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ULBRA UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL CURSO DE DIREITO CAMPUS GUAÍBA A (IN) constitucionalidade do artigo 9°, inciso I, da Lei n°. 7.672/82 frente ao Princípio da Igualdade Guilherme Meller Zacher Guaíba 2010/02

TCC Guilherme final

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ULBRA – UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL CURSO DE DIREITO CAMPUS GUAÍBA

A (IN) constitucionalidade do artigo 9°, inciso I, da Lei n°. 7.672/82 frente ao Princípio da Igualdade

Guilherme Meller Zacher

Guaíba 2010/02

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ULBRA – UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

CURSO DE DIREITO

CAMPUS GUAÍBA

A (IN) constitucionalidade do artigo 9°, inciso I, da Lei n°. 7.672/82 frente ao Princípio da Igualdade

Trabalho de Curso do Curso de Direito da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA, Campus de Guaíba.

ORIENTADORA: Daniela de Oliveira Pires

Guaíba 2010/02

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

CURSO DE DIREITO

COORDENAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO

PARECER:

Trata-se de parecer de admissibilidade de monografia de conclusão de curso

realizada pelo aluno Guilherme Meller Zacher cujo título é: A (IN) constitucionalidade

do artigo 9°, inciso I, da Lei n°. 7.672/82 frente ao Princípio da Igualdade.

A presente monografia atende aos padrões solicitados no regulamento da

Universidade Luterana do Brasil para os trabalhos finais de graduação. O aluno está

apto a apresentar sua monografia de conclusão de curso à banca examinadora.

É o parecer.

Guaíba, 29 de novembro de 2010.

________________________

Daniela de Oliveira Pires

Orientadora

4

DEDICATÓRIA:

Dedico o presente trabalho aos meus pais

por todo o apoio basilar, bem como, por

sempre incentivarem meu crescimento tanto

profissional como pessoal.

Aos meus avós por todos os mimos, em

especial a avó Aida que acompanhou de perto

todos os momentos deste pesquisador

apoiando sem nunca questioná-lo.

5

AGRADECIMENTOS:

Primeiramente à minha querida orientadora,

que compreendeu todos os momentos de

aflição deste acadêmico, bem como, ao se

deparar com o projeto teve sapiência e

paciência para auxiliar da forma mais produtiva

possível este jovem pesquisador.

Ao meu querido irmão, pelas frases

motivadoras proferidas, bem como, pelo auxílio

conciliador nos momentos de estresse.

A Excelentissima Senhora Doutora Juíza de

Direito Dra. Cíntia Teresinha Burhalde Mua,

pelos minutos concedidos de seu precioso

tempo, para transmitir seu conhecimento a este

jovem acadêmico, minhas sinceras gratidões.

Por fim, mas não menos importante, a todos

os meus amigos e amigas que entenderão

minha ausência para dedicação exclusiva a

este trabalho.

6

EPÍGRAFE:

“Espero ter sempre suficiente firmeza e

virtude para conservar o que considero que é o

mais invejável de todos os títulos: o caráter de

Homem Honrado.” (George Washington)

7

RESUMO

O presente estudo monográfico tem como escopo analisar o art. 9°, inciso I, da Lei de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (lei n.° 7.672/82), sob uma ótica constitucional, mais precisamente, perante o principio da igualdade, como forma de propor a discussão acerca da sua (in)constitucionalidade. A escolha do tema advém de uma possível inaplicabilidade dos princípios basilares da Constituição Federal Brasileira. Sendo que no primeiro capítulo será abordado os conceitos de igualdade e de direitos fundamentais, no segundo capítulo será abordado aspectos específicos da lei, bem como, sua possível (in)constitucionalidade e no último capítulo, será abordado o caso específico que motivou a presente monografia. Palavras-chaves: Previdência; Estado do Rio Grande do Sul; Inconstitucionalidade; Princípio da Igualdade.

8

ABSTRACT

This monographic study is to analyze the scope of art. 9, section I of the Law of Welfare of the State of Rio Grande do Sul (Law No 7.672/82), from a constitutional perspective, more precisely, before the principle of equality as a way to bring the discussion about its (un) constitutionality. The theme comes from a possible inapplicability of the basic principles of the Federal Constitution. Since the first chapter will address the concepts of equality and fundamental rights, in the second chapter will address specific aspects of the law, as well as its possible (un) constitutionality and the last chapter, we will address the specific case that led to this monograph . Keywords: Welfare, State of Rio Grande do Sul; Unconstitutionality; Principle of

Equality.

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10

1 O PRINCÍPIO DA IGUALDADE, OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ..................................................................... 12

1.1 O conceito de igualdade .................................................................................. 12

1.2 A evolução dos direitos fundamentais nas constituições brasileiras ............... 18

1.3 Os direitos fundamentais e a busca da igualdade na Constituição Federal de

1988 ................................................................................................................. 22

2 O ART. 9º DA LEI N°. 7.672/82: IMPLICAÇÕES NAS RELAÇÕES DE GÊNERO

.............................................................................................................................. 26

2.1 A igualdade nas relações de gênero ............................................................... 26

2.2 A relação entre o art. 9° e o Princípio da Igualdade ........................................ 28

2.3 A (in) constitucionalidade do art. 9° da Lei 7.672/82 ....................................... 30

3 ANÁLISE JURÍDICA DA DECISÃO: O FUTURO DA LEGISLAÇÃO

PREVIDENCIÁRIA GAÚCHA ........................................................................... 33

3.1 Breve análise histórica da jurisprudência relacionada ao Instituto da

Previdência Gaúcha ........................................................................................ 33

3.2 Previdência Gaúcha frente à Carta Constitucional ......................................... 36

3.3 O Impacto da decisão analisada, bem como, o futuro da legislação

previdenciária gaúcha ..................................................................................... 42

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 47

ANEXOS .................................................................................................................. 51

10

INTRODUÇÃO

A Lei n° 7.672/82 instituiu o Instituto de Previdência do Estado do Rio

Grande do Sul, onde com o advento da referida lei, os servidores públicos do Estado

do Rio Grande do Sul passaram a não mais estarem submetidos às orientações da

Constituição Fedral de 1988, no que diz respeito ao regime previdenciário. Assim,

passa a ser adotado o regime próprio regrado por uma autarquia estadual

previdenciária, o Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (IPERGS).

Entretanto, o art. 9°, inciso I, da Lei n° 7.672/82 aduz que são considerados

dependentes perante a lei a esposa, a ex-esposa e os maridos inválidos, ou seja,

em que pese à idêntica contribuição dos segurados, ambos parecem não possuir a

mesma titulação.

Assim sendo, dividiu-se o presente estudo em três etapas. Partindo-se de

uma breve análise preceitos doutrinários, o primeiro capítulo se detém em mencionar

a evolução dos direitos fundamentais nas Constituições brasileiras, bem como, do

princípio da igualdade.

O segundo capítulo dedica-se as estudo da lei previdenciária gaúcha,

levantando alguns tópicos pertinentes, bem como, o conflito entre a legislação

previdenciária gaúcha e o preceito basilar da igualdade.

Por derradeiro, o terceiro capítulo faz um estudo de caso, com uma análise

de um julgado da Dra. Cíntia Teresinha Burhalde Mua, a qual, questionando

pensamento basilar do STF, considerou tal legislação, mais precisamnente o art. 9°,

inciso I, inconstitucional, por fim, analisar-se-á o futuro da Legislação previdenciária

gaúcha.

Desta maneira, o presente estudo tem por escopo analisar o art. 9°, inciso I,

da Lei de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (lei n.° 7.672/82), sob uma

ótica constitucional, mais precisamente, perante o principio da igualdade, para

evidenciar uma possível (in) constitucionalidade.

O método de procedimento utilizado neste trabalho monográfico se deu, por

meio de pesquisa bibliográfica em livros, periódicos, trabalhos científicos e

documentos. Especificamente para o estudo de caso contido no terceiro capítulo, foi

realizada pesquisa jurisprudencial.

11

Diretamente ligado à atualidade, o presente trabalho monográfico pretende

contribuir efetivamente para a compreensão da legislação previdenciária gaúcha,

demonstrando, desta feita, uma possível (in) constitucionalidade. Além disso,

exatamente por ser um assunto bastante ligado aos dias atuais, optou-se por uma

linguagem acessível não somente aos juristas, mas também a cidadãos leigos.

Por fim, mister se faz salientar que, como o presente trabalho trata de tema

ainda em discussão, não se pode olvidar que, num futuro próximo, os entendimentos

sejam alterados, pois, por exemplo, os julgadores podem ser substituídos e o

posicionamento das partes envolvidas, alterado e/ou modificado.

12

1 O PRINCÍPIO DA IGUALDADE, OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

No presente capítulo abordaremos o princípio da igualdade que será

analisado com base em uma ótica doutrinária, visando deixar sua compreensão de

forma cristalina a qualquer pessoa, seja ela operadora do direito ou não, para tanto

foram utilizados pensamentos de doutrinadores, poetas e até trechos de músicas.

Sendo que, em um segundo momento, será analisado a evolução dos

direitos fundamentais na sociedade brasileira, com base nas mudanças em nossa

Carta Magna, para demonstrar como os princípios constitucionais evoluiram.

E por fim, o presente capítulo dará um enfoque especial aos direitos

fundamentais e ao princípio da igualdade com base da Constituição Federal de

1988, tais itens se fazem necessários para que se possa aprofundar a matéria em

foco no presente trabalho.

1.1 Conceito de Igualdade

Imperioso se faz, antes de adentrarmos no conceito de igualdade,

mencionarmos o conceito/definição de direitos fundamentais, o qual não possui uma

unanimidade doutrinária. Conforme os ensinamentos de José Afonso da Silva:

Não há unanimidade doutrinária que permita uma definição pretensiosamente precisa da expressão Direitos Fundamentais. Muito dessa incerteza decorre justamente da amplitude que se pode conferir à expressão, mito também porque essa conceituação está muito ligada às questões relacionadas com as concepções do mundo e à ideologia política de cada ordenamento jurídico.

1

Entretanto, em que pese tal assertiva, apenas para atingir uma mínima

ordem conceitual acerca do tema, podemos reiterar as palavras de José Afonso da

Silva, segundo o qual, a expressão direitos fundamentais “[...] é reservada para

designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele

concretiza em garantias de uma convivência digna”2.

1 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 30. Ed. São Paulo: Malheiros

Editora, 2008, p. 178. 2 Ob. Cit., p. 178.

13

Para uma melhor elucidação, temos o posicionamento do Professor Jorge

Miranda, o qual, divide os direitos fundamentais em formais e materiais,

vislumbramos:

Por direitos fundamentais entendemos os direitos ou as posições jurídicas activas das pessoas enquanto tais, individual ou institucïonalmente cons ideradas, assentes na Constituição, seja na Constituição formal, seja na Constituição material - donde, direitos fundamentais em sentido formal e direitos fundamentais em sentido material.

3

Em que pese sua classificação tanto formal como material, os conceitos

supracitados não são suficientemente elucidativos, tendo em vista que o presente

trabalho visa atingir pessoas de parcas instruções, como uma forma mais cristalina,

podemos adotar o conceito fornecido por George Marmelstein, vejamos:

[...] os direitos fundamentais são normas jurídicas, intimamente ligadas à idéia de dignidade da pessoa humana e de limitação do poder, positivadas no plano constitucional de determinado Estado Democrático de Direito, que, por sua importância axiológica, fundamentam e legitimam todo o ordenamento jurídico.

4

Desta forma, após uma breve análise conceitual de direito fundamental e

partindo da premissa que a igualdade é um direito fundamental, podemos partir para

análise de seu conceito; Entretanto dentre os direitos fundamentais, podemos dizer

que o direito à igualdade, não tem merecido tantos discursos como merecia, pois a

“igualdade constitui o signo fundamental da democracia. Não admite os privilégios e

distinções que um regime simplesmente liberal consagra”.5

Pois de todos os direitos fundamentais, a igualdade é aquele que mais tem

subido de importância no Direito Constitucional de nossos dias, sendo, como não

poderia deixar de ser, o direito chave do Estado social.

Segundo os ensinamentos de Paulo Bonavides6, a igualdade é elemento

essencial de uma Constituição aberta; é também, na frase doutro jurista igualmente

insigne, a porta de penetração por onde “a realidade social positiva e impregnada de

valores diariamente ingresssa na normatividade do Estado.

3 MIRANDA, Jorge Manuel Moura Loureiro de. Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, 3ª Ed.

Portugal: Coimbra Editora, 2000, p. ilegível. 4 MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais, 2ª Ed. São Paulo: Atlas Editora, 2009, p.

20. 5 SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição, 5ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora,

2007, p. 70. 6 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 13ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora. 2000. P.

377.

14

Mesmo assim, o conceito de igualdade provocou posições extremadas, haja

vista, que há os que sustentam que as pessoas são desiguais por natureza, logo,

temos duas correntes os “nominalistas” que acreditam que as pessoas nascem e

perduram desiguais e os “idealistas”, que postulam um igualitarismo absoluto entre

as pessoas.

Quanto a teoria “nominalista” José Afonso da Silva, afirma que existem sim

duas espécies de desigualdades entre os homens:

[...] uma que chamava “natural” ou “física”, porque estabalecida pela natureza, consistente na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito e da alma; outra que denominava “desigualdade moral” ou “política”, porque depende de uma espécie de convenção e estabelecida, ou ao menos autorizada, pelo consentimento dos homens, consistindo nos diferentes privilégios que uns gozam em detrimento dos outros, como ser mais ricos, mais nobres, mais poderosos.

7

Entretanto, posteriormente alude, que uma posição “realista”, entende “que

os homens são desiguais sob múltiplos aspectos, mas também entende ser

supremamente exato descrevê-los como criaturas iguais”8. Logo conforme os

ensinamentos de John Rawls:

[...] diremos que cada um é igualmente capaz de compreender e de aplicar a concepção pública de justiça. Por conseguinte, todos são capazes de respeitar os princípios de justiça e de ser membros integrais da cooperação social ao longo da vida. Com base nisso, cada indivíduo se considera igualmente digno. Essa idéia de dignidade igual está alicerçada na capacidade igual.

9

Ou seja, em que pese as múltiplas desigualdades, nascemos e somos

criaturas iguais, capazes de compreender e respeitar os princípios de justiça. Assim,

nesse contexto, temos o posicionamento de Aristóteles, o qual, trouxe à idéia de que

“uma igualdade impensável sem a desigualdade complementar e que é satisfeita se

o legislador tratar de maneira igual os iguais e de maneira desigual os desiguais”.10

Entretanto, segundo Celso Antônio Bandeira de Mello: “A assertiva

aristotélica de tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais não é

7 Ob. Cit., p. 71.

8 Ob. Cit., p. 71.

9 RAWLS, John. Justiça e Democracia, 1ª Ed. São Paulo: Martins Fontes Editora: 2002, p. 97.

10 SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição, 5ª Ed. São Paulo: Malheiros

Editora, 2007, p. 71.

15

suficiente, porque, afinal, quem são os iguais e os desiguais? Quem determina ou

como se determinam esses critérios?”11 e complementa:

Sabe-se que entre as pessoas há diferenças óbvias, perceptíveis a olhos vistos, as quais, todavia, não poderiam ser, em quaisquer casos, erigidas, validamente, em critérios distintivos justificadores de tratamentos jurídicos díspares.

12

Se não podemos nos basear nesta afirmativa como chegaremos a um

conceito preciso de Igualdade? Eis a questão, para tentarmos elucidar esta questão,

podemos citar trecho da seguinte decisão do Supremo Tribunal Federal (STF),

relatada pelo Min. Eros Grau13, a qual é bem elucidativa: “A igualdade se expressa

em isonomia (garantia de condições idênticas asseguradas ao sujeito de direito em

igualdade de condições com outro)”.

Podemos dizer que o pensamento do Supremo Tribunal Federal, possui

respaldo na doutrina, nesse sentido, podemos citar o conceito do princípio da

igualdade adotado por Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino14: “O Princípio da

igualdade determina que seja dado tratamento igual aos que se encontrem em

situação equivalente e que sejam tratados de maneira desigual os desiguais, na

medida de suas desigualdades [...]”.

E ainda, fugindo um pouco de obreiros do Direito, podemos citar as palavras

do poeta Carlos Drummond de Andrade, quais sejam:

Todas as guerras do mundo são iguais. Todas as fomes são iguais. Todos os amores, iguais, iguais, iguais. Iguais todos os rompimentos. A morte é igualíssima. Todas as criações da natureza são iguais. Todas as ações cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais. Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa. Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho. Ímpar.

15

Entretanto, se adotarmos o posicionamento dos doutrinadores, bem como,

do poeta, voltaremos ao conceito aristotélico outrora citado, logo, o que se quer dizer

com essa expressão é que o tratamento isonômico não pode ser aplicado de forma

erga omnes, haja vista que as pessoas não são iguais, divergem em aspectos

políticos, sociais e também econômicos, bem como, em situações que possam se

encontrar. Assim, deve-se levar em conta a finalidade e o objetivo almejado com a

11

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora, 2008, p. 11. 12

Ob. Cit., p.11. 13

STF, ADI 3305/DF, Rel. Min. Eros Grau, Julgado em 13/09/2006. 14

PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado, p.110. 15

ANDRADE, Carlos Drummond de, em A Paixão Medida, 4ª ed., 1983, p. 59.

16

igualdade, sob pena de se atingir uma desigualdade através do tratamento

isonômico.

Nesse sentido, temos o posicionamento de Paulo Bonavides, o qual,

entende que quem “quiser produzir a igualdade fática, deve aceitar por inevitável a

desigualdade jurídica”.16

Destarte, que o princípio da igualdade é a base fundamental da democracia,

como aduz o Professor Jorge Manuel Moura Loureiro de Miranda17: “Não se forma

uma sociedade de iguais se os seus membros não têm, antes de mais, o direito de

ser iguais.”

A sociedade a priori, deve primar pelos direitos dos seus membros, não

podendo os jurisdicionalistas se coadunarem com a idéia formalista da legislação,

devem os mesmos, buscar medidas concretas e objetivas visando a igualdade como

um todo.

Segundo o STF18, podemos dizer que o princípio da igualdade é o princípio

auto-aplicável, pois o mesmo se vincula incondicionalmente a todas as

manifestações do Poder Público, deve assim, ser considerado, em sua precípua

função de impedir discriminações e de extinguir privilégios, com base em dois

aspectos: igualdade na lei e igualdade perante a lei. Para abrilhantar tal pensamento

do STF, podemos complementar com a decisão, relatada pelo Min. Eros Grau:

A igualdade se expressa em isonomia (=garantia de condições idênticas asseguradas ao sujeito de direito em igualdade de condições com outro) e na vedação de privilégios. [...] a concreção do princípio da igualdade reclama a prévia determinação de quais sejam os iguais e quais os desiguais, até porque – e isso é repetido por quase que automaticamente, desde Platão e Aristóteles – a igualdade consiste em dar tratamento igual aos iguais e desigual aos desiguais.Vale dizer: o direito deve distinguir pessoas e situações distintas entre si, a fim de conferir tratamentos normativos diversos a pessoas e a situações que não sejam iguais. [...] por isso nem mesmo pode a lei – como qualquer outro texto normativo – sem violação do princípio da igualdade, distinguir situações, a fim de conferir a um tratamento diverso do que atribui a outra. Para que possa fazê-lo, contudo, sem que qualquer violação se manifeste, é necessário que a discriminação guarde compatibilidade com o conteúdo do princípio.

19

Em que pese, ser suficientemente elucidativa para os operadores do direito

a citação do Min. Eros Grau, encontra-se repleta de termos jurídicos. Assim, de

16

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 13ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora. 2000. P. 378. 17

MIRANDA, Jorge Manuel Moura Loureiro de. Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, p. 226. 18

STF, MI 58, Min. Celso de Mello, julgamento em 14/12/1990, DJ 19/04/1991. 19

STF, ADI 3305/DF, rel. Min. Eros Grau, julgamento em 13/09/2006.

17

forma assaz solar para qualquer pessoa, podemos conceituar a igualdade segundo

os ensinamentos de Rui Barbosa, vejamos:

A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem.

20

Desta maneira, a citação supracitada vem para deixar mais claro o sentido

conceitual de igualdade.

Ainda, no que pertine à igualdade, se faz mister falarmos na igualdade na lei

e igualdade perante a lei. Segundo o pensamento de Otávio Piva, podemos defini-

las da seguinte maneira:

A igualdade na lei constitui exigência destinada ao legislador que, no processo de sua formação, nela, não poderá incluir fatores de discriminação, responsáveis pela ruptura da ordem isonômica. A igualdade perante a lei, por sua vez, pressupõe que a lei já está elaborada, traduzindo uma imposição destinada aos demais poderes estatais que, na aplicação da norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que ensejem tratamento seletivo ou discriminatório.

21

No mesmo sentido são os ensinamentos de José Afonso da Silva, vejamos:

[...] a igualdade na lei seria uma exigência dirigida tanto àqueles que criam as normas jurídicas gerais como àqueles que as aplicam aos casos concretos.[...] a igualdade perante a lei seria uma exigência feita a todos aqueles que aplicam as normas jurídicas gerais aos casos concretos.

22

Podendo também, ser compreendida de uma forma mais sintetizada,

conforme explica os irmãos Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino:

A igualdade na lei tem por destinatário precípuo o legislador, a quem é vedado valer-se da lei para estabelecer tratamento discriminatório entre pessoas que merecem idêntico tratamento, enquanto a igualdade perante a lei dirige-se principalmente aos intérpretes e aplicadores da lei, impedindo que ao concretizar um comando jurídico, eles dispensem tratamento distinto a quem a lei considerou iguais.

23

20

BARBOSA, Rui. Oração dos Moços. 21

PIVA, Otávio. Comentários ao Art. 5° da Constituição Federal de 1988 e Teoria dos Direitos Fundamentais. 3ª Ed. São Paulo: Editora Método. 2009, p. 50. 22

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 30. Ed. São Paulo: Malheiros Editora, 2008, p. 215. 23

PAULO, Vicente e ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado, p.110.

18

Desta maneira, temos um conceito formal de Igualdade, bem como sua

interpretação na lei e perante a lei, entretanto se faz mister enaltecer que em nossa

legislação essa distinção não se faz necessária, porque em nossa legislação “o

princípio tem como destinatários tanto o legislador como os aplicadores da lei”24, o

que significa que a lei se aplica com iguais disposições.

Assim, diante do conceito de igualdade, se faz mister analisarmos a

evolução dos direitos fundamentais no Brasil, pois os principios constitucionais

sofreram mudanças durante os anos, sofrendo inclusive supressão em certas

épocas, logo, veremos como ocorreu essa evolução até a Carta Magna de 1988.

1.2 A evolução dos Direitos Fundamentais nas Constituições Brasileiras

A primeira Constituição do Estado do Brasil foi outorgada em 1824 pelo

então imperador D. Pedro II, que instituiu a unidade nacional com províncias

autônomas e previu a garantia dos direitos fundamentais para se coadunar com a

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.25

Assinala-se de oportuno, que a Constituição de 1824 foi elaborada a partir

do projeto de Antônio Carlos, de tendência nitidamente liberal, que não previa o

Poder Moderador, como principais pontos da Constituição Imperial no que pertine os

Direitos Fundamentais, podemos destacar o lado liberal no que pertine a declaração

de direitos individuais, possuindo um título sob rúbrica confusa “Das disposições

Gerais, e Garantias dos Direitos Civis e Políticos dos Cidadãos Brasileiros”, o qual,

“constante dos 35 incisos do art. 179, incluindo direitos sociais, como a garantia dos

socorros públicos, instrução primária gratuita a todos os cidadãos.”26

A Constituição do Império perdurou por longos 65 (sessenta e cinco) anos,

até que com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, através do

Decreto n° 1, que também estabeleceu a Federação, “o Governo Provisório através

24

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 30. Ed. São Paulo: Malheiros Editora, 2008, p. 215. 25

Declaração aprovada no auge da Revolução Francesa que dizia que “o Estado que não reconhece os direitos fundamentais, nem a separação de poderes, não possui Constituição”. Devendo-se extrair dessa expressão que um país verdadeiramente democrático deve possuir um mecanismo de controle do poder estatal para proteger os cidadãos contra o abuso e a opressão. Os direitos protegidos nessa declaração englobavam os direitos fundamentais tais como: liberdade, igualdade e os direitos políticos, tanto que o texto proclamado começava com a expressão “os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”. 26

GONÇALVES, Kildare Carvalho. Direito Constitucional Didático, 5ª Ed. São Paulo: Del Rey Editora, 1998, p. 156.

19

do Decreto n° 29, decretou provisoriamente uma comissão para elaborar o

anteprojeto de Constituição.” (CUNHA, 2000, p. 43).

A comissão em 1891 elaborou uma Constituição com 91 artigos, adotando a

forma federal de Estado, com a distribuição de Poderes entre União e Estados,

consagrando-se a autonomia dos Municípios em tudo quanto respeite ao seu

peculiar interesse (art. 68).

No que pertine aos Direitos Fundamentais, a Constituição de 1891 abria a

seção II, do Título IV, com uma Declaração de Direitos, onde assegurava a

brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos

concernentes à liberdade, à segurança e à propriedade, em especial “a constituição

de 1891, mereceu destaque à instituição do Habeas Corpus contra violência ou

coação, por ilegalidade ou abuso de poder”.27 Conforme alude José Afonso da Silva

: “basicamente, a declaração de direitos na Constituição de 1891, contém só os

chamados direitos e garantias individuais” (SILVA, 2008, p. 170).

Importa ainda, nesta senda que o período que engloba os anos de 1889-

1930, ficou conhecido na história como a República Velha, este período da História

do Brasil, foi marcado pelo domínio político das elites agrárias mineiras, paulistas e

cariocas, durante tal período o Brasil se tornou um país exportador de café, e a

indústria teve um significativo avanço. Entretanto, no que tange a área social, o país

enfrentou várias revoltas e problemas sociais.

Com a Revolução de 1930, o Governo Provisório nomeou uma nova

comissão para elaborar a nova constituição, destaca-se nesse interim, o papel da

Revolução Paulista de 1932, que exigia a restauração plena do regime democrático,

tomando por base a Constituição de Weimar, de 1919, a Constituição de 1934,

“manteve a divisão dos poderes do federalismo, mas promoveu uma centralização

legislativa em favor da União, mediante o deslocamento de matérias antes

reservadas aos Estados” (GONÇALVES, 1998, p. 158).

No que pertine aos direitos fundamentais, na Constituição de 1934, “surgiu a

figura do Mandado de Segurança, consequência de uma evolução jurídica para

defesa de direito ”certo e incontestável”, usando o mesmo processo do Habeas

Corpus.”.28 Ainda, a Constituição de 1934, instituiu um título especial para a

27

Ob. Cit. p. 158. 28

CUNHA, Fernando Whitaker. Direito Constitucional do Brasil, São Paulo, Editora Renovar, 2000, p. 63.

20

Declaração de Direitos, nele não só inscrevendo os direitos e garantias individuais,

mas também os de nacionalidade e políticos. Nesta senda, podemos citar:

Os mendigos continuaram impedidos de se alistar (artigo 4º do Código Eleitoral, então vigente), mas se aboliu a proibição da Constituição precedente, relativa aos religiosos. Acolheu-se expressamente a ação popular. Abriu-se um título para a Ordem Econômica e Social assegurando-se a pluralidade sindical e a igualdade salarial, para um mesmo trabalho, tomando-se inúmeras outras providências inadiáveis.

29

É dessa Constituição também o direito de voto para as mulheres e a criação

de inúmeros direitos trabalhistas, como salário mínimo, jornada de trabalho não

superior a oito horas diárias, proibição do trabalho de menores de 14 anos de idade,

do trabalho noturno ao menor de 16 anos e trabalho em indústria insalubre ao menor

de 18, férias anuais remuneradas, indenização na demissão sem justa causa,

proibição da diferença de salário para o mesmo trabalho, por motivo de idade, dentre

outros.

Posteriormente, em 10 de novembro de 1937, o Presidente Getúlio Vargas

outorgou a nova Constituição brasileira, a qual em síntese, outorgou poderes amplos

ao presidente como a suprema autoridade do Estado, alterando a sistemática do

equilíbrio dos poderes. Sendo que, no que tange aos Direitos Fundamentais a

Constituição de 1937, não teve nenhum avanço, “era uma carta ditatorial na forma,

no conteúdo e em sua aplicação, com total desrespeito aos direitos do homem,

especialmente no que tange aos direitos políticos” (GONÇALVES, 1998, p. 158).

Com a reconstitucionalização do país, precedida da queda de Vargas,

ocorrida em ambiente internacional a ela favorável com o fim da Segunda Guerra

Mundial, instalou-se, em 2 de fevereiro de 1946, a Assembléia Constituinte sob o

governo do General Eurico Gaspar Dutra, eleito no final do ano de 1945.

(GONÇALVES, 1998, p. 160).

O preâmbulo da Constituição de 1946, já demonstrava a realidade da nova

constituinte, declarava que os representantes do Povo Brasileiro se haviam reunido

sob a proteção de Deus, para organizar um regime democrático.

No embalo pós-guerra, a nova carta constituinte, deu ênfase aos preceitos

de natureza constitucional internacional, proclamando os direitos fundamentais como

forma de reagir frente ao regime ditadorial de Vargas. Tal demonstração vem

perfeitamente demonstrada no Título IV, sobre a Declaração dos Direitos, com dois

29

Ob. Cit. P. 63.

21

capítulos: um versa sobre a Nacionalidade e a Cidadania e outro sobre os Direitos e

Garantias Individuais, sendo demonstrado de forma cristalina pelo art. 141, §13, da

Constituição de 1946 (“é vedada a organização, o registro ou o funcionamento de

qualquer partido político ou associação, cujo programa ou ação contrarie o regime

democrático, baseado na pluralidade dos partidos e na garantia dos direitos

individuais do homem”).

Sucessivamente, após o Golpe de Estado de 31 de março de 1964 o

Congresso Nacional elegeu de maneira indireta Presidente da República o Marechal

Castelo Branco. Sendo que, “tendo em vista as várias alterações que foram

apresentadas à Constituição de 1946, o então Presidente resolveu elaborar uma

Comissão para revisar a Constituição de 1946” (GONÇALVES, 1998, p. 161).

Tendo em vista à insustentabilidade do governo, na segunda metade de

1968, culminou com a promulgação do Ato Institucional nº 5, onde foi totalmente

extinta a federação no Brasil durante aquela época, sendo que, em 17 de outubro de

1969, a Carta Magna sofreu severas alterações em decorrência da emenda

constitucional n. 1, outorgada pela junta militar que assumiu o Poder no período em

que o Presidente Costa e Silva encontrava-se doente.

O regime ditatorial perdurou até meados de 1985, quando em 27 de

novembro de 1985, através da emenda constitucional n. 26, foi convocada a

Assembléia Nacional Constituinte, com a finalidade de elaborar um novo texto

constitucional que expressasse a nova realidade social, a saber, o processo de

redemocratização e término do regime ditatorial.30

Posteriormente em 05 de outubro de 1988, foi promulgada a Constituição

Federal mais democrática do Estado brasileiro, uma forma de superar o passado de

torturas e repressão política da época passada, já que resgatou o rol de garantias

fundamentais e direitos humanos que não foram respeitados durante o período da

ditadura militar. Esta Carta Magna elevou a forma federativa de Estado a cláusula

pétrea, não podendo ser alterada nem mediante Emenda à mesma. Entretanto, a

mesma será abordada no capítulo subsequente, tendo em vista sua complexidade e

suas “inovações”.

30

BALTAZAR, Antonio Henrique Lindemberg. Histórico das Constituições Brasileiras. Disponível em:

http://www.vemconcursos.com/opiniao/index.phtml?page_id=1897, acessado em 23 de novembro de 2010.

22

1.3 – Os Direitos Fundamentais e a busca da Igualdade na Constituição Federal

De 1988

Tendo em vista a ineficácia do sistema implantado pela Constituição de

1964, que não conseguiu solucionar os grandes problemas, tornando-se

insustentável. A Constituição Federal de 1988, veio pretendendo sepultar o cadáver

autoritário da ditadura militar e representou, para os brasileiros, a certidão de

nascimento de uma democracia. (MARMELSTEIN, 2009, p. 66).

A sociedade brasileira tinha vivenciado 21 (vinte e um) anos de supressão

de liberdades em razão do regime militar. Portanto, era hora de ousar em favor dos

direitos fundamentais e deixar o sopro da democracia entrar nas janelas do poder.

A Constituição Federal de 1988 é fruto desse clamor popular, resultado da

correlação de forças do período. Sendo que, no mesmo dia em que foi promulgada

(05 de outubro de 1988), Ulisses Guimarães, o então Presidente da Assembléia

Constituinte proferiu seu famoso discurso, onde enalteceu a nova Constituição

“cidadã”. Demonstrando que a nova Constituição, era voltada aos Direitos

Fundamentais, vejamos:

O Homem é o problema da sociedade brasileira: sem salário, analfabeto, sem saúde, sem casa, portanto sem cidadania. A Constituição luta contra os bolsões da miséria que envergonham o país. Diferentemente das sete constituições anteriores, começa com o homem. Graficamente testemunha a primazia do homem, que foi escrita para o homem, que o homem é seu fim e sua esperança. É a Constituição cidadã.

Esse discurso demonstra de forma assaz solar o próposito da nova

Constituição, que mesmo correndo risco de não ser efetivada (por falta de interesse

político), assumiu uma postura voltada para o rompimento das desigualdades sociais

e para o respeito aos direitos fundamentais, bem como, todos os valores ligados à

dignidade da pessoa humana.

Percebe-se que o constituinte conferiu uma posição privilegiada aos direitos

fundamentais (pois estes agora se encontram no inicio da Constituição ao contrário

das constituições anteriores que traziam os direitos e garantias nos capítulos finais

dos textos constitucionais) e o principal os direitos fundamentais foram considerados

cláusulas pétreas, ou seja, não podem ser abolidos nem mesmo por meio de

emendas constitucionais (art. 60, §4º, inciso IV).

23

Desta maneira, a Carta Magna de 1988, buscou em realizar a Igualdade na

Sociedade, através dos direitos sociais básicos, tentando realizar uma “igualdade

niveladora”.

Segundo Paulo Bonavides, por igualdade social ou igualdade material,

entende-se que “o Estado se obriga mediante intervenções de retificações na ordem

social a remover as mais profundas e pertubadoras injustiças sociais”.31

Ainda o mesmo jurista conclui que:

Se partirmos da consideração de que o princípio da igualdade – desmembrável juridicamente numa série de pretensões – encerra em si as noções fundamentais da justiça social, então o princípio da igualdade e os direitos socias básicos devem tornar-se o critério da distribuição da prestação estatal bem como do quantum dessa distribuição.

32

Ou seja, para buscarmos uma igualdade social, os direitos fundamentais do

Estado Social, deixam de ser limites, passam a ser valores basilares para a

administração e para legislação.

Sendo que, a igualdade social ou igualdade material faz livres aqueles que a

liberdade do Estado de Direito por ventura fizera súditos (como por exemplo, a

ditadura militar), tal assertiva pode ser confirmada pelo Juiz Leibholz da Corte

Constitucional da Alemanha, vejamos:

A desigualdade criada pela liberdade faz parecer problemática a largas camadas o valor da liberdade. De tal sorte que o sentido profundo de um igualitarismo político e social somente poderá ser o de transferir aquele que a liberdade fez servo para uma situação em que outra vez e já agora com o auxílio da igualdade, possa fazer um sensato uso da liberdade.

33

Desta maneira, resta claro que a Carta Magna de 1988 pretendeu não

apenas proclamar direitos, mas, sobretudo, concretizá-los.34 Pois sob a égide da

Constituição cidadã, o ordenamento jurídico brasileiro tornou-se notoriamente

comprometido com os direitos fundamentais, para isso basta fazermos uma simples

leitura do art. 3°, que traça os objetivos da República Federativa do Brasil. Lá está

escrito claramente que o papel do Estado brasileiro é acabar com a miséria e reduzir

31

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 2ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora: 2000, p. 379. 32

Ob. Cit., p. 379. 33

Gerhard Leibholz, “Die Freiheitliche und Egalitäre Komponente im modernen Parteiestaat”, in Führung Bildung in der heutigen Welt, pp. 258 e ss. Apud Ob. Cit., p. 379. 34

“Os direitos fundamentais, em rigor, não se interpretam; concretizam-se” (BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 13ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora, 2000, p. 545.

24

as desigualdades sociais, demonstrando um inegável compromisso com a

transformação da sociedade.

Infelizmente, “o entusiamo que ocorreu com a promulgação da Constituição

de 1988 foi rapidamente transformado em decepção constitucional, ante a ausência

de compromisso político sincero em cumprir os ambiciosos objetivos previstos na

Carta Magna”35. Nesta senda, podemos nos utilizar da canção do poeta Renato

Russo: “Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação.

Que país é esse?”.

Em que pese o trecho da música supratranscrita, se faz mister ressaltarmos

que o papel das normas constitucionais – no caso em apreço os direitos

fundamentais – não é apenas o de retratar fielmente o mundo real, a Constituição

também deve servir para “fundamentar as esperanças” do povo (os princípios

constitucionais devem estar a meio caminho entre o idealismo e a conexão com a

realidade).36

Complementando o que foi outrora citado acerca do artigo 3º da Constituição

Federal, conforme lembra George Marmelstein37, o artigo 3º é um dos mais

importantes da Constituição Federal, quiça o mais importante, porque além das

garantias outrora citadas, o presente artigo consagra a chamada cláusula de

erradicação das injustiças presentes38, pois em que pese as diretrizes

socioeconômicas adotadas pelo Poder Público, os direitos fundamentais são uma

idéia reforçada na carta constituinte, mesmo não sendo um dado da realidade,

devem ser contantemente construídas.

Por fim, resta claro que a Constituição Federal de 1988, no que tange aos

direitos fundamentais e na igualdade social, está plenamente afinada com os

diversos tratados internacionais de direitos humanos.

35

MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais, 2ª Ed. São Paulo, Atlas Editora, 2009, p. 70. 36

HABERLE, Peter. El estado constitucional europeo. In: Cuestiones Constitucionales – Revista Mexicana de Derecho Constitucional. México: UNAM, n°2, 2002. Apud MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais, 2ª Ed. São Paulo, Atlas Editora, 2009, p. 72. 37

Ob. Cit., p. 74. 38

“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

25

Desta maneira, tendo em vista que já possuimos uma breve noção acerca

do princípio constitucional da igualdade, bem como, dos direitos fundamentais,

podemos passar a analisar a lei em espécie que será abordada no capítulo seguinte.

26

2 – O ARTIGO 9° DA LEI N.° 7.672/82: IMPLICAÇÕES NAS RELAÇÕES

DE GÊNERO

Neste capítulo, tendo em vista que já foram analisados os conceitos

basilares essenciais para o dislinde do trabalho, será feito um aprofundamento no

que tange ao princípio da igualdade, pois agora, será abordada uma espécie de

igualdade, a igualdade de gênero.

Ainda, iremos tratar um pouco a respeito da Lei n° 7.672/82, a qual, em que

pese não haja doutrina específica, é possível que seja feita uma breve análise de

referida legislação, mais precisamente do artigo 9°, inciso I, o qual trata dos

dependentes assegurados.

Por fim, o presente capítulo irá aportar para o enfoque do trabalho, qual seja

se a referida legislação é inconstitucional ou não.

2.1 - A Igualdade nas relações de gênero

Inicialmente, impede nesta senda mencionar que, a discriminação em

relação ao gênero, sabidamente a que põe a mulher, de forma direta ou indireta, em

posição de inferioridade, advém das relações desiguais historicamente impostas aos

homens e mulheres ao longo dos tempos pelas sociedades.

Quando falamos em igualdade em relação ao gênero no direito brasileiro,

estamos nos referindo ao artigo 5°, inciso I, da Constituição Federal de 1988

(Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta

constituição;); o que em outras palavras significa dizer que não pode haver

discriminação entre homens em mulheres.

Todavia, esta igualdade, não pode ser considerada de forma inflexível,

tornando-se um interpretação puramente objetiva da Constituição. Nesse sentido,

podemos citar um exemplo de controvérsia, vejamos:

Critério de admissão para concurso público: o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que não há violação ao princípio da isonomia quando a discriminação tem como base a natureza das atribuições e funções exercidas em razão do sexo. A matéria foi objeto da súmula 683 do Supremo Tribunal Federal. No mesmo sentido, decidiu a Corte Suprema que a promoção de militares dos sexos masculino e feminino com critérios

27

diferenciados, no caso de carreiras regidas por legislação específica, não caracteriza violação ao princípio da Isonomia.

39

Outro exemplo claro de desigualdade em relação ao gênero, é nossa própria

legislação, que ainda mantém desigualdades, tais como: o domicílio privilegiado da

mulher, em ações de separação e divórcio, o que a priori, contraria o preceito

constitucional de igualdade entre o gênero.

Desta forma, vemos que a constituinte preocupou-se tanto em condenar

qualquer tipo de distinção entre homens e mulheres, tanto que tirando o artigo já

citado, acrescentou o artigo 226, §5°, da Constituição Federal de 1988, que

prescreve a igualdade de direitos e obrigações entre homens e mulheres diante do

casamento e da prole.

Entretanto, todo essa cautela em primar pela igualdade, não serviu de óbice

para o constituinte adotar algumas medidas de tratamento diferenciado, entre elas

podemos citar: licença-gestação para a mulher, com duração superior à da licença-

paternidade (artigo 7°, incisos XVIII e XIX); incentivo ao trabalho da mulher,

mediante normas protetoras (artigo 7°, inciso XX); prazo mais curto para a

aposentadoria por tempo de serviço da mulher (art. 40, inciso III, letras a, b, c e d;

art. 202, I, II, III e § 1°).

Ou seja, embora haja mecanismos permanentes para receber e transmitir,

com fidelidade, à vontade dos cidadãos, em igualdade de condições, destaca-se

como uma das principais condições da democracia representativa e confere

legitimidade ao processo político. A superação dos procedimentos pelos quais os

homens atribuem historicamente situações de inferioridade pretensamente naturais

às mulheres constitui ainda um dos mais difíceis desafios da democracia brasileira.

O que se almeja com esta assertiva é demonstrar que, embora o princípio da

igualdade seja historicamente consagrado em nossas Cartas Magnas, nem sempre

os aplicadores da lei entenderam assim. A primeira Carta Constitucional

Republicana, de 1891, declarava eleitores todos os cidadãos maiores de 21 anos

que se alistassem, na forma da lei, mas os aplicadores da norma entenderam que

ela expressava a intenção de excluir as mulheres. Nesse sentido, segundo Eliane

Cruxên que:

A luta da mulher brasileira pela cidadania plena só começou a produzir resultados a partir da criação, em 1922, por Bertha Lutz, da primeira

39

AI 511.131 – AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 22-03-2005, DJ 15-04-2005.

28

organização de mulheres - a Federação Brasileira para o Progresso Feminino -, cuja principal palavra de ordem era a conquista do direito do voto em igualdade de condições com o homem. A primeira vitória da organização ocorreu mais de dez anos após sua criação, quando, nas eleições para a Constituinte de 1934, as mulheres conquistaram o reconhecimento do direito de voto e a permissão de comparecerem às urnas como eleitoras e como candidatas.

40

Destaca-se que atualmente não há igualdade em relação ao gênero em

nossa Carta Magna, pois o próprio texto constitucional prevê desigualdades, em que

pese essas desigualdades sejam excepcionais e possuam explicação racional, seja,

por natureza histórica, ou necessidade de readequação diante de uma possível

desigualdade feminina, essas exceções existem.

Conforme ensina José Afonso da Silva41, “onde houver um homem e uma

mulher, qualquer tratamento desigual entre eles, a propósito de situações

pertinentes a ambos os sexos, constituirá uma infringência constitucional.”

Assim, a priori não há razão para um critério discriminatório presente em

nossa Carta Constitucional.

Ainda, importa referir que o presente capítulo serve de base para o estudo

que será efetuado no próximo tópico, haja vista que o conceito de igualdade em

relação ao gênero é primordial para podermos fazer uma comparação entre o artigo

9° da Lei n° 7.672/82 e o Princípio da Igualdade.

2.2 – A relação entre o artigo 9° da Lei n° 7.672/82 e o Princípio da Igualdade

Antes de adentrarmos no estudo do artigo 9° da lei de previdência do Estado

do Rio Grande do Sul, se faz mister, analisarmos um pouco da Lei em espécie.

A previdência social em solo gaúcho iniciou-se pelo decreto 4.841, de 08 de

agosto de 1931, com a criação do Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande

do Sul - IPERGS, no governo do General Flores da Cunha. de forma pioneira no

Brasil, direcionou suas finalidades somente para o pagamento de pensão aos

dependentes, em caso de morte do segurado e proteção assistencial aos segurados

e seus dependentes, previstas e ratificadas na Lei 7.672/82, artigos 1° e 2°, 19 e 20,

40

MACIEL, Eliane Cruxên Barros de Almeida. A Igualdade entre os Sexos na Constituição de 1988. Buscalegis, Brasilia, maio/1997. Disponível em: www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/.../14132. Acessado em 18 de novembro de 2010. 41

SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição, 5ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora, 2007, p. 75.

29

e jamais para aposentadoria dos servidores, conforme artigo 74, que diz: “O encargo

de aposentadoria dos servidores, segurados obrigatórios do Instituto, incumbe ao

Estado ou à Autarquia de que forem funcionários ou empregados.”

Nesta senda, podemos passar para análise do artigo 9°, sendo pertinente

que se faça a transcrição:

Art. 9º - Para os efeitos desta lei, são dependentes do segurado: I - a esposa; a ex-esposa divorciada; o marido inválido; os filhos de qualquer condição enquanto solteiros e menores de dezoito anos, ou inválidos, se do sexo masculino, e enquanto solteiros e menores de vinte e um anos, ou inválidos, se do sexo feminino.

Diante da transcrição do artigo acima exposto, apreendesse que são

considerados dependentes perante a lei, a esposa, a ex-esposa e os maridos

inválidos, ou seja, podemos evidenciar que a referida Lei independentemente da

idêntica contribuição dos segurados, ambos a priori parecem não possuir a mesma

titulação, pois os maridos somente serão amparados como pensionistas se inválidos

forem, o que a princípio destoa uma afronta a igualdade entre homens e mulheres.

Nesse contexto, que entra a relação do artigo com o princípio da igualdade,

pois independentemente a contribuição dos maridos, estes não irão receber o

auxílio, salvo se apresentarem alguma invalidez.

Logo o princípio da Isonomia, sua função de limitação ao legislador, bem

como, sua função de ser referencial hermenêutico, estão sendo desrespeitados,

conforme explica Manoel Gonçalves Ferreira Filho: “É também um princípio de

interpretação. O Juiz deverá dar sempre à Lei o entendimento que não crie

privilégios, de espécie alguma. E, como o Juiz, assim deverá proceder todo aquele

que tiver de aplicar a lei”42.

Infelizmente não é o que vem ocorrendo em nossos julgados, vejamos:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. PREVIDÊNCIA PÚBLICA. PENSÃO. CÔNJUGE VARÃO. PRETENSÃO DE INCLUSÃO COMO DEPENDENTE DE SUA ESPOSA. IMPOSSIBILIDADE. O MARIDO SOMENTE TEM DIREITO DE SER INCLUÍDO COMO DEPENDENTE DE SUA ESPOSA JUNTO AO IPERGS QUANDO INVÁLIDO (ART. 9º DA LEI 7672/82). NÃO PREENCHIDO TAL REQUISITO LEGAL, INVIÁVEL A INCLUSÃO DO MARIDO COMO DEPENDENTE, UMA VEZ QUE NÃO HÁ LEI ESPECÍFICA AUTORIZADORA. APELAÇÃO PROVIDA. REEXAME NECESSÁRIO PREJUDICADO. (Apelação e Reexame Necessário Nº 70034669267, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Silveira Difini, Julgado em 14/04/2010).”

42

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 34 Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 282.

30

E ainda:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. PREVIDENCIÁRIO. IPERGS. PENSÃO POR MORTE. INCLUSÃO DE MARIDO DE EX-SERVIDORA PÚBLICA ESTADUAL COMO DEPENDENTE. A dependência econômica é condição indispensável para o percebimento da pensão previdenciária pelo viúvo de ex-segurada do IPERGS. Tendo em vista a ausência de comprovação da dependência econômica pelo autor, não tem o direito ao recebimento do benefício de pensão por morte. Apelo desprovido, por maioria. (Apelação Cível Nº 70032594061, Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Aurélio Heinz, Julgado em 24/02/2010)”.

Desta maneira, evidenciamos a ligação do princípio da igualdade com o

artigo 9° da Lei n° 7.672/82, pois o artigo desrespeita claramente os preceitos

constitucionais.

Assim, no próximo tópico analisaremos se o referido artigo é realmente

inconstitucional ou não.

2.3 – A (in) constitucionalidade do artigo 9° da lei n° 7.672/82

Através, da fundamentação exposta até o presente momento, vislumbrasse

uma forte e aparente inconstitucionalidade, pois o Instituto Previdenciário do Estado

do Rio Grande do Sul tinha como intuito amparar os funcionários públicos e suas

famílias.

Entretanto, ao amparar somente as mulheres em caso de uma possível

pensão por morte, acabou esquecendo a fundamentação de sua criação, pois ao

omitir o homem sadio de seu ordenamento, acabou por ocasionar um prejuízo

imensurável a inúmeras famílias que são prejudicadas até os dias atuais, haja vista

que diante de um falecimento da matriarca o restante da família ficará desamparado.

Não podemos esquecer, que a mulher funcionária pública estadual é tão

segurada do sistema previdenciário estadual quanto os servidores homens, vez que

tanto um como outro, arcam com o custeio nas mesmas proporções.

Partindo desta breve análise, devemos relembrar que "A Constituição

Federal estabeleceu igualdade entre homens e mulheres, sem distinção de qualquer

espécie, incluindo-se aí os direitos relativos à saúde e à previdência social (art. 5,

caput, inciso I e art. 6º)”.

No mesmo sentido, a Constituição Federal de 1988 em seu art. 201, inciso

V, prevê o pensionamento para homens e mulheres, decorrentes de óbitos de

31

segurado(a), cuja concessão independe do sexo. Logo, a regra constitucional

insculpida no inciso V do art. 201 citado, deu igualdade de tratamento no que pertine

à independência previdenciária.

Desta maneira, para à ordem previdenciária, tanto a mulher é dependente do

homem, como o homem é da mulher.

Ainda, percebemos que o Instituto Previdenciário Gaúcho (IPERGS), mais

precisamente a legislação gaúcha advém de uma formação social e cultural, na qual

a figura masculina sempre foi proeminente em relação à presença feminina,

entendida, por vezes como antiquada. Assim, se constata que homem perante a

sociedade, era o responsável pela mantença do lar, dono absoluto e senhor

incontestável e, a mulher tinha o papel de organização do lar e o cuidado com os

filhos.

Ocorre que, com o passar do tempo a sociedade em geral passou por

grandes modificações e, na atual sociedade a mulher passou a ter um espaço maior,

com participação ativa no mercado de trabalho e nesse sentido, nossa Carta Magna

estabelece no art. 226, § 5º que os direitos e deveres inerentes à sociedade conjugal

são exercidos de igual para igual, pelo homem e pela mulher, fazendo desaparecer

a figura do “cabeça do casal”.

Conforme demonstrado, no que pertine aos direitos sociais e ao direito

previdenciário, o instituto estadual é anterior ao texto constitucional, logo podemos

dizer que o mesmo é “obsoleto” perante a Carta Magna.

Como se não bastasse, o sistema previdênciário estadual contempla uma

vergonhosa desigualdade, pois traz três categorias de beneficiários em seu artigo 9°,

conforme voto proferido pelo Des. Genaro José Baroni Borges, são eles:

Uma, a de servidores públicos homens cujas mulheres são suas dependentes, sem questionar se são sadias ou não: outra, a de servidoras públicas cujos maridos ou companheiros são dependentes, por inválidos (Lei 7.672/82): por último, servidoras públicas cujos maridos ou companheiros, por sadios, não são habilitados como dependentes.

43

E complementa de forma brilhante, vejamos: “De tudo isso decorre: I - a

recusa ao pensionamento ou à inclusão do marido como dependente da mulher,

afronta a garantia constitucional de igualdade entre homens e mulheres”.

43

Apelação n° 70035138312, Relator Genaro José Baroni Borges, julgada em 19 de maio de 2010, DJ 26 de maio de 2010.

32

Como chegamos a conclusão de que realmente o artigo contempla uma

desigualdade absurda, isso Celso Antonio Bandeira de Mello, nos ensina de forma

clara, vejamos:

Há ofensa ao princípio constitucional da Isonomia quando: I. A norma singulariza atual e definitivamente um destinatário

determinado, ao invès de abranger uma categoria de pessoas, ou pessoa futura e indeterminada;

II. A norma adota como critério discriminador, para fins de de diferenciação de regimes, elemento não residente nos fatos, situações ou pessoas por tal modo desequiparadas. É o que ocorre quando pretende tomar o fator “tempo” – que não descansa no objeto – com critério diferencial.

III. A norma atribui tratamentos jurídicos diferentes em atenção a fator de discrímen adotado que, entretanto, não guarda relação de pertinência lógica com a disparidade de regimes outorgados;

IV. A norma supõe relação de pertinência lógica existente em abstrato, mas o discrímen estabelecido conduz a efeitos contrapostos ou de qualquer modo dissonantes dos interesses prestigiados constitucionalmente.

V. A interpretação da norma extrai dela definições, discrímens, desequiparações, que não foram professadamente assumidos por ela de modo claro, ainda que por via implícita

44.

Assim, fica claro que a Lei nº 7.672/82, por sua vez, trata diferentemente o

homem e a mulher. À mulher é reconhecido o direito à pensão sempre. Já ao

homem, o direito só alcança os inválidos e dependentes economicamente, nos

termos do artigo 9º, inciso I, e § 5º da Lei.

Ou seja, o fato de o marido necessitar demonstrar sua invalidez afronta

claramente o príncipio constitucional da isonomia, pois para a mulher o mesmo não

é exigido, o que demonstra de forma cristalina a dispariedade.

Assim, em que pese o caráter repetitivo, fica claro que o artigo da Lei é

inconstitucional.

Desta maneira, no próximo capítulo faremos uma análise de caso, levanto

em consideração os temas outrora analisados em comparação com a decisão que

serviu de escopo para o presente trabalho.

44

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora, 2008, p. 47-48.

33

3 – ANÁLISE JURÍDICA DA DECISÃO: O FUTURO DA LEGISLAÇÃO

PREVIDENCIÁRIA GAÚCHA

Neste capítulo, será analisada a legislação que motivou o presente trabalho,

bem como, o futuro da legislação previdenciária gaúcha, mas antes de se estudar o

caso específico, foi feita uma breve análise histórica acerca da evolução da

jurisprudência em relação ao tema proposto, onde iremos vislumbrar de forma assaz

solar como os julgadores gaúchos se coadunaram ao pensamento do Supremo

Tribuanl Federal.

Em um segundo momento, foi feito o estudo do caso específico, onde para

tanto foi utilizado material doutrinário, bem como, entrevista realizada com a

julgadora e jurisprudências elucidativas.

Por fim, o presente capítulo a título de curiosidade esclarece o futuro da

legislação previdenciária gaúcha, apontando o que vem ocorrendo e o que está por

vir.

3.1 – Breve análise histórica da jurisprudência relacionada ao Instituto da

Previdência Gaúcha

Antes de analisarmos a decisão que motivou o presente trabalho, mister se

faz uma breve análise histórica da jurisprudência relacionada ao Instituto da

Previdência Gaúcha, mais precisamente no que tange à habilitação do homem como

dependente da mulher segurada.

Primeiramente, aqui importa referir que falamos de julgados anteriores a

Emenda Constitucional de 1998 onde os Julgadores gaúchos tinham um

pensamento quase uníssono se assim pode-se dizer, pois entendiam que a Lei não

deveria se sobrepor a Carta Magna, logo desconsideravam os preceitos estaduais e

acabavam por aplicar os preceitos constitucionais, nesse sentido, vejamos:

EMENTA: PREVIDENCIA SOCIAL. PENSAO POR MORTE DE SEGURADA DO IPERGS. MARIDO COMO BENEFICIARIO. POSSIBILIDADE. UMA VEZ QUE A CONSTITUICAO FEDERAL, ATRAVES DE SEUS ARTS. 5, I E PAR-1, 6, 201, V E 226 E PAR-5, AO TRATAR DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS, COM EXTENSAO A PREVIDENCIA SOCIAL E A FAMILIA, ESTABELECE A IGUALDADE DE DIREITOS E OBRIGACOES ENTRE O HOMEM E A MULHER, NAO PODE O MARIDO SER IMPEDIDO DE CONSTAR COMO BENEFICIARIO DE

34

PENSAO POR MORTE DE SEGURADA DO IPERGS. RESTRICAO DA LEI ESTADUAL N 7672/82, SO ADMINTINDO, COMO DEPENDENTE, O MARIDO "INVALIDO" NAO SE COADUNA COM A CONSTITUICAO FEDERAL, RESTANDO, NESSE PONTO, DERROGADA. APLICACAO IMEDIATA DE NORMAS DEFINIDORAS DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. VOTOS VENCIDOS. EMBARGOS INFRINGENTES DESACOLHIDOS. (Embargos Infringentes Nº 597097674, Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, Julgado em 03/10/1997)

E como forma complementar, também nesse sentido, temos:

EMENTA: PREVIDENCIA. BENEFICIO PREVIDENCIARIO. PENSAO. CONJUGE VARAO. DIREITO A PERCEPCAO DOS BENEFICIOS PREVIDENCIARIOS EM IGUALDADE DE CONDICOES COM O CONJUGE MULHER. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA, EM IGUALDADE DE CONDICOES, SEM DISTINCAO DE QUALQUER NATUREZA, ENTRE HOMEM E MULHER, ESTAO ASSEGURADOS PELA LEI FUNDAMENTAL, ENTRE OUTROS, OS DIREITOS SOCIAIS RELATIVOS A SAUDE E A PREVIDENCIA, CUJO EXERCICIO, EM FACE DE SISTEMA DE PREVIDENCIA E ASSISTENCIA DO ESTADO, EXISTENTE DE HA MUITO TEMPO, INDEPENDE DE LEI INFRA-CONSTITUCIONAL ESPECIFICA, PORQUANTO O DIREITO EMERGE DA PROPRIA CONSTITUICAO E, NA HIPOTESE DOS AUTOS, A PARTIR DO ADVENTO DA CARTA ESTADUAL. DIREITO RECONHECIDO, DO CONJUGE MULHER, CONTRIBUINTE COMPULSORIO DO IPERGS, DECLARAR O MARIDO COMO SEU DEPENDENTE, PARA EFEITOS DE USUSFRUIR DOS BENEFICIOS INSTITUIDOS PELA LEI N-6672/82 E ALTERACOES SUBSEQUENTES, A PARTIR DA VIGENCIA DA CONSTITUICAO DO ESTADO. INCIDENCIA DOS ARTS 5, CAPUT, INC-I, E PAR-1, 6, 201, V, E 226, PAR-5, DA CONSTITUICAO DA REPUBLICA E DOS ARTS-41 E 42, DA CONSTITUICAO DO ESTADO. PRECEDENTES DA CORTE. EMBARGOS INFRINGENTES DESACOLHIDOS. (Embargos Infringentes Nº 597035377, Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Salvador Horácio Vizzotto, Julgado em 01/08/1997)

Como percebemos nos julgado supratranscritos, os Julgadores da época

entendiam a Lei maior deveria prosperar diante de tal desigualdade.

Entretanto, após a Emenda Constitucional de 1998, os Julgadores

começaram a adotar um outro pensamento, bem como, começaram a indeferir a

concessão do benefício aos conjuges varões, nesse sentido, podemos analisar a

seguinte decisão:

EMENTA: PREVIDENCIA ESTADUAL. PEDIDO DE INSCRICAO DO HOMEM, PELO SO FATO DE SER CONJUGE, EM RELACAO A SEGURADA MULHER. PRINCIPIOS DA IGUALDADE E DA FONTE DE CUSTEIO TOTAL, E A QUESTAO PREVIDENCIARIA. VOTO VENCIDO. 1. PRINCIPIOS DA IGUALDADE. A IGUALDADE CONSAGRADA NO ART-5, 'CAPUT', E INC-I, DA CF, SE REFERE A ONTOLOGICA, PELA QUAL SE REPUDIA APENAS A DESIGUALDADE COM SENTIDO DISCRIMINATORIO, ENQUANTO SER HUMANO. A IGUALDADE DE DIREITOS E DEVERES CONSAGRADA NO ART-226, PAR-5, DA CF, SE REFERE EXCLUSIVAMENTE A SOCIEDADE CONJUGAL. 2. A QUESTAO

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PREVIDENCIARIA E A FONTE DE CUSTEIO TOTAL. A QUESTAO PREVIDENCIARIA ENTRE OS CONJUGES SE RESOLVE PELOS ART-201, V, COMBINADO COM O ART-195, PAR-5, AMBOS DA CF, PELOS QUAIS RESULTA QUE OS PLANOS DE PREVIDENCIA SOCIAL, MEDIANTE CONTRIBUICAO, ATENDERAO, NOS TERMOS DA LEI, A PENSAO POR MORTE DO SEGURADO, SEJA ELE HOMEM OU MULHER, AO CONJUGE OU COMPANHEIRO E DEPENDENTES, MAS NENHUM BENEFICIO OU SERVICO DA SEGURIDADE PODE SER CRIADO, MAJORADO OU ESTENDIDO SEM A CORRESPONDENTE FONTE DE CUSTEIO TOTAL. POR CONSEGUINTE, SEM PREVIA LEI QUE FORNECA A FONTE DE CUSTEIO TOTAL, NAO E POSSIVEL ESTENDER BENEFICIO A CATEGORIA DE PESSOA NAO CONTEMPLADA NA LEGISLACAO VIGENTE, COMO E O CASO, NA ESTADUAL, DA INSCRICAO DO HOMEM, PELO SO FATO DE SER CONJUGE, EM RELACAO A SEGURADA MULHER. 3. APELACAO PROVIDA. VOTO VENCIDO. REEXAME PREJUDICADO. (11FLS.) (Apelação Cível Nº 599101938, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator Vencido: Leo Lima, Redator para Acordão: Irineu Mariani, Julgado em 05/05/1999)

Vejamos que o pensamento dos Julgadores começou a direcionar-se no

sentido de que tendo em vista que a Legislação Estadual não contempla o homem

sadio como dependente segurado, bem como, possivelmente não há fonte de

custeio para “abarcar” os varões, estes não teriam como serem beneficiados por tal

benefício.

Nesta senda, importa referir que este pensamento perdurou por anos, como

podemos acompanhar pelos seguintes votos:

EMENTA: EMBARGOS INFRINGENTES. DIREITO PREVIDENCIARIO. IPERGS. INCLUSAO DO MARIDO COMO DEPENDENTE DA MULHER. AUTO-APLICABILIDADE DOS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. I- A RECUSA AO PENSIONAMENTO OU A INCLUSAO DO MARIDO COMO DEPENDENTE DA MULHER, AFRONTA A GARANTIA CONSTITUCIONAL DE IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES. II- NAO HA FONTE DE CUSTEIO ESPECIFICA PELO NUMERO DE DEPENDENTES. O CUSTEIO E SOBRE A REMUNERACAO. III- EMBARGOS DESACOLHIDOS. (7FLS) (Embargos Infringentes Nº 70000477596, Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Genaro José Baroni Borges, Julgado em 17/03/2000)

Também nesse sentido:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO: EXTENSÃO AO VIÚVO. PRINCÍPIO DA IGUALDADE. NECESSIDADE DE LEI ESPECÍFICA. I- A extensão automática da pensão ao viúvo, em decorrência do falecimento da esposa-segurada, assim considerado aquele como dependente desta, exige lei específica, tendo em vista as disposições constitucionais inscritas no art. 195, caput, e seu § 5º, e no art. 201, V, da Constituição Federal. II. - Agravo Regimental improvido. (AI 538673 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 22/05/2007, DJe-047 DIVULG 28-06-2007 PUBLIC 29-06-2007 DJ 29-06-2007 PP-00040 EMENT VOL-02282-17 PP-03548 RT v. 96, n. 866, 2007, p. 120-122)

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Assim sendo, percebemos que durante muitos anos o pesamento dos

Julgadores perdurou de forma imutável, ou seja, os benefícios continuaram não

sendo destinados aos cônjuge varões por diversos motivos, entre eles o que mais se

destaca é a falta de previsão legal.

Desta maneira, todos os julgados servirão para demonstrar e fundamentar a

escolha do julgado que será analisado no próximo capítulo, pois graças a ele os

pensamentos do Supremo Tribunal Federal, bem como, o pensamento dos Juízes

Estaduais foi modificado e hoje a jurisprudência é farta no sentido de apontar a total

desigualdade presente na lei e reconhece a necessidade de dependência do

cônjuge varão independente de qualquer comprovação.

3.2 – Previdência Gaúcha frente à Carta Constitucional

Primeiramente, mister se faz salientar que a decisão que será colocada em

análise, foi proferida pela Dra. Cíntia Teresinha Burhalde Mua, no processo n°

087/1.08.0003724-9, a escolha desta decisão se deve ao fato de que o pensamento

da Ilustre Magistrada contrariou o posicionamento do Supremo Tribunal Federal e

reconheceu o direito do cônjuge varão como dependente da cônjuge virago.

Recebendo os holofotes do judiciário, sendo inclusive notícia no site do Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.45

Nesse sentido, podemos passar à análise da decisão, a qual será

desmembrada para melhor compreensão, vejamos:

“Vistos etc. Cuida-se de ação ordinária para concessão de pensão por morte

ajuizada por JOSÉ TEODORO ALVES em face do INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, ambos já qualificados nos autos.

A inicial, que atende os predicados do artigo 282, CPC, veio instruída com procuração e documentos, havendo petição pela concessão dos benefícios da AJG e pedido de antecipação de tutela, sendo deferido o primeiro e indeferido o segundo pleito (fl. 23).

Citado, o IPERGS contestou, incorrendo em erro material ao anunciar que o óbito ocorreu em 11/04/04 (fl.29), quando de fato se houve em 09/04/2007, fl. 15, concordando em parte com o pedido, para que, concedido o benefício, seja aplicado o redutor previsto no artigo 40, § 7º da

45

QUADROS, Mariane Souza de. Concedida pensão por morte de segurada do IPERGS a companheiro sadio, Disponível em: http://www1.tjrs.jus.br/site/imprensa/noticias/#../../system/modules/com.br.workroom.tjrs/elements/noticias_cont roller.jsp?acao=ler&idNoticia=115301, Acessado em 23 de novembro de 2010.

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Constituição Federal. Houve réplica. Relatei. Decido. Num país em que a taxa de natalidade decresce continuadamente,

projetando num futuro próximo população predominantemente madura, as discussões em matéria previdenciária têm ocupado posição de destaque no cenário do debate nacional...”

Primeiramente, vê-se a preocupação com a taxa de natalidade, nesta senda,

mister se faz salientar que segundo dados coletados no site do IBGE46:

Em 2000 manteve-se a tendência histórica de predominância feminina na população total: para cada 100 mulheres havia 96,93 homens, ou seja, havia um excedente de 2 647 140 mulheres em relação ao número total de homens. Sendo que, embora nasçam mais homens do que mulheres, morrem menos mulheres do que homens: a porcentagem de homens que morrem entre os 10 e 50 anos é maior do que a de mulheres, sendo esta diferença (sobremortalidade masculina) devida às mortes por causas violentas, principalmente entre os mais jovens.

Ainda, nesse sentido se faz imperioso frisarmos um outro dado impactante

pois:

... até o início dos anos 80, a estrutura etária da população brasileira, revelada pelos Censos Demográficos, vinha mostrando traços bem marcados de uma população predominantemente jovem. A generalização das práticas anticonceptivas durante os anos 80 resultou no declínio da natalidade, o que se refletiu no estreitamento da base da pirâmide etária e na redução do contingente de jovens, com aumento da população madura, em especial a população feminina.47

Logo, conclui-se que os homens estão vivendo menos que as mulheres e

essas por sua vez são maioria no cenário nacional. Assim seguimos com a decisão,

vejamos:

... Sob o ponto de vista jurídico, dentre as várias questões em voga, reputo preocupante a situação de franca desigualdade que grassa à luz da interpretação corrente da Lei Estadual nº7.672/82. Dita normativa prescreve, em seu artigo 9º, para o fim de guindar à condição depensionista, a presunção de dependência econômica da esposa (inciso I) ou da companheira (inciso II) – sadias ou não -- dos segurados do IPE, ao passo em que, mesmo à luz de idêntica contribuição das seguradas, igual titulação aos seus maridos é assegurada se – e apenas se -- houver invalidez, restando a situação dos companheiros à míngua de regulamentação. Honrando a sua tradição de vanguarda, o Judiciário gaúcho fez a leitura em consonância com a Magna Carta (v.g,: Apelação Cível Nº 599302726, Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:

46

Censo Demográfico 2000 - Características da População e dos Domicílios. Resultados do Universo. IBGE, 2001, Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/demograficas.html. Acessado em 23 de novembro de 2010. 47

Censo Demográfico 2000 - Características da População e dos Domicílios. Resultados do Universo. IBGE, 2001, Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/demograficas.html. Acessado em 23 de novembro de 2010.

38

Francisco José Moesch, Julgado em 27/10/1999), mas ao depois curvou-se ao entendimento do STF que, ao apreciar Recurso Extraordinário nº RE 204.735-RS, Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU 28-1-01, entendeu que a pensão aos maridos sadios (e, por extensão, aos companheiros sãos) das seguradas do Instituto de Previdência do Estado depende da edição de lei específica e de contribuição bastante, conforme o art. 195, caput, e seu § 5º, e o art. 201, V, da CF (observado o ditado da Emenda Constitucional 20/98, que lhe deu nova conformação), não sendo possível a interpretação extensiva do artigo 9º, I, da Lei Estadual nº 7.672/82; ademais, em voto-vista, o Ministro Nelson Jobim entendeu que sequer a presunção legislativa em favor da viriago se justifica à luz do contexto sócio-econômico e constitucional atual...

Sobre esta parte da decisão se faz mister trazermos a lume trecho da

entrevista realizada com a Dra. Cíntia Teresinha Burhalda Mua, a qual justifica de

forma mais exemplificada essa fundamentação, vejamos:

Na verdade antes da emenda constitucional de 98 o entendimento do STF era no mesmo sentido da decisão proferida. Os óbices ocorridos após a emenda constitucional de 98 é que resultaram nessa polêmica. Então, eu acho que é importante se fazer um divisor de águas do posicionamento do STJ até a emenda constitucional 98, ou seja, para os óbitos ocorridos até então e para o segundo momento que seria após a emenda constitucional de 98. Na verdade, a situação que envolve a decisão ela tem respaldo na constatação

Pausa... Então, como dizia, o lastro da decisão teve por constatação que apenas no Rio Grande do Sul havia essa discriminação, nós temos a contribuição previdenciária recolhida de forma igualitária entre os contribuintes varões e as contribuintes mulheres, na expectativa pelo principio da solidariedade de obtermos em caso de falecimento os nossos habilitados a pensão receberem o mesmo tratamento. Fizemos uma pesquisa junto a Lei 8.112 que preve tranquilamente essa hipótese o conjuge ou companheiro como beneficiário também o regime geral da previdência social pela Lei 8.213/91, também preve de forma tranquila e tinhamos encontrado em um momento da decisão apenas aqueles precedentes do supremo antes da emenda constitucional de 98

48.

Sobe esta ótica, o que se vê, é que em um primeiro momento os Tribunais

Gaúchos, tentaram utilizar uma analogia e aplicar o princípio da igualdade constante

em nossa Carta Magna, entretanto, o Supremo Tribunal Federal entendeu não ser

possível tal posicionamento; o que acabou por “restringir” os julgadores Gaúchos

que acabaram por se coadunarem e decidir de igual forma.

Entretanto, após a Constituição Federal de 1988, o Supremo Tribunal

Federal, começou a rever seus conceitos e fazer uma interpretação mais benéfica do

artigo 9ª da Lei 7.672/82, aludindo que o cônjuge varão poderia ser dependente da

48

MUA, Cintia Teresinha Burhalde, Juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom

[entrevista]. Entrevista concedida à Guilherme Meller Zacher no sala de audiência da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom, 2010. Arquivos de Pesquisa. Guaíba.

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cônjuge virago, desde que demonstrasse ser “inválido”, ou seja, para os Ministros do

Supremo, o varão deveria demonstrar que dependia economicamente da cônjuge

virago, nesse sentido, vejamos:

EMENTA: A extensão automática da pensão ao viúvo em decorrência do falecimento da esposa-segurada, assim considerado aquele como dependente desta, exige lei específica, tendo em vista as disposições constitucionais inscritas no art. 195, caput, e seu § 5º, e art. 201, V, da Constituição Federal. Em obediência ao princípio da isonomia, o homem e a mulher têm que demonstrar a dependência econômica pelo fato de que, com o advento da Constituição de 1988, a dependência econômica não mais se presume. Inexistência de omissão no acórdão embargado. Embargos rejeitados.

49

O que de certa forma continuou contribuindo para desigualdade, pois para a

mulher sadia não se faz necessário nenhuma demonstração de depêndencia,

entretanto o homem necessita passar por um processo vexatório que demonstre de

forma clara sua hipossuficiencia para sustentar o “lar”. Nesse passo, continuamos

com a análise da decisão:

[...]Na mesma senda do que já foi decidido aqui em nosso torrão, penso não se pode ignorar que, hodiernamente, segurados e seguradas têm idêntico desconto previdenciário --- perfilado em percentual fixo sobre os vencimentos (ou subsídios), independentemente da existência ou não de dependentes e à extensão do seu rol, em os havendo ----, sendo que os primeiros têm a certeza que tal rubrica garantirá o pensionamento às suas esposas ou companheiras sobrevivas, sadias ou não, enquanto que as segundas tem de conviver com a possibilidade de deixar os seus ao desabrigo quando de seu passamento. Ou seja: as seguradas concorrem para o financiamento da pensão da cônjuge/companheira de seus iguais (os servidores varões) – sejam elas capazes ou incapazes, economicamente ativas ou não --, mas outrotanto não recebem em reciprocidade!...

Logo, o argumento exposto pelo Supremo Tribunal Federal para limitar a

concessão do benefício é um argumento falho, conforme pensamento da

Magistrada, que deixou cristalino isso na entrevista realizada, vejamos:

[...] quanto aos argumentos mais falhos penso que justamente é a leitura errada, penso que preconceituosa do conceito de dependencia economica para fins previdenciários. Então, se uma magistrada casada com um magistrado pode receber o benefício de pensão por morte sem qualquer questionamento que basta o requerimento administrativo e ela vai percebê-lo e assim ocorrerá com as promotoras, defensoras públicas, advogadas da união, enfim, quaisquer, não é razoável imaginar-se que o varão, que seja o conjuge superstice não possa ter o mesmo beneficio e veja não é uma questã de interesse apenas do conjuge superstice, mas o respeito pelas

49

RE 194854 AgR-ED, Relator(a): Min. NELSON JOBIM, Segunda Turma, julgado em 22/10/2002, DJ 29-11-2002 PP-00041 EMENT VOL-02093-02 PP-00293

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contribuições regiamente pagas pela extinta, porque não raro nós temos hoje núcleos familiares que mesmo os filhos já terem trabalho e familia constituida, muitas vezes os pais continuam provendo direta ou indiretamente.

Então na verdade, esse aniquilamento de um beneficio para o qual se concorreu pagando as contribuições, então fonte de custeio existe, então esse é outro argumento falho do STF, porque nós pagamos todos os meses cogentemente, então nós estariamos fazendo com que aquele núcleo familiar que já não tem mais a concorrência daquele valor parcial do gerir, tenha que se desfazer de patrimonio, tenha que modificar padrão de vida e certamente o extinto não se sente em paz para morrer. Se sente totalmente intranquilo e se sente perplexo diante de uma situação discriminatória que a mim abomina

50.

Diante da brilhantíssima justificativa, não se faz mister adentrarmos em

análise mais acurada de tal argumentação, que destoa de uma total desigualdade.

Desta maneira, passemos a parte final da decisão em liça:

[...] Com a devida vênia, e lembrando que a decisão do Supremo Tribunal Federal em testilha (e outras a ela similares, e.g., RE 203.250-RS, 1ª Turma, Rel. Min. Moreira Alves, DJU de 1º-2-02, e o RE 208.618-5-RS, Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU 30/05/2001) não têm força vinculativa, abrindo ensejo para a crítica técnico-discursiva, com suporte no uso público da razão e na exegese a contrário senso do artigo 36, III, LOMAN, a lei estadual reclamada existe, bastando que seja interpretada consoante a Constituição da República, rejeitando-se a discriminação em razão do gênero, estendendo-se ao marido (ou companheiro) supérstite, independentemente de incapacidade (tal qual se faz em relação à cônjuge ou à companheira do segurado extinto), a condição de beneficiário da pensão pela morte da segurada vinculada ao IPE; a fonte de custeio existe, uma vez que as seguradas adimplem regiamente a idêntica contribuição que é descontada dos seus pares (cujo montante tem sido bastante para o pagamento da pensão vitalícia, pelo evento morte, às suas consortes ou companheiras, sadias ou não), não havendo desta feita qualquer entrave para o pagamento do pensionamento aos maridos ou companheiros sadios daquelas, à luz do sistema jurídico vigente, mesmo após a EC 20/98.Calha trazer à liça, na trilha posta, excerto do voto-vista do Ministro Marco Aurélio, exarado no RE-AgR 385397-MG, Tribunal Pleno, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 06/09/2007, com a lucidez que lhe é peculiar:“Cumpre indagar: o teor da Carta de 1988 distingue o sexo no que refere à pensão? A resposta é negativa. No inciso V do artigo 201 da Constituição Federal, previu-se a pensão por morte ao segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º" - este último preceito noticia a impossibilidade de o benefício ser inferior ao salário-mínimo.Vale dizer que, nos termos da própria Constituição Federal, a pensão é devida ao cônjuge supérstite, independentemente do sexo. Se servidor homem, é devida à mulher; se servidora, é devida ao homem, cônjuge ou companheiro. Surge a questão alusiva à fonte de custeio. A ordem natural das coisas revela-a preexistente. A contribuição devida pelo servidor, homem ou mulher, cobre a pensão, pouco importando o dependente que dela venha a usufruir. (...) Repita-se, esta já existia e visava a satisfação do benefício, mostrando-se irrelevante, no caso, o fato de o titular do direito ser o viúvo ou a viúva. A não se entender assim, ter-se-á de

50

MUA, Cintia Teresinha Burhalde, Juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom

[entrevista]. Entrevista concedida à Guilherme Meller Zacher no sala de audiência da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom, 2010. Arquivos de Pesquisa. Guaíba.

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concluir que, relativamente à própria viúva, não haveria a cobertura, pela contribuição, do ônus atinentes à pensão, já que, a esta altura, não se pode proclamar a adequação de tratamento diferenciado no tocante aos contribuintes conforme se trate de homem ou mulher, ou seja, a possibilidade de vir-se a cobrar contribuição maior do servidor do sexo feminino, objetivando o recebimento da pensão pelo viúvo. Mais do que isso, a regra do artigo 195, § 5º, da Constituição Federal (...) fez-se com visão prospectiva, ou seja, direcionada à atividade legiferante posterior, implementada no campo ordinário.

Conforme percebemos pelo trecho acima, inexiste motivo para que o homem

não seja dependente, pois conforme muito bem explanado pela Ilustríssima

Julgadora à Constituição Federal não faz distinção. E continua:

Não diz respeito aos benefícios previstos na própria Constituição

Federa(...) Em síntese, até aqui prevaleceu, no que tange quer à norma do artigo 40, § 3º, quer à do artigo 201, §§ 5º e 6º, da Constituição Federal, a dispensa da fonte de custeio, sendo que, a partir de regra comezinha de hermenêutica e aplicação do Direito, não cabe distinguir relativamente ao inciso V do mesmo artigo 201 referido. (...)”.

Nem se diga que a tradição sociológica do homem como cabeça do casal sustenta tal desiquilíbrio, posto que, à luz da Constituição-Cidadã, homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, preceito que orbita no entorno da orla dos indivíduos em suas multifacetadas acepções (enquanto filhos, pais, cônjuges, companheiros, beneficiários da previdência social pública ou privada, entre tantas fisionomias).

De outra banda, não vislumbro qualquer teratologia na presunção legislativa em favor da mulher dos segurados (artigo 9º, I, da Lei Estadual nº 7.672/82), posto que os que vivem atrelados pelo casamento ou pela união estável compartem o dever da mútua assistência, obrigação que também se desdobra na compulsoriedade do custeio da previdência, não se podendo admitir que a contribuição de uma vida inteira transforme-se em um nada jurídico para alguns dos integrantes do mesmo grupo, corporificando discrímen irrazoável entre iguais, redundando na quebra da solidariedade que se constitui na pedra-de-toque de qualquer sistema previdenciário.

Neste diapasão, não desponta demasiado mencionar que a Lei 8.112, de 11.12.90, que dispõe sobre o regime jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das autarquias e das funções públicas federais, estabelece o(a) cônjuge (art. 217, I, "a") ou o(a) companheiro(a) – art. 217, I, "c" -- como beneficiário(a) da pensão vitalícia pela morte do segurado(a), independentemente da prova de dependência econômica; o Regime Geral da Previdência Social segue a mesma linha filosófico-sociológica (artigo 16, I c/c artigo 74, ambos da Lei 8.213/90).

Dessarte, é possível entender que a Lei Estadual em epígrafe -- em vigor na data de sua publicação (18/06/82), à exceção do benefício de pensão pós morte, cuja vigência retroagira a 1º de janeiro de 1982 (consoante seu artigo 82) --, ao circunscrever ao marido inválido a possibilidade de habilitação à pensão por morte da segurada, labora em franca contrariedade com a CF/88, devendo ser tida como derrogada pelo Texto (já que seria atécnico falar-se em inconstitucionalidade de norma anterior à Constituição), o que estabelece a possibilidade de estender-se aos maridos/companheiros sadios das seguradas a qualidade de beneficiários da pensão pela morte das extintas, porquanto o benefício independe de interpolação legislativa e há fonte de custeio preexistente; ainda, inexistindo exclusão por outra classe, tampouco deverá haver prejuízo à habilitação do ex-consorte ou do ex-convivente da extinta, se em vida esta lhe prestava alimentos...”

42

Assim, percebemos que a Legislação Previdenciária Gaúcha é totalmente

discriminatória, quiçá, a única em nosso ordenamento juídico que contempla tal

desigualdade.

Tanto, que assim como a Lei 8.112/90, citada na decisão em tela, a Lei

8.213/91, em seu artigo 16, não faz qualquer critério discriminatório no quesito

dependência econômica, bem como, Também em seu art. 201, inciso V, prevê a

Carta Magna o pensionamento para homens e mulheres, decorrentes de óbitos de

segurado, cuja concessão independe do sexo.

Desta maneira, como outrora citado no capítulo 2, a Constituição Federal de

1988, é cristalina quando estabelece no art. 226, § 5º que os direitos e deveres

inerentes à sociedade conjugal são exercidos de igual para igual, pelo homem e pela

mulher, o que afasto por completo a necessidade de demonstração de dependêcia

por parte do varão.

Assim, a Dra. Cintía Teresinha Burhalde Mua, conclui sua decisão,

entendendo que a lei gaúcha é inconstitucional e se posiciona no sentido de aplicar

a Carta Magna, uma vez que homens e mulheres são iguais perante o texto

constitucional.

Por fim, analisaremos no capítulo seguinte a repercussão da presente

decisão, bem como, o futuro da legislação previdenciária gaúcha.

3.3 – O Impacto da decisão analisada e o futuro da legislação previdenciária

gaúcha

Posteriormente a divulgação da notícia supracitada, esta foi amplamente

divulgada, sendo inclusive matéria de debates (debates internos ocorreram dentro

da sessão da AJURIS e no Supremo Tribunal Federal).

Ocorre que, até a divulgação da decisão os juristas gaúchos tinham se

coadunado ao pensamento do Supremo e não entendiam os maridos/companheiros

como dependentes legítimos, foi necessário um “estímulo” para esse pensamento

voltar a tona, pois esse “impasse” já se arrasta por anos.

Nesse sentido, podemos analisar o pensamento da Dra. Cíntia Teresinha

Burhalde Mua, a qual aduziu que:

Na verdade enquanto eu fui diretora de assuntos legislativos e constitucionais da Ajuris isso foi no primeiro semestre de 2008 eu coloquei

43

este assunto em pauta que na verdade é uma questão que já remonta a um passado relativamente remoto contudo sucessivas gestões movimentam o assunto, mas não equalizam uma linha de ação para que isso possa ser desdobrado, então houve uma situação, principalmente em virtude da ultima emenda constitucional sobre a questão da previdência complementar , então houve uma união de esforços entre diversas entidades, entre as quais, a AJURIS e diapasão o CPERGS fez uma proposta e encaminhou a um determinado deputado estadual para que ele fizesse tramitar a correção da terminologia da Lei que estava equivocada e a Luz desses argumentos postos que estão na decisão que já foi tornada pública, que este projeto estava na comissão de constituição e justiça. Como é de praxe os projetos que não são apreciados naquele ano legislativo são extintos, então atualmente, salvo, total desinformação minha não há nenhum processo legislativo em tramitação sobre o assunto

51.

Ou seja, o que falta é um sistema gestor que movimente o legislativo, para

modificar essa discrepância que remonta o sistema previdenciário gaúcho, como

aludido pela magistrada, em 2008 o CPERGS (Centro dos Professores do Estado do

Rio Grande do Sul), apoiado pelas demais entidades chegou a enviar uma proposta,

mas o Deputado Estadual em tela não conseguiu levar o projeto para votação.

Assim, o que ocorre é uma falta de interesse por meio do sistema legislativo,

nesse sentido, a Dra. Cíntia complementa, vejamos:

Ainda pouco, falei com algumas colegas que participaram comigo de levantar essa bandeira e tentar trazer essa reflexão e quero dizer que os colegas varões se deram conta da atual discrepância que nós estamos contribuindo para o benefício que nossos dependentes não terão e eu sempre coloco de uma forma bem objetiva que não se vem alegar que é necessário que se prove dependencia economica do homem em relação a mulher, primeiro porque tal requisito não é exigido na situação contrária e segundo porque nas relações de casamento ou de união estável o dever alimentar não está baseado em dependência e sim no dever de mútua assistência.Então das duas uma, ou o cálculo atual vigente está incorreto porque ele deve ser o suficiente para contemplar os viúvos e as viúvas dos servidores, magistrados, promotores e afins, estamos falando aqui em servidor público em sentido latu, ou então, nós estamos pagando algo a mais porque não estamos cobertas, por agora me refiro as seguradas mulheres, por todo o cabedal de beneficios que sedizentemente há contribuição levaria a englobar. Então, penso que é um assunto a ser retomado no dia 13 de outubro haverá uma reunião de membros da AJURIS com uma das chapas que concorrem pela renovação da ANB, sendo que, este assunto está em pauta. Também, atualmente há uma comissão da LOMAN, pois como é sabido, o ministro do supremo retirou o projeto que estava tramitando, porque várias outras circunstancias foram sucedendo que aquele modelo que estava na LOMAN já estava desatualizado com as modificações que se sucederam após a sua remessa ao legislativo e nesse espectro então, a AJURIS está tentando atuar contribuindo positivamente para que nós possamos ter um texto convergente aos interesses das garantias da sociedade civil, as garantias que são mediatamente destinadas

51

MUA, Cintia Teresinha Burhalde, Juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom

[entrevista]. Entrevista concedida à Guilherme Meller Zacher no sala de audiência da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom, 2010. Arquivos de Pesquisa. Guaíba.

44

aos magistrados, mas imediatamente destinada à garantia do estado democrático de direito

52.

Ou seja, talvez a verba descontada das funcionárias públicas do Estado do

Rio Grande do Sul está sendo destinada para outros setores, ou, infelizmente o

cálculo vigente está incorreto, o que de qualquer maneira não justifica as medidas

adotadas, bem como, a exclusão do varão como dependente.

Quanto ao futuro da legislação previdenciária gaúcha, as entidades filiadas a

união gaúcha em defesa da previdência social e pública53, entre elas podemos citar:

(AJURIS – Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, ADPERGS – Associação

dos Defensores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul, APERGS – Associação

dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul, etc.); seguidamente estão

elaborando projetos.

Nesse sentido, podemos concluir com o pensamento da Dra. Cíntia,

vejamos:

Então, encaminhei uma proposta ao Desembargador Ullen que está tratando especifidamente desta decisão e sobre a possibilidade de nós incluirmos ná LOMAN quem seriam os dependentes e neste dia 13 teremos essa reunião já fui convidada a participar, mas há um grupo de colegas que está trabalhando nisso, fizemos também um abaixo assinado para mostrar a mobilização da classe dos magistrados, mas é uma questão que não interessa somente a magistratura e é uma situação assim discrimitanatória a tal ponto que nem mesmo o regime geral da previdência social que geralmente é muito limitador muito mais rigoroso ele não contempla.Então, é realmente uma infringência clara, para mim, indubitável do princípio da igualdade no seu sentido material

54.

Assim, percebemos que os funcionários públicos do Estado do Rio Grande

do Sul, estão se movimentando para acabar com a “discrepância” da legislação,

somente o que falta agora é interesse por parte do sistema legislativo.

52

Idem. 53

União Gaúcha em Defesa da Previdência Social e Pública. Disponível em: http://www.uniaogaucha.org/index.php?go=entidades. Acessado em 24 de novembro de 2010. 54

MUA, Cintia Teresinha Burhalde, Juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom [entrevista]. Entrevista concedida à Guilherme Meller Zacher no sala de audiência da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom, 2010. Arquivos de Pesquisa. Guaíba.

45

Considerações Finais

A presente pesquisa teve como objetivo demonstrar a (in)

constitucionalidade, da Lei 7.672/82, tendo por base, a decisão da Dra. Cintía

Teresinha Burhalde Mua, bem como, os conceitos basilares do Princípio da

Igualdade e dos Direitos Fundamentais.

Como forma de desenvolver a presente pesquisa, a problemática a ser

respondida pelo presente trabalho qual foi: Há inconstitucionalidade no artigo 9º da

Lei 7.672/82?

Para tentar elucidar este questionamento, recorremos a diferentes autores,

os quais, através de conceitos doutrinários trouxeram subsídio suficiente para

análise da Lei em espécie.

Sendo que ao analisarmos a Lei em espécie presenciamos a importância

social de analisarmos o instituo previdenciário do Estado do Rio Grande do Sul, pois

a legislação gaúcha advém de uma formação social e cultural, na qual a figura

masculina sempre foi proeminente em relação à presença feminina, entendida, por

vezes como antiquada. Assim, se constata que homem perante a sociedade, era o

responsável pela mantença do lar, dono absoluto e senhor incontestável e, a mulher

tinha o papel de organização do lar e o cuidado com os filhos.

Ocorre que, com o passar do tempo a sociedade em geral passou por

grandes modificações e, na atual sociedade a mulher passou a ter um espaço maior,

com participação ativa no mercado de trabalho, bem como, com base no respeito à

igualdade de todos os cidadãos perante a lei. (art. 5°, inciso I, da Constituição

Federal de 1988).

Assim, diante da redação dada pelo art. 9°, inciso I, da Lei n° 7.672/82, o

qual aparentemente afasta a possibilidade de uma possível dependência econômica

do homem sadio frente a sua companheira, bem como, afasta o caráter de igualdade

entre os contribuintes e destoa para uma possível inconstitucionalidade, segundo

entendimento deste pesquisador, o art. 9°, inciso I, da Lei n° 7.672/82 é

inconstitucional e deve ser reformulado para abarcar o homem sadio como

dependente perante o Instituto Previdenciário do Estado do Rio Grande do Sul, com

base na garantia fundamental do tratamento isonômico.

46

Não satisfeito com a inconstitucionalidade encontrada, o pesquisador buscou

informações acerca do desenvolvimento da legislação, ou, caso fosse se haveria

algum projeto em tramitação para modificar as “desigualdades” encontradas.

Entretanto, ao realizar a pesquisa, foi constatado que projetos são constantemente

elaborados, o que ocorre, é que a morosidade, talvez falta de interesse, do pode

legislativo, acaba por comprometer esses projetos.

Assim, o que ocorre é que o Estado do Rio Grande do Sul, em que pese os

constantes avanços, no que tange ao seu sistema previdenciário, fica preso a uma

legislação do ano de 1982, anterior a Carta Magna vigente e conserva em seu “seio”

uma ofensa gritante ao Princípio Constitucional da Igualdade.

47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Carlos Drummond de, em A Paixão Medida, 4ª ed., 1983, p. 59.

BARBOSA, Rui. Oração dos Moços.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 13ª Ed. São Paulo:

Malheiros Editora. 2000. P. 377.

CUNHA, Fernando Whitaker. Direito Constitucional do Brasil, São Paulo, Editora

Renovar, 2000, p. 63.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 34 Ed.

São Paulo: Saraiva, 2008, p. 282.

GONÇALVES, Kildare Carvalho. Direito Constitucional Didático, 5ª Ed. São Paulo:

Del Rey Editora, 1998, p. 156.

MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais, 2ª Ed. São Paulo,

Atlas Editora, 2009.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da

Igualdade. 3ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora, 2008, p. 11.

MIRANDA, Jorge Manuel Moura Loureiro de. Manual de Direito Constitucional,

Tomo IV, 3ª Ed. Coimbra, Coimbra Editora, 2000.

PAULO, Vicente e ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional

Descomplicado, 4ª Ed.São Paulo, Editora Método, 2009, 986p.

PIVA, Otávio. Comentários ao Art. 5° da Constituição Federal de 1988 e Teoria

dos Direitos Fundamentais, 3ª Ed. São Paulo, Editora Método, 2008, 330p.

48

RAWLS, John. Justiça e Democracia, 1ª Ed. São Paulo: Martins Fontes Editora:

2002, p. 97.

SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição, 5ª Ed. São Paulo:

Malheiros Editora, 2007, p. 70.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 29ª Ed. São

Paulo, Malheiros Editores, 2007.

ENTREVISTA

MUA, Cintia Teresinha Burhalde, Juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Campo

Bom [entrevista]. Entrevista concedida à Guilherme Meller Zacher na sala de

audiência da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom, 2010. Arquivos de Pesquisa.

Guaíba.

JURISPRUDÊNCIAS:

ADI 3305/DF, STF, Rel. Min. Eros Grau, Julgado em 13/09/2006.

AI 511.131 – AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 22-03-2005, DJ 15-

04-2005.

AI 538673 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma,

julgado em 22/05/2007, DJe-047 DIVULG 28-06-2007 PUBLIC 29-06-2007 DJ 29-

06-2007 PP-00040 EMENT VOL-02282-17 PP-03548 RT v. 96, n. 866, 2007, p. 120-

122.

Apelação Cível Nº 599101938, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,

Relator Vencido: Leo Lima, Redator para Acordão: Irineu Mariani, Julgado em

05/05/1999.

Apelação n° 70035138312, Relator Genaro José Baroni Borges, julgada em 19 de

maio de 2010, DJ 26 de maio de 2010.

49

Embargos Infringentes Nº 597097674, Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal

de Justiça do RS, Relator: Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, Julgado em

03/10/1997.

Embargos Infringentes Nº 597035377, Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal

de Justiça do RS, Relator: Salvador Horácio Vizzotto, Julgado em 01/08/1997.

Embargos Infringentes Nº 70000477596, Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis,

Tribunal de Justiça do RS, Relator: Genaro José Baroni Borges, Julgado em

17/03/2000.

Processo Nº087/1.08.0003724-9, 1ª Vara Cível, Comarca de Campo Bom, Juíza:

Cintia Teresinha Burhalde Mua, Julgado em 26/04/2010.

RE 194854 AgR-ED, Relator(a): Min. NELSON JOBIM, Segunda Turma, julgado em

22/10/2002, DJ 29-11-2002 PP-00041 EMENT VOL-02093-02 PP-00293.

STF, MI 58, Min. Celso de Mello, julgamento em 14/12/1990, DJ 19/04/1991.

LEGISLAÇÃO E NORMAS:

Constituição de 1824.

Constituição de 1891.

Constituição de 1937.

Constituição de 1946.

Constituição de 1964.

Constituição Federal de 1988.

50

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 1789.

Lei n° 7.672/82

ARTIGOS ACESSADOS:

BALTAZAR, Antonio Henrique Lindemberg. Histórico das Constituições Brasileiras.

Disponível em: http://www.vemconcursos.com/opiniao/index.phtml?page_id=1897,

acessado em 23 de novembro de 2010.

MACIEL, Eliane Cruxên Barros de Almeida. A Igualdade entre os Sexos na

Constituição de 1988. Buscalegis, Brasilia, maio/1997. Disponível em:

www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/.../14132. Acessado em

18 de novembro de 2010.

QUADROS, Mariane Souza de. Concedida pensão por morte de segurada do

IPERGS a companheiro sadio, Disponível em:

http://www1.tjrs.jus.br/site/imprensa/noticias/#../../system/modules/com.br.workroom.t

jrs/elements/noticias_cont roller.jsp?acao=ler&idNoticia=115301, Acessado em 23 de

novembro de 2010.

SITES ACESSADOS:

Censo Demográfico 2000 - Características da População e dos Domicílios.

Resultados do Universo. IBGE, 2001, Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/demograficas.html. Acessado em 23 de

novembro de 2010.

União Gaúcha em Defesa da Previdência Social e Pública. Disponível em:

http://www.uniaogaucha.org/index.php?go=entidades. Acessado em 24 de novembro

de 2010.

51

ANEXOS

52

ANEXO 1

LEI: 7.672

LEI Nº 7.672, DE 18 DE JUNHO DE 1982.

(atualizada até a Lei nº 12.395, de 15 de dezembro de 2005)

Dispõe sobre o Instituto de Previdência do Estado do Rio

Grande do Sul.

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º - O INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO

RIO GRANDE DO SUL, criado pelo Decreto nº 4.842, de 8 de agosto

de 1931, é uma autarquia estadual de previdência e assistência, com

personalidade jurídica de direito público, dotada de autonomia

administrativa e financeira.

Parágrafo único - A autonomia administrativa e financeira da

Autarquia não exclui o exercício da supervisão de suas atividades

pelos órgãos competentes do Poder Executivo.

Art. 2º - É objetivo primordial do Instituto a realização das

operações de previdência e assistência aos servidores do Estado e

de suas Autarquias, mediante a prática de operações previstas ou

autorizadas nesta Lei. (REVOGADO pela Lei Complementar n°

12.134/04)

§ 1º - O Instituto poderá, mediante Convênio que Municípios

do Rio Grande do Sul celebrem com o Estado, incumbir-se da

prestação de operações de previdência e assistência aos respectivos

servidores.

§ 1º - O Instituto poderá, mediante Convênio que Municípios e

Câmaras de Vereadores do Rio Grande do Sul celebrem com o

Estado, incumbir-se da prestação de operações de previdência e

assistência aos respectivos servidores e vereadores. (Redação dada

pela Lei n° 7.925/84)

§ 1º - Mediante convênio que o Estado celebre com Municípios

e Câmaras de Vereadores do Rio Grande do Sul, bem como com

entidades integrantes da Administração Indireta Estadual, inclusive

suas fundações, o Instituto poderá incumbir-se da prestação de

53

operações de previdência e assistência aos respectivos servidores e

vereadores. (Redação dada pela Lei n° 8.191/86)

§ 1º - O Instituto de Previdência do Estado poderá incumbir-se

da prestação de operações de previdência e/ou assistência médica a

servidores, vereadores, prefeitos e vice-prefeitos, através de

convênios a serem celebrados pelo Estado, com os municípios.

(Redação dada pela Lei n° 10.095/94) (REVOGADO pela Lei

Complementar n° 12.134/04)

§ 2º - Na hipótese do parágrafo anterior o Convênio definirá o

regime de previdência e assistência, que poderá ser o desta Lei ou

outro, vedada qualquer prestação que, sem a correspondente

compensação, aumente a despesa do Estado.

§ 2º - As entidades da Administração Indireta estadual e

municipal poderão, também, ESTADO DO RIO GRANDE DO

SULASSEMBLÉIA LEGISLATIVAGabinete de Consultoria Legislativa

celebrar convênios com o Instituto de Previdência do Estado,

exclusivamente para a prestação de assistência médica

complementar a seus servidores. (Redação dada pela Lei n°

10.095/94) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

§ 3º - Para a realização das operações previstas nesta Lei o

Instituto poderá celebrar contratos com pessoas físicas ou jurídicas.

§ 3º - Nas hipóteses dos parágrafos anteriores, no termo de

convênio deverá constar a relação dos servidores abrangidos pela

Assistência Médica Complementar, e, além do rol dos beneficiários,

deverá constar a definição do tipo de operação de previdência e/ou

assistência médica, vedada qualquer prestação que, sem a

correspondente compensação, aumente a despesa do Estado.

(Redação dada pela Lei n° 10.095/94) (REVOGADO pela Lei

Complementar n° 12.134/04)

§ 4º - Para a prestação das Operações de Previdência e/ou

Assistência, o Instituto de Previdência do Estado poderá celebrar

contratos com pessoas físicas ou jurídicas. (Incluído pela Lei n°

10.095/94) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

§ 5º - O repasse dos valores pelas entidades conveniadas

será automático, devendo o pagamento das respectivas folhas

ocorrer até o 5º dia útil do mês subseqüente ao da competência do

pagamento. (Incluído pela Lei n° 10.095/94) (REVOGADO pela Lei

Complementar n° 12.134/04)

§ 6º - O Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do

Sul poderá também celebrar convênio com conselhos e entidades

54

associativas de classe de seus filiados, respeitados os limites da

prestação de serviços constantes nesta Lei, tendo como parâmetro o

segurado definido no artigo 4º. (Incluído pela Lei n° 10.095/94)

(REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

TÍTULO II

CAPÍTULO I

DOS SEGURADOS

Art. 3º - Os segurados do Instituto são obrigatórios ou

facultativos.

Art. 4º - São segurados obrigatórios do Instituto,

independentemente do regime jurídico de trabalho:

a) todos os servidores do Estado e de suas Autarquias ativos e

inativos, inclusive os da Justiça, bem como os membros do Poder

Judiciário e do Tribunal de Contas, exceto os que, nessa condição,

sejam segurados obrigatórios do sistema federal de previdência;

b) os servidores do Estado que, havendo sido contribuintes

obrigatórios do sistema federal de previdência, hajam sido por este

inativados, e percebam complementação ou diferença de proventos

dos cofres do Estado ou de Autarquia Estadual;

c) os Deputados Estaduais, nos termos da Lei nº 6.369, de 29

de maio de 1972. (SUPRIMIDO pela Lei n° 9.187/91)

Art. 5º - A obrigatoriedade de filiação ao Instituto independe do

exercício de outra atividade vinculada ao regime da Lei Orgânica da

Previdência Social.

Parágrafo único - O exercício eventual de funções de outra

natureza não exclui o servidor, a que se refere o “caput” deste artigo,

da condição de segurado obrigatório.

Art. 6º - São segurados facultativos do Instituto o Governador,

o Vice-Governador e os Secretários de Estado.

Art. 6º - São segurados facultativos do Instituto, o Governador,

o Vice-Governador, os Secretários de Estado e os Deputados

Estaduais. (Redação dada pela Lei n° 9.187/91)

Art. 7º - Perde a qualidade de segurado do Instituto aquele

que, por qualquer forma, perder a condição de servidor público do

Estado ou das autarquias, salvo se, no prazo de sessenta dias,

requerer a manutenção daquela qualidade, passando a recolher sem

interrupção a contribuição correspondente, que será de 12% do

salário de contribuição vigente na data do desligamento, sujeita a

55

reajuste na mesma proporção do valor das Unidades-Padrão de

Serviços. (Vide Lei n° 8.191/86)

Art. 8º - O segurado que, por qualquer motivo previsto em lei,

sem perda de sua condição de servidor público, interromper o

exercício de suas atividades funcionais sem direito à remuneração,

inclusive nos casos de cessão sem ônus, será obrigado a comunicar

o fato, por escrito, ao Instituto, no prazo de trinta dias do afastamento

e do retorno, sob pena de suspensão do exercício de seus direitos

previdenciários, sujeitando-se entrementes à contribuição

estabelecida no artigo anterior.

CAPÍTULO II

DOS DEPENDENTES

Art. 9º - Para os efeitos desta lei, são dependentes do

segurado:

I - a esposa; a ex-esposa divorciada; os filhos de qualquer

condição enquanto solteiros e menores de dezoito anos, ou inválidos,

se do sexo masculino, e enquanto solteiros e menores de vinte e um

anos, ou inválidos, se do sexo feminino;

I - a esposa; a ex-esposa divorciada; o marido inválido; os

filhos de qualquer condição enquanto solteiros e menores de dezoito

anos, ou inválidos, se do sexo masculino, e enquanto solteiros e

menores de vinte e um anos, ou inválidos, se do sexo feminino;

(Redação dada pela Lei n° 7.716/82)

II - a companheira, mantida como se esposa fosse há mais de

cinco anos, desde que se trate de solteira, viúva, desquitada,

separada judicialmente ou divorciada, e solteiro, viúvo, desquitado,

separado judicialmente ou divorciado seja o segurado;

III - o tutelado e o menor posto sob guarda do segurado por

determinação judicial, desde que não possuam bens para o seu

sustento e educação;

IV - a mãe, desde que não tenha meios próprios de

subsistência e dependa economicamente do segurado;

V - VETADO

§ 1º - Não será considerado dependente o cônjuge

desquitado, separado judicialmente ou o ex-cônjuge divorciado, que

não perceba pensão alimentícia, bem como o que se encontrar na

situação prevista no art. 234 do Código Civil, desde que comprovada

judicialmente.

56

§ 2º - Equipara-se ao filho, para os efeitos do item I deste

artigo, o enteado.

§ 3º - O filho e o enteado, quando solteiros e estudantes de

segundo grau e universitários, conservam ou recuperam a qualidade

de dependentes, até a idade de vinte e quatro anos, desde que

comprovem, semestralmente, a condição de estudante e o

aproveitamento letivo, sob pena de perda daquela qualidade.

§ 4º - A condição de invalidez, para os efeitos desta lei, deverá

ser comprovada periodicamente, a critério do Instituto.

§ 5º - Os dependentes enumerados no item I deste artigo, são

preferenciais e a seu favor se presume a dependência econômica; os

demais comprová-la-ão na forma desta lei.

§ 5º - Os dependentes enumerados no item I deste artigo,

salvo o marido inválido, são preferenciais e a seu favor se presume a

dependência econômica; os demais comprová-la-ão na forma desta

Lei. (Redação dada pela Lei n° 7.716/82)

Art. 10 - A companheira como tal definida nesta lei concorre

com o filho, com a esposa do segurado, se esta estava judicialmente

dele separada, e com a ex-esposa dele divorciada, desde que ambas

percebam pensão alimentícia.

§ 1º - As pessoas referidas nos itens II, III e IV do art. 9º

concorrem entre si se designadas pelo segurado.

§ 2º - VETADO

§ 3º - VETADO

Art. 11 - A condição de companheira, para os efeitos desta lei,

será comprovada pelos seguintes elementos, num mínimo de três

conjuntamente:

a) teto comum;

b) conta bancária conjunta;

c) outorga de procuração ou prestação de garantia real ou

fideijussória;

d) encargos domésticos;

e) inscrição em associação de qualquer natureza, na

qualidade de dependente do segurado;

f) declaração como dependente, para os efeitos do Imposto de

Renda;

g) qualquer outra prova que possa constituir elemento de

convicção.

Parágrafo único - A existência de filho em comum dispensa a

exigência de cinco anos de convívio “more uxório”, desde que este

57

persista até o óbito do segurado.

Art. 12 - Na falta de dependentes enumerados no art. 9º, o

segurado poderá designar como beneficiário pessoa que

comprovadamente viva sob sua dependência, exceto quando se

tratar de Pecúlio Facultativo.

§ 1º - Só poderão ser designados na forma deste artigo

pessoas do sexo masculino, se menores de dezoito ou maiores de

sessenta anos ou inválidos e pessoas do sexo feminino se menores

de vinte e um ou maiores de cinqüenta e cinco anos ou inválidas.

§ 2º - A designação feita na forma deste artigo não gerará

direito a pensão se a morte do segurado ocorrer antes de

transcorridos seis meses, contados a partir da entrega do instrumento

de designação no Instituto.

Art. 13 - Considera-se dependente econômico, para os efeitos

desta Lei, a pessoa que perceba, mensalmente, renda inferior a um

Salário Mínimo Regional, a qualquer título.

Art. 14 - A perda da qualidade de dependente, que é

pressuposto da qualidade de pensionista, ocorrerá:

a) por falecimento;

b) pela anulação do casamento; pela separação judicial ou

pelo divórcio, quando não haja percepção de pensão alimentícia;

c) pelo abandono do lar, na situação do art. 234 do Código

Civil, desde que declarada judicialmente;

d) para os filhos e as pessoas a eles equiparadas, por

implemento de idade: aos dezoito anos, se do sexo masculino, e aos

vinte e um anos se do sexo feminino, salvo se inválidos ou

enquadrados no § 3º do art. 9º;

e) pelo casamento ou pelo concubinato;

f) pela cessação de invalidez;

g) pela manifestação de vontade do segurado, que não

poderá, entretanto, excluir os dependentes de que trata o item I do

artigo 9º.

CAPÍTULO III

DA VINCULAÇÃO

Seção I

Das Inscrições

Art. 15 - A vinculação ao Instituto dos segurados obrigatórios é

58

automática, decorrendo da nomeação ou admissão e vigorando a

partir do exercício.

Parágrafo único - No caso dos servidores de que trata a letra -

b- do art. 4º, a vinculação automática decorrerá da aposentadoria e a

partir desta vigorará.

Art. 16 - A inscrição dos segurados no Instituto se formalizará

pela entrega da Declaração de Beneficiários e tem caráter

obrigatório.

Parágrafo único - Cada nova Declaração de Beneficiários

anula a anterior, salvo a inclusão de dependentes permitidos em lei.

Art. 17 - A Carteira Social atualizada de segurado, de

dependente e de pensionista é condição essencial para o exercício

dos direitos previstos nesta Lei.

Parágrafo único - A validade da Carteira Social, para o

segurado que perde a condição de servidor público, é de 180 (cento e

oitenta) dias a contar de seu desligamento do serviço, salvo se, no

referido prazo, requerer a manutenção da qualidade de segurado.

(Incluído pela Lei n° 8.191/86)

Seção II

Do Salário de Contribuição

Art. 18 - Entende-se por Salário de Contribuição, para os

efeitos desta lei, a soma mensal paga ou creditada pelo Estado ou

pela Autarquia ao segurado a qualquer título, excluídos somente os

pagamentos ou créditos de natureza indenizatória ou eventual, tais

como honorários, diárias e ajudas de custo, as gratificações previstas

nos artigos 107 e 108 da Lei nº 1.751, de 22 de fevereiro de 1952, e

em disposições correspondentes de Estatutos próprios, e o abono

familiar.

§ 1º - Não se considera de natureza indenizatória a

representação quando se somar à parte básica do vencimento para

efeito de cálculo de adicionais.

§ 2º - Em caso de acumulação o salário de contribuição será

constituído pelo total pago ou creditado, observadas as prescrições

deste artigo.

§ 3º - O Salário de Contribuição do servidor da Justiça e do

Juiz temporário que não perceba remuneração pelo Estado, é o

equivalente ao dos proventos integrais que perceberia se aposentado

fosse, sujeitando-se ao recolhimento das contribuições na forma

59

desta Lei.

§ 4º - O Salário de Contribuição dos segurados a que se refere

a letra -b- do art. 4º será equivalente ao total da complementação ou

diferença de proventos pagas pelo Estado ou pela Autarquia.

TÍTULO III

CAPÍTULO I

DAS PRESTAÇÕES PREVIDENCIÁRIAS

Art. 19 - As prestações asseguradas pelo Instituto a seus

segurados e respectivos dependentes consistem em benefícios e

serviços.

§ 1º - Benefício é a prestação pecuniária exigível pelo

segurado e seus dependentes, segundo os termos desta Lei e seu

regulamento.

§ 2º - Serviço é a prestação assistencial, não pecuniária,

exigível pelos segurados e seus dependentes, segundo os termos

desta Lei e seu regulamento.

CAPÍTULO II

DAS PRESTAÇÕES ESPECÍFICAS

Art. 20 - O Instituto prestará, na forma desta Lei e das

regulamentações respectivas:

A) Benefícios:

I - ao segurado: o auxílio natalidade;

II - aos dependentes:

a) pensão por morte;

b) pecúlio “post mortem”;

c) pecúlio facultativo;

d) auxílio-reclusão;

e) pensão suplementar; (Incluído pela Lei n° 8.191/86)

e) outros que venham a ser criados.

f) outros que venham a ser criados. (Renumerado pela Lei n°

8.191/86)

B) Serviços:

I - aos segurados e pensionistas:

a) assistência financeira;

b) assistência habitacional;

II - aos segurados, dependentes e pensionistas:

60

a) financiamentos assistenciais;

b) assistência médica;

c) assistência médica suplementar; (Incluído pela Lei n°

8.191/86)

c) outros que venham a ser criados.

d) outros que venham a ser criados. (Renumerado pela Lei n°

8.191/86)

Art. 21 - Os benefícios e os serviços, salvo disposição em

contrário desta Lei, terão seu valor medido em Unidades-Padrão de

Serviços, cujo valor monetário é fixado nesta Lei e será reajustado

sempre que ocorrer reajustamento de caráter geral na remuneração

dos servidores do Estado e de suas Autarquias.

Parágrafo único - O reajuste do valor da Unidade-Padrão de

Serviços terá por base o índice de variação do salário de contribuição

médio dos segurados do Estado e de suas Autarquias.

Art. 21 - Os benefícios e os serviços, salvo disposição em

contrário desta Lei, terão seu valor medido em Unidades Padrão de

Serviços, que será reajustado, a partir da vigência desta Lei, de

acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC -

adotado para o reajuste geral do funcionalismo público estadual e nas

mesmas épocas que este. (Redação dada pela Lei n° 8.080/85)

Parágrafo único - Na hipótese de verificar-se mudança de

índice de referência para os reajustes dos vencimentos do

funcionalismo público, o reajuste do valor da Unidade Padrão de

Serviços do Instituto de Previdência do Estado terá por base o índice

da variação do salário médio de contribuição dos servidores do

Estado e de suas Autarquias. (Redação dada pela Lei n° 8.080/85)

Art. 21 - Os benefícios e os serviços, salvo disposições em

contrário desta Lei, terão seu valor medido em Unidades-Padrão de

Serviços, o qual será reajustado de acordo com o Índice de Preços

ao Consumidor - IPC, adotado para o reajuste geral da remuneração

dos servidores públicos estaduais, e nas mesmas épocas que este.

(Redação dada pela Lei n° 8.191/86)

Parágrafo único - Na hipótese de se verificar mudança no valor

de referência para os reajustes da remuneração dos servidores

públicos, o reajuste do valor da Unidade-Padrão de Serviços terá por

base o índice de variação do salário médio de contribuição dos

servidores do Estado e de suas Autarquias. (Redação dada pela Lei

n° 8.191/86)

61

CAPÍTULO III

DO SALÁRIO DE BENEFÍCIO

Art. 22 - O Salário de Benefício é a base para o cálculo da

pensão por morte e do auxílio-reclusão.

§ 1º - Entende-se por Salário de Benefício a remuneração

percebida pelo segurado no mês imediatamente anterior ao do óbito.

§ 2º - Se o falecimento ocorrer em mês de reajuste de

remuneração em caráter geral, o Salário de Benefício corresponderá

à remuneração que o segurado perceberia até o seu término, se vivo

estivesse.

§ 3º - Se a remuneração do segurado houver sofrido redução,

em relação ao anterior, no mês que deveria servir de base para o

Salário de Benefício, este será fixado tendo em conta a remuneração

daquele mês anterior, reajustada como previsto no § 2º se for o caso.

§ 4º - Para o cálculo do Salário de Benefício serão computadas

as contribuições não descontadas ou não recolhidas, sem prejuízo de

sua cobrança mediante desconto no benefício concedido se a

contribuição devesse ter sido recolhida pelo segurado, e da

responsabilização do funcionário que devesse ter procedido à

arrecadação.

CAPÍTULO IV

AUXÍLIO-NATALIDADE

Art. 23 - O Auxílio-Natalidade consiste em uma quantia fixa a

ser paga de uma só vez à segurada gestante ou ao segurado pelo

parto de sua esposa ou de sua companheira não segurada, destinada

a auxiliar nas despesas resultantes do nascimento do filho.

Art. 24 - O Auxílio-Natalidade será igual a noventa e cinco

Unidades-Padrão de Serviços e estará sujeito a um período de

carência de vinte e quatro meses, completado por pelo menos um

dos pais.

Art. 24 - O Auxílio-Natalidade será igual a cem Unidades-

Padrão de Serviços e estará sujeito a um período de carência de

vinte e quatro meses, completado por pelo menos um dos pais.

(Redação dada pela Lei n° 7.716/82)

Art. 25 - O Auxílio-Natalidade será único por filho, embora

corresponda a pais que estejam, ambos, inscritos no Instituto, ou a

segurado que acumule cargos.

62

CAPÍTULO V

DA PENSÃO POR MORTE

Art. 26 - Ao conjunto de dependentes de segurado falecido o

Instituto pagará uma quantia mensal sob o título de Pensão por

Morte, calculada na forma do art. 27 e seus parágrafos, devida a

partir da data do óbito do segurado.

Art. 27 - VETADO

Art. 27 - O valor da pensão por morte será constituído de uma

Quota Familiar correspondente a quarenta e cinco por cento do

Salário de Benefício, acrescida de tantas Quotas individuais,

correspondentes a cinco por cento do Salário de Benefício, quantos

forem os dependentes habilitados, até o máximo de onze. (Incluído

pela Lei n° 7.716/82)

§ 1º - O valor monetário assim obtido será transposto para

Unidades-Padrão de Serviços, para efeito de reajustes posteriores, e

rateado, em partes iguais, entre os dependentes habilitados. (Incluído

pela Lei n° 7.716/82)

§ 2º - Para os efeitos de cálculo e pagamento da Pensão por

Morte, serão considerados apenas os dependentes habilitados,

independentemente da existência de outros que não hajam ocorrido

ao processo de habilitação. (Incluído pela Lei n° 7.716/82)

§ 3º - Encerrado o processo de habilitação com a concessão

da Pensão por Morte aos dependentes habilitados, qualquer inclusão

ulterior somente produzirá efeitos a partir da data em que for

requerida. (Incluído pela Lei n° 7.716/82)

§ 4º - A habilitação do dependente qualifica-o como

pensionista. (Incluído pela Lei n° 7.716/82)

Art. 28 - A Quota Individual de pensão extingue-se com a perda

da qualidade de pensionista.

§ 1º - Sempre que se extinguir uma Quota Individual proceder-

se-á a novo cálculo e a novo rateio, na forma do art. 27.

§ 2º - Extingue-se a pensão com a extinção da última Quota

Individual.

Art. 29 - O reajustamento das pensões conseqüente ao

reajuste do valor da Unidade-Padrão de Serviços alcançará a pensão

em vigor, com a constituição familiar da data de sua realização, e seu

custeio correrá à conta do “Fundo de Reajustamento de Pensões” de

que trata o artigo 44.

63

CAPÍTULO VI

DO PECÚLIO “POST MORTEM”

Art. 30 - Os dependentes do segurado falecido receberão, a

título de pecúlio “post mortem”, uma quantia correspondente a mil e

novecentas Unidades-Padrão de Serviços.

Art. 30 - Os dependentes do segurado falecido receberão, a

título de pecúlio “post mortem”, uma quantia correspondente a duas

mil Unidades-Padrão de Serviços. (Redação dada pela Lei n°

7.716/82)

Art. 31 - Se as despesas funerárias houverem sido efetuadas

por terceiro, este será ressarcido, na forma do regulamento, até o

limite das respectivas despesas que comprovar, respeitado o valor do

benefício.

Art. 31 - Na falta de dependentes, se as despesas funerárias

houverem sido efetuadas por terceiro, este será ressarcido na forma

do regulamento, até o limite das respectivas despesas, respeitado o

valor do benefício. (Redação dada pela Lei n° 7.716/82)

CAPÍTULO VII

DO AUXÍLIO-RECLUSÃO

Art. 32 - Aos dependentes de segurado detento ou recluso será

paga, durante o período em que estiver privado de sua liberdade, sob

o título de auxílio-reclusão, uma quantia mensal em dinheiro,

equivalente à metade da que lhes caberia pela morte.

Art. 33 - O auxílio-reclusão será concedido mediante processo

análogo ao da habilitação à pensão por morte e será instruído com a

certidão da sentença condenatória definitiva, bem como do atestado

do efetivo recolhimento do segurado à prisão.

Art. 34 - Falecendo o segurado, detento ou recluso, o auxílio-

reclusão será convertido, automaticamente, em pensão por morte;

libertado, extinguir-se-á o benefício.

Art. 35 - O auxílio-reclusão não será devido quando se tratar de

detento ou recluso que possua meios de subsistência.

CAPÍTULO VIII

DA ASSISTÊNCIA FINANCEIRA

64

Art. 36 - A Assistência Financeira compreenderá empréstimos

em dinheiro e prestação de fianças de aluguel, na forma dos

regulamentos próprios, observadas as possibilidades financeiras do

Instituto.

Parágrafo único - Poderão ser utilizados recursos repassados

de terceiros para atender às finalidades do “caput” do artigo.

CAPÍTULO IX

DA ASSISTÊNCIA HABITACIONAL

Art. 37 - A Assistência Habitacional prevista nesta lei visa a

proporcionar ao segurado a aquisição, a construção, a reforma ou a

ampliação da casa própria, na forma do regulamento, com recursos

próprios ou de terceiros.

Parágrafo único - Na hipótese de recursos repassados de

terceiros, o Instituto poderá estender a Assistência Habitacional aos

pensionistas e aos contribuintes de planos especiais.

CAPÍTULO X

ASSISTÊNCIA MÉDICA

Art. 38 - O Plano de Assistência Médica consiste na cobertura

das despesas decorrentes de atendimentos médicos e hospitalares,

bem como dos atos necessários ao diagnóstico e ao tratamento,

prestados aos beneficiários do Instituto, na forma que vier a ser

estabelecida em regulamento, guardada proporção aos recursos do

Fundo de Assistência Médica. (REVOGADO pela Lei Complementar

n° 12.134/04)

Art. 39 - VETADO

Art. 39 - É permitida a participação dos beneficiários nas

despesas de assistência médica, na forma que vier a ser

estabelecida em regulamento. (Incluído pela Lei n° 7.716/82)

(REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

Art. 40 - Os recursos para Assistência Médica provirão do

Fundo de que trata o artigo 43. (REVOGADO pela Lei Complementar

n° 12.134/04)

Art. 41 - Os serviços previstos no artigo 38 serão prestados aos

segurados, aos seus dependentes e aos pensionistas a partir da

primeira contribuição. (REVOGADO pela Lei Complementar n°

12.134/04)

65

TÍTULO IV

DAS FONTES DE RECEITA

Art. 42 - A receita do Instituto será constituída de:

(REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04) (Vide art. 28 da

Lei Complementar nº 12.134/04)

a) contribuição mensal do segurado, sob a denominação de

contribuição, equivalente a nove por cento do salário de contribuição,

a ser descontada compulsoriamente na folha de pagamento, não

podendo ser inferior à correspondente ao padrão inicial do Quadro

Geral dos Funcionários Públicos Civis do Estado, destinada ao

custeio dos benefícios e serviços; (REVOGADO pela Lei

Complementar n° 12.134/04) (Vide art. 28 da Lei Complementar n°

12.134/04)

b) contribuição do Estado e de suas Autarquias, equivalente a

3,5% (três vírgula cinco por cento) do salário de contribuição,

destinada ao custeio das despesas de assistência médica; (Incluído

pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n°

12.134/04)

b) contribuição do Estado e de suas Autarquias com a

denominação de Quota de Previdência, em quantia a ser calculada

anualmente pelo órgão atuarial do Instituto e comunicada ao órgão do

Estado incumbido da programação orçamentária, o qual

providenciará a inclusão, nos Orçamentos do Estado e de suas

Autarquias, da dotação destinada à cobertura de despesas

administrativas;

c) contribuição do Estado e de suas Autarquias com a

denominação de Quota de Previdência, em quantia a ser calculada

anualmente pelo órgão atuarial do Instituto e comunicada ao órgão do

Estado incumbido da programação orçamentária, o qual

providenciará a inclusão, nos Orçamentos do Estado e de suas

Autarquias, da dotação destinada à cobertura de despesas

administrativas; (Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO

pela Lei Complementar n° 12.134/04) (Vide art. 28 da Lei

Complementar n° 12.134/04)

c) contribuição em razão de Convênios;

d) contribuição em razão de Convênios; (Renumerado pela Lei

n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

d) contribuições suplementares, complementares ou

66

extraordinárias que vierem a ser instituídas;

e) contribuições suplementares, complementares ou

extraordinárias que vierem a ser instituídas; (Renumerado pela Lei n°

8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

e) rendas resultantes da aplicação de reservas;

f) rendas resultantes da aplicação de reservas; (Renumerado

pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n°

12.134/04)

f) doações, legados e quaisquer outras rendas destinadas ao

Instituto;

g) doações, legados e quaisquer outras rendas destinadas ao

Instituto; (Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei

Complementar n° 12.134/04)

g) reversão de quaisquer quantias em virtude da prescrição;

h) reversão de quaisquer quantias em virtude da prescrição;

(Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei

Complementar n° 12.134/04)

h) juros de mora, multas e correção monetária;

i) juros de mora, multas e correção monetária; (Renumerado

pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n°

12.134/04)

i) emolumentos, taxas, contribuições, percentagens e outras

quantias devidas em conseqüência da prestação de serviços, na

forma do regulamento;

j) emolumentos, taxas, contribuições, percentagens e outras

quantias devidas em conseqüência da prestação de serviços, na

forma do regulamento; (Renumerado pela Lei n° 8.191/86)

(REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

j) prestações dos mutuários do Instituto;

l) prestações dos mutuários do Instituto; (Renumerado pela Lei

n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

l) produto de inversões em propriedades imobiliárias em geral;

m) produto de inversões em propriedades imobiliárias em geral;

(Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei

Complementar n° 12.134/04)

m) receita das operações previstas no art. 20, alínea B, item II;

n) receita das operações previstas no art. 20, alínea B, item II;

(Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei

Complementar n° 12.134/04)

n) contribuição mensal dos pensionistas, correspondente a dois

67

por cento da quota de pensão ou do auxílio-reclusão, para

reajustamento das pensões e participação na Assistência Médica;

o) contribuição mensal dos pensionistas, correspondente a dois

por cento da quota de pensão ou do auxílio-reclusão, para

reajustamento das pensões e participação na Assistência Médica;

(Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei

Complementar n° 12.134/04)

o) taxas específicas sobre serviços para custeio do Auxílio-

Reclusão, na forma do regulamento;

p) taxas específicas sobre serviços para custeio do Auxílio-

Reclusão, na forma do regulamento; (Renumerado pela Lei n°

8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

p) receitas eventuais;

q) receitas eventuais. (Renumerado pela Lei n° 8.191/86)

(REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

TÍTULO V

DOS FUNDOS

Seção I

Do Fundo de Assistência Médica

Art. 43 - O Fundo de Assistência Médica será constituído pelas

seguintes fontes de receita: (REVOGADO pela Lei Complementar n°

12.134/04)

a) quarenta por cento da contribuição dos segurados, fixada na

letra -a- do artigo 42 desta Lei; (REVOGADO pela Lei Complementar

n° 12.134/04)

b) emolumentos e taxas devidos em decorrência de prestação

dos serviços de assistência médica; (REVOGADO pela Lei

Complementar n° 12.134/04)

c) vinte por cento do lucro líquido auferido com operações a

que se refere a alínea B, item II, letra -b-, do art. 20; (REVOGADO

pela Lei Complementar n° 12.134/04)

d) auxílios e subvenções que venham a ser destinados para

esse fim; (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

e) cem por cento da contribuição fixada na letra b do artigo 42

desta Lei; (Incluído pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei

Complementar n° 12.134/04)

e) outros recursos eventuais;

68

f) outros recursos eventuais. (Renumerado pela Lei n°

8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

Seção II

Do Fundo de Reajustamento de Pensões

Art. 44 - O reajustamento das pensões concedidas, realizado

em conformidade com o disposto no artigo 29 desta Lei, correrá à

conta do Fundo de Reajustamento de Pensões, constituído pelas

seguintes fontes de recursos:

a) excessos de capitalização atuarial resultantes das

aplicações das reservas;

b) taxas de expediente e emolumentos;

c) percentuais sobre empréstimos e fianças;

d) taxa de sobrecarga de serviços prestados;

e) até dez por cento da receita anual da contribuição

arrecadada no período compreendido entre um e outro

reajustamento;

f) outras destinações específicas.

Parágrafo único - Na hipótese de insuficiência de recursos para

atender ao reajustamento previsto neste artigo, dadas as bases do

reajustamento, correrá o excesso à conta e responsabilidade do

Estado e das suas Autarquias, na proporção das contribuições dos

respectivos servidores, devendo ser incluído no Orçamento Anual o

montante indispensável.

Seção III

Do Fundo de Aplicação das Reservas Técnicas

Art. 45 - O Fundo de Aplicação das Reservas Técnicas será

constituído dos seguintes recursos: (Vide Lei n° 11.790/02)

(REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)

a) dotações próprias do orçamento do Instituto; (REVOGADO

pela Lei n° 12.395/05)

b) contribuições e auxílios da União, do Estado e dos

Municípios; (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)

c) resultado das aplicações a que se referem os arts. 36 e 37

desta Lei; (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)

d) rendas que, por sua natureza, possam ser destinadas ao

Fundo. (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)

69

§ 1º - A ampliação do Fundo será feita, sempre que necessário,

através da aplicação de dotações orçamentárias próprias.

(REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)

§ 2º - A atualização do Fundo, no montante da perda do poder

aquisitivo da moeda, será promovida pela aplicação do resultado das

operações realizadas e pela utilização de dotações orçamentárias.

(REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)

§ 3º - O resultado das operações realizadas com os recursos

do Fundo poderá ser utilizado pelo Instituto quando necessário.

(REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)

Art. 46 - O Fundo manterá mecanismos distintos de controle de

aplicação para: (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)

a) empréstimos e fianças; (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)

b) outras aplicações. (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)

Art. 47 - Os recursos do Fundo serão depositados no Banco do

Estado do Rio Grande do Sul S.A. e/ou na Caixa Econômica

Estadual, em conta especial denominada “Fundo de Aplicação das

Reservas Técnicas do Instituto”. (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)

Art. 48 - O Fundo de Aplicação das Reservas Técnicas será

administrado por uma Junta Financeira constituída de cinco

membros, sob a supervisão do Presidente. (REVOGADO pela Lei n°

12.395/05)

Parágrafo único - Os integrantes da Junta Financeira serão

nomeados pelo Presidente, escolhidos entre servidores do Instituto

detentores de titulação universitária. (REVOGADO pela Lei n°

12.395/05)

TÍTULO VI

CAPÍTULO ÚNICO

DA GESTÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA

Seção I

Da Aplicação do Patrimônio

Art. 49 - O Instituto, para atender ao cumprimento de suas

obrigações, empregará as suas disponibilidades segundo planos

sistemáticos organizados por sua Administração, asseguradas as

normas pertinentes a tais operações, fixadas pelo órgão atuarial da

Autarquia, as quais terão em vista:

a) a segurança quanto à recuperação do valor nominal do

70

capital investido, bem como a percepção regular da capitalização

atuarial prevista para as aplicações em renda fixa;

b) a manutenção do valor real, em poder aquisitivo, das

aplicações realizadas com essa finalidade;

c) a obtenção do máximo do rendimento compatível com a

segurança e o grau de liquidez indispensável às aplicações das

reservas de modo a compensar as operações de caráter social;

d) a predominância do critério da utilidade social, satisfeita no

conjunto das aplicações a rentabilidade atuarial mínima prevista para

o equilíbrio financeiro.

Art. 50 - As aplicações previstas no artigo anterior consistirão

nas seguintes operações:

a) aquisição de títulos de dívida pública;

b) inversão em imóveis destinados aos fins indicados nesta Lei

ou para obtenção de renda;

c) depósitos em estabelecimentos de crédito;

d) investimentos de caráter eminentemente lucrativo;

e) outras operações de caráter financeiro.

Seção II

Da Contabilidade

Art. 51 - O exercício financeiro do Instituto coincidirá com o ano

civil e a contabilidade obedecerá, no que couber, às normas gerais de

contabilidade adotadas pelo Estado.

Parágrafo único - A contabilidade do Instituto evidenciará

destacadamente:

I - receita e despesa de previdência;

II - receita e despesa de assistência médica;

III - receita e despesa de administração;

IV - receita e despesa de investimentos.

Art. 52 - O plano de contas e o processo de escrituração serão

estabelecidos pela Diretoria da Autarquia, ouvidos o Conselho

Deliberativo e a Comissão de Controle e observado o que dispõe o

artigo anterior. (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

Art. 53 - O balanço geral, com a apuração do resultado do

exercício, deverá ser apresentado pelo Presidente, com parecer da

Comissão de Controle e do Conselho Deliberativo para

encaminhamento ao Tribunal de Contas do Estado. (Vide art. 27 da

Lei n° 12.395/05)

71

TÍTULO VII

DAS OPERAÇÕES DE PECÚLIO FACULTATIVO

Art. 54 - O Instituto poderá manter Planos de Pecúlio

Facultativo complementares ao plano básico de seguro social

estabelecido como obrigatório por esta Lei.

Art. 55 - A receita destinada ao custeio das operações de

Pecúlio Facultativo será constituída por:

a) prêmios arrecadados dos segurados;

b) prêmios, percentagens ou taxas suplementares,

complementares ou extraordinárias que vierem a ser instituídas;

c) rendas resultantes das aplicações das reservas;

d) doações, legados ou quaisquer outros bens a tal fim

destinados;

e) reversão de qualquer importância em virtude de prescrição;

f) multas e mora de pagamento de quantias devidas;

g) emolumentos, taxas e outras importâncias devidas em

decorrência de prestação de serviços;

h) rendas das inversões feitas em propriedades imobiliárias,

bem como quaisquer outras a elas referentes;

i) outras receitas eventuais.

Art. 56 - Para a consecução do equilíbrio das operações de

Pecúlio Facultativo, deverão as reservas correspondentes ser

aplicadas na forma dos artigos 49 e 50.

TÍTULO VIII

DA ADMINISTRAÇÃO

Art. 57 - O Instituto será administrado basicamente pelos

seguintes órgãos: (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

I - Conselho Deliberativo (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

II – Diretoria (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

III - Comissão de Controle, nos termos do art. 30 da Lei 4478.

(Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

Parágrafo único - A estrutura dos órgãos executivos

subordinados será estabelecida em Resolução. (Vide art. 27 da Lei n°

12.395/05)

Art. 58 - A Diretoria do Instituto será constituída por cinco

Diretores, nomeados pelo Governador do Estado, exoneráveis “ad

72

nutum”, denominados:

Presidente;

Diretor Administrativo;

Diretor de Assistência Médica;

Diretor Financeiro;

Diretor de Previdência.

§ 1º - O Presidente é de livre nomeação do Governador do

Estado.

§ 2º - Dois dos demais Diretores serão escolhidos pelo

Governador do Estado dentre os integrantes de lista tríplice

encaminhada pelo Conselho Deliberativo e os outros dois mediante

indicação do Presidente do Instituto.

§ 3º - Em seus impedimentos o Presidente será substituído

pelo Diretor que indicar; os demais Diretores, na forma disciplinada

em Decreto.

Art. 58 - A Diretoria do Instituto será constituída pelo Presidente

e mais 4 (quatro) Diretores, nomeados pelo Governador do Estado.

(Redação dada pela Lei n° 10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n°

12.395/05)

§ 1º - Dos Diretores a que se refere este artigo, 2 (dois) serão

indicados através de lista tríplice: (Redação dada pela Lei n°

10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

a) um pelas entidades sindicais do mais elevado grau do

funcionalismo estadual, legalmente existentes; (Redação dada pela

Lei n° 10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

b) um pelo Centro dos Professores do Estado do Rio Grande

do Sul – CPERS/Sindicato. (Redação dada pela Lei n° 10.034/93;

alínea vetada pelo Governador e mantida pela Assembleia

Legislativa, conforme DOE nº 61, de 31/03/94) (Vide art. 27 da Lei n°

12.395/05)

Art. 59 - O Conselho Deliberativo é constituído de nove

membros, assim escolhidos:

I - dois terços de representantes do funcionalismo público

estadual indicados dentre segurados do Instituto em listas tríplices

pela Federação das Associações de Servidores Públicos do Estado e

pela Federação do Magistério do Rio Grande do Sul;

I - dois terços de representantes do funcionalismo público

estadual indicados dentre segurados do Instituto em listas tríplices

pela Federação das Associações de Servidores Públicos do Estado e

pelo Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul;

73

(Redação dada pela Lei n° 8.138/86)

II - um terço de representantes do Governo do Estado.

§ 1º - Cada Conselheiro terá um suplente, juntamente com ele

indicado e nomeado.

§ 2º - Os representantes do funcionalismo serão nomeados

pelo Governador, dentre os integrantes das listas a que se refere o

item I deste artigo; os demais Conselheiros serão de nomeação do

Governador mediante livre escolha entre segurados do Instituto.

§ 3º - O mandato dos Conselheiros é de quatro anos, com

renovação bienal por um terço e dois terços, alternadamente.

§ 4º - Ocorrendo vaga no Conselho Deliberativo, assumirá o

respectivo Suplente, que concluirá o mandato.

Art. 59 - O Conselho Deliberativo será constituído de 9 (nove)

membros, com a seguinte composição: (Redação dada pela Lei n°

10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

a) um terço de representantes do Governo do Estado;

(Redação dada pela Lei n° 10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n°

12.395/05)

b) dois terços de representantes do funcionalismo estadual,

indicados através de lista tríplice, elaborada pelas entidades sindicais

do mais elevado grau do funcionalismo estadual e do magistério

público. (Redação dada pela Lei n° 10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n°

12.395/05)

Art. 60 - A composição, pelo Conselho Deliberativo, das listas

tríplices para provimento dos cargos de Diretor referidos no § 2º do

art. 58 processar-se-á por voto secreto em escrutínios sucessivos,

nome a nome, podendo cada Conselheiro votar em apenas um nome

em cada escrutínio e exigindo-se o voto da maioria absoluta dos

Conselheiros para integrar a lista. (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

Art. 61 - A Comissão de Controle terá a composição e as

atribuições previstas na Lei nº 4.478, de 9 de janeiro de 1963. (Vide

art. 27 da Lei n° 12.395/05)

Art. 62 - À Diretoria compete: (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

a) propor ao Conselho Deliberativo a adoção de decisões

visando a estabelecer a atuação do Instituto com vistas à consecução

de seus objetivos; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

b) submeter ao Conselho Deliberativo proposições que

dependam de sua decisão ou sobre as quais entenda oportuno colher

seu parecer; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

c) decidir sobre a criação de agências, postos ou outros

74

estabelecimentos de prestação de serviços ou atendimento aos

segurados; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

d) decidir sobre a aplicação da receita do Instituto, observadas

as normas desta Lei e ressalvada a competência do Conselho

Deliberativo; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

e) decidir sobre a realização de concursos e provas de

habilitação para provimento dos cargos do Instituto e designar seus

executores e examinadores; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

f) apreciar os balancetes mensais de contas do Instituto; (Vide

art. 27 da Lei n° 12.395/05)

g) harmonizar a atuação dos titulares dos cargos de Diretor nas

respectivas áreas. (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

Art. 63 - Compete especificamente ao Presidente: (Vide art. 27

da Lei n° 12.395/05)

a) representar judicial e extrajudicialmente o Instituto; (Vide art.

27 da Lei n° 12.395/05)

b) apresentar anualmente ao Secretário de Estado sob cuja

supervisão se encontrar o Instituto o relatório das atividades do

mesmo; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

c) prestar contas da administração do Instituto ao Tribunal de

Contas, na forma da Lei; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

d) julgar as licitações; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

e) autorizar pagamentos a serem feitos pelo Instituto, segundo

as normas vigentes; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

f) prover, na forma da Lei e das deliberações do Conselho

Deliberativo, os cargos e funções do Instituto, bem como praticar os

demais atos relativos à vida funcional dos seus ocupantes; (Vide art.

27 da Lei n° 12.395/05)

g) expedir resoluções, portarias e ordens de serviço visando ao

cumprimento dos fins do Instituto. (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

Parágrafo único - O Presidente poderá delegar competência

aos demais Diretores, especificadas as matérias da delegação. (Vide

art. 27 da Lei n° 12.395/05)

Art. 64 - Ao Conselho Deliberativo compete estabelecer as

linhas gerais de atuação do Instituto visando à consecução de seus

objetivos e especificamente pronunciar-se sobre: (Vide art. 27 da Lei

n° 12.395/05)

a) a estrutura administrativa do Instituto; (Vide art. 27 da Lei n°

12.395/05)

b) a organização do Quadro de Pessoal do Instituto, a criação e

75

extinção de cargos e funções que o integrem e a fixação dos

respectivos vencimentos e vantagens, observadas as normas legais

sobre a matéria; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

c) as propostas orçamentárias que lhe serão submetidas pela

Diretoria, bem como as propostas de créditos adicionais; (Vide art. 27

da Lei n° 12.395/05)

d) a adoção de novos planos complementares de benefícios ou

serviços ou alterações dos vigentes; (Vide art. 27 da Lei n°

12.395/05)

e) a realização de operações de crédito de que deva participar

o Instituto; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

f) o balanço geral anual, que lhe será submetido pela Diretoria

acompanhado de relatório da gestão no correspondente exercício;

(Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)

g) a alienação de bens patrimoniais do Instituto, sem prejuízo

da legislação peculiar aos bens públicos; (Vide art. 27 da Lei n°

12.395/05)

h) a celebração de Convênios de que trata o art. 2º, § 1º; (Vide

art. 27 da Lei n° 12.395/05)

i) planos, projetos e propostas que, embora de alçada da

Diretoria, por esta lhe sejam submetidos. (Vide art. 27 da Lei n°

12.395/05)

Parágrafo único - As decisões do Conselho Deliberativo a que

se refere este artigo serão formalizadas em Resolução expedida pelo

Presidente do Instituto, sujeita à aprovação do Governador ou do

Secretário de Estado sob cuja supervisão se encontrar a Autarquia

quando assim determinado em Lei ou Decreto. (Vide art. 27 da Lei n°

12.395/05)

TÍTULO IX

DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 65 - Nas folhas de pagamento de pessoal do Estado e das

Autarquias serão lançadas, compulsoriamente, as contribuições

devidas ao Instituto, bem como as consignações e outras

responsabilidades do servidor segurado.

§ 1º - Fica assegurado ao Instituto o direito de, através de

funcionários para tanto especificamente credenciados, exercer

fiscalização junto aos setores de folhas de pagamento relativamente

a seus créditos.

76

§ 2º - As contribuições devidas por associados que não

percebam remuneração de qualquer natureza, paga pelo Estado ou

pelas Autarquias ou em seu nome, ficam sujeitas ao recolhimento

mensal e direto aos cofres do Instituto.

Art. 66 - Todos os órgãos do Estado e das Autarquias e outras

Entidades que em seu nome procedam a pagamentos de

vencimentos, salários ou proventos aos servidores públicos

segurados do Instituto, depositarão em conta vinculada, à disposição

deste, o total de descontos realizados nas folhas de pagamento

dentro do mês subseqüente.

Parágrafo único - A autoridade administrativa ou servidor que,

no exercício de suas funções, deixar de efetuar os recolhimentos

devidos ao Instituto, incorrerá em falta funcional, sem prejuízo das

sanções de natureza civil ou criminal cabíveis.

Art. 67 - A Quota de Previdência do Estado e das Autarquias

será recolhida mensalmente em duodécimos, no prazo estabelecido

no “caput” do artigo anterior.

Art. 68 - Quaisquer quantias devidas ao Instituto e não

recolhidas ou não pagas nos prazos legais ficam sujeitas a juros

moratórios e correção monetária.

Art. 69 - O patrimônio do Instituto decorrente das operações de

seguro social é de sua exclusiva propriedade e em caso algum terá

aplicação diferente da exigida pelas suas finalidades previdenciárias

e assistenciais, sendo nulos de pleno direito os atos praticados em

contrário, ficando seus responsáveis sujeitos às sanções legais

pertinentes.

Art. 70 - Ao Instituto ficam assegurados todos os direitos,

regalias, isenções e privilégios de que goza a Fazenda do Estado.

Parágrafo único - A legitimação passiva do Instituto somente se

integrará com a citação de seu Presidente e do Estado.

Art. 71 - A fim de manter-se a rentabilidade mínima das

Reservas Técnicas, poderão ser alienados os bens imóveis que não

estejam sendo utilizados por seus serviços nem se destinem a fins

sociais, quando não produzam rendas suficientes dentro de prazo

razoável, com base no valor atual do imóvel, precedida, a

providência, dos indispensáveis estudos, de pronunciamentos do

Conselho Deliberativo e de aprovação do Governador do Estado.

§ 1º - A alienação será sempre realizada mediante

concorrência pública.

§ 2º - Este artigo não se aplica aos imóveis adquiridos, judicial

77

ou extrajudicialmente, em pagamento de financiamentos vinculados

ao Sistema Financeiro da Habitação, cuja revenda far-se-á com

observância das leis e regulamentos próprios.

Art. 72 - Nenhum benefício novo nem modificações nos

percentuais e valores de cálculo constantes desta Lei poderão ser

instituídos, sem que tenham sido avaliados e instituídas as

respectivas fontes de custeio.

Art. 73 - As filhas solteiras maiores de vinte e um anos, de

segurados do Instituto admitidos no serviço público estadual em data

anterior a 1º de janeiro de 1974, conservam a qualidade de

dependentes, para os efeitos desta Lei. (REVOGADO pela Lei n°

11.443/00)

Art. 74 - O encargo de aposentadoria dos servidores segurados

obrigatórios do Instituto incumbe ao Estado ou à Autarquia de que

forem funcionários ou empregados.

Art. 75 - As pensões em manutenção concedidas antes da Lei

nº 5.255, de 30 de julho de 1966, e as pensões que tenham tido como

base de cálculo quantia inferior ao vencimento básico do padrão

inicial do Quadro Geral dos Funcionários Públicos Civis do Poder

Executivo, serão recalculadas, com a constituição familiar que

tiverem à data do recálculo, adotando-se como salário de benefício

os valores abaixo expressos em Unidades-Padrão de Serviços:

a) pensões concedidas antes da referida Lei: 400 Unidades-

Padrão de Serviços;

a) pensões concedidas antes da referida Lei: 470 Unidades-

Padrão de Serviço; (Redação dada pela Lei n° 7.716/82)

b) pensões que tenha tido como base de cálculo quantia

inferior ao padrão inicial da tabela do Quadro Geral dos Funcionários

Públicos Civis do Estado: 200 Unidades-Padrão de Serviços;

b) pensões que tenham tido como base de cálculo quantia

inferior ao padrão inicial da tabela do Quadro Geral dos Funcionários

Públicos Civis do Estado: 235 Unidades-Padrão de Serviços;

(Redação dada pela Lei n° 7.716/82)

c) pensões correspondentes à complementação de proventos:

100 Unidades-Padrão de Serviços.

c) pensões correspondentes à complementação de proventos:

118 Unidades-Padrão de Serviços. (Redação dada pela Lei n°

7.716/82) (Vide Lei n° 7.810/83)

Parágrafo único - As despesas decorrentes deste artigo serão

cobertas pelo Estado e pelas Autarquias correspondentes, que

78

transferirão ao Instituto os recursos necessários.

Art. 76 - O Instituto não poderá prestar a seus próprios

servidores nenhum serviço, benefício ou vantagem que não

proporcione, em iguais ou melhores condições, aos demais

segurados, vedado também o estabelecimento de qualquer

preferência em favor daqueles frente a estes.

Art. 77 - Não se aplica ao Instituto o que dispõe o “caput” do

art. 67 da Lei nº 7.357, de 8 de fevereiro de 1980.

Parágrafo único - O Quadro de Pessoal do Instituto deverá ser

reorganizado quando da edição de normas relativas ao pessoal das

demais autarquias, de modo a se lhe aplicarem o sistema de

classificação e os níveis de vencimentos gerais do Poder Executivo.

Art. 78 - As despesas decorrentes da execução desta Lei

correrão à conta das dotações orçamentárias apropriadas ou de

créditos adicionais que oportunamente serão abertos.

Art. 79 - É fixado em quarenta e um cruzeiros e cinqüenta

centavos (Cr$ 41,50) o valor da Unidade-Padrão de Serviços

correspondente a agosto de 1981.

Art. 80 - Todos os cálculos necessários ao reajuste do valor da

Unidade-Padrão de Serviços serão realizados pelo órgão próprio do

Instituto.

Art. 81 - Revogam-se as disposições em contrário.

Art. 82 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação à

exceção do benefício de pensão pós morte, cuja vigência retroage a

1º de janeiro de 1982.

PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 18 de junho de 1982.

Legislação compilada pelo Gabinete de Consultoria

Legislativa.