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colmar • castelinho • etiópia • a dois porto alegre setembro 2012 O MAESTRO DA TORTURA o voto é todo o dia #16 ninguém é prefeito alegria • um conto • piratão • olímpico de no porto alegre outubro 2012 #17 VIVEIROS DE CASTRO E O OLHAR DOS ÍNDIOS

TABARÉ #17

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colmar • castelinho • etiópia • a dois

porto alegresetembro 2012

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truculentos e brutais do mundo. Em maio deste ano o Conselho de Direitos Humanos da ONU recomendou o fim da polícia militar no Brasil, dada a violência e a falta de controle que se tem sobre seus agentes. A existência dessa entidade repressiva é tópico proibido na sociedade do medo. Isso porque o extermínio das comunidades mais pobres passa longe dos olhos de quem vive nas áreas centrais das cidades brasileiras. Mas quando um confronto violento ocorre no centro é impossível fechar os olhos e fingir que não aconteceu.

Entramos então num momento suspenso entre o medo e a vontade de debater. E nesse contexto é papel de qualquer jornal escolher de que lado se postará.

José Saramago afirmou em um de seus discursos que existe apenas uma coisa que não pode e jamais é discutida em nossa sociedade: a democracia. Ela é o bem absoluto e inquestionável. Mas qual democracia? Quão democrática é a democracia representativa? Esses também são questionamentos proibidos e os que se atrevem a ocupar uma praça para gritar que está tudo errado, negando os vícios da democracia representativa, são tidos logo como vândalos, como marginais, como comunistas, como ditadores. Esse é o cidadão combatido por representar o perigo de transformar a política em prática cotidiana.

Parece um consenso essa visão conservadora de cidade legitimada por 65% da população porto-alegrense. Muitas dessas pessoas vivem como se a cidade fosse a mera paisagem de seus percursos, esquecendo-se de que as calçadas foram feitas para o Homem e para a Mulher. Onde se deve viver e experimentar essa estranha sensação de compartilhar um mesmo tempo em um determinado lugar com tantas pessoas diferentes. Não foram apenas os defensores da alegria que explicitaram esse desejo, no dia seguinte moradores da Vila Nazaré bloquearam a Avenida Sertório em protesto contra a remoção da comunidade em função da Copa. Na semana seguinte, vendedores do comércio popular se recusaram a silenciar ao ver seus produtos confiscados por um Estado que finge dar oportunidade e fiscaliza apenas os mais pobres.

No já tão antigo editorial da primeira edição deste periódico nós afirmávamos que “num tempo em que a alegria rareia, o Tabaré gargalha”. E seguimos rindo a plenos pulmões do ódio ignorante e do medo indigno. Esperando que compartas dessa mesma esperança citadina.

Porto Alegre despertou? Será que o efeito anestésico do medo finalmente cessou? O que podemos afirmar é que enfim os indignos e os indignados (identificados por Eduardo Galeano) mostraram suas caras depois da manifestação pela Defesa Pública da Alegria.

É comum, em cidades pequenas, que um evento domine os tópicos de conversação. Normalmente são banalidades, mas desde que o Tatu da Coca-Cola foi desinflado no Largo Glênio Peres e a Brigada Militar e a Guarda Municipal encenaram uma repressão digna de 1968, Porto Alegre passou dias de conversações monotemáticas.

A noite do dia 4 de outubro era de festa contra a privatização dos espaços públicos, contra as políticas que criminalizam o trabalho dos artistas, contra a remoção forçada de famílias graças às obras da Copa, contra a política marqueteira das eleições, contra o descaso com ciclistas e a confusão que a prefeitura parece ter com o termo revitalização, que para eles é sinônimo de elitização.

Como sempre, o debate sobre o assunto foi superficial. As mídias partidárias, ou grandes empresas midiáticas, cobriram de preconceitos suas matérias. Lasier Martins bradava ignorâncias repetidas nas redes sociais.

Contra o quê? Por que gritam? Quem são? O que querem? A quase nenhum jornalista lhe passou a brilhante ideia de propor essas perguntas ou de aprofundá-las. Eles obtinham as informações dos policiais e essa era a verdade absoluta.

A Defesa Pública da Alegria é um movimento que reúne diferentes coletivos, artistas, ativistas e cidadãos engajados ao que pode ser resumido como defesa do que é público. Eles convocaram a manifestação em forma de festa e dessa maneira conseguiram mobilizar mais de 1.500 pessoas insatisfeitas com os rumos da cidade. Assim se formou este grupo autônomo e apartidário que entende que “um corpo vivo numa praça é infinitamente mais potente que um voto”. Prova disso é a excessiva repressão policial aos manifestantes em plena época de eleição. Uma polícia que não modificou sua postura com a retomada da democracia no final dos anos 80. É um fato internacionalmente discutido: a ditadura militar nos legou um dos aparatos repressivos mais

Chico Guazzelli, Felipe Martini, Gabriel Jacobsen, Jessica Dachs, Júlia Schwarz, Juliana Loureiro, Leandro Hein Rodrigues, Luísa Santos, Luna Mendes, Matheus Chaparini, Marcus Pereira, Martino Piccinini, Natascha Castro

Projeto Gráfico/Diagramação: Martino PiccininiCapa: Jéssica Albuquerque [behance.net/jfalbuquerque ]

Colaboradores: Carlos André Pires, Fred Stumpf, Glauber Winck, Heloísa Silva, Jéssica Albuquerque, Paulo H. LangeTiragem: 2 mil exemplares

Contatos: [email protected] [email protected] facebook.com/jtabare

Distribuição: Fabico � Famecos � Instituto de Artes UFRGS Casa de Cultura Mario Quintana � Ocidente � Palavraria � Sala Redenção � StudioClio

Comitê Latino-americano � Instituto NT � Nova Olaria

cidadão combatido por representar o perigo de transformar a política em prática cotidiana

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[email protected]

Hoje vcs me salvaram. Na hora do pavor limpei a bunda com um Tabaré #6. BjosJader Tiago, encanador e piadistaSe fuder! Próxima cagada a gente se limpa com as tuas ferramenta, então.

TABARÉ ACIDO!Timothy Leary, professor hedonistaQué isso, flor? Todo mundo diz que a gente é um doce...

J'aime le journal Cabaré, pense que est génial!Carlos Paredes, imigrante francêsPô chérie! Jornal Cabaré? Gênial é tu.

Oi Tabaré. Não consigo ter orgasmos, dizem que é normal entre as mulheres. O que vcs recomendam? Bjs Manú, antropólogaAi, flor! Nem fala, a gente sabe como é. Te recomendamos o seguinte: velas e qualquer cd do

É o Tchan. Se tu seguir o passo a passo das letras e não der certo, desistimos! A saudosa mãozinha também sempre é válida, né. Bjs!

Li as últimas três edições de vocês, gente... Fiquei sem palavras! Só tenho uma sugestão: fechem esse jornal pelo amor de deus.Marcelinho, son of a preacher manIh nego, pelo amor de deus? Vai demorá então, aqui é tudo ateu.

Alô galera de porto alegre: um abraço bem apertado e esmagador.Márcio, cariócaAlô, alô, realengo: aquele abraço!

Isso é tipo aquele jornal... Bem Estar?Cláudia dos Santos, estudante de MarketingAham, Cláudia. Senta lá.

Ô Tabaré! Pega tua bicicleta e voa por aí, sentindo o vento. Não esquece a máquina fotográfica...Pedala com papel e caneta... Recorta as cenas dessa vida que,

às vezes, pedala pra trás. Leva essa gente pra frente na tua bicicleta que informa e deforma essa gente que mente na hora e ri, ri porque tu muda a leitura de quem fura o dia com jornal na mão.M. Jeffman, poetaÓim, tâmo junto M! Pedalando por um mundo melhor.

Boto muita fé no "trampo" de vcs, pois a gente sabe da manipulação da mídia burguesa com os meios de comunicação. Liberdade pra expressar, pensar e escrever! Viva o Tabaré!Cachacinha Vanessinha, artistaGratidão, querida. Viva o tabaré! Viva a cachacinha! (...) Aliás, não rola umas free, não? A gente bota muita fé no teu trampo também.

Guerrear pela pazÉ como foder pela virgindade, diz o ditado. O provérbio, no entanto,

parece desconhecido entre a galerinha do Prêmio Nobel, que acaba de

contemplar a União Europeia com o da Paz. A academia sueco-norueguesa provavelmente se baseou nos mesmos

critérios de escolha usados no ano passado, quando foi a vez do Obama

de faturar a bolada. A premiação é vista como uma forma de levantar a

autoestima do bloco, neste momento em que boa parte do Velho Mundo

tá matando cachorro a grito.

Em tempoE as nossa crises, quem homenageia?

Sem querer querendoO distraído deputado gaúcho Ronaldo Santini, do PTB, propôs que a

Assembleia Legislativa derrubasse a lei estadual que limita o uso no Rio Grande de agrotóxicos que estejam banidos em seus países de procedência.

Diante do genial Projeto de Lei, cidadãos que não gostam de ter câncer chiaram nas redes e nas ruas, fazendo com que o autor desistisse da alteração.

Santini alegou que não sabe nada sobre agrotóxicos e que apresentou o projeto a pedido de dois deputados federais. O parlamentar também é autor

do projeto que estabeleceu o Dia Estadual da Educação Ambiental. Oi?

Em tempoComeu cocô, seu deputado?

Quem nunca?Na cidade inglesa de Bedford, que ninguém sabe direito onde fica, um casal de velhinhos cultivava um frondoso pé de maconha em seu quintal, sem ter ideia da tonturinha que o bixo dá. Eis que a polícia entra em ação e resolve se meter no jardim alheio: apreende a planta e promete queimá-la (sem explicar o método de incineração...). O casal alegou ter comprado a bonitona em um brique de rua, desconhecendo a espécie. Os porco, que postaram a foto do baita pé na conta de Twitter oficial da delegacia (existe isso?), asseguraram que o casal não será processado.

Em tempoNão são agricultores, desconhecem a semente.

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Deus nos livreNa longínqua Teresina, capital do Piauí, elegeu-se no último pleito a vereadora Cida, sob a legenda do Partido Humanista da Solidariedade (?). Além de fazer parte da misteriosa sigla, a futura vereadora é também membra da Renovação Carismática Católica e pretende criar um grupo de orações na Câmara Municipal, para ajudar na resolução dos problemas da cidade. Tudo normal prum país com crucifixos nos tribunais e a palavra “Deus” impressa na Constituição e na moeda nacional.

Em tempoPrecisa de mandato pra rezar?

[Luísa Santos]

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pujante monumental, o Grêmio viu crescer um gigante: José Pinheiro Borda, o estádio Beira-rio. E com ele cresceram Falcão, Carpegiani, Figueroa, Valdomiro e o Sport Club Internacional. Além de retomar a soberania regional, o clube conquistou por três vezes o Campeonato Brasileiro, em 75, 76 e 79, formando um dos maiores times da história do futebol brasileiro. A famosa gangorra Grenal virava outra vez.

Em 1981 o Tricolor Gaúcho conseguiu atenuar brevemente sua inferioridade com o primeiro título Brasileiro. Um ano antes, coincidentemente ou não, o então presidente Hélio Dourado concretizara o sonho dos gremistas, concluindo a cobertura do estádio Olímpico. A gangorra mais uma vez aparecia.

E em 1983 definitivamente o Olímpico alcan-çava a glória.

Encurralado na linha de fundo, o ex-auxliar de padeiro Renato, em um ato misto de desespero e maestria, cruzou da linha de fundo. O reserva César pulou em direção à bola e à eternidade. Grêmio 2 x 1 Peñarol. Dentro do Olímpico, Grêmio campeão da Libertadores da América. Dez jogadores celebravam no gramado. O armador do time Tita permanecia atônito, inexplicavelmente calado e com as mãos na cabeça.

Ema Coelho de Souza, que estava no estádio, explica:

“Quem me contou foi o próprio César, que era

Todos os caminhos levam ao monumental, hoje vai ser mais um carnaval. É domingo de sol, Ema avista da janela seu noivo. Terno e gravata. Ema espera ansiosa.

A companhia é o que lhe permite ver o que todos querem ver nessa tarde de 19 de setembro de 1954. Não era um ambiente para moças de dezessete anos desacompanhadas. O jovem casal se encontra na rua Fonseca Ramos, Medianeira, e em poucos minutos se mistura à multidão. Viram Vitor celebrar dois tentos diante do Nacional do Uruguai e inaugurar o hoje conhecido Estádio Olímpico Monumental. Os anos inglórios marcados nos últimos suspiros da Baixada hão de ficar para trás! A história do Grêmio Football Porto Alegrense daqui por diante mudará assim como o seu endereço.

O segundo jogo pareceu confirmar o prognóstico:

4 a 0 contra o Liverpool de Montevidéu.Mas na partida seguinte o adversário era o

temido Rolo Compressor. Grenal. 6 a 2 para o Inter, com quatro gols do centroavante Larri.

Apesar do tropeço no primeiro clássico do novo estádio, os títulos vieram, os ídolos vieram. Airton, o pavilhão; o bugre Alcindo; Everaldo, a estrela dourada; Wolmir Massaroca; Joãzinho; Foguinho. Durante treze anos, o clube conquistou doze títulos estaduais, quebrando a hegemonia colorada.

Mas em 1969, a três quilômetros do seu

compadre do Tita: a mulher do Tita tinha sonhado que o César tinha feito o gol do título. E o titular era o Caio, o César entrou no segundo tempo. Por isso que o Tita fez aquilo, porque o sonho tinha se realizado. E eu lembro também que o João Nassif era o comentarista da RBS TV e o Valenzuela era o narrador. Depois eu vi no VT: o Nassif tava dizendo o tempo todo que o Renato não tava jogando nada. E ele me faz aquela jogada, maluco mesmo, deu aquele balão e o Cesar fez o gol de cabeça.”

Herói, César foi eternizado na calçada da fama, que hoje já está na Arena. Ainda permanece no Olímpico um painel com as fotos e nomes dos homenageados. Em uma das nossas idas ao estádio, nos deparamos com as figuras e enquanto tentávamos lembrar daqueles ídolos, um senhor inconformado resmungava:

- Cadê o Everaldo? Pô, tem muito cara que não tinha que tá aí. Esse César aí nunca ouvi falar. E olha que eu sou antigo.

Apesar do corneteiro, César virou imortal, graças à calçada da fama. Uma das tantas contribuições de dona Ema à conservação da história do Grêmio. Em 11 de dezembro de 1984 o grêmio inaugurava o seu Memorial.

“Em 1983 eu me aposentei, fiquei 15 dias em casa e vim me oferecer como voluntária. Um ex-presidente, o Hermínio Bittencourt, tinha a intenção de criar um museu. Então nos encontramos 3 dias

Era Monumentalpor Chico Guazzelli e Matheus Chapariniimagens cedidas pelo Memorial Hermínio Bittencourt

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depois e ele me levou numa sala e eu vi todos os troféus no chão, tinha de todas as modalidades. Aí eu comecei a trabalhar. Um ano depois da conquista do Mundial nós inauguramos a sala de troféus. Sou voluntária aqui há 29 anos.”

Nossa conversa com dona Ema no memorial teve de ser interrompida, pois antes mesmo de começarmos, ela havia recebido uma ligação de um antigo colega de Olímpico, o seu Verardi. Ema entrou pelo portão 1, contornou o anel inferior e foi até o departamento de futebol para encontrá-lo.

Antonio Carlos Verardi trabalha no estádio desde 65. Sua história se confunde com a do futebol gaúcho. Nascido e criado em Passo Fundo, só conheceu o Grêmio quando se mudou para Porto Alegre. Logo virou zagueiro dos juvenis do clube e viu seu irmão Waldemar trilhar o caminho do futebol como centromédio do tricolor. Mais tarde seu irmão Heitor virou titular da mesma posição só que no adversário vermelho. Verardi coleciona histórias. No monumental, viu jogar as duas maiores lendas do esporte.

Lembra bem do ano de 1966, quando em decorrência das obras do novo estádio do arquirrival, o Olímpico sediou uma importante partida entre o Internacional e o Santos do aniversariante Pelé.

“Fizeram até bolo para o Pelé. Tinha uma quantidade inexplicável de gente. O Grêmio era cercado por muros de madeira e o comandante do 3º Exército e o prefeito da cidade só conseguiram entrar porque mandaram os soldados derrubarem o muro, tamanha era a fluência de público. Tinha gremista vendo o jogo do Pelé e colorado vendo o Inter.”

De sua cadeira, assistiu, em 1980, o Grêmio enfrentar e vencer por 1 a 0 o Argentinos Juniors, que tinha um promissor camisa 10.

“Naquele jogo estava na tribuna de honra o Heleno Herrera, que na época era o manager do Barcelona e veio ver o Maradona com planos de contratá-lo. Terminado o jogo ele foi entrevistado e disse ‘Vim pra ver Maradona e vi Jorge Leandro’ [camisa 10 do Grêmio que teve sua carreira afetada por uma lesão no joelho]”.

Verardi é um dos tantos torcedores que cumprem um ritual de assistir aos jogos sempre no mesmo local do estádio. Como se repetição fosse sinal de sorte e prudência.

“Nos últimos 30 anos eu fico no mesmo lugar junto com meus netos e filhos. Na altura da linha de fundo do gol da cascatinha. Sou locatário de cadeira do Olímpico e nunca soube onde ela fica! Sempre sento ali e nunca tive o prazer de conhecer o proprietário da cadeira que

eu sento. Tem um fato interessante que eu assisti dali: um amigo meu, o doutor Flávio Marsiaj de Oliveira, também assiste o jogo no mesmo lugar até hoje. E teve um lance em 73 com o argentino Oberti. Ele tinha facilidade para driblar, tirou a bola do adversário, veio driblando e tocou pro gol. Quando ele tava com os braços abertos para vibrar viu a torcida quieta e falou ‘Que pasó? Que Pasó?’. É que a bola tava entrando e, como o gramado na época não era tão bom quanto hoje, ela quicou e o Tarciso [atacante do Grêmio]

foi dar uma paulada e botou para fora. E o doutor Marsiaj subiu na cadeira e gritava ‘Milagre! Milagre! Eu vi!’ desesperado. Não houve tragédia porque ganhamos aquele jogo do Coritiba. O Oberti esses dias teve aqui e perguntou se eu lembrava do lance.”

Mais tarde, ao nos ver com nosso próximo entrevistado, Verardi comentou: “Esse é mais antigo que eu!”. Subindo as escadarias das sociais em direção às cadeiras cativas, chegamos à tesouraria, onde Acélio Martins trabalha desde 1960.

“Na época se fazia muita feira, para arrecadar fundos pra terminar o estádio. Minha tia sempre ajudava nas feiras. Aí surgiu uma vaga no Grêmio,

ela soube e me indicou. Nem fiz teste, foi uma carta de fiança que meu tio deu, na época precisava. Eu virei cobrador, eu e mais cinco éramos cobradores, já que eram poucos sócios. Isso é uma coisa que eu já tinha até esquecido, conversando com vocês que eu me lembrei de como eu vim parar aqui.”

Seu Célio, como o chamam nos corredores do Olímpico, recorda com alegria desses tempos em que o futebol não era tão profissional e jogadores e funcionários do clube tinham

uma relação mais próxima.“Toda semana, ali onde é a loja [Grêmio

Mania, na entrada da José de Alencar], tinha um sobradinho e fazíamos festa. Sexta a gente nem ia para a casa, era muito bom. O Verardi era o presidente da associação. Os jogadores mesmo eram mais próximos, eles vinham na tesouraria para receber e ficavam conversando. A gente conhecia todos.”

É evidente a nostalgia e a emoção nos olhos dos entrevistados ao falar do Olímpico. Apesar disso, os três demonstram entusiasmo em relação à construção da Arena do bairro Humaitá, apontada como o estádio mais moderno do país.

Ao longo da história da dupla grenal, as mudanças nos estádios sempre estiveram relacionadas às conquistas, à pujança financeira e também aos deboches. Quando o Grêmio construiu em partes o estádio Olímpico, a torcida colorada logo condenou: remendão. Hoje, com a Arena quase pronta e o Beira-Rio ainda em início de obras, é a vez dos gremistas se vangloriarem do seu novo estádio. Em dezembro, o Estádio Olímpico Monumental será desativado, o terreno

será da empreiteira responsavél pela Arena, a OAS, que planeja construir um shopping e 12 prédios. Especula-se também que o Inter possa alugar as dependências do Olímpico para sediar seus jogos em 2013, quando ficará sem estádio em razão das obras do Beira-rio.

Ao fim da entrevista, Verardi nos deixou com uma confissão:

“Vocês não me perguntaram, mas para aqueles que perguntam: eu não sei o que vai ser comigo, no dia que derrubarem o Grêmio. Sinceramente eu não sei, prefiro nem pensar.”

Até lá, todos os caminhos ainda levam ao monumental.

catimba imortalFoi inevitável perguntar para cada um dos entrevistados qual havia sido o jogo mais marcante assistido no Olímpico. Foram unânimes. Em 1977, o Grêmio preparou uma campanha com o objetivo único de reconquistar o Rio Grande do Sul, há oito anos dominado pelo Inter de Falcão, como lembra Verardi. “O treinador era o Telê Santana e desde o início da temporada estávamos focados, tudo foi condicionado para interromper a série.” A campanha culminou na decisão do Campeonato Gaúcho contra o Inter no estádio Olímpico. “O time concentrou para a decisão contra o Inter num seminário de Padre.”

Foi o 25 de setembro. Tarciso errara um pênalti e mantinha a agonia e o grito do estádio Olímpico inteiro preso na garganta. De repente o meia Iúra carregou a bola pelo meio e lançou o centroavante André Catimba na cara do gol. Chute certeiro no ângulo do goleiro Benitez. 1 a 0. Contaminado pela euforia, Catimba se lançou num salto mortal. No meio do movimento despencou de cara no gramado. Nem comemorou, saiu lesionado. Aos 42 minutos do segundo tempo um torcedor colorado invadiu o campo e agrediu o árbitro Luis Torres. Foi o que bastou para a massa gremista lotar o gramado e antecipar a festa do jogo que nunca acabou. Grêmio campeão gaúcho.

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bastante diferente da que estamos acostumados a pensar, uma relação que engendra outros modos de vida possíveis. Viveiros de Castro se considera um pessimista na atual disposição das coisas em nossa sociedade, analisando a conjuntura indígena e a política contemporânea acha que não existe mais melhora possível, mas que seguir lutando é preciso.

O antropólogo Pierre Clastres afirma que os índios tem um modo de vida incompatível com a forma Estado. De que maneira esse embate se estabelece?

O Estado e os índios jamais vão se entender. O modo de existência das sociedades indígenas e o modo de existência do Estado é uma contradição insolúvel, os índios são inadministráveis e só por isso eles resistiram até hoje. Essa é uma contradição entre o um e o múltiplo, entre uma percepção de

Eduardo Batalha Viveiros de Castro é um carioca de 62 anos, antropólogo e professor do Museu Nacional da UFRJ desde 1978. Viveiros já passou por diferentes

universidades e grupos de pesquisa, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais na área das Ciências Sociais. Iniciou sua produção em 1972 e desde lá contabiliza sete livros e mais de cem publicações entre artigos e capítulos. Desenvolveu boa parte do seu trabalho com os povos indígenas amazônicos e a partir dessa experiência produziu sua teoria sobre o perspectivismo ameríndio. Viveiros de Castro é considerado um dos principais estudiosos das etnias brasileiras e já foi referenciado pelo antropólogo francês Claude Lévi-Strauss como fundador de uma nova escola na antropologia. Com o perspectivismo, Viveiros propõe um interessante debate sobre as

cosmologias indígenas e sua relação entre natureza, cultura e espiritualidade. Uma metafísica que explora um modo de ser diferente daquele do sujeito contemporâneo. A partir do pensamento indígena, Viveiros nos dá ferramentas para refletir sobre outros modos de ser e viver diferentes do modelo ocidental com o qual nos habituamos e propõe uma outra compreensão da nossa relação com o meio ambiente, bem como questionamentos que são parte da discussão sobre o sujeito humano na contemporaneidade. Compreender os povos indígenas para fugir da estereotipificação que nossa sociedade insiste em orquestrar mostra o quanto ainda temos estradas para percorrer na superação dessa tentativa reducionista e apressada de classificar o outro e ordená-lo a partir das nossas crenças e pontos de vista. Fugir do centro e conhecer um pensamento estruturado de forma

alma selvagem espírito do capitalismo

a

e o

por Luna Mendes e Guilherme Dal Sasso

O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro reflete sobre as sociedades indígenas e a política contemporânea

[Heloísa Silva - [email protected]]

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EntEnda o pErspEctivismoUma das questões que se colocavam pra mim é quais são os correlatos na vida prática indígena dessa filosofia do múltiplo que caracterizaria o modo de ser político da sociedade indígena. O perspectivismo é o correlato cosmológico dessa filosofia da multiplicidade. O modo de descrever isso é dizer que o perspectivismo é uma ontologia, no qual tudo que há pode ser pensado como na posição que nós humanos nos pensamos normalmente. Todo ponto do universo seria um eu potencial, portanto é como se a condição do sujeito fosse a coisa mais bem distribuída do mundo indígena. Todo lugar do universo pode ser um ponto de vista, por isso eu falei em perspectivismo.

É muito comum você ouvir em toda a América indígena a ideia de que as diferentes espécies animais, inclusive vegetais, tem um lado invisível que é um lado humano ou humanóide. Os membros de uma mesma espécie se vêem entre si como humanos, vêem o ambiente, as coisas que eles comem, como nós humanos vemos o nosso ambiente. Cada animal se vê como se fosse o centro, como os homens se vêem. É comum os índios dizerem de maneira meio metafórica, meio literal, de que o corpo dos animais é só uma roupa que eles têm e que usam quando saem do mato, para comer, para caçar. Como se por baixo dessa roupa existisse um outro corpo invisível para nós, mas visível pra eles, que é o corpo da espécie, que é igual ao corpo humano. Por exemplo, as onças se vêem como gente, mas elas não vêem nós humanos como gente, elas comem os seres humanos, então elas nos vêem como nós vemos o que a gente come, por exemplo um bando de porcos do mato, porque humanos comem porcos do mato. A onça quando está lambendo o sangue de um animal que ela matou na floresta, os índios dizem que

ela está tomando cauim, que é uma cerveja de milho, porque ela fica bêbada com sangue, assim como a gente fica bêbado com cauim.

O importante disso tudo é que essa posição que para nós é tão excepcional, que é a posição de ser humano, “só os humanos tem cultura, linguagem, alma, sociedade, regras, leis”; para os índios isso não é assim. Cada espécie é humana no seu departamento, digamos assim, inclusive nós. Então os índios não estão dizendo que é todo mundo gente, que é tudo bonito como se fosse uma coisa de Walt Disney, todo mundo lá se dando bem, “eu posso falar com os bichinhos”. Na verdade eu e a onça somos humanos, mas cada um para si mesmo, eu não vejo a onça como gente, o dia que eu começar a ver onça como gente, significa que eu virei onça e que então vou começar a ver os meus parentes como bichos e vou ser um perigo para eles, significa que eu estou doente, que a minha alma foi roubada pelas onças e que eu já virei uma onça. Então é um mundo extremamente complicado e perigoso, mas que tem essa característica das cosmologias contra o Estado. Um mundo no qual não existe um ponto de vista privilegiado que equivaleria no fundo ao ponto de vista do um, um ponto de vista superior que unifica de fora o mundo. Cada ponto desse mundo é um ponto de vista privilegiado para o ser que está ocupando aquele ponto de vista. Nesse sentido, se tem certa dispersão do sujeito no mundo, da subjetividade no mundo, que bloqueia o surgimento de um monopólio possível do sentido, que é o que o Estado representa. Pelo Estado é que você tem permissão de fazer sentido, fora do Estado você não existe. Você já nasce em um Estado, você não escolhe o Estado, não escolhe nascer, você já nasce em um mundo unificado e no qual você esta inteiramente submetido.

sociedade humana do ponto de vista do um, da ideia de que só o um a rigor existe, é pensável, só o um é administrável e de outro lado uma sociedade que está fundada no múltiplo, na diferença, dispersão, na insubmissão a qualquer forma de um. Na resistência perpétua e constante a qualquer tentativa - comum em qualquer sociedade humana - de unificação, de despotismos, de submissão do outro à vontade do um. O que Clastres chamou de sociedades contra o Estado é a existência dominante nas sociedades indígenas de forças que na nossa sociedade são dominadas, são menos visíveis, mas que não desapareceram. Elas são forças centrífugas, são forças que resistem à unificação, à subsunção - como se diz em lógica - do múltiplo pelo um.

O Estado e as sociedades indígenas são e serão inimigos eternos, não no sentido violento, bélico. Assim como a noção de máquinas de guerra do Clastres, sobretudo quando retomada por [Gilles] Deleuze e [Félix] Guattari, não significa arma de fogo, flecha. O que Deleuze e Guattari vão chamar de máquina de guerra é uma determinada maneira de resistir ao uno, uma maneira de resistir a sobrecodificação, como eles dizem. Isto é, ao investimento da máquina social por um poder transcendente a ela, uma instância transcendente a ela que a unifica de fora e que passa a ser o guardião da sua alma, que é o Estado para nós, o Estado é o dono da nossa alma coletiva, não só coletiva, mas eventualmente até individual.

Sobre as demarcações de terra indígenas. Esse é um modelo que serve para a preservação das sociedades indígenas de forma que permita que eles tenham certa autonomia e

mantenham sua relação com a natureza? As áreas da Amazônia são bem maiores do que as

áreas indígenas do sul do Brasil. Mato Grosso do Sul, por exemplo, tem áreas mínimas devastadas para o plantio de cana e soja, por não-índios. Os índios não têm como subsistir naquelas terras, têm que virar bóia-fria, têm que vender sua força de trabalho, isso quando não são escravizados pelos grandes

é o grande paradoxo resultado da colonização: a forma de ser indígena é contraditória com a forma Estado e ao mesmo tempo o Estado, no sentido institucional, é a única garantia que os índios têm de não serem trucidados pela sociedade brasileira.

De que forma tu vê esses conflitos que envolvem as demarcações?

Raposa Serra do Sol, por exemplo, tinha um número pequeno de grandes proprietários, parte deles eram pessoas que vieram do sul estimulados pela isenção de impostos feita pela ditadura. E assim foi se colonizando a Amazônia, com o excedente da população do sul, para aliviar as pressões fundiárias estimulando os colonos

a ir lá derrubar floresta, bater de frente com índio. O governo usa essas pessoas, durante as grandes secas mandava o povo do nordeste para a Amazônia. Onde tinha excesso de população, falta de terra e grandes proprietários, mandava para a Amazônia porque o governo entendia que não tinha ninguém lá, índio não é ninguém, Brasil é isso.

Ao mesmo tempo as terras dos índios são terras públicas da União, o índio não é proprietário, ele

fazendeiros. Os índios dessas regiões são inviáveis, ou eles desaparecem, ou eles se dispersam e vão para as favelas, porque as terras deles são microscópicas.

Raposa Serra do Sol e Terra Indígena Yanomami, são duas grandes reservas indígenas ambas em Roraima. As terras da Amazônia oferecem condições

para que os índios mantenham não a autonomia completa, mas uma zona de segurança que os permite manter algumas coisas essenciais do modo de vida deles, por exemplo o sistema agrícola que envolve a chamada agricultura itinerante. Os macuxi de Raposa Serra do Sol moram ali há muitos séculos e desenvolvem uma agricultura semi-mecanizada, vendem esse produto no mercado e controlam as relações de produção por vários mecanismos, mas essencialmente pela proteção do Estado. E esse

A Amazônia é umacolônia do sudeste e do sul

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populações tradicionais que você via nos Estados Unidos do século 19, na Europa, um país que se auto-coloniza. A Amazônia é uma colônia do sudeste e do sul, é explorada como se fosse uma colônia e como é do mesmo país parece que é tudo a mesma coisa, mas a Amazônia é outro mundo.

Pode-se dizer que existe uma sociedade brasileira?

Não vamos confundir o Estado-nação que existe no Brasil com uma unidade social real. O Estado-nação não é nem um conceito descritivo, é um conceito prescritivo: é uma norma, uma ordem. De fato, a Amazônia é parte do Estado-nação brasileiro, mas a sociedade amazônica e

a sociedade gaúcha são mundos muito diversos e o que a gente está vendo é uma colonização do norte pelo sul. E isso tem muito a ver com essa sociedade que aparece de cima pra baixo, o Brasil foi um Estado antes de ser uma sociedade. Oswald de Andrade fala que o Brasil nunca proclamou sua independência, de si mesmo inclusive.

A gente ouve falar que hoje é mais fácil de se imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo.

Essa frase é atribuída a Fredric Jameson, filósofo marxista americano. O sistema mundial e econômico está se mundializando a tal ponto que você não consegue imaginar uma alternativa para ele, então não tem o fim do capitalismo. Mas ao mesmo tempo se começa a ter a fantasia de que o mundo vai acabar. O mundo humano, porque a Terra vai continuar aí, mas pode transformar-se num planeta tão inóspito para a existência humana que a civilização vai sofrer uma mutação dramática em termos de tamanho de população, por causa de epidemias, secas, fome, todas essas coisas que a gente já está

tem o direito perpétuo de usar aquela terra, mas ele não pode vender. Um americano não pode comprar a terra indígena, mas ele pode comprar a fazenda de alguém que seja dono dela, então os índios guardam essas terras que são as áreas menos devastadas da Amazônia, olhando no mapa você vê que as áreas indígenas são manchas verdes no meio de um mar de palha. Nos anos 80 você não distinguia o Parque Indígena do Xingu no mapa se olhasse do satélite, hoje só o parque tem floresta, em volta é tudo liso. É isso que acontece na Amazônia, as áreas indígenas e as demais reservas - que são muito menos protegidas do que as áreas indígenas porque não tem ninguém lá para tomar conta - são as que estão resistindo à devastação.

O projeto de governo do Brasil hoje contempla essa diversidade de povos que o país possui?

Esse projeto de governo que está no poder dominante hoje fez uma aposta péssima. Ele tenta melhorar a vida da população sem botar a mão no bolso dos ricos. Mas para isso tem que explorar alguém, e quem ele explora? A terra, a natureza. É o que está pagando o custo da manutenção da ordem social, isto é, para não tocar na estrutura de classes, não tocar nos sistemas de poder do Sarney, do Lobão, dos grandes clãs mafiosos que controlam a política brasileira e que são apoiados pelo grande capital, pelas grandes empreiteiras. Para isso tiram da água, do solo, da mata, dos índios, mas dá para fazer isso por um certo tempo, depois não vai dar mais. Os ricos estão ficando cada vez mais ricos e é claro que a situação dos pobres está melhorando, houve uma melhora da economia brasileira, mas porque se fez um saque brutal da natureza que não foi só para os pobres, serviu mesmo foi para aumentar os grandes empreiteiros, o agronegócio, e isso aumentou o número de migalhas que cai da mesa, então o pessoal que está comendo as migalhas está melhor. Mas ainda é migalha que está caindo da mesa dos ricos, não viraram a mesa, continuam só espanando as migalhas enquanto o bolo vai ficando cada vez maior. Não dividiram o bolo.

A migalha que cai só serve para aumentar o consumo e não provoca uma mudança efetiva?

É como se houvesse uma espécie de conformismo total. Fora do capitalismo, do grande capital, não há saída. É como se tivesse havido um derrota da esquerda, do projeto da esquerda, porque a esquerda chegou no governo mas não chegou no poder. O poder continua onde sempre esteve, nas mãos do capital, nas mãos da oligarquia que governa o Brasil há séculos. O poder deixou a esquerda entrar no jogo, mas ela age até onde o poder secular que existe no Brasil permite. A aposta foi “vamos detonar o país”, “vamos ver até onde isso vai durar”, o mundo está balançando e o Brasil é um dos poucos países que tinha condições de inventar um modo completamente diferente de relação com o ambiente, com os recursos naturais porque é um país grande com muitos recursos, mas está adotando o mesmo modelo de exploração predatória, de descaso pelas

vendo. A atividade humana está fazendo a Terra cair em outro equilíbrio termodinâmico. Se a temperatura subir três graus, e dizem que se a gente parasse hoje de acender um único fósforo subiria isso de qualquer jeito, então vai subir mais, essa subida vai criar uma situação em que muitas áreas do mundo vão se tornar inabitáveis, a produção de alimentos vai cair pela metade. Nós temos pela frente um pepinão histórico em escala mundial e no Brasil tem-se a impressão de que se vive em outro planeta, mas tudo está no mesmo mundo.

A preservação da natureza e a existência de modos de vida que convivam com ela, isso tem espaço no capitalismo?

Tem muita gente que entende que é possível um capitalismo sustentável, um desenvolvimento sustentável dentro do capitalismo. Eu não acredito. O sistema capitalista depende do

crescimento contínuo. Crise contínua, mas crescimento contínuo. Toda lógica econômica

capitalista implica um crescimento infinito, o que é absurdo porque a Terra é redonda e finita. A população mundial não pode dobrar novamente, chegar a 14 bilhões, 28, 56, tem uma hora que é impossível extrair recurso suficiente para manter esse pessoal vivo, muito menos no nível

atual de consumo e muito menos no nível que o americano consome. Salvo engano,

o capitalismo, vamos chamar o sistema econômico atual, não me parece que possa se manter em bases sustentáveis. O que vai acontecer é uma mudança catastrófica que vai obrigar os que sobrarem a adotarem outras formas de subsistência.

Eu não sou otimista, de forma alguma, acho que a gente deve continuar brigando, mas a minha impressão é de que o pior já está feito, sempre pode piorar, mas tem

coisas muito ruins que já foram feitas e que não tem volta. Agora o negócio é não

piorar, não tem mais melhorar. Como a gente pode parar por exemplo as atividades que

aumentam a temperatura? Isso é urgente e não estou vendo ninguém correndo atrás disso.

As sociedades indígenas seriam um exemplo de outro mundo possível?

Existir é resistir. Os nossos índios, além de tudo, são um símbolo fundamental de que é possível viver de outro jeito. Mas nós vivemos nas nossas sociedades e não podemos mais viver como índios, stricto sensu. Só pela quantidade de população que tem aqui é impossível viver segundo o modo econômico indígena, é ilusão você achar que pode voltar ao passado, não tem volta, nem para a Hollywood dos anos 50, nem ao paraíso que dizem que era o Brasil em 1500. Agora, a gente pode aprender muita coisa em termos da não necessidade de um hiper consumo para ser feliz, uma determinada adequação do seu esforço ao necessário para sobreviver, em vez de sempre querer mais, ficar mais rico, a felicidade não aumenta na mesma proporção, todo mundo sabe disso. Então, tentar criar um novo equilíbrio entre necessidade, consumo, desejo, condições ambientais, esse é o desafio para a gente. Os índios são um exemplo que pode nos inspirar, mas imitar é impossível, ainda mais que os índios, aqui no sul, por exemplo, estão em situação deplorável, a terra deles foi devastada, reduzida. Eles estão suscetíveis a toda sorte de pressão.

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de integração regional com cidades-chave do interior.Magnus Gil chama a atenção para as peculiaridades

do Partido Pirata do Brasil. “O Piratas não pretende ser um partido de causa única, mas sim, um partido de atuação ampla. Estamos construindo propostas para todas as áreas, para todas as necessidades da população. Estamos, nesta construção, abraçando diversas causas de diversos movimentos sociais, que estão nos ajudando muito na caminhada de fundação. “

O Piratas surpreende por algumas bandeiras menos tradicionais, como o direito à diversidade sem opressão, descriminalização do usuário de drogas ou revisão das leis sobre compartilhamento, distribuição de conteúdo, direitos autorais e de patentes, e também pela abordagem proposta em alguns temas mais fundamentais, como uma reformulação do sistema educacional que permita o engajameno colaborativo dos agentes envolvidos no processo e a adoção de um modelo de segurança pública não repressivo. Mas as bandeiras que adornam o mastro principal são a da inclusão (social, econômica e digital) e da chamada democracia plena ou direta.

DEmOCrACiA E liBErDADEA grande aposta do Piratas está na forma que essas

políticas podem ser estabelecidas, pois já se passaram alguns milênios desde que os gregos desenvolveram o conceito de democracia como um regime onde os cidadãos decidem e participam dos processos políticos. Hoje, no Brasil e em boa parte do mundo, é a democracia representativa o sistema mais utilizado, onde representantes eleitos pela população definem leis e regras supostamente segundo as vontades da mesma. O Partido Pirata propõe que as decisões sejam tomadas coletivamente através de ferramentas digitais desenvolvidas em software livre, de maneira que todos os cidadãos tenham a possibilidade de votar e manifestar expressa e diretamente suas vontades ou preferências. Evitando o que eles chamam de ditadura da maioria, a proposta é modernizar a democracia.

Este modelo vem sendo implantado gradativamente em alguns parlamentos de cidades europeias. Berlim é o exemplo mais célebre. "Acreditamos em uma democracia direta, onde, em um futuro talvez remoto, todos os partidos (incluindo o nosso) sejam inutilizados, para que as pessoas escolham seus destinos sem necessidade de intermediários.” sentencia Magnus Gil.

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A história dos piratas se confunde com a própria história da navegação. O termo apareceu já no poema épico Odisseia, onde Homero citou os vagabundos

do mar, antes mesmo dos gregos inventarem a democracia. No século XVII a água morna do Mar das Caraíbas abrigava muitos desses navegadores errantes. Apesar do que consta em nosso imaginário, há registro de que esses piratas eram bastante organizados: cada um tinha sua função, prezavam muito a liberdade, e praticavam a democracia em suas naus, de forma que o capitão era eleito e poderia ser destituído a qualquer momento pela tripulação.

Mas o mundo tem mudado rapidamente, e nos últimos anos, com a evolução e popularização da internet, muitas práticas estão estruturalmente diferentes. Mesmo os termos “navegar” e “pirataria” receberam novos significados. Navegar, hoje, é também utilizado para a exploração do ambiente cibernético da rede mundial, e pirataria significa copiar ou reproduzir algo sem a expressa autorização do titular, o que tem sido muito usado no caso de compartilhamento de arquivos. Da mesma forma que os piratas setecentistas transportavam riquezas através dos oceanos, piratas virtuais intercambiam informações entre os continentes.

Essas mudanças inspiraram novas abordagens políticas, como o Partido Pirata. O movimento surgiu na Suécia em 2006 defendendo liberdade na internet, privacidade na rede e transparência pública – mas sua principal bandeira é a democracia direta.

Com o sucesso sueco, os ideais piratas se difundiram de forma independente e descentralizada pela Europa e, posteriormente, para outros lugares do mundo, como na Alemanha. Lá, nas últimas eleições estaduais, o Partido Pirata aumentou sua bancada de 20 para 45 parlamentares. Por aqui, os Piratas aportaram em 2007, capitaneados por estudantes e

profissionais de informática da USP. Marinheiros de primeira viagem, vêm aprendendo na prática e com o exemplo europeu. A partir de São Paulo, a agremiação vem ancorando em outros portos brasileiros, como Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

OS PirATAS TuPiniquinSNa Suécia o compartilhamento de arquivos não

é crime. Apesar disso, no dia 31 de maio de 2006, o governo sueco reprimiu as atividades do sítio The Pirate Bay, dedicado à indexação de arquivos para baixar. A empresa onde ficam hospedados os servidores do site foi invadida por policiais, teve computadores apreendidos e foi estipulada uma multa milionária aos responsáveis. Dias depois, essa ação gerou uma onda de protestos nas ruas de Estocolmo e Gotemburgo, que culminou na criação do primeiro Partido Pirata.

No Brasil o compartilhamento de arquivos é tratado pelo Código Penal, que em seu artigo 184 trata de direitos autorais e considera crime apenas os casos que visem lucro, direto ou indireto. Apesar disso, o Partido Pirata avança também no território brasileiro. Uma região de muita força e importância para o partido é o Nordeste, mais especificamente Pernambuco. Sua primeira convenção, realizada nos dias 27 e 28 de julho deste ano, reuniu ativistas e simpatizantes de 14 outros estados para aprovar estatuto e programa partidário, e construir a ata de fundação com cerca de 130 pessoas assinando como fundadoras do partido no Brasil.

No Rio Grande do Sul ainda há um difícil percurso pela frente. Felipe Magnus Gil, coordenador do partido no Rio Grande do Sul e fundador do movimento em Porto Alegre, expõe os principais obstáculos: “Estamos em processo de fundação. Precisamos de R$ 20 mil para custear a publicação de toda a documentação no Diário Oficial da União e nos oficializarmos de fato ”. As primeiras investidas na capital gaúcha se deram em setembro de 2009, quando se reuniram aproximadamente 10 pessoas. Em março de 2010 aquele grupo se desfez, e Magnus Gil abandonou temporariamente as atividades do partido. Em 2011, porém, após participação em eventos como o Fórum Internacional do Software Livre, que acontece anualmente em Porto Alegre, ele teve contato com outros membros do partido, e reassumiu suas atividades políticas, dessa vez colaborando com produção de propaganda para o grupo nacional. Em abril de 2012 viajou para o Rio de Janeiro, onde ficou 40 dias realizando ações com o coletivo carioca e integrando-se ao cenário nacional do partido.

Após uma entrevista dada por Felipe para um jornal de grande veiculação, em junho, alguns simpatizantes entraram em contato, surgindo um novo grupo do partido em Porto Alegre, autodenominado Piratas Gaúchos. Atualmente o coletivo conta com dez integrantes ativos e vem se concentrando em um esforço

texto e fotos por Leandro Hein Rodrigues

Navegando na democraciaMilitantes cibernéticos aportam na política nacional com o PIRATAS - Partido Pirata do Brasil

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tabare.net

Hoje é uma segunda-feira. O ano é 2010. Podia ser qualquer outro dia da semana, qualquer dos últimos 20 anos. Certas coisas não mudam...

Como qualquer outro dia, não tenho onde sentar. Mais um dia de ônibus lotado, mais um dia viajando de pé.

Minhas pernas estão cansadas, meus pés doem. Não sou o único. A roleta gira e bate atrás de mim, a batida metálica ressoa, imiscui-se com o barulho do motor e esvanece. “Licença, licença”. Caminho até a sanfona do ônibus, é um articulado, um “minhocão”. O movimento me diverte, me distrai.

Observo as pessoas nos bancos, rostos tão diferentes, mas tão iguais no cansaço. Um dia inteiro de trabalho, uma breve noite de sono, um dia inteiro de trabalho... Muitos cochilam, suas cabeças pesadas quase que se desprendem de seus pescoços e, assustados, acordam somente para ajeitar a cabeça no seu travesseiro de vidro. Para outros a janela exibe um filme no qual podem se concentrar. O cenário se repete dia-a-dia, mas sempre com algum movimento diferente, pessoas, carros, quem sabe um acidente. Perdem-se neles até chegarem à sua parada.

Conversas, fones de ouvido, jogos no celular...No corredor, colados uns aos outros, acotovelam-se os que não têm

a sorte de viajar sentados. Deixe as pernas bem retas, concentre o peso nos joelhos. Talvez as dores da cartilagem desgastada incomodem na velhice, mas agora os músculos não doem, agora é isso que importa.

A cada curva corpos se retesam. Antebraços se contraem imperativos, carpos, metacarpos e falanges obedecem. Inércia, ação, reação...

Ao passarmos por uma igreja percebo que alguns passageiros fazem, solenemente, o sinal da cruz. Alguns ao perceber a igreja, outros ao perceber que “devem” fazer o sinal. Coisas diferentes.

Deus, religião, idéias que me desagradam muito. Jesus é um mito, se tivesse que acreditar em um, acreditaria em Prometeu.

Prometeu, um mito grego, um imortal que roubou o fogo dos deuses para dar aos humanos. Aos mortais ensinou a escrita – “...inventei para eles a mais bela de todas as ciências, a dos nomes, que conserva a memória de todas as coisas...” - e a cultura – “todas as artes dos mortais vêm de Prometeu”. Como castigo, foi acorrentado na mais alta das montanhas e condenado a uma eternidade de tortura. Morte e renascimento.

Apesar da semelhança “messiânica”, há uma diferença muito grande entre estes dois mitos. Prometeu ensinou os humanos a lutar, a subjugar as adversidades com seu intelecto. Ele próprio resistiu, se revoltou – “Saibas bem que não trocaria minha infelicidade contra tua escravidão”, disse ele ao arauto de seu carrasco.

O mito cristão prega a passividade, a subserviência. Deve-se esperar a volta do salvador, nada mais. Não é a toa que nas fábulas da Bíblia é chamado de “cordeiro de deus”.

Estou quase chegando.Observo os passageiros mais uma vez. Procuro nos olhares cansados o brilho

do fogo de Prometeu, mas nada encontro. Deveríamos nos levantar e lutar, mas como posso exigir que lutem se a batalha que travam pela sobrevivência os esgota diariamente? Posso pedir que abandonem o misticismo que os ilude e abracem a amarga realidade de um mundo sem justiça divina, sem uma nova chance para ser feliz? Posso... Droga, minha parada! Quase perco! Não posso chegar mais tarde que o habitual em casa, tenho que dormir amanhã trabalho cedo e...

Ricardo já não consegue caminhar. Tem as pernas tortas, fracas, duras. O tempo atrofiou as articulações. Mesmo assim ele levanta e sai. Vai ao mercado da esquina. Leva uma hora no trajeto de ida. Outra hora e meia na volta, carregada. Ele balanceia. Apóia-se na parede para não cair. Ricardo carrega o peso de muitos anos, litros de leite e água. Ele treme da cabeça aos pés. Todos passam sem se importar. Uma mulher olha com desconfiança. Os olhos dele ainda carregam as remelas da noite. E da noite anterior também. O cheiro característico da idade e da solidão é forte. A camisa possui manchas velhas. Os tênis estão furados. O olho esquerdo foi tomado pela catarata. Ricardo tem medo de cair.

A esposa morreu há três anos. Deitada ao seu lado ela foi morrendo aos poucos. Eles se davam bem, sempre se deram bem. Resolveu vender a casa, deu metade para o único filho. Comprou um pequeno apartamento térreo com mercado próximo. O filho não visita, mora longe, é ocupado. Ricardo sobrevive sozinho. Agarrando-se aos muros. Dependendo da bondade de um transeunte. Ricardo está ficando invisível.

***Me dijo mi vieja, días antes de la muerte: no tenés nada para

contarme? No me quiero ir sin saber de los novios. Le dije que no, que la cosa no anda fácil. Se puso triste. Me dijo que un día encontraré el hombre ideal, seguramente alguien mayor. Sabe que no me gustan los jóvenes. Le arreglé la almohada. Me miró y después de pensar y perderse un poco en esa locura que tiene en la cabeza, dijo: que feo es estar solo.

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- Solfieri! És um insensato! O materialismo é árido como um deserto, é escuro como um túmulo! A nós

frontes queimadas pelo mormaço do sol da vida, a nós sobre cuja cabeça a velhice regelou os cabelos, essas

crenças frias? A nós os sonhos do espiritualismo.noite na Taverna – Álvares de Azevedo

por Glauber Winck

por Natascha Castro

[Fred Stumpf]

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outubro/2012 #17

fim

Em 1913, vem ao mundo Vinícius de Moraes, poeta, compositor, diplo-mata e grande bebedor de uísque. Chega de saudades e avança duas casas.

Em 1934, a Frente Única Antifascista entra em combate contra a “marcha dos cinco mil”, promovida pela Ação Integralista Brasileira. O conflito armado resultou na “revoada dos galinhas verdes”. Anda uma casa pra não levar uma galinhada na cabeça.

Há x anos em TabaréMês de outubro

JOGUINHO ESQUIZO

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Imtruçãos:

Em 1879, Thomas Edison inventa a lâmpa-da elétrica. Apaga a luz e tira a roupa.

Em 1949, é criada a República Popular da China, governada pelo partido comunista. Anda duas casas em homenagem ao país comunista mais capitalista do mundo.

No dia 2 de outubro de 1982, 111 presos do Complexo Peni-tenciário do Carandiru, em São Paulo, foram executados pela PM paulista. Se tu é jovem, pobre, negro e tá sendo acusado de um crime, anda três casas e foge logo da polícia exterminadora.

Em 1930, uma gauchada comandada pelo futuro presiden-te Getúlio Vargas sai do Rio Grande do Sul rumo ao norte, em oposição à “República Café Com Leite”. Canta todo o Hino Rio-Gran-dense contra a concentração de poder sudestina.

Em 1967, Che Guevara é capturado na selva próxi-ma a La Higuera, na Bolívia, e assassinado pelo exérci-to boliviano, em colaboração com a CIA. Fuma um mate e toma um charuto em homenagem a este que se tornaria um símbolo contra as injustiças sociais, estam-pando camisetas hipsters na América e no mundo.

Doze de outubro de 1492. Colombo chega a terras americanas e começa a invasão, o roubo e o extermínio das civilizações indíge-nas que aqui residiam. Volta duas casas em luto pelos nossos antepas-sados mortos e violentados.

Em 1978 o presidente de facto Ernesto Geisel revoga o Ato Institucio-nal nº5, que havia suspendido uma série de direitos constitucionais e “liberado” a censura prévia, a suspenção de direitos políticos dos cidadãos e a proibição de manifes-tações políticas. Avança duas casinhas que a ditacuja tá começando a cair.

Em 1964, Martin Luther King recebe o prêmio Nobel da Paz em reconhecimento à sua luta em defesa dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Quatro anos depois foi assassinado por um maluco segregacionista. Avança três casas em memória a um dos pais do movimento negro.

Em 2011, a Terra atinge 7 bilhões de

pessoas. Pronto, cabô, agora vê se não te acha

a bolacha mais recheada do pacote que tu é só

mais um entre 7 bilhões.

Em vinte e nove de outubro de 1897, nasce Joseph Goebbels, minis-tro da propaganda de Hitler. Volta uma casa em luto ao genocídio contra judeus, ciganos, pobres, homossexuais e todas as outras vítimas do nazismo.

Dezesseis de outubro de 1846, o médico estadunidense William Morton utiliza o éter como anestésico em um procedimento cirúrgico pela primeira vez. Daí pro pessoal descobrir que o negócio dava barato foi um passo, aproveita e dá o teu rumo ao fim do jogo.

Em 1989, o então presidente do Brasil José Sarney sanciona a lei do divórcio. Um avanço de três casas pra ti e pra liberdade de viver com quem tu quiser.

Vinte e sete de outubro de 2002, o ex-líder sindical do ABC Paulista Luís Inácio Lula da Silva é eleito presidente do Brasil. Avança duas casas porque eleger um presidente sindicalista, nordestino e de origem humilde num país com uma elite conservadora de “doutores” não é coisa pouca.

Em 1789, o Palácio de Versalhes é invadido e a família real francesa enxotada para uma prisão de Paris. Tempos depois são julgados e executados. Fica uma rodada sem jogar pra não ser guilhotinado.

1. Pega uns dados ali na mesa!2. Faz bolinhas de papel serem peões.

XXI

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[Martino Piccinini]Tá tudo errado: O produto não é inflável

taBarÉ