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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TELECOMUNICAÇÕES TRABALHO FINAL DE CURSO JONNY WILLIAN LUIZ ANDRADE CORRÊA THIAGO DA SILVA ECHEBARRENA SAMPAIO ARQUITETURA DE REDE LTE E SUA MODELAGEM NO NÍVEL DE SISTEMA ORIENTADOR: TADEU FERREIRA NITERÓI 2013

TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

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Page 1: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TELECOMUNICAÇÕES

TRABALHO FINAL DE CURSO

JONNY WILLIAN LUIZ ANDRADE CORRÊA

THIAGO DA SILVA ECHEBARRENA SAMPAIO

ARQUITETURA DE REDE LTE E SUA MODELAGEM NO NÍVEL DE SISTEMA

ORIENTADOR: TADEU FERREIRA

NITERÓI

2013

Page 2: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

JONNY WILLIAN LUIZ ANDRADE CORRÊA

THIAGO DA SILVA ECHEBARRENA SAMPAIO

ARQUITETURA DE REDE DO LTE E SUA MODELAGEM NO NÍVEL DE SISTEMA

Orientador: TADEU FERREIRA, D. Sc.

NITERÓI

2013

Projeto Final apresentado ao curso de graduação

em Engenharia de Telecomunicações da

Universidade Federal Fluminense, como requisito

parcial para aquisição do Grau de Engenheiro de

Telecomunicações.

Page 3: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

JONNY WILLIAN LUIZ ANDRADE CORRÊA

THIAGO DA SILVA ECHEBARRENA SAMPAIO

ARQUITETURA DE REDE DO LTE E SUA MODELAGEM NO NÍVEL DE SISTEMA

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Prof. EDUARDO RODRIGUES VALE, D. Sc.

Universidade Federal Fluminense

___________________________________________________________________

Prof. TADEU FERREIRA, D. Sc.

Universidade Federal Fluminense

___________________________________________________________________

Profª. VANESSA PRZYBYLSKI RIBEIRO MAGRI, D. Sc.

Universidade Federal Fluminense

NITERÓI

2013

Projeto Final apresentado ao curso de graduação

em Engenharia de Telecomunicações da

Universidade Federal Fluminense, como requisito

parcial para aquisição do Grau de Engenheiro de

Telecomunicações.

Page 4: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a Deus, por uma vida tão abundante em felicidades e

oportunidades. Aos familiares que me deram o apoio sem o qual não teria chegado

até aqui, aos colegas de curso, sempre dispostos a ajudar, aos professores, em

especial ao professor Tadeu Ferreira, pela orientação e compreensão sem limites, e

ao cursinho APROV onde essa caminhada começou.

À Mariângela, que me trouxe ao mundo, à dona Neuza, minha mãe, à tia

Jacira, aos falecidos Antônio de Andrade Corrêa, meu pai, Izaura Botelho Luiz (tia),

e Judite Luíza (tia), pela fé, educação, determinação e inspiração, que me mantém

firme a caminho do desenvolvimento e satisfação pessoal e profissional.

Por fim à Nayellen, minha namorada, por não me deixar fraquejar, por me

mostrar que a vida não é preto e branco e por me proporcionar tamanha felicidade.

Jonny Corrêa

Agradeço a meu pai, Waldemar, minha mãe, Regina, e minha irmã, Thaís, por

sempre acreditarem em minha capacidade e me apoiarem incondicionalmente.

Obrigado por me educarem e me fazerem uma pessoa melhor. Vocês foram muito

importantes durante esta jornada.

Agradeço à minha namorada, Danielle, por me fazer tão feliz e por me

aguentar durante os momentos de stress. Obrigado por participar desta história, do

inicio ao fim.

Agradeço ao professor Tadeu Ferreira, pela ótima orientação, compreensão e

paciência nos momentos em que estivemos focados em outras atividades.

Thiago Sampaio

Page 5: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

RESUMO

A forma como o mundo se comunica mudou. Utilizam-se diversos dispositivos

móveis, e estes dispositivos estão cada vez mais sofisticados, permitindo

comunicação multimídia a qualquer hora, em qualquer lugar. Consequentemente, os

usuários estão cada vez mais exigentes no tocante à velocidade, qualidade e preço

dos serviços móveis. O LTE chegou para atender essa demanda, esses requisitos, e

muito mais.

Este trabalho consiste no estudo da arquitetura de rede LTE em nível de

sistema, abordando suas principais entidades e interfaces, e sua modelagem,

visando entender os requisitos, desafios e soluções para o projeto e implantação de

redes de alta capacidade, eficiência, qualidade e baixo custo.

Será apresentado também um estudo de caso referente à implantação do LTE

no Brasil, os diversos desafios encontrados e o serviço disponível atualmente, com

intuito de evidenciar a importância do uso de simuladores o projeto e implantação de

redes LTE, propondo ao fim, a criação de um simulador em nível de sistema que, em

conjunto com um simulador em nível físico, permita simular cenários e trabalhar os

parâmetros de throughput, latência, perda de pacotes e QoS, imprescindíveis para

implantação de redes de alta qualidade.

Palavras-chave: LTE, SIMULADOR, eRAN, EPC, EPS, RAN-Sharing, QoS, QoE;

Page 6: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

ABSTRACT

The way the world communicates has changed, evolved. People use various

mobile devices, and those devices are getting increasingly sophisticated, allowing

multimedia communication anytime, anywhere. Consequently, users are increasingly

demanding faster mobile services, with higher quality at a lower price. LTE arrived to

meet this demand, these requirements, and much more.

This work consists in the study of LTE network system-level architecture and its

modeling in link layer, exploring its main entities and interfaces, aiming to understand

the requirements, challenges and solutions for the project and implementation of high

capacity networks, with quality, efficiency and low cost.

A case study concerning the implementation of LTE in Brazil will be presented,

along with its challenges and the service currently available, in order to highlight the

importance of using simulators at the design and deployment of LTE networks,

proposing in the end, the creation of a system-level simulator, that alongside a

physical-level simulator, would simulate scenarios and work the system parameters:

throughput, latency, packet loss and QoS, essential for deploying high-quality

networks.

Keywords: LTE, SIMULATOR, eRAN, EPC, EPS, RAN-Sharing, QoS, QoE;

Page 7: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

GLOSSÁRIO

2G Segunda geração de tecnologias de redes móveis

3G Terceira geração de tecnologias de redes móveis

3GPP 3rd Generation Partnership Project

3GPP2 3rd Generation Partnership Project 2

4G Quarta geração de tecnologias de redes móveis

ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações

BBU Baseband Unit

BSC Base Station Controller

BTS Base Transmission Station

CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica

CAP Competitive Access Provider

CAPEX Capital Expenses

CDMA Code Division Multiple Access

CIR Committed Information Rate

CN Core Network

CODEC Codificador/Decodificador

CSFB Circuit Switched FallBack

CSP Communication Service Provider

DiffServ Serviços Diferenciados

DPI Deep Packet Inspection

DSCP Diffserv Code Point – QoS tag on IP layer

DSCP Differentiated Services Code Point

E2E Equipment-to-Equipment

eNodeB Evolved NodeB

EPC Evolved Packet Core

eRAN Evolved Radio Access Network

ERB Estação Rádio Base

e-UTRAN Evolved UTRAN

FDD Frequency-Division Duplexing

Page 8: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

FIFA Fédération Internationale de Football Association

GSM Global System for Mobile Communications

GWNC Gateway Core Network

Gx Interface para troca de mensagens de QoS

Gxc Interface para troca de mensagens de QoS com o S-GW

HSPA High speed packet access

HSPA High Speed Packet Access

HSS Home Subscriber Server

IETF International Engineering Task Force

IntServ Serviços Integrados

IP Internet Protocol

IPSec IP encryption methodology

LTE Long Term Evolution

LTE-A Long Term Evolution – Advanced

M2M Machine-to-Machine

MIMO Multiple Input Multiple Output

MME Mobility management entity – part of the EPC

MME Mobility Management Entity

MOCN Multi-Operator Core Network

MORAN Multi Operator Radio Access Network

MSP Mobile Service Provider

MWR Microwave radio

NGNM New Generation Network Management

OFDM Orthogonal Frequency Division Multiplex

OPEX Operational Expenses

OSI Open Systems Interconnection

p-bit Bit de prioridade - Marcação de QoS na camada Ethernet

PCRF Policy and Charging Rules Function

P-GW Packet Data Network Gateway

PIR Peak Information Rate

PKI Public key infrastructure

Page 9: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

PLMN Public Land Mobile Network

PLMN-ID Public Land Mobile Network Identification

PLS Projeto de Lei do Senado

PTP Precision Time Protocol

QCI QoS Class Id

QoE Quality of Experience

QoS Quality of Service

RAN Radio Access Network

RAT Radio Access Technology

RF Radio Frequência

RNC Radio Network Controller

RRU Remote Radio Unit

Rx Interface para troca de mensagens como PCRF

RTP Real Time Transport Protocol

RTT Round Trip Time

S1 Interface lógica entre a eNodeB, S-GW e MME / Evolved Packet Core (EPC)

S5 Interface lógica entre o P-GW e o S-GW

S8 Interface lógica entre o P-GW e o S-GW para mensagens de roaming

S9 Interface lógica para comunicação entre PCRFs de redes distintas

S10 Interface lógica entre os MMEs para mensagens de handover

S11 Interface lógica entre o MME e o S-GW

SGi Interface entre o P-GW e a rede IP da operadora

SEG Security gateway

S-GW Service Gateway

SIB System Information Block

SLA Service Level Agreement

SRVCC Single Radio Voice Call Continuity

TCP Transmission Control Protocol

TDD Time-Division Duplexing

TS Technical Specification

UDP User Datagram Protocol

Page 10: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

UE User Equiptment

UMTS Universal Mobile Telecommunication System

VLan Virtual Lan

VoIP Voice over IP

VoLTE Voice over LTE

X2 Interface lógica entre eNodeBs vizinhas

Page 11: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - ARQUITETURA SAE ........................................................................................ 17

FIGURA 2 - DIAGRAMA DO EPC ........................................................................................ 19

FIGURA 3 - DIAGRAMA DA ARQUITETURA EPS COMPLETA ......................................... 20

FIGURA 4 - ARQUITETURA E-UTRAN ............................................................................... 22

FIGURA 5 - ESQUEMA DE MULTIPLEXAÇÃO OFDM ....................................................... 23

FIGURA 6 - ESQUEMA DE MÚLTIPLO ACESSO OFDMA ................................................. 24

FIGURA 7 - TÉCNICAS DE IMPLEMENTAÇÃO MIMO ....................................................... 25

FIGURA 8 - ESTRUTURA EM CAMADAS DA E-UTRAN .................................................... 32

FIGURA 9 - PILHAS DO S1-MME E S1-U ........................................................................... 34

FIGURA 10 - PILHA DE PROTOCOLOS DA INTERFACE X2 ............................................. 36

FIGURA 11 - PILHA DE PROTOCOLOS UTILIZADOS NAS INTERFACES ........................ 38

FIGURA 12 - EXEMPLO DE THROUGHPUT POR SETOR (FONTE: MOTOROLA) ........... 42

FIGURA 13 - THROUGHPUT POR SETOR EM DIVERSAS TECNOLOGIAS CELULARES44

FIGURA 14 - COMPARAÇÃO DO THROUGHPUT POR SETOR ENTE HSPA+ E LTE

(FONTE: MOTOROLA) ........................................................................................................ 46

FIGURA 15 - COMPARATIVO ENTRE A MÁXIMA TAXA DE PICO E TAXA MÉDIA.

(FONTE: MOTOROLA) ........................................................................................................ 48

FIGURA 16 - CALCULANDO A TAXA DE DADOS SINGLE-PEAK, ALL-AVERAGE.

(FONTE: MOTOROLA) ........................................................................................................ 49

FIGURA 17 - GANHO DE MULTIPLEXAÇÃO DEPENDE DO NÚMERO DE eNBs

AGREGADAS ...................................................................................................................... 50

FIGURA 18 - COMPARAÇÃO DE LATÊNCIA ENTRE AS TECNOLOGIAS 2G, 3G E 4G ... 53

FIGURA 19 - COMPARAÇÃO DE LATÊNCIA DO 2G AO 4G (Fonte: ................................. 57

FIGURA 20 - COMPARAÇÃO ENTRE AS ARQUITETURAS UMTS E LTE (FONTE: UMTS

FORUM) .............................................................................................................................. 58

FIGURA 21 - FREQUÊNCIAS DE 2,5 GHZ NO BRASIL (FONTE: TELECO, 2013) ............ 68

FIGURA 22 - DIVISÃO DE ÁREAS PARA SERVIÇO DE FDD EM 450 MHZ (FONTE:

TELECO, 2013) ................................................................................................................... 71

FIGURA 23 - EVOLUÇÃO DA DEMANDA DE BANDA (FONTE: SPECTRUM BRIDGE, INC

– 2010) ................................................................................................................................ 74

FIGURA 24 - TOPOLOGIA MOCN ...................................................................................... 78

FIGURA 25 – COMPARTILHAMENTO GWCN .................................................................... 81

FIGURA 26 - TOPOLOGIA DA RAN SHARING TIM X OI .................................................... 86

FIGURA 27 - TAXA DE ERRO DE BIT VS. RELAÇÃO SINAL/RUÍDO – DOWNLINK – [5].. 95

FIGURA 28 - TAXA DE ERRO DE BIT VS. RELAÇÃO SINAL/RUÍDO – UPLINK – [5] ........ 95

Page 12: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - CATEGORIAS DE TERMINAIS ....................................................................... 31

TABELA 2 - TAXAS DE PICO NO LTE SEM CÓDIGO DE CORREÇÃO DE ERRO ............ 43

TABELA 3 - TAXA DE PICO NO LTE COM CÓDIGO DE CORREÇÃO DE ERRO 5/6 ........ 43

TABELA 4 - SENSIBILIDADE DE ALGUMAS APLICAÇÕES QUANTO À LATÊNCIA ......... 55

TABELA 5 - TAXA MÉDIA REAL DO ASSINANTE .............................................................. 60

TABELA 6 - EXEMPLO DE MAPEAMENTO DA QOS DE RÁDIO LTE PARA QOS DE

TRANSPORTE .................................................................................................................... 63

TABELA 7 - FAIXAS DE FREQUÊNCIA POR BLOCO (FONTE: TELECO, 2013) ............... 69

TABELA 8 - RESULTADOS DO LEILÃO (FONTE: TELECO, 2013) .................................... 70

TABELA 9 - PRAZOS PARA COBERTURA DE SERVIÇO 4G NOS MUNICÍPIOS

BRASILEIROS ..................................................................................................................... 72

TABELA 10 - COMPROMISSO DE COBERTURA DE SERVIÇO MÓVEL 3G/4G -

MUNICÍPIOS < 30 MIL HAB ................................................................................................ 72

TABELA 11 - COMPARAÇÃO MORAN X MOCN ................................................................ 81

TABELA 12 - OPÇÕES DE CONFIGURAÇÃO DE COMPARTILHAMENTO DEFINIDAS NO

PADRÃO LTE PELO 3GPP. ................................................................................................ 82

TABELA 13 - VALORES DOS SERVIÇOS 4G PARA USO EM MODENS 4G E TABLETS

(FONTE: GIZMODO) ........................................................................................................... 89

TABELA 14 - VALORES DOS SERVIÇOS 4G PARA USO EM SMARTPHONES (FONTE:

GIZMODO) .......................................................................................................................... 90

TABELA 15 - VALORES DOS SERVIÇOS 4G PARA USO EM SMARTPHONES (VIVO)

(FONTE: GIZMODO) ........................................................................................................... 90

TABELA 16 - RESULTADO DOS TESTES DE VELOCIDADE DA REDE 4G (FONTE: UOL

TECNOLOGIA) .................................................................................................................... 91

Page 13: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 14

1.1 MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS ................................................................................. 14

1.2 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .......................................................................... 14

2 VISÃO GERAL DO LTE ................................................................................................. 16

2.1 EVOLVED PACKET SYSTEM ............................................................................... 17

2.2 E-UTRAN ............................................................................................................... 21

2.2.1 ACESSO ......................................................................................................... 22

2.2.2 MIMO.................................................................................................................24

2.2.3 EFICIENCIA ESPECTRAL .............................................................................. 26

3 AS ENTIDADES DA ARQUITETURA DE REDE LTE .................................................... 27

3.1 EVOLVED NODE B (eNodeB ou eNB) ................................................................... 27

3.2 MOBILITY MANAGEMENT ENTITY (MME) ........................................................... 28

3.3 PDN GATEWAY (P-GW) ........................................................................................ 28

3.4 SERVING GATEWAY (S-GW) ............................................................................... 29

3.5 POLICY AND CHARGING RULES FUNCTION (PCRF) ........................................ 30

3.6 USER EQUIPMENT (UE) ....................................................................................... 30

3.7 INTERFACES DE COMUNICAÇÃO ENTRE AS ENTIDADES ............................... 31

3.7.1 INTERFACE S1............................................................................................... 32

3.7.1.1 INTERFACE S1-MME ........................................................................... 32

3.7.1.2 INTERFACE S1-U ................................................................................. 34

3.7.2 INTERFACE X2............................................................................................... 34

3.7.2.1 INTERFACE X2-C ................................................................................. 35

3.7.2.2 INTERFACE X2-U ................................................................................. 35

3.7.3 DEMAIS INTERFACES ................................................................................... 36

4 DIMENSIONAMENTO DA REDE .................................................................................... 39

4.1 THROUGHPUT ...................................................................................................... 39

4.2 LATÊNCIA ............................................................................................................. 51

4.3 QUALIDADE DE SERVIÇO (QOS) ........................................................................ 60

4.4 PERDA DE PACOTES ........................................................................................... 64

5 ESTUDO DE CASO: IMPLANTAÇÃO DO LTE NO BRASIL ......................................... 67

5.1 ASPECTOS REGULATÓRIOS – ANATEL ............................................................. 67

5.2 INFRAESTRUTURA .............................................................................................. 73

5.3 ASPECTOS ECONÔMICOS .................................................................................. 75

5.4 SOLUÇÃO - LTE RAN SHARING .......................................................................... 76

5.5 LTE RAN SHARING TIM x OI ................................................................................ 85

Page 14: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

5.6 SERVIÇO LTE DISPONÍVEL NO BRASIL ............................................................. 88

6 PROPOSIÇÃO DE SIMULADOR EM NÍVEL DE SISTEMA ........................................... 93

7 CONCLUSÕES ............................................................................................................. 100

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 102

Page 15: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

14

1 INTRODUÇÃO

1.1 MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS

No ramo da Engenharia de Telecomunicações, é sabido que, diante do

desafio que é a implantação de uma nova rede, mostra-se necessário um

profundo estudo das tecnologias empregadas e das aplicações e serviços que

serão suportados por esta rede.

Em geral, a quantidade de parâmetros envolvidos nestes estudos é

grande demais, dificultando a obtenção de um bom mapeamento inicial da

rede, o que é imprescindível para o correto dimensionamento da mesma.

No caso da rede do LTE (Long Term Evolution), que é baseada na

arquitetura EPS (Evolved Packet System), é preciso entender o papel que cada

entidade desempenha, assim como suas interfaces de comunicação.

Posteriormente, devem-se saber quais parâmetros são importantes para avaliar

corretamente o desempenho da rede implantada.

Este trabalho surge com o intuito de elucidar os pontos acima descritos,

e, ao final, propõe um simulador em nível de sistema para a rede LTE, pois

assim é possível projetar corretamente a rede, tendo em vista os parâmetros

de desempenho desejados.

1.2 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho está divido em 7 capítulos. Neste primeiro capítulo é

apresentada a introdução do trabalho, com a motivação, o objetivo e a

descrição resumida dos demais capítulos.

No capítulo 2 são apresentados alguns conceitos fundamentais da

arquitetura de rede do LTE, assim como uma breve descrição dos aspectos de

sua camada física.

Por sua vez, o capítulo 3 descreve as principais entidades de rede que

compõem a arquitetura do LTE, discorrendo sobre suas interfaces de conexão

Page 16: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

15

e apresentando brevemente os protocolos utilizados para a troca de

mensagens.

O capítulo 4 apresenta conceitos importantes para que seja possível

simular e implantar uma rede de qualidade. Já no capítulo 5, um estudo de

caso é exposto, a fim de embasar a importância dos conceitos até então

abordados.

No capítulo 6, uma proposição inicial de um simulador em nível de

sistema é discutida. Finalmente, no capítulo 7, serão apresentadas as

conclusões.

Page 17: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

16

2 VISÃO GERAL DO LTE

O LTE é um padrão desenvolvido pelo 3GPP (3rd Generation

Partnership Project), que tinha como objetivo inicial, em 2004, determinar uma

evolução de longo prazo para a tecnologia UMTS (Universal Mobile

Telecommunications System). O UMTS tinha dois principais componentes, o

UTRA (UMTS Terrestrial Radio Access Network), que era a interface aérea,

incluindo o dispositivo móvel, e a Core Network, CN.

Como o LTE é a evolução do UMTS, componentes equivalentes aos

citados acima foram nomeados como E-UTRA e E-UTRAN (Evolved UMTS

Terrestrial Radio Access Network), formando a rede de acesso rádio (RAN). No

entanto, o sistema da rede LTE vai além destes dois componentes, devido ao

que o 3GPP chamou de SAE, System Architecture Evolution, que define que

todo o núcleo da rede LTE deve ser baseado na tecnologia IP, ou seja, todo o

tráfego é feito através de comutação de pacotes.

Assim, esta rede baseada no protocolo IP foi chamada de EPC, Evolved

Packet Core. A combinação da EPC com a RAN define a rede como um todo,

denominada como EPS, Evolved Packet System.

Dependendo do contexto, muitos autores utilizam algumas das siglas

citadas (LTE, E-UTRA, E-UTRAN, SAE, EPC ou EPS), para definir a rede LTE

como um todo, apesar de o termo correto que define a arquitetura de rede que

suporta o LTE é o EPS. O termo LTE define apenas um conjunto de padrões

utilizados a fim de atender alguns requisitos impostos pelo cenário atual das

redes de comunicações móveis. Nas seções seguintes, será detalhado o que

cada um destes termos e padrões representa.

Dentre estes requisitos para o LTE destacam-se a redução do custo por

bit, melhor prestação de serviço, uso flexível de novas bandas de frequência,

arquitetura de rede simplificada com interfaces abertas, e a possibilidade de

terminais com menor consumo de energia. Estes requisitos são detalhados nos

documentos oficias do 3GPP, 25.912 e 25.913, que estão, em parte, descritos

abaixo:

Page 18: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

17

Maiores taxas no downlink e uplink.

Canais de 1,4 MHz, 3 MHz, 5 MHz, 10 MHz, 15 MHz e 20 MHz, tanto

para downlink quanto para uplink.

Melhorias de 3 a 4 vezes na eficiência espectral quando comparado ao

HSPA, utilizado no 3G.

Latência menor que 5 ms para pacotes IP pequenos.

Desempenho otimizado em velocidades baixas para o terminal (0 a 15

km/h), e suporte a altas velocidades (120 a 350 km/h).

Interconexão com os padrões legados ainda em funcionamento, no

entanto visando a utilização de redes totalmente IP no futuro.

2.1 EVOLVED PACKET SYSTEM

A arquitetura formada pelo EPS é representada por diversos nós lógicos

que se comunicam a fim de promover um conjunto específico de funções na

rede. De acordo com o 3GPP, uma implementação de rede baseada no

conceito do EPS pode ser vista da seguinte forma:

FIGURA 1 - ARQUITETURA SAE

Do lado esquerdo da figura, podem-se observar diferentes padrões de

rede de acesso rádio que podem se conectar ao EPC, incluindo a segunda

(2G) e a terceira geração (3G) de redes móveis, representado pelo GSM/GPRS

e WCDMA/HSPA, respectivamente. Obviamente, o LTE é o mais recente

Page 19: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

18

padrão de rede de acesso de rádio, e também se conecta à EPS. Há ainda

outro nó chamado de “Non-3GPP”, que representa qualquer tipo de rede de

acesso baseada em pacotes, porém não definida pelo 3GPP, como o WLAN,

por exemplo, que é definido pelo IEEE.

O núcleo da rede consiste em, basicamente, três domínios: “Circuit

Core”, que representa os elementos e funções de rede que se baseiam em

comutação de circuitos; “Packet Core”, que representa os elementos e funções

de rede que se baseiam em comutação de pacotes, como o HSPA e o próprio

LTE; e, finalmente, o IMS, que representa os nós e funções que fornecem

suporte a sessões multimídia, baseadas no protocolo SIP, por exemplo, e

utiliza o IP como protocolo de camada de rede.

Em meio a estes três domínios, existe ainda o “User mgmt”, que

gerencia todos os dados relacionados aos assinantes que utilizam os serviços

dos outros domínios. Formalmente, o 3GPP não define um domínio separado

para esta função, e sim incorporado como funções de gerencia dentro de cada

um dos três domínios já abordados. Porém, por questões de simplicidade, este

domínio é abordado muito separadamente, como outro nó na rede.

O EPS, conforme mostrado na figura 3, pode ser bastante complexo,

pois a arquitetura completa, que possibilita a interconexão com praticamente

qualquer rede de acesso que se possa pensar, está prevista para esta

arquitetura. Sendo assim, uma grande quantidade de entidades e interfaces

são previstas e padronizadas pelo 3GPP.

É improvável que uma operadora faça uso de todos os nós lógicos e

interfaces exibidas neste diagrama. Além disso, nem todos os nós e interfaces

são implementados em uma rede real, visto que muitas vezes podem residir

fisicamente no mesmo hardware. Isso, de certa maneira, simplifica o

entendimento e a implantação de uma arquitetura baseada no EPS.

Neste trabalho, a maior ênfase a ser dada dentro do EPS é na

arquitetura do EPC, que é representada na figura 1, pelo “Packet Core

Domain”, visto que o desenvolvimento do LTE está intimamente ligado ao

desenvolvimento do EPC, e também porque o LTE se conecta à EPS apenas

Page 20: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

19

através do EPC. A arquitetura do EPC estudada é ilustrada em detalhes na

figura 2.

FIGURA 2 - DIAGRAMA DO EPC

Page 21: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

20

FIGURA 3 - DIAGRAMA DA ARQUITETURA EPS COMPLETA

Page 22: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

21

Assim, alguns dos nós de rede e interfaces presentes no EPC que envolvem

a interconexão com outras redes de acesso, sendo elas padronizadas pelo 3GPP ou

não, não serão abordados.

2.2 E-UTRAN

Com a banda larga móvel já sendo uma realidade, a geração atual cresce

habituada a ter acesso à Internet onde quer que esteja, não apenas em casa, lan

houses, ou no escritório.

Já é possível navegar na Internet, enviar e-mails, trocar mensagens

instantâneas e fazer chamadas utilizando o telefone celular, ou notebook com um

modem HSPA, substituindo, assim, os modens fixos. Com a chegada do LTE, a

experiência do usuário será ainda mais rica, pois esta tecnologia possibilita o uso de

novos aplicativos, mais exigentes quanto à banda disponível e latência, como TV

interativa, jogos online em tempo real, e serviços profissionais que requisitam uma

conexão de mais qualidade, e maior taxa de transferência.

Neste contexto o LTE veio como uma aposta promissora. Intitulado como o

passo rumo ao sistema móvel de quarta geração, o 4G, e precedido pelas já

conhecidas redes 2G e 3G, o LTE é um projeto da 3GPP que tem como objetivo

melhorar o padrão de telefonia móvel utilizado nas redes de terceira geração, o

UMTS. Para isso, utiliza de maneira mais eficiente o espectro disponível, reduzindo

custos e aumentando a qualidade de serviço. O LTE promete taxas de até 326 Mbps

para downlink e 86,4 Mbps para uplink.

O LTE tem base fundamental no protocolo IP e possui o E-UTRAN (Evolved

Universal Terrestrial Radio Access Network) como rede de acesso, e tem como

diferencial a sua interface física aérea, onde foi especificado o uso do modelo

OFDMA (Orthogonal Frequency-Division Multiple Access) para o sentido de downlink

e, até o release 9 do 3GPP, uso de SC-FDMA (Single Carrier Frequency Division

Multiple Access) para o sentido de uplink. Além disso, é utilizada a tecnologia MIMO

para aumentar a capacidade de robustez do sistema.

Page 23: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

22

A E-UTRAN é composta pelas eNodeB’s e suas respectivas interfaces de

comunicação, S1 e X2, que serão mais profundamente abordados nas seções 3.7.1

e 3.7.2.

FIGURA 4 - ARQUITETURA E-UTRAN

2.2.1 ACESSO

Na E-UTRAN, a interface sem fio é baseada na tecnologia OFDM (Orthogonal

Frequency-Division Multiplexing), que faz com que seja possível atingir-se maiores

taxas de transferência, aliada a uma implementação de baixo custo e eficiente no

que tange a consumo de energia.

A OFDM é um método de multiplexação que codifica o sinal em múltiplas

portadoras, chamadas então de subportadoras. Cada subportadora é modulada com

uma técnica convencional, como QAM ou PSK, em uma taxa de símbolos baixa, no

entanto mantendo a taxa de transferência de esquemas de modulação de única

portadora, dada a mesma largura de banda. A figura 5 a seguir, mostra como é feita

esta subdivisão da portadora principal em subportadoras ortogonais de menor

largura de banda.

Page 24: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

23

FIGURA 5 - ESQUEMA DE MULTIPLEXAÇÃO OFDM

Com isso, o OFDM associa diferentes subcanais para usuários diferentes,

evitando problemas causados por desvanecimento por multipercursos, enviando os

bits de dados a baixas velocidades, combinados no receptor para formar uma

mensagem de alta velocidade.

O principio da ortogonalidade garante que as subportadoras não causarão

interferência entre si, já que o pico de cada uma está sempre no ponto nulo de suas

adjacentes, fazendo com que não seja necessário o uso de banda de guarda entre

as portadoras. Isso faz com que a eficiência espectral seja significativamente maior,

em relação a outros tipos de modulação tradicionais.

Uma extensão desta tecnologia também é usada na técnica de acesso de

múltiplos usuários ao meio, que se chama OFDMA (Orthogonal Frequency-Division

Multiple Access). O OFDM, em si, não é voltado para o acesso de múltiplos usuários

ao meio.

No OFDMA, um método de acesso por divisão de frequências é definido,

associando uma subportadora diferente para cada usuário do sistema. É possível,

inclusive, implementar QoS ao sistema, dependendo de quantas subportadoras

sejam alocadas para um determinado usuário e da constelação utilizada. A figura 6

abaixo mostra de que forma estes canais são distribuídos dentro de uma portadora.

Page 25: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

24

FIGURA 6 - ESQUEMA DE MÚLTIPLO ACESSO OFDMA

Até o release 9 do 3GPP, o esquema de múltiplo acesso padronizado para o

downlink é o OFDMA, enquanto para o uplink é o SC-FDMA (Single-Carrier

Frequency-Division Multiple Access). O SC-FDMA funciona de forma similar ao

OFDMA, porém com um processamento adicional utilizando DFT (Discrete Fourier

Transform) antes do processamento convencional do OFDMA. Esta técnica é

favorecida no uplink pelo fato de admitir uma relação de potência de pico por

potência média menor, ou seja, é mais eficiente em equipamentos que não dispõem

de fontes de energias abundantes, de forma que precisam utilizar potências de

transmissão tão pequenas quanto possível.

2.2.2 MIMO

Para que se possa alcançar maiores taxas de transferência de download e

upload no UE, o LTE faz uso da tecnologia MIMO (Multiple-Input Multiple-Output),

que envia os dados através de diferentes caminhos ao mesmo tempo. O sistema

MIMO confere grande capacidade de confiabilidade aos sistemas de banda larga

móvel.

Page 26: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

25

A Lei de Shannon diz que a quantidade de informação que pode ser

transmitida através de um canal de comunicação é limitada, em função de diferentes

tipos de interferência. Ultimamente, técnicas de codificação para ambientes com

ruído, como redes de telefonia móvel celular, tem aproximado a capacidade dos

canais de comunicação ao limite imposto pela Lei de Shannon.

A técnica MIMO toma como base o fato de que a Lei de Shannon se baseia a

apenas um canal de comunicação. Como o sistema MIMO utiliza mais de um canal

(mais de uma antena) entre o transmissor e o receptor, o conjunto de canais excede

a capacidade de um único canal, porém obedecendo as demais leis da Teoria da

Informação.

O uso de múltiplas antenas permite explorar o domínio espacial como uma

nova dimensão, e assim alcançar maior eficiência espectral. Esta técnica pode ser

implementada de diversas formas, conforme mostra a figura abaixo.

FIGURA 7 - TÉCNICAS DE IMPLEMENTAÇÃO MIMO

Ganho em diversidade: O uso da diversidade espacial a partir da implantação

de múltiplas antenas aumenta a robustez do sinal transmitido contra

desvanecimento por multipercurso. Esta técnica é ilustrada pelo esquema (a).

Ganho em conjunto: É caracterizada pela concentração da energia do sinal

em uma ou mais direções. Isso possibilita que usuários localizados em diferentes

regiões sejam servidos simultaneamente. Esta técnica é ilustrada pelo esquema (b).

Ganho em multiplexação espacial: Consiste na transmissão de múltiplos

sinais (através de múltiplas antenas) para um único usuário, que são multiplexados

de forma a formar um único sinal. Esta técnica é ilustrada pelo esquema (c).

Page 27: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

26

2.2.3 EFICIENCIA ESPECTRAL

Para que se possa comportar o máximo número de usuários dentro do

espectro disponível, é preciso que se obtenha a maior eficiência espectral possível.

No LTE, a largura de banda disponível varia de 1,4 MHz a 20 MHz. A flexibilidade de

largura de banda tem como resultado direto a maior resistência à interferência

durante a transmissão de dados, permitindo assim aumentar o número de usuários

por célula na rede.

Além disso, o suporte a FDD (Frequency Division Duplex) e a TDD (Time

Division Duplex) na mesma plataforma garante o melhor aproveitamento do espectro

de diferentes formas. O FDD faz uso de duas faixas de frequências distintas, onde é

possível enviar dados por uma frequência e recebê-los através de outra. Por sua

vez, o TDD só utiliza uma única faixa de frequência, transmitindo e enviando em

tempos diferentes.

A eficiência espectral é medida em taxa de bits transmitidos por unidade de

frequência ocupada, bps/Hz, e está diretamente ligada a quão econômica será a

implantação de uma nova tecnologia de acesso wireless.

Page 28: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

27

3 AS ENTIDADES DA ARQUITETURA DE REDE LTE

Nas seções seguintes, serão apresentadas as entidades principais que, em

conjunto, formam a arquitetura EPS, sendo a parte do núcleo da rede IP designada

como EPC, e a parte de acesso à camada física sem fio designada E-UTRAN.

Posteriormente, será descrita a interface de comunicação entre as eNodeBs, a X2,

assim como a interface de comunicação destas eNodeBs com o EPC, a S1, além de

uma breve exposição das demais interfaces que fazem parte da arquitetura EPC.

É importante definir quais são as funções exercidas por cada entidade e

interface, pois, desta forma, é possível modelar as funções e interações de cada

uma delas em um ambiente de simulação. Esta exposição pode ser utilizada para a

elaboração de um protótipo de simulador para LTE em nível de sistema.

3.1 EVOLVED NODE B (ENODEB OU ENB)

A eNodeB é a responsável pela interface rádio sem fio para o UE, além de

controlar os recursos alocados. Este controle envolve o gerenciamento da portadora,

a alocação de recursos para o uplink e o downlink individualmente para cada UE. A

eNodeB suporta, também, a compressão do cabeçalho IP e a encriptação dos dados

do plano de usuário.

A interconexão entre uma ou mais eNodeBs é feita através de uma interface

chamada X2. Esta interface tem diversos usos, sendo o principal exemplo a troca de

mensagens para execução do handover. As eNodeBs também são interligadas ao

core da rede (EPC), através de uma interface chamada S1, que é separada em dois

planos: o plano de usuários e o plano de controle. O plano responsável pelo controle

é chamado de S1-MME, pois a interface é terminada quando a eNodeB se comunica

com o MME. Já o plano responsável pelos dados dos usuários é chamado de S1-U,

e por sua vez é terminado no Serving Gateway (S-GW), escoando o tráfego de

dados dos usuários. A interface S1 tem, ainda, outra característica importante, que é

a possibilidade de ser feito o compartilhamento da rede de acesso rádio. Este tópico

será mais profundamente abordado ao longo deste trabalho.

Page 29: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

28

3.2 MOBILITY MANAGEMENT ENTITY (MME)

Sob a perspectiva da rede EPC (ver figura 2), o MME é o nó central que

controla todo o acesso à rede LTE. É responsável pela seleção do S-GW que

atenderá a uma UE durante a associação inicial, assim como após o handover, se

necessário. É o MME que trata do rastreamento e da paginação de UEs que estão

em estado inativo, a fim de controlar a ativação e desativação de interfaces que

atendem ao UE.

Através da interação com o HSS/PCRF, o MME é capaz de tratar da

autenticação do usuário final junto a rede. No caso de UEs que estão em roaming, o

MME termina a interface S6a até a HSS original do UE. A interface S6a transporta

mensagens que carregam informações de autenticação e autorização do usuário,

utilizando o protocolo SCTP/Diameter.

Assim, o MME pode garantir autorização ou não de serviços que o UE em

roaming pode acessar. Além disso, o MME disponibiliza o plano de controle para a

mobilidade entre as redes de acesso LTE e 2G/3G.

A seleção do MME é dada através da topologia da rede, dependendo de qual

MME atende a área a qual o UE pertence no momento. Se vários MMEs servirem à

mesma área, a seleção se dá através de outros critérios, como, por exemplo, a

escolha de um MME que tenha menos chances de requerer uma troca futura devido

a questões relacionadas ao balanceamento de carga.

3.3 PDN GATEWAY (P-GW)

O PDN Gateway é o ponto de interconexão entre a EPC e redes IP externas.

Com isso, possibilitando a conectividade com outros PDNs da rede, funcionando

como um portal de entrada e saída do tráfego de dados do usuário. O UE pode se

conectar a mais de um P-GW caso necessite acessar mais de uma PDN ao mesmo

tempo.

O P-GW é responsável por alocar um endereço IP ao UE, executar a DPI

(Deep Packet Inspection), ou filtragem de pacotes, que tem grande importância para

a correta aplicação do QoS na rede, já que o P-GW marca os pacotes através do

Page 30: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

29

DPI, tanto de uplink quando de downlink, a fim de controlar as taxas de download e

upload que a UE poderá obter, através do PCRF.

O P-GW também serve como âncora durante a mobilidade da UE entre

sistemas com tecnologia não baseadas no 3GPP, como o WiMAX e o CDMA.

As interfaces com as quais o P-GW se conecta são a S5/S8, através da qual

é feita a comunicação com o S-GW, a SGi, através da qual o P-GW se comunica

com outros P-GW e com redes IP externas, e a Gx, através da qual o P-GW se

comunica com o PCRF.

3.4 SERVING GATEWAY (S-GW)

O Serving Gateway é quem termina a interface entre a EPC até a E-UTRAN.

Todos os UEs que são ligados à rede EPS (Evolved Packet System) estão

associados a um único S-GW. Assim como acontece com o MME, o S-GW é

escolhido para ser responsável por um certo UE de acordo com a topologia da rede

e da localização do UE. A seleção deste S-GW se dá através de alguns critérios,

como a tentativa de evitar a futura necessidade de troca de S-GW a partir da

mudança de local do UE, de acordo com a área de serviço do S-GW. O segundo

critério seria a necessidade de se fazer o balanceamento de carga entre os S-GW

disponíveis na rede.

Uma vez que o UE esteja associado a um S-GW, este último fica responsável

pelo encaminhamento do tráfego de pacotes do usuário, e também atua como um

ponto de ancoragem para quando o handover entre as eNodeBs for necessário.

Quando uma dada UE está inativa, ou seja, sem transmitir nem receber

dados, ela colocada em estado inativo (idle), e o S-GW é o responsável por terminar

a bearer de downlink de dados do usuário. Da mesma forma, quando um novo

pacote chega e a máquina de estados muda para ativo, o S-GW é o responsável por

reestabelecer o caminho, e armazena parâmetros do protocolo IP e de roteamento.

O S-GW também é o responsável pela aquisição de dados em caso de

interceptação legal.

Page 31: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

30

As interfaces de comunicação do S-GW são a S1-U, que o interliga com as

eNodeBs, a S5/S8, que o interliga com o P-GW, e a S11, que detém a troca de

informações entre o S-GW e o MME.

3.5 POLICY AND CHARGING RULES FUNCTION (PCRF)

O PCRF é o elemento de controle da arquitetura de rede SAE, através do

qual as políticas de controle tarifários necessárias são aplicadas na rede. Isso

significa tratar da detecção da direção do tráfego, aplicação do QoS e tarifação dos

usuários. No entanto, o PCRF não é o responsável pelo controle de créditos

disponíveis a um usuário.

O PCRF recebe informações do tipo de serviço detectado, e decide como o

fluxo de dados para um particular serviço será controlado. Com isso, o PCRF

garante que os dados do plano do usuário serão mapeados e tratados de acordo

com o perfil de assinatura associado ao usuário final.

3.6 USER EQUIPMENT (UE)

É o terminal portado pelo usuário, que deve ser compatível com as

tecnologias usada pela eNodeB para ser capaz de se comunicar, tais como OFDMA,

e MIMO. Porém, devem ser observadas algumas limitações quanto a tamanho do

dispositivo, temperatura, consumo de bateria, dentre outros. No LTE, o UE se

comunica com a E-UTRAN e com a EPC, usando protocolos rádio avançados. A

comunicação no plano do usuário termina na eNodeB, enquanto a comunicação do

plano de controle é feito tanto com a eNodeB quanto com o MME.

Por suportar diferentes tipos de hardwares, os UE são categorizados

conforme a tabela abaixo:

Page 32: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

31

Throughput máximo (kbps)

Categoria do terminal

Downlink Uplink Camadas MIMO para

Downlink

1 10296 5160 1

2 51024 25456 2

3 102048 51024 2

4 150752 51024 2

5 299552 75376 4

TABELA 1 - CATEGORIAS DE TERMINAIS

As categorias distinguem a taxa máxima possível para o downlink e para o

uplink, assim como o número máximo de camadas MIMO com que o UE é capaz de

lidar.

3.7 INTERFACES DE COMUNICAÇÃO ENTRE AS ENTIDADES

Esta seção irá descrever de forma geral como funcionam as interfaces S1 e

X2. Estas interfaces fazem parte da E-UTRAN, que é composta por duas partes

principais: a camada de transporte, que padroniza a forma como os dados da

camada de rádio são transportados, e a camada de rádio em si, que engloba os

protocolos das camadas superiores da interface. Além de basicamente seguirem o

modelo OSI, estas interfaces são separadas em dois planos, o plano de controle

(CP) e o plano do usuário (UP). Esta separação é apresentada na figura 8. As

demais interfaces serão brevemente apresentadas nas seções posteriores.

Page 33: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

32

FIGURA 8 - ESTRUTURA EM CAMADAS DA E-UTRAN

O plano do usuário carrega todos os dados referentes ao usuário, como voz e

vídeo, assim como sinalização em nível de aplicações (pacotes SIP e RTCP, por

exemplo). O plano de controle lida com todas as mensagens e procedimentos

relacionados às entidades suportadas pelas interfaces, como, por exemplo, o

controle de handover. A camada física é comum aos dois planos, e a partir daí, tanto

o CP como o UP utilizam protocolos que permitem que o transporte seja

independente. A forma como a informação é carregada pelo CP está mais ligada a

segurança, confiabilidade, e perda de dados, enquanto a UP pode ser baseada em

protocolos de roteamento menos seguros e mais simples. As interfaces da E-UTRAN

são padrões abertos definidos pelo 3GPP, possibilitando que fabricantes diferentes

possam fabricar os equipamentos que podem ser implantados na mesma rede.

3.7.1 INTERFACE S1

A interface S1 conecta a eNodeB com a EPC. Ela é separada pelo plano de

controle, chamado de S1-MME, e pelo plano do usuário, chamado de S1-U.

3.7.1.1 INTERFACE S1-MME

Page 34: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

33

A interface S1-MME, também chamada de S1-C, que denota controle, é uma

interface de sinalização que suporta uma série funções e processos que acontecem

entre a eNodeB e o MME. Todos estes processos de sinalização pertencem a quatro

principais grupos:

Processos no nível de bearer: este conjunto de processos corresponde a todos

que são relacionados à iniciação, modificação e terminação de uma bearer.

Estes processos são tipicamente usados para iniciar ou terminar uma

comunicação.

Processos de handover: engloba rodas as funções relacionadas a mobilidade do

usuário entre as eNodeBs, assim como entre outras tecnologias 2G ou 3G

padronizada pelo 3GPP.

Transporte da sinalização NAS (Non Access Stratum): corresponde ao transporte

da sinalização entre a UE e o MME através da interface S1. Esta sinalização

também é chamada de NAS, e é transparente à eNodeB. Dada a importância

destas mensagens, elas são transportadas através da S1-MME utilizando

procedimentos específicos que garantem a entrega.

Processos de paginação: são processos utilizados quando o usuário termina sua

sessão. Através dele, o MME é capaz de pedir a eNodeB para tentar localizar o

UE deste usuário dentro de um conjunto de células.

A interface S1-MME deve ser capaz de prover alta disponibilidade e

confiabilidade, a fim de evitar que mensagens sejam retransmitidas e haja latência

desnecessária no plano de controle.

Dependendo da forma como a rede é implantada, podem haver casos em que

o protocolo UDP sobre IP não seja confiável o suficiente. Além disso, em casos em

que a rede de transporte não pertence a operadora que controla a camada de rádio,

podem ocorrer períodos em que o QoS na rede de transporte não é garantido

durante todo o tempo. Por esta razão, a interface S1-MME faz uso de uma camada

de transporte mais confiável, que funciona como um túnel ponto a ponto entre a eNB

e o MME. Na arquitetura EPS, este serviço é garantido pelo SCTP (Stream Control

Transmission Protocol).

Page 35: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

34

O protocolo utilizado para fazer a troca de sinalização entre a eNodeB e o

MME é chamado de S1 Application Part (S1AP).

3.7.1.2 INTERFACE S1-U

O plano do usuário da interface S1, chamado de S1-U, tem como função

transportar os pacotes de dados entre a eNodeB e o Serving Gateway. Esta

interface utiliza um protocolo GTP (GPRS Tunnelling Protocol) sobre UDP/IP, que

apenas encapsula os dados dos usuários. Não há controle de erro nem de fluxo, ou

qualquer mecanismo que garanta a entrega de dados na interface S1-U. O protocolo

GTP é, na verdade, herdado das redes GPRS. Em tais redes, o GTP era utilizado

entre os nós SGSN - Serving GPRS Support Node e GGSN - Gateway GPRS

Support Node. Abaixo são apresentadas as pilhas das interfaces S1-MME e S1-U.

FIGURA 9 - PILHAS DO S1-MME E S1-U

3.7.2 INTERFACE X2

A interface X2 interconecta as diversas eNodeBs que podem haver na rede

de acesso sem fio. O LTE utiliza a mesma estrutura de protocolos nas interfaces X2

e na S1, o que acaba por simplificar o encaminhamento dos dados. Da mesma

forma como é definido na interface S1, a interface X2 é separada no plano de

controle X2-C, e no plano do usuário X2-U.

Page 36: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

35

3.7.2.1 INTERFACE X2-C

A interface X2-C é a interface de sinalização que suporta um conjunto de

funções e procedimentos entre as eNodeBs. Estes procedimentos são reduzidos, se

limitando a troca de mensagens para possibilitar a mobilidade do usuário entre as

eNodeBs, como informações sobre bearers alocadas e mensagens de segurança.

Além disso, a interface X2-C possibilita a troca de mensagens para indicação

da carga atual da eNodeB, a fim de indicar as condições de carga de uma eNodeB

para suas vizinhas. Esta função visa ajudar o controle do balanceamento de carga

que deve ser feito para que uma eNodeB não fique sobrecarregada, otimizando

decisões de handover.

Assim como na interface S1-MME, se faz necessário o uso do protocolo

SCTP sobre IP para que se possa garantir a entrega das mensagens de sinalização

entre os nós.

O protocolo utilizado para fazer a troca de sinalização entre as eNodeBs é

chamado de X2 Application Part (X2AP).

3.7.2.2 INTERFACE X2-U

A interface do plano do usuário X2, chamada de X2-U, tem objetivo de

transportar os dados dos usuários entre as eNodeBs. Esta interface é utilizada

apenas em curtos períodos de tempo, quando um UE se move de uma eNodeB para

outra. Este processo envolve buffering, técnica na qual os dados são acumulados

até que possam ser encaminhados. Assim como a interface S1-U, a interface X2-U

utiliza o protocolo GTP.

Abaixo é exibida a pilha de protocolos que compõem a interface X2.

Page 37: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

36

FIGURA 10 - PILHA DE PROTOCOLOS DA INTERFACE X2

3.7.3 DEMAIS INTERFACES

As demais interfaces que compõem a arquitetura EPC na forma como foi

abordada neste trabalho são: Rx, Gxc, Gx, S9, SGi, S5/S8, S11 e S10, que serão

brevemente descritas abaixo.

S10: É o ponto de referência entre os MMEs, para a realocação de MMEs para

um UE e para a troca de informações entre os MMEs. Esta interface suporta as

mensagens responsáveis pela mobilidade dentro da E-UTRAN, através do

handover. Em outras palavras, a troca de mensagens por esta interface é

acionada quando um UE se move e troca de eNodeB. O documento 23.401 do

3GPP define a realocação de MME como um tipo de handover entre interfaces

S1. Sendo assim, a interface S10 é um tipo especial de interface S1 e o protocolo

S1AP é utilizado.

S11: Este é o ponto de referencia entre o MME e o S-GW. O protocolo utilizado

nesta interface é o GTP-C. A troca de mensagens através desta interface é

acionada pelo processo de paginação e mobilidade da UE.

S5: A interface S5 habilita um tunelamento para tráfego dos dados do plano do

usuário entre o S-GW e P-GW, assim como a gerência desse túnel. As

mensagens são acionadas quando é necessária a troca do P-GW devido à

Page 38: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

37

mobilidade do UE. O protocolo usado nesta interface é o GTP tanto para o plano

de controle quanto para o de usuário.

S8: Esta interface é utilizada quando o usuário está em roaming. É o ponto de

referência para a interconexão entre as redes móveis públicas das duas

operadoras envolvidas. Esta interface fornece o canal de comunicação entre o P-

GW da rede original e o S-GW da rede visitada pelo usuário. Além disso, fornece

as politicas de QoS e tarifação entre o PCRF original e o PCRF visitado. É uma

variação da interface S5, porém voltada para operações entre redes de

diferentes operadoras, operação esta denominada inter-PLMN (Public Land

Mobile Network).

SGi: Esta interface faz conexão do P-GW com a rede de pacotes e serviços da

operadora. Esta rede pode ser pública ou privada. Simplificadamente, muitas

vezes a SGi é a interface que conecta os dados do plano do usuário com a

Internet pública. Geralmente toda a pilha TCP/IP já pode ser observada nesta

interface.

Gx: Esta interface transfere as mensagens contendo informações das politicas

de QoS e tarifação para o P-GW. Isso significa que o P-GW fará uma série de

requisições ao PCRF ao estabelecer a bearer para um dado usuário, enquanto o

PCRF irá, através da interface Gx, fornecer as informações necessárias para o

processo de tarifação.

Gxc: O propósito principal desta interface é fornecer informações sobre o QoS

aplicado para o S-GW. Utiliza o protocolo SCTP para o transporte das

mensagens.

S9: Esta interface é responsável por transferir as politicas de QoS e tarifação

entre o PCRF da rede original e a rede visitada pelo usuário. Esta interface

possibilita que usuário visite a rede de outra operadora, mas ainda assim consiga

acessar as informações em sua rede original. Este conceito é conhecido como

local breakout.

Rx: A interface Rx possibilita a comunicação entre as aplicações utilizadas pelo

usuário e o PCRF. Isso possibilita, por exemplo, que determinadas aplicações,

como VoIP, sejam tarifadas de forma diferente de outras aplicações que rodam

sobre a rede de pacote, como navegação na internet.

Page 39: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

38

Abaixo, é exibido um resumo dos protocolos utilizados nas camadas mais

superiores de cada interface.

FIGURA 11 - PILHA DE PROTOCOLOS UTILIZADOS NAS INTERFACES

Page 40: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

39

4 DIMENSIONAMENTO DA REDE

O LTE traz muitas inovações como sua arquitetura all-IP, uso do OFDMA

como técnica de acesso, uso de múltiplas antenas (MIMO, SIMO, MISO), as altas

taxas alcançáveis, etc. Tudo isso influi significativamente no projeto e

dimensionamento da rede. As operadoras não possuem experiência no

dimensionamento dessa rede e este capítulo apresenta as características e os

requisitos de throughput, latência, perda de pacotes e QoS, parâmetros de sistema

que não podem ser negligenciados quando se deseja implantar um rede com

eficiência e qualidade.

4.1 THROUGHPUT

DEFINIÇÃO

O Throughput pode ser definido como a capacidade total de um canal em

transmitir dados durante um determinado período de tempo, ou seja, a taxa de

transferência efetiva de um sistema. Em suma, mede a taxa de dados reais, sem

redundâncias. Na prática, um canal é afetado por inúmeros fatores que diminuem

sua capacidade de transmitir, assim, a taxa de transferência efetiva de um

determinado sistema pode ser menor que a taxa de entrada devido às perdas e

atrasos no sistema. Um throughput adequado é essencial para transmitir grandes

quantidades de dados com poucos erros. Por exemplo, a transmissão de streaming

de vídeo sobre redes locais é uma aplicação em tempo real muito crítica quando se

fala de taxa de erros.

THOUGHPUT EM REDES WIRELESS

Frequentemente o throughput de pico é visto, de maneira equivocada, como

como a taxa real que o assinante irá experimentar em uma rede sem fio, o que não é

verdade. Em ambientes wireless, fatores adicionais tais como: o meio ambiente e as

condições atmosféricas, afetam as taxas de dados alcançáveis. Isso resulta em uma

taxa de dados no mundo real que está bem abaixo da taxa de dados de pico teóricos

obtidos em ambientes de laboratório.

Outro aspecto no qual a taxa de pico toma parte é criar excitação sobre o

desempenho de cada nova geração de tecnologias de banda larga. Mas o

Page 41: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

40

throughput de pico, como o próprio nome indica, é apenas uma medida teórica que

não é exequível em uma rede comercial. Existem várias maneiras diferentes de

medir o desempenho de tecnologias sem fio, que incluem throughput de pico,

throughput médio por setor, throughput na borda da célula e taxa de dados de

assinantes, os quais levam em conta várias condições e cenários. Para prever com

precisão realista a capacidade da rede LTE e a demanda dos usuários, as

operadoras precisam compreender as diferentes medidas de desempenho.

Em business cases e exercícios de modelagem de rede, o uso de métricas de

desempenho realistas como o throughput médio por setor e o throughput na borda

da célula oferecem maior precisão e levam a expectativas mais realistas. Por

exemplo, as taxas de dados máximas são raramente utilizadas, pois refletem taxas

teóricas que muito poucos (se houver) assinantes realmente irão experimentar em

uma rede comercial e, portanto, não pode ser convertida em receita. Como as

operadoras estão avaliando onde investir na próxima geração de tecnologias de

banda larga sem fio é importante obter uma visão realista das verdadeiras

capacidades das opções tecnológicas disponíveis.

MÉTODOS PARA MEDIÇÃO DE THROUGHPUT

As expectativas dos usuários finais são equivocadas devido aos diferentes

métodos e métricas para medição de throughput. Vários fatores tais como os

descritos na seção anterior, impactam no throughput prático observado em sistemas

de RF. A sobrecarga adicional acrescentada pela modulação adaptativa e

codificação para correção de erros afeta a taxa de dados real utilizada por um

usuário, reduzindo significativamente a taxa experimentada pelo usuário em

comparação com a taxa de dados de pico medido em laboratório. As medições de

throughput mais significativas serão explicadas a seguir, começando com a medida

mais teórica e seguindo até as medidas que melhor refletem o desempenho

comercial em uma rede real. Depois, serão apresentadas as informações de

throughput no LTE.

THROUGHPUT DE PICO NA CAMADA FÍSICA

Page 42: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

41

Essa taxa está frequentemente em destaque na mídia e materiais de

marketing. É uma medida fixa, com base na camada física, e, portanto, determina a

atual capacidade disponível para cada sector, na estação de base sem quaisquer

codificações de erros. A taxa de pico na camada física é útil em laboratório

comparando desempenhos contra os valores teóricos, mas não considera todas as

técnicas de correção de dados, qualidade do sinal de interferência, programação,

desempenho dos terminais, ou mobilidade e, portanto, não é uma representação

prática do desempenho de dados.

THROUGHPUT DE PICO NA CAMADA DE APLICAÇÃO

O modelo de referência de Interconexão de Sistema Aberto (OSI) é uma

descrição para comunicação em camadas e projeto de protocolos de rede. A

arquitetura de rede é dividida em sete camadas únicas, e a camada de aplicação

representa o topo do modelo, interagindo diretamente com o usuário. A taxa de

dados de pico da camada de aplicação assume que há apenas um único assinante

na rede com as melhores condições atmosféricas possíveis, por exemplo, quando o

assinante se localizada diretamente sob a BTS. A taxa também é dependente da

taxa de codificação de erro aplicada sobre a conexão. Codificação de correção de

erro é um método aplicado para tratamento de erros nos dados transmitidos em que

o sistema insere dados adicionais (redundantes) nos pacotes, permitindo que o

receptor detecte e corrija erros, sem ter que solicitar uma retransmissão completa

dos dados afetados. Na ausência de codificação para correção de erros o sistema

utiliza os mecanismos de retransmissão de dados com maior frequência, o que

diminui a largura de banda disponível.

THROUGHPUT MÉDIO POR SETOR

O throughput médio por setor é o agregado das taxas de dados de assinantes

individuais em um setor, em outras palavras, representa a habilidade de entregar o

maior número de bits para o maior número de assinantes, portanto, permitindo às

operadoras maximizar a receita. A figura 12 ilustra vários acessos à rede por vários

assinantes dentro de uma célula.

Page 43: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

42

FIGURA 12 - EXEMPLO DE THROUGHPUT POR SETOR (FONTE: MOTOROLA)

O throughput é frequentemente afetado por um conjunto de condições como a

distância a partir de célula, número de assinantes simultâneos, a mobilidade, a

interferência, a cobertura indoor/outdoor, altura das torres, e os tipos de dispositivos

que estão sendo usados na rede. O throughput médio por setor é a medida que

melhor representa a capacidade real de um setor para servir assinantes em um

ambiente do mundo real. É por isso que é a medida mais útil ao avaliar diferentes

tecnologias e desenvolver planos detalhados e business cases. É importante notar

que ocorrerão variações no throughput médio por setor, devido às diferentes

condições listadas acima, que são semelhantes ao que o que ocorre em uma rede

todos os dias.

TAXA DE DADOS DE ASSINANTE

A taxa de dados de assinante representa a taxa que o assinante experimenta

na rede. Pode ser expressa como sendo "até" um pico (por exemplo, até 10 Mbps),

uma faixa de valores min-máx (por exemplo, de 2 a 5 Mbps), ou valores médios (por

exemplo, 10 Mbps). Esta é a visão de taxa de dados de um único assinante e pode

variar muito, dependendo das condições e do número de assinantes em uma célula

usando os serviços, mas dá uma expectativa realista da experiência do usuário em

uma rede na vida real.

Page 44: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

43

LTE: THROUGHPUT DE PICO POR SETOR

As taxas de dados de pico por setor LTE são listadas na tabela abaixo.

Tecnologia da antena Largura de banda do canal e taxa de transferência

Tipo Quantidade 5 MHz 10 MHz 20 MHz

MIMO 2x2 43 86 173

MIMO 4x4 82 163 326

TABELA 2 - TAXAS DE PICO NO LTE SEM CÓDIGO DE CORREÇÃO DE ERRO

As taxas variam com base na largura do canal e o esquema de tecnologia de

antenas usado. MIMO é uma tecnologia de antena inteligente que permite o uso de

múltiplas antenas tanto no transmissor e receptor para melhorar o desempenho. É

importante lembrar que a taxa de camada física é um pico máximo teórico e não leva

em conta a taxa de codificação para correção de erro, que é essencial em

implementações reais. Sem a aplicação de codificação para correção de erros em

um ambiente de vida real, muitos bits terão de ser retransmitidos várias vezes

reduzindo a eficiência espectral para um nível extremamente baixo. A eficiência

espectral refere-se à taxa na qual a informação é transmitida com sucesso sobre

determinada largura de banda.

A tecnologia LTE é espectralmente eficiente, assim, entrega mais bits por

segundo sobre uma largura de banda fixa do que as tecnologias anteriores e, como

resultado, se você levar em conta uma taxa razoável de codificação para correção

de erro, chega-se a uma taxa de dados de pico que é mais realista para implantação

comercial.

Tecnologia da antena Largura de banda do canal e taxa de transferência

Tipo Quantidade 5 MHz 10 MHz 20 MHz

MIMO 2x2 29 59 117

MIMO 4x4 55 113 226

TABELA 3 - TAXA DE PICO NO LTE COM CÓDIGO DE CORREÇÃO DE ERRO 5/6

Page 45: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

44

LTE: THROUGHPUT MÉDIO POR SETOR LTE

Enquanto as taxas de dados máximas mostram o throughput teórico, a

medida mais significativa para estimar a capacidade de rede e a demanda dos

assinantes, é o throughput médio por setor. Este throughput estima quanta largura

de banda pode ser entregue dentro de um setor em condições do mundo real. O

throughput agregado pode, então, ser usado para estimar quantos assinantes

simultâneos podem ser servidos no setor. Esta taxa de throughput média do setor

ajuda as operadoras a terem uma melhor compreensão dos seus custos de

implantação e custos operacionais, permitindo um melhor dimensionamento da rede

e rentabilidade.

FIGURA 13 - THROUGHPUT POR SETOR EM DIVERSAS TECNOLOGIAS CELULARES

(FONTE: MOTOROLA)

Conforme descrito na figura acima, LTE proporciona uma melhora significativa

na capacidade de throughput médio por setor em todas as faixas de largura de canal

quando comparado a outras tecnologias 3GPP, aproveitando MIMO do tipo 2x2 e

OFDM. Estas melhorias na capacidade são a chave para alcançar a eficiência

necessária para atingir o mercado de massa e reduzir o custo por bit para a

operadora.

Page 46: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

45

COMPARAÇÃO DO THROUGHPUT MÉDIO POR SETOR

As melhorias no rádio do HSPA+ Release 8 usam a constelação 64QAM e

MIMO, com ênfase na taxa de pico. A melhoria fornecida pelo 64QAM, MIMO e

HSDPA (High-Speed Downlink Packet Access, protocolo de telefonia móvel da

família HSPA, também conhecido como 3.5G) permite um aumento da taxa de

dados em toda a célula (do centro à borda) sob condições de carga leve. Em

condições altamente congestionadas, o desempenho de Dual Cell HSDPA (Dual Cell

Dedicated Channel, operação de duas portadoras adjacentes para downlink em

combinação com uma única portadora de uplink) é comparável ao de uma única

portadora HSDPA, limitando as melhorias no throughput por setor na região de 10-

20% da área de cobertura total da célula, conduzindo a células urbanas densas /

células indoor. As tecnologias HSPA, W-CDMA e algumas outras, sofrem o

fenômeno de encolhimento de célula (cell shrinkage ou cell breathing). Nestas

tecnologias todos os sinais compartilham uma única portadora, assim, um aumento

no número de assinantes na rede faz com que a interferência aumente, levando a

um curto alcance para entregar a mesma taxa dos dados, resultando numa

diminuição do raio da célula. Por outro lado, a célula LTE não sofre com o

encolhimento. Embora ambos LTE e HSPA+ usem 64QAM e MIMO, em HSPA+, os

assinantes compartilham a mesma portadora separados apenas pela codificação.

Em LTE, por outro lado, utiliza-se OFDM, e cada assinante recebe uma

subportadora exclusiva e assim não é afetado por mais assinantes que entram na

célula. Outras características de desempenho que tem impacto significativo sobre a

experiência do assinante experiência através da célula e na borda da célula em LTE

incluem:

• Técnicas de múltiplas antenas para aumentar a taxa de dados em geral;

• Melhor capacidade de tratamento de multipercurso de sinal do que as

tecnologias CDMA;

• Nenhuma interferência intracelular, como as subportadoras são para um

único assinante, em um intervalo de tempo;

• Cancelamento de interferência avançado proporcionando redução da

interferência intercelular;

Page 47: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

46

• Sem encolhimento da célula devido à relação demanda versus carga (on

demand vs. loading) de tecnologias CDMA;

• Cabeçalhos de controle (overhead) menores e mais eficientes;

• Frequência de agendamento seletivo para flexibilidade e eficiência adicional;

A figura a seguir mostra como o LTE supera tecnologias anteriores, as

condições abaixo são idênticas e são baseadas na mesma altura da torre, de perda

de caminho e perda de penetração.

FIGURA 14 - COMPARAÇÃO DO THROUGHPUT POR SETOR ENTE HSPA+ E LTE (FONTE: MOTOROLA)

TAXA DE PICO DE ASSINANTE E TAXA MÉDIA ESPERADA

Taxa de dados esperada de assinantes é muito difícil de prever e vai

depender de muitos fatores típicos de tecnologias sem fio (distância da célula, carga

da célula, a velocidade do assinante, interior, exterior, macro célula, ou hotspot).

Estes desafios têm feito do throughput médio por setor a melhor medida de que

taxas que o assinante pode esperar de uma tecnologia. NGNM (New Generation

Network Management) também adotou esta medida para comparar tecnologias de

próxima geração, pois oferece uma taxa esperada mais realista.

Com base na simulação e ensaios, LTE é capaz de proporcionar uma

verdadeira experiência de banda larga com velocidade de dados multi-megabit na

maior parte da célula, mesmo numa macro célula, e ser mais eficaz no fornecimento

de banda larga sem fio para mercados de massa.

Page 48: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

47

DIMENSIONAMENTO DA REDE DE TRANSPORTE

O LTE promete entregar altas taxas de dados e sua interface aérea já

mostrou que é capaz de fazê-lo. Mas não se pode esquecer que esses dados

precisam ser escoados. Esta seção apresenta os requisitos para dimensionamento

da rede de transporte LTE.

CAPACIDADE E DIMENSIONAMENTO

LTE e LTE-A prometem progressivamente entregar maiores taxas de dados,

assim, como a rede de transporte subjacente deve ser dimensionada? Qual é o

requisito de capacidade para cada BTS? Existem duas abordagens básicas: a

abordagem bottom-up, baseada nas atuais previsões do modelo de tráfego,

enquanto a alternativa de top-down é baseada nas taxas de dados (bit-rates)

alcançáveis com as diferentes tecnologias de interface aérea.

CAPACIDADE DE TRANSPORTE: ABORDAGEM BOTTOM-UP

O dimensionamento de rede tem tradicionalmente usado a abordagem

bottom-up. Um modelo de tráfego é calculado para um período de tempo baseado

em certas suposições. O modelo em seguida produz estimativas que podem ser

usadas para o dimensionamento da rede de transportes.

A vantagem dessa abordagem é a base científica para as estimativas,

que são baseadas na experiência, mais especificamente nos modelos de tráfego já

utilizados pelas operadoras em seus locais de atuação. Também é independente da

tecnologia de rádio utilizada e pode ser usada para planejar o desenvolvimento da

capacidade da rede de rádio e de transporte ao longo do tempo.

CAPACIDADE DE TRANSPORTE: ABORDAGEM TOP-DOWN

Por outro lado, muitas operadoras não têm experiência anterior com a

utilização dos serviços de dados. Taxas fixas e grandes pacotes de dados

normalmente dificultam a realização de previsões. Em suma, se o tipo de escolha

inicial anteriormente usado não é prático, a outra opção é fazer um cálculo de cima

para baixo com base nas taxas de dados das diferentes tecnologias de interface

Page 49: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

48

aérea para conseguir uma estimativa do tráfego de usuário (user plane). Assim, a

abordagem top-down se baseia com base na limitação da taxa de bits da interface

aérea.

A figura 15 (a) mostra o máximo teórico das taxas de bits disponível para

certas configurações. Note que esses valores máximos são apenas para um único

setor, então um site com três setores deveria servir três vezes a taxa de pico.

FIGURA 15 - COMPARATIVO ENTRE A MÁXIMA TAXA DE PICO E TAXA MÉDIA. (FONTE: MOTOROLA)

O dimensionamento de uma rede baseado em taxas de pico aponta para o "pior

caso" e irá resultar em superdimensionamento. Portanto, é útil considerar as taxas

de bits de pico realistas, que normalmente pode ser alcançada dentro da célula. A

figura 15 (b) mostra as taxas de transferência de uma célula média com base em

simulações, que foram realizadas pelo 3GPP considerando certa distribuição de

usuários dentro da célula, mobilidade do terminal e interferências.

Ao calcular a capacidade de transporte total necessária por BTS, o

dimensionamento pela taxa de dados de pico pode resultar em valores muito altos.

O dimensionamento com base apenas na média pode resultar em valores muito

baixos e causar congestionamento regularmente. Um bom compromisso, portanto,

pode ser a utilização do modelo chamado "single-peak, all-average”, como mostrado

na figura a seguir. Neste modelo, a exigência de tráfego do usuário da BTS se

presume ser a capacidade média agregada de todas as células ou a capacidade

máxima de uma célula. Os planejadores devem utilizar o maior valor entre os dois

casos, de modo que a taxa de serviço por usuário anunciada possa ser alcançado

Page 50: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

49

momentaneamente em qualquer célula, embora a taxa de serviço do usuário

anunciado será apenas uma fração da taxa de pico da célula.

FIGURA 16 - CALCULANDO A TAXA DE DADOS SINGLE-PEAK, ALL-AVERAGE. (FONTE: MOTOROLA)

O último passo para obter a taxa de dados necessária para a interface S1 da

BTS inclui alguns cálculos de cabeçalhos (overhead). Os cabeçalhos da interface

aérea são retirados e o cabeçalho de transporte e um possível cabeçalho de IPSec

são adicionados. Claro que, a gestão do tráfego de sinalização também deve ser

levada em conta.

AGREGAÇÃO DE TRÁFEGO

Indo além do primeiro link (ou "última milha"), que liga as BTS mais

profundamente na rede, agregação e overbooking (atribuir uma banda menor que o

conjunto de eNodeBs necessita, baseado na estimativa de tráfego) tornam-se ainda

mais essenciais para garantir a eficiência dos transportes. A agregação deve ser

realizada próximo às BTS para realmente aproveitar essa vantagem. A figura 17

mostra como o ganho de multiplexação, referente refere à banda economizada com

agregação de tráfego, depende do número de BTS agregadas, com base em certas

suposições.

Page 51: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

50

FIGURA 17 - GANHO DE MULTIPLEXAÇÃO DEPENDE DO NÚMERO DE eNBs AGREGADAS

(FONTE: MOTOROLA)

Assim, podem ser obtidas grandes vantagens utilizando overbooking através

da adoção de hub-agregação, até o ponto onde o ganho estabiliza e a agregação

não traz maiores ganhos ao sistema.

CAPACIDADE LTE E OS REQUISITOS DE INTERFACE X2

Outra particularidade de redes LTE em comparação aos tradicionais redes 3G

é a interface X2, que desempenha um papel importante na transferência de

conexões (handover) entre BTSs vizinhas. Durante o procedimento de handover a

ligação de rádio para o terminal é interrompida por um curto período de tempo,

tipicamente entre 60 e 70 ms. Pacotes no downlink que chegam à BTS que

anteriormente hospedava o terminal serão encaminhados para a nova BTS, ligando

o terminal através da interface X2 até que o EPC tenha comutado a conexão S1

para a nova BTS. Nesse sentido, a interface X2 cria outro conjunto de fluxo de

tráfego diretamente entre BTSs vizinhas. Este tráfego ocorre durante as fases de

handover, e como o handover é rápido o tráfego gerado é em rajadas. Estudos

mostram que o tráfego da interface X2 será normalmente na faixa de apenas 3% do

tráfego total da interface S1. Ela é, portanto, fator relativamente menor no

planejamento e o tráfego gerado certamente não justifica a instalação de ligações

físicas dedicadas entre BTSs vizinhas.

Page 52: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

51

4.2 LATÊNCIA

DEFINIÇÃO

Latência é o intervalo (atraso) entre o tempo em que uma solicitação de

serviço é feita por um assinante e o tempo que o assinante recebe uma resposta a

partir do sistema. Pode ser medida em um sentido ou no percurso de ida e volta

(RTT, Round Trip Time), sendo que a medida ida-e-volta é a medida comum, pois

abrange o tempo desde o início de uma solicitação de serviço no dispositivo

assinante através da rede até a volta pela rede até que ele exibe uma resposta no

dispositivo do assinante, por exemplo, o tempo entre a solicitação de uma página da

web e quando essa página começa a carregar.

Assim, a latência também tem um impacto considerável sobre a satisfação do

usuário, especialmente em aplicações sensíveis a atrasos como jogos online. Se o

tempo de reação da rede é muito longo, uma conexão de alta velocidade não vai

fazer muito para melhorar a experiência. Os provedores de rede controlam alguns

aspectos, mas a latência também depende de fatores externos, como: a distância

entre o usuário e os provedores de conteúdo. Uma abordagem que proporcione a

melhor latência possível não daria errado, desde que seja economicamente viável.

LATÊNCIA NA PERSPECTIVA DO USUÁRIO

É essencialmente o tempo que leva para um pacote de dados viajar a partir

do terminal através da rede móvel para o servidor de conteúdo na internet e vice-

versa. Existem vários componentes que afetam a latência experimentada pelo

assinante. Há latência inerente do sistema que depende da tecnologia de rádio

utilizado (BTSs e seus controladores, gateways e assim por diante). Depois, há

atrasos adicionais decorrentes da rede de transportes, a partir da conectividade

entre a rede da operadora e da Internet e do tempo necessário para atingir o atual

servidor que executa o serviço solicitado. Além de tudo isso também pode haver um

atraso de enfileiramento em qualquer um dos vários nós se houver algum

congestionamento.

Page 53: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

52

LATÊNCIA NA PERSPECTIVA DA OPERADORA

Do ponto de vista da operadora a latência é composta por dois elementos.

Um deles é o atraso introduzido pela rede da operadora, referente ao tempo de ida e

volta entre o aparelho do usuário e gateway de Internet do operador. A operadora

pode influenciar e minimizar esse atraso. No entanto, o outro componente é o tempo

que leva para os dados de viajar a partir desta porta de entrada para o servidor de

conteúdo atual e volta, e a operadora não tem influência direta sobre ele. A latência

é considerada por muitos como tão importante quanto a capacidade real suportada,

desde que rege parâmetros como o tempo que leva para uma página de Internet

solicitada para exibir. Se o tempo de reação é muito longo, uma conexão de alta

velocidade não pode fazer muito para melhorar a experiência. Este é apenas um

exemplo onde a latência desempenha um papel. Diferentes serviços têm diferentes

requisitos de latência.

LATÊNCIA INERENTE À TECNOLOGIA RÁDIO

LTE oferece valores de latência imensamente melhorados em comparação

com outras tecnologias sem fio, como o HSPA. De 60 ms em HSPA, a latência

(RTT) é reduzida para 20 ms em LTE. Observe que esses valores só levam em

conta os componentes de latência referentes ao rádio e ao core da rede, ignoram o

fato de que o transporte físico pode (e vai) contribuir significativamente para a

latência total. Em outras palavras, a baixa latência prometida pelo LTE só será

experimentada pelo usuário se o transporte subjacente também suporte baixa

latência.

Page 54: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

53

FIGURA 18 - COMPARAÇÃO DE LATÊNCIA ENTRE AS TECNOLOGIAS 2G, 3G E 4G

(FONTE: MOTOROLA)

COMPONENTES DA LATÊNCIA NO TRANSPORTE

Atraso de propagação: A velocidade da luz é finita, e leva a um tempo de

viagem de cerca de 1 ms por 100km. Isto mostra o impacto da topologia na

latência em geral.

Buffer e atraso de fila: sistemas de transporte baseado em pacotes usam

diversos mecanismos de buffer e filas, cada um dos quais acrescenta atraso. O

planejamento correto do enlace irá minimizar este efeito.

Atraso de transmissão: Um pacote de dados leva certo tempo para ser

transmitido com base em seu comprimento e largura de banda da conexão. Para

grandes pacotes pode levar a atrasos de alguns milissegundos através de

conexões mais lentas.

Atraso de processamento de sinal: Quanto mais processamento de sinal

ocorrer dentro de um enlace, maior o atraso. Portanto, o grande número de nós

de processamento desempenha um papel, assim como a diferença entre

simplesmente conectar a nível óptico e realmente processar operações de

roteamento.

Page 55: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

54

Page 56: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

55

RECOMENDAÇÕES SOBRE LATÊNCIA

Em contraste com algumas das tecnologias anteriores sem fio, não são os

sistemas de rádio (control plane) que impõem limites práticos sobre o atraso no LTE.

Em vez disso, é a maneira que os usuários experimentam diferentes serviços.

Normalmente a experiência torna-se inaceitável muito antes da rede apresentar

problemas. A latência aceitável depende do tipo de serviço. O 3GPP indicou certas

metas de atraso de sentido único para serviços específicos na especificação técnica

TS 23,203.

TAXA

GARANTIDA

LATÊNCIA

ADMITIDA

PERDA DE

PACOTES

ADMITIDA

EXEMPLO DE APLICAÇÃO

GBR

100 ms 10-2 Conversação comum

150 ms 10-3 Conversação comum

(streaming)

50 ms 10-3 Jogos em tempo real

300 ms 10-6 Streaming com buffer

Non - GBR

100 ms 10-6 Sinalização do plano de controle

IMS

300 ms 10-6 Aplicações TCP

100 ms 10-3 Jogos em tempo real, Streaming

300 ms 10-6 Aplicações TCP (Portadora

Premium)

300 ms 10-6 Portadora Comum

TABELA 4 - SENSIBILIDADE DE ALGUMAS APLICAÇÕES QUANTO À LATÊNCIA

As aplicações que apresentam maior exigência de latência são os jogos

online, videoconferência e aplicações machine-to-machine (M2M). Por exemplo, foi

proposto atraso máximo de 50ms para jogos online. No entanto, deve ser notado

que o foco do documento 3GPP é a funcionalidade do core (incluindo priorização de

serviço) e não a própria rede de transportes. Portanto, no atraso fixo de 20 ms (one-

way) foi assumido para a rede de transportes.

Page 57: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

56

Muitas vezes a qualidade de um serviço depende mais da latência real do que

da largura de banda disponível. O protocolo TCP é usado para transferir uma grande

parte do tráfego não tempo real e utiliza procedimento de apresentação (handshake)

para assegurar a transmissão. Isto significa que a taxa de dados alcançável e,

consequentemente, o tempo de download para a maioria das aplicações (páginas

web, música, vídeo, software e assim por diante) é dependente do tempo total de ida

e volta (incluindo rádio LTE, backhaul móvel, núcleo LTE e o domínio Internet).

Isto pode ser melhorado através da ativação de opções específicas da pilha

de protocolos TCP (como a escala de janela do TCP) ou utilizando várias sessões

TCP simultâneas. A aplicabilidade dessas opções de melhoria depende dos

sistemas operacionais individuais utilizados em terminais e servidores, bem da

própria aplicação.

Finalmente, alguns organismos da indústria emitiram recomendações para o

atraso permitido em backhaul móvel. Estes se baseiam nas considerações já

mencionadas. Por exemplo, o NGMN definiu um limite de 10 ms para o atraso de

duas vias, e 5 ms se a operadora o requerer ("Requisitos de backhaul NGMN

otimizados", lançado em agosto de 2008).

No entanto, essas recomendações têm de ser vistas no contexto. Vai ser

difícil manter essa baixa latência em grandes áreas geográficas, uma vez que a

distância de transmissão de apenas 1,000 km esgota completamente este limite de

atraso. Neste caso, um limite de atraso de 40 ms da BTS para o EPC poderia ser

visto como um bom compromisso que ainda permite que os provedores ofereçam os

serviços mais exigentes como jogos em tempo real.

REQUISITOS DE LATÊNCIA PARA INTERFACE X2

A latência da interface X2 também tem suas próprias exigências. Pode

parecer, à primeira vista, que os requisitos são muito rigorosos, pois ela deve ser

considerada durante a fase de handover, onde o link de rádio para o terminal do

usuário será interrompido por um curto período de tempo de qualquer maneira. No

entanto, um encaminhamento de pacotes mais rápido que 60 e 70 ms é

desnecessário. Uma vez que uma rede de transmissão LTE deve ser projetada com

metas rigorosas de atraso, a interface X2 não muda significativamente as coisas. Em

particular, não torna obrigatória a utilização da conectividade direta inter-BTS.

Page 58: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

57

MINIMIZAR A LATÊNCIA PARA OTIMIZAR A EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO

Todos os requisitos de latência são movidos principalmente pela demanda

das aplicações dos usuários. Nesse sentido, uma abordagem que proporcione a

melhor latência possível não vai dar errado, desde que seja economicamente viável.

A otimização end-to-end para a latência deve levar em conta uma série de

fatores, incluindo topologia (distâncias e o número de nós de processamento) e a

distância entre o EPC e o ponto de peering Internet, bem como um

dimensionamento e planejamento adequado de enlace.

O atraso do lado de fora da rede do operador também merece alguma

atenção. Se o conteúdo é armazenado, literalmente, na outra extremidade do

mundo, os valores de atraso serão muito elevados, em qualquer caso. Métodos

como buffer de conteúdo e similares tornam-se cada vez mais importantes.

LATÊNCIA DO LTE COMPARADA A OUTRAS TECNOLOGIAS

FIGURA 19 - COMPARAÇÃO DE LATÊNCIA DO 2G AO 4G (Fonte:

LATÊNCIA 3G X 4G: MUDANÇA DE ESTADO, OCIOSO PARA ACTIVE STATE

O LTE traz uma arquitetura Flat all-IP, uma forma moderna para identificar os

dispositivos em rede utilizando nomes simbólicos, mas mantém a mesma arquitetura

de endereços IP normais, e assim, permite uma estrutura de rede mais simples e um

número reduzido de elementos de rede.

Page 59: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

58

FIGURA 20 - COMPARAÇÃO ENTRE AS ARQUITETURAS UMTS E LTE (FONTE: UMTS FORUM)

Com essa arquitetura:

BSC/RNC desapareceram e suas funções foram transferidas para

eNodeB;

Todas as eNodeBs se interconectam diretamente através da interface X2;

Somente comutação de pacotes, voz sobre IP.

O número de estados de ligação é dependente do número de elementos de

rede envolvidos dentro do caminho da rede de acesso. Quanto mais elementos,

mais tempo é necessário para estabelecer uma sessão. Menos elementos levam a

um melhor desempenho do sistema e um mecanismo de transição mais simples,

permitindo assim uma melhor experiência para o usuário. LTE introduz uma

arquitetura Flat all-IP, reduzindo o tempo que leva para acessar os recursos de rádio

e do core. Assim, o padrão LTE reduziu os estados de conexão de quatro no HSPA

para dois estados, para tirar proveito da arquitetura de rede do LTE.

Hoje, largura de banda é um desafio e em sistemas anteriores, era impossível

manter uma conexão de dados constante. A conexão de cada assinante seria

cortada e colocada em estado ocioso quando não havia mais transmissão de dados

por um período de tempo definido. Por exemplo, a conexão de um usuário

navegando na internet seria colocada em estado ocioso na rede HSPA enquanto o

Page 60: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

59

assinante lê uma página totalmente carregada, e, quando o assinante clica para

solicitar uma nova ligação, a conexão seria restabelecida, resultando em atrasos.

Os tempos de transição entre HSPA estado de repouso para o estado ativo

em Cell-DCH (Cell Dedicated Channel, operação de uma portadora para downlink

em combinação com uma única portadora de uplink) pode chegar a 1000ms. Em

LTE, este não é o caso, a ligação permanece constante eliminando o atraso ao

restabelecer a conexão cada vez que o assinante faz uma requisição. "always-on".

EXPERIÊNCIA DO ASSINANTE

Além do aumento da taxa de dados, as melhorias na latência do LTE

proporcionam uma melhoria significativa na experiência do assinante. Com redes

HSPA, o assinante pode esperar um atraso de dois segundos ou mais, para realizar

a primeira conexão e, em seguida, entre 75 e 150 ms de latência de ida e volta.

Como no LTE é tudo IP, arquitetura plana, a conexão de pacote de dados inicial é

muito mais rápida, tipicamente 50 ms, e, em seguida, entre 12 a 15 ms de latência

de ida e volta. A baixa latência do LTE, combinada com seu alto throughput médio

por setor, faz com que seja uma plataforma ideal para serviços mais exigentes,

como vídeo, jogos e VoIP.

Latência de ida e volta do LTE se compara favoravelmente com a latência

típica em infraestrutura de banda larga fixa de hoje, fornecendo uma resposta

instantânea depois de pressionar botões no browser ou leitor de mídia. Isto terá um

impacto significativo na experiência do assinante e satisfação. Latência também tem

um impacto significativo para aplicações multimídia on-line: como jogos on-line, onde

a resposta e reação do jogador afetam a ação no jogo. Este tempo de reação está

ligado à latência experimentada na rede (supondo atraso insignificante no lado do

servidor).

Com a melhora tanto na taxa de dados e quanto na latência, espera-se que

no LTE as aplicações proporcionem uma experiência muito semelhante à vivida em

casa com a rede de banda larga com fio, "always-on", viabilizando um verdadeiro

serviço de banda larga que vai a qualquer lugar com o assinante.

Page 61: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

60

LTE - 2x2 MIMO

HSPA R8

MIMO

Medida de

Throughput 20 MHz 10 MHz 5 MHz 64 QAM

Taxa real do

assinante

2 - 15

Mbps

2 - 75

Mbps

0.5 - 4

Mbps

0.3 - 3.0

Mbps

TABELA 5 - TAXA MÉDIA REAL DO ASSINANTE

4.3 QUALIDADE DE SERVIÇO (QOS)

DEFINIÇÃO

Qualidade de serviço (QoS) em uma rede é a capacidade da rede para impor

prioridades diferentes para diferentes aplicativos ou serviços (serviços em tempo real

normalmente são mais críticos), assinantes (por exemplo, com perfis de assinatura)

e operadoras (especialmente em situações como o compartilhamento de rede de

transportes). A classe de QoS e Taxa de Bit Garantida (GBR) são significativamente

dependentes do nível de latência (atraso na transmissão de pacotes), jitter (variação

de latência), e perda de pacotes que ocorrem na rede. Sem a implementação de

QoS em uma rede carregada, os assinantes terão vídeos cortados e eco e atrasos

na voz, resultando em má qualidade de áudio em chamadas de voz.

COMPARAÇÃO COM OUTRAS TECNOLOGIAS

O QoS suportado na RAN e nos nós de transmissão das tecnologias GSM,

UMTS e HSPA é muito limitado, o que resulta num QoS end-to-end também limitado.

Isto porque a arquitetura das redes 3GPP não viabilizavam uma aplicação detalhada

de QoS, e assim, a classificação de QoS não estava disponível. O LTE muda este

cenário ao implementar uma rede totalmente IP. Como todos os dados sobre a rede

tornam-se empacotados, alguns pacotes de dados tendem a serem mais críticos do

que outros e a aplicação de QoS nesse cenário é muito mais simples.

QOS NO LTE

Page 62: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

61

Definir QoS não só garante a qualidade de um serviço, mas suporta também

diferentes níveis de serviços para outras aplicações sensíveis à latência e taxa de

bits, tendo um grande impacto sobre a experiência do assinante. LTE adotou um

modelo de QoS baseado em classes que é simples e oferece às operadoras uma

forma eficaz e simples de diferenciar os serviços e os assinantes com variados

níveis de qualidade de serviço viabilizando o fornecimento de serviços premium e

modelos inovadores de faturamento e precificação.

Como discutido anteriormente, o transporte econômico de taxas de dados

LTE vai levar a certo overbooking e congestionamento. Neste ambiente, a QoS é a

ferramenta que garante que, por exemplo, os pacotes de tráfego de voz tenham

tratamento preferencial em relação ao tráfego peer-to-peer.

Uma solução completa de QoS se estende a toda a rede. O core é o principal

responsável pela gestão de QoS, com a definição e divulgação das respectivas

políticas de QoS, trata até mesmo o uso de tecnologias, como DPI (Deep Packet

Inspection). Tanto o acesso de rádio e quanto o core aplicam QoS nos pacotes,

marcando-os com bits de prioridade de VLan ou valores DSCP (Differentiated

Services Code Point) no cabeçalho IP, por exemplo. A aplicação do QoS é garantida

(QoS enforcement) pelos sistemas de rádio (para a interface aérea) e de transporte

(para a rede de transportes).

QOS NA REDE DE TRANSPORTE

Os requisitos de QoS para uma rede de transportes para suportar o LTE

garantem os níveis de serviço apropriados para cada serviço em termos de atraso

de pacotes, variação do atraso e perda de pacotes.

As funções básicas implementadas nos elementos da rede de transporte são

a priorização e reserva de capacidade. Em padrões IETF (Internet Engineering Task

Force) eles são referidos como Serviços Diferenciados (DiffServ) e Serviços

Integrados (IntServ), respectivamente. A implementação de elementos é muitas

vezes uma combinação destes princípios. Haverá algumas reservas de recursos

para parte do tráfego e priorização será utilizada no escalonamento (scheduling).

PRIORIZAÇÃO ("SOFT" QoS)

Sistemas de enfileiramento em vários elementos impõem priorização. Na

interface aérea existe um escalonador (scheduler) de pacote ou quadro que prioriza

Page 63: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

62

os dados. Além disso, algoritmos de gestão de recursos de transporte ou

multiplexação podem ser utilizados.

Mecanismos de enfileiramento normalmente incluem prioridade estrita (para o

tráfego de alta prioridade) e enfileiramento ponderado para as classes de menor

prioridade. O número de filas que podem ser usados para diferenciar o tráfego é

importante, uma vez que esta determina o nível de granularidade, ou o número de

diferentes classes de tráfego que podem ser distinguidos. O máximo de classes que

podem ser diferenciadas com VLan p-bits na camada Ethernet é oito, por isso este

pode ser considerado um número útil de filas.

RESERVA DE RECURSOS ("HARD" QoS)

O controle de admissão estima se haverá recursos suficientes para cada nova

conexão ou fluxo de tráfego. Esta funcionalidade é obrigatória na implementação de

conexões de taxa de bits garantidos. A reserva de recursos estática, através do

Sistema de Gerenciamento de Rede (NMS), é uma boa opção no backhaul móvel,

por exemplo, pela utilização de serviços com Committed Information Rate (CIR) e

Peak Information Rate (PIR).

As operadoras podem deliberadamente limitar a taxa de transferência de uma

conexão utilizando o mecanismo de buffer, de modo a não exceder a taxa de bits

máxima pré-definida (traffic shaping), ou descartar pacotes que irá exceder a taxa

máxima de bits (traffic policing). Traffic shaping e policing também podem ser usados

em sistemas de enfileiramento como mecanismos de controle de congestionamento.

Na implementação de QoS em um caso real, a classificação e marcação de tráfego

é realizada tanto pela BTS e quanto pelos gateways, com base na informação

recolhida nos gateways e o servidor de política (policy server). Para o caso mais

típico de diferenciação baseada em serviços, esta classificação depende do QCI

(Identificador de classe QoS), conforme definido pelo 3GPP (veja a tabela 6). O valor

do QCI referencia o tipo de aplicação e é usado dentro da rede de acesso como

referência para controlar o tratamento de encaminhamento de pacotes. Valores de

QCI são traduzidos em uma marcação de prioridade de pacote (valor de prioridade

DSCP e / ou VLAN) aplicada pelas BTSs e gateways. Da mesma forma, o plano de

controle, gestão e sincronização do tráfego é marcado para garantir que receba o

tratamento adequado de prioridade nas interfaces de saída.

Page 64: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

63

DOMÍNIO DE RÁDIO LTE

DOMÍNIO DE

TRANSPORTE

Classe de tráfego LTE QCI Tipo de Recurso

DSCP

Conversação por voz 1

Taxa de bits

garantida (GBR)

46 (5)

Conversação por vídeo 2

26 (3)

Jogo em tempo real 3

46 (5)

Vídeo sem conversação 4

28 (3)

Sinalização IMS 5

Taxa de bits não

garantida

(Non-GBR)

34 (4)

Voz, vídeo e jogos interativos 6

18 (2)

Video por streaming com buffer 7 20 (2)

Aplicações TCP 8

10 (1)

9

0 (0)

Plano C

46 (5)

Plano M

34 (4)

Plano S

46 (5)

ICMP

10 (1)

TABELA 6 - EXEMPLO DE MAPEAMENTO DA QOS DE RÁDIO LTE PARA QOS DE TRANSPORTE

Com base nessas marcas de QoS, os elementos da rede de transporte no

caminho do pacote podem então garantir que cada pacote é tratado de acordo com

seus requisitos, por exemplo, atribuindo a ele para as filas corretas. Isto pode ser

combinado com o controle de conexão para os elementos da rede de transmissão,

adicionando um componente de hard QoS.

QoS END-TO-END

É importante diferenciar Qualidade de Experiência (QoE) e QoS. O primeiro

descreve a qualidade da experiência do usuário final, enquanto o último é o método

usado para gerenciar essa experiência.

QoS pode ser uma ferramenta poderosa para alcançar uma QoE LTE para o

usuário final. Pode levar em conta as necessidades dos diferentes serviços, bem

Page 65: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

64

como o SLA adquirido pelo cliente. Ele ajuda a gerenciar os recursos em ambientes

congestionados, especialmente onde há pressão sobre acesso sem fio e backhaul

no domínio móvel. QoS é um conceito que permite a um caso de negócio (business

case) viável. No entanto, QoS devem ser gerenciados de forma consistente end-to-

end. A QoS do rádio LTE tem que estar alinhada com a implementação da rede de

transporte, mas o transporte de rede também tem de atender às necessidades de

QoS de 3G ou, ainda mais rigorosa, 2G de tráfego de pacotes. Note, no entanto, que

da mesma forma como latência, qualquer operadora tem controle sobre QoS apenas

dentro de sua própria rede. Assim que o tráfego sai para a Internet, o tratamento é

essencialmente melhor esforço.

4.4 PERDA DE PACOTES

A perda de pacotes (packet loss) ocorre quando um ou mais pacotes de

dados que trafegam em uma rede de computadores não conseguem chegar ao seu

destino. É distinguida como um dos três principais tipos de erros encontrados na

comunicação digital, sendo os outros dois: erro de bits e pacotes espúrios causados

devido ao ruído.

Essa perda pode ser causada por uma série de fatores, principalmente devido

ao congestionamento da rede (overflow de buffer do router), falhas de conexão e

reencaminhamento, erros de transmissão, pacotes corrompidos rejeitados em

trânsito, colisões excessivas, e ainda, efeitos de degradação do sinal como: o

desvanecimento multipercurso, erros de mídia física, etc.

Quando causados por problemas na rede, pacotes perdidos ou descartados

podem resultar em problemas de desempenho altamente visíveis ou jitter em

tecnologias de streaming, voz sobre IP, jogos online e videoconferência, e afetará

todos os outros aplicativos de alguma forma. No entanto, é importante notar que a

perda de pacote não indica sempre um problema, uma vez que a latência e perda de

pacotes no destino sejam aceitáveis. Além disso, um pacote perdido pode ser

retransmitido da fonte ao destino, a fim de assegurar que todos os dados sejam

eventualmente transferidos da fonte ao destino, mas os custos de processamento e

taxa de transmissão devem ser considerados.

Page 66: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

65

PERDA DE PACOTES ACEITÁVEL

A perda de pacotes aumenta com o aumento da intensidade do tráfego. Por

isso, o desempenho de um nó geralmente é medido não só em termos de demora,

mas também em termos de probabilidade de perda de pacotes. A fração de pacotes

perdidos aceitável depende do tipo de dados a serem enviados. Por exemplo, para o

tráfego de voz sobre IP, perder um ou dois pacotes esporadicamente não afeta a

qualidade da conversa. Perdas de 5% a 10% do fluxo total de pacotes afetam de

forma significativa a qualidade. Por outro lado, ao transmitir um documento de texto

ou uma página da Web, um único pacote descartado poderia resultar na perda de

parte do processo, o que torna indispensável o emprego de sistemas de

retransmissão de pacotes. Em geral, utilizando o protocolo TCP / IP, uma perda de

pacotes inferior a 0,1% (um pacote perdido em cada 1000 pacotes) pode ser

tolerada, qualquer coisa superior terá mais ou menos impacto (dependendo das

circunstâncias) e precisa ser tratada.

TRATAMENTO DA PERDA DE PACOTES

Alguns protocolos de transporte de rede, como TCP preveem a entrega

confiável de pacotes. Em caso de perda de pacotes, o receptor pede retransmissão

ou o remetente reenvia automaticamente todos os segmentos que não foram

reconhecidos. Apesar de o TCP poder se recuperar da perda de pacotes,

retransmitir pacotes em falta faz com que a taxa de transferência diminua. Numa

situação em que a quantidade de dados a serem enviados por uma conexão está

crescendo e chegando ao limite de capacidade da conexão, problema conhecido

como “gargalo”, não há outra solução senão a descartar pacotes. Para contornar

esse problema, o protocolo TCP é projetado com uma estratégia de conexão slow-

start que usa a perda de pacotes percebida como realimentação, assim, ao perceber

uma alta taxa de perda de pacote o remetente pode desacelerar o envio de dados e

evitar a inundação de dados no ponto de gargalo. Assim, os pacotes de dados serão

transmitidos durante maior tempo, mas evitando a perda e garantindo a entrega de

pacotes.

No entanto, descartar pacotes quando a fila está cheia é uma solução pobre

para qualquer ligação que requer processamento em tempo real. Nos casos em que

a qualidade de serviço é dependente da taxa de uma ligação, os pacotes podem ser

intencionalmente descartados a fim de retardar serviços específicos para garantir a

Page 67: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

66

largura de banda disponível para outros serviços marcados com maior importância

Por esta razão, a perda de pacotes não é necessariamente uma indicação de

confiabilidade má conexão ou um gargalo.

Protocolos como UDP não fornecem recuperação de pacotes perdidos.

Assim, as aplicações que usam UDP devem definir seus próprios mecanismos para

lidar com a perda de pacotes.

PERDA DE PACOTES NO LTE

Como mencionado anteriormente, apesar de tolerável a perda de pacotes é

mais prejudicial em serviços críticos de tempo real como os serviços de voz (VoLTE

no caso do LTE). Codecs de voz levam em conta a possibilidade de perda de

pacotes, especialmente desde que os dados RTP são transferidos sobre a camada

UDP, não confiável.

A perda de pacotes começa a afetar o serviço de voz quando a percentagem

de perda de pacotes excede um determinado limiar (em cerca de 4% dos pacotes),

ou quando as perdas ocorrem em rajadas (burst error), que tende a ser o caso,

devido à natureza de ocorrência de erros. Nestas situações, mesmo as melhores

codecs não serão capazes de ocultar os efeitos sobre o serviço, resultando na

degradação da qualidade da voz. Por estas razões, é importante saber tanto a

percentagem de perda de pacotes, o comportamento de ruptura e se estas perdas

são especificamente no lado do uplink ou downlink de serviço de rede.

Page 68: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

67

5 ESTUDO DE CASO: IMPLANTAÇÃO DO LTE NO BRASIL

A implantação do LTE no Brasil sofreu a influência de diversos fatores. Além da

evolução tecnológica, a forma como o mundo se comunica mudou, utiliza-se

diversos dispositivos móveis, e estes dispositivos estão cada vez mais sofisticados,

permitindo comunicação multimídia a qualquer hora, em qualquer lugar. Nesse

contexto, o número de usuários de serviços de dados, bem como o uso de dados

por assinante cresceu e continua crescendo vertiginosamente. Podemos considerar

ainda a realização de grandes eventos no país como a Copa das Confederações, e

recentes mudanças na regulamentação da implantação e competição dos serviços

de telecomunicações. Tudo isso influencia significativamente no planejamento,

dimensionamento e estudos econômicos prévios à implantação do 4G.

Nesse contexto, as grandes exigências regulatórias, econômicas e dos

usuários torna cada vez mais importante um projeto adequado, capaz de entregar

uma rede de alta capacidade com qualidade e baixo custo, e o uso de um simulador

em nível de sistema (em conjunto com um simulador em nível físico) traria grandes

benefícios, facilitando e otimizando bastante o projeto e implementação de tal rede.

Nesse estudo de caso será apresentada uma visão geral da implantação do

LTE no Brasil, abordando alguns dos fatores que tiveram influência significativa no

modo como a rede foi implantada e a escolha de tecnologia.

5.1 ASPECTOS REGULATÓRIOS – ANATEL

Esta seção apresenta os aspectos regulatórios, relacionados à ANATEL

(Agência Nacional de Telecomunicações), que influenciaram na implantação do LTE

no Brasil.

LICITAÇÃO DE FREQUÊNCIAS DE 4G - ANATEL

Ao escolher em 2007 o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, a FIFA

(Fédération Internationale de Football Association) cobrou do governo brasileiro a

garantia de um "serviço exemplar" de telecomunicações, ciente da enorme demanda

por conexão de dados tanto por parte dos torcedores como da mídia. A promessa do

Page 69: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

68

governo foi de que haveria a oferta de serviços de Internet móvel de quarta geração

(4G) a tempo para os eventos.

Devido aos outros serviços em operação, como a TV aberta analógica, a faixa

reservada para o LTE e licitada inicialmente foi a de 2,5 GHz. Detalhes sobre a

licitação serão apresentados a seguir.

OBJETO DO LEILÃO

O leilão ocorreu no dia 12 de junho de 2012 e ofertava:

Quatro lotes nacionais para as subfaixas W, X, V1 e V2.

Lotes por área local do celular (DDD) para as frequências disponíveis nas

subfaixas U+T e P.

FIGURA 21 - FREQUÊNCIAS DE 2,5 GHZ NO BRASIL (FONTE: TELECO, 2013)

A faixa de frequência entre 2.500-2.570 MHz e 2.620-2.690 MHz (subfaixas P,

W, V e X) foi destinada para operação FDD (canais separados para transmissão e

recepção). Já as subfaixas T e U, que estão entre 2.570 e 2.620 MHz, para

operação TDD (transmissão e recepção no mesmo canal).

Page 70: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

69

SUBFAIXA

(MHZ)

BLOCOS

(MHZ) TRANSMISSÃO (MHZ)

ESTAÇÃO

MÓVEL ERB

P 10+10 2.500-2.510 2.620-2.630

W 20+20 2.510-2.530 2.630-2.650

V1 10+10 2.530-2.540 2.650-2.660

V2 10+10 2.540-2.550 2.660-2.670

X 20+20 2.550-2.570 2.670-2.690

T 15 2.570-2.585*

U 35 2.585-2.620*

TABELA 7 - FAIXAS DE FREQUÊNCIA POR BLOCO (FONTE: TELECO, 2013)

* Sistemas TDD (Time Division Duplex) que utilizam a mesma subfaixa de frequências para

transmissão nas duas direções.

O regulamento estabeleceu um valor máximo de espectro que uma

operadora pode possuir em uma região geográfica nestas faixas (CAP, Competitive

Access Providers): 60 MHz (2.500-2.570 MHz e 2.620-2.690 MHz) ou 50 MHz (2.570

e 2.620 MHz). As operadoras de MMDS (Multichannel Multipoint Distribution Service)

possuem parte deste espectro. Entre elas está a Telefônica, que adquiriu as

operações da Abril e a Sky que em 2011 passou a oferecer LTE (TDD) em Brasília.

A Tabela a seguir apresenta os resultados do leilão.

Page 71: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

70

OPERADORA

VALOR

(EM MILHÕES DE

REAIS)

FREQUÊNCIAS ADQUIRIDAS

Vivo 1.050 Banda X (20+20 MHz) em todo o Brasil

Claro 988,8

Banda W (20+20 MHz) em todo o Brasil

19 lotes da banda P

TIM 382,2

Banda V1 (10+10 MHz) em todo o Brasil

6 lotes da banda P

Oi 399,8

Banda V2 (10+10 MHz) em todo o Brasil

11 lotes da banda P

Sky 90,5 12 lotes da banda U

Sunrise 19 12 lotes da banda U

TABELA 8 - RESULTADOS DO LEILÃO (FONTE: TELECO, 2013)

Os participantes do leilão foram as empresas: Vivo, Claro (Americel), TNL

PCS, TIM (Intelig), SKY e Sunrise, que ofereceram R$ 2,93 bilhões pelo direito de

uso dessas radiofrequências. O ágio médio chegou a 31,27% em relação aos

valores mínimos dos lotes colocados em disputa.

Divisão de áreas para prestação dos 450 MHz de acordo com as subfaixas

FDD (W,V1, V2 e X):

Page 72: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

71

FIGURA 22 - DIVISÃO DE ÁREAS PARA SERVIÇO DE FDD EM 450 MHZ (FONTE: TELECO, 2013)

COMPROMISSOS PARA AS SUBFAIXAS W, X, V1 E V2

As operadoras que adquirirem estas faixas terão de atender aos seguintes

compromissos:

Oferta de acessos rurais em 450 MHz, caso não apareça comprador para

esta faixa na licitação.

Cobertura utilizando as faixas adquiridas

Cobertura 3G

Utilização de Tecnologia Nacional

Page 73: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

72

COMPROMISSOS DE ABRANGÊNCIA EM 2,5 GHZ

PRAZO COBERTURA

Abril de 2013 TODAS as sedes da Copa das Confederações 2013

Dezembro de 2013 TODAS as SEDES e SUBSEDES da Copa do Mundo 2014

Maio de 2014 TODAS as Capitais e municípios com mais de 500 mil hab.

Dezembro de 2015 TODOS os municípios com mais de 200 mil hab.

Dezembro de 2016 TODOS os municípios com mais de 100 mil hab.

Dezembro de 2017 TODOS os municípios entre 30 e 100 mil hab.

TABELA 9 - PRAZOS PARA COBERTURA DE SERVIÇO 4G NOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Haverá ao menos uma prestadora em 2,5 GHz e, em todos os municípios, será

ofertado de serviço em condições tecnológicas equivalentes ao 3G.

COMPROMISSO DE COBERTURA 3G

Em 2017, de acordo com o compromisso de abrangência em 2,5 GHz, em

2017 todos os municípios acima de 30 mil habitantes estarão sendo atendidos por

serviço 4G. Enquanto isso, os municípios com menos de 30 mil habitantes, que

correspondem 24% dos municípios brasileiros, não estarão sendo atendidos. Abaixo

segue a tabela com o compromisso de cobertura desses municípios, que deverá ser

feita com 4G em 2,5 GHz ou oferta de tecnologia equivalente ou superior ao 3G.

PRAZO COBERTURA

Dezembro de 2017 Pelo menos 30 % deles

Dezembro de 2018 Pelo menos 60% deles

Dezembro de 2019 100% dos municípios previstos na meta

TABELA 10 - COMPROMISSO DE COBERTURA DE SERVIÇO MÓVEL 3G/4G - MUNICÍPIOS < 30 MIL HAB

Page 74: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

73

5.2 INFRAESTRUTURA

A frequência do 4G no Brasil é a de 2,5 GHz. Essa faixa de espectro demanda

até cinco vezes mais antenas que as redes anteriores 3G, o que indica que as

operadoras terão um alto investimento em infraestrutura para concluir as

implementações, especialmente ao considerarmos as exigências de cobertura, que

incluem municípios com pelo menos 30 mil habitantes, zonas rurais e as principais

estradas do país.

Reduções de custos e entraves legais na autorização para instalação deste

tipo de estrutura costumam limitar a quantidade de antenas disponíveis nos centros

urbanos brasileiros, criando sobrecargas na rede.

Visando reduzir os custos na implementação, o Ministério das Comunicações

junto com a Anatel, incentivaram o compartilhamento das antenas entre as

operadoras, através de desconto na taxa anual paga a Anatel. O compartilhamento

de antenas e infraestrutura representa ainda, se bem estruturado, a solução para

muitos dos problemas causados pela concentração exagerada de usuários em uma

mesma antena, o que prejudica a qualidade dos serviços, além de uma redução

significativa no prazo para implantação.

LEI GERAL DAS ANTENAS

No ano passado, 2012, o senado brasileiro aprovou o projeto de lei PLS nº 293

de 2012 (setembro), batizado de Lei Geral das Antenas, proposto após a medida de

suspensão da comercialização de novos acessos de serviços de telefonia móvel em

todos os estados, em julho, editada pela ANATEL, em vista do crescente volume de

reclamações dos usuários. O projeto aborda normas gerais de política urbana,

ambiental e de saúde que deverão reger o processo de licenciamento e instalação

de antenas, e visa a mitigar os efeitos negativos decorrentes da multiplicação dos

componentes das redes em um ambiente cuja competitividade depende, atualmente,

da propriedade da infraestrutura.

ESCASSEZ DE ESPECTRO

O crescimento do volume de dados trafegados pelos usuários leva a uma

demanda cada vez maior de banda, elevando ainda mais a importância da eficiência

Page 75: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

74

espectral e de um bom dimensionamento de rede. O gráfico a seguir apresenta a

projeção do crescimento da demanda de banda em relação à demanda de serviços

pelos usuários.

FIGURA 23 - EVOLUÇÃO DA DEMANDA DE BANDA (FONTE: SPECTRUM BRIDGE, INC – 2010)

Apesar de já estar sendo implementada em diversos países, a tecnologia LTE

tem se mostrado fragmentada por conta de diferentes frequências utilizadas e de

difícil interoperação, devido às diferentes condições de disponibilidade de espectro

nos países. Nesse contexto, a indústria não chegou ao ponto de permitir que

dispositivos se conectem com a tecnologia 4G em qualquer lugar do mundo, pois,

não existem aparelhos 4G multibanda disponíveis. Por precisar de muitas antenas

(para as várias frequências), o LTE requer muito poder de computação, e isso faz

com que a bateria tenha sua eficiência comprometida, tornando necessários muitos

ciclos para localização e triangulação. Existem pesquisas focadas em solucionar o

problema, voltadas para otimização de hardware. Enquanto isso, aparelhos que se

encontrem em locais com incompatibilidade de frequências deverão se conectar em

redes 3G, o que invalida a promessa de velocidade do 4G.

Ao mesmo tempo, as operadoras precisam lidar com regulações e problemas

de ineficiência de espectro, tornando mais difícil uma harmonização de frequências.

É necessária uma limpeza do espectro, consolidando a banda e usando de maneira

Page 76: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

75

eficiente. Há um senso comum de que há uma escassez de frequências, e isso é

bem verdade. Mas muito do problema é o uso de espectro em bandas não-

contínuas, que não foi usado ou planejado corretamente, uma questão de

organização.

5.3 ASPECTOS ECONÔMICOS

A implantação de LTE vai exigir grandes investimentos. E mesmo se o LTE

viabilizar os serviços de alta velocidade que prometem uma inundação de tráfego, a

receita que eles geram provavelmente não vai aumentar da mesma forma,

especialmente porque os assinantes desejam banda larga de qualidade a um preço

baixo.

A maioria dos custos iniciais está relacionada ao estabelecimento de cobertura

(aporte de capital - CAPEX). Cerca de 70% do CAPEX envolve a aquisição dos

locais, equipamentos de acesso, obras civis (ou seja, a construção do site, e a

instalação dos equipamentos) e instalação da rede de transmissão (lançamento de

fibras, etc.). Com o 4G, estas questões fundamentais de implementação serão ainda

mais complicadas pela falta de locais, regulamentações ambientais mais rígidas, e

as preocupações de saúde sobre os perigos da radiação.

O número de usuários de serviços de dados assinantes, bem como o uso de

dados por assinante está explodindo. Por outro lado, a receita gerada não aumenta

da mesma forma. A explosão do tráfego de dados é explicada tanto por uma

mudança na forma como nos comunicamos quanto na rápida evolução dos

dispositivos sem fio, permitindo comunicação multimídia a qualquer hora, em

qualquer lugar. Isso tem redefinido como os consumidores interagem tanto social

quanto empresarialmente, adotando novos serviços e dispositivos rápida e

intuitivamente.

A receita gerada pela explosão do tráfego de dados não aumenta da mesma

forma, porque os assinantes estão cada vez mais exigentes, desejam banda larga

de maior qualidade a baixo preço. Assim, as operadoras precisam implantar redes

sem fio capazes de atender essa demanda, com maior capacidade, e ao mesmo

tempo reduzindo o custo total de propriedade, além de encontrar novos modelos de

Page 77: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

76

negócios de forma a criar novas fontes de receita. Agora, o caminho para uma

operadora seria escolher o caminho de atualização ou se tornar obsoleta.

5.4 SOLUÇÃO - LTE RAN SHARING

Em meio à conjuntura atual, devendo atender a tantas exigências regulatórias,

econômicas, tecnológicas e o prazo determinado, as operadoras brasileiras viram no

compartilhamento da RAN (Radio Access Network) a solução para atender a todos

esses requisitos.

Soluções de infraestrutura de rede compartilhadas podem ser exploradas, a fim

de reduzir os riscos financeiros enfrentados pela indústria, estabelecer uma

cobertura universal mais rápido e, assim, melhorar o time-to-revenue (tempo para

obter receita). O compartilhamento tem um impacto significativo sobre time-to-

revenue porque a aquisição de terrenos e recursos de implantação é escassa e

estão sempre no caminho crítico de lançamento. Mas o mais importante, a partilha

de infraestrutura traz grande economia de CAPEX e OPEX (despesas operacionais),

permitindo assim às operadoras se concentrarem no desenvolvimento de aplicações

e serviços exigidos pelo mercado, o que acabará por conduzir o uso, gerar receita e

sustentar o negócio global de banda larga sem fio.

Nesta seção será descrita o compartilhamento de redes e RAN, e em seguida

os acordos de compartilhamento feitos no Brasil, especificamente o acordo entre OI

e TIM.

BENEFÍCIOS DO COMPARTILHAMENTO DE REDE

Operadoras

Economia significativa de CAPEX e OPEX;

Maior eficiência na rede;

Menor prazo para entrar em operação.

Assinantes

Menores preços;

Maior qualidade de serviço;

Variedade, serviços abundantes;

Page 78: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

77

Sem impacto no dispositivo móvel.

Reguladores

Permitir aos operadores sobreviver e competir;

Permitir que os operadores se concentrem na implantação dos serviços;

Redução do impacto ambiental.

COMPARTILHAMENTO DE REDE

Compartilhamento de rede não é novidade no mercado de comunicação

móvel. Operadoras em todo o mundo já compartilham torres de transmissão e sites.

Entretanto, a maioria dos contratos de compartilhamento de rede hoje está limitada a

partilha passiva em que os operadores compartilham os sites e os elementos de

engenharia civil. O compartilhamento de rede ativa onde as operadoras partilham

partes da BTS, antenas ou mesmo controlador de rede de rádio não é amplamente

utilizado em redes 2G e 3G.

Na maioria dos países os reguladores abraçam a partilha passiva como um

meio de evitar duplicações de rede, reduzir os custos de investimento inicial e

minimizar o impacto sobre o meio ambiente, enquanto criam incentivos para a

implantação de serviços em áreas carentes. Por outro lado, a partilha ativa continua

a ser um assunto mais delicado. O principal contra argumento é que a partilha ativa

poderia levar a um comportamento anticoncorrencial dos preços e serviços.

Do ponto de vista tecnológico, mecanismos de compartilhamento foram

construídos para funcionar com o padrão LTE desde o início. LTE é projetado com

uma moderna arquitetura baseada em IP, que é uma plataforma mais flexível do que

as tecnologias legadas. Ele também fornece mecanismos padrão para se interligar

com outros sistemas baseados em IP.

O compartilhamento da RAN nas redes LTE representa a verdadeira

convergência das famílias de redes 3GPP e 3GPP2, como uma evolução lógica para

ambas as famílias de tecnologias. É a primeira vez que a tecnologia evolui tanto na

RAN e na CN, com um núcleo todo IP e modulação baseada em OFDM para a rede

de RF, dando início a uma evolução end-to-end de banda larga sem fio.

Page 79: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

78

COMPARTILHAMENTO PASSIVO

O compartilhamento passivo é aquele que envolve somente os sites e os

elementos de engenharia civil, existem dois tipos, descritos a seguir.

Tipo I: Compreende o compartilhamento de infraestrutura física entre duas ou

mais operadoras, incluindo sistemas de antenas, postes, telhados, armários,

abrigos, espaço físico, alarmes de segurança e instalações técnicas passivas como

fonte de alimentação, backup de bateria, etc. Trazem economia de 25-50% no

aluguel do site e até 50% na construção do site e nos custos com gabinetes, etc.

Tipo II: Compreende o compartilhamento de infraestrutura física e ainda os

sistemas de antena e alimentadores, viáveis juntamente com o compartilhamento de

BBU (Baseband Unit) / RRU (Remote Radio Unit). Permite ainda o compartilhamento

de backhaul, viável na forma de E1, E3 ou Micro-ondas. A economia é ainda mais

elevada do que no tipo 1.

COMPARTILHAMENTO ATIVO

No compartilhamento ativo as partes compartilham, além dos sites e

construções, as ERBs, antenas e o controlador de rede de rádio, ou seja, a RAN –

Rede de Acesso Rádio (ou eRAN - Evolved RAN - no caso do LTE). O 3GPP definiu

duas abordagens para a partilha da eUTRAN, o MOCN e o GWCN, descritos a

seguir.

MOCN (Multi Operator Core Network)

FIGURA 24 - TOPOLOGIA MOCN

Page 80: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

79

No MOCN, Rede de Acesso Rádio Multi-Operador, as operadoras

compartilham o site e a rede de acesso rádio (eUTRAN), que no 4G compreende a

eNodeB, e podem compartilhar também seus espectros ou utilizá-los de forma

dedicada.

Nessa abordagem, a eUTRAN partilhada está ligada a vários CN (Rede Core)

por meio da interface S1. Cada operador de rede móvel tem a sua própria EPC. O

tráfego de cada operadora é separado no backhaul e encaminhado a sua respectiva

CN. Assim, o MME, o PGW e o SGW não são partilhados e estão localizados em

diferentes CN. A interface S1 flexível permite que a eNodeB seja ligado a diferentes

CN. Ele também permite conectar a eNodeB a vários MME e SGW num determinado

CN, viabilizando o balanceamento de carga entre MME e SGW de um dado CN.

Cada operadora de rede móvel pode ter sua própria eUTRAN (dedicada),

além da eUTRAN partilhada com outra operadora. Por exemplo, cada operadora de

rede móvel tem a sua própria eUTRAN em densas áreas urbanas e compartilha uma

eUTRAN em áreas onde a sua implantação dedicada não é economicamente viável

(por exemplo, áreas rurais).

SELEÇÃO DE REDE NO COMPARTILHAMENTO DA E-UTRAN

A seleção da operadora ou PLMN (Rede Móvel Terrestre Pública) em MOCN

é composta pelos seguintes passos:

PLMN IDs dos diferentes operadores de redes móveis são transmitidos na

interface aérea no Bloco de Informações do Sistema (SIB).

O equipamento do usuário (UE) decodifica as informações do sistema e

executa o processo de seleção do PLMN ID da sua operadora.

A PLMN ID selecionada é especificada no procedimento de conexão RRC.

A eNodeB usa o PLMN ID selecionado para encaminhar a requisição

anexa a uma MME pertencente a CN correta.

Além do eUTRAN compartilhado e dedicado a cada operador de rede móvel

pode ter suas próprias redes de acesso 2G e 3G.

Page 81: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

80

Assim, a RAN é fisicamente compartilhada, mas logicamente dividida em

duas e o core da rede é separado por operadora. E não há impactos à mobilidade

com redes não compartilhadas, sejam 2G, 3G ou 4G.

ESPECTRO COMPARTILHADO X DEDICADO

O MOCN com uso de espectro dedicado, também conhecido como MORAN

(Multi Operator Radio Access Network), permite que as operadoras controlem o

rádio e os amplificadores de potência de forma independente, a fim de permitir que

os operadores possam utilizar as suas frequências atribuídas. Partes da eNodeB

são logicamente particionadas entre as operadoras: particionamento lógico de

portadoras.

No MOCN com uso de espectro compartilhado as operadoras utilizam o

mesmo espectro e configurações de rádio e potência, cada uma transmitindo seu

PLMN ID. Assinantes de operadores com espectro dedicado só podem realizar

acesso à rede utilizando o respectivo espectro do operador.

Compartilhamento de espectro é mais eficiente, pois não cria uma estrita

separação dos recursos de rádio entre os operadores. Estrita separação significa

que, se os assinantes de uma operadora estão usando toda a largura de banda da

operadora, então nenhum assinante adicional deste operador poderá entrar na rede

nesta célula, mesmo se ainda houver a largura de banda disponível do outro

operador. Compartilhamento de espectro também reduz a sobrecarga e permite

apoiar maior taxa de pico como a largura de banda disponível é mais importante.

Page 82: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

81

ESPECTRO DEDICADO (MORAN) ESPECTRO COMPARTILHADO

(MOCN)

Espectro dedicado para cada operadora Várias operadoras compartilham o

mesmo espectro

Recursos de banda básica

independentes

Recursos de banda básica

compartilhados

Recursos no nível de célula separados

por operadoras (recursos da eNodeB

são compartilhados)

Recursos a nível de célula são os

mesmos para os operadores

Assegura a operação com políticas

diferenciadas por operadoras Independência operacional da rede

Solução mais independente Economia na aquisição de espectro

para operação

Grande eficiência espectral

Maior Throughput alcançável

Possibilita a eliminação da faixa de

guarda

TABELA 11 - COMPARAÇÃO MORAN X MOCN

GWCN – GATEWAY CORE NETWORK

FIGURA 25 – COMPARTILHAMENTO GWCN

Page 83: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

82

Nessa abordagem, além da eRAN, as operadoras compartilham também o

MME. Oferece menor custo ao também compartilhar o MME, porém traz maior

complexidade no roteamento de tráfego na rede.

MOCN x GWCN

As duas abordagens são bem parecidas, diferenciando-se somente na

possibilidade (ou não) de compartilhar o espectro e o compartilhamento do MME.

Em nível de sistema, as principais diferenças são que no MOCN o MME que não é

compartilhado não necessita de interfaces para o MSC e SGSN, nem conhecer

todos os endereços HSS dos parceiros.

CONFIGURAÇÕES NO COMPARTILHAMENTO ATIVO 3GPP

COMPARTILHAMENTO DE

REDE

MOCN - Somente a eUTRAN

GWCN - eUTRAN e parte da EPC (MME)

SEGURANÇA IPSec baseada em VLAN por operadora

GESTÃO DE QOS

Os parceiros podem controlar QoS utilizando o

padrão QoS Classe Identifier (QCI) e podem

configurar adicionalmente QCIs específicos por

operadora

ESPECTRO Dedicado ou Compartilhado

BACKHAUL Dedicado ou Compartilhado

PERFIS DE MOBILIDADE

(ESPECÍFICO POR

PARCEIRO)

Intra-LTE de compartilhada para compartilhada

Intra-LTE de compartilhada para dedicada

Inter-RAT (eUTRAN para UTRAN) de compartilhada

para dedicada

SUPORTE DE VOZ

(ESPECÍFICO POR

PARCEIRO)

CSFB (Circuit Switched FallBack)

VoLTE (Voice over LTE)

TABELA 12 - OPÇÕES DE CONFIGURAÇÃO DE COMPARTILHAMENTO DEFINIDAS NO PADRÃO LTE

PELO 3GPP.

Page 84: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

83

Todas estas medidas são compatíveis com os padrões LTE (3GPP Release 8

em diante).

ASPECTOS SIGNIFICATIVOS NÃO DEFINIDOS NO PADRÃO 3GPP

Existem aspectos relativos ao compartilhamento de rede ativo no LTE que

não foram definidos no padrão da tecnologia pelo 3GPP, sendo assim definidos

diretamente pelas partes envolvidas, alguns deles são:

Compartilhamento de recursos de capacidade: Pode ser partilha total,

segregado total ou parcialmente segregado;

Informações de uso e contadores: Separado por PLMN-ID;

Gerenciamento de QoS (Específico por parceiro): Policy e Shaping de

tráfego;

Considerações sobre o gerenciamento de rede: Gerenciamento de falhas,

configuração, gestão, desempenho e segurança;

Considerações de negócios: Planejamento e compartilhamento das

despesas da rede.

DESAFIOS NO COMPARTILHAMENTO DE REDE

A tecnologia não é o principal obstáculo, o compartilhamento de rede requer

alinhamento estratégico entre as operadoras em compartilhamento.

QoS: Uma QoS homogênea deve ser fornecida pela eUTRAN compartilhada

e pela o eUTRAN dedicado.

QoE: A qualidade da experiência deve ser a mesma para os assinantes. A

diferenciação entre os parceiros estarão em serviços e nível de aplicações.

Nível de concorrência: Cobertura, QoS, privacidade e roaming.

Prioridades de crescimento: Precisa de comum acordo em estratégia de

evolução e plano de migração de rede.

Gestão e Manutenção: Qual dos participantes será responsável, ou se será

terceirizado.

Capacidade, atualização de hardware: Atualizações de capacidade e

expansão trazem desafios técnicos e de gestão.

Seleção de fornecedor: Comum acordo na seleção e alinhamento de

fornecedores para rede compartilhada.

Page 85: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

84

Regulamentação: Pode ser necessária negociação com o regulador para se

adaptar as condições da licença.

Aspectos comerciais e jurídicos: Pode ser necessário o estabelecimento de

uma joint venture entre parceiros de compartilhamento. Acordos sobre SLA,

multas, escopo, duração e modelo de divisão de despesas deve ser definido.

QOS NO COMPARTILHAMENTO DE REDE

O objetivo do modelo de QoS end-to-end é controlar a quantidade de tráfego

fluindo no eUTRAN a fim de:

Cumprir os requisitos de SLA entre o prestador da eUTRAN e os

diferentes operadores de CN;

Proteger os recursos da eUTRAN de tráfego descontrolado no sentido da

eUTRAN que resultaria em grande congestionamento. Isto é

especialmente verdadeiro no caso de um puro atacadista (wholesaler)

vender capacidade eUTRAN para diferentes operadores CN. Um excesso

de tráfego de um operador poderia levar a uma violação do SLA de outros

operadores compartilhando a eUTRAN. Além disso, o atacadista precisa

garantir um acesso justo aos recursos da eUTRAN por parte dos

operadores compartilhando o eUTRAN.

Vários mecanismos são usados para controlar a QoS dentro do eUTRAN

partilhada:

No nível da eNodeB: Controle de Admissão de Chamada; Política por

portadoras de rádio; Traffic shaping por operadora; Marcação baseada em

QoS Class Identifier (QCI) especificado no estabelecimento portadora de

rádio;

No roteador de borda eUTRAN, características de QoS IP podem ser

utilizadas para: Realizar policiamento e modelagem em nível agregado

para controlar a quantidade de tráfego proveniente de cada operador CN

em DL;

Dentro da rede de transportes entre a eNodeB e o roteador de borda

eUTRAN: A rede de transportes deve apoiar QoS para fornecer a

Page 86: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

85

prioridade correta de pacotes IP ou quadros Ethernet marcados pelo

roteador de borda eUTRAN ou o eNodeB.

5.5 LTE RAN SHARING TIM X OI

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou no dia 18 de abril

de 2013 o compartilhamento de infraestrutura de telefonia móvel de quarta-geração

(4G) entre as operadoras TIM e a Oi, parceria firmada para implantação da rede 4G

das empresas no país.

No leilão das faixas de frequência 4G (2,5 GHz e 450 MHz) realizado pela

ANATEL em 2012, a TIM arrematou a faixa V1 de 10 MHz + 10 MHz e a Oi a faixa

V2 de mesmo tamanho. As operadoras pagaram 340 e 330 milhões de reais,

respetivamente.

Juntas, as operadoras acumulam quase metade dos 261,78 milhões de

clientes de telefonia móvel no país. De acordo com dados contabilizados até o fim

de 2012, a TIM tinha o segundo maior número de assinantes, com 70,3 milhões de

usuários. Já a Oi, contabilizava 49,2 milhões de contas.

ACORDO DE COMPARTILHAMENTO

As negociações levaram pelo menos três meses, mas ainda assim foram

concluídas em tempo recorde. TIM e Oi selaram o acordo de compartilhamento de

infraestrutura para exploração da quarta geração de telefonia móvel (4G) no Brasil.

O documento foi protocolado na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no

dia 27 de março de 2013 e, no dia seguinte, recebeu o aval do Conselho

Administrativo de Defesa Econômica (CADE).

São compartilhados, além da infraestrutura passiva como as torres, a eNodeB

e também o backhaul com separação lógica, ou seja, o tráfego de cada uma delas é

direcionado para o respectivo core de rede.

Page 87: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

86

FIGURA 26 - TOPOLOGIA DA RAN SHARING TIM X OI

O acordo não compreende o atendimento em modo compartilhado das cidades-

sede da Copa do Mundo, próxima etapa das metas de atendimento impostas pela

Anatel. Porém, o acordo servirá como um teste para a expansão ou não do modelo.

PREMISSAS DO COMPARTILHAMENTO, SEGUNDO AS EMPRESAS

De acordo com as empresas, o acordo envolve três grandes questões.

A primeira é tecnológica, com o compartilhamento da rede de acesso de rádio

(RAN). Até hoje, as operadoras compartilharam partes passivas da infraestrutura,

como as torres, sendo essa a primeira experiência de compartilhamento da parte

eletrônica, que é a antena, a qual opera nas duas frequências de 4G, da TIM e da

Oi. Isso gera não só uma economia de custos, mas uma eficiência em termos de

espaço, considerando, por exemplos, torres que não comportam dois equipamentos.

A segunda premissa é a independência dos serviços. A rede de cada

operadora continua a trabalhando de maneira autônoma a outra, atendendo sua

base de clientes. A companhia é responsável pela entrega dos seus serviços e por

garantir a qualidade a seus respectivos usuários.

A terceira condição do acordo refere-se ao equilíbrio entre as partes: tudo

deve ser dividido, tanto custos quanto cobertura. Na primeira fase da oferta de 4G,

cada uma das seis cidades-sede da Copa das Confederações (Rio, Brasília, Belo

Horizonte, Recife, Salvador e Fortaleza) deverá estar com 50% de sua área coberta

Page 88: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

87

pela infraestrutura até o dia 30 de abril. Ao todo, quase 500 estações radio base

(eNodeBs) seriam instaladas só nas cidades sede da Copa das Confederações.

A TIM ficou responsável pela instalação da rede em Recife, Curitiba, São

Paulo e Natal, enquanto a Oi ficou com Belo Horizonte, Brasília, Manaus, Porto

Alegre, Fortaleza, Rio de Janeiro, Salvador e Cuiabá.

FORNECEDORES

A Oi e a TIM possuem fornecedores diferentes para o LTE. A TIM fechou

acordo com Huawei, Ericsson e Nokia Siemens, enquanto a Oi assinou com a

Ericsson, a Nokia Siemens e a Alcatel-Lucent.

Assim, o compartilhamento de rede envolve a necessidade de um integrador,

que teria a função de fazer com que o core de rede da TIM "enxergue" uma eNodeB

da Alcatel-Lucent, que não está entre os seus fornecedores contratados. O mesmo

vale para a Oi. O core de rede da Oi precisa "enxergar" uma eNodeB da Huawei.

CONSIDERAÇÕES DA ANATEL

As discussões entre operadoras brasileiras e a Anatel em relação à

possibilidade de compartilhamento da rede de rádio (RAN Sharing) foram intensas

no período anterior à implantação da rede para Copa das Confederações. As

operadoras apresentaram à Anatel os detalhes técnicos e a agência, expôs seus

pontos de preocupação, Os principais pontos foram:

Responsabilização por falhas;

Possibilidade de devolução de frequências;

Ao uso eficiente do espectro (sem deixar frequências ociosas);

Acesso de uma operadora sobre as informações dos clientes da

operadora hóspede.

A Anatel estuda a criação de uma regulamentação de RAN Sharing, ou seja,

de compartilhamento de espectro e de equipamentos eletrônicos pelas operadoras

móveis. A proposta de regulamento deve entrar em consulta pública em 2013.

A ideia é viabilizar, por exemplo, o uso da faixa de 900 MHz para 4G. Hoje

cada uma das quatro grandes operadoras possui licenças de 2,5 MHz + 2,5 MHz

Page 89: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

88

nessa faixa, voltada para o 2G. Com o RAN Sharing seria possível compartilhar 10 +

10 MHz entre as teles, o que permitiria a oferta de 4G. Considerando ainda o

desaparecimento das faixas de guarda, que servem para proteger de interferência

os serviços das operadoras, haverias ainda mais espectro para o 4G.

A agência também analisa a possibilidade de tornar o RAN Sharing

obrigatório no interior do País, o que pode ser incluído nas regras do leilão de 700

MHz.

5.6 SERVIÇO LTE DISPONÍVEL NO BRASIL

CIDADES COM COBERTURA

CLARO

Barueri, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Búzios, Campinas, Campos do

Jordao, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Jandira, Manaus, Natal, Paraty, Porto Alegre,

Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo.

VIVO

Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São

Paulo; região do ABC (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do

Sul) até o final de maio de 2013.

TIM

Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Salvador.

OI

Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Salvador.

PREÇO DOS SERVIÇOS

As tabelas a seguir apresentam o preço dos planos para utilização do serviço

4G das operadoras nacionais. Em geral os planos são diferenciados por dispositivo

móvel (modens, tablets, smartphones), franquia (quantidade total de banda para ser

Page 90: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

89

utilizada), e a velocidade para a qual o serviço cai após exceder tal banda. Valores

coletados em maio de 2013.

PLANOS PARA USO DO SERVIÇO 4G EM MODENS E TABLETS

OPERADORA FRANQUIA VALOR

(R$)

VELOCIDADE

CONTRATUAL

VELOCIDADE

APÓS

FRANQUIA

TIM

500 MB 35

5 Mbps

100 kbps

800 MB 49,9

3 GB 61

200 kbps

10 GB 101

Vivo

5 GB 99,9

256 kbps 10 GB 129,9

20 GB 159,9

Claro

5 GB 119,9 128 kbps

10 GB 199,9 256 kbps

Oi 10 GB 188 / 125** 150 kbps

TABELA 13 - VALORES DOS SERVIÇOS 4G PARA USO EM MODENS 4G E TABLETS (FONTE: GIZMODO)

*Valor para quem é cliente Oi Conta Total ou Oi Velox

Page 91: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

90

PLANOS PARA USO DO SERVIÇO 4G EM SMARTPHONES

OPERADORA FRANQUIA VALOR

(R$)

VELOCIDADE

CONTRATUAL

VELOCIDADE

APÓS FRANQUIA

TIM*

300 MB 29,9**

5 Mbps

50 kbps

300 MB 21,9

600 MB 34,9 100 kbps

Claro

2 GB 79,9 128 kbps

5 GB 99,9 128 kbps

Oi 10 GB 98 150 kbps

TABELA 14 - VALORES DOS SERVIÇOS 4G PARA USO EM SMARTPHONES (FONTE: GIZMODO)

*A TIM oferece o serviço 4G juntamente com o plano 3G, sem custo adicional.

**Por mês que utilizar.

PLANO FRANQUI

A

VELOCIDA

DE

CONTRAT

UAL

VELOCIDA

DE APÓS

FRANQUIA

VALOR (R$)

SP/M

G BA/DF/PE/RJ CE

Vivo*

60 min. 5 GB

5 Mbps 256 kbps

149 139 109

100 min. 10 GB 199 179 149

200 min. 20 GB 279 259 229

TABELA 15 - VALORES DOS SERVIÇOS 4G PARA USO EM SMARTPHONES (VIVO) (FONTE: GIZMODO)

*Todos os planos incluem ligações locais, torpedos e DDD/Roaming ilimitados

Page 92: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

91

DESEMPENHO DO SERVIÇO 4G DISPONÍVEL

As tabelas a seguir apresentam testes realizados nas cidades sede da Copa

das Confederações pela UOL Tecnologia em maio de 2013.

VELOCIDADE DO 4G

LOCAIS DOWNLOAD

(MBPS)

UPLOAD

(MBPS)

Brasília - Estádio Nacional 32 24

Brasília - Setor Hoteleiro Norte 27 20

Brasília - Aeroporto Internacional 0,6 4

Belo Horizonte - Estádio Mineirão 33 22

Belo Horizonte - Mercado Central 25,3 7,7

Belo Horizonte - Praça da Savassi 41 12,8

Fortaleza - Estádio Castelão 3,5 1,4

Fortaleza - Av. Beira Mar 3,7 2,1

Fortaleza - Shopping Iguatemi 3,3 1,4

Recife - Boa Viagem 39 29

Recife - Recife Antigo 3,7 0,7

Rio de Janeiro - Estádio do Maracanã 2 0,22

Rio de Janeiro - Praia de Copacabana 53 19

Rio de Janeiro - Aeroporto Tom Jobim 2,6 0,2

Salvador - Estádio Arena Fonte Nova 20 2,8

Salvador - Bairro Rio Vermelho 28 2,4

Salvador - Shopping Salvador 7,4 0,3

TABELA 16 - RESULTADO DOS TESTES DE VELOCIDADE DA REDE 4G (FONTE: UOL TECNOLOGIA)

Page 93: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

92

Podemos observar que existe grande disparidade no serviço ofertado nas

diversas localidades, e tudo indica que esse cenário consequência dos desafios pela

conjuntura da implantação do LTE no Brasil e na inexperiência das operadoras ao

projetar tais redes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pode ser observada neste estudo de caso, a implantação do LTE no

Brasil sofreu a influência de diversos fatores, sejam exigências regulatórias,

econômicas ou dos usuários, e isso levou as operadoras a optarem pelo

compartilhamento da RAN.

O compartilhamento da RAN não é um conceito novo, mas as operadoras não

possuem experiência em sua implantação, e estão tendo que aprender ao mesmo

tempo em implantam as redes, o que dificulta a estimativa de capacidade e

planejamento das redes.

Existe grande disparidade no serviço ofertado em diversas localidades e muitos

compromissos regulatórios, especialmente de cobertura a serem cumpridos. Ainda,

pode ser notar que os serviços ofertados pelas operadoras têm características

similares, tornando a concorrência bem acirrada.

Não se pode esquecer também dos requisitos de throughput, latência, perda de

pacotes e QoS. Existe uma grande variedade de cenários aos quais estes requisitos

devem atender, e ainda uma variedade de opções para atingi-los.

Tudo isto evidência a necessidade de um melhor planejamento e projeto para

implantação e otimização das redes, que viabilize maior qualidade e a oferta de

serviços diferenciados. Certamente, um simulador em nível de sistema, em conjunto

com simuladores em nível físico, será de fundamental ajuda para atingir estes

objetivos e entregar redes com alta qualidade, capacidade, eficiência e baixo custo.

Page 94: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

93

6 PROPOSIÇÃO DE SIMULADOR EM NÍVEL DE SISTEMA

Os serviços de comunicação móvel nunca foram tão requisitados. Hoje o

mundo se comunica de forma diferente, cada vez mais dinâmica, mas acima de

tudo, móvel. Os usuários desejam cada vez mais velocidade, qualidade e menor

preço. Assim, as redes de celulares precisam ter capacidade para suportar além do

tráfego de voz, o tráfego de dados em alta velocidade, tudo isso, numa rede eficiente

e rentável.

As redes 3G alavancaram este processo e têm suportado a pressão dos

usuários, mas possui suas limitações. Os serviços de comunicações móveis estão

em contínua expansão, e com a evolução dos dispositivos móveis a demanda por

serviços diversificados fica cada vez maior.

A padronização dos sistemas se apresenta como a solução para migrar as

tecnologias de forma se obter um maior aproveitamento dos recursos da rede já

configurados e menores custos de implantação. É neste contexto que se encontra o

LTE, como o próprio nome já diz, Long Term Evolution. É uma evolução de longo

prazo para os sistemas 3G buscando manter uma interface de rádio bem flexível. O

LTE traz muitas inovações como: uso de múltiplas antenas (MIMO, SIMO, MISO),

utilização do OFDMA como técnica de múltiplo acesso e redução de interferência

entre canais, taxas de transmissão elevadas, bem superiores às tecnologias 3G, sua

arquitetura all-IP, que elimina a comutação de circuitos, e a eNodeB, que incorpora

os papéis da BSC e da RNC, se tornando o único elemento da eRAN.

Conforme o estudo de caso apresentado, descrevendo a implantação do LTE

no Brasil, ficam claros os desafios encontrados e a necessidade de simular cenários

em nível de sistema para se realizar bons projetos e obter redes de qualidade.

Sendo assim, as operadoras ainda não possuem experiência na implantação

de rede com a arquitetura do LTE e enfrentam desafios cada vez maiores

envolvendo as exigências regulatórias, econômicas e dos usuários. Por isso,

simuladores são importantes, pois permitem avaliar o comportamento da rede em

vários cenários, num momento anterior à sua implantação, viabilizando a análise das

várias possíveis soluções para o projeto e implantação das redes.

Page 95: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

94

Como foi exposto no objetivo, este trabalho visa propor um simulador em nível

de sistema da tecnologia de comunicação móvel LTE. A ideia é criar um simulador

que receba RSR (Relação Sinal-Ruído) e parâmetros da camada física como: taxa

dos codificadores, tipo de multiplexação de antenas, modulação utilizada e etc., e

entregue os parâmetros de sistema que desejamos trabalhar: Throughput, latência,

perda de pacotes e QoS, que foram expostos nos capítulos 4.

Para que se possa desenvolver um simulador em nível de sistema LTE, é

preciso conhecer suas principais entidades, como elas se comunicam, que tipo de

mensagens são trocadas, quando são trocadas, e sobre qual rede de transporte

essas mensagens serão carregadas. O capitulo 3 deste trabalho apresentou alguns

destes conceitos.

Para auxiliar no estudo da camada física sugerimos a utilização de simulador

em nível físico desenvolvido em outro projeto [5]. Este simulador, implementado em

MATLAB, faz a simulação da transmissão de uplink e downlink do LTE, podendo-se

configurar parâmetros de simulação como nível e tipo de modulação utilizado,

número de quadros transmitidos, espaçamento entre subportadoras e número de

iterações do loop de simulação, entre outros.

Abaixo, são exibidos alguns exemplos de saídas do simulador de camada

física pode entregar que serviriam de entrada para o simulador em nível de sistema

proposto. No caso das figuras, foi utilizada a modulação 64 QAM.

Page 96: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

95

FIGURA 27 - TAXA DE ERRO DE BIT VS. RELAÇÃO SINAL/RUÍDO – DOWNLINK – [5]

FIGURA 28 - TAXA DE ERRO DE BIT VS. RELAÇÃO SINAL/RUÍDO – UPLINK – [5]

Page 97: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

96

Para implementar este simulador, propomos que seja adotada uma linguagem

orientada a objetos, já que fica imediata a associação de cada entidade da

arquitetura EPS a uma classe.

O MATLAB suporta a orientação a objetos, e facilitaria a implementação, visto

que os dados de entrada podem ser obtidos diretamente do simulador de camada

física, sem muitas adaptações.

São apresentados abaixo fragmentos de código que mostram a

implementação inicial das entidades do LTE.

%% Definição da classe da eNodeB

classdef eNodeB < handle

properties id % Identificação única da eNodeB interfaces % Identificação das interfaces e IPs da

eNodeB pos % Posição da eNodeB (lat, long, elev) sectors % Informações sobre setores da eNodeB neighbors % eNodeB's vizinhas a eNodeB neighbor_sectors % Setores das eNodeB's vizinhas conn_ues % UE's ao quais a eNodeB está conectada downlink_channel % Modelo do canal de downlink uplink_channel % Modelo do canal de uplink antenna_gain % Ganho da antena da eNodeB serving_gw % S-GW ao qual a eNodeB está conectada mme % MME ao qual a eNodeB está conectada end

% Função para checar se uma UE está conectada a eNodeB function is_connected = userIsAttached(obj,user) ... end

% Fumção para checar número de UEs conectadas a eNodeB function num_conn_ues = connected_UEs(obj) ... end end

Page 98: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

97

%% Definição da classe do MME

classdef MME < handle

properties id % Identificação única do mme interfaces % Interfaces e IPs do MME conn_enodebs % eNodeB’s conectadas hss % HSS ao qual o MME está conectado serving_gw % S-GW ao qual o MME está conectado ue_ecm_state % Estado dos UEs conectados

(idle/connected) end

methods

% Funções para gerenciamento de beares function create_bearer(UE,PDN_Gw) ... end

end

end

%% Definição da classe do S-GW

classdef Serving_Gw < handle

properties id % Identificação única do S-GW interfaces % Interfaces e IPs do S-GW conn_enodebs % eNodeBs conectadas mme % MME ao qual cada eNodeB está conectada pdn_gw % P-GW ao qual o S-GW está conectado

end

methods

% Função de ancoragem de mobilidade function idle_handoff(UE,BEARER) ... end

% Função de tarifação function ip_alloc(UE,BEARER,duration) ... end

end

end

Page 99: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

98

%% Definição da classe do PCRF

classdef PCRF < handle

properties id % Identificação única do PCRF interfaces % Interfaces e IPs do PCRF pdn_gw % P-GW ao qual o PCRF está conectado qos_classes % Identificação de clases de QoS e taxas

de transferência operator_ip_services % IP da rede de serviços da operadora ao

qual o P-GW está conectado end end

%% Definição da classe do P-GW

classdef PDN_Gw < handle

properties id % Identificação única do P-GW interfaces % Interfaces e IPs do P-GW pcrf % PCRF ao qual o P-GW está conectado serving_gw % S-GW ao qual o P-GW está conectado operator_ip_services % IP da rede de serviços da operadora ao

qual o P-GW está conectado ip_list % Informções de alocação de IP end

methods

% Políticas de QoS function qos_enforce(UE,BEARER) ... end

% Alocação de IPs para o UE function ip_alloc(UE,ip_info) ... end

end

end

Page 100: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

99

%% Definição da classe do UE

classdef UE < handle

properties id % Identificação única do UE interfaces % Interfaces e IPs do UE pos % Posição do UE (lat, long, elev) conn_enodeb % eNodeB ao qual o UE está conectado downlink_channel % Modelo do canal de downlink uplink_channel % Modelo do canal de uplink antenna_gain % Ganho da antena do UE ecm_state % Estado ECM (idle/connected) ip % IP do UE, atribuido pelo P-GW

end

methods function obj = UE end

% Função para alterar local do UE function move(obj) ... end

end

end

Page 101: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

100

7 CONCLUSÕES

Este trabalho apresenta a arquitetura da rede LTE, abordando como foram

padronizados, através do 3GPP, os elementos de rede que compõem esta

arquitetura, e suas funções. Esta padronização permite ao LTE alcançar maiores

taxas de transferência, maior controle sobre a qualidade da rede, utilizando o QoS,

além de conferir compatibilidade com as tecnologias de redes móveis anteriores,

denominadas de terceira e segunda geração.

Através da sua capacidade de interagir com redes que utilizam outras

tecnologias, o LTE proporciona uma perspectiva de rede na qual é possível se

adaptar a novos modelos de negócios, além atingir uma maior variedade de usuários

e dispositivos. Esta integração de redes possibilita, também, que o LTE seja usado

como base para aplicações multisserviço, onde diferentes fabricantes e tecnologias,

como IPTV e VoIP, possam ser explorados dentro da mesma rede.

Além de melhorias na camada de acesso sem fio, o fato de a rede do LTE ser

totalmente baseado em comutação por pacotes traz maior flexibilidade e eficiência

no transporte dos dados, sejam eles em nível de usuário ou em nível de controle.

O trabalho apresentou a arquitetura EPS, e a forma com que cada entidade se

relaciona, a partir de suas interfaces, a fim de proporcionar uma base teórica que

possa auxiliar na modelagem adequada de um ambiente de simulação que possa

servir como um ponto inicial na preparação de uma nova rede.

Posteriormente, foram abordados de forma mais aprofundada os conceitos de

throughput, latência, qualidade de serviço, e perda de pacotes, que são de

fundamental entendimento para que se possa implantar uma rede baseada em

comutação por pacotes. Quando se busca transferir dados em tempo real, como voz

e vídeo, utilizando redes IP, é preciso ter controle sobre a latência e perda de

pacotes, a fim de que o usuário tenha uma boa experiência de uso, e que as

mensagens de sinalização e controle sejam entregues corretamente. Este controle

é, principalmente, alcançado utilizando o QoS, que pode definir se um pacote será

transportado utilizando uma bearer dedicada ou não, com taxa e entrega garantida

ou não, de acordo com a criticidade deste pacote.

Page 102: TCC LTE Thiago Sampaio & Jonny Correa

101

Em seguida, um estudo de caso é apresentado a fim de elucidar os desafios

enfrentados pelas operadoras que pretendem implantar uma nova rede LTE,

abordando os aspectos regulatórios, requisitos de infraestrutura, e aspectos

econômicos inerentes à implantação do LTE. É exposta uma solução encontrada por

muitas operadoras, o RAN Sharing, que possibilita uma redução de custos, aliada a

maior eficiência no uso da rede. Esta estrutura de compartilhamento beneficia não

somente a operadora, mas também o cliente final, que tem acesso à tecnologia com

planos mais baratos, além de ter mais opções ao escolher uma operadora, visto que

o compartilhamento incentiva a concorrência.

Todos estes desafios e requisitos trazem à tona a quão bem preparada deve ser

a modelagem de uma nova rede. Esta modelagem, muitas vezes, se torna mais fácil

com o auxilio de sistemas que possam simular o ambiente com o qual a operadora

estará lidando durante a implantação da rede.

Neste contexto, é feita uma proposição de um simulador em nível de sistema.

Este simulador toma como base os conceitos apresentados anteriormente,

relacionados à arquitetura da rede, suas entidades e interfaces, e os parâmetros que

devem ser conhecidos para que se garanta o bom funcionamento da rede, tanto em

nível de controle quanto em nível de usuário.

A proposta é que este simulador tenha como entrada parâmetros de entrada da

camada física, que podem ser obtidos através de simuladores de outros trabalhos, e

utilize uma arquitetura conhecida, como número de usuários por célula, quantidade

de eNodeB simuladas, métodos de QoS utilizados, dentre outros, para que

apresente, na saída, os parâmetros relacionados a qualidade de funcionamento da

rede em nível de sistema, como perda de pacotes, throughput, e latência. Desta

forma, espera-se que este trabalho sirva como ponto de partida a implementação de

tal simulador.

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