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Universidade Estadual de Londrina Centro de Ciências Exatas Departamento de Geociências Eliton Flavio Gutierez Bega Territorialização das luzes e ordenação do espaço brasileiro: luminosidade, opacidade e centralidade na perspectiva das imagens noturnas do satélite DMSP/OLS Londrina – PR 2008

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Universidade Estadual de Londrina

Centro de Ciências Exatas Departamento de Geociências

Eliton Flavio Gutierez Bega

Territorialização das luzes e ordenação do espaço brasileiro:

luminosidade, opacidade e centralidade na perspectiva das

imagens noturnas do satélite DMSP/OLS

Londrina – PR

2008

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Eliton Flavio Gutierez Bega

Territorialização das luzes e ordenação do espaço brasileiro:

luminosidade, opacidade e centralidade na perspectiva das

imagens noturnas do satélite DMSP/OLS

Monografia apresentada ao Curso de Graduação

em Geografia da Universidade Estadual de

Londrina, como requisito parcial à obtenção do

título de bacharel.

Orientadora: Profª Drª Eliane Tomiasi Paulino

Londrina 2008

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Eliton Flavio Gutierez Bega

Territorialização das luzes e ordenação do espaço brasileiro: luminosidade,

opacidade e centralidade na perspectiva das imagens noturnas do satélite

DMSP/OLS

Monografia apresentada ao Curso de

Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel, submetida à

aprovação da comissão examinadora composta pelos seguintes membros:

________________________________________

Profª Drª Eliane Tomiasi Paulino Universidade Estadual de Londrina

__________________________________ Profª Drª Ângela Massumi Katuta

Universidade Estadual de Londrina

_________________________________ Profª Drª Ideni Teresinha Antonello Universidade Estadual de Londrina

Londrina, 25 de agosto de 2008.

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Dedicatórias

Aos meus pais e aos velhos amigos de Piracicaba-SP, que sempre me apoiaram de forma

incondicional desde o início ao término de minha caminhada na Universidade.

Ao meu avô Virgílio, lá de Piracicaba, homem sábio e espirituoso, que mesmo na velhice

continua sendo para mim uma espécie de educador-protagonista, que ensina com exemplos

práticas de sua vida.

À minha avó Luiza, que foi morar lá no Céu. Deixou muitas saudades pela maneira tão simples

e cativante como vivia. Sempre será lembrada pela sua bondade, paciência e hospitalidade, e

também pelo café saboroso que fazia; heranças estendidas a minha mãe, felizmente.

Aos meus alunos do 3ºA da E.E. Diógenes Duarte Paes, em Jundiaí-SP, pela ótima relação de

amizade e respeito estabelecidas dentro e fora da escola, e pela diligência e interesse

demonstrados em aula.

À Susi, coordenadora pedagógica da E.E. Bispo Dom Gabriel P. B. Couto, em Jundiaí-SP;

alguém de extrema importância neste meu início de carreira como professor do Estado. Trata-se

de uma pessoa extremamente carismática, respeitável e admirável pela postura sempre amigável

e pela cordialidade com que trata toda a comunidade escolar, sem nunca perder de vista as

responsabilidades e o profissionalismo que o cargo exige.

A todos de Londrina-PR que fizeram parte doa meus cinco anos de história nesta cidade e que

me estenderam as mãos em momentos cruciais, especialmente ao Pastor Aparecido, que me

acolheu como filho; aos amigos Fábio Lúcio e Fábio Balduíno, por todo o companheirismo nos

meus primeiros anos no Paraná; aos amigos do Metas, por sempre me trazerem a sensação de

estar em família.

Aos amigos do curso de Geografia que comigo caminharam na UEL, por todos os momentos

compartilhados nos diversos espaços de vivência do campus universitário e da cidade. Desejo

que muitos outros estudantes, ao percorrerem suas trajetórias aqui nesta Universidade-mãe,

sejam tão felizes quanto eu fui.

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Agradecimentos

Primeiramente a Deus, que me ajudou a vencer todas as adversidades ao longo da vida acadêmica.

Rendo graças ao Senhor por ter preparado situações e caminhos tão inesperados, os quais me fizeram

chegar ao final do curso ao menos com um pouco de maturidade e consciência humanitária, desconfio.

Á professora Eliane Tomiasi, que mesmo diante de muitos contra-tempos, fez com que cada uma de

nossas reuniões de orientação equivalessem, talvez, a umas quatro ou cinco, tamanha foi a energia e a

dedicação dispensadas. Também por ter aceito o desafio de conduzir uma pesquisa num campo teórico

e temático que não correspondem exatamente às suas especialidades. Julgo, porém, que suas

intervenções se deram sempre com muita propriedade e da forma mais competente possível.

Ao professor Osvaldo C. Neto e a professora Ângela M. katuta, pela disposição e ajuda preciosa em

etapas decisivas deste trabalho. O acesso a certas fontes e materiais, bem como a conclusão de

determinadas fases de uma pesquisa se devem, muitas vezes, a boa vontade de nossos interlocutores.

Aos professores e graduandos do grupo “Geografando o Território”, os quais se propuseram a abrir um

espaço para discussão de conceitos e fundamentos essenciais na estrutura e formação histórico-

filosófica do pensamento geográfico. Foram debates hiper-interessantes e bastante esclarecedores, e

acredito ter tirado deles algum proveito e subsídios para a construção deste trabalho.

Faço menção a alguns amigos do curso de Geografia, especialmente ao Fred, ao Pedro e a Jú,

companheiros que tiveram suas parcelas de contribuição em muitas de nossas conversas informais no

decorrer do bacharelado. Creio que criamos algumas situações legais para troca de informações,

obtenções de novos referenciais e reflexões acerca de nossas pesquisas.

Ao professor Ricardo A. Castillo, do Depto de Geociências da Unicamp (Campinas), que mesmo não

me conhecendo pessoalmente, atendeu prontamente a um pedido via e-mail, enviando uma cópia

completa de sua tese de doutorado ao meu antigo endereço em Londrina, a qual foi de valor

inestimável a minha monografia. Marcou mais pela gentileza do que propriamente pelo favor.

Considerando que somos, num plano mais amplo, frutos de uma relação sócio-espaço-temporal, incluo

nesta página muitas pessoas da comunidade acadêmica e tantas outras de diversos círculos de amizade,

não menos importantes ou merecedores de serem aqui lembradas. Cada qual contribui de forma direta

ou indireta e de diversas maneiras, na medida em que nos permitem (re)criar nossos referenciais

sempre que deixam em nós partes de seu mundo, de suas experiências e vivências.

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Não basta ensinar ao homem uma especialidade.

Porque se tornará assim uma máquina

utilizável, mas não uma personalidade. É

necessário que adquira um sentimento, um senso

prático daquilo que vale a pena ser

empreendido, daquilo que é belo, do que é

moralmente correto. A não ser assim, ele se

assemelhará, com seus conhecimentos

profissionais, mais a um cão ensinado do que a

uma criatura harmoniosamente desenvolvida.

Albert Eisntein

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BEGA, Eliton Flavio Gutierez. Territorialização das luzes e ordenação do espaço brasileiro: luminosidade, opacidade e centralidade na perspectiva das imagens noturnas do satélite DMSP/OLS. 2008. Monografia de Bacharelado do Curso de Geografia. Universidade Estadual de Londrina. Resumo O presente trabalho propõe um estudo sobre as dinâmicas da ordenação e da centralidade

no território brasileiro a partir da estrutura e produção econômicas e das modernizações

técnicas na recente produção do espaço nacional. Partindo da análise das imagens orbitais

de luzes noturnas do referido território, representativas das “densidades” e das “rarefações

geográficas” ao longo da superfície brasileira, principalmente por demonstrar as

concentrações urbano-populacionais a partir de espaços luminosos, tem como um dos

princípios a demonstração de como se deram as condições de centralidade em certos

trechos do território, os quais possuem também maior peso na organização do espaço

brasileiro. Estabelece por fim, as diferenciações no território, compreendendo que as três

grandes regiões geoeconômicas (Centro-Sul, Nordeste e Amazônia) possuem produções de

“luzes” em contextos espaço-temporais diversificados e, portanto, ordenações intra-

regionais peculiares.

Palavras-chave: Território brasileiro; espaços luminosos; ordenação; centralidade;

imagem DMSP/OLS; diferenciações territoriais; regiões geoeconômicas.

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BEGA, Eliton Flavio Gutierez. Territorialization of lights and ordering the brazilian space: brightness, opacity and centrality in view of the satellite images night DMSP/OLS. 2008. Monograph of the course Bachelor of Geography. Londrina State University. Abstract

This paper proposes a study of the dynamics of ordering and centrality in the brazilian

territory from the structure and economic production and technical upgrades in the recent

production of the national space. Taking as a starting point for the analysis of orbital

images of night lights of that territory, representing the "density" and "geographical

rarefaction" along the surface brazilian, mainly by showing the concentrations urban-

population from luminous spaces, is to one of the principles of the demonstration as have

the conditions of centrality in certain parts of the territory, which also have greater weight

in the organization of the brazilian space. It finally, the differences in the territory,

including the three major regions geoeconômics (Center-South, Northeast and Amazon)

with productions of "light" in diverse contexts space-time and therefore particularly intra-

regional ordinations.

Keywords: Brazilian Territory; luminous spaces; ordination; centrality; image

DMSP/OLS; territorial differentiations; geoeconômicas regions.

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Sumário

Introdução 1

1 As imagens de luzes noturnas como ferramenta para a busca da compreensão da ordenação e da centralidade no território

6

1.1 Sistemas orbitais e Geografia: A geração de imagens noturnas DMSP/OLS com seus pontos luminosos.............................................................................

7

1.2 Possibilidades de leitura geográfica do território mediante o uso da tecnologia geradora das imagens de luzes noturnas........................................

9

1.3 Limitações da imagem DMSP/OLS para análise da ordenação territorial e da centralidade no espaço brasileiro................................................................

12

1.3.1 Os efeitos dos pixels formadores da imagem DMSP/OLS............................. 14 1.3.2 Luzes, opacidade, forma e essência: aparências e significados...................... 16 1.4 O “opaco” e o “luminoso” no conceito miltoniano, na representação da

imagem DMSP/OLS e na construção da idéia de centralidade no espaço......

20

2 Panorama das luzes e da centralidade no território brasileiro 23

2.1 Formação do território brasileiro e constituição dos espaços luminosos........ 24 2.1.1 Panorama histórico: primeiras luzes de um território opaco........................... 25 2.1.2 As luzes na perspectiva econômica: da Colônia à República.......................... 29 2.1.3 Transformações técnicas recentes e a expansão luminosa ............................. 31 2.2 Construção da centralidade no território brasileiro......................................... 34 2.2.1 A centralidade da região Sudeste.................................................................... 36 2.2.2 A centralidade da Metrópole Paulista.............................................................. 40

3 Luminosidade, opacidade e as diferenciações no território: as ordenações intra-regionais

44

3.1 Contextualizando os espaços luminosos dos “três Brasis”.............................. 45 3.2 Diversificação e integração econômica no Centro-Sul: espaços luminosos e

multifuncionalidade.........................................................................................

47 3.3 Ofuscando as luzes do Nordeste: espaços luminosos no contexto do atraso

econômico de uma região................................................................................

54 3.4 A Amazônia brasileira em face da expansão da fronteira agrícola: novas

luzes sobre a extensão opaca do Centro-Norte................................................

61

Considerações finais 69

Referências 73

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Introdução

Realizar uma pesquisa de cunho geográfico supõe eleger como princípio estrutural

a abordagem de questões relacionadas à ordenação espacial. Possivelmente se discute quem

são os agentes ou quais os elementos responsáveis pela produção do espaço e geradores de

dinâmicas, processos, fluxos e de tipos variados de arranjos que reverberam em

determinada(s) área(s) do território. A investigação, a questão central tem que ser de

“natureza geográfica”. E isto quer dizer que o objeto de estudo, necessariamente, deve vir

acompanhado de um recorte teórico-metodológico de modo que, no momento das reflexões e

operacionalização da pesquisa, o tema trabalhado seja reconhecido como um objeto

apropriável pela Geografia.

Como demonstram Milton Santos (2004) e Rui Moreira (2006), o modo como um

determinado objeto de pesquisa será apropriado é o que irá caracterizá-lo na perspectiva de

cada área do conhecimento. E vale ressaltar que o “espaço” não é campo de investigação

restrito à Geografia, uma vez que a Sociologia, a Economia, a Antropologia, a História e

tantas outras Ciências também o levam em conta. Entretanto, na Geografia, o espaço deve

responder às perguntas que remetam à espacialidade daquilo que se está estudando. E isto tem

a ver com a análise e interpretação da distribuição dos fenômenos que se quer estudar num

esforço de atribuir sentido(s) ao território. É dessa forma que o espaço geográfico se

diferencia dos interesses particulares dos espaços sociológico, antropológico, econômico,

entre outros.

O arranjo espacial não é aleatório. Há uma lógica (ou uma mescla de várias

lógicas) na maneira como a materialidade está disposta, no modo como os elementos

interagem entre si e na forma como as relações estão espacialmente estabelecidas. E compete

à Ciência Geográfica responder qual é o sentido do espaço se organizar da maneira como o

faz. Não é possível à Geografia falar da indústria, da sociedade, da cultura ou de qualquer

outra temática sem contextualizá-la à(s) ordem(ns) estabelecida(s) no espaço em que cada um

desses elementos estão inseridos. Do contrário se estará produzindo conhecimento ligado à

Economia, às Ciências Sociais ou a outras áreas do saber.

Calcado nestes pressupostos é que este trabalho vem esboçar, primeiramente, e

acima de tudo, conhecimento que faça alusão ao campo de interesse da Geografia, aqui

compreendido como a busca pela lógica da ordenação do espaço. No entanto, se faz oportuno

salientar que parece não haver consenso em relação à definição do objeto da Geografia,

mesmo entre os geógrafos. Pois há aqueles que defendem, por exemplo, ser a relação

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“homem-meio” ou “sociedade-natureza” o objeto da referida ciência. Há quem diga que a

Geografia estuda a ação do homem no espaço, ou ainda que ela se incumba da descrição da

superfície terrestre (geo = Terra; grafia = escrita), ou mesmo para estabelecer a diferenciação

regional do espaço, além de outras definições que não vem ao caso. Mas o fato é que a ciência

é histórica, como bem salienta Moro (1990), e muda em função do tempo, transformando e

buscando explicações para seus objetos de estudo, no intuito de acompanhar a realidade em

constante evolução. Ao que parece, as respostas poderiam ser tantas quantas são as escolas da

Geografia, as quais estabelecem seus olhares sobre o real em diferentes perspectivas.

A proposta circunscrita na presente pesquisa tem por intuito propor uma

abordagem do território brasileiro, tendo como foco a produção diferencial ou desigual do

espaço no contexto de cada região geoeconômica, admitindo que as disparidades

(econômicas, tecnológicas, sociais) inter-regionais e intra-regionais cooperam no sentido de

trazer uma leitura fornecedora de elementos para se pensar a ordenação territorial brasileira.

Um ponto importante a ser ressaltado neste trabalho foi o viés pelo qual se deu a

visualização das diferenciações regionais no Brasil, mediante a utilização de imagem de

satélite geradora de luzes noturnas. Trata-se de geração de informações específicas de satélites

de tecnologia estadunidense, que cabe ressaltar, são produzidas para atenderem aos propósitos

do Departamento de defesa dos E.U.A.

Não obstante, constituiu-se em uma ferramenta relativamente recente que tem sido

cada vez mais utilizada para pesquisas científicas, por demonstrar potencial na captação de

luzes artificiais, oriundas principalmente das áreas urbanizadas do território. Ela se torna mais

recente ainda quando se fala em sua apropriação para pesquisas no Brasil. Kampel (2003, p.

24) faz menção à utilização das imagens noturnas do referido satélite no território nacional no

ano de 1999 com o trabalho de Miranda, pesquisador que se utilizou desse recurso visual para

estudar a presença da urbanização na Amazônia Brasileira, através de pontos luminosos

espalhados pela floresta.

Essas imagens, para os devidos fins deste trabalho, servirão como base para se

refletir sobre a ordenação do território brasileiro, na medida em que representam a

concentração diferencial e, portanto, a densidade e a rarefação das luzes em determinadas

áreas do país. Serão empregadas como uma forma de linguagem, num esforço de associar a

disposição das luzes com a questão da centralidade ou das inúmeras centralidades no território

(pois não há uma única forma de centralidade, e a distinção de escalas o confirma). E ainda

serão confrontadas com as noções de “espaços opacos” e “espaços luminosos”, extraídas de

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Santos (2002), cujo sentido pode ser apreendido somente de forma parcial na referida imagem

orbital de pontos luminosos.

A despeito de se tratar de um estudo monográfico, faz-se necessário esclarecer

que o presente trabalho terá um caráter mais panorâmico, conforme compreende Eco (2000),

principalmente no que diz respeito à sua escala de análise, isto é, ao seu recorte espacial, por

meio de uma análise do quadro geral da distribuição das áreas luminosas e opacas no território

brasileiro.

As discussões não ficarão restritas à escala local ou microrregional, exceto na

ênfase que será dada (de forma dissolvida no texto) a alguns casos de centros regionais

representativos da centralidade territorial. E é nesse sentido que este trabalho de conclusão de

curso de bacharelado em Geografia não é rigorosamente monográfico, no sentido da

enumeração exaustiva dos elementos passíveis de serem apreendidos a partir de um recorte

geográfico restrito em termos de área. Em outras palavras, sempre que se recorre à escala

pequena, na perspectiva da representação cartográfica, perde-se em termos de detalhamento

daquilo que Milton Santos (1996) chama de “rugosidades” ou demais elementos físicos da

paisagem, mas que é compensado pela possibilidade de estabelecer os elos explicativos

inerentes a abordagem reticular, pautada no que Raffestin (1993) chama de nodosidades.

No estudo da ordenação territorial brasileira, a questão da escala de análise ganha

interesse particular, uma vez que há centros urbanos, as referidas nodosidades, capazes de

polarizar grandes áreas de seu entorno, enquanto há outros que não possuem ao menos uma

base produtiva capaz de suprir a demanda de sua hinterlândia mais imediata. Mas fazer um

recorte que corresponda à visualização ou apreensão do fenômeno que se quer destacar pode

ser um exercício muito complexo. Afinal, como delimitar uma escala que dê conta de mostrar

quais as regiões de influência de metrópoles que, direta ou indiretamente, se fazem presentes

em grandes extensões do território brasileiro, como são, por exemplo, os casos do Rio de

Janeiro, de Curitiba, de Salvador, e especialmente da cidade de São Paulo?

A questão a se colocar é que nestes tempos de globalização dos mercados e de

produção de um meio geográfico cada vez mais imbuído de técnica, de ciência e de

informação, conectado em redes modernas, o controle ou o poder de ordenar o território

muitas vezes foge à alçada do território nacional. Isso porque embora seja o Estado que detêm

a hegemonia sobre a gestão do território, os governos que o representam não estão

desconectados dos interesses hegemônicos da sociedade, e que emanam diretamente da lógica

de acumulação ampliada do capital, a ponto de interferirem diretamente no planejamento da

funcionalidade das áreas de domínio político-administrativo.

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Segundo menciona Becker (2005), há quem se posicione contra a idéia de

ordenação ou ordenamento territorial, por considerá-lo ultrapassado no contexto mundial em

que os fluxos da globalização reduzem ou impedem a ação efetiva das políticas públicas. Mas

de modo algum isso é convincente. Pois se as políticas territoriais e certas decisões estatais

parecem perder força é porque seus agentes compactuam com os objetivos das empresas e

outros órgãos privados, que aparecem como agentes expressivos na construção da ordenação e

da centralidade.

Esse imbricamento entre interesses privados e mediação do Estado fazem com

que a dinâmica de produção do território nunca seja dada por concluída, antes, constitua um

processo contínuo, já que os objetivos, os sujeitos e os mediadores estão em permanente

conflito, refletindo-se nos arranjos territoriais.

Com base nestes pressupostos, buscamos nos espaços luminosos do território

brasileiro um sentido para discorrermos sobre a ordenação e a centralidade que são

constituídas por esta lógica. Não podemos olhar a disposição das luzes sobre o território como

um fim em si, como se elas nada tivessem a ver com as grandes áreas luminosas espalhadas

pelo mundo, ou como se tão somente elas respondessem pela organização do espaço nacional.

Com um pouco de esforço, até podemos encontrar no conjunto das luzes noturnas

do Brasil um discurso consistente que sustente algumas colocações sobre a ordem espacial

interna. É o que mostra o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2001, p. 31), em

seu levantamento sobre a emergência de uma nova hierarquia urbana: “O processo de

mundialização não implica, entretanto, que deixe de existir uma estrutura hierarquizada de

relações e articulações entre os diversos centros dentro do território nacional, mas que essas

relações estão cada vez mais mediadas por novos determinantes [...]”.

Porém, se ignoramos a “invasão” das forças globalizadas e dos elementos vindos

do estrangeiro nos arranjos do território nacional, sem dúvida a análise seria incompleta. Pois

na era da Globalização, onde as relações se intensificam, não é possível pensarmos que uma

extensão territorial tão vasta como a brasileira esteja desconectada do processo que produz

luzes e, contraditoriamente, opacidades em escala mundial.

O desenvolvimento e a sistematização da presente pesquisa se divide em três

partes, onde se apresentará, no primeiro capítulo uma análise da tecnologia orbital da imagem

de luzes noturnas, e que é tomada como ferramenta ou como recurso visual que propicia uma

forma de linguagem por meio da qual delinearmos os procedimentos metodológicos e as

considerações iniciais na busca de uma conexão destas informações do território brasileiro

com o trato da ordenação e da centralidade no espaço.

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No segundo capítulo, a ênfase será dada às variáveis histórico-econômicas, bem

como às transformações técnicas recentes, que em seu conjunto são responsáveis pela gênese,

evolução e constituição do espaço nacional, que se manifesta na fixação das luzes no território

brasileiro, e que permite evidenciar a construção de uma dada centralidade.

As diferenciações regionais e intra-regionais a partir dos espaços luminosos e da

opacidade são assuntos do último capítulo, sendo este também o momento do trabalho onde

estão abordados os elementos que condicionam a leitura da ordenação espacial peculiar a cada

porção do território brasileiro, admitindo-se que este se divide em três grandes regiões

geoeconômicas, representados pelo Centro-Sul, pelo Nordeste e pela Amazônia.

Com isso queremos representar de forma mais elaborada o que está implícito ou

indiretamente presente em pesquisas de cunho geográfico. Referimo-nos aos trabalhos que

contemplam questões ligadas à ordenação do espaço, aqui considerada como o objeto de

estudo que faz jus ao campo de conhecimento atribuído a Geografia.

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CAPÍTULO 1

As imagens de luzes noturnas como ferramenta para a busca da compreensão

da ordenação e da centralidade no território

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1.1– Sistemas orbitais e Geografia: A geração de imagens noturnas DMSP/OLS com seus

pontos luminosos

A proeminência do meio técnico-cientifico-informacional (SANTOS, 2004)

vivenciado nos dias atuais, e que já vem se desenhando em alguns territórios desde os

primórdios de sua etapa de mecanização, com o advento da primeira Revolução Industrial em

fins do século XVIII, e mais acentuadamente com o processo de informacionalização dos

mesmos após a Segunda Guerra Mundial, permitiu, na contemporaneidade, o

desenvolvimento de várias tecnologias que tornaram o mundo observável. A possibilidade de

visualização sinóptica do espaço geográfico terrestre, cada vez mais socializada e mediada por

programas de computadores, através da captação de imagens de satélites artificiais é hoje um

fenômeno sem precedentes na história da humanidade.

O “Google Earth”, por exemplo, um programa digital que permite a observação

multiescalar do nosso planeta, através de montagens de fotografias de todas as partes da Terra

captadas pelos sistemas orbitais, é mais uma opção moderna (dentre várias outras, como sites

de institutos espaciais nacional e estrangeiros, revistas eletrônicas etc) para navegação e

conhecimento dos aspectos geográficos do globo. Opção essa condicionada pelos avanços da

ciência e especificamente do aprimoramento das tecnologias de sistemas orbitais, e um tanto

reveladora da cobertura imagética do mundo via satélites.

Sobre a relevância dos sistemas orbitais para a exploração do conhecimento sobre

o espaço geográfico, Santos (2004, p. 197) considera: “Pode-se dizer que o mundo teve dois

grandes momentos, do ponto de vista de seu conhecimento geográfico. O primeiro foi dado

com as grandes navegações e o outro se dá recentemente com os satélites [...]”.

O meio técnico-cientifico-informacional constituiu uma base tecnológica que

permite olhar o mundo de um lugar, de um ângulo de visão externo a ele. Tornou possível,

inclusive, a construção do presente trabalho, cuja finalidade é produzir conhecimento

geográfico a partir de uma imagem de satélite específica que abrange uma área de observação

da extensão do território brasileiro. Daí o esforço de associação entre a Geografia e a

tecnologia orbital aqui tratada para a contribuição ao conhecimento desta Ciência.

A importância do surgimento e da evolução dos sistemas orbitais de imagens

digitais para a Geografia se faz especialmente no contexto de dispor de representações que

cobrem grandes porções do território, ao mesmo tempo em que revela a materialidade do

mesmo. Castillo (1999, p. 77) frisa o quão inovadora foi para a Geografia a disposição de

imagens digitais de sensoriamento remoto para o conhecimento do território: “Antes mesmo

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do lançamento do primeiro satélite de observação da Terra, já se vislumbrava como uma

revolução na Geografia a possibilidade de contar com o imageamento orbital, com intuito de

abranger extensas áreas de uma só vez, permitindo uma visão de conjunto [...]”.

Não só pela cobertura de áreas que expressam representações sinópticas da Terra

ou pela sobreposição multiescalar das partes do globo que se mede a importância e o avanço

dos sistemas orbitais para a Geografia. Também a variedade de temáticas com que se conta na

atualidade, em decorrência da especificidade de satélites artificiais para a geração de dados

peculiares, nos trazem alguma idéia da diversidade de seu uso para análises de fenômenos no/

sobre o território.

Grosso modo, Castillo (1999) distingue dois grupos de satélites, sendo um deles

para fins militares e outro para uso civil. Dentre aqueles com finalidades civis, temos

sensoriamentos específicos para observações climáticas, meteorológicas, ambientais, para

estudos da evolução das manchas urbanas etc. E entre tantos outros, há também um grupo de

satélites geradores de luzes noturnas, que interessam particularmente a esta pesquisa. Trata-se

do sistema orbital estadunidense DMSP/OLS, do qual Kampel (2001, 2003) vem se utilizando

em seus trabalhos para detectar a presença da urbanização e da distribuição espacial das

ocupações humanas na Amazônia Brasileira. A referida autora descreve os fundamentos deste

programa de sensoriamento remoto, que utilizaremos como base para tecer algumas

considerações técnicas.

Segundo Kampel, o “Defense Meteorological Satellite Program” (DMSP) –

Programa de Satélite Meteorológico de Defesa Norte Americano, administrado pelo Centro de

Sistemas Espaciais e Mísseis da Força Aérea dos E.U.A. foi planejado, a princípio, para

observação noturna da cobertura de nuvens e previsão meteorológica. Porém, o sensor

“Operational Linescam System” (OLS), que opera o sistema para a aquisição de imagens

noturnas, ao ser potencializado por um tubo foto-multiplicador que aumentou sua

sensibilidade quatro vezes, trouxe como resultado a capacidade de detectar fracas fontes

emissoras de infra-vermelho próximo, como por exemplo as luzes das cidades, possibilitando

visão interessante da ocupação humana no espaço através da associação com as luzes

(KAMPEL, 2003, p. 19, 20).

O sensor OLS, a bordo dos satélites DMSP, apresenta características especiais

relacionadas à geração de imagens com pouca quantidade de luz, permitindo uma detecção

excelente de pontos luminosos noturnos, como as queimadas e as cidades, além de manchas

claras, como as nuvens (KAMPEL, 2001, 2003). No entanto, essas imagens noturnas recebem

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tratamento digital no Centro Nacional de Dados Geofísicos dos E.U.A. – “National

Geophysical Data Center (NGDC).

Um dos produtos gerados pela NGDC é a imagem-mosaico, resultante da

composição de cenas DMSP/OLS adquiridas em várias datas. Esta imagem permite a

eliminação das áreas com cobertura persistente de nuvens e a distinção de eventos

temporários, como focos de incêndios e relâmpagos, das luzes produzidas por fontes estáveis,

como aquelas emitidas pelas cidades (KAMPEL, 2003, p. 21). Com tal procedimento, fica

resolvido o problema das luzes efêmeras, eliminadas da imagem de luzes noturnas.

1.2 – Possibilidades de leitura geográfica do território mediante a tecnologia geradora das

imagens de luzes noturnas.

O papel das representações gráficas tem assumido importância crescente no atual

contexto da produção do saber geográfico. Considerando a diversidade de representações e

modelos com arranjos gráficos que contém informações passíveis de serem lidas

geograficamente, afirmamos que o presente estudo, baseado em imagens digitais de luzes

noturnas, tem a pretensão de contribuir no sentido de ser mais uma possibilidade de se extrair

conhecimento relativo ao espaço geográfico.

O recorte espacial contido na imagem, ou seja, o território brasileiro pode ser

cognoscível e consequentemente inteligível por meio da análise da distribuição das luzes. A

cognoscibilidade é inerente à imagem, pois diz respeito àquilo que, através dela, pode ser

conhecido ou que se apresenta ao pensamento, e nesse caso, trata-se de extrair conteúdo

geográfico. A inteligibilidade corresponde à fase analítica, momento em que se impõe um

conhecimento racional, uma interpretação que tem como ponto de partida a formulação de

idéias e informações com auxílio de uma dada imagem.

Uma representação noturna com pontos luminosos sobre o território, conforme

exposto na figura 1, pode suscitar diferentes abordagens. Há várias possibilidades de se ler a

imagem de luzes noturnas aqui aludida. Sua intervenção tornaria realizável, por exemplo, um

panorama da rede urbana ou de sua distribuição irregular sobre o território. Outro objeto de

investigação se daria com um quadro geral da concentração das atividades e da ocupação

humana nas áreas luminosas de um país qualquer. A regionalização do espaço através do

consumo de energia ou mesmo um discurso sobre o desenvolvimento regional desigual,

considerando que a densidade das luzes do conjunto de centros urbanos correspondam a uma

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densidade de consumo de energia elétrica, seriam duas temáticas pertinentes às imagens

DMSP/OLS. Assuntos relativos à identificação de áreas conurbadas, de possíveis metrópoles

ou da alocação de pequenos núcleos urbanos isolados, enfim, de uma gama de arranjos e

ocupações espaciais pautadas na observação da concentração-dispersão das luzes em dada

extensão territorial, não esgotariam a criação de um rico temário que possibilitasse diversas

leituras geográficas.

Figura 1 – luzes do território brasileiro captadas por imagem digital do satélite DMSP durante a noite Fonte: http://www.geocities.com/sks_alnitak/astro/pl.html

Os apontamentos que Kampel (2003, p. 23-24) faz sobre o histórico da utilização

das imagens do satélite DMSP traz alguma idéia dos diferentes propósitos aos quais as

imagens digitais de luzes noturnas serviram. Desde o mapeamento de áreas urbanas nos

E.U.A. ou a identificação da presença de aglomerações em áreas florestadas no Brasil,

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passando pelo estudo de padrões de crescimento das luzes noturnas na China (leia-se

expansão do perímetro ou da malha urbana das cidades), até um levantamento da distribuição

populacional em escala global (além de outros trabalhos), são indicativos de que as

representações geradas por este sistema orbital foram aplicadas em diferentes pesquisas para

fins variados.

A forma de direcionar o olhar (geográfico) sobre a imagem também é um ponto a

ser destacado, pois o modo de observação, nas palavras de Moreira (2006, p. 168), por si só,

pode engendrar sobre o território, análises diferenciais:

Se o olhar fixa o foco na localização, um ponto impõe-se aos demais e a localização arruma o plano da distribuição por referência nesse ponto. Se o olhar abrange a diversidade da distribuição, então é a distribuição quem arruma por igual o plano das localizações. O olhar focado na localização dimensiona a centralidade. O olhar focado na distribuição dimensiona a alteridade.

Num trabalho em que se busca, na perspectiva da representação DMSP/OLS,

retratar a polaridade que o maior volume de pontos luminosos deixam transparecer para uma

discussão sobre a ordenação territorial, em associação com o espraiamento das luzes, tanto o

olhar convergido na localização quanto aquele firmado na distribuição, não devem, de modo

algum, se desvincular entre si.

Mas a centralidade de certos espaços exige que se dê aos mesmos dispendiosa

atenção, e isso muitas vezes em detrimento de toda sua região imediata. Exerce-se aquilo que

Raffestim, Racine e Ruffy (1983) chamam de “esquecimento coerente”, por que torna-se

natural, por um momento, que se exclua do recorte escalar toda a área que compreende a

hinterlândia, já que esta não é possuidora do mesmo poder de atração.

No entanto, a própria idéia de um espaço centralizador já pressupõe que se pense

numa zona de influência deste espaço. É nesse momento que, necessariamente, impera o olhar

que dimensiona a alteridade sobre um certo plano de localidades, buscando, numa dimensão

geográfica maior, o conjunto das relações, das dinâmicas, dos fluxos e das trocas que

constroem uma organização regional, estabelecendo, portanto, uma ordem espacial.

Desse modo é que, num esforço de originar mais uma possível estruturação

teórico-metodológica que faça jus ao saber geográfico, se recorrerá a uma leitura conjunta dos

dois olhares, inspirados em Moreira (2006, p. 167), qual seja, fazendo com que “o exercício

da localização leve à distribuição, e esta, por sua vez, à extensão do sistema de pontos,

gerando uma alteridade de localidades que integrem o espaço”.

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Há ainda outros fatores que alargam as chances de leitura das imagens de luzes

noturnas. A visão de mundo ou a concepção de construção do espaço geográfico possibilitam

direcionamentos peculiares à leitura da imagem, e, portanto, do território nela contemplado.

A despeito das mais diversas compreensões ou pontos de vista acerca da

configuração do espaço, dado o contexto da globalização, cujo sistema tem afirmado o

capitalismo como força hegemônica, produtora de uma lógica que tem moldado e

reconstruído o território, fica nítido que o materialismo histórico seria um ponto de partida

interessante e apropriado para fundamentar algumas reflexões e para tornar inteligível uma

interpretação que aborde o sentido das luzes se disporem da forma como estão no território

brasileiro. Afinal, estamos falando de um território que esteve historicamente ligado a um

sistema produtivo que o delegou a função de sua condição de fornecedor de matéria-prima

para alimentar o circuito econômico capitalista europeu, conforme explicam Prado Junior

(1970) e Furtado (1977).

Todavia, há outras lógicas, que não a estritamente capitalista, também criadoras

de inúmeras possibilidades de leitura geográfica do território, a partir do fenômeno desenhado

na representação de luzes noturnas do satélite DMSP/OLS.

1.3 – Limitações da imagem DMSP/OLS para análise da ordenação territorial e da

centralidade no espaço brasileiro

Intermediar uma imagem qualquer entre um observador que procede na busca de

um fenômeno não diretamente observável na representação, como é o caso das dinâmicas

ordenadoras e centralizadoras de um dado espaço, conduz à necessidade de se determinar que

espécie de desafios uma disposição gráfica, como a gerada pelo sistema DMSP, impõe nesse

trajeto entre o sujeito e a busca de seu objeto. Por isso, é importante tecer algumas

considerações acerca das limitações e das pertinências que o uso dessa figura de pontos

luminosos pode provocar nas articulações e análises geográficas em questão.

Há, por exemplo, fatores ligados à própria formação digital dessa imagem de

satélite, cujo sistema sensorial capta certas luzes que não correspondem, em exato, ao

tamanho real do perímetro urbano que seu foco de luz representa. Isso decorre dos pixels

geradores da imagem digital, que capturam os efeitos reflexivos e expansivos que a

luminosidade provoca em certas condições físicas e entre aglomerações conurbadas.

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No entanto, há limitações de outros gêneros, como aquela causada pela

interpretação da aparente semelhança de uma materialidade expressa na forma de ponto

luminoso. O que poderia ser cognoscível na imagem DMSP/OLS quando a olhamos, senão a

dispersão e o tamanho desigual dos focos de luz? Há somente duas variáveis que chegam aos

sentidos de um analista: a claridade dos pontos de luz e a opacidade da base territorial.

Fica esclarecido, nas palavras de Castillo (1999, p. 42), a função apenas

mediadora das imagens orbitais: “Os satélites proporcionam um conhecimento técnico e

pragmático do mundo. Seus atributos, porém, não servem para explicar a geografia”. Ou seja,

ainda que uma variável maior de elementos contidos no território brasileiro fossem mostradas,

o raciocínio geográfico competiria, de igual modo, ao executor da análise.

O volume e a composição desta materialidade opaca e luminosa, e o sentido

geográfico relacional e de localização espacial dessas áreas, conteúdo heterogêneo não

mostrado nesta representação, é que precisa ser subsidiado por uma literatura que desvele os

fluxos e fixos (SANTOS, 2004) do território brasileiro, a fim de fornecer os dados para a

contextualização da ordem e da polaridade no espaço nacional.

Nisso fica aqui implícito parte do procedimento metodológico que torna viável a

construção da presente pesquisa. A inserção dos dados geográficos associados às luzes, à

ordem e à centralidade, são extraídos da bibliografia, já que a diversidade de elementos do

espaço nacional está dissolvida nesse conjunto de luzes noturnas e na área territorial

escurecida, e que são considerados sinteticamente nas análises empreendidas.

Associar fenômenos que pressupõem mobilizações espaciais, aliando-as a uma

imagem que, pela sua estaticidade, não pode mostrá-las em sua complexidade, é um labor que

requer cuidados procedimentais. Qualquer representação impressa terá a imobilidade como

fator limitante à Geografia, já que o espaço, objeto desta Ciência, é dinâmico. Através de

movimentos e deslocamentos, o espaço se reordena e pode criar (re)centralizações, ou as

reforça sob diversas circunstâncias. E a imagem registra apenas um momento desse arranjo

que já não será estável no momento seguinte.

Por outro lado, o “congelamento” pode ser adequado por apreender uma etapa do

processo, exibindo um resultado geograficamente compreensível e passível de inferências.

Essa é a dialética da relação “imagem estática – espaço dinâmico”, onde um território que se

refaz continuamente converte-se num resultado (ainda que parcial), imobilizado pela imagem.

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1.3.1 – Os efeitos dos pixels formadores da imagem DMSP/OLS

Um pixel é o menor ponto que forma uma imagem digital. O conjunto de milhares

de pixels formam-na por completo. Sendo os pixels pequenos elementos sensíveis à luz,

compostos em uma placa sensora (de diodo) sob a câmara orbital do sensor remoto, possuem

função de gravar as tonalidades e as cores que o atingir. No entanto, em se tratando do sistema

OLS, fabricado para operar à noite e fotografar focos luminosos, ocorrem alguns efeitos de

expansão das luzes de certos centros urbanos, fazendo com que, por exemplo, a Região

Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) seja contornada por um espaço luminoso maior que

a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), que sabemos ser mais extensa que a primeira

(conforme mostra a figura 3 da página seguinte).

Kampel (2001, p. 13) sistematiza alguns desses efeitos introduzidos na imagem

DMSP. O efeito de “expansão de bordas” seria, segundo esta autora, um caso típico de

tratamento digital desta representação, através de uma mosaicagem, que resulta de várias

cenas de diferentes datas. Em muitas situações, a localização geográfica dos pixels de borda

da imagem-mosaico pode sofrer variação de uma cena para outra, ocasionando a expansão do

limite real do foco de luz, delimitando uma mancha urbana branca pouco maior do que o

perímetro urbano em suas medidas reais.

A “contaminação” é um nome dado a outro tipo de efeito dos pixels. Neste, as

fontes luminosas próximas podem ser unidas e apresentarem focos maiores. Isso é comum

entre aglomerações urbanas vizinhas e em regiões metropolitanas.

Um terceiro e último efeito, chamado de “borramento”, se dá em condições físicas

locais específicas, em que as luzes de uma cidade próxima de corpos hídricos se refletem

sobre os mesmos e extravasam. Qualquer superfície ou lâmina d’água terá, na imagem, a

propriedade de refletir parte da luz de áreas urbanizadas e situadas nas margens de rios, na

orla marítima, próximas de barragens, de lagos, enfim, produzindo focos maiores nestas

fontes emissoras.

Por isso, sempre que comparamos Brasília e Goiânia com este recurso visual

notaremos que o espaço luminoso da capital federal, por sofrer efeito de “contaminação” das

cidades vizinhas e de “borramento” de seu lago artificial, fica bem maior que o da capital de

Goiás (conforme mostra a imagem DMSP na figura 8 da página 48), apesar desta possuir

população expressivamente maior e perímetro urbano com área muito superior à de Brasília.

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A região do Vale do Paraíba também apresenta situação interessante na imagem.

A linearidade e a relativa proximidade das cidades desta área seguem paralelas ao curso do rio

Paraíba. As luzes emitidas pela concentração da atividade industrial espalhada pela rodovia

que interliga as cidades, contribui para gerar nesta área uma “tracejada luminosa”, unindo

numa linha contínua centros urbanos como Jacareí, São José dos Campos, Caçapava, Taubaté,

Pindamonhangaba, Roseira, Aparecida, Guaratinguetá, Lorena etc (figura 2).

Figura 2 – Imagem do satélite DMSP captando os espaços luminosos no eixo Rio- São Paulo Organizado por Osvaldo C. P. Neto

Figura 3 – Imagens do complexo metropolitano no eixo Rio de Janeiro – São Paulo captadas pelo satélite Landsat mostram a proporção entre as dimensões das duas maiores regiões metropolitanas

Rio de Janeiro

São Paulo

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Observando na figura 2 as duas metrópoles nacionais, São Paulo e Rio de Janeiro,

vê-se uma área luminosa um pouco mais avantajada na capital fluminense e em sua região

metropolitana, que no caso desta imagem, são atingidas principalmente pelo efeito de

borramento. A condição de grande cidade litorânea potencializa a reflexão da luz nas águas do

mar, a ponto de “engolir” a baía de Guanabara, unindo o Rio de Janeiro a Niterói. O aumento

da área luminosa acrescentada na região da Grande Rio torna-se nítido quando comparamos a

diferença entre o tamanho dos dois maiores aglomerados urbanos nas figuras 2 e 3, sendo a

última figura mais fidedignas à proporção entre ambas as regiões metropolitanas.

Portanto, tentar estabelecer uma relação direta, com base na imagem DMSP, entre

a centralidade e o volume de luz, entendendo tal associação como lei irrevogável pode ser, em

alguns casos, uma medida equivocada, por conta, entre outras coisas, da visualização e dos

efeitos expansivos dos pixels sobre os focos de luz. É sabido, e a literatura há tempo vem

mostrando, que a RMSP adensa em seu espaço grande conjunto de agentes hegemônicos de

expressão, além de força econômica e da capacidade produtiva superiores à situação

encontrada na RMRJ, enfim, de elementos que dotam, inquestionavelmente, a capital paulista

de um poder centralizador maior.

1.3.2 – Luzes, opacidade, forma e essência: aparências e significado.

Embora haja um número praticamente incontável de pontos luminosos, clareando

de modo heterogêneo a superfície escura do Brasil (fig. 1), dando aparência de

territorialização desigual, há ainda outra informação, de natureza também quantitativa, que

pode ser extraída da representação DMSP/OLS, que é a comparação do tamanho da área

desses espaços portadores de luz. São esses dados ou informações visuais, espacialmente

desproporcionais, que nos permitem falar de “territórios mais luminosos e menos luminosos”

(ou mais opacos) dentro de uma geografia brasileira muito desigual.

A produção capitalista do espaço, segundo a concepção de vários autores

(HARVEY, 2005; SANTOS, 2002, 2004; CORRÊA, 1994, 2001) é de conseqüência

propositalmente diferenciada, sobretudo em termos de desenvolvimento e de distribuição das

estruturas materiais. Goettert (1999, p. 21) notifica que “O capital expande-se para reproduzir-

se contínua e ampliadamente, realizando-se cotidianamente e produzindo o espaço à sua

própria imagem”. E diga-se de passagem, que se trata de uma imagem onde a lógica desse

aspecto disperso-concentrado da luminosidade territorial brasileira é coerente com a atuação

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capitalista desigualmente distribuída no espaço, ora privilegiando “certas luzes”, ora outras,

ora gerando novos espaços luminosos, ora ofuscando outros.

Tal movimento impossibilita qualquer idéia de equidade. E de fato, Corrêa (1994,

p. 67) concorda, ao esclarecer que: “A homogeneização completa do espaço não é compatível

com o capitalismo: a dinâmica contraditória da acumulação suscita diferentes territórios [...]”.

Também lemos em Lencioni (2003, p. 41, 42) que: “Embora o espaço tenda à

homogeneização, ele apresenta diferenças. Essas diferenças são como fragmentos que

testemunham resistência ao processo de homogeneização [...]”.

As formas luminosas, com a variedade de tamanhos indicados na representação de

luzes noturnas, que é, em parte, resultante de um histórico de cerca de cinco séculos dessa

atuação capitalista no território, leva-nos a inquirir o que há de conteúdo, de elementos

significativos nessas aparências reluzentes que dão a muitas delas poder de centralidade e

papel singular na ordenação territorial.

Percebe-se, nesse pontilhado luminoso, uma diversidade de formas, de tamanhos

que, por si só, nos dariam apoio para falarmos em graus de luminosidade. Isso do ponto de

vista de uma aparência revelada em proporções quantitativas de volumes brancos. Mas

comparar o grau de centralidade entre as luzes noturnas apenas pela variável tamanho não nos

fornece resposta satisfatória acerca de seus potenciais polarizadores.

Compactuamos com a posição de Santos (2002, p. 99) que, em sua teorização

sobre as formas espaciais (que não deixam de valer para a escala de análise aqui trabalhada),

conclui que: “Para alcançar o conhecimento, a forma nos dá um ponto de partida, mas está

longe de nos dar um ponto de chegada, sendo insuficiente para oferecer, sozinha, uma

explicação”.

Obviamente que o tamanho tem relação com a importância econômica e com a

força política da área em questão. Mas é possível que venhamos a encontrar pontos luminosos

menores e mais centralizadores em alguns aspectos.

Cidades portuárias possuem poder de atração de longo alcance, pois seu espaço é

o elo de conexão entre as mercadorias exportadas de sua região e os produtos importados nela

consumidos ou que para lá se dirigem. Para ela convergem e divergem fluxos que podem

atribuir-lhe posição primaz, mesmo sendo vizinhas de centros maiores. Em torno de

Blumenau, toda a região do Vale Europeu, em Santa Catarina, é organizada. Todavia, sobre a

esfera de sua vizinha Itajaí, núcleo urbano menor, de função portuária, praticamente aflui

mercadorias de exportação de todas as partes deste estado sulista.

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Há outros casos em que a centralidade tem muito a ver com a especialização ou

com funções específicas de um centro urbano do que necessariamente com a dimensão de seu

tamanho. Cidades turísticas são exemplos interessantes. A projeção regional, e por vezes até

nacional, de centros turísticos como Parati (RJ), Campos do Jordão (SP) e Caldas Novas (GO)

não se relaciona aos seus respectivos tamanhos ou contingentes populacionais que, diga-se de

passagem, são desprezíveis, mas sim à sua atratividade ou potencial de oferecer lazer e

serviços específicos.

Certos elementos alocados em alguns espaços urbanos são determinantes para

atrair fluxos de pessoas, de mercadorias e de capital, e impõem algum tipo de polaridade. A

diferenciação funcional das cidades (e não apenas sua dimensão populacional ou área urbana)

é um dado essencial na ordenação espacial de um território.

A maneira de relativizar o grau de luminosidade (centralidade) das luzes noturnas

do satélite DMSP/OLS é estudando o que há no interior das mesmas. Elas demonstram um

aspecto quantitativo aparente na representação digital. Mas os aspectos qualitativos referentes

ao conteúdo geográfico não podem ser verificados em escala tão genérica. Nesse sentido, a

forma não responde pelo conteúdo.

A título de exemplo, a figura 4 (próxima página) destaca espaços luminosos de

medidas semelhantes entre as Regiões Metropolitanas de Salvador, de Belo Horizonte e de

Porto Alegre. São três áreas luminosas que apresentam dimensões próximas, de acordo com a

referida imagem. Entretanto, o contexto sob o qual cada uma delas se formou, a inserção no

espaço-tempo do território brasileiro, bem como a estrutura econômica e o desenvolvimento

diferencial do meio técnico-científico-informacional, são dados conteudísticos peculiares às

suas respectivas (re)produções espaciais. Trata-se de três fragmentos do território

absolutamente distintos entre si, apesar da mesma posição de metrópoles nacionais no

contexto da hierarquia urbana. Na essência é que se diferenciam aparências igualitárias.

Numa das afirmativas de Santos (1997, p. 58) lemos que “[...] nenhum lugar pode

acolher nem todas nem as mesmas variáveis, nem os mesmos elementos nem as mesmas

combinações. Por isso, cada lugar é singular, e uma situação não é semelhante à outra”.

O mesmo vale para os espaços opacos do território. O conteúdo geográfico e o

grau de importância podem ser equiparados em todas as áreas do país? Evidente que não.

Sobre estas áreas, diferentes níveis de tecnificação são empregados nas atividades

agropecuárias. Além disso, o potencial natural de vegetação e mineral são nelas distintos,

disponibilizando recursos e propiciando atividades exploratórias as mais diversas.

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Figura 4 – Espaços luminosos formados pela mancha urbana das Regiões Metropolitanas de Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre. Organizado por Osvaldo C. P. Neto.

Embora a escala e as formas gráficas desta imagem orbital impeçam qualquer

leitura específica da essência desses pontos luzentes, há uma leitura pertinente que está na

associação do tamanho ou da extensão (em área) com a diversidade de elementos e a

complexidade de relações. Faz parte da lógica do raciocínio espacial contar com uma rica

multiplicidade de objetos geográficos numa metrópole, comparando-a a um minúsculo ponto

luminoso indicativo de uma pequena cidade.

Corrêa (1996, p. 69) nos dá uma visão de metrópole que, sob hipótese alguma,

pode ser traduzida como uma versão maior de qualquer cidadezinha tradicional. Esse autor

nos coloca que o espaço metropolitano possui funções típicas, sendo sede de um conjunto de

instituições estatais de vários níveis de governo, além de empresas e conglomerados

financeiros privados nacionais e estrangeiros, que geram uma gama de conexões não

reprodutíveis em centros menores. A produção do espaço urbano não se assemelha, diante das

Salvador

Belo Horizonte

Porto Alegre

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desproporções aqui colocadas. Afinal, não faz sentido falarmos em sub-centros, ruas

especializadas em determinados serviços, concentração bancária ou multifuncionalidade

urbana em cidadelas sem, muitas vezes, conhecermos a base produtiva estabelecida.

E ainda que Lencioni (2003, 2004), recentemente, venha desenvolvendo trabalhos

que apontem para um processo que a autora chama de “metropolização do espaço” (sendo

este indicativo de que certas porções do território passam a incorporar características até então

exclusivas da região metropolitana), não é possível compararmos qualquer cidade média

contendo tais tendências metropolitanas à multiplicidade de situações encontradas numa

capital metropolitana de grande extensão geográfica.

A proporção e a concentração possuem estreita relação com a diversidade. As

grandes luzes captadas pela imagem DMSP que encontramos no território brasileiro,

favorecem condições de centralidade por conta do acúmulo de ações e objetos técnicos ali

concentrados (SANTOS, 2004). A lógica do raciocínio espacial aponta para este caminho.

1.4 – O “opaco” e o “luminoso” no conceito miltoniano, na representação da imagem

DMSP/OLS e na construção da idéia de centralidade no espaço.

“Espaços opacos” e “espaços luminosos” são dois dos principais conceitos

utilizados na presente monografia. “Opaco” e “luminoso” estão adjetivando o vocábulo

“espaço”. Ora, a conceituação desse espaço, vital para a Geografia, é produzida sobre lentes

que o diferenciam por conjunto de objetos e de ações que o tornam “luminoso” ou “opaco”.

Milton Santos é o parâmetro para esta discussão, por apreender o espaço a partir dessas

noções. No entanto, sua construção conceitual de espaços opacos e espaços luminosos não

será tomada neste trabalho tal como o referido autor coloca; exatamente pela inviabilidade ou

dificuldade em ligá-la por completo ao fenômeno das luzes e das “sombras” geradas na

imagem DMSP.

Na concepção de Milton Santos, a idéia de luminosidade distingue um espaço de

modernizações tecnológicas de um outro, onde tais condições não imperam, sendo este

segundo símbolo da opacidade:

Chamaremos de espaços luminosos aqueles que mais acumulam densidades técnicas e informacionais, ficando assim mais aptos a atrair atividades com maior conteúdo em capital, tecnologia e organização. Por oposição, os subespaços onde tais características estão ausentes seriam os espaços opacos. (SANTOS, 2002, p. 264)

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Na perspectiva miltoniana, os espaços luminosos seriam aqueles bem servidos por

redes informacionais, telecomunicações, transportes e dotados de uma infra-estrutura que

corresponda aos propósitos das grandes empresas: “Os espaços luminosos, pela sua

consistência técnica e política, seriam os mais susceptíveis de participar de regularidades e de

uma lógica obediente aos interesses das maiores empresas” (SANTOS, 2002, p. 264).

Trata-se de um espaço cuja “iluminação” é compreendida do ponto de vista dos

interesses do capital, onde os agentes hegemônicos (multinacionais, conglomerados

financeiros) encontrariam condições produtivas instrumentais para imporem suas regras.

Os espaços opacos, onde as modernizações não chegam, se situariam nos

interstícios dessas redes tecnológicas-informacionais. São “símbolos da opacidade”

exatamente por não atenderem as expectativas de um meio atrativo aos investimentos

capitalistas e nem à sua lógica racional produtiva. Constituir-se-iam, nas palavras de Santos,

em espaços da “contra-racionalidade”, tornados irracionais para usos hegemônicos, por conta

de sua incapacidade de subordinação completa às racionalidades hegemônicas (SANTOS,

2004, p. 309).

Todavia, a idéia de espaço luminoso utilizada nesta pesquisa tem a ver com uma

luminosidade do ponto de vista da centralidade que tais áreas portadoras de luz, ilustradas na

imagem DMSP/OLS, engendram sobre sua hinterlândia. Ora, uma área central pode ser

medida pelo poder ordenador de seu espaço geográfico, gerador de fluxos que se dão sobre

uma região, a partir da influência de elementos reunidos numa situação tal que ocasionem

atratividade a outros elementos externos, refletindo, assim, sua “luminosidade” e imprimindo

uma ordem que circunscreve uma dada extensão polarizada. E neste sentido, nem todos os

focos de luz da representação seriam, de fato, um espaço luminoso.

Literalmente, os focos captados na imagem noturna do território brasileiro,

mediante sensoriamento remoto, são oriundas da iluminação gerada pela energia elétrica que,

segundo Kampel (2001, p. 24), as áreas urbanas emitem. São espaços que coincidem com a

noção de centralidade, na medida em que o urbano reúne um conjunto de forças que o

interconectam à outros subespaços (agrários, mineiros, de extração florestal, povoados e

vilarejos etc) e os organizam sob sua égide. Moreira (1999, p. 39), afirma que os espaços da

urbanização hegemonizam o espaço rural, regional e nacional. Dirá mais tarde que: “[...]

Diante de um espaço transformado numa grande rede de nodosidade, a cidade vira um ponto

fundamental na tarefa do espaço de integrar lugares cada vez mais articuladas em redes”

(MOREIRA, 2006, p. 162).

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Em parte, esse mesmo espaço urbano, “iluminado”, também corresponde à

“tradução” miltoniana de luminosidade, se concordamos com a assertiva de que são as

cidades (ou ao menos certas áreas dela) os espaços a receberem adensamento de infra-

estruturas de toda sorte para que as empresas se estabeleçam. E são exatamente nestes centros

urbanos (obviamente que não em todos) que a técnica, o poder político e as forças econômicas

majoritárias se encontram e unem-se para subordinarem os espaços opacos, causando,

inclusive, o fenômeno da centralidade.

Esse raciocínio permite, até certo ponto, um diálogo entre o significado do opaco

e do luminoso em Milton Santos, na figura de luzes noturnas e também nas reflexões acerca

das áreas centrais de um território. Porém, de forma alguma é possível associá-los por

completo. Pois nem toda rede de cidades exibida na imagem possui as condições de

luminosidade que seja sinônimo de adensamento tecnológico-informacional atrativa ao

capital. Tão pouco todas são capazes de criar centralidades que determinem uma região de

influência. Mas ao contrário, muitos desses núcleos são “pontos luminosos que abrigam

também atividades menos luminosas” (SANTOS, 2002, p. 294).

Além do mais, este autor também nos fala de um “outro” urbano que em nada

lembra a “luz” da modernidade e das redes informacionais, por ser lugar de moradia da classe

pobre (SANTOS, 2004). Parte do espaço urbano abrigaria, digamos, “faces opacas”, se

considerarmos em tal conotação o ponto de vista das desigualdades socioeconômicas

materializadas no território.

Outra cautela a ser tomada é que, nas teorizações de Milton Santos, lemos que não

apenas as grandes cidades se apresentam como o império da técnica, mas essa “invasão” tem

incluído, hoje, o mundo rural (2004, p. 238, 239). De fato, não são poucas as áreas agrícolas e

pecuárias modernizadas ou em fase de modernização. Em muitas delas nota-se a presença de

um conjunto de ações e de objetos técnicos manifestados numa paisagem que, nem de longe,

lembram aquele cenário rural tradicional de décadas atrás. Isso significa dizer que se o meio

técnico moderno é um fator de luminosidade presente nos centros urbanos e em certas regiões

campesinas, fica difícil refletir tal idéia na visualização das luzes noturnas que destacam como

áreas opacas aquelas não compreendidas no perímetro urbano.

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CAPÍTULO 2

Panorama das luzes e da centralidade no território brasileiro

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2.1- Formação do território brasileiro e constituição dos espaços luminosos

Os primórdios da formação do território brasileiro coincidirão, em seus três

primeiros séculos (do XVI ao XVIII) com a consolidação de um sistema capitalista

fundamentado nas trocas comerciais e calcado na acumulação de metais. Coincidirão ainda

com o momento de transição do capitalismo comercial para o capitalismo industrial,

notadamente na segunda metade do século XVIII.

As potências européias, especialmente a Inglaterra, vivenciavam, nesse período,

uma fase de inovações técnicas (descobertas de novas fontes de energia, de matérias-primas,

invenções de maquinários) que eclodiriam num processo produtivo mais eficiente. Sob a

bandeira do sistema capitalista em plena expansão é que, paulatinamente, assiste-se à

internacionalização dessas técnicas de produção maquinofatureiras que chegam ao Brasil de

forma marcante a partir do século XIX. É o início da mecanização dos principais centros

urbanos do território nacional.

Do período colonial ao republicano, passando pelo regime imperial, novas

aglomerações urbanas se formavam à cada ciclo econômico. Deffontaines (2004, p. 119) já

notificava em 1938 que há três séculos atrás o Brasil não tinha nenhuma cidade, mas naquele

ano os centros urbanos já se contavam aos milhares.

Com o advento da industrialização o fenômeno urbano se intensifica no Brasil.

Uma geração de novas cidades se formam, enquanto muitos dos velhos centros ganham novas

funções. É o que mostra Oliveira (1982, p. 38) ao relatar que as grandes cidades brasileiras,

antes concebidas como sede do capital comercial, se redefiniam como sedes do aparelho

produtivo.

Alguns desses elementos já citados nos parágrafos anteriores, tais como a técnica,

o comércio, a indústria, a urbanização acelerada, assim como os ciclos econômicos, são

fundamentais para verificarmos uma definição de funções cada vez mais nítida entre o campo

e a cidade. Os espaços luminosos se separam dos opacos por reunirem em área urbanizada,

esse conjunto de densificações técnicas, de produção industrial criadora de um setor terciário

maciço, da centralização das decisões políticas, do controle comercial que lhe dá um agregado

de funções tidas como urbanas, ou características destes subespaços. Essa produção de

espaços urbanos que ao longo do tempo foram acumulando funções cada vez mais centrais é

que formam a base da territorialização das luzes.

Interessante é a periodização proposta pelo IPEA (2001, p. 346), em que expressa

a evolução do processo de urbanização no Brasil e de sua formação territorial nas distintas

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relações entre cidade e campo. Temos, de acordo com esse Instituto, uma formação territorial

primária denominada de “Escravista Atlântica” (1500-1889), em que não há separação tão

explicita entre o campo e a cidade, já que ambos desempenhavam atividades complementares

para operacionalizar a exploração agrária e mineral. A formação “Agromercantil Nacional”

(1889-1930/1945) se daria num momento em que a cidade já é o lócus de comercialização das

riquezas do campo para o mercado mundial e doméstico. Por fim, entraríamos numa fase em

que a força do urbano se confirma na formação “Urbano-Industrial” do território (a partir da

década de 1930), onde a indústria passa a determinar à lógica da acumulação endógena.

Grosso modo, vemos como o espaço vai sendo diferencialmente produzido e

como o território vai ganhando acréscimos de materialidade artificialmente construída sobre

sua base física.

Tendo como substrato o espaço brasileiro, veremos nos subitens seguintes como

as luzes da imagem DMSP/OLS, em perspectiva histórica, e de acordo com as variáveis

econômicas, conjuntamente com as transformações técnicas, foram se “ascendendo” e

iluminando várias partes do território, e que em compasso com a evolução cíclica do tempo,

ganharam conteúdo, materializando-se no território e tomando, paulatinamente, as proporções

que ora vislumbramos.

2.1.1 – Panorama espaço-temporal: primeiras luzes de um território opaco

Se abstrairmos o legado deixado pelas civilizações indígenas pré-colombianas que

habitaram a porção da América do Sul correspondente ao atual território brasileiro, e se

considerarmos a vinda de Cabral ao Brasil como o marco de um novo período, em que

assistimos desde então a colônia portuguesa sendo inserida ao movimento de expansão

européia e ao “recém-nascido” sistema capitalista, teríamos então pouco mais de quinhentos

anos de construção do espaço e da formação territorial do Brasil.

Uma nova lógica passa a dominar as terras sul-americanas a partir da posse de

Portugal, da Espanha, das invasões esporádicas de outras potências européias, (como a

Holanda e a França, que contrabandeavam no litoral de dominação lusitana); e principalmente

a partir da subordinação econômica imposta pela Inglaterra. Sob o contexto deste período das

grandes navegações européias, novos elementos adentram e passam a interagir na produção

do espaço brasileiro.

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As tribos que habitavam o Brasil estabeleciam relações de outro gênero com o

território. A caça, a coleta, a plantação para subsistência, o consumo de alimentos facilmente

extraíveis do meio natural não exigiam a fixação de grandes obras de engenharia que fossem

indicativas de uma técnica impressa no solo, de forma a modificar a forma de exploração dos

recursos. Também as habitações indígenas não se pareciam nada com as fortificações

portuguesas erigidas em alguns pontos do litoral, e nem lembravam a “rigidez” de seus

núcleos habitacionais, embriões de futuras cidades.

Se houve, por parte das atividades indígenas, construções de objetos fixos

significativos para a circulação de fluxos, tal situação se deu de modo pontual no território

brasileiro. Mas a dominação política e econômica da metrópole portuguesa e também o

estabelecimento de um modo de produzir e explorar o território lucrativamente, acompanhado

de novas técnicas fixadoras de grandes engenharias, suprimiriam em grande parte a “maneira

indígena” de usar o território.

O reino de Portugal “promoveria” nas terras conquistadas uma ordenação espacial

que correspondesse aos seus interesses econômicos e mercantilistas na Europa. Daí o início de

uma contínua incorporação de novos espaços colonizados que participassem da divisão

internacional do trabalho, que destinaria à América do Sul a função de fornecedora de

produtos agrícolas tropicais e de metais às potências do além-mar.

Países como o Brasil, de passado colonial, propiciam, na visão de Moraes (2001,

p. 105) uma leitura geográfica reveladora da formação inicial do território mediante a busca

de espaços colonizáveis que justificasse a presença do dominador. [...]“A colonização em si

mesma é a conquista territorial [...]. A colônia é a internalização do elemento externo”, diz o

mencionado autor.

As características gerais, comuns a vários países europeus, como a carência de

minerais, de cereais, a existência de população e de capitais disponíveis, a remuneração do

capital mercantil, entre outras (MORAIS, 2001, p. 106), é que vão motivar essa expansão

apropriadora de terras e de recursos presentes no território colonial. Trata-se de uma difusão

formadora de uma ordem que vai se consolidando nas Américas portuguesa e hispânica,

circunscritas às necessidades do mercado europeu.

Sob a esfera da dominação portuguesa é que os primeiros ciclos econômicos se

sucederão no Brasil, ocasionando ordenações e centralidades que ascendem à medida que

novos espaços produtivos são anexados. Teríamos, primeiramente, o ciclo do pau-brasil que,

na concepção de Andrade (1987, p. 74), não contribuiu para dar nova organização ao espaço,

nem gerou pólos, por causa de sua curta duração e pelo seu caráter predatório. Mas ciclos

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vindouros de longo prazo e que configurariam espaços produtivos (como a monocultura

canavieira, a pecuária extensiva, o algodão, a mineração do ouro etc) gerariam uma ordenação

territorial interna submissa aos interesses externos. Iniciariam um movimento de trocas de

mercadorias entre partes do território.

Em seu texto sobre as fases da formação espacial brasileira, Moreira (2005)

destaca o bandeirantismo e a expansão do gado como os dois vetores fundacionais da

ocupação do território. O caminho dos bandeirantes e as trilhas do gado deixaram pontos de

parada que originaram manchas de cultivos e de vilas no interior, de onde “brotariam” vários

centros de referência da ocupação e formação do território.

No Nordeste brasileiro, que a princípio dispunha de ocupação estritamente

litorânea, de economia açucareira, Deffontaines (2004, p. 127) explicita como a expansão do

gado no interior teve importante função na formação de cidades. As trocas entre o sertão seco

e o estreito litoral úmido, segundo aponta o autor, fixaram pelo caminho, etapas de gado, e a

maioria das aglomerações do sertão, naquele período, tem essa origem. Esse vetor

correspondente à atividade pecuária, praticada de forma extensiva, orientado até certo ponto

para as margens dos rios, se infiltraria em áreas longínquas e ocuparia porção territorial

expressiva.

A descoberta do ouro na região das minas, no Brasil Central, seria fato histórico

de suma importância para o encontro desses dois vetores de ocupação, vindos do Nordeste e

do Sudeste. A entrada maciça de exploradores portugueses, o emprego da mão de obra

escrava na atividade aurífera e a transferência da capital, de Salvador para o Rio de Janeiro,

fizeram com que o eixo econômico se deslocasse da porção setentrional para o centro-

meridional da colônia.

Este período foi significativo para o processo de urbanização de uma área ampla

das Minas Gerais no centro do Brasil; e indiretamente em outras regiões do país ao sul.

Segundo Deffontaines (2004, p. 123): “Também a colonização mineira se apresentou

essencialmente sob a forma de uma civilização urbana [...]. Rapidamente, a zona aurífera das

montanhas das Minas se encheu de cidades de mineiros”.

Outras manchas demográficas se formavam nos extremos norte e sul. Em sua

descrição sobre a interiorização da ocupação humana no Brasil Colônia, Prado Junior (1970,

p. 72-95) enfatiza que as vias fluviais de comunicação no norte (rio Amazonas e afluentes)

eram fator de fixação do povoador naquela região, enquanto nos campos do sul a base da

colonização estava nas estâncias de gado.

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Mas foi ao sul dos centros mineradores (atual região sudeste) que a concentração

do povoamento se densificou. Com o esgotamento do ouro a região das Minas Gerais sofre

declínio. Entretanto, as circulações e fluxos entre o Centro-Sul, dinamizados durante quase

um século de atividade mineratória, fez com que as províncias de São Paulo e do Rio de

Janeiro emergissem como regiões importantes no cenário nacional. Deffontaines (2004, p.

124) notifica que: “O trabalho mineiro provocou uma ativa circulação: o transporte de metais

preciosos para a costa e o transporte para o interior dos produtos necessários aos mineiros, e

essa circulação foi por si própria criadora de aglomerações”.

A província paulista situava-se em área de entroncamento de comunicações e de

mercadorias entre o Rio Grande do Sul e as zonas mineiras. A fluminense, além de sediar a

capital do Império, era o principal ponto de contato e de escoamento de produtos para o

exterior. A partir de então serão exatamente essas as zonas mais prósperas, portadoras dos

espaços luminosos mais volumosos de todo o território.

Essa região, ao sul das minas, que ganhava novo vigor com o fim do ciclo do

ouro, seria beneficiada pelas modificações sociais e econômicas advindas da imigração de

trabalhadores europeus (italianos, alemães, espanhóis, portugueses) e com uma relação de

trabalho que, para Martins (1979) foi peculiar, onde se combina assalariamento com produção

direta dos gêneros de subsistência, conhecido como colonato.

Esclarece este autor que tal relação tendeu a ser analisada de forma simplista,

tomando-se por assalariamento generalizado o que na realidade não ocorreu neste momento

da história brasileira, já que a possibilidade de uso compartilhado das terras cultivadas com

café para os gêneros de subsistência foi, via de regra, o elemento decisivo para a atração dos

colonos, tendo em vista os baixos salários pagos pelo labor nas lavouras de café.

A transição mais rápida do escravismo ao colonato no Sul e no Sudeste atrairá,

definitivamente, essas duas regiões à esfera do sistema capitalista de forma mais marcante.

Agora, com a relativa circulação livre do dinheiro, que passava a se dar gradativamente nas

décadas seguintes da história econômica do Sudeste, e com o poder de compra de parcela da

população, ambas as regiões (sobretudo a segunda) participariam mais ativamente da

economia de mercado. Atingiriam patamares que permitiriam iniciativas privadas para

empreendimentos no setor secundário, tais como a abertura de fábricas, de indústrias leves, de

bens de consumo, graças ao acúmulo de capital obtido com a cafeicultura.

Desde então as diferenças se aprofundam entre essas duas grandes áreas do país.

O Brasil meridional passa a protagonizar as principais transformações de ordem social,

econômica, técnica, produtiva, e a tornar-se a região melhor dotada de infra-estruturas.

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Dispõe, assim, de uma conjuntura que tornará toda essa extensa área mais luminosa do que as

porções Nordeste e Centro-Norte.

2.1.2 – As luzes na perspectiva econômica: da Colônia à República

As atividades econômicas são as grandes propulsoras das transformações

contínuas do espaço geográfico. A longo prazo, tornam-se também importantes na leitura da

formação distinta das partes que constituem o território, que por sua vez, quase sempre é

composto, espaço-temporalmente, de regiões diferencialmente instituídas em face dos

processos econômicos engendrados. Tal afirmativa tem peso maior em se tratando de uma

extensão territorial como a brasileira.

Cada ciclo econômico, contanto que seja próspero e duradouro, tende a se

expandir em novas áreas ou regiões. Ao mesmo tempo em que possibilitam a remodelagem

espacial em áreas de ocupação mais antiga (onde a atividade é praticada há mais tempo),

propiciando aos centros urbanos novas funções, tendem ainda à fundação de novos núcleos,

embriões de futuras cidades em novas áreas.

O arranjo territorial nunca é aleatório, mas coberto de intencionalidades. O espaço

geográfico é também econômico. E o fator econômico, por alocar elementos que se articulam

na cadeia da produção-distribuição-consumo, torna-se, por si só um ordenador do espaço. É o

sentido da apropriação dos recursos a força propulsora dos espaços luminosos, e o

responsável majoritário pelo seu conteúdo e por muitas de suas funções centralizadoras.

A criação de núcleos ou o desenvolvimento de funções urbanas junto a uma atividade econômica foi regra geral na gênese da rede urbana brasileira: junto a uma sede de engenho de açúcar, de um seringal, de uma mina ou um garimpo, de uma capela em fazenda, de uma fábrica têxtil, a uma pousada de tropas de burros ou no entroncamento de rotas de comércio. (CORRÊA, 2001, p. 96)

No Brasil, todas as ocasiões são boas para que surjam cidades (DEFFONTAINES,

2004), sobretudo em se tratando de processos econômicos. Santos (2002, p. 32, 33) faz um

breve retrospecto do surgimento dos centros urbanos ao longo do território brasileiro com

base nos ciclos econômicos. O autor citado enfatiza a economia canavieira como a

responsável por uma série de pequenos centros na Zona da Mata Nordestina e no Recôncavo

Baiano. A mineração como fator preponderante para a existência de inúmeros núcleos de vida

urbana, especialmente no interior de Minas Gerais, da Bahia, de Goiás e de Mato Grosso. A

produção da borracha como uma alavanca para o surgimento de pequenos núcleos no Norte,

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enfim. Muitos foram os ciclos que fizeram os pontos luminosos surgirem às dezenas no

território brasileiro.

À cafeicultura devemos o surgimento de uma geração de cidades no Sudeste e em

parte no Sul, bem como o enriquecimento de centros como São Paulo, Santos, Londrina e

outros. O cacau também criou uma rede de cidades entre o litoral sul baiano e o norte

capixaba. A sojicultura vem a pelo menos três décadas alimentando a economia do Centro-

Oeste, de tal modo que vemos nas palavras de Bonfanti e Souza (2004) como essa atividade

vem inventando novas cidades, produzindo-as como convém para a regulação mais eficiente

da produção no campo.

A despeito de gerarem várias aglomerações pelo território brasileiro, os ciclos

econômicos, via de regra, de uma forma ou de outra, acabaram centralizando as principais

funções econômicas de um ciclo em apenas uma, ou em algumas poucas dentre muitas

aglomerações urbanas do país. Não por acaso, mas sempre por uma lógica espacial que

demonstrasse vantagens geográficas e econômicas em determinados momentos históricos.

Daí concordarmos com a assertiva de Oliveira (1982, p. 39), que diz:

Os diversos ciclos da economia brasileira [...] permaneceram criando ou recriando um padrão de urbanização que consistia nessa extrema polarização: de um lado uma rede urbana bastante pobre e, de outro, uma rede urbana extremamente polarizada em grandes e poucas cidades [...].

Em seu capítulo sobre “Os pólos brasileiros no espaço e no tempo”, Andrade

(1987) demonstra, a cada exemplo utilizado, como certas cidades criavam condições ou eram

favorecidas pela situação geográfica/ localizacional para que, a curto ou médio prazo, se

tornassem autênticos pólos de crescimento. O autor lembra os casos de Recife, Olinda e

Salvador no desenvolvimento da monocultura canavieira no período colonial; também cita o

caso do Rio de Janeiro, como pólo portuário no ciclo do ouro. Faz menção à São Luiz no

surto rizicultor e algodoeiro no Maranhão; à Manaus e Belém com a extração do látex; e

também a polaridade crescente do Sudeste, e especialmente da cidade de São Paulo, com o

ciclo do café e depois com a indústria.

Tantos outros pontos luminosos surgiram no mesmo contexto econômico que

aqueles identificados no parágrafo acima como pólos. No entanto, não puderam acompanhar o

ritmo de crescimento e de desenvolvimento naqueles períodos, nem nas fases sucessivas da

evolução econômica do território. Mesmo porque as condições econômicas não eram

favoráveis ao desenvolvimento conjunto da rede urbana em formação, numa sociedade que,

por quatro séculos, manteve o regime escravocrata:

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Esse caráter presente desde a fundação da economia brasileira em que o trabalho escravo não dava lugar a nenhuma formação de mercado de trabalho, é ele mesmo constitutivo do fato dessa pobreza da urbanização no país, de um lado, e da polarização em torno de poucas cidades, de outro (OLIVEIRA, 1982, p. 40).

A formação econômica do Brasil é um dado de suma importância para nos

apercebemos do uso do território de um modo cada vez mais integrado, por meio de

articulações que se solidificaram entre vários pontos do território nacional.

2.1.3 – Transformações técnicas recentes e a expansão luminosa

Podemos pensar com propriedade e autonomia sobre o uso mais integrado do

território a partir da referência teórica fundada no conceito de período técnico-cientifico-

informacional dos dias atuais. A produção do território apoiada numa produção industrial

modernizadora, do ponto de vista técnico, e a informatização recente, traduzida nas

transformações tecnológicas atuais, são temas de destaque neste esforço de leitura da

formação territorial brasileira e da constituição de seus espaços luminosos.

Temos de admitir, como Max Sorre (apud SANTOS, 2004), que a evolução das

mudanças técnicas equivalem a transformações geográficas. À medida que o espaço começa a

se materializar com o acúmulo de objetos técnicos (verificável na ocupação do solo pelas

infra-estruturas técnicas modernas), e à medida que o crescente uso das máquinas se torna

mais freqüente em parte considerável do território, cooperando na criação de novos métodos

de produção, torna-se secundário dizer que estamos diante de um processo de aceleração

muito significativo no que tange às alterações da ordenação do espaço. Uma era onde as

novas luzes, ou melhor dizendo, onde os centros urbanos modernos são cada vez mais

carregadas de conteúdo técnico, começa a se desenhar.

No caso brasileiro faz sentido falarmos das transformações técnicas ocorridas a

partir da segunda metade do século XIX. Pois é nesse período que as inovações técnicas,

oriundas da revolução industrial européia do século XVIII (juntamente com seus produtos

industrializados, maquinários), impulsionadas pelas novas formas de acumulação capitalista

alcançam o Brasil com expressividade nunca vista antes. De colônia segregada o Brasil passa

no período imperial para a vida moderna das atividades financeiras. Moderniza-se e se esforça

por sincronizar sua economia com a do mundo capitalista contemporâneo.

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De forma incipiente, temos a partir deste momento uma fase de mecanização do

território, da qual fazem menção tanto Santos (2002) quanto Prado Junior (1970). O primeiro

autor enfatiza que “a produção e, depois, o território se mecanizam, mediante a instalação de

usinas açucareiras e, mais tarde, da navegação a vapor e das estradas de ferro” (SANTOS,

2002, p.35). O segundo complementa com outros elementos que passam a incorporar o

território, como o aparelhamento dos portos, a instalação das primeiras manufaturas e a

expansão do comércio em todas as suas modalidades (PRADO JUNIOR, 1970, p. 193). Vai

mais adiante em sua abordagem quando informa que além das vias de transporte “[...] o

império deixará também uma desenvolvida rede telegráfica de quase mil quilômetros de

linhas, articulando todas as capitais e cidades mais importantes do país”( PRADO JUNIOR,

1970, p. 197).

As transformações técnicas e a materialidade que, a partir desses elementos

passou a ser criada, são importantes para entendermos as novas dinâmicas que se desenham

sobre um território cada vez mais instrumentalizado. Na explanação de Santos (2002, p.37)

podemos ler que: “O aparelhamento dos portos, a construção das estradas de ferro e as novas

formas de participação do país na fase industrial do modo de produção capitalista permitiram

às cidades beneficiárias aumentar seu comando sobre o espaço regional”.

A idéia aqui exposta de que as técnicas modernas geraram “expansão luminosa”

tem a ver com o fato de o território ser mais facilmente controlado e ordenado a partir da

fundação de muitas luzes (leia-se cidades), advindas de um processo de ocupação e de

produção do espaço acelerado pelas transformações técnicas modernas. Também tem a ver

com a expansão da dominação de muitos desses espaços luminosos no que concerne ao

ordenamento territorial, já que os meios técnicos recentes, centralizados nas cidades, deram a

estas grande potencial de mobilização de forças para colonizar ou atuar em vastas áreas,

trazendo-as para sua esfera de polarização.

Baseando-se nas renovações técnicas, às quais são incorporadas a certas áreas do

território em determinados períodos, Deffontaines (2004, p. 127) deixa implícito na passagem

abaixo a questão que estamos aqui abordando, ou seja, da reordenação sempre mutável no

espaço, conforme se alteram também os elementos técnicos:

Os portos de lenha foram uma causa de povoamento ao longo dos rios. Eles contribuíram para fixar a população nas margens; alguns se tornaram importantes, e vieram a ser escalas comerciais e se transformaram em cidades. Várias aglomerações do rio São Francisco começaram sendo portos de lenha. Hoje, é verdade, a transformação rápida da navegação a vapor pela adoção dos motores de explosão provoca uma verdadeira crise de

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povoamento fluvial, a maior parte dos portos de lenha não tem mais razão de ser.

Em outro trecho o mesmo autor cita a emergência de centros que passam a ser

produzidos de forma a promover essa “expansão luminosa no território”, por causa da

constituição de espaços modernos que obedecem a uma nova ordem, como foi o caso da

formação da malha ferroviária integrada a alguns portos do país para o escoamento da

produção, enquanto outros pontos passam a ter “brilho” reduzido, mais ofuscado:

[...] as estradas de ferro concentram toda essa circulação em algumas artérias para os grandes portos: Santos, Rio de Janeiro, Vitória, Porto Alegre. Os pequenos portos intermediários não servidos perderam toda a atividade e fazem parte dessas numerosas “cidades mortas” que formigam no Brasil: Angra dos Reis, Ubatuba, Nova Almeida, Benevente, Torres (p. 128).

Cada novo período de mudanças técnicas é acompanhado de uma redefinição da

ordenação do espaço, e de uma recentralização, resultante da territorialização de luzes com o

predomínio de um meio técnico cada vez mais denso.

Durante a fase que vai do início do século XX à década de 1940 (transição do

“pré-industrial” para a industrialização pós 1950) a rede brasileira de cidades se densifica, se

expande rapidamente e passa por importantes modernizações com a instalação de indústrias

de base, com a iluminação pública, usinas hidrelétricas, ferrovias, rodovias e todo um aparato

técnico gerado com a produção mecanizada. A fase da industrialização pesada e o início da

instrumentalização do território, com a era informacional, no pós segunda guerra,

complexificaram ainda mais a malha urbana.

Uma série de situações diversas acabou sendo gerada em função dos acréscimos

de transformações técnicas na constituição dos espaços luminosos que passavam a evoluir de

forma a renovar a materialidade no território por conta da criação de novos objetos técnicos

que o meio geográfico incorporava. Deffontaines relata que “[...] As estradas de ferro fizeram

triunfar as suas cidades e são a causa de uma numerosa geração urbana” (2004, p. 129),

especialmente no norte do Paraná e no oeste paulista.

A atividade industrial foi fundadora de pontos luminosos, pois como bem afirma

Oliveira (1982, p.43): “[...] cidades como Paulista, em Pernambuco, e Votorantim, em São

Paulo, são exemplos onde a indústria para se instalar teve que simultaneamente instalar uma

cidade [...]”. Nisto podemos observar a expansão das áreas luminosas no território.

Se ao longo do período colonial e imperial muitos pontos de luz se deram com a

mineração e com a garimpagem (isto é, se várias cidades se formaram a partir deste tipo de

exploração), recentemente, tal fenômeno tem se dado também com a ação de empresas

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mineradoras. Foi o caso, por exemplo, da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que fundou

pontos para apoio nas atividades de mineração em Carajás, no sul do Pará. Estes pontos

progrediram de pequenas vilas para cidades e formaram uma rede urbana, resultando num

conjunto de pequenos pontos luminosos em área anteriormente opaca. As proporções são

outras nos tempos modernos em que as corporações e grandes empresas detém a técnica mais

eficiente e a engenharia necessária para movimentar uma exploração de vastas áreas, a ponto

de gerar uma rede de pequenos centros, como no caso citado.

As transformações técnicas recentes, em aliança com necessidades de uso para

atividades econômicas modernas completaram o processo de “iluminação” do território

observada na imagem DMSP/OLS. Principalmente porque, juntas, a técnica e a economia,

respondem por um modo de produção hegemônico criador de grandes obras de engenharia

que se fixam no solo, que se territorializam principalmente nas áreas que correspondem às

luzes representadas na imagem noturna. Se materializam de forma concentrada nos espaços

urbanos, que são, por excelência, o “império” das técnicas e da força política e econômica a

exercerem a ordem sobre o imenso território opaco.

2.2 – Construção da centralidade no território brasileiro

Produto histórico do processo diferencial de produção do espaço, a centralidade

pode ser vista como uma situação espacial hegemônica, onde os objetos e as ações se colocam

a serviço das forças sociais mais poderosas.

Seja de forma induzida (como o planejamento de centros urbanos para sediarem

capital de estado ou capital federal, ou como cidades “inventadas” para exercer determinados

papéis ou cuja criação se justifique por funções destacadas) ou de forma menos interventiva

(como é o caso da maioria das cidades, que crescem “fortuitamente”), o fato é que a condição

de centralidade em qualquer área é histórica e desigualmente construída no espaço. E as

desigualdades espaciais sempre redundarão em áreas centralizadas e outras centralizadoras.

Do ponto de vista dos primeiros séculos da história da ocupação do território

brasileiro, ficaria nítido que a região Nordeste teria tudo para tornar-se a área centralizadora

do país. Afinal, o povoamento português se iniciou na faixa que corresponde ao litoral

nordestino. Enquanto floresciam centros como Salvador, Conceição, Natal, Filipéia, Olinda e

Recife com o ciclo da cana, além de São Luiz, São Cristóvão, Porto Seguro e outras cidades

litorâneas e também interioranas com a cultura do algodão e com a pecuária, ao sul não havia

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aglomerações de expressividade. À exceção do núcleo do Rio de Janeiro, existiam vilas de

povoamento pouco significativo, como São Vicente, Cananéia, Itanhaém, Santos, São Paulo e

Vitória.

Mas a descoberta do ouro resultaria em grandes alterações da ocupação espacial

da então colônia portuguesa. Tanto assim que Prado Junior escreve que: “[...] As

transformações provocadas pela mineração deram como resultado final o deslocamento do

eixo econômico da colônia, antes localizado nos grandes centros açucareiros do Nordeste”

(1970, p.64).

No prazo de alguns decênios apenas, povoa-se um território imenso até então

desabitado:

[...] é todo este Centro-Sul que, graças em grande parte à mineração, toma o primeiro lugar entre as regiões do país; para conservá-lo até hoje. A necessidade de abastecer a população, concentrada nas minas e na nova capital, estimulará as atividades econômicas num largo raio geográfico que atingirá não somente as capitanias de Minas Gerais e Rio de janeiro, mas também São Paulo (PRADO JUNIOR, 1970, p. 64).

As transformações advindas do fim da exploração aurífera e também dos ciclos

econômicos sucessivos a ela viriam para densificar o povoamento, bem como aumentar a

circulação no espaço ao sul das Minas, alavancando a acumulação de riquezas no Brasil

meridional.

O ciclo do café traria maior solidez econômica à região e afirmaria ainda mais a

construção da centralidade na região Sudeste. Em sua análise sobre essa fase, Furtado (1977,

p. 237) relata que: “O rápido crescimento da economia cafeeira, se por um lado criou fortes

discrepâncias regionais de níveis de renda per capta, por outro dotou o Brasil de um sólido

núcleo em torno ao qual as demais regiões tiveram necessariamente de articular-se”.

Também a retomada da atividade açucareira no período imperial (desta vez com a

construção da maioria dos engenhos no Centro-Sul) e a instalação das fábricas e indústrias em

meados do período republicano (virada do século XIX para o XX) cooperariam para aumentar

as distâncias entre as metades norte e o sul do país. O processo de industrialização no século

XX no Brasil, a concentração populacional crescente, e por fim, a constituição de um meio

técnico-científico-informacional, muito mais irradiado e contínuo nas regiões Sul e Sudeste, e

apenas pontuado no resto do país (SANTOS, 2002, p.52, 53), coloca em evidência esta grande

porção territorial brasileira como área privilegiada para as estratégias de ação do capital.

Especialmente no Sudeste, onde o crescimento econômico e tecnológico

implicaram em concentração espacial de recursos humanos e materiais, é que se assiste ao

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fenômeno da urbanização e da estratificação social de modo marcante, a ponto de Davidovich

(1987, p. 197) salientar que:

A oficialização do Sudeste como macrorregião em fins dos anos sessenta veio, pois, ao encontro de um trecho do território nacional em que mais intensa se fez a passagem de um Brasil agrário, dominado por oligarquias rurais, para um Brasil em que estavam emergindo novos setores sociais ligados a indústria, ao terciário, ao papel do poder público no fomento de uma classe média que se constituiu no sustentáculo da urbanização. A centralidade das áreas urbano-industriais meridionais acaba

mantida com a chegada da era informacional, por circunscrevê-las. Dessa forma Santos,

referindo-se às regiões Sul-Sudeste, comenta a implantação de um meio técnico-cientifico-

informacional sobre um meio mecanizado:

“Onde carregava a indústria esse papel motor, agora é a informação que ganha tal poder. Aprofundam-se assim, com novos fundamentos históricos, as tendências estruturais que fizeram da Região Concentrada o verdadeiro pólo da vida econômica e nacional” (SANTOS, 2002, p. 253).

2.2.1 – A centralidade da região Sudeste

Sabemos que as regiões Sul-Sudeste, mais novas que o Nordeste e mais velhas

que o centro-Norte, exercem maior controle sobre a organização do espaço brasileiro. Uma

dominação que deriva, entre outras condições, da concentração da renda nacional, da

implantação mais consolidada dos dados da ciência, da técnica e da informação, do padrão

mais alto de consumo das empresas e da população, da atividade comercial e industrial mais

intensa, da densidade das redes de abastecimento, de transportes, de serviços, da agricultura

moderna e fortemente mecanizada etc.

Milton Santos a denomina de “Região Concentrada” (2002). Contudo, se

observarmos atentamente a imagem de luzes noturnas DMSP/OLS, veremos que dentro desta

área adensada existem graus de condensação. O maior deles se encontra entre os estados de

São Paulo (capital e interior), Rio de Janeiro e a porção austral de Minas Gerais, repleta de

pontilhados luminosos. Também podemos inserir o norte do Paraná, que teve sua história

muito ligada à expansão paulista, sendo uma espécie de extensão do estado vizinho, através

do processo de ocupação cada vez mais a oeste, que alcançou o extremo norte sulista com as

fazendas de café, com a malha ferroviária e com a fundação de um sem número de núcleos

urbanos.

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Com exceção do norte paranaense (que compõe a região Sul), toda a faixa

territorial delimitada acima corresponde à porção mais dinâmica da região Sudeste. Seria esta

a área brasileira que reúne os elementos que a constitui como o grande pólo nacional. A

seguir, a figura 5 delimita o perímetro imaginário onde há maior densidade luminosa ou

luminosidade por área contínua no território.

Figura 5 – Perímetro que delimita a porção do território brasileiro com maior concentração de luzes Organizado por Osvaldo C. P. Neto.

A concentração espacial de luzes regionalizadas nesta área do Sudeste lhe confere

centralidade. Esta concentração pode ser lida, por exemplo, através dos fluxos de transportes

rodoviários, mais presentes neste trecho do território: “É sobretudo na ‘Região Concentrada’

que encontramos rodovias federais e estaduais duplicadas, testemunhas do peso dos fluxos

nesta área de alta divisão do trabalho e de comando das atividades regionais e nacionais”

(SANTOS, 2002, p. 67).

Pode ainda ser lida pelos fluxos do tráfego aéreo, que refletem a estrutura

centralizada nos principais pólos econômicos e político-administrativos no Centro-Sul. Em

seu levantamento sobre os dados do transporte aéreo no Brasil, Théry (2003) faz

levantamento das principais linhas domésticas, confirmando que as “pontes aéreas” mais

importantes estão interconectadas entre as três grandes metrópoles do Sudeste - São Paulo,

Rio de janeiro e Belo Horizonte - centros de peso nos fluxos financeiros e econômicos; e

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também entre Brasília, que além de ser capital federal, ainda leva vantagem pela sua posição

geográfica central, que facilita as ligações entre regiões.

“Os fluxos que acompanham o litoral, da fronteira meridional até Recife (e entre

eles os que ligam entre si as cidades do Sul e do Sudeste), são os mais importantes e formam a

‘coluna dorsal’ do país” (THÉRY, 2003, p. 26). Exatamente em toda esta faixa da orla

marítima, somando a ela o interior dos estados austrais do Brasil, encontramos as áreas mais

luminosas do país, segundo consta na representação orbital de luzes noturnas.

Um outro dado relevante está na função de gestão do território pelas grandes

corporações metropolitanas. O controle de atividades pela metrópole em espaços externos a

ela é uma das bases que alimenta sua centralidade sobre o território. O Sudeste, por abrigar as

duas metrópoles nacionais, além das metrópoles regionais de expressividade econômica; e

também uma gama de cidades médias importantes na função gestora, acaba concentrando a

maior fatia das corporações e cria, dessa forma, poderes de atuação espacial mais extenso.

Mais que qualquer outra região, concentra também a maior diversidade de

atividades econômicas e de especificidade em serviços e funções, o que lhe confere poder

para estabelecer uma nítida divisão territorial do trabalho no espaço brasileiro.

Durante a maior parte do século XX a indústria foi a “locomotiva” na construção

da centralidade na extensão meridional do território brasileiro. Bem menos intensas e diversas

foram as condições de mecanização/ industrialização nas porções Centro-Norte e Nordeste

brasileiros neste período.

Obviamente que, partindo destas condições, o processo de integração do território

nacional partiria do Sudeste. Andrade mostra-nos como a industrialização gerou conexões no

território a partir de seu potencial produtivo centralizado nesta região:

Como indústria atrai indústria e como é a indústria que comanda a vida econômica moderna, a partir de 1940 a região Sudeste passou a ampliar a intensidade de sua força centrípeta e a satelizar as demais regiões brasileiras, através da criação de uma rede rodoviária e de transportes aéreos que a liga aos vários pontos do país, através da expansão da rede bancária, da atração exercida pelo seu mercado consumidor. (ANDRADE, 1987, p.92).

Nas palavras de Moreira (2005, p. 17), notamos como as diferenças regionais

historicamente construídas e a concentração urbano-industrial projetou o Sudeste no cenário

nacional:

A lei do desenvolvimento desigual e combinado passa então a reger a nova formação, progressivamente desigualando e invertendo a forma das relações espaciais até então existentes. O campo passa o comando para a cidade, as regiões passam o comando para o Sudeste e as indústrias regionais passam o

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comando para a concentração em São Paulo, assim se reorientando a regulação e o ordenamento espacial no interior da formação.

Por assumir papel de região articuladora e ordenadora da produção no território, e

pelo seu acúmulo de funções diretoras e de gestão de suas entidades públicas e privadas, passa

a estabelecer relações de comando sobre o espaço nacional, se fortalecendo como o “espaço

do mandar” (SANTOS, 2002). Concentra uma elite econômica influente que, aliada à elite

estrangeira, decide o destino da Amazônia Legal e do Nordeste, através da penetração

financeira e da implantação de projetos industriais, agropecuários, agroindustriais, de extração

mineral e de obras diversas.

O espaço nordestino foi produzido em quatro séculos e meio de colonização, em

função do atendimento da demanda de produtos alimentícios e de matérias-primas para o

mercado externo (ANDRADE, 1983, p. 19, 20).

Ao se desvincular parcialmente do exterior no período de crise de seu setor

algodoeiro (no momento em que cresciam outras áreas algodoeiras no mundo), como

alternativa, o Nordeste passa a colocar sua produção açucareira e algodoeira no mercado

interno, já que a crescente urbanização do país, notadamente do Centro-Sul, bem como o

desenvolvimento da indústria têxtil asseguravam demanda para seus produtos. Integra-se de

forma dependente e complementar à economia industrial do Sudeste, sendo transformado,

segundo explica Andrade (1983), em área fornecedora de alimentos e de matérias-primas não

mais para o exterior, mas agora principalmente para o Sudeste, que se apropria também de sua

mão-de-obra barata.

Com relação ao grande território da Amazônia, a história recente da ocupação

desta imensa área tem mostrado a atuação de fração significativa da burguesia nacional (leia-

se estados do Sul e do Sudeste) associada a grupos estrangeiros na exploração desenfreada das

riquezas no norte do país. Como bem salienta Oliveira (1995), o grande capital do Centro-Sul,

nacional e multinacional, há décadas vem abrindo a Amazônia para sua reprodução.

Faz-se notável a intervenção de agentes econômicos (sobretudo da oligarquia

industrial) do Sudeste nas áreas setentrionais do Brasil, segundo aponta Andrade (1983, p.

26):

Este grupo (a oligarquia do Sudeste) detém um grande poder sobre o país, face ao acordo existente entre ele a tecnocracia que nos últimos anos implantou um modelo de desenvolvimento concentrador [...] e determinou, ao lado da concentração financeira, uma ponderável concentração geográfica [...] Daí a política de povoamento e ocupação acelerada e profundamente danosa à ecologia do Centro-Oeste e da Amazônia, e daí também a política de crescimento industrial dependente no Nordeste. O Sudeste cresce em detrimento das regiões marginais que se tornam cada vez mais dependentes.

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2.2.2 - A centralidade da Metrópole Paulista

Pensamos a metrópole em escala mais ampliada que uma cidade convencional.

Acomodamos nossa idéia à complexidade e ao volume maior das manifestações no espaço

deste centro de grandes proporções. No entanto, é necessário que tomemos cuidado para não

colocarmos todas as metrópoles no mesmo patamar, ao não fazermos as devidas distinções. A

noção de escala pode ser um tanto diversa mesmo entre esta classe formada por grandes

centros.

A cautela deve ser redobrada no momento em que outras cidades são elevadas à

categoria de metrópoles emergentes e/ ou de regiões metropolitanas (formadas pela

aglomeração de dois ou mais centros urbanos próximos ou conurbados), segundo novos

critérios divulgados pelo IPEA (2001). É o caso, por exemplo, de Florianópolis-SC, Londrina-

PR, Baixada Santista-SP, Campinas-SP, Vitória-ES, Cuiabá- Várzea Grande-MT e outras.

São exemplos de áreas urbanas que estão muito aquém das dimensões físicas e populacionais

da Grande São Paulo ou da Grande Rio.

Diferentemente dos dois grandes centros nacionais, São Paulo e Rio de Janeiro, as

metrópoles regionais exercem o controle sobre uma gama menos diversificada de atividades

industriais. Metrópoles regionais apresentam uma atuação espacial eminentemente regional

do ponto de vista de sua diversidade econômica e de seu poder corporativo. Há, em realidade,

na visão de Corrêa (1996, p.100), uma forte correlação entre diversificação limitada e âmbito

regional de atuação.

Enquanto Belo horizonte tornou-se um pólo metalúrgico, Porto Alegre um centro

de vestuário e calçados, Curitiba um pólo madeireiro e de papel, e algumas das capitais

nordestinas (Fortaleza, Recife, Salvador) grandes produtoras de gêneros alimentares e

açucareiros (CORRÊA, 1996), as duas maiores cidades do país controlam diversos setores

industriais de peso, ligados à indústria metal-mecânica, química, de materiais de transporte e

de vários gêneros associados às indústrias de bens de produção.

A metrópole carioca, por exemplo, sede das outrora grandes estatais como a

Petrobrás, a CSN, a RFFSA e a CVRD (estatal-privada), atua em âmbito nacional na

exploração petroquímica em áreas litorâneas e extrativismo mineral no interior do país,

mantendo unidades de refino e de mineração sob sua dependência em vários pontos do

território.

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Por sua vez, a metrópole paulista, sede das maiores empresas de capital privado

estrangeiro (GM, Nestlé, Ford etc) e nacional (Votorantim, Klabin etc), constitui-se como o

centro de gestão das atividades vinculadas à produção e distribuição de gêneros

industrializados para todo o mercado nacional.

Possui também importante papel no setor financeiro. É o maior mercado

consumidor do país, atraindo para seu espaço fluxos de mercadorias de todas as regiões. É,

portanto, uma metrópole de influência em todo o território brasileiro. E como tal, merecedora

de atenção especial, já que a centralidade de seu espaço urbano, comparado às demais

metrópoles e capitais, é de longe, inquestionavelmente superior.

Sua primazia é afirmada em Corrêa (1996, p. 79), onde o autor expõe o seguinte

trecho: “São Paulo constitui-se na capital do capital, no principal foco de acumulação

capitalista do país, no centro mais privilegiado do ciclo de reprodução do capital, ele próprio

constituindo-se também no principal centro da produção industrial.”.

A grande São Paulo se sobressai no contexto nacional, sobretudo porque a

construção de seu espaço concentrou, mais que em qualquer outro grande centro brasileiro,

atividades ligadas à gestão do capital e do controle produtivo. Historicamente, o peso da

iniciativa privada foi fator preponderante na construção econômica do espaço paulistano.

Remonta a fase dos empreendimentos estabelecidos pelos imigrantes estrangeiros do final do

século XIX que, de modestas oficinas e fábricas, passaram a auferir lucros que lhe deram as

condições de expandirem seus recursos empresariais.

Em decorrência desse processo de construção espacial engendrado pelas forças do

capital privado nacional e estrangeiro é que São Paulo se mostra fortemente conectado ao seu

entorno imediato (Região Metropolitana e interior do estado); ao mesmo tempo em que seu

raio de alcance se faz sentir em regiões distantes. Sua estrutura econômica alavanca formas de

produção que extravasam para muito além de suas fronteiras metropolitanas, alcançando

muitas cidades interioranas e promovendo com estas, estreitas articulações espaciais, por fazê-

las participar dos processos produtivos e dos fluxos gerados por relações econômicas. Tal

condição lhe garante atuação e domínio direto sobre extenso território contínuo ao seu

derredor.

O mesmo não ocorre no estado do Rio de Janeiro. Não nas mesmas proporções. A

economia fluminense, historicamente, apresentou pouca articulação espacial e débil

integração produtiva. Seu crescimento econômico ressentiu-se da histórica separação entre a

capital metropolitana e o interior. A produção espacial da cidade do Rio de Janeiro, na

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condição de capital federal por mais de duzentos anos, foi determinada pela vontade do poder

federal.

Ao contrário da capital paulista, cuja espacialidade foi erigida pela vontade das

forças econômicas capitalistas, a metrópole carioca é caracterizada por um espaço geográfico

concentrado (no seu contexto estadual). Concentrado no sentido de que sua dinâmica

produtiva não gera nas cidades interioranas uma “fluição” ou integração espacial e econômica

tão marcante. Exatamente porque a produção de seu espaço não foi inteiramente fruto da

lógica capitalista, mas concentrou em sua região metropolitana uma gama de serviços e de

funções simplesmente criadas pelos governos. Muitas destas funções não permitem uma

conexão produtiva e econômica criadora de força para gerar em comum uma construção

espacial que tenha alguma espécie de “amarração” fortemente ligada com sua hinterlândia.

Um exemplo plausível é a sua estrutura industrial que, a despeito de ter notável

diversificação, obedece em parte a lógica das ações estratégicas e dos investimentos do

governo brasileiro, que fizeram do Rio de Janeiro a sede das estatais dos setores mineiros e de

energia.

O turismo, outra atividade importante na metrópole fluminense, apenas centraliza

ainda mais a economia na capital e cria serviços de infra-estrutura que circunscrevem os

limites do município. Não há uma complementaridade produtiva tão unívoca entre capital e

interior, como se vê no caso da (re)produção do território paulista a partir de seu centro.

Diante da nova realidade, onde vemos a consolidação do capitalismo como

sistema hegemônico, fica fácil imaginarmos como os processos da Globalização (a expansão

do meio informacional; a fixação das empresas multinacionais; a concentração dos bancos

estrangeiros e nacionais, reflexos da centralização financeira) fizeram de São Paulo o

principal espaço luminoso a reunir forças hegemônicas para desempenhar no território

brasileiro a função de gestor. As grandes cidades espalhadas pelo mundo passaram por

transformações semelhantes. Metrópoles de países desenvolvidos e periféricos, inseridas nos

circuitos globais de produção e circulação em rede, tornaram-se cidades globais, ou “espaços

da globalização” (SANTOS, 2004), ou ainda importantes nós na cadeia das relações em rede

(RAFFESTIN, 1993).

Por sediar em seu espaço um poderoso conjunto de agentes econômicos

representantes do grande capital externo, São Paulo acaba sendo também um centro

intermediário da gestão internacional. As inovações tecnológicas, os sistemas de extração de

riquezas do território brasileiro, quase sempre passam pela capital paulista. Ou melhor,

passam por uma grande empresa ou grupo financeiro ali instalado.

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Em termos quantitativos, as conexões de São Paulo com o mundo não podem ser

comparadas a nenhuma outra situação no caso brasileiro. Daí a insistência de Andrade (1987,

p.95) em afirmar que, nos dias atuais, São Paulo é ainda um pólo a depender de pólos

externos, como também foram no passado Recife e Olinda (sob domínio de Amsterdã, no

episódio da invasão holandesa), Salvador (controlado por Lisboa, Portugal) e também o Rio

de Janeiro (dominado por Londres, através da difusão do comércio inglês; e por Lisboa, que

detinha o monopólio do ouro). Porém, essa relação de dependência se dá atualmente sob

outras condições, isto é, via capital industrial-financeiro, dominado principalmente pelos

E.U.A, mas também secundariamente por outras potências, como a Alemanha, o Japão, a

França etc.

São Paulo é, por excelência, o espaço luminoso de conexão e de relações diversas

com outros pontos luminosos distribuídos no território e com grandes áreas opacas brasileiras.

Por concentrar parte significativa do poder de ação das grandes empresas industriais,

comerciais e de serviços financeiros e informacionais, é sob sua tutela que se dão as maiores

fatias dos fluxos que circulam pelas redes (urbanas, tecnológicas, mercadológicas) no espaço

nacional.

Nesse processo em que a metrópole de São Paulo conhece uma desindustrialização relativa, afirma-se, cada vez mais, a cidade de São Paulo como o centro de serviços, informação, gestão, coordenação e controle do capital. Os serviços agora funcionam como uma indústria [...] Na nossa opinião, longe disso significar uma fraqueza das funções da cidade significa uma redefinição de sua posição de liderança como centro dinâmico que se realiza por meio da concentração de trabalho imaterial e da natureza do seu terciário, reafirmando, assim, sua primazia (LENCIONI, 2004, p. 161)

Não é a toa que a força econômica de São Paulo afetou a importância relativa de

centros como Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e até mesmo o Rio de Janeiro (sobretudo

este último) no controle da atividade bancária (CORRÊA, 1989). O potencial empresarial

centralizado na capital paulista lhe deu ascensão como centro de gestão financeira, ao atrair

para sua esfera a maior concentração bancária do país.

No arranjo espacial geográfico nada se dá por acaso. E por isso a Geografia vê

uma (ou várias) lógica(s) na ordenação do espaço, e busca as razões e os porquês da

distribuição espacial dos elementos estarem estruturados da maneira como se encontram.

Verifica como certas áreas atraem certos elementos, e com isso, como o espaço vai sendo

formado segundo uma ordem que gera no território o fenômeno da centralidade.

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CAPÍTULO 3

Luminosidade, opacidade e as diferenciações no território: as ordenações

intra-regionais do espaço brasileiro

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3.1 – Contextualizando os espaços luminosos dos “três Brasis”

É razoável que pensemos num país de dimensões continentais, concebendo-o

como um território de múltiplas espaço-temporalidades. Afinal, estamos tratando de um

território que, a despeito de sua diversidade físico-natural, produziu também alteridade

humana/ social e técnica, fruto de regiões ocupadas em contextos históricos diversos, e que

criaram arranjos espaciais com objetos e ações (SANTOS, 2004) em seus respectivos tempos.

Faz parte da lógica do raciocínio espacial e do bom senso analítico proceder de

modo a lançar sobre o território brasileiro o olhar da alteridade. A imagem das luzes noturnas

com seus espaços luminosos e opacos é um possível caminho para enxergamos as

desigualdades da ocupação humana.

Grosso modo, em linguagem genérica, podemos identificar no território brasileiro

ao menos três momentos distintos. Momentos onde a produção espacial das luzes e das

sombras (opacidade) tem muito a ver com as mudanças geográficas regionais e com a

construção econômica vivenciada nestas três realidades espaços-temporais brasileiras que,

longe de serem antagônicas, constituem-se como partes de um mesmo processo.

Esses três momentos equiparam-se a uma divisão tradicional do território

brasileiro em regiões geoeconômicas, segundo apreendemos na proposta de Bertha Becker e

Pedro Pinchas Geiger, citados por Corrêa (2001) sobre a organização regional do espaço

nacional. Deste ponto de vista, o Brasil divide-se em três grandes regiões: Centro-Sul,

Nordeste e Amazônia. (Figura 6)

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Figura 6 – Divisão do Brasil em regiões geoeconômicas. 1 – Amazônia; 2 – Centro-Sul; 3 – Nordeste. Fonte: http://educacao.uol.com.br/geograf.jhtm

Elas caracterizam três momentos do território brasileiro, onde teríamos o Centro-

Sul respondendo pela parte moderna, diversificada e dinâmica (é o “coração” econômico e

político da nação); o Nordeste como um espaço “decadente”, que não acompanhou as

transformações recentes, particularizando-se como a região das perdas (econômicas,

demográficas, políticas etc); e a Amazônia, cujo espaço se encontra em fase de apropriação (é

a atual fronteira de expansão do capitalismo).

Neste capítulo traçamos uma análise que permita delinear algumas colocações

possíveis de ordenação do espaço regional, bem como a forma como elas podem se expressar

no arranjo dos espaços opacos e luminosos no contexto de uma região desenvolvida; outra

análise se dará dentro de uma “área decadente”, que não acompanhou as transformações

econômicas recentes; e uma terceira construção da idéia será feita dentro de uma região

recentemente colonizada, em processo de ocupação.

É de fundamental importância neste trabalho caracterizar o conjunto de espaços

luminosos no contexto regional, bem como a área opaca que os circundam, e que, muitas

vezes, será o caminho para explicar o sentido de suas luzes. Pois o uso capitalista de um

território imenso, com atividades dinâmicas e importantes para a economia nacional e/ou

global, resulta, na maioria das vezes, na formação de núcleos urbanos.

Tão importante quanto contextualizar a situação econômica das cidades

“luminosas”, será imprescindível que se leve em conta a região na qual elas se inserem.

Afinal, faz toda diferença colocar que uma cidade média do interior paulista como Piracicaba,

encontrando-se num eixo onde há maior dinâmica das trocas e economia diversificada, e

dividindo espaço num raio de cerca de cento e cinqüenta quilômetros com outras cidades

também importantes (Limeira, Rio Claro, São Carlos, Mogi-Mirim, Botucatu, Americana,

Araras, Campinas, Jundiaí), tornará clara a idéia de que tal conjunto de pontos luminosos

confere sólida integração econômica e espacial à região.

Jacobina (para citarmos um caso no Nordeste), antigo núcleo de exploração

aurífera no interior baiano, atualmente um centro de economia estagnada, com alguma

expressividade no turismo, possui base produtiva crítica ou mesmo insatisfatória para atender

a demanda dos centros de hierarquia inferior de sua região. Porém, não há na sua proximidade

alguma cidade cuja força lhe roube sua esfera de influência, ainda que esta não seja tão

marcante. Pois muitos dos centros médios no centro-norte baiano e da região da Chapada

Diamantina (Senhor do Bonfim, Campo Formoso, Irecê, Juazeiro etc) se encontram em

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situação semelhante. É a capital Salvador quem controla a rede urbana de todas as cidades

médias da Bahia.

No exemplo da Amazônia teríamos Sinop que, ao contrário do caso anterior, está

alocado sobre uma área onde os núcleos urbanos foram recentemente fundados e estão em

formação. O município é movido por um conjunto de atividades agropecuárias modernas e

altamente capitalizadas. E já se destaca como uma cidade procurada por oferecer serviços

diferenciados a todo o norte mato-grossense e ao sul do Pará. Não há concorrente à altura que

ameace sua esfera de influência num raio de alcance considerável em parte do imenso

território opaco no norte do país.

3.2 – Diversificação e integração econômica no Centro-Sul: espaços luminosos e

multifuncionalidade

Na distribuição irregular dos espaços luminosos e opacos, fruto de uma produção

geográfica concentrada e, portanto, desigual, ao longo de toda a extensão territorial brasileira

encontramos, de acordo com a imagem DMSP/OLS, os maiores adensamentos de pontos

luminosos ao longo da orla atlântica meridional do Brasil, e também no interior desta, numa

faixa que se inicia desde a porção sul de Goiás e se estende até a extremidade austral do país.

Seria esta área aquela a reunir as principais redes urbanas. Lócus dos mais

destacados pontos fixos do território, que geram entre si os mais intensos e variados fluxos

(de natureza econômica, tecnológica, social e populacional), segundo a visão miltoniana que

expressa a dependência mútua entre a geografia dos fluxos e dos fixos, onde “a criação de

fixos produtivos leva ao surgimento de fluxos que, por sua vez, exigem fixos para balizar o

seu próprio movimento” (SANTOS, 2002, p.167).

Uma área economicamente diversificada e, em decorrência disso, mais integrada

do ponto de vista das trocas entre seus pontos luminosos, ou se preferirmos, entre seus fixos

produtivos. Típica região onde se desenvolve uma ordenação territorial ligada a fluxos

multilaterais entre as cidades, o que lhe dá o aspecto de rede.

Ainda em concordância com Santos (2002), lemos que: “Dentro dessa área são

possíveis fluxos multilaterais que o resto do território é incapaz de suscitar. A Região

Concentrada é, por definição, uma área onde o espaço é fluído” (p.103). As trocas se dão em

todas as direções. Isso lhe reforça seu caráter de rede, mais fortemente conectada que outras

regiões do Brasil.

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Figura 7 – Destaque ao território luminoso do Centro-Sul brasileiro, que se sobressai entre as porções mais iluminadas no contexto do continente Sul-Americano. Organizado por Osvaldo C. P. Neto

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Figura 8 – Imagem de luzes noturna DMSP com algumas das principais cidades do Centro-Sul do Brasil Fonte: http://br.geocities.com/py2xz/imagens/noturna.jpg

Espacialmente, a conexão em rede se dá de modo sempre mais acentuada quando

se tem uma gama de pontos luminosos “convivendo” próximos uns dos outros. Evidente que,

diante de tal configuração, haverá áreas destacavelmente iluminadas a polarizar outras

menores em seu entorno, conforme ilustra a figura 8. Exatamente por estas primeiras serem

espaços a conterem divisão do trabalho mais complexa (ou mesmo por tal divisão partirem

delas para todo o território), ajuntamento de técnicas modernas com toda sorte de variações,

além de certos serviços especializados e funções diferenciadas, é que atendem à lógica do

arranjo produtivo regional. É uma situação coerente com a idéia de que a concentração

espacial gera diversidade e atração sobre áreas externas.

A concentração geográfica nos remete à questão da heterogeneidade das funções

produtivas e da diversidade funcional dos centros. E quando falamos em multifuncionalidade

podemos nos referir tanto aos grandes centros, que de forma individual reúnem tais condições,

quanto a uma escala mais ampla, englobando o conjunto de muitos núcleos urbanos que, em

suas relações econômicas e produtivas, acabam se complementando, com funções muitas

vezes específicas. Assim, integram toda uma região, segundo as combinações dos pontos

luminosos com atribuições peculiares para determinados arranjos territoriais econômicos e

produtivos.

Segundo lemos em Corrêa (2001, p. 99), vários processos levaram à

complexificação funcional das cidades, tais como a industrialização, a intensificação da

circulação, o desenvolvimento da estratificação social, a modernização do campo, a

incorporação de novas áreas ao processo produtivo etc. No contexto brasileiro, o Centro-Sul é

a área mais caracterizada pelos elementos acima mencionados. Daí a diversificação

econômica e a integração espacial mais solidificada.

Diversificação econômica e complexificação funcional são dois aspectos que se

encaixam e resultam numa espécie de conexão ou integração produtiva em escalas múltiplas.

Santos (2002, p.30) expõe que: “A produção em cada lugar é o motor do processo, porque

transforma as relações do todo e cria novas vinculações entre as áreas”.

São esses liames produtivos que permitem ao IPEA (2001) destacar o sistema

urbano do Centro-Sul brasileiro como correspondente ao cinturão urbano-industrial do

território nacional, onde as duas metrópoles globais (São Paulo e Rio de Janeiro), além de

outras consolidadas (Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba) e uma gama de metrópoles

emergentes (Florianópolis, Londrina, Maringá, Baixada Santista, Campinas, Ribeirão Preto,

Vitória etc) funcionam como centros de conexão do mercado doméstico.

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Tomemos a região Sul como exemplo desta integração econômica e produtiva, e

como estudo de caso de uma região onde, mais recentemente, se formou o fenômeno da

multifuncionalidade de alguns de seus centros mais destacados.

Apesar das atividades do setor primário ainda exercerem papel importante nos

estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, elas hoje estão altamente

capitalizadas e, de certa forma, longe de serem praticadas da forma tradicional (isso de um

ponto de vista panorâmico, é óbvio). A mecanização do campo, que se estendeu pelo sul

brasileiro, com a presença marcante da agroindústria e de uma gama de cooperativas

produtoras de alimentos industrializados, alavancou o desenvolvimento de outros setores,

como o industrial, o de serviços, o comercial, bem como alguns centros de pesquisa científica

ligadas à produção agropecuária, o que nos permite falar de uma expansão multifuncional de

alguns dos seus principais centros.

Mas a despeito da relevância da atividade primária no meio rural sulista, foram as

áreas com maior grau de urbanização que responderam pelos indicadores mais expressivos da

atividade econômica nas últimas décadas, conforme notifica Moura (2003, p. 577).

O padrão de crescimento das grandes e médias cidades do Sul do país, no

contexto da expansão da mecanização do território brasileiro e da ampliação do meio técnico-

científico-informacional, traduziu-se no aumento da concentração industrial, agroindustrial e

num crescimento expressivo do setor de serviços nestes centros. Dentro de poucas décadas, tal

fato alterou o caráter essencialmente rural dos estados sulistas, colocando-os de vez na rota da

modernização econômica.

Sobre a gênese da integração econômica em processo de solidificação nas áreas

meridionais brasileiras, Moura (2003, p. 589) assevera:

A inserção dos estados do Sul na dinâmica dos segmentos modernos da metal-mecânica, que era restrito ao Sudeste até décadas atrás, tem favorecido a formação de um eixo regional, que se estende da Região Metropolitana de Curitiba, passando pelo leste de Santa Catarina, até o complexo da Região metropolitana de Porto Alegre.

Foram mudanças que geraram maior integração econômica e produtiva,

especialmente entre as maiores cidades e as faixas territoriais contínuas sobre sua esfera de

influência. Houve tendências a aglomerações onde as regiões metropolitanas formadas ou em

formação conjugaram-se com aglomerações vizinhas, inserindo-as numa dinâmica comum

(MOURA, 2003).

O caso do norte do Paraná é emblemático. Londrina e Maringá, centros regionais

submetropolitanos, com funções diversificadas (possuem relativa concentração industrial; são

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pólos estudantis, tecnológicos e abrigam centros de pesquisas; com respectivos comércios que

atendem a vários setores, além da presença de serviços especializados procurados pela

região), integram e articulam uma série de municípios dentro de um espaço contíguo. Ambos

são classificados pelo IBGE (1993) com grau de centralidade considerada muito forte.

Comandam outros subsistemas urbanos na região. São exemplos de espaços luminosos

multifuncionais de grande abrangência, que passaram por rápido desenvolvimento, após o

advento do meio técnico e informacional acrescidos em seus meios urbanos.

A modernização da agropecuária e os incrementos da atividade industrial, ao

provocar êxodo rural e evasão dos municípios menores, acabaram por definir alguns núcleos

concentradores. Curitiba e Porto Alegre, metrópoles consolidadas, seriam os principais

centros do Sul, ambos obtendo polarização máxima, segundo levantamento realizado pelo

IBGE (1993). Todos os subsistemas urbanos sulistas vinculam-se e dividem-se entre os

sistemas dessas duas metrópoles. Curitiba centraliza toda a rede urbana paranaense, além de

abarcar cerca de três quartos (3/4) do estado de Santa Catarina (sateliza as áreas de

abrangência de Florianópolis, Lages e Joaçaba). Porto Alegre comanda toda a rede urbana sul-

rio-grandense e mais a região de Chapecó, no leste catarinense (IBGE, 1993).

Salientamos que embora os dados aqui referidos para a análise em questão

estejam desatualizados, foram utilizados tendo em vista o fato de não haver trabalhos mais

recentes que sintetizam esta dinâmica de forma tão pertinente quanto este.

Interessante observarmos as condições de multifuncionalidade dentro de uma

região repleta de espaços luminosos que atendem a atividades econômicas diversificadas.

Florianópolis, apesar de ser considerada pré-metropolitana, segundo a classificação do IPEA

(2001). possui setor econômico diversificado, e constitui-se como centro turístico e de

serviços, além de ser pólo tecnológico estadual e capital administrativa de Santa Catarina. É,

portanto, um espaço luminoso com funcionalidade variada, dentro de uma unidade da

federação também diversificada, com vários pólos econômicos definidos (oeste sendo pólo

agroindustrial; o sudeste, região de Crisciúma, pólo mineral-carvoeiro; o Vale Europeu,

respondendo pela produção têxtil, com destaque para Blumenau e para Itajaí, de função

portuária; e finalmente o nordeste, pólo metal-mecânico e de serviços, centralizado em

Joinville, maior cidade do estado).

A complexificação funcional das cidades da região Sudeste é um fenômeno que

salta aos olhos, especialmente nos centros médios e grandes localizados em torno do eixo Rio

- São Paulo e no interior paulista, onde a concentração territorial da produção industrial

tornou mais favorável a formação de espaços luminosos multifuncionais. Por conta da

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distribuição e complementação da atividade produtiva entre os principais centros ali

localizados, pode-se dizer que trata-se de uma faixa territorial funcionalmente integrada:

A rede urbana das áreas industriais do Sudeste, especialmente aquelas do Vale do Paraíba e da área próxima à metrópole paulista, assim como o eixo que se estende de Campinas à Ribeirão Preto, caracteriza-se por forte tendência a uma coalescência física e forte integração funcional (CORREA, 2001, p. 98).

Há no processo de desenvolvimento regional uma correlação entre a incidência e a

concentração espacial dos ramos econômicos motrizes (aqueles que impulsionam vários

setores da economia) e o crescimento da indústria. Pontes (2006, p. 329) afirma que “[...] com

efeito, a conseqüência direta da concentração técnica da produção se refletiu também como

concentração espacial”. A lógica da produção espacial concentrada indica que a densidade de

elementos no espaço fomenta convergências sempre crescentes, e esta por sua vez, gera

diversidade econômica e estratificação social e funcional em áreas urbanas desenvolvidas.

Nesta perspectiva Sampaio (1983), ao estudar o caso do estado de São Paulo,

observa que o alto índice de industrialização coincide, espacialmente, com maior volume ou

presença dos ramos industriais “motrizes” e, por extensão, correspondem às áreas de

crescimento populacional e de diversificação econômica.

Partindo de São Paulo capital nota-se a expansão da “malha urbana-industrial”

que segue para o interior ao longo dos principais eixos rodoviários. Em direção ao norte do

Estado (eixo Jundiaí – Campinas – Americana – Piracicaba – Rio Claro – São Carlos –

Ribeirão Preto) consolidou-se o maior parque metal-mecânico do país e a agroindústria

produtora de álcool e açúcar. Também concentra empresas voltadas à tecnologia da

informação e da comunicação, além de possuir pólos têxteis, químicos e petroquímicos.

Em direção a leste (São José dos Campos – Taubaté – Guaratinguetá – Barra

Mansa – Volta Redonda – Região Metropolitana do Rio de Janeiro), num eixo que se estende

até o entorno da metrópole carioca, situa-se o mais importante centro de engenharia

aeronáutica e eletrônica do país, bem como indústrias automobilísticas, fábricas de motores,

indústria produtora de aviões, refinaria de petróleo e importantes centros nacionais de

pesquisa.

Ao sul, em direção ao litoral da Baixada Santista (eixo Cubatão – Santos)

localiza-se importante complexo petrolífero e petroquímico, além do maior porto do país. À

oeste, próximo à Grande São Paulo, situa-se o centro urbano de Sorocaba, que se destaca no

setor metal-mecânico e serviços variados.

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Toda esta área compreende um espaço de fluxos intensos, onde a complexificação

funcional das principais cidades e a integração industrial-produtiva gerou uma ampla divisão

do trabalho. De acordo com Santos: “[...] quanto mais intensa a divisão do trabalho numa

área, tanto mais as cidades são diferentes umas das outras quanto ao seu conteúdo” (2002, p.

209), tornando maior a probabilidade de formação de pólos funcionais e multifuncionais

diversificados.

Em seu artigo sobre “Os centros de alta tecnologia e de gestão no Sudeste

brasileiro”, Almeida nos dá alguma idéia sobre as interações espaciais criadas em meio a uma

região tecnicamente moderna e economicamente próspera:

Elementos importantes no processo de modernização da estrutura produtiva, os pólos de tecnologia industrial, os pólos agrários e de gestão da produção são peças chave dos mecanismos de difusão espacial do desenvolvimento no Sudeste. É no interior desses centros que a multiplicação das interações em áreas tão diversas como a eletrônica, a informática, a mecânica fina, a ciência dos materiais, as biotecnologias, as tecnologias médicas e os processos de cientifização da tecnologia diluem as fronteiras entre a pesquisa básica de cunho acadêmico e o desenvolvimento industrial (ALMEIDA, 1998, p.30).

Almeida (1998) identifica vários centros, com status de pólos destacáveis, onde o

conjunto de atividades torna-se indicativo de que alguns deles se orientam para a indústria de

alta tecnologia, como é o caso das três metrópoles, além de São Carlos (mecânica fina,

compostos cerâmicos, engenharia de sistemas), S. J. dos Campos (aviação, material bélico,

eletrônica), Campinas (telecomunicações, mecatrônica, microeletrônica). Um outro grupo de

cidades é orientado para a agropecuária, onde se enquadram, por exemplo, Piracicaba

(biotecnologia vegetal e animal, maquinários agrícolas) e Viçosa (biotecnologia animal,

química).

E ainda há aqueles pólos orientados para a gestão, onde um número cada vez mais

significativo de cidades interioranas passa a ter participação no controle do capital, à medida

que várias empresas transferem seu setor administrativo da capital para outras cidades.

Lencioni (2004, p. 159) aponta para este sentido quando trabalha com a idéia de

metropolização do espaço no interior paulista, indicando que cidades como Campinas,

Sorocaba e S.J. dos Campos, para não citar outras, possuem características metropolitanas,

por obterem presença significativa de atividades baseadas em trabalho imaterial, praça

financeira expressiva, desenvolvida infra-estrutura de serviços reunindo, portanto, condições

essenciais para desempenhar atividades voltadas à gestão do capital, não sendo esta função

única e particular à cidade de São Paulo.

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Mesmo um centro como Piracicaba, que se coloca como pólo agropecuário,

também possui destacável função industrial, uma vez que possui um complexo metalúrgico

que atende ao setor sucroalcooleiro, fabricando peças para reposição e manutenção em usinas.

O mesmo vale para Campinas que, sendo um centro respeitável da indústria

tecnológica, também possui função importante na agricultura, por dominar a engenharia de

alimentos, a biotecnologia vegetal e possuir importantes instituições na área de pesquisas

agronômicas. Ressaltemos também no caso de Uberlândia que, sendo uma referência no setor

da química fina, também possui importante função gestora, por ter se tornado um pólo

nacional da logística de comércio e distribuição atacadista em todo o país (ALMEIDA, 1998).

Assim ocorre com tantos outros pontos luminosos do Centro-Sul brasileiro que se

destacam simultaneamente em funções diversas, por apresentarem base produtiva sólida,

integração regional favorecida pelo meio técnico-científico-informacional e diversificação

econômica.

A concentração de espaços luminosos faz com que a porção Centro-Sul,

possuindo grande número de luzes multifuncionais fixas no território, suscite também uma

ordenação espacial que tem como um de seus fundamentos a conexão em redes, através de

fluxos de naturezas diversas, que promovam trocas intra-regionais que dá a região um

dinamismo que não pode ser equiparado em outras partes do território brasileiro.

3.3 – Ofuscando as luzes do Nordeste: espaços luminosos no contexto do atraso econômico

de uma região

Do ponto de vista da distribuição dos espaços luminosos, é possível, de forma

grosseira, dividir o Nordeste brasileiro em pelo menos duas regiões: podemos falar de um

Nordeste mais iluminado, com suas capitais estaduais, metrópoles e cidades médias ao longo

do litoral, e numa faixa territorial não muito distante dele. E também concebemos um outro

Nordeste, mais opaco e com um conjunto de luzes menores e mais esparsas, e que

compreende toda a área interiorana da região.

Essa “divisão luminosa”, ou esta forma de regionalizar o Nordeste, reflete, em

verdade, a concentração geográfica da porção litorânea, em contraste com uma notável

rarefação nas áreas endógenas da região.

De fato, há uma clássica divisão inter-regional, apoiada numa perspectiva físico-

natural-climática (e que de certa maneira se traduz numa divisão do quadro econômico e

socioeconômico), em que “quatro Nordestes” são reconhecidos. São eles: a Zona da Mata

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(faixa litorânea), o Agreste (faixa de transição entre o litoral e a seca do interior), o Sertão

(semi-árido) e o meio-Norte (região úmida, transição entre o sertão seco e a Amazônia).

Associamos as duas primeiras (litoral e agreste) à fração de maior densidade de pontos de

luzes, enquanto as duas restantes se sobrepõem ao Nordeste opaco, de poucas luzes.

Embora o aspecto natural tenha peso relevante na ordenação do espaço geográfico

nordestino (bem como de qualquer outra região), é a ocupação humana e seu potencial de

ação (técnica, econômica etc.) que melhor explica a lógica da ordenação desta região

(MUELLER, 1996, p. 37). E, diga-se de passagem, que essa capacidade de atuação conforma-

se ao caminho da concentração das luzes, sendo indicativo de que o Nordeste mais iluminado

polariza o outro mais ofuscado. (Figuras 9 e 10)

Figura 9 – Imagem de luzes noturnas do satélite DMSP captando os espaços opacos e luminosos do Nordeste. Destaque à concentração de luzes da faixa litorânea, área onde se localizam os principais centros da região. Organizado por Osvaldo C. P. Neto

Salvador

Maceió

Aracaju

Recife

João Pessoa

Natal

Fortaleza

São Luiz

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Figura 10 – Sub-regiões do Nordeste: 1 – Meio Norte; 2 – Sertão; 3 – Agreste; 4 – Zona da Mata. Fonte: http://educacao.uol.com.br/geografia/ult1694u384.jhtm Numa visão que abrange todo o contexto nacional, o Nordeste se caracteriza

como uma região cuja constituição do meio mecanizado se deu de forma mais pontual e

pouco densa, com importância declinante de sua agropecuária e baixa taxa de urbanização, e

menores índices de circulação de pessoas, mercadorias, serviços e quadro socioespacial

engessado.

Sua individualidade manifesta-se numa pequena e mais primitiva divisão intra-

regional do trabalho e que, segundo Furtado (1977, p. 64), encontra fundamentos em sua

formação econômica e em sua histórica ocupação debandada:

[...] de sistema econômico de alta produtividade a meados do século XVII o Nordeste se foi transformando progressivamente numa economia de subsistência. A dispersão de parte da população, num sistema de pecuária extensiva, provocou uma involução nas formas de divisão do trabalho e especialização, acarretando um retrocesso mesmo nas técnicas artesanais de produção.

A pertinência em investigar as luzes nordestinas se deve ao fato de não serem

numerosas aquelas que se destacam no contexto econômico de uma região decadente, que

sofreu uma série de revés e onde a renovação das técnicas mais modernas parecem não obter

condições tão favoráveis para se expandir em escala ampla, por encontrarem resistência num

sistema social, econômico e produtivo pouco progressivos ou mesmo “engessados” em grande

parte deste território.

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Pontos luminosos e isolados no “vazio” opaco, se excluídos das modernizações do

meio informacional, e se geograficamente distantes dos circuitos econômicos territoriais de

importância, pressupõem menores níveis de conexão e inserção no sistema de trocas e na

viabilização dos fluxos pelo território. São indicativos de menor articulação e de fraca ligação

ao conjunto dos espaços luminosos de uma dada rede urbana regional.

Obviamente, não se deve levar tal idéia como uma lei ou um princípio geral.

Mesmo porque em muitos casos, há cidades distantes que podem ser preferíveis a outra mais

próxima, se oferecerem, por exemplo, condições mais vantajosas de transporte e bom sistema

de comunicações. Entretanto, no caso do interior nordeste, o isolamento de muitos pontos

luminosos (leia-se pequenos núcleos populacionais) e a importância dos centros importantes

ou de áreas de economia ativa, em grande parte das ocorrências, faz deste distanciamento um

obstáculo à participação nas trocas e nas relações em rede de modo mais assíduo.

As bases históricas do povoamento disperso pela extensão territorial nordestina,

muito além da zona costeira, são descritas por Prado Junior (1970, p. 67), que escreve:

Completa-se assim a ocupação de todo o interior nordestino. Ocupação muito irregularmente distribuída. De uma forma geral, escassa e muito rala: o pessoal das fazendas de gado, únicos estabelecimentos da região, não é numeroso. Donde também um comércio, afora a condução de gado, pouco intenso, resultando disso aglomerações urbanas insignificantes e largamente distanciadas umas das outras.

Dessa evolução das fazendas de gado para a formação de aglomerações urbanas

pequenas, sem base produtiva consistente, em um meio físico de clima hostil / adverso (como

é o caso das cidades assentadas no Sertão), é que advém uma série de pressupostos a respeito

de tais subespaços. Por exemplo, a idéia de que os pontos luminosos desta área possuem uma

divisão de trabalho mais simples (até mesmo pela falta de diversificação de atividades); além

de um conjunto de técnicas mais rústicas ou tradicionais (menos sofisticadas), bem como a

não modernização completa ou mesmo parcial de seus setores econômicos (ou até a

estagnação/ irrelevância de um ou mais setores) é presumível e correspondente à realidade de

parte significativa ou maciça dos casos na sub-região em destaque.

Em áreas menos desenvolvidas do território brasileiro observamos o caráter

seletivo dos investimentos que privilegiam atividades ou espaços específicos. No Nordeste

tais espaços correspondem a alguns pólos e complexos industriais somente, enquanto parcelas

majoritárias da região encontram-se excluídas por não representarem interesse econômico.

[...] ainda existem no país amplos espaços em que é inegável a determinação das relações tradicionais de articulação e hierarquização dos diversos centros, notadamente em regiões ou áreas menos dinâmicas ou despreparadas para localizar novas atividades produtivas, onde a atividade

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econômica é comandada por setores tradicionais e a renda gerada é relativamente reduzida (IPEA, 2001, p. 33).

Um exemplo concreto de sub-região de inexpressivo interesse ao capitalismo

moderno, onde predominam atividades tradicionais é o semi-árido nordestino. Mueller (1996)

notifica que as atividades ligadas aos setores secundário e terciário são reduzidas nas cidades

sertanejas da região, e por dependerem de altos e baixos da agricultura, são também bastante

vulneráveis. O mesmo autor ainda identifica seis sistemas básicos tradicionais de produção no

Sertão, os quais demonstram predomínio absoluto das atividades primárias. São eles: pecuária

– policultura alimentar, pecuária – policultura mista, algodão – produção alimentar, pecuária –

feijão – produção alimentar, agricultura de manchas férteis e por fim, o sistema pecuário –

extrativista (p. 46).

A rede urbana do Sertão nordestino brasileiro é formada por pequenas e algumas

cidades médias que se localizam variavelmente distantes umas das outras. Ou seja, trata-se de

um grande espaço da opacidade formado por pequenos pontos luminosos, com distância

expressiva entre si.

Não se pode olhar para o conjunto rarefeito de luzes desta área do território

brasileiro e concebê-la como uma rede de pontos luzentes, com dinamismo econômico

semelhantes àqueles verificáveis, por exemplo, ao longo de toda a costa atlântica brasileira,

repleta de luzes com conexões e interatividades variadas, do norte ao extremo sul.

Poucos são os centros urbanos de alguma importância no Sertão, sendo que os

principais devem seu dinamismo às atividades como a irrigação. A agricultura irrigada é o

único segmento da agropecuária dessa sub-região com algum potencial apreciável de

dinamização (MUELLER, 1996).

Sobre as formulações concernentes à decadência da referida área, Andrade

contextualiza:

[...] a situação das áreas semi-áridas do Brasil se agravou mais ainda, face a uma tríplice exploração: a dos interesses externos sobre o todo nacional, a dos centros mais dinâmicos do país – região Sudeste, sobretudo (mas também a Sul) – sobre o Nordeste e a do Nordeste úmido, litorâneo, que comanda a vida econômica da região, sobre a porção semi-árida dele diretamente dependente (ANDRADE, 1983, p.112).

No estudo das luzes nordestinas há ainda uma questão (e que será aqui ressaltada)

de acúmulo das funções centralizadas em alguns pontos luminosos. Isso porque ela retrata

uma rede urbana extremamente concentrada, com elevada primazia dos maiores centros e

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situações de macrocefalia urbana, que fazem com que as capitais metropolitanas sejam, de

longe, os espaços luminosos a comandarem todo o sistema das relações produtivas da região.

Conforme estabelecem o IBGE (1993) e o IPEA (2001), o sistema urbano

nordestino se compartimenta em três redes estruturadas a partir dos centros metropolitanos

macrorregionais: Recife, Salvador e Fortaleza. Eles dividem entre si o comando político e

econômico do espaço regional, organizando-o. Juntas, essas três capitais acabam estendendo

suas influências por quase todo o Nordeste. Possuem centralidade máxima e todos os

subsistemas urbanos (exceto alguns do meio-norte da região aludida) são por elas

subordinados, de acordo com apreciação do IBGE (1993).

Exercem uma série de funções e com isso se tornam referências regionais como

capitais econômicas, políticas, como grandes centros produtores, com atividades

diversificadas, atrativas a um convívio variado de técnicas e, sobretudo, centralizadoras da

gestão e responsáveis pela divisão regional e social do trabalho.

Recife consolida sua influência nos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte,

Paraíba e Alagoas, dominando as regiões de Caruaru, Campina Grande, João Pessoa e os

centros regionais de Natal e Maceió. Salvador controla uma rede menos densa e mais

orientada para o litoral, apesar de ter também papel importante na estrutura do sistema urbano

no além São Francisco. Comanda todo o sistema urbano dos estados da Bahia e Sergipe,

tendo sob sua “tutela” o centro de Aracajú e as sub-regiões interioranas de Feira de Santana e

de Vitória da Conquista. Fortaleza polariza todo o Ceará e parte dos estados do Maranhão e

Piauí (IBGE, 1993).

A lógica da organização nesses três sistemas de redes urbanas (com acúmulo de

funções especialmente nas metrópoles) deve-se à falta de número significativo de centros

médios de base econômica produtiva satisfatória, distribuídas em áreas mais interiorizadas.

Em verdade, no Nordeste há um reduzido número de cidades do escalão intermediário e fraca

articulação funcional entre os centros de mesmo porte e nível hierárquico, o que faz com que

as cidades pequenas e os núcleos rurais, via de regra, estabeleçam ligações diretas com as três

metrópoles regionais e as sub-metrópoles (COELHO, 1992), em sua maioria, situadas na orla

atlântica, área densamente luminosa desta fração do território.

Este enfraquecimento do papel de muitos centros regionais medianos que,

concentram, em sua maioria, atividades vinculadas a amplas regiões agrícolas, tem a ver,

segundo conjectura Coelho (1992), com o fato dos mesmos apresentarem fraca base produtiva

para atender a demanda dos inúmeros núcleos de hierarquia inferior. Essa “deficiência

funcional”, somada a uma topologia urbana pouco estruturada é que favorece maior

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centralidade do escalão superior e, consequentemente, o poder de ordenação territorial

partindo das Regiões Metropolitanas de Recife, Salvador e Fortaleza.

Torna-se incontestável o fato de os serviços e da estratificação produtiva não

estarem homogeneamente distribuídos pelo território, ou tampouco universalizados nas

diversas aglomerações do Nordeste. A indústria moderna, setorizada na Zona da Mata e em

algumas cidades importantes do Agreste, como são os casos de Feira de Santana, Caruaru e

Campina Grande que, segundo estudos recentes realizados por Pontes (2006), emergiram

como novos tecnopólos em virtude de um processo modernizador de reestruturação produtiva,

alavancou desenvolvimento de atividades ligadas ao setor terciário, diversificando ainda mais

a funcionalidade de toda esta área e se distanciando de um Nordeste sertanejo quase

totalmente à deriva dessas transformações.

No Nordeste, entretanto, é deficiente a produção de bens e serviços da maioria das cidades, e é precária sua difusão pelo espaço regional. As metrópoles e as cidades grandes apresentam estrutura de produção e distribuição complexa e diversificada, mas os bens e serviços que oferecem são disponíveis de forma extremamente polarizada [...] Em poucas cidades médias há oferta razoável e diversificada de serviços simples. Nas cidades pequenas é precária até mesmo a oferta de serviços essenciais [...] (MUELLER, 1996, p.74).

A despeito da crise e da fraqueza de muitos centros médios nordestinos,

especialmente na porção interiorana, mais opaca, tivemos recentemente a emergência de

alguns pólos localizados no Sertão e no Meio-Norte. Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) são

exemplos de cidades que conquistaram algum progresso devido à implantação de sistema de

irrigação para fruticultura, que fizeram delas centros que produzem variedades de frutas para

o mercado doméstico e para exportação.

Também no Meio-Norte, alguns centros urbanos, como Barreiras (situada no

extremo oeste da Bahia), Imperatriz, Balsa, Porto Franco (MA), Floriano (PI) e outros, bem

como suas regiões, tem experimentado fase econômica dinamizada pela monocultura da soja,

largamente cultivada nos cerrados do Maranhão e do Piauí, mediante a implantação de

grandes projetos agropecuários.

Mas esta área tem mais relação com a agricultura moderna, vinda do Centro-Sul e

que começa a se espalhar pela Amazônia, do que com o próprio Nordeste. O próprio sistema

urbano do meio-norte, comandado pelas capitais São Luiz e Teresina, na definição do IPEA

(2001), configura-se como um sistema instável e incompleto, sujeito a mudanças por causa de

suas relações com outras áreas do país.

Mueller (1996, p. 66) expõe esta questão, explicando que:

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De todas as sub-regiões do Nordeste, a de fronteiras agropecuárias no oeste é a que menos se articula as demais [...] Na verdade, essas fronteiras tem estado à margem dos planos de desenvolvimento da Região. A expansão de sua agropecuária resultou essencialmente do transbordamento de fenômenos e atividades de outras regiões.

Santos (2002, p. 145) complementa, salientando que:

Se os cerrados baianos ganham em modernização agrícola, suas cidades regionais perdem quanto ao controle de suas próprias produções, que passam a ser comandadas desde outras cidades e países. Grandes cooperativas do Sudeste e do Sul do país [...] impõem suas políticas, pois completam e governam os circuitos espaciais de produção.

Há muitos outros centros médios (como Jacobina, Senhor do Bonfim, Serra

Talhada, Arcoverde, Iguatu, Paulo Afonso, entre outros) que estão muito aquém das

economias mais dinamizadas da região e pouco podem oferecer aos seus pequenos núcleos

rurais vizinhos.

O fato é que, do ponto de vista da centralidade econômica, política ou da

consolidação do meio técnico-cientifico-informacional há muitos pontos luminosos, indicados

pela imagem DMSP/OLS, que não possuem representatividade alguma.

3.4 – A Amazônia brasileira em fase de apropriação: novas luzes sobre a extensão opaca do

Centro-Norte

Ao olhar a imagem do satélite de luzes noturnas que cobre todo o território

brasileiro, vê-se que os pontos luminosos se distribuem de modo espacial desigual na

superfície. Isso faz com que haja grande concentração de luzes em áreas economicamente

desenvolvidas e/ou populosas, formando em alguns casos uma espécie de “cinturão”, uma

rede, uma “constelação” de áreas iluminadas contrastando com regiões de imensa

“escuridão”, com grandes áreas geográficas “apagadas”, opacas, onde nota-se poucas luzes ou

mesmo nenhum ponto luminoso.

[...] nem tudo é rede. Se olharmos a representação da superfície da Terra, verificaremos que numerosas e vastas áreas escapam a esse desenho reticular presente na quase totalidade dos países desenvolvidos. Essas áreas são magmas, ou são zonas de baixa intensidade (SANTOS, 2004, p.268).

Em se tratando dos espaços da escuridão, vale colocar, no caso da Amazônia, que

tal macrorregião assim se encontra por enquadrar-se àquelas áreas do globo que, por longo

tempo alimentou ciclos que não ocasionaram num processo de povoamento de modo mais

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denso, vindo a ser ocupada de forma mais significativa na contemporaneidade, graças aos

atuais interesses do agronegócio e das necessidades de exploração de matéria-prima para

alimentar os circuitos produtivos internacionais.

Outrora isolada, ou largada à sua própria dinâmica, essa região vem

experimentando um processo de ocupação mais acelerado e de inserção à economia nacional e

global de forma mais definitiva, a ponto desta região brasileira se colocar como aquela que na

última década (1990 – 2000) obteve maior ritmo de crescimento urbano do país, conforme

explicita Silva (2007).

Exatamente por não possuir um conjunto tão expressivo de cidades (inclusive na

perspectiva quantitativa) é que não possui também tantas luzes. Grandes extensões do interior

da Amazônia brasileira ainda permanecem opacas, de acordo com a representação do satélite

DMSP/OLS.

Não se deve confundir, entretanto, essas extensões alunas (sem luz) com a idéia

de ausência de atividade antrópica, imaginando a existência de uma floresta densa, e

impenetrada em grande parte. O fato de não haver pontos luminosos em extensões territoriais

do interior centro-nortista do país pode ter a ver, em parte, com a escala da presente imagem

orbital aqui utilizada, que pode não captar luzes noturnas tão minúsculas como de uma

“cidadela”, ou como aquelas utilizadas para iluminar uma fazenda ou uma área de mineração.

Não significa exatamente que não haja algum tipo de economia. Mesmo porque é

sabido que o avanço da fronteira agrícola no Brasil setentrional há tempo já alcançou a

Amazônia, fundando grandes propriedades modernas (sojicultoras e de outros gêneros

agrícolas), fazendas de gado, extração madeireira e outras atividades que vem se instalando

em vários pontos no interior da floresta, desalojando a mata. O espaço opaco amazônico é

menos antropizado que o opaco nordestino ou centro-sulista. No entanto, não é isento da

presença e da ação humana.

Conceber o grande domínio Amazônico brasileiro que se espalha por dez

unidades da federação (Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá, Acre e porções do Mato

Grosso, Maranhão, Piauí e Tocantins) como uma região opaca, é fazê-lo em escala genérica e

de modo relativo, isto é, em comparação à outras regiões brasileiras com pontilhados

luminosos imensamente mais numerosos.

Podemos dividir o histórico da ocupação do imenso território amazonense em

duas fases: A primeira de modo, digamos, mais espontâneo se deu até 1960. A segunda, a

partir deste marco, se dá de modo mais dirigido, com esforços da política pública em integrar

o Norte ao resto do país.

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Em seu capítulo sobre a rede urbana da Amazônia, Corrêa (1994) envolve vários

períodos da história da ocupação desta porção do território: primeiramente, tem-se a fundação

de Belém pelos portugueses, em 1616. De 1655 a 1750 a “infiltração” das aldeias

missionárias na floresta e o desenvolvimento da economia natural das “drogas do sertão”

(produtos do extrativismo vegetal) fundaram núcleos nos vales do médio Amazonas. De 1755

a 1778 a Companhia Grão-Pará e Maranhão, empresa mercantil monopolista, criada com o

objetivo de traficar escravos na Amazônia, fez com muitas aldeias missionárias crescessem e

evoluíssem para Vilas. De 1850 a 1920 ocorre o “boom” da borracha, fase de expansão da

rede urbana para o oeste da região. Novos núcleos nascem junto à confluência de afluentes e

subafluentes do Amazonas, a fim de se tornarem sedes de seringais (Xapuri, Rio Branco,

Porto Velho, Tarauacá etc.) e a cidade de Manaus floresce, opondo-se à primazia de Belém.

A partir de 1960 ocorre uma fase de incorporação da Amazônia à expansão

capitalista no país; período que será aqui discorrido com mais detalhes, pois a partir de então

muitas luzes começam a aparecer na extensão opaca do Centro-Norte.

O capitalismo, com todos os seus agentes, vem há pelo menos pouco mais de

quatro décadas mudando o rumo dessa grande região brasileira. Tem penetrado na Amazônia

e se apropriado de seu espaço e de seus recursos sob a direção das corporações internacionais,

das empresas nacionais estatais e privadas e principalmente através dos programas do

Governo Federal que visaram à abertura de uma região “adormecida” para inúmeras

finalidades.

Mas o que significa essa aparição de pontos luminosos em várias localidades da

Amazônia? Qual o sentido desse povoamento e da ocupação desse amplo território de maneira

desenfreada? A literatura tem mostrado que essa vasta extensão, cada vez menos opaca, com

vários brilhos despontando, teve desde 1960 laços estreitos com as pretensões de uma nova

organização do espaço nacional, promovida pelo Estado, no intuito de incorporar todo o norte

à economia do Centro-Sul. Mas teve também, e de forma mais clara, objetivos ligados à

utilização desta vasta área para a reprodução do grande Capital.

Na perspectiva de Becker (1990, p.13), do ponto de vista da política interna, a

abertura da região Amazônica teve como intento a resolução de várias questões:

No plano interno (a Amazônia) é vista como capaz de promover uma solução conjunta para os problemas de tensão social do Nordeste e para a continuidade do crescimento do centro dinâmico do Sudeste, abrindo a possibilidade de novos investimentos [...]

Oliveira (1991), ao tratar das políticas públicas na Amazônia, denuncia que o

Estado utilizou a idéia de integração nacional para resolver dois problemas de uma só vez:

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Sob o pretexto de promover a reforma agrária no Nordeste, criou área de colonização na

Amazônia para exploração do trabalho desses migrantes (já que era preciso viabilizar mão-de-

obra para os grandes projetos minerais e agropecuários). Ao mesmo tempo, abriu caminho

para reprodução do capital do Centro-Sul brasileiro.

À isso serviram os projetos oficiais de Colonização em várias frentes de ocupação

(Pará, Rondônia e Mato Grosso), por meio da ação do Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária – INCRA:

No Pará há um império de imensas empresas que exploram camponeses nordestinos através de atividades agropecuárias-florestais e de grandes projetos mineradores [...] Em Rondônia a colonização desmantelou seringalistas e indígenas, criando base para os colonos vindos do Sul e do Sudeste com algum poder econômico. Há o predomínio de empresas de médio porte, de capitais nacionais, sobretudo de origem paulista (OLIVEIRA, 1995, p. 100).

Sobre a porção da Amazônia mato-grossense, região atualmente dominada pelo

agronegócio, o autor esclarece a gênese de sua formação:

O estado de Mato Grosso é uma espécie de ‘paraíso’ da colonização particular. As principais colonizações privadas, no centro-norte do estado, tem como agentes as cooperativas, empresas e colonizadoras agropecuárias, além da colonização estatal propiciada pelo INCRA (1995, p. 109-110).

De um ponto de vista mais amplo, a abertura da Amazônia teve por um dos seus

intentos a participação de grupos estrangeiros no processo de exploração da floresta, o que a

colocou na rota de expansão da economia internacional: “O processo de integração da

Amazônia ao restante do país era, na realidade, um processo de integração para melhor

permitir a entrega dos recursos nacionais da região às empresas multinacionais” (OLIVEIRA,

1991, p. 64).

Quase meio século e um território opaco com espaços até então pouco penetrados,

de pouquíssimas aglomerações humanas e com ritmo de vida próprio se transforma em uma

região governada pelo poderio do capitalismo, passando a impor sua dinâmica econômica e

uma organização espacial que obedece à sua lógica expansionista, e não mais a lógica de cada

localidade em particular.

[...] os grandes empreendimentos são mais importantes que as cidades, e estes não encontram obstáculos, ao contrário, são muitas vezes reverenciados pela comunidade local que acredita que tais empreendimentos as incluirão de vez na economia regional. Trata-se, na verdade, de investimentos públicos com interesses privados, com baixo retorno social, podendo inclusive comprometer o desenvolvimento local (SILVA, 2007, p. 12).

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Noelma (2007) distingue a geração de pequenos centros urbanos da Amazônia,

localizados à beira dos rios, associados ao processo inicial de colonização da região e

obedientes à dinâmica geográfica daquele período, diferenciando-a da fundação de um sem

número de pequenas cidades alocadas ao longo das estradas, sendo muitas delas novos centros

de negócios, gerando novo ritmo de vida e suscitando fluxos e intercâmbios que respondem às

necessidades do mercado externo.

Interessante associarmos a posição geográfica dos núcleos urbanos com as linhas

tracejadas das principais vias de acesso e circulação. Abaixo, comparamos as figuras 11 e 12:

A primeira fornece o caminho das principais rodovias e hidrovias da Amazônia. A segunda

mostra, através da representação DMSP/OLS, a localização dos pontos luminosos que, em sua

maioria, coincidem com as vias de circulação da imagem anterior. São informações

importantes para as associarmos a nova lógica de ocupação dos espaços luminosos nesta área.

Figura 11 – Imagem de luzes noturnas do satélite DMSP centralizada na região Amazônica, onde ainda existe uma vasta área opaca por conta dos domínios naturais da floresta. Os pontos luminosos seguem a tracejada das rodovias federais e do rio Amazonas. Organizado por Osvaldo C.P. Neto

Cuiabá Goiânia

Brasília

Manaus Belém

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Figura 12 – Ilustração que representa conjuntamente as principais rodovias existentes na região Amazônica e o trajeto do rio de mesmo nome com alguns de seus afluentes. Ambos são importantes elementos de fixação de núcleos ou aglomerações humanas. Fonte: http://www.defesanet.com.br/toa/ldn/Image50.gif

Uma nova Amazônia se formou. Aquela dos pontilhados luminosos ao longo dos

principais eixos rodoviários. E com ela as novas redes do meio técnico-científico-

informacional, que servem à produção moderna aí desenvolvida, e não à população residente.

A ocupação recente do território amazonense modificou a dinâmica da ordenação

de um espaço regional, em grande parte, alicerçada na extração de recursos naturais, no

desenvolvimento de atividades primárias e numa circulação predominantemente fluvial

(utilização das calhas dos rios para transporte hidroviário). Criou, por meio das rodovias

federais que atravessam a região nos sentidos norte-sul (Belém – Brasília; Cuiabá – Santarém

etc) e leste-oeste (rodovia Transamazônica), e através do transporte aéreo e da produção de

espaços que atendem ao agronegócio, uma nova ordenação regional que vem dando outro

sentido à geografia de algumas áreas específicas do Brasil setentrional.

O centro-norte do Mato Grosso talvez seja a área mais representativa dessas

transformações do espaço Amazônico. Atravessada pela rodovia federal Cuiabá – Santarém, a

região passou (e tem passado) por intenso desmatamento da floresta, envolvendo atividades

ligas à extração, coleta, comercialização e beneficiamento da madeira, donde se tem a

formação de pólos moveleiros em alguns núcleos (razão pela qual se instalaram na região

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muitas indústrias madeireiras e serrarias). Do desmatamento passou-se para a implantação de

áreas reservadas para a criação das cidades e de espaços vastos para a atividade agropecuária

monocultora, com métodos modernos de produções em larga escala da soja, do milho, do

arroz, do algodão e da pecuária de corte (ROMANCINI, 2007).

Muitas agroindústrias e empresas multinacionais voltadas para o processamento

da cadeia carne/ grãos se instalaram na região. A soja, por exemplo, interessa aos setores

agrícola, industrial, comercial, de serviços e de pesquisas científicas. Desencadeiam uma série

de conexões que organizam no espaço um circuito econômico envolvendo praticamente todos

os setores. As novas luzes existentes nesta região têm como uma das finalidades básicas a

função de alimentar este circuito produtivo:

As cidades no norte do Mato Grosso são produzidas para serem lócus da regulação do que se faz no campo, assegurando a nova ordem imposta pelo novo modelo de divisão do trabalho agrícola, e já nascendo com um conteúdo e uma finalidade econômica: prestadoras de serviços, concentradoras de renda fundiária e sustentação do núcleo para atividade econômica predominante: agricultura modernizada e extrativismo vegetal (BONFANTI, 2004).

A lógica que dá razão a essa geração de cidades inventadas (Sinop, Vera, Sorriso,

Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Claudia, Santa Carmem, Colíder, Alta Floresta, Guarantã

do Norte etc.) está na manutenção da reprodução de um capital já territorializado na região.

Os núcleos urbanos “[...] recebem equipamentos técnicos, econômicos e sociais que

possibilitam uma dinâmica de fluidez de informações, mercadorias, serviços e capital

necessários” (ROMANCINI, 2007).

Processo semelhante se deu nas margens da rodovia Belém – Brasília. Nas

proximidades dessa rodovia que liga o interior de Goiás e alcança Belém do Pará, passando

pelo estado de Tocantins, os programas do governo na década de 1970 previam a implantação

de um programa de colonização e reforma agrária numa faixa de dez quilômetros em cada

lado da nova rodovia, segundo enfatiza Oliveira (1991). No entanto, as áreas de ocupação

ultrapassaram mais de cem quilômetros em ambos os lados, porém, não em benefício dos

trabalhadores que necessitavam de assentamentos, mas a favor do capital, informa o autor

aqui mencionado.

Nova onda de projetos minerais, agropecuários e de exploração de madeira

gerou ao longo de todo este trecho um pontilhado de luzes. As áreas para pastagens e para

cultivo de soja não param de crescer em Tocantins. A atividade comercial é concentrada nos

principais centros urbanos que margeiam a rodovia. A indústria ainda é incipiente, com

predomínio das atividades alimentares, mas o estado possui cinco distritos agroindustriais em

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franca expansão instalados nas cidades de Palmas, Gurupi, Araguaina e Porto Nacional, com

estrutura para a instalação de diversos tipos de indústrias.

Sem contar as áreas de mineração que deram origem a uma rede de núcleos

urbanos no sudeste do Pará, onde se destacam centros como Carajás, Marabá, Conceição do

Araguaia e todo um conjunto de espaços luminosos menores.

O atual contexto econômico sob o qual vive a região Amazônica permite

condições para a emergência de novos centros em diferentes níveis de hierarquia urbana. E a

despeito da delimitação dos sistemas regionais, com áreas de influências definidas pelos

maiores e mais populosos centros urbanos, de economia diversificada (o IBGE define três

sistemas urbano-regionais para o centro-norte, cujos pólos de comando estão em Cuiabá –

Várzea Grande, Brasília – Goiânia e Belém – Manaus), não se pode deixar de mencionar a

ascensão de centros que passam por profundas transformações em sua base econômica, como

é o caso, por exemplo, de Sinop-MT.

Essa cidade tornou-se uma espécie de “capital regional”, destacando-se como pólo

industrial e comercial diversificados, e também como centro do agronegócio. Seu setor de

prestação de serviços (vários dos quais especializados e sofisticados) atende não só todo o

norte do Mato Grosso, mas alcança também os municípios do sul do Pará. Sua população

ultrapassou a casa dos cem mil habitantes em 2005, o que deu a Sinop a quarta colocação

entre as cidades mais populosas do MT. Um conjunto de agentes de empresas do ramo

alimentício, do setor de maquinário e implementos agrícolas, somados a um pólo moveleiro

com a presença de mais de quinhentas indústrias madeireiras, contabilizadas até metade da

década de 1990 (ROMANCINI, 2007; BONFANTI, 2004), fizeram de Sinop um centro

urbano de centralidade e influência regional progressivas. Um ponto nodal das relações em

rede no território, para citarmos Raffestin (1993).

Novas luzes se formaram na extensão norte do país, e outros espaços luminosos

estão a se instalar nessa fronteira que não para de ganhar terreno. O IPEA (2001) aponta que

no sistema urbano do Centro-Norte as cidades desempenham papel fundamental na abertura

de novas áreas à exploração econômica.

Com as tendências do avanço progressivo da fronteira agrícola, que vai

incorporando trechos do território ainda inexplorados para uso capitalista, e com o movimento

contínuo do processo de interiorização da urbanização, podemos esperar pelo despontar de

novas luzes num território em grande parte ainda opaco.

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Considerações finais

O presente trabalho teve como preocupação central a construção de algumas

idéias acerca da ordenação do espaço e do território mediante a leitura trilhada por um

caminho, digamos, alternativo, que foi o caminho da linguagem propiciada pelas luzes e pelas

áreas opacas visualizadas através da imagem do satélite orbital do sistema DMSP/OLS.

O tipo de configuração que o sensor deste satélite capta na superfície terrestre é

um tanto revelador da ocupação concentrada e desigual, manifestada mediante as sombras e,

principalmente, às luzes espalhadas pelo território. Portanto, a ferramenta visual aqui utilizada

contribuiu no sentido de, ao longo do texto, representar o que se quis explicitar por meio de

expressões criadas (áreas, espaços ou territórios opacos e/ ou luminosos; luzes; opacidade;

sombra; brilho; pontos luminosos ou iluminados; pontilhado de luzes; extensão opaca ou

escura, e uma série de outros termos) e que só fazem sentido dentro do contexto deste

trabalho.

Buscamos, entre outras coisas, uma possível forma de se apropriar da

representação das informações da alusiva imagem de satélite para a produção de um texto que

correspondesse ao campo de conhecimento da Geografia. Esse tipo de representação teve

como ponto de partida a evidência de que um território desigualmente iluminado, como é o

brasileiro, nos incita a trabalhar a idéia de centralidade espacial. E esta, por sua vez, é

refletida nas áreas luminosas mais volumosas que, por imporem algum tipo de ordem ou de

controle sobre o território (ou parte dele), acabam por ganhar destaque como espaços

“centrais”.

Mas será que faz sentido falarmos em centralidade no contexto geográfico da

contemporaneidade, onde assiste-se ao predomínio dos fluxos e das relações em rede? Acaso,

a fluidez do território, isto é, a circulação crescente de certos agentes, ações e objetos

pressupõem a descentralidade? Ou podemos insistir na idéia de centralidade sob os moldes do

meio informacional?

É bem verdade que os fluxos criados pelas redes trouxeram mudanças no que

concerne às trocas espaciais, e de tal forma que a velocidade com que as ações e os objetos

fluem pode causar impressão da perda de centralidade dos pontos fixos no território (pontos

luminosos territorializados, em nossa análise particular). No entanto, devemos perceber nas

redes uma nova roupagem da centralidade, já que elas não se dão igualmente no espaço, tanto

no tange os seus aspectos qualitativos como os quantitativos:

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“Os fluxos não tem a mesma rapidez [...] Os homens não percorrem as mesmas

distâncias no mesmo tempo, dependendo dos meios com que contam [...], pois não há nenhum

espaço em que o uso do tempo seja idêntico para todos os homens, empresas e instituições”

(SANTOS, 2004, p.159).

Além do mais as redes tecnológicas-informacionais, de maneira alguma, colocam

em igualdade todas as porções do território. Inversamente, ela constitui-se como mais uma

forma de afirmar as desigualdades. As regiões geoeconômicas brasileiras são muito oportunas

para exemplificarmos os diferentes momentos pelos quais atravessam uma determinada

porção territorial. Enquanto essa geografia reticular está mais consolidada no Centro-Sul e

parcialmente formada na região Nordeste, na Amazônia a realidade regional aponta para um

território ainda em fase de expansão da ocupação e da apropriação do espaço.

Talvez nunca houve tanto sentido em se falar sobre centralidade em outro período

da história como nas proporções do atual momento, onde o imperativo das redes, do meio

informacional e a concentração de agentes detentores das tecnologias trouxeram,

principalmente às chamadas “cidades globais”, centralização do poder econômico e político.

Na era informacional, as redes asseguram aos centros de decisão um domínio real sobre

outros pontos do espaço.

Em Geografia, alguns processos são importantes para a iniciação de uma análise

da ordenação e da centralidade no território. Dentre eles destaca-se a produção histórica do

espaço e a construção da ordem territorial que tal processo acarreta continuamente.

Se fossemos discorrer sobre a produção do espaço dentro da linha do tempo da

história nacional, então teríamos de atribuir aos europeus que aqui chegaram a

responsabilidade pela formação da ordenação territorial dos primórdios desta porção da

América que veio a ser conhecida como Brasil. Desde o princípio, houve uma lógica na

arrumação ou organização que os portugueses impuseram na produção espacial do Brasil

Colônia, que a eles muito bem serviu para a extração de recursos naturais, culturas agrícolas

tropicais em larga escala, exploração mineral, e uma série de outras atividades importantes

para a economia daquele período.

Mas os períodos sucessivos vão rearrumando o território, de modo que podemos

falar em ordenações posteriores introduzidas numa organização espacial que correspondia a

uma lógica pretérita. Isso altera a centralidade a e arrumação no território, pois via de regra os

espaços ou subespaços construídos mais recentemente, ou adaptados às necessidades

modernas, tendem a “desbancar” os núcleos urbanos mais antigos ou aqueles que se localizam

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em trechos do território que não acompanharam a evolução técnica. E assim, esses novos

espaços construídos passam a participar mais ativamente da vida econômica nacional.

Tais modificações na dinâmica dão margem para falarmos de “espaços iluminados

que decaem, e de outros opacos ou pouco centrais que podem vir a se iluminar”. Lemos em

Santos (2002, p. 301) que: “[...] certas frações do território aumentam de valor em dado

momento, enquanto outras, ao mesmo tempo e por via de conseqüência, se desvalorizam”. No

afã de auferir lucros cada vez mais exorbitantes o Capital faz o seu recorte espacial, ora

escolhendo algumas áreas para investimentos, ora rejeitando-as em detrimento de outros

espaços onde passará a operar. Dessa forma é possível que um ponto luminoso destacável na

imagem de luzes noturnas DMSP/OLS venha a se constituir em uma área menos importante

na realidade porvir. Basta que outros pontos luminosos atinjam patamares mais elevados de

desenvolvimento técnico, acumulem riqueza e, ao se integrarem à rede econômica, ganhem

mais coerência na resposta a uma necessidade econômica temporária ou momentânea.

Para transpormos a representação da imagem de luzes nesta linguagem textual, a

fim de gerar uma “luz” no caminho percorrido para a leitura da ordenação do espaço,

explicitamos que nas interações entre o par “opaco-luminoso” (aqui traduzidas nas relações

campo-cidade), é o luminoso, isto é, o centro urbano que conecta todos os demais subespaços,

sendo ele sinônimo de espaço ordenador do território, conforme pode ser extraído do seguinte

trecho, em Santos (1997, p. 112):

O espaço total é constituído de subespaços: agrícolas, urbanos, mineiros, estratégicos, etc. Desses, somente o subespaço urbano tem as condições requeridas (o aparelho terciário) para manter relações com os demais subespaços [...] A rede urbana tem papel fundamental na organização do espaço [...] Seu estudo é fundamental para a compreensão das articulações entre as diversas frações do espaço.

Portanto, dizer que os espaços luminosos determinam os espaços opacos significa

admitir o controle da cidade sobre as demais áreas do território. Partindo dos aparatos

terciários de comunicação, informação e transporte (alocados no urbano), além da produção

industrial, podemos dizer que o espaço urbano leva ao território a ordem de seus agentes

controladores, isto é, do poder estatal, das empresas, das instituições, e de todos os agentes

circunscritos naquilo que Harvey (2005) denomina de “governança urbana”, mas cujas ações

ultrapassam, e em muito, os limites do perímetro urbano.

É desse modo que as luzes representadas na imagem noturna DMSP são aqui

colocadas como determinantes para a compreensão da arrumação do território nacional. Pois

elas expressam parte do território, se territorializam na forma de cidades ou em alguma

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espécie de centro onde uma aglomeração de atores e ações gera algum poder decisório. Há

uma relação dialética na qual a concentração territorial dos espaços luminosos define e é

definida por localidades aptas a exercerem o poderio econômico e a dinamização das forças

produtivas. Elas correspondem às áreas onde há maior conexão em redes, bem como àqueles

trechos do território onde o acúmulo e a diversidade de funções e a complexificação da

divisão territorial do trabalho os tornam mais proeminentes no conjunto dos subespaços de

todo o país.

O estabelecimento da relação entre a concentração de espaços luminosos e as

condições de centralidade favoráveis às regiões, áreas ou faixas territoriais mais iluminadas,

bem como a associação entre o acúmulo de luzes nas áreas com maior reunião significativa de

elementos e agentes com potencial de difundir a ordenação territorial, através de suas ações

no espaço, foi o objetivo principal deste trabalho.

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