são 156 e o
que se passa aqui passa-se noutros
lados”, lamentou o director do
agrupamento de escolas de Benfi -
ca, que frisou que também nos res-
tantes níveis de ensino e a diversas
disciplinas, como “em todas esco-
las do país”, tinha ainda “horários
por preencher”. “Temos resolvido
o problema como podemos, mas é
preciso ter em conta que cada um
dos horários por preencher repre-
senta várias turmas sem professor
e que cada turma pode ter 30 alu-
nos”, reforçou Filinto Lima.
Apesar de ser habitual que as co-
locações sejam feitas com o ano lec-
tivo a decorrer, este ano o atraso é
maior. Isto porque a 30 de Agosto
foram conhecidos apenas os resul-
tados do concurso de mobilidade
interna que é feito de quatro em
quatro anos, destinado aos profes-
sores do quadro. A primeira vaga de
contratação de docentes sem vín-
culo, que normalmente conhecem
o seu destino antes do mês de Se-
tembro e já participam nas reuniões
de preparação das actividades lec-
tivas, só foi feita a 12 de Setembro,
quatro dias antes do fi m do prazo
para o arranque das aulas, através
da 1.ª Reserva de Recrutamento. Só
depois disso arrancaram os concur-
sos locais para contratação directa
nas TEIP e escolas com autonomia,
que na sexta-feira passada tinham
“oferecido” cerca de 2000 horários;
e apenas ontem, “fi nalmente”, nas
palavras de Filinto Lima, foi conhe-
cida a segunda colocação através da
RR (onde estão ordenados os candi-
datos ao concurso nacional).
Desta vez, o MEC não assinalou
a publicação das listas na Internet
com um comunicado ofi cial. Segun-
do Arlindo Ferreira, autor do blog
deAr Lindo, através da 2.ª Reserva
de Recrutamento foram contratados
1558 professores, dos quais 1376 não
têm vínculo à função pública. Des-
tes últimos, 708 foram chamados a
cumprir horários anuais e 669 horá-
rios temporários. O grupo de recru-
tamento com mais colocações (239)
foi o da Educação Especial, seguido,
do grupo do 1.º ciclo (183 professo-
res), indicou.
Arlindo Ferreira concluiu ainda,
depois de analisar as listas, que,
para além daqueles, 182 docentes
do quadro que não tinham turmas
atribuídas conseguiram ontem ser
colocados em escolas onde virão a
dar aulas. Continuam com horário
zero 997 professores do quadro (me-
nos do que no ano passado, nesta
fase, quando existiam 1483 docentes
sem componente lectiva). Os docen-
tes que foram colocados através da
Reserva de Recrutamento têm 48
horas para aceitar a colocação na
plataforma electrónica dos serviços
do Ministério da Educação e Ciência
(MEC) preparada para o efeito e pa-
ra se apresentarem nas escolas.
Educação Graça Barbosa Ribeiro
Pais e professores criticam “inconsistência” de Crato no Inglês
O dirigente da Confederação Nacional de Associações de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE) e
o presidente da Associação Portuguesa de Professores de Inglês (APPI) acusaram ontem o ministro Nuno Crato de “inconsistência”. Criticam “a rapidez” com que o governante passou de uma posição de desvalorização do Inglês para a defesa de que ele deve ser obrigatório no 1.º ciclo do ensino básico. O ministro surpreendeu ontem, na sessão solene de abertura do ano lectivo 2013-2014 do Conselho Nacional de Educação (CNE). Um despacho de Julho fez com que a disciplina de oferta obrigatória nas Actividades de Enriquecimento Curricular passasse “a poder” ser oferecida pelas escolas. Depois daquela medida ter sido duramente criticada por dirigentes de partidos da oposição ao
Governo, por comentadores e por candidatos autárquicos, ontem, na cerimónia, do CNE, Crato disse desejar que todos os alunos do 1.º ciclo passem a ter Inglês como disciplina curricular obrigatória e acrescentou que tal só não acontece, ainda, porque essa mudança no programa curricular terá “implicações no 2.º e no 3.º ciclos”. Nesse contexto, pediu ajuda aos conselheiros para encontrar a forma de desenvolver o Inglês nas escolas 1.º ao 9.º ano de escolaridade. “O que será de nós e dos nossos filhos quando o ministro da Educação prefere trabalhar para o dr. Passos Coelho e arrebanhar votos para as autárquicas a olhar para a Educação? Como é que podemos levar a sério estas afirmações?”, criticou Rui Martins, dirigente da CNIPE. Também Alberto Gaspar, da APPI, se referiu ao facto de o tema ter entrado no discurso da campanha para as
autárquicas, na última semana, considerando que a “mudança súbita de posição” se “deveu a pressões exteriores”. “Claro que o princípio nos agrada, mas só posso dizer que temo muito que o processo não se desenvolva com pés e cabeça”, disse Alberto Gaspar. Frisou que, na sua perspectiva, “a despromoção do Inglês” não resultou apenas do fim da oferta obrigatória no primeiro ciclo. Disse que ela também é consequência, “da redução da carga horária semanal da disciplina no 2.º e no 3.º ciclos” e do facto de “este ministro ter deixado cair a imposição da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, segundo a qual os professores do 1.º ciclo deviam ter experiência de ensino de crianças, para além da formação científica adequada”. “Agora qualquer professor de Inglês, mesmo que só tenha experiência de secundário, pode dar 1.º ciclo”, disse. G.B.R.
PÚBLICO, TER 24 SET 2013 | PORTUGAL | 15
David Justino apresentará recomendações a Crato sobre docentes
O novo presidente do Conselho Na-
cional de Educação (CNE), David
Justino, anunciou ontem que pre-
tende criar uma comissão especia-
lizada para analisar a condição dos
professores.
À margem da sessão solene de
abertura do ano lectivo 2013/2014
do CNE, ontem, em Lisboa, o ex-
ministro da Educação revelou que
aquela comissão deverá tratar as-
suntos que vão “desde a formação
inicial dos professores, à profi ssio-
nalização, progressão na carreira,
formação contínua e avaliação”.
O presidente daquele órgão con-
sultivo do Ministério da Educação,
que tomou posse no fi nal de Julho,
sublinhou que tentará apresentar
recomendações construtivas de for-
ma a ajudar o executivo. Por seu tur-
no, o ministro da Educação, Nuno
Crato, disse esperar poder recolher
informações dos pareceres e reco-
mendações do CNE, relativamente
a medidas como o fi m das turmas
mistas, a alteração das metas curri-
culares das disciplinas de Matemáti-
ca e de Português, o prolongamento
da escolaridade obrigatória até aos
18 anos ou o aumento de resposta
dos cursos do ensino vocacional.
À agência Lusa, David Justino
adiantou que vai analisar a Lei de
Bases do Ensino e admite que aque-
le organismo se pronuncie sobre os
manuais escolares. Assumindo a sua
Conselho Nacional de Educação cria comissão para analisar situação dos professores
amizade por Nuno Crato, prometeu
que não abdicará das suas opiniões,
mas tentará ser sempre objectivo.
“Também li pareceres do CNE en-
quanto ministro de que não gostei,
mas temos que estar preparados,
porque não há um único pensamen-
to relativamente à Educação”.
Os conselheiros do CNE terão pela
frente o balanço da Lei de Bases da
Educação, que em 2016 completa 30
anos, de forma a perceber “quais os
aspectos que se mantêm actuais”.
David Justino admitiu ainda ava-
liar outras áreas da educação, como
o sector livreiro. Defendendo que os
manuais escolares têm melhorado
nas últimas décadas, o ex-ministro
diz acreditar que o papel tenderá a
ser substituído por outros suportes,
tendo em conta as mudanças tecno-
lógicas recentes. E lamentou a pre-
ponderância do manual face ao pro-
fessor: “Há uma preocupação exces-
siva na utilização do manual escolar.
É talvez um dos instrumentos mais
importantes na regulação das apren-
dizagens, quando devia ser o pro-
fessor o instrumento fundamental”.
Sobre o preço médio dos manu-
ais, Justino admitiu que se possa
arranjar “uma espécie de manuais
genéricos”, como aconteceu com
os medicamentos, mas alerta para o
perigo de baixar a qualidade ou mes-
mo provocar a falência das editoras.
“A experiência que historicamente
é reconhecida não é boa. Nós con-
seguimos tabelar, mas depois deixa-
mos de ter manuais porque as em-
presas vão à falência”, alertou.
Justino considera que o valor dos
manuais não é desajustado e que o
principal problema para as famílias
é terem de pagar de uma só vez to-
dos o material escolar no início do
ano lectivo.
RUI GAUDÊNCIO
Educação
David Justino admite a criação de uma espécie de manuais escolares genéricos, para aliviar a despesa das famílias
O número provisório de casos novos
de infecções pelo vírus da imunode-
fi ciência humana (VIH) em 2012 é de
1116, menos de metade do que em
2000, quando 2802 pessoas foram
diagnosticadas com o VIH em Portu-
gal. Esta redução nacional coincide
com o que se passa a nível mundial,
de acordo com o relatório das Nações
Unidas publicado ontem.
Segundo o documento da UNAI-
DS, o programa das Nações Unidas
de luta contra a sida, 35,3 milhões de
pessoas viviam com o vírus da sida
Novos casos de infecção pelo vírus da sida diminuíram mais de metade em 12 anos
em 2012, a maioria na África subsa-
ariana. A estimativa do número de
pessoas com o vírus em Portugal é de
50.000, de acordo com o relatório.
As mortes mundiais relacionadas
com a sida foram, em 2012, de 1,6 mi-
lhões. Em 2005, quando a mortalida-
de associada a esta infecção atingiu
o pico, o número era de 2,5 milhões.
As novas infecções pelo VIH, 2,3 mi-
lhões em 2012, tiveram uma desci-
da de 33% desde 2001. Nas crianças
(pessoas com menos de 15 anos), esta
descida foi de 52% desde 2001 para
260.000 no ano passado. Segundo os
dados, em 2012 havia 3,3 milhões de
crianças a viver com este vírus.
O vírus da sida transmite-se prin-
cipalmente pelo sangue ou pelo sé-
men durante contactos sexuais. Um
dos Objectivos do Milénio para esta
infecção é reduzir para metade a
transmissão sexual do vírus da sida
até 2015. Entre 2001 e 2012, 26 países
já conseguiram alcançar o objecti-
Relatório anual das Nações Unidas mostra uma redução dos novos casos a nível mundial e reforça objectivos de combate para 2015
vo. Em Portugal, um estudo recente
mostrou que, em 2012, o grupo de
homens que tem sexo com homens
representa quase um quarto dos no-
vos infectados com o vírus, quando
em 2001 eram apenas 7,3%. Em 2012,
os heterossexuais representavam cer-
ca de 65% das novas infecções.
As infecções causadas pelo uso de
seringas infectadas com o VIH, uma
das principais causas da transmissão
no passado em Portugal, têm vindo
a reduzir-se cá — de 50% no início da
década passada para 10%. O objec-
tivo da UNAIDS é que essa redução
mundial seja de 50% em 2015.
Os objectivos nacionais para o
combate desta infecção têm seme-
lhanças com os das Nações Unidas.
“Entre 2012 e 2016, queremos redu-
zir o número de novos casos de infec-
tados em 25%, e a redução em 50%
de mortes associadas ao VIH”, diz ao
PÚBLICO António Diniz, director do
programa nacional contra a sida.
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22 | ECONOMIA | PÚBLICO, TER 24 SET 2013
RUI GAUDÊNCIO
Juízes do Tribunal Constitucional não têm prazo para se pronunciar
Tabela salarial permitirá poupar cerca de 378 milhões de euros
O relatório fi nal sobre as remunera-
ções praticadas pelos organismos do
Estado, reguladores e fundações está
a cargo da Direcção-Geral do Tesou-
ro e Finanças (DGTF) e deverá fi car
concluído a 7 de Novembro. O docu-
mento servirá de base à criação de
uma tabela única de suplementos e à
revisão da grelha salarial do Estado.
Esta direcção-geral terá ainda que
produzir um outro relatório relativo
às práticas salariais do sector empre-
sarial do Estado, regional e local.
Ontem foi o último dia para os or-
ganismos e empresas públicas, re-
guladores e fundações submeterem
ao Governo o formulário com os sa-
lários, suplementos e regalias pagos
aos seus trabalhadores.
A obrigação está prevista na Lei
59/2013, publicada em Agosto, e que
obriga estas entidades a prestar infor-
mação relativa à remuneração-base,
suplementos remuneratórios (por
trabalho penoso, por turnos, isenção
de horário, abonos para falhas, por
exemplo) e outros benefícios (uso de
carro, cartões de crédito, telemóvel,
ADSE) atribuídos.
O objectivo é reformular os suple-
mentos salariais existentes e criar
uma tabela única que acomode este
tipo de pagamentos. De fora fi cam
os suplementos atribuídos pelo tra-
balho extraordinário, as ajudas de
custo e os montantes com a natureza
de prestação social.
O PÚBLICO solicitou ao Ministério
das Finanças um balanço do número
de entidades que responderam ao
inquérito da Direcção-Geral da Ad-
ministração e do Emprego Público.
A assessoria de imprensa de Maria
Luís Albuquerque respondeu que
“até à produção do relatório não se-
rá dada qualquer informação sobre
o desenvolvimento do processo”,
destacando que a DGTF tem agora
45 dias para tratar a informação e
produzir um relatório.
Os serviços e organismos que não
tenham prestado a informação cor-
rem o risco de ver retido 15% do duo-
décimo da dotação orçamental no
mês seguinte ao incumprimento, a
que se soma o congelamento dos pro-
cessos de contratação de pessoal ou
Deputados das bancadas do PCP, BE
e de Partido Ecologista Os Verdes
(PEV) entregaram ontem, no Tribu-
nal Constitucional, um pedido de
fi scalização sucessiva da constitu-
cionalidade da lei que impõe as 40
horas na função pública.
A legislação aprovada apenas pela
maioria PSD/CDS na Assembleia da
República aumenta de 35 para 40
horas semanais o horário dos fun-
cionários públicos. Um grupo de
deputados socialistas já tinha en-
tregue, no passado dia 12, um pedi-
do de fi scalização sucessiva sobre o
mesmo diploma. A lei não fi xa um
prazo legal para a apreciação e deci-
são do Tribunal Constitucional.
Os três partidos consideram que
há violação da Constituição nos
“princípios da proibição do retro-
cesso social, da segurança jurídica e
da confi ança, a par dos princípios da
igualdade e da proporcionalidade”,
lê-se no texto.
No pedido, os deputados susten-
tam que este aumento do horário
laboral representa um recuo nos
direitos conquistados. “Pode ver-
se aqui um retrocesso social, com
o regresso aos tempos anteriores a
1988, quando os trabalhadores em
funções públicas adquiriram um cli-
ma de segurança jurídica e de con-
fi ança consolidadas com a fi xação
da duração semanal do trabalho em
35 horas, e certamente tinham a ex-
pectativa de manter o mesmo teor
de vida ou até melhorar”, segundo
o documento.
Por outro lado, os três partidos
tentam contrariar o argumento de
que a medida visa aproximar sector
público e privado: “As 40 horas vigo-
ram, assim, em pleno para o sector
público, mas são um limite máximo
do período normal de trabalho no
sector privado, desde logo, menos
de 40 horas na sequência das con-
venções colectivas do trabalho (o
exemplo dos sectores da banca e
de seguros”).
Um terceiro argumento vai no
sentido de contestar o aumento
do horário de trabalho sem estar
acompanhado de valorização do
vencimento, traduzindo-se “numa
Relatório finalsobre remuneraçõesdo Estado conhecido no início de Novembro
PCP, BE e PEV pedem fiscalização da lei das40 horas ao Constitucional
perda de remuneração por semana,
na ordem de uma desvalorização de
cerca de 14,3%”.
Para Catarina Martins, coorde-
nadora do BE, a Constituição é cla-
ra. “Não pode existir trabalho não
remunerado em Portugal”, disse
Catarina Martins, em Serpa, após
uma vista a uma empresa. Através
da lei, acusou, o Governo PSD/CDS-
PP “desvaloriza o horário de traba-
lho na função pública” e “não só não
está a cumprir o contrato que tem
com os funcionários públicos, por-
que vão trabalhar mais horas pelo
mesmo salário, como está também a
desvalorizar o trabalho em Portugal,
os salários, e isso terá repercussões
em todos os trabalhadores do sector
público e do sector privado”.
Segundo Catarina Martins, com
a lei, o Governo PSD/CDS-PP pre-
tende “impor como mínimo”, aos
funcionários públicos de todos os
sectores e independentemente da
função que realizam, “aquilo que é o
máximo legal no sector privado”.
“Isto é impor naturalmente mí-
nimos à função pública iguais aos
máximos do privado e, portanto,
é completamente desequilibrado,
mas é acima de tudo uma forma de
retirar salário, porque estamos a
acrescentar horas de trabalho que
não vão ser remuneradas”, disse,
citada pela agência Lusa.
O pedido de fi scalização ao diplo-
ma apresentado pelo PS alega vio-
lação dos princípios da igualdade,
proporcionalidade e protecção da
confi ança legítima.
Função públicaSofia Rodrigues
Função públicaRaquel Martins
Bancadas mais à esquerda do PS juntam-se ao pedido já feito pelos socialistase argumentam que a lei viola a Constituição
Prazo para os serviços divulgarem salários, suplementos e benefícios terminou ontem. Objectivo é reduzir a factura salarial
de aquisição de bens e serviços.
O incumprimento tem ainda con-
sequências para os dirigentes má-
ximos ou gestores das entidades e
pode constituir fundamento para a
cessação da sua comissão de servi-
ço e do mandato. Ficam igualmente
responsabilizados pela incorrecção
da informação prestadas e por even-
tuais omissões de dados, embora a
lei preveja que o trabalhador pode
também ser sancionado.
Poupar 445 milhões Após receber o relatório, o Governo
tem 90 dias para apresentar uma
proposta de Lei que faça a revisão
dos suplementos remuneratórios,
dando cumprimento à lei dos vín-
culos, que desde 2008 determinava
a revisão destes pagamentos aos fun-
cionários públicos.
Os dados recolhidos juntos dos
organismos e entidades públicas
servirão também de base à revisão
da tabela salarial do Estado. Terá
também como referência o estudo
elaborado pela consultora Mercer — e
que foi muito contestado pelos sin-
dicatos por se basear em universos
muito diferentes — que conclui que
o sector público remunera melhor as
profi ssões mais qualifi cadas em com-
paração com o privado. Estas medi-
das terão carácter permanente.
Com a criação de uma tabela única
para os suplementos e com a revisão
da tabela remuneratório do Estado, o
Governo conta poupar 445 milhões
de euros em 2014. A tabela salarial
permitirá poupanças na ordem dos
378 milhões, enquanto a tabela única
de suplementos representa 67 mi-
lhões. Este valor está inscrito no rela-
tório da sétima avaliação da troika ao
programa de ajustamento português.
Neste momento estão a decorrer a
oitava e nona avaliações.
14,3%É o valor estimado da desvalorização salarial dos funcionários públicos que terão de trabalhar mais cinco horas por semana
54 | PÚBLICO, TER 24 SET 2013
Se algo está mal no ensino do Inglês às crianças de 6 ou de 7 anos é a circunstância de não ser ainda obrigatório para todas elas
O Inglês “enriquecido”
1. Não restam dúvidas de que
as reformas no sector da
educação são das mais difíceis
e das mais dolorosas que é
necessário levar a cabo. Basta
a evolução demográfi ca para
explicar sufi cientemente a
radicalidade das mudanças a
empreender e a penosidade
das suas consequências sociais.
Mas intercedem evidentemente muito
mais causas, igualmente complexas,
para reformar o nosso sistema de ensino.
Encontro-me, por isso — por ter consciência
das tremendas difi culdades desta reforma
—, entre aqueles que, no essencial, têm
concordado com o rumo da política
educativa do ministro Nuno Crato e, por
conseguinte e naturalmente, com muitas
das medidas entretanto adoptadas. O
seu esforço permanente no sentido de
incrementar a exigência na transmissão
e na avaliação dos conhecimentos, a sua
concentração na aprendizagem e no ensino
da Matemática e da língua materna, a sua
luta diária pela redução de custos e pela
garantia da sustentabilidade do sistema,
a prioridade absoluta ao reforço da
autonomia das escolas e da sua integração
nas comunidades respectivas. Compreendo
o desespero de milhares de professores que
se encontram já ou correm o risco de se
encontrar numa situação de desemprego
ou desocupação, mas, havendo em conta
a realidade demográfi ca e as actuais
limitações orçamentais, não vejo como
pode evitar-se essa terrível sangria social.
2. Isto dito, importa esclarecer que não
compreendo nem posso compreender
como foi possível o Ministério da Educação
e, em particular, o ministro darem este
sinal de “demissão” e de “facilitismo” a
respeito do ensino do Inglês. Insisto neste
ponto, apesar de tudo o que já foi dito e
escrito, por o considerar absolutamente
contraditório com toda a orientação
política que tinha sido defi nida e
prosseguida até agora. É bem verdade que
ontem o ministro já arrepiou caminho, e
perante o Conselho Nacional de Educação,
deu o sinal contrário e assumiu como
fi nalidade a inclusão obrigatória do Inglês
no currículo do ensino primário. Saúda-se
o arrependimento, mas não pode deixar
de se verberar a intenção inicial.
3. Para que não se pense que se trata aqui
de uma posição simplesmente oportuna ou
de ocasião, transcrevo o que nesta mesma
página arrazoei a 22 de Novembro de 2011 (a
propósito da ideia de vir a abolir, no ensino
básico, a aprendizagem obrigatória de uma
segunda língua estrangeira).
“Uma das únicas conquistas recentes da
escola portuguesa foi a “universalização”
do Inglês logo no primeiro ciclo do ensino
básico. Muitos municípios disponibilizavam
de há muito esta possibilidade e o
Governo anterior tratou de a estender a
todos. É verdade que o ensino da língua
inglesa, em muitos casos francamente
“infantilizado”, ainda não obedece a um
programa homogéneo e não dá garantias
razoáveis de ser levado a sério em todo o
lado. Mas o simples contacto com o Inglês
é já um progresso.
E o objectivo, à
semelhança do que
se passa nos países
nórdicos, deve
ser claro: dar aos
jovens portugueses
um domínio
desta língua que
esteja próximo
do bilinguismo.
Com bem prova
o caso daqueles
povos, cujas línguas
nativas são muito
menos universais e
estão em regressão
demográfi ca, esse
bilinguismo em
nada faz perigar a
língua materna ou
a afeição nacional.
Com a globalização,
o emprego do Inglês
deixou de ser uma
vantagem, passou a ser uma necessidade e
um pressuposto. E a vantagem competitiva
passou para a capacidade de dominar outra
ou até outras línguas. A segunda língua
estrangeira, para lá dos horizontes culturais
que obviamente abre e potencia, passou a
ser um importante factor diferenciador no
mercado global.”
4. Se algo está mal no ensino do
Inglês às crianças de 6 ou de 7 anos é a
circunstância de não ser ainda obrigatório
para todas elas. Se algo parece mal no
ensino da língua franca da actualidade
aos alunos da escola primária é o facto de
esse ensino ser ainda percebido como um
mero “enriquecimento” e não como um
conteúdo programático inafastável. Se
algo vai mal na aprendizagem do Inglês no
início da escolaridade é a natureza infantil
de entretenimento e ocupação de tempos
livres que lhe anda associada.
5. O Inglês, como língua de comunicação
global que hoje é, não pode mais ser visto
como um capricho, uma extravagância
ou uma sumptuosidade. Não pode um
Governo que nos fala todos os dias
na competitividade, no fomento das
exportações, na diversifi cação dos
mercados, na importância da qualifi cação,
considerar o Inglês como um parente pobre
do currículo da escola primária. Haverá
decerto muitos obstáculos fi nanceiros e
logísticos à introdução da língua inglesa
como uma “disciplina” própria dos
primeiros anos do ensino básico. Mas trata-
se aqui de uma matéria tão fundamental
e tão decisiva que não pode haver
hesitações. Acabe-se com o amadorismo
e com a concepção “infantil” ou “pueril”
de mera recreação ou ocupação do
tempo. Dotem-se as escolas primárias com
professores de língua inglesa, carreguem-
se os horários com os tempos lectivos
adequados, faça-se avaliação cuidada dos
conhecimentos. E aproveite-se este ensejo
— o de um arrependimento em tempo —
para fazer do Inglês não uma opção do
enriquecimento curricular, mas um factor
de enriquecimento colectivo.
Eurodeputado (PSD). Escreve à terç[email protected]
LUIS EFIGÉNIO/ARQUIVO
Aproveite-se para fazer do Inglês, não uma opção do enriquecimento curricular, mas um factor de enriquecimento colectivo
Paulo RangelPalavra e Poder
Papa Francisco. A última entrevista do Papa rompe com o farisaísmo e recentra a mensagem cristã no essencial. Um farol de esperança num mundo em crise.
Despesismo em campanha eleitoral. O esbanjamento em propaganda (cartazes, concertos, comezainas, arraiais e comunicações), num tempo de dificuldades, é vergonhoso. E vindo de algumas candidaturas da área do Governo chega a ser provocatório.