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    A  R T I   G O A  R T I  

     C L E 

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    1 Faculdade de Psicologia,Universidade Federal doAmazonas. Av. GeneralRodrigo Otávio JordãoRamos 3000, Setor Norte,Campus UniversitárioCoroado III. 69077-000Manaus [email protected] Departamento de Ensino,Instituto Fernandes Figueira,Fundação Oswaldo Cruz.

    Homens e violência conjugal: uma análise de estudos brasileiros

    Men and conjugal violence: an analysis of Brazilian studies

    Resumo 

    O estudo analisou qualitativamente 54

    textos brasileiros sobre homens e violência conju-

     gal, relacionados a atividades de pesquisa ou de

    intervenção. Primeiramente caracterizou-se o

    material quanto aos temas abordados, ao foco prin-

    cipal e ao tipo de texto. A seguir fizeram-se sínte-

    ses e análises das principais considerações dos tex-tos a partir dos eixos temáticos encontrados: dife-

    rentes inteligibilidades da problemática, magni-

    tude da violência conjugal, sentidos de homens

    relacionados à violência e intervenções e/ou polí-

    ticas junto a homens agressores. A análise teve

    como parâmetro o ramo de discussões nacionais e

    internacionais que se esforça por ultrapassar a

     polêmica em torno da definição do problema como

    “violência de gênero” ou “violência conjugal”,

    cunhando sobretudo o pressuposto de que existem

    diversos estilos de conjugalidade violenta. Con-

    cluiu-se que a maior unanimidade dos estudos é 

     pensar a problemática como questão relacional de gênero. Defendeu-se, por fim, a ideia de que a

    escolha da melhor abordagem articuladora entre

    os polos da polêmica ainda demanda mais inves-

    tigações, com metodologias qualitativas junto a

    atores de diferentes camadas e grupos sociais.

    Quanto às intervenções, propõem-se investimen-

    tos no maior número possível de alternativas,

    valorizando a singularidade dos casos.

    Palavras-chave Violência conjugal, Gênero,

     Masculinidade, Literatura de revisão, Promoção

    de saúde

    Abstract This study consisted of a qualitative

    analysis of 54 Brazilian texts about men and con-

     jugal violence related to research or intervention

    activities. Initially, the material was divided up

    according to the topics under scrutiny, the main

     focus and the type of text. Analysis and synthesis of 

    the main considerations of the texts, based on thethematic points revealed, was then carried out.

    This included the different approaches to the prob-

    lem, the magnitude of conjugal violence, the atti-

    tudes of men vis-à-vis violence and interventions

    and/or policies towards male aggressors. The pa-

    rameter for the analysis was the national and in-

    ternational debate seeking to overcome the con-

    troversy surrounding the definition of the prob-

    lem as “gender violence” or conjugal violence,”

    essentially fostering the hypothesis of various types

    of violent conjugal relationships. It was concluded

    that the unanimous outcome of the study was to

    view the problem as a gender relationship issue.Lastly, it was argued that the choice of the best 

    approach between the poles of the controversy re-

    quires further investigation using qualitative

    methodologies together with players from differ-

    ent classes and social backgrounds. With respect to

     further intervention, it was considered necessary

    to examine a broad gamut of alternatives empha-

    sizing the singular nature of the cases.

    Key words Conjugal violence, Gender, Masculin-ity, Literature review, Promotion of health

    Kátia Lenz Cesar de Oliveira 1

    Romeu Gomes 2

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    Introdução

    A violência conjugal ganhou visibilidade sobretu-do pelos movimentos feministas, que denuncia-ram o poder patriarcal e seus efeitos de opressão

    dos homens contra as mulheres. Suas ações com-preenderam mobilizações sociais em prol da puni-ção exemplar dos agressores; intervenções, comoabrigos para mulheres vítimas, grupos de consci-entização para mulheres e mais tarde também paraagressores; e ainda estudos que comprovaram aalta prevalência da violência contra as mulheres eas severas consequências para a saúde delas.

    No campo da saúde pública, o tema da vio-lência masculina no espaço privado só ganhouatenção após um percurso que se deu primeira-mente pela renovação da perspectiva quanto àsdiferenças de morbimortalidade entre homens e

    mulheres, com uso de teorias feministas, e de-pois com análises sobre violência masculina navida pública. Nesse caminho, agora já se defendea ideia de que mulheres e homens, embora dediferentes modos, têm problemas de saúde emrazão da violência conjugal1.

    No Brasil, o tema ganhou importância social apartir dos anos 80, quando, segundo Grossi2, “vio-lência contra a mulher” tornou-se sinônimo de“violência conjugal”. As feministas angariaram,então, principalmente a criação de conselhos muni-cipais e estaduais da mulher por todo o país, bemcomo as delegacias especializadas em crimes con-tra a mulher. Na década de 90, os abrigos para asvítimas também surgem como uma política cen-tral de combate à problemática. Em 2003, a promul-gação da Lei no 10.778, que estabeleceu a notifica-ção compulsória de casos de violência contra amulher, atendidos em serviços de saúde públicosou privados, foi um passo preciso em direção damaior sensibilização dos profissionais. No ápicedessas conquistas históricas está, em 2006, a pro-mulgação da Lei no 11.340, a Lei Maria da Penha,que ampliou consideravelmente a visibilidade daproblemática. Ela institui penas mais severas para

    os agressores, a criação de juizados especiais deatenção à “violência familiar e doméstica contra amulher”, bem como programas e centros de atendi-mentos aos homens agressores, entre outros avan-ços. Especificamente, sobre homens temos aindaoutra lei importante: a 11.489, de 2007, que estabele-ce o dia 6 de dezembro como Dia Nacional de Mobi-lização dos Homens pelo Fim da Violência contraas Mulheres, reforçando a Campanha Laço Bran-co, de mesmo tema, trazida do Canadá desde 1999.

    A atenção aos homens a partir de uma pers-pectiva de gênero já vinha se dando desde mea-

    dos dos anos 80. Mas só dez anos depois surgi-ram ações junto ao público masculino, de orga-nizações não governamentais (ONGs) brasilei-ras3 e instituições públicas da saúde coletiva noRio de Janeiro, que sustentadas em perspectivas

    e movimentos feministas, embora sofrendo re-sistências destes, vêm discutindo assuntos comosaúde sexual e reprodutiva, paternidade, formasde lidar com afetos e emoções e violência entrehomens e contra a mulher. Na área da saúde, háum passo ainda mais ousado em 2009: a pro-posta de criação da Política Nacional de Atençãoà Saúde do Homem, submetida à consulta pú-blica no portal do Ministério da Saúde.

    As primeiras intervenções específicas junto ahomens agressores foram em 1998, em forma degrupos de reflexão, no contexto das ONGs Insti-tuto Papai, do Recife, Instituto Promundo e Insti-

    tuto Noos, do Rio de Janeiro, além do CentroEspecial de Orientação à Mulher Zuzu Angel, deSão Gonçalo (RJ). Os centros de reeducação deagressores, projetados na Lei Maria da Penha, jácomeçam a sair do papel – o primeiro, em marçode 2009, em Nova Iguaçu (RJ). Vale salientar quese desenvolve desde 2006 um projeto multicêntri-co com quatro universidades federais brasileirascom o objetivo principal de delinear um modelode atendimento psicossocial a homens autores deviolência numa “perspectiva crítica”4.

    Já no universo acadêmico brasileiro, as pes-quisas sobre violência e gênero vêm crescendoenormemente, desde os anos 90, de início e majo-ritariamente bem atreladas à perspectiva feminis-ta5. No entanto, as pesquisas sobre homens au-tores de violência atraem um interesse bem me-nor, apesar do no âmbito internacional estaremdespontando desde a década de 1980. Em Levan-tamento Nacional de Pesquisas sobre Gênero eViolência realizado por Grossi et al.5, das 286 pu-blicações apresentadas apenas 7% (16) investi-gam homens ou masculinidades.

    Neste artigo, nos propomos analisar a pro-dução do conhecimento acerca do tema “homens

    e violência conjugal”, que vem se avolumandodesde o levantamento de Grossi et al.5 em 2006,procurando apontar pontos de discussão queajudem a elucidar/reformular a problemática,bem como aspectos que ainda são obscuros ounegligenciados. Propomo-nos, ainda, tecer con-siderações sobre como o conhecimento brasilei-ro sobre violência conjugal pode avançar a partirda investigação junto aos homens implicados.

    Com esse propósito, acreditamos que o pre-sente estudo poderá subsidiar tanto o desenvol-vimento de pesquisas sobre o tema, ao mapear o

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    estado da arte na área, como as ações de saúdepública diante da problemática em questão.

    Metodologia

    Realizamos uma pesquisa bibliográfica, aqui en-tendida como levantamento e análise do que jáse produziu acerca de um assunto consideradocomo tema de pesquisa científica6. Coletamostextos de diversos tipos: desde relatórios de pes-quisa até relatos de experiência de intervenção,na forma de artigos, textos em eventos acadêmi-cos, livros, capítulos de livros etc. Para a coleta,utilizamos vários recursos: os oficiais de revisãobibliográfica, o sistema Lattes, a Internet não aca-dêmica, o exame nas referências bibliográficasdos textos encontrados, sites de organizações não

    governamentais (ONGs) e também a rede pes-soal dos autores deste artigo. Na Scielo (Scienti-fic Electronic Library Online), no Google (até porvolta das seiscentas citações, por conta do pro-gressivo arrefecimento da disponibilidade de tex-tos que interessavam) e no Lattes  (em procurapor assunto), as buscas aos textos foram reali-zadas entre agosto de 2008 e março de 2009, comas expressões: violência conjugal e homens, vio-lência de gênero e homens, violência contra mu-lher e homens, e masculinidade e violência. Quan-tos aos textos que usaram o termo “homens”,foram selecionados ainda os que tinham homenscomo entrevistados, ou que os tinham como re-lacionados ao objeto central de investigação, ouainda que possuíam metodologia capaz de in-vestigar se eles são (vistos como) também víti-mas. Definimos ainda que só fossem incluídosos textos produzidos no Brasil, sem restrição àdata de publicação, escritos por profissionais ougraduandos, e ainda que não fossem resumosem eventos, selecionando, ao final, 54 textos.

    Em relação à análise qualitativa dos textos,trabalhamos com uma adaptação de Gomes7 datécnica de análise de conteúdo Bardin, de moda-

    lidade temática. Nessa análise, após uma com-preensão geral do material, percorremos os se-guintes passos: identificação das ideias centraisdos textos, classificação das ideias em torno denúcleos de sentido identificados no conteúdo domaterial, classificação desses núcleos de sentidoem eixos mais abrangentes (temas) em torno dosquais giravam os textos, e redação de síntese in-terpretativa.

    Resultados e discussão

    A análise revelou os seguintes temas: diferentesinteligibilidades da problemática, magnitude daviolência conjugal, sentidos de homens relacio-

    nados à violência, e intervenções e/ou políticas junto a homens agressores. O Quadro 1, apre-sentado ao final, permite uma visualização dostextos segundo esses temas.

    Diferentes inteligibilidades

    da problemática

    Ao focalizar a violência conjugal, Grossi8  eSuarez e Bandeira9 primeiramente apontam di-ferentes inteligibilidades sobre gênero e violência,classificando os estudos quanto às diferentes es-colas de pensamento, ou quanto às formas de

    visualizar o problema da violência, ou ainda quan-to aos formatos metodológicos, que determinamas linhas de indagação diante do fenômeno.

    Aqui nos parece oportuno trazer uma classi-ficação mais ampla10, que define uma polêmicaprincipalmente a partir de dois polos: um quedefine o problema como “violência contra a mu-lher” ou “violência de gênero”, ancorado no femi-nismo, e outro como “violência conjugal”, quedistingue também a violência da mulher contrao homem, e tem representantes dentro e fora dofeminismo.

    Lima et al.3, posicionando-se a favor do pri-meiro polo, ancorados em estudos sobre inter-venções com homens agressores, relacionam estepolo a uma abordagem sociocultural e o segun-do a explicações mais psicologizadas. Veremos,no entanto, a seguir, que a polarização entre es-tudos de cientistas sociais e de psicólogos, embo-ra reflita certas características da polêmica, não ésuficiente nem exata.

    Suarez e Bandeira9, antropólogas, por sua vez,apontam que a discussão sobre o tema dentrodo feminismo não é homogênea, afirmando queos artigos de seu grupo de pesquisa têm como

    pressuposto que a violência interpessoal contraas mulheres é um fenômeno complexo cujo enten-dimento requer a consideração de algo mais do que

    o exercício do poder patriarcal. [Assim] mostramque, além do poder masculino, a violência de gêne-

    ro deita suas raízes nas relações conjugais e amo-

    rosas e em imperativos culturais que lhe outorgam

    sentido9. Couto e Schraiber1, numa tendênciapróxima a esta, defendem o trânsito entre uma

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    idéia genérica de patriarcado para uma idéia que

     privilegie a violência como expressão da insegu-

    rança masculina, e ainda deixam o alerta paraque o poder não seja resumido à masculinidade.

    A antropóloga Grossi2,8 define os polos no

    Brasil entre um marxista, ligado a um feminis-mo radical, e outro como “culturalista”. Posicio-na-se como fazendo parte do segundo polo, cen-surando a tendência em essencializar a masculi-nidade como violenta, e também a partir da dife-renciação entre agressão e violência. A agressãoseria uma ação que permite revide, enquanto aviolência não. Seu maior diferencial, em relaçãoao primeiro polo, é que ela entende que os atosmasculinos denunciados são em sua maioriaagressão, e não violência. Para a autora, esse atoé um fenômeno que está relacionado a gênero,mas que abrange um campo maior: a comuni-

    cação truncada entre o casal, em vez de relaçõesde poder fixas que mantêm apenas um dos côn- juges no topo da hierarquia; assim pode ser per-petrado por ambos os cônjuges. Em 1998, Gros-si11 já propunha pensarmos o problema a partirdo modelo de conjugalidade ocidental modernobaseado na ideia de amor. Esta nova categoriafocaliza as contradições das vivências pós-mo-dernas. A conjugalidade calcada no amor român-tico atual incita tanto a formulação de relaçõesdesiguais pautadas na complementaridade degênero como as relações igualitárias ligadas aoindividualismo/psicologismo moderno.

    Soares10, outra antropóloga, por sua vez po-siciona-se de forma a validar ambos os pólos,tomando em consideração a eficácia das inter-venções de cada polo e a força argumentativa deexplicações, que (ressalta-se aqui) conquistamambos uma abordagem cultural do problema.Ela admite pensar que existem diferentes casos:um tipo bem representado pelas explicações fe-ministas, na medida em que a violência se dá comoum terrorismo do homem contra a mulher, eoutros em que podemos ver violências mútuas.

    Chamamos aqui esta argumentação de Soa-

    res

    11

    , ao trazer um entendimento de diferentes esti-los de conjugalidade violenta, de “terceira via”, eacreditamos ser muito importante, porque maisdialógica e integrativa, promovendo um consensoamplo entre feministas e seus opositores. O quesignifica respeitar e aproveitar, mesmo que nãocompletamente, todos os estudiosos do assunto.

    Magnitude da violência conjugal

    Os estudos quantitativos brasileiros reforçama inteligibilidade da problemática no viés do pri-

    meiro polo, do segundo polo e da “terceira  via”,apresentados respectivamente a seguir.

    Os estudos de Schraiber et al.12  sobre “vio-lência sexual por parceiro íntimo” apontaram quea prevalência encontrada desta foi de 8,6%, com

    predominância entre as mulheres (11,8% versus5,1%). Também verificaram que foi significativaa diferença da maior taxa verificada para homenshomo/bissexuais em relação aos heterossexuais,e não para mulheres; que a população negra re-feriu mais violência que a branca; e ainda quequanto menor a renda e a escolaridade maior aviolência, sendo que os homens pobres referi-ram mais a violência. Por fim, confirma-se a altamagnitude da violência sexual e a sobretaxa femi-

    nina, e reitera-se a violência como resultado de

    conflitos de gênero, os quais perpassam a estratifi-

    cação social e a etnia12.

    O I Levantamento Nacional sobre Padrões deConsumo de Álcool no Brasil13, realizado com631 homens e 814 mulheres de 1.445 domicíliosem 143 municípios, em 2005/2006, a partir de per-guntas sobre problemas com o uso do álcool,mostra que as mulheres batem mais do que oshomens, apresentando proporções semelhantesa estudos internacionais: 5,7% das entrevistadasadmitiram ter batido pelo menos uma vez em seuparceiro nos 12 meses anteriores, enquanto o ín-dice dos homens foi de 3,9%. Segundo os autores,os números podem expressar certa subnotifica-ção dos homens em relação à agressão e ao usodo álcool. Uma das autoras, em entrevista à im-prensa, defende ainda a ideia de que, culturalmen-te, não é difícil para as mulheres assumirem quebatem, até porque veem suas agressões como le-ves; já no caso dos homens é mais complicado,porque o ato é tido como mais violento.

    Segundo a pesquisa de Reichenheim et al.14

    sobre prevalência de violência entre parceiros ín-timos, realizada em 2002/2003, em 15 capitaisbrasileiras e no Distrito Federal, envolvendo 6.760mulheres, usando como instrumento a Escala deTáticas de Conflito (formulário R, de Straus), a

    prevalência global de agressão psicológica, abu-so físico “menor” e “grave” no casal foi de 78,3%,21,5% e 12,9%, respectivamente, índices muitoaltos em relação a países como EUA e europeus.O abuso físico total atinge entre 13,2% e 34,8%nas várias cidades, sendo que as prevalências fo-ram mais altas no Norte e no Nordeste. Consta-tou-se ainda que quanto menor a idade e a esco-laridade, maior o índice de violência.

    Desagregando por gênero, verificou-se quemesmo elas batendo mais em geral, nas situa-ções em que são vítimas estão em clara desvan-

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    tagem sofrendo mais consequências para a saú-de, o que é coerente com a literatura internacio-nal de abordagem semelhante. Os autores defen-dem, então, a ideia de que não se pode concluirapressadamente que a violência entre parceiros

    íntimos é qualitativamente e quantitativamentesimétrica em relação ao sexo, que as estruturasde poder e dominação devem ser contempladas.

    Conclui-se ainda que existem diferentes ce-nários de confrontação entre parceiros íntimos,um tipo que tem sido bem retratado pelos meiosde comunicação como “espancamento da mu-lher”, e outro, mais sutil, que pode se enquadrarna “normalidade” da coabitação conjugal (po-rém não sem consequências danosas para a saú-de), em que a violência pode ser vista como au-torizada tanto por homens como por mulheres.Estudo de Schraiber et al.15, também recente, so-

    bre “prevalência da violência contra a mulher porparceiro íntimo”, em diferentes regiões do Brasil,também infere sobre padrões distintos de vio-lência conjugal: um mais brando e ocasional eoutro mais crônico, de natureza progressiva;embora não falem da violência feminina.

    Seguindo críticas feministas a estudos comoos de Reichenheim et al.14, os próprios autorestêm como limite principal do estudo a constata-ção de que o instrumento usado não informaexplicitamente sobre contexto e consequênciasdos eventos registrados, nem aborda outras for-mas da violência, como coação e abuso sexual; oque pode ser resolvido com o uso da Escala deTáticas de Conflito Revisada.

    Sentidos de homens

    relacionados à violência

    As análises quantitativas dos estudos quali-quantitativos16,17 neste tema apontam resultadossemelhantes aos estudos apresentados aqui, noque se refere à escolaridade, renda e diferençaentre índices de tipos de violência. Acrescenta-seque a faixa etária com maior índice de violência

    está entre 20 e 24 anos, seguida daquela entre 25e 39 anos; e que os índices mais elevados de vio-lência estão relacionados ao fato de os homensterem mais de três parceiras sexuais17.

    No que se refere aos sentidos atribuídos aoato violento, os textos destacam que os homensem geral (não identificados como violentos)veem, em princípio, a violência como condená-vel, contudo tolerável, como revide ou contra“mulheres que gostam de apanhar”, já que é aexacerbação dos “instintos naturais” do ho-mem18,19. Já os homens agressores podem ver a

    violência até como normal, com o argumento deque é um ato educativo20 ou ainda um modo deser20,21. Constatou-se ainda que, durante os pro-cessos interventivos, os homens agressores ten-dem a pensar atos violentos só a partir da di-

    mensão individual, e não da cultura, privatizan-do assim o tema20,22,23.

    As alegações dos homens para o uso da vio-lência contra a mulher são: ciúme/infidelida-de16,17,19,21,24,25, desemprego ou dificuldade finan-ceira do homem16-18,21,24,26, dependência quími-ca18,20,26-28, agressão física ou psicológica da com-panheira19-22,26,29,30 , outros “erros” dela (comocobrança e falta de compreensão17-19,23,25,27, recu-sa sexual22,27, confrontação19, domínio sobre ocompanheiro e destituição da palavra dele20, de-sonestidade26, desobediência26 e emprego dela27),discussões sobre criação de filhos e finanças da

    casa17,19, divergências quanto aos papéis de ho-mem e mulher19,28, dificuldade de dialogar20,25,medo de perder o controle sobre a mulher28.

    Os estudos se diferenciam entre si em razãode suas interpretações diante dessas causas daviolência elencadas pelos homens. Tomandocomo referência as inteligibilidades elencadas aquisobre a problemática, dividimos os estudos emtrês grandes grupos. O grupo hegemônico con-clui que os sentidos de violência dos homens com-provam a “dominação masculina”31, sendo quepodemos subdividi-los entre textos que tendema compor uma visão maniqueísta, na medida emque reforçam a dualidade mulher-vítima versushomem algoz16,26,28,30,32-34, e outros que enfatizama percepção de que as mulheres são ativas, ouseja, que podem perpetrar agressões, ressaltan-do essas como ações diferentes de violência (do-minação), porque permitem revide18,22,23,26,35-42.

    Uma das argumentações mais consistentespara examinar a dominação masculina é a deSaffiotti e Almeida36, ao cunharem o termo “sín-drome do pequeno poder”. Esta seria a reaçãomasculina de se colocar superior às mulheres comas quais eles convivem, de forma a compensar a

    sensação de impotência a que são submetidosnos outros tipos de ordenamento das relaçõessociais – em especial no eixo de classe social e deraça/etnia –, ou para não perder a importânciasocial que já alcançaram nos espaços públicosou comunitários.

    Outra argumentação bem original é de Ma-chado e Magalhães37, que estudam a problemáti-ca com base tanto na psicanálise (“realismo de-sencantado”) como nos estudos desconstrucio-nistas de gênero (perspectiva política do “indivi-dualismo de direitos”), concluindo que a violên-

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    cia se dá em razão de um contrato conjugal camu-flado – em nível do impensado e criado a partirda cultura – que se ancora na noção de que cabeao homem “assegurar ou não a respeitabilidadeda companheira”37. Sob essa influência, o homem

    desenvolveria uma estrutura de personalidadeobsessiva, que atua para que ele se interponhadiante de qualquer movimento da parceira dedesejar alguma coisa que não seja ele mesmo; en-quanto a mulher comporia uma estrutura histé-rica, que a incita a acreditar que só ele pode devol-ver sua identidade de mulher respeitada, ao mo-dificar o modo como ele a vê. Nessa análise, asautoras também distinguem a violência da agres-são, definindo que, a partir dessas psicopatolo-gias, os homens cometeriam violência, enquantoas mulheres, agressão. Machado38  ainda avançaao dizer que sob a influência de um outro indivi-

    dualismo que não o de diretos, calcado na “hiper-valorização da liberdade”, do “hedonismo dassensações, do sucesso” e do “narcisismo”, a violên-cia conjugal perpetrada a partir de um “conflitorelacional da honra” masculina (ligada à obsses-sividade) pode estar se transfigurando numa “vio-lência dessocializada”, na medida em que o queimporta é encenar bem um papel prescrito e segun-do o qual a violência ganha valor por si mesma(não pelo que quer comunicar, como antes). Issoporque os valores sociais positivos de pertençasocial se enfraquecem no mundo individualista.

    Para avançar nesse caminho, além dessas li-nhas de discussões, tem sido muito útil um olharestruturalista – visto, tal como a psicanálise emMachado38, como “bom para pensar” e não comouma lógica universal – que apreende a realidadea partir da dualidade cultural individualismo-holismo, usada por Marques23, embora para dis-cutir intervenção, e um pouco menos central-mente por Couto et al.18, Machado38 e Oliveira25.

    A corrente estruturalista é retratada de modobastante consistente no campo maior dos estu-dos sobre a violência conjugal por Brandão42.Seus estudos nos levam a compreender que no

    cotidiano das(os) usuárias(os) das delegacias damulher, mais relacional (holista) do que indivi-dualista, em que também o corpo não demarcatanto as individualidades, as agressões físicaspodem advir de ambos os parceiros: as da mu-lher seguem a mesma lógica de seu recurso àpolícia, qual seja: de promover o reajustamentodo parceiro à lógica de gênero hierarquizada ecomplementar, enquanto as do parceiro buscammanter a ordem hierárquica.

    Um segundo grupo de estudos compõe-se dedois, bem diferenciados dos outros em virtude

    de vitimizar os homens, focando a atenção emseus sofrimentos. Xavier29, embora buscandoapoiar o feminismo, procura sustentar quaseincondicionalmente os relatos dos homens so-bre violências femininas. Nolasco43concebe a vio-

    lência perpetrada pelos homens contra si mes-mo e contra os outros como fruto de uma cultu-ra contemporânea que banaliza a representaçãomasculina, na medida em que coloca esta como“o bode expiatório” dos problemas atuais de vio-lência. Assim, em vez de o problema ser sanado,é sustentado e banalizado. Para ele, o que precisaganhar atenção é o fato de os homens se senti-rem fragilizados na capacidade de compor iden-tidades masculinas honradas, dignas de admira-ção e respeito dos outros. A masculinidade con-temporânea é frágil e sofrida, porque a culturacontemporânea, sob a liderança dos “movimen-

    tos de minoria”, prescindiu da visão “fisicalista”de gênero e da “dimensão sagrada” da existência.

    Um terceiro grupo de textos parece-nos com-por o que chamamos aqui de “terceira  via”, namedida em que percebe momentos distintos emque os homens ora são agressore, ora vítimas,mesmo tendo o viés de gênero como uma de suascategorias centrais de análises20,21,24,25. Alvim eSouza21, por exemplo, se remetem a pesquisas queanunciam que a mulher perpetra mais agressãoverbal e mais astutamente que os homens. Gua-reschi et al.20 usa a proposta de Wieviorka, queclassifica a violência em dois tipos: “instrumen-tal” e “não instrumental” – esta última, como “re-cusa em dar prosseguimento a uma existência emque se sente negada”, seria uma das formas deviolência do homem contra sua companheira.

    Cabe-nos ressaltar que tendemos a classifi-car Machado37,38 como fazendo parte dessa “ter-ceira  via”, na medida em que admite existiremcasais que perpetram violências verbais mútuasgraves, mas recuamos porque ela defende que sóa violência física masculina encontra suporte nacultura contemporânea e brasileira.

    Como essa “terceira via” é incipiente no Bra-

    sil, tentamos suprir sua falta de representativi-dade, trazendo a seguir um aprofundamento apartir de discussões internacionais e nacionais.Primeiramente, vale destacar que os estudos nes-sa direção não são unânimes quanto aos crité-rios para se definir os estilos de conjugalidadesviolentas.

    Soares10, Reichenheim et al.14 e Oliveira25, noBrasil, e Casimiro44, em Portugal, seguindo ospassos de Strauss nos EUA10, diferenciam conju-galidades violentas em basicamente duas modali-dades: uma em que haveria violências mútuas e

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     C i   ê  n c i   a  & S  a  ú  d  e  C  ol   e  t  i   v a  ,1  6  (   5  )   : 2 4  0 1 -2 4 1  3  ,2  0 1 1 

    moderadas, que Casimiro chama de “violênciacomum no casal” – termo que pode promover anoção de que essa violência é aceitável – e a “vio-lência patriarcal” ou de terrorismo do homem(desenvolvida em escalada e mais grave). Olivei-

    ra25 propõe uma classificação de dinâmicas con- jugais violentas entre “simétricas” e “assimétricas”.

    Cantera45, da Espanha, por sua vez fala de“violência de gênero”, que seria a do homem con-tra a mulher, e ainda de outros dois tipos, quenão poderiam, no seu entender, serem interpreta-das pelo viés de gênero, como outros fazem, quaissejam: a violência perpetrada entre casais homos-sexuais e a violência da mulher contra o homem.Diferentemente dos autores aqui citados, ela nãose refere a violências mútuas de mesma qualidadenum mesmo casal. Também a francesa Hiri-goyen46 classifica a violência identificando um

    único autor de violência em cada conjugalidade,seja homem, seja mulher, embora enfatizando oíndice maior da violência masculina.

    Mesmo não discutindo diretamente a violên-cia conjugal, mas a masculinidade hegemônica,Oliveira47, do Brasil, ajuda a compor esse debatesobre estilos de conjugalidade violenta pelo viésde classe social. Ele nomeia a posição política deNolasco43  de “vitimária”, criticando-o no quetange a entender que os homens vivenciam sofri-mento ao exercerem o papel masculino. Para ele,os achados de Nolasco43  estariam circunscritosaos homens de classe média intelectualizada/psi-cologizada; os outros, por sua vez, reatualizari-am os valores tradicionais e hirarquizados degênero, na busca por se livrarem da insegurançaadvinda da falta de parâmetros morais gerais quea cultura pós-moderna promove. Para Olivei-ra47, exercer e cultivar um papel masculino pro-voca conforto e prazer, pelo menos na maioriados homens. Por fim, ele ainda defende haver“vivências interacionais da masculinidade [hege-mônica] em agentes femininos”47, tal como, emoutras palavras, também defendem Saffiotti eAlmeida36 e Suarez e Bandeira9.

    Analisando os estudos brasileiros sobre os sen-tidos de homens à luz da “terceira via”, podemosver que para muitos deles falta vislumbrar a pos-sibilidade de encontrar conjugalidades em que seperpetra apenas ou majoritariamente a agressão– no sentido de ato que permite revide – por partede ambos os cônjuges, ou em que a mulher é a quemantém a relação de dominação sobre o homem.Marques23, por exemplo, traz falas em que ho-mens (uns de classe média) defendem a ideia deque a violência que cometem são qualitativamentediferentes das de outros que conheceram no gru-

    po de homens, qualificando suas relações comomenos graves; mas a autora analisa tais falas comominimização da própria violência.

    É comum entre os estudos considerar todaqueixa dos homens de que são molestados ou

    controlados pela mulher como desculpa, atitudecínica ou ainda alienada. Rosa et al.24, diferente-mente, chama a atenção para o fato de que exis-tem homens alienados e outros que reconhecemas dificuldades que trazem consigo, assumindoum lugar de singularização, criação e expressão,embora sem conseguir mudanças.

    É já certo que não se pode deixar de desconfi-ar que muitas vezes falas queixosas estão mesmoassociadas à falta de responsabilização dos ho-mens pelos seus atos – tal como as falas queixo-sas das mulheres vítimas48, ou ainda pior: emprol da manutenção do controle sobre as mu-

    lheres. No entanto, se nos colocamos interessa-dos em ouvir os homens, que suas falas sirvampara complexificar o conhecimento do fenôme-no. Que sejam vistos como parceiros (Arilha apudLima et al.3), na medida principalmente em quese mostrem abertos a autorreflexões e autorres-ponsabilizações.

    Intervenções e/ou políticas

     junto a homens agressores

    A partir dos textos encontrados sobre inter-venções e políticas, muito se poderia discutir so-bre as interessantes propostas interventivas jun-to a homens autores de violência conjugal. Ostrabalhos do Instituto Noos49-52 e da ONG Pró-Mulher, Família e Cidadania53 sobressaem pelariqueza de detalhes sobre referenciais de inter-venção, enquanto outros10,23,39,40,54,55  pelas análi-ses culturais. Restringimo-nos aqui a esboçar osformatos metodológicos, para, a seguir, focar nascríticas dirigidas às intervenções.

    Primeiramente, verifica-se que em todos ostextos os interventores mostram-se convencidosde que a categoria gênero é essencial para seus

    trabalhos; embora alguns a tenham como cen-tral56,57 – configurando-se como o primeiro polode discussão da polêmica –, enquanto outros aveem como complementar10,49,50-54, sendo por-tanto classificados aqui como “terceira  via”. Dequalquer forma, a tônica da responsabilizaçãodos homens, ou pelo menos a discussão quantoà dimensão ética e política das intervenções, per-passa todos os textos.

    A antropóloga Soares10 contribui muito aoanalisar o discurso baseado na vitimização femi-nina, definindo-o como “vitimização afirmativa”,

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    como fruto positivo dos atendimentos nos abri-gos para mulheres nos EUA, que começou a serdesenvolvida pelos Alcoólicos Anônimos (AA)desde os anos 30 do século XX. Ela analisa que éum discurso autorreferente que tem como tema a

    culpa, em que primeiro o narrador é isento deculpa, e sua autoanálise só demanda encontrar opróprio sofrimento. Só que a culpa, em vez de seratribuída ao outro, é alocada na doença (alcoo-lismo – para alcoólatras, dependência psíquicado outro sob influência da cultura machista, paramulheres vítimas e homens agressores). Nessecaminho, passa-se a analisar o efeito da “doença”(que fica alocada no passado) em seus compor-tamentos e percepções e deliberar ações para re-parar o mal advindo dela. O método conciliaambiguamente passividade e atividade.

    As características das intervenções podem ser

    assim descritas: (1) predominam os “grupos dehomens” “autores de violência conjugal”, geral-mente vistos como “reflexivos”/educativos e nãoexatamente como terapêuticos; mas também háatendimentos individuais a homens e mulheres,associações com grupos de mulheres vítimas49,55

    e de mulheres agressoras56, mediação familiar53

    (com grupos de homens que antecedem a medi-ação40), atendimento de casal e família, quer juntos52,55ou separados54, e intervenções comu-nitárias53,54; (2) os referenciais de intervenção maisexplicitados, principalmente naqueles relatos deexperiência sem problemas de se definirem comoterapêuticos, foram a perspectiva sistêmica49,55 ouo construcionismo social50,51 (que dialogam en-tre si), mas também há a abordagem cognitivo-comportamental57,58, a psicanálise40 e a perspec-tiva da mediação de conflitos53; (3) a forma deencaminhamento dos homens às intervenções émajoritariamente compulsória, realizada peloJudiciário e por outras instituições como delega-cias, abrigos, conselhos; mas relata-se tambémgrupos formados por homens voluntários50.

    Quanto às críticas, podemos dividi-las em doisgrupos: as que convocam os interventores a com-

    por propostas mais ancoradas na perspectiva fe-minista e as que buscam o aprimoramento dasintervenções já ancoradas na perspectiva de gêne-ro, em direção a uma perspectiva mais relacional.

    No primeiro grupo, destacamos: (1) Guares-chi et al.59, que condenam o anonimato nos gru-pos denominados “agressores anônimos”, porqueacreditam que assim se privatiza o tema, despoliti-zando-o; (2) Marques23, que denuncia intervençõesgrupais muito psicologizadas/individualizantes,desencadeando o não reconhecimento da culturaholista dos usuários, e ainda estimulando nos úl-

    timos o desenvolvimento de um discurso vitimá-rio; e (3) Toneli et al.4, Grossi60 e Lima e Méllo61,que descrevem intervenções junto a homens noexterior com abordagens apenas técnicas – de con-trole da raiva, que têm por consequência o desen-

    volvimento de formas mais sutis de violência, namedida em que os usuários não modificam osvalores que sustentam suas condutas.

    Cabe ainda aqui discutir a visão de algunsdesses textos de que todas as propostas interven-tivas que não se baseiam na categoria de gênerosão apolíticas, embora possamos mesmo encon-trar, como Lima e Méllo61, Grossi60 e Toneli et al.4,perspectivas que focalizam apenas o indivíduo e anecessidade de autorresponsabilização. A buscapor manter influentes as contribuições feministasé legítima, mas nos parece contraproducente acre-ditar que contribuições alheias a estas possam

    necessariamente distanciar as explicações e inter-venções da busca por “mudanças culturais signi-ficativas”4. Vimos que Grossi11  e Nolasco43, ape-sar de se posicionarem como opositores do femi-nismo clássico, foram capazes de realizar análisesque podem angariar mudanças culturais para ocombate à violência conjugal e à masculinidadeopressora. A primeira nos propõe políticas de dis-cussão em torno do tema do amor romântico,enquanto o segundo propõe investirmos no for-talecimento cultural das identidades masculinascomo diferentes das femininas.

    Nesse caminho de desconhecimento ou dedesconsideração de estudos sobre violência con- jugal que não se posicionam como feministas –como, por exemplo, as perspectivas puramentesistêmicas de intervenção51,62 e as do psicanalistaargentino Caratozzolo63  –, muitos textos anali-sados afastam-se de análises mais complexas, ouseja, de compor um entendimento que poderiaabarcar a multiplicidade de casos concretos quesurgem ante os pesquisadores e interventores.

    Do segundo grupo de críticas às intervenções,pede-se mais atenção aos homens: (1) Méllo eMedrado64  apontam que a Lei Maria da Penha

    universaliza os casos de violência conjugal, e queexiste entre militantes e discursos midiáticos umalógica que naturaliza o homem como agressor, eestigmatiza o agressor como “monstro”; (2) Limae Méllo61 denunciam que entre profissionais queatendem casos de violência conjugal há um mo-vimento de naturalização do homem como agres-sor pelo viés das discussões sobre socialização degênero; (3) Granja65, Lima e Méllo61 e Méllo eMedrado64 advertem os profissionais quanto anão vislumbrarem o atendimento de apoio ahomens, só a punição; (4) Muszkat53 relata, numa

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    advertência a outros, que depois que sua insti-tuição – Pró-Mulher, Família e Cidadania – co-meçou a incluir os homens nos atendimentos, aeficácia deles aumentou sobremaneira; (5) Oli-veira50 traz falas de homens atendidos contando

    suas vivências ou fantasias de serem invadidos,recriminados ou excluídos socialmente; (6) Gua-reschi et al.59 condenam o encaminhamento com-pulsório a grupos de homens, inclusive indire-tos, propondo-nos pensar esse procedimentocomo violência.

    Outro ponto que poderia ser mais exploradopor muitos interventores, em direção a uma abor-dagem mais relacional, é a dimensão afetiva nãoconsciente da violência/agressão conjugal. Faztodo sentido no campo da violência conjugalpolitizar as intervenções, discutindo gênero, amorromântico, opressão social etc., mas também é

    importante valorizar falas masculinas sobre seussofrimentos e necessidades de compreensãoalheia e de si próprios. Portanto, termos e estra-tégias psicoterapêuticos podem vir a somar e nãoa atrapalhar análises e intervenções diante de pes-soas que vivem conjugalidade violenta. Os estu-dos de Machado37,38  comprovam que é possívelusar termos psicopatológicos sem desresponsa-bilizar os homens por seus atos violentos (versua diferenciação entre “desejo” e “vontade”)37.

    Considerações finais

    Primeiramente, vale ressaltar que a “terceira via”usada aqui como referencial de análise, que pres-supõe a existência de diferentes estilos de conju-galidade violenta, parece-nos estar concorrendoe perdendo (haja vista convenções internacionaispara enfrentamento da violência contra mulhe-res) para a lógica de que existem diferentes fato-res causais da violência conjugal, sendo um delesa opressão de gênero – também ancorada emfins articuladores entre feministas e opositores,mas apoiando mais o feminismo. Lógica bem

    representada por autores brasileiros como Ma-chado37,38, Suarez e Bandeira9, e que ganha aindamais força com autores como a psicoterapeutaamericana Greenspun62, ao afirmar que um mes-mo homem pode perpetrar a “violência instru-

    mental” (a agressão tanto de Grossi2 como Ma-chado38, dentre outros, e a “violência comum docasal” de Casimiro44) e a violência patriarcal. Acre-ditamos aqui que novas pesquisas qualitativascom atores de diferentes camadas e grupos soci-ais, focadas na dinâmica conjugal e nos sentidosda violência, sejam o caminho mais promissorpara escolher entre as opções e obtermos maisrespaldo para um ou outro caminho.

    A partir de artigos analisados neste texto,como os de Machado38, que advertem quanto àcultura brasileira não se ancorar totalmente noconceito de cidadania, já se vislumbra que é pos-

    sível termos no Brasil mais violência/terrorismocontra a mulher do que o contrário. Mas tal pro-posição não pode justificar uma imposição con-ceitual do que seja a violência conjugal, sob orisco de criarmos facções e violências simbólicasentre os profissionais e/ou militantes – comoacorreu numa ONG no México4. Julgamos quenossa busca deva ser por consensos mais am-plos sobre o tema, que possam aliar compro-missos políticos (gerando força e mobilizações)e procedimentos técnicos eficientes de combate àproblemática que, como defende Soares10, devemprimar pelo estabelecimento do maior númeropossível de alternativas interventivas, para po-dermos dar atenção à singularidade de cada caso,e não para buscar a melhor intervenção de for-ma geral.

    Nossa intenção é que a multiplicidade dosconceitos aqui levantados sirva para construirposicionamentos de análise ou interventivos quesejam críticos, em especial diante de valores degênero, mas nunca para a formulação de julga-mentos a priori, abdicando de críticas epistemo-lógicas a respeito de nossos próprios valores elugar social.

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    Tema

    Diferentesinteligibilidadesda problemática

    Magnitudeda violênciaconjugal

    Sentidos dehomensrelacionados àviolência

    Intervençõese/ou políticas

     junto a homensagressores

    Referências

    Soares10**

    Grossi2,11

     Grossi8, Suarez e Bandeira9

    Casimiro44

    Lima et al.3

    Couto e Schraiber1

    Brasil13

    Reichenheim et al.14

    Schraiberet al.12,15

    Acosta17, Diniz et al.16

    Alves e Diniz28, Pinto et al.30,Nolasco43

    Couto et al.18, Schraiber et al.34

    Brasilino e Medrado41*;Gomes e Diniz32, Londero33*,Machado38, Palavezzini19, Rosaet al.24

    Alvim e Souza21, Coelho eCartollo26, Conrado22, Cortez27,Gomes e Freire67, Oliveira25,

    Machado e Magalhães

    37

    ,Saffiotti e Almeida36

    Xavier29

    Guareschi et al.20, Marques23**;Muszkat40**, Nascimento39**,Winck e Strey 66

    Machado & Araújo34

    Méllo e Medrado64

    Grossi60, Soares10**, Toneli et al.4

    Granja65, Lima e Méllo61

    Cortezet al 57**

    , Guareschiet 

    al.59, Grossi et al.58,Marques23**, Oliveira50**

    Acosta et al.49, Aguiar eDiniz55, Bronz51, Coelho et al.56, Cortez et al.57**,Nascimento39**, Oliveira50**

    Muszkat40**

    Bakman et al.52, Strey et al.43

    Muszkat53

    Foco principal

    Concepções e posicionamentospolíticos de pesquisas ouparadigmas sobre gêneroe violência conjugal

    Temas e posicionamentos políticos deestudos e práticas sobre homens

    O percurso das teorias sobre homens eviolência no campo da saúde coletiva

    Frequência e tipo de violência conjugal,informados por mulheres e homens em geral

    Frequência e tipo de violência conjugal,informados por mulheres em geral

    Frequência da violência sexual conjugal

    Sentidos dehomens em geral

    Sentidos de homensagressores

    Sentidos de homens vítimas

    O lugar dos homens nos propostas deintervenção e na lei sobre violência contra amulher no Brasil

    Revisão sobre intervenções junto a homensagressores no exterior

    Opinião de profissionais diante de possíveisintervenções junto a homens agressores

    Grupos de homens agressores

    Grupos de homens que buscam serviço demediação familiar

    Atendimento ao casal e à família

    Mediação familiar

    Tipo

    Revisão deliteratura

    Pesquisasquantitativas

    Pesquisaqualiquantitativa

    Pesquisasqualitativas

    Pesquisasqualitativas

    Relatos deexperiência

    Quadro 1.  Classificação temática dos textos sobre homens e violência conjugal.

    Textos

    * Projetos de pesquisa; ** Citados duas vezes neste quadro.

    nos EUA

    no Brasil

    no mundo

    incluindo demulheres

    denunciados

    denunciados,incluindocompanheiras

    deles

    via profissionais

    em processo deatendimentogrupal

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    Colaboradores

    KLC Oliveira trabalhou na coleta e análise dosdados; R Gomes, na estruturação do texto e aná-lise dos dados.

    Agradecimentos

    À Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazo-nas (Fapeam) pelo financiamento da pesquisa; aDenise Gutierrez, da Universidade Federal doAmazonas, pela revisão do texto.

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    Artigo apresentado em 16/05/2009

    Aprovado em 22/06/2009

    Versão final apresentada em 15/07/2009

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