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72 www.backstage.com.br REPORTAGEM TAXAS DE AMOSTRAGEM N os dias de hoje, os meios digitais de gravação se tornaram as formas mais difundidas de produção fonográfica. Através de uma série de programas como o Nuendo, o Pro Tolls, o Logic e o Cubase, entre outros, as gravações de áudio, que já foram um dia baseadas em discos de cera e fitas magnéticas, passaram a depender de sistemas inteiramente fun- damentados em armazenamento digital. Vale reconhecer aqui que sabemos que ainda existem hoje profissionais que usam formas analógicas como as citadas fitas magnéticas com freqüência, e preferem manter suas produções dessa mesma forma por questões de qualidade sonora, mas a comparação com esse tipo de produção não será realizada a títu- lo de focalizar um problema e simplificar a discussão, assim faci- litando a compreensão do tema. Quando um profissional opta por realizar suas produções no computador em sistemas de gravação em HD, ou por as- sim dizer em qualquer forma de armazenamento digital de informações, ele estará exposto a outras escolhas importan- tes. Qual a definição a ser usada? E qual a taxa de amos- tragem? Em relação à definição, ou, em inglês, ao “Bit Rate”, parece haver um consenso. Todas que têm condições de uti- lizar aparelho com 24 bits usam. Quando necessário, já existe a conversão feita de forma limpa para 16, o valor utilizado em Rogério Leão [email protected] TAXAS DE AMOSTRAGEM Verdades e mitos Peso desnecessário ou definição essencial? Economia tola ou reconhecimento claro de metas? Nesses tempos de MP3, vale a pena realizar gravações com o máximo possível da resolução do seu sistema? CDS, por exemplo. A resposta à primeira pergunta está então dada, mas e a taxa de amostragem? Existe uma forma mais adequada a cada situação? Para começar, há dois grupos de taxas de amostragem em uso no áudio profissional. Existem os múltiplos de 44.100Hz e os múltiplos de 48.000Hz, conforme informou Rodrigo Meireles, professor da faculdade Estácio de Sá e diretor da Ground Control: “Depende sempre do projeto, para aquilo que você está trabalhando. Se você trabalha para um CD, para TV ou para cinema, por exemplo. Geral- mente, a maior dúvida é quando você compara 44.1 a 48. Isso era assim até 2002, mais ou menos, quando surgiram as taxas de amostragens maiores. De 44 para 48 khz você também não ganha tanto em qualidade. A imprecisão ma- temática é a mesma e não há um ganho significativo que vá fazer com que valha a pena você converter o trabalho final, já que a conversão entre os dois formatos é muito complicada e pode haver erro”. Porém, hoje em dia, as fabricantes de placas de som ou de conversores de áudio, como a Digidesign, já têm produtos capa- zes de atingir sample rates entre 44.1 e 192 kHz. Todavia, os usu- ais MP3 ainda funcionam com baixos valores que não passam de 48 kHz. Como saber exatamente qual a taxa a ser utilizada? Simplesmente o máximo é sempre o melhor? Existe uma série de dificuldades que cresce exponen- cialmente à medida que você aumenta a taxa de amos- tragem. Não só o espaço para armazenamento das informa- ções é maior, mas também o processamento dos dados é muito mais trabalhoso para as máquinas que estiverem tra- balhando com um maior “Sample Rate”. A quantidade de vozes pode ficar mais limitada e um cálculo que seria rápido e simples com 48.000 Hz fica muito mais lento quando en- volve dados em 192 kHz. Existe uma série de dificuldades que cresce exponencialmente à medida que você aumenta a taxa de amostragem

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REPORTAGEM

TAXAS DE AMOSTRAGEM

Nos dias de hoje, os meios digitais de gravação se tornaramas formas mais difundidas de produção fonográfica.Através de uma série de programas como o Nuendo, o

Pro Tolls, o Logic e o Cubase, entre outros, as gravações deáudio, que já foram um dia baseadas em discos de cera e fitasmagnéticas, passaram a depender de sistemas inteiramente fun-damentados em armazenamento digital.

Vale reconhecer aqui que sabemos que ainda existem hojeprofissionais que usam formas analógicas como as citadas fitasmagnéticas com freqüência, e preferem manter suas produçõesdessa mesma forma por questões de qualidade sonora, mas acomparação com esse tipo de produção não será realizada a títu-lo de focalizar um problema e simplificar a discussão, assim faci-litando a compreensão do tema.

Quando um profissional opta por realizar suas produçõesno computador em sistemas de gravação em HD, ou por as-sim dizer em qualquer forma de armazenamento digital deinformações, ele estará exposto a outras escolhas importan-

tes. Qual a definição a ser usada? E qual a taxa de amos-tragem? Em relação à definição, ou, em inglês, ao “Bit Rate”,parece haver um consenso. Todas que têm condições de uti-lizar aparelho com 24 bits usam. Quando necessário, já existea conversão feita de forma limpa para 16, o valor utilizado em

Rogério Leã[email protected]

TAXAS DE AMOSTRAGEMVerdades e mitos

Peso desnecessário ou definição essencial? Economia tola oureconhecimento claro de metas? Nesses tempos de MP3, vale a penarealizar gravações com o máximo possível da resolução do seu sistema?

CDS, por exemplo. A resposta à primeira pergunta está entãodada, mas e a taxa de amostragem? Existe uma forma maisadequada a cada situação?

Para começar, há dois grupos de taxas de amostragemem uso no áudio profissional. Existem os múltiplos de44.100Hz e os múltiplos de 48.000Hz, conforme informouRodrigo Meireles, professor da faculdade Estácio de Sá ediretor da Ground Control: “Depende sempre do projeto,para aquilo que você está trabalhando. Se você trabalhapara um CD, para TV ou para cinema, por exemplo. Geral-mente, a maior dúvida é quando você compara 44.1 a 48.Isso era assim até 2002, mais ou menos, quando surgiramas taxas de amostragens maiores. De 44 para 48 khz vocêtambém não ganha tanto em qualidade. A imprecisão ma-temática é a mesma e não há um ganho significativo quevá fazer com que valha a pena você converter o trabalhofinal, já que a conversão entre os dois formatos é muitocomplicada e pode haver erro”.

Porém, hoje em dia, as fabricantes de placas de som ou deconversores de áudio, como a Digidesign, já têm produtos capa-zes de atingir sample rates entre 44.1 e 192 kHz. Todavia, os usu-ais MP3 ainda funcionam com baixos valores que não passam de48 kHz. Como saber exatamente qual a taxa a ser utilizada?Simplesmente o máximo é sempre o melhor?

Existe uma série de dificuldades que cresce exponen-cialmente à medida que você aumenta a taxa de amos-tragem. Não só o espaço para armazenamento das informa-ções é maior, mas também o processamento dos dados émuito mais trabalhoso para as máquinas que estiverem tra-balhando com um maior “Sample Rate”. A quantidade devozes pode ficar mais limitada e um cálculo que seria rápidoe simples com 48.000 Hz fica muito mais lento quando en-volve dados em 192 kHz.

Existe uma série de dificuldadesque cresce exponencialmente à

medida que você aumenta a taxade amostragem

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REPORTAGEM

O que parece ser uma conclusão co-mum é que a escolha deve ser feita base-ada em uma análise realista dos intuitosdo produtor. Quando se trata de umabanda com diversos instrumentos, váriastrilhas de áudio e plug-ins, quando a gra-vação está sendo feita em situações eco-nômicas, com equipamento bom, masque não é de ponta, não vale a pena usaro máximo de amostras por segundo, prin-

cipalmente pela certeza de que isso vaigerar restrições desnecessárias ao proces-so de gravação.

Acrescido a isso o fato de que ao serrealizada uma gravação de uma trilha deáudio para rádio, para televisão, para ci-nema ou para um DVD o resultado espe-rado é obviamente diferente e em umasérie de casos o produtor pode ficar segu-ro de que não vai haver necessidade deque esse trabalho seja revisitado e usadopara uma outra mídia.

O desenvolvimento de novas e maisprecisas taxas de amostragem aconteceutambém graças ao fenômeno mercadoló-gico que abrange a tentativa de capitali-zar através da impressão de que umamaior taxa de amostragem simboliza ne-cessariamente o desenvolvimentode um produto. Principalmente placasamadoras ou semiprofissionais tentamconvencer o público de sua qualidadepor meio de características palpáveis econtinuam economizando na fabricaçãode partes que representariam um grandeaumento de qualidade, mas também umgrande aumento de custos.

Conversão de sample rate

Existem duas formas diferentes de serealizar a conversão de um arquivo parauma frequência diferente: analógica edigital. A conversão analógica consisteem realizar a conversão pelo transporteda faixa como áudio, seja ele analógicoou digital, e não como dados. Existemcasos em que isso é necessário, por exem-plo, quando a gravação é feita por siste-

mas de gravação digital, mas que inde-pende de um computador e que podeaté dispor de saídas digitais, mas não dis-põe de conexões de transporte de dadoscomo USB, por exemplo. Gravadores eWorkstations um pouco mais antigos sãoótimos exemplos. As informações nessesmeios de gravação são feitas de formadigital e podem ser enviadas para com-putadores usando cabos de áudio analó-gicos ou de áudio digital como AES/EBU ou ADAT óptico. Em gravações demúltiplas faixas a transferência pode serfeita separadamente em cada faixa ou emuma, duas ou seis faixas após eventuaismixagens já terem sido realizadas. Emqualquer um dos casos, é interessante quesejam realizadas gravações diferentescom mais de uma taxa de amostragem.Dessa forma, todos os possíveis usos do ar-quivo estariam seguros e seriam desneces-sárias novas conversões.

A conversão analógica é pouco usadaem outros casos. A conversão de dadospara som e então novamente para dadospode ser acrescida de eventuais ruídos edistorções provenientes de conectores,

Quando a gravação está sendo feita em situaçõeseconômicas, com equipamento bom, mas que não é deponta, não vale a pena usar o máximo de amostras porsegundo, principalmente pela certeza de que isso vai

gerar restrições desnecessárias ao processo de gravação

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REPORTAGEM

cabos ou outras partes. Alguns profissi-onais preferem realizar a mixagem pormeio de aparelhos diferentes dos usa-dos para a gravação. Existem aparelhosque são capazes de gerar o interesse deprofissionais a realizar mixagens de ou-tra forma, externa ao computador. Es-ses profissionais costumam aproveitar omomento desse processo também pararealizar a transformação do áudio emuma série de arquivos com as taxas deamostragem que mais interessarem, oupassando por compressores, por apare-lhos valvulados ou “vintages” capazesde alterar o sinal mais em sintonia comseus próprios gostos.

Não é raro que a conversão digitalseja necessária. Seja por meio de antigasgravações ou samples das mais diversasorigens, ou de origem desconhecida.Muitos profissionais são constantementeexpostos a arquivos vindos de terceirosque, muitas vezes, não estão padroniza-dos dentro das formas com as quais essemesmo profissional pode ou costuma tra-balhar. Algumas vezes, os próprios apare-

lhos e programas usados dentro de um sóestúdio não conseguem ser totalmentesincronizados. Isso gera a obrigação de seprocessar diversos arquivos diferentespara que seja possível a utilização de de-terminados recursos ou o alcance de de-terminadas metas. Isso não quer dizer

que a conversão para diferentes samplerates não seja destrutiva. Ela é, e é extre-mamente recomendável que seja reali-zada o mínimo de vezes possível.

Dessa forma, pode-se afirmar que oimportante é que o produtor tenha cer-teza para quais meios serão usados seustrabalhos. Se eles forem feitos exclusi-vamente para a televisão ou se eles fo-rem lançados como MP3, é mais ade-quado que suas necessidades sejam cui-dadosamente calculadas e que suasgravações já sejam realizadas com as ta-xas de amostragem específicas paracada caso de forma a ser necessário omínimo de processamento, logo o míni-mo de deformação possível até o traba-lho estar completo e o momento de suautilização final ser atingido.

É de conhecimento geral que a grava-ção com amostragens “baixas” pode serútil e inclusive recomendada em muitoscasos. É também de conhecimento geralque uma série de produtores e técnicosde renome realizam muitas de suas pro-duções dessa forma. Todavia, não hou-ve profissionais que quisessem ser cita-dos por temerem uma possível compre-ensão errônea de músicos ou leigos quese acreditassem lesados por terem seustrabalhos sendo gravados com caracte-rísticas matemáticas abaixo do máximodisponível no sistema.

Não é raro que aconversão digital sejanecessária. Seja por

meio de antigasgravações ou samples

das mais diversasorigens, ou de origem

desconhecida

Não houveprofissionais que

quisessem ser citadospor temerem uma

possível compreensãoerrônea de músicos ou

leigos