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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS FABIO MOREIRA MEIRA O PROCESSO DE GLOBAL SOURCING E SEUS IMPACTOS NO DEPARTAMENTO DE COMPRAS – UM ESTUDO DE CASO

TCC - Fabio Meira

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Page 1: TCC - Fabio Meira

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS

FABIO MOREIRA MEIRA

O PROCESSO DE GLOBAL SOURCING E SEUS IMPACTOS NO

DEPARTAMENTO DE COMPRAS – UM ESTUDO DE CASO

Limeira

2013

Page 2: TCC - Fabio Meira

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS

FABIO MOREIRA MEIRA

O PROCESSO DE GLOBAL SOURCING E SEUS IMPACTOS NO

DEPARTAMENTO DE COMPRAS – UM ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito parcial para a

obtenção do título de bacharel em Gestão

de Empresas à Faculdade de Ciências

Aplicadas da Universidade Estadual de

Campinas.

Orientador: Prof. Dr. Eric David Cohen 

Limeira

2013

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Page 3: TCC - Fabio Meira

FICHA CATALOGRAFICA – APÓS APROVAÇÃO

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Page 4: TCC - Fabio Meira

Autor: Fábio Moreira Meira

Título:O Processo de Global Sourcing e seus impactos no Departamento de

Compras – Um estudo de caso.

Natureza: Trabalho de Conclusão de Curso em Gestão de Empresas

Instituição: Faculdade de Ciências Aplicadas, Universidade Estadual de Campinas

Aprovado em: __/__/____

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Eric David Cohen – Orientador Presidente

Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/UNICAMP)

_______________________________________________________

Prof.

Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/UNICAMP)

Esse exemplar corresponde à versão final da monografia aprovada

___________________________________________

Prof. Dr. Eric David Cohen

Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/UNICAMP)

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Page 5: TCC - Fabio Meira

Dedico este trabalho a todos que fizeram parte desta incrível jornada pela Unicamp.

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Page 6: TCC - Fabio Meira

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por sempre ter me guiado em meus

momentos e me ajudado em minhas escolhas, mostrando o caminho correto para

alcançar meus objetivos.

Agradeço também a minha família, por sempre ter me dado o suporte

necessário para que minhas escolhas pudessem ter o resultado que eu almejava e

também por sempre estarem ao meu lado me apoiando e incentivando.

Aos meus professores orientadores, Prof. Dr. Luis Santa Eulália, que me

orientou no primeiro momento do meu TCC, me mostrando como eu deveria seguir e

dar andamento no meu trabalho e ao professor Dr. Eric David Cohen, que após a

saída de meu primeiro orientador, abraçou o meu projeto e me auxiliou na

finalização do mesmo.

Nessa linha, agradeço também a todos os professores da FCA que de alguma

forma contribuíram para a minha formação, sendo esta dentro ou fora da sala de

aula, e também aos funcionários desta unidade de ensino, por tornarem possível o

andamento das atividades acadêmicas e que de certa forma me auxiliaram, mesmo

que indiretamente, a concluir o curso.

Agradeço também aos meus amigos que fiz nesta universidade, pois me

acompanharam deste o começo dividindo os momentos bons e ruins neste período

de aprendizado, conquistas e descobertas.

E por fim, a equipe da CORI que tornaram possível o meu sonho de realizar

um intercâmbio acadêmico, e mais do que isso me possibilitou realizar dois

intercâmbios, sendo um para a City University em London e um segundo para a

Universidad de Jaén na Espanha, ambos com bolsa de estudos.

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Page 7: TCC - Fabio Meira

“Sonho parece verdade

Quando a gente esquece de acordar

E o dia parece metade

Quando a gente acorda e esquece de levantar.”

(Teatro Mágico - Sonho)

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Page 8: TCC - Fabio Meira

MEIRA, Fábio Moreira. O Processo de Global Sourcing e seus impactos no

Departamento de Compras – Um estudo de caso. Ano 2013. Trabalho de Conclusão

de Curso em Graduação em Gestão de Empresas - Faculdade de Ciências

Aplicadas, Universidade Estadual de Campinas, Limeira, 2013.

RESUMO

O Global Sourcing nos últimos anos vem ganhando cada vez mais destaque no

cenário internacional. De igual forma, o Departamento de Compras também vem

ganhando uma importância estratégica cada vez mais representativa. Isso ocorre

pois, atualmente, ambos os assuntos são vistos como fontes de vantagens

competitivas importantes para o sucesso das empresas, uma vez que com o

acirramento do processo de globalização, está cada vez mais difícil ganhar novos

mercados. Assim, devido a importância desses dois temas, ambos já são objetos de

estudo, porém há pouca literatura a respeito dos impactos do Global Sourcing no

Departamento de Compras. Assim, este trabalho visa estudar e analisar possíveis

impactos dessa prática no Departamento. O trabalho inicia-se com uma breve

revisão da literatura do tema focando em sua crescente importância estratégica. Na

sequência, será apresentado os resultados dos dados coletados, por meio de um

questionário com executivos da área. Por fim, serão apresentadas as conclusões

dos dados com relação ao tema do trabalho.

Palavras chave: Globalização. Vantagem Competitiva. Suprimentos. Blocos

Econômicos. Comércio Internacional.

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Page 9: TCC - Fabio Meira

MEIRA, Fábio Moreira. Global Sourcing and how it affects the Purchase Department

– A case of five companies. Ano 2013. Trabalho de Conclusão de Curso em

Graduação em Gestão de Empresas - Faculdade de Ciências Aplicadas,

Universidade Estadual de Campinas, Limeira, 2013.

ABSTRACT

The Global Sourcing in recent years has been gaining prominence on the

international scenery. Similarly , the Purchasing Department has also gained

strategic importance and increasingly representative . This is because , nowadays

both issues are seen as important sources for competitive advantage in their

business success , because since the intensification of globalization , it is

increasingly difficult to win new markets . Thus, because of the importance of these

two themes , both are already objects of study , but there is little literature on the

impacts of Global Sourcing in Purchasing Department . Thus , this work aims to

study and analyze possible impacts of this practice in this department . The work

begins with a brief literature review of the topic focusing on its growing strategic

importance . Following , you will see the results of the data collected through a

questionnaire with executives of the area . Finally , we present the data conclusions

about the subject of the work .

Keywords: Globalization. Competitive Advantage. Supply. Trade Blocs. International

trade.

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Page 10: TCC - Fabio Meira

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Compras Internacionais x Global Sourcing_______________________24

Figura 2 - Cadeia de Suprimentos______________________________________26

Figura 3 - Incoterms________________________________________________30

Figura 4 - Custo de Comunicação e Usuários de Internet___________________38

Figura 5 - União Europeia___________________________________________42

Figura 6 - Efta_____________________________________________________43

Figura 7 - Nafta____________________________________________________44

Figura 8 - Mercosul_________________________________________________45

Figura 9 - Caricom_________________________________________________46

Figura 10 - CAN____________________________________________________47

Figura 11 - Asean___________________________________________________48

Figura 12 - Apec____________________________________________________49

Figura 13 - CER____________________________________________________50

Figura 14 - Evolução do Global Sourcing_________________________________51

Figura 15 - Fragmentação da produção do Boing 787_______________________52

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Page 11: TCC - Fabio Meira

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Comparação entre aumento nas vendas e redução nas compras_____18

Quadro 2 - Perfil do Comprador: Estágios de desenvolvimento________________20

Quadro 3 - Comparação entre os modais.________________________________27

Quadro 4 – Fases da Globalização______________________________________32

Quadro 5 - Fase da Globalização x Velocidade do transporte_________________34

Quadro 6 - Tipos de integração regional__________________________________39

Quadro 7 – Empresas pesquisadas e o estágio de desenvolvimento do comprador _56

Quadro 8 – Nível da gestão de suprimentos das empresas pesquisadas_________57

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Page 12: TCC - Fabio Meira

SUMÁRIO

1.0 – Introdução_____________________________________________________14

2. Problema de Pesquisa______________________________________________15

2.1 - Pergunta de Pesquisa___________________________________________15

2.2 - Objetivo Principal_______________________________________________16

2.3 - Objetivos Secundários___________________________________________16

2.4 - Justificativa – Acadêmica________________________________________16

2.5 - Justificativa – Gerencial__________________________________________17

3.0 - Revisão da Literatura_____________________________________________18

3.1 – O departamento de Compras_____________________________________18

3. 1. 1 - Importância do Departamento de Compras_______________________18

3.1.2 – Objetivos do Departamento de Compras_________________________19

3.1.3 - O comprador_______________________________________________20

3.1.3.1 - Responsabilidades do comprador____________________________22

3.1.4 – Compras Internacionais e o Global Sourcing______________________24

3.2 O comércio Internacional__________________________________________25

3.2.1 - A Cadeia de Suprimentos_____________________________________25

3.2.2 – Modais___________________________________________________27

3.2.3 – Incoterms_________________________________________________28

3.2.4 – Teorias de Comércio Exterior__________________________________30

3.2.4.1 – Os mercantilistas________________________________________30

3.2.4.2 – A teoria das vantagens comparativas absolutas_________________31

3.3 – Global Sourcing_______________________________________________31

3.3.1 – Tipos de Suprimentos________________________________________32

3.3.1.1 – Outsourcing_____________________________________________32

3.3.1.2 – Insourcing______________________________________________32

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Page 13: TCC - Fabio Meira

3.3.1.3 – Offshoring______________________________________________33

3.3.2 – A Globalização_____________________________________________33

3.3.2.1 – Fases da Globalização____________________________________33

3.3.2.2 – Consequências da Globalização____________________________36

3.3.2.2.1 – Perda da soberania nacional____________________________36

3.3.2.2.2 – Operações offshore e a evasão de empregos_______________36

3.3.2.2.3 – Efeito sobre o meio ambiente____________________________37

3.3.2.2.4 – Efeito sobre a cultura__________________________________37

3.3.2.3 – Fatores geradores da Globalização__________________________37

3.3.3 – Blocos econômicos__________________________________________39

3.3.3.1 – Tipos de integração regional________________________________40

3.3.3.2 – Principais blocos econômicos_______________________________43

3.3.4 – Evolução do Global Sourcing__________________________________51

3.3.5 – Benefícios do Global Sourcing para a empresa____________________52

3.3.6 – Desafios do Global Sourcing para a empresa_____________________54

3.3.7 – Riscos do Global Sourcing____________________________________54

4.0 – Metodologia____________________________________________________56

4.1 – Questionário__________________________________________________56

5.0 – Resultados_____________________________________________________59

6.0 – Conclusão_____________________________________________________61

7.0 - Referências Bibliográficas_________________________________________62

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Page 14: TCC - Fabio Meira

1.0 – Introdução

Deste a época do mercantilismo, as sociedades fazem comércio a fim de

aumentar suas riquezas e seu poder. Entretanto, foi durante o avanço do processo

de globalização que tais práticas ganharam novo impulso, quando em 1957 surge a

Comunidade Econômica Europeia que anos mais tarde tornou-se a União Europeia,

que é hoje um dos mais importantes blocos econômicos do mundo.

Deste então o mundo vem sofrendo diversas mudanças, tanto no caráter

econômico quanto social. Neste contexto surge o Global Sourcing, que é definido

por Corrêa (2010) como sendo a prática de identificar oportunidades e buscar os

insumos necessários à produção de bens ou serviços onde quer que existam as

melhores condições de custos, qualidade e entrega, seka dentro ou fora do país de

origem onde se localiza a organização.

Nesta mesma linha, considera-se que o Departamento de Compras ganha

cada vez mais importância estratégica em virtude de ser uma importante fonte de

vantagem competitiva nas empresas.

Assim, esse trabalho visa mesclar os dois temas, Global Sourcing e

Departamento de compras, a fim de buscar identificar relações entre esses dois

temas, bem como verificar se o Global Sourcing afeta positivamente ou

negativamente os processos de compras, com a realização da aplicação de um

questionário com executivos da área.

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Page 15: TCC - Fabio Meira

2. Problema de Pesquisa

A distribuição do trabalho será realizada da seguinte forma: Primeiro será feito

um levantamento do problema de pesquisa e a justificativa gerencial e acadêmica

para este trabalho, depois um breve levante bibliográfico sobre assuntos

correspondentes ao tema do projeto, após será apresentado a metodologia utilizada

para a execução do trabalho e da pesquisa com executivos realizada. Por fim, será

apresentado os resultados obtidos na pesquisa e as considerações finais do

trabalho.

Neste capítulo, será discutido o problema de pesquisa, bem como

apresentada a justificativa gerencial e acadêmica do trabalho.

2.1 - Pergunta de Pesquisa

O Global Sourcing teve seu início em 1960 e de lá pra cá está área de

atividade empresarial vem alterando a maneira das organizações criarem vantagens

competitivas. Na década de 60, o Global Sourcing teve seu foco na mudança de

Europa e Estados Unidos como fabricantes principais da cadeia produtiva para

países em que existem custos de produção mais reduzidos, como o México, por

exemplo.

Nas décadas seguintes, verificou-se nova evolução nas práticas gerenciais,

notando que o Global Sourcing sofreu mudanças estratégicas e também houve um

processo de globalização que levou as empresas a buscarem melhores práticas

gerenciais como forma de fazer frente ao forte o aumento na concorrência.

Da mesma forma, os processos de compras vem ganhando cada vez mais

espaço nos assuntos estratégicos das empresas, por ser um grande gerador de

vantagens competitivas com relação a custos e qualidade.

Neste contexto, propõe-se como objetivo deste trabalho analisar se as

empresas que adotaram o Global Sourcing conseguiram obter ganhos de eficiência

14

Page 16: TCC - Fabio Meira

que trouxeram vantagens competitivas no cenário de intensa concorrência que se

verifica atualmente.

Assim, entender a relação entre o uso do Global Sourcing e o que ele pode

influenciar na eficiência dos processos de compras, é o objetivo principal deste

trabalho. Este objetivo será cumprido através do levantamento de informações

primárias junto a empresas brasileiras, localizadas no Estado de São Paulo,e

complementadas através de entrevistas com gestores das áreas de compras e de

sourcing

2.2 - Objetivo Principal

O objetivo principal deste trabalho é analisar o processo de Global Sourcing,

seus pontos positivos e negativos, e como essa prática gerencial impacta os

processos de compras das empresas. Este assunto se reveste de grande

importância uma vez que uma parcela significativa das empresas buscam

implementar essas práticas administrativas em sua cadeia de suprimentos.

2.3 - Objetivos Secundários

Além de analisar os impactos do Global Sourcing no Departamento de

Compras, é importante analisar também a sua função estratégica dentro de uma

empresa e como vem evoluindo este conceito. Desta forma, também será estudada

a gestão dos processos de Compras, suas funções, sua importância e objetivos,

entre outros assuntos pertinentes ao tema.

Também serão levantados os fatores que contribuem para o crescimento do

Global Sourcing, como a formação dos blocos econômicos, a globalização e a

crescente competitividade entre as empresas.

Por fim, estudaremos fatores importantes para o sucesso do Global Sourcing

nas empresas.

2.4 - Justificativa Acadêmica

15

Page 17: TCC - Fabio Meira

No decorrer do desenvolvimento deste trabalho, encontrou-se na literatura da

área amplo material relacionado ao Global Sourcing e a função administrativa de

Compras, mas não se encontrou trabalhos que versem conjuntamente a respeito

dos dois temas e que também analisem os impactos do Global Sourcing no

Departamento de Compras, tema principal deste trabalho de pesquisa. Dessa forma,

procurou-se na literatura internacional o estado da arte na área, visto que alguns

pesquisadores já haviam citado o tema em algumas de suas pesquisas. Por

exemplo, Trent e Monczka (2005) realizaram uma pesquisa com mais de 160

empresas entre as 500 maiores empresas da Fortune a respeito do Global Sourcing.

Desta forma, este trabalho vê a oportunidade de desbravar um campo do

conhecimento ainda emergente no Brasil, mas que já vem sendo estudado em

outros países em virtude de seu caráter estratégico, no cenário competitivo atual,

uma vez que tanto o Departamento de Compras quanto o Global Sourcing vem

ganhando importância estratégica cada vez maior.

2.5 - Justificativa Gerencial

Como citamos anteriormente, este trabalho aborda dois temas atuais e

estratégicos para as empresas, como forma de conseguir novas vantagens

competitivas: a gestão das Compras e a utilização das técnicas do Global Sourcing.

Em seu trabalho, Trent e Moczka (2005) demonstraram que, dentro das empresas

pesquisadas, 34,2% já praticavam o Global Sourcing. Entretanto, depois de cinco

anos 70,1% das empresas declaravam esperar utilizar o Global Sourcing. Este dado

demonstra uma crescente busca das empresas em implantar o Global Sourcing.

Desta forma, este trabalho irá citar as vantagens e desvantagens de utilizar o

Global Sourcing, de forma a auxiliar as empresas que pensam em adotar tal prática

nos seus processos decisórios, bem como oferecer uma análise de algumas

empresas que já o fazem e os ganhos que elas obtiveram com essa escolha.

Neste contexto, considera-se este trabalho como inovador no contexto da

literatura brasileira e de relevante contribuição teórica e prática.

16

Page 18: TCC - Fabio Meira

3.0 - Revisão da Literatura

3.1 – O departamento de Compras

3. 1. 1 - Importância do Departamento de Compras

O Departamento de Compras vem ganhando importância crescente dentro

das organizações. Um exemplo disso são os estudos desenvolvidos por Sako (1992)

e Lamming (1990), que visam entender as mudanças de relacionamento entre

compradores e fornecedores.

Em seu trabalho, Sako (1992) propôs dois padrões de relacionamento: o ACR

(Arm´s Length Contractual Relation) que define uma visão de distância entre os

players; e o OCR (Obligational Contractual Relation), que visa uma relação de

obrigações mútuas. Diversos outros estudos seguiram nesta mesma linha de

pesquisa, notadamente Lamming (1993, 1995, 1996), Hines (1995), Helper (1991,

1994), entre outros pesquisadores.

Segundo Lamming (1996), a partir de 1990 começou a ser adotado o modelo

de Parceria, no qual haveria um clima ao mesmo tempo competitivo, e também

colaborativo, além de um alto grau de tensão nos relacionamentos, pois havia

elevado nível de exigências impostas sobre os parceiros.

A título de ilustração, vejamos a situação atual de uma empresa hipotética

que decide buscar um aumento de 20% na receita de vendas que gerará um

aumento de 40% nos lucros; ou, alternativamente, a empresa busca 3% de redução

nas compras que gerará um aumento de 42% no lucro.

Quadro 1 - Comparação entre aumento nas vendas e redução nas compras

Fatores de custo Situação Atual ($) Aumento de 20%

nas vendas ($)

Redução de 3%

nas compras ($)

Receita 10.000 12.000 10.000

Materiais e 7.000 8.400 6.79017

Page 19: TCC - Fabio Meira

Serviços

Adquiridos

Salários de

pessoal

2.000 2.400 2.000

Despesas fixas 500 500 500

Aumento do lucro - + 40% = 200 +42% = 210

Lucro final 500 700 710

Fonte: Técnicas de Compras, Ed. FGV (2009)

Neste cenário, após a análise desta tabela e conforme Dias & Costa (2000,

p.11), os ganhos obtidos por via da diminuição nos custos de Material e Serviços

Adquiridos somam-se diretamente à conta lucro.

O exemplo demonstra a importância financeira da função de compras o setor,

que também é responsável por selecionar o melhor fornecedor: aquele que será

capaz de atender as exigências da empresa, os produtos de melhor qualidade e com

o melhor preço.

3.1.2 – Objetivos do Departamento de Compras

Os processos de compras são vistos hoje como um setor estratégico dentro

das empresas, possuindo objetivos que vão muito além da compra dos insumos

produtivos mais baratos, segundo Clélio Alto et al(2010) os processos de compras

apresentam os seguintes objetivos:

- Garantir um fluxo contínuo de materiais, serviços e informações que atenda

as necessidades gerais da empresa de modo a reduzir custos na cadeia de

suprimentos e no sistema logístico;

- Adquirir materiais de forma econômica, compatíveis com a qualidade

requerida e de acordo com a sua finalidade ou aplicação;

- Incentivar e colaborar na padronização e simplificação de materiais e

equipamentos;

18

Page 20: TCC - Fabio Meira

- Considerar as limitações financeiras da empresa e a capacidade de

armazenamento;

- Pesquisar, permanentemente, o mercado fornecedor em busca de novas e

alternativas fontes de fornecimento;

- Manter as relações com fornecedores e requisitantes em nível de

cooperação, lealdade e respeito;

- Obter a máxima integração e cooperação das outras áreas da empresa

(técnica, financeira, jurídica, produção, operação, manutenção, logística) e,

particularmente, da área de gestão dos estoques;

- Desenvolver estudos de análise de valor (custo x benefícios);

- Considerar e avaliar os reflexos do processo de aquisição (tomadas de

decisão) na cadeia de suprimentos e no sistema logístico.

Desta forma, fica claro que a função compras possui outros objetivos que vão

além do comprar pelo menor preço. De acordo com Dias e Costa (2003), a

qualidade e o momento certo de entrega tem alto grau de importância em

comparação ao preço, sendo estes fatores importantes para a tomada de decisão de

compra.

3.1.3 - O comprador

Segundo Heinritz (1979), a efetividade de um Departamento de Compras não

depende apenas dos procedimentos e normas organizacionais, mas sim de seu

pessoal, que deve ser muito bem selecionado e treinado para as posições chaves do

Departamento e mais ainda para o progresso dentro da hierarquia da empresa.

O quadro abaixo apresenta a classificação feita por Baily et al (2000:425) para

o que ele chama de “perfil do comprador”.

Quadro 2 - Perfil do Comprador: Estágios de desenvolvimento

Estágios de desenvolvimento Características gerais e atribuições do

19

Page 21: TCC - Fabio Meira

responsável por compras

Primitivo Sem qualificações especiais; abordagem

burocrática; cerca de 80% do tempo é

dedicado às atividades burocráticas

Conscientização Sem qualificações especiais; algumas

rotinas básicas de compras; 60-79% do

tempo dedicado às atividades

burocráticas

Desenvolvimento Qualificações acadêmicas formais

exigidas; envolvimento em negociações;

reconhecimento da função compras e

suprimentos; 40-59% do tempo dedicado

às atividades burocráticas

Maturação Qualificação gerencial exigida;

compradores especializados em

commodities* integrados com as áreas

funcionais; envolvimento com todos os

aspectos do desenvolvimento de novos

produtos; maior parte do trabalho

dedicado à negociação e à redução de

custo/desenvolvimento de fornecedores;

20-30% do tempo dedicado às atividades

burocráticas.

Avançado É necessária qualificação profissional ou

pós-graduação; o comprador está mais

envolvido com os assuntos mais

estratégicos do trabalho; mais dedicado

ao custo total de aquisição, à

administração da base de fornecedores

etc; menos de 20% de seu tempo

20

Page 22: TCC - Fabio Meira

dedicado às atividades burocráticas.

Fonte: Baily et al(2000:425).

* São por definição, produtos padronizados e não diferenciados, através dos quais o

produtor não tem poder de fixação de preços e cujo mercado é caracterizado pela

arbitragem nos mercados interno e externo.

3.1.3.1 - Responsabilidades do comprador

Neste contexto, para atingir o nível avançado na escala de Baily (2000) o

comprador contemporâneo, deve ser alguém dotado de visão estratégica da

empresa, recebendo treinamento para que desempenhe cada vez melhor sua

função. Nesta mesma linha, Alto et al (2010) oferecem uma relação das

responsabilidades do comprador que vão desde a compra até a busca do menor

preço, passando pela qualidade do insumo ou serviço comprado até a análise de

mercado. Esta relação é bem completa e pode ser usada em praticamente em

qualquer área da organização que desenvolva atividades de compras, como segue:

- Considerar sua autoridade e suas responsabilidades como missão

estratégica.

- Comprar com critério, justiça e transparência.

- Privilegiar a pesquisa em compras e interpretar, sempre, os sinais do

mercado.

- Medir a eficiência das compras, com a utilização de indicadores apropriados.

- Desenvolver suas habilidades de comprador profissional, mantendo-se

atualizado com as novas técnicas e novas tecnologias.

- Conhecer os processos da empresa (produção, operação, manutenção,

administração, transporte, distribuição, controle de estoques e armazenamento) e

suas necessidades.

21

Page 23: TCC - Fabio Meira

- Adquirir capacitação em informática – trabalhar com computador, navegar na

internet e possuir um endereço eletrônico.

- Desenvolver aquisições eletrônicas (pela internet) para reduzir custos e

prazos de suprimento.

- Pesquisar e avaliar o melhor momento para negociar a aquisição de materiais

cuja produção, comercialização ou demanda seja cíclica ou sazonal.

- Orientar, coordenar ou executar estudos de análise de valor (custo x

benefício).

- Incentivar e orientar estudos de normalização de material que visem

simplificação e padronização.

- Explorar os conhecimentos técnicos do pessoal de sua empresa

(assessoramento técnico, financeiro, jurídico) e dos fornecedores (assessoramento

técnico e tecnológico).

- Conhecer, tanto quanto possível, os materiais que compra.

- Conduzir as negociações levando sempre em consideração todos os

aspectos envolvidos e os reflexos na cadeia de suprimento e no sistema logístico.

- Adotar um comportamento profissional de acordo com as exigências da boa

ética.

- Procurar integração com o pessoal da cadeia de suprimentos, particularmente

do armazenamento e da gestão de estoques, visando o aumento da lucratividade.

- Desenvolver estudos que se destinem a formar parcerias com fornecedores,

de acordo com os princípios just-in-time.

- Avaliar a qualidade dos produtos a adquirir, de acordo com a utilização

definida.

3.1.4 – Compras Internacionais e o Global Sourcing

Segundo Trent e Monczka (2005), é necessário definir e distinguir os processos de compras internacionais e o Global Sourcing. Segundo os autores, as

22

Page 24: TCC - Fabio Meira

compras internacionais são simplesmente transações comerciais entre comprador e fornecedor localizados em países diferentes, ao passo que o Global Sourcing diz respeito a integração e coordenação entre itens, materiais, processos, tecnologias, projetos e fornecedores ao longo de todos os locais aonde a empresa atua, seja na produção ou em escritórios administrativos.

Desta forma, os autores criaram uma regra evolutiva para o Departamento de Compras, divida em cinco níveis - sendo que os dois últimos se referem ao Global Sourcing. Paralelamente, fizeram uma pesquisa com mais de 160 empresas das 500 maiores empresas da Fortune para determinar em qual nível essas empresas estavam e aonde desejariam estar em cinco anos os resultados são apresentados na figura 1.

Figura 1 – Compras Internacionais x Global Sourcing

Fonte: Elaboração do autor, adaptado de Trent e Monczka (2005)

Analisando a figura 1, nota-se que atualmente 34,2% das empresas

pesquisadas estão num dos níveis de Global Sourcing. Ainda segundo este estudo,

em cinco anos espera-se que este número aumente para 70,1%, o que demonstra o

crescente interesse em utilizar as práticas gerenciais aqui abordadas.

23

Page 25: TCC - Fabio Meira

3.2 O comércio Internacional

Como vimos, há uma diferença entre compras internacionais e Global

Sourcing. Entretanto, é necessário entender como surgiram as compras

internacionais e os fatores que nela afetam para que possamos traçar uma linha

evolutiva ligando as compras internacionais ao Global Sourcing. Por este motivo

neste capítulo serão apresentados conceitos relacionados à Cadeia de Suprimentos,

os modais, os incoterms e algumas teorias do comércio internacional.

3.2.1 - A Cadeia de Suprimentos

Chopra e Meindl (2012) definem uma cadeia de suprimentos como sendo o

ele entre diversas partes envolvidas, direta ou indiretamente, na realização do

pedido de um cliente. Em outras palavras, a cadeia de suprimentos inclui o

fabricante, fornecedores, transportadoras, armazéns, varejistas e o próprio cliente.

O advento da globalização, a crescente competitividade nos mercados globais

e o surgimento de produtos com ciclo de vida curtos, levou as empresas a realizar

investimentos cada vez mais vultosos nas cadeias de suprimentos e nas melhores

práticas de gestão relacionadas.

A este propósito Levi (2010) mostra a complexidade dos processos

relacionados com a cadeia de suprimentos, conforme mostra a figura 2.

24

Page 26: TCC - Fabio Meira

Figura 2 - Cadeia de Suprimentos

Fonte: Levi et al (2010).

O objetivo da cadeia de suprimentos é maximizar o valor geral gerado. Em

outras palavras, a gestão de suprimentos está voltada para a busca da maximização

da diferença entre o valor pago pelo cliente e os custos do produto, sendo este

excedente fortemente influenciado pela lucratividade da cadeia de suprimentos.

Além de pensar na lucratividade, a gestão da cadeia de suprimentos deve

zelar pelo planejamento, administração e controle do fluxo de materiais desde o

fornecedor até o cliente final, de forma a atender às suas necessidades. Segundo

Ballou (2003), a ideia central é colocar o produto certo, na hora certa, no local certo

e ao menor custo possível, pois um produto, em termos logísticos, terá valor quando

atender a estes parâmetros.

A gestão da cadeia de suprimentos vem ganhando importância estratégica

crescente dentro das empresas, pois ela pode ser uma grande geradora de

vantagens competitivas para as empresas n um mercado globalizado e concorrido

como o atual, no qual qualquer fonte de vantagem competitiva deve ser muito bem

estudada.

3.2.2 – Modais

A movimentação dos produtos pela cadeia de suprimentos é feita por modais,

sendo eles: ferroviário, rodoviário, dutoviário, aeroviário e aquaviário. Assim,

entendê-los é fundamental para explicar quais modais são mais interessantes para

cada tipo de transação comercial.

– Ferroviário

Segundo Pereira (2010) o modal ferroviário é um transportador de longo curso

e baixa velocidade. Em geral, transporta matérias-primas e produtos manufaturados 25

Page 27: TCC - Fabio Meira

de baixo custo. É um modal que possui um grau de implantação elevado, porém

apresenta baixo custo operacional.

– Rodoviário

De acordo com Pereira (2010) o modal rodoviário transporta geralmente

produtos semi prontos ou acabados. As vantagens desse modal é o serviço porta-a-

porta, sem a necessidade de carga e/ou descarga nos terminais. No Brasil é o modal

mais usado. Apresenta baixo custo de implantação apesar de possuir elevado custo

operacional

– Aeroviário

Apesar de ser mais caro que o Rodoviário e o Ferroviário muitos empresários

já tem o transporte aéreo como um modal interessante, em virtude de sua

inigualável rapidez. É o meio ideal para o transporte de mercadorias de alto valor

agregado e casos com urgência na entrega, conforme relata Pereira (2010), em seu

trabalho.

– Dutoviário

Pereira (2010), diz em seu trabalho que o transporte dutoviário é feito através

de tubos, sendo utilizado para transporte de gases, líquidos e sólidos granulares. O

sistema possui baixo custo operacional, porém pouca flexibilidade.

– Aquaviário

Por fim, segundo Pereira (2010) o transporte aquaviário é ideal para

transporte de longas distâncias, pois possui um custo operacional baixo. É o modal

mais usado no comércio internacional, porém costuma ser mais lento do que o

ferroviário.

Conforme expostos os modais podem ser diferenciados em virtude do custo,

do tempo médio de entrega e das perdas e danos que podem ocorrer no caminho.

Ballou (2006), oferece o quadro 3 como forma de comparar os modais. A

metodologia usada é a de empregar valores de 1 a 5 para quantificar os pontos

positivos de cada modal.

26

Page 28: TCC - Fabio Meira

Quadro 3 - Comparação entre os modais.

Modal de

Transporte

Custo (1 = maior) Tempo médio de

entrega (1= mais

rápido)

Perdas e danos (1

= menor)

Ferroviário 3 3 5

Rodoviário 2 2 4

Aquaviário 5 5 2

Dutoviário 4 4 1

Aéreo 1 1 3

Fonte: BALLOU ( 2006)

3.2.3 – Incoterms

Incoterms é a sigla do termo em inglês International commercial terms,

definido como termos de comércio internacional. São utilizados para dividir os custos

e as responsabilidades do transporte entre comprador e vendedor, é importante

estudá-las, pois há algumas Incoterms específicas para cada modal, o que interfere

nas negociações entre compradores e fornecedores, e consequentemente o

comércio internacional como um todo. Segundo Morini et al. (2011) há quatro grupos

de incoterms:

O grupo E no qual a responsabilidade do vendedor é mínima devendo este

apenas disponibilizar a mercadoria no local estipulado, geralmente dentro de seu

próprio armazém. Há apenas uma Incoterm neste grupo sendo a EXW (Ex Works,

no local de fabricação).

O próximo grupo, será o grupo F, no qual o vendedor deve entregar a

mercadoria ao transportador, conforme orientações do comprador.

Já o grupo C diz que o vendedor deverá contratar o transportador. Porém,

caso haja situações de congestionamento, tempestades, greves, guerra, entre

outras situações imprevisíveis os custos serão de responsabilidade do comprador.

E por fim, o grupo D, no qual o vendedor se responsabiliza por entregar a

mercadoria no país do comprador, pagando todas as despesas de transporte e

27

Page 29: TCC - Fabio Meira

seguro, até que a mercadoria chegue nas condições adequadas e esperadas pelo

comprador.

Portanto, conforme a ICC de 1999, há treze Incoterms:

I) Para qualquer modalidade de transporte;

a. EXW – Ex Works: no local de destino;

b. FCA – Free Carrier: livre no transportador;

c. CPT – Cost Paid to: transportadora paga por;

d. CIP – Cost, Insurance Paid to: custo e seguros pagos por;

e. DAF – Delivered at Frontier: entregue na fronteira;

f. DDU – Delivered Duties Unpaid: Entregue direitos não pagos;

g. DDP – Delivered Duties Paid: entregue direitos pagos.

II) Para modalidade de transporte aquático:

a. FAS – Free Alongside Ship: livre no costado do navio;

b. FOB – Free on Board: livre a bordo;

c. CFR – Cost and Freight: custo e frete;

d. CIF – Cost, Insurance and Freight: custo, seguro e frete;

e. DES – Delivered Ex Ship: entregue no navio;

f. DEQ – Delivered Ex Quay: entregue no cais.

A figura 3 apresenta um resumo das responsabilidades dos compradores e

vendedores de acordo com a Incoterm escolhida. Nela fica divido os quatro grupos

de Incoterms como dito anteriormente e a responsabilidade pelos custos e riscos da

operação. Sendo os quadrados pintados de vermelho responsabilidade do vendedor

e os quadrados pintados de azul responsabilidade do comprador.

28

Page 30: TCC - Fabio Meira

Figura 3 - Incoterms

Fonte: Lexprevia (2013)

3.2.4 – Teorias de Comércio Exterior

Há várias teorias que discorrem sobre o comércio exterior, neste trabalho

analisaremos as duas que mais se aproximam conceitualmente ao tema do presente

trabalho.

3.2.4.1 – A teoria mercantilista

Segundo Dainez (2011) a primeira tentativa de se tentar compreender o papel

que o comércio exterior exerce sobre as economias foi feita pelos mercantilistas. O

Mercantilismo é o período de tempo entre o Feudalismo e o Capitalismo que vai do

século XV ao XVII.

A principal discussão do mercantilismo foi determinar o conceito de riqueza de

uma nação, isto porque a riqueza da nação não significaria apenas que seus

cidadãos são ricos, mas também que existe um poderio militar.

Para os mercantilistas, uma nação rica seria a que possuísse um alto estoque

de metais preciosos, ouro e prata. Havia diversas formas de se aumentar o estoque

29

Page 31: TCC - Fabio Meira

de metais preciosos: a primeira é aumentar a produção das minas existentes; outra

forma seria a de buscar minas em outros países. A pirataria e o saque também eram

caminhos possíveis de aumentar a riqueza, bem como, o comércio, já que a moeda

naquela época eram os metais preciosos.

Portanto, de acordo com os mercantilistas, possuir um balanço de

pagamentos positivo, levaria ao enriquecimento da população.

3.2.4.2 – A teoria das vantagens comparativas absolutas

Adam Smith em sua obra A riqueza das Nações (1776), diz que a riqueza de

um país esta associada a sua renda per capita. Para este autor a divisão do trabalho

seria uma forma de se aumentar essa renda.

Segundo Adam Smith, para os países terem benefícios ao participar do

comércio exterior, é importante que eles se especializem nas mercadorias que

possuam mais vantagens comparativas. Para ele há dois tipos de vantagens que os

países poderiam possuir. A primeira delas é a vantagem natural, que diz respeito

aos fatores naturais como clima e solo, por exemplo. A segunda vantagem são as

vantagens adquiridas, que são aquelas vantagens que são desenvolvidas pela

nação.

3.3 – Global Sourcing

De acordo com Corrêa (2010), a gestão de suprimentos global (ou global

sourcing em inglês), refere-se à prática de identificar oportunidades e buscar os

insumos necessários à produção de bens ou serviços onde quer que existam as

melhores condições de custos, qualidade e entrega, dentro ou fora do país de

origem da organização. Desta forma, neste capítulo será estudado o cenário

internacional que propiciou o surgimento do Global Sourcing, a sua evolução

histórica, os benefícios, desafios e riscos da prática de Global Sourcing para as

empresas.

30

Page 32: TCC - Fabio Meira

3.3.1 – Tipos de Suprimentos

Há quatro tipos de suprimentos: o Outsourcing, Insourcing, Offshoring e o

Global Sourcing.

3.3.1.1 – Outsourcing

O outsourcing ocorre quando a empresa adquire os suprimentos necessários

de uma empresa terceira, localizada no seu próprio país. Um exemplo é a compra

pela Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp do papel Chamex ECO,

produzido em Mogi Guaçu pela International Paper.

3.3.1.2 – Insourcing

Ocorre quando a empresa decide produzir ela mesma o material necessário.

A Ford nos anos 20, por exemplo, produzia 100% de todos os suprimentos

necessários, incluindo pneus e bancos. A tendência atual é das empresas

executarem apenas as atividades-fim que utilizam suas competências centrais,

terceirizando as demais.

3.3.1.3 – Offshoring

O offshoring é quando a empresa decide ela mesma produzir o suprimento

necessário, porém em outro país com custos mais vantajosos. Tal prática aplica-se

também ao setor de serviços no qual muitas empresas vem migrando os seus call-

centers para a Índia, por exemplo. Sendo este o destino mais comum para o

offshoring em virtude de sua mão de obra de alta qualidade com conhecimentos da

língua inglesa e melhor proteção da propriedade intelectual do que outros players.

31

Page 33: TCC - Fabio Meira

Segundo Cavusgil et al (2010), estima-se que apenas na Índia tenham sido gerado

mais de 1,3 milhão de empregos na última década, por conta desse processo.

3.3.2 – A Globalização

De acordo com Cavusgil et al(2010), a globalização é um aprofundamento do

processo de integração econômica, social, cultural e política que foi impulsionada no

final do século XX e início do século XXI, com o aumento das comunicações entre

os países, sendo considerado um fenômeno gerado pela necessidade de

dinamismo do capitalismo.

3.3.2.1 – Fases da Globalização

Podem-se identificar quatro etapas diferentes no processo de evolução da

globalização. Conforme a tabela abaixo.

Quadro 4 – Fases da Globalização

Fases da

Globalização

Período

aproximado

Fatores

desencadeadores

Principais características

Primeira fase 1830 até o

final da

década de

1900, com

pico em

1880

Introdução das

ferrovias e o

transporte marítimo

Aumento da manufatura:

comércio através das

fronteiras de commodities, em

grande parte por trading

companies.

Segunda

fase

1900 a 1930 Aumento da

produção de

eletricidade e aço

Surgimento e domínio das

primeiras empresas

multinacionais

(principalmente europeias e

norte-americanas) nos

setores industrial, extrativista

32

Page 34: TCC - Fabio Meira

e agrícola.

Terceira fase 1948 à

década de

1970

Formação do Acordo

geral sobre tarifas e

comércio (GATT, do

inglês General

Agreement on Tariff

and Trade); fim da

Segunda Guerra

Mundial; Plano

Marshall para

reconstrução da

Europa

Esforço concentrado da parte

dos países industrializados

ocidentais para redução

gradual de barreiras ao

comércio; crescimento das

multinacionais japonesas;

comércio entre países de

bens de marca; fluxo entre

países de moeda, em

paralelo ao desenvolvimento

de mercados globais de

capital.

Quarta Fase Década de

1980 até o

presente

Expressivos avanços

nas tecnologias de

informação,

comunicações,

manufatura e

consulta; privatização

de empresas estatais

em países em

transição; notável

crescimento

econômico nos

mercados emergente.

Taxa de crescimento sem

precedentes no comércio

entre fronteiras de bens,

serviços e capital;

participação nos negócios

internacionais de empresas

de pequeno e grande porte,

originárias de vários países;

foco nos mercados

emergentes para atividades

de exportação, IDE e

suprimento.

Fonte: Cavusgil ET Al (2010).

Assim, temos que a primeira fase da globalização teve sua expansão em

virtude do aumento das ferrovias e do transporte marítimo. Outro fator importante foi

à invenção do telégrafo e do telefone que facilitou o fluxo de informação.

Já a segunda fase da globalização tem início em 1900 e esta relacionada com

o aumento da produção de energia elétrica e aço. O pico da segunda fase da

globalização foi pouco antes da Crise de 1929. Nesta fase temos também as

33

Page 35: TCC - Fabio Meira

empresas, principalmente europeias, abrindo sedes nas antigas colônias na Ásia,

África e Oriente Médio.

A terceira fase da globalização começa logo após o fim da Segunda Guerra

Mundial. Muitos países como Inglaterra, Austrália e Estados Unidos, buscaram

reduzir as barreiras ao comércio internacional e o resultado desse trabalho foi

Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT ou General Agreement on Tariff and

Trade), assinado na conferência de Bretton Woods, em 1947 que contava com 23

nações. Este acordo posteriormente veio a transformar-se na OMC (Organização

Mundial do Comércio) anos depois. Houve também um crescimento das

multinacionais dos países desenvolvidos para diversos países.

Por fim, a quarta fase da globalização teve seu início na década de 80 quando

houve um enorme crescimento no comércio e no investimento entre os países. A

prosperidade internacional atingiu até mesmo países emergentes como Brasil, Índia

e México. Nessa época também houve o surgimento da Internet o que possibilitou a

instalação de operações remotas ao redor do mundo e a globalização do setor de

serviços. Ou seja, as distâncias geográficas que antes separavam as nações estão

encolhendo cada vez mais a tabela abaixo mostra a evolução dessa tendência.

Quadro 5 - Fase da Globalização x Velocidade do transporte

Nesta época... O meio de transporte mais

rápido era...

À velocidade de ....

1500 à década de 1840 - Navios movidos à força

humana e carroças

puxadas por cavalos

10 milhas por hora

1850 a 1900 - Barcos a vapor

- Locomotivas a vapor

36 milhas por hora

65 milhas por hora

Início da década de 1900

até os dias de hoje

- Veículos motorizados

- Aviões a hélice

- Aviões a jato

75 milhas por hora

300 a 400 milhas por hora

500 a 700 milhas por hora

Fonte: Adaptado de: DICKEN (1992)

– Consequências da Globalização

34

Page 36: TCC - Fabio Meira

A globalização trás efeitos positivos, como os que já citamos aqui, porém ela

também traz desvantagens para a população, como perda da soberania nacional,

evasão de empregos, efeitos na cultura e meio ambiente, entre outros.

– Perda da soberania nacional

A soberania é a capacidade de um país dominar e governar as suas questões

internas. Acontece que algumas empresas possuem receita maiores do que alguns

países, o que as possibilita exercer influência nos governos em que estão. Eles

podem fazer isso por meio de lobby, pressionando os governos a aprovarem

medidas que os favoreçam, como incentivos fiscais ou desvalorização cambial, por

exemplo.

– Operações offshore e a evasão de empregos

Como já dito anteriormente o offshoring é quando a empresa decide ela

mesma produzir o suprimento necessário, porém em outro país com custos mais

vantajosos, o que acarretou a mudança de milhares de empregos das economias

mais desenvolvidas para a de países emergentes. Por exemplo, a Volkswagen

transferiu grande parte de sua produção alemã para países do leste europeu, aonde

os salários são menores e as horas trabalhadas maiores.

– Efeito sobre o meio ambiente

35

Page 37: TCC - Fabio Meira

Um outro problema, apontado por Cavusgil et al. (2010) a globalização pode

causar danos ambientais em virtude do aumento da capacidade industrial e

empresarial, o que resulta em aumento da poluição, desmatamento, entre outros.

Porém, ocorre também que esse dano tende a diminuir no decorrer do tempo,

conforme a economia vai ficando mais desenvolvida, é o caso, por exemplo, do

Japão, que manteve suas cidades poluídas nos primeiros anos do pós-guerra e que

hoje adota rígidas leis de proteção ambiental.

– Efeito sobre a cultura

Uma outra questão diz respeito aos efeitos da globalização, tem feito com que

cada vez mais as pessoas se vistam iguais, comam as mesmas coisas e vejam os

mesmos filmes, por exemplo.

Tal efeito faz com que se perca um pouco da identidade nacional e haja uma

certa homogeneização cultural. Alguns países como Bélgica, França e Canadá,

fizeram leis de proteção à língua e a cultura nacional para enfrentar essa

homogeneização cultural.

– Fatores geradores da Globalização

Atualmente há vários fatores tidos como causas da globalização. Dentre eles,

Cavusgil et al (2010) destacam os cinco abaixo:

– Redução mundial das barreiras ao comércio e ao investimento

Com a redução das barreiras ao comércio e ao investimento houve uma

aceleração na integração econômica global. A Organização Mundial do Comércio

36

Page 38: TCC - Fabio Meira

(OMC) ajudou bastante neste processo. Essa redução também está associada ao

surgimento dos blocos de integração econômica regional.

– Liberalização de mercado e adoção do livre comércio

Com o fim da Guerra Fria e a da URSS, vários países se dirigiram a economia

global, como economias do Leste europeu e asiático, o que fez com que mais de um

terço do mundo se abrisse para o comércio internacional. Incluindo economias como

China, Índia e Europa Oriental que se tornaram localidades de melhor custo-

benefício para produção de bens e serviços no mundo.

– Industrialização, desenvolvimento econômico e modernização

Mercados emergentes, como Brasil, por exemplo, estão migrando da

condição de produtores de commodities , de baixo valor agregado, para itens de alta

tecnologia e alto valor agregado. No caso brasileiro, por exemplo, se tornou um dos

maiores fabricantes de aviões do mundo. O desenvolvimento econômico nos

mercados emergentes está melhorando a qualidade de vida nesses países, que

também tem se tornado cada vez mais atrativos ao investimento estrangeiro o que

facilita a disseminação de ideias, produtos e serviços a uma escala global.

– Integração dos mercados financeiros mundiais

A integração dos mercados financeiros mundiais facilita o fluxo de capital

entre empresas internacionais o que permite realizar transações em moeda

estrangeira, ou seja, a globalização financeira facilitou a desenvolver operações de

produção e marketing global. Além de permitir o pagamento de fornecedores e

compradores em todo o mundo.

– Avanços Tecnológicos

Os avanços tecnológicos tornam possível a globalização uma vez que

facilitam a comunicação e a movimentação de bens, serviços e pessoas. Nos

últimos anos nota-se um crescente aumento de usuários de internet em todo o

mundo o que mostra o aumento no fluxo de informação entre pessoas. Além disso,

37

Page 39: TCC - Fabio Meira

houve também um barateamento dos custos de comunicação por telefone o que

também causou um aumento dessa forma de comunicação.

Abaixo segue um gráfico que mostra essa tendência.

Figura 4 - Custo de Comunicação e Usuários de Internet

Fonte: elaboração do autor, adaptado de Cavusgil et al (2010).

3.3.3 – Blocos econômicos

Os Blocos econômicos visam integrar economias de países a fim de obterem

ganhos comerciais, maior escala na economia, integração de infraestrutura,

integração regional entre outros. A primeira integração regional que fez surgir um

bloco econômico foi o BENELUX, formado pelos países, Bélgica, Holanda e

Luxemburgo que se iniciou em 1834. Porém, foi durante as décadas de 1960 e 1970

que houve um grande crescimento na formação de blocos econômicos, seguido pela

década de 90.

38

Page 40: TCC - Fabio Meira

3.3.3.1 – Tipos de integração regional

Os blocos econômicos diferem entre si em virtude do seu nível de integração.

Ele inicia do nível mais baixo que seria a Área de livre comércio e finaliza na União

Política, tal nível ainda não foi alcançado por nenhum outro bloco.

A tabela abaixo mostra os níveis de integração e suas principais

características bem como, os blocos econômicos que estão neste processo.

Quadro 6 - Tipos de integração regional

Nível de Integração

Área de

Livre

Comérci

o

União

Aduaneir

a

Mercado

Comum

União econômica

e

(eventualmente)

monetária

União

Política

Os membros

concordam em eliminar

tarifas e barreiras não

tarifárias entre si,

porém cada qual

mantém suas próprias

restrições comerciais

com países não

membros. Exemplo:

Nafta, Efta, Asean.          

Tarifas externas

Comum. Exemplo:

Mercosul          

Livre movimentação de

bens, mão de obra e

capital. Exemplo:

Comunidade

Econômica Europeia

pré -1992          

Política monetária e          

39

Page 41: TCC - Fabio Meira

fiscal unificada por

uma autoridade

central. Exemplo:

União Europeia

Todas as políticas por

meio de uma

organização comum;

desaparecimento da

distinção entre as

instituições nacionais.

Exemplo: permanece

como um ideal, ainda

a ser atingido.          

Fonte: Cavusgil et al (2010).

– Área de Livre Comércio

A área de livre comércio é o processo de integração mais simples e comum,

no qual os países signatários concordam com a eliminação gradual das barreiras ao

comércio dentro do bloco, o Asean é um exemplo.

– União Aduaneira

A União Aduaneira assemelha-se com a área de livre comércio na busca pela

eliminação gradual das barreiras ao comércio entre os membros do bloco, o que a

difere é os países membros harmonizam as suas políticas comerciais em relação

aos países não membros, ou seja, ao invés de cada país possuir as suas políticas

comercias externas, os membros de uma união aduaneira adotam uma política

comercial em comum em relação aos países não membros. Um exemplo de união

aduaneira é o Mercosul, mercado comum do sul, composto por Brasil, Argentina,

Uruguai e Paraguai.

40

Page 42: TCC - Fabio Meira

– Mercado Comum

O Mercado comum difere-se da união aduaneira, por permitir que haja a

circulação de pessoas, capital, serviços, fatores de produção, bens e tecnologia

livremente entre os países membros. Os mercados comuns são muito difíceis de

criar pois, requerem muita cooperação entre os países membros nas políticas

trabalhistas e econômicas. Um exemplo de mercado comum foi a Comunidade

Econômica Europeia pré 1992.

– União Econômica

A União Econômica possui todas as vantagens dos demais estágios e o que a

difere é que os países visam compartilhar políticas fiscais e monetárias. Sendo um

caso extremo todos adotarem as mesmas taxas. A União Econômica visa uma

política monetária padronizada, que requer taxas de câmbio fixas e a livre conversão

de moedas dentro dos países signatários, essa padronização ajuda a eliminar

práticas que possam favorecer um país em detrimento de outro.

A União Europeia é um exemplo de União Econômica, na UE há ainda alguns

países que possuem a moeda única, o Euro, tal fato contribui para a abertura de

filiais financeiras europeias nos países que a utilizam.

A União Econômica também requer que os países membros padronizem leis

e regulamentações em relação à concorrência, fusões e outras ações corporativas.

– União Política

A União Política caracteriza-se pelo desaparecimento da distinção entre as

instituições nacionais, na qual com a unificação das diferentes nações elas abdicam

sua soberania em nome do fortalecimento do bloco, além disso, é um acordo que

prevê que as políticas tanto econômicas quanto sociais sejam idênticas e

administradas por autoridades supranacionais. Por enquanto, nenhum bloco atingiu

este patamar de integração.

41

Page 43: TCC - Fabio Meira

3.3.3.2 – Principais blocos econômicos

– União Europeia

Figura 5 - União Europeia

A União Europeia tem origem em 1957 quando seis países devastados pela

Segunda Guerra Mundial – Bélgica, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo e

Holanda - assinaram o Tratado de Roma que buscava promover a prosperidade por

meio da cooperação econômica.

Em 1992 surge a União Europeia e suas principais ações para se tornar uma

união econômica plena foram:

- Acesso ao mercado;

- Mercado comum;

- Regras comerciais;

- Harmonização de padrões.

No longo prazo a União Europeia espera adotar políticas fiscal, monetárias,

tributarias e de bem estar social comum.

42

Fonte: http://dre.pt/ue/imagens/mapas/paises_ue_2007.gif

Page 44: TCC - Fabio Meira

O Euro introduzido em 2002 e adotado por alguns países do bloco tornou-se

uma das principais moedas no mundo e simplificou o comércio e a competitividade

internacional da Europa.

A União Europeia conta hoje com 28 Estados-membros e atua através de um

sistema de instituições supranacionais, sendo as mais importantes, o Banco Central

Europeu, o Parlamento Europeu, o Conselho Europeu, o Conselho da União

Europeia e a Comissão Europeia.

– Associação Europeia de Livre Comércio (Efta)

Figura 6 - Efta

Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:EFTA_AELE_countries.svg

A Associação Europeia de Livre Comércio (Efta, do inglês European Free

Trade Association), foi estabelecida em 1960 e originalmente continha sete

membros sendo eles: Suíça, Portugal, Suécia, Inglaterra, Dinamarca, Áustria e

Noruega. Porém, a maioria desses países deixou o bloco para integrar-se a União

Europeia. Os atuais membros da Efta são Noruega, Islândia, Listenstaine e Suíça.

– Tratado Norte Americano de Livre Comércio (Nafta)

43

Page 45: TCC - Fabio Meira

Figura 7 - Nafta

Fonte: http://edsonmaiap.files.wordpress.com/2009/05/mapa-nafta.jpg

Formado por Canadá, Estados Unidos e México o Nafta (do inglês North

American Free Trade Agreement) é o bloco econômico mais importante do

continente americano, sendo criado em 1994.

Esse acordo eliminou tarifas e a maioria das barreiras não tarifarias para bens

e serviços comercializados no bloco.

Com a adoção do Nafta, houve um grande aumento do comércio entre os

países membros, o que gerou benefícios para todos os países membros

– Mercado Comum do Sul (Mercosul)

44

Page 46: TCC - Fabio Meira

Figura 8 - Mercosul

Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-qP4lToW93GE/UBgTHCdK2OI/AAAAAAAAwcQ

/OsbhdS35C1M/s1600/mercosul21b.gif

O Mercosul – Mercado comum do Sul – foi criado em 1991 e tornou-se o

bloco mais forte da América do Sul. Seus membros plenos são Brasil, Argentina,

Uruguai e Paraguai e recentemente a Venezuela foi aceita como membro pleno.

Além dos membros plenos possuí cinco membros associados que são Chile, Bolívia,

Peru, Equador e Colômbia. O Mercosul estabeleceu livre circulação de bens e

serviços, uma tarifa externa e política comercial comum, seu próximo desafio é

construir uma rede de infraestrutura, como gasodutos, estradas e ferrovias.

Assim que entrou em vigor o Mercosul, fez o comércio entre os países

membros triplicar, o que atraiu muitos investimentos de países não membros.

3.3.4 – Evolução do Global Sourcing

45

Page 47: TCC - Fabio Meira

1960 1990 2013

Manufatura Offshoring Processos

Pode-se dividir a evolução do Global Sourcing em três etapas principais.

Inicialmente nos anos de 1960 a primeira fase do Global Sourcing concentrou-se na

manufatura de insumos, com a mudança dos grandes centros de produção para

países mais periféricos, no qual poderiam alcançar maiores lucros e qualidade.

A segunda fase começou no offshoring em 1990, no qual empresas

começaram a terceirizar atividades de adição de valor no setor de serviços. Os

países que mais receberam investimentos foram a Índia e a Europa Oriental nesta

fase. Os serviços que mais mudaram com o offshoring foram o setor de TI, call

centers, entre outros.

Atualmente estamos na terceira fase do Global Sourcing, no qual as

empresas iniciaram processos de terceirização de processos de desenvolvimento de

produtos, recursos humanos e finanças, por exemplo.

Figura 14 - Evolução do Global Sourcing

Fonte: Elaboração do autor

3.3.5 – Benefícios do Global Sourcing para a empresa

Como dito anteriormente o Global Sourcing, possui benefícios e desafios para

as empresas. Com relação aos benefícios há dois motivos principais para as

empresas adotarem esta estratégia, são eles a relação custo beneficio e a

realização dos objetivos estratégicos.

No tocante à relação custo beneficio, reduzir custos é o motivo principal

quando as empresas decidem fazer práticas de offshoring, por exemplo, estima-se

46

Page 48: TCC - Fabio Meira

que as empresas esperam economizar cerca de 40% nos custos de base quando

fazem essa prática.

Enquanto no tocante à realização dos objetivos estratégicos segundo

Cavusgil et al (2010), há oito motivos principais para as empresas decidirem fazer

uso do Global Sourcing, são eles:

- Aceleração do crescimento da empresa;

- Acesso a pessoal qualificado no exterior;

- Melhora na produtividade e no serviço;

- Reinvenção dos processos de negócios;

- Aumento de velocidade de entrada ao mercado;

- Acesso a novos mercados;

- Flexibilidade tecnológica;

- Maior agilidade por aliviar a carga desnecessária.

O Global Sourcing já é utilizado em várias empresas ao redor do mundo, por

exemplo, a Dell do Rio Grande do Sul importa processadores Intel produzidos na

Costa Rica, a Boeing também é outra empresa que faz uso do Global Sourcing,

sendo hoje responsável por apenas 10% da adição de valor do Boeing 787,

conforme figura abaixo.

47

Page 49: TCC - Fabio Meira

Figura 15 - Fragmentação da produção do Boeing 787

Fonte: Cavusgil et al (2010)

A estratégia escolhida pela empresa demonstra o alto dinamismo desta

pratica, sendo que no caso acima as peças são fabricadas em três continentes

diferentes.

3.3.6 – Desafios do Global Sourcing para a empresa

Segundo Cavusgil et al (2010), há sete desafios que as empresas devem

superar para lidar com o Global Sourcing sendo eles:

- Vulnerabilidade a flutuações cambiais;

- Custos de seleção, capacitação e monitoramento de parceiros;

- Aumento da complexidade ao gerir uma rede mundial de centros de

produção e parceiros;

- Complexidade na gestão da cadeia de fornecimento global;

- Influência limitada sobre os processos de manufatura do fornecedor;

48

Page 50: TCC - Fabio Meira

- Vulnerabilidade a comportamentos oportunistas ou atos de má-fé por

parte dos fornecedores;

- Capacidade restrita de proteger bens intelectuais.

Apesar dos desafios as empresas tendem a seguir uma estratégica de Global

Sourcing, pois geralmente os benefícios compensam estas dificuldades.

3.3.7 – Riscos do Global Sourcing

O Global Sourcing pode ser feito tanto por empresas grandes quanto

pequenas e muitas vezes leva a empresa a aumentar sua busca por oportunidade

internacionais. Segundo Cavusgil et al. (2010) o Global Sourcing envolve sete riscos.

São eles:

- Redução de custos menor que a esperada;

- Fatores ambientais;

- Ambiente jurídico fraco;

- Risco de criar concorrentes;

- Trabalhadores pouco qualificados ou inadequados;

- Dependência excessiva dos fornecedores;

- Diminuição do compromisso e da motivação entre os funcionários do país de

origem.

49

Page 51: TCC - Fabio Meira

4.0 – Metodologia

Para a realização deste trabalho foi necessário estudar os temas que

possuíam relação com o tema proposto, para assim termos um maior

aprofundamento na questão envolvida.

Desta forma, foi feita uma revisão bibliográfica à respeito dos seguintes

temas: O Departamento de Compras, o Comércio Internacional e o Global Sourcing.

Também foi realizado um questionário em cinco empresas de atuação

nacional, com executivos da área, que visava obter resultados que fossem possíveis

comparar com os resultados da pesquisa de Trent e Monczka(2005). As empresas

pesquisadas foram quatro multinacionais e uma brasileira, além da comparação com

a pesquisa de Trent e Monczka (2005), buscou-se também descobrir qual seria o

papel do comprador nestas empresas seguindo a pesquisa realizada por Baily e

seus colaboradores (2000).

Após isso, foi feita uma análise dos dados recolhidos pela pesquisa e feita

uma comparação entre o resultado obtido e o resultado do trabalho realizado por

Trent e Monczka (2005).

4.1 – Questionário

O questionário aplicado às cinco empresas, segue abaixo:

1) Qual é o nome de sua empresa?

2) Sua empresa Pratica o Global Sourcing?

3) Como o papel do comprador é visto em sua empresa?

(Primitivo-Sem qualificações especiais; abordagem burocrática; cerca

de 80% do tempo é dedicado às atividades burocráticas)

(Conscientização-Sem qualificações especiais; algumas rotinas básicas

de compras; 60-79% do tempo dedicado às atividades burocráticas)

(Desenvolvimento-Qualificações acadêmicas formais exigidas;

envolvimento em negociações; reconhecimento da função compras e

suprimentos; 40-59% do tempo dedicado às atividades burocráticas)

50

Page 52: TCC - Fabio Meira

(Maturação-Qualificação gerencial exigida; compradores

especializados em commodities* integrados com as áreas funcionais;

envolvimento com todos os aspectos do desenvolvimento de novos

produtos; maior parte do trabalho dedicado à negociação e à redução

de custo/desenvolvimento de fornecedores; 20-30% do tempo dedicado

às atividades burocráticas.)(Avançado-É necessária qualificação

profissional ou pós-graduação; o comprador está mais envolvido com

os assuntos mais estratégicos do trabalho; mais dedicado ao custo

total de aquisição, à administração da base de fornecedores etc;

menos de 20% de seu tempo dedicado às atividades burocráticas.)

4) Em qual nível você acredita que está a gestão de Suprimentos da sua

empresa?

(Nível 1 - Compras domésticas apenas)(Nível 2 - Compras

Internacionais isoladas, apenas quando necessário)(Nível 3 - Compras

internacionais como parte de uma estratégia de suprimentos)(Nível 4 -

Estratégias de suprimento integradas ao longo das localidades globais

onde a empresa atua)(Nível 5 - Estratégias de suprimento integradas

ao longo das localidades globais onde a empresa atua e englobando

todos os seus grupos funcionais)

5) Em cinco anos qual nível você acredita que estará a gestão de suprimentos

de sua empresa?

6) Qual destes benefícios você considera que foi o mais sentido após a

implantação do Global Sourcing?

- Aceleração do crescimento da empresa;

- Acesso a pessoal qualificado no exterior;

- Melhora na produtividade e no serviço;

- Reinvenção dos processos do negócio;

- Aumento de velocidade de entrada no mercado;

- Acesso a novos mercados;

- Flexibilidade tecnológica;

- Maior agilidade;

- Redução de custo.51

Page 53: TCC - Fabio Meira

7) Qual destes malefícios você considera que foi o mais sentido após a implantação

do Global Sourcing?

- Redução de custos menor que a esperada;

- Fatores ambientais;

- Ambiente jurídico fraco;

-Risco de criar concorrentes;

- Trabalhadores pouco qualificados ou inadequados;

- Dependência excessiva dos fornecedores;

- Diminuição do compromisso e da motivação entre os funcionários do país de

origem.

8)Quais destes pontos você considera mais importantes para a implementação do

Global Sourcing?

 Comprometimento da alta direção com o Global Sourcing

 Processos rigorosos e bem definidos

 Disponibilidade dos recursos necessário

 Integração por intermédio da tecnologia da informação

 Desenho organizacional que apoie a iniciativa de Global Sourcing

 Possuir uma estrutura que favoreça a comunicação com os outros Departamentos de Compras em outros países

 Uma metodologia para mensurar a redução de custo

52

Page 54: TCC - Fabio Meira

5.0 – Resultados

Foi realizado uma pesquisa com cinco executivos de compras de cinco

empresas diferentes, sendo quatro delas multinacionais e uma nacional. Foi

solicitado pelos entrevistados que se mantivessem em sigilo o nome das empresas,

dessa forma as chamaremos de A,B,C,D e E. As empresas A e B possuem

faturamento anual entre um e cinco bilhões de reais, sendo as maiores empresas

participantes da pesquisa, outras duas empresas estão na faixa de faturamento

entre quinhentos milhões e um bilhão, C e E e por fim a empresa D possui um

faturamento anual abaixo de um milhão de reais.

Foi questionado também se as empresas faziam uso do Global Sourcing, das

quais as empresas A,B e C fazem uso e as empresas D e E não adotaram esta

prática ainda.

Seguindo a tabela de Baily e seus colaboradores de 2000, quadro 2 deste

trabalho, perguntamos qual era o estágio de desenvolvimento do comprador dentro

de cada uma dessas empresas, e obtivemos o resultado expresso no quadro 7, que

também engloba o uso ou não do Global Sourcing.

Quadro 7 – Empresas pesquisadas e o estágio de desenvolvimento do comprador.

Empresa Utiliza o Global Sourcing Estágio de

desenvolvimento do

Comprador

A Sim Maturação

B Sim Avançado

C Sim Avançado

D Não Primitivo

E Não Conscientização

Fonte: Pesquisa realizada pelo autor.

As duas próximas perguntas realizadas fazem referência à pesquisa de Trent

e Monczka (2005), figura 1, deste trabalho, em que se questiona qual o nível da

53

Page 55: TCC - Fabio Meira

gestão de suprimentos destas empresas e em qual nível elas esperam estar daqui a

cinco anos e obtivemos a resposta conforme quadro 8.

Quadro 8 – Nível da gestão de suprimentos das empresas pesquisadas

Empresa Nível atual da Gestão de

Suprimentos

Nível esperado para a

Gestão de Suprimentos

em cinco anos

A 4 5

B 4 5

C 5 5

D 1 1

E 3 3

Fonte: Pesquisa realizada pelo autor.

Com as três empresas que responderam que utilizam o Global Sourcing A, B

e C, foi questionado qual seria o maior benefício sentido após a implementação do

Global Sourcing, foi usado os benefícios listados por Cavusgil et al.(2010) acrescido

do item redução de custo, e para as empresas A e B, as maiores da pesquisa, a

redução de custo, foi o maior benefício trazido pelo Global Sourcing, enquanto que

para a empresa C a aceleração do crescimento da empresa foi a mais sentida.

Essas empresas também tiveram que responder qual foi o maior malefício que o

Global Sourcing trouxe também seguindo a lista de Cavusgil et al.(2010) e

novamente as empresas A e B obtiveram as mesmas respostas que foi a

dependência excessiva dos fornecedores, enquanto que para a empresa C,

trabalhadores pouco qualificados ou inadequados foi o maior malefício.

54

Page 56: TCC - Fabio Meira

6.0 – Conclusão

Ao longo deste estudo procurei analisar como surgiu o Global Sourcing e

quais fatores o afeta, como por exemplo, o Comércio Internacional, a Cadeia de

Suprimentos e os Blocos econômicos, da mesma forma o Departamento de

Compras e o seu crescente ganho de importância dentro das empresas, também foi

estudado.

Após o término da pesquisa realizada com cinco executivos do departamento

de compras de cinco empresas com atuação nacional, podemos concluir igualmente

à pesquisa de Trent e Monczka(2005), que as empresas pesquisadas possuem uma

tendência a buscar a evolução no seu processo de Gestão de Suprimentos com

visão para o Global Sourcing.

Outro ponto também que conseguimos concluir é que as empresas que fazem

uso do Global Sourcing possuem os mais altos níveis do estágio de

desenvolvimento do comprador, conforme tabela desenvolvida por Baily e seus

colaboradores (2000).

Com isso, podemos responder a pergunta problema deste trabalho, traçando

um paralelo de que um processo avançado de Global Sourcing implica em um alto

estágio de desenvolvimento do comprador, sendo para este cada vez mais

necessário, possuir uma qualificação profissional, uma visão estratégica e menos

tempo dedicado a atividades burocráticas.

55

Page 57: TCC - Fabio Meira

7.0 - Referências Bibliográficas

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