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TATIANE YUMI NAKAMURA KANNO Papel da Miosina Va na neuritogênese de neurônios TrkA-positivos do gânglio da raiz dorsal Dissertação apresentada ao Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Mestre em Ciências. São Paulo 2011

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TATIANE YUMI NAKAMURA KANNO

Papel da Miosina Va na neuritogênese de neurônios

TrkA-positivos do gânglio da raiz dorsal

Dissertação apresentada ao Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Mestre em Ciências.

São Paulo 2011

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TATIANE YUMI NAKAMURA KANNO

Papel da Miosina Va na neuritogênese de neurônios

TrkA-positivos do gânglio da raiz dorsal

Dissertação apresentada ao Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Mestre em Ciências.

Área de concentração: Biologia Celular e do Desenvolvimento Orientação: Profa. Dra. Chao Yun Irene Yan Versão original.

São Paulo 2011

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Dedico este trabalho aos meus pais Rosa e

Tetsuo, ao meu irmão Ricardo e aos meus

tios Cecília e Shiguenori, por todo incentivo,

carinho, atenção e apoio constante para

minha formação.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a profa. Dra. Irene Yan por ter me recebido em seu laboratório e ter me ensinado a trabalhar com biologia do desenvolvimento. Nestes dois anos e meio, errei, tentei de novo (muitas e muitas vezes), aprendi, acertei e pude crescer muito como profissional e pessoa. Agradeço pela paciência, pela compreensão, pela amizade e também por ter sido muitas vezes minha psicóloga. Muito obrigada por ter me dado esta oportunidade e ter confiado no meu trabalho durante esses anos de atividades.

Aos meus pais Rosa e Tetsuo e ao meu irmão Ricardo, agradeço pelo

amor e apoio incondicional, por estarem sempre por perto em todos os momentos bons e ruins e pelo incentivo que foi fundamental para a realização deste trabalho.

Aos meus tios Shiguenori e Cecília Kanno, pessoas muito queridas e

que eu admiro muito! Agradeço por terem me acolhido em São Paulo, pelo incentivo constante, pela confiança em mim depositada e por todo o carinho! O apoio de vocês foi fundamental para a realização de mais essa etapa da minha carreira. Muito obrigada!

Agradeço aos amigos que fazem parte e que já fizeram parte do

laboratório de Embriologia Molecular de Vertebrados (Maraysa, Ricardo, Felipe, José Eduardo, Glauber e Antônio) pelas conversas descontraídas, pelas palavras de apoio quando tudo dava errado, pela ajuda nos experimentos e pela amizade. Em especial agradeço ao Ricardo e ao Felipe por toda paciência que tiveram para me ensinar a fazer os experimentos e por terem compartilhado muitos de seus conhecimentos! Com certeza todos sempre serão lembrados com muito carinho!

À Ana Lúcia Guaripo e Bruno Oliveira pelo auxílio na obtenção de

imagens no microscópio confocal.

À Rosana Prisco pela essencial ajuda na análise estatística dos dados. Aos amigos do programa de pós-graduação e do departamento de

Biologia Celular e do Desenvolvimento agradeço pela amizade, convivência, pelas conversas, por serem sempre muito prestativos e por toda ajuda no desenvolvimento deste trabalho. A companhia de vocês tornou essa jornada muito mais prazerosa!

À profa. Dra. Enilza Espreafico pela colaboração neste trabalho e por

gentilmente ter doado o anticorpo anti-Miosina Va e também o plasmídeo contendo o domínio globular de Miosina Va.

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Agradeço em especial ao meu namorado Gustavo pelo companheirismo, cumplicidade, carinho e por estar sempre comigo em todos os momentos. Obrigada pelo seu apoio em tudo que eu faço, pelo seu otimismo, pela sua paciência comigo e por ser meu porto seguro.

Muito obrigada a todos que direta ou indiretamente contribuíram para o

desenvolvimento do meu trabalho. Por fim, agradeço à CNPq e a FAPESP pelo auxílio financeiro.

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Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Embriologia Molecular de Vertebrados do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, com auxílio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

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"As adversidades dão surgimento à grandeza. Quanto maiores forem

os desafios e as dificuldades que enfrentamos, maiores serão nossas oportunidades

de crescer e de nos desenvolver como pessoas. Uma vida sem adversidades, uma

vida tranqüila e cômoda, nada produz e nada nos lega."

(Daisaku Ikeda)

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RESUMO

Kanno TYN. Papel da Miosina Va na neuritogênese de neurônios TrkA-positivos do gânglio da raiz dorsal [Dissertação (Mestrado em Biologia Celular e Tecidual)]. São Paulo: Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo; 2011.

O estabelecimento de conexões apropriadas através da neuritogênese é essencial para a percepção e transmissão de dor e temperatura pelos neurônios nociceptivos (TrkA-positivos) dos gânglios da raiz dorsal (GRD). Miosina Va, uma proteína motora evolutivamente conservada, apresenta ampla distribuição ao longo do sistema nervoso em desenvolvimento. É expressa em neuritos, no corpo celular e no cone de crescimento. Na região carboxi-terminal da proteína, observa-se o domínio globular que é responsável pelo transporte vesicular. Trabalhos anteriores demonstraram que a inativação de Miosina Va, em cones de crescimento de neurônios do GRD de embriões de galinha in vitro diminui a taxa de extensão de filopódios. Adicionalmente, camundongos mutantes para Miosina Va apresentam severos defeitos neurológicos similares às características observadas na síndrome de Griscelli em humanos. Esses fenótipos evidenciam a participação da proteína no desenvolvimento neuronal. Neste trabalho, caracterizamos o padrão de expressão de Miosina Va, in vivo e in vitro, na neuritogênese de células TrkA-positivas em diferentes estádios de desenvolvimento do GRD de galinha. A partir de HH30, a maioria dos neurônios TrkA-positivos apresentam neuritos e em HH34, os neurônios TrkA-positivos ficam mais restritos a região dorsomedial do GRD. Miosina Va é observada no GRD em células com e sem neuritos em HH25. Esta presença perdura durante toda a neuritogênese. Além disso, Miosina Va é recrutada in vitro para o processo de regeneração e re-emissão de neuritos de neurônios TrkA positivos na presença de NGF, sendo expressa em neuritos em diferentes estádios de neo-neuritogênese. Observamos também o efeito da superexpressão do domínio globular da proteína na dinâmica de neuritogênese destes neurônios. Nestes ensaios funcionais, observamos que a superexpressão do domínio globular de Miosina Va em culturas de GRD mantidas em 10 ou 100 ng/ml de NGF reduz a população de células com neuritos longos (maiores que quatro vezes o diâmetro celular) e aumenta a população de células com neuritos curtos ou sem neuritos. Em conjunto, estes dados sugerem que a Miosina Va é importante para o estabelecimento de neuritos nociceptores. Palavras-chave: Embrião de galinha. Gânglio da Raiz Dorsal. Miosina Va. Neuritogênese. TrkA.

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ABSTRACT

Kanno TYN. The role of Myosin Va in the neuritogenesis of Dorsal Root Ganglia TrkA-positive neurons [Master’s thesis (Cell and Tissue Biology)]. São Paulo: Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo; 2011. The establishment of appropriate connections through neuritogenesis is essential for the perception and transmission of pain and temperature by nociceptive neurons (TrkA-positive), present in the dorsal root ganglia (DRG). Myosin Va, an evolutionarily conserved motor protein, is widely distributed throughout the developing nervous system. It is expressed in neurites, the cell body and growth cone. The globular tail domain is present in the carboxy-terminal region of the protein and it is responsible for vesicular transport. Inactivation of Myosin Va in DRG neurons growth cones of chick embryos, in vitro, decreases the rate of filopodial extension. In addition, Myosin Va mutant mice have severe neurological defects that are similar to the disorders observed in Griscelli’s syndrome in humans. These phenotypes demonstrate the protein involvement in the neuronal development. Here, we have characterized the expression pattern of Myosin Va in vivo and in vitro during TrkA-positive cells neuritogenesis at different stages of chick DRG development. Starting from stage HH30, the majority of TrkA neurons are undergoing neuritogenesis, and at stage HH34, their cell bodies are concentrated in the dorsomedial region of the GRD. We detected Myosin Va in the HH25 GRD. At this stage, it was present both in cells with and without neurites. After the start of neuritogenesis, Myosin Va expression persists throughout the process. Moreover, Myosin Va is recruited in vitro for the regeneration process and TrkA-positive neurons neurites re-emission in the presence of NGF, being expressed in neurites at different stages of neo-neuritogenesis. We also observed the protein globular tail overexpression effect in the neuritogenesis dynamics of these neurons. In these functional assays, we observed that Myosin Va globular tail overexpression in GRD cultures maintained with 10 or 100 ng/ml NGF reduced the number of neurons with long neurites (above four times cell body length) and increased the number of neurons with short neurites or no neurites. However, no effect was seen if the transfection occurred after the onset of neuritogenesis. Taken together, these results suggest that Myosin Va is important for the establishment of nociceptor neurites. Key Words: Chicken embryo. Dorsal Root Ganglia. Myosin Va. Neuritogenesis. TrkA.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BDNF - Brain Derived Neurotrophic Factor (Fator neurotrófico derivado de cérebro)

BSA – Bovine serum albumin (Albumina sérica de bovinos)

DM – Dorsomedial

GFP – Green Fluorescent Protein (Proteína fluorescente verde)

GRD – Gânglio da Raiz Dorsal

HEBSS – HEPES-buffered Earles balanced salt solution

IRES – Internal Ribosomal Entry Site

MioVa – Miosina Va

MioVaGT – Domínio globular de Miosina Va

MPG – Modified Puck’s Solution with glucose

NGF – Nerve Growth Factor (Fator de crescimento do nervo)

NGS – Normal Goat Serum (Soro normal de cabra)

NT-3 – Neurotrophin-3 (Neurotrofina 3)

NT-4/5 – Neurotrophin 4/5 (Neurotrofina 4/5)

PBS – Phosphate Buffered Saline (Solução salina tamponada com fosfato)

PBST – PBS contendo 0,1% de Triton X-100

PCR – Polymerase Chain Reaction (Reação de polimerização em cadeia)

PFA – Paraformaldeído

TrkA – Tropomyosin receptor kinase A (Receptor tropomiosina quinase A)

TrkB – Tropomyosin receptor kinase B (Receptor tropomiosina quinase B)

TrkC – Tropomyosin receptor kinase C (Receptor tropomiosina quinase C)

VL – Ventrolateral

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Os gânglios da raiz dorsal são estruturas encapsuladas do sistema

nervoso periférico ................................................................................. 21 Figura 2 – Tipos de neurônios do gânglio da raiz dorsal .......................................... 22 Figura 3 – O gânglio da raiz dorsal localiza-se adjacente ao tubo neural................. 23 Figura 4 – Neurônios TrkA-positivos apresentam menor diâmetro e se localizam na

região dorsomedial (DM) do GRD .......................................................... 25

Figura 5 – Elementos do citoesqueleto do neurito .................................................... 26 Figura 6 – Expressão de Miosina Va na região truncal do embrião de galinha ........ 28

Figura 7 – Domínios da proteína Miosina Va ............................................................ 30 Figura 8 – Conformação da proteína Miosina Va nos estados inativo e ativo .......... 31 Figura 9 – Primers desenhados para subclonagem do domínio globular de Miosina

Va ........................................................................................................... 37 Figura 10 – Processo de subclonagem para obtenção de pMES-Myc-MioVa-GT .... 38 Figura 11 – Etapas da dissecção de embrião galinha (estádio HH34) para cultura de

GRD ..................................................................................................... 41 Figura 12 – Etapas da cultura de GRD durante os ensaios de transfecção ............. 42 Figura 13 – A extensão dos neuritos é heterogênea em cultura .............................. 45 Figura 14 – Neurônios TrkA positivos iniciam a neuritogênese em HH25 ................ 49

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Figura 15 – Neurônios TrkA-positivos se restringem a região dorsomedial do Gânglio

da raiz dorsal (GRD) (A – área pontilhada) no estádio HH34 .............. 50

Figura 16 – Caracterização do padrão de expressão de Miosina Va nas células do

gânglio da raiz dorsal (GRD) nos estádios HH25, HH30 e HH34......... 52 Figura 17 – Miosina Va está presente em neuritos de neurônios TrkA-positivos

desde o início da neuritogênese in vitro ............................................. 54 Figura 18 – A presença de GFP identifica células transfectadas e a presença de

Myc identifica a expressão exógena de Miosina Va ............................. 56 Figura 19 – Otimização das condições de cultura para verificar o efeito do domínio

globular de Miosina Va na neuritogênese ............................................ 58 Figura 20 – pMES-Myc-MioVaGT reduz a proporção de células com neuritos longos

e aumenta a proporção de neuritos curtos em culturas contendo 100

ng/ml de NGF ....................................................................................... 59 Figura 21 – pMES-Myc-MioVaGT reduz a proporção de células com neuritos longos

e aumenta a proporção de neuritos curtos em culturas contendo 10

ng/ml de NGF ....................................................................................... 60 Figura 22 – Padrão de expressão de Miosina Va é complementar a expressão de

TrkA no estádio HH34 .......................................................................... 62

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Anticorpos primários utilizados nas imunofluorescências ....................... 36 Tabela 2 – Primers utilizados para clonagem de pMES-Myc-MioVa-GT .................. 37 Tabela 3 – Concentração de NGF utilizado nas etapas das culturas de GRD.......... 43 Tabela 4 – Critérios para divisão das células transfectadas dentro das três

categorias estabelecidas .................................................................... 44

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 21 1.1 Neurônios do gânglio da raiz dorsal ................................................................ 21 1.1.1 Neurônios TrkA-positivos ................................................................................ 24

1.2 Neuritogênese .................................................................................................... 25 1.3 Miosina Va e sua participação no processo de neuritogênese ..................... 27 1.4 Miosina Va e seu padrão de expressão durante a embriogênese ................. 28 1.5 Estrutura molecular da Miosina Va e suas funções celulares ....................... 29 2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 32 3 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 34 3.1 Caracterização do padrão de expressão de Miosina Va nas células do GRD .................................................................................................................................. 34 3.1.1 Obtenção e manipulação de embriões de galinha ........................................... 34

3.1.2 Obtenção dos cortes congelados ..................................................................... 34

3.1.3 Imunofluorescência em cortes congelados ...................................................... 35

3.2 Síntese da forma mutante de Miosina Va (pMES-Myc-MioVaGT) .................. 36 3.2.1 Subclonagem do domínio globular (GT) de Miosina Va ................................... 36

3.3 Culturas de GRD ................................................................................................ 39 3.3.1 Imunofluorescência em culturas de GRD ......................................................... 42

3.3.2 Transfecção de células do GRD ....................................................................... 42

3.3.3 Análise estatística............................................................................................. 46

4 RESULTADOS ....................................................................................................... 47 4.1 Neurônios TrkA-positivos iniciam seu processo de neuritogênese a partir

do estágio HH25 ................................................................................................ 47 4.2 Miosina Va começa a ser expressa nas células do GRD antes do início do

processo de neuritogênese ............................................................................ 51 4.3 Miosina Va é expressa nos neuritos de neurônios do GRD in vitro ............. 53 4.4 Células transfectadas do GRD são GFP positivas ......................................... 55 4.5 Efeito da superexpressão de pMES-Myc-MioVaGT em células do GRD

cultivadas em diferentes concentrações de NGF ........................................ 57 5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 61 5.1 Expressão e possível papel de Miosina Va na neuritogênese in vivo .......... 61

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5.2 Expressão Miosina Va na neuritogênese in vitro ........................................... 62 5.3 Alterações na neuritogênese induzida por superexpressão do domínio

globular de Miosina Va ................................................................................... 64 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 67 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 68

ANEXO A – Dados referentes à análise das células transfectadas com pMES-Myc-MioVaGT e pMES nas concentrações de 200, 100, 50 e 10 ng/ml de NGF. ................................................................................... 75

ANEXO B – Dados referentes à análise das células transfectadas com pMES-Myc-MioVaGT e pMES...................................................................... 76

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INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________ 21

1 INTRODUÇÃO

A percepção adequada de estímulos somatosensoriais (tato,

temperatura, da posição das partes do corpo ou da dor) pelo sistema nervoso

depende de conexões sinápticas apropriadas entre os neurônios sensoriais,

presentes no gânglio da raiz dorsal, e seus respectivos alvos (pele e músculos).

Essas conexões são conseqüência de uma neuritogênese bem sucedida.

1.1 Neurônios do gânglio da raiz dorsal

Os gânglios da raiz dorsal (GRD) são componentes do sistema nervoso

periférico, anatomicamente identificáveis como estruturas encapsuladas

posicionadas bilateralmente e periodicamente ao longo da medula espinhal (Fig. 1).

Seu interior contém os corpos celulares de vários subtipos de neurônios sensoriais,

bem como células da glia. O GRD diferenciado contém dois subtipos gliais (células

satélites e de Schwann) e vários subtipos de neurônios aferentes que apresentam

modalidades sensoriais distintas e expressão diferenciada de receptores para

fatores neurotróficos. Todos os subtipos neuronais e gliais do GRD derivam das

células da crista neural (Carr, 1984; Frank e Sanes, 1991).

Figura 1 – Os gânglios da raiz dorsal são estruturas encapsuladas do sistema nervoso

periférico. Estas estruturas estão distribuídas bilateralmente a medula espinhal ao longo da coluna vertebral.

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INTRODUÇÃO __________________________________________________________________ 22

Os neurônios presentes no GRD transmitem três tipos de informações

sensoriais somáticas: nocicepção, mecanocepção e propriocepção (Fig. 2). A

neurogênese sensorial no GRD ocorre principalmente em três ondas

temporalmente distintas. A primeira onda gera cerca de um terço das células do

GRD e formarão primariamente neurônios de grande diâmetro - os mecanoceptivos

e proprioceptivos da região ventrolateral do gânglio (Lawson e Biscoe, 1979; Ma et

al., 1999). Esta subpopulação neuronal é positiva para o receptor de neurotrofina

TrkC e/ou TrkB. O restante das células provém da segunda onda neurogênica, e

formam os neurônios nociceptivos que se congregam na região dorsomedial do

GRD. Estes expressam o receptor TrkA (Ma et al., 2000). Finalmente, a terceira

onda neurogênica contribui para as células-tronco multipotentes da membrana

limitante do gânglio, uma estrutura celular no ponto de entrada e saída do GRD

(Maro et al., 2004).

A partir dos corpos celulares presentes nos GRDs saem

prolongamentos (neuritos) que contactam diferentes regiões de destino tanto na

medula como na periferia do corpo (Fig. 2 e Fig. 3). A população neuronal

ventrolateral do GRD, composta de neurônios de grande diâmetro primariamente

mecanoceptivos e proprioceptivos, emite axônios que ingressam na medula pela

Figura 2 – Tipos de neurônios do gânglio da raiz dorsal. Os GRDs apresentam três populações de neurônios sensoriais: nociceptivos (percepção de dor e temperatura), mecanoceptivos (percepção de estímulos mecânicos) e proprioceptivos (percepção do estado postural do corpo). Cada população neuronal emite neuritos para regiões específicas na medula e periferia do corpo. Fonte: Adaptado de Caspary e Anderson 2003.

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INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________ 23

região medial do corno dorsal (Eide e Glover, 1997). Estes axônios estabelecem

suas sinapses nas camadas mais profundas da substância cinzenta. Em contraste,

os neurônios da região dorsomedial do GRD, de origem primariamente nociceptiva,

emitem neuritos que invadem a medula pela região lateral do corno dorsal e

terminam em lâminas mais superficiais da substância cinzenta (Eide e Glover, 1997;

Brown e Fyffe, 1981). Através dessas inervações é possível a transmissão das

diferentes modalidades sensoriais para o sistema nervoso central.

No caso particular do desenvolvimento do GRD, os neurônios são

sensíveis a fatores neurotróficos distintos, sendo eles: NGF (fator de crescimento de

nervo, do inglês Nerve Growth Factor), BDNF (fator neurotrófico derivado de

cérebro, do inglês Brain-Derived Neurothophic Factor), e as neurotrofinas NT-3 e

NT-4/5. Estas neurotrofinas se ligam com alta afinidade aos receptores da família

tirosina-quinase (Trk) expressos diferencialmente pelos subtipos neuronais

sensoriais (vide acima). NGF sinaliza através de TrkA (receptor tropomiosina

quinase A), NT-3 através de TrkC (receptor tropomiosina quinase C), enquanto

BDNF e NT-4/5 se ligam a TrkB (receptor tropomiosina quinase B).

Estas neurotrofinas pertencem a uma família de fatores tróficos do

sistema nervoso que influenciam na sobrevivência, manutenção e morte de células

neuronais e não-neuronais. Atuam regulando a expansão seletiva dos cones de

crescimento das diferentes subpopulações neuronais permitindo a neuritogênese. O

comportamento dos cones de crescimento na presença destas diferentes

neurotrofinas tem correlação direta com a dinâmica do citoesqueleto.

GRD

Figura 3 – O gânglio da raiz dorsal localiza-se adjacente ao tubo neural. Os corpos celulares de neurônios sensoriais presentes nestas estruturas emitem neuritos que ingressam na medula pela região dorsal. Fonte: Adaptado de Sharma e Frank 1998.

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INTRODUÇÃO __________________________________________________________________ 24

1.1.1 Neurônios TrkA-positivos

Dentre os neurônios sensoriais, aqueles especializados em detectar e

transduzir estímulos relacionados à dor são conhecidos como nociceptivos (Dubin e

Patapoutian, 2010). Estes são neurônios sensoriais polimodais que inervam a pele e

detectam estímulos de dor, temperatura, tato e coceira (Chen et al., 1998). A

sobrevivência, manutenção e diferenciação desta população é altamente

dependente da presença extracelular de NGF e sinalização via receptor TrkA (Patel

et al., 2000).

O papel do NGF no desenvolvimento nociceptivo é altamente

conservado (Guo et al., 2011). Camundongos NGF-/- (Crowley et al., 1994)

apresentam deficiências no sistema nervoso sensorial e simpático, que os leva a

morte logo após o nascimento. O mesmo ocorre com camundongos TrkA-/- (Smeyne

et al., 1994). Nestes últimos, os neurônios nociceptivos não se desenvolvem,

contudo se é feito o resgate destes neurônios através da inativação da via

apoptótica, os mesmos só conseguem estabelecer conexões com a medula,

demonstrando que a interação entre NGF/TrkA tem papel no estabelecimento de

conexões com os alvos periféricos (Patel et al., 2000).

Os neurônios TrkA-positivos do GRD surgem durante a segunda onda

de migração das células da crista neural e possuem menor diâmetro quando

comparados aos demais tipos de neurônios sensoriais – mecanoceptivos e

proprioceptivos (Ma et al., 1999; Rifkin et al., 2000). No embrião de galinha essa

onda de migração ocorre por volta do estádio HH25, e a adição de novos neurônios

no GRD perdura cerca de 48 horas. Os neurônios TrkA-positivos são encontrados

na região dorsomedial do GRD (Fig. 4) e constituem a classe mais abundante de

neurônios, representando cerca de 70% dos neurônios presentes na estrutura (Mu et

al., 1993). Durante a neuritogênese, estes neurônios emitem prolongamentos latero-

ventrais que se projetam até o tecido-alvo periférico; e dorsais que ingressam na

região dorsolateral da medula. Os neuritos, que ingressam na medula, concentram

seus ramos centrais na lâmina II da mesma, que é conhecida também como

substância gelatinosa (Eide e Glover, 1997; Ozaki e Snider, 1997).

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INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________ 25

O processo de neuritogênese é um evento conservado, assim a

neuritogênese dos neurônios TrkA-positivos é similar ao processo geral de

neuritogênese que ocorre durante o desenvolvimento do sistema nervoso.

1.2 Neuritogênese

A neuritogênese pode ser definida de forma simples como processo de

emissão de neuritos a partir do corpo celular do neurônio. O crescimento destes

neuritos e sua subseqüente diferenciação em dendritos ou axônios é o processo

mais importante no desenvolvimento dos neurônios. No embrião de galinha, o início

da neuritogênese segue a ordem de desenvolvimento antero-posterior, i.e. neuritos

surgem primeiro em segmentos mais anteriores do tubo neural. Dessa forma,

durante o desenvolvimento é possível observar neurônios em diferentes fases de

neuritogênese dentro do mesmo embrião. Além disso, cada subtipo neuronal

apresenta um padrão diferenciado de emissão de neuritos.

Os primeiros neuritos truncais são motores e são emitidos no estádio

HH 16-17 em direção aos somitos (Keynes e Stern, 1984). Posteriormente, no

estádio HH 18-19, os neurônios pseudobipolares dos gânglios da raiz dorsal

projetam um axônio que se bifurca no ramo periférico e um axônio central. Os

ramos periféricos se estendem latero-ventralmente até coalescerem com os

motoneurônios na raiz ventral formando o nervo espinhal. Juntos, os componentes

motores e sensoriais do nervo se projetam até os tecidos-alvos periféricos.

O processo de neuritogênese é dinâmico, movido pelos elementos do

citoesqueleto que compõe os neuritos e é guiado pelo cone de crescimento (Fig. 5).

Figura 4 – Neurônios TrkA-positivos apresentam menor diâmetro e se localizam na região dorsomedial (DM) do GRD. VL-ventrolateral Fonte: Adaptado de Guan et al., 2003.

DM

VL

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INTRODUÇÃO __________________________________________________________________ 26

Dentre os elementos que compõe o citoesqueleto do neurito estão os microtúbulos,

neurofilamentos e filamentos de actina (Fig. 5e, 5f e 5g). O cone de crescimento

situa-se na extremidade do neurito em desenvolvimento e pode ser dividido em dois

domínios (Fig. 5b): um domínio mais ativo e periférico rico em F-actina, e um

domínio mais central, onde predominam feixes de microtúbulos (Forsher e Smith,

1988). Os microtúbulos são compostos por dímeros de alfa e beta-tubulina. Dentre

as beta-tubulinas, as pertencentes à classe III são freqüentemente utilizadas como

marcadores de neurônios em desenvolvimento (Lee et al., 1990; Ferreira e Caceres,

1992), devido a sua abundância no tecido nervoso.

A importância das beta-tubulinas de classe III no desenvolvimento de

neuritos foi evidenciada no trabalho de Tucker et al. (2008). Estes autores

observaram que a redução da tradução destas tubulinas através da eletroporação de

RNA-

Figura 5 – Elementos do citoesqueleto do neurito. A partir do corpo celular (a) do neurônio saem prolongamentos denominados neuritos. O citoesqueleto do neurito (c) é composto de microtúbulos (e), neurofilamentos (f) e filamentos de actina (g). Na extremidade do neurito encontra-se o cone de crecimento (b), composto por um domínio central rico em microtúbulos (verde) e um domínio periférico rico em filamentos de actina (vermelho). Fonte: Adaptado de Fletcher e Mullins 2010.

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INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________ 27

antisenso morpholinos impede ou reduz significativamente a extensão dos neuritos

in vitro.

Na região periférica do cone de crescimento, os filamentos de actina se

reorganizam e polimerizam para formar protrusões (Steketee et al., 2001)

denominadas filopódios (Fig. 5d). Os filopódios são estruturas dinâmicas, compostas

por F-actina, responsáveis pela captação e transdução de sinais extracelulares. A

resposta do cone de crescimento a presença diferencial de neurotrofinas e demais

sinais do meio modula a direção e a velocidade em que o neurito se estende,

através da alteração na distribuição dos elementos do citoesqueleto (Gordon-Weeks

1991, 2004; Tanaka et al., 1995). Por exemplo, NGF induz a neuritogênese em

células PC12 e como conseqüência observa-se um aumento na polimerização de

microtúbulos, que por sua vez são responsáveis em controlar a extensão do neurito

(Kelly et al., 2010). Já em outro exemplo, a adição de NGF em culturas de células do

GRD de embrião de galinha aumenta o número de filopódios dos neurônios, através

do aumento da taxa de formação dos feixes de F-actina (Ketschek e Gallo, 2010).

Neste contexto, o papel do transporte intracelular de elementos do

citoesqueleto é fundamental para o crescimento e manutenção do neurito.

1.3 Miosina Va e sua participação no processo de neuritogênese

Miosina Va é uma molécula motora, que se movimenta através de seu

domínio motor sobre os filamentos de actina, e apresenta um domínio globular

associado a transporte vesicular na região carboxi-terminal (Trybus, 2000). É

expressa em uma variedade de tecidos, contudo está enriquecida no tecido nervoso

em desenvolvimento (Azevedo et al., 2004). Esta proteína está envolvida no

transporte de neurofilamentos (Rao et al., 2002) e o seu domínio globular é de suma

importância para o transporte de organelas e componentes relevantes para o

estabelecimento de sinapses.

Miosina Va foi detectada em cones de crescimento de células do GRD

em cultura, logo abaixo da região rica em actina do domínio periférico destas

estruturas (El-Husseini e Vincent, 1999; Suter et al., 2000). A função desta proteína

nos cones de crescimento foi verificada em experimentos de inativação por

microinjeção de anticorpos (Wang et al., 1996). Neste experimento, foi utilizado um

anticorpo policlonal anti-MiosinaV que reconhece epítopos da região carboxi-

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INTRODUÇÃO __________________________________________________________________ 28

terminal. Este anticorpo foi conjugado ao corante verde malaquita. Quando o

conjugado é irradiado, com pulsos de laser, liberam radicais livres que resultam na

inativação da proteína. Nestas condições, a inativação de Miosina V diminui a taxa

de extensão e a motilidade dos filopódios (Wang et al., 1996). Em conjunto, estes

dados claramente evidenciam a importância da proteína para a formação de

prolongamentos neuronais.

1.4 Miosina Va e seu padrão de expressão durante a embriogênese

Consistente com um possível papel para Miosina Va na neuritogênese

durante o desenvolvimento embrionário, Miosina Va é expressa no tubo neural de

embriões de galinha durante a neurulação, no telencéfalo, no mesencéfalo, em

fibras de nervos cranianos e nas raízes ventrais e dorsais do tubo neural posterior

(Fig. 6), (Azevedo et al., 2004). Nas células do GRD de embrião de galinha in vitro,

esta proteína está presente no corpo celular, nos neuritos e no cone de crescimento.

Neste último verificou-se que a imunomarcação para Miosina Va foi mais forte na

região central do cone de crescimento, onde os filamentos de microtúbulo abundam

(El-Husseini e Vincent, 1999; Suter et al., 2000). Em contrapartida, o padrão de

expressão de Miosina Va nos GRDs durante o desenvolvimento embrionário in vivo

foi relatado apenas para um estádio do desenvolvimento (Fig. 6), não tendo sido

Figura 6 – Expressão de Miosina Va na região truncal do embrião de galinha. Miosina Va é expressa no tubo neural, nas raízes ventrais e dorsais e no miótomo da região truncal do embrião de galinha. Fonte: Azevedo et al., 2004.

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INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________ 29

ainda detalhado.

Miosina Va também está presente em cones de crescimento de

neurônios hipocampais e de células de feocromocitoma PC12 após a neuritogênese

induzida por NGF (El-Husseini e Vincent, 1999; Espreafico et al., 1992).

A deficiência de Miosina Va está associada à Síndrome de Griscelli em

humanos (Mancini et al., 1998; Pastural et al., 1997). Esta síndrome resulta em

várias anomalias neurológicas, como convulsões, hipotonia, desenvolvimento motor

tardio, ataxia e retardo mental progressivamente debilitantes levando ao óbito

(Anikster et al., 2002; Mancini et al., 1998; Pastural et al., 1997). Estas

características também estão presentes em camundongos mutantes para Miosina

Va (Wei et al., 1997; Wu et al., 1997), nos quais também se observa postura e

equilíbrios anormais, convulsões associadas a rigidez e arqueamento acentuado das

costas que, em conjunto os levam a morte poucos dias após o nascimento (Searle,

1952). Os camundongos também apresentam deficiência no processo de

mielinização das fibras do sistema nervoso central, nervo óptico, medula espinhal e

corpo caloso, possivelmente causado por alterações na morfogênese dos

oligodendrócitos (Jacob e Vartanian, 2007). Consistente com um papel para Miosina

Va no desenvolvimento glial, a superexpressão da sua forma truncada, em culturas

primárias de hemisférios cerebrais de ratos, reduz significativamente o tamanho das

lamelas dos oligodendrócitos (Jacob e Vartanian, 2007). Em conjunto, estes dados

demonstram que Miosina Va é importante para o desenvolvimento de células

neuronais e gliais.

1.5 Estrutura molecular da Miosina Va e suas funções celulares

Miosina Va é composta de duas cadeias pesadas dimerizadas. A

região amino-terminal desta cadeia pesada contém o domínio motor que se liga à

actina e hidrolisa ATP. Este é seguido de 6 motivos IQ que se ligam a calmodulina, e

de domínios helicoidais responsáveis pela dimerização. Por fim, a região carboxi-

terminal exibe o domínio globular, que atua em conjunto com alguns dos domínios

helicoidais no transporte vesicular (Fig. 7) (Espreafico et al., 1992; Reck-Peterson et

al., 2000; Trybus, 2008).

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INTRODUÇÃO __________________________________________________________________ 30

O domínio globular também atua na estabilização da conformação de

Miosina Va (Fig. 8) e provê a sensibilidade aos níveis de cálcio intracelular

(Krementsov et al., 2004; Li et al., 2006; Thirumurugan et al., 2006; Wang et al.,

2004). Portanto, o modelo atual para regulação da atividade de Miosina Va propõe

que o domínio globular tem função dupla: na ausência de níveis apropriados de

cálcio, Miosina Va assume uma conformação inativa, em que o domínio globular se

dobra sobre a região amino-terminal assumindo uma conformação triangular (Fig. 8).

A conformação inativa de Miosina Va impede que a mesma se ligue à actina e

também inibe a atividade ATPásica da proteína. Na presença de níveis ótimos de

cálcio, o domínio globular se expõe e é capaz de interagir com a maquinaria

intracelular de transporte vesicular (Li et al., 2006; Wang et al., 2004).

A participação do domínio globular na neuritogênese foi evidenciada

nos experimentos de Eppinga et al. (2008). Neste trabalho foi realizada a

superexpressão da forma truncada da proteína (com deleção do domínio globular)

nos neurônios de Drosophila melanogaster in vitro. Como resultado, observou-se

que a superexpressão diminui consideravelmente a extensão de neuritos e a

presença de F-actina nos neurônios.

Figura 7 – Domínios da proteína Miosina Va. Domínio motor: sítio de ligação a actina, motivos IQ: ligação a calmodulina, domínios helicoidais: responsáveis pela dimerização, sequência PEST-like: sinais potenciais de degradação protéica rápida, domínio globular: transporte vesicular. Fonte: Adaptado de Eppinga et al., 2008 e Trybus, 2008, respectivamente.

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INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________ 31

Como visto na seção anterior, Miosina Va é amplamente expressa no

sistema nervoso. Além deste tecido, esta proteína também é abundante nos

melanócitos. Nestas estruturas, o domínio globular da proteína desempenha um

papel importante no transporte de melanossomos. Na deficiência de Miosina Va

observa-se a hipopigmentação da pele e dos cabelos, outra característica associada

à Síndrome de Griscelli (Mancini et al., 1998; Pastural et al., 1997). Além disso, o

domínio globular é capaz de interagir com a cinesina ou com sua molécula

transportada colaborando com o transporte vesicular em redes mistas de

microtúbulos e actina filamentosa (Ali et al., 2008).

Figura 8 – Conformação da proteína Miosina Va nos estados inativo e ativo. No estado inativo, o domínio globular se liga ao domínio motor assumindo uma forma compacta da proteína. No estado ativo o domínio globular se expõe e é capa de realizar transporte vesicular. Fonte: Adaptado de Li et al., 2006.

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OBJETIVOS ____________________________________________________________________ 32

1 OBJETIVOS

Baseado nas observações anteriores que Miosina Va é expressa no

GRD em um dos estádios do desenvolvimento embrionário de galinha (Azevedo et

al., 2004), e que a inativação da proteína interfere no processo de neuritogênese

(Wang et al., 1996), hipotetizamos que o domínio globular de Miosina Va é

importante para o transporte de elementos do citoesqueleto durante o

estabelecimento de neuritos. Com base nestas informações, neste trabalho

tencionou-se:

I) Caracterizar de forma detalhada o padrão de expressão de Miosina

Va nas células do GRD em desenvolvimento;

II) Verificar a importância do domínio globular para a neuritogênese de

neurônios TrkA-positivos do GRD.

Especificamente para responder o primeiro objetivo, realizamos os

seguintes experimentos:

Ia) Imunomarcações com os anticorpos anti-TkrA e Tuj1 (anti-beta-

tubulina III) em criocortes do GRD nos estádios HH25, HH30 e HH34 para

identificação de células TrkA-positivas e caracterização de seu processo de

neuritogênese,

Ib) Imunomarcações com os anticorpos anti-Miosina Va e Tuj1 em

criocortes do GRD nos estádios HH25, HH30 e HH34 para caracterização detalhada

do padrão de expressão temporal e espacial de Miosina Va em relação à

neuritogênese,

Para respondermos ao segundo objetivo, realizamos os seguintes

experimentos:

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OBJETIVOS ____________________________________________________________________ 33

IIa) Síntese do cDNA do domínio globular de Miosina Va fusionado ao

epítopo Myc (Myc-MioVaGT) e inserção no plasmídio de expressão pMES (pMES-

Myc-MioVaGT) para superexpressão em células em cultura do GRD;

IIb) Superexpressão de pMES-Myc-MioVaGT nas células do GRD

cultivadas em diferentes concentrações de NGF para observar o possível papel do

domínio globular no processo de neuritogênese.

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 34

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Caracterização do padrão de expressão de Miosina Va nas células do GRD 3.1.1 Obtenção e manipulação de embriões de galinha

Neste trabalho foi utilizado o embrião de galinha (Gallus gallus) como

modelo animal. Para obtenção dos embriões, ovos fertilizados de Gallus gallus

(White Leghorn) adquiridos de granjas locais (Granja Kunitomo, situada à cidade de

Mogi das Cruzes – SP, e Granja Yamaguishi, situada à cidade São Paulo – SP)

foram incubados a 37 ºC e 50% umidade relativa do ar. Os embriões foram

coletados em estádios específicos do desenvolvimento estabelecidos por

Hamburger e Hamilton (1951). Foram coletados embriões nos estádios HH25, HH30

e HH34. Durante a coleta, os ovos foram abertos em um prato sem deixar romper a

gema, a fim de preservar a integridade da membrana vitelínica. A membrana

vitelínica foi removida com o auxílio de uma tesoura pequena e o embrião foi

coletado com uma pequena colher perfurada.

3.1.2 Obtenção dos cortes congelados

Após a coleta, os embriões foram lavados com PBS1 (Solução salina

tamponada com fosfato) e foram fixados em PFA (paraformaldeído – Sigma-Aldrich,

São Paulo, S.P., Brasil) 4% diluído em PBS por 1 hora a 4 ºC. Em seguida, foram

feitas três lavagens de 10 minutos com PBS para retirar o excesso de PFA. Depois

de fixados, os embriões foram dissecados, crioprotegidos em solução de OCT

(Tissue-Tek - Sakura Finetek, U.S.A.) e sacarose 20% em PBS (proporção de 1:1)

por no mínimo 12 horas e incluídos na mesma solução. Os cortes foram feitos em

criostato a uma temperatura de -20 ºC (10 μm de espessura), e recuperados em

lâminas gelatinizadas. As lâminas contendo os cortes foram armazenadas a -20 ºC

para preservação do tecido que posteriormente foi submetido à imunofluorescência.

1 PBS (Phosphate Buffered Saline): Na2HPO4 0,61 g/L, NaCl 8 g/L, H2PO4 0,2 g/L,KCL 0,2 g/L; pH 7,2.

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 35

3.1.3 Imunofluorescência em cortes congelados

As lâminas contendo os cortes histológicos foram deixadas na vertical

por 30 minutos na estufa a 37º para que o OCT secasse, permitindo a adesão dos

cortes nas mesmas. Em seguida, as lâminas foram fixadas em PFA 4% por 30

minutos em temperatura ambiente, e depois foram lavadas por três vezes em PBS

por 10 minutos cada para remover o OCT e o fixador.

Para impedir a ligação dos anticorpos a epítopos inespecíficos, os

cortes foram bloqueados com solução de PBST2 0,1% com 10% de NGS (soro

normal de cabra) e 0,5% de BSA (albumina sérica de bovinos) por 1 hora em

câmara úmida e temperatura ambiente.

Os cortes foram incubados com 5 μl dos anticorpos primários (Tabela

1), diluídos na solução de bloqueio, por no mínimo 12 horas em câmara úmida e

temperatura ambiente.

Após a incubação com o anticorpo primário, as lâminas foram lavadas

em PBS por três vezes de 10 minutos, em seguida foram incubadas com anticorpos

secundários diluídos em PBST 0,1% por 2 horas em câmara úmida. Após a

incubação, foram lavadas em PBS por três vezes de 10 minutos e foi realizada a

montagem das lâminas com Vecta Shield (Vector Laboratories, U.S.A.).

As lâminas utilizadas como controle negativo não foram incubadas com

o anticorpo primário, apenas com o anticorpo secundário.

Os seguintes anticorpos secundários foram utilizados: anticorpos

contra IgG de coelho ou de camundongo, ambos produzidos em cabra e conjugados

com o fluoróforo Alexa 488 (diluição 1:500, Life Technologies Invitrogen, São Paulo,

S.P., Brasil) ou Alexa 568 (diluição 1:200, Life Technologies Invitrogen, São Paulo,

S.P., Brasil).

2 PBST: PBS contendo 0,1% de Triton X-100 (Sigma).

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 36

Tabela 1 - Anticorpos primários utilizados nas imunofluorescências

Animal

fornecedor

Proteína com a qual o anticorpo

reage

Concentração

Fornecedor

Coelho Miosina Va 1:250 Doação Dra. Espreafico e Dr. Larson Universidade de São Paulo – RP

Coelho GFP* 0,5 µg/ml AbCam ab6556 Coelho TrkA 1:200 Epitomics 2244-1

Camundongo

Beta-tubulina III

(Tuj1)**

2 µg/ml

Covance 14945202

Camundongo Myc 1:200 Invitrogen R950-25/ R951-25 * utilizado somente nas imunomarcações realizadas nas culturas. ** As beta-tubulinas de classe III são encontrada em abundância no sistema nervoso, e a inativação das mesmas in vitro diminui ou impede a extensão de neuritos (Tucker et al., 2008). Anticorpos que reconhecem estes elementos do citoesqueleto são frequentemente utilizados como marcadores de neuritos em desenvolvimento Fonte: Lee et al., 1990; Ferreira e Caceres, 1992.

3.2 Síntese da forma mutante de Miosina Va (pMES-Myc-MioVaGT) 3.2.1 Subclonagem do domínio globular (GT) de Miosina Va

A profa. Dra. Enilza Espreafico (USP – Ribeirão Preto) gentilmente nos

doou o domínio globular (MioVaGT) da proteína Miosina Va inserido no plasmídeo

pEGFP.

Para realização dos ensaios de transfecção, MioVaGT foi transferido

para um plasmídeo adequado para superexpressão (pMES). Adicionou-se também

um epítopo correspondente a um fragmento conhecido da proteína Myc na região

amino-terminal. O plasmídeo pMES contém o GFP após uma sequência IRES

(Internal Ribosomal Entry Site), dessa forma o transcrito resultante é bicistrônico

para Myc-MioVaGT e GFP e resulta na tradução de ambas as proteínas

separadamente.

Primeiro, MioVaGT foi ampliado por PCR utilizando os primers abaixo

listados (Tabela 2 e Fig. 9). A sequência dos primers que hibridizam com o inserto

foram formulados a partir dos dados de sequenciamento de MioVaGT, enquanto

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 37

inserido no plasmídeo original (pEGFP). Além disso, incluímos nestes primers a

sequência codificante para o epítopo Myc na região amino-terminal.

Tabela 2 – Primers utilizados para clonagem de pMES-Myc-MioVa-GT. Primer Sequência

FW 5´- GAATTC GCC GCC ATG GAG CAG AAA CTC ATC TCT GAA GAG GAT CTG ATATCACCTGGACAAATCATTGATGAACCT - 3´

[EcoRI] Kozak ATG (Myc) Miosina Va

RW

5'- CCC GGG TCA GAC ACG TGA TAT GAA ACC CAG CC -3'

Miosina Va - stop – SmaI

Após a amplificação do inserto, o mesmo foi inserido no plasmídeo de

clonagem pGEMT. Posteriormente, o inserto foi retirado do pGEMT através de

digestão com as enzimas de restrição EcoR1 e Sma1. Em seguida, foi feita a reação

de ligação no vetor de interesse (pMES) (Fig. 10). Desta forma, obtivemos MioVaGT

com epítopo Myc na região N-terminal inserido no plasmídeo de expressão

embrionária pMES, o qual nos referiremos doravante como pMES-Myc-MioVaGT.

Figura 9 – Primers desenhados para subclonagem do domínio globular de Miosina Va. Setas mostram a região do domínio globular. Fonte: Adaptado de Eppinga et al., 2008

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 38

Figura 10 - Processo de subclonagem para obtenção de pMES-Myc-MioVa-GT. O inserto foi retirado do plasmídeo de origem através de PCR e em seguida foi inserido no plasmídeo de clonagem pGEMT. Posteriormente, o inserto foi retirado do pGEMT através de digestão com as enzimas de restrição EcoR1 e Sma1 e foi feita a reação de ligação no vetor de expressão pMES.

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 39

3.3 Culturas de GRD

Para as culturas de GRD foram utilizados embriões entre os estádios

HH30 e HH34, os quais foram incubados e coletados como mencionado

anteriormente (Vide seção 3.1.1).

Os embriões foram dissecados para obtenção dos GRDs isolados.

Primeiramente foram decapitados (Fig. 11A) e os membros anteriores e posteriores

foram removidos (Fig. 11B). Em seguida foram transferidos com a porção ventral

para cima para uma placa forrada com silicone (SYLGARD, U.S.A.) contendo

HEBSS3. Foram removidos os órgãos e vasos sanguíneos (Fig. 11C), em seguida a

cartilagem vertebral ventral foi removida permitindo a exposição da medula espinhal

(Fig. 11D e 11E). Este procedimento expõe os GRDs (Fig. 11F e 11G), que foram

dissecados isoladamente (Fig. 11H) destacando-os da medula com uma pinça fina.

Os gânglios foram transferidos para uma placa de petri contendo

solução de Puck modificada com glicose (MPG4) e posteriormente foram transferidos

para um tubo estéril contendo 2,4 ml de MPG + 0,1 ml de tripsina na concentração

final de 0.1%. O GRDs foram dissociados em banho maria a 37 ºC por cerca de 10

minutos. Após esse tempo, o tubo foi centrifugado por 2 minutos a 200-250 g.

Retirou-se o sobrenadante cuidadosamente com uma pipeta pasteur estéril deixando

somente o pellet. Em seguida, foram adicionados 3 ml de meio completo contendo

soro eqüino a 10% para interromper o processo de tripsinização. As células foram

centrifugadas por mais 2 minutos a 200-250 g, em seguida foram ressuspendidas

gentilmente com uma pipeta pasteur estéril. As células individualizadas foram

plaqueadas em placas de 24 poços contendo lamínulas redondas de 12 mm pré-

recobertas com poly-L-lisina (BD BioCoat 354085). As lamínulas foram incubadas

por no mínimo 12 horas a 4 ºC com laminina (Sigma-Aldrich, São Paulo, S.P., Brasil

L2020) na concentração de 20 µg/ml. O excesso de laminina foi removido antes da

cultura, e as lamínulas foram secadas ao ar no fluxo laminar. O meio de cultura

utilizado foi o MEM (Minimum Essential Media, Life Technologies Invitrogen)

suplementado com os antibióticos penicilina (50 U/ml - Sigma) e estreptomicina (50

3 HEBSS (HEPES-buffered Earles balanced salt solution): EBSS + Hepes na concentração final de

15mM; pH 7,2. 4 MPG (Modified Puck’s Solution with glucose): NaCl 36g/L, KCl 2g/L, Na2HPO4 6,75 g/L, 0,5% phenol red, 10% glucose; pH 7,2.

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 40

µg/ml - Sigma), 2 mM de glutamina (Sigma-Aldrich, São Paulo, S.P., Brasil), 10% de

soro eqüino inativo (Sigma-Aldrich, São Paulo, S.P., Brasil) e solução de

fluorodeoxiuridina (Sigma-Aldrich, São Paulo, S.P., Brasil) e uridina (Sigma-Aldrich,

São Paulo, S.P., Brasil) a 10 µM para inibir a proliferação de células não-neuronais.

Foram plaqueados no mínimo três GRDs por lamínula e as células

foram mantidas em estufa a 37 C em 5% de CO2 .

Nas culturas utilizadas para imunomarcação da presença de proteínas

endógenas, a concentração de NGF utilizada foi de 200 ng/ml e as células foram

fixadas, 24 horas após o plaqueamento, em PFA 4% por 30 minutos. Após esse

período removeu-se o fixador e as células foram armazenadas em PBS para serem

submetidas posteriormente a imunofluorescência.

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 41

Figura 11 - Etapas da dissecção de embrião galinha (estádio HH34) para cultura de GRD. Os

embriões são primeiramente decapitados (A) e em seguida são removidos os membros anteriores e posteriores (B). Na próxima etapa, são removidos os órgãos e vasos sanguíneos (C). Após a evisceração, a cartilagem vertebral ventral é removida permitindo a exposição do tubo neural (TN) (D; TN delimitado por linhas pontilhadas; seta aponta um gânglio). Esta etapa também está esquematizada em (E). (Adaptado de Bronner-Fraser 1996). Os gânglios da raiz dorsal (GRD) estão adjacentes ao TN e podem ser vistos no lado esquerdo deste (F; linha pontilhada= TN; seta=GRD). Em (G) observa-se um segmento do tubo neural com GRDs anexados (seta), e em (H) um GRD isolado.

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 42

3.3.1 Imunofluorescência em culturas de GRD

Nas culturas, a imunofluorescência foi realizada até o último passo

dentro das placas de culturas originais, a fim de evitar excesso de manipulação e

conseqüente perda dos neuritos. As lamínulas foram lavadas uma vez com PBS por

10 minutos e em seguida foram incubadas com solução de bloqueio (PBST 0,1%

com 10% de NGS e 0,5% de BSA) por 30 minutos em câmara úmida e temperatura

ambiente. Foi retirado o excesso de solução de bloqueio com o auxílio de uma

pipeta pasteur e as lamínulas foram incubadas com 150 µl dos anticorpos primários,

descritos na seção 3.1.3 (Tabela 1), por no mínimo 12 horas a 4º. Em seguida,

foram lavadas uma vez com PBS por 10 minutos e aplicou-se 150 µl do anticorpo

secundário (ver seção 3.1.3) por 4 horas em câmara úmida e temperatura ambiente.

Na solução do anticorpo secundário foi adicionado DAPI (1:1000) para corar os

núcleos das células. Após a incubação com os anticorpos secundários, as lamínulas

foram lavadas uma vez com PBS por 10 minutos e foi realizada a montagem das

lamínulas com Vecta Shield.

3.3.2 Transfecção de células do GRD

Nos ensaios de transfecção, a cultura foi dividida em 3 etapas (Fig. 12):

Figura 12 – Na etapa 1 as células são cultivas por 3 horas em meio de cultura com ou sem NGF, na

etapa 2 é realizada a transfecção das células com pMES-Myc-MioVaGT ou pMES, em meio sem adição de soro eqüino e NFG. A transfecção é realizada por 4 horas e em seguida as células são lavadas com meio sem soro e sem NGF, em seguida é adicionado meio completo contendo NGF (Etapa 3) para a recuperação das mesmas.

NGF é um fator neurotrófico capaz de estimular a diferenciação,

sobrevivência, manutenção e regeneração axonal dos neurônios nociceptivos

Etapa 1 Plaqueamento

3 horas

Etapa 2 Transfecção

4 horas

Etapa 3 Recuperação 16 a 18 horas

Meio com soro com ou sem NGF

Meio sem soro sem NGF

Meio com soro com NGF

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 43

presentes no GRD (Levi-Montalcini e Angeletti, 1968). Neste trabalho, foram

utilizadas concentrações diferentes de NGF (200 ng/ml, 100 ng/ml, 50 ng/ml e 10

ng/ml) em cada experimento, a fim de determinar um limiar de resposta dos

neurônios ao processo de neuritogênese (vide Resultados).

A tabela 3 resume os tratamentos com as diferentes concentrações de

NGF em cada etapa.

Tabela 3 - Concentração de NGF utilizado nas etapas das culturas de GRD

Três horas após o plaqueamento, as células foram transfectadas com a

proteína truncada (pMES-Myc-MioVaGT ver seção 2.3) ou somente com o

plasmídeo pMES sem inserto anterior a sequência IRES (internal ribosomal entry

site), mas contendo GFP (Green Fluorescent Protein) após este. A transfecção foi

realizada com lipofectamina 2000 (Life Technologies Invitrogen, São Paulo, S.P.,

Brasil) na concentração final de 2 µg + 0,8 µg de pMES-Myc-MioVaGT, por 4 horas

em meio sem adição de soro e antibióticos.

Após as 4 horas de transfecção, as células foram lavadas com meio

sem soro e foi adicionado meio completo contendo NGF. Posteriormente, as células

foram fixadas em PFA 4% 16-18 horas após o término da transfecção e

armazenadas em PBS para Imunofluorescência.

Para análise das células transfectadas, as mesmas foram divididas em

três categorias (categoria 0-1 – sem neuritos ou neuritos curtos, categoria >1-4 –

neuritos médios e categoria >4 – neuritos longos). As categorias foram estabelecidas

de acordo com o comprimento do neurito de maior extensão emitido pela célula, em

relação ao tamanho do corpo celular do neurônio (Tabela 4 e Fig. 13).

Concentração de NGF na Etapa 1

(Plaqueamento) 3 horas

Concentração de NGF na Etapa 2 (Transfecção)

4 horas

Concentração de NGF na Etapa 3 (Recuperação) 16 a 18 horas

Cultura 1 200 ng/ml - 200 ng/ml Cultura 2 100 ng/ml - 100 ng/ml Cultura 3 50 ng/ml - 50 ng/ml Cultura 4 - - 10 ng/ml

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 44

Tabela 4 – Critérios para divisão das células transfectadas dentro das três categorias estabelecidas

Categoria 0-1 Categoria >1-4 Categoria >4 sem neuritos ou

neuritos com comprimento do

tamanho do corpo celular

neuritos com comprimento

maior ao tamanho de 1 corpo celular

até 4 vezes o tamanho do corpo

celular

Neurônios com neuritos com

extensão maior a 4 vezes o

tamanho do corpo celular

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Figura 13 – A extensão dos neuritos é heterogênea em cultura. Para identificar o efeito do domínio globular de Miosina Va na neuritogênese, as células transfectadas (i.e. GFP-positivas) foram divididas em 3 categorias de acordo com o comprimento do neurito (A, D, G, J, M e P). Os neuritos foram identificados através da marcação de beta-tubulina III (Tuj1) (B, E, H, K, N e Q). As categorias foram estabelecidas de acordo com o comprimento do neurito de maior extensão emitido pela célula, em relação ao tamanho do corpo celular do neurônio. Em A-I as células foram transfectadas com pMES-Myc-MioVaGT e em J-R as células foram transfectadas com pMES. Em ambas as condições foram observadas neurônios nas três categorias. Categoria 0-1: sem neuritos ou neuritos com comprimento do tamanho do corpo celular (A e J); categoria >1-4: neuritos com comprimento maior ao tamanho de um corpo celular até quatro vezes o tamanho do corpo celular (D e M) e categoria >4: neurônios com neuritos com extensão maior a quatro vezes o tamanho do corpo celular (G e P). C, F, I, L, O e R representam a sobreposição dos marcadores. Escala - 20 µm.

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 45

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MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________ 46

3.3.3 Análise estatística

Para a interpretação estatística dos dados, a porcentagem de células

transfectadas (nº de células transfectadas (GFP-positivas) em cada categoria/nº total

de células transfectadas) foi transformada em proporção (% de células

transfectadas/100). Os dados de proporção foram convertidos em arco seno da raiz

quadrada [x = arc sen (√ % /100)] e foi realizada ANOVA com dois fatores:

plasmídeo transfectado e concentração de NGF. O nível de significância adotado foi

p<0.05.

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 47

4 RESULTADOS 4.1 Neurônios TrkA-positivos iniciam seu processo de neuritogênese a partir

do estádio HH25

A proteína motora Miosina Va foi previamente detectada em GRD de

embriões de galinha em um trabalho de caracterização geral do seu padrão de

expressão (Azevedo et al., 2004). Além disso, está presente durante neuritogênese

in vitro, mas também neste trabalho não foi detalhado a dinâmica temporal de

expressão durante este evento (Wang et al., 1996). Para determinarmos se a

Miosina Va está presente em etapas condizentes com uma atuação na

neuritogênese de neurônios nociceptivos, precisamos primeiramente caracterizar em

detalhes o período embrionário em que neurônios TrkA-positivos iniciam a

expressão de Miosina Va em relação a neuritogênese. Desta forma, identificamos as

etapas embrionárias correspondentes ao início da emissão de neuritos em células

nociceptivas/TrkA-positivas durante o desenvolvimento do GRD. Para isto, utilizamos

o anticorpo Tuj1, que reconhece beta-tubulina III (detalhes em Material e Métodos).

No embrião, a adição de novos neurônios TrkA-positivos no GRD

perdura 48 horas a partir do estádio HH25. Neste estádio, os neurônios TrkA-

positivos são encontrados distribuídos de forma mais homogênea ao longo de todo

GRD. Alguns neurônios já iniciaram o processo de neuritogênese (Fig. 14A-C e 134’-

C’). Observa-se também a presença do receptor TrkA na lâmina superficial da

medula (D - seta).

A partir de HH30, a maioria dos neurônios TrkA-positivos contém beta-

tubulina III em estruturas similares a neuritos (Fig. 14E-G e 14E’-G’, Fig.15 A-C). Em

HH34, os neurônios TrkA-positivos ficam mais restritos a região dorsomedial do

GRD (Fig. 15A, compare Fig.15D com Fig. 15G). Apesar da maior expressão de

TrkA em células na região dorsomedial, Tuj1 apresenta uma marcação mais

homogênea no GRD (Fig.15B, compare Fig. 15E com 15H). Isso provavelmente se

deve ao fato de que Tuj1 marca os neuritos de todos os neurônios presentes no

GRD inclusive os TrkA-negativos. Dessa maneira, concluímos que o período ideal

para investigar o papel de Miosina Va na neuritogênese de células TrkA positivas é

de HH25 a HH34, uma vez que estes estádios abrangem o início da neuritogênese

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 48

desta população neuronal até a distribuição diferencial de neurônios nociceptivos

para a região dorsomedial do GRD.

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 49

Figura 14 – Neurônios TrkA positivos iniciam a neuritogênese em HH25. Imunoflurescência em

criocortes do GRD nos estádios HH25 e HH30. Em verde - anticorpo anti-TrkA/receptor de NGF, em vermelho - anticorpo anti-beta-tubulina III (Tuj1; marcador de neuritos) e em azul DAPI (marcador nuclear). Em HH25, neurônios TrkA positivos já iniciaram a neuritogênese (A-C) e podemos observar a presença do receptor na lâmina superficial da medula (D - seta). Em A’-C’ observa-se o aumento maior da região demarcada em A-C, a seta aponta uma célula TrkA-positiva emitindo neuritos. Em HH30, todos os neurônios TrkA-positivos emitem neuritos e a distribuição dos mesmos é homogênea pelo GRD (E-G). Em E’-G’ observa-se o aumento maior da região demarcada em E-G, a cabeça de seta aponta uma célula duplamente positiva para TrkA-Tuj1. Em todas as imagens a região dorsal está para cima. Em A-D tubo neural à direita e em E-G, tubo neural à esquerda. Escala: A-C, A’-C’– 20 µm, D-G e E’-G’ – 50 µm.

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 50

Figura 15 – Neurônios TrkA-positivos se restringem a região dorsomedial do Gânglio da raiz

dorsal (GRD) (A – área pontilhada) no estádio HH34. A região ventrolateral do GRD (G-I) apresenta uma menor quantidade de células TrkA-positivas quando comparada a região dorsomedial (D-F). A fronteira entre estes dois domínios está delimitada por uma linha pontilhada em A. Em contraste, a distribuição de beta-tubulina III apresenta-se mais homogênea em todo o GRD (B; compare E com H). C, F e I representam a dupla marcação TrkA-Tuj1. Em todas as imagens a região dorsal está para cima e o tubo neural encontra-se a direita. VL - ventrolateral, DM - dorsomedial. Escala: A-C – 100 µm e D-I – 50 µm.

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 51

4.2 Miosina Va começa a ser expressa nas células do GRD antes do início do processo de neuritogênese

Realizamos, portanto, a caracterização do padrão de expressão de

Miosina Va durante a neuritogênese do GRD em HH25, HH30 e HH34. Em HH25,

observa-se que a Miosina Va encontra-se no citoplasma da maioria das células ali

presentes (Fig. 16A). Nesta etapa, todas as células em processo de neuritogênese

(Tuj1-positivas) parecem expressar Miosina Va (16A-C). Contudo, algumas células

do GRD são Miosina Va-positivas, mas não começaram a emitir neuritos (Tuj1-

negativas) (Fig. 16A e 16B – setas nos insertos).

A partir de HH30, todas as células em neuritogênese presentes no

GRD apresentam-se duplamente positivas para Miosina Va e Tuj1 (Fig. 16D-F, 16D’-

F’ - setas, 16G-I e 16G’-I’ - setas). Em HH34, a intensidade de marcação para

Miosina Va é mais pronunciada no domínio ventrolateral do GRD (Fig. G – área

pontilhada, aumento maior em G’) enquanto a intensidade de marcação para Tuj1 é

homogênea por todo o GRD (Fig. 16H, aumento maior H’).

Em conjunto, estes resultados sugerem que a expressão de Miosina Va

antecede e perdura durante a neuritogênese. Assim, o próximo passo foi

caracterizar a sublocalização de Miosina Va no neurito em desenvolvimento. Este

dado nos daria mais informações sobre o possível papel de Miosina Va na

neuritogênese.

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Figura 16 – Caracterização do padrão de expressão de Miosina Va nas células do gânglio da

raiz dorsal (GRD) nos estádios HH25, HH30 e HH34. Miosina Va começa a ser expressa em HH25 antes do início da neuritogênese de algumas células no GRD (A-C). Células Tuj1 negativas (seta no inserto de B) expressam Miosina Va (seta no inserto de A). Em HH30 todas as células em neuritogênese (Tuj1 positivas) presentes no GRD também são Miosina Va positivas (D-F). Mais detalhes podem ser vistos nos maiores aumentos em D’-F’ (setas). Em HH34 a marcação para Miosina Va torna-se mais pronunciada no domínio ventrolateral (VL) do GRD (G). A fronteira entre estes dois domínios está demarcada por uma linha pontilhada. Já a marcação para beta-tubulina III (Tuj1) permanece homogênea por todo o GRD (H). As células duplamente positivas para Miosina Va e beta-tubulina III (Tuj1) neste estádio podem ser observadas em maior aumento (G’-H’ - cabeças de seta). Em todas as imagens a região dorsal está para cima, em A-F tubo neural se encontra a direita e em G-I, tubo neural se encontra a esquerda. MioVa – Miosina Va, DM – dorsomedial, VL – ventrolateral. Escala: Em A-C, G-I e G’-I’ - 50 µm, em D-F, D’-F’ - 20 µm.

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 53

4.3 Miosina Va é expressa nos neuritos de neurônios do GRD in vitro. A nossa primeira abordagem foi de caracterizar a localização

subcelular de Miosina Va em neuritos no contexto do embrião completo, uma vez

que esta informação refletiria com mais fidelidade o seu papel in vivo. Contudo, a

resolução obtida nas imagens de microscopia de varredura a laser confocal,

realizadas nas imunofluorescências de criocortes do embrião, não nos permitiu

observar os neuritos em detalhes. Não conseguimos observar os neuritos em toda

sua extensão nos estádios embrionários analisados, principalmente quando os

neuritos eram mais compridos. Desta forma, decidimos acompanhar de forma

detalhada a presença de Miosina Va, desde o início da emissão de neuritos, durante

a neuritogênese in vitro. Para isto, isolamos o GRD de embriões entre os estádios

HH30 - HH34 (Fig. 11) e cultivamos as células dissociadas na presença de

diferentes concentrações de NGF (vide seção 3.3.2 material e métodos) para

selecionarmos os neurônios TrkA-positivos. Conforme constatado em nossos

resultados anteriores, neste estádio a maioria das células TrkA positivas já estão em

processo de neuritogênese in vivo.

Inicialmente, a fim de caracterizar as células presentes na cultura, as

mesmas foram cultivadas na presença de NGF na concentração de 200 ng/ml por 24

horas. Nestas condições, os neurônios TrkA-positivos são capazes de re-emitir seus

neuritos in vitro em menos de 24 horas (Fig. 17A-C). Em neurônios cultivados por 24

horas, que estão em início de neuritogênese, Miosina Va foi observada no corpo

celular e em toda a extensão do neurito (Fig. 17D-F) (Espreafico et al., 1992),

inclusive no cone de crescimento (Fig. 17D-seta).

Em neurônios com neuritos mais bem estabelecidos, em processo mais

avançado de neuritogênese, Miosina Va continua sendo expressa no corpo celular e

ao longo de todo neurito em expansão até o cone de crescimento (Fig. 17G e 17H).

Em particular, nesta estrutura, o domínio de expressão de Miosina Va é maior do

que o domínio de beta-tubulina III (Fig. 17I-K - setas). Miosina Va é expressa em

toda extensão do neurito em desenvolvimento independente do seu comprimento e

estádio de neuritogênese. Observa-se também a expressão de Miosina Va nas

células da glia presentes na cultura (dados não mostrados).

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Figura 17 – Miosina Va está presente em neuritos de neurônios TrkA-positivos, desde o início

da neuritogênese in vitro. Neurônios TrkA-positivos re-emitem neuritos em culturas na presença de NGF (A-C); Miosina Va é expressa em toda extensão dos neuritos curtos (D-F) até o cone de crescimento (D - seta). Miosina Va permanece presente em células em que a neuritogênese encontra-se mais avançada (G e H). Nestes neurônios também é observada a expressão de Miosina Va no cone de crescimento (G – seta). No cone de crescimento, o domínio de expressão de Miosina Va é maior do que o de Tuj1 (I-K- cabeças de seta). Células foram plaqueadas com 200 ng/ml de NGF por cerca de 24 horas (detalhes em Material e Métodos). MioVa - Miosina Va. Escala: Em A-C e G-H - 10 µm, em D-F e I-K - 20 µm

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 55

4.4 Células transfectadas do GRD são GFP positivas

Visto que a Miosina Va está presente nos neuritos em processo de

extensão, nosso próximo passo foi observar o papel do domínio globular da proteína

no processo de neuritogênese. Para tal finalidade foram realizados ensaios de

transfecção com o domínio globular de Miosina Va (vide material e métodos seção

3.2) in vitro.

As células do GRD foram transfectadas com pMES-Myc-MioVaGT ou

apenas com pMES. Em ambos os casos, as células transfectadas foram

identificadas através da expressão de GFP (Fig. 18A e 18C), que é transcrito a partir

da sequência IRES a 3´do sítio de múltipla clonagem. Verificamos que também é

possível detectar a expressão de Myc após a transfecção com pMES-Myc-MioVaGT

(Fig. 18B e 18F), indicando que o domínio globular de Miosina Va é transcrito.

Portanto, as células transfectadas com pMES-Myc-MioVa-GT apresentam-se

duplamente positivas para GFP e Myc (Fig 18A e 18B). Uma vez confirmado que a

célula transfectada com pMES-Myc-MioVaGT é positiva tanto para Myc como para

GFP, doravante utilizamos o anticorpo anti-GFP como marcador de células

transfectadas devido a um conflito entre os anticorpos utilizados (Tabela 1) nas

imunofluorescências.

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 56

Figura 18 – A presença de GFP identifica células transfectadas e a presença de Myc identifica a

expressão exógena de Miosina Va. Nas células transfectadas com pMES ou pMES-Myc-MioVaGT observa-se a expressão de GFP (A e C), indicando que a presença do domínio globular não interfere na expressão de GFP a partir do IRES no pMES (A e C). Além disto, as células transfectadas com pMES-Myc-MioVaGT também expressam Myc indicando que a proteína Myc-MioVa-GT foi transcrita (B e F), confirmada pela dupla marcação para MioVa e Myc em (E). MioVa - Miosina Va.Escala - 20 µm.

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 57

4.5 Efeito da superexpressão de pMES-Myc-MioVaGT em células do GRD cultivadas em diferentes concentrações de NGF

Para observar o efeito da superexpressão de pMES-Myc-MioVaGT na

emissão de neuritos, as células transfectadas (i.e GFP-positivas) foram classificadas

em três categorias quanto a extensão dos seus neuritos (vide material e métodos).

A fim de facilitar a leitura na discussão, estas categorias serão referidas como:

categora 0-1 – neuritos curtos; categoria >1-4 – neuritos médios e categoria >4 –

neuritos longos. Observamos a presença de células transfectadas nas três

categorias, tanto na transfecção com pMES-Myc-MioVaGT (Fig. 13A, 13D e 13G)

como na transfecção controle com pMES (Fig. 13J, 13M e 13P).

Inicialmente, otimizamos o tempo de cultivo das células do GRD para

realizar os ensaios de transfecção. As primeiras culturas foram realizadas com a

concentração de NGF igual a 200 ng/ml e a transfecção foi feita 24 horas após o

plaqueamento das células. Nestas condições, observamos que estes parâmetros

eram inadequados para observar o efeito da superexpressão do domínio globular na

neuritogênese desde as etapas iniciais, pois após este período a grande maioria das

células já tinha emitido neuritos. Assim, após vários testes, concluímos que o melhor

período para a realização da transfecção era de 3 horas após o plaqueamento das

células.

Uma vez otimizado o tempo, cultivamos as células em quatro diferentes

concentrações de NGF: 200 ng/ml, 100 ng/ml, 50 ng/ml e 10 ng/ml, respectivamente,

a fim de otimizar uma concentração de NGF adequada para os nossos ensaios (Fig.

19, Anexo A). A primeira concentração utilizada foi a de 200 ng/ml. Nesta

concentração de NGF não observamos nenhum efeito de pMES-Myc-MioVaGT

sobre o perfil de emissão de neuritos longos em relação ao controle (Fig. 19A).

Estes resultados podem ser interpretados de duas formas: 1) a presença do domínio

globular de Miosina Va não é relevante para a neuritogênese; 2) a concentração de

200 ng/ml de NGF está muito acima do necessário para a emissão de neuritos in

vitro. Em concordância com esta última possibilidade, nesta concentração de NGF

observamos que algumas células plaqueadas já apresentavam neuritos no momento

da transfecção. Neste caso, qualquer interferência possível gerada pela

superexpressão do domínio globular no estabelecimento inicial de neuritos estaria

mascarada pela presença de neuritos prévios a transfecção. Na concentração de

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 58

100 ng/ml, observamos que a expressão de pMES-Myc-MioVaGT parece ter algum

efeito sobre os neuritos longos, diminuindo a porcentagem dos mesmos em relação

ao controle pMES (Fig. 19B). Este efeito se mantém na concentração de 50 ng/ml de

NGF (Fig. 19C) e parece ser mais acentuado na concentração de 10 ng/ml (Fig.

19D).

Figura 19 – Otimização das condições de cultura para verificar o efeito do domínio globular na

neuritogênese. As células foram transfectadas com pMES-Myc-MioVaGT ou pMES apenas e foram cultivadas na presença de NGF nas concentrações de 200 ng/ml (A), 100 ng/ml (B), 50 ng/ml (C) e 10 ng/ml (D). Na concentração de 200 ng/ml não é observada diferença nos neuritos longos, nas demais concentrações a superexpressão de pMES-Myc-MioVaGT reduz a porcentagem de células nesta categoria em relação ao controle pMES. Observa-se que ocorre um aumento na porcentagem de células da categoria 0-1 (neuritos curtos) transfectadas com pMES-Myc-MioVaGT quando comparado ao controle pMES, em todas as concentrações analisadas. Em (A) n=3, em (B), (C) e (D) n=2.

Considerando estes dados, e sabendo que 5 ng/ml de NGF é o

suficiente para que células neuronais emitam neuritos (Darling e Shooter 1984, visto

na folha de dados de NGF 7S – invitrogen), realizamos os nossos próximos

experimentos de transfecção com as concentrações de 100 ng/ml e 10 ng/ml a fim

de observar, respectivamente, a dinâmica da neuritogênese das células

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 59

transfectadas em meio rico em NGF (Fig. 20) e em meio com quantidade limitante de

NGF (Fig. 21)

Na análise estatística, comparamos a proporção de transfecção de

pMES-Myc-MioVaGT em relação ao controle pMES nas três categorias de

neuritogênese previamente estabelecidas. Observamos que o domínio globular de

Miosina Va altera a proporção de células com neuritos curtos e longos tanto em

culturas com 100 ng/ml de NGF (Fig. 20 e ANEXO B) quanto em culturas com 10

ng/ml de NGF (Fig. 21 e ANEXO B). Ou seja, em ambas as concentrações de NGF,

observamos que a superexpressão de pMES-Myc-MioVaGT aumenta a proporção

de células com neuritos curtos e reduz a proporção de células com neuritos longos

em relação ao controle pMES. Não foram observadas diferenças estatísticas nos

neuritos médios, tanto na concentração de 10 ng/ml como na de 100 ng/ml.

Figura 20 – pMES-Myc-MioVaGT reduz a proporção de células com neuritos longos e

aumenta a proporção de neuritos curtos em culturas contendo 100 ng/ml de NGF. Na categoria 0-1 (neuritos curtos), observa-se um aumento significativo da proporção de células pMES-Myc-MioVaGT positivas, com neuritos curtos, em relação ao controle pMES. Entre os neuritos médios, categoria >1-4, não há diferença estatística. Já na categoria >4 (neuritos longos) observa-se que a transfecção com pMES-Myc-MioVaGT reduz significativamente a proporção de células em relação ao controle pMES. Valores apresentados em média±DP. Teste: ANOVA, *p<0.05.

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RESULTADOS __________________________________________________________________ 60

Figura 21 – pMES-Myc-MioVaGT reduz a proporção de células com neuritos longos e aumenta

a proporção de neuritos curtos em culturas contendo 10 ng/ml de NGF. Na categoria 0-1 (neuritos curtos), observa-se um aumento significativo da proporção de células com neuritos curtos quando transfectadas com pMES-Myc-MioVaGT em relação ao controle pMES. Não é observada diferença estatisticamente significativa entre pMES-Myc-MioVaGT e pMES na categoria >1-4 (neuritos médios). Na categoria >4 (neuritos longos) observa-se que a transfecção com pMES-Myc-MioVaGT reduz significativamente a proporção de células em relação ao controle pMES. Valores apresentados em média±DP. Teste: ANOVA, * p<0.05.

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DISCUSSÃO ____________________________________________________________________ 61

5 DISCUSSÃO

Miosina Va é uma proteína motora amplamente expressa ao longo do

sistema nervoso em desenvolvimento (Azevedo et al., 2004). No presente trabalho,

caracterizamos com detalhes o padrão de expressão de Miosina Va durante a

neuritogênese de neurônios TrkA-positivos. Para isso, identificamos os estádios

embrionários em que a neuritogênese de neurônios TrkA-positivos se inicia, durante

o desenvolvimento do GRD. Além disso, verificamos que a superexpressão do

domínio globular (pMES-Myc-MioVaGT) da proteína interfere na neuritogênese de

células do GRD cultivadas na presença de NGF.

5.1 Expressão e possível papel de Miosina Va na neuritogênese in vivo

Neurônios nociceptivos estão presentes no GRD e são identificados

pela presença do receptor de neurotrofina TrkA (Fang et al., 2005). A neuritogênese

bem sucedida desse tipo neuronal é fundamental para a percepção da dor e

temperatura. Células TrkA-positivas surgem no GRD durante a segunda onda

neurogênica que se inicia por volta do estádio HH25 (Rifkin et al., 2000) e, nossos

resultados confirmam a presença de células TrkA-positivas no GRD neste estádio.

Ainda em HH25, observamos que os neurônios já começaram a emitir neuritos neste

estádio do desenvolvimento. Inicialmente, as células TrkA-positivas apresentam-se

distribuídas uniformemente no GRD. Conforme o desenvolvimento da estrutura

avança, observamos que os neurônios TrkA-positivos ficam segregados em

domínios diferentes. No estádio HH34 as células TrkA-positivas se concentram na

região dorsomedial do GRD. Estas observações concordam com o trabalho de Guan

et al. (2003), no qual foi caracterizado o padrão de distribuição de neurônios

sensoriais no GRD, demonstrando que as células TrkA-positivas populam a região

dorsomedial da estrutura.

Uma vez caracterizada a neuritogênese de neurônios TrkA-positivos,

correlacionamos o surgimento da expressão de Miosina Va com a neuritogênese

destas células, nos estádios HH25, HH30 e HH34. Detectamos a presença de

Miosina Va em células que ainda não emitiram neuritos, sugerindo que a Miosina Va

começa a ser expressa antes de se iniciar a neuritogênese. Por outro lado, todas as

células TrkA-positivas em neuritogênese apresentam Miosina Va e a expressão

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DISCUSSÃO ____________________________________________________________________ 62

desta proteína persiste por todo processo. Em conjunto, estes dados sugerem que

Miosina Va pode estar envolvida em eventos que precedem a emissão de neuritos,

atua no estabelecimento dos mesmos e que posteriormente é necessária para a

manutenção da neuritogênese.

Observamos também que a intensidade de marcação para Miosina Va

é mais pronunciada no domínio ventrolateral do GRD em HH34, quando a estrutura

já se encontra mais estabelecida. Este padrão de expressão é complementar ao do

TrkA (vide acima) e pode ocorrer devido à diferença no diâmetro das célula do

GRDs após HH30 (Fig. 22). Após este estádio os neurônios na região dorsomedial

apresentam menor diâmetro e expressam o receptor TrkA enquanto que neurônios

que populam a região ventrolateral do GRD expressam os receptores TrkB e TrkC

(Guan et al., 2003) e apresentam corpo celular maior.

Sendo a Miosina Va uma proteína citoplasmática, uma explicação para

a marcação mais forte na região ventrolateral pode ser devido à diferença de volume

citoplasmático Miosina Va-positiva por célula.

5.2 Expressão Miosina Va na neuritogênese in vitro.

Nos nossos ensaios de imunofluorescência realizadas nas células do

GRD em cultura, observamos que Miosina Va é expressa na re-emissão dos

neuritos das mesmas. Durante o processo de tripsinização para a cultura do GRD,

os neurônios perdem seus neuritos. Após uma lesão, neurônios presentes no GRD

Figura 22 – Padrão de expressão de Miosina Va é complementar a expressão de TrkA no estádio HH34.

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DISCUSSÃO ____________________________________________________________________ 63

sintetizam proteínas diretamente envolvidas em seus processos regenerativos

(Zheng et al., 2001; Willis e Twiss, 2006) e Miosina Va é localmente sintetizada após

lesões no nervo ciático de ratos (Calliari et al., 2002). Esta é mais uma evidência que

sugere a participação e importância da proteína no desenvolvimento e manutenção

dos neuritos.

De fato, no nosso modelo experimental de neuritogênese in vitro,

Miosina Va estava presente em neuritos curtos, em início de neo-neuritogênese, e

em neuritos mais longos, em neuritogênese mais avançada.

O primeiro passo para a regeneração de neuritos é a formação de um

novo cone de crescimento (Verma et al., 2005; Gumy et al., 2010). O novo cone de

crescimento é importante para direcionar a re-emissão do neurito até seu alvo

específico e sua re-estruturação implica em alterações tanto morfológicas como

funcionais, que se dá pelo balanço entre a síntese local de novas proteínas e a

degradação das proteínas pré-existentes. (Verma et al., 2005; Gumy et al., 2010).

O cone de crescimento é composto por dois domínios, um mais central

rico em microtúbulos e outro mais dinâmico e periférico onde abundam os filamentos

de actina que participam da formação de filopódios (Forsher e Smith, 1988; Kobova

e Svitkina 2008). Miosina Va está presente no domínio central e na interface entre

este domínio e o domínio periférico (Evans et al., 1997; Suter et al., 1999). Em

concordância com estes dados, nos nossos experimentos observamos que o

domínio de expressão de Miosina Va é maior do que o de beta-tubulina III. Assim, é

possível que o papel da Miosina Va na neuritogênese seja exercido na fronteira

entre os microtúbulos e microfilamentos do cone de crescimento, onde ela atuaria

como conexão de transporte entre estes diferentes tipos de citoesqueleto.

Miosina Va é uma proteína motora que se liga com maior afinidade a

actina através de seu domínio motor e exibe um domínio globular associado a

transporte vesicular na região carboxi-terminal (Trybus, 2000; Reck-Peterson et al.,

2000). Esta mesma região também é capaz de interagir direta (Cao et al., 2004) e

indiretamente (Huang et al., 1999) com microtúbulos. Experimentos in vitro com

redes purificadas contendo microtúbulo e actina misturados demonstram que

Miosina Va se move sobre ambos e sai de um elemento para transitar sobre outro

(Ali et al., 2006). Além disto, Miosina Va colabora com cinesina no transporte

vesicular em redes mistas de microtúbulos e actina filamentosa (Ali et al., 2008).

Esta interação otimiza a capacidade de translação de ambas sobre o microtúbulo e

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DISCUSSÃO ____________________________________________________________________ 64

aumenta a estabilidade do complexo formado com a vesícula transportada (Ali et al.,

2008). Na interface de microtúbulos com actina, a Miosina Va é a força-motora do

transporte sobre a actina enquanto que a cinesina se dissocia do citoesqueleto (Ali

et al., 2006). Em conjunto, estes dados sugerem fortemente que Miosina Va pode

integrar o transporte intracelular realizado em filamentos de actina com microtúbulos

e vice-versa. Tendo em vista a estrutura mista do cone de crescimento, e a

localização da Miosina na interface destas duas redes de citoesqueleto, é possível

que a função da Miosina Va seja de integrar o transporte de elementos relevantes

para formação e manutenção dos neuritos.

5.3 Alterações na neuritogênese induzida por superexpressão do domínio globular de Miosina Va

A superexpressão do domínio globular de Miosina Va reduziu

significativamente a proporção de neurônios com neuritos longos e aumentou a

proporção de neurônios com neuritos curtos. Entretanto, o domínio globular de

Miosina Va parece não interferir na manutenção dos neuritos, uma vez que em

condições de cultura ([NGF] = 200 ng/ml) em que a re-emissão dos neuritos já se

iniciou antes da transfecção, não detectamos grandes alterações no perfil de

neuritogênese. Portanto, nossos resultados sugerem que a superexpressão do

domínio globular de Miosina Va interfere principalmente com o estabelecimento dos

neuritos.

Sugerimos duas hipóteses pelas quais o domínio globular estaria

interferindo na neuritogênese destes neurônios. Nossa primeira hipótese é de que

domínio globular exógeno pode competir com a Miosina Va pelo sítio de interação

presente nos elementos celulares que serão transportados. Em outras palavras, a

superexpressão de MioVa-GT impediria a interação entre o domínio globular da

proteína endógena e componentes relevantes, e.g. proteínas do citoesqueleto, para

a formação dos neuritos.

Dando suporte a essa hipótese, Rao et al. (2002) observaram que

Miosina Va possui grande afinidade pela subunidade NF-L dos neurofilamentos. Os

neurofilamento são essenciais para a manutenção da forma dos neuritos e são

compostos por várias subunidades, dentre elas a subunidade NF-L (nerofilamento

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DISCUSSÃO ____________________________________________________________________ 65

“light” ou leve). A distribuição de Miosina Va nos axônios, in vivo, é em parte

regulada pela presença desta subunidade (Rao et al., 2002). A associação de

Miosina Va com os neurofilamentos é essencial para correta distribuição da Miosina

e também para o transporte dos neurofilamentos ao longo do axônio (Rao et al.,

2002). A interação Miosina Va-neurofilamento, aumenta a eficiência no transporte

dos neurofilamentos pelo axônio, atuando na manutenção da densidade destes

elementos no citoesqueleto axonal (Rao et al., 2002). Além disto, os

neurofilamentos alternam entre um estágio móvel e um estágio estacionário ao longo

do axônio e a presença de Miosina Va nesta situação age reduzindo o intervalo

entre as translações (Alami et al., 2009). Complementando essas informações, Alami

et al. (2009) demonstraram que os neurônios do GRD de camundongos mutantes

para Miosina Va (-/-) apresentam acúmulo de neurofilamentos no neurito.

O domínio globular de Miosina Va também é responsável pelo

transporte de organelas e componentes intracelulares relevantes para o

estabelecimento da sinapse através dos filamentos de actina. Por exemplo, Miosina

Va transporta vesículas provenientes do retículo endoplasmático liso através dos

filamentos de actina em preparados de axônio de lula (Tabb et al., 1998). Esta

atividade depende tanto do domínio motor quanto do domínio globular (Tabb et al.,

1998). Alterações na atividade de Miosina Va inibem o transporte de retículo

endoplasmático para os espinhos dendríticos, reduzindo a sinalização de cálcio nas

células pós-sinápticas levando a graves defeitos neurológicos (DePina e Langford,

1999). Além disso, Miosina Va também transporta vesículas sinápticas e

melanossomos (Takamori et al., 2006; Pastural et al., 1997; Mancini et al., 1998). A

relevância de Miosina Va para a correta distribuição de melanossomos é

comprovada em camundongos Miosina Va-/- que apresentam uma hipopigmentação

da pele e dos cabelos (Jenkins et al., 1981). O transporte de melanossomos

possivelmente envolve uma interação direta entre este e o domínio globular de

Miosina Va. A superexpressão do domínio carboxi-terminal de Miosina Va (que inclui

o domínio globular, mas não o domínio motor) em culturas de melanócitos de

camundongos normais confere o mesmo fenótipo observado nos melanócitos de

camundongos Miosina Va-/- (Wu et al. 1998). Estes resultados foram interpretados

como um exemplo de competição entre o domínio globular exógeno e a Miosina Va

endógena pelo sítio de interação nos melanossomos, alterando a distribuição destes

últimos.

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DISCUSSÃO ____________________________________________________________________ 66

Nossa segunda hipótese sugere que a superexpressão do domínio

globular pode atuar inativando a proteína endógena, pois este domínio possui

afinidade com o domínio motor. Neste contexto, o domínio globular se ligaria ao

domínio motor simulando a conformação inativa da proteína (Li et al., 2006), e a

Miosina Va endógena não seria capaz de se ligar a actina e realizar o transporte das

vesículas e organelas necessárias para o estabelecimento dos neuritos.

Sustentando esta hipótese, Li et al. (2006) demonstraram que o

domínio globular e o domínio motor de Miosina Va interagem com grande afinidade.

Neste trabalho, foi evidenciado que o domínio globular exógeno é capaz de inibir a

atividade de Miosina Va truncada (com deleção do domínio globular). Entretanto, a

atividade do domínio globular é regulada pelos níveis de cálcio intracelular e em

condições com alta quantidade de cálcio o domínio globular exógeno não é capaz de

inibir a atividade de Miosina Va truncada. Baseado nestes resultados, os autores

propõe um modelo para a regulação da atividade de Miosina Va em que a afinidade

e/ou disponibilidade de interação entre estes dois domínios é proporcional aos níveis

de cálcio intracelular. Em condições com alta quantidade de cálcio o domínio motor

reduz sua interação com o domínio globular e a proteína assumiria a estrutura

ativada (vide figura 8 na Introdução).

Deve-se ressaltar que não foi observado como o domínio globular se

comporta frente à Miosina Va completa. Porém, visto que a superexpressão

aumenta a quantidade do domínio globular circulante, é possível que a alteração na

neuritogênese no nosso paradigma experimental seja resultado da interação de

MioVa-GT com o domínio motor da proteína endógena e inibição da atividade desta.

Os fenótipos apresentados no nosso trabalho podem estar vinculados

a cada uma das hipóteses, entretanto é possível que ambas estejam ocorrendo

concomitantemente.

Em conjunto nossos resultados sugerem que a expressão de Miosina

Va, in vivo, antecede o início da neuritogênese de neurônios nociceptivos. Sua

expressão prossegue ao longo da neuritogênese sugerindo que Miosina Va seja

importante para desencadear a emissão de neuritos, e possivelmente na

manutenção do processo e/ou na função sináptica. Esta possibilidade é sustentada

por nossos ensaios funcionais, onde a superexpressão do domínio globular de

Miosina Va interferiu no estabelecimento dos neuritos.

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CONCLUSÃO ___________________________________________________________________ 67

6 CONCLUSÃO

Os resultados obtidos neste trabalho nos permitem as seguintes

conclusões:

1 - Miosina Va é expressa antes do início da neuritogênese de

neurônios TrkA-positivos do GRD;

2 - As células em neuritogênese são Miosina Va positivas;

3 - Miosina Va é expressa nos neuritos durante a neo-neuritogênese in

vitro;

4 – A superexpressão do domínio globular de Miosina Va (pMES-Myc-

MioVaGT) interfere no estabelecimento dos neuritos aumentando a proporção de

células com neuritos curtos e diminuindo a proporção de células com neuritos

longos.

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ANEXOS

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ANEXO A – Dados referentes à análise das células transfectadas com pMES-Myc-MioVaGT e pMES nas concentrações de 200, 100, 50 e 10 ng/ml de NGF.

MVaGT Dados brutos (nº de células) % * 200 ng/ml 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 92 18 68 178 51,685 10,112 38,202 Cultura 2 23 8 12 43 52,273 18,182 27,273 Cultura 3 63 48 77 188 34,896 25 40,104

pMES (Controle)

Dados brutos (nº de células) %*

200 ng/ml 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 14 2 7 23 60,87 8,6957 30,435 Cultura 2 7 14 3 24 29,167 58,333 12,5 Cultura 3 19 20 36 75 25,333 26,667 48

MVaGT Dados brutos (nº de células) %*

100 ng/ml 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 88 64 42 194 45,361 32,99 21,649 Cultura 2 217 138 159 514 42,218 26,848 30,934

pMES (Controle) Dados brutos (nº de células) %* 100 ng/ml 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 63 70 126 259 24,324 27,03 48,65 Cultura 2 93 91 127 311 29,904 29,26 40,836

MVaGT Dados brutos (nº de células) %*

50 ng/ml 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 109 143 111 363 30,03 39,39 30,58 Cultura 2 376 188 260 824 45,63 22,82 31,55

pMES (Controle)

Dados brutos (nº de células)

%*

50 ng/ml 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 32 87 92 211 15,17 41,23 43,60 Cultura 2 56 53 45 154 36,36 34,42 29,22

MVaGT Dados brutos (nº de células) %*

10 ng/ml 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 212 46 23 281 75,44 16,37 8,19 Cultura 2 310 154 88 552 56,159 27,899 15,942

pMES (Controle) Dados brutos (nº de células) %* 10 ng/ml 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 158 72 48 278 56,83 25,90 17,27 Cultura 2 125 124 201 450 27,778 27,556 44,667

* nº de células transfectadas em cada categoria/ nº total de células transfectadas

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ANEXO B – Dados referentes à análise das células transfectadas com pMES-Myc-MioVaGT e pMES.

MVaGT Dados brutos (nº de células) %* 10 ng/ml de NGF 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 285 142 361 788 36,168 18,02 45,812 Cultura 2 304 153 253 710 42,817 21,549 35,634 Cultura 3 303 154 322 779 38,896 19,769 41,335 Cultura 4 212 46 23 281 75,445 16,37 8,1851 Cultura 5 310 154 88 552 56,159 27,899 15,942

pMES (Controle) Dados brutos (nº de células) %* 10 ng/ml de NGF 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 156 117 507 780 20 15 65 Cultura 2 117 128 313 558 20,968 22,939 56,093 Cultura 3 155 164 305 624 24,84 26,282 48,878 Cultura 4 158 72 48 278 56,835 25,899 17,266 Cultura 5 125 124 201 450 27,778 27,556 44,667

MVaGT Dados brutos (nº de células) %* 100 ng/ml de NGF 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 266 237 274 777 34,234 30,502 35,264 Cultura 2 299 209 239 747 40,027 27,979 31,995 Cultura 3 265 111 170 546 48,535 20,33 31,136 Cultura 4 88 64 42 194 45,361 32,99 21,649 Cultura 5 217 138 159 514 42,218 26,848 30,934

pMES (Controle) Dados brutos (nº de células) %* 100 ng/ml de NGF 0-1 >1-4 >4 Total 0-1 >1-4 >4 Cultura 1 164 240 225 629 26,073 38,156 35,771 Cultura 2 126 182 218 526 23,954 34,601 41,445 Cultura 3 93 107 241 441 21,088 24,263 54,649 Cultura 4 63 70 126 259 24,324 27,027 48,649 Cultura 5 93 91 127 311 29,904 29,26 40,836

* nº de células transfectadas em cada categoria/ nº total de células transfectadas