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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Diagnóstico da Cultura Lean, baseado no Competing Values Framework Monografia apresentada ao curso de graduação em Engenharia de Produção Mecânica da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Engenheiro de Produção Mecânica. Aluno: Pedro Ernesto Pereira Paro Orientador: Prof. Dr. Mateus Cecílio Gerolamo SÃO CARLOS - SP, BRASIL 2012

TCC Pedro Paro 2012 Diagnóstico Da Cultura Lean - Cópia

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ESCOLA DE ENGENHARIA DE SO CARLOS

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUO

    Diagnstico da Cultura Lean, baseado

    no Competing Values Framework

    Monografia apresentada ao curso de

    graduao em Engenharia de Produo

    Mecnica da Escola de Engenharia de

    So Carlos da Universidade de So Paulo

    para obteno do ttulo de Engenheiro de

    Produo Mecnica.

    Aluno: Pedro Ernesto Pereira Paro

    Orientador: Prof. Dr. Mateus Ceclio Gerolamo

    SO CARLOS - SP, BRASIL

    2012

  • 1

    AUTORIZO A PUBLICAO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE

    TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO,

    PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

  • 2

    RESUMO

    PARO, P. E. P. Diagnstico da Cultura Lean baseado no Competing Values

    Framework. Trabalho de Concluso de Curso Escola de Engenharia de So Carlos,

    Universidade de So Paulo, 2012.

    Paralelamente ao processo de Globalizao e aumento da competividade dos Mercados,

    os conceitos da Produo Enxuta surgidos no Japo na segunda metade do Sculo XXI,

    foram difundidos mundialmente tendo como justificativa a melhoria contnua das

    organizaes. Embora os ganhos da Produo Enxuta (eficincia, rentabilidade e

    produtividade) sejam reconhecidos na literatura e, empresas do mundo todo ingressem na

    Lean Journey, estudos britnicos sugerem que fatores como Gesto da Mudana e a

    Cultura Organizacional sejam decisivos para o fracasso ou sucesso no desenvolvimento e

    implementao da Produo Enxuta.

    O objetivo deste estudo explorar a existncia de uma cultura organizacional ideal ao

    desenvolvimento da Produo Enxuta. Sob este aspecto, os resultados do trabalho

    demonstram que h, de fato, uma Cultura Organizacional ideal ao desenvolvimento da

    Produo Enxuta, uma suposta Cultura Lean capaz de permitir o sucesso e

    sustentabilidade, ao longo prazo, do desenvolvimento e implantao dos Sistemas de

    Produo Enxuta (Lean Production Systems) nas organizaes. Os resultados revelam

    ainda que esta Cultura Lean possu um perfil de cultura de Controle (Hierarchy Culture)

    dominante. A metodologia utilizada, para almejar tal objetivo, foi composta pela

    aplicao da Survey OCAI (Organizational Culture Assessment Instrument), baseada no

    Competing Values Framework (CVF), a consultores especializados no desenvolvimento e

    implantao destes sistemas.

    Palavras-chave: Gesto da Mudana; Cultura Organizacional; Produo Enxuta.

  • 3

    ABSTRACT

    PARO, P. E. P. Diagnosing the Lean Culture based on Competing Values Framework.

    Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo, 2012.

    At the same time to the process of globalization, and increased competitiveness of

    markets, the concepts of Lean Production, emerged in Japan around the second half of the

    XXI Century, having been broadcast worldwide with as justification of continuous

    improvement of organizations. Although the gains of Lean Production (efficiency,

    profitability and productivity), are recognized in the literature, and organizations around

    the world join the Lean Journey - implementation and development of Lean Concepts and

    Principles-, British studies suggest that Change Management and, Organizational Culture,

    are fundamental factors of failure or successful of Lean Manufacturing implementation.

    The objective of this study is to explore the existence of an ideal organizational culture to

    development Lean Production Systems. In this regard, the results of the study show that

    there is an ideal Organizational Culture, a supposed "Lean Culture", which is able to

    ensure the success and sustainability, in the long-term, to development of Lean

    Production Systems in organizations. The results also reveal that the dominant profile of

    this Lean Culture is the Hierarchy Culture. The methodology used in this study was

    applying the Survey OCAI (Organizacional Culture Assessment Instrument), based on

    the Competing Values Framework, to specialized consultants in the development of Lean

    Production Systems.

    Key words: Change Management; Organizational Culture; Lean Production;

  • 4

    SUMRIO

    RESUMO ............................................................................................................................ 2

    ABSTRACT ........................................................................................................................ 3

    1. INTRODUO .......................................................................................................... 6

    1.1 CONTEXTO ................................................................................................................. 6

    1.2 JUSTIFICATIVA E QUESTO DE PESQUISA ...................................................... 14

    1.3 OBJETIVO ................................................................................................................. 16

    1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................... 17

    2. CULTURA ORGANIZACIONAL ............................................................................... 19

    2.1 DEFINIO DE CULTURA ..................................................................................... 19

    2.2 DEFINIO DE CULTURA ORGANIZACIONAL ................................................ 22

    2.3 THE COMPETING VALUES FRAMEWORK ......................................................... 26

    2.3.1 CULTURA DE ADOCRACIA............................................................................. 30

    2.3.2 CULTURA DE MERCADO ................................................................................ 32

    2.3.3 CULTURA DE CONTROLE ............................................................................... 33

    2.3.4 CULTURA DE CL ............................................................................................ 35

    2.4 DIAGNOSTICANDO UMA CULTURA ORGANIZACIONAL ATRAVS DO

    COMPETING VALUES FRAMEWORK ....................................................................... 37

    3. PRODUO ENXUTA ............................................................................................... 50

    3.1 DEFINIO DE SISTEMA DE PRODUO ......................................................... 50

    3.2 EVOLUO HISTRICA DOS SISTEMAS DE PRODUO .............................. 51

    3.3 PRINCIPAIS CONCEITOS DA PRODUO ENXUTA ........................................ 54

    3.4 ATIVIDADES QUE AGREGAM OU NO VALOR ............................................... 55

    3.5 OS DESPERDCIOS DA PRODUO ENXUTA ................................................... 56

  • 5

    3.6 O MAPA DO FLUXO DE VALOR (MFV)............................................................... 61

    3.7 METODOLOGIAS DE GESTO DE MELHORIA E MUDANA ........................ 63

    4. CULTURA LEAN ........................................................................................................ 68

    4.1 INTRODUO AOS ELEMENTOS DA CULTURA LEAN .................................. 68

    5. TRABALHO DE CAMPO ........................................................................................... 74

    5.1 QUESTES DA PESQUISA ..................................................................................... 74

    5.2 CLASSIFICAO E DEFINIO DA PESQUISA ................................................ 74

    5.3 VARIVEIS DA PESQUISA .................................................................................... 75

    5.4 HIPTESE DO TRABALHO .................................................................................... 75

    5.5 METODOLOGIA DE PESQUISA............................................................................. 77

    5.6 COLETA DE DADOS ................................................................................................ 79

    5.7 CARACTERIZAO E DESCRIO DOS ENTREVISTADOS .......................... 83

    6. RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................................. 87

    6.1 ASSOCIAO DOS 14 PRINCPIOS DO MODELO TOYOTA COM OS PERFIS

    DE CULTURA PROPOSTOS PELO COMPETING VALUES FRAMEWORK .............. 87

    6.2 RESULTADOS E DISCUSSO DA APLICAO DA SURVEY ......................... 96

    6.3 RESPOSTA QUESTO DA PESQUISA ............................................................ 107

    6.4 DISCUSSO DA HIPTESE DA PESQUISA ....................................................... 111

    7. CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................... 112

    8. REFERNCIA BIBLIOGRFICA ............................................................................ 115

  • 6

    1. INTRODUO

    1.1 CONTEXTO

    No Sculo XXI, as organizaes do mundo todo necessitam, constantemente,

    tomarem aes visando aumento de competividade: diversificam seus produtos e

    servios, iniciam jornadas de melhoria contnua dos processos produtivos, promovem o

    alinhamento das diferentes culturas em suas respectivas cadeias de valor, treinam e

    capacitam seus colaboradores.

    Estas mudanas possuem, como finalidade, aumentar a competitividade das

    organizaes: melhorar o desempenho organizacional (aumento de eficincia,

    produtividade e rentabilidade), obter resposta gil s presses competitivas do Mercado

    (reduo de custos, melhor utilizao de recursos produtivos, resposta gil s variaes

    do Mercado e confiabilidade de entrega), alinhamento da cultura organizacional,

    promoo do esprito de equipe com foco na melhoria contnua da organizao e, ainda,

    estas mudanas organizacionais, possuem como finalidade aprender com as experincias

    de outras empresas (Benchmarking). Neste cenrio, dinmico e turbulento, mudanas

    ou transformaes organizacionais auxiliam empresas a se adaptarem s frequentes

    modificaes de condies em seus ambientes, de tal maneira a obter maior

    competitividade, melhor posicionamento no mercado futuro e tornar-se mais rentvel

    (RENTES, 2000).

    Uma alternativa de mudana e melhoria contnua dos processos produtivos, muito

    utilizada por organizaes do mundo todo, o ingresso na Lean Journey (Jornada Lean).

    O Lean Thinking, ou Mentalidade Enxuta, desde o seu desenvolvimento na Toyota a

  • 7

    partir da segunda metade do Sculo XX, ocupou posio de destaque entre os diversos

    programas de melhoria contnua, e evoluiu para os setores administrativos e de negcios,

    extrapolando os limites da manufatura (SILVA, 2007).

    De acordo com Liker (2004), a Toyota desenvolveu o Lean Production (Produo

    Enxuta) tendo o Toyota Production System como base (TPS, ou Sistema Toyota de

    Produo - sistema produtivo diferente da produo em massa, ao estilo norte-

    americano). Aps a Segunda Guerra Mundial, a Toyota tornou-se referncia mundial por

    ter superado a escassez de recursos, as baixas demandas, os custos de produo elevados

    e as presses competitivas enquanto tornava-se uma das organizaes mais eficientes e

    produtivas do mundo. Inmeras organizaes ingressaram na Lean Journey, tendo como

    modelo o Sistema Toyota de Produo.

    A Toyota chamou a ateno pela primeira vez na dcada de 1980, quando o

    mundo pode perceber que havia algo de especial na qualidade e na eficincia japonesa. O

    segredo da Toyota? Consistncia no desempenho e excelncia operacional. Em 2003, a

    Toyota era a terceira maior fabricante de automveis do mundo, e possua um lucro anual

    de 8,13 bilhes de dlares lucro maior do que os da General Motors, Chrysler e Ford

    combinados, e o maior lucro anual de qualquer fabricante de automveis do mundo por

    no mnimo uma dcada (LIKER, 2004).

    Porm, em Outubro de 2009, os consumidores ficaram surpresos quando, a

    Toyota, anunciou um recall de 3,8 milhes de veculos nos Estados Unidos. Este seria o

    primeiro de uma srie de recalls de larga escala da Toyota, totalizando, somente em 2009,

    mais de sete milhes de veculos com defeitos de qualidade, fazendo com que executivos

    questionassem quais seriam as dificuldades enfrentadas pelo modelo produtivo da

    montadora japonesa (COLE, 2011). Para Cole (2011), aparentemente duas hipteses

    explicariam esta queda em qualidade do processo produtivo da Toyota: (1) rpido

    crescimento global sem o devido planejamento e preparao; (2) diversificao dos

    produtos.

    Em 1998, a Toyota possua um market share global de 9.7%, quando estipulou a

    meta de 15% para 2010, objetivando ser a maior montadora de veculos em vendas

    globais. Atingiu 13% de market share global em 2008. Para Akio Toyoda, presidente da

    montadora, a partir de 2003 a Toyota passou a dar foco substancial ao crescimento

  • 8

    acelerado em detrimento s preocupaes tradicionais do modelo produtivo (COLE,

    2011). Enquanto a produo da montadora japonesa cresceu nos Estados Unidos de 1.7

    milhes de veculos, em 2000, para 2.9 milhes, em 2007, o nmero de modelos

    oferecidos, passou de 18 para 30 no mesmo perodo. Como consequncia do aumento da

    demanda global e complexidade dos produtos, o Lead Time entre a aprovao do design

    exterior do veculo, e o incio das vendas, passou a ser de quase 20 meses (COLE, 2011).

    Esta combinao de crescimento acelerado e aumento da complexidade dos produtos, no

    apenas afetou toda a cadeia de suprimentos da Toyota, mas fez com que a montadora

    ampliasse seu quadro de engenheiros, atingido 30% de engenheiros fora do Japo, e

    iniciasse uma poltica de contratao temporria de engenheiros no Japo.

    Neste perodo, cresceu substancialmente a proporo de engenheiros sem

    experincia dando suporte s operaes globais da Toyota, e a queda no rendimento

    operacional foi representativa. At mesmo os Suppliers da Toyota, atriburam seus

    problemas de qualidade contratao de funcionrios no alinhados ao Toyota Way

    (COLE, 2011). Outro aspecto que merece ateno, neste mesmo contexto, o fato das

    decises na Toyota terem se tornado cada vez mais centralizadas, resultando em menor

    sensibilidade dos gestores para com as expectativas dos Stakeholders, Cultura e Poltica

    das operaes globais da montadora e, consequentemente, a organizao passou a ter um

    tempo de resposta longo aos problemas locais (COLE, 2011).

    A partir destes problemas enfrentados pela montadora Japonesa, Cole (2011) faz

    um questionamento: Qual o efeito destes recalls sobre a referncia global em gesto da

    produo, o Sistema Toyota de Produo? Por que outras organizaes deveriam adotar

    este modelo de produo, se a montadora japonesa possui srios problemas resolver? A

    resposta para estas questes, segundo o prprio autor, o fato destas no serem referentes

    ao modelo ou sistema de produo desenvolvido pela montadora japonesa em si, mas sim

    est relacionada s pessoas as quais formam este sistema.

    Segundo o autor, em qualquer organizao, sempre haver fatores internos e

    externos os quais podem enfraquecer o sistema produtivo, estes fatores podem ser

    representados por um crescimento rpido sem planejamento, reduo de treinamentos ou

    presses do Mercado para reduzir custos, cabe liderana da empresa a manuteno das

  • 9

    melhores prticas e valores organizacionais os quais suportam a qualidade dos sistemas

    produtivos. Para o mesmo autor, apesar das vulnerabilidades, o sistema produtivo da

    Toyota ainda representa o estado de arte em termos de manufatura, e continua a ser um

    importante modelo de referncia para organizaes de diversos segmentos de indstria.

    Todavia, como todo sistema produtivo, seu alicerce e sustentabilidade so as pessoas e,

    desta maneira, o autor conclui que o fator mais forte e representativo na eficincia

    operacional da Toyota, de fato, caracterizado por sua Cultura Organizacional.

    A partir da segunda metade do Sculo XX, paralelamente difuso dos conceitos

    de Produo Enxuta ao mundo, desenvolvidos inicialmente na Toyota, teve incio o

    processo de globalizao dos Mercados, provocando aumento de competitividade em

    diversos setores e segmentos da economia. Neste contexto, a China revelou-se um

    significativo player mundial, capaz de atender s necessidades do Mercado global: alto

    volume e custo reduzido, em termos de manufatura. Assim, muitas organizaes

    utilizaram do outsourcing e offshoring em suas operaes de manufatura, como soluo

    em seus respectivos modelos de negcio (SIMCHI-LEVI et. al, 2012).

    Para David Simchi-Levi, professor do MIT, Narendra Mulani, Bill Read e John

    Ferreira, trs consultores, a China j no mais a resposta para tais necessidades globais,

    no Sculo XXI, a resposta para tais questes a demanda de Mercado. Para Simchi-Levi

    et al (2012), as interrupes na cadeia de suprimento, a volatilidade dos preos dos

    combustveis, os custos trabalhistas crescentes, os avanos na tecnologia e uma crescente

    percepo das vantagens de estar, operacionalmente e fisicamente, prximo aos clientes,

    levam muitas organizaes a adotarem estratgias regionais face ao Mercado global,

    sendo que, esta estratgia regional, pode ou no incluir a China. Todavia, isto no

    significa que a China no seja um representativo player no cenrio produtivo global.

    Como ilustrado pelos Grficos 1.1.1 e 1.1.2, a seguir, as organizaes neste

    cenrio global seguem a demanda. Em outras palavras, no h apenas a globalizao dos

    Mercados, na qual uma empresa em Cingapura pode produzir visando uma demanda em

    Nova York, So Paulo ou Cidade do Mxico, por exemplo, mas sim existe um cenrio no

    qual a organizao ir posicionar suas operaes conforme a proximidade com seu

    Mercado alvo seja este na Amrica do Norte, na Amrica Latina ou sia.

  • 10

    No Grfico 1.1.1, em laranja claro, representado o porcentual global da Quota da

    Manufatura de Suprimento (Share of Manufacturing Supply), e, em laranja escuro, a o

    porcentual global da Quota da Receita Organizacional (Share of Company Revenues), de

    acordo com as regies globais. possvel observar, neste grfico, a tendncia das quotas

    das receitas serem semelhantes s quotas das operaes de manufatura, evidenciando que,

    para empresas com mais de 10 bilhes de dlares em receita, a localizao das operaes

    de manufatura est relacionada com o local no qual as receitas da empresa tm sua

    origem, portanto, a manufatura segue a demanda (SIMCHI-LEVI et al., 2012).

    Grfico 1.1.1 Para grandes empresas, a manufatura segue a demanda

    Fonte: Simchi-Levi et al (2012)

    J no Grfico 1.1.2, Simchi-Levi et al (2012) apresentam uma projeo de

    mudana, de 2010 para 2013, de acordo com as regies globais, com o objetivo de

    analisar as modificaes na demanda e a manufatura de suprimentos nos prximos anos.

    Neste grfico, uma variao positiva significa crescimento naquela determinada regio,

    enquanto uma variao negativa significa declnio da Demanda ou Manufatura. Ou seja,

    nas regies em que h uma projeo de reduo da demanda, como exemplo da Amrica

    Norte, h uma reduo proporcional da projeo da manufatura (instalaes industriais,

    operaes, escritrios, etc.), como tambm nas regies em que h uma projeo de

    aumento da demanda, como exemplo da sia, h uma projeo de aumento proporcional

  • 11

    da manufatura de suprimento. Novamente, evidenciando a tendncia das operaes

    organizacionais seguirem a demanda.

    Grfico 1.1.2 Projeo das Mudanas Regionais - 2010 a 2013

    Fonte: Simchi-Levi et al (2012)

    Esta necessidade de alterao das instalaes das manufaturas globais, de pases

    com baixos custos de produo para outros mais prximos da demanda, pode ser

    evidenciada pelo aumento do preo e reduo do prazo de entrega nos televisores de tela

    fina. Os empresrios notaram que, reduzindo o lead time de 40 dias, quando um televisor

    era produzido na sia visando clientes na Amrica do Norte, para sete dias, fazendo este

    mesmo televisor no Mxico, por exemplo, teria um impacto maior na cadeia de valor do

    que a simples reduo do custo de produo (SIMCHI-LEVI et al, 2012).

    Desta maneira, as organizaes passam a adotar no uma estratgia global de

    manufatura de baixo custo, mas sim uma estratgia de manufatura regional. Esta

    estratgia no significa que, as indstrias, esto movimentando suas atividades para os

    Estados Unidos, por exemplo, mas demonstra a necessidade e tendncia das indstrias

    estarem prximas de suas demandas de Mercado, evidenciando a complexidade existente

    das cadeias de suprimento global (SIMCHI-LEVI, 2012). Por outro lado, estas escolhas

  • 12

    estratgicas tambm possuem outros fatores que devem ser levados em conta, como por

    exemplo, as economias dos pases, as desvalorizaes de moedas, as polticas de imposto

    e os incentivos fiscais dos diversos pases e/ou regies.

    Como exemplo deste cenrio, no Brasil chama ateno o valor total que ser

    investido por montadoras estrangeiras no Brasil: ser investido mais de R$ 60 bilhes em

    novas operaes no pas, de 2013 a 2017 (AUTOMOTIVE BUSINESS, 2012). Como

    efeito deste cenrio, por exemplo, a Hyundai instalou uma nova fbrica em Piracicaba

    (SP), a Toyota em Sorocaba (SP), a Nissan em Resende (RJ), a Chery em Jacare (SP), a

    JAC Motors em Camaari (BA), as chinesas Changan e Haima, juntamente com a

    coreana SsangYong, tero uma fbrica em comum em Linhares (ES). Alm de

    montadoras, existem diversas multinacionais com operaes no Brasil: Dell (Estados

    Unidos), IBM (Estados Unidos), Nokia (Finlndia), Nestl (Alemanha) e Siemens

    (Alemanha), so alguns exemplos, vrios outros poderiam ser citados.

    Alm destas diversas multinacionais atuando no Brasil, tambm existem vrias

    multinacionais brasileiras com instalaes e operaes no exterior. Em 2012, a Fundao

    Dom Cabral (FDC) divulgou seu estudo anual sobre as maiores multinacionais brasileiras

    com operaes no exterior. A classificao da FDC considera o percentual de receitas

    geradas no exterior, o percentual de ativos e o nmero de funcionrios em outros pases,

    para concluir sua classificao. Neste estudo, as dez maiores multinacionais brasileiras

    so: JBS (1 lugar), Gerdau (2 lugar), Stefanini Solutions (3 lugar), Metalfrio (4 lugar),

    Marfrig (5), Ibope (6), Odebrecht (7), Sab (8), Magnesita (9) e Tigre Tubos e

    Conexes (10).

    Ao posicionarem-se fisicamente de acordo com a demanda, as organizaes

    enfrentam o desafio de identificar os talentos locais com habilidades essenciais para

    manter a produtividade e inovao das mesmas (SIMCHI-LEVI et al, 2012). Ainda, neste

    contexto, tambm enfrentam o desafio de gerenciar culturas, valores, desejos e ambies

    diferentes em cada pas e, ainda assim, necessitam obter os mesmos resultados

    operacionais e a mesma eficincia organizacional do pas de origem. Isto

    provavelmente, o fator limitante mais representativo para racionalizar as estratgias de

    manufatura, pois, uma estratgia regional, somente ir ter os resultados desejados caso

  • 13

    existam pessoas aptas a executar determinadas operaes e, consequentemente,

    proporcionar os resultados esperados na organizao em muitos locais do mundo, isto

    no nada fcil (SHIMCHI-LEVI et al, 2012).

    Ou seja, as organizaes no possuem somente o desafio de alinhar a cultura de

    colaboradores dos outros pases sua Cultura Organizacional, como tambm possuem o

    desafio de, a cada dia, estarem mais competitivas, e, portanto, necessitando implantar

    tcnicas, conceitos e/ou ferramentas muitas vezes originalmente desenvolvidos por

    organizaes com culturas diferentes das suas.

    Empresas enfrentam o desafio e necessidade de explorar novos

    mercados, afinal, para grandes empresas, as operaes seguem a demanda como

    visto nos Grficos 1.1.1 e 1.1.2. Ao enfrentar o desafio de explorar novos

    mercados, principalmente as multinacionais, enfrentam o desafio de alinharem as

    diversas Culturas, de acordo com os colaboradores dos respectivos pases de

    atuao, com a Cultura e os Valores Organizacionais da empresa sede. Como

    exemplo, em Buenos Aires (Argentina), Madrid (Espanha), Miami (Estados

    Unidos), D.F. (Mxico) e Sintra (Portugal), os gestores da brasileira Itautec

    (indstria brasileira de servios tecnolgicos) possivelmente enfrentam o desafio

    de alinhar a cultura, e os valores dos funcionrios dos diversos pases citados,

    Cultura e Valores Organizacionais da Itautec, de origem brasileira.

    Empresas nacionais enfrentam o desafio de competirem com

    empresas estrangeiras em territrio nacional. Precisam alinhar o nvel de

    excelncia de seus processos, tecnologias e operaes ao nvel de suas

    concorrentes estrangeiras, caso contrrio, a competio ser desleal. A mesma

    Itautec, na cidade de Jundia (SP, Brasil), e nas demais cidades de atuao global,

    por exemplo, enfrenta o desafio de alinhar sua excelncia operacional, processos e

    tecnologias ao nvel de suas concorrentes: Dell, Sony, Apple, Samsung, HP,

    dentre vrias outras.

    No desafio de alinhar uma cultura organizacional com o desenvolvimento e

    implantao de um Sistema Produtivo Enxuto, de tal maneira a obter os melhores

  • 14

    resultados em termos de excelncia operacional e desempenho organizacional em tais

    sistemas, as organizaes encontram diversas ferramentas de diagnstico cultural, de tal

    maneira a avaliar uma cultura atual, desejada ou at mesmo futura, no entanto, as

    organizaes no possuem um modelo referencial do que seria um perfil cultural

    considerado ideal ao desenvolvimento de Sistemas Produtivos. Um modelo de

    diagnstico ou de avaliao do perfil de uma cultura organizacional, confivel e validado

    academicamente, o Competing Values Framework de Cameron e Quinn (2006). Este

    modelo importante pois, possibilita tornar menos abstrata e mais ilustrativa a definio

    do perfil de uma cultura organizacional, de tal maneira a permitir no apenas a discusso

    e alinhamento desta definio de cultura organizacional a diversas pessoas, como tambm

    permitir a projeo futura de mudanas desejadas ou ideias nesta cultura, ou seja, para

    diversos autores, o diagnstico de uma cultura organizacional o ponto de partida para

    uma mudana cultural.

    1.2 JUSTIFICATIVA E QUESTO DE PESQUISA

    De acordo com vrios autores, como Womack e Jones (1996), Liker (2004),

    Bhasin (2011-a), Bhasin (2011-b) Bhasin (2012), o TPS (Toyota Production System) a

    base do que hoje conhecemos por Produo Enxuta, e a Cultura da Toyota sem dvida

    alguma a referncia para uma Cultura Lean. Todos os conceitos, tcnicas, ferramentas e

    princpios de Produo Enxuta, que originalmente foram desenvolvidos pela Toyota, e

    posteriormente foram somados a outros sistemas e conceitos (Lean Six Sigma, Teoria das

    Restries, Supply Chain, Change Management, dentre outros), no Sculo XXI so

    desenvolvidos e implementados em organizaes do mundo com todo, das mais variadas

    culturas.

    Muito embora eliminar desperdcios, reduzir custos, realizar reengenharia de

    processos, benchmarking e melhorias organizacionais podem otimizar processos de uma

    organizao, este arsenal corporativo no capaz de proporcionar a devida resposta para

    a complexidade em uma cadeia de valor (GATTORNA, 2009). Gattorna (2009) explica

    muito bem este raciocnio atravs dos questionamentos: o que voc considera o

    principal ingrediente das modernas cadeias de valor? A tecnologia e os caminhes? Ou

  • 15

    as pessoas que os planejam e administram? As cadeias de valor podem aparecer seres

    incontrolveis, mas, na realidade, so sistemas impulsionados por seres humanos e seus

    comportamentos.

    Em outras palavras, antes de comear a resolver problemas operacionais, preciso

    reconhecer que o principal agente dos bens e servios so as pessoas (GATTORNA,

    2009). Ou seja, para Gattorna (2009) preciso ir alm dos sistemas, da infraestrutura e

    dos equipamentos os quais formam uma cadeia de valor, e modificar os ativos imateriais,

    intangveis do comportamento e do conhecimento humano para almejar melhorias no

    desempenho organizacional.

    Gattorna (2009) segue a mesma linha de Liker (2004). Para Liker (2004), um

    sistema produtivo enxuto muito mais do que um fluxo contnuo, um Just in Time ou

    uma produo puxada atravs de um sistema kanban, no Modelo Toyota, so as pessoas

    que compreendem a cultura por trs deste sistema de excelncia operacional, so as

    pessoas que do vida ao sistema produtivo enxuto: trabalham, dialogam, solucionam

    problemas diariamente e crescem juntas. Em outras palavras, as tcnicas e ferramentas da

    produo enxuta so apenas tcnicas e ferramentas capazes de permitir que, as pessoas de

    uma organizao, cresam e se desenvolvam juntas, ou seja, a base de todo o modelo

    Toyota, de fato, so as pessoas.

    Embora seja significativa a quantidade de pesquisas, a nvel global, comprovando

    os ganhos com a implantao da Produo Enxuta, em organizaes dos mais diversos

    setores e segmentos da economia (agroindstria, construo civil, indstria automotiva,

    indstrias de bens de consumo, servios, petrleo, gs, energia e at mesmo de Sade),

    paralelamente ao ingresso de muitas organizaes na Lean Journey (Jornada Lean),

    pesquisas britnicas sugerem que, fatores como, Gesto da Mudana e Cultura

    Organizacional sejam as causas fundamentais para baixos ndices de sucesso no

    desenvolvimento e implantao da Produo Enxuta (BHASIN, 2012).

    Segundo Rentes (2000), em situaes diversas, resultados abaixo do esperado na

    implantao de melhorias tem como consequncia no apenas o desperdcio de recursos,

    mas tambm a perda de confiana nos agentes de mudana, frustao das pessoas

    envolvidas no processo e, ainda, os resultados negativos podem alimentar o medo da

    organizao de empreitar novas mudanas. Independentemente dos pontos de melhoria,

  • 16

    atravs da simples implantao de conceitos, tcnicas e ferramentas, qualquer estratgia

    de mudana adotada no ser aceita pela organizao quando no estiver alinhada com a

    Cultura Organizacional (HINES et al, 2008; BHASIN, 2012). Diversos autores

    concordam que a Cultura Toyota seja a melhor base de referncia para uma Cultura Lean,

    e desta maneira, organizaes do mundo todo tentam alinhar suas culturas Cultura

    Toyota. No entanto, dentro das mais diversas ferramentas de diagnstico de uma cultura

    organizacional no h uma definio de qual seria ou no o perfil cultural dominante

    desta Cultura Lean, isto seria importante para que organizaes pudessem identificar o

    quo prximas ou distantes esto desta cultura organizacional capaz de permitir o sucesso

    e sustentabilidade das tcnicas e ferramentas de Produo Enxuta.

    Neste contexto, organizaes do mundo todo desenvolvem conceitos de Produo

    Enxuta sem de fato saberem se sua respectiva cultura organizacional est alinhada,

    capaz de permitir o mximo desempenho organizacional e/ou sustentabilidade, ao longo

    prazo, dos conceitos, tcnicas ou ferramentas implementados.

    1.3 OBJETIVO

    Dentro do contexto e justificativa de pesquisa, o principal objetivo deste trabalho

    , de acordo com o Competing Values Framework, determinar o perfil dominante

    da Cultura Lean, capaz de permitir o sucesso e sustentabilidade, ao longo prazo, no

    desenvolvimento e implantao de Sistemas Produtivos Enxutos (Lean Production

    Systems).

    O objetivo deste trabalho deve ser alcanado atravs da comparao da Reviso

    Bibliogrfica com resultados reais obtidos atravs da aplicao da Survey OCAI

    (Organizational Culture Assessment Instrument), baseada no Competing Values

    Framework, a consultores especializados no desenvolvimento e implantao de Sistemas

    de Produo Enxuta.

  • 17

    1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

    Este trabalho est dividido em oito captulos. Neste primeiro captulo,

    apresentada a introduo, contextualizao, justificativa da pesquisa, descrio do

    objetivo principal deste trabalho e, por fim, a metodologia de pesquisa.

    Nos captulos 2 e 3 apresentada a Reviso Bibliogrfica na qual o presente

    trabalho se baseou. Esta reviso do trabalho dividida em duas reas macro: Produo

    Enxuta (Lean Production) e Cultura Organizacional.

    Especificamente, o Captulo 2 trata da Cultura Organizacional, abordando suas

    definies e dimenses. Este captulo possuiu os livros Organizational Culture and

    Leadership, de Schein (2009), e Diagnosing and Changing Organizational Culture, de

    Cameron e Quinn (2006), como referncia. Este ltimo livro tambm base bibliogrfica

    para definir os quatro tipos majoritrios de cultura organizacional, atravs da definio do

    The Competing Values Framework (Estrutura de Valores Competitivos) apresentada

    pelos autores Cameron e Quinn (2006), como tambm o livro base para o instrumento

    de diagnstico de uma cultura organizacional que ser utilizado.

    O captulo 3, por sua vez, apresenta a histria do surgimento do conceito de Lean

    Production, aborda os princpios da Produo Enxuta, tcnicas, ferramentas e alguns dos

    principais Sistemas de Medio da Produo Enxuta. Ao final deste captulo, so

    definidos elementos que representariam uma Cultura Lean, de acordo com os princpios e

    o Sistema Toyota de Produo (TPS). Alguns dos principais livros utilizados como

    referncia, neste captulo, so: The Machine that changed the World de Womack e Jones

    (1992), Lean Thinking de Womack, Jones e Roos (2004) e The Toyota Way de Liker

    (2004), alm de vrios outros trabalhos acadmicos.

    No Captulo 5, por sua vez, apresentada a maneira como foi conduzido o

    Trabalho de Campo. So apresentadas as questes, classificao, definio e metodologia

    da pesquisa, como tambm a metodologia de pesquisa deste trabalho, como tambm as

    variveis hipteses, coleta de dados, caracterizao e descrio dos entrevistados.

    Com base na reviso bibliogrfica sobre Cultura Organizacional (Captulo 2) e

    Produo Enxuta (Captulo 3), o captulo 6 faz uma sntese destes dois grandes temas e,

  • 18

    ainda, apresenta um exerccio de associao dos 14 Princpios do Modelo Toyota,

    propostos por Liker (2004), com os perfis de cultura do Competing Values Framework.

    Este exerccio, por sua vez, ir proporcionar uma comparao do resultado obtido com a

    Cultura Toyota, exemplo de benchmarking em Produo Enxuta. Ainda, no Captulo 6

    so apresentados e analisados os resultados coletados na aplicao do mtodo de

    pesquisa. Na discusso dos resultados, procura-se confrontar os resultados obtidos na

    pesquisa com a reviso bibliogrfica realizada, de tal maneira a analisar similaridades ou

    diferenas. Ainda, no Captulo 5, com base nos resultados obtidos, so validadas ou

    refutadas as hipteses do trabalho, apresentadas inicialmente no Captulo 4.

    As Consideraes Finais, sobre o trabalho realizado, so apresentadas no Captulo

    7, neste captulo so detalhados alguns dos fatores limitantes desta pesquisa e tambm

    sugeridas algumas questes e desafios que necessitam de anlise em futuros estudos. Por

    fim, o Captulo 8 apresenta a Reviso Bibliogrfica na qual este trabalho se baseou. Aps

    o Captulo 8, esto dispostos os Anexos citados ao longo deste trabalho.

  • 19

    2. CULTURA ORGANIZACIONAL

    2.1 DEFINIO DE CULTURA

    A cultura instituda, de acordo com Chau (2005), no momento em que os

    homens determinam para si mesmos, certas regras e normas de conduta com a finalidade

    de assegurar a existncia e a conservao do grupo. Para a autora, estas regras e normas

    de conduta devem ser obedecidas por todos os membros deste grupo, sob pena de

    punies as quais podem ir desde uma advertncia informal at uma expulso do

    indivduo de seu grupo de origem.

    Na realidade, no existe a cultura, no singular, mas sim culturas, no plural, pois o

    sistema de proibio e permisso, as instituies sociais, religiosas, polticas, os valores,

    as crenas, os comportamentos variam de formao social para formao social, e podem

    variar numa mesma sociedade no decorrer do tempo (CHAUI, 2005). No sentido

    filosfico, Chau (2005) define cultura como tendo trs sentidos principais:

    Criao de uma ordem simblica da linguagem, do trabalho, do espao, do

    tempo, do visvel e do invisvel. Em outras palavras, os smbolos existem tanto

    como forma de representao quanto de interpretao da realidade, criando um

    sentido para a presena do homem no mundo;

    Criao de uma ordem simblica da lei, a qual est relacionada com as

    interdies e obrigaes estabelecidas com base na atribuio de valores;

  • 20

    Conjunto de prticas, comportamentos, aes e instituies pelas quais os

    homens se relacionam entre si e com a natureza e dela diferem, agindo sobre a

    natureza ou atravs dela, transformando-a atravs do trabalho, construes,

    fabricao;

    Schein (1990) define uma cultura como o padro de pressupostos bsicos os quais

    um determinado grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao longo de sua histria de

    aprendizados de adaptao aos problemas do ambiente sendo estes problemas internos

    ou externos ao grupo. Portanto, ao enfrentar problemas do ambiente, a soluo dos

    mesmos assimilada na forma de aprendizado pelos membros do grupo, o qual ir

    ensinar, aos novos integrantes, a maneira adequada de pensar, analisar e agir com relao

    a estes problemas. Esta definio de Schein (1990) contrria ideia de mudana de

    cultura, pois determina que uma cultura organizacional seja um padro estabelecido ao

    longo do tempo durante a construo da histria de uma organizao.

    Uma cultura inclui todos os valores, atitudes, crenas, suposies, artefatos e

    comportamentos de um grupo (SCHEIN, 2009). Segundo Tharp (2009) e Schein (2009),

    para os membros da organizao, os significados de sua cultura muitas vezes so

    invisveis, no comentados ou desconhecidos. Consequentemente, a cultura pode ser

    capaz de guiar as aes de um individuo, mesmo quando este no est ciente de ser

    influenciado pela composio de relaes s quais estabelecem uma determinada cultura.

    Uma cultura geralmente refletida por uma linguagem nica entre as pessoas, por

    smbolos especficos, regras e sentimentos etnolgicos em comum (CAMERON;

    QUINN, 2006). Schein (2009) define muito bem uma cultura atravs de trs nveis:

    Artefatos; Crenas e Valores expostos; Suposies bsicas.

    Artefatos visveis: na superfcie, regio visvel, est os artefatos visveis:

    tecnologia utilizada, arquitetura, ambiente organizacional, layout organizacional,

    maneira de se vestir das pessoas, padres de comportamento (visual e audvel),

    documentos pblicos grficos e materiais de orientao, etc. Este nvel de

    anlise fcil para coletar e obter dados, no entanto, sua interpretao difcil,

    pois nem sempre fcil compreender a lgica oculta por detrs destes artefatos

    (GEROLAMO, 2011; SCHEIN, 2009). Schein (2009) cita os maias e os egpcios,

  • 21

    ambos construram pirmides, porm o significado destas pirmides para cada

    uma das culturas era bem diferente: tmulos para uma e templos para outra.

    Antroplogos, por exemplo, utilizam artefatos para compreender descries

    culturais.

    Figura 2.1.1 Nveis de Cultura

    Fonte: adaptado de Schein (2009) e Gerolamo (2011)

    Crenas e valores expostos: para analisar os motivos que levam um indivduo a

    se comportar de determinada maneira, normalmente devemos olhar para os

    valores que regulam seu comportamento. As crenas e os valores so difceis de

    serem observados, geralmente so interpretados somente atravs de entrevistas de

    membros que compreendam muito bem a organizao, ou ento podem ser

    analisados a partir de artefatos visveis (GEROLAMO, 2011; SCHEIN, 2009).

    Para Schein (2009), as crenas e valores so validados por experincias anteriores

    do grupo, por exemplo, nenhuma religio ou sistema moral pode provar sua

    superioridade a outros e, no entanto, se o membro de um determinado grupo

    afirmar que a religio ou sistema moral de outro grupo superior de seu grupo,

  • 22

    por ter tido uma experincia prpria com esta, h a possibilidade de aceitao do

    grupo ou excomunho deste membro. Da mesma maneira como artefatos

    podem induzir a decifrar crenas e valores, as crenas e valores tambm podem

    decifrar algumas suposies bsicas todavia, esta uma anlise muito abstrata

    que pode estar cercada de erros.

    Suposies bsicas: segundo Schein (2009), possvel saber que se trabalha com

    uma suposio bsica quando os informantes se recusam a discutir um

    determinado assunto, ou quando consideram terceiros como ignorantes ou

    insanos por mencionarem algo. As suposies bsicas so respostas j

    aprendidas, so os valores que guiaram um comportamento durante um perodo e,

    aps este perodo, o valor j fora transformado em suposio bsica de como as

    coisas realmente funcionam pela organizao. Desta maneira, as suposies so

    invisveis, representam um estgio de pr-conscincia por serem dados e

    informaes tidos como certo ou at mesmo bvio. Suposies bsicas

    englobam o relacionamento com o ambiente, realidade, tempo e espao, natureza

    humana, natureza da atividade humana e das relaes humana. So as suposies

    bsicas que realmente determinam o como os membros do grupo percebem,

    pensam e sentem as coisas (SCHEIN, 2009).

    2.2 DEFINIO DE CULTURA ORGANIZACIONAL

    Em um nvel inferior ao de Cultura, est a Cultura Organizacional, a qual est

    relacionada a um grupo limitado de pessoas. Esta Cultura Organizacional possui,

    inclusive, outras subculturas, ou culturas de grupos. Como nvel inferior de uma Cultura,

    no sentido mais amplo, dentro das empresas, a cultura organizacional no est apenas

    atrelada com programas de induo de pessoas, mas sim est presente em toda parte da

    vida organizacional.

    Por consequncia, a cultura torna-se de suma importncia para uma organizao

    em virtude de seu impacto no desempenho organizacional (BHASIN, 2012; BHASIN,

    2011; CAMERON; GREEN, 2009; GATTORNA, 2009; CAMERON; QUINN, 2006).

  • 23

    Uma Cultura Organizacional pode ser resumidamente, definida pelo como as

    coisas acontecem dentro da organizao (CAMERON; GREEN, 2009). Assim, os

    autores Cameron e Green (2009) cita um exemplo que ilustra esta definio, um veterano

    da organizao, ao comunicar, a um recm-contratado, a respeito de como este pode vir a

    ser bem sucedido na organizao, diz: mantenha sempre a cabea baixa, no h problema

    em cometer erros desde que vocs no os repita; trabalhamos duro, mas planejamos

    muito tambm; todos trabalham vrias horas por dia, mas, depois do trabalho duro, nos

    confraternizamos no bar ao lado da empresa. Portanto, para Cameron e Green (2009),

    estes conselhos do veterano de organizao so um bom exemplo dos comportamentos

    exigidos por esta organizao.

    Sob este mesmo aspecto, diversos autores apresentam definies sobre Cultura

    Organizacional:

    A Cultura Organizacional pode ser refletida pelo que as pessoas de uma

    determinada corporao valorizam, pelo tipo dominante de liderana, pelas

    linguagens e smbolos, pelos procedimentos e rotinas de trabalho, como

    tambm pelas definies de sucesso que tornam uma organizao nica

    (CAMERON; QUINN, 2006).

    A Cultura Organizacional representa a soma dos comportamentos e valores

    que os novos colaboradores necessitam estar aptos a seguir e, ainda, exerce

    influncia fundamental sobre as pessoas e consequentemente sobre o

    desempenho organizacional (KOTTER; HERKETTK, 1992).

    A Cultura Organizacional pode ser compreendida como as normas de

    comportamento aceitvel aos colaboradores de determinada empresa, de tal

    maneira a influenciar no apenas as relaes internas entre os colaboradores,

    como tambm as relaes externas da empresa (HAI, 1986).

    Os comportamentos dos colaboradores de uma corporao, a tomada de

    deciso, o esforo em inovao, a maneira pela qual ocorre a comunicao, a

    definio de sucesso e os desafios dirios de atingir metas e objetivos, todos

  • 24

    estes so afetados pela Cultura Organizacional, ou seja, ela (cultura) afeta

    diretamente as metas e motivao dos colaboradores (HAI, 1986).

    A Cultura Organizacional um fenmeno dinmico, que cerca os

    colaboradores de uma corporao todo o tempo, sendo constantemente

    desempenhada e criada pela interao das relaes entre as pessoas e moldada

    pelos comportamentos da liderana, pela estrutura organizacional, pelas

    rotinas, regras e normas que definem e restringem o comportamento das

    pessoas (SCHEIN, 2009).

    Segundo Bhasin (2012), diferentes culturas existem em uma mesma organizao,

    pode ser que a cultura do departamento de Marketing seja substancialmente voltada para

    o exterior, enquanto a cultura do cho de fbrica se concentre internamente. No entanto,

    para que os resultados de uma organizao sejam positivos, embora existam diversas

    culturas dentro desta organizao, os objetivos e as metas destas diferentes culturas

    devem ser semelhantes (ALBERT, 2009; LIKER, 2004; BHASIN, 2012).

    A Cultura nada mais do que o resultado do aprendizado de um grupo, sendo este

    aprendizado adquirido atravs de um processo complexo e parcialmente influenciado

    pelo comportamento da liderana (SCHEIN, 2009). Como consequncia, se um grupo

    estiver ameaado porque determinados elementos de sua cultura no estejam alinhados,

    cabe liderana organizacional reconhecer o problema a fundo e suas limitaes para que

    seja possvel reverter tal ameaa.

    Aps dcadas de estudos empricos, pesquisadores conseguiram definir uma srie

    de relaes entre cultura organizacional e desempenho organizacional, de tal maneira que

    empresrios deixaram de ver a cultura de suas empresas com pouca importncia - ou

    como se esta fosse muito difcil de ser gerenciada-, e passaram a reconhecer na cultura

    organizacional um fator de competitividade no Mercado (THARP, 2009). Portanto, como

    obter o mximo desempenho organizacional? Quanto maior a harmonia e estabilidade, da

    cultura, perante as pessoas da organizao, quanto mais alinhada ela estiver estratgia

    organizacional, mais a cultura ter impacto positivo no desempenho organizacional

    (BHASIN, 2012; GATTORNA, 2009; CAMERON; QUIN, 2006).

  • 25

    De acordo com Cameron e Quinn (2006), alguns conflitos organizacionais podem

    ser explicados por diferenas culturais entre subgrupos de uma mesma organizao. Os

    conflitos existentes entre o grupo de Vendas e Marketing, ou ento entre o grupo de

    Desenvolvimento de Produo e a Produo, entre o grupo de Logstica e a Produo, por

    exemplo, podem estar associados ao desenvolvimento de diferentes culturas em

    desarmonia, ou seja, cada grupo especfico pode ter desenvolvido seus prprios valores e

    critrios de sucesso, portanto, sua prpria cultura. Desta maneira, as diferenas culturais

    podem fazer com que uma organizao seja fragmentada de tal maneira que um resultado

    operacional excepcional ou altos nveis de eficcia organizacional sejam, na realidade,

    impossveis de serem atingidos (CAMERON; QUINN, 2006). Portanto, a existncia de

    subgrupos detentores de culturas em desarmonia pode promover a alienao dos grupos e

    perpetuao de conflitos.

    Embora muitas pessoas saibam seja necessria uma harmonia entre as subculturas

    de uma determinada cultura organizacional, Cameron e Quinn (2006) ressaltam que,

    tambm, importante respeitar as especificidades da cultura de cada subgrupo

    organizacional. Para estes autores, h uma espcie de cola oculta (underlying glue)

    capaz de unir uma organizao, a qual pode estar relacionada com uma nfase no

    desenvolvimento de novos produtos, na realizao de metas, na estabilidade de regras e

    padres, ou at mesmo na confiana e lealdade entre os indivduos, por exemplo.

    Para Schein (2009), a fora de uma cultura depende da extenso de sua existncia,

    de sua estabilidade e harmonia perante os membros da organizao, tambm depende da

    intensidade das relaes entre as pessoas. Desta maneira, cabe liderana organizacional

    ter a capacidade de detectar incompatibilidades potenciais entre a cultura e o desempenho

    organizacional esperado. Todavia, nem sempre os lderes possuem a conscincia de sua

    cultura organizacional at que esta cultura seja desafiada, ou at mesmo at que eles

    vivenciem uma nova cultura, ou at que esta cultura seja declarada e definida por um

    modelo (CAMERON; QUINN, 2006).

    Um dos modelos mais bem aceitos na comunidade acadmica o Competing

    Values Framework e, na prxima seo, os perfis de cultura emergentes deste modelo so

    detalhados, de acordo com o Competing Values Framework de Cameron e Quinn (2006).

    Neste modelo, a avaliao ou diagnstico de uma cultura organizacional pode manter o

  • 26

    foco na organizao macro como unidade de anlise, ou at mesmo analisar os subgrupos

    dentro desta organizao geral, identificar seus respectivos valores e fatores dominantes

    comuns e consolida-los para que, a partir destas subculturas seja possvel definir a

    cultura organizacional macro.

    2.3 THE COMPETING VALUES FRAMEWORK

    Todavia, muito embora muitas pessoas saibam que a cultura organizacional existe,

    um dos principais problemas que muitas vezes as pessoas possuem ideias ou vises

    diferentes sobre como defini-la, possuem vises diferentes sobre como a cultura de fato

    (SCHEIN, 2009).

    Como metodologia de diagnstico de uma Cultura Organizacional, este trabalho

    ser baseado em uma adaptao do Competing Values Framework, de Cameron e Quinn

    (2006), e utilizar o OCAI (The Organizational Culture Assessment Instrument) como

    instrumento de coleta de dados. O OCAI possui quatro tipos de cultura que emergem

    desta teoria Competing Values Framework. Segundo Cameron e Quinn (2006), The

    Competing Values Framework tambm muito til para identificar modelos

    organizacionais, estgios do ciclo de vida de produtos, teoria da eficincia, perfis de

    liderana, perfis de gesto de recursos humanos e habilidades de gesto em geral. Entre

    vrios exemplos de referncia que utilizaram o The Competing Values Framework, esto

    os psiclogos Carl Gustav Jung (1923) e Myers and Briggs (1962).

    De acordo com Gerolamo (2011) e Cameron e Green (2006), o Competing Values

    Framework um modelo que permite identificar o mapeamento de uma cultura

    organizacional, seu estgio de desenvolvimento em seu respectivo ciclo de vida, a

    harmonia organizacional, compreende tambm teorias de eficcia organizacional, funes

    da liderana dos gestores e habilidades gerenciais.

    Pelo fato do conceito de Cultura Organizacional ser amplo, e muitas vezes

    abstrato, compreendendo um conjunto de fatores complexos, inter-relacionados e, em

    determinados casos, ambguos, o Competing Values Framework - modelo emprico e com

  • 27

    validao emprica facilita o processo de diagnstico de cultura organizacional

    objetivando uma mudana cultura (GEROLAMO, 2011; CAMERON; QUINN, 2006).

    A partir das pesquisas realizadas por John Campbell, nas dcadas de 60 e 70 sobre

    indicadores de desempenho organizacional, emergiram duas dimenses com quatro

    grupos principais: a primeira dimenso est relacionada a critrios de eficcia

    organizacional, os quais contemplam a nfase em flexibilidade ou dinamismo, ou ento

    nfase em estabilidade e controle; a segunda dimenso, por sua vez, contempla critrios

    de eficcia relacionados orientao interna (foco em integrao e unidade

    organizacional) ou orientao externa - foco em diferenciao e rivalidade (CAMERON;

    QUINN, 2006).

    Um dos motivos para que vrias dimenses sejam analisadas, o fato de uma

    Cultura Organizacional possuir um escopo muito amplo, repleto de fatores complexos,

    inter-relacionados e muitas vezes ambguos. Desta maneira, Cameron e Quinn (2006)

    definem duas principais dimenses:

    Figura 2.3.1 Dimenses do Competing Values Framework

    Fonte: adaptado de Cameron e Quinn (2006);

    Flexibilidade(Dinamismo e Criatividade)

    Foco Externo(Diferenciao e Rivalidade)

    Estabilidade(Ordem e Controle)

    Foco Interno(Conjunto e Integrao)

  • 28

    A primeira dimenso diferencia critrios de eficcia em flexibilidade, rpida

    tomada de deciso e dinamismo com estabilidade, ordem e controle. Por

    exemplo, isto quer dizer que algumas organizaes como Microsoft ou Nike,

    tanto o mix de produtos quanto a organizao em si no permanecem os

    mesmos por muito tempo, j organizaes como Boeing, Universidades ou

    Agncias Governamentais, so fundamentalmente caracterizadas pela

    longevidade da estrutura organizacional e dos seus produtos/servios

    (CAMERON; QUINN, 2006, p. 35).

    A segunda dimenso diferencia critrios de eficcia em diferenciao,

    rivalidade e orientao externa com integrao, conjunto e orientao interna.

    Por exemplo, organizaes como IBM ou Hewlett-Packard so

    fundamentalmente caracterizadas pela harmonia de suas operaes internas,

    sendo reconhecidas pelo IBM way ou pelo H-P way, enquanto outras

    organizaes, como Toyota e Honda, por exemplo, so conhecidas por ter

    foco global mas agirem localmente, portanto, mantm foco na competio e

    interao com o ambiente mais do que em operaes internas (CAMERON;

    QUINN, 2006, p.35).

    Desta maneira, a interao entre estas duas dimenses formar quatro quadrantes,

    os quais representam um conjunto de indicadores da eficcia organizacional, de tal

    maneira a definir os valores essenciais sob os quais so feitos julgamentos sobre a

    organizao (Gerolamo, 2011; Cameron e Quinn, 2006). Os valores conflitantes, ou

    competidores em cada quadrante sugerem o nome do modelo: The Competing Values

    Framework.

    Cada quadrante recebeu um nome para representar suas caractersticas intrnsecas:

    Adhocracy (Adocracia), Market (Mercado), Hierarchy (Hierarquia ou Controle) e Clan

    (Cl). Tendo em vista que no h uma cultura ruim ou boa, este trabalho ir utilizar o

  • 29

    nome Controle ao invs de Hierarquia como traduo para Hierarchy, para evitar uma

    associao negativa com o termo hierarquia.

    O quadrante superior direito recebeu o nome de Adhocracy, Adocracia ou

    Criao, vem da palavra ad hoc, implicando em algo temporrio, especializado e

    dinmico. O quadrante inferior direito recebeu o nome de Market, Mercado ou

    Competio, pois este tipo de organizao tem uma funcionalidade semelhante ao

    Mercado em si: foco nas transaes externas com suppliers e clientes de tal maneira a

    obter vantagem competitiva.

    O quadrante inferior esquerdo recebeu o nome de Hierarchy, Controle ou

    Hierarquia, pelo fato destas organizaes serem caracterizadas pelos padres de trabalho,

    regras e procedimentos existentes com o objetivo de manter o controle das operaes

    internas. O quadrante superior esquerdo recebeu o nome de Clan, Cl ou Colaborao,

    por sua semelhana com uma organizao familiar, de tal maneira a caracterizar uma

    organizao com foco no desenvolvimento de pessoas e no esprito de equipe.

    Figura 2.2.2 The Competing Values Framework

    Fonte: adaptado de Cameron e Quinn (2006);

    Flexibilidade(Dinamismo e Criatividade)

    Cultura de Adocracia

    Foco Externo(Diferenciao e Rivalidade)

    Cultura de Mercado

    Estabilidade(Ordem e Controle)

    Cultura de Controle

    Foco Interno(Conjunto e Integrao)

    Cultura de Cl

  • 30

    Assim, cada quadrante representa uma srie de suposies bsicas, orientaes e

    valores, os quais compreendem o conceito de Cultura Organizacional. De acordo com

    Cameron e Quinn (2006), estes quadrantes emergentes da anlise de indicadores de

    eficcia organizacional combinam as principais formas de organizao, tambm

    combinam com teorias fundamentais sobre gesto e sucesso organizacional, abordagens

    para qualidade nas organizaes, estilos de liderana e habilidades gerenciais. Portanto, a

    robustez dessas dimenses e a riqueza dos quadrantes que destas resultam permitem

    identificar cada quadrante como um tipo de cultura (GEROLAMO, 2011; CAMERON;

    QUINN, 2006).

    Portanto, o Competing Values Framework pode ser representado pela Figura

    2.3.2. Cada quadrante define um perfil de cultura organizacional, com suas respectivas

    suposies bsicas, orientaes e valores. Nas prximas sees, detalhado cada um

    destes quatro perfis do Competing Values Framework.

    2.3.1 CULTURA DE ADOCRACIA

    Resumo desta cultura

    Uma organizao que mantm o foco na sua posio externa, e tambm possu

    um grau elevado de flexibilidade e individualismo.

    Perfil da cultura organizacional

    Um lugar dinmico, criativo e empreendedor, no qual os lderes so

    considerados inovadores e aceitam riscos facilmente. A unio organizacional

    caracterizada o compromisso com novas experincias, teste e reflexo sobre

    aspectos distintos, tendo como objetivo estar na liderana tecnolgico do setor

    (on the leading edge). Ao longo prazo, a organizao tem como objetivo o

    crescimento e aquisio de novos recursos, sucesso significa ter produtos ou

    servios exclusivos no Competio importante ser lder em inovao no

    setor. A organizao d liberdade a seus colaboradores de tal maneira a

    permitir iniciativas individuais.

  • 31

    Aumentar a Cultura de Criao significa...

    Colocar dinamismo nos negcios;

    Encorajar e celebrar a tomada de risco;

    Gerar alternativas criativas e promover a inovao;

    Fazer com que as mudanas sejam a regra, e no a exceo;

    Olha frequentemente para o futuro, e antecipar-se a ele;

    Desenvolver programas ousados de inovao;

    Ter uma viso clara do futuro;

    Aumentar a Cultura de Criao no significa...

    Administrar os negcios de maneira imprudente, tomando riscos a

    qualquer preo;

    Desconsiderar os requisitos dos clientes;

    Egosmo e prprio engrandecimento;

    Perder o foco em objetivos e metas;

    Ser a organizao pioneira em tudo;

    Assumir riscos desnecessrios e desconhecidos;

    No olhar com cuidado para anlises e projees;

    Perfis de liderana

    O Inovador

    Um lder inteligente e criativo, uma pessoa que prev mudanas e

    inovaes. A sua influncia na organizao baseada na antecipao

    para um futuro melhor, gerando uma viso de esperana nos demais

    membros. Adaptao e inovao so perseguidas constantemente.

    O Visionrio

    Um lder com o pensamento orientado para o futuro, uma pessoa que

    mantm o foco em saber para onde a organizao planeja chegar, e

    enfatiza as possibilidades e probabilidades deste futuro.

  • 32

    Direcionamento estratgico e melhoria contnua so atividades e

    marcas deste estilo de liderana.

    2.3.2 CULTURA DE MERCADO

    Resumo desta cultura

    Uma organizao que mantm o foco na sua posio externa, e tambm possu

    uma necessidade de estabilidade e controle.

    Perfil da cultura organizacional

    Uma organizao orientada a resultados, possuindo como maior preocupao

    a realizao do trabalho. As pessoas desta organizao so competitivas e

    orientadas a objetivos, os lderes so exigentes, produtivos e altamente

    competitivos so considerados dures e exigentes.

    O que mantm a organizao unida a nfase em resultados e vitrias.

    Sucesso e reputao so preocupaes comuns, o foco no longo prazo est

    calcado na competitividade e obteno de resultados mensurveis. Assim,

    sucesso para esta organizao significa obter market-share e atingir metas.

    Preos competitivos e liderana de Mercado so aspectos chave desta cultura

    organizacional.

    Aumentar a Cultura de Mercado significa...

    Manter o foco nas medidas de resultado e indicadores financeiros;

    Tomar decises baseadas em nmeros a qualquer preo;

    Projetar metas e objetivos ambiciosos;

    Promover a competio de Mercado;

    Promover o esprito de vitria;

    Ter como objetivo ser lder de Mercado;

    Manter o foco nas necessidades dos clientes;

    Aumentar a Cultura de Mercado no significa...

    Perder o foco nas atividades e operaes dirias;

  • 33

    No motivar pessoas;

    Negligenciar as necessidades das pessoas;

    Negligenciar as necessidades do Mercado;

    Perder o foco em resultados operacionais;

    Gerenciar a organizao somente com base em projees financeiras e

    oramentos;

    Perfis de liderana

    O Competidor

    Um lder agressivo e determinado, uma pessoa constantemente

    buscando atingir resultados e objetivos a qual possu como energia

    situaes competitivas. Vencer um objetivo dominante, e o foco est

    na competio externa e na posio de Mercado.

    O Produtor

    Um lder orientado a tarefas e com foco no trabalho a ser realizado.

    Uma pessoa que realiza as atividades dirias atravs de trabalho duro,

    sua influncia na organizao baseada na intensidade e nos

    argumentos racionais motivando as pessoas a atingirem os resultados

    necessrios. Produtividade um objetivo chave deste estilo de

    liderana.

    2.3.3 CULTURA DE CONTROLE

    Resumo desta cultura

    Uma organizao que mantm o foco nas operaes internas, e tambm possu

    uma necessidade de estabilidade e controle.

    Perfil da cultura organizacional

    Uma organizao altamente estruturada e formal, cujos procedimentos e

    regras governam o comportamento das pessoas. Os lderes desta organizao

  • 34

    buscam eficincia operacional e direcionam seus esforos para serem bons

    coordenadores.

    O foco principal est em manter o funcionamento organizacional sem

    problemas, por isto, polticas formais so responsveis por manter os grupos

    unidos. As metas de longo prazo so calcadas em estabilidade, desempenho

    operacional e eficincia. Nesta organizao, sucesso significa oferecer

    confiabilidade de entrega, planejamento executvel e baixo custo operacional.

    A gesto requer segurana e previsibilidade.

    Aumentar a Cultura de Controle significa...

    Promover a estrutura lgica organizacional;

    Criar objetivos, regras e padres de trabalho para os colaboradores da

    organizao;

    Manter foco em indicadores de desempenho e medidas financeiras;

    Manter foco na programao da produo;

    Aumentar o tempo com atividades de programao;

    Aumenta a responsabilidade dos funcionrios;

    Aumentar a Cultura de Controle no significa...

    Criar e manter foco em regras e padres desnecessrios;

    Criar e manter foco em relatrios e procedimentos formais

    desnecessrios;

    Engessar a organizao criando excessivas diretrizes corporativas;

    Passar o tempo todo gerenciando micro operaes;

    Promover restries organizacionais desnecessrias;

    No apoiar a tomada de deciso de cargos inferiores;

    Perfis de liderana

    O Monitor

    Um lder especializado, tcnico e muito bem informado, uma pessoa

    que mantm registro de todo detalhe e conhecimento operacional. Sua

  • 35

    influncia realizada com base no controle das informaes, e por isto

    atividades de documentao e gesto de informaes so objetivos

    deste estilo de liderana.

    O Coordenador

    Um lder seguro e confivel, uma pessoa que mantm a estrutura

    organizacional e o fluxo de trabalho. Sua influncia baseada na

    gesto das operaes, gesto da programao, gesto de tarefas e

    atividades do dia-a-dia, layout fsico, etc. Estabilidade e controle

    organizacional so os objetivos deste estilo de liderana.

    2.3.4 CULTURA DE CL

    Resumo desta cultura

    Uma organizao que mantm o foco nas operaes internas, e tambm possu

    uma necessidade de flexibilidade, foco nas pessoas e sensibilidade com os

    clientes.

    Perfil da cultura organizacional

    Esta organizao um local aberto e amigvel para se trabalhar, no qual as

    pessoas compartilham muito de si mesmas. Os lderes desta organizao so

    considerados mentores ou at mesmo figuras familiares, onde lealdade entre

    os grupos e senso de tradio so marcas fortes.

    Nesta organizao dada nfase aos benefcios de longo-prazo obtidos atravs

    do desenvolvimento de recursos humanos. dada alta relevncia unio entre

    os grupos, de tal maneira que premiado o trabalho em equipe, consenso e

    participao. Existe uma grande coeso entre os grupos.

    Aumentar a Cultura de Cl significa...

    Analisar e suprir as necessidades dos colaboradores;

    Promover a participao e o trabalho em equipe;

  • 36

    Dar suporte e reconhecer as pessoas que jogam pela equipe;

    Promover uma moral atravs do empowerment;

    Criar alto nvel de confiana;

    Expressar uma preocupao clara com as pessoas;

    Promover a possibilidade de autogesto;

    Aumentar a Cultura de Cl no significa...

    Promover uma organizao indisciplinada e excessivamente

    permissiva;

    Perpetuar panelinhas que disputem o poder;

    Promover um caso de amor incondicional para com a organizao;

    Somente manter foco interno;

    No trabalhar duro e no ter grandes expectativas;

    Esquecer metas e objetivos protegendo colaboradores que no

    atingirem o desempenho desejado;

    Liberdade sem responsabilidade;

    Perfis de liderana

    O Facilitador

    Um lder orientado a pessoas e processos, uma pessoa que gerencia

    muito bem conflitos e busca consenso. Sua influncia baseada na

    capacidade de envolver as pessoas na tomada de deciso e na soluo

    de problemas. Participao e abertura so ativamente perseguidas.

    O Mentor

    Um lder cuidadoso que transmite empatia, uma pessoa consciente e

    preocupada com as necessidades dos individuais. Sua influncia

    baseada no respeito e confiana mtua. Moral e comprometimento so

    objetivos deste estilo de liderana.

  • 37

    2.4 DIAGNOSTICANDO UMA CULTURA ORGANIZACIONAL

    ATRAVS DO COMPETING VALUES FRAMEWORK

    O diagnstico, ou avaliao, de uma cultura organizacional, pode ser com base em

    mtodos qualitativos ou mtodos quantitativos. De acordo com Gerolamo (2011), podem

    ser utilizados como mtodos para anlise qualitativa: entrevistas, observaes ou at

    mesmo documentos. A partir destes, ser possvel (GEROLAMO, 2011; SCHEIN, 2009)

    observar:

    Observar:

    Qual o estilo da organizao?

    Como as pessoas se vestem?

    Onde as pessoas almoam? Lancham?

    As pessoas so caracterizadas como srias ou risonhas?

    O ambiente de trabalho formal ou informal?

    Quais tipos de figuras, sinais, piadas esto nos murais?

    Existem cerimnias, ritos e rituais? Estrias e mitos? Heris?

    Qual a linguagem dos membros da organizao?

    Quais so os smbolos, valores e crenas?

    Fazer perguntas como:

    Como foi criada a organizao?

    Como os novos membros aprendem a fazer as coisas na organizao?

    O que noticiado entre os membros da organizao? Como noticiado?

    Quais so as recompensas da organizao? Quais so as punies? Como

    os membros da organizao tem acesso a estas informaes?

    Quando uma equipe atinge um resultado extraordinrio, o que acontece?

    Existem pessoas que cresceram rapidamente na organizao? Se sim,

    como estas pessoas fizeram para crescer rapidamente?

    Quais so os tabus organizacionais (coisas que as pessoas no devem

    nunca fazer)?

    Como descrever a organizao em somente trs palavras?

  • 38

    Para diagnosticar uma Cultura Organizacional, tambm existem mtodos

    quantitativos para obteno destas informaes, atravs da aplicao de questionrios, um

    dos mtodos mais conhecidos e, validado, na comunidade acadmica, o Competing

    Values Framework (CVF), atravs do OCAI (The Organizational Culture Assessment

    Instrument), instrumento de coleta de dados. Basicamente, o OCAI consiste em seis itens

    de anlise (GEROLAMO, 2011; CAMERON E QUINN, 2006):

    ITEM 01: Caractersticas Dominantes

    Qual a dependncia organizacional de sistemas?

    Qual o foco no trabalho em equipe? Em competitividade? Na

    realizao de objetivos? Em criatividade?

    Qual a nfase em eficincia organizacional? No dinamismo

    organizacional? No sentimento de unio entre as pessoas? Na liderana

    do Mercado?

    ITEM 02: Liderana Organizacional

    Qual a abordagem de liderana mais evidente na organizao?

    Qual o estilo de liderana mais presente na organizao?

    Qual o perfil dos lderes mais bem sucedidos na organizao? Estes

    so mentores? Facilitadores? Inovadores? Monitores? Coordenadores?

    Diretores? Produtores? Competidores?

    ITEM 03: Gesto de Pessoas e Equipe

    Como a organizao do ambiente de trabalho? Qual a participao

    das pessoas na tomada de deciso? H consenso nas decises?

    Qual o modo pelo qual as pessoas so tratadas na organizao? Como

    o dilogo na organizao?

    ITEM 04: Unio Organizacional

    A organizao est unida atravs da coeso entre as pessoas? Atravs

    do trabalho em equipe? Competitividade? Empreendedorismo?

    Atravs de metas?

  • 39

    Quais so os mecanismos de unio? Flexibilidade? dado foco em

    objetivos? dado foco no comprometimento e lealdade?

    ITEM 05: nfase Estratgica

    A organizao tem como nfase estratgica a estabilidade operacional?

    Vantagem competitiva? Desenvolvimento de capital humano?

    Inovao? Aquisio de novas tecnologias? Realizao de metas?

    Crescimento? Aumento do Market-share? Inovao? Reduo de

    custo?

    Quais so os direcionadores da estratgia organizacional?

    ITEM 06: Critrios de Sucesso

    Quais so os critrios de sucesso organizacional? Confiabilidade?

    Custo reduzido? Sensibilidade aos clientes? Market-share?

    Desenvolvimento de novos produtos e servios? Penetrao no

    Mercado? Preocupao com as pessoas?

    Quem recompensando na organizao? Como o sucesso definido?

    Com base nestes seis itens apresentados construdo o OCAI proposto por

    Cameron e Quinn (2006), o qual est representado no ANEXO 01.

    Originalmente, a resposta ao instrumento consiste dos seguintes passos:

    1) Primeiro, para cada um dos seis itens, so distribudos 100 pontos entre as

    questes (cada questo representando um tipo de Cultura Adocracia,

    Mercado, Controle ou Cl -, existem quatro questes para cada uma das seis

    dimenses do CVF), esta pontuao assinalada na coluna da cultura atual

    da organizao. Por exemplo, para cada questo dado 50 pontos quando esta

    assimilar-se Cultura atual da organizao, 20 pontos para as questes que

    forem pouco similares a esta cultura, e 10 pontos a questo que no for

    similar. importante que a somatria dos pontos, por item, seja igual a cem

    pontos.

  • 40

    2) Ao final, quando todos os seis itens da cultura atual forem preenchidos, so

    somados os pontos de cada questo A, B, C e D, respectivamente, e

    posteriormente esta somatria dividida por seis, obtendo desta maneira o

    resultado final da cultura atual da organizao.

    3) Depois de determinada a cultura atual da organizao, o prximo passo

    pontuar a cultura desejada da organizao.

    4) Ao final, quando todos os seis itens da cultura ideal forem preenchidos, so

    somados os pontos de cada questo A, B, C e D, respectivamente, e

    posteriormente esta somatria dividida por seis, obtendo desta maneira o

    resultado final da cultura desejada da organizao.

    5) Agora, os resultados finais so plotados em um grfico, de tal maneira a

    permitir a visualizao da cultura atual e uma comparao com a cultura

    desejada para a organizao.

    Depois de visualizar o perfil geral de uma cultura, como tambm visualizar o

    perfil das seis dimenses propostas pelo Competing Values Framework (Caractersticas

    Organizacionais, Liderana Organizacional, Gesto de Pessoas e Equipe, Unio

    Organizacional, nfase estratgica e Critrios de Sucesso), Cameron e Quinn (2006)

    sugerem pelo menos seis padres de comparao do Competing Values Framework, os

    quais so:

    1) O tipo de cultura dominante na organizao

    Um dos motivos pelo qual importante saber o perfil de cultura

    predominante na organizao porque o desempenho, e o sucesso

    organizacional, dependem do quo alinhada est a cultura organizacional

    com as demandas do ambiente competitivo. Ainda, considerando a

    organizao no longo prazo, este perfil de cultura ser importante para

    identificar quais os tipos de liderana so mais importantes na

    organizao, quais tipos de gesto so mais apropriados. De acordo com

    Cameron e Quinn (2006), tambm possvel analisar a extenso de

  • 41

    compatibilidade entre a cultura organizacional e os desejos do(s)

    proprietrio(s) ou dirigente(s), de tal maneira a determinar metas,

    objetivos, estilos e tendncias.

    2) Discrepncias entre a cultura atual e a cultura desejada

    Ao analisar as reas de maior discrepncia, entre a cultura atual e a cultura

    desejada, possvel iniciar a construo de um roteiro de mudanas

    necessrias para almejar esta cultura desejada. necessrio dar ateno

    especial s diferenas com mais de dez pontos, posteriormente, ser

    analisado quais caractersticas organizacionais devem ser ampliadas, e

    quais devem ser reduzidas.

    Figura 2.4.1 Exemplo de perfis de cultura para seis organizaes

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    Manufatura de altatecnologia

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    Banco de Investimento

  • 42

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    Fornecedor de peapadronizadas

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    Manufatura multinacional

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    rgo pblico

  • 43

    Fonte: Cameron e Green (2006);

    3) A fora do tipo de cultura dominante na organizao

    Pesquisas revelam que as culturas mais fortes esto associadas com uma

    homogeneidade de esforos, objetivo transparente e claro, e alto

    desempenho em um ambiente no qual uma viso comum a todos da

    organizao importante. Organizaes como Apple, Toyota, Hyundai,

    Google, IBM, 3M, Bosch, Procter & Gamble, e Johnson & Johnson,

    possuem culturas slidas e fortes. Para os autores, nem todas as

    organizaes precisam ter um perfil de cultura dominante, possvel que

    uma organizao tenha perfis eclticos e balanceados de cultura

    organizacional, isto ir depender das caractersticas do ambiente e

    circunstncias individuais. Em outras palavras, cada organizao deve

    determinar para si mesma, qual o nvel de fora necessrio em cada um

    dos perfis de cultura propostos pelo Competing Values Framework para

    que atinja extraordinrio sucesso em seu ambiente competitivo. Na figura

    2.4.1 so demonstrados alguns exemplos de perfis de cultura, de acordo

    com um determinado setor:

    4) A harmonia/combinao existente entre os diferentes aspectos da

    cultura e entre os diferentes indivduos que responderam ao OCAI, de

    acordo com o Competing Values Framework

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    Empresa de Sistemas de TI

  • 44

    Quando Cameron e Quinn (2006) tratam de harmonia/combinao entre os

    diferentes perfis de cultura, os autores querem dizer que os vrios aspectos

    da organizao precisam estar alinhados, ou seja, preciso que haja

    harmonia entre o perfil de cultura, a estratgia organizacional, o estilo de

    liderana, o sistema de recompensas, a gesto dos funcionrios, e as

    caractersticas dominantes da cultura precisam enfatizar os mesmos

    valores. Para Cameron e Quinn (2006), este tipo de organizao, em

    harmonia, ao plotar no grfico as respostas dos funcionrios ao Competing

    Values Framework, as figuras destes devem ser semelhantes, caso

    contrrio no esto em plena harmonia. Em sua pesquisa, os autores

    constatam que, embora esta harmonia no seja um pr-requisito para o

    sucesso organizacional, ela tpica de organizaes que apresentam um

    alto desempenho quando comparadas s organizaes sem harmonia.

    Desta maneira, a presena de desarmonia entre os perfis de cultura em uma

    organizao geralmente indica a necessidade de mudana, pois cria um

    desconforto organizacional e/ou falta de integrao entre os colaboradores.

    No entanto, preciso constatar que, em diferentes nveis organizacionais,

    haver diferentes perfis de cultura no sendo, portanto, constata

    desarmonia entre diferentes nveis organizacionais, mas somente em

    colaboradores de um mesmo nvel e/ou funo organizacional.

    5) Uma comparao entre o perfil da cultura da organizao em estudo

    com o perfil mdio de uma amostra de mais de mil organizaes de

    acordo com seus gestores

    Em sua pesquisa, Cameron e Quinn (2006) entrevistaram mais de oito mil

    gestores, de mais de trs mil organizaes, de tal maneira a obterem um

    perfil cultural de uma organizao mdia. Este perfil est ilustrado na

    Figura 2.4.2. Na Figura 2.4.3 est ilustrada a mdia do perfil, desta cultura

    mdia, para cada um dos seis itens do Competing Values Framework. Na

    Figura 2.4.1, est ilustrado o perfil mdio de algumas diversas

    organizaes, como exemplo: rgo de administrao pblica, organizao

  • 45

    de servios, atacado e varejo, organizao de transporte, comunicaes,

    eltrica e gs. importante ressaltar que estes perfis no representam um

    ideal, apenas so mdias, obviamente, o desempenho de uma organizao

    ir variar ao longo destas mdias, pois estas mdias incluem organizaes

    do mundo que apresentam desempenho excepcional e outras que possuem

    desempenhos abaixo da mdia.

    Figura 2.4.2 Perfil mdio de uma organizao mais de 1.000 organizaes analisadas

    Fonte: Cameron e Green (2006);

    De acordo com Cameron e Quinn (2006), com base nas respostas da

    organizao em estudo, ou perfil atual, estes perfis mdios apenas servem

    como base para responder a algumas questes: a cultura mapeada atende

    s demandas do ambiente competitivo? Quais mudanas so necessrias

    para que a cultura organizacional esteja alinhada com as demandas do

    ambiente competitivo? Os gestores esto dando nfase no que o cliente

    realmente deseja? Em quais reas preciso desenvolver caractersticas de

    determinada cultura? Qual a competncia mais importante da cultura

    organizacional? Em quais reas o perfil da cultura organizacional

    apresenta desvantagens?

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    Organizao mdia

  • 46

    Segundo Cameron e Quinn (2006), estas e outras comparaes podem

    auxiliar os gestores a terem insights sobre qual a direo de mudana

    necessria na organizao, por exemplo, ter um perfil de cultura diferente

    das organizaes do mesmo setor pode significar um desalinhamento com

    as demandas do ambiente competitivo.

    Figura 2.4.3 Perfil da Organizao mdia para cada item do Competing Values Framework mais de 1.000 organizaes analisadas

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    Caracterstica Org. daOrganizao mdia

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    Liderana Org. daOrganizao Mdia

  • 47

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    Gesto de Pessoas e Equipeda Org. Mdia

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    Unio Org. da Organizaomdia

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    nfase estratgica da Org.Mdia

  • 48

    Fonte: Cameron e Quinn (2006);

    6) Tendncias que foram notadas por Cameron e Quinn (2006) em

    trabalhos que somam mais de dcadas utilizando este instrumento

    Nas pesquisas com mais de mil organizaes, Cameron e Quinn (2006)

    notaram algumas tendncias que parecem serem tpicas que ocorrem com

    as respostas ao Competing Values Framework:

    I. Gestores de cargos elevados normalmente do pontuaes maiores

    cultura de Colaborao, quando comparados a gestores de cargos

    operacionais.

    II. Poucas organizaes possuem caractersticas dominantes de uma

    Cultura de Criao, geralmente a cultura de Criao possui as

    menores pontuaes.

    III. Ao longo do tempo, as organizaes possuem uma tendncia de

    migrarem para culturas de Controle ou Mercado e, quando uma

    cultura dominada pelos dois quadrantes inferiores, Cameron e

    Quinn (2006) acreditam ser muito difcil enfatizar um retorno aos

    0

    25

    50

    75

    Adocracia

    MercadoControle

    Cl

    Critrios de Sucesso daOrg. Mdia

  • 49

    dois quadrantes superiores como se fosse necessrio remover a

    gravidade para que isto ocorra, argumentam Cameron e Quinn

    (2006). Ou seja, necessrio um esforo grandioso para promover

    uma mudana a uma cultura de Colaborao ou de Criao.

    Para Gerolamo (2011), a Avaliao Qualitativa est mais associada a percepes e

    experincias da equipe do projeto sobre a organizao, atravs de entrevistas e anlise

    documentos, enquanto que, a Avaliao Quantitativa, est associada ao levantamento de

    dados com percepes de vrias pessoas ou at mesmo com a aplicao de questionrios.

    Uma combinao de mtodos qualitativos e quantitativos pode prover uma avaliao de

    cultura organizacional com maior embasamento, de tal maneira a promover uma

    concluso mais apropriada a cerca desta organizao (GEROLAMO, 2011).

  • 50

    3. PRODUO ENXUTA

    3.1 DEFINIO DE SISTEMA DE PRODUO

    Um sistema de produo recebe entradas de diferentes naturezas e, aps o

    recebimento destas, h o processamento destas entradas atravs de subsistemas de

    transformao do produto ou servio desejado (GAITHER e FRAZIER, 2002).

    Figura 3.1.1 Modelo de um Sistema de Produo

    Fonte: adaptado de Gaither e Frazier (2002)

    De acordo com Anacleto (2011), tambm h um subsistema de controle, o qual

    tem a funo de monitorar uma parcela do produto, de tal maneira a determinar se o

    mesmo aceitvel conforme os requisitos necessrios quantidade, custo e/ou qualidade.

  • 51

    Gaither e Frazier (2002) apresentem um modelo de Sistema de Produo no qual

    os insumos podem ser classificados em trs categorias: externos (informaes sobre

    condies externas), de mercado (informaes utilizadas como reao s necessidades do

    mercado) e recursos primrios (sustentam diretamente a produo e entrega de bens e

    servios). A partir destes insumos, so gerados produtos diretos, bens tangveis, ou

    indiretos, bens intangveis prestao de servios.

    3.2 EVOLUO HISTRICA DOS SISTEMAS DE PRODUO

    Os Sistemas de Produo tiveram incio com o homem pr-histrico, o qual polia

    pedras com a finalidade de transform-las em utenslios (MARTINS e LAUGENI, 2001).

    Com o tempo, surgiram os primeiros artesos, os quais j formulavam uma produo

    minimamente organizada, a qual possua prazos de entrega, prioridades, especificaes e

    preos definido (ANACLETO, 2011). De acordo com Womack, Jones e Roos (2004), os

    artesos conhecem detalhadamente os princpios, materiais e mecnica de todo o

    processo produtivo.

    Segundo Martins e Laugeni (2001), com a descoberta da mquina de vapor por

    James Watt, em 1764, surgiram as primeiras fbricas e, com estas, surgiu tambm a

    necessidade de padronizar tarefas para atender demanda cada vez mais crescente. Ao

    final do Sculo XIX, Frederick Taylor inseriu os estudos de Tempos e Mtodos, os quais

    foram base para que, no incio do Sculo XX, Henry Ford desenvolvesse a famosa linha

    de montagem do Ford T, criando assim os conceitos de Produo em Massa

    (ANACLETO, 2011). No Sistema de Produo em Massa a transferncia de material

    ocorre em grandes lotes, fazendo com que os produtos sejam empurrados fluxo abaixo,

    tambm h necessidade de equipamentos grandiosos, de alto investimento, dedicao

    exclusiva e necessidade de operadores altamente especializados.

    Em oposio ao Sistema de Produo em massa, ao estilo norte-americano, o

    conceito de Produo Enxuta surgiu em meados da dcada de 1960, no Japo. Kiichiro

    Toyoda e Taiichi Ohno foram os percursores da Produo Enxuta, ambos iniciaram o

    desenvolvimento de um sistema produtivo que permitia o fluxo contnuo, no utilizava

    grandes lotes de produo, tampouco necessitava de equipamentos de alto investimento, e

  • 52

    ainda permitia aumentar o mix de produtos ofertados, este sistema ficou como conhecido

    como Sistema Toyota de Produo (Toyota Production System, TPS), base dos conceitos

    de Produo Enxuta. Outros termos tambm definem a Produo Enxuta, como:

    Manufatura Enxuta, Lean Manufacturing, Lean Production, Lean ou at mesmo Toyota

    Production System (ANACLETO, 2011).

    Como representado na Figura 3.2.1, o Sistema Toyota de Produo, tem como

    pilares o Just In Time (JIT) e o Jidoka. O primeiro pilar, JIT, est relacionado produo

    de itens somente quando de fato h demanda para os mesmos, e somente na quantidade

    necessria, evitando superproduo e estoques excessivos. Como consequncia desta

    reduo dos estoques, as operaes se tornam mais geis e flexveis com relao ao

    tempo de resposta demanda. O segundo pilar do TPS, o Jidoka, tambm conhecido

    como autonomao, o pilar responsvel por garantir a qualidade das operaes, pois

    prega a necessidade de interromper imediatamente uma operao quando esta apresentar

    uma falha (MARCHWINSKI e SHOOK, 2007; ANACLETON, 2011).

    Figura 3.2.1 Sistema To