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1 INTRODUÇÃO A presente monografia visa através do estudo de caso do espetáculo “Circo Las Muchachas” reforçar a importância de tornar o teatro acessível a todos e apresentar caminhos para que essa meta seja alcançada. Será apresentado um estudo diagnóstico do espetáculo citado, identificando as necessidade para uma acessibilidade ideal e depois realizar as propostas, estratégias e recursos necessários para tal construindo um projeto, um mapa de orientação que deve ser aplicado no futuro. Sabe-se que é um direito constitucional o acesso de todos a cultura, vemos tal afirmação no “Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais, bem como o acesso de todos à cultura e entretenimento.Porém hoje no Brasil grande parte dos eventos realizados não possuem recursos, sejam arquitetônicos ou comunicacionais, que deem acesso a pessoas com deficiência. Buscando nortear produtores e fazedores de teatro, esta monografia apresentará um estudo de caso onde serão identificadas formas possíveis de acessibilidade apresentando soluções para que as pessoas com deficiências possam usufruir de momentos de arte e lazer como todas as outras. Métodos, tecnologia acessível e padrões arquitetônicos a permitir e facilitar a permanência de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida nos ambientes culturais e garantir boa comunicação. A metodologia desta pesquisa terá como objeto de análise o espetáculo “Circo Las Muchachas” do grupo sul mato-grossense de teatro “Mambembe Trupe Teatral”. Este espetáculo está destinando ao público infantil. E o caminhão poético do grupo neste foi buscar um intercruzamento de técnicas do circo e teatro. O espetáculo geralmente acontece em espaços públicos, praças e parques e também conta com a participação ativa da plateia durante o espetáculo. A participação do público acontece porque ele é convocado a entrar no picadeiro e ajudar como partner, ajudante de palco. Dessa forma aproximamos ainda mais as crianças do espetáculo, elas não somente assistem mas vivenciam um dia de artista circense. Mediante a problemática do espetáculo de estudo ser infantil e de rua que utiliza de técnicas circenses e da plateia para ajudar ativamente nas cenas, será exposto uma abrangência de recursos comunicacionais e arquitetônicos existentes e

teatro acessível a pessoas com deficiência

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Page 1: teatro acessível a pessoas com deficiência

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INTRODUÇÃO

A presente monografia visa através do estudo de caso do espetáculo “Circo

Las Muchachas” reforçar a importância de tornar o teatro acessível a todos e

apresentar caminhos para que essa meta seja alcançada.

Será apresentado um estudo diagnóstico do espetáculo citado, identificando

as necessidade para uma acessibilidade ideal e depois realizar as propostas,

estratégias e recursos necessários para tal construindo um projeto, um mapa de

orientação que deve ser aplicado no futuro.

Sabe-se que é um direito constitucional o acesso de todos a cultura, vemos

tal afirmação no “Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos

culturais e acesso às fontes da cultura nacional, apoiará e incentivará a valorização

e a difusão das manifestações culturais, bem como o acesso de todos à cultura e

entretenimento.” Porém hoje no Brasil grande parte dos eventos realizados não

possuem recursos, sejam arquitetônicos ou comunicacionais, que deem acesso a

pessoas com deficiência. Buscando nortear produtores e fazedores de teatro, esta

monografia apresentará um estudo de caso onde serão identificadas formas

possíveis de acessibilidade apresentando soluções para que as pessoas com

deficiências possam usufruir de momentos de arte e lazer como todas as outras.

Métodos, tecnologia acessível e padrões arquitetônicos a permitir e facilitar a

permanência de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida nos ambientes

culturais e garantir boa comunicação.

A metodologia desta pesquisa terá como objeto de análise o espetáculo

“Circo Las Muchachas” do grupo sul mato-grossense de teatro “Mambembe Trupe

Teatral”. Este espetáculo está destinando ao público infantil. E o caminhão poético

do grupo neste foi buscar um intercruzamento de técnicas do circo e teatro. O

espetáculo geralmente acontece em espaços públicos, praças e parques e também

conta com a participação ativa da plateia durante o espetáculo. A participação do

público acontece porque ele é convocado a entrar no picadeiro e ajudar como

partner, ajudante de palco. Dessa forma aproximamos ainda mais as crianças do

espetáculo, elas não somente assistem mas vivenciam um dia de artista circense.

Mediante a problemática do espetáculo de estudo ser infantil e de rua que

utiliza de técnicas circenses e da plateia para ajudar ativamente nas cenas, será

exposto uma abrangência de recursos comunicacionais e arquitetônicos existentes e

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como eles serão adaptados visando melhor aproveitamento e entendimento do

espetáculo por pessoas com deficiência.

Dentre os recursos que proponho empregar no espetáculo destaco:

audiodescrição, libras, braile, letras escritas com cores contrastantes com o fundo,

estenotipia (registro do que é falado em forma de legenda projetado em um telão ou

tv), reconhecimento de palco ( guia pelo palco onde as pessoas cegas podem tocar

e perceber como é a disposição do cenário, enquanto tocam e caminham pelo

cenário vão recebendo informações faladas do guia sobre o mesmo). Estes são

alguns dos métodos e tecnologia que serão apresentados a seguir e que

possibilitam o processo de acessibilidade cultural, além de regras e padrões

arquitetônicos que devem ser seguidos para oferecer a pessoas com deficiência e

com mobilidade reduzida maior conforto e liberdade nos ambientes culturais.

Visto que os ambientes onde o espetáculo de estudo é apresentado são

lugares públicos e abertos, como praças, parques e ruas, o desafio de tornar

acessível será ainda maior. Cada lugar é sempre distinto em sua estrutura espacial

e as demandas passam então a ser únicas para cada apresentação.

Essa pesquisa tem como objetivo apresentar métodos e ferramentas com o

intuito de ratificar o Art. 5º da Constituição Federal que descreve que “todos são

iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.”

Para que os recursos e tecnologia acessível apresentadas nessa monografia

sejam colocadas em prática faz-se necessário inicialmente que os produtores e

fazedores culturais quebrem a barreira da Acessibilidade Atitudinal, ou seja: tenham

atitudes diferentes! Entende-se por barreira atitudinal ações ou reações causadas

por preconceito, paradigmas, estigmas ou estereótipos colocados pela sociedade

em relação as pessoas com deficiência. A busca por soluções acessíveis sem o viés

assistencialista é o início dessa caminhada em busca da acessibilidade cultural.

Esta pesquisa tem como objetivo geral realizar um projeto para tornar o mais

acessível possível o espetáculo “Circo Las Muchachas”. Acredito que através da

diagnose das necessidades para um acessibilidade ideal e sugestão de propostas

poderei também nortear produtores e fazedores culturais a realizarem espetáculos

infantil de rua acessível a pessoa com deficiência.

Page 3: teatro acessível a pessoas com deficiência

3

Os objetivos específicos desse trabalho é apresentar uma gama de recursos

e tecnologia acessível existentes e de como adapta-los, se necessário, mediante a

problemática do estudo de caso do espetáculo “Circo Las Muchachas” que tem

características peculiares em sua estrutura de apresentação: teatro infantil de rua,

participação ativa da plateia e utilização de técnicas circense. A junção dessas

bases se dá com o objetivo de manter viva tradições circenses e do grupo ter como

padrão de trabalho a mescla de diversas artes em um espetáculo. Também teremos

como objetivo estudar a história do teatro e do circo para contextualizar melhor o

espetáculo em questão.

Nossa pesquisa terá como metodologia um estudo de caso, o objeto a ser

investigado será o espetáculo “Circo Las Muchachas”. No primeiro momento será

realizada uma avaliação em forma de diagnose, identificando as necessidades de

acessibilidade do espetáculo. Em seguida, se guiando por revisão da bibliográfica

referente a acessibilidade cultural, apresentarei possíveis caminhos para criar um

projeto que viabilize os dispositivos de acessibilidade à pessoas com deficiência.

Para realizar a pesquisa primeiramente irei investigar um pouco a história do

teatro e suas relação com a história do circo. Acredito que para a contextualização

do espetáculo “Circo Las Muchachas” um resgate histórico e genealógico será

importante. Nesta parte também discutirei algumas ferramentas importantes para

tornar o teatro acessível. No segundo capítulo discorrerei sobre outras ferramentas

importantes nos processos de acessibilidade cultural, intensificando as

problematizações para o teatro. Assim, audiodescrição, Libras, Braile etc. serão

investigados com o intuito de encontrar a melhor forma de adaptá-los ao espetáculo

de estudo. No terceiro capítulo serão apresentadas as normas da ABNT para

construção arquitetônica de espaços acessíveis e também em formas de adaptação

para àqueles que não foram construídos pensando no conforto e permanência de

pessoas com deficiência. O quarto capítulo traz uma reflexão aos produtores e

fazedores culturais quanto as atitudes em relação as pessoas com deficiência e visa

motivá-los à produção de eventos artísticos e culturais não sob o viés

assistencialista e sim com o intuito de tornar real o direito de todos ao acesso a

cultura e informação. O quinto capítulo trará um pouco sobre a história da trupe e do

espetáculo “Circo Las Muchachas”, também aqui serão estudadas formas de se

Page 4: teatro acessível a pessoas com deficiência

4

colocar em prática e se preciso adaptar as ferramentas acessíveis apresentadas no

segundo capítulo.

I - Origem do Teatro e circo

Não se sabe ao certo onde se deu a origem do teatro, se formos falar de

interpretação imagina-se que ele começou muito antes da fala, ainda na época do

homem das cavernas, período paleolítico, cerca de 10.000 anos a.C, onde se

precisava interpretar, fazer mímicas para se comunicar. Alguns historiadores citam

sua origem no século VI a.C., na Grécia, advindo das festas dionisíacas realizadas

em homenagem ao deus Dionísio, deus do vinho, do teatro e da fertilidade .No livro

de Raquel Coelho, “Teatro: Literatura Infanto-Juvenil” (1999, página 6) ela faz uma

afirmação mais além:

Lá o teatro floresceu com muita força e com um jeito próprio,

que acabou influenciando o teatro de todo o Ocidente, desde

aquela época até os dias de hoje. (“Teatro: Literatura Infanto-

Juvenil”,1999)

Ainda no livro de Raquel Coelho na página 06 ela fala sobre a origem do

primeiro ator. O teatro grego tem como marco inicial da ação dramática o dia em

que um dos participantes desses rituais vestiu uma máscara humana, ornada com

cachos de uvas, subiu em um tablado em praça pública e disse: “Eu sou Dionísio!”.

Este homem era Thespis, considerado o primeiro ator da história do teatro ocidental.

Thespis além de ator era autor e circulava pelas cidades em sua carroça levando

suas interpretações. Thespis introduz a tragédia em 534 a.C. e o teatro passa a não

ser somente uma imitação de rituais mas toma uma nova forma.

No livro de Bárbara Heliodora (2008) “O teatro explicado aos meus filhos” na

pagina 16 vemos como ela explica essa mudança de função do teatro:

É com essa mudança de função- buscar novos horizontes, em

vez de repetir o já conhecido – que aparece essa nova arte, o

teatro, na qual o autor imagina uma ação por meio da qual

expressa sua visão do comportamento humano diante de

determinada situação. O que acontece nessa situação é o que

Page 5: teatro acessível a pessoas com deficiência

5

chamamos “a ação” da peça, e os personagens, que um bom

autor pode fazer parecerem perfeitamente vivos, são todos

criados segundo sua função na ação imaginada. (O teatro

explicados aos meus filhos,2008)

Depois da queda do Império Romano, no século V d.C., começou uma série

de invasões e guerras que fez com que as artes ficassem paralisadas. O teatro veio

a ressurgir somente em meados do século XII e era muito utilizado como forma de

evangelização. Paralelo a isso surgiu um outro tipo de teatro, isso aconteceu na

Europa, durante a Idade Média. Raquel Coelho, no livro “Teatro: Literatura Infanto-

Juvenil” (1999, página 10) explica esse acontecimento

Os atores e atrizes desse tipo de teatro estavam sempre

viajando, como ciganos. Eram chamados de saltimbancos. Em

suas carroças amontoadas, levavam todo tipo de coisas:

cenários, figurinos e histórias. As carroças serviam como

transporte e como casa, e até mesmo como palco. As peças

podiam ser engraçadas ou trágicas, e os grupos de atores

chamados de trupes, viajavam de vila em vila, mostrando sua

arte para quem quisesse ver, nas pequenas ruas, praças e

castelos. (“Teatro: Literatura Infanto-Juvenil”,1999)

Embora nessa época houvesse o monopólio da igreja, que queria escolher a

temática das peça de teatro, os Saltimbancos escolhiam seus temas e viviam

viajando para ter liberdade de expressão, fora do controle da igreja. Costumavam

usar máscaras com medo de serem perseguidos e presos a mando da igreja, afinal

seus espetáculos nada tinham de religioso. Esses grupos itinerantes chamavam-se

trupes de teatro mambembe (termo popular brasileiro para designar a atividade

teatral itinerante de grupos de segunda categoria).

Os saltimbancos foram o marco inicial da interligação do circo e teatro pois

faziam números cômicos, de pirofagia (malabarismo com fogo), malabarismo, dança

e teatro em diversas cidades levados pelas suas carroças que iam carregadas de

adereços cênicos (objetos de uso pessoal dos personagens) e literalmente

carregavam também suas casas. Os saltimbancos são uma pré-história das artes

circenses, porque foi só na Inglaterra do século XVIII que surgiu o circo moderno,

Page 6: teatro acessível a pessoas com deficiência

6

com seu picadeiro circular e a reunião das atrações que compõem o espetáculo

ainda hoje. As famílias circenses tradicionalmente viajam juntas, montam seu próprio

picadeiro além de se apresentarem nele. O teatro medieval dos saltimbancos

acabou tomando uma forma curiosa no século XX, algumas companhias (como a

que eu trabalho) dedicam-se exclusivamente a criar montagens para a rua. Raquel

Coelho no livro “Teatro: Literatura Infanto-Juvenil” (1999, página 21) discorre um

pouco sobre esse tipo de teatro moderno:

Esses grupos se utilizam muitas vezes das técnicas circenses,

como a perna de pau, malabarismo, as cenas exageradas,

coloridas, exuberantes....e, é claro, muita música e muita

dança. Um dos pontos interessantes do teatro de rua é a

sensação de proximidade entre a plateia e os atores. Também

é interessante o fato de que os atores procuram sempre

adaptar as peças a novos espaços, já que as mesmas histórias

muitas vezes são apresentadas em diferentes ruas, praças e

cidades. (Teatro: Literatura Infanto-Juvenil, 1999)

Destas tradições mambembe, viajar pelas cidades levando mesclas de artes e

os próprios artistas circenses montarem seu picadeiro e trabalharem nele, retirei o

nome do nosso grupo teatral afinal seguimos os preceitos de nos apresentarmos

com números cômicos, malabarismo e outros em locais públicos e nós mesmos é

quem montamos e organizamos nosso picadeiro. Também a nomenclatura “trupe”

vem dos grupos de teatro antigos, resultando assim “Mambembe Trupe Teatral”.

1.1 .Acessibilidades no teatro

Antes de iniciarmos a fala sobre acessibilidade no teatro devemos entender a

nomenclatura acessibilidade cultural. Acessibilidade segundo o dicionário Aurélio on-

line (2014, s.pag.) é

Qualidade do que é acessível, do que tem acesso. /

Facilidade, possibilidade na aquisição, na aproximação: a

acessibilidade de um emprego. (Dicionário Aurélio,2014)

Page 7: teatro acessível a pessoas com deficiência

7

O termo “cultural” deriva-se da palavra “cultura”. Juntando os termos seria:

facilidade, aproximação a cultura. Essa acessibilidade, aproximação a cultura, se

dará através de construções ou adaptações arquitetônicas para melhor conforto e

independência e disposição de recursos de tecnologia acessível que facilitem a

comunicação com as pessoas com deficiência.

Segundo Viviane Sarraf, em seu artigo virtual (2013, s.pag.) “Acesso a

cultura: um sinal de mudança” ,

A acessibilidade no teatro tem como característica principal que

seu espaço, programação, informação, estratégias de

comunicação e ação educativa estejam ao alcance de todos os

indivíduos. No entanto, para que um espaço cultural seja

realmente acessível, precisa de requisitos para que sua

programação possa ser usufruída por todos,

independentemente da condição física, sensorial, intelectual ou

comunicacional das pessoas. (Acesso a cultura: um sinal de

mudança, 2014)

Sabemos que pessoas com deficiência visual precisam receber as

informações durante a experimentação das atividades dos espaços de cultura por

meio de outros sentidos, como o tato e a audição. Já as pessoas surdas, que tem

como primeira língua a LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais — precisam se

comunicar por esta língua ou pela escrita própria das línguas de sinais que se dá

através da signwritting, diferente da verbal. E as pessoas com deficiência intelectual

precisam de respeito às suas diferenças cognitivas e necessitam também de

relações humanas livres de preconceitos e textos mais objetivos e simples.

Sendo assim, uma instituição cultural que realmente tenha o desejo de ser

acessível deve garantir a autonomia e independência há diferença do indivíduo em

todos os seus serviços, sejam eles básicos (banheiros, bebedouros e cafeterias),

permanentes (circulação no edifício, exposições permanentes e midiatecas) e

temporários (exposições, projetos e oficinas).

Ainda no artigo virtual (2013,s.pag.) citado acima de Viviane Sarraf ela cita

que

Page 8: teatro acessível a pessoas com deficiência

8

Garantir os direitos das pessoas com deficiência traz benefícios

não apenas à população de pessoas com deficiência, mas para

todos os indivíduos pelo respeito às diferenças de locomoção,

percepção e comunicação inerentes ao ser humano. (Acesso a

cultura: um sinal de mudança, 2014)

Respeitando essas diferenças entre as pessoas, a acessibilidade no teatro se

dará através da implantação de recurso alternativos, por exemplo: ao chegar ao

local da apresentação de teatro, por se tratar de teatro de rua sem cortinas e palco

próprio, a plateia vidente perceberá o cenário e sua disposição porém os cegos e

baixa visão não terão a mesma percepção. O recurso utilizado para estes será o

reconhecimento de palco, onde estes poderão tocar no cenário, perceber texturas,

disposições e receberão informações sobre o mesmo. Outros recursos também

poderão ser utilizados e estes serão citados e explicados no item subsequente.

Em 2011 a “Escola de Gente” idealizou a campanha “Teatro Acessível, Arte,

Prazer e Direitos”. A “Escola de Gente – Comunicação em Inclusão”, segundo seu

site, foi fundada em abril de 2002, como decorrência natural de ações que, durante

dez anos, foram desenvolvidas por profissionais de comunicação e ativistas em

inclusão certos de que a comunicação é uma área do conhecimento que deve ser

melhor utilizada a favor da inclusão de grupos em situação de vulnerabilidade na

sociedade, especialmente crianças, adolescentes e jovens com deficiência. e tem

como missão transformar políticas públicas em políticas inclusivas para que pessoas

com e sem deficiência exerçam seus direitos humanos desde a infância. Referente

ao projeto “Teatro Acessível, Arte, Prazer e Direitos”

Tem por objetivo garantir mais autonomia e participação de

pessoas com deficiência, mobilidade reduzida e baixo

letramento, entre outras condições, na vida cultural de suas

cidades. Para isso, percorre o Brasil oferecendo teatro gratuito

e acessível a crianças, adolescentes e jovens. Em 2013, por

sua exemplaridade, a campanha foi incorporada como ação e

conteúdo de política pública pelo Ministério da Cultura, através

da ação da secretária de Cidadania, Diversidade e Cultura

Márcia Rollemberg. ( Site Escola de Gente, 2014)

Page 9: teatro acessível a pessoas com deficiência

9

A Escola de Gente, em 2011, produziu o primeiro espetáculo infanto-juvenil

com total acessibilidade no país, o musical rock "Um Amigo Diferente?", que se

tornou o símbolo da Campanha "Teatro Acessível. Arte, Prazer e Direitos". Segundo

o site da Escola de Gente o musical sensibiliza crianças e adolescentes para

perceberem que as diferenças estão em todas as pessoas e compará-las é uma

perda de tempo, o melhor é aproveitá-las e divertir-se com elas. A sinopse da peça

usada nos materiais de divulgação diz que trata-se da história de Lucas, um

menino de nove anos e que sempre foi considerado esquisito pelos vizinhos e

colegas de classe. O seu grande sonho é ser um astro do rock. Na véspera do seu

aniversário, o irmão mais velho o desafia a conseguir dois amigos em troca de seu

álbum de figurinhas. Lucas topa o desafio e, com a ajuda de seu fiel gato Bandidão,

vai tentar de todas as formas encontrar a verdadeira amizade. No percurso dessa

aventura, o menino descobre que quanto mais diferentes são as pessoas, mais

divertida é a vida. O espetáculo foi escrito e dirigido por Marcos Nauer, um dos(as)

fundadores(as) do grupo Os Inclusos e Os Sisos, e conta com a supervisão de

dramaturgia de Bosco Brasil. O texto da peça foi escrito por Marcos Nauer, a partir

de artigos e do livro homônimo da jornalista Claudia Werneck e encenada pelo grupo

de teatro “Inclusos e os Sisos – Teatro de Mobilização pela diversidade “, segundo o

site da Escola de Gente é um projeto pioneiro de arte e transformação social da

Escola de Gente.

Os Inclusos e os Sisos foi criado em 2003, por iniciativa da atriz Tatá

Werneck, a Valdirene da novela Amor à Vida, que mobilizou outros/as estudantes de

artes cênicas da UNIRIO para colocar o teatro, especialmente o humor, a serviço de

temas como inclusão, acessibilidade, diversidade e direitos. O grupo já nasce

praticando teatro acessível e, em 2010, foi indicado ao Prêmio Faz Diferença do

jornal O Globo.

Em 2013, dia 19 de setembro, foi comemorado pela primeira vez no Brasil o

dia temático “Teatro Acessível, Arte, Prazer e Direitos”, com o lançamento de uma

campanha midiática com conteúdo de relevância pública sobre acessibilidade nas

Artes Cênicas. Essas iniciativas nos servem de motivação e prova que é possível

fazer um espetáculo totalmente acessível e que sua importância não é relevante.

Page 10: teatro acessível a pessoas com deficiência

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Ainda sobre projetos culturais acessíveis temos no Plano Nacional de Cultura

(PNC). Este é um conjunto de princípios, objetivos, diretrizes, estratégias e metas

que devem orientar o poder público na formulação de políticas culturais. Previsto no

artigo 215 da Constituição Federal, o Plano foi criado pela Lei n° 12.343, de 2 de

dezembro de 2010. Seu objetivo é orientar o desenvolvimento de programas,

projetos e ações culturais que garantam a valorização, o reconhecimento, a

promoção e a preservação da diversidade cultural existente no Brasil”. Há uma

importante citação na página 17 afirmando que a Constituição Federal já havia

incluído a cultura como um dos direitos sociais básicos do cidadão, estando ao lado

da educação, saúde, trabalho, moradia e lazer. Com isso enfatiza-se ainda mais a

importância de tornar a cultura acessível já que ela é um direito de todos.

1.1 A importância do espaço cultural acessível não somente na sua arquitetura mas

na sua forma de comunicação

Para que realmente possamos garantir de forma mais efetiva o processo de

acessibilidade nos espaços culturais, diversas estratégias e dispositivos devem ser

realizados. Pretendemos então a partir de agora iniciar uma apresentação e

discussão sobre estas possibilidades. Uma das ações, para a acessibilidade cultural,

mais importante está para além das modificações arquitetônicas, mas se referem às

formas de comunicação que devem possibilitar a participação de todas as pessoas,

incluindo as pessoas com deficiência.

Tratando-se dos materiais gráficos do espetáculo, devemos levar em

consideração a democratização ao acesso à informação. As filipetas, convites,

cartazes e demais impressos em tinta devem ser feitos de forma que sejam

entendidos por todos. Para os cegos eles deverão ser produzidos em braile e não se

esquecendo de, em casos de haver figuras, colocar as legendas das mesmas

também em braile. Aqueles que possuem baixa visão, poderão ter acesso ao

material de forma independente. Neste caso o material deve ser feito em fonte Arial,

ou qualquer outra fonte sem serifa (as serifas são os pequenos traços e

prolongamentos que ocorrem no fim das hastes das letras) e no tamanho 20, além

do uso do contraste de cores entre o fundo e a letra. Os contrastes mais utilizados

são: fundo branco com letras pretas, ou fundo preto com letras amarelas.

Page 11: teatro acessível a pessoas com deficiência

11

Para maior independência dos surdos e das pessoas com baixa audição, no

dia do evento, é fundamental ocorrer a contratação ou capacitação de funcionários

e/ou atendentes que falem em libras para possíveis informações. Todos os

colaboradores do evento devem ser pessoas com sensibilidade e capacitação para

atender a pessoas com deficiências diversas. Já ouvi vários relatos de pessoas com

deficiência que são tratados de forma incoerente por terem algum tipo de deficiência,

como por exemplo: falar mais alto por a pessoa ser surda ou baixa visão, ou falar

como se estivesse falando com um bebê com uma pessoa com deficiência

intelectual. Essa sensibilização dos colaboradores se dará através de capacitação e

cursos.

Edificações que permitam e facilitem a locomoção de deficientes e pessoas

com dificuldade de locomoção também é um requisito básico para acessibilidade, e

como confirma a citação abaixo existem regras e padrões para construções

acessíveis, porém essas se tornam inóspitas caso não seja levada em consideração

a verdadeira e pessoal necessidade das pessoas com diferentes tipos de

deficiências ou dificuldades.

Para Cambiaghi (2012):

Quanto mais um ambiente se ajusta às necessidades do

usuário, mais confortável ele é. Todavia, se ocorre o inverso,

quando o ambiente construído não leva em conta as

necessidades ou limitações humanas, ele pode chegar a ser

mais inóspito do que o meio natural. Como viram, a

acessibilidade e o desenho universal servem a todos. Quanto

mais os ambientes culturais levarem este quesito em

consideração, mais público vão atrair para seus ambientes e a

cultura dos “Espaços para Todos” será mais difundida.

(Cambiaghi, 2012)

A acessibilidade arquitetônica se dará do acesso à permanência no local da

apresentação. No caso de construções arquitetônicas de teatro, deve-se pensar em

locais próprios para os cadeirantes, com espaçamento suficiente para que possam

estacionar suas cadeiras e que seja possível visualizar todo espetáculo. Estes

espaços também devem ter fácil acesso, caso se precise sair, por exemplo, para ir

Page 12: teatro acessível a pessoas com deficiência

12

ao banheiro. Como nosso objeto de estudo é um espetáculo de rua, teremos amplo

e livre espaço para acolher os cadeirantes. Mas teremos que pensar na disposição

ordenado do público para no dificultar a circulação das cadeiras das rodas.

O desafio dessa monografia é encontrar soluções para espaços que não

foram feitos especificamente para teatro e não possuem recursos e equipamentos

disponíveis para tornar o ambiente acessível em sua comunicação e arquitetura.

Page 13: teatro acessível a pessoas com deficiência

13

II - Um pouco mais sobre as ferramentas e tecnologias de acesso

2.1 Audiodescrição

De acordo com o grupo de pesquisa TRAMAD (Tradução, Mídia e

Audiodescrição) formado em 2005 na UFBA, “a audiodescrição é um recurso de

tecnologia assistiva que permite a inclusão de pessoas com deficiência visual junto

ao público de produtos audiovisuais. O recurso consiste na tradução de imagens em

palavras. É, portanto, também definido como um modo de tradução audiovisual

intersemiótico, onde o signo visual é transposto para o signo verbal. Essa

transposição caracteriza-se pela descrição objetiva de imagens que, paralelamente

e em conjunto com as falas originais, permite a compreensão integral da narrativa

audiovisual. Como o próprio nome diz, um conteúdo audiovisual é formado pelo som

e pela imagem, que se completam. A audiodescrição vem então preencher uma

lacuna para o público com deficiência visual.”

A audiodescrição pode ser gravada, ao vivo ensaiada ou simultânea. No blog

da audiodescritora Graciela Pozzobon (2013) ela dá as indicações de como essas

audiodescrições devem ser feitas. Segunda ela a criação do roteiro é um trabalho

delicado e subjetivo e deve-se atentar as normas já especificadas pelos países onde

a audiodescrição já foi normatizada. Deve-se atentar também para o tempo das

falas, para que as falas da áudio descrição não fique em cima das falas dos atores e

para isso será necessário um ensaio antes da gravação e se necessário essa é a

hora para se fazer os ajustes. Depois do ensaio e ajustes feito é hora de entrar no

estúdio e realizar a gravação que após isso será editado e mixado na banda sonora

original do filme.

A Audiodescrição também pode ser feita ao vivo que é a forma mais

adequada para nosso estudo de caso, ela também exige um estudo do texto, de

tempo entre as falas da audiodescrição e dos atores e também de ensaio.

Além das duas já citadas há a audiodescrição simultânea onde não há

roteiros e ensaios e geralmente são usadas em produtos transmitidos ao vivo.

Mediante o fato de não haver roteiros e ensaios esse tipo de audiodescrição é

passível de erros e para que ele seja reduzido não prejudicando o ouvinte o

profissional deve ser capacitado e ter experiência para esse tipo de trabalho.

Page 14: teatro acessível a pessoas com deficiência

14

Percebe-se que para se realizar uma boa audiodescrição estudo da obra,

ensaios e treinamento específico são a base para se obter um bom resultado,

oferecendo assim uma descrição que dê a possibilidade de visualização das cenas

sem que haja transposição de falas e erros. Os equipamentos necessários são uma

cabine com microfone onde o audiodescritor possa narrar e fones de ouvido para o

público, no caso da narração já estar mixada juntamente com o audio original a

audiodescrição sairá nas caixas juntamente com o som original. Para se tornar um

audiodescritor faz-se necessário curso específico na área e sempre reciclar

conhecimentos com cursos e palestras, vale lembrar que A Portaria nº 310, de 27 de

julho de 2003 regulamenta a profissão de audiodescritor e com isso esperasse

engajamento de novos profissionais.

Assim podemos concluir que a audiodescrição permite a pessoa com

deficiência assistir a um espetáculo ou filme e responder a seus estímulos no ato

em que são provocados. A Lei nº 10.098, no Decreto Federal 5.296/2004 e no

Decreto Legislativo 186/2008 sustenta o direito de as pessoas com deficiência terem

áudio-descrição corroborando a necessidade de tal recurso.

2.2 Libras

Segundo Finau (apud QUADROS, 2007, p.218 e 219), “a linguagem é um dos

principais meios pelos quais o homem adquire conhecimento de mundo, visando não

causar barreiras nesse conhecimento faz-se necessário que em ambientes culturais

sempre haja funcionários e/ou atendentes habilitadas a falar em libras”.

No ponto de vista de Abreu (2006, p.9):

A Língua Brasileira de Sinais é um sistema linguístico legítimo e

natural, utilizado pela comunidade surda brasileira, de modalidade

gestual-visual e com estrutura gramatical independente da Língua

portuguesa falada no Brasil. A Libras, possibilita o desenvolvimento

linguístico, social e intelectual daquele que a utiliza enquanto

instrumento comunicativo, favorecendo seu acesso ao conhecimento

cultural-científico, bem como a integração no grupo social ao qual

pertence (ABREU, 2006, p.9).

Page 15: teatro acessível a pessoas com deficiência

15

Imagine-se precisando pedir uma informação e não conseguir se comunicar?

A língua que você fala parece estranha e ninguém pode lhe auxiliar por não

entender sua linguagem. É assim que sentem os surdos. A LIBRAS é a linguagem

utilizada por pessoas com deficiência auditiva e já se estuda a possibilidade de

tornar seu estudo obrigatório nas escolas, entendendo a importância dessa

comunicação esse estudo já é obrigatório em todas as graduações de licenciatura.

Segundo o CENSO do IBGE cerca de 5% da população possui deficiência auditiva

ou baixa audição, portanto sua importância comunicacional é notória.

A libras pode ser colocada no teatro através de um interprete que ficará no

canto do palco com um foco de luz em sua direção para que possa ser visualizado

mesmo quando não houver iluminação no palco, este fará a tradução durante o

espetáculo. O número de interpretes será determinado conforme a necessidade de

cada espetáculo. No caso da tv e cinema na própria tela poderá haver uma janela no

canto a qual aparecerá a imagem do tradutor. Há também a possibilidade de os

próprios atores fazerem a tradução simultaneamente com suas falas, o que exige

mais dos atores porém é possível.

Este é um dos recursos acessíveis mais fáceis de se objetivar pois não exige

tecnologias e nem implementações específicas, um recurso que faz toda a diferença

para as pessoas com deficiência auditiva pois nele podem ter total compreensão das

falas. Vale ressaltar que existem surdos que não são usuários da libras, nesse caso

a saída seria exibir as legendas, que também podem conter músicas e informações

sonoras do espetáculo, ou entregar o texto impresso antes do início da atividade.

Uma problemática da legenda é que muitas vezes os surdos não tem uma

velocidade de leitura suficiente para acompanhar de modo adequado as legendas

então elas devem ser condensadas da fala original.

2.3 Braile

O Braille é um alfabeto convencional cujos caracteres se indicam por pontos

em alto relevo e o deficiente visual distingue por meio do tato. A partir dos seis

pontos relevantes, é possível fazer 63 combinações que podem representar letras

simples e acentuadas, pontuações, números, sinais matemáticos e notas musicais.

Louis Braille , criador do Braille, nasceu em 4 de janeiro de 1809 em

Coupvray, na França, a cerca de 40 quilómetros de Paris, perdera a visão aos três

Page 16: teatro acessível a pessoas com deficiência

16

anos. Quatro anos depois, ele ingressou no Instituto de Cegos de Paris. Em 1827,

então com dezoito anos, tornou-se professor desse instituto. Ao ouvir falar de um

sistema de pontos e buracos inventado por um oficial para ler mensagens durante a

noite em lugares onde seria perigoso acender a luz, ele fez algumas adaptações no

sistema de pontos em alto relevo, e em 1829 publicou o seu método. Sendo um

sistema realmente eficaz, tornou-se popular.

Hoje, o método simples e engenhoso elaborado por Braille torna a palavra

escrita disponível a milhões de deficientes visuais, graças aos esforços decididos

daquele rapaz há quase 200 anos atrás.

O braille provou ser muito adaptável como meio de comunicação. Quando

Louis Braille inicialmente inventou o sistema de leitura, aplicou-o à notação musical.

O método ainda possui alguns limites das possibilidades musicais, mas sem sombra

de dúvidas é um passo para acessibilidade do estudo da música. Vários termos

matemáticos, científicos e químicos têm sido transpostos para o braille, abrindo

amplos depósitos de conhecimento para os leitores cegos. Relógios com ponteiros

reforçados e números em relevo, em braile, foram produzidos, de modo que dedos

ágeis possam sentir as horas, dessa forma vemos que o Braille pode ser usado em

vários momentos e materiais para auxiliar a independência dos cegos.

No blog da escritora Priscila Conte (2014, s.pag.) Luciane Maria Molina

Barbosa, pedagoga especializada em grafia Braille; professora de

Alfabetização/reabilitação pelo método Braille; capacitadora de professores e

palestrante expõe

O Braille não se constitui como um sistema tão agradável e

atraente ao tato quanto os desenhos, formas e escritos são

para a visão. A distribuição lógica do texto no papel,

armazenamento dos materiais, de forma a não danificar o

relevo, a encadernação dos livros, a força empregada ao

marcar o relevo, grande volume das obras e descrições com

níveis satisfatórios de compatibilidade com as formas reais,

transposição de imagens para textos, são questões

fundamentais a serem levadas em consideração durante todo o

processo. Elevado custo dos materiais, volumes

excessivamente grandes: cada folha em tinta corresponde,

entre 5 a 7 folhas em Braille. Falta de obras, sejam didáticas ou

Page 17: teatro acessível a pessoas com deficiência

17

literatura, produzidas neste código, pouco investimento, muita

demanda na procura de materiais, tempo de leitura tátil maior

do que a leitura feita visualmente. O tato percebe letra a letra

(sentido analítico), reconhecendo fragmentos da informação

enquanto a visão percebe o global. Alfabetização mais lenta e

que requer maiores investimentos tanto financeiros como

metodológicos e didáticos, empenho e dedicação profissional.

(“A visão dos dedos: a dificuldade do Braile”, 2014)

Mesmo com essas dificuldades é possível utilizar-se desse método para

facilitar e dar autonomia aos cegos. O Braile pode ser usado em ambientes culturais

nos folders, convites, programação, placas de informação dos museus e onde mais

houver a palavra escrita. A impressão em braile tem um custo um pouco elevado,

então no caso de programação, folders e outros que devem ser feito em larga escala

a opção é se fazer um material a qual possa ser impresso o braile juntamente com a

impressão “normal”, de forma que não atrapalhe as informação para quem lê com os

olhos ou com os dedos. Pode se também fazer a impressão em menor escala e

direcionar a pontos estratégicos onde se há certeza que esse material chegará às

mãos de quem realmente precisa.

O braile pode ser feito por uma impressora especial ou manualmente com a

reglete e o perfurador, a impressão tem um custo elevado e a manual exige um

pouco mais de tempo do que a escrita normal (imagine fazer 63 caracteres com 6

perfurações). Transcritor é raro, e no brasil até os próprios cegos não são motivados

a aprender o braile, muitas vezes pela própria família que não aceita a condição do

mesmo.

Vimos um pouco das possibilidades que o braile nos dá e de algumas

dificuldades que temos com ele, tais dificuldades vem sendo resolvidas através de

outros métodos tecnológicos que ao invés de empregar a escrita em Braille usam

gravações de livros e textos em DVD´S e CD´S.

2.4 Estenotipia

O termo estenotipia advém do grego stenos - que significa curto, abreviado e

typos, impressão. É utilizado para designar a maneira pela qual se obtém o registro

Page 18: teatro acessível a pessoas com deficiência

18

do que é falado, através de uma máquina, em tempo real, ou seja, na mesma

velocidade com que as palavras são pronunciadas. Essa máquina chama-se

estenótipo, como se fosse uma máquina de escrever pequena que utiliza os

fonemas, não possui desenhos de letras nas teclas do lado direito são as

consoantes iniciais, do lado direito são as consoantes finais e abaixo possuem as

teclas das vogais, pode-se bater mais de uma tecla por vez e com um ou dois

toques ele vai formando as palavras, sendo assim dá mais agilidade a digitação e o

estenotipista chega a digitar 200 palavras por minuto. O estenótipo é dividido de

forma que o que você digitar no lado esquerdo será o início das palavras e o que

digitar do lado direito será o final das palavras.

Para que seja possível utilizar este recurso é necessário além do estenótipo

um computador com software a qual possua todo o dicionário de palavras criadas

pelo próprio estenotipista e o telão para projeção dos textos digitados. Por utilizar

telão é necessário que a iluminação do local seja baixa não causando assim reflexo

no telão sem dificultar a leitura dos textos. No caso da estenotipia ser feita em locais

abertos, como praças e ruas, durante o dia em que haja incidência de raios solares a

alternativa será projetar em um painel de LED os textos pois nesse a visualização

das projeções não é afetada com a claridade.

A estenotipia é feita em tempo real e na televisão é chamada de Closed

Caption, uma de suas peculiaridades é que não é necessário escrever a grafia

corretamente da forma com a qual a pessoa fala é passado para a máquina.

Este recurso inclusivo permite às pessoas deficientes auditivas

acompanharem em tempo real eventos culturais, escolares, sessões de tribunais,

etc.. A estenotipia requer uma longa e especializada formação que leva uns 4 anos.

Há poucos e caros profissionais, as máquinas para digitar são caras e também os

programas, por serem importados. Estando na mão de poucas empresas os preços

são proibitivos e também não existem técnicos nos órgãos do governo. O governo

contrata essas empresas.

Uma ideia pessoal para que houvesse mais estenotipistas no mercado seria

oferecer dentro da grade curricular dos cursos acadêmicos a matéria de estenotipia,

a mesma caberia muito bem dentro do curso de Letras, por exemplo. Entendo que

somente a faculdade não formaria estenotipistas pois além dessa matérias existem

outras a serem cumpridas pela grade e desta forma não teriam tanto tempo para se

Page 19: teatro acessível a pessoas com deficiência

19

dedicarem com aprofundamento da mesma. Essa seria uma oportunidade de

conhecimento da área e vivencia com essa tecnologia, podendo assim despertar

futuros estenotipistas que buscariam fora outros cursos e especializações.

Sendo assim nos deparamos com mais um desafio, porém uma luta

necessária já que o recurso da estenotipia seria de grande valia as pessoas com

deficiência auditiva e que não seja usuária da linguagem de libras.

2.5 Linguagem Simples, caixa alta e contraste

Nos processos de acessibilidade é necessário que algumas estratégias nos

texto escritos em eventos culturais apresentem certas características que facilitam

sua leitura e compreensão, seja pelo uso de específico das fontes e contrastes de

cores entre letra e o fundo do papel, seja pela própria maneira de redigir facilitando a

linguagem escrita.

Entre os princípios da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com

Deficiência, ratificada pelo Brasil em 2008, estão o respeito pela dignidade, pela

independência, pela liberdade de fazer as próprias escolhas e pela autonomia

individual. O documento da ONU prima ainda pela maior participação e inclusão na

sociedade e pela igualdade de oportunidades. Para que todos esses princípios se

concretizem, o acesso à informação é fundamental. O verdadeiro acesso as

informações será possível tornando as escritas acessíveis, adaptando textos para a

linguagem simples e se preciso colocar legendas, materiais audiovisuais, imagens e

fotografias. Os textos devem ser mais curtos, com uma informação de cada vez,

usando palavras simples e de preferência sem metáforas, pois essa compreensão

abstrata requer muito de quem tem deficiência intelectual. Ressalta-se que não é

para reduzir informações e nem infantilizar. Segunda o site Movimento Down (2013

s.pag.)

A construção de um texto de leitura fácil não é simples, já que

a tradução de um texto em versão acessível implica em várias

etapas: extrair do texto original os fatos e ideias mais

importantes; resumir as principais ideias; simplificar e explicar

as informações usando exemplos do dia a dia; não apresentar

Page 20: teatro acessível a pessoas com deficiência

20

todas as ideias de uma só vez e abrir mão de conteúdos que

tem pouco ou nenhum uso. Há ainda uma etapa da escolha

das imagens, que não se trata apenas de uma ilustração do

texto acessível. Esta escolha é norteada pela ideia da

linguagem visual. Há ainda dois momentos muito importantes:

a etapa de diagramação do texto (tamanho e fonte da letra,

número de páginas e na quantidade de texto por página entre

outros) e o processo de “validação” com jovens com def iciência

intelectual. É nesta etapa de validação que avaliamos se o

conteúdo está sendo aprendido por pessoas com dificuldades

de leitura, o que não está claro e o que ainda precisa ser

revisto e melhorado. (Site Movimento Down, 2013)

A linguagem simples pode ser usada na escrita de releases, sinopses,

materiais gráficos de espetáculos teatrais e outros eventos culturais. O roteiro pode

ser impresso em linguagem simples para que a plateia acompanhe durante o

espetáculo ou possa consulta-lo no início ou findar dele. Pode-se também ser usada

nas falas dos personagens, no próprio texto falado durante o espetáculo, filme,

enfim. Nas impressões deve-se usar fontes grandes com contraste, sem muitas

cores, letras maiúsculas, ou seja, um layout limpo.

As fontes ampliadas e contrastes também ajudam àqueles que possuem

baixa visão a ter acesso à informação escrita. Para documentos impressos o ideal é

utilizar fontes com fácil reconhecimento de caracteres, ex.: Verdana, Arial, Helvética.

Deve-se procurar evitar a confusão entre os algarismos: 3, 5, 8, 0. Para facilitar a

leitura, procurar um tamanho de letra entre os 16 e 32 pontos. Espaçamento de 1.5

ou duplo facilita a navegação ao longo do texto e evitar linhas de texto demasiado

extensas (acima de 70 caracteres). O espaçamento entre letras demasiadamente

reduzido dificulta a leitura, devem utilizar-se fontes proporcionalmente espaçadas,

pois são mais legíveis que as mono-espaçadas. Usar o máximo de contraste entre a

cor de fundo e a cor das letras. Ex.: Letras amarelas ou brancas em fundo preto ou

azul. Usar o 'bold', tipo de impressão com caracteres mais encorpados para destacar

palavras, títulos ou frases, para realçar algumas palavras.

Page 21: teatro acessível a pessoas com deficiência

21

No site acessibilidade.net (2013, s.pag.) está disponível um manual de

documentação impressa onde as seguintes considerações são colocadas:

Utilizar papel espesso e baço, para que a luz não seja refletida

na superfície, o que dificultaria a leitura. Evitar sobrepor textos

em imagens ou em fundos desenhados, é mais fácil ver

imagens com bom contraste e contornos definidos. Podem

usar-se alinhamentos à esquerda para evitar a inserção de

espaços entre as palavras. As margens e espaçamento deve

ser suficiente entre as manchas de texto e evitar colunas de

texto muito estreitas ou próximas entre si. (Site

Acessibilidade.net, 2013)

Com essas informações percebemos que o material gráfico requer um

cuidado além da sua composição informacional mas também em seu layout,

tomando esses cuidados garantimos o verdadeiro acesso a informação de forma

clara e sem dependência a pessoas com deficiência visual e intelectual.

Page 22: teatro acessível a pessoas com deficiência

22

III- Arquitetura Acessível; Regras e normas para construção de

teatros acessíveis

O estudo de caso em questão trata de um espetáculo de rua, feito em

espaços públicos que muitas vezes não foi pensado em arquitetura acessível, porém

acho importante conhecermos medidas e padrões da ABNT 9050/04, documento

que normatiza padrões para melhor atender pessoas com deficiência. Para tanto

exemplifico abaixo com figuras e textos.

Não basta ter rampas e elevadores para tornar um espaço cultural acessível,

há regras e medidas para que rampas não se tornem rampas de lançamento onde

sua inclinação é tão acentuada que ao descer com uma cadeira de roda podem ser

lançadas desgovernada pela rampa abaixo. É necessário também que o elevador

tenha livre acesso a seu interior. Além disso, são necessários banheiros que deem

possibilidade de mobilidade no interior, lugares no auditório para cadeirantes, pisos

táteis (pisos que possuem textura e cor diferente do que está ao seu redor

direcionando cegos e baixa visão), corrimão (além de servir de apoio para pessoas

com mobilidade reduzida também direciona os cegos e baixa visão) e outros

facilitadores que ajudem na locomoção de pessoas com deficiência.

Abaixo apresentamos algumas figuras para ilustrar e facilitar o entendimento

dos espaços acessíveis:

Figura 1 – Banheiro acessível

(Fonte: http://cileneaiette.blogspot.com.br/2010_08_01_archive.html (2013))

Page 23: teatro acessível a pessoas com deficiência

23

Vemos acima uma figura demonstrativa de como deve ser o banheiro

acessível, segunda as regras da ABNT 9050 a porta de entrada do banheiro deve ter

no mínimo 0,80 cm de largura dando espaçamento suficiente para entrada da

cadeira, as barras de apoio devem ter no mínimo 0,80 cm de largura e estar a 0,75

cm de altura do chão, a bacia sanitária deve ter no máximo 0,46 cm de altura do

chão até o final do assento, a descarga deve estar a 1,00 metro de altura do chão e

a área de transferência da cadeira para o vaso deve ser de 0,80 cm a 1,20 m.

Tratando-se de lavatório, ele deve ser suspenso para encaixe da cadeira, ter uma

altura livre de 0,73 cm, as torneiras devem possuir alavanca, sensor eletrônico ou

dispositivos equivalentes para acionar o jato de água e barras de apoio devem ser

fixadas na altura e ao redor do lavatório.

Figura 2 – Espaçamento para circulação de deficientes ou pessoas com mobilidade reduzida

(Fonte: http://blogdocadeirante.blogspot.com.br/2010/11/medidas-para-cadeirante-nbr-9050.html

(2013)

Acima temos uma imagem exemplificando o espaçamento necessário para

circulação de pessoas em pé com mobilidade reduzida e cegos, percebemos que

para melhor atender a uma diversidade de pessoas o ideal é que a passagem tenha

Page 24: teatro acessível a pessoas com deficiência

24

1,20m de largura sendo assim possibilitando também a passagem de pessoas com

cadeiras de rodas.

Figura 3 – Espaçamento para manobras e movimentação de cadeirantes

(Fonte: http://www.acessibilidadenapratica.com.br/tag/medidas/ (2013))

A figura acima nos demonstra as medidas necessárias para manobra e

movimentação com a cadeira de rodas, levando em consideração espaços

necessários para que pessoas com cadeiras de rodas possam circular e mudar de

posição sem dificuldades.

Figura 4 – Arquitetura ideal para rampas

(Fonte: http://www.aquipode.com/aquipode-cadeirante/manual-acessibilidade-II (2013))

Page 25: teatro acessível a pessoas com deficiência

25

A figura acima nos demonstra uma rampa a qual deve ter no mínimo 1,20 m

de largura (a largura ideal é 1,50 m), no inicio, mudança de direção e final da rampa

devem haver piso tátil de alerta, deve se atentar para a inclinação da rampa para

que ela não fique muito acentuada dificultando a descida, na figura acima essa

inclinação é representada pela letra “h”. O corrimão deve iniciar 0,30 cm antes e

terminar 0,30 cm de pois da rampa sem interferir na área de circulação e vazão e

deve estar a uma altura final de 92 cm do chão.

Não podemos esquecer que na plateia deve ter lugares para cadeirantes e

pessoas com mobilidade reduzida, levando em conta o tamanho de sua cadeira de

rodas e espaçamento de muletas e andadores. Segundo a ABNT 9050 o espaço

para cadeiras de rodas deve ter 0,80 cm por 1,20 m e a cadeira deve estacionar a

um recuo de 0,30 cm da cadeira ao lado, para que o cadeirante e seu

acompanhante fiquem na mesma direção. Caso a vaga seja intermediária, entre

duas fileiras de cadeiras fixas, o recuo de 0,30 cm deve haver na frente e a atrás.

3.1 Espaços públicos acessíveis

Pensando que nosso objeto de estudo é um espetáculo mambembe, que

pode ser apresentado na rua, praças, parques, ou seja, espaços públicos em geral,

destino esse tópico para pensarmos em soluções, visto que muitas vezes esses

espaços foram projetados sem pensar em receber eventos culturais e artísticos.

Vimos no tópico anterior como construir ou adaptar ambientes para que

pessoas com deficiência possam se locomover, independentemente e com conforto,

mas como tornar ambientes públicos que não foram construídos pensando em

receber projetos culturais e muitas vezes nem na acessibilidade a pessoa com

deficiência?

Via de regra, as praças e ruas devem ter rampas de acesso, piso podo tátil e

os banheiros públicos devem ser adaptados. A saída para essas questões é adaptar

na medida do possível com rampas de praticáveis (praticáveis são estruturas

montáveis geralmente usadas para palcos, escadas e rampas provisórias,

Page 26: teatro acessível a pessoas com deficiência

26

normalmente feita em madeira e/ou metal) que possam ser instaladas durante o

evento e após serem retiradas, já que a duração e resistência da mesma é pouca.

No caso dos pisos podo tátil é possível instalar pisos removíveis, que são colados no

chão. Lembrando que esse tipo de piso não é aconselhado para ambientes externos

por não serem resistentes à chuva e sol, porém é uma ótima solução no caso do

ambiente não possuir o piso feito da argamassa.

Um outro desafio enfrentado para acessibilidade são as fontes de energia em

espaço públicos, como as praças. Para utilizar a estenotipia e audiodescrição em um

ambiente que algumas vezes não possui saídas de energia devemos utilizar

geradores portáteis.

Caso o espaço público não tenha banheiros adaptados a alternativa é locar

banheiros químicos adaptados.

Os espetáculos devem ser apresentados de preferência no período noturno

para que a estenotipia funcione, para solucionar a problemática de projetar no telão

quando houver a claridade diária, deverá ser utilizados painéis de led para projeção.

Uma das metas do Plano Nacional de Cultura é criar mil espaços culturais

como as Praças dos Esportes e da Cultura (PEC), na página 94 do livro “Metas do

Plano Nacional de Cultural” (2012) esse plano é explicado. Vemos alí que essa

iniciativa se dá para que haja lugares nas periferias onde sejam desenvolvidos

projetos de esporte, cultura, lazer, formação e qualificação profissional, inclusão

digital e serviços de assistência social. Neste caso a praça já será construída

pensando em receber eventos culturais, é importante que na construção das PEC´S

seja levado em consideração os padrões arquitetônicos acessíveis.

No período de 16 a 18 de outubro de 2008 na cidade do Rio de Janeiro, a

Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura em

parceria com a Fundação Oswaldo Cruz do Ministério da Saúde e com apoio da

Caixa Econômica Federal realizou a Oficina Nacional de Indicação de Políticas

Púbicas Culturais para Inclusão de Pessoas com Deficiência. A oficina era destinada

a artistas, gestores públicos, pesquisadores e agentes culturais da sociedade civil

que representassem a produção cultural das pessoas com deficiência com intuito de

discutir formas de potencializar a produção e difusão das atividades artísticas e

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27

culturais das pessoas com deficiência. Mas com o passar das discussões e por

entenderem a importância e complexidade do assunto, o tema acessibilidade foi

adicionado ao eixo. Na página 25 do relatório final “Nada sobre nós sem nós” (2008)

consta como uma das diretrizes de acessibilidade “Garantir que todas as políticas,

programas, projetos, eventos e espaços públicos no campo artístico e cultural sejam

concebidos e executados de acordo com a legislação nacional já existente que

garante acessibilidade e conforme disposto na Convenção sobre os Direitos das

Pessoas com Deficiência (ONU)”. Esta diretriz vem para corroborar a importância de

já se construir as PEC´s de forma a garantir a acessibilidade a todos.

Page 28: teatro acessível a pessoas com deficiência

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IV - Acessibilidade atitudinal

Antes de falarmos em acessibilidade atitudinal devemos entender o que é

acessibilidade cultural. Acessibilidade cultural é dar acesso a pessoas com

deficiências e/ou mobilidade reduzida a cultura e a arte seja em museus, teatro ou

qual for o ambiente cultural. Essa acessibilidade não se resume somente ao espaço

físico, mas também a comunicação. Para melhor entendermos essa acessibilidade,

proponho a divisão em comunicação pré, durante e pós evento. Como exemplos

podemos citar na comunicação pré, os materiais gráficos de divulgação,

comunicação durante o evento é a forma que a informação do evento chegará a

plateia como libras, audiodescrição, legendas e demais, pós evento podemos

exemplificar os sites que devem ter letras ampliadas com fundo em contraste com a

letra, narração de tela e outros recursos acessíveis.

Para que a acessibilidade cultural possa acontecer é necessário

“acessibilidade atitudinal”. Que se tenha atitudes para pensar e implementar

recursos e estratégias que darão a todos acessibilidade arquitetônica e

comunicacional. Mas quando é que produziremos um evento acessível? Quando

tivermos atitude ética frente ao enfretamento com a diferença.

No entanto, essa definição vai um pouco além, pois também é uma questão

de direito. A Lei de Acessibilidade, garante a todos que têm algum tipo de

deficiência, um tratamento digno e respeitoso.

Segundo Amaral (1994, p.13):

Nas projeções otimistas são mais de treze milhões as pessoas com

deficiência Se acrescentarmos dois ou três elementos familiares

teremos quase que um terço da população envolvida com a questão.

Vemos, portanto que no aspecto quantitativo, a deficiência (física,

mental, sensorial, orgânica ou múltipla) atinge proporções alarmantes

no Brasil. (Amaral, 1994)

Page 29: teatro acessível a pessoas com deficiência

29

Com base nesse contexto, entendemos que o presente estudo possui

relevância para produtores culturais e a comunidade em geral, pois se trata de uma

questão que envolve a todos nós.

Page 30: teatro acessível a pessoas com deficiência

30

VI - Acessibilidade na prática – “Circo Las Muchachas”

O objeto de estudo de caso dessa monografia é o espetáculo “Circo Las

Muchachas”. Este é um espetáculo infantil que utiliza de técnicas circenses, feito

para ser apresentado em locais públicos como praças, ruas e parques. Entendendo

que o espetáculo foi feito para crianças, será explorado a linguagem delas para a

audiodescrição e textos com linguagem simples para materiais gráficos, além de

aproveitarmos a imaginação fértil que as crianças possuem.

Por se tratar de um grupo mambembe, que se apresenta em locais diversos

aqueles arquitetados especificamente para o teatro, pensaremos em estratégias

para tornar possível a acessibilidade física e comunicacional no ambiente a qual o

espetáculo será apresentado, visando sempre independência, conforto e diversão da

plateia.

5.1 A Trupe – Mambembe Trupe Teatral

O grupo Mambembe Trupe Teatral é formado pelas atrizes Renata Macedo e

Jurema de Castro e dirigido por Breno Moroni, foi criado em 2005, na cidade de

Campo Grande, Mato Grosso do Sul e tem como objetivos e estéticas principais

oferecer espetáculos educativos (tendo como algumas temáticas: educação no

trânsito, lei Maria da Penha entre outros), usar o teatro como ferramenta de

conscientização, mudanças de atitude e influenciar em bons comportamentos. Utiliza

das técnicas circenses e mistura as artes, como dança e música, em seus

espetáculos criando uma mescla e diversidade artística.

Em 2013 teve seu primeiro contato com a Palhaçaria Feminina quando então

resolveram fortalecer essa iniciativa de valorização da mulher em seus espetáculos.

“Circo Las Muchachas”, que significa “Circo As Meninas”. Este iniciou-se com a

proposta de manter viva as tradições, gags (7) e números circenses e com o passar

do tempo e o contato com a Palhaçaria Feminina ( mulheres palhaças) foi ganhando

força o fato de serem mulheres no espetáculo e de realizarem números outrora

feitos somente por homens.

Page 31: teatro acessível a pessoas com deficiência

31

O espetáculo além de manter vivas as tradições circenses, ainda motiva a

perpetuar os sonhos das meninas em serem o que quiserem: da bailarina a

domadora de animais. “Circo Las Muchachas” já foi apresentado no Festival América

do Sul , Corumbá – MS, Festival Cenasom, Campo Grande, MS, em mais de 20

escolas da capital sul mato-grossense e também no interior do estado, como

Aparecida do Taboado e Ponta Porã.

O grupo Mambembe Trupe Teatral surgiu em 2005, sentindo necessidade de

colocar em prática tudo que estava aprendendo no curso de Artes Cênicas oferecido

pela Universidade Anhanguera-Uniderp (MS), eu me juntei com mais 2 (duas)

acadêmicas do curso e formamos o grupo Mambembando e Educando Trupe

Teatral. A proposta do grupo era focar no teatro como ferramenta didática,

transformando informação em teatro. O espetáculo que mais nos rendeu

apresentações e elogios foi o “Circo imperfeito”, uma mistura de circo e teatro que

convidava a plateia a fazer parte do show. Após a formatura de finalização do curso,

Juliana dos Anjos foi embora para Dourados,MS, e Ana Carolina para Barueri, SP, e

eu continuei a caminhada dando aulas de teatro em diversas escolas de Campo

Grande/MS e fazendo apresentações em festas e eventos como clown, perna de

pau, malabarista e animadora.

Em 2012 convidei a atriz Jurema de Castro e o diretor Breno Moroni para

remontarmos o espetáculo “Circo imperfeito”, agora com novo elenco o grupo passa

a se chamar Mambembe Trupe Teatral e com a vasta experiência do diretor Breno

Moroni o espetáculo muda de nome, passa a se chamar “Circo Las Muchachas”, e

ganha novos personagens e números circenses. Com o estudo e aprofundamento

deste espetáculo, foram surgindo novas descobertas. A trupe percebeu o quanto a

mensagem de valorização da mulher era importante e vestiu a camisa dessa defesa.

Hoje o grupo é adepto a Palhaçaria Feminina, movimento de mulheres palhaças que

defendem o não sexismo quanto a figura do palhaço, já que este tradicionalmente é

feito somente por homens. O grupo está trabalhando atualmente em um novo

espetáculo de circo teatro: “Mulheres Sapiens Erectus”, que possui uma linguagem

dinâmica e simplista e foi feito para ser apresentado em qualquer local. Trata da

batalha da mulher, como tem adquirido seu espaço, suas conquistas e sobre a

Page 32: teatro acessível a pessoas com deficiência

32

violência contra mulher. A estimativa é que este espetáculo entre em cartaz em

junho de 2014.

Em 2012 o grupo montou sua sede própria com apoio do Pontão de Cultura

Guaikuru (08), onde possui escritório, sala de figurino, sala de cenário, biblioteca e

espaço para atividades afins. Com essa estrutura o grupo passa a oferecer oficinas

de circo/teatro para crianças e adultos e animação de festas e eventos, expandindo

assim seu foco de trabalho. Em 2013 a Trupe foi selecionada para o Festival

América do Sul, Cenasom e 4° Mostra de Teatro infantil.

Além de trabalhar na Trupe, também sou agente de cultura do Pontão de

Cultura Guaikuru onde realizo produção de eventos culturais na área do teatro,

audiovisual, música e artes plásticas. Fui Apresentada ao curso de Acessibilidade

Cultural pela Gestora do Pontão de Cultura Guaikuru, Andrea Freire, que me fez ver

nesse a possibilidade de ampliar meus conhecimentos e mergulhar mais fundo na

proposta educativa e social. A trupe já havia feito algumas apresentações em

escolas para crianças com deficiência e ONG´S e eu já possuía no meu coração

uma ideia de proposta de trabalho para essas instituições. A pós-graduação em

acessibilidade cultural da UFRJ e a pesquisa dessa monografia são marcas de

direção facilitadoras para colocar esse desejo em prática e muito mais que fazer

caridade fazer valer o direito de cada cidadão.

5.1 - Sinopse do espetáculo “Circo Las Muchachas”

O “Circo Las Muchachas” anuncia um espetáculo de cor e vida. Fruto de um

trabalho coletivo, ele foi criado com o intuito de ser uma apresentação de rua. No

entanto, foi readaptado para ser exibido em diferentes locais, desde escolas ao

tradicional palco italiano, carregando ainda uma herança do Circo Antigo: o próprio

artista monta o picadeiro. As personagens levam alegria e divertimento às crianças

e a imersão dentro da linguagem circense. Trabalham números tradicionais, como

as gags de palhaços e o malabarismo, e as ambientam a um tom brasileiro.

Um exemplo está na figura do palhaço: no Las Muchachas, assim como em

outros espetáculos nacionais, o palhaço se torna um ser falante, e para as atrizes,

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com uma pitada de humor desajeitado. Ainda nas mesmas tendência do o Circo

Contemporâneo, há a inserção de outras linguagens artísticas: a dança,

representada pela figura da bailarina Pliê, que utiliza de acrobacias e de um

equilibrismo não real, tornando-o cômico; e a música, com a personagem da

Maestrina: também utiliza a dança, mas é um número focado nos sons, misturando o

clássico com os ritmos da moda, despertando a animação das crianças, que

acompanham a atriz nos movimentos.

A meninada tem a oportunidade de ver personagens típicos e construídos ao

longo dos anos, que ilustram e fazem parte da história do Circo Antigo, recontada

pelas atrizes ao retomarem a essência dessa arte; utilizando-se de um personagem

com várias funções – a palhaça que apresenta o espetáculo se torna a adestradora

de animais depois, por exemplo. Todavia, há um diferencial: os papéis usualmente

masculinos são feitos por mulheres. O circo é uma forma de arte que alcança

camadas sociais heterogêneas, e atualmente no Circo Moderno é uma forma de

entretenimento que incorpora diferentes linguagens artísticas, promovendo criações

e conhecimentos, agregando a produção cultural humana.

Vê-se no desenvolvimento de escolas técnicas, onde é difundida a formação e

profissionalização de novos artistas, a disseminação da arte circense, uma prova de

que a arte circense só tende a progredir. Desta forma, Las Muchachas contribue

para a valorização do circo no estado, principalmente já que ainda é reduzida a

criação de produções artísticas voltadas a essa proposta.

Las Muchachas inova dentro do cenário artístico sul-mato-grossense. São

mulheres que conduzem o espetáculo de circo, ocupando papéis tradicionalmente

masculinos como o adestrador de animais, o maestro, o mágico e outros. Assim, dão

nova roupagem à produção cultural do estado, ocupando espaços e instigando

mudanças, contribuindo para a identidade local e formação de perspectivas mais

diversificadas.

Para Breno Moroni, diretor do espetáculo, a construção do projeto vai além do

entretenimento, passando uma mensagem social: “a ideia surge de valorizar a figura

da mulher”, destaca Moroni. As “meninas cheias de graça” oferecem suporte para

que garotas sonhem com horizontes ampliados, se tornando uma referência não só

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para elas, mas também para os pequenos, através da negação de atividades

específicas a meninas e meninos, mostrando que pela arte, é possível a proposição

de algo novo. Para as crianças, há um mundo de possibilidades, ampliando o

universo infantil, ao mostrar para a molecada que uma menina pode ser bailarina, ou

uma manipuladora de bonecos, palhaça, enfim, o que quiser.

5.3 Recursos e tecnologias que serão usadas no espetáculo e seus desafios

Para tornar o espetáculo acessível de forma a ter custos reduzidos, a ideia é

fazer parceria com empresas e instituições que já trabalhem com acessibilidade. A

seguir apresentarei recursos e tecnologias que poderão ser usadas no espetáculo.

Lembro que este é um estudo de caso, proponho o que é possível realizar sem

preocupações com custos, pois a intenção é exemplificar possibilidades.

Usar recursos acessíveis nesse espetáculo será um grande desafio. Materiais

gráficos impressos serão produzidos, levando em conta a estética para cegos e

videntes. Serão consideradas as letras ampliadas em contraste com o fundo, escrita

em braile e o material terá um layout mais simplista, sem muitas informações

escritas, mas com texturas diferentes e de forma que possa ser feito a versão

imprensa e braille em um só material, reduzindo assim custos e possibilitando a

impressão de uma quantidade maior de material. Como o espetáculo foi feito para

crianças, o material deve ser instigante, tanto para os videntes como para os cegos,

por isso a ideia da utilização de texturas diferentes. Haverá somente a imagem da

cortina de circo (com textura) ao fundo e das duas palhaças à frente e também o

nome do espetáculo “Circo Las Muchachas” e descrição “Conheça as meninas cheia

de Graça”, local e horário da apresentação. Com poucas imagens e texto, teremos

espaço para fazer a legenda das fotos em braile, facilitando a visualização do

material para os cegos mas também não deixando de ser atrativo para quem vê. A

seguir um esqueleto de como será o material gráfico, para que haja maior contraste

nas letras a cortina (parte azul) será amarela e as letras continuam brancas.

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Figura 5 – Layout material gráfico

Por se tratar de teatro mambembe contaremos com locais sem estrutura

nenhuma para acolher pessoas com deficiência. Algumas adaptações serão

necessárias e a produção deverá iniciar bem antes da data da apresentação para

que no dia o ambiente esteja preparado para recebê-las.

Além da arquitetura, corremos o risco de não haver energia no local,

aumentando os custos com locação de geradores de energia para o funcionamento

da estenotipia e legendas (essa projeção deverá ser feita em painéis de LED,

quando houver incidência de raios solares). Lembremos que as legendas devem ser

compactadas da fala original já que a velocidade de leitura do cego e do deficiente

intelectual é um pouco mais lenta.

Antes de iniciar o espetáculo, o público cego que tiver interesse será levado

para fazer um reconhecimento de palco, no palco estão alocados cinco caixotes de

feira e a cortina de fundo. Para tal, não terão muito o que reconhecer e deixaremos

claro no reconhecimento que a área cênica é como um picadeiro de circo: livre, para

que a cada número diferente os artistas entrem com seus objetos de cena e

equipamentos necessários.

Praça Ary Coelho 14 de janeiro de 2015 19:30 horas

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Figura 6 – Croqui do cenário

A imagem anterior mostra o croqui do cenário utilizado no espetáculo. Ao

fundo há um estrutura metálica onde na frente é fixada uma cortina colorida

(vermelha, azul e dourada) e nos lados cortinas brancas formando uma coxia que

servirá para troca de figurinos e abrigo para os adereços cênicos. O circulo com a

estrela ao centro é o picadeiro onde as cenas são desenvolvidas e ao redor caixotes

de feira decorados com laços que servem para delimitar a área cênica e também de

objeto de cena para alguns números, como no número da índia Pocamira a qual a

criança sobe em cima do caixote para servir de alvo no número de arco e flecha

realizado pela índia.

O espetáculo possui cenas a qual fantoches aparecem e ao mudar os

quadros cênicos, adereços e objetos de cenas são acrescentados. Como cada atriz

faz 3 personagens diferentes e não será possível vestir-se de todas as personagens

antes do espetáculo, porém eles poderão tocar nos figurinos e adereços dos

personagens dando assim maior facilidade de visualização quando ouvirem a áudio-

descrição das cenas.

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Figura 7 - Trecho do espetáculo “Circo Las Muchachas”

Serão contratados 2 profissionais tradutores de libras por espetáculo e o

recurso de roteiro impresso não será possível utilizar por tratar-se de um espetáculo

improvisado sem falas muito marcadas.

O espetáculo é muito visual, pois é rico em acrobacias, malabarismo,

equilibrismo e um desafio será tornar isso visível aos cegos. Lembrando que o

espetáculo é infantil, logo na áudio-descrição deverá ser usada uma linguagem mais

simples, do universo das crianças de forma lúdica que passe a emoção do momento

e floresça lindas imagens para eles.

Figura 8 - Acrobacia de solo, trecho do espetáculo “Circo Las Muchachas”

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Temos aqui um trecho áudio-descrito :

“Pliê entra em cena. Pliê é uma bailarina palhaça usa uma coroa de pérolas

rosa, maiô rosa cheio de corações coloridos, uma sainha rodada roxa, meia calça

rosa e sapatinha rosa com um bombom rosa na ponta. Ela entra dançando

levemente ao som da música, balança os braços de um lado para o outro com a

leveza de uma pluma de repente começa movimentos rápidos, dança o créu e volta

a ser leve como uma pluma, Pliê sorrindo vai fazendo abertura, descendo

levemente, ops! Algo errado, Pliê faz cara de dor e empaca, não consegue mais

descer nem subir, chama uma criança da plateia desesperadamente, pede pra

criança ajuda-la, a criança puxa Pliê mas Pliê nem sai do lugar, Pliê chora e coloca a

mão no meio das pernas sentindo dor, a criança puxa forte e Pliê consegue levantar.

Ufa! . Pliê chama duas crianças da plateia coloca uma em cada ponta do palco e

pede que elas segurem um grande elástico branco. O elástico fica esticado pelo

palco sendo segurado pelas duas crianças. Pliê mostra que vai andar sobre o

elástico. Pliê sobe em um caixote colorido, abre uma sombrinha azul de elefantinhos

rosa. Pliê está com medo, treme as pernas e abraça uma das crianças. Pliê segura

na cabeça da criança e coloca um pé no elástico, ela treme muito (suspense),

parecendo uma vara verde, com muito cuidado coloca pé por pé no elástico e tcharã

consegue chegar do outro lado. Pliê agradece aos aplausos abaixando o tronco,

pega uma cadeira de madeira colorida, cada parte tem uma cor, os pés são

amarelos, as costas vermelha... Pliê sobe novamente no caixote com a cadeira na

mão, suas pernas treme, ela segura na cabeça da criança e coloca um pé no

elástico, tremendo muito e com a cadeira na mão ela vai pé a pé andando pelo

elástico, ela para, vira de frente pra plateia e equilibra a cadeira com uma mão só.

Um pé da cadeira está na mão de Pliê e a outra mão da Pliê está esticada na lateral

do corpo na altura do ombro, a cadeira vai um pouco para um lado e para o outro

mas Pliê movimenta a mão e a equilibra novamente. Pliê segura a cadeira com as

duas mãos, coloca no chão e agradece abaixando o ombro. Vira-se para o elástico,

tremendo vai a pé a pé até chegar do outro lado. Agradece aos aplausos abaixando

o tronco. Deixa a cadeira dentro da cortina, dá um beijinho nas crianças que

seguravam o elástico e leva elas até seus lugares. No centro do picadeiro dança

levemente, girando, mexendo os braços de um lado para outro, para, olha para os

dois lados e faz movimentos rápidos, dança créu e sai.”

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Figura 9 - Cenas da bailarina Pliê, trechos do espetáculo “Circo Las Muchachas”.

Como iniciativa, para a execução da Acessibilidade Atitudinal, todos os

colaboradores do espetáculo, incluindo diretor, atrizes, sonoplastas e demais,

deverão fazer uma oficina de sensibilização. Nessa oficina serão convidadas

pessoas com deficiências diversas para falar do seu cotidiano, dificuldades,

paradigmas e formas que gostam e devem ser tratadas além da presença de

profissionais da área da saúde para explicações mais técnicas sobre as doenças. O

intuito dessa oficina e sensibilização é fomentar o trato inequívoco com as pessoas

com deficiências diversas, esta oficina será organizada pelo grupo “Mambembe

Trupe Teatral” e terá uma carga horária mínima de 8 horas. Uma forma de tornar

esse espetáculo factível será fazer parcerias com entidades que já exercem o

trabalho de áudio descrição e outros recursos acessíveis facilitando a execução do

mesmo e o tornando profissional.

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Conclusões finais

O trabalho da Trupe iniciou-se como forma de colocar em prática o que

aprendi na pós-graduação em Acessibilidade Cultural da Universidade Federal do

Rio de Janeiro - UFRJ. É importante dizer que na faculdade de Graduação de Artes

Cênicas não tivemos em nenhum momento contato com acessibilidade. Em meados

de 2006/2007 fizemos algumas apresentações para organizações e instituições para

pessoas como deficiência, como APAE, Associação de Pais e Amigos de

Excepcionais, e Cotolengo, instituição para crianças com paralisia cerebral. Na

ocasião fizemos o espetáculo que tínhamos pronto, não nos preocupando com

adaptações ou formas de facilitação de comunicação. Somente em 2013 tive contato

com a acessibilidade cultural, com certeza se tivesse tido esse contato logo na

faculdade, o desenvolvimento de eventos acessíveis teria vindo logo em seguida,

juntamente com a iniciação do grupo. As faculdades de Artes Cênicas não possuem

em sua grade um espaço específico para Acessibilidade, e se é um direito do

cidadão porque não trabalha-lo onde formam profissionais? O contato com a área e

o entendimento da sua importância, logo no início da carreira, motivaria para que os

fazedores culturais façam seus projetos teatrais desde a sua concepção pensada

em ser acessível. Quanto mais tardia o contato, mais tempo perdemos em criar

eventos culturais acessíveis. Esse contato deveria ser obrigatório nas faculdades,

não somente de Artes Cênicas, mas também Dança, Música, Artes Visuais,

Publicidade e Propaganda e todos aqueles relacionados a arte e cultura.

Hoje tenho conhecimento de poucos grupos que trabalham com teatro

acessível, como o Inclusos e Sisos do Rio de Janeiro, porém na cidade a qual eu

moro, Campo Grande, MS, não há registros. Alguns eventos já tiveram tradutores de

libras que fizeram a tradução espontânea, como o SESI Bonecos do Mundo (evento

com apresentações de teatro de bonecos), porém somente eventos pontuados e

normalmente para seguir regras. Ainda falando de Campo Grande, MS, há em

situações, também pontuadas, apresentações feitas por pessoas com deficiência

como dos alunos da APAE e do “Grupo Teatral Luzes” da instituição de cegos

“Florivaldo Vargas”. A motivação da acessibilidade cultural não parte somente do

principio de pessoas com deficiência como plateia, mas também como atuantes, que

nessa monografia não foi ressaltada por não ser parte do nosso objeto de estudo.

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Acho importante ao menos citar que no Plano Nacional de Cultura, uma das

estratégias de ações é “Realizar programas de reconhecimento, preservação,

fomento e difusão do patrimônio e da expressão cultural dos e para os grupos que

compõem a sociedade brasileira, especialmente aqueles sujeitos à discriminação e

marginalização: os indígenas, os afro-brasileiros, os quilombolas, outros povos e

comunidades tradicionais e moradores de zonas rurais e áreas urbanas periféricas

ou degradadas; aqueles que se encontram ameaçados devido a processos

migratórios, modificações do ecossistema, transformações na dinâmica social,

territorial, econômica, comunicacional e tecnológica; e aqueles discriminados por

questões étnicas, etárias, religiosas, de gênero, orientação sexual, deficiência física

ou intelectual e pessoas em sofrimento mental”, com isso motivando a produção

cultural feita por pessoas com deficiência.

Voltando ao preposto de teatro para pessoas com deficiência, em 2013 foi o

primeiro ano que houve a celebração do dia Nacional do Teatro Acessível. Devemos

entender que este é um grande e relevante passo para a mudança de pensamentos

e motivação para formação de novos grupos de teatro acessível. Oficinas sobre

Acessibilidade, como foi o “Nada sobre nós sem nós” também servem de referencial

e motivacional.

Se tratando de edificações as praças e teatros do Brasil, em sua grande

maioria, não possuem nada mais além de rampas, corrimão e no máximo

elevadores. Espero que as construções das PEC´S, Praças de Esporte e Cultura,

sejam no modelo acessível e que as que já estão construídas passem por reformas

para se adequarem as normas do desenho universal.

Concluo, portanto que a realidade no Brasil hoje é de poucos grupos de teatro

acessível. Entretanto, esta realidade pode ser modificada caso obtivermos

conhecimento de recursos e tecnologias que proporcionem a acessibilidade o

quanto antes. Como exemplo podemos pensar no aprendizado do Braile ainda na

escola e a inclusão da disciplina de acessibilidade nos currículos das faculdades,

além da discussão deste tema em oficinas, congressos e demais.

Mediante esses dados e estudos, visando o pioneirismo e a motivação para

formação de novos grupos de teatro acessível, acredito colaborar para a viabilização

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de um dos direitos básicos do cidadão: acesso a cultura. Depois de tamanha

pesquisa, comprovado a importância do tema, desejo disponibilizar este trabalho

para auxiliar a execução de eventos teatrais acessíveis.

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7. REFERÊNCIAS

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9. ILUSTRAÇÕES E TABELAS

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