52
MARCELO BRAZ VIEIRA AGILIDADE: A CAPOEIRA CONTRIBUI PARA O SEU DESENVOLVIMENTO EM CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS. FLORIANÓPOLIS – SC 2009

Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

MARCELO BRAZ VIEIRA

AGILIDADE: A CAPOEIRA CONTRIBUI PARA O SEU DESENVOL VIMENTO EM

CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS.

FLORIANÓPOLIS – SC

2009

Page 2: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

MARCELO BRAZ VIEIRA

AGILIDADE: A CAPOEIRA CONTRIBUI PARA O SEU DESENVOL VIMENTO EM

CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS.

Trabalho de conclusão de curso apresentado à disciplina de

Seminário de Monografia como requisito parcial para a

obtenção do grau de Licenciado em Educação Física pela

Universidade Federal de Santa Catarina

Orientador: Prof. Dr. Edison Roberto de Souza

FLORIIANÓPOLIS – SC

2009

Page 3: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

MARCELO BRAZ VIEIRA

AGILIDADE: A CAPOEIRA CONTRIBUI PARA O SEU DESENVOL VIMENTO EM

CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS.

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como

requisito parcial para a obtenção do grau de

Licenciatura em Educação Física, tendo sido

julgado pela Banca Examinadora formada pelos

professores:

_________________________________________

Prof. Dr. Edison Roberto de Souza – Orientador

CDS/UFSC

_________________________________________

Prof. Ms. Adilson André Martins Monte – Examinador

CDS/UFSC

__________________________________________

Prof. Mestrando Marcelo Backes Navarro Stotz – Examinador

CDS/UFSC

__________________________________________

Prof. Ms. Osvaldo André Furlaneto Rodrigues – Suplente

CEFID/UDESC

Florianópolis, 19 de junho de 2009.

Page 4: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

Dedico este trabalho à minha família,

principalmente a meus pais, Marcelino e

Rosângela, e à minha irmã, Vivian, aos quais

torcem por mim e que amo muito,

incondicionalmente.

Page 5: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

AGRADECIMENTOS

O primeiro agradecimento é e sempre será a Deus, pois eu

acredito que todos os acontecimentos de minha vida são

obras dele. E como diz a música de capoeira “e tudo que eu

tenho foi Deus quem me deu” (Mestre Pastinha). Portanto,

Deus me oportunizou conviver com estes que os agradeço

agora.

A minha família, a base de tudo, meu pai, minha mãe e minha irmã, as pessoas que

desde que eu nasci estão comigo. Para a Rosangela, minha mãe, as palavras são poucas para

agradecer, pois me carregou por nove meses e eu já

dava trabalho sendo bem pesadinho (5 kg ao nascer

☺) e sempre cuidou, deu carinho, me mimou e

tudo mais que qualquer mãe faz por seus filhos. O

Marcelino - meu pai - é a muralha, me ensinou

muito a manter o pé no chão, pensar antes de agir e

isto sempre abrindo mão do nosso convívio diário, enquanto crianças, para pensar no nosso

futuro e ainda, sempre que precisei, ele estava lá, estendendo a mão.

A Vivian, minha irmã me ensinou desde cedo a me virar, pois já

aprontava comigo desde que nasci. Tampava minha respiração

quando bebê só para me ver chorar, dava leite com terra e dizia que

era nescau, me ajudava a subir no teto do ponto de ônibus e não a

descer, mas quando precisava, quebrava os que queriam me bater,

pois “se alguém pode bater no meu irmão, esse alguém sou eu” acho que ela pensava assim

☺. Simplesmente, amo vocês, do meu jeito.

A Gabi, que ainda não é da família, mas esta se

encaminhando ☺. Ela me ensinou tanta coisa que nem sabe quanto,

mas sei que a recíproca é verdadeira. Somos tão parecidos e tão

diferentes ao mesmo tempo, o que poderia dar? AMOR. Muito

obrigado pelos anos de companhia, companheirismo e parceria. Ainda

vamos conhecer o mundo juntos e isso está cada vez mais próximo.

Page 6: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

A todas as outras pessoas da família que também são importantes, meu

muito obrigado e principalmente a minha madrinha Hely, que

demonstra um amor tão grande por mim que nunca vou conseguir

retribuir, ao meu padrinho Rogério, que tem um coração tão bom que

merece alcançar toda a felicidade que desejar, e a meus avós, Vô Mino,

Vó Cina e Vô Maurílio (in memória), pois vocês

foram os avós que todos os netos devem ter -

puramente avós - e Vó Juty que valorizo cada

momento que ainda estamos juntos.

Ao Grupo de Capoeira Beribazu em geral, pois, minha

formação acadêmica iniciou quando eu entrei na capoeira. Foi este

esporte/arte/luta que realmente me fez decidir, e que hoje tenho a

convicção, de estar no caminho certo. Desta forma, agradeço a

todas as pessoas que me ensinaram na minha vida capoeiristica, os

professores, mestres, alunos, amigos, etc e principalmente ao

Falcão, Nanã, Assis, Lelo, Fabinho, Chiquinho, Aldo, Carlinha, Piqueno, Déia, Lele, Daniel,

Fejão, Kaju, Bodão. Outros que estão sumidos ou que não fazem mais parte deste grupo

Muleka, Maumau, Ana, Léo`s, Ricardo, Jeovana, Sumara. Desde 1997 foram muitas pessoas

que conviveram juntos, por isso, fica o agradecimento a todos.

Ao CDS onde minha primeira disciplina cursada foi em 2001-2.

Conheci, aprendi e convivi com muitas pessoas e tenho certeza que

neste momento esqueceria alguém que teve importância na minha

formação. Assim, me desculpe pelo esquecimento e agradeço a todos

os professores, aos maus que me ensinaram como não ser e aos bons

que me servem de modelo, então muito obrigado Adair, Adilson,

Alex, Amarante, Ângela, Bira, Capela, Cardoso, César, Cris, Diego,

Édio, Fernando, Iara, Iracema, Ledoux, Luciana, Luciano, Luiz Guilherme, Marceli, Maria de

Fátima, Maria Firminia, Marize, Nivia, Paulo, Peter, Rosane, Sidney, Saray, Vanessa. Aos

acadêmicos, estes sim foram muitos, pois estudei em fases mistas, onde conheci muitos que já

Page 7: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

formaram ou estão cursando, assim, valeu gente, muito obrigado pelo convívio, foram bem

proveitosos.

Ao PBM – Projeto Brinca Mané – este sim é necessário um

agradecimento especial. Sei que alcancei algumas metas e que

contribui muito com este espaço de educação, portanto, saio pela

porta da frente e sei também que agradeci a cada momento que

vivi com este grupo. Mesmo assim, agradeço primeiramente a

pessoa que me convidou e que sem ela não teria conseguido

construir a história que fiz, por isso Profª. Vera, muito obrigado

por acreditar no meu potencial que nem eu sabia que tinha. Aos demais professores é

impossível descrever o quão estes valem na minha vida, principalmente acadêmica. Edson,

amigo, coordenador, incentivador muito obrigado pelos imensuráveis ensinamentos e pela

confiança a mim atribuída nestes anos, por ti até torci pelo AVAEEE. Rick, ô cara, sempre

com piadas para alegrar o ambiente (e quando o Edson ajuda, aí fica melhor ainda – pula, pula,

pula ☺), amigo que sabe perceber quando precisamos apenas de um abraço (com o lado

esquerdo do peito), organizador nato de eventos, principalmente festivos, muito obrigado pela

amizade e carinho. Julio, você sempre foi o intelecto, que instiga a pesquisa, as vezes nervoso

(alsolêêêênio ☺), mas é essencial no PBM para segurar as nossas loucuras e colocar os pés no

chão, muito obrigado pela convivência. Jolmerson, o que dizer do único professor da

universidade que me colocou pra fora de sala ☺, meio atrapalhado, mas com a vontade que

poucos tem, uma perseverança invejável, tudo que o vi almejar, alcançou, obrigado por

transmitir sua determinação. Sem falar no obrigado pela sua presença no churrasco em minha

casa, uma das poucas festas que estavas presente ☺. Vocês todos se completam, tive sorte de

conviver com vocês, muito obrigado. Foram seis anos de convívio intenso e com grandes

aprendizados. Até o primeiro vôo de avião foi graças ao PBM, e as balas tem que pagar na

saída, (né Edson?). Enfim, o parto está sendo fórceps, mas vai dar bom fruto.

Aos monitores do PBM, desde o começo estive presente e conheci todos até hoje,

mais de 60, entraram, ficaram e saíram e agora é a minha vez. Professores e amigos que me

ensinaram muito e não posso esquecer. Mel, as despedidas já resultaram em falar tudo que

precisava ser falado, Laisa, Maria, Marcos (ou melhor canguru) e Gê, que grupo que

formamos (eim?), gostaria de ter sido criança para ter aulas com a gente, foi demais. Os mais

novos, Ju, Ma, Nathi, Etô, vocês na minha escola tem espaço garantido e da minha memória

nunca sairão. Aos monitores de 2003 Ana, Fernando, Gisele, Talita, Melina, Poliana e Bilica,

Page 8: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

de 2004 Ju, Biba, Lua, Gabi`s, Wilian e profas. Ilma e Renata, de 2005 Bruna, Camila, Lucas,

Laudir e Natalia, de 2006 Cacau, Sidnei, Darlan, Taise, Aninha, Simone e Suelen, de 2007

Cícero, Ramon, Juca, Lu e Nayra e por fim de 2008 Simone`s, Mariana, Luiza, Lilian, Julia,

Varejão. Cada um destes que contribuiram para que o trabalho que sempre acreditei pudesse

ser realizado e por isso agradeço. Uns ficarão mais fortemente gravado em minha memória.

As crianças do PBM, essas que são tão carentes de afetividade que

por mais simples que seja a atenção à elas, já nos idolatram.

Obrigado ainda por vocês acreditarem nas minhas falas, nas minhas

loucuras, nas minhas brincadeiras e obrigado por retribuirem todo o

carinho que ofereci a vocês. Vocês já me fizeram chorar, repensar

minha prática, minha vida e meus sonhos, serão sempre fruto de

minhas lembranças.

Agradeço por último as pessoas que contribuíram para que este trabalho pudesse ser

finalizado. Primeiro ao meu orientador, Prof. Edson que me iluminou com apenas uma

pergunta (“o que a capoeira mais desenvolve, pra ti?”) e tudo mais que já foi citado sobre ele.

Ao Prof. Adilson por autorizar e disponibilizar todo o seu equipamento para o teste de

agilidade, tendo paciência e comprometimento nas explicações. Ao Ângelo, que desde o

primeiro contato se dispôs a auxiliar na pesquisa e durante a mesma foi surpreendente. Ao

Colégio da Lagoa em nome da sua diretora Carmen que abriu as portas para a realização da

pesquisa. Aos professores Jean e Tatiane que disponibilizaram o espaço físico durante suas

atividades na escola. Ao meu primo Thyago que de prontidão me ajudou na coleta de dados. E

por fim mas não menos importante, as crianças, que se interessaram em realizar o teste e que

são o foco da pesquisa.

A todos estes aqui lembrados, meu muito obrigado, do fundo do coração, vocês

fazem parte da minha história e da minha vida.

Page 9: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

"Seja você quem for, seja qual for a posição social que

você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha

sempre como meta muita força, muita determinação e

sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus,

que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega

lá."

Ayrton Senna da Silva

“Se quisermos mudar o mundo, é pelas crianças que

devemos começar”.

Ayrton Senna da Silva

CAPOEIRA: "É luta de bailarinos. É dança de gladiadores. É duelo

de camaradas. É jogo, é bailado, é disputa - simbiose

perfeita de força e ritmo, poesia e agilidade. Única em

que os movimentos são comandados pela música e pelo

canto. A submissão da força ao ritmo. Da violência à

melodia. A sublimação dos antagonismos. Na Capoeira,

os contendores não são adversários, são 'camaradas'.

Não lutam, fingem lutar. Procuram - genialmente - dar a

visão artística de um combate. Acima do espírito de

competição, há neles um sentido de beleza. O capoeira é

um artista e um atleta, um jogador e um poeta".

Dias Gomes

Page 10: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

RESUMO

Esta pesquisa exploratória com amostragem não probabilística intencional teve como objetivo

verificar se a capoeira possibilita o desenvolvimento da agilidade em seus praticantes com

idade entre 7 e 10 anos de idade. Para a realização da pesquisa, utilizou-se o teste de agilidade

proposto por Monte em 2009. Este teste, dividido em três momentos distintos (T1, T2 e T3),

analisados separadamente. A pesquisa foi realizada nas dependências de uma escola particular,

com quatorze (14) praticantes de capoeira (PC) com mais de um ano de prática e com dezoito

(18) crianças que neste ano não participaram de nenhuma escolinha de esportes (NP). Todos

os participantes realizaram o teste três vezes para cada lado, da direita para esquerda (TA) e

da esquerda para direita (TB). O melhor resultado de cada lado e de cada criança foi tratado

no Microsoft® Oficce for Windows 2003 - Excel, na qual foram calculados as médias, desvios

padrão e Teste “t” de Student (com nível de confiança p ≤ 0,05) para análise dos resultados.

Os tempos médios totais e desvios padrão (em milissegundos) dos PC no teste foram 5557 ±

443,98 em TA e 5685,28 ± 461,20 em TB, enquanto os NP atingiram 5751,33 ± 412,76 em

TA e 5742,05 ± 524,95 em TB. Estes resultados não apresentaram diferença significativa.

Assim, analisou-se a parcial T2 + T3, parte que requer maior agilidade do teste. Os PC

realizaram o teste para TA em 3428 ± 360,97, e para TB em 3462,35 ± 390,09, enquanto os

NP realizaram para TA em 3741,44 ± 293,81, e para TB em 3706,22 ± 346,71. O teste “t”

para estes resultados foi de 0,008 para TA e 0,043 para TB, concluindo a diferença

significativa entre os grupos pesquisados. Desta forma, foi possível afirmar que os praticantes

de capoeira de 7 a 10 anos de idade, pesquisados neste estudo foram mais ágeis do que os não

praticantes de capoeira.

Page 11: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

RESUMEN

Esta investigación exploratoria con amostragem no probabilística intencional tuvo como

objetivo verificar si la capoeira puede posibilitar el desarrollo de la agilidad en los

practicantes con edad entre 7 y 10 años. Para efecto de la realización de la investigación fue

utilizado un teste de agilidad propuesto por Monte en 2009. El teste está dividido en tres

momentos distintos (T1, T2 e T3), que pueden ser analizados separadamente. La investigación

fue realizada en las dependencias de una escuela privada, con catorce (14) practicantes de

capoeira (PC) con más de un ano de práctica y con dieciocho (18) niños que no tuvieron

ningún contacto con cualquier deporte durante el año (NP). Todos los participantes realizaran

el teste tres veces para cada lado, de la derecha para la izquierda (TA) y de la izquierda para la

derecha (TB). Lo mejor resultado de cada lado y de cada niño fue trabajado en el Microsoft®

Oficce for Windows - Excel 2003, donde fueran calculadas las medias, desvíos padrón y Teste

“t” de Student (con nivel de confianza p ≤ 0,05) para analice de los resultados. Los tiempos

medios totales y desvíos padrón (en milisegundo) de los PC en el teste fueran 5557 ± 443,98

en TA y 5685,28 ± 461,20 en TB, no obstante, los NP atingieran 5751,33 ± 412,76 en TA y

5742,05 ± 524,95 en TB. Los resultados no demostraran diferencias significativas. Así, fue

analizado la parcial T2 + T3, etapa que requiere mayor agilidad en el teste. Los PC realizaran

el teste para TA en 3428 ± 360,97, y para TB en 3462,35 ± 390,09, con todo eso, los NP

realizaran para TA en 3741,44 ± 293,81, y para TB en 3706,22 ± 346,71. El teste “t” para

estos resultados fue de 0,008 para TA y 0,043 para TB, concluyendo la diferencia

significativa entre los grupos investigados. De este modo fue posible afirmar que los

practicantes de capoeira de 7 a 10 años, investigados en el estudio fueran más ágiles en

comparación con los niños no practicantes de capoeira.

Page 12: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 – Autorização da Pesquisa ....................................................................................... 47

Anexo 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ......................................... 48

Anexo 3 – Ficha de coleta de Dados ...................................................................................... 49

Anexo 4 – Representação Gráfica – Rabo de Arraia............................................................... 50

Page 13: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ilustração do teste de agilidade proposto por Monte em 2009 .............................. 32

Figura 2 – Gráfico Box-Plot do tempo total representando valores mínimo, máximo, médio e

50% .......................................................................................................................................... 38

Figura 3 – Gráfico Box-Plot da soma de T2 e T3 representando valores mínimo, máximo,

médio e 50% ........................................................................................................................... 40

Page 14: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Características das Fases Motoras (Gallahue e Ozmun 2005) ............................ 20

Quadro 2 – A Agilidade e seus Influenciadores ..................................................................... 27

Page 15: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Médias e desvios padrão das idades e do tempo de prática dos participantes da

pesquisa .................................................................................................................................... 34

Tabela 2 – Médias e desvios padrão do tempo total das faixas etárias participantes do teste . 35

Tabela 3 - Médias e desvios padrão do tempo total e das parciais (T1, T2, T3) de ambos os

grupos ...................................................................................................................................... 37

Tabela 4 - Médias e desvios padrão do somatório T2 + T3 .................................................... 39

Tabela 5 – Resultados do teste “t” student referente ao teste de agilidade para as variáveis

total e T2 + T3 ......................................................................................................................... 40

Page 16: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 16 1.1. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ......................................................................... 16 1.2. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................... 16 1.3. OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 17 1.3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................................ 17 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 18 2.1. A INFÂNCIA................................................................................................................ 18 2.1.1 Aspectos gerais............................................................................................................. 18 2.1.2 Características da infância avançada........................................................................ 21 2.2. CAPOEIRA .................................................................................................................. 21 2.2.1 Breve Histórico ............................................................................................................ 21 2.2.2 Capoeira e suas valências motoras ............................................................................ 23 2.3. AGILIDADE................................................................................................................. 24 2.3.1 Conceitos e características ......................................................................................... 24 2.3.2 O jogo ágil da capoeira ............................................................................................... 28 3. METODOLOGIA ....................................................................................................... 30 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA........................................................................ 30 3.2. PARTICIPANTES DA PESQUISA .............................................................................30 3.3. PROCEDIMENTO DE COLETA DOS DADOS......................................................... 30 3.4. TRATAMENTO DOS DADOS.................................................................................... 31 3.5. TESTE DE AGILIDADE ............................................................................................. 31 3.5.1 Protocolo do Teste de Agilidade de Monte ............................................................. 32 3.5.1.1 Materiais ...................................................................................................................... 32 3.5.1.2 Procedimentos ............................................................................................................ 32 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS ...............................................................................34 5. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................... 42 6. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 44 ANEXOS ................................................................................................................................ 46 ANEXO 1 – TERMO PARA AUTORIZAÇÃO DA PESQUISA.......................................... 47 ANEXO 2 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO......................... 48 ANEXO 3 – FICHA PARA COLETA DE DADOS ............................................................... 49 ANEXO 4 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA – RABO DE ARRAIA ................................. 50

Page 17: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

16

1. INTRODUÇÃO

1.1. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

A origem da capoeira já foi tema muito polêmico entre pesquisadores, entretanto,

alguns destes, como Zulu (1996), Falcão (1996), Vieira (1995) defendem o seu surgimento

em terras brasileiras através dos negros escravos africanos. Esta teoria é defendida por

Waldeloir Rego, citado pelos estudiosos acima. Esta hipótese, a afro-brasileira, será utilizada

como verdade neste trabalho. Desta forma, acredita-se que os escravos utilizaram a capoeira

como arma para buscar sua liberdade. E para alcançar êxito em seus objetivos, os escravos

necessitavam ter muita “mandinga”, malandragem, ou seja, agilidade.

A agilidade, segundo alguns estudiosos, pode ser entendida como a capacidade de

mudar de direção em um menor tempo possível. E segundo Bompa (2002, apud

RODRIGUES, 2007, p.28), “é na pré-puberdade que a agilidade tem seu desenvolvimento

mais efetivo”.

A pré-puberdade, segundo Gallahue e Ozmun (2005), segue a infância avançada e

em meninos vai de 11 a 13 anos, enquanto que em meninas, vai de 10 a 12 anos e a infância

avançada vai de 6 a 10 anos. Contudo, sabe-se que quanto mais valências motoras a criança

for estimulada, maior coordenação e agilidade esta poderá adquirir, mais facilmente.

A capoeira, hoje em dia, é ensinada muito comumente a partir da infância. Assim,

cada vez mais, crianças recebem estímulos motores diversificados. Acreditando que a

capoeira contribui enormemente para estes estímulos, este estudo buscará averiguar se

existem diferenças significativas no desenvolvimento da agilidade entre os praticantes e não-

praticantes de capoeira da mesma faixa etária (infância avançada).

1.2. JUSTIFICATIVA

A capoeira foi bastante difundida no século XX e desta maneira, cada vez mais

crianças passaram a praticá-la. Com o aumento no número de praticantes e o difundismo da

mesma tornaram-se importante também as pesquisas para concretizar o que na prática os

praticantes já conheciam, seu potencial, ou seja, as valências físicas e motoras e que neste

estudo trata-se da agilidade.

Tendo em vista que os pais sempre querem o melhor para seus filhos, o resultado de

uma pesquisa realizada através de um teste de agilidade é mais confiável do que a palavra de

Page 18: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

17

um professor. Assim, esta pesquisa servirá de subsídio para que os professores de capoeira

possam justificar cientificamente que a capoeira contribui para o desenvolvimento da

agilidade dos praticantes.

Os (meus) cinco anos de docência sistematizada para crianças de 3 até 13 anos de

idade, possibilitaram a visualização da contribuição da capoeira para o aperfeiçoamento da

agilidade.

Além do que, com a capoeira, nunca presenciei momentos como em outras

modalidades, nas quais os pais ficam enlouquecidos por não verem seus filhos nas quadras,

sendo os melhores. E ainda, esquecendo que do outro lado alguma outra criança possa

terminar triste, o importante é “meu filho ganhar”.

Na capoeira consigo perceber a alegria dos pais ao verem que seus filhos realizaram

movimentos que antes não conseguiam mesmo que não tenha sido o movimento mais

complexo da roda ou da aula.

Apesar de notável diferença na agilidade dos praticantes de capoeira quando

comparados com o seu início na modalidade e o passar do tempo, se faz necessário a pesquisa

científica para, quiçá, comprová-la. Desta forma, com este estudo deseja-se chegar à

comprovação de se é justamente a capoeira que é o diferencial no desenvolvimento da

agilidade, que se refletirá junto ao seu desenvolvimento motor.

1.3. OBJETIVO GERAL

Analisar as diferenças significativas na promoção da agilidade entre capoeiras1 e não

capoeiras pré-adolescentes (7 a 10 anos).

1.4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Discutir sobre a importância da agilidade e seus reflexos no desenvolvimento motor da

criança;

• Identificar a importância da Capoeira no desenvolvimento da agilidade;

• Descrever os resultados relativos o teste de agilidade de cada grupo do estudo;

• Analisar os resultados relativos à agilidade obtidos em cada grupo;

• Refletir e divulgar os resultados relativos à agilidade.

1 Nomenclatura atribuída ao praticante de capoeira. Também usado capoeirista.

Page 19: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. A INFÂNCIA

2.1.1. Aspectos gerais

A infância inicia junto com o nascimento do ser humano, porém, antes, desde a

concepção, no período uterino, já ocorre o desenvolvimento motor. Este desenvolvimento

ocorre até o final da vida. (Poeta, 2004).

O desenvolvimento, na sua forma básica, ocorre acentuadamente por volta dos 6 ou 7

anos, e até os 12 anos o que ocorre é um aumento da velocidade, junto com a melhora da

coordenação, controle e habilidades motoras específicas (Poeta, 2004). E ainda, dos 6 aos 10

anos, existe semelhança no desenvolvimento motor para ambos os gêneros.

O desenvolvimento motor citado anteriormente consiste de elementos motores

básicos e dentre eles, destacamos do estudo de Poeta (2004), alguns conceitos fundamentais

para compreensão do mesmo.

A motricidade fina é a harmonia e a precisão dos movimentos finos dos músculos

das mãos, dos pés e rosto ou coordenação de músculos pequenos para atividades finas.

A motricidade global que são as atividades com intervenção dos membros inferiores

ou simultaneamente membros superiores e inferiores e são, em geral, as atividades que

necessitam o desprendimento corporal.

O equilíbrio que se relaciona com a capacidade de assumir e sustentar qualquer

posição do corpo contra a lei da gravidade.

O esquema corporal que é a organização das sensações proporcionadas pelo próprio

corpo em conexão com os dados do mundo exterior.

A organização espacial que é definida como a capacidade de movimentar

integralmente o próprio corpo em volta de objetos num determinado ambiente.

A organização temporal, correspondente a tempo físico, assim é o desenvolvimento

das capacidades de apreensão e utilização dos dados do tempo imediato.

E por fim a lateralidade, que é a preferência lateral, direita ou esquerda, das partes do

corpo (mão, pé, olho, ouvido e hemisfério cerebral).

Portanto, desde o período uterino o organismo encontra-se em desenvolvimento.

Porém os elementos motores básicos, já citados, são mais desenvolvidos durante os primeiros

anos de vida, até os 6 anos. E antes da adolescência, até os 10 anos, o que acontece é o

Page 20: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

19

aperfeiçoamento destes elementos. Contudo, fica evidente da importância de atividades

motoras que auxiliem neste desenvolvimento, de forma eficaz, respeitando as características

da criança.

A evolução do desenvolvimento motor ocorre gradativamente, conforme a idade. A

classificação convencional da idade cronológica, usada por Gallahue e Ozmun (2005), divide

os períodos da vida em: vida pré-natal; primeira infância; infância; adolescência; idade adulta

jovem; meia-idade; terceira idade.

A vida pré-natal é dividia em períodos: zigoto (concepção – 1ª semana); embrionário

(2ª semana – 8ª semana); fetal (8ª semana – nascimento). Este período consiste

prioritariamente na formação do corpo. A importância do cuidado da mãe que gera o filho é

imensurável, pois todo o que for realizado pela mãe será sentido pelo bebê em formação. A

alimentação, os sentimentos, os pensamentos, enfim é uma vida dupla e com especiais

cuidados.

A primeira infância se divide em período neonatal (nascimento – 1 mês); início da

infância (1-12 meses); infância posterior (1-2 anos). Após o nascimento a mãe ainda é muito

importante na vida do bebê e deve manter os mesmos cuidados realizados durante a gestação,

pelo menos período neonatal, período que a alimentação deve ser o leite materno. Até os dois

anos, o bebê tem a evolução dos movimentos reflexos para os movimentos rudimentares, ou

seja, dos movimentos em busca de alimentação e proteção para os movimentos intencionais,

que estão ligados à descoberta do novo mundo fora uterino.

A infância (2-10 anos) é dividida em três etapas: período de aprendizagem (2-3 anos);

infância precoce (3-5 anos); infância avançada (6-10 anos). Nesta etapa, ocorre o aumento

significativo do desenvolvimento geral da criança. É um período longo, de 8 anos, de

modificações físico/motora e afetivo/cognitivo. A criança ao passar do tempo torna-se mais

autônoma, porém não excluindo a importância dos pais. É um período de grande aprendizado

e transformação.

Na adolescência a puberdade delimita a classificação da idade, ficando divida para as

meninas em pré-pubescência (10-12 anos) e pós-pubescência (12-18 anos) e para os meninos

pré (11-13 anos) e pós (13-20 anos). Outra característica encontrada neste momento da vida

esta relacionada à diferença entre gêneros. A exemplo, tem-se os meninos com o

desenvolvimento maior da força enquanto as meninas tem maior flexibilidade.

Para conhecimento das outras faixas etárias perante a classificação convencional da

idade cronológica, a idade adulta perpassa de 20-40 anos, a meia-idade 40-60 anos e a terceira

idade de 60 anos em diante.

Page 21: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

20

Em relação ao desenvolvimento motor, para Gallahue e Ozmun (2005), este ocorre

por fases. Para cada fase existem características específicas relacionados à faixa etária e seu

estágio de desenvolvimentos, como pode ser visto no quadro abaixo:

Fase Motora

Características Faixa etária aproximada

Estágio de desenvolvimento

Período uterino até 4 meses

Estágio de codificação

de informação

F

ase

Mot

ora

Ref

lexa

Ações involuntárias controladas subcorticalmente. Reflexos primitivos em busca

de alimentos e proteção. Reflexos posturais são

involuntários e similares aos comportamentos voluntários

posturais.

de 4 meses a 1 ano Estágio de

decodificação de informação

do nascimento até 1 ano

Estágio de inibição de reflexos

Fas

e M

otor

a R

udim

enta

r Movimentos involuntários em evolução para os voluntários.

Envolvem movimentos estabilizadores de controle corporal, manipulativos e

locomotores. de 1 a 2 anos

Estágio de pré-controle

de 2 a 3 anos Estágio inicial

de 4 a 5 anos Estágio elementar

Fas

e M

otor

a F

unda

men

tal

Descobertas e experimentações das capacidades motoras. A evolução dos movimentos

rudimentares passa por discretos, em séries e

combinados. Correr e pular, arremessar e apanhar, andar

com firmeza e se equilibrar em apenas um pé.

de 6 a 7 anos Estágio maduro

de 7 a 10 anos Estágio transitório

de 11 a 13 anos Estágio de aplicação

Fas

e M

otor

a E

spec

ializ

ada

Aperfeiçoamento da fase fundamental. As habilidades estabilizadas, locomotoras e manipulativas progridem nas

atividades diárias, recreativas e esportivas. Interdependência

de diversos fatores intrínsecos e extrínsecos.

14 anos em diante Estágio de utilização

permanente

Quadro 1: características das fases motoras.

A partir da divisão das fases de desenvolvimento, consegue-se perceber a relação

existente entre cada momento. Assim, entende-se que o processo de formação humano, aqui

pensando o da criança, é contínuo e interdependente, ou seja, além do aspecto físico/motor,

existe o ambiente, a convivência, os amigos, a região em que vive, etc. E seguindo com os

Page 22: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

21

estudos, a partir dos aspectos gerais da infância, dar-se-á maior caracterização do foco dos

estudos à infância avançada.

2.1.2. Características da infância avançada

A infância avançada é constituída por crianças de 6 a 10 anos de idade, porém,

apenas a faixa etária compreendida entre 7 a 10 anos será levada em consideração. Pois, é

justamente este grupo, que antecipa a adolescência e também chamado de pré-adolescência,

que se encontra com os movimentos fundamentais desenvolvidos e ainda não existem grandes

diferenças especificas entre gêneros.

Outro motivo para a escolha desta faixa etária é que, segundo Gallahue e Ozmun

(2005), as crianças de 7 a 10 anos encontram-se no estágio transitório dentro da fase motora

especializada. Neste estágio, as crianças colocam em prática os movimentos fundamentais –

vivenciados nas outras fases – em combinações, ou seja, os movimentos neste momento são

mais controlados e competentes.

As crianças desta faixa etária, por estarem em formação, tanto física como cognitiva,

precisam de atividades lúdicas que explorem ao máximo todas as qualidades motoras,

quantitativamente e qualitativamente.

As características que representam as crianças entre 7 e 10 anos de idade perpassam

pelo interesse em jogos de grupo e de disputa, mostrar a força, teatralizar atividades

descritivas, sabem o que querem, ouvem as explicações sem dificuldades, conseguem seguir

ritmos, dentre outras.

Para a iniciação na capoeira é bastante comum que crianças com esta faixa etária se

interessem e sempre a partir de grupos de amigos, pois outra característica desta faixa etária é

fazer parte de um grupo de pessoas que tenham um mesmo interesse. Devido aos movimentos

naturais já estarem definidos e apreendidos, nesta idade pode-se iniciar movimentos

específicos da capoeira, com repetições para aperfeiçoamento, todavia mantendo a ludicidade

como foco central, devido ao processo de formação do corpo destas crianças não estar

completo.

2.2. CAPOEIRA

2.2.1. Um breve histórico

Page 23: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

22

A discussão sobre a origem da capoeira atualmente é bem reduzida, devido a grande

parte dos praticantes e pesquisadores a reconhecerem como afro-brasileira, ou seja, trazida

pelos africanos, através de danças, lutas, gestos, e criada em solo brasileiro, no Período da

Escravidão.

“No caso da capoeira, tudo leva a crer que seja uma manifestação dos africanos no Brasil, desenvolvida por seus descendentes afro-brasileiros, tendo em vista uma serie de fatores colhidos em documentos escritos e sobretudo no convívio e dialogo constante com os capoeiras atuais e antigos que ainda vivem na Bahia, embora, em sua maioria, não pratiquem mais a capoeira devido a idade avançada.” (REGO, 1968, apud ZULU, 1995 p.31).

A capoeira no Brasil pode ser estudada e contada por momentos ou fases. Uma

dessas fases é o surgimento da Capoeira Regional. Até o aparecimento da mesma, a capoeira

era simplesmente capoeira e a partir do surgimento da Luta Regional Baiana, ou seja, a

Capoeira Regional, a primeira passa a ser conhecida por Capoeira Angola.

A Capoeira Angola, mais antiga, tem como grande representante Vicente Ferreira

Pastinha, o Mestre Pastinha (1889-1981). Para descrição deste mestre, Jorge Amado assim o

faz:

“é um mulato pequeno, de assombrosa agilidade, de resistência incomum. Quando êle começa a “brincar”, a impressão dos assistentes é que aquêle pobre velho, de carapinha branca, cairá em dois minutos, derrubado pelo jovem adversário ou bem pela falta de fôlego. Mas , ah! ledo engano! nada disso se passa. Os adversários sucedem-se, um jovem outro jovem, mais outro jovem, discípulos ou colegas de Pastinha, e êle os vence a todos e jamais se cansa, jamais perde o fôlego, nem mesmo quando dança o “samba de Angola””. (AMADO, 1973, p.169)

Amado (1981, p. 253), continua a descrevê-lo “mestre de capoeira de Angola e da

cordialidade baiana, ser de alta civilização, homem do povo...” “Toda vez que eu assisto a

esse homem de oitenta e cinco anos, cego e hemiplégico, jogar capoeira, dançar samba, exibir

sua arte com o elã de um adolescente, sinto toda a invencível força do povo da Bahia,...”.

A Capoeira Angola permaneceu com as características da “verdadeira capoeira”, a

mais antiga ou a “capoeira tradicional”, com movimentos rasteiros, golpes lentos e ginga

maliciada. Mesmo com estas características, a Capoeira Angola foi descrita como “sem

dúvida, a capoeira Angola se assemelha a uma graciosa dança onde a ‘ginga’ maliciosa

mostra a extraordinária flexibilidade dos capoeiristas. Mas, Capoeira Angola é, antes de tudo,

luta e luta violenta” (PASTINHA, 1964, apud FALCÃO e VIEIRA, 1997, p.20).

Page 24: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

23

No mesmo período, outro nome bastante importante como o de Mestre Pastinha, é o

de Manoel dos Reis Machado (1899-1974), o Mestre Bimba, o criador da Capoeira Regional.

Mestre Bimba foi um negro alto e lutador de ringue que na década de 30 sistematizou a

capoeira.

A partir da capoeira já existente, inseriu-se toda uma metodologia de ensino com

Curso de Capoeira Regional, Curso de Especialização, Curso de Cintura Desprezada (técnicas

de agarramento e projeção) e Sequência de Ensino (oito sequências para ser praticadas nas

aulas).

Mestre Bimba com a criação da Capoeira Regional, sistematizada, deu início ao

ensino em academias (em 1932 foi criada o Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da

Bahia e foi autorizada oficialmente em 1937). Segundo Falcão (1996), com a sistematização

e a autorização, a capoeira passa da camada popular para a camada dominante e assim

diminui sua perseguição.

Este é outro marco, pois o decreto nº. 487 do Código Penal Brasileiro de 1890,

proibia a prática da capoeira, no capítulo XIII, “Dos Vadios e Capoeira”:

Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação Capoeiragem; andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta ou incutindo temor de algum mal. Pena: prisão celular de 2 (dois) a 6 (seis) meses. A penalidade é a do art. 96. (BRASIL, 1980)

A capoeira atualmente recebe mais uma nomenclatura, a Capoeira Contemporânea,

ou seja, os grupos que ensinam a Capoeira Angola e a Capoeira Regional em suas atividades.

Porém sem especificidade e sim esclarecendo as diferenças e as contextualizando. No entanto,

ainda é comum encontrar quem diga que ensina somente a Angola ou a Regional.

2.2.2. Capoeira e suas valências motoras

A capoeira certamente possui possibilidades de desenvolvimento das

valências/qualidades motoras. Ao praticá-la, percebe-se nitidamente o aumento de força,

flexibilidade, equilíbrio, coordenação, agilidade, etc. A capacidade de desenvolvimento das

valências motoras é possível para todos os praticantes, sejam crianças, jovens, adultos, idosos

ou portadores de deficiência.

Page 25: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

24

A melhora ocorre diferentemente de uma pessoa para outra. Pode ser lenta ou

rapidamente, dependendo da prática ou da característica do praticante e ainda da quantidade

de vezes que se é praticado o movimento.

As valências motoras relacionadas à capoeira podem ser percebidas separada ou

conjuntamente em um mesmo movimento. A exemplo pode-se pensar na ginga2, que é o

movimento que antecede todos os outros no jogo da capoeira. Isoladamente pode-se perceber

que a prática da ginga auxilia no equilíbrio, através das trocas de posição. Em conjunto,

utilizam-se força, velocidade, agilidade, equilíbrio, etc. ao realizar as trocas de posição

preparando a esquiva, golpes ou qualquer outro movimento.

Simas (1986) cita as resistências aeróbia, muscular e muscular localizada, a

flexibilidade, as velocidades de reação, de deslocamento e dos membros, as forças estática e

explosiva, a agilidade, os equilibrios dinâmico, estático e recuperado, a coordenação, o ritmo

e a descontração diferencial como qualidades físicas desenvolvidas pela capoeira.

Neto (2001) realizou os testes de Imobilidade (equilíbrio estático), Marcha

Controlada (equilíbrio dinâmico), Auto-Imagem (noção do corpo), Estruturação Rítmica

(estruturação espaço-temporal), Coordenação Óculo-Manual (praxia manual), Coordenação

Óculo-Pedal (praxia pedal), Tamborilar (praxia fina) para verificar os benefícios psicomotores

da capoeira em crianças de 4 a 6 anos. Entre os testes realizados no referido estudo, nos testes

de Imobilidade, Marcha Controlada, Auto-Imagem e Estruturação Rítmica, os alunos

praticantes de Capoeira apresentaram resultados superiores aos não praticantes.

Apesar dos poucos estudos existentes sobre os benefícios a cerca da capoeira,

comparados com as outras modalidades esportivas ou com as pesquisas históricas e

metodológicas sobre a capoeira, os existentes comprovam o que é visível aos praticantes, ou

seja, seu potencial de desenvolvimento.

Já sobre agilidade, tema deste estudo, não foi encontrado estudo realizado com

capoeiras, desta forma, este que pode ser o primeiro estudo desta origem partirá das

definições da agilidade e a relação com a capoeira, para enfim, buscar em crianças praticantes

a possível diferença em comparação com os não praticantes.

2.3. AGILIDADE

2 A ginga é realizada a partir da posição anatômica, uma das pernas deverá ser estendida e outra flexionada ao mesmo tempo em que o braço contrário da perna flexionada, será flexionado com uma leve rotação e flexão do cotovelo e ainda uma semi-flexão da coluna, no intuito de equilibrar o corpo e proteger a face. O movimento completo acontece com a troca de posição entre as pernas e braços passando pelo centro, posição anatômica.

Page 26: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

25

2.3.1. Conceitos e Características

A agilidade divide opinião de autores enquanto conceito. Segundo estudo de Gorgatti

e Bohme (2003), baseado em diversos autores, a agilidade pode ser definida como:

• “Capacidade de mudar rapidamente a direção do corpo ou de partes do corpo” 3;

• “Uma variável neuromotora, caracterizada pela capacidade de realizar trocas rápidas de

direção, sentido e deslocamento da altura do centro de gravidade de todo o corpo ou parte

dele” 4;

• “A capacidade de mudar de direção sem perda de velocidade, força, equilíbrio ou controle

do corpo.” 5;

• “Coordenação dos grandes grupos musculares do corpo em uma atividade particular.” 6;

• “Uma capacidade motora coordenativa complexa muito importante nas atividades

esportivas e altamente dependente de capacidades motoras condicionais como força e

velocidade.” 7.

Para Gallahue e Ozmun (2005) “A agilidade é a habilidade de alterar a direção do

corpo rápida e precisamente. Com a agilidade, podem-se fazer alterações rápidas e precisas na

posição do corpo durante o movimento”. (p. 303)

Tubino (1992) e Dantas (1998) se assemelham quando relacionam a agilidade com a

mudança de direção do corpo no menor tempo possível.

As características a cerca do conceito da agilidade estão, por varias vezes, voltadas à

velocidade e a mudança de direção. A estas características, relacionam-se algumas valências

físicas. Rodrigues (2007), ao buscar maior entendimento sobre a agilidade, sugere que a

velocidade de reação, velocidade de decisão e velocidade de deslocamento, além da

coordenação são valências físicas que interferem na agilidade.

Weineck, 2003, apud Rodrigues, 2007, separa a velocidade de reação em período

latente – desde a excitação de um receptor até a chegada no músculo – e tempo de reação – da

excitação do músculo até a atividade motora em si.

Gallahue e Ozmun (2005) descrevem que o tempo de reação (quantidade de tempo

decorrido desde o sinal de largada até os primeiros movimentos do corpo) e o tempo motor

3 Baumgartner e Jackson, 1995 ; Johnson e Nelson, 1979; Stanziola e Prado, 1982. 4 Marins e Giannichi (1988). 5 Costello e Kreis (1993). 6 Barrow e McGee (1978). 7 Thiess, Schnabel & Baumann (1980).

Page 27: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

26

(tempo decorrido desde o movimento inicial até o término da atividade), influenciam a

velocidade motora e a agilidade, e tende a avançar de forma linear na infância.

A partir destas constatações, percebe-se que a agilidade é a valência final ou geral,

partindo do princípio que para aprimorá-la, tem-se que levar em consideração todos os fatores

(valências) a sua volta.

Quando se fala em velocidade, Rodrigues (2007), contribui com o esclarecimento

dos fatores determinantes da velocidade, que são: tipo de fibras muscular (fibras lentas,

intermediárias ou rápidas); Coordenação intramuscular (força dinâmica); Coordenação

intermuscular (harmonia entre músculos agonistas e antagonistas); Temperatura corporal (o

aumento do calor corporal pode fazer a velocidade melhorar em 20%); Glicólise Anaeróbia (o

corpo degrada glicose e produz ácido lático e quanto mais rápido for a remoção destes

elementos,por mais tempo será possível permanecer em velocidade); ATP-CP (treinamentos

específicos para as fibras de contração rápida aumentam o armazenamento destas substâncias

nos músculo); Flexibilidade (mobilidade articular e elasticidade muscular impedem a

frenagem dos músculos antagonistas); viscosidade dos músculos (estão ligados a reservas de

ATP, hiperacidez e ao calor).

A coordenação motora também é de suma importância para o desenvolvimento da

agilidade. Weineck (1989) assimila as capacidades coordenativas com destreza e Rodrigues

(2007) com “habilidades”. E ainda afirmam que estas capacidades habilitam aos praticantes

de uma modalidade, dominar segura e economicamente ações motoras previsíveis

(estereotipadas) ou imprevisíveis (adaptativas) e ainda aprender rapidamente os movimentos

da modalidade.

Ainda em relação à coordenação motora, Weineck (1989) separa-a em coordenação

“gerais e especiais”, na qual a primeira está ligada aos movimentos da vida cotidiana e que se

apresentam em diferentes esportes, já o segunda desenvolvem-se na modalidade específica,

diretamente relacionada à técnica.

Outro fator importante relacionado à coordenação, ainda segundo o autor citado

acima (1989, p. 175), estão às capacidades de análises. “Os analisadores são sistemas parciais

da percepção sensorial que recolhem informação sobre a base de sinais de uma qualidade bem

determinada, recodificam-nas, transmitem-nas e as elaboram.”

Zaciorskij (1972) e Schnabel (1977) apud Weineck (1989) afirmam que os

analisadores, cinco, fazem parte do sistema nervoso central estando ligados às vias nervosas e

centros sensoriais.

Page 28: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

27

Os analisadores são: os analisadores cinestésicos, localizado nos músculos, tendões,

ligamentos e articulações, regulam os parâmetros espaciais e temporais. O analisador tátil,

localizado na pele, está ligado ao tato. O analisador estático-dinâmico, localizado no vestíbulo

do ouvido interno, informam os movimentos da cabeça. O analisador óptico, olhos,

caracteriza-se pela visão central e periférica. E o analisador acústico, com papel subordinado,

devido à limitação da informação dos sinais acústicos durante o movimento.

Outros aspectos presente nas definições de agilidade são a direção e o centro de

gravidade (CG). O CG está relacionado ao corpo, ao qual contem uma massa que é

multiplicada pela aceleração da gravidade (9,81 m/s2) e passa a ser o peso do corpo. Assim,

segundo SCHOPPING (2003, p. 8), CG “nada mais é que o "ponto de aplicação" da força

gravitacional (peso)” e que determina o ponto de equilíbrio.

À medida que o corpo se desloca para qualquer direção, o CG tende a modificar-se,

mesmo que este seja relacionado à posição vertical, devido à força gravitacional atuar de cima

para baixo, atraindo as “massas” para a Terra. Desta forma, a agilidade que é medida pela

mudança de direção em velocidade, nos possibilita afirmar que a mudança do CG de um

corpo e o retorno ao equilíbrio é o que importa para a verificação da existência da agilidade.

Assim, após este estudo inicial, levando em consideração as características da

agilidade, seus influenciadores e o que se relaciona a eles, construiu-se o quadro abaixo,

apresentado toda a sua plenitude:

Fatores influenciadores da agilidade

Aspectos relacionados aos fatores

influenciadores da agilidade

Fatores influenciadores da

velocidade Velocidade de

reação e de deslocamento

(tempos de reação e motor)

Período latente – Sistema Nervoso Central

Tempo de reação – Atividade mecânica

AG

ILID

AD

E

VE

LOC

IDA

DE

Tipo de fibra muscular ;

coordenação

intramuscular e

intermuscular;

temperatura corporal;

glicólise anaeróbia;

magnitude de ATP-CP;

flexibilidade; viscosidade

dos músculos.

Velocidade acíclica

Movimentos isolados dependentes da potencia

(força rápida)

Page 29: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

28

Sistema Nervoso Central Analisadores cinestésico, tátil, estático-dinâmico,

óptico e acústico.

Desenvolvimento Motor Memória motora

CO

OR

DE

NA

ÇÃ

O

Direção / Centro de gravidade Equilíbrio

Quadro 2: A agilidade e seus influenciadores.

A importância da agilidade nos esportes é algo indiscutível. O seu desenvolvimento

acontece gradativamente e para isso existem diversos treinamentos. Os treinamentos são

específicos – velocidade, força, etc. – e diferenciados para cada faixa etária e modalidade.

Diversos estudos são realizados nas diversas modalidades para conhecerem-na melhor. E a

partir desses estudos, busca-se aproximar e compreender a agilidade na prática da capoeira.

2.3.2. O jogo ágil da capoeira

A capoeira surgiu na época da escravidão, sendo utilizada como luta. Em combate,

uma pessoa não sabe o que vira pela frente, da mesma forma, quando um escravo a utilizava

para se defender, utilizava do improviso como arma para derrotar alguém.

Em livros que descrevem o surgimento da capoeira e a “libertação da escravidão”,

uma qualidade motora evidente descrita ao descrever a fuga e luta dos negros é a agilidade. E

tanto que no decreto de 1890 que proíbe o jogo da capoeira, a referida qualidade motora é

novamente descrita “fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade...” 8.

Atualmente, quando a capoeira é jogada, o jogo continua a ser realizado com

improvisos sem saber quais os movimentos que serão realizados. Salvo exceções, como

apresentações, onde o jogo pode ser combinado ou até realizado de forma individual, para

simples demonstração de movimentos.

Entendendo que para se jogar capoeira, o praticante deve esquivar-se dos golpes e

movimentar-se para surpreender seu adversário, a agilidade encontra relevância ainda maior,

nessa cultura. Assim quem mostrar maior capacidade de mudar seu corpo de direção

rapidamente, para esquivar ou atacar durante o jogo, conseguirá dominar o jogo, ficar mais

confortável, ditar o “ritmo” e por fim ser mais ágil.

8 Grifo meu.

Page 30: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

29

A literatura existente que aborde o lado técnico desta arte/luta ainda é incipiente, ao

contrário das pesquisas históricas e pedagógicas. Assim, tentar-se-á dar características que

envolvam a capoeira e a agilidade de forma simples e não técnica, uma vez que ainda esta

sendo estudado sobre este tema para então poder realizar reflexões mais precisas e técnicas.

A agilidade na capoeira pode ser analisada, como acontece comumente, através de

uma metáfora. Um diálogo. Neste, no momento que um capoeira realiza um golpe/movimento,

chama-se de pergunta e assim que o outro se esquiva, ou realiza outro movimento dando

continuidade ao jogo, chama-se de resposta e desta maneira dar-se ao o jogo da capoeira o

nome de “diálogo de corpos”.

Ainda na metáfora do diálogo dos corpos, imagina-se uma boa discussão daquelas

que parece não ter fim, então, pode-se observar um jogo de capoeira com tamanha

“malandragem” 9 que não se consegue imaginar quem domina o jogo, o que acontecerá a

seguir, fazendo com que cada jogador fique o mais atento possível para realizar movimentos

ágeis e por fim não interromper o diálogo.

Ao analisar o jogo da capoeira sobre o aspecto físico, torna-se ainda mais fácil

visualizar a relevância e a importância da presença da agilidade neste jogo. Os movimentos da

capoeira fazem o CG alterar a cada momento. As esquivas fazem o CG abaixar, ao mesmo

tempo em que servem para escapar dos golpes, percebidos pela acuidade visual e analisadores

ópticos. Os golpes buscam o oponente à frente (comumente), podendo também buscar atrás

ou ao lado, enfim, em qualquer direção. Os movimentos são realizados com giros (circular) ou

retos (em linha). E todos estes acontecimentos alteram o CG.

Para melhor entender a complexidade da capoeira, em termos de CG e agilidade,

pensa-se o Rabo de Arraia 10. Neste golpe, com intuito de acertar o alvo (com o pé) que esta

na parte ântero-superior (cabeça), a jogador põe-se (cabeça, troco e membros superiores) para

o lado ínfero-posterior, erguendo uma das pernas em direção ao alvo e realizando um giro

sobre o eixo (outra perna). Este e todos os movimentos são realizados a partir da ginga, que

por si só, já altera o CG, e ainda em velocidade variada para surpreender o outro jogador.

Enfim, o que se encontra a cerca da agilidade na capoeira são livros que apenas citam

a presença da mesma nos jogos ou referenciam os jogadores por possuírem tal qualidade

motora. Como em Moura (1979, apud Brito, 2003), quando diz que “O capoeirista ágil

9 Malandragem no sentido da capoeira significa agilidade, mandinga, fazer de conta que vai fazer uma coisa e faz outra. 10 Nome dado a um golpe realizado na capoeira. Pode ser encontrado com outros nomes. Ver representação do golpe em anexo.

Page 31: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

30

desvia-se, em tempo oportuno, dos golpes do adversário e não se deixava prender em nenhum

deles”.

Portanto, este estudo caminha na direção de compreender as possibilidades da

capoeira no desenvolvimento da agilidade da criança em relação a não praticantes desta

manifestação. Tal fato, além de inédito, pela ausência de discussão bibliográfica a respeito do

tema, poderá tornar-se um referencial inicial para futuras pesquisas.

Page 32: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

31

3. METODOLOGIA

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Este trabalho se desenvolveu através de uma pesquisa exploratória que se

caracterizou, de acordo com (GIL, 1989, p. 44) “por desenvolver, esclarecer e modificar

conceitos e idéias, com vistas na formulação de problemas mais precisos ou hipóteses

pesquisáveis para estudos posteriores.”.

A percepção dos praticantes de capoeira de que a agilidade é aprimorada com as

práticas já é concretizada em conversas e vivências, porém o numero de estudos científicos

deste assunto ainda é pequeno ou quase inexistente, assim esta pesquisa foi de caráter

exploratório devido ao objetivo de confirmar e divulgar esta característica da capoeira.

A pesquisa ainda conta com a amostragem não probabilística, intencional, na qual o

interesse é segundo (MARCONI, 1990, p. 47) “na opinião (ação, intenção etc.) de

determinados elementos da população, mas não representativos da mesma.”.

A intenção de escolher o grupo a ser pesquisado se dá por conhecer o trabalho

desenvolvido para/com aquelas crianças, ou seja, atividades lúdicas, prazerosas,

enriquecedoras e com mais de 1 ano de prática sistematizada.

3.2. PARTICIPANTES DA PESQUISA

Participaram da pesquisa, praticantes e não praticantes de capoeira com idade entre 7

a 10 anos (infância avançada), de uma Instituição de Ensino Privada, localizada na Lagoa da

Conceição em Florianópolis (SC).

Na amostra intencional, participaram do estudo quatorze (14) praticantes de capoeira

com mais de um ano de prática e dezoito (18) não praticantes de nenhuma modalidade

esportiva além da educação física.

3.3. PROCEDIMENTO DE COLETA DE INFORMAÇÃO

Os testes foram realizados nas dependências da escola. O espaço utilizado para tal foi

a quadra poli - esportiva. Foi montada a estrutura do teste e testado antes de colocá-lo em

prática. Além da utilização dos equipamentos, foi necessário na aplicação dos mesmos, a

Page 33: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

32

colaboração voluntária do professor de capoeira do colégio e também de um acadêmico de

educação física.

3.4. TRATAMENTOS DOS DADOS

Os dados resultantes do testes foram tratados no programa Microsoft® Oficce for

Windows 2003 - Excel. Foram analisados as médias, desvios padrão e teste “t” de student

para os tempos parciais e total, além das idades dos participantes e tempo de prática dos

praticantes de capoeira. Utilizou-se do programa de estatistica SPSS 17.0.2, para confirmação

dos resultados e geração dos gráficos Box-Plot.

Os resultados obtidos através do teste de agilidade foram dados quantitativos e a

partir da análise dos mesmos, buscou-se interpretá-los qualitativamente relacionando aos

valores ao tema da pesquisa e responder teoricamente a questão do estudo. Assim, sua

abordagem foi caracterizada como mista, que segundo Creswell (2007, p. 222) “ocorre tanto

dentro da técnica quantitativa (análise descritiva e numérica inferencial) como da técnica

qualitativa (descrição e texto temático ou análise de imagem) e, muitas vezes, entre as duas

técnicas.”

3.5. TESTE DE AGILIDADE

Os testes de agilidades existentes em bibliografias são inúmeros. Porém em sua

grande maioria estes ainda são medidos com cronometragem manual, transpassando pela

sensibilidade humana no momento da coleta de tempo.

Monte (2007) explica como ocorreu a automatização de um dos testes de agilidade, e

que deu origem ao protocolo TATAM, um protocolo para o tênis. Esta automatização se fez

em sete anos. A partir do teste Shuttle Run, foram incrementados aparatos eletrônicos para a

automatização de sua tomada de tempo, porém não surtiu efeito esperado para a modalidade

em questão, o tênis. Desta forma foram criados testes de agilidade e velocidade com

movimentos similares ao jogo de tênis e que foram aprimorados de 2004 a 2007, ano que

Rodrigues (2007) verificou sua especificidade.

Em busca de um teste neutro e automatizado, ou seja, sem a especificidade de uma

modalidade esportiva e com mensuração eletrônica, Monte sugere um novo protocolo. E é

este que foi utilizada neste trabalho.

Page 34: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

33

3.5.1. Protocolo do teste de agilidade de Monte

3.5.1.1. Materiais

• 4 Sensores de passagem infravermelho;

• 1 Cronômetro eletrônico;

• 1 fita métrica – 10 metros;

• 3 Cones pequenos – 23 cm;

• 1 cone grande – 50 cm;

• Tabelas de anotação;

• 2 pranchetas;

• 2 canetas.

3.5.1.2. Procedimentos

Figura 1 – Ilustração do teste de agilidade de Monte em 2009.

O teste de agilidade de Monte, 2009, é inédito e consiste em testar a agilidade de

qualquer pessoa, sem a especificidade de uma modalidade esportiva.

Page 35: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

34

O esquema do teste, figura 1, apresenta duas linhas paralelas com distância entre si

de 10 metros a partir de seus bordos externos. Em uma das linhas ficam dispostos dois cones

(pequenos) equidistantes 2 metros, a contar dos bordos externos. Na outra linha é colocado

apenas um cone (grande), que coincida com o centro dos cones da primeira linha. A 5 metros

das linhas, no centro, é colocado um cone (pequeno) para identificação. E equidistante deste,

dois sensores de passagem do tipo infravermelho são colocados, paralelamente às linhas, na

lateral do percurso, de maneira que seus feixes de luz se cruzem. Outros dois sensores são

colocados perpendicularmente à linha, onde se encontra apenas o cone grande, com seu feixe

infravermelho cruzando-a.

Os sensores utilizados no teste de Monte são ligados a um cronômetro eletrônico

portátil a fim de gravar o tempo em cada passagem.

O teste foi realizado individualmente. O participante iniciou o teste ao lado de um

cone pequeno (marcado com um “X” na figura 1). Ao sinal sonoro emitido pelo cronômetro, o

participante correu em direção a linha oposta, contornou o cone grande retornando à primeira

linha. Captou-se três tempos (T1, T2, T3).

T1 equivale o tempo da partida até o cruzamento do primeiro feixe de luz, na reta; T2

inicia no primeiro feixe de luz e vai até o segundo feixe, na curva; e T3 conta a partir do feixe

da curva até o até o feixe de luz na reta, pelo outro lado de T1.

T1 está relacionado à atenção, velocidade de reação e aceleração, T2 é direcionado a

frenagem, ou seja, musculatura anterior da coxa como musculatura principal e T3 é o segundo

momento de aceleração ou re-aceleração e a musculatura principal trabalhada é a posterior na

coxa.

O teste foi realizado para os dois lados com três repetições para cada lado e intervalo

de no mínimo 2 (dois minutos) para descanso.

Page 36: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

35

4. ANÁLISES DOS RESULTADOS

Ao iniciar o processo de apresentação e discussão dos resultados, optou-se pela

utilização de siglas de abreviação a título de limitar as repetições de termos mais constantes

no processo de análise dos testes:

PC - Grupo de Praticante de Capoeira;

NP - Grupo de Não Praticantes;

TA - Tempo de Deslocamento no sentido Direito para Esquerdo;

TB - Tempo de Deslocamento no sentido Esquerdo para Direito;

DP – Desvio Padrão;

ms – milésimos de segundo (unidade de tempo para o teste de agilidade).

A tabela 1 apresenta as médias e os desvios padrão das idades dos participantes da

pesquisa e o tempo de prática dos capoeiras.

Tabela 1 – Média e desvio padrão das idades e tempo de prática dos participantes da pesquisa.

Sujeitos (n = 32) Idade (anos) Tempo de prática* (anos)

Média 8,21 2,03

Desvio padrão (±) 0,86 0,78

Mínimo 7 1

Praticantes de capoeira

(n = 14)

Máximo 9 4

Média 8,22 -

Desvio padrão (±) 0,71 -

Mínimo 7 -

Não praticantes

(n = 18) Máximo 9 -

* Somente para praticantes de capoeira.

O grupo participante da pesquisa mostrou-se homogêneo, pois, manteve uma média

de idade de 8,21 e 8,22 para os praticantes de capoeira e não praticantes respectivamente. A

idade mínima e máxima dos participantes da pesquisa foram 7 e 9 anos de idade, para ambos

os grupos. No entanto o estudo possibilitou o envolvimento de crianças entre 7 e 10 anos de

idade. Foram pesquisados 4 capoeiras com 7 anos, 3 com 8 e 7 com 9 anos de idade e ainda 3

não praticantes de capoeira com 7 anos, 8 com 8 e 7 com 9 anos de idade. Os capoeiras

Page 37: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

36

pesquisados mantiveram a média de 2,03 anos de prática, o dobro do tempo necessário para a

participação no teste (um ano).

O tempo de prática dos capoeiras ressalta a iniciação na modalidade ainda no período

de desenvolvimento das habilidades motoras básicas. E isto pode prevalecer no

desenvolvimento motor, como visto nos estudos de Neto (2001) e por conseqüência na

agilidade, uma vez que estes estão inter-relacionados.

Os NP foram crianças que no momento do teste não estavam participando de

nenhuma escolinha de modalidade específica, ou seja, estas crianças podem ter praticado

algum esporte em outro momento, mas neste ano, participavam apenas das atividades de

educação física.

Nesta escola, houve dificuldade de encontrar crianças que não fizessem nenhuma

escolinha de esporte. Pois, mesmo que atualmente estas crianças vivam numa realidade

informatizada e uma infância eletrônica, suas agendas são sempre comprometidas com

atividades extracurriculares. Normalmente as atividades complementares servem para

manterem as crianças ocupadas no mesmo momento que os pais estão trabalhando.

Seguindo as análises dos resultados, a tabela 2 possibilita a visualização dos

resultados obtidos por todos os pesquisados, separados por suas faixas etárias. As médias e

desvios padrão estão apresentados separadamente para ambos os lados TA e TB.

Tabela 2 – Médias e desvios padrão do tempo total das faixas etárias participantes do teste.

Sujeitos 7 anos

Tempo total (ms) 8 anos

Tempo total (ms) 9 anos

Tempo total (ms)

Média 5643 5591 5492 PC

DP (±) 434 208 508

Média 5651 5860 5669

TA Direita p/ Esquerda

NP DP (±) 313 457 363

Média 5960 5642 5546 PC

DP (±) 475 277 447

Média 5877 5873 5533

TB Esquerda p/ Direita

NP DP (±) 480 542 450

Page 38: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

37

Os PC avaliados com 7 anos de idade foram mais rápidos 8 ms do que os NP em TA,

enquanto em TB a diferença a favor de NP é de 83 ms. Para os avaliados com 8 anos, os PC

foram mais rápidos para ambos os lados e em TA a diferença foi de 269 ms e em TB de 231

ms. Aos testados com 9 anos, os PC levaram vantagem em TA de 177 ms, mas, foram mais

lentos em TB 13 ms.

Os DP etsão relacionados a dispersão da média, ou seja, quando menor o DP mais

homogeneo é o grupo. E para os PC de 8 anos de idade a variação de DP foi menor tanto para

TA como para TB. Já com 7 e 9 anos de idade os NP alcançaram o melhor DP em TA. E os

PC variaram menos seus DP com 7 e 9 anos de idade em TB.

Assim, através desta análise, verificou-se que os PC foram totalmente superiores

(melhor média e DP) aos NP com 8 anos de idade. E também alcançaram a melhor média com

7 e 9 anos em TA, apesar dos menores DP terem sido alcançados pelos NP. Por fim, em TB

com 7 e 9 anos, quem alcançou as melhores médias foram os NP, mesmo com os melhores

DP sendo dos PC.

Ao tentar entender os resultados anteriores, buscou-se a média do tempo de prática

de cada idade dos PC. Assim, os que se encontravam com 7 anos de idade estavam nesta

prática em média há 2,12 anos. Já os que tinham 8 anos de idade, participavam da modalidade

há 2,66 anos em média. Enquanto os que estavam com 9 anos de idade tinham 1,71 anos de

média de prática da capoeira. Desta forma, o fato dos alunos com 8 anos de idade praticar a

capoeira há mais tempo, em média, pode ser um fator explicativo para a leve melhora nos

tempos do teste, em comparação com as outras idades, que foram melhores em apenas um

sentido.

Outro possível fator é a melhor fase do testado em um momento específico do teste,

uma vez que os três momentos do teste de agilidade proposto por Monte, 2009, contém

características para medir a agilidade. Entretanto, em cada parcial existem especificidades a

serem analisadas. No primeiro momento, que consiste do sinal sonoro até a passagem pelo

primeiro sensor infravermelho é o período relacionado à velocidade de reação e o tempo

motor, que perpassam pela excitação de um receptor, com origem no analisador acústico

devido ao sinal sonoro emitido pelo cronômetro, chegando ao músculo e excitando-o para a

atividade motora propriamente dita, a corrida.

O segundo momento, que o testado já está correndo, inicia com o recebimento do

estímulo visual, através dos analisadores ópticos, com a visualização do cone que deve ser

contornado. Entram em ação os analisadores cinestésicos e estático-dinâmico, responsáveis

Page 39: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

38

por regular os espaços e o equilibrio, para então as musculaturas anteriores da perna,

agonistas na frenagem, entrarem em funcionamento para iniciar a curva.

O terceiro momento é semelhante ao segundo, no entanto a diferença está na

musculatura que entra em ação como agonista que neste momento são os músculos

posteriores. Deve-se levar em consideração que o sentido da curva, faz diferença para qual

musculatura será especificamente a agonista e antagonista.

Assim, a tabela 3 mostra os resultados totais (médias e desvios padrão) de todos os

PC e NP sem discriminação por idade e a medida parcial do teste (T1, T2 ou T3), com a

possibilidade de identificar em que parcial quem foi o mais rápido.

Tabela 3 – Médias e desvios padrão do tempo total e das parciais (T1, T2, T3) de ambos os grupos.

Sujeitos Tempo total

(ms) 1ª parcial - T1

(ms) 2ª parcial – T2

(ms) 3ª parcial - T3

(ms)

Média 5557 2129 1417 2010 PC

DP (±) 443 193 179 255

Média 5751 2009 1531 2209 TA

NP DP (±) 412 150 160 257

Média 5685 2222 1417 2045 PC

DP (±) 461 207 137 282

Média 5742 2035 1557 2148 TB

NP

DP (±) 524 213 150 250

Os valores encontrados pelos PC no tempo total foram menores do que os valores

dos NP. Em TA, o grupo PC foi 194 ms mais rápido que NP e em TB, a diferença foi de 57

ms. Para os valores da 1ª parcial, PC foi mais lento 1120 ms em TA e 187 ms em TB. Na 2ª

parcial, os PC foram mais rápidos 114 ms em TA e 140 ms em TB. Na 3ª parcial, novamente

os PC foram mais rápidos, desta vez 199 ms em TA e 103 ms em TB.

Os DP nesta tabela mostram uma pequena variação a cada momento entre os grupos

participantes. O valor mais alto encontrado foi de 43 ms para T3 de TB. E o menor valor foi

de 6 ms em T1 de TB. Este fato, caracteriza a não significância das variações pelos DP.

Page 40: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

39

Desta forma, os NP foram mais rápidos na 1ª parcial para ambos os lados, porém os

PC levaram vantagens nas duas parciais seguintes, alcançando um melhor tempo final do que

os NP em TA e TB.

Ao relacionar estes valores com as características do teste de agilidade proposto por

Monte, 2009, pode-se analisar que o grupo PC teve maior dificuldade em manter a atenção

para a primeira etapa do teste, ou ainda, que sua aceleração a partir da velocidade de reação

não foi suficientemente desenvolvida.

As fases T2 e T3 do teste são os momentos da agilidade propriamente dita. Pois o

participante que já está em velocidade deve trocar de direção o mais rapidamente possível.

Nestes momentos, os PC foram melhores e mais rápidos do que os NP, o que significa que de

forma geral, sua agilidade está mais desenvolvida do que os NP. Todavia é necessário

verificar se a diferença entre os tempos dos participantes do teste são relevantes.

Antes, para melhor visualizar os resultados encontrados, a figura 2 mostra o gráfico

tipo box-plot com as médias dos tempos totais dos grupos PC e NP para ambos os lados. No

gráfico, percebe-se que as linhas horizontais dentro dos retângulos, que indicam as médias,

estão praticamente na mesma linha, indicando uma proximidade dos resultados. O tamanho

dos retângulos que mostram a porcentagem dos resultados (50%), ou seja dos 25% aos 75%

dos tempos, indicam a variação do resultado da amostra e os PC de capoeira levam ligeira

vantagem. Já as linhas verticais mostram os valores mínimos e máximos dos tempos

participantes e novamente encontram-se sem grandes diferenças.

Figura 2 – Gráfico Box-Plot do tempo total representando valores mínimo, máximo, médio e 50%.

Page 41: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

40

A tabela 4 mostra justamente a soma das duas parciais que os PC foram melhores, T2

e T3. Para TA, os PC foram mais rápidos 313 ms do que NP e 244 ms para TB. Novamente os

DP não seguiram os resultados dos tempos alcançados por cada grupo. Assim, os menores DP

para os dois lados foram menores para o grupo NP.

Tabela 4 – Médias e desvios padrão do somatório T2 + T3.

Sujeitos T2 + T3 (ms)

Média 3428

PC DP (±) 360

Média 3741 TA

NP DP (±) 293

Média 3462 PC

DP (±) 390

Média 3706 TB

NP DP (±) 346

Os valores encontrados na soma de T2 e T3 que representa a parte de maior agilidade

do teste proposto por Monte são menores em PC. Para verificar esta diferença, novamente

utiliza-se do gráfico box-plot para representar os referidos valores.

As linhas horizontais, dentro dos retângulos, que representam as médias da soma de

T2 e T3, deste gráfico não estão alinhadas como na representação do tempo total da figura 2.

O mesmo ocorre para as linhas horizontais das extremidades (mínima e máxima) que

representam o menor e maior valor encontrado nos grupos pesquisados. Para os retângulos,

que representam os 50% dos testados (entre 25% e 75%), o maior é o grupo PC em TB, que é

justamente o que encontra maior DP.

Page 42: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

41

Figura 3 – Gráfico Box-Plot da soma de T2 eT3 representando valores mínimo, máximo, médio e 50%.

A diferença entre os resultados dos PC e NP é relativamente pequena, quando

relacionada ao tempo final e/ou parcial alcançados no teste de agilidade. Assim, para saber se

existe diferença significativa entre os avaliados, utilizou-se o teste estatístico “t” student para

amostras independentes, para os tempos total e parcial (T2 + T3), como mostra a tabela 5.

Tabela 5 – Resultados do teste “t” student referente ao teste de agilidade para as variáveis total e T2 + T3

Praticantes de capoeira Não praticantes

Variáveis Média DP (±) Média DP (±)

p

TA (total) 5557 443 5751 412 0,115

TB (total) 5685 461 5742 524 0,377

TA (T2 + T3) 3428 360 3741 293 0,008*

TB (T2 + T3) 3462 390 3706 346 0,043*

* p ≤ 0,05.

Em TA (total) e TB (total), o tempo decorrido no teste de agilidade não teve

diferença significativa entre os PC e NP, como demonstram os resultado de p para TA 0,115 e

para TB 0,377. Já no somatório das parciais T2 e T3, os resultados encontrados mostram que

Page 43: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

42

existe diferença significativa entre TA e TB com p = 0,008 e p = 0,043 respectivamente entre

os grupos PC e NP.

Havendo diferença significativa nos dois momentos mais ágeis do teste, T2 e T3, por

ser o momento de velocidade e mudança de direção especificamente, pode-se constatar que a

capoeira possibilita maior agilidade em comparação com os que não praticam nenhuma

escolinha de modalidade específica. Todavia, em relação ao primeiro momento do teste, ao

qual os NP obtiveram a melhor marca, não se pode afirmar que os PC tenham uma melhor

concentração ou que obtenham melhor força reação.

Page 44: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

43

5. CONSIDERAÇÕES

Este estudo foi realizado com o objetivo de verificar se a capoeira possibilita o

desenvolvimento da agilidade em seus praticantes com idade entre 7 e 10 anos de idade. Para

a realização da pesquisa, utilizou-se o protocolo proposto por Monte em 2009. A pesquisa foi

realizada com praticantes de capoeira com mais de um ano de prática e com crianças que

neste ano não participaram de nenhuma escolinha de esportes. A partir do pesquisado obteve-

se os resultados e as considerações descritas a seguir.

O teste de agilidade de Monte, 2009, que utiliza sensores de passagem infravermelho

para medir o tempo, em milissegundos, dos participantes da pesquisa foi essencial para o

estudo, como planejado. Pois, a mensuração de tempo eletronicamente, possibilitou a precisão

dos resultados sem o possível erro humano, como o que ocorre ao utilizar cronômetros

manuais. Além da mensuração das parciais que atribuiu a melhor desempenho para

determinado grupo em cada parte do teste.

Os resultados apresentaram que os praticantes de capoeira foram mais rápidos do que

os não praticantes, porém com uma diferença muito pequena de apenas 57 ms (0,057

segundos) para o lado TB, ou seja, da esquerda para a direita. Para o lado TA, direita para

esquerda, o valor encontrado também foi maior para os praticantes de capoeira e atingiu 194

ms (0,194 segundos). Estes valores tão baixos não apresentaram diferença significativa no

teste “t” com p = 0,115 para TA e p = 0,377 para TB.

A partir da constatação de que houve melhor resultado para os praticantes de

capoeira, porém, não significativo, buscou-se encontrar em quais parciais esta diferença foi

maior. Assim, encontrou-se no somatório das duas últimas parciais do teste, T2 e T3, os

melhores momentos dos praticantes de capoeira.

Eles foram mais rápidos 313 ms (0,313 segundos) em TA e também mais rápidos 244

ms (0,244 segundos) em TB. Estes valores também pequenos, porém relacionados a apenas

dois momentos do teste foram significativamente diferentes no teste “t” . O valor para TA foi

de p = 0,008 e de p = 0,043 para TB

As características do teste de agilidade de Monte, 2009, divide-o em três momentos.

Assim o primeiro que requer velocidade de reação, força de explosão e atenção, os não

praticantes de capoeira foram melhores. Todavia, os momentos seguintes são os momentos

mais ágeis do teste, momentos estes que requerem o uso da musculatura anterior da coxa para

frenagem, ao iniciar a curva e musculatura posterior para re-aceleração, os praticantes de

capoeira foram melhores.

Page 45: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

44

Assim, após estas constatações é possível afirmar que os praticantes de capoeira de 7

a 10 anos de idade pesquisados neste estudo foram mais ágeis do que os não praticantes de

capoeira. E também, a capoeira contribui para o seu desenvolvimento da agilidade em

crianças de 7 a 10 anos de idade.

Por fim, acredita-se ao final deste estudo que este teste deva ser realizado com outros

grupos para constatar se esta diferença na agilidade persiste com adolescentes, adultos e

outros. E também, que este teste possa ser realizado com crianças que pratiquem outro tipo de

escolinhas para verificar quais as modalidades que mais auxiliam neste desenvolvimento.

Page 46: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

45

6. REFERENCIAS

AMADO, J. Bahia de todos os santos: guia das ruas e dos mistérios da cidade de

Salvador. 25ª ed., São Paulo: Martins. 1973

AMADO, J. Bahia de todos os santos: guia de ruas e mistérios. 30ª ed., Rio de Janeiro:

Record 1981.

BRASIL, Decreto nº. 847, de 11 de outubro de 1890. Promulga o código penal. Lex: Coleção

de Leis do Brasil, V.10, pág. 2664, 1890. Código Penal.

BRITO, E. P. de, No Caminho do Mestre. 2ª. ed. atual. Trindade - GO: Artcrio. 2003.

CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2ª ed.,

Porto Alegre: Artmed, 2007.

DANTAS, E. H. M. A Prática da Educação Física. 4ª.ed., Rio de Janeiro: Shape, 1998.

FALCÃO, J. L. C.; VIEIRA L. R. Capoeira História e Fundamentos do Grupo Beribazu.

Brasília: Starprint Gráfica e Editora Ltda., 1997.

FALCÃO, J. L. C. A escolarização da capoeira. Brasília: Royal Court Editora, 1996.

GALLAHUE, D. L., OZMUN, J. C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês,

Crianças, Adolescentes e Adultos. 3. ed., São Paulo: Phoerte, 2005.

GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 2 ed., São Paulo: Atlas, 1989.

GORGATTI, M. G.; BOHME, M.T.S. Autenticidade Científica de um Teste de Agilidade

para Indivíduos em Cadeira de Rodas. Revista paulista de Educação Física, São Paulo,

17(1): 41-50, jan./jun. 2003.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 2ª. ed. São Paulo: Atlas, 1990.

Page 47: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

46

MONTE, A. MONTE, F. G. (2007). Testes de agilidade, velocidade de reação e velocidade

para o tênis de campo. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano.

Vol. 9 n. 4.

Disponível em: http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/rbcdh/article/view/4110/3470

Acesso em: 15 abril 2009.

NETO, P. C. O. (2001). O perfil de escolares da educação infantil, praticantes de capoeira,

em relação as variáveis psicomotoras. Uruguaiana, 53 f. Monografia (Graduação/Educação

Física) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio

Grande do Sul.

RODRIGUES, O. A. F. (2007). Teste de Agilidade para Tênis de Campo Proposto por

Monte (2004): Um Estudo Comparativo com Tenistas e não Tenistas. Tese

(Mestrado/Educação Física). Florianópolis, 94 f. Centro de Desportos, Universidade Federal

de Santa Catarina.

SCHOPPING, K. (2003). Centro de gravidade e equilíbrio dos corpos. Florianópolis, 39 f.

Trabalho de graduação. (Projeto de Pesquisa) – Curso de Física, Departamento de Física,

Universidade Federal de Santa Catarina.

SIMAS, L. A. N. Cultura e qualidade da luta da liberdade. Artus - Revista de Educação

Física e Desportos, Rio de Janeiro, v. IX , n. 17, p.30-32, 1986.

TUBINO, M. J.G. As Qualidades Físicas na Educação Física e Desportos. 10ª. ed., São

Paulo: IBRASA, 1992.

VIEIRA, L. R. O jogo da capoeira: cultura popular no Brasil. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.

WEINECK, J. Manuel do Treinamento Esportivo. 2. ed., São Paulo: Manole, 1989.

ZULU, Mestre. Idiopráxis de Capoeira. Brasília, Fundação Educacional do Distrito Federal,

1996.

Page 48: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

47

ANEXOS

Page 49: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

48

Pesquisa:

AGILIDADE: A CAPOEIRA CONTRIBUI PARA O SEU DESENVO LVIMENTO EM

CRIANÇAS?

Prezado Professor

Diretor Geral do Colégio da Lagoa

Estou realizando um trabalho de pesquisa que irá subsidiar meu trabalho de conclusão

de Curso de Graduação em Educação Física na UFSC, sob orientação do Professor Dr. Edison

Roberto de Souza. Para isto, gostaríamos de contar com a permissão deste conceituado

colégio para realizar um teste com alunos (8, 9, e 10 anos) praticantes e não praticantes de

capoeira, na perspectiva de analisar a agilidade dos mesmos.

Asseguramos que todas as informações prestadas serão sigilosas e utilizadas somente

para esta pesquisa. A divulgação das informações será anônima e em conjunto com os dados

obtidos dos sujeitos observados e entrevistados.

Esclarecendo que após conclusão do estudo remeteremos cópia do mesmo a esta

Unidade de Ensino.

No aguardo de vossa compreensão e autorização, antecipamos agradecimentos.

Atenciosamente,

Marcelo Braz Vieira Prof. Dr. Edison Roberto de Souza

Graduando em Educação Física Orientador

Page 50: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

49

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Senhores Pais

Sou aluno do Curso de Educação Física da Universidade Federal de Santa

Catarina – UFSC e estou realizando uma pesquisa para verificar a agilidade em

crianças de 7 a 10 anos praticantes e não praticantes de capoeira do Colégio da Lagoa.

Assim, gostaria de convidar o seu (sua) filho (a) para participar de um teste de

agilidade, que será realizada nas dependências da escola. Para tanto, pedimos a sua

autorização para a realização do teste com seu (sua) filho (a).

Anotaremos os dados com a garantia de que estas informações serão tratadas

como confidenciais, transformando-se em números em nossos registros para análise

dos dados. O teste consiste em correr e mudar de direção, com duração máxima de 15

(quinze) minutos, incluídos tempo de corrida e descanso.

A participação do seu (sua) filho (a) nesta pesquisa é voluntária e o mesmo

poderá desistir no momento que desejar. Lembrando que não há qualquer perigo no

teste a ser realizado.

Caso haja dúvida deixo meu contato Marcelo Braz Vieira (48) 8404-8580,

[email protected] para possíveis esclarecimentos.

Eu ................................................................................................................................................, portador do CPF ............................................................................ li o termo acima e concordo autorizando o meu filho ..................................................................................................... nascido em ........./........../.......... a participar do teste de agilidade.

Florianópolis, ......... de Maio de 2009

______________________________ Ass. Responsável

Page 51: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

50

FICHA DE COLETA DE DADOS

Nome: Data nasc.:

Esporte praticado: Tempo de prática:

Olhos: MMSS: MMII: Lado:

Nome: Data nasc.:

Esporte praticado: Tempo de prática:

Olhos: MMSS: MMII: Lado:

Nome: Data nasc.:

Esporte praticado: Tempo de prática:

Olhos: MMSS: MMII: Lado:

Esquerda p/ Direita Direita p/ Esquerda T1 T2 T3 T1 T2 T3

1a.

2a.

3a.

Esquerda p/ Direita Direita p/ Esquerda T1 T2 T3 T1 T2 T3

1a.

2a.

3a.

Esquerda p/ Direita Direita p/ Esquerda T1 T2 T3 T1 T2 T3

1a.

2a.

3a.

Page 52: Tcc 2009 Ufsc Marcelo Braz Vieira

51

REPRESENTAÇÃO GRÁFICA – RABO DE ARRAIA

11

11 Parte principal do golpe. A intencáão é acertar o alvo (com o pé), na parte ântero-superior (cabeça). O jogador põe-se (cabeça, troco e membros superiores) para o lado ínfero-posterior, erguendo uma das pernas em direção ao alvo e realiza um giro sobre o eixo (outra perna).