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Estilos de vida e informação sobre alimentação e nutrição: Impacto da pandemia causada pelo Covid-19 Lifestyles and food and nutrition information: Covid-19 Impact
Osvaldo Filipe Saraiva Teixeira ORIENTADO POR: Prof.ÂȘ Doutora ClĂĄudia Afonso COORIENTADO POR: Dr.ÂȘ Maria AntĂłnia Pereira Ferreira TRABALHO DE INVESTIGAĂĂO 1.Âș CICLO EM CIĂNCIAS DA NUTRIĂĂO | UNIDADE CURRICULAR ESTĂGIO FACULDADE DE CIĂNCIAS DA NUTRIĂĂO E ALIMENTAĂĂO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
TC PORTO, 2020
i
Resumo e Palavras-Chave
Introdução: O local de trabalho deve ser encarado como um local privilegiado de
promoção de estilos de vida saudåveis na população.
Objetivos: Caraterizar os estilos de vida e informação sobre alimentação. Avaliar
o impacto da pandemia no estado de saĂșde e autoperceção do mesmo.
MĂ©todos: Participaram no estudo um total de 152 (28%) de 550 colaboradores
atravĂ©s de questionĂĄrio online que incluĂa informação sociodemogrĂĄfica, estilos
de vida e seus determinantes impostos pela covid-19 com impacto na
autoperceção do estado de saĂșde, IMC entre outros. Foram incluĂdas questĂ”es
sobre o consumo das refeiçÔes dentro do horårio de trabalho, com enfoque
especial Ă s realizadas em locais da responsabilidade da Autarquia. Foi realizado
um modelo de regressĂŁo logĂstica binĂĄria, calculado o Exp ÎČ e respetivos intervalos
de confiança a 95%.
Resultados: A amostra Ă© quase, 3/4 do sexo feminino (71,1%) com elevado nĂvel
de escolaridade (95%). Na sua maioria dos participantes considera-se âsaudĂĄvelâ
(80,6%), sendo que a doença mais vezes reportada foi a depressão (20%) e 40%
aumento de peso. Com a pandemia, 41% da amostra referiu diminuir a prĂĄtica de
atividade fĂsica e sĂł 12% reportou melhorias relativamente ao sono. 17,4% da
amostra referiu ter melhorado os seus hĂĄbitos alimentares e 15,5% reportou o
oposto. Identificou-se ainda, um aumento do IMC com significado estatĂstico,
associado às alteraçÔes negativas reportadas durante a pandemia causada pela
Covid-19 (Exp Ă =1,180 e IC 95%: 1,020 â 1,366).
Conclusão: Destaca-se a necessidade de promover programas de intervenção de
promoção de estilos de vida saudåveis na Autarquia de forma a inverter aumento
de peso observado.
ii
Palavras-chave: Promoção de saĂșde; hĂĄbitos alimentares; intervenção alimentar;
alimentação no local de trabalho; impacto da Covid-19.
iii
Abstract and Keywords
Introduction: The workplace should be seen as an important place to promote
population healthy lifestyles.
Objectives: Evaluate health lifestyles and food/nutrition information. Assess the
pandemic impact on health status and self-perceived health condition.
Methods: A total of 152 (28%), among 550 employees participated in an online
questionnaire to gather data on sociodemographic characteristics, lifestyles and
health determinants imposed by covid-19 with impact on self-perceived health
condition, IMC and others. It was also asked about the usual place were meals take
place during worktime with special attention to those made in city hall facilities.
It was used a binary logistic regression and calculated the Exp ÎČ with 95%
confidence interval.
Results: Female individuals were approximately Ÿ of the sample (71,1%) with
higher education levels (95%). Most respondents assumed to be healthy (80,6%)
although they reported medical diagnosed Depression (20%) and about 40%
increased weight. During pandemic situation, 41% reported a decrease in physical
activity and only 12% stated better night sleep. Only 17,4% reported better health
habits while 15,5% assumed otherwise. It was identified an increased BMI, with
statistical significance, associated to negative behaviors during Covid-19 (Exp Ă
=1,180 e IC 95%: 1,020 â 1,366).
Conclusion: The findings highlighted the need to implement nutritional
interventions in the referred workplace to reverse the weight gain.
Keywords: Health promotion; eating habits; nutritional intervention; eating in
workplace; Covid-19.
iv
Lista de abreviaturas, siglas e acrĂłnimos
AF - Atividade FĂsica
CMG â CĂąmara Municipal de Gondomar
IMC â Ăndice de massa corporal
OMS â Organização Mundial de SaĂșde
v
SumĂĄrio
Resumo e Palavras-Chave ................................................................... i
Abstract and Keywords .................................................................... iii
Lista de abreviaturas, siglas e acrĂłnimos ............................................... iv
1. Introdução ................................................................................. 1
2. Objetivos .................................................................................. 2
3. Metodologia ............................................................................... 3
4. Resultados ................................................................................. 6
5. DiscussĂŁo ................................................................................. 11
6. ConclusÔes ............................................................................... 13
Agradecimentos ............................................................................ 14
ReferĂȘncias ................................................................................. 15
1
1. Introdução
De acordo com a Organização Mundial da SaĂșde o local de trabalho Ă© num local
privilegiado para a promoção de estilos de vida saudåveis, uma vez que nele se
passa uma parte considerĂĄvel do tempo(1).
Em mĂ©dia os portugueses trabalham 35,8h por semana(2) e durante este perĂodo
de tempo podem estar sujeitos Ă oferta alimentar disponibilizada nos locais de
trabalho, assim sendo estes locais podem-se revelar como uma janela de
oportunidade de forma a promover(3, 4) e influenciar hĂĄbitos alimentares
saudåveis(5). Uma das formas que a população em geral encontrou para suprimir
este contexto foi através do recurso a refeiçÔes trazidas de casa, que apesar de
ser poder ser uma boa opção, levanta outras questÔes pråticas no que se refere
ao tempo despendido e ao prévio planeamento necessårio, sendo muitas vezes
uma opção conveniente(6). Importa assim promover conhecimentos sobre
alimentação que se traduzam em comportamentos mais saudåveis.
A forma como lidamos com a informação, a literacia alimentar é preponderante
para estimular e perpetuar hĂĄbitos alimentares saudĂĄveis(7-9), com reflexo direto
nas intençÔes, nas escolhas e na compra de alimentos e bebidas integrantes dos
nossos hĂĄbitos alimentares(10).
Por outro lado, estar informado nĂŁo Ă© premonitĂłrio absoluto de ser capaz de, por
si só, seguir uma alimentação e estilos de vida saudåveis, a auto perceção do
estado de saĂșde(11, 12), as preferĂȘncias(13, 14) e os determinantes ambientais(15, 16)
sĂŁo exemplos de outros fatores que necessitam estar devidamente reconhecidos
pelo indivĂduo de forma a compreender como se associam aos seus hĂĄbitos e
comportamentos alimentares e assim intervir no sentido de ser possĂvel assegurar
o melhor cumprimento das recomendaçÔes alimentares(17).
2
Na perspetiva da saĂșde comunitĂĄria, salientam-se dois pressupostos
objetivamente capazes, pelo modelo que lhes deu origem, moderar, melhorar e
ou conduzir os colaboradores Ă s escolhas certas, sendo eles modelos de
intervenção comunitåria da modificação da procura e da oferta, ou por transmitir
conhecimentos à população modificando a procura(18, 19) ou regulando e taxando a
oferta de acordo com o objetivo(20). Torna-se assim importante e ao mesmo tempo
prudente, recolher inicialmente informaçÔes referentes Ă s caracterĂsticas da
população a intervir(21) e aprofundar os conhecimentos e aspetos relevantes e
impactantes sobre a mesma que nos permita as abordagens mais assertivas (22, 23).
Salientando que o trabalho acontece no momento em que o mundo atravessa um
grande problema saĂșde pĂșblica devido Ă presente pandemia causada pela Covid â
19, tornando-se imprescindĂvel auscultar a população, ainda que de forma
generalista, sobre alguns aspetos que possam ter causado alteraçÔes nos estilos
de vida e dos hĂĄbitos alimentares dos colaboradores da CĂąmara Municipal de
Gondomar (CMG) e o impacto que estas alteraçÔes podem e causam de forma
negativa nos determinantes para a saĂșde.
2. Objetivos
Caraterizar aspetos relativos aos estilos de vida dos colaboradores da CMG,
compreender o seu interesse por temåticas da alimentação/nutrição, assim como
avaliar o recurso e a satisfação com os bares e cantinas da responsabilidade da
CMG.
Avaliar o impacto da pandemia na autoperceção do estado saĂșde, peso corporal,
prĂĄtica de atividade fĂsica (AF), nĂșmero de horas de sono e hĂĄbitos alimentares.
3
Identificar os fatores associados Ă s alteraçÔes no estado de saĂșde dos
colaboradores imposto pela Covid-19.
3. Metodologia
População e Amostra
De um total de 550 colaboradores, participaram no estudo 152 colaboradores,
perfazendo 28% do total dos colaboradores da CMG.
MĂ©todos
Previamente foi efetuada uma revisĂŁo da literatura de modo a perceber qual a
melhor linha metodolĂłgica a seguir para dar cumprimento aos objetivos
estabelecidos, mais especificamente que informaçÔes seriam importantes integrar
no tipo de questionĂĄrio a aplicar.
Elaborou-se um questionårio estruturado de aplicação direta e para a finalização
do mesmo, foi realizado um estudo piloto em 3 adultos para testar o seu
fraseamento, compreensão e duração.
O questionĂĄrio foi aplicado com recurso Ă plataforma online Google Forms da
U.Porto, garantindo assim a segurança dos dados recolhidos, o link para
preenchimento do mesmo foi enviado, via email dinĂąmico, a todos os
colaboradores da CMG, pela Senhora Vereadora do Pelouro da CoesĂŁo Social.
Importa referir, que este trabalho correspondeu a um repto lançado pela mesma,
ao NĂșcleo da SaĂșde deste Departamento, onde se insere o estagiĂĄrio.
QuestionĂĄrio:
4
O questionĂĄrio apresentado no Anexo A, foi adaptado da tese de licenciatura em
CiĂȘncias da Nutrição de ClĂĄudia Pessoa(21) apresentado em 2019 e Ă© constituĂdo
pela seguinte informação:
- Sociodemogråfica (sexo, idade, habilitaçÔes literårias, categoria profissional);
- Sobre o estado de saĂșde (autoperceção do estado de saĂșde, fatores com maior
influĂȘncia na saĂșde, peso e altura reportados pelo prĂłprio e a presença de
patologia(s)), No que se refere ao peso e altura, posteriormente procedeu-se ao
cĂĄlculo do Ăndice de Massa Corporal (IMC), que foi categorizada de acordo com os
critĂ©rios da Organização Mundial de SaĂșde (OMS)(24);
- Sobre estilos de vida (prĂĄtica de AF e hĂĄbitos tabĂĄgicos e nĂșmero de horas de
sono). Para comparar os resultados encontrados no que concerne a atividade fĂsica
com os valores recomendados, recorreu-se ao preconizado pela OMS, 150 minutos
de atividade de intensidade moderada por semana ou 75 minutos de atividade
vigorosa por semana ou, ainda, uma combinação equivalente das duas
anteriores(25). Quanto Ă s horas de sono utilizou-se como referĂȘncia as
recomendaçÔes do National Sleep Foundation(26), 7 a 9 horas;
- Sobre procura de informação sobre alimentação: se existia esse interesse, onde
procuravam esta informação e quais os temas que suscitavam mais interesse por
diferentes åreas da nutrição;
- Sobre o local onde realizavam as suas refeiçÔes no perĂodo de trabalho (pequeno-
almoço, lanches e almoço) e a sua composição;
- Sobre o uso das estruturas fornecedoras de refeiçÔes/alimentos da CMG (bares
ou cantina), sua opiniĂŁo sobre os mesmos e foi recolhida a sua opiniĂŁo sobre a
forma como a CMG poderia melhorar a oferta de forma a dar cumprimento Ă
pråtica de uma alimentação saudåvel (questão em aberto).
5
- Sobre o impacto pandemia causada pela Covid-19 na autoperceção do estado de
saĂșde, no peso corporal, na prĂĄtica de AF, no nĂșmero de horas de sono e nos
hĂĄbitos alimentares.
De forma a ser possĂvel analisar de forma sumĂĄria os desfechos em saĂșde causados
pela pandemia da Covid-19, criou-se uma nova variĂĄvel. Os desfechos foram
categorizados da atribuindo uma pontuação negativa (-1) a desfechos favoråveis
e uma pontuação positiva (+1) a desfechos negativos, aos que referiram manter
os seus hĂĄbitos pontuou-se com â0â:
- Autoperceção do estado de saĂșde: se melhoraram (-1), se piorarem (+1)
- Peso: se aumentaram (+1), se diminuĂram (-1)
- AF: se aumentaram (-1), se diminuĂram (+1)
- Horas de sono: se aumentaram (-1), se diminuĂram (+1)
- HĂĄbitos Alimentares: se melhoram (-1), se pioraram (+1)
Posteriormente, foi criado uma variĂĄvel correspondente Ă s somas dos
comportamentos supracitados de forma a proceder à sua dicotomização.
Aos comportamentos com pontuação negativa foi atribuĂdo o valor â0â e â1â para
quem apresentava valores se soma positivos. Pela soma das variĂĄveis, quem
obteve a pontuação â0â, nĂŁo foi considerado para a anĂĄlise estatĂstica, pois
significava que em nada se alterarem os seus hĂĄbitos.
AnĂĄlise estatĂstica dos dados:
A anĂĄlise estatĂstica dos dados recolhidos foi realizada no programa Statistical
Package for Social Sciences (SPSS), versĂŁo 26.0. Procedeu-se Ă anĂĄlise descritiva
das variĂĄveis do questionĂĄrio atravĂ©s da frequĂȘncia das observaçÔes estatĂsticas
6
(medidas de tendĂȘncia central). Avaliou-se a distribuição da normalidade das
variåveis cardinais através do teste Kolmogorov-Smirnov.
De forma a identificar as variĂĄveis independentes associados comportamentos
negativos associados Ă pandemia COVID 19, foi realizado um modelo de regressĂŁo
logĂstica binĂĄria, tendo sido calculado o Exp ÎČ e respetivos intervalos de confiança
a 95%. O modelo foi construĂdo com recurso Ă s seguintes variĂĄveis: sexo
(dicotĂłmica), idade (contĂnua), categoria profissional (categĂłrica), se considera a
alimentação determinante da saĂșde (dicotĂłmica), IMC (continua), se Ă© fumador
(dicotómica), se tem por håbito pesquisar sobre alimentação e nutrição
(dicotĂłmica) e se faz refeiçÔes considerando os recursos disponĂveis pela CMG
(dicotĂłmica).
Para esta regressĂŁo foram rejeitados 3 participantes que nĂŁo tinham respondido a
perguntas relacionadas com o outcome estudado (2 em relação à pråtica de AF e
1 relativamente ao peso). Rejeitou-se a hipĂłtese nula quando p < 0,05.
4. Resultados
Caraterização da amostra
A amostra apresenta uma mediana de idade de 47 anos (IIQ=12), e 71,1% Ă© do sexo
feminino.
Foi encontrada uma prevalĂȘncia elevada do nĂvel de escolaridade elevado (56,6%)
e quanto à categoria profissional foram na sua maioria, técnicos superiores e
assistente/coordenadores tĂ©cnicos. Quando questionados em relação Ă
autoperceção de saĂșde, cerca de 60% dos participantes declararam sentirem-se
saudĂĄveis. Relativamente ao peso, cerca de metade dos colaboradores
7
apresentava excesso de peso (prĂ©-obesidade e obesidade) sendo o Ăndice de massa
corporal (IMC) médio da amostra de 25,28 Kg.m-2 (d.p.=3,376).
A alimentação foi o fator mais referido pelos participantes como tendo influĂȘncia
na saĂșde (41,3%), seguido da prĂĄtica de AF (26,5%), a combinação destas duas
reĂșne o consenso de 45,2% da amostra. De destacar que 67 % dos colaboradores
referiu pesquisar sobre alimentação, sendo a internet o local privilegiado para a
procura (80,8%) (Tabela 1).
No que diz respeito Ă s patologias que os colaboradores mais reportam, a de maior
incidĂȘncia foi a depressĂŁo (20%), seguida da hipertensĂŁo arterial (13%), doenças
gastrointestinais (10%) e hipotiroidismo com (6,5%).
Em 32,9% da amostra verificou-se nĂŁo praticar qualquer AF. Os locais preferenciais
para a prĂĄtica de AF reportados foram ao ar livre e no ginĂĄsio. Relativamente aos
håbitos tabågicos, 15,5% é fumador e 7% de forma ocasional. Em média, pelos que
fumam, sĂŁo reportados 12,3 cigarros/dia (d.p.=6,2). Relativamente Ă s horas de
sono, a amostra descreve que em média dorme 6,7h/dia (d.p.=0,9).
Tabela 1. Caracterização sociodemogråfica e dos estilos de vida dos colaboradores CMG
VariĂĄveis Amostra
(n=152) VariĂĄveis
Amostra
(n=152)
Sexo n (%)
Feminino
Masculino
108 (71,1)
44 (28,9)
Atividade FĂsica n (%)
Cumpre RecomendaçÔes
NĂŁo Cumpre
86 (56,2)
66 (43,1)
Idade mediana (IIQ) 47 (12)
HĂĄbitos tabĂĄgicos n (%)
Fumador
NĂŁo fumador
34 (22,2)
118 (77,1)
Escolaridade n (%)
Ensino bĂĄsico 2Âș ciclo
1 (0,7)
Categoria Profissional n (%)
Assist. Operacional/ Encarregado
11 (7,2)
8
Ensino bĂĄsico 3Âș ciclo
Ensino secundĂĄrio
Ensino PĂłs-secundĂĄrio nĂŁo Superior
Ensino Superior
3 (2)
57 (37,5)
5 (3,3)
86 (56,6)
Assist. TĂ©cnico/Coord. TĂ©cnico
TĂ©cnico Superior
InformĂĄtico/Policial/Fiscal
Dirigente
53 (34,9)
58 (38,2)
13 (8,6)
17 (11,2)
IMC n (%)
Peso normal
Pré-obesidade
Obesidade grau I
Obesidade grau II
72 (47,4)
66 (43,4)
13 (8,6)
1 (0,7)
Informação sobre Alimentação n (%)
Internet
Consulta com Nutricionista ou
Dietista
Livros
84 (80,8)
35 (33,7)
33 (31,7)
Fatores que influenciam a saĂșde n
(%) *
Alimentação
Atividade fĂsica
Fatores genéticos
Excesso de peso
Fumar
128
(41,3)
82 (26,5)
32 (10,3)
21 (6,8)
19 (6,1)
Temas de maior interesse n (%)
CulinĂĄria SaudĂĄvel
Alimentação mediterrùnea
Nutrição no desporto
*
120 (80,3)
41 (27)
35 (23)
Horas de sono n (%)
Cumpre RecomendaçÔes
NĂŁo Cumpre
137 (90,1)
15 (9,9)
Autoperceção estado de saĂșde n (%)
Nem saudĂĄvel nem doente
SaudĂĄvel
Muito saudĂĄvel
36 (23,7)
90 (59,2)
26 (17,1)
RefeiçÔes da responsabilidade
CMG n (%)
Sim
NĂŁo
83 (54,2)
69 45,1)
*cada colaborador podia indicar mais do que uma opção.
Durante a pandemia, grande parte dos colaboradores considerou que manteve os
comportamentos questionados, porém destaca-se que 40,6% considera ter
aumentado de peso, 41% diminuiu a prĂĄtica de AF, e uma proporção idĂȘntica da
amostra referiu ter melhorado ou piorado os seus hĂĄbitos alimentares (Tabela 2).
Tabela 2. Impacto da Covid 19 na autoperceção do estado de saĂșde, no peso, na prĂĄtica de atividade fĂsica,
no nĂșmero de horas de sono e nos hĂĄbitos alimentares
Melhorou n (%) Igual n (%) Piorou n (%)
9
Autoperceção do estado de saĂșde 18 (11,6) 125 (80,6) 12 (7,7)
Peso 20 (12,9) 72 (46,5) 63 (40,6)
AF 21 (13,5) 68 (43,9) 64 (41,3)
Horas de sono 19 (12,3) 94 (60,6) 39 (25,2)
HĂĄbitos Alimentares 27 (17,4) 101 (65,2) 24 (15,5)
Antes do confinamento, 73,5% tomavam o pequeno almoço e 43% almoçavam em
casa e apenas 14% almoçavam na cantina. No que se refere ao lanche, 25% da
amostra, refere que o realiza no bar da CMG. As sugestÔes indicadas pelos
colaboradores relativas Ă oferta alimentar fornecida nos locais afetos Ă CMG, sĂŁo
as apresentadas na Tabela 3, previamente organizadas por temas afins. Nesta
questĂŁo, 37,3% da amostra nĂŁo referiu qualquer sugestĂŁo.
Tabela 3. SugestÔes indicadas pelos colaboradores relativas a melhorias a
implementar aos bares e cantinas CMG
n (%)
Sem opiniĂŁo 57 (37,3)
Introduzir a venda/disponibilizar fruta 22 (14,4)
Introduzir mais sopas e saladas (vegan n=4) 19 (12,4)
Introduzir refeiçÔes e alimentos mais saudåveis (sem especificar) 16 (10,4)
Satisfação com os serviços 8 (5,2)
Melhorar a confeção e as quantidades servidas (quantidade a mais aos almoços) 6 (3,9)
Ação direta dos responsåveis (formação) 3 (1,96)
*a soma das percentagens Ă© superior a 100, pois os inquiridos podiam referir mais do que uma hipĂłtese de escolha.
O resultado da regressĂŁo logĂstica encontra-se descrito na Tabela 4. A anĂĄlise nĂŁo
ajustada demonstrou que o sexo masculino parecia estar associado a uma menor
10
probabilidade de ter comportamentos negativos pela pandemia, porém após
ajuste para as restantes variĂĄveis incluĂdas no modelo esta associação deixou de
ter significado estatĂstico (Exp Ă =0,414 e IC 95%: 0,156 â 1,092). Encontrou-se
apenas uma relação com significado estatĂstico positivo entre os comportamentos
negativos e o IMC, pelo que os colaboradores com maior IMC reportaram mais
comportamento negativos (Exp Ă =1,180 e IC 95%: 1,020 â 1,366).
Estas variĂĄveis independentes preveem 23% da dependente (R2 Nagelkerke =
0,234), comportamentos negativos reportados na pandemia causada pela Covid-
19.
Tabela 4. Identificação de fatores associados a comportamentos negativos causados pela pandemia
Covid-19
VariĂĄveis Exp Ă nĂŁo ajustado
(IC 95%)
p Exp Ă ajustado (IC 95%)
p
Sexo (Feminino) Masculino
1 0,401
(0,185 â 0,871)
0,021 1 0,412
(0,156 â 1,092)
0,074
Idade (anos) 1,017 (0,982 â 1,055)
0,343 1,006 (0,954 â 1,061)
0,813
Categoria profissional (Assistente Operacional) Assist. TĂ©cnico/Coordenador. Dirigente InformĂĄtico/Policial/Fiscal TĂ©cnico superior
1
0,316 (0,060 â 1,665)
1,125 (0,127 â 9,943)
0,179 (0,026 â 1,228)
0,196 (0,038 â 1,020)
0,174
0,916
0,080
0,053
1
0,188 (0,019 â 1,836)
0,796 (0,052 â 12,216)
0,205 (0,013 â 3,246
0,103 (0,010 â 1,022)
0,151
0,870
0,261
0,052
Seleciona a alimentação como fator determinante para a saĂșde (NĂŁo) Sim.
1
1,676 (0,673 â 4,170)
0,267
1
2,154 (0,613 â 7,561)
0,231
IMC (Kg/m2) 1,110 (0,986 â 1,251)
0,085 1,180 (1,020 â 1,366)
0,026
HĂĄbitos tabĂĄgicos (NĂŁo) Sim
1 0,980
(0,422 â 2,274)
0,962
1 1,202
(0,381 â 3,794)
0,753
Procurar informação sobre nutrição /alimentação. (Não)
1
1
11
Sim 0,600 (0,279 â 1,292)
0,192 0,430 (0,161 â 1,152)
0.93
Faz alguma refeição em locais da responsabilidade CMG (Não) Sim
1
1,194 (0,592 â 2,408)
0,621
0,986 (0,409 â 2,377)
0,975
5. DiscussĂŁo
O objetivo do presente estudo foi, o de compreender em que circunstancias e de
que forma a pandemia decretada por Covid-19, nomeadamente o isolamento fĂsico
social teve impacto nos estilos de vida de um modo geral e sobre os hĂĄbitos
saudĂĄveis em particular nos colaboradores de uma autarquia. De acordo com a
literatura sĂŁo os indivĂduos do sexo feminino(27, 28) que mais razĂ”es tĂȘm para se
preocupar com a nova realidade(29), de onde resultam algumas semelhanças, em
certos aspetos, aos perĂodos de fĂ©rias(30) onde o aumento de peso corporal Ă© uma
realidade(31), no presente estudo 40,6% referiu ter aumentado de peso. Outra
caraterĂstica da nossa sociedade que se revela de extrema importĂąncia para os
resultados, Ă© o facto da população portuguesa ter uma alta prevalĂȘncia de excesso
de peso, no caso seis em cada dez portugueses são pré obesos ou obesos(32), e que
este fator coloque ainda mais pressĂŁo ou seja exponencial ao facto ou
premonitĂłria de um ciclo vicioso daqueles que jĂĄ se encontravam em excesso de
peso(33). De forma geral podemos estabelecer uma relação homóloga à observada
na nossa amostra pela prevalĂȘncia de ambos critĂ©rios e dessa forma explicar o
facto de ser, o IMC, a variĂĄvel com significado estatĂstico associada aos desfechos
negativos durante a pandemia causada pela Covid-19. Por outro lado, e sendo
tambĂ©m uma limitação do estudo, Ă© a baixa prevalĂȘncia de indivĂduos do sexo
masculino a participarem no estudo, provavelmente por este facto nĂŁo foram,
aqui, encontradas associaçÔes com os desfechos negativos durante a pandemia
que pode favorecer o achado anterior, uma vez que o modelo de a regressĂŁo
12
logĂstica foi ajustado para as variĂĄveis como o IMC e a prĂĄtica de AF que
normalmente sĂŁo menos prevalentes nos homens(34-36).
Da anĂĄlise dos dados recolhidos, foi notĂłrio a elevada prevalĂȘncia do nĂșmero de
horas de sono abaixo das recomendaçÔes, mais uma vez, sobreponĂvel ao que
acontece em fĂ©rias(37). Evidente Ă© tambĂ©m a prevalĂȘncia da depressĂŁo(35), como a
doença mais vezes diagnosticada (20%) no presente estudo a par do que acontece
com outros estudos com objetivos idĂȘnticos (21) (22%), muitas vezes acentuada em
situaçÔes de isolamento(33). Duas situaçÔes diferentes mas com desfechos
idĂȘnticos, mais do que ficar em casa ou a ausĂȘncia das habituais rotinas, Ă© a forma
como ambas situaçÔes atuam como facilitador da alteração dos padrÔes e dos
hĂĄbitos alimentares(31).
Uma limitação deste estudo prende-se pelo facto de a amostra ser pouco
representativa relativamente às habilitaçÔes literårias, o que nos inviabiliza poder
inferir para a população de colaboradores da CMG, ainda que esta amostra
represente 28% do total dos colaboradores desta autarquia. Porém neste estudo,
não sendo obrigatório a participação no mesmo, por certo foram os colaboradores
mais interessados nas temĂĄticas que o integraram, logo Ă© possĂvel que existam
colaboradores que necessitam de promover a sua literacia alimentar(38, 39) que
foram excluĂdos desta anĂĄlise, colaboradores esses onde a aplicação das
metodologias e das estratégias alimentares são manifestamente mais necessårias.
No entanto, apesar da amostra ser constituĂda por 96% de indivĂduos com o ensino
secundĂĄrio e superior e que, 67% tem por hĂĄbito fazer pesquisas na internet, onde
80% das pesquisas dizem respeito Ă culinĂĄria saudĂĄvel, ainda assim a nossa amostra
apresenta 20% dos participantes que fumam e 43% que nĂŁo cumprem as
orientaçÔes para a pråtica de AF, o que por um lado nos alerta para alguma
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desinformação(40) que persiste e que pode influenciar os mais iludidos pelas
novidades que poderão distanciar-se da informação basilar(41). Mais ainda, com a
elevada autoperceção do estado de saĂșde que a amostra declara, nĂŁo seja de todo
ideal, o que as pessoas mais identificam como sendo saudĂĄvel.
6. ConclusÔes
Deste estudo concluiu-se que os colaborados da CMG que manifestaram interesse
no questionĂĄrio, sĂŁo detentores de categorias profissionais mais altas,
nomeadamente dirigentes e que afirmaram fazer refeiçÔes em locais da CMG com
alguma frequĂȘncia, ressalvando a existĂȘncia do interesse e confiança. Nesta
população os colaboradores maioritariamente definem-se como saudåveis ainda
que parte considerĂĄvel apresente excesso de peso e sedentarismo. Existe interesse
e preocupação pelas temåticas da nutrição/alimentação, sendo a internet o local
de eleição para a sua procura. No que se refere às sugestÔes enunciadas pelos
participantes para a melhoria da oferta alimentar em locais afetos Ă CMG,
destaca-se pelo seu caracter frequente, a intenção de ter uma oferta mais
saudĂĄvel.
Relativamente à pandemia, não é reconhecido na autoperceção do estado de
saĂșde o inegĂĄvel impacto da situação pandĂ©mica, pelo que esta se mantĂ©m,
mesmo quando Ă© incontestĂĄvel que os hĂĄbitos alimentares se alterem, que a
prĂĄtica de AF diminua e dĂȘ lugar a um manifesto aumento do IMC.
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ANEXO â QUESTIONĂRIO: ESTILOS DE VIDA E INFORMAĂĂO SOBRE ALIMENTAĂĂO
E NUTRIĂĂO: IMPACTO DA PANDEMIA CAUSADA PELA CIVID 19