tcc_Brian Michalski - Serviços Colaborativos de Iniciativa Popular em Governo Eletrônico

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Universidade Federal de Santa Catarina UFSC

Servios Colaborativos de Iniciativa Popular em Governo Eletrnico

Brian Venceslau Michalski

Florianpolis 2011

Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Informtica e Estatstica Curso de Bacharelado em Sistemas de Informao

Servios Colaborativos de Iniciativa Popular em Governo EletrnicoTrabalho de concluso de curso apresentado como parte dos requisitos obteno do grau de Bacharel em Sistemas de Informao.

Brian Venceslau Michalski

Jos Eduardo De Lucca, Msc. Orientador

Florianpolis 2011

BRIAN VENCESLAU MICHALSKI

SERVIOS COLABORATIVOS DE INICIATIVA POPULAR EM GOVERNO ELETRNICOTrabalho de concluso de curso apresentado como parte dos requisitos obteno do grau de Bacharel em Sistemas de Informao.

Banca Examinadora: Prof. Msc. Jos Eduardo De Lucca. Orientador Prof. Dra. Patrcia Vilain. Co-orientadora Prof. Msc. Jos Francisco Fletes.

RESUMOEste trabalho visa apresentar propostas de servios colaborativos e participativos para o governo eletrnico e-Gov , baseados nos conceitos em torno da Web 2.0 e que representem relevantes demandas sociais ou ainda ferramentas com potencial de servir a interesses coletivos dos cidados. Na busca por argumentos que sustentem tais propostas, so revistos os conceitos no escopo do governo eletrnico e o estgio de desenvolvimento do tema no pas. O trabalho tambm trata do assunto Web 2.0 para embasar a indicao de necessidades emergentes nas solues de e-Gov relacionadas ao mesmo. Em se tratando de uma abordagem expositiva e exploratria do tema Web 2.0 aplicado ao governo eletrnico, em servios colaborativos desenvolvidos paralelamente ao poder pblico, o resultado da pesquisa pode ser resumido como: a apresentao dos requisitos comuns a servios dessa natureza; uma discusso sobre as caractersticas gerais de projetos, que intentem aplicaes construdas nos moldes da Web 2.0 fazendo uso desses servios; e, finalmente, exemplos de aplicaes e servios que podem ser desenvolvidos com base no estudo realizado.

Palavras-chaves: governo eletrnico; e-Gov; Web 2.0; servios colaborativos; democracia participativa.

LISTA DE FIGURASFigura 1: Estgios de implementao do governo eletrnico .............................................. 24 Figura 2: A Web 2.0 como uma polarizao de conceitos ................................................... 34 Figura 3: Nveis de abstrao do desenvolvimento de software ........................................... 40 Figura 4: Exemplo de mashup usando Google Maps .......................................................... 43 Figura 5: Um mashup simples feito com Yahoo Pipes ........................................................ 44 Figura 6: Ciclo de vida do desenvolvimento de um servio colaborativo .............................. 52 Figura 7: Fase Preparatria de um servio colaborativo ..................................................... 52 Figura 8: Fase de Desenvolvimento de um servio colaborativo ......................................... 55 Figura 9: Fase de Divulgao de um servio colaborativo .................................................. 56 Figura 10: Composio de servios ................................................................................... 57 Figura 11: Tipos de papis na gerao de contedo ........................................................... 58 Figura 12: Contedo pblico sobre um poltico ................................................................. 60 Figura 13: Componentes de um servio de licitao integrada ........................................... 64 Figura 14: Consulta de itinerrio no site SPTrans ............................................................. 66 Figura 15: Mapa mental sobre Transporte Pblico ............................................................ 68 Figura 16: Casos de Uso - Leitor....................................................................................... 70 Figura 17: Casos de Uso - Editor ...................................................................................... 72 Figura 18: Casos de uso - Administrador .......................................................................... 75 Figura 19: Classes para definio do contedo do servio de itinerrios ............................ 76 Figura 20: Classes para linha de nibus ........................................................................... 76 Figura 21: Classes para itinerrio ..................................................................................... 77 Figura 22: Prottipo de tela para o servio de itinerrios ................................................... 78

LISTA DE TABELASTabela 1: Definies de governo Eletrnico ....................................................................... 15 Tabela 2: Casos de Uso de Leitor ...................................................................................... 71 Tabela 3: Casos de Uso de Editor ..................................................................................... 73 Tabela 4: Casos de uso de Administrador ......................................................................... 74 Tabela 5: Principais elementos de interao da tela principal do servio de itinerrios ...... 77

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURASAPI CORBA ESD G2B G2C G2G HTML HTTP HTTPS REST RIA RSS SaaS SOA SOAP TIC UML URL XML W3C WS WSDL Application Programming Iinterface Common Object Request Broker Architecture Electronic Service Delivery Government to Business Government to Citizen Government to Government Hypertext Markup Language Hypertext Transfer Protocol Hypertext Transfer Protocol Secure Representational State Transfer Rich Internet Application Really Simple Syndication Software as a Service Service-Oriented Architecture Simple Object Access Protocol Tecnologia de Informao e Comunicao Unified Modeling Language Uniform Resource Locator Extensible Markup Language World Wide Web Consortium Web Service Web Services Description Language

SUMRIO1. Introduo ............................................................................................................. 9

1.1. Motivao ......................................................................................................................... 9 1.2. Objetivos ......................................................................................................................... 10 1.2.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 10 1.2.2 Objetivos Especficos ........................................................................................ 10 1.3. Justificativa .................................................................................................................... 11 1.4. Metodologia .................................................................................................................... 12 2. Governo Eletrnico .............................................................................................. 13

2.1. Contextualizao ............................................................................................................ 13 2.2. Definio de governo eletrnico ...................................................................................... 15 2.2.1 Viso adotada ................................................................................................... 16 2.3. Alcances do e-Gov .......................................................................................................... 17 2.3.1 Desburocratizao ............................................................................................ 17 2.3.2 Incluso social.................................................................................................. 19 2.3.3 Entrega de servios e informaes ..................................................................... 20 2.3.4 Transparncia .................................................................................................. 22 2.3.5 Democracia ...................................................................................................... 22 2.4. Desafios para o e-Gov .................................................................................................... 24 2.4.1 Fatores ambientais ........................................................................................... 25 2.4.2 Fatores organizacionais .................................................................................... 26 2.4.3 Fatores polticos e estratgicos .......................................................................... 26 2.5. O e-Gov no Brasil ............................................................................................................ 27 2.5.1 Portais de Governo na Web ............................................................................... 27 2.5.2 A situao dos portais brasileiros ...................................................................... 30 3. Web 2.0 ............................................................................................................... 33

3.1. Principais conceitos envolvidos ...................................................................................... 34 3.2. Ferramentas de colaborao e participao ................................................................... 35 3.2.1 Redes sociais .................................................................................................... 35 3.2.2 Blogs ................................................................................................................ 36 3.2.3 Wikis ................................................................................................................ 37 3.2.4 Folksonomy ...................................................................................................... 38 3.3. Desenvolvimento de software ......................................................................................... 39 3.3.1 Servios Web .................................................................................................... 39 3.3.2 Mashup ............................................................................................................ 42 3.4. Web 2.0 nas solues de e-Gov ...................................................................................... 44 4. Projeto ................................................................................................................. 45 4.1.1 Caracterizao de Servio ................................................................................. 46 4.1.2 Requisitos comuns aos servios ........................................................................ 46 4.2. Modelo geral de desenvolvimento ................................................................................... 50 4.2.1 Ciclo de vida ..................................................................................................... 51 4.2.2 Fase Preparatria ............................................................................................. 52 4.2.3 Fase de Desenvolvimento .................................................................................. 54 4.2.4 Fase de Divulgao ........................................................................................... 56

4.3. Caractersticas bsicas de projeto ................................................................................. 57 4.3.1 Composio de servios .................................................................................... 57 4.3.2 Contedo gerado pelo usurio ........................................................................... 58 4.3.3 Software multidispositivo e acessibilidade ......................................................... 58 4.3.4 Marketing viral ................................................................................................. 59 4.4. Propostas de Servios Colaborativos .............................................................................. 59 4.4.1 Perfis polticos .................................................................................................. 60 4.4.2 Licitaes integradas ........................................................................................ 62 4.4.3 Transporte participativo .................................................................................... 65 4.4.4 Consideraes finais ......................................................................................... 78 5. 6. 7. Concluses .......................................................................................................... 79 Trabalhos Futuros................................................................................................ 80 Referncias Bibliogrficas .................................................................................... 81

APNDICE I Prottipo de tela .................................................................................. 84 APNDICE II Artigo ................................................................................................. 86

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1. Introduo1.1. MotivaoA Web transformou as formas de interao para alm da mera complementao de antigos hbitos: enquanto veculo de contedo ela mpar e sem precedentes. Quando surgiu, o hipertexto j foi uma revoluo, mas o potencial da Web ainda era enorme. Depois, com os recursos multimdia e a expanso das conexes com desempenho superior, criou-se o ambiente para novas revolues. Foi ento que a colaborao e participao dos usurios assumiram papel principal no s das interaes, mas na definio de uma nova maneira de fazer a Web. Tudo isso conta uma histria que ainda est sendo construda, mas cujo cerne no a tecnologia, mas as pessoas e o modo de viver de cada uma delas. O Governo Eletrnico o caminho que o poder pblico em todo o mundo tem encontrado para, atravs da Internet e das Tecnologias de Informao e Comunicao de um modo geral, tambm transformar a sua interao com a sociedade civil e com ele prprio, entre rgos de governo, bem como para aprimorar a gesto pblica e os seus processos de trabalho. Como se trata de um instrumento predominantemente suscetvel s polticas pblicas e aos mais variados condicionantes de ordem ambiental, organizacional e poltica, o seu grau de desenvolvimento desproporcional em todo o mundo, mesmo comparando-se pases desenvolvidos. Entretanto, a Web 2.0 que uma maneira de classificar novas tendncias e padres na fase mais recente da Web possui vrios exemplos de iniciativas bem-sucedidas que tomam como princpios a inteligncia coletiva que o trabalho colaborativo e participativo proporciona e abordagens de desenvolvimento de aplicativos e servios que ensejam o trabalho coletivo, pautado no reaproveitamento de experincias e solues e na cooperao mtua e por vezes voluntria. O Governo Eletrnico, porm, ainda no despertou para essa realidade e, muito embora se possa pensar que nem mesmo tem conseguido oferecer o mnimo de interao com os cidados, a conscincia de uma democracia inspira a iniciativa popular no s na cobrana por resultados, mas na ao por busc-los com os recursos disposio. A maior motivao para este trabalho que esses recursos so muitos, no obstante os desafios tambm o sejam. Em sua pesquisa centrada na aplicao da Web 2.0 em solues de e-Gov, Osimo (2008, p.10) ressalta que:[] web 2.0 presents significant opportunities as well as risks for government, in several areas. Civil Society Organizations, individual citizens and civil servants are already using these applications in relation with government activities, outside the reach and control of institutions. Thus, engaging with web 2.0, and learning how to cope with this loss of control, appears not

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only to open avenues for a more effective administration, but also constitutes a necessary element of a risk management strategy.

Em traduo-livre adaptada do Google Tradutor 1:A Web 2.0 apresenta oportunidades significativas, bem como riscos para o governo, em diversas reas. Organizaes da sociedade civil, cidados e funcionrios pblicos j esto usando aplicaes deste tipo relacionadas com as atividades do governo, mas fora do alcance e controle das instituies. Assim, envolver-se com web 2.0 e aprender a lidar com esta falta de controle, aparece no s como novos caminhos para uma administrao mais eficaz, mas tambm constitui um elemento necessrio a uma estratgia de gesto de riscos.

A busca do presente trabalho por respostas para perguntas que possam ser formuladas sem que se deva esperar exclusivamente que os governos reconheam e satisfaam demandas legtimas e urgentes da sociedade, na medida em que elas possam se valer da Web 2.0 e do trabalho cooperativo e participativo dos cidados como meio para seu atendimento.

1.2. Objetivos 1.2.1 Objetivo GeralEste trabalho visa apresentar possibilidades de desenvolvimento de solues colaborativas e participativas no contexto do governo eletrnico, que possam ser criadas inclusive em paralelo ao poder pblico, isto , sem estar subordinadas a ele.

1.2.2 Objetivos EspecficosCompreender o governo eletrnico em suas vrias definies, benefcios, fatores condicionantes e limitantes de seu desenvolvimento, estgio de implantao no Brasil e em outros pases, problemas comuns ao tema e problemas prprios do cenrio brasileiro; Discutir a situao e solues hoje disponibilizadas pelo poder pblico no Brasil: primeiro, em seus aspectos gerais; e segundo, com foco na abertura que possa existir participao da sociedade na melhoria destas solues e do prprio governo; Analisar prticas de sucesso e padres atualmente aplicados colaborao e participao, tendo por base a Web 2.0;

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http://translate.google.com.br

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Propor servios ou aplicaes voltados para a Web, com predominncia de caractersticas colaborativas e independentes dos meios oficiais, para suprir as deficincias ou a ausncia de servios mantidos pelo poder pblico, bem como para favorecer o livre dilogo e a participao sem estar a este subordinado.

1.3. JustificativaPartindo do interesse por assuntos que tratassem da aplicao de Tecnologias da Informao e Comunicao (TICs) em questes de ordem social que acompanhou o autor durante o Curso, a pesquisa foi iniciada sobre a qualidade de atendimento ao cidado em canais notadamente informatizados, como atravs de stios de prefeituras na Web. Entretanto, a pesquisa acabou por levantar perguntas que deveriam ser respondidas antes de "qualidade" ou mesmo de "atendimento". Por esse e outros redirecionamentos na busca por um tema envolvendo as TICs como base para solues s demandas sociais que se chegou ao governo eletrnico ou e-Gov. Durante um estudo exploratrio desse tema, a literatura encontrada convergia cada vez mais evidncia do quo defasado est o desenvolvimento do e-Gov, especialmente no Brasil, onde a defasagem pode ser afirmada em relao a quase todos os seus aspectos, no obstante haja iniciativas isoladas e pouco ou nada coordenadas, tais como: municpios que implementam por conta prpria o oramento participativo via internet; e padres nacionais que se tentam estabelecer, mas com objetivos que passam ao largo de pretenderem benefcios diretos aos cidados. Apesar das deficincias encontradas no pas talvez sugerirem que elas so devidas sua categoria de pas em desenvolvimento, o estudo tambm levantou problemas relacionados ao dilogo entre governo e sociedade por meio do e-Gov em pases mais desenvolvidos, muito embora as suas medidas de governo eletrnico estejam em grau muito mais avanado que o nosso. Se, por um lado, a prtica de e-Gov no Brasil tmida e restrita a reas que mais interessam ao governo que aos governados, por outro, a bibliografia quase sempre mantm o debate no mbito das responsabilidades do governo suas aes (ou falta delas), suas limitaes e das perspectivas de que o cenrio mude. Alm disso, a discusso fica em torno de definir o que o governo eletrnico, quais os seus estgios de evoluo e exemplos de sua aplicao. Embora se possa ter a impresso de que a literatura est envolvida nos assuntos centrais e de vanguarda quanto ao e-Gov, na maioria dos casos ela no pe em cena uma questo que est em voga nas prticas em torno da chamada Web 2.0, as quais envolvem conceitos como redes sociais, Web blogs, wikis, folksonomy, entre outros, mas, acima de tudo, que giram em torno da participao e da colaborao dos usurios enquanto agentes geradores e transformadores do contedo partilhado entre todos.

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A pesquisa se justifica por haver grandes oportunidades de inovao ao e-Gov, especialmente no dilogo entre os seus integrantes. A concretude dessas oportunidades facilmente encontrada em experincias de colaborao e participao de notvel sucesso na chamada Web 2.0, cujo patamar de evoluo garante, no mnimo, um timo referencial para se perseguir um salto qualitativo nas iniciativas de governo eletrnico.

1.4. MetodologiaO presente trabalho tem carter predominantemente exploratrio e seus resultados compem uma exposio de propostas idealizadas a partir da anlise de oportunidades coletadas dentre demandas consideradas como legtimas para o exerccio de direitos, garantias e deveres dos cidados. Os passos que conduziram a elaborao do trabalho podem ser assim descritos: 1. Estudo dos conceitos e definies que constituem a noo de Governo Eletrnico; 2. Anlise de estudos e relatrios para avaliao do grau de desenvolvimento do e-Gov no Brasil, com foco em solues que provenham ou ampliem o dilogo governo-sociedade; 3. Estudo da Web 2.0, seus conceitos, aspectos-chaves e casos de sua aplicao, com vistas ao entendimento do impacto que vem causando nas prticas de desenvolvimento e uso de aplicaes Web; 4. Identificao e discusso dos requisitos comuns a servios colaborativos desenvolvidos e mantidos por iniciativa popular independente do poder pblico; 5. Escolha dos servios colaborativos com potencial de contribuir ao interesse social de participao democrtica; 6. Desenvolvimento das propostas com detalhamento dos servios escolhidos quanto a aspectos colaborativos e de interesse comum aos cidados.

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2. Governo Eletrnico2.1. ContextualizaoEm pouco mais de uma dcada, foi possvel assistir rpida disseminao dos recursos de comunicao, processamento e armazenamento digital causar o estopim, seno para o surgimento, aos menos para a afirmao daquela que por muitos chamada de Sociedade da Informao. Na prtica pode-se ousar dizer , trata-se de no mais que a transformao de hbitos condicionada pelas oportunidades advindas dos avanos tecnolgicos e no uma transformao pela tecnologia em si. Mas esta discusso no seria a primeira em torno de novos perfis de sociedade emergentes, como visto na Sociedade Industrial, onde este tipo de debate costuma se prender entre quem causa e quem efeito ou se os papis se alternam entre ambos e at mesmo se confundem. Martinuzzo (2009, p.3) endossa esse ponto de vista ao colocar que:[...] tecnologia no panacia redentora de questes ligadas sociabilidade. Tecnologia sozinha no faz poltica ou revoluciona costumes e ticas. Uma tecnologia influencia fenmenos sociais e marcada por eles, num complexo movimento histrico de reciprocidades, usos, inovaes, desvirtuamentos e disputas, sem determinismos.

De qualquer modo, o que se quer ressaltar que essa transformao vem se moldando claramente como uma revoluo de frentes muito mais sociais que tecnolgicas e, ao alcance de um nmero crescente de pessoas, tem promovido a reduo e at a anulao de diversas barreiras como a distncia, o tempo, o acesso e a difuso do conhecimento com um potencial visto apenas nos grandes clssicos da fico; tudo isso despontando na manifestao de ideias, na cooperao e mobilizao de pessoas e entidades em diversos pases, na velocidade com que as informaes chegam a praticamente qualquer lugar e no modo com a realidade passa a ser percebida. Ao se tentar encontrar uma origem ou quem sabe o ponto de inflexo de toda essa transformao, depara-se com o fato de que os governos lanaram e desenvolveram bases tecnolgicas para a computao, a telecomunicao e as redes de computadores, muito embora no como pioneiros e inovadores necessariamente, mas como contratantes e fomentadores pelo menos. Apesar disso, o interesse e, sobretudo, o investimento corporativo foram os grandes responsveis pelas iniciativas de tornar estas redes notavelmente a Internet um ambiente para a manifestao/interao dos indivduos e das organizaes (no da sociedade). O maior enfoque de tais iniciativas certamente era e ainda comercial, mas nas relaes entre empresas e entre clientes e empresas que se observou o sucesso com que as corporaes em geral podem se beneficiar das Tecnologias da Informao e Comunicao (TICs), especialmente os computadores, as redes de dados e as telecomunicaes, seja nos

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processos de trabalho e de deciso ou para explorar e desenvolver os elos com parceiros e consumidores. Essa origem ou motivao do e-Gov endossada pela viso de Guiladurcci (2007, p.1):Visando seguir as tendncias modernizadoras trazidas pelo avano tecnolgico, e j bastante exploradas pela iniciativa privada, os Estados comearam a adaptar a metodologia do e-business s suas peculiaridades.

E complementada por Medeiros & Guimares (2005a, p.67), quando incluem:Outros aspectos que incentivaram o surgimento dessa inovao foram, em ordem de relevncia para os governos: (1) a necessidade de as administraes aumentarem sua arrecadao e melhorar seus processos internos, e (2) as presses da sociedade para que o governo otimize seus gastos e atue, cada vez mais, com transparncia, qualidade e de modo universal na oferta de servios aos cidados e organizaes em geral.

Conforme o Grupo de Interesse (GI) em governo eletrnico do W3C, a ideia do uso da Web e das tecnologias associadas pelo governo nasceu no final da dcada de 90 e culminou no incio de 2000 com extenso e em tudo. O GI afirma ainda que durante esse perodo, os governos perceberam que tambm havia oportunidades dentro de sua organizao e atividade para [...] aplicar mtodos usados por outros para melhorar e oferecer informaes e servios eletronicamente. A partir da, possvel a concluso de que os governos identificaram nas prticas e tendncias do e-business com todo o seu arcabouo de termos, siglas e acrnimos , inspirao e at mesmo modelos para procurar solucionar os seus prprios problemas, fazendo despontar assim as primeiras ideias de governo eletrnico, eGovernment ou apenas e-Gov. Apesar dessa origem, visvel o interesse na busca por solues prprias do seu domnio com que os governos tm tratado o tema (algo que ser discutido adiante), to ntido quanto s disparidades na importncia com que cada governo lhe aplica, isto , o ritmo traduzido nas suas prioridades e a nfase concretizada na abrangncia e profundidade que do ao seu desenvolvimento. Certamente so vrias as questes e motivaes para explicar os rumos e os interesses do poder pblico no e-Gov, mas de maneira sucinta, somente a partir da convergncia das suas dimenses tecnolgica, poltica e organizacional, tratadas e desenvolvidas em conjunto, que se obtm o amadurecimento da estrutura, das polticas e, ao final, dos resultados percebidos pela sociedade. Do ponto de vista dos portais Web, que so tema do presente trabalho, um resultado maduro que surge na forma de um portal municipal eficiente e eficaz para os cidados, por exemplo, fruto de aes coordenadas e contnuas, que envolvam desde a automao e digitalizao/informatizao de dados e processos interno, da interoperabilidade com rgos distintos, da mudana nas formas de trabalho e da cultura organizacional como um todo e da vontade poltica para medidas de incluso digital e social e para que exemplos bem sucedidos assumam carter de direito a ser usufrudo por todos e avancem para alm do estgio de esforos isolados.

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2.2. Definio de governo eletrnicoA viso do que deve ser o e-Gov no pode se resumir prestao de servios sobre a base das TICs, por mais organizada, coordenada, integrada e bem sucedida que seja. Essa apenas uma face dentre outras to importantes que, juntas, devem traduzir a imagem, diferente da abordagem do e-business, de que o cidado no est no papel de cliente, mas de representado, ou de forma mais apropriada, de titular do poder. nessa direo que uma proposta de e-Gov constitudo em uma democracia deve caminhar. Na busca por uma definio do termo, Medeiros & Guimares (2005b, p.451) apresentam o seguinte quadro: DefinioGoverno eletrnico ou e-Governo significa prover acesso pblico, via Internet, a informaes sobre os servios oferecidos pelos departamentos centrais do governo e pelas suas agncias, habilitando o pblico conduo e concluso de transaes para tais servios. O termo e-Government [utilizado em ingls para denominar o governo eletrnico] aborda o uso de novas tecnologias de informao e comunicao pelos governos, aplicadas a todas as suas funes. E-governo definido como: utilizao da Internet e da Web para ofertar informaes e servios governamentais aos cidados. Governo eletrnico refere-se a processos e estruturas relativos ao fornecimento eletrnico de servios governamentais ao pblico. Tabela 1: Definies de governo Eletrnico (MEDEIROS & GUIMARES, 2005b, p.451)

FonteNational Audit Office (2002a, p.1) OCDE (2001, p. 2) Naes Unidas (2002, p. 1) Okot-Uma (2001, p. 9)

Nessas e em tantas outras definies de e-Gov predominante a viso de que este se constitui em ferramenta ou status quo promovido pelas TICs para a prestao de servios no sentido da sua universalizao para que os cidados possam desfrutar de servios e informaes ofertados por seus governos com maior qualidade ou disponibilidade pelo menos. Vaz (2008) incisivo ao trazer tona as graves falhas desta viso to difundida:A pouca ateno dada promoo do direito participao e ao direito ao controle social do governo demonstram que os portais municipais tm promovido uma modernizao conservadora na prestao de servios ao cidado: prestam-se melhores servios, mas no se alteram significativamente as relaes de poder, na maioria dos casos.

E no apenas esse autor que destoa quanto abrangncia do termo, pois se observarmos que coloca o Grupo de Interessem em Governo Eletrnico do W3C (2010, p.20) ao descrever os diversos tipos de pontos de interao e relacionamento entre os governos e seus cidados, explcita a ideia de participao e controle social:G2C: Governo para Cidado: O governo oferece informaes e servios pela Web aos seus cidados. G2B: Governo para Empresa: O governo oferece informaes e servios pela Web a empresas e outros integrantes do setor privado (no setor de finanas ou no varejo, por exemplo).

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G2G: Governo para Governo: Conexes e comunicaes entre governo estadual, municipal, regional, territorial, federal, de acordo com a estrutura poltica do pas. C2G: Cidado para Governo: Um termo mais recente, resultado da procura por mais nveis e oportunidades de participao e interao. B2G: Empresa para Governo: Empresas e outras organizaes fornecem informaes solicitadas ou exigidas por rgos governamentais para finalidades regulatrias ou outras.

necessrio observar, porm, que em um tema to multidisciplinar como o e-Gov, a sua evoluo depende de muitos fatores. Pode-se pensar, inclusive, que a oferta de servios e informaes um estgio intermedirio e qui inicial de maturidade, em um caminho trilhado at mesmo por pases mais desenvolvidos e com uma sociedade mais entrosada com as TICs e com seus prprios direitos, onde a tal democracia eletrnica tambm precedida pela incorporao de elementos menos voltados participao dos cidados das decises de governo. Um indcio de que tal hiptese pode ser legtima a tendncia no surgimento de solues em portais Web para a transparncia dos gastos pblicos.

2.2.1 Viso adotadaSe o nvel de governo eletrnico no Brasil considerado incipiente por razes que so discutidas ao longo do trabalho , as desigualdades sociais, em casos que h muito vm sendo noticiados sobre a falta de condies mnima para a prpria sobrevivncia digna da populao, colocam em xeque qualquer pretenso de perseguir um nvel maduro de eGov, visto que este s poderia ser assim classificado se atingisse a todos em termos de oportunidade. Partindo do pressuposto de que o governo eletrnico comea pelas mudanas organizacionais, polticas, de infraestrutura e hbitos e prticas condicionadas pelas TICs, em ambientes onde as pessoas estejam realmente inseridas nesse novo contexto de interao e integrao social que a Internet, o presente trabalho reconhece duas vises para o governo eletrnico e que dificilmente se tornaro uma s. Primeiro, uma viso que produto da lenta mescla das definies que a literatura traz, ou em outras palavras, que incorpora gradativamente os aspectos de valor mais elevado no que tange os interesses pblicos, mas que amadurece muito devagar e imposta de cima para baixo nas hierarquias de poder. Segundo, a viso de que a sociedade pode ter seu prprio papel ativo no desenvolvimento do e-Gov, sem esperar que as mudanas necessrias no mbito do governo aconteam para que servios que atendam ao bem comum possam surgir e at servir de referncia aos que possivelmente sejam incorporados ao portflio de servios dos rgos e instituies pblicas.

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2.3. Alcances do e-GovSegundo as Naes Unidas (UN 2010), as principais razes ou benefcios para a adoo do governo eletrnico, so: aumento da eficincia; melhora na qualidade dos servios; apoio obteno de resultados de polticas pblicas; contribuio para realizar objetivos econmicos; o e-Gov se tornar potencialmente o principal agente para a reforma social; aumento da confiana entre cidados e governo. Tal viso das razes, entretanto, no destaca o carter participativo da sociedade que se espera do e-Gov, ao passo que Eisenberg (1999) apud Martinuzzo (2008) o apresenta implcito quando sugere quatro formas para a democratizao da vida poltica atravs da Internet:a) b) c) d) prestao de servios e informaes comunidade; apoio na organizao de movimentos sociais e formao de redes na sociedade civil; implementao de mecanismos de democracia eletrnica; e democratizao do acesso comunicao eletrnica.

Hoeschl (2003, p.6) enumera os efeitos positivos do governo via bits:[...] melhoria da qualidade, segurana e rapidez dos servios para o cidado; simplificao dos procedimentos e diminuio da burocracia; avano da cidadania; democracia da informao; transparncia e otimizao das aes do governo; educao para a sociedade da informao; facilidade de acessar o governo; integrao das informaes para o cidado; gerao de empregos na iniciativa privada; otimizao no uso e aplicao dos recursos disponveis; integrao entre os rgos do governo; aproximao com o cidado; desenvolvimento do profissional do servio pblico; aperfeioamento dos modelos de gesto pblica; universalizao do acesso da informao. Existem inmeros outros.

Essa nova frente que procura ser o governo eletrnico no se torna plena de efeitos positivos na evoluo da sociedade e, mais concretamente, no bem-estar social, caso no se manifeste com os desdobramentos discutidos a seguir.

2.3.1 DesburocratizaoO uso das TICs pautado em critrios de eficincia e eficcia organizacional, orientada sob moldes de governana e por consequncia de racionalizao dos recursos, traz implicaes positivas na busca por menores custos e demanda de tempo, em suma, num melhor uso da mquina pblica que no seria possvel sem lanar mo destas ferramentas. Com o advento das redes de computadores e, ainda mais, da Internet incrementada pela Web, a

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desburocratizao pde atingir processos que antes no poderia ou que requeriam um formato inerentemente burocrtico. Com a disseminao das TICs, a distncia passa a quase no existir, a disponibilidade potencializada e o acesso se torna global. Contanto que o cidado possa contar com tal acesso e que se atinja bons nveis de usabilidade e acessibilidade, mesmo em um nvel primrio de oferta de servios e informaes, o aproveitamento de tempo e necessidade gradativamente menor de deslocamento fsico despontam como benefcios imediatos. Veja-se o ganho com os preges eletrnicos, que so uma realidade no Brasil e que, alm das vantagens mencionadas, ainda agregam condies de um nmero maior de interessados em tomar conhecimento e participar dos mesmos. Para citar nmeros que ressaltem as vantagens do e-Gov na desburocratizao podese citar Guiladurcci (2007, p.21), quando este apresenta queNo Brasil, a iniciativa do Governo Federal nesta senda gerou, de 2003 at os dias atuais, uma economia de R$ 1,3 bilho apenas com o prego eletrnico, um dos servios disponveis no site comprasnet. O prego funciona como um leilo s avessas, onde ganha a licitao o menor preo. Segundo o portal SERPRO (Servio Federal de Processamento de Dados), vinculado ao Ministrio da Fazenda, a economia entre o valor inicial proposto em licitaes e o valor final homologado neste tipo de transao da ordem de 35% [...].

O mesmo autor complementa os indicadores acrescentado o seguinte (p.22):Alm da visvel economia gerada por este tipo de emprego das TIC na administrao pblica, h ainda outras vantagens do e-procurement, como, por exemplo, o e-sourcing, outro conceito advindo do e-business e absorvido como uma relao G2G em contexto de e-Gov. O e-sourcing a identificao de fornecedores para uma categoria de necessidade de compra especfica, atravs da tecnologia da Internet. Os dados do site em 2006 mostram que h 253.520 fornecedores cadastrados, cujas informaes esto disponveis para todas as esferas governamentais cadastradas. Um crescimento de mais de 400% em relao ao cadastro de fornecedores em 1997. Deste nmero, aproximadamente 69% de pequenas e micro empresas e pessoas fsicas, o que faz da iniciativa, alm de uma melhoria de processos e economia para os cofres pblicos, tambm fator de incentivo pequena e micro empresa, colaborando indiretamente para o crescimento do produto interno bruto e distribuio de renda.

Com a difuso do conhecimento e prticas acerca dos Web Services, a desburocratizao pode atingir a parte mais crnica da ineficincia incutida na burocracia que a distribuio dos processos envolvendo um servio entre vrios rgos pblicos, inclusive esferas e at poderes distintos. Marzullo (2009) apresenta um exemplo desse tipo de desburocratizao ao trazer uma reportagem do jornal A Gazeta de Vitria, ES, em 10 de janeiro de 2009. Nessa matria, o jornal mostra o sfrego processo de abertura de uma empresa, constitudo de 11 etapas/documentos que podem ser resumidas na listagem a seguir: 1. Consulta prvia de viabilidade de funcionamento (requerido junto Prefeitura); 2. Certido de busca de nomes (provida pela Junta Comercial do Estado);

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3. Contrato Social (levado Junta Comercial aps redao normalmente feita por um contador); 4. Cadastro Nacional de Pessoa Jurdica (solicitado Receita Federal); 5. Inscrio Estadual (requerido Secretaria Estadual de Fazenda); 6. Alvar de Licena do Corpo de Bombeiros (emitido na sede do Corpo de Bombeiros); 7. Alvar de Licena de Funcionamento (expedido pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano); 8. Solicitao de Autorizao de Impresso de Documentos Fiscais (provida pela Agncia da Receita Federal); 9. Inscrio na Previdncia Social (cadastro feito no Registro Geral de Previdncia Social); 10. Inscrio em sindicato patronal; 11. Licenas de outros rgos pblicos (necessrias conforme a rea de atuao da empresa, como as que esto submetidas Vigilncia Sanitria etc.). No difcil imaginar como, na maioria dos casos, cada rgo poderia lanar mo de Web Services a serem integrados numa interface unificada para submisso e acompanhamento do pedido de abertura da empresa, podendo-se ainda emitir guias para pagamentos de taxas, fazer questionamentos, receber instrues e outras ideias que hoje em dia requerem muito mais fora de vontade do poder pblico e cada vez menos recursos, especialmente os de ordem tecnolgica. Sem pretender um aprofundamento do tema, cabe acrescentar que uma interface unificada como essa, constituda para ser um servio eficiente, poderia ser um meio de aproximao do governo e das empresas com finalidades variadas, desde um canal para discutir o prprio processo de abertura de empresa, at para criar uma rede de cooperao entre as empresas, o Estado e a sociedade em geral.

2.3.2 Incluso socialPartindo da premissa de que um governo eletrnico inclui necessariamente a participao e o envolvimento da sociedade, h que se ressaltar a importncia de tal requisito atingir a todos igualmente por meio da oportunidade. Medeiros & Guimares (2005b, p.67) apontam este caminho:Esses supostos benefcios do governo eletrnico s tm sentido, entretanto, se o pblico-alvo de suas aes tiver condies de acesso Internet e capacitao para usufruir das informaes e servios ofertados pelo poder pblico. No Brasil, onde as desigualdades sociais so grandes, a infraestrutura de telecomunicaes ainda no alcana de modo igualitrio todo o territrio nacional. O nvel de educao da populao baixo, e correse o risco de as possveis vantagens do e-Gov carem restritas a uma pequena parcela da populao, razo pela qual ganham importncia as

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aes de incluso digital, que visam proporcionar o acesso Internet, de modo indistinto, a todos os cidados.

Apesar dessa importante observao, no esta a tnica da incluso social como alcance do governo eletrnico. Ao contrrio, se devidamente acessvel ao pblico-alvo, ele se torna uma ferramenta sem precedentes para que muitas limitaes ao desempenho da cidadania sejam transpostas; basta citar o deslocamento fsico e necessidades especiais de locomoo de muitas pessoas. Sendo assim, as solues em e-Gov podem sim ser instrumento da incluso social, pois mesmo criando barreiras transponveis com o devido tratamento , derrubam outras de tal maneira que no seria possvel sem estas solues. Veja-se para isso o poder inclusivo das TICs, que ampliam as oportunidades dos indivduos atravs do acesso ao conhecimento (FELICIANO et al, 2007). Tem-se na cidade de Curitiba, PR, um exemplo concreto de promoo da cidadania atravs do conhecimento, potencializado pelo uso de computadores conectados Internet (DUARTE & ESPNOLA, 2007). Os chamados Faris do Saber (FS) foram implantados pela prefeitura de Curitiba em 1994 para servirem exclusivamente como bibliotecas (45 ao todo). A estratgia do projeto era a distribuio dos FS para atingir ao maior nmero de pessoas possvel. No ano 2000, os FS foram utilizados para a implantao de um novo projeto que visava incluso digital pela oferta de acesso gratuito a computadores com conexo de Internet.

2.3.3 Entrega de servios e informaesDe longe o aspecto mais associado noo de e-Gov, a entrega de servios ou Electronic Services Delivery (ESD) desponta como principal foco de investimentos governamentais na proporo em que esto cada vez mais associados s obrigaes dos cidados em detrimento dos seus benefcios. De qualquer modo, analisando a forma como a ESD evolui, podemos obter uma noo de como o prprio governo eletrnico tende a avanar, principalmente sob os aspectos da dimenso tecnolgica. Segundo Firjan (2002) apud Jardim (2007, p.30), a essa evoluo distinguvel em quatro estgios aqui nomeados nveis que podem ser assim descritos: a. Nvel Informacional Estgio primrio onde o propsito se restringe a agregar informaes em websites, como mero reflexo da digitalizao de dados.

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b. Nvel Interativo Embora no to incipiente, a estrutura de TIC dispe apenas de alguma interatividade, a qual apresenta progresso muito mais pela abrangncia do que pela profundidade do contedo ou servio prestado. c. Nvel Transacional advinda principalmente da maturidade proporcionada por uma estrutura interna mais evoluda, notadamente informatizada, mas no apresenta integrao entre bases de dados de mais que um ou poucos rgos. Proporciona resultados mais expressivos aos interesses do cidado, mas ainda no atinge um nvel de excelncia. d. Nvel Integrado Representa o estgio de maturidade obtido por mais que esforos individuais de entidades do governo, pois resultado de polticas que vo alm at mesmo do escopo de rgos governamentais e questes de infraestrutura e processos, porque engloba legislao, programas sociais e planos de ao de todas as esferas e qui poderes. Isso porque deve cumprir com os requisitos de uma arquitetura de servios e informaes que seja vertical e horizontalmente completa, isto , profunda e abrangente. So vrios os exemplos no mundo de esforos de pases e blocos econmicos na definio de frameworks para interoperabilidade de processos e dados intergovernamentais, com foco principal na prestao de servios. A Unio Europeia tem o seu EIF (European Interoperability Framework), que no final de 2010 chegou verso 2.0. No Brasil, tem especial destaque o projeto do governo federal e-PING (Padres de Interoperabilidade de Governo Eletrnico). Ressalta-se que tal escala evolutiva no incorpora uma preocupao legtima e com olhar transversal sobre a dinmica da oferta de servios, como feito na crtica de Vaz (2007):Se o atendimento no valoriza a participao dos cidados na gesto dos servios e busca seu referencial no mercado, tratando o cidado-usurio somente como cliente de servios e estimulando relaes apenas individualizadas, sem dar conta de atores coletivos nos processos sociais, possivelmente contribuir para o enfraquecimento destes ou, ao menos, para sua no-emergncia.

Por razes como essas que Hiller & Blanger (2001) apud Santos (2002) apud Simo (2004, p.25) incluem um quinto estgio que o participativo, sendo que para atingi-lo, necessrio, alm de oferecer servios e informaes on-line, que os pases implementem procedimentos de participao poltica para seus cidados, criando, por exemplo, sistemas de votao on-line com segurana e privacidade.

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2.3.4 TransparnciaNenhum desses temas est dissociado nem existe sem a observao dos demais. A transparncia, em particular, envolve prestar contas e levar a conhecimento dos cidados a situao do governo, seus planos, aes e resultados. um aspecto transformador na viso do governo, que de complexas estruturas e relaes entre rgos dependentes, passa cada vez mais a se apresentar como pontos unificados de observao daquilo que mais interessa sociedade. No Brasil, conta-se com o Portal da Transparncia, que inclui a apresentao das contas pblicas de despesas e receitas do mbito federal. Esse projeto, cuja ideia vem sendo adotada por vrios outros rgos das demais esferas e poderes, um exemplo claro da mudana expressiva que pode convergir do uso das TICs, de mudanas organizacionais e de polticas pblicas que manifestem o interesse comum. Um governo transparente, no entanto, vai muito alm da prestao de contas dos gastos realizados. Afora o termo notadamente mercadolgico, com ares de espetculo, Transparncia no uma rea estanque do governo, independente do meio em que manifeste (eletrnico ou qualquer outro). Trata-se de algo que precisa fazer parte de qualquer processo, ao ou poltica de governo, como requisito que as informaes tm de estar disponveis aos cidados. A nfase na apresentao dos gastos vlida, mas o que se espera a mesma nfase em outras situaes, tais como: mudanas na legislao, disponveis de forma que as pessoas compreendam os seus impactos, benefcios e riscos; acesso irrestrito a tudo o que seja legtimo saber sobre os candidatos a cargos eletivos e servidores pblicos, a fim de compreender quem so aqueles que zelam e atuam pelo governo; informaes o mais detalhadas possvel em processos crticos, como os de licitao.

2.3.5 DemocraciaO estgio mais avanado de envolvimento e participao que o e-Gov pode atingir envolve a sua relao direta com a democracia. Embora outros temas discutidos tenham seu aspecto democrtico, na proximidade dos cidados com as aes polticas, com efeito, no processo decisrio, que se afirma o objetivo maior do uso das TICs em favor da cidadania, isto , acima que todas as suas caractersticas, que ela seja participativa. Assim como o prprio e-Gov, a e-Democracia como referenciada por vezes na literatura um assunto multifacetado e que depende de vrios critrios para uma anlise substancial. Mesmo assim, sem a inteno de um amplo debate, verossmil o raciocnio de que a sociedade, necessariamente instruda e crtica, uma vez que esteja de posse das in-

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formaes e dos meios de se fazer ouvir, queira levar a conhecimento dos seus representantes as suas opinies e decises sobre os processos que mudam e controlam o que acontece na vida coletiva e individual. Isso porque parece razovel pensar que os cidados assim agiriam se pudessem assumir de fato o seu papel na democracia, simplesmente porque por estes que ela existe. Ento, se as TICs so um meio apropriado para a interao e integrao das pessoas, para a disseminao do conhecimento e para a mobilizao de grupos em torno de debates e questionamentos, apenas uma questo de tempo e/ou vontade poltica para que a eDemocracia acontea. Em termos concretos, os portais ou os servios de governo na Web podem servir como um canal para a participao social em projetos de governo, na elaborao e alterao de leis, nas consultas pblicas, no acompanhamento e avaliao dos gastos e investimentos pblicos, em oramentos participativos etc. a. Representao versus Participao Os governos do mundo so baseados no princpio da representao, onde alguns poucos so eleitos tal como acontece no Brasil para representar toda a sociedade na administrao e na legislao do pas. E o que acontece quando todo o poder de deciso de fato fica concentrado nos representantes, que o individual ou particular se sobrepe ao coletivo e os desvirtuamentos do que se presume que seriam os propsitos dos representados ocorrem e o resto desta histria simples imaginar: estamos vivendo. As possibilidades da sociedade e seus interesses com o potencial de estarem em rede, hoje, so nicas em relao a qualquer momento passado da civilizao. Os limites fsicos e temporais foram drasticamente reduzidos, quando no extintos, especialmente quanto a deliberar sobre as questes acerca do coletivo. A favor desse argumento, basta pensar o custo, o tempo e o trabalho de obter, em algumas horas, a opinio de milhes de pessoas espalhadas por um territrio como o brasileiro. Naturalmente, pelo que se exps anteriormente, explorar esse potencial envolve enfrentar aqueles que figuram como representantes da sociedade. Entretanto, discutir as relaes de poder e as mudanas necessrias para que o maior envolvimento nas decises de governo por parte da sociedade ocorra vai muito alm do que busca este trabalho. O que se quer aqui sustentar a posio de que o e-Gov pode ser um instrumento nico em favor dessas possibilidades, com efeito, da participao social em decidir sobre seus prprios interesses. Antes de prosseguir nesse sentido, cabe a ponderao de Luchmann (2002, p.1) a respeito dessa forma ou talvez estgio da democracia:A democracia deliberativa constitui-se como um modelo ou processo de deliberao poltica caracterizado por um conjunto de pressupostos tericonormativos que incorporam a participao da sociedade civil na regulao da vida coletiva. Trata-se de um conceito que est fundamentalmente ancorado na ideia de que a legitimidade das decises e aes polticas deriva da deliberao pblica de coletividades de cidados livres e iguais. Constitui-se,

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portanto, em uma alternativa crtica s teorias realistas da democracia que, a exemplo do elitismo democrtico, enfatizam o carter privado e instrumental da poltica.

Os "pressupostos terico-normativos" esto no cerne da questo para que o assunto deixe o plano das ideias e passe a fazer parte da vida dos cidados. Isso significa dizer, de maneira pragmtica, que as leis do pas tm de prever e legitimar os meios de participao que possam surgir como parte do governo eletrnico. Contra o pretexto de que a excluso digital inviabiliza a prtica da democracia deliberativa, o fato que o meio digital no precisa ser o nico espao para a sua realizao; em vez disso, trata-se de um canal a ser desenvolvido e disseminado aos poucos, at mesmo porque o uso que cresce gradativamente oferece a chance de aperfeioar o processo antes de atingir o pice de seu alcance. Como "gancho" para se discutir o potencial de novos rumos dentro do e-Gov, fica a iniciativa do Governo Federal em substituir o documento de Registro Geral pelo novo Registro de Identidade Civil2. As oportunidades ficam por conta de identificao nica para todo o pas, especialmente dotada de um chip com Certificado Digital, tambm nico.

2.4. Desafios para o e-GovSimilar ao que se exps na Entrega Eletrnica de Servios, quando se tratou dos nveis de evoluo dos servios, a Figura 1 apresenta uma perspectiva de como o prprio governo eletrnico avana de um estgio meramente informativo a um grau de integrao plena com os cidados.

Figura 1: Estgios de implementao do governo eletrnico (BARBOSA, GETSCHKO & GATTO, 2009, p.127)

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Governo lana novo documento de identidade civil dos brasileiros nesta quinta. Disponvel em: http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2010/12/29/governo-lanca-novo-documento-de-identidade-civil-dos-brasileirosnesta-quinta. Acesso em 15/02/2011.

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Para se progredir na implantao do e-Gov, considerando os seus alcances anteriormente discutidos, dentro dos nveis acima apresentados, mister compreender em que frentes ele deve ser trabalhado, isto , quais os seus aspectos condicionantes, suas restries, ou, dito de outro modo, quais as variveis em jogo. Para identific-las, pode-se partir do referencial terico para a avaliao dos portais municipais na Web proposto por Vaz (2007), o qual se estrutura em trs grupos de condicionantes: ambientais; organizacionais; e polticos e estratgicos.

2.4.1 Fatores ambientaisO ambiente de um servio no e-Gov, em uma abordagem sistmica, o meio em que est inserido o rgo ou entidade pblica, no apenas no aspecto material, mas especialmente nos intangveis, nas "complexas redes de interesses, restries e constrangimentos", normalmente como resultado da ao dos atores sociais (Vaz, 2007, p.9). Dependendo do caso em questo, conta como fator ambiental a relao com outras esferas e poderes, especialmente quando das limitaes da hierarquia ou da atribuio de responsabilidades (idem):A infraestrutura pblica disponvel um condicionante decisivo, por influenciar diretamente as condies de acesso ao ambiente da Internet e o desempenho dos servios oferecidos [...]. Trs aspectos merecem ateno: qualidade tcnica das conexes (disponibilidade geral), preo da conexo e capacidade instalada.

Um dos condicionantes de maior impacto sobre as polticas pblicas e at mesmo iniciativas populares de ao em Governo Eletrnico se concentra na estrutura jurdiconormativa. De um lado, o poder pblico pode estar impedido por restries de ordem legal, ou ainda se ater a cumprir estritamente o que lhe imposto. De outro, casos j bastante frequentes na Web envolvendo propriedade intelectual e outras questes polmicas3, como aquela que ficou conhecida como "Lei Azeredo", em referncia ao seu relator, o Senador Eduardo Azeredo, cujo Projeto de Lei (PL 84/19994) ganhou notoriedade na Internet por seu teor envolvendo crimes cibernticos. A incluso digital tambm deve ser considerada, bem como os hbitos de utilizao da Internet pelos cidados, servindo como referncia para os parmetros de desempenho e disponibilidade do servio (idem), bem como para a definio de prioridades nas aes e eGov. No caso particular do Brasil, os programas de governo como para de polticas de disseminao das TICs e da incluso digital tambm surgem como condicionante ambiental.

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Ento, somos todos criminosos. Disponvel em: http://interconexao.wordpress.com/2008/11/14/entao-somos-todoscriminosos-pl-841999/. Acesso em 20/02/2011. Vide http://www.camara.gov.br/internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=405461. Acesso em 20/02/2011.

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Cabe mencionar tambm os programas de melhoria na gesto dos recursos e dos servios pblicos. Outro fator que constitui uma barreira implantao do e-Gov a segregao, seja de ordem regional, etria, econmica, entre outras formas.

2.4.2 Fatores organizacionaisAs variveis ou fatores organizacionais esto no escopo do rgo ou entidade pblica onde se procura desenvolver o e-Gov. So exemplos de aspectos a serem contemplados para compreender o que sustenta ou compromete o desenvolvimento do governo eletrnico: recursos financeiros disponveis e aplicados em aes de e-Gov; nvel de informatizao das estruturas e rgos pblicos, incluindo seus processos e dados; barreiras na aplicao de tecnologias (questes sobre o uso de padres abertos e ferramentas proprietrias, software livre, interoperabilidade); dificuldades em atingir a integrao (aspectos tecnolgicos, com a heterogeneidade de sistemas, formatos, pouca automao e digitalizao etc.; aspectos organizacionais, tais como processos, cultura, recursos etc.; aspectos polticos); a eficcia dos processos organizacionais no setor pblico que interesse s solues dentro do governo eletrnico; a cultura organizacional; a cultura interna de atendimento ao cidado (nesse caso, de envolvimento com as questes de e-Gov, inclusive o atendimento ao cidado); a cultura interna de uso da tecnologia da informao; participao, envolvimento e apoio dos nveis hierrquicos superiores; recursos humanos (Vaz, 2007).

2.4.3 Fatores polticos e estratgicosEmbora nenhum dos condicionantes seja empecilho ao objetivo de implantao do eGov, as variveis polticas e estratgicas so as de maior complexidade, pois lidam com caractersticas no determinsticas e at subjetivas, apesar de muitas vezes se fazer parecer o contrrio. Nesta classe encontram-se condicionantes, tais como as reconhecidas por Vaz (2007, p.10): disponibilidade de recursos e sua aplicao (diferente do modo como tratado no mbito organizacional, refere-se aqui a decises polticas, como os oramentos anuais); direitos privilegiados pelo governo (o que define a preferncia por disponibilizar servios para emisso de guias de recolhimento de impostos antes de oferecer um meio para consulta de pagamento de precatrios); prioridades de atuao do governo (por exemplo, preferindo construir hospitais em lugar de criar um portal para discutir a sade pblica);

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entendimento dominante no rgo ou entidade em relao ao usurio dos servios pblicos; disponibilidade de informaes (dados no digitalizados, por exemplo); poltica de atendimento ao cidado; poltica de modernizao administrativa (vide GESPBLICA5); poltica de incluso digital.

2.5. O e-Gov no BrasilSegundo dados do IBGE levantados j em 2005, 20,9% da populao brasileira acima de 10 anos de idade possuam acesso grande rede, dentre os quais mais de 27,4% faziam uso da conexo para interagir com autoridades pblicas ou rgos do governo. A populao de pessoas com telefone celular para uso pessoal era de 36,6%. Em 2008, o IBGE publicou6 que :Em trs anos, o percentual de brasileiros de dez anos ou mais de idade que acessaram ao menos uma vez a Internet pelo computador aumentou 75,3%, passando de 20,9% para 34,8% das pessoas nessa faixa etria, ou 56 milhes de usurios, em 2008. No mesmo perodo, a proporo dos que tinham telefone celular para uso pessoal de 36,6% para 53,8% da populao de dez anos ou mais de idade [...].

Por outro lado, em relatrio de 2010 das Naes Unidas (UN 2010) que estabelece um ranking de e-Gov baseado em ndices de servio online, infraestrutura de telecomunicaes e capital humano, o Brasil ainda ocupa o 61 lugar no contexto mundial, posio bem inferior que ocupava em relatrio de 2008 quando estava em 45. Nas Amricas o 10 colocado (atrs, dentre outros, de Colmbia, Barbados e Mxico) e fica com o 22 entre os pases em desenvolvimento.

2.5.1 Portais de Governo na WebSe a utilizao das TICs e a assimilao de solues e de propostas do e-business no mbito do poder pblico de maneira simplificada uma viso do que originou e at do que pode ser o governo eletrnico, a sua manifestao mais visvel no cotidiano daqueles que tm acesso Internet so os portais Web de governo. Afinal de contas, o que o cidado percebe como um servio ou informao pode ter gnese na digitalizao de dados, na integrao entre bases de informaes, na capacitao de pessoal e outros investimentos em capital humano, nas aes polticas ou legais que determinaram sua criao, mas continua sendo visto como um servio que, enfim, foi-lhe disponibilizado de modo apropriado s suas

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http://www.gespublica.gov.br/ http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1517. Acesso em 20/06/2010.

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novas possibilidades. Ento, se o e-Gov e o prprio governo, sob o aspecto de como so vistos pela maior parte da sociedade (e no obrigatoriamente de como se espera que sejam compreendidos), tratam-se de uma imagem ou interface constituda para a interao de ambos, nada mais caracteriza este front-end na Internet do que os portais Web. Essa virtualizao do governo no deve ser vista como um distanciamento do cidado, ao menos o que se quer com uma viso como a de Medeiros & Guimares (2005a, p.67), quando este atesta que:A presena governamental na Internet visa tornar o aparato administrativo menos aparente de forma presencial, mas, ao mesmo tempo, mais prximo do cidado e mais eficiente na realizao de seus objetivos, com a utilizao de tcnicas e sistemas de informtica e comunicaes.

Assim como o governo eletrnico um conceito multidisciplinar, Vaz (2007, p.2) desta que os portais municipais tambm o so, ao colocar que:BAKER (1997) entende a adoo de websites municipais como uma inovao ao mesmo tempo tecnolgica e de poltica pblica. A partir desta posio, descortina-se a possibilidade de entendimento do portal municipal como um fenmeno multidimensional, que envolve tecnologia da informao, organizao dos servios pblicos e da poltica de atendimento ao cidado e a relao do governo municipal com a sociedade e os cidados. Seu desempenho condicionado por uma extensa lista de fatores. Portanto, trata-se de um fenmeno tecnolgico, organizacional e poltico.

Viso que reapresentada por Medeiros & Guimares (2004, p.52):Para fins de pesquisa em governo eletrnico, vale lembrar que esse conceito encontra-se na interseco de trs reas do conhecimento: polticas pblicas, gesto organizacional e tecnologia da informao. Ao longo da histria, desenvolvimentos na tecnologia tm emergido muito mais rapidamente do que a evoluo em formas organizacionais e diretrizes para polticas pblicas. Mesmo com essas diferenas cadenciais, esses trs domnios constantemente interagem um com o outro, gerando muitas questes e conflitos sobre o que tecnicamente possvel, organizacionalmente adequado e socialmente desejvel (Center for Technology in Government, 1999, p. 29).

Como benefcios dos portais de governo podem ser citados muitos dos que abrange o prprio e-Gov, com maior ateno aos de contato direto entre poder pblico e cidados, caracterstica muito mais encontrada na esfera municipal. Medeiros & Guimares (2005a, p.67) fazem uma ressalva exatamente sobre este ponto, ao apontarem que:Esses supostos benefcios do governo eletrnico s tm sentido, entretanto, se o pblico-alvo de suas aes tiver condies de acesso Internet e capacitao para usufruir das informaes e servios ofertados pelo poder pblico. No Brasil, onde as desigualdades sociais so grandes, a infraestrutura de telecomunicaes ainda no alcana de modo igualitrio todo o territrio nacional. O nvel de educao da populao baixo, e corre-se o risco de as possveis vantagens do e-Gov carem restritas a uma pequena parcela da populao, razo pela qual ganham importncia as aes de incluso digital, que visam proporcionar o acesso Internet, de modo indistinto, a todos os cidados.

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O que pode ser complementado com a posio mais uma vez crtica de Vaz (2008, p.75):O simples oferecimento de informaes e servios no traz todas as respostas ao problema da promoo da cidadania, ou, no mximo, oferece respostas no espao da potencialidade, no da efetivao, visto que os nmeros de visitas aos portais municipais no so expressivos, o que de se esperar pelas dimenses do fenmeno da excluso digital.

Ora, se os portais de governo so instrumentos do e-Gov, ou melhor, se esto inseridos em seu arcabouo de inovaes e possibilidades, a excluso digital e tantos outros obstculos que este enfrenta tambm devero ser enfrentados por estes portais. No caso particular dos municpios, as limitaes passaram a ter carter de exclusividade, devido desproporcionalidade com que tm contato direto com os cidados e sua dependncia das esferas mais altas de governo para a obteno de recursos e at pela subordinao de carter poltico e legal. E ainda h que se ressaltar as desigualdades ante as desigualdades regionais e o porte de cada municpio. a. Histrico Sobre a evoluo dos portais municipais, pode-se ter como perspectiva as fases apontadas por Vaz (2007, p.6), que descrevem o progresso da anlise e avaliao de portais municipais, e que possuem uma estreita equivalncia com os graus de evoluo tanto da ESD quanto do prprio e-Gov apresentados anteriormente:- Fase do pioneirismo: com websites ainda baseados em pginas estticas, a avaliao baseava-se nas caractersticas tcnicas da interface: preocupao com normas de bom desenho, utilizao correta dos recursos da linguagem HTML e reduo dos tempos de acesso, em funo das limitaes de velocidade das conexes; - Fase de difuso: Surgindo os primeiros portais semi-estticos, e ampliando-se a prestao de servios, o marketing torna-se a referncia da avaliao, e ganha espao a avaliao baseada na usabilidade, com foco na estrutura de navegao e na adequao s caractersticas dos usurios; - Fase de consolidao: Com o surgimento dos portais dinmicos, baseados em bancos de dados, a avaliao volta-se para a contribuio ao desempenho organizacional, eficincia e aos objetivos diretamente vinculados aos processos de negcio das organizaes; e - Fase de integrao generalizada: O desenvolvimento da tecnologia de portais caminha para a integrao generalizada de processos sobre plataforma Internet, envolvendo aplicaes e bases de dados. Isto tende a exigir uma avaliao baseada na eficcia organizacional. O foco orienta-se no somente a estratgia organizacional, mas tambm para a integrao de processos. Com isso, a avaliao de portais municipais passa a dar peso eficcia organizacional e integrao no uso dos recursos da tecnologia da informao.

Postas em paralelo essas trs escalas evolutivas, percebe-se que a similaridade entre os estgios de maturidade de todas elas parte de atributos como "esttico" e "informacional" para "integrao" e "interoperabilidade". Esse um forte indcio dos desafios a se enfrentar na implantao dos servios, dos portais Web e, em ltima instncia, do e-Gov.

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Pode-se supor que a notvel heterogeneidade dos rgos e instituies em suas prticas de governo eletrnico um fator que dificulta a escalada para nveis de maior integrao; isso se no for o principal entrave. No entanto, no se consegue mudar esse cenrio sem o incentivo e o apoio mtuo entre as esferas de governo e os poderes, na busca pela diminuio de suas diferenas, pela padronizao que reduz custos e aumenta a eficcia e pela troca de experincias, em medidas de generalizao do e-Gov trabalhadas em conjunto com a adequao das prticas gestoras e da estrutura jurdico-normativa que ainda desconhece a realidade da sociedade em rede.

2.5.2 A situao dos portais brasileirosAo longo do texto e mais ainda quando o assunto for avaliao e anlise de portais municipais na Web, as referncias s pesquisas de Vaz tendem a ser cada vez maiores. Isto porque o presente trabalho tem forte influncia dos resultados por ele obtidos e dos seus pontos de vista. So dois os seus trabalhos mais abordados: (1) a caracterizao de servios e informaes em portais municipais enquanto componentes do que ele denomina Oferta Bsica; e (2) o referencial para avaliao de portais municipais sob o aspecto da eficcia organizacional. J no primeiro trabalho encontrado em Vaz (2008, p.72) so feitas constataes importantes, como a respeito dos recursos de personalizao nos portais municipais:[...] um antigo ponto fraco dos portais municipais brasileiros, que no exploram recursos tecnolgicos disponveis h mais de uma dcada. Apesar de se notar uma adoo emergente desse tipo de funcionalidade, os municpios que a adotam ainda o fazem de maneira incipiente.

Mas apenas de aspectos sofisticados que carecem os portais de governo em mbito municipal, trata-se de usar o potencial de evoluo inerente s solues tecnolgicas para cumprir o mnimo e, claro, para vencer a fase do "feijo-com-arroz" (idem). No se trata mais da incipincia do e-Gov exclusivamente. uma viso clara de que uma dimenso dos portais a tecnolgica pode ser explorada. O que uma das justificativas deste trabalho. Como agravante das observaes sobre a limitao dos portais existentes, acrescenta-se a anlise de Guiladurcci (2007, p.25):As esferas que apresentam maior grau de maturidade em ESD so a Federal e as Estaduais, onde a Federal lidera as iniciativas e implementaes. No nvel dos municpios, a heterogeneidade ainda maior. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), em 2004 apenas 38,9% dos municpios brasileiros possuam pgina na internet. Este indicador, que por si s j alarmante em relao ao no alinhamento das esferas governamentais em relao ao assunto e-Government, apenas a ponta do iceberg. Segundo a pesquisa, municpios com mais de 20 mil habitantes tm mais probabilidade de ter uma pgina na internet do que os outros municpios. Esta probabilidade vai aumentando, medida que o nmero de habitantes aumenta. Das cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes, por exemplo, apenas a cidade de Jaboato dos Guararapes (PE)

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no tinha pgina na internet. Ainda, de todos os sites, a maioria se concentra nas regies sul e sudeste e o nvel de maturidade, na grande maioria, o Informacional; havendo alguns com alguns servios classificados como interativos e muito poucos transacionais.

a. Padres e tendncias Em estudo feito por Vaz (2008, p.66), com pesquisas em 2003 e em 2007, o autor aponta uma Oferta Bsica de Servios. No levantamento de 2003, ela apresentava como componentes as seguintes funcionalidades:[...] centrais de atendimento ao cidado; solicitao de manuteno urbana; consulta a processos; consulta sobre tributos devidos inclusive dvida ativa; emisso de guias e boletos; informaes sobre utilizao de servios pblicos; endereos e telefones de rgos pblicos; programao cultural e de eventos; informaes sobre licitaes; prestaes de contas e demonstrativos financeiros; informaes sobre concursos pblicos; acompanhamento de obras em andamento; emisso de certides e fornecimento de formulrios.

As pesquisas se detiveram em municpios de mdio e grande porte e, ainda assim, trouxeram tona questes consonantes com as afirmaes acerca do estgio primrio de desenvolvimento do governo eletrnico e, por fim, dos portais municipais na Web (idem, p.74):[...] ampliar o nvel de profundidade dos servios prestados requer um esforo de integrao de sistemas e redesenho de processos que no simples. A quantidade de transaes eletrnicas oferecidas muito menor do que o nmero de transaes existentes no universo de relacionamento entre cidados e prefeitura. O processo de converso dos legados e sua maior integrao ao ambiente Web parece caminhar lentamente, mesmo em municpios com expressivas capacidades financeiras e tcnicas.

Esse entendimento se pauta na observao de que, no perodo de 2003 a 2007, mesmo no se tratando de pequenos municpios e, com efeito, sendo analisados apenas os casos premiados pelo prmio CONIP7, que sendo um evento de alta visibilidade no meio da informtica pblica, [...] a premiao realizada no mbito do congresso usualmente atra municpios com experincias mais significativas. Em pesquisa exploratria por servios oferecidos em portais brasileiros, tomou-se como exemplo aleatrio o do municpio de So Paulo, SP, com os seguintes servios escolhidos: De olho na obra8: servio atravs do qual os cidados podem denunciar irregularidades em obras. Na prtica, trata-se de um recurso de participao onde o usurio do servio pode acessar um formulrio para consultar se existe o registro de construo ou reforma em um determinado endereo e, em caso de suspeita

7

A premiao referida a promovida anualmente no CONIP (Congresso Nacional de Informtica Pblica): o Prmio Excelncia em Informtica Pblica e o Prmio Cidadania na Internet. 8 Disponvel em http://www.prefeitura.sp.gov.br/deolhonaobra/. Acesso em 25/04/2011.

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de irregularidade ou falta de registro, enviar uma denncia. Em uma anlise superficial, foi fcil constatar que o uso do servio confuso, inclusive oferecendo um boto rotulado de Pesquisa SQL, sem acesso ao formulrio de contato na tela de consulta e com restrio de horrio (sic) para visualizar os detalhes de um requerimento dias teis das 7h s 22h. No ficou claro o tratamento dado denncia recebida, mas, tendo em vista o cuidado com que se pensou na experincia do usurio com o servio em termos de usabilidade e acessibilidade, as expectativas no so boas. De qualquer modo, o espao participao tmido e incipiente, ainda que provavelmente um esforo notvel no contexto dos portais municipais em todo o Brasil. Cadastro de Fornecedores9: pgina esttica com informaes e arquivos para download: manual do cadastro do fornecedor; formulrio de cadastramento do fornecedor. Meier & Jakob (2007, p.4), tratando da situao encontrada em pases desenvolvidos, apresentam um panorama bem diferente da realidade brasileira ao colocarem que information and communication technologies are well established as a means of providing services and information to or communicating with citizens, businesses, organisations, or amongst government agencies. Mesmo assim, quando o assunto o aproveitamento das oportunidades associadas Web 2.0, os autores afirmam no mesmo artigo (idem) que:While the World Wide Web and e-mail services are widely used, there are few examples of governments implementing Web 2.0 applications such as wikis, weblogs, or podcasts. However, these applications may enhance chances of a successful transformation of E-Government policies, especially when it comes to participating in democratic processes or the transparency of those.

Um exemplo para referncia de iniciativas que j demonstram a compreenso dos benefcios em oferecer espao participao dos cidados apontado pelo W3C (2009, p.2930) no servio NHS Choices, do Servio Nacional de Sade do Reino Unido,que ajuda os cidados a escolherem um prestador de servios de sade entre muitos. Aqueles que usam os servios so incentivados a dar notas e comentar sua experincia com um determinado prestador de servios. Isso um exemplo de um governo que oferece um frum para interao de um cidado para outro, com o propsito de facilitar a escolha e melhorar a qualidade dos servios. A Patient Opinion oferece um servio semelhante, mas independente.

9

Disponvel em http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/planejamento/suprimentos_e_servicos/ fornecendo_para_a_pmsp/index.php?p=8812. Acesso em 25/04/2011.

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3. Web 2.0A World Wide Web ou simplesmente Web a parte multimdia da Internet, caracterizada principalmente por suas pginas em hipertexto, o que inclui o poderoso recurso de hiperlink, atravs do qual outras pginas ou outros contedos so referenciados. Essa uma noo j h muito difundida e que remete ao incio da dcada de 1990, quando, segundo a WIKIPEDIA10, Tim Berners-Lee tomou a iniciativa de implementar os elementos bsicos da Web: o servidor (que recebe e responde requisies baseadas em texto) e o cliente (com um navegador que interage com o servidor). Desde ento, o que se tem visto uma grande disputa pela definio de padres sobre os quais a Web deve ser construda. E, embora isso talvez permanea como um embate sem fim, ele vem lentamente sendo atenuado, seja pelo esforo de entidades como a W3C que busca disseminar padres abertos, seja pelo estabelecimento de padres de fato, que acabam sendo adotados11 pela maioria dos usurios aps longas batalhas com concorrentes tantos abertos quanto de empresas rivais. Nessa toada de busca por padres e da ateno dada pelas empresas a esse novo e incrivelmente bem aceito meio de acesso a informaes e de manifestao de ideias e de alta lucratividade que a Web, passaram a emergir solues e ideias to bem sucedidas e at inovadoras em suas propostas que, uma vez que o mercado dado aos rtulos, eis que surgiu o termo Web 2.0. Conforme O'Reilly (2005) apud Primo (2007, p.2), "no h como demarcar precisamente as fronteiras da Web 2.0. Trata-se de um ncleo ao redor do qual gravitam princpios e prticas que aproximam diversos sites que os seguem". O que pode ser visto, no como uma revoluo como foi a iniciativa de Berners-Lee, mas como uma fase em que h polarizao de algumas abordagens que se tornam referncia, as quais sero discutidas adiante. O prprio Berners-Lee, em entrevista12 comunidade developersWorks da IBM afirma que, para ele, a Web 2.0 "ningum ao mesmo sabe o que significa" [traduo literal], pois, conforme sustenta o pai da Web, h tecnologias envolvidas que precedem at a verso 1.0 e, dentre as caractersticas atribudas enfaticamente verso 2.0 como a interao entre as pessoas h muitas que compe a base da Web desde a sua origem. Contra esses argumentos, apesar da obviedade explcita na afirmao de Martinuzzo (2009, p.5) tambm a respeito do termo, oportuno destacar que o fato de uma tecnologia existir no representa muita coisa at o momento de sua apropriao significativa por parte da sociedade.

10

Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/World_Wide_Web, Acesso em: 10/03/2011.

11

Sem pretender um aprofundamento da discusso, oportuno lembrar que em vrias situaes o termo adotados um eufemismo s prticas de certas empresas ou consrcios de empresas.12

Disponvel em: http://www.ibm.com/developerworks/podcast/dwi/cm-int082206txt.html. Acesso em 10/03/2011.

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No entanto, para compreender a viso que sustenta a ideia de Web 2.0 crucial a afirmao de Primo (2007, p.1) de que esta "tem repercusses sociais importantes, que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produo e circulao de informaes de construo social de conhecimento apoiada pela informtica". Da pode-se extrair uma expresso central Web 2.0: trabalho coletivo; com a colaborao e a participao de todo e qualquer usurio. As tecnologias no esto no foco da identidade dessa expresso, mas a amplificao de iniciativas ou ideias que, mesmo estando desde na base da Web, agora deixaram de lado a timidez e passaram ao papel central, pois vem sendo massivamente adotadas nesse ambiente em que os usurios tambm atuam em primeiro plano, ou seja, na gerao do contedo da rede.

3.1. Principais conceitos envolvidosO mapa mental representado pela Figura 2 procura sintetizar a relao entre os principais conceitos que integram a noo de nova gerao da Web. Ao longo desse captulo, esses conceitos sero discutidos, revelando a estreita relao da maioria deles com os princpios de colaborao e participao.

Figura 2: A Web 2.0 como uma polarizao de conceitos

Mais uma vez, no de revoluo tecnolgica que se est tratando, mas de maneiras diferentes e inovadoras de se fazer o que a Web sempre props: integrar as pessoas, seu conhecimento, suas ideias e suas experincias. S que agora com possibilidades maiores ou, no mnimo, de um jeito mais fcil e com resultados de maior alcance e efetividade. Ademais, o criador da Web aceite ou no, ela surgiu como uma mdia "somente para leitura" (read-only-media). A mudana radical s ocorreu recentemente e, hoje, as pessoas publicam e participam como jamais se viu (MEIER & JAKOB, 2007, p.10).

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3.2. Ferramentas de colaborao e participao 3.2.1 Redes sociaisAs redes sociais na Web se caracterizam como perfis de usurios que fazem referncia mtua entre si. Um perfil representado por uma pgina Web com informaes providas e mantidas por seu dono. O relacionamento entre as pessoas que mantm esses perfis se realiza na troca de mensagens dentro da rede, o que inclui desde a simples comunicao, at o compartilhamento de contedo, notadamente multimdia. Ao longo da ltima dcada, foram vrias as redes sociais 13 na Web de grande popularizao: Facebook; MySpace; Orkut; Twitter; entre outras. O tipo de contedo, a forma como os perfis se conectam e as atividades predominantemente exercidas dentro dessas redes que as diferenciam; isso reflete tambm os objetivos dos usurios ao participarem delas. Na comunicao mediada por computador e, por extenso, por redes sociais na Internet, so distinguveis duas formas de interao: mtua; e reativa. (PRIMO, 2003, p. 61 apud REQUERO, 2005, p.5).[...] interao mtua aquela caracterizada por relaes interdependentes e processos de negociao, em que cada interagente participa da construo inventiva e cooperada da relao, afetando-se mutuamente; j a interao reativa limitada por relaes determinsticas de estmulo e resposta (idem, p.62 apud idem).

A maior contribuio dessas redes em favor da interao social provavelmente a efetividade proporcionada a ambas as formas de interao sobre grupos de pessoas, abrindo espao, sobretudo, s aes no campo da mutualidade, da mobilizao e da difuso de ideias e conhecimento. No que essas redes sociais sirvam predominantemente a fins mais elevados no campo social no esse o seu propsito, dada a sua natureza comercial , mas ntido que elas transformaram os meios e as formas de relao entre as pessoas, e que novas possibilidades podem ser estudadas a partir dessas experincias para serem aplicadas em favor da sociedade. Complementando a ideia, convm destacar que redes de cidados tm propsitos diferentes das redes sociais que se tem visto na Web. Os interesses e valores de cada n da rede o usurio quando est cumprindo o papel de cidado se opem queles de quando busca a satisfao de anseios de indivduo (AGUIAR, 2002, p.1).

13

Para uma lista de redes sociais na Internet pode-se http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_redes_sociais. Acesso em 24/03/2011.

consultar

a

Wikipdia.

Disponvel

em:

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3.2.2 BlogsOs Web logs ou simplesmente blogs so um tipo particular de site com formato padronizado, onde o contedo organizado por ordem cronolgica e mantido por um ou mais autores que so os responsveis pelas publicaes (tambm denominados posts). Os seguintes aspectos podem ser apontados como provveis causas para a popularizao e sucesso dos blogs: A facilidade com que qualquer pessoa (com acesso Web) pode criar e manter um blog, especialmente, publicando a qualquer momento todo sorte de contedo multimdia; A gratuidade da maioria dos servios de hospedagem e ferramentas para criao de blogs; Os recursos simples de referncia ao contedo dos blogs, feita inclusive de modo automatizado, onde se destacam os permalinks14 e linkbacks15. Atravs desses recursos, as ferramentas mais populares como Wordpress16 permitem que um post especfico, ao ser referenciado em outro blog, receba automaticamente um comentrio indicando o endereo de onde foi citado; A criao de padres de distribuio de contedo com o RSS e o Atom, proporcionando o que se convencionou chamar de Web syndication; Os sites de busca, atravs dos quais os blogs so colocados no mesmo leque de opes que as fontes de informaes tradicionais, isto , os grandes grupos de comunicao. O que se convenciona chamar de Blogosfera a rede criada pelos blogs e suas interconexes. Ela constitui uma complexa teia de contedos e opinies sobre os mais variados assuntos, o que leva muitas vezes necessidade de tipificao de vrias blogosferas (jurdica, culinria, poltica, neoliberal etc.). Na Blogosfera os autores muitas vezes se confundem com os leitores, pois cada um, alm de poder na maior parte dos casos comentar os posts, ainda pode ter seu prprio blog e discutir abertamente suas posies sobre os mesmos, referenciando-os e criando, assim, uma espcie de "crebro vivo" que capaz de "pensar" e "refletir" com inteligncias e motivaes em nmero cada vez maior e, qui, qualificado.

14

Permalink um URL que aponta para um post especfico em um blog ou frum na Web. Esse tipo de endereo definitivo e imutvel. Contra o argumento de que o princpio dos prprios hyperlinks ser um apontamento definitivo para um contedo na Web, consta que isso no regra para os links em geral, mas o para os permalinks.15

Linkback um recurso de ferramentas de criao de blogs atravs do qual se toma conhecimento de uma referncia a um post em outro Web log. Os tipos de linkback e suas caractersticas podem ser conferidos em http://en.wikipedia.org/wiki/Linkback.16

Disponvel em: http://wordpress.com/

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O advento dos Web logs tem latente em sua proposta um apelo muito forte democracia: a liberdade de expresso. Isso se mantida a sua forma tal como se descreveu anteriormente, isto , sem haver censura, ficando o controle sobre a qualidade e visibilidade do contedo por conta da seleo "natural" da prpria Blogosfera. a. Web syndication Em ambientes de difuso como televiso e rdio, lida-se com o conceito de syndication, que significa vender o direito de difuso do contedo produzido para emissoras independentes sem a necessidade de recorrer s redes de difuso. Tomando emprestado esse conceito, que de modo geral uma forma de distribuio direta de contedo, surgiu o termo web syndication, originado no ambiente dos blogs, onde se tornou indispensvel a adoo de formatos padres para a publicao padronizada dos posts, o que tambm originou outra expresso feed, que o contedo publicado em um formato padro de publicao. Com o uso de padres, como RSS e Atom, o contedo passou a ser entregue sem a necessidade de os leitores acessarem os blogs, pois surgiram aplicaes client, chamadas de agregadores, que se alimentam dos feeds a partir de um ou mais URLs. Assim, cada leitor pode acompanhar as novidades dos blogs de sua preferncia com a simples incluso das URLs em um agregador de sua preferncia. Convm destacar que, apesar da origem desses padres estar associada aos blogs e seus leitores, tem-se usado esses formatos para interoperabilidade entre sistemas, inclusive com o surgimento de novos padres como forma de especializao. Um exemplo o GeoRSS17, para troca de dados geogrficos.

3.2.3 WikisUma coleo de pginas Web editadas pelos prprios usurios do site ou o software utilizado na criao e manuteno dessas pginas: estas so as acepes para wiki. As principais caractersticas da edio em um wiki so a simplicidade e a colaborao. A formatao das pginas padronizada e se baseia em uma linguagem de marcao prpria e muito mais simples que a HTML, sem a utilizao das tags que tanto "poluem" um documento editado nela linguagem. Normalmente, os usurios podem editar livremente as pginas e algumas polticas so definidas para que as edies sejam efetivadas com o mnimo de reviso, para evitar a interferncia na liberdade de publicao. Exemplos comuns dessas polticas so: o rigor em citar as fontes de dados; no manifestar opinies exclusivamente individuais etc.

17

http://en.wikipedia.org/wiki/Georss

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Casos de vandalismo ou alteraes indesejveis so tratados por um mecanismo que mantm o histrico de todas as edies e que permite reverter as pginas a um estado que se considere correto. a. A Wikipdia De todos os wikis, o mais amplamente conhecido a Wikipdia. Trata-se de uma enciclopdia que, tendo sido criada em 2001, hoje figura entre os 10 sites mais acessados em todo o mundo18 e mantido com recursos de doaes dos prprios usurios19. Apesar de muitas vezes ser apresentada como um ambiente de livre e irrestrita colaborao, a realidade que possui regras de funcionamento, dentre as quais est uma hierarquia de poder20, na qual as edies so submetidas para serem so aceitas ou mantidas.

3.2.4 FolksonomyDois sites que ajudaram caracterizar a Web 2.0 so o Delicious21 e o Flickr22. Aquele pode ser definido como um bookmark em escala mundial, onde os usurios compartilham seus URLs favoritos; este, como um servio de compartilhamento de fotos tambm com alcance global. Sem entrar no mrito das demais qualidades que lhes proporcionaram imenso xito, "colaborao" sem dvida uma expresso em grande evidncia. Esses servios, no entanto, trouxeram outra contribuio ao inaugurarem uma nova forma de categorizao de contedo na Web: a folksonomy. Esse estilo de organizao se ope taxonomia, que inspirou, por exemplo, a separao de contedo em diretrios (O'REILLY, 2005b, p.11). Folksonomy se baseia na livre criao de tags pelos usurios, associadas ao contedo que esto publicando.[...] O uso de tags permite associaes mltiplas e superpostas como as que o prprio crebro usa ao invs de categorias rgidas. No exemplo tpico, uma fotografia de um filhote de cachorro no Flickr pode ser etiquetada tanto como filhote ou como fofinho permitindo ser localizada atravs de eixos de atividade de usurio que foram naturalmente gerados (idem).

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Wikipedia completa 10 anos entre os sites mais acessados do mundo. Disponvel em: http://tecnologia.uol.com.br/ultimasnoticias/redacao/2011/01/15/wikipedia-completa-10-anos-entre-os-sites-mais-acessados-do-mundo-confira-a-trajetoria.jhtm. Acesso em 30/03/2011.19 20 21 22

Idem. Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia#Colaboradores. Acesso em 30/03/2011. Disponvel em http://www.delicious.com/. Disponvel em http://www.flickr.com/.

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3.3. Desenvolvimento de softwareNo mbito do desenvolvimento, O'Reilly (2005b) reconhece algumas mudanas significativas que associa Web 2.0, especialmente aliadas percepo crescente do software como servio e no mais como produto. Isso fica claro em afirmaes como a de que "o software deixar de funcionar a no ser que receba manuteno diria". O que aponta para um modelo de negcio que se ope ao ciclo de lanamentos de softw