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TALES DUQUE ESTEVES DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE MÉTODO ANALÍTICO PARA ANÁLISE DE RESÍDUOS DE CHLORFENAPYR EM CITROS POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA ACOPLADA A ESPECTROMETRIA DE MASSAS – CLAE-EM/EM v. 2 Orientado por:Prof. Dr. Adilson Roberto Gonçalves Lorena – SP 2012 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Engenharia de Lorena EEL-USP

TALES DUQUE ESTEVES

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Page 1: TALES DUQUE ESTEVES

TALES DUQUE ESTEVES

DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE MÉTODO ANALÍTICO PARA

ANÁLISE DE RESÍDUOS DE CHLORFENAPYR EM CITROS POR

CROMATOGRAFIA LÍQUIDA ACOPLADA A ESPECTROMETRIA DE

MASSAS – CLAE-EM/EM

v. 2

Orientado por:Prof. Dr. Adilson Roberto Gonçalves

Lorena – SP 2012

U N I V E R S I D A D E D E S Ã O P A U L O

E s c o l a d e E n g e n h a r i a d e L o r e n a E E L - U S P

Page 2: TALES DUQUE ESTEVES

Tales Duque Esteves

DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE MÉTODO ANALÍTICO PARA

ANÁLISE DE RESÍDUOS DE CHLORFENAPYR EM CITROS POR

CROMATOGRAFIA LÍQUIDA ACOPLADA A ESPECTROMETRIA DE

MASSAS – CLAE-EM/EM

Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado à Escola de Engenharia de Lorena como requisito para conclusão do curso de graduação em Engenharia Química, área de concentração: Química

Analítica. Orientador: Prof. Dr. Adilson Roberto Gonçalves

Lorena – SP 2012

Page 3: TALES DUQUE ESTEVES

DEDICATÓRIA

Dedico o presente trabalho

de conclusão de curso ao meu irmão Tayrone Duque Esteves, por me abrir as portas de um novo mundo nesta universidade e que agora concluo.

Page 4: TALES DUQUE ESTEVES

AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Adilson Roberto Gonçalves, pela orientação para elaboração deste

trabalho.

Ao Engenheiro Químico José Wellington Germano, pelas inúmeras respostas

para as intermináveis perguntas; pelo eficiente apadrinhamento de mim como

estagiário e pela enorme força de vontade e atitude na busca da minha

contratação.

À Margarete Reis, pelo auxílio e companheirismo no “pacote chlorfenapyr” e

pela amizade em qualquer outra situação.

À Roberta Leite, Supervisora de Laboratório de resíduos do GENCS, que

permitiu a realização deste trabalho, proporcionando o uso do laboratório para

realização dos experimentos.

A todos os amigos que de alguma maneira contribuíram para realização deste

trabalho.

A todos os professores da Escola de Engenharia de Lorena que realmente

contribuíram e foram responsáveis pela minha formação.

Page 5: TALES DUQUE ESTEVES

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CLAE: Cromatografia Liquida de Alta Eficiência, do inglês High Performance

Liquid Chromatography

CLAE-EM: Cromatografia Liquida de Alta Eficiência Aclopada à Espectrometria

de Massas

CLAE-EM/EM: Cromatografia Liquida de Alta Eficiência Aclopada à

Espectrometria de Massas em Série

CV: Coeficiente de Variação

DP: Desvio Padrão

LRM: Limite de Resíduo Máximo

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

TOF: Detector “Tempo de Voo”, do inglês Time of Flight

LOQ: Limite de Quantificação

LOD: Limite de detecção

SPC: Solução Padrão de Calibração

QC: Amostra Controle, do inglês Quality Control

r: Coeficiente de correlação

F1: Fortificado no nível do Limite de Quantificação

F6: Fortificado no nível 100 vezes o Limite de Quantificação

UT: Amostra testemunha (Amostra de laranja em que não foi aplicado

chlorfenapyr no campo. Utilizada para comprovar a ausência do composto na

matriz)

Page 6: TALES DUQUE ESTEVES

RESUMO

O Limite de Resíduo Máximo (LMR), cada vez menor, é visado nos

Estudos de Análise de Resíduo. Para isso se exige o desenvolvimento de

métodos de quantificação em tecnologias mais avançadas, como a

cromatografia líquida de alta eficiência com espectrômetro de massas como

detector: técnica veloz, precisa e exata quando comparadas à outras técnicas

de quantificação.

O cultivo de laranja é, sem dúvida, um dos maiores setores da

agroindústria brasileira. A produtividade elevada é resultado de um processo de

plantio e manutenção da colheita minuciosamente controlados, onde a

aplicação de defensivos agrícolas como o chlorfenapyr, utilizado para combater

ácaros que atacam a cultura, é fundamental.

As substâncias toxicologicamente significativas resultantes do uso

destes em concentrações significativas, deve ser quantificado para a análise de

risco e controle da liberação do produto no mercado. Para controlar estes

Estudos de Análise de Resíduo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) exige, entre outros critérios, que o método de análise laboratorial

para a quantificação dos resíduos, presentes na matriz vegetal após a colheita,

seja validado quanto a critérios de exatidão, precisão, sensibilidade e

confiabilidade dos resultados.

A Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplada a detector de

Espectrometria de Massas em Série (CLAE-EM/EM) é uma técnica muito

utilizada para a quantificação de moléculas orgânicas em matrizes complexas

como a vegetal, por ter grande eficiência na separação de interferentes

reduzindo o tempo e a complexidade depurificação da amostra.

O Método proposto no presente trabalho foi uma adaptação de um

método já existente com alterações na parte de cromatografia. Obteve

resultados satisfatórios quanto a todos os critérios exigidos pela ANVISA.

Mostrou-se sensível a pequenas alterações na concentração do

composto na amostra; apresentou uma faixa linear de trabalho

satisfatória;precisão e exatidão dentro do limite aceitável; livre de interferência

Page 7: TALES DUQUE ESTEVES

da matriz vegetal; e robusto, sem interferência de pequenas modificações no

fluxo de fase móvel e temperatura do forno de coluna.

As Soluções utilizadas nas etapas do método foram estocadas e sua

estabilidade foi avaliada, comparando concentrações com uma solução de

concentração igual porém fresca (preparada no dia). Tanto a Solução Padrão

de Calibração como a Solução Padrão de Estoque se mostraram estáveis nos

períodos de armazenagem propostos: 30 e 101 dias, respectivamente.

O método analítico de CLAE-EM/EM constitui, portanto, uma ferramenta

útil na rotina de estudos de análise de resíduo de defensivos agrícolas.

Page 8: TALES DUQUE ESTEVES

ABSTRACT

The Maximum Residue Limit (MRL) is aimed at diminishing Studies in

Residue Analysis and this requires the development of methods to quantify in

more advanced technologies such as high performance liquid chromatography

with mass spectrometer as the detector: Technical faster , precise and accurate

when compared to other quantification techniques.

The orange crop is undoubtedly one of the biggest sectors of the

Brazilian agribusiness. The high productivity is the result of a process of

planting and maintaining harvest thoroughly checked where the application of

agricultural chemicals such as chlorfenapyr, used to combat mites that attack

the crop is essential.

Toxicologically significant substances resulting from the use of these in

significant concentrations, should be quantified for risk analysis and control of

product release in the market. To control these studies Residue Analysis of the

National Health Surveillance Agency (ANVISA) requires, among other criteria,

the laboratory analytical method for the quantification of residues in vegetables

after harvest matrix is validated as the criteria of accuracy, accuracy, sensitivity

and reliability of the results.

The High Performance Liquid Chromatography coupled to Mass

Spectrometry detector in series (HPLC-MS/MS) is a widely used technique for

the quantification of organic molecules in complex matrices such as vegetable

to have high efficiency in separating interfering reducing the time and

complexity of purification of the sample.

The method proposed in this study was an adaptation of an existing

method with changes in the chromatography and obtained satisfactory results

for all the criteria required by ANVISA.

Was sensitive to small changes in the concentration of the compound in

the sample showed a linear working satisfactorily; precision and accuracy within

the acceptable limit, free of interference from vegetable matrix, and robust,

without interference from small changes in the flow of mobile phase and column

oven temperature.

Page 9: TALES DUQUE ESTEVES

The solutions used in the steps of the method were stored and their

stability was evaluated by comparing concentrations with a solution of equal

concentration but fresh (prepared in days). Both the solution and the Calibration

Standard Stock Standard Solution were stable on storage periods proposed: 30

and 101 days, respectively.

The analytical method of CLAE-EM/EM therefore, constitutes a useful

technique to perform in routine studies of residue analysis of pesticides.

Page 10: TALES DUQUE ESTEVES

SUMÁRIO

1. OBJETIVOS.............................................................................................15

1.1 Objetivo Geral............................................................................15

1.2 Objetivos Específicos................................................................15

2. JUSTIFICATIVA.......................................................................................16

3. REVISÃO DA LITERATURA...................................................................17

3.1 A Laranja no Brasil....................................................................17

3.2 Defensivos Agrícolas.................................................................18

3.3 Chlorfenapyr..............................................................................19

3.4 Cromatografia............................................................................20

3.4.1 Cromatografia, uma breve cronologia..................................21

3.4.2 O Cromatograma...................................................................22

3.4.3 Cromatografia Líquida...........................................................22

3.5 Espectrometria de Massas........................................................24

3.6 A Análise de Resíduo por CLAE-EM/EM...................................27

3.7 Validação de um Método Analítico............................................27

3.7.1 Curva Analítica e Linearidade..............................................28

3.7.2 Sensibilidade........................................................................29

3.7.3 Limite de Detecção e Limite de Quantificação....................29

3.7.4 Recuperação (Exatidão)......................................................30

3.7.5 Precisão...............................................................................30

3.7.6 Robustez..............................................................................31

4. MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................32

4.1 Equipamentos...........................................................................32

4.2 Reagentes, Solventes e Gases................................................32

4.3 Método Analítico......................................................................32

4.3.1 Metodologia de Purificação................................................33

4.3.2 Metodologia de Quantificação...........................................34

4.4 Critérios de Validação..............................................................34

4.5 Estabilidade de Soluções.........................................................35

5. RESULTADO E DISCUSSÕES...............................................................36

5.1 Adaptação do Método de Quantificação..................................36

Page 11: TALES DUQUE ESTEVES

5.2 Tabela de Resultados, Curva de Calibração e Cromatogramas

Típicos......................................................................................38

5.2.1 Curva Analítica e Linearidade............................................45

5.2.2 Sensibilidade......................................................................46

5.2.3 Limite de detecção e Limite de Quantificação...................46

5.2.4 Seletividade........................................................................46

5.2.5 Exatidão da Medição..........................................................47

5.2.6 Precisão da Medição..........................................................47

5.3 Robustez do Método.................................................................48

5.4 Interferência de Matriz..............................................................50

5.5 Estabilidade das Soluções........................................................51

6. CONCLUSÃO..........................................................................................54

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................56

Page 12: TALES DUQUE ESTEVES

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Molécula de Chlorfenapyr.................................................................20

Figura 2 - Esquema de funcionamento da Espectrometria de Massas.........25

Figura 3 – Esquema de um Espectrômetro de Massas do tipo Triplo

Quadrupolo........................................................................................................26

Figura 4 – Cromatograma típico de solução padrão de concentração 20 ng/mL

em condições não ideais...................................................................................36

Figura 5 – Cromatograma típico de solução padrão de concentração 1,25

ng/mL em condições ideais...............................................................................37

Figura 6 – Curva de Calibração........................................................................40

Figura 7 -Branco de Reagentes – Amostra sem matriz de citros, apenas com

reagentes e solventes........................................................................................40

Figura 8 - UT (Amostra Testemunha): Amostra de citros sem adição de

chlorfenapyr.......................................................................................................41

Figura 9 - QC (Amostra Controle): Amostra testemunha fortificada no nível do

LOQ após a etapa de purificação......................................................................41

Figura 10 - F1 – Amostra Testemunha fortificada no nível do LOQ antes da

rota de purificação.............................................................................................42

Figura 11 - F6 – Amostra Testemunha fortificada em 100xLOQ antes da rota

de purificação....................................................................................................42

Figura 12 - SPC A – Solução Padrão de Calibração com concentração de

0,125 ng/mL.......................................................................................................43

Figura 13 - SPC B – Solução Padrão de Calibração com concentração de

0,250 ng/mL.......................................................................................................43

Figura 14 - SPC C – Solução Padrão de Calibração com concentração de

0,500 ng/mL.......................................................................................................44

Figura 15-SPC D – Solução Padrão de Calibração com concentração de 1,25

ng/mL.................................................................................................................44

Figura 16- SPC E – Solução Padrão de Calibração com concentração de 2,50

ng/mL.................................................................................................................45

Figura 17 – Cromatograma típico de Solução Padrão de concentração 1,25

ng/mL apósajustes para o teste de robustez.....................................................49

Page 13: TALES DUQUE ESTEVES

Figura 18 – Curva de Calibração (Teste de robustez)......................................49

Figura 19 – Comparação: Curva de calibração com e sem matriz.................51

Page 14: TALES DUQUE ESTEVES

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Propriedades do composto..............................................................20

Tabela 2 – Método de Quantificação modelo....................................................33

Tabela 3 – Método de Quantificação proposto..................................................38

Tabela 4 – Resposta das injeções Soluções Padrões de Calibração utilizadas

na Curva de Calibração.....................................................................................39

Tabela 5 – Recuperações dos Fortificados encontrados a partir da curva de

calibração...........................................................................................................39

Tabela 6 – Recuperações dos Fortificados encontrados a partir da curva de

calibração (Teste de robustez)..........................................................................48

Tabela 7 – Estabilidade de 28 Dias – SPE.......................................................52

Tabela 8 – Estabilidade de 56 Dias – SPE.......................................................52

Tabela 9 – Estabilidade de 101 Dias – SPE.....................................................53

Tabela 10 – Estabilidade de 15 Dias – SPC.....................................................53

Tabela 11 – Estabilidade de 30 Dias – SPC.....................................................53

Page 15: TALES DUQUE ESTEVES

15

1. OBJETIVOS

1.1. Objetivo Geral

• Desenvolver e validar método analítico por CLAE-EM/EMpara

determinação de resíduos de Chlorfenapyr.

1.2 Objetivos Específicos

• Testar diferentes condições cromatográficas para otimização do método

• Validar Método em Citros (Grupo de Cultura coberto pela validação em

apenas uma cultura como limão, laranja ou tangerina)

• Comparar curva de calibração em solução de metanol com curva de

calibração em solução contendo matriz vegetal de laranja

Page 16: TALES DUQUE ESTEVES

16

2. JUSTIFICATIVA

A exigência e restrição cada vez maior dos órgãos nacionais e

internacionais com os estudos de análise de resíduo, assim como a

necessidade de se o quantificar quantidades de resíduo cada vez menores

para gerar um menor limite de resíduo máximo (LRM), faz com que seja

necessário o desenvolvimento de métodos de quantificação em tecnologias

mais avançadas como a cromatografia líquida de alta eficiência com

espectrômetro de massas como detector: capaz de detectar menores

quantidades do agroquímico presente na matriz de interesse com alta

seletividade, sensibilidade e confiabilidade.

Page 17: TALES DUQUE ESTEVES

17

3.REVISÃO DA LITERATURA

3.1.A Laranja no Brasil

A Laranjeira, assim como todas as plantas cítricas, é nativa da Ásia. Foi

levada, durante a Idade Média, para o norte da África e daí, para o sul da

Europa. Da Europa foi trazida para as Américas na época dos descobrimentos,

por volta de 1500. Atualmente, os pomares mais produtivos encontram-se nas

regiões de clima tropical e subtropical, destacando-se como grandes

produtores de citros o Brasil, Estados Unidos, Espanha, México é China.

(ABECITRUS, 2007)

As mudas e as técnicas de cultivo da laranja foram trazidas da Espanha

para o Brasil pelos Portugueses, entre 1530 e 1540, para suprir a necessidade

de vitamina C das tripulações dizimadas por escorbuto na época do

descobrimento e da colonização da América Latina. Graças à excelente

adaptação da laranja ao clima e solo brasileiros, por volta de 1800 surgiu no

Brasil uma variedade particular de laranja reconhecida internacionalmente: a

laranja Bahia. (ABECITRUS, 2007).

Após o declínio da produção de café no Brasil a laranja ganhou maior

espaço na agricultura brasileira e começou a ser exportada em 1910 e

rapidamente se tornou um dos 10 produtos mais exportados do Brasil. Há um

predomínio da cultura de laranja Pera na produção brasileira, por ser típica de

uso industrial, já que a produção brasileira é orientada para o processamento

de suco concentrado com destino à exportação. (ABECITRUS, 2007)

O sistema agroindustrial da laranja é, sem dúvida, um caso de sucesso

no Brasil, pois emprega diretamente mais de 400 mil pessoas, é a atividade

principal de 322 municípios paulistas e 11 mineiros. Também atende 50% da

demanda e 75% das transações internacionais trazendo, anualmente, 1 bilhão

de dólares em divisas para o Brasil, no centre de uma cadeia produtiva que

gera PIB equivalente a 5 bilhões de dólares (ABECITRUS, 2007). Segundo

pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a

safra brasileira de laranja em 2011/2012 foi estimada em 375,74 milhões de

caixas, sendo cada caixa de 40,8 kg (IBGE, 2012).

Page 18: TALES DUQUE ESTEVES

18

3.2 Defensivos agrícolas

Êxodo rural, falta de mão de obra, competitividade, crescimento

populacional e diminuição de áreas cultiváveis. Esses são alguns dos motivos

para que a agricultura seja impulsionada a um nível de produção cada vez mais

exigente e eficiente. Para se atingir uma produção de alta qualidade, o uso de

defensivos agrícolas (agrotóxicos) para o controle de pragas antes ou durante

o cultivo de um alimento é cada vez mais necessário.

O governo brasileiro define como agrotóxico “Os produtos e os

componentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso

nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos

agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de

outros ecossistemas e também em ambientes urbanos, hídricos e industriais,

cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna, a fim de preservá-

la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como

substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes,

estimuladores e inibidores do crescimento." (Lei Federal nº 7.802 de 11/07/89,

regulamentada através do Decreto 98.816, no seu Artigo 2º, Inciso I)(JARDIM,

2009).

Existem mais de 800 compostos registrados como ingredientes ativos de

produtos comercializados como agrotóxicos no mundo todo. O Brasil, por

possuir extensas e férteis áreas de plantio, é cada vez mais um forte

consumidor destes produtos.Este consumo cresceu bastante nas últimas

décadas, transformando o país em um dos líderes mundiais no consumo de

agrotóxicos. Entre 1972 e 1998, a quantidade de ingrediente ativo vendido

cresceu 4,3 vezes, passando de 28.043 toneladas para 121.100 toneladas/ano.

A importância econômica deste mercado é evidente: segundo a ABIFINA

(Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas

Especialidades), o faturamento do segmento agroquímico saltou de 1,2 bilhão

em 2002 para 4,4 bilhões em 2004. Em relação às classes de uso, em 2004,

40% dos produtos vendidos eram herbicidas, 31% fungicidas, 24% inseticidas e

5% outros(SWARUP, 2008).

Resíduos de agrotóxicos são definidos como as substâncias

toxicologicamente significativas resultantes do uso destes, que ocorre em

Page 19: TALES DUQUE ESTEVES

19

vegetais e/ou produtos de origem vegetal, em concentrações significativas.

Compreende o princípio ativo da substância teste, bem como seus metabólitos,

quando aplicável. O uso inadequado de agrotóxicos pode gerar um alimento

com teor de resíduo acima do aceitável e isso pode causar sérios prejuízos à

qualidade do solo, saúde do agricultor, assim como a saúde do consumidor e

por isso deve ser regulamentado por um órgão fiscal. (CHIARADIA, 2009). A

Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) coordena o Sistema Nacional

de Vigilância Toxicológica, regulamentando, analisando, controlando e

fiscalizando produtos e serviços que envolvam risco a saúde - agrotóxicos,

componentes e afins e outras substâncias químicas de interesse toxicológico.

Realiza a avaliação toxicológica para fins de registro dos agrotóxicos e a

reavaliação de moléculas já registradas; normatiza e elabora regulamentos

técnicos e monografias dos ingredientes ativos dos agrotóxicos; coordena o

Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos nos Alimentos (PARA) e a

Rede Nacional de Centros de Informação Toxicológica e promove ações de

capacitação em toxicologia no Sistema Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA, 2006).

3.3 Chlorfenapyr

Chlorfenapyr é um inseticida e, especificamente, um pró-inseticida (o

que significa que é metabolizado em um inseticida ativo após a entrada no

hospedeiro), derivado de uma classe de compostos conhecidos como pirróis

halogenados.

Age interrompendo a produção de ATP (Trifosfato de Adenosina)

gerando morte celular e finalmente, mortalidade do organismo. É largamente

utilizado no controle de ácaros em culturas de citros.

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) negou,

inicialmente, o registro deste ingrediente ativo para uso em algodão em 2000

por preocupações de que o inseticida era tóxico para pássaros que viviam na

área de aplicação. Posteriormente, após mais estudos, em 2001 foi registrado

pela EPA para culturas não-alimentares. Em 2005, a EPA estabeleceu uma

tolerância de resíduos de chlorfenapyr para culturas alimentares. (EPA)

Page 20: TALES DUQUE ESTEVES

20

No Brasil, é registrado para aplicação em diversas culturas como

algodão, alho, batata, cebola, citros, couve, crisântemo, feijão, maracujá,

mamão, melancia, melão, milho, pimentão, repolho e rosa. Com aplicação foliar

e IDA (Ingestão Diária Aceitável) de 0,03 mg/kg de peso corporal do

consumidor. (ANVISA)

A figura 1 mostra sua estrutura molecular com a presença de

halogêneos e anel aromático. Na tabela 1 é a apresentado suas propriedades

principais.

Figura 1 - Molécula de Chlorfenapyr

Tabela 1 – Propriedades do composto

3.4 Cromatografia

A cromatografia é um processo de separação físico-químico, cuja

aplicação permite a análise qualitativa ou quantitativa de uma amostra. A

cromatografia permite separar constituintes de uma mistura através de sua

distribuição por duas fases: uma estacionária (fixa) e outra móvel.

A fase móvel (solvente que percorre a coluna) na cromatografia pode

ser líquida ou gasosa. A fase estacionária (que fica fixa dentro da coluna) é

Propriedades

Fórmula Molecular C15H11BrClF3N2O

Massa Molar 407,6 g/mol

Densidade 0,543 g/mL

Ponto de Fusão 100-101 ºC

Page 21: TALES DUQUE ESTEVES

21

normalmente um líquido viscoso que cobre o interior de um tubo capilar ou a

superfície de partículas sólidas empacotadas dentro da coluna. (COLLINS,

2006)

3.4.1 Cromatografia, uma breve cronologia

A cromatografia é uma técnica analítica que teve sua origem no início do

século, mas cuja utilização, ainda que não definida como técnica analítica

remonta milênios.

No ano de 1850, as técnicas de Cromatografia Líquida de Troca Iônica

aparecem registradas na publicação no “Journal of Royal Agricultural Society”

por Way através de um trabalho sobre o emprego de trocadores iônicos

naturais.

Em 1893, a Cromatografia foi utilizada como tal, pelo químico inglês

Lester Reed, o qual publicou um trabalho nos “Procedures of Chemical Society”

sobre a separação de sais orgânicos e inorgânicos pela passagem de suas

soluções através de colunas contendo caolim; e pelo químico norte-americano

David Talbot Day, que publicou em 1897 um trabalho relatando suas

experiências no que chamava “Difusão Fracionada” de amostras de petróleo.

(HARRIS, 2001)

Como técnica analítica a cromatografia tem seu “debut” no ano de 1930

com a publicação de Tsvet do trabalho “Sobre uma nova categoria de

fenômenos de adsorção e sua aplicação em análises biomédicas” junto à

Sociedade de Ciências Naturais de Varsóvia.

Os primeiros trocadores iônicos sintéticos datam de 1935 através dos

trabalhos de Adams & Holmes no Departamento de Pesquisas Científicas e

Industriais do Reino Unido.

O ano de 1941 marca o início dos trabalhos em Cromatografia de

Partição com a publicação de Martin & Synge sobre a análise de aminoácidos

emhidrolizados de proteínas. Nesse mesmo ano, surge o primeiro relato formal

de experiências de Cromatografia em fase gasosa. O trabalho de

Eilbrecht&Chakhotin, estudantes da Universidade de Marburg, Alemanha,

separando ácidos graxos pela passagem de seus vapores através de colunas

Page 22: TALES DUQUE ESTEVES

22

contendo sílica gel, impregnado de CO2 como gás de arraste, o qual chamaram

de “Destilação de Adsorção”, foi publicado por Hesse no “Leibigs Ann. Chem.

O relato da construção do primeiro cromatógrafo gasoso cabe a Cremer

no ano de 1950 na Universidade de Innsbuuck, Áustria. O primeiro

cromatógrafo gás-líquido para uso em partição foi construído no ano de 1952

no Instituto Nacional de Pesquisas Médicas de Londres.

A cromatografia de exclusão surge no ano de 1959 com a publicação,

por Porath&Flodin, na revista “Nature”, de um trabalho relatando a síntese de

um gel de dextranas com ligações cruzadas. (HARRIS, 2001)

3.4.2 O Cromatograma

Em um cromatograma ideal, os picos apresentam-se separados e

simétricos; na prática pode haver sobreposição parcial devido a uma separação

deficiente na coluna, ou a presença de picos com assimetria frontal ou caudas.

A assimetria frontal está frequentemente relacionada com um excesso de

amostra injetada ou com o uso de colunas em uma temperatura abaixo do ideal

para determinada análise. As caudas aparecem devido às falhas na técnica de

injeção da amostra, ou devido à adsorção excessiva na fase estacionária ou

suporte. (HARRIS, 2001)

3.4.3 Cromatografia Líquida

A cromatografia líquida clássica que utiliza colunas comuns de vidro é

facilmente mantida em operação. A introdução de micro partículas (20 micra de

diâmetro) motivou o desenvolvimento da instrumentação necessária para

realizar a cromatografia líquida de alta performance. Assim, a cromatografia

líquida tornou-se uma poderosa técnica analítica, onde uma sofisticada

instrumentação é utilizada. Porém, para manter tal sistema em boas condições

operacionais cuidados devem ser tomados. Para diagnosticar, resolver ou

simplesmente evitar problemas operacionais, deve-se conhecer aspectos como

fase móvel, bomba, detector, colunas e preparação de amostras.

A fase móvel deve ser livre de impurezas que produzem respostas no

detector, não deve atacar as partes integrantes do cromatógrafo e não pode

Page 23: TALES DUQUE ESTEVES

23

conter partículas de gás dissolvidas. Os solventes utilizados no preparo da fase

móvel, são isentos de impurezas, entretanto, contêm estabilizantes, por

exemplo, etanol em clorofórmio, que podem afetar a separação e a linha de

base. Na maioria dos casos, estes compostos devem ser removidos, mas

deve-se lembrar que uma vez removidos, mudanças ocorrerão no solvente. A

água é um solvente comum, desta devem ser removidos íons, materiais

orgânicos em suspensão e microrganismos. A pressurização do solvente

também ajuda a eliminar a formação de bolhas, as quais podem interferir no

funcionamento da bomba, vazão e resposta do detector. (De AQUINO NETO,

2003)

Muitos problemas são produzidos por causa de uma amostra inadequada

ao cromatógrafo, como efeito de sólidos na coluna, aumentando a pressão

contrária. Nestes casos deve-se filtrar a amostra através do sistema “sep-pak”,

que consiste em um pequeno cartucho de plástico contendo sílica ou fase

reversa, sob o qual são adsorvidos estes contaminantes, preservando a coluna.

A coluna é responsável pela separação de uma mistura em seus

componentes. É importante tomar providências para assegurar à coluna ótimo

desempenho, e vida prolongada. A contaminação da coluna por componentes

que não eluem, e ficam adsorvidos na fase estacionária, causam mudanças no

tempo de retenção, que tende a aumentar. Assim deve-se permitir que a coluna

se equilibre antes de injetar a amostra, deixando estabilizar a linha de base;

nunca deixar a coluna exposta a fontes instáveis de radiação térmica, pois

podem provocar um gradiente de temperatura através da coluna acarretando

um deslocamento da linha de base, e guardar a coluna sempre com o solvente

adequado. (COLLINS, 2006)

Dentre as características que um detector ideal deve possuir, estão entre

elas: alta sensibilidade, responder a todos os solutos, ter uma larga faixa de

linearidade, não ser afetado pela temperatura da fase móvel, responder

independentemente da fase móvel utilizada, não provocar alargamento de

bandas, ter uma resposta rápida, não ser destrutivo (para que possa ser

recuperado) e fornecer informações estruturais a respeito do soluto.

Page 24: TALES DUQUE ESTEVES

24

Entre diversos detectores utilizados na cromatografia, um dos detectores

mais modernos para a análise de resíduos de agrotóxicos em matrizes vegetais

é o espectrômetro de massas.

3.5 Espectrometria de massas

Um espectrômetro de massa é um detector potente para as análises

qualitativas e quantitativas de constituintes em cromatografia gasosa ou líquida.

Na espectrometria de massa (EM) as moléculas gasosas são ionizadas

(geralmente para formarem cátions), aceleradas por um campo elétrico e então

separadas de acordo com a sua massa.

O uso do espectrômetro de massa como instrumento para analisar

substância química foi proposto por J.J.Thomson no início do século. Somente

um pequeno número de moléculas poderia ter sua estrutura elucidada. Com o

avanço da tecnologia em instrumentação, atualmente é possível obter espectro

de massa de uma gama de composto.

Assim um espectrômetro de massa é um instrumento que caracteriza e

identifica os íons de acordo com a massa/carga (m/z).Os íons são gerados a

partir de um gerador de íons “filamentos” sendo as moléculas ionizadas,

aceleradas e selecionadas (m/z), através de um analisador de massa sob

vácuo.

Os objetivos da espectrometria são obter a massa molecular exata dos

composto analisados, a fim de identificar, caracterizar e quantificar os mesmos.

(DEMOLINER, 2008)

Page 25: TALES DUQUE ESTEVES

25

Figura 2 - Esquema de funcionamento da Espectrometria de Massas.

Na EM-EM, ao invés de utilizar apenas um analisador de massas para

separar os íons de mesma razão m/z gerados na fonte de ionização, como na

EM, utiliza dois estágios de espectrometria de massas (EM1 e EM2), em que

um deles é usado para isolar o íon de interesse e o outro é usado para

estabelecer uma relação entre íon de interesse isolado e outros íons que foram

gerados a partir da decomposição induzida (CHIARADIA, 2009). O analisador

de massas opera sob vácuo, para assegurar que os íons se desloquem com

eficiência máxima. Existem vários tipos de analisadores de massas, tais como:

Sistemas Quadrupolo (QqQ): Os analisadores de massa quadrupolo usam

quatro eletrodos em forma de bastão paralelos organizados em um quadrado

para gerar campos elétricos que filtram os íons com base em sua relação m/z

enquanto se deslocam pelos eletrodos. Em determinadas magnitudes e

frequências, apenas íons com a massa selecionada atingem o detector.

Alterando os campos elétricos, as massas de todos os íons podem ser varridas

sequencialmente, de baixa para alta ou vice-versa, gerando um espectro de

massas (DEMOLINER, 2008)

Page 26: TALES DUQUE ESTEVES

26

Analisadores de tempo de vôo (Time-of-Flight – TOF): Os analisadores TOF

baseiam-se no principio de que, como os íons são gerados na mesma fonte de

ionização do espectrômetro de massas, elas possuem a mesma energia

cinética, de maneira que as sua velocidades serão apenas diferenciadas pelas

suas massas (velocidade é inversamente proporcional à raiz quadrada da

massa do íon). Por isso, neste analisador de massas, os íons produzidos na

fonte de ionização do espectrômetro são acelerados através de um tubo de vôo

para serem identificados, uma vez que o tempo que levam para atravessá-lo

está relacionado com a razão m/z de cada íon (DEMOLINER, 2008).

Sistemas Ion-trap: O íon-trap é um quadrupolo tridimensional que “captura”

todos os íons que são introduzidos em seu interior e os mantêm “aprisionados”

até que uma determinada radiofreqüência seja aplicada e torna os íons de

certa razão m/z instáveis, de forma que são liberados do trap (CHIARADIA,

2009).

Triplo Quadrupolo: Em um espectrômetro de massas do tipo triplo quadrupolo

é formado pela junção de três quadrupolos em sequência. No primeiro um íon

selecionado é separado da corrente de íons vinda da fonte de íons. No

segundo quadrupolo este íon sofre nova fragmentação por colisão com íons de

N2 ou Ar. O terceiro quadrupolo seleciona então um dos fragmentos iônicos

formados para enviar ao detector (HARRIS, 2001).

Figura 3 – Esquema de um Espectrômetro de Massas do tipo Triplo Quadrupolo

O acoplamento CLAE em série com o espectrômetro de massas (CLAE-

EM/EM) tem se tornando muito importante para análise de resíduos de

Page 27: TALES DUQUE ESTEVES

27

agrotóxicos nos alimentos, permitindo a análise de agrotóxicos em níveis de

ultra-traços (da ordem de ng.kg-1), mesmo na presença de interferentes. A

fragmentação controlada da EM é uma ferramenta essencial para a

identificação confiável do analito de interesse com maior seletividade; além

disso, essa fragmentação gera sinais mais limpos melhorando a razão

sinal/ruído e diminuindo, portanto, os limites de detecção e quantificação. Desta

forma as análises com uso de CLAE-EM/EM podem ser consideradas no que

há de mais moderno e avançado em análises de resíduos de agrotóxicos.

3.6 A Análise de Resíduo por CLAE-EM/EM

A análise de multiresíduos de agrotóxicos representa um dos maiores

desafios analíticos. Existem cerca de 800 pesticidas controlados que abrangem

uma ampla gama de substâncias químicas e encontram-se presentes em

matrizes que variam de frutas e vegetais a água e solo. O desafio é analisar o

maior número possível destas substâncias no mais curto espaço de tempo e

poder quantificá-las abaixo dos níveis máximos permitidos (ANALITICA, 2010).

A técnica de referência recomendada na maioria dos casos é a LC-

EM/EM, por ser rápida, sensível e seletiva. Além disso é uma técnica auto-

confirmatória, que evita a emissão de laudos com resultados falso-positivos ou

falso-negativos(COMMISSION, 2002).

Rotineiramente equipamentos de LC-EM/EM permitem a detecção e a

quantificação de centenas de drogas em uma única análise, além de diminuir

as etapas de purificação da amostras, por se tratar de uma técnica altamente

seletiva(COMMISSION, 2002).

3.7 Validação de um Método Analítico

A necessidade de se mostrar a qualidade de medições químicas, através

de sua comparabilidade, rastreabilidade e confiabilidade, está sendo cada vez

mais reconhecida e exigida. Dados analíticos não confiáveis podem conduzir a

decisões erradas e a prejuízos financeiros irreparáveis. Para garantir que um

Page 28: TALES DUQUE ESTEVES

28

novo método analítico gere informações confiáveis e interpretáveis sobre a

amostra, ele deve sofrer uma avaliação denominada de validação (RIBANI,

2004)

Atualmente, há vários conceitos e definições, provenientes tanto de

pesquisadores (RIBANI, 2004) como de agências e normas (ANVISA 2003)

que objetivam responder questões como: qual a função da validação de

métodos e de que maneira deve ser realizada.

Validação é o ato ou efeito de validar, dar validade, tornar válido, legítimo

ou legal. Visa diminuir ou controlar os fatores que levam à imprecisão ou

inexatidão de uma dado gerado. Os instrumentos e métodos analíticos devem

ser validados do uso de rotina, após manutenção e em intervalos de tempos

regulares (RIBANI, 2004)

Alguns parâmetros envolvidos no processo de validação de métodos

analíticos são: curva analítica, linearidade, exatidão, precisão, limites de

detecção e de quantificação.

3.7.1 Curva Analítica e Linearidade

A calibração é um dos estágios fundamentais na análise química. A curva

analítica é a ferramenta de quantificação mais frequentemente utilizada e

consiste na determinação da resposta de determinado instrumento às várias

concentrações da substância em estudo.

Para a maioria das técnicas analíticas cromatográficas, uma relação linear

de primeira ordem é observada entre a resposta do detector (y) e a

concentração (x) do analito em estudo, podendo ser descrita pela Equação 1

da regressão linear:

Equação 1: y= ax+b

Em que a é a inclinação da reta (coeficiente angular) e b a intersecção

com o eixo y (coeficiente linear), y é a variável dependente e x a variável

independente. Idealmente, a deve ser reprodutível e b não deve ser

estatisticamente diferente de zero. A regressão linear deve também ter um alto

Page 29: TALES DUQUE ESTEVES

29

coeficiente de correlação (r > 0,9999 é considerado como ótimo) (RIBANI,

2004)

A linearidade refere-se à capacidade do método de gerar resultados

linearmente proporcionais à concentração do analito, enquadrados na faixa

analítica específica. Este parâmetro pode ser demostrado pelo coeficiente de

determinação (r2) do gráfico analítico. Também é possível calcular o coeficiente

de correlação (r), que pode ser utilizado para estimar a qualidade da curva

analítica uma vez que demonstra uma menor variação dos dados obtidos

quanto mais próximo de 1 for o valor de r (RIBANI, 2004)

Valor de r igual a 0,99 é recomendado pela Agência Nacional de

Vigilância Sanitária. (ANVISA, 2003)

3.7.2 Sensibilidade

A sensibilidade de um método analítico indica sua capacidade de

discriminar, com uma fidelidade estabelecida, concentrações próximas de um

analito. A sensibilidade pode ser determinada por intermédio da inclinação da

curva de calibração. No caso de uma reta, quanto maior o ângulo de inclinação

da reta, mais sensível será o método (RIBANI, 2004)

3.7.3 Limite de Detecção e Limite de Quantificação

A detectibilidade de um método analítico pode ser definida considerando-

se o Limite de Detecção (LOD, do inglês, Limit of Detection) e o Limite de

Quantificação (LOQ, do inglês, Limit of Quantification).

O LOD representa a menor concentração da substância em exame que

pode ser detectada, mas não necessariamente quantificada, utilizando um

determinado procedimento experimental, enquanto o LOQ representa a menor

concentração da substância em exame que pode ser medida/quantificada

também utilizando um determinado procedimento experimental (RIBANI, 2004)

A estimativa do valor do LOD pode ser calculada por várias maneiras,

como por exemplo através do método visual, método da relação sinal/ruído e

aqueles baseados em parâmetros da curva analítica (DEMOLINER, 2008)

Page 30: TALES DUQUE ESTEVES

30

3.7.4 Recuperação (Exatidão)

A exatidão de um método analítico é a proximidade dos resultados obtidos

pelo método em estudo em relação ao valor verdadeiro, usando um

procedimento experimental para uma mesma amostra repetidas vezes

(DEMOLINER, 2008)

Os intervalos aceitáveis de recuperação (R%) para análises de resíduos

geralmente estão entre 70 e 120%, com precisão de até + 20% (RIBANI, 2004)

Equação 2: �% =���� . �

��= Concentração encontrada na amostra

��= Concentração adicionada à amostra

3.7.5 Precisão

A precisão corresponde ao grau de concordância de resultados de testes

independentes obtidos sob condições estabelecidas e é expressa pela

estimativa do desvio padrão s (Equação 3) ou pelo Coeficiente de Variação CV

(Equação 4).

Equação 3: =�∑ ��−�����−�

Equação 4: �� = �� . �

�� = média aritmética de um certo número de medições

��= valor individual de uma medição

�= número de medições

A precisão pode ser determinada em termos de repetitividade, precisão

intermediária e reprodutibilidade, e avalia a proximidade entre várias medidas

efetuadas na mesma amostra (RIBANI, 2004). A precisão do método analítico

Page 31: TALES DUQUE ESTEVES

31

fornece informações da semelhança dos resultados obtidos, ou seja, mede a

capacidade de repetir e reproduzir o método analítico.

3.7.6 Robustez

Diz-se que um método é robusto quando ele se revelar praticamente

insensível a pequenas variações que possam ocorrer quando está sendo

executado (RIBANI, 2004).

A robustez de um método cromatográfico pode ser avaliada pela variação

de parâmetros como a composição e o fluxo da fase móvel em CLAE, natureza

do gás de arraste em Cromatografia Gasosa, programação de temperatura,

bem como tempo de agitação, extração, etc. (CHIARADIA, 2009)

Page 32: TALES DUQUE ESTEVES

32

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Equipamentos

Os equipamentos abaixo relacionados foram utilizados durante toda a

realização dos experimentos:

Cromatógrafo Líquido HPLC Agilent 1100 Series

Detector Massas/Massas AB Sciex API 4000

Coluna para cromatografia líquida ODS Hypersil (100 x 2.1)mm, 5µm

Balança semi-analítica com 2 casas de precisão

Balança analítica com 5 casas de precisão

Sistema de concentração de amostras (Turbo-Vap)

Dispensete analógico

Pipetador automático

Homogeneizador

Centrífuga

Sistema de eluição a vácuo

4.2. Reagentes, solventes e gases

Água Milli-Q: Grau 1 com resistividade de 18,2 megohm/cm

Acetato de Amônio pureza > 99%

Hexano grau HPLC

Metanol grau HPLC

Hidróxido de Sódio pureza >99%

Nitrogênio pureza >99,99%

4.3. Método Analítico

A metodologia desenvolvida no presente trabalho foi conduzida tendo

como base a metodologia descrita abaixo, porém, adaptações e otimizações

Page 33: TALES DUQUE ESTEVES

33

foram conduzidas na parte de cromatografia pois a coluna assim como o

detector descritos no método foram substituídos.

Testes com diferentes colunas, fluxo de fase móvel assim como sua

composição em um gradiente foram realizados para se obter a melhor

separação e intensidade de resposta do detector para o composto. Após

estabelecidos tais parâmetros, os testes para se validar o método foram

realizados.

A composição exata das soluções utilizadas na purificação não serão

descritas por políticas de sigilo da empresa.

4.3.1. Metodologia de Purificação

Pesar (5±0,1)g de amostra em recipiente de extração. Adicionar 100 mL

de Solução de Extração (Metanol:Água), extrair por 5 minutos no

homogeneizador e centrifugar por 5 minutos a cerca de 4000 rpm. Retirar uma

alíquota de 5mL para um tubo de ensaio, adicionar 5 mL de água e

homogeneizar1.

Condicionar o cartucho de extração em fase sólida de C18 (1g) com 5mL

de metanol e depois com 10 mL de água, sem deixar o cartucho secar. Passar

a amostra através do cartucho, descartando o eluato. Secar o cartucho por 20

minutos com auxílio de vácuo. Eluir o resíduo do cartucho com Solução de

Eluição (Hexano:Metanol) em vidraria para concentração de amostras.

Evaporar até secura e dissolver o resíduo em 5mL de Solução de Diluição2

(Metanol:Água).

Diluir todas as amostras 1:1 na via cromatográfica. Filtrar a amostra em

unidade filtrante, quando necessário. 1 Nota:No caso de matrizes ácidas, verificar o pH. Se o mesmo estiver ácido,

ajustar com gotas de NaOH 0,2 mol/L até pH neutro antes de eluir em cartucho

C18 (1g). 2Nota: Para preparo do QC tomar uma alíquota de 1 mL da amostra

testemunha diluída em 5 mL de Solução de Diluição e diluir em 1 mL com a

Solução Padrão de Calibração apropriada para a injeção no Sistema

Cromatográfico.

Page 34: TALES DUQUE ESTEVES

34

O Limite de Quantificação (LOQ) do método é 0,01 mg/kg e o Limite de

Detecção (LOD) é considerado 20% do LOQ (0,002 mg/kg).

4.3.2. Metodologia de Quantificação

Tabela 2 – Método de Quantificação modelo

HPLC Perkin-Elmer LC-200 Series Detector PE Sciex API 3000 Coluna Columbus 100 X 2.1 mm, 5µm Vol. Injeção 30 µL

Fase Móvel 5mM de Acetato de Amônio em Água (FM A) 5mM de Acetato de Amônio em Metanol (FM B)

Gradiente Tempo (minutos) FM A (%) FM B (%) 0.0 85 15 0.5 85 15 2.0 15 85 3.5 2 98 4.5 2 98 4.6 85 15 5.0 85 15 Fluxo 0.500 mL/min Tempo de Retenção esperado

3.4 min

Transições (m/z) 467.0/348.7 465.0/347.0

Modo de Ionização

Negativo

4.4. Critérios de Validação

Os critérios de validação de um métodompara determinação de resíduos

de agrotóxicos em matriz vegetal exigidos pela ANVISA e como serão

avaliados no presente trabalho podem ser assim resumidos:

1. Limite de Quantificação: Estabelido aqui em 0,01 mg/kg

2. Limite de Detecção : 20% do Limite de Quantificação (LOQ)

3. Níveis de Fortificação: No nível do LOQ e 100xLOQ

4. Seletividade: Avaliação de interferentes

5. Faixa Linear de Trabalho: Deve-se obter uma curva de calibração com

r>0,99

Page 35: TALES DUQUE ESTEVES

35

6. Precisão de Medição: A precisão de medição é considerada aceitável

quando o cálculo do coeficiente de variação (CV%) das recuperações

obtidas em cada nível de fortificação (no mínimo 5 fortificados em cada

nível) e todos os níveis de concentração da curva de calibração (no

mínimo 3 injeções de cada nível) apresenta CV ≤ 20 %

7. Exatidão de Medição (Acurácia): A exatidão é um conceito qualitativo e

foi determinada para um conjunto de recuperações, com o método

proposto, mostrando-se aceitável, com resultados de recuperação entre

(70 - 120) % para cada nível de fortificação e para todos os níveis de

concentração da curva de calibração.

Além destes critérios exigidos, os seguintes testes também serão

conduzidos:

1. A robustez do método: alterando a temperatura do forno de coluna do

HPLC e o fluxo para avaliar se todos os critérios se mantiveram,

2. A sensibilidade do método: inclinação da curva de calibração

3. Efeito da matriz na curva de calibração:comparação de uma curvade

calibração em solução de metanol com curva de calibração em solução

contendo matriz vegetal.

4.5 Estabilidade de Soluções

Durante o presente trabalho foi preparada uma solução Padrão de

Estoque (SPE), com concentração de 1x106ng/mL a partir da qual foram

preparadas as soluções de fortificação e as Soluções Padrões de Calibração

(SPC)

Para evitar a necessidade de preparo das soluções no mesmo dia em que

a análise ocorre, a estabilidade da solução padrão estoque (SPE) e solução

padrão de calibração (SPC) foi testada e avaliada comparando a concentração

de uma solução fresca com a solução estocada.

A SPE foi verificada estabilidade com pontos de análise em 28, 56 e 101

dias de estocagem enquanto a SPC teve pontos de análise em 15 e 30 dias. As

soluções foram estocadas em geladeira com temperatura controlada na faixa

de 5+1ºC

Page 36: TALES DUQUE ESTEVES

36

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Adaptação do método de quantificação

Um desenvolvimento dos parâmetros cromatográficos eficiente implica em

uma separação nítida com o mínimo de tempo de análise possível. A

adaptação do método exigiu testes com diferentes colunas, fluxos de fase

móvel e gradientes. A figura 4 mostra um cromatograma típico em que estes

parâmetros não eram ideais:

Figura 4 – Cromatograma típico de solução padrão de concentração 20 ng/mL em condições

não ideais

Com base no método cromatográfico já descrito, a metodologia foi

adaptada quanto ao recheio, tempo de corrida e gradiente. A figura 5

exemplifica um cromatograma típico ao final destas adaptações:

Page 37: TALES DUQUE ESTEVES

37

Figura 5 – Cromatograma típico de solução padrão de concentração 1,25 ng/mL em condições

ideais

Nota-se que, ao final das adaptações, o pico está mais fino, melhor

definido, com uma boa intensidade e livre de interferentes quando comparado

com o pico cromatográfico da figura 4.

Repara-se também que o tempo de retenção do analito foi maior se

comparado com o tempo de retenção do método utilizado como base, por isso,

um maior tempo de corrida foi necessário para que interferentes fossem

eliminados e para que a coluna voltasse ao seu estado de equilíbrio antes de

uma próxima injeção, ou seja, para que a composição de fase móvel presente

no interior da coluna seja a mesma que a composição inicial da corrida.

Percebe-se que uma coluna com as mesmas dimensões, mas com recheio

diferente, interagiu com a molécula de forma diferente e por isso, para se obter

um pico cromatográfico de qualidade, foi preciso adaptar-se o fluxo e o

gradiente do método.

Sendo assim, o método validado teve as seguintes condições

cromatográficas de quantificação:

Page 38: TALES DUQUE ESTEVES

38

Tabela 3 – Método de Quantificação proposto

HPLC Agilent Technologies 1100 Series Detector AB Sciex API 4000 (MS/MS) Coluna ODS Hypersil (100 x 2.1)mm, 5µm Vol. Injeção 30 µL

Fase Móvel 5mM de Acetato de Amônio em Água (FM A) 5mM de Acetato de Amônio em Metanol (FM B)

Gradiente Tempo (minutos) FM A (%) FM B (%) 0.00 85 15 1.00 85 15 3.50 15 85 6.50 2 98 8.00 2 98 8.01 85 15 9.00 85 15 Fluxo 1.00 mL/min Tempo de Retenção esperado

4.1 min

Transições (m/z) 467.0/348.7 465.0/347.0

Modo de Ionização

Negativo

5.2. Tabela de resultados, curva de calibração e cromatogramas típicos

As tabelas a seguir mostram os resultados de área e concentrações

calculadas utilizando a curva de calibração (figura 6) encontrada injetando-se

soluções padrões de calibração ao início, durante e ao fim das injeções das

amostras fortificadas utilizadas para comprovar a validação do método.

Page 39: TALES DUQUE ESTEVES

39

Tabela 4 – Resposta das injeções Soluções Padrões de Calibração utilizadas na Curva de

Calibração

Amostra Concentração

esperada (ng/mL)

Recuperação (%)

Desvio Padrão

%CV

Média de 4 injeções

SPC A 0,125 92 0,0080 7,02 SPC B 0,250 96 0,0121 5,01 SPC C 0,500 100 0,0196 3,90 SPC D 1,250 103 0,0743 5,79 SPC E 2,500 99 0,2241 9,02

Média de 6 injeções

F1 0,500 83 7 9 F6 0,500 93 4 4

Tabela 5 – Recuperações dos Fortificados encontrados a partir da curva de calibração

Amostra Área do

Pico (cps)

Concentração Calculada (ng/mL)

Repureção (%)

UT 2485 N/A N/A QC 21215 0,214 85,4 Branco 1458 N/A N/A F1.1 18193 0,181 72,5 F1.2 20363 0,205 81,8 F1.3 21399 0,216 86,2 F1.4 23422 0,237 94,9 F1.5 20272 0,204 81,4 F1.6 20329 0,204 81,7 F6.1 22199 0,224 89,6 F6.2 21869 0,221 88,2 F6.3 22932 0,232 92,8 F6.4 23320 0,236 94,4 F6.5 24375 0,247 99,0 F6.6 23314 0,236 94,4

3

Page 40: TALES DUQUE ESTEVES

40

Figura 6 – Curva de Calibração

Figura 7 -Branco de Reagentes – Amostra sem matriz de citros, apenas com reagentes e

solventes

Page 41: TALES DUQUE ESTEVES

41

Figura 8 - UT (Amostra Testemunha): Amostra de citros sem adição de chlorfenapyr

Figura 9 - QC (Amostra Controle): Amostra testemunha fortificada no nível do LOQ após a

etapa de purificação

Page 42: TALES DUQUE ESTEVES

42

Figura 10 - F1 – Amostra Testemunha fortificada no nível do LOQ antes da rota de purificação

Figura 11 - F6 – Amostra Testemunha fortificada em 100xLOQ antes da rota de purificação

Page 43: TALES DUQUE ESTEVES

43

Figura 12 - SPC A – Solução Padrão de Calibração com concentração de 0,125 ng/mL

Figura 13 - SPC B – Solução Padrão de Calibração com concentração de 0,250 ng/mL

Page 44: TALES DUQUE ESTEVES

44

Figura 14 - SPC C – Solução Padrão de Calibração com concentração de 0,500 ng/mL

Figura 15 - SPC D – Solução Padrão de Calibração com concentração de 1,25 ng/mL

Page 45: TALES DUQUE ESTEVES

45

Figura 16 - SPC E – Solução Padrão de Calibração com concentração de 2,50 ng/mL

5.2.1. Curva Analítica e Linearidade

O intervalo de trabalho nas concentrações entre 0,125 ng/mL e 2,50

ng/mL foi linear com um coeficiente de correlação (r) ≥ 0,99 como mostra a

curva de calibração na figura 6:

Isso indica que é possível encontrar concentrações de amostras com

quantidades desconhecidas do analito desde que estas apresentem uma área

do pico cromatográfico que se encontre entre o ponto mais baixo e o ponto

mais alto da curva de calibração.

O menor ponto utilizado na curva de calibração ( 0,125 ng/mL) é 50 vezes

menor que o maior ponto (2,50 ng/mL) o que mostra que o método tem uma

boa faixa linear de trabalho.

Page 46: TALES DUQUE ESTEVES

46

5.2.2. Sensibilidade

O método mostrou-se bem sensível na faixa de concentração trabalhada

já que a inclinação da curva foi de 9,43X104, o que indica que uma maior

quantidade de analito injetada apresentava um grande aumento de sinal no

detector, ou seja, é sensível a pequenas mudanças na concentração de

Chlorfenapyr. Essa sensibilidade pode ser reparada no aumento de área em

um padrão de menor concentração quando comparado com um de maior

concentração.

5.2.3. Limite de Detecção e Limite de Quantificação

O Limite de Quantificação (LOQ) validado foi de0,01 mg de chlorfenapyr

por kg de citros. Na amostra isso representa um concentração de 0,250 ng/mL.

O Limite de Detecção (LOD) do método foi convencionado como 20% do Limite

de Quantificação (LOQ).

5.2.4. Seletividade

Uma vez que a detecção foi realizada por CLAE-EM/EM, a determinação

de Chlorfenapyr foi altamente seletiva. Não houve nenhuma interferência no

tempo de retenção do analito como pode ser visto na figura 8, 9 e 13.

A figura 8, que representa uma UT(amostra testemunha: citros sem

tratamento com chlorfenapyr) mostra que não houve um aumento de sinal no

tempo de retenção do analitoe portanto, não há um interferente na matriz que

possa ser confundido com o composto em análise que possa gerar um falso

positivo

Quando a amostra é fortificada com uma quantidade conhecida de ativo

ao final da rota de purificação da amostra(figura 9), o pico se apresenta de

forma simétrica e sem nenhum interferente e semelhante a um padrão utilizado

como um dos níveis da curva de calibração, ou seja, de mesma concentração

porém sem matriz (figura 13). Isso comprova que a matriz não contém outras

substâncias capazes de serem confundidas com o analito quando se utiliza

Page 47: TALES DUQUE ESTEVES

47

este método cromatográfico. A comprovação mais eficiente dessa ausência de

interferentes será avaliada no item 5.4 do presente trabalho.

5.2.5. Exatidão de Medição

Todas as recuperações dos níveis de fortificação 1xLOQ e 100xLOQ

apresentaram valor de recuperação dentro da faixa aceitável entre 70 e 120% o

que significa que o método pode ser considerado válido neste critério. Uma

maior recuperação foi encontrada no nível de fortificação maior, porém não foi

algo muito significativo. Isso se deve pois o fortificado de maior nível (F6), por

ser adicionado uma maior quantidade de analito na amostra, precisa ser diluído

antes de ser injetado no sistema cromatográfico para que sua concentração

seja coberta pela faixa linear da curva de calibração e portanto tem menor

quantidade de matriz em relação ao fortificado 1xLOQ (F1). Essa maior

quantidade de matriz provavelmente suprimiu um pouco o sinal do detector e

por isso uma menor recuperação foi encontrada, mesmo que dentro da faixa de

aceitação. Essa supressão ou aumento de sinal no nível de fortificação mais

baixo é comum em matrizes complexas como a vegetal e por isso deve-se

sempre avaliar um fortificado no nível do LOQ (sem diluição) para comprovar

que essa interferência não seja significativa para os resultados.

Todos os padrões da curva de calibração também apresentaram

recuperação dentro da faixa aceitável com um desvio do valor real

desconsiderável, demonstrando que o equipamento e o preparo das soluções

são eficientes quanto à exatidão.

5.2.6. Precisão da Medição

A tabela 4 mostra que a variação dos valores encontrados para ambos os

níveis de fortificação foi satisfatório: CV = 9 e 4% para o nível do LOQ e

100xLOQ respectivamente. Isso mostra que o equipamento e o método de

extração e purificação da amostra tem reprodutibilidade e que parâmetros

importantes como temperatura ambiente, volume de injeção, fluxo de fase

móvel, volume de alíquota e de diluição foram mantidos constantes e

realizados com vidraria e equipamentos qualificados, já que ambos possuem

Page 48: TALES DUQUE ESTEVES

48

CV dentro do limite aceitável (< 20%).A comprovação de que o equipamento é

eficiente quanto a reprodutibilidade das condições de injeção pode ser vista

analisando o Coeficiente de Variância das soluções padrões de calibração, que

assim como as amostras fortificadas, apresentam variações pequenas.

5.3. Robustez do Método

Para se comprovar que o método é robusto, os seguintes parâmetros

foram alterados:

1. A temperatura do forno de colunas do HPLC foi alterada de 20

para 25 ºC.

2. O fluxo de fase móvel foi alterado de 1.00para 0.90 mL/min

A tabela 6 mostra os resultados de uma validação nas condições

descritas acima:

Tabela 6 – Recuperações dos Fortificados encontrados a partir da curva de calibração (Teste

de robustez)

Amostra Concentração

esperada (ng/mL)

Recuperação (%)

Desvio Padrão

%CV

Média de 4 injeções

SPC A 0,125 109 0,009 6,21

SPC B 0,25 103 0,016 6,29

SPC C 0,5 100 0,019 3,81

SPC D 1,25 97 0,042 3,50

SPC E 2,5 100 0,054 2,15

Média de 6 injeções

F1 0,5 96 10 10

F6 0,5 92 7 7

O cromatograma da figura 17 representa o perfil do pico cromatográfico

após as alterações do fluxo e temperatura do forno e a figura 18 apresenta a

curva de calibração obtida.

Page 49: TALES DUQUE ESTEVES

49

Figura 17 – Cromatograma típico de Solução Padrão de concentração 1,25 ng/mL

apósajustes para o teste de robustez

Figura 18 – Curva de Calibração (Teste de robustez)

Page 50: TALES DUQUE ESTEVES

50

Repara-se que houve um leve alargamento do pico e o tempo de retenção

aumentou ligeiramente. Isso já era esperado já que um fluxo menor implica em

uma menor velocidade em que o fase móvel percorre por dentro da fase

estacionária e portanto um maior tempo até que o analito chegue ao detector.

Porém, não foram alterações significativas para os resultados do método

como pode ser comprovado pelas recuperações dos fortificados e dos padrões

de calibração (dentro da faixa aceitável – 70 a 120%) e seus respectivos

coeficientes de variação (todos menor que 20%) e a curva de calibração com r

> 0,99.

Essa comprovação de que algumas alterações não afetam o resultado

esperado do método mostra que se trata de um método robusto e que tem

reprodutibilidade.

5.4. Interferência de Matriz

A figura 19 compara uma curva de calibração em solução de metanol e

uma curva de calibração em solução contendo matriz vegetal.

Como pode ser percebido, o efeito da matriz para essas condições

cromatográficas de análise de chlorfenapyr pode ser considerado desprezível.

O sinal não foi suprimido ou aumentado por interferentes e a curva de

calibração apresentou a mesmo comportamento nas duas soluções. Isso

comprova que o método de purificação da amostra é eficiente para a

quantificação de chlorfenapyr por Espectrometria de Massas/Massas, o

detector tem a capacidade de separar todos os interferentes que ainda restam

na amostra após o clean-up.

Page 51: TALES DUQUE ESTEVES

51

Figura 19 – Comparação: Curva de calibração com e sem matriz

5.5 Estabilidade das Soluções

As tabelas 7, 8 e 9 apresentam os resultados obtidos no estudo da

estabilidade da Solução Padrão de Estoque (SPE) e as tabelas 10 e 11

mostram os resultados da estabilidade da Solução Padrão de Calibração

(SPC). Verificou-se vários pontos de amostragem para garantir a estabilidade

da solução em um tempo inferior, caso no tempo ideal esperado, a degradação

ou concentração da solução já tenha ocorrido. Por exemplo, se a SPE em 101

dias apresenta-se alta variação, a tabela 8 já comprovaria sua estabilidade por

2 meses (56 dias)

A média da concentração da solução estocada a 101 dias apresentou

uma variação de 5,77% quando comparada com a uma solução fresca como

pode ser vista na tabela 9. Esse resultado demonstra que a solução pode ser

estocada e utilizada até 101 dias sem apresentar degradação ou concentração

de solvente significativas.

y = 90171x + 3063,8R² = 0,9961

y = 89798x + 1768,6R² = 0,9963

0,0E+00

5,0E+04

1,0E+05

1,5E+05

2,0E+05

2,5E+05

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Inte

nsi

da

de

(cp

s)

Concentração (ng/mL)

Área - Sem matriz(cps)

Área - Com matriz(ng/mL)

Page 52: TALES DUQUE ESTEVES

52

A estabilidade também foi comprovada para a SPC tendo variação de

concentração média de 6,61% após 30 dias de armazenagem (tabela 11)

Tabela 7 – Estabilidade de 28 Dias – SPE Estabilidade de 28 Dias – Solução Padrão Estoque

Concentração da Solução Fresca (ng/mL) Concentração da Solução

Armazenada (ng/mL)

0.505 0.515

0.479 0.522

0.508 0.548

0.492 0.521

0.514 0.526

0.526 0.538

0.517 -

Média 0.506 Média 0.528

Variação Entre as Médias de Concentrações Obtidas 4.44%

Tabela 8– Estabilidade de 56 Dias – SPE Estabilidade de 56 Dias - Solução Padrão Estoque

Concentração da Solução Fresca (ng/mL) Concentração da Solução

Armazenada(ng/mL)

0.508 0.502

0.575 0.503

0.479 0.541

0.515 0.477

0.498 0.507

0.460 0.524

- -

Média 0.506 Média 0.509 Variação Entre as Médias de Concentrações Obtidas 0.63%

Page 53: TALES DUQUE ESTEVES

53

Tabela 9– Estabilidade de 101 Dias – SPE

Estabilidade de 101 Dias - Solução Padrão Estoque

Concentração da Solução Fresca (ng/mL) Concentração da Solução

Armazenada (ng/mL)

0.556 0.582 0.512 0.584

- 0.555 - 0.549 - 0.568 - 0.551

Média /Mean: 0.534 Média /Mean: 0.565

Variação Entre as Médias de Concentrações Obtidas 5.77%

Tabela 10– Estabilidade de 15 Dias – SPC

Estabilidade de 15 Dias – Soluções Padrão de Calibração

Concentração da Solução Fresca (ng/mL) Concentração da Solução

Armazenada (ng/mL)

0.552 0.472 0.485 0.515 0.426 0.467

- 0.455 - 0.435 - 0.395

Média 0.488 Média 0.457

Variação Entre as Médias de Concentrações Obtidas 6.39%

Tabela 11– Estabilidade de 30 Dias – SPC

Estabilidade de 30 Dias - Soluções Padrão de Calibração

Concentração da Solução Fresca (ng/mL) Concentração da Solução

Armazenada (ng/mL)

0.455 0.524 0.513 0.548 0.530 0.544 0.495 0.569 0.540 0.539 0.524 0.535

Média 0.510 Média 0.543

Variação Entre as Médias de Concentrações Obtidas 6.61%

Page 54: TALES DUQUE ESTEVES

54

6. CONCLUSÃO

Um método analítico de Cromatografia líquida de Alta Eficiência acoplado

a um detector de Espectrometria de Massas em série foi proposto e validado

para doseamento deChlorfenapyr em matriz vegetal de citros demonstrando

ser simples, rápido, preciso, exato e reprodutível, segundo os critérios da

ANVISA.

A adaptação da fase estacionária utilizada no método foi considerada

satisfatória já que a validação proposta foi concluída sendo avaliados todos os

critérios exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

A análise do Coeficiente de Correlação, Coeficiente de Variação, e

Recuperação Calculada foi utilizada como ferramenta para análise da

linearidade; precisão e exatidão do método, respectivamente. r > 0,99,

CV<20% e Recuperações entre 70% e 120% foram encontradas para todas as

amostras fortificadas e padrões da curva de calibração. Além disso, a

sensibilidade foi avaliada pela a inclinação da curva de calibração, e a

seletividade se comprovou satisfatória pela análise de interferentes

apresentados no cromatograma.

A robustez do método foi comprovada pela mudança do fluxo de fase

móvel do método assim como a temperatura em que a fase estacionária se

encontrava durante o processo de quantificação.

A análise de possíveis interferentes na resposta do detector presentes na

matriz vegetal de citros foi realizada comparando-se a resposta do detector a

uma curva de calibração diluída em solução de metanol com uma curva de

calibração diluída em solução contendo a matriz vegetal.

A estabilidade das soluções utilizadas durante o estudo de validação foi

comprovada comparando soluções estocas com soluções frescas e obtendo-se

resultados semelhantes. A Solução Padrão de Calibração estocada por 30 dias

apresentou variação de 6,61% quando comparada com uma solução preparada

no dia, enquanto a Solução Padrão Estoque armazenada por 101 dias

apresentou variação de 5,77%.

O método analítico de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplado

a um detector de Espectometria de Massas/Massas em série constitui,

Page 55: TALES DUQUE ESTEVES

55

portanto, uma ferramenta útil na rotina de estudos de análise de resíduo de

defensivos agrícolas.

Page 56: TALES DUQUE ESTEVES

56

7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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