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 FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS MARIANA CAMILO NEGREIROS LYRIO COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE FIXAÇÃO INTERNA UTILIZADAS NO TRATAMENTO DE FRATURAS DO ÂNGULO MANDIBULAR. ESTUDO MECÂNICO. Orientador: Prof. Dr. Valfrido Antonio Pereira Filho Co-orientador: Prof. Dr. Marcio de Moraes PIRACICABA, 2011 Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Odontologia de Piracicaba, da Universidade Estadual de Campinas, para a obtenção do título de Doutor em Clínica Odontológica, Área de Concentração em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais.

TECNICA CHAMPY

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LyrioMarianaCamiloNegreiros

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  • FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    MARIANA CAMILO NEGREIROS LYRIO

    COMPARAO ENTRE MTODOS DE FIXAO INTERNA UTILIZADAS NO TRATAMENTO DE FRATURAS DO NGULO

    MANDIBULAR. ESTUDO MECNICO.

    Orientador: Prof. Dr. Valfrido Antonio Pereira Filho

    Co-orientador: Prof. Dr. Marcio de Moraes

    PIRACICABA, 2011

    Tese de Doutorado apresentada Faculdade de Odontologia de Piracicaba, da Universidade Estadual de Campinas, para a obteno do ttulo de Doutor em Clnica Odontolgica, rea de Concentrao em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais.

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    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA POR MARILENE GIRELLO CRB8/6159 - BIBLIOTECA DA

    FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA DA UNICAMP

    L995c

    Lyrio, Mariana Camilo Negreiros, 1980- Comparao entre mtodos de fixao interna utilizadas no tratamento de fraturas do ngulo mandibular. Estudo mecnico. / Mariana Camilo Negreiros Lyrio. -- Piracicaba, SP : [s.n.], 2011. Orientador: Valfrido Antonio Pereira Filho. Coorientador: Marcio de Moraes. Tese (doutorado) Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba. 1. Placas sseas. 2. Fora oclusal. 3. Fora compressiva. 4. Resistncia de materiais. I. Pereira Filho, Valfrido Antonio. II. Moraes, Marcio de. III. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Odontologia de Piracicaba. IV. Ttulo.

    Informaes para a Biblioteca Digital Ttulo em Ingls: Comparison of internal fixation methods in the management of mandibular angle fractures. Mechanical study. Palavras-chave em Ingls: 1. Bone plates. 2. Bite force. 3. Compressive strenght. 4. Material resistance. rea de concentrao: Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais Titulao: Doutor em Clnica Odontolgica Banca examinadora: Valfrido Antonio Pereira Filho [Orientador] Jos Ricardo de Albergaria Barbosa Alexandre Elias Trivellato Leandro Eduardo Kluppel Jos Maurcio dos Santos Nunes Reis Data da defesa: 10-06-2011 Programa de Ps-Graduao: Clnica Odontolgica

  • III

  • IV

    Aos meus pais, Ronaldo e Jussara, que nunca negaram

    esforos em prol dos estudos de seus filhos. Pelo amor

    incondicional e pelo exemplo de criao e da famlia que

    formamos.

    Aos meus irmos, Ronaldo e Marina, pelo carinho,

    amizade e cumplicidade sempre presentes.

    Ao Bruno, que faz dos meus dias sempre inesquecveis

    e considera as minhas emoes e vitrias como suas

    tambm. Seu amor e compreenso so fundamentais

    para a conquista dos meus desafios e realizao

    permanente de novos sonhos.

  • V

    AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

    Agradeo a Deus pela constante presena em minha vida. ...porque Deus

    Poderoso fez grandes coisas por mim. Ele Santo e mostra sua bondade a todos

    os que temem em todas as geraes. (Lc 1,46-56)

    minha famlia e meu marido, base das minhas foras e arcabouo da

    minha existncia ...sem amor eu nada seria!.

    Ao Prof. Dr. Valfrido Antnio Pereira Filho pela orientao, ensinamentos, e

    confiana a mim depositados. Muito obrigada pelo respeito, incentivo,

    oportunidades e convvio amigvel. Poucas so as palavras para expressar meus

    sentimentos.

    Aos meus avs (in memoriam), a quem sempre peo proteo, e que em

    qualquer lugar que estejam sei que tambm estaro comemorando com mais essa

    vitria. Vocs, mais uma vez, faro falta em mais essa comemorao.

    Aos meus amigos os quais sempre demonstraram que o valor de nossa

    amizade independente da distncia que estamos vivendo.

    Ao amigo Henrique Duque de Miranda Chaves Netto que foi mais do que

    um irmo nos momentos de risadas, de choro, de consolo, de saudade, incertezas

    e angstias. Sem voc seria, indiscutivelmente, muito mais difcil!

  • VI

    AGRADECIMENTOS

    Faculdade de Odontologia de Piracicaba UNICAMP, na pessoa do

    Diretor Prof. Dr. Jacks Jorge Junior, onde tive a oportunidade de dar um

    importante rumo ao crescimento cientfico e profissional, por meio do

    desenvolvimento de minhas atividades de ps-graduao.

    Ao Prof Dr. Mrcio de Moraes, pela orientao, ensinamentos, e confiana

    a mim depositados durante o mestrado. Pela sua dedicao ao curso de ps-

    graduao.

    Ao Prof. Dr. Roger William Fernandes Moreira, pelo incentivo constante,

    amizade e disposio para me ajudar independente do que for preciso.

    Ao Prof. Dr. Jos Ricardo de Albergaria Barbosa, pela amizade, apoio, e

    carinho indispensveis e constantes aos alunos de ps-graduao, alm de sua

    dedicao ao curso de graduao.

    Ao Prof. Dr. Renato Mazzonetto, pelo convvio, carinho e suas palavras de

    amizade e acolhida durante o curso de ps-graduao.

    Ao Prof. Dr. Luis Augusto Passeri, pelo incentivo minha vinda a

    Piracicaba, pela amizade e especial carinho desde a orientao durante o estgio

    at o presente momento, independentemente das circunstncias.

    Aos professores do servio de residncia em Cirurgia e Traumatologia

    Buco-Maxilo-Facial da Faculdade de Odontologia de Araraquara Unesp, Prof.

    Dr. Mrio Francisco Real Gabrielli, Profa. Dra. Marisa Aparecida Cabrini Gabrielli,

    Prof. Dr. Eduardo Hochuli Vieira, pelo convvio dirio durante a execuo deste

    trabalho, disponibilidade para os ensinamentos, motivao e acolhida.

    Ao Departamento de Materiais Odontolgicos e Prtese da Faculdade de

    Odontologia de Araraquara Unesp, por permitir a realizao dos experimentos

  • VII

    no laboratrio e particular apoio e ajuda dos professores Luiz Geraldo Vaz e Jos

    Maurcio dos Santos Nunes Reis.

    rea de Reabilitao Oral do Programa de Ps-Graduao da Faculdade

    de Odontologia de Araraquara Unesp, particularmente ao Prof. Dr. Jos

    Maurcio dos Santos Nunes Reis pela incansvel ajuda e indispensvel

    orientao na operao das mquinas de ensaio do laboratrio.

    Engimplan Engenharia de Implantes Indstria e Comrcio Ltda., em

    especial ao engenheiro Jos Tadeu Leme, pelo interesse na realizao da

    pesquisa e pelo fornecimento do material de fixao.

    Aos Profs. Drs. Eduardo Hochuli Vieira, Cssio Eduard Sverzut e Ceclia

    Luiz Pereira Stabile pelas importantes contribuies feitas no exame de

    qualificao.

    s funcionrias Anglica, Daiana, Dbora e Edilaine (Didi) pela amizade e

    constantes demonstraes de carinho.

    Universidade Federal do Esprito Santo (UFES), pela formao em

    Odontologia.

    amiga Profa. Dra. Liliana Aparecida Pimenta de Barros, pelo exemplo e

    inesquecvel incentivo fundamentais para despertar o interesse pesquisa e

    docncia.

    Aos professores do Departamento de Clnica Odontolgica da Universidade

    Federal do Esprito Santo, em especial da rea de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial,

    representados pelo Prof. Dr. Jos Renato Costa, e Profa. Dra. Ivette Becalli de

    Souza pelos ensinamentos, amizade e incentivo durante meu perodo de

    monitoria e estgios durante e aps a formao acadmica.

  • VIII

    Ao amigo e Professor Dr. Robson de Almeida Rezende, pelo exemplo

    profissional, confiana e incentivo a seguir a especialidade.

    s amigas Dra. Rossiene Motta de Bertollo e Dra. Renata Pittella Canado,

    pelo incentivo busca de nossas realizaes profissionais e incontveis

    orientaes. um prazer e uma honra ser amiga e trabalhar com vocs!

    Aos amigos e professores Dra. Martha Salim, Dra. Liliane Scheidegger, Dr.

    Antnio de Melo Cabral e Ma. Patrcia Bianchi, pela amizade, companheirismo e

    cumplicidade no ambiente de trabalho.

    Aos meus alunos da Associao Educacional de Vitria (FAESA) e Escola

    Superior So Francisco de Assis (ESFA) que transformam meus dias de docncia

    em constante aprendizado.

    s minhas tias e s vovs Irene e Nice por todas as oraes e carinho

    enviados desde a minha ida para Piracicaba.

    Ao meu amigo-irmo Willian Tannous Sassine pela fora, ateno

    indispensvel em todos os momentos da minha vida e carinho indescritvel. Pr

    voc, sempre meu "muito obrigada por estar ao meu lado!"

    Aos colegas Henrique Duque de Miranda Chaves Netto, Fbio Ricardo

    Loureiro Sato e Rafael Grotta Grempel pela amizade, companheirismo e

    cumplicidade sempre presentes em todos os momentos da ps-graduao. Me

    envaidece saber que aps nossa separao mesmo longe estamos sempre

    perto!

    amiga Gabriela Mayrink pela cumplicidade, companhia e carinho durante

    os momentos de alegria, angstias e saudades da nossa casa.

  • IX

    Anita Sanchez que consegue transformar momentos de angstia e

    cansao uma brincadeira interminvel, pela amizade, confiana e carinho. Amiga,

    sua ajuda contou bastante!

    Aos novos colegas do Programa de Residncia em Cirurgia e Traumatologia

    Buco-Maxilo-Facial da Faculdade de Odontologia de Araraquara Unesp, pelo

    apoio constante e carinho durante minhas estadias em Araraquara.

    Aos demais colegas de Ps-Graduao, de estgio, mestrado e doutorado

    da rea de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais da FOP Unicamp.

  • X

    preciso que o discpulo da sabedoria tenha o corao grande e corajoso.

    O fardo pesado e a viagem longa.

    Confcio

  • XI

    RESUMO

    Apesar dos diversos tipos de fixao interna existentes ainda no h um

    consenso quanto ao mtodo de imobilizao das fraturas do ngulo mandibular.

    Alm disso, so poucos os estudos sobre a utilizao de placas grade

    ultimamente lanadas no mercado. O presente estudo visou avaliar

    comparativamente a resistncia entre trs tipos de fixao interna em rplicas de

    hemimandbulas de poliuretano seccionadas na regio de ngulo mandibular,

    simulando uma fratura linear. As formas de fixao incluram a utilizao de placas

    em forma de grade com e sem barra intermediria e o mtodo descrito por

    Champy (1978). O objetivo foi definir por meio de anlise mecnica a tcnica que

    permitiu maior resistncia na fixao deste tipo de fratura. Os testes de

    carregamento linear vertical foram realizados em amostras de cada grupo

    estudado (n = 10) utilizando uma unidade de testes mecnicos para registro da

    carga atingida, nos momentos que o deslocamento vertical alcanou 3 mm e 5

    mm. Mdias e desvio padro foram avaliados aplicando-se a Anlise de Varincia

    e o teste de Duncan em nvel de significncia de 5%. Concluiu-se que a tcnica de

    fixao interna para as fraturas de ngulo mandibular descrita por Champy (1976)

    foi a mais resistente e, que a incluso de barra vertical intermediria nas placas

    grade no ofereceu aumento da resistncia quando comparadas s placas grade

    sem barra.

    Palavras chaves: placas sseas, fora oclusal, fora compressiva, resistncia de

    materiais.

  • XII

    ABSTRACT

    Although there are several methods of stable fixation, there is no consensus

    about the treatment of mandibular angle fractures, Also, there are few studies about

    grid plates recently commercially available. This study compares the resistance of

    three fixation methods in polyurethane hemimandible replicas. Those were

    osteotomized at the angle region to simulate a linear fracture. Fixation methods

    were four-hole 2.0mm grid plates with and without a vertical intermediate bar and

    2.0mm four-hole straight plate. The objective was to determine, through mechanical

    analysis, the fixation method that results in greater resistance to displacement. The

    hemimandibles were submitted to vertical linear loading in a mechanical test unit for

    registration of load after displacement of 3 and 5mm. Means and standard deviation

    were determined. Variance analysis and Ducans test were applied considering a

    significance level of 5%. Results showed that the 2.0 four-hole plates, positioned

    according to the Champy technique, provide greater stability than the grid plates.

    When a vertical intermediate bar was added to the grid plates, resistance of the

    system was not increased.

    Keywords: bone plates, bite force, compressive strenght, material resistance.

  • XIII

    SUMRIO

    1 Introduo .............................................................................. 1

    2 Reviso de Literatura ............................................................ 4

    3 Proposio .......................................................................... 23

    4 Materiais e Mtodo ............................................................. 24

    5 Resultados .......................................................................... 34

    6 Discusso ........................................................................... 37

    7 Concluses ........................................................................ 47

    Referncias ........................................................................... 48

    Anexo I .................................................................................. 58

  • 1

    1 INTRODUO

    O manejo de fraturas mandibulares representa uma porcentagem

    relevante com relao ao nmero de pesquisas clnicas na rea de Cirurgia e

    Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais. Da mesma forma, tcnicas cirrgicas,

    ocorrncia e etiologia das complicaes decorrentes do tratamento de

    fraturas mandibulares atraem interesse considervel (Ellis III & Ghali, 1991;

    Ellis III & Karas, 1992; Passeri et al., 1993; Ellis III, 1993; Ellis III & Sinn,

    1993; Ellis III & Walker, 1994).

    A regio de ngulo descrita como local mais comum na

    prevalncia das fraturas mandibulares em diversos estudos (Fridrich et al.,

    1992; Ogundare et al., 2003; Paza et al., 2008; Sauerbier et al., 2010). Esta

    grande incidncia est freqentemente relacionada aos dentes impactados,

    que diminuem a quantidade e a estabilidade do osso na regio, alm da

    menor qualidade ssea do ngulo mandibular quando comparado com a

    poro dentada, devido pouca vascularizao desta rea. Aspectos

    biomecnicos tambm contribuem para o fato de que o ngulo mandibular

    seja um local de predileo para ocorrncia dessas fraturas (Tevepaugh &

    Dodson, 1995; Saito & Murr, 2008). Ressalta-se ainda que, independente do

    tipo de tratamento empregado, as fraturas do ngulo apresentam os maiores

    ndices de complicaes de todas as fraturas da mandbula (Passeri et al.,

    1993; Ellis III, 1999; Sauerbier et al., 2010).

    Dentre as modalidades de tratamento para as fraturas do complexo

    maxilofacial, tem-se desde o bloqueio maxilo-mandibular fixao interna ou

    estvel dos fragmentos sseos (Wittenberg et al., 1997). Apesar disso,

    mesmo com todo avano na fixao interna, as fraturas de ngulo

    mandibular ainda permanecem entre as mais imprevisveis de tratar quando

    comparadas com as de outras reas fraturadas na mandbula (Gerlach et al.,

    1984; Kai Tu & Tenhulzen, 1985; Jackson et al., 1986; Niederdellman &

  • 2

    Shetty, 1987; Ikemura et al., 1988; Ardary, 1989; Ellis III & Ghali, 1991; Ellis

    III & Karas, 1992; Ellis III & Sinn, 1993, Passeri et al., 1993; Elllis III, 1993;

    Ellis III & Walker, 1994; Ellis III & Walker, 1986; Wittenberg et al., 1997).

    Embora hajam diferenas bvias no tamanho, no material, na aplicao

    clnica e forma de acesso para a fixao, os objetivos bsicos dos diferentes

    mtodos de fixao interna so os mesmos: permitir o retorno funo sem

    bloqueio maxilo-mandibular (BMM) e promover estabilidade suficiente para

    permitir o reparo sseo (Wittenberg et al., 1997). Alcanando estes objetivos,

    sero reduzidos o ndice de complicaes, o tempo de cirurgia, e o

    desconforto ps-operatrio do paciente (Lovald et al., 2009).

    Quanto ao tipo de acesso necessrio, a fixao por acesso intrabucal

    na regio de ngulo mandibular permanece um problema, principalmente

    devido difcil visualizao e adaptao do material. Assim, apesar dos

    riscos, melhores resultados so relatados com o tratamento de fraturas do

    ngulo com a utilizao de placas de reconstruo por acesso extrabucal

    (Ellis III, 1993; Wittenberg et al., 1997; Guimond et al., 2005).

    Visando diminuir as falhas com a utilizao de placas monocorticais e,

    da mesma forma, evitar a realizao de acessos extrabucais, foram

    desenvolvidas placas grade para fixao de fraturas faciais e de cirurgias

    ortognticas. So considerados sistemas de fcil aplicao para as fraturas

    do ngulo com acesso intrabucal quando associados perfurao e insero

    de parafusos via percutnea ou por meio de chaves com angulao de 90

    graus (Wittenberg et al., 1997; Guimond et al., 2005).

    Alguns estudos tm reportado uma baixa taxa de complicaes com o

    uso de placas grade para fixao de segmentos sseos, tornando-se uma

    alternativa ao uso das miniplacas convencionais. A fcil aplicao por

    acessos intrabucais, o simples manuseio e adaptao superfcie ssea

    sem causar distoro ou deslocamento da fratura so consideradas

  • 3

    vantagens claras de sua utilizao quando comparadas s placas

    convencionais e placas de reconstruo. Alm disso, o uso de apenas uma

    placa permite a adaptao simultnea nos bordos superior e inferior,

    favorecendo a maior estabilidade biomecnica quando comparada s placas

    convencionais (Guimond et al., 2005; Feledy et al., 2004; Zix et al., 2007).

  • 4

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Tcnicas de Fixao Interna em Fraturas de ngulo Mandibular

    O ngulo mandibular uma das regies mais acometidas em

    traumatismos que envolvem a mandbula (Chacon et al., 2005). Contudo

    permanece controverso qual o melhor tratamento a ser dado a este tipo de

    fratura (Gear et al., 2005). Desde tratamentos sem a realizao de acesso

    cirrgico at uma srie de mtodos de fixao envolvendo princpios de

    carga compartilhada ou carga centralizada podem ser usados para a

    correo destas fraturas (Ellis III et al., 1999). Contudo, atualmente h uma

    tendncia ao uso da combinao de variadas placas de menor perfil e

    parafusos monocorticais atravs de acesso intrabucal no tratamento das

    fraturas de ngulo mandibular (Guimond et al., 2005).

    A fixao interna rgida (FIR) um mtodo que permite estabilizar os

    segmentos osteotomizados por meio de parafusos ou placas metlicas. Este

    tipo de fixao elimina ou reduz a aplicao do bloqueio maxilomandibular

    (BMM) ps-operatrio resultando em maior benefcio para o paciente

    (Leonard, 1990; Ellis III, 1991; Ellis & Dean, 1993; Stoelinga & Borstlap,

    2003). Alm de serem considerados mtodos de fixao mais estveis,

    possuem propriedades biomecnicas superiores s contenes com fios de

    ao, os quais eram anteriormente utilizados, j que permite a estabilizao

    dos segmentos com manuteno da funo mandibular durante o reparo

    sseo (Ellis III & Dean, 1993).

    A Fundao para o Estudo da Fixao Interna foi fundada em 1958 na

    Sua, designada originalmente na lngua alem de Arbeitsgemeinschaft fur

    Osteosynthesefragen e na inglesa de Association fot the Study of Internal

    Fixation - AO/ASIF (Prein & Rahn, 1998). A partir da, no incio da dcada de

    70, Spiessl introduziu modificaes nos princpios de ortopedia e nos

  • 5

    instrumentais para adequ-los utilizao na cirurgia e traumatologia

    bucomaxilofacial. Assim, os princpios da AO/ASIF para o reparo de fraturas

    sseas tambm foram aplicados para procedimentos bucomaxilofaciais com

    finalidade de obteno de estabilidade absoluta promovida pelo uso de

    placas e parafusos (Schmoker et al., 1976; Spiessl, 1989; Ellis, 1993; Spina

    & Marciani, 2000).

    O principal objetivo da utilizao da FIR seria imobilizar os segmentos

    sseos de forma que permanecessem estveis durante o processo de

    reparo. Esta tcnica e filosofia de tratamento foram aceitas na Europa no

    final da dcada de 70, e nos Estados Unidos na dcada de 80, somente aps

    a criao da AO/ASIF (Ellis III & Karas, 1992; Ellis, 1993; Alpert & Seligson,

    1996).

    Segundo a filosofia da AO/ASIF deve-se realizar a instalao de duas

    placas sobre a superfcie vestibular da mandbula, de forma a evitar

    ferimento s raizes dos dentes subjacentes e ao canal mandibular. Isto pode

    ser realizado com uma placa da compresso de 6 furos, ou uma placa de

    reconstruo, com os parafusos bicorticais introduzidos ao longo da borda

    inferior da mandbula. Uma segunda placa posicionada na zona de tenso,

    prxima ao rebordo alveolar, com parafusos monocorticais. A placa da zona

    de tenso pode ser substituda por uma barra de Erich, para neutralizar a

    tenso ao longo do rebordo alveolar quando houver impossibilidade de

    fixao da placa nesta regio.

    Entretanto, na prtica a tcnica da AO/ASIF , na maioria das vezes, a

    escolhida para executar corretamente o tratamento de fraturas no ngulo

    mandibular. O acesso cirrgico por via intrabucal pode ser escolhido, mas

    muitos cirurgies preferem acesso extrabucal, correndo-se o risco de

    danificar o ramo marginal do nervo facial, infeco e a possibilidade de

    cicatriz hipertrfica na face. Alm disso, aps a fixao, pode-se criar um gap

  • 6

    na superfcie lingual da zona de compresso devido a dobradura da placa, na

    tentativa de coaptar a cortical vestibular precisamente. Ressalta-se ainda que

    a espessura do osso na borda inferior do ngulo dificulta a adaptao da

    placa e a aproximao dos fragmentos.

    Outro mtodo de fixao, considerado semi-rgido, foi descrito por

    Champy (1976) baseando-se em uma modificao nos princpios de Michelet

    (1973), consistindo na colocao de uma placa monocortical justaposta

    superfcie ssea e subapical, sem compresso e sem necessidade de BMM.

    Este mtodo surgiu aps a realizao de uma srie de experimentos que

    desvendaram as linhas ideais para osteossnteses, zonas consideradas

    como locais onde as foras de tenso e compresso se neutralizam durante

    a funo mastigatria. No caso de fraturas de ngulo mandibular, os estudos

    biomecnicos demonstraram que o melhor local para fixao da placa na

    face vestibular na regio do terceiro molar extendendo-se sobre o rebordo

    alveolar retromolar, correspondente linha oblqua. O fcil acesso, a grande

    resistncia cortical, e a estabilidade da fixao favorecem ao eleger este

    local para a osteossntese na regio do ngulo (Michelet et al., 1973;

    Champy & Lodde, 1976; Champy et al., 1978).

    Embora a tcnica de Champy no requeira a compresso entre

    fragmentos e o reparo sseo primrio, sua taxa de xito para tratar fraturas

    do ngulo foi provada com muitos estudos clnicos, apresentando baixos

    ndices de complicao. No entanto, apesar das experincias clnicas, os

    resultados de estudos biomecnicos in vitro avaliando fixaes de fraturas no

    ngulo com mtodo Champy demonstram que a resistncia das placas

    monocorticais s foras mastigatrias insuficiente (Champy et al., 1978;

    Kroon et al., 1991; Choi et al., 1995). Isto pode, em parte, ser explicado pelo

    fato de que as foras mastigatrias nos pacientes ps - operatrios so

    inferiores ao normal por muitas semanas, de modo que uma fixao menos

  • 7

    rgida possa ser suficiente para a estabilidade do fragmento durante a fase

    de reparo sseo (Shetty et al., 1995).

    Outra tcnica, como a descrita no estudo de Niederdellmann et al.

    (1981) com o uso de parafusos compressivos interfragmentrios tambm

    podem foram utilizadas para o tratamento das fraturas do ngulo mandibular.

    Neste trabalho, os autores avaliaram 18 pacientes tratados por meio de

    acesso intrabucal e fixao da fratura com um parafuso do sistema de 2,7

    mm. Destes, 4 casos desenvolveram infeco, tratados com gaze e

    iodofrmio e sem a necessidade de remoo do dispositivo de fixao, sendo

    assim o sistema considerado seguro e estvel.

    Niederdellmann & Shetty (1987) realizaram um estudo retrospectivo

    para avaliar os pacientes tratados por meio de fixao com parafusos

    compressivos interfragmentrios na regio do ngulo mandibular. Os

    parafusos de 2,7 mm foram instalados atravs de acesso intrabucal com

    auxlio de trocarte por via transcutnea. Os autores reportam 4% de casos de

    infeco, 6% de distrbios neurosensoriais persistentes e 2% de malocluso.

    Como concluso, consideraram os ndices altamente satisfatrios e indicam

    a tcnica para osteosntese do ngulo mandibular.

    Levy et al. (1991) revisaram retrospectivamente pacientes tratados por

    meio de fixao com placas e parafusos monocorticais no ngulo mandibular.

    Os grupos estudados foram divididos de acordo com a tcnica de fixao

    realizada da seguinte forma: fixao com uma placa; uma placa e BMM; duas

    placas; duas placas e BMM. Foram encontrados ndices de complicaes

    correspondentes a 30% no grupo fixado com uma placa associado ao BMM,

    22% com uma placa e 7,1% com duas placas e BMM. No foram observadas

    complicaes no grupo de duas placas sem BMM. Dentre as complicaes,

    foram diagnosticadas infeces, malocluses e no-unio. Como concluses

    do estudo, compararam os resultados obtidos com os resultados

  • 8

    apresentados por outros autores usando sistemas compressivos, e

    consideraram o uso de 2 miniplacas sem BMM como sistema mais indicado

    para o tratamento desse tipo de fratura.

    Ellis III & Ghali, em 1991, revisaram 30 casos de pacientes que

    sofreram fraturas do ngulo mandibular tratadas com parafusos

    compressivos inter-fragmentrios, utilizando apenas um parafuso do sistema

    de 2,7 mm, com comprimentos variando entre 30 e 40 mm. Vinte e oito

    pacientes apresentaram dentes em linha de fratura, que foram removidos

    durante a cirurgia. Oito pacientes no apresentaram fraturas fixadas com

    estabilidade suficiente durante o trans-operatrio, sendo mantidos com BMM

    por perodo de 3 a 8 semanas imediatamente aps a cirurgia. Os exames

    radiogrficos ps-operatrios mostraram excelente reduo das fraturas. No

    ocorreu unio fibrosa em nenhum dos casos e nenhum paciente desenvolveu

    unio fibrosa. Dois casos de m-ocluso foram observados nas primeiras

    duas semanas aps a cirurgia. Relatou-se, ainda, parafuso transfixando o

    canal mandibular em um caso, porm, o paciente j relatava parestesia pr-

    operatria. Alm desses resultados, 23% dos casos apresentaram infeco,

    porm apenas 13% necessitaram de nova interveno cirrgica. Os autores

    indicaram essa tcnica pela economia de tempo cirrgico e de material de

    osteosntese.

    Dym et al., em 1992, publicaram uma tcnica alternativa para

    osteosntese de fratura do ngulo mandibular, associando parafusos e fio de

    ao. Os autores a descrevem como uma tcnica simples e de baixo custo,

    consistindo na fixao de 2 parafusos de 2,7 mm, um em cada lado da

    fratura. Os parafusos eram monocorticais e fixados verticalmente, ou seja,

    paralelos ao trao da fratura. A partir disso, torceram um fio de ao,

    sustentado nas cabeas dos parafusos. Em 40 casos analisados, no

    relataram complicaes ps-operatrias.

  • 9

    Em 1992, Ellis III & Karas avaliaram 31 casos de fraturas de ngulo

    mandibular tratadas com fixao interna, utilizando duas miniplacas de

    compresso dinmica e parafusos auto-rosqueveis, fixadas

    mocorticalmente nas bordas superior e inferior, por acesso intrabucal. Os

    resultados demonstraram que 5 casos apresentaram edema prolongado,

    infeco em 3 casos e, apenas um caso de unio fibrosa entre os

    fragmentos. Para todas as complicaes foi preconizado nova interveno

    cirrgica com substituio ou remoo do sistema de fixao. Na maioria dos

    casos, as placas instaladas na borda superior apresentaram-se soltas e

    foram retiradas. Considerando que 29% dos casos tratados apresentaram

    complicaes ps-operatrias, foi considerado alto o ndice de complicaes,

    no recomendando a tcnica.

    Ellis III (1993) publicou um estudo retrospectivo de pacientes com

    fraturas do ngulo mandibular tratados com placas de reconstruo e

    parafusos bicorticais de 2,7 mm instaladas na borda inferior. Dos 52

    pacientes tratados, 31 apresentaram fraturas cominutivas, 12 apresentaram

    fraturas oblquas e 9 com fraturas lineares. Quanto ao ndice de

    complicaes ps-operatrias, quatro pacientes (7,5%) apresentaram

    infeco na rea fraturada, os quais foram tratados com inciso e drenagem,

    e apenas um caso necessitou de nova interveno cirrgica para remoo da

    fixao. Devido ao baixo ndice de complicao e ausncia de casos de m-

    ocluso ps-operatria, o autor considerou a tcnica indicada e satisfatria

    para casos mais complexos.

    Ainda em 1993, Ellis III & Sinn revisaram 65 casos de pacientes com

    fraturas do ngulo mandibular tratados por meio de placas de compresso

    dinmica, fixadas na borda inferior com parafusos monocorticais, ambos do

    sistema de 2,4 mm. Apesar do acesso cirrgico intrabucal, os parafusos

    foram inseridos por via transcutnea com o auxlio de trocarte. Nesse estudo,

    obtiveram ndice de complicaes de 32% (21 casos), considerando 20

  • 10

    casos de infeco e um de unio fibrosa. O tratamento das complicaes

    consistiu na drenagem dos abscessos e remoo das fixaes. Dos 21 casos

    nos quais foram removidas as fixaes, 12 casos necessitaram de instalao

    de nova fixao. Como justificativas para o elevado ndice de complicaes

    encontrado, os autores consideraram a possvel desvitalizao ssea, devido

    compresso entre os fragmentos, e a falta de rosqueamento prvio

    insero de parafusos. Da mesma forma, os autores sugerem que a

    utilizao das placas de compresso com parafusos monocorticais podem

    prevenir a m-unio e a m-ocluso no tratamento de fraturas de ngulo,

    desde que no sejam instaladas em fraturas com trao oblquo, cominutivas

    ou naquelas com perda de fragmentos sseos.

    Analisando as complicaes dos pacientes tratados por meio de fixao

    no rgida das fraturas de ngulo mandibular, Passeri et al. (1993) avaliaram

    retrospectivamente 96 pacientes que apresentaram 99 fraturas. O ndice de

    complicaes do grupo estudado correspondeu a 17%, sendo as infeces a

    totalidade dos casos. Em 13% dos casos, foi encontrada infeco isolada,

    enquanto que nos demais 4% ela foi associada a m-unio ou no-unio. A

    principal causa dos traumatismos foi a agresso fsica (83%), seguida de

    ferimentos por arma de fogo (5%), em vtimas entre 20 e 30 anos de idade,

    do gnero masculino (83%) e negros em sua maioria (58%). Foram

    encontrados 19 casos sem dentes em linha de fratura, no sendo relata

    infeco em nenhum dos casos. Apesar disso, os autores consideraram o

    estudo inespecfico para essa avaliao e concluram que o mtodo de

    tratamento apresentou um alto ndice de complicaes, atribuindo isso

    tcnica empregada e s caractersticas da populao tratada.

    Dichard & Klotch (1994), realizaram teste biomecnico comparativo, em

    mandbula de polietileno com fratura de ngulo mandibular. Aplicaram 9

    possibilidades de fixao, variando as caractersticas da fixao e o seu local

    de aplicao, distribuindo-as nas reas de tenso e de compresso.

  • 11

    Consideraram o estudo com resultados limitados, embora indiquem a

    associao de fixaes nas diferentes reas de tenso apenas para casos

    selecionados.

    Tate et al. (1994) avaliaram as foras mastigatrias apresentadas em

    pacientes com fraturas de ngulo mandibular e indivduos saudveis. O

    intuito do estudo seria prever a necessidade e a quantidade de fixaes a

    serem empregadas nos pacientes que apresentassem fraturas de mandbula.

    Como esperado, o estudo demonstrou que a carga oclusal mastigatria foi

    menor no lado fraturado, mesmo aps os primeiros dias de tratamento.

    Quando comparados com os indivduos sem fratura, os resultados foram

    ainda mais discrepantes. Os autores justificaram estes resultados pela leso

    muscular que ocorre, pelo traumatismo sofrido e pela tcnica cirrgica

    empregada. Como concluses, consideraram que em funo da diminuio

    da carga oclusal exercida no ps-operatrio imediato, as fixaes

    necessrias para manter o sistema estvel podem possuir resistncia a

    esforos mastigatrios reduzidos.

    Na mesma linha de estudos anteriores, Ellis III & Walker (1994)

    avaliaram o tratamento de 69 fraturas de ngulo mandibular, ocorridas em 67

    pacientes, tratadas com duas miniplacas no compressivas de sistema 2,0

    mm. Os autores observaram que 19 fraturas (28%) apresentaram

    complicaes, dentre as quais 17 casos foram realizados procedimento de

    drenagem, e em 16 casos foram removidas as fixaes. Dentre os casos de

    reinterveno, apenas 5 pacientes necessitaram de nova fixao e em um foi

    realizado reconstruo com enxerto sseo. Como concluso do estudo, a

    tcnica foi considerada de fcil execuo, porm com ndices inaceitveis de

    complicaes para esse tipo de fratura.

    Marciani et al. (1994) revisaram o uso de fios de ao para osteosntese

    na borda superior do ngulo mandibular, e a consideraram como uma

  • 12

    alternativa rpida, de baixo custo e indicada para fraturas lineares, pouco

    deslocadas e com relativa dificuldade de adaptao da placa sobre a linha

    oblqua. Essa tcnica seria aplicada aos casos com exodontia dos terceiros

    molares, associada ao BMM durate 5 a 6 semanas ps-operatrias.

    No mesmo ano, Assael revisou as indicaes e as tcnicas de fixao

    por meio de placas e parafusos para as fraturas do ngulo mandibular.

    Considerou nesta reviso as opes de fixao, os ndices de infeco, unio

    ssea, m-ocluso, funo motora-sensitiva, distrbios neurosensoriais,

    funo mandibular, relao custo-benefcio e experincia do profissional. O

    autor considerou todas as tcnicas de fixao internas rgidas superiores as

    no rgidas para o tratamento das fraturas.

    Atualmente, os mtodos de fixao das fraturas de ngulo se resumem

    basicamente em duas filosofias de tratamento, ambas atravs de fixao

    interna. A primeira atravs do uso de placas e parafusos, que visam

    fornecer uma rigidez suficiente aos fragmentos impedindo a movimentao

    ssea, ou mnima movimentao durante a funo mandibular. A segunda,

    considerada tcnica semi-rgida, descrita por Champy (1976), consistindo na

    colocao de uma placa monocortical subapical aos dentes e justaposta

    superfcie ssea, sem compresso e sem necessidade de BMM (Champy et

    al., 1976; Schilli et al., 1998; Ellis III, 1999).

    Em 1994, o grupo AO/ASIF substituiu o termo "fixao rgida das

    fraturas para "fixao funcionalmente estvel ou "fixao estvel", podendo

    denomin-las simplesmente de "fixao interna". Isto se refere ao fato de que

    foram observados micromovimentos interfragmentrios aps a fixao,

    apesar da estabilidade alcanada e resistncia aos esforos mastigatrios no

    ps-operatrio, permitindo ainda a funo durante o processo de reparo

    sseo (Champy et al., 1976; Prein, 1998; Ellis III, 1999; Barber et al., 2005).

  • 13

    Shetty et al. (1995) utilizaram um modelo de fratura de ngulo

    mandibular para analisar a estabilidade na linha de fratura com o sistema de

    fixao em funo. Comparativamente, consideraram a estabilidade dos

    sistemas utilizando fixaes compressivas superior s adaptativas. Entre os

    sistemas adaptativos, compararam a fixao isolada da borda superior com a

    fixao isolada da borda inferior, considerando a ltima superior em

    resistncia. Os autores sugeriram tambm que os sistemas adaptativos no

    suportariam as cargas oclusais normais em pacientes totalmente

    desdentados.

    Em discusso ao trabalho de Shetty et al. (1995), descrito

    anteriormente, Champy & Kahn (1995) justificaram a tcnica e a utilizao do

    material preconizado por haver a neutralizao das foras de tenso no

    bordo superior que, associada a funo da musculatura mastigatria,

    neutralizam as foras de compresso no bordo inferior naturalmente, sem a

    necessidade de outra fixao desta regio.

    Choi et al. (1995) testaram a estabilidade de duas miniplacas como

    tcnica de fixao para fraturas de ngulo mandibular, por meio de um

    estudo in vitro. Os testes foram tridimensionais e tentou-se imitar as cargas

    mastigatrias que incidiam sobre o sistema. Como concluso, ressaltam que

    essa tcnica promove adequada estabilidade da fratura, mesmo sob carga.

    Ainda em 1995, Gerard & DInnocenzo preconizaram uma modificao

    de tcnica para a adaptao de uma placa no bordo superior da regio do

    ngulo mandibular. Essa modificao consiste no desgaste sseo da linha

    oblqua externa, a fim de permitir a adaptao da fixao de acordo com

    Champy et al. (1976), sem a necessidade de ajustar a placa, reduzindo o

    tempo operatrio.

    Em 1996, Kallela et al. avaliaram clnica e radiograficamente 7

    pacientes portadores de fraturas de ngulo mandibular, tratados por meio de

  • 14

    parafusos compressivos isolados. No encontraram complicaes

    persistentes, apenas neuropatias temporrias, considerado a tcnica

    sensvel e indicada para uso extensivo.

    No mesmo ano, Ellis III & Walker, avaliaram prospectivamente o

    tratamento de fraturas de ngulo mandibular por meio de uma miniplaca no

    compressiva, fixada com parafusos auto-rosqueveis de 2,0 mm, por meio de

    acesso intrabucal. Dos 81 pacientes analisados, 13 apresentaram

    complicaes. Destes, 11 necessitaram de intervenes ambulatoriais,

    consistindo em drenagens intrabucais e remoo de material de fixao.

    Todos apresentaram reparo sseo no local das fraturas. A realizao de

    nova interveno cirrgica e antibioticoterapia endovenosa ocorreu nos

    outros pacientes, sendo que em um dos casos houve unio fibrosa e, por

    isso, foi submetido enxertia ssea. A tcnica foi considerada simples e com

    pequeno nmero de complicaes maiores.

    Haug et al. (1996) realizaram um ensaio biomecnico para comparar 3

    tcnicas de fixao de fraturas do ngulo mandibular. O grupo considerado

    tradicional consistiu de uma placa do sistema 2,4 mm no bordo inferior e 2,0

    mm no bordo superior. O segundo grupo consistiu no inverso, ou seja, do

    sistema de 2,4 mm no bordo superior e de 2,0 mm no bordo inferior. No

    terceiro grupo utilizou-se placas de 2,0 mm nos bordos superior e inferior.

    Foram aplicadas foras em cantilver no sistema, no apresentando

    diferenas estatisticamente significativas entre os grupos. Em relao s

    falhas nos sistemas, todas ocorreram com os parafusos monocorticais do

    bordo superior.

    Em 1997, Schierle et al. analisaram comparativamente pacientes com

    fraturas do ngulo mandibular, tratados por meio de fixao com sistema de

    2,0 mm. Os grupos foram divididos em pacientes tratados por uma e duas

    miniplacas, sem a utilizao de BMM no perodo ps-operatrio. As fraturas

  • 15

    cominutivas e infectadas foram excludas do estudo. Em relao s

    complicaes ps-operatrias no encontraram diferenas significativas

    entre os grupos, considerando infeco, m-ocluso e distrbios

    neurosensoriais.

    Em reviso de estudos realizado por Schilli (1998), foram descritos os

    diversos tipos de tratamento para as diferentes fraturas de ngulo

    mandibular, de acordo com os princpios AO/ASIF. Para as fraturas pouco

    deslocadas recomendou-se o acesso intrabucal para a fixao na banda de

    tenso com sistema 2,0 mm ou, associando a uma fixao na borda inferior

    (2,0mm) com auxillio de trocarte trans-cutneo para instalao dos

    parafusos na zona de compresso. Para os demais casos, o autor

    recomenda acesso extrabucal e diferentes tipos de fixaes, considerando as

    caractersticas da fratura, como placa compressiva e parafusos 2,4 mm na

    base e 2,0 mm no bordo superior, parafuso compressivo interfragmentrio de

    2,4 mm na linha oblqua externa ou, ainda, placa universal e parafusos 2,4

    mm na base e 2,0 mm no bordo superior.

    Em 1999, Potter & Ellis III publicaram uma avaliao de tratamento para

    fraturas de ngulo mandibular por meio de uma miniplaca de 1,3 mm,

    preconizada para o tero mdio facial. Encontraram complicaes em 15,2%

    dos casos, todas consideradas menores e que no necessitaram

    hospitalizao. Dessas, 3 casos foram de fraturas da placa, sem relatos de

    sintomas do paciente, mas apresentando reparo da fratura no momento do

    diagnstico. Dois casos apresentaram fratura da placa e mobilidade dos

    segmentos, tratados com BMM. Trs casos de infeco em tecidos moles

    foram tratados com inciso intrabucal e drenagem. Segundo o estudo, os

    autores consideraram elevados os ndices de complicaes, porm ressaltam

    que as fixaes necessrias para o tratamento das fraturas podem ser

    menores do que previamente descrito.

  • 16

    No mesmo ano, Ellis III avaliou, a partir de seus estudos, as diversas

    formas de fixao para as fraturas de ngulo mandibular no tratamento de

    pacientes num perodo de 10 anos consecutivos. Segundo esta anlise, a

    maioria dos traumas foi decorrente de agresso (85-95%) e os tempos

    mdios trauma/atendimento e atendimento/cirurgia foram, respectivamente,

    2,5 e 3 dias. De acordo com os ndices de complicaes ps-operatria, nas

    diversas formas de tratamento, observou-se que a reduo aberta por

    acesso extrabucal e fixao interna com placa reconstrutiva AO/ASIF e, a

    reduo aberta por acesso intrabucal com fixao com uma miniplaca

    1,3mm, foram as formas mais efetivas de tratamento.

    Tams et al. (2001) realizaram um estudo computadorizado para avaliar

    a aplicabilidade de sistemas absorvveis na fixao interna de fraturas do

    ngulo mandibular. Aplicaram carga em diferentes pontos do arco dental de

    um modelo tridimensional da mandbula, com uma simulao de fratura do

    ngulo mandibular. Aplicaram placas de cido poliltico (PLA), classificadas

    como mdias e maiores, em diferentes pontos da fratura. Como concluses,

    os autores consideraram os sistemas absorvveis aplicveis para a

    manuteno do sistema de fixao e que a disposio ideal seria a de uma

    placa na linha oblqua externa e outra na metade da altura mandibular.

    Haug et al. (2001) realizaram uma avaliao mecnica de diferentes

    tcnicas de fixao utilizadas em fraturas de ngulo mandibular, em modelos

    de mandbulas sintticas de poliuretano. Aplicaram 14 diferentes tcnicas de

    fixao, no variando o comprimento dos parafusos: monocorticais (6 mm) e

    bicorticais (16 mm). Todas as tcnicas de fixao mostraram-se

    suficientemente resistentes s cargas aplicadas, simulando as foras

    oclusais ps-operatrias. Diferenas estatsticas foram observadas entre os

    grupos de fixao monocortical no bordo superior e todos os grupos de

    fixao com duas placas.

  • 17

    Seguindo a mesma linha de estudos biomecnicos, Haug et al. (2002)

    analisaram o efeito da adaptao das placas na estabilidade do sistema,

    comparando sistemas de 2,0 e 2,4 mm com e sem sistema de travamento

    dos parafusos nas placas. Concluram que nos sistemas sem travamento a

    adaptao da placa superfcie mandibular est diretamente relacionada

    com a estabilidade do sistema, o que no acontece com os sistemas com

    travamento, em que a estabilidade foi considerada independente da

    adaptao.

    Para avaliar a resistncia necessria da fixao interna para tratamento

    das fraturas de ngulo mandibular, descrita por Champy et al. (1976),

    Gerlach & Schwarz (2002), analisaram as foras oclusais de pacientes com

    fraturas de ngulo, da primeira sexta semana ps-operatria. Segundo os

    autores, a carga mastigatria mxima atingida de 31% aps a primeira

    semana de ps-operatrio e, 58% aps 45 dias com relao carga

    mastigatria mxima de indivduos sem fraturas. Para os autores, isso

    justificaria o uso clnico da tcnica, diferentemente dos resultados in vitro,

    que muitas vezes condenam a utilizao da mesma.

    Em 2002, Dimitroulis analisou o tratamento de fraturas unilaterais de

    ngulo mandibular sem a utilizao de BMM trans-operatrio. No grupo

    considerado padro foram aplicados arcos e amarrias dentais, BMM e

    fixao interna. Para o grupo teste foi realizada a reduo anatmica da

    fratura e fixao interna. Todas as fraturas foram acessadas por via

    intrabucal e fixadas com uma placa e parafusos monocorticais no bordo

    superior. Foram comparados os tempos cirrgicos e de internao, alm das

    caractersticas epidemiolgicas dos traumas. No ps-operatrio foram

    realizadas anlises radiogrficas e de ocluso. Em relao ao tempo

    cirrgico, as mdias para os grupos padro e o grupo teste foram de 98,5

    minutos e 40,2 minutos, respectivamente. No tempo de internao, essas

    mdias foram, respectivamente, de 1,82 e 1,35 dias. No foram observadas

  • 18

    diferenas nas anlises radiogrficas e de ocluso ps-operatrias. Desta

    forma, o autor ressalta que quando um auxiliar consegue manter a reduo

    precisa da fratura, o uso de BMM trans-operatrio pode ser desnecessrio,

    reduzindo em aproximadamente 1 hora o tempo operatrio.

    Em discusso ao trabalho de Dimitroulis (2002), Walker (2002)

    considera a existncia de mltiplas variveis, dentre elas diferentes

    residentes e orientadores, podendo refletir significantemente no tempo

    cirrgico e na capacidade de manter a reduo da fratura, bem como de

    julgar, no momento da cirurgia, a necessidade ou no de BMM. Para o autor,

    a observao vlida, embora essas variveis devessem ser eliminadas.

    Barry & Kearns (2007) descrevem estudo avaliando o ndice de

    complicaes ps-operatrias em pacientes tratados de fraturas de ngulo

    por meio da tcnica de Champy. Os autores concluram que a tcnica

    apresenta baixos ndices de complicao.

    Bayat et al. (2010) avaliaram o tratamento de 19 pacientes com fraturas

    de ngulo por meio de uma nica placa biodegradvel disposta no bordo

    inferior. Observaram que aps 24 semanas todas as fraturas estavam

    consolidadas. Entretanto, 15,7% dos casos apresentaram complicaes

    menores sem necessidade de interveno. Dois pacientes apresentaram

    infeco as quais foram tratadas com antibioticoterapia e drenagem, e um

    caso apresentou m-ocluso necessitando de elsticos no ps-operatrio.

    Segundo o estudo, a utilizao de uma placa biodegradvel de sistema

    2,5mm parece oferecer fixao adequada para as fraturas do ngulo

    mandibular.

    2.2 Tcnicas de Fixao Interna com Placas Grade

    As placas grade, formadas por duas placas retas unidas por barras

    verticais em suas extremidades, foram desenvolvidas com intuito de reduzir o

  • 19

    volume e a quantidade de todo o material implantado, associado a uma

    estabilidade satisfatria na reduo dos fragmentos fraturados por acesso

    intrabucal (Farmand, 1996; Kim & Nam, 2001; Lovald et al., 2009).

    Com relao aos aspectos biomecnicos, a forma geral da estrutura da

    fixao deve corresponder aos tipos de deslocamentos experimentados em

    um local especfico da fratura. Embora o valor da fora mastigatria possa

    variar entre pacientes, a biomecnica de uma regio particular da fratura

    exibir modalidades do deslocamento similares entre indivduos (Lovald et

    al., 2009).

    Estudos biomecnicos descrevem que, durante a funo mastigatria

    normal, foras de tenso ocorrem na regio alveolar dentada da mandbula

    e, foras compressivas so observadas ao longo da borda inferior (Rahn et

    al., 1975; Sonnenburg & Hartel, 1978; Niederdellmann & Shetty, 1987).

    Dessa forma, quando somente uma placa aplicada no bordo superior

    da mandbula, as foras de tenso e compresso causam movimento no

    longo eixo da placa, levando ao deslocamento da fratura e formao de gap

    no bordo inferior. Com a aplicao das placas grade, os parafusos so

    instalados nos dois lados da fratura dando uma conformao de cubo, com

    criao de plataformas amplas, e aumento da fora torsional no longo eixo da

    placa. Assim, o seu desenho permite melhor resistncia contra a abertura do

    gap na borda inferior da mandbula durante os movimentos de mastigao,

    ao contrrio de quando se utiliza uma nica placa na linha oblqua (Champy)

    ou na borda superior e lateral (Guimond et al., 2005).

    Devido suas caractersticas geomtricas, essas placas permitem o

    mnimo de movimento dos segmentos durante a execuoo de foras de

    torso e compresso, ao contrrio do que acontece quando uma nica placa

    linear aplicada no bordo superior da mandbula (Farmand & Dupoirieux,

    1992; Coward et al., 1998).

  • 20

    O primeiro estudo biomecnico utilizando placas grade foi descrito por

    Farmand (1996). O autor descreve que essas placas de pouca espessura

    so to estveis quanto as placas convencionais de perfil 2,0mm.

    Wittenberg et al. (1997) comparando a estabilidade e resistncia de

    placas grade e placas de reconstruo concluem que a utilizao das placas

    grade uma boa opo para o tratamento das fraturas de ngulo e, devido

    sua facilidade de aplicao clnica pode ser considerada uma escolha

    satisfatria.

    Feledy et al. (2004) compararam biomecanicamente as placas grade

    com placas convencionais em fraturas de ngulo mandibular. Os resultados

    demonstraram melhor estabilidade e maior resistncia para as placas grade.

    Guimond et al. (2005) descreveram um estudo avaliando 37 pacientes

    diagnosticados com fraturas de ngulo mandibular no-cominutivas as quais

    foram tratadas com placas grade e acesso intrabucal. Concluram neste

    estudo que as placas grade permitem uma grande maleabilidade e, por

    apresentarem pequena espessura, facilitam na reduo da fratura. Alm

    disso, apresentam pequenos ndices de infeco quando comparadas

    quelas tratadas com placas de reconstruo.

    Zix et al. (2007) avaliaram clinicamente a viabilidade do uso de placas

    grade no tratamento de fraturas de ngulo mandibular por acesso intrabucal.

    Diante dos resultados apresentados, os autores puderam concluir que essas

    placas so apropriadas para fixao de fraturas simples no ngulo

    mandibular e pode ser considerada uma alternativa segura ao uso de placas

    monocorticais convencionais. No entanto, o sistema pode ser contra-indicado

    para pacientes que apresentem insuficiente contato sseo entre os

    fragmentos causando pequena estabilidade na reduo da fratura.

  • 21

    Alkan et al. (2007) avaliaram por meio de ensaio biomecnico 4

    diferentes mtodos de fixao para fraturas do ngulo mandibular. Foram

    eles: uma placa utilizada pela tcnica Champy, 2 placas dispostas uma no

    bordo superior e outra no bordo inferior de forma biplanar, 2 placas dispostas

    uma no bordo superior e outra no bordo inferior de forma monoplanar e uma

    placa grade de 8 furos disposta na zona neutra da mandbula. Como

    resultado obtiveram que a placa grade de 8 furos foi melhor que uma placa

    disposta conforme a tcnica Champy et al. (1978), porm foi pior quando

    comparada com a utilizao de duas placas, sejam elas dispostas de forma

    monoplanar ou biplanar.

    Jain et al. (2010) propuseram por meio de estudo clnico randomizado,

    comparar as fixaes com placas convencionais seguindo a tcnica de

    Champy (1978) e placas grade, descrevendo as vantagens e desvantagens

    de cada mtodo avaliado. Os autores concluem que a tcnica de Champy

    um mtodo melhor e de maior facilidade de aplicao do que a fixao com

    placas grade. Segundo a anlise comparativa, o sistema de placas grade

    desfavorvel para aplicao nos casos de fraturas com traos oblquos ou

    com envolvimento do nervo mentoniano. No entanto, na maioria dos casos,

    promove estabilidade suficiente e o tempo cirrgico menor devido a fixao

    simultnea das barras superior e inferior.

    Todos os estudos prvios demonstrando a utilizao de placas grade

    no tratamento de fraturas de ngulo mandibular reportam baixos ndices de

    complicao e, alm disso, concluem que essas placas so uma alternativa

    para as placas convencionais. Autores enfatizam que as barras que unem as

    placas servem de reforo estrutura oferecendo vantagens sobre as placas

    convencionais e sistemas de reconstruo (Zix et al., 2007).

    Apesar dos resultados promissores demonstrados em pesquisas com

    testes mecnicos e avaliao clnica, poucos estudos so reportados quanto

  • 22

    a utilizao de placas grade para a fixao de fraturas mandibulares. Devido

    a tal fato, o presente estudo visou observar o comportamento desta fixao

    em ensaio mecnico, bem como avaliar se o acrscimo de uma barra vertical

    na estrutura da placa favorecer na resistncia s foras aplicadas no

    sistema.

  • 23

    3 PROPOSIO

    O objetivo deste estudo foi avaliar comparativamente in vitro, por meio

    de carregamento linear, a resistncia de trs tipos de fixao interna

    indicadas para o tratamento de fraturas do ngulo mandibular.

  • 24

    4 MATERIAIS E MTODO 4.1 Hemimandbulas

    Foram utilizadas como substrato rplicas de mandbulas humanas

    dentadas, a base de poliuretano rgido, com padronizao de morfologia

    (SYNBONE 8311- Malans - Sua).

    As rplicas de mandbula foram seccionadas na regio mediana de

    forma a selecionar o lado esquerdo para este ensaio. Em uma

    hemimandbula esquerda realizou-se uma seco, desta vez oblqua, na

    regio de ngulo mandibular. Para tanto, a segmentao foi feita na regio

    retromolar, correspondente ao rebordo, iniciando 3mm posteriormente face

    distal do segundo molar, seguindo em direo oblqua at a poro basilar

    (Figura 1). A partir da primeira hemimandbula seccionada no ngulo foi

    confeccionado um guia em resina acrlica, quimicamente ativada incolor

    (Dental Vipi Ltda., Pirassununga-SP, Brasil), para localizao da regio do

    corte no intuito de reproduzir a segmentao das demais hemimandbulas no

    mesmo local.

    Figura 1 Hemimandbula esquerda aps seco em regio de ngulo

  • 25

    As hemimandbulas foram seccionadas com auxlio de serra manual de 12

    polegadas (Famastil , Gramado-RS, Brasil).

    4.2 Placas e Parafusos Utilizados nas Amostras

    Para a formao dos grupos de fixao a serem estudados foram

    empregadas as seguintes placas e parafusos:

    10 placas retas de titnio de 4 furos sistema 2,0 mm (1 mm x 25

    mm x 5,5 mm) e 40 parafusos de titnio de 2,0 x 6,0 mm de

    comprimento Bucoplan (Engimplam Indstria e Comrcio de

    Materiais Dentrios, Rio Claro-SP, Brasil) Figura 2 (A).

    10 placas grade do sistema 2,0 mm (1 mm x 20 mm x 11,5 mm) e

    40 parafusos de titnio de 2,0 x 6,0 mm de comprimento Bucoplan

    (Engimplam Indstria e Comrcio de Materiais Dentrios, Rio Claro-

    SP, Brasil) Figura 2 (B).

    10 placas grade com barra vertical intermediria do sistema 2,0

    mm (1 mm x 20 mm x 11,5 mm) e 40 parafusos de titnio de 2,0 x 6,0

    mm de comprimento Bucoplan (Engimplam Indstria e Comrcio de

    Materiais Dentrios, Rio Claro-SP, Brasil) Figura 2 (C).

    Figura 2 - Placas de sistema 2,0mm, utilizadas nos testes. (A) Reta

    convencional; (B) Grade sem barra; (C) Grade com barra intermediria

    A B C

    A B C

  • 26

    De acordo com as especificaes do fabricante, as placas so de titnio

    comercialmente puro, de grau II e os parafusos de liga de titnio-6 alumnio-4

    vandio.

    4.3 Preparo da Amostra

    Todas as hemimandbulas foram fixadas simulando a reduo

    anatmica da fratura do ngulo mandibular. Para a padronizao do

    posicionamento e fixao das placas, seguiu-se a metodologia empregada

    por Asprino (2005). Dessa forma, foram confeccionados guias em resina

    acrlica quimicamente ativada e incolor (Dental Vipi Ltda., Pirassununga-SP,

    Brasil) Figuras 3 e 4.

    Figura 3 Guia acrlico posicionado para auxlio da reduo da fratura e local para posicionamento da placa das amostras do Grupo 1.

  • 27

    Figura 4 Guia acrlico posicionado para auxlio no posicionamento da placa das amostras do Grupo 2 e 3.

    Para o Grupo 1 (Figura 5) uma placa reta convencional foi posicionada

    na regio do rebordo alveolar, na regio da linha oblqua, segundo a tcnica

    descrita por Champy (1976).

    Figura 5 Amostra do grupo 1 - Fixao de acordo com a tcnica de Champy (1976).

  • 28

    Para os Grupos 2 e 3 (Figura 6 e 7) a fixao das placas grade foi

    realizada na regio da poro mediana do ngulo da hemimandbula

    considerada, segundo os estudos de Champy (1976), de zona ideal para

    osteossntese, ou zona neutra. Dessa forma, a posio da poro mediana

    da placa grade nesses grupos corresponde a uma posio a 10mm

    superiormente da base da mandbula sinttica. Alm disso, as placas grade

    foram fixadas de forma que seu eixo horizontal estivesse posicionado

    perpendicularmente ao trao de fratura.

    Figura 6 Amostra do grupo 2 - Fixao com placa grade sem barra intermediria.

  • 29

    Figura 7- Amostra do grupo 3 - Fixao com placa grade com barra intermediria

    Um grupo formado por hemimandbulas ntegras, isto , sem fixao,

    tambm foi testado afim de observar a fora necessria para a fratura da

    mesma, bem como avaliar se o posicionamento no suporte era adequado

    (Figura 8).

    Figura 8 Amostra do grupo 4 - Hemimandbula ntegra sem fixao.

  • 30

    As perfuraes das mandbulas nos locais de instalao dos parafusos

    foram realizadas com broca 1,5 mm, preconizada pelo fabricante do sistema

    de fixao, acoplada a pea-reta (Kavo, 10 ABN, Joinville-SC, Brasil) e

    montada em motor eltrico (Beltec Indstria e Comrcio de Equipamentos

    Odontolgicos Ltda., Lb 100, Araraquara-SP, Brasil). As perfuraes foram

    realizadas com a estabilizao manual dos segmentos, simulando uma

    perfeita adaptao anatmica, e com o auxlio dos guias em resina acrlica

    para o correto posicionamento das placas e seus respectivos furos. A insero

    dos parafusos foi realizada com chave manual do sistema Bucoplan 2,0 mm

    (Engimplam, Rio Claro-SP, Brasil), perpendicularmente a superfcie da

    hemimandbula e placa empregada.

    Aps a fixao das hemimandbulas os guias foram removidos para a

    verificao da correta reduo e fixao dos segmentos. 4.4 Teste de Carregamento

    Os testes de carregamento foram realizados em mquina de ensaio

    eletromecnica EMIC DL 2000 (So Jos dos Pinhais-PR, Brasil) do

    Laboratrio de testes mecnicos do Departamento de Materiais

    Odontolgicos e Prtese da Faculdade de Odontologia de Araraquara da

    Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (FOAr -UNESP)

    Figura 12.

  • 31

    Figura 12 Hemimandbula adaptada ao dispositivo para realizao do ensaio na mquina EMIC - modelo DL 2000.

    Para a realizao de tal teste foram confeccionados, em ao inoxidvel, um

    dispositivo de aplicao de carga e um suporte para fixao das hemimandbulas

    junto ao equipamento do teste de carregamento.

    Com as hemimandbulas corretamente fixadas e adaptadas ao suporte de

    testes estas foram expostas a carga compressiva vertical, simulando a carga

    mastigatria na regio entre canino e 1 pr-molar, por meio do dispositivo de

    aplicao da fora, metlico e em forma de "U", o qual impedia os movimentos de

    toro durante o ensaio (Figura 13).

  • 32

    Figura 13 Hemimandbula adaptada ao suporte e posicionamento do dispositivo para a aplicao de carga vertical linear.

    Para o teste de carregamento, foi estabelecida uma velocidade de

    1mm/min, com clula de carga com capacidade mxima de 5000 N (5

    Kgf). Por meio da aplicao de carga progressiva sobre o sistema, visou-

    se obter o valor de resistncia ao carregamento, em Newtons (N), e o

    deslocamento imposto pelo ensaio, em milmetros (mm).

    Os valores da carga suportada pelo sistema foram avaliados em 2

    momentos distintos. O primeiro, quando o dispositivo de aplicao de

    carga atingisse deslocamento vertical de 3 mm e, o segundo, o

    deslocamento de 5 mm a partir do incio do teste. O fim do teste foi

    considerado aps o deslocamento de 5 mm do sistema, desde o incio da

    aplicao da fora de carregamento, mesmo nos casos em que houve

    falha do sistema antes da finalizao do deslocamento.

  • 33

    4.5 Anlise de Dados A anlise estatstica foi realizada a fim de se comparar,

    quantitativamente, os 4 grupos estudados, quanto s mdias da carga

    suportada (em Newtons) pelo sistema a partir do deslocamento de 3 mm e 5

    mm de aplicao de fora.

    Para a comparao de todos os grupos utilizou-se a Anlise de

    Varincia One-Way (ANOVA) com nvel de significncia de 5%. Aps

    concluir que houve diferena estatstica por meio da ANOVA One-Way, e

    com interesse de avaliar a magnitude destas diferenas foi utilizado teste

    de comparaes mltiplas, determinado pelo teste de Duncan (1955) =

    0,05.

  • 34

    5 RESULTADOS

    Os valores da carga suportada, em Newtons, nos deslocamentos de 3 e

    5 mm dos quatro grupos experimentais nos testes aplicados esto

    detalhados no Anexo I.

    Segundo resumo de ANOVA possvel verificar que houve diferena

    estatstica entre os grupos estudados (Tabela 1), demonstrando maior

    resistncia para o Grupo 1, aps a anlise do teste de Duncan (Tabela 2).

    A presena de barra vertical intermediria para as placas grade no

    influenciou para o aumento de resistncia no grupo avaliado, embora esta

    amostra apresente mdias de resistncia maiores que as placas grade

    sem barra intermediria.

    Tabela 1 Estatsticas descritivas e resultado da ANOVA entre os grupos na carga com 3 mm de deslocamento.

    Grupo Mdia Desvio-

    p-valor Padro

    Placa reta (Champy) 149,10 48,86

    0,000* Placas grade sem barra intermediria 23,77 2,96

    Placas grade com barra intermediria 30,50 6,33

    Hemimandbulas ntegras 364,22 101,82

  • 35

    Tabela 2 Resultado final segundo teste de Duncan.

    Grupo N

    Subgrupos homogneos

    (mdias)

    1 2 3

    Placas grade sem barra intermediria 10 23,77

    Placas grade com barra intermediria 10 30,50

    Placa reta (Champy) 10 149,10

    Hemimandbulas ntegras 10 364,22

    Sig. - 0,792 1,000 1,000

    As mdias e o desvio-padro da carga quando o sistema atingiu deslocamento de

    5 mm indicaram os mesmos resultados estatsticos quando do deslocamento de 3

    mm (Tabelas 3 e 4).

    Tabela 3 Estatsticas descritivas e resultado da ANOVA entre os grupos na carga com 5 mm de deslocamento.

    Grupo Mdia Desvio-

    p-valor Padro

    Placa reta (Champy) 216,90 76,28

    0,000* Placas grade sem barra intermediria 36,28 5,22

    Placas grade com barra intermediria 46,22 9,66

    Hemimandbulas ntegras 627,83 113,97

  • 36

    Tabela 4 Resultado final segundo teste de Duncan.

    Grupo N

    Subgrupos homogneos

    (mdias)

    1 2 3

    Placas grade sem barra intermediria 10 36,28

    Placas grade com barra intermediria 10 46,22

    Placa reta (Champy) 10 216,9

    Hemimandbulas ntegras 10 627,83

    Sig. - 0,748 1 1

    Da mesma forma, quando o sistema atingiu um deslocamento de

    5mm, as placas grade com barra vertical intermediria no apresentaram

    maior resistncia mecnica.

  • 37

    6 DISCUSSO

    As fraturas do ngulo mandibular foram escolhidas para este estudo

    mecnico principalmente por serem, juntamente com as do cndilo, um dos

    tipos mais comuns de fraturas da mandbula (Chacon et al., 2005). Apesar

    disso, ainda no h consenso com relao ao melhor mtodo de fixao

    interna (Gear et al., 2005; Regev et al., 2010).

    Ellis III, em 1999, aps avaliar de forma retrospectiva 08 tipos de

    fixao para as fraturas do ngulo, concluiu que a reduo aberta por acesso

    extrabucal e fixao interna estvel, com placa de reconstruo mandibular

    AO/ASIF, assim como a reduo aberta por acesso intrabucal e fixao com

    uma miniplaca 1,3mm foram as formas com menores ndices de

    complicao. Isso demonstra que a opo por um sistema de fixao deve

    levar em conta no s as caractersticas da fratura, mas tambm diversos

    outros fatores, como hbitos e condio scio-econmica, entre outros. Outro

    fator importante para a escolha pelo ensaio em fraturas do ngulo

    mandibular, de que placas grade foram desenvolvidas principalmente para

    osteossntese nessa rea.

    Foi determinada a utilizao de seces lineares para a realizao do

    ensaio devido, principalmente, ao fato das placas grade e a tcnica Champy

    et al. (1976) serem indicadas para este tipo de fratura (Champy et al., 1976;

    Champy et al., 1978; Jain et al., 2010). Esses mtodos esto contra-

    indicados para casos em que no exista suficiente estabilidade inter-

    fragmentria, como seriam as fraturas com tringulo na base ou cominutas

    (Zix et al., 2007; Hochuli-Vieira et al., 2011). Portanto, obviamente, no seria

    interessante testar um material em um tipo de fratura para o qual ele no

    est indicado.

  • 38

    Os estudos mecnicos fazem parte da anlise de um implante, servindo

    para avaliar o conjunto da fixao, bem como a disposio dos materiais de

    osteossntese. As costelas bovinas frescas eram comumente utilizadas para

    esses ensaios em virtude da sua fcil obteno. Entretanto, apresentam

    problemas em relao a anatomia, j que no se assemelham a regio do

    ngulo mandibular especificamente, contra-indicando sua utilizao neste

    tipo de ensaio.

    Quanto ao registro da carga suportada por um sistema de fixao,

    alguns autores como Foley et al. (1989) e Kohn et al., (1995) padronizaram

    um deslocamento mximo de 3 mm para registro do final do teste,

    considerando que movimentos acima de um determinado deslocamento

    limite para os testes biomecnicos no seriam compatveis com as condies

    fisiolgicas. Esses registros foram tomados a partir do incio do

    deslocamento da ponta de aplicao de carga.

    Outros autores como Trivellato (2001) e Guimares-Filho (2003)

    padronizaram o deslocamento de 10 mm, ou quando houvesse a falha do

    sistema, caso esse ocorresse antes do deslocamento final pr-determinado.

    No entanto, ao invs de definir um limite de deslocamento para

    finalizao do teste, alguns autores preconizaram o deslocamento at o

    momento em que ocorresse a falha do sistema (Bouwman et al., 1994;

    Asprino et al., 2006; Sato et al., 2010). Dessa forma, obtm-se quatro

    medidas: carga e deslocamento de pico; carga e deslocamento finais.

    Diferentemente, Ardary et al. (1989) e Kim et al. (1995) determinaram

    um deslocamento mximo de 1 mm correspondente distncia entre os

    segmentos osteotomizados, o qual corresponderia falha da fixao quando

    promove este deslocamento.

  • 39

    Nesse trabalho, a opo foi pela realizao do teste mecnico at o

    deslocamento de 5 mm, pois assim seriam obtidas duas variveis de

    comparao (carga suportada com deslocamento de 3 mm e 5 mm). Caso o

    deslocamento tivesse sido definido em 3 mm, como descrito nos estudos de

    Foley et al. (1989) e Kohn et al. (1995), no haveria ocorrido a falha do

    sistema antes mesmo de atingir o objetivo final, e no possibilitaria a

    avaliao da resistncia dos tipos de fixao empregados neste estudo.

    Existem algumas vantagens descritas quando se opta por limitar o

    deslocamento: 1) diminuio da influncia das foras torcionais durante o

    teste em um modelo de hemimandbula; 2) racionalizar o tempo dispensado

    para a realizao dos testes e; 3) representar mais fielmente um modelo

    clnico em humanos, uma vez que deslocamentos superiores a 10 mm entre

    os segmentos so considerados excessivos e no fisiolgicos, representando

    falha do sistema de fixao em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial

    (Foley et al.,1989; Kohn et al., 1995).

    Quanto escolha do substrato para os testes mecnicos, a utilizao

    de mandbulas frescas congeladas de animais foi por um bom tempo a

    melhor indicao para esses estudos (Foley & Beckman, 1992; Moraes,

    1995). Kohn et al. (1995) avaliaram as propriedades mecnicas do osso

    humano, do osso bovino, e de um polmero, observando diferenas

    significantes entre os materiais testados. As mandbulas humanas

    apresentaram maior resistncia que os demais materiais, alm de cada

    substrato ter apresentado um coeficiente de elasticidade diferente.

    Entretanto, a escolha pelo osso humano ou mandbulas de animais implica

    em um outro problema, como a dificuldade ou impossibilidade de formar um

    grupo amostral homogneo devido a grande variabilidade anatmica.

    Atualmente, no intuito de obter uma melhor padronizao desses

    ensaios mecnicos temse optado por modelos de resina (poliuretano). Alm

  • 40

    da vantagem de padronizao, os modelos utilizados nesta pesquisa so

    confeccionados, segundo o fabricante, em espuma de poliuretano simulando

    o osso medular e o osso cortical. A frmula especfica das substncias

    utilizadas para a produo das hemimandbulas de poliuretano utilizadas

    neste estudo no divulgada pelo fabricante, tendo em vista o sigilo

    industrial.

    Os modelos de hemimandbula (Synbone 8311, Malans, Sua) foram

    inicialmente desenvolvidos para treinamentos em cirurgia ortopdica. O

    principal objetivo seria proporcionar a mesma sensao de trabalho que o

    osso natural, requerendo a mesma fora, por exemplo, tanto para perfurar

    como parafusar. Apesar de no ter as mesmas propriedades mecnicas do

    osso natural, estudos demostram que esta complexa composio de

    poliuretano oferece bons resultados em ensaios mecnicos, quando

    comparada ao osso natural. Adicionalmente, existem relatos de testes de

    balstica, nos quais oferecem o mesmo padro de fratura que o osso natural,

    favorecendo a uma sensao de trabalho semelhante do osso humano

    (Synbone, 2004; Schwieger, 2004).

    A utilizao de placas de menor dimenso e parafusos monocorticais

    para o tratamento de fraturas do ngulo mandibular tem-se tornado um

    mtodo amplamente empregado e estudado na literatura. O tipo de acesso, a

    ausncia de cicatriz aparente, o menor tempo cirrgico devido a fcil

    adaptao da placa, assim como o menor risco de dano ao nervo facial, so

    fatores que favorecem a aplicao dessa tcnica de fixao nas fraturas do

    ngulo mandibular. No entanto, o grau de estabilidade promovido por placas

    monocorticais gera questionamentos entre os cirurgies. Raveh et al. (1987)

    sugerem que o uso de miniplacas oferece estabilidade suficiente somente

    quando associadas ao BMM ps-operatrio. Dessa forma, para diminuir os

    riscos de complicaes, muitos cirurgies utilizam esse tipo de fixao

    associado ao BMM no intuito de aumentar a estabilidade ps-operatria no

  • 41

    tratamento de fraturas de ngulo mandibular, e neutralizar as foras de

    tenso na regio do rebordo alveolar (Pape et al., 1983; Kroon et al., 1991).

    A popularizao da fixao com o uso de placas de menor espessura

    associada a parafusos monocorticais deveu-se aos trabalhos Champy et al.

    (1976), embasados nas pesquisas realizadas anteriormente por Michelet et

    al. (1973). A aplicao de somente uma placa, de sistema 2,0 mm e

    parafusos monocorticais, instalada sobre a regio da linha oblqua passou a

    ser considerada uma forma eficiente de tratar fraturas lineares do ngulo

    mandibular (Champy et al., 1978; Worthington & Champy, 1987). A partir de

    ento, muitos estudos mecnicos e clnicos foram realizados, avaliando a

    resistncia do mtodo e estabilidade ps-operatria da fixao dos

    fragmentos fraturados, sem a necessidade de BMM, para confirmar a

    credibilidade da tcnica.

    Choi et al. (1995) compararam a resistncia mecnica e a estabilidade

    de duas tcnicas de fixao, utilizando placas de sistema 2,0mm e parafusos

    monocorticais, em fraturas de ngulo mandibular. Segundo o autor, ao

    considerar as foras mastigatrias, a fixao de apenas uma placa na regio

    do rebordo alveolar, seguindo a tcnica de Champy, oferece menor

    resistncia e estabilidade quando comparada mesma tcnica associada

    aplicao de outra placa no bordo inferior da mandbula. Em contrapartida,

    Schierle et al. (1997) realizando estudo clnico prospectivo randomizado,

    avaliando a tcnica de Champy para tratamento de fraturas de ngulo, no

    observaram diferenas estatsticas com a utilizao de apenas uma placa na

    zona de tenso ou a associao de uma segunda placa na regio de

    compresso do ngulo mandibular.

    Apesar da menor resistncia dos mtodos que utilizam placas de menor

    espessura com parafusos monocorticais para fixao de fraturas, em relao

    s placas mais resistentes e parafusos bicorticais nos testes in vitro, deve-se

  • 42

    considerar que tais diferenas, quando se refere a estabilidade podem no

    ser importantes clinicamente. possvel tal afirmao tendo em vista que a

    fora necessria para promover a fadiga do sistema de fixao no a

    mesma exercida pelos pacientes em ps-operatrio imediato (Murphy et al.,

    1997; Tharanon, 1998; Peterson et al., 2005). Alm disso, h diversos fatores

    que agem in vivo e que no esto sendo avaliados in vitro.

    Ao avaliar a fora de mordida em pacientes saudveis (grupo controle)

    e pacientes tratados cirurgicamente de fraturas de mandbula, Tate et al.

    (1994) observaram que a fora de mordida dos pacientes com fraturas, em

    regio de molares bilateralmente e incisivos, muito menor do que a do

    grupo controle, mesmo aps vrias semanas da cirurgia, mesmo que

    apresentassem um aumento gradativo ao longo do perodo ps-operatrio.

    Segundo Loukota & Shelton (1995) a fora mastigatria mxima

    estimada num adulto jovem, com hbitos parafuncionais, de 600 N (

    60Kgf), na regio de molares. Entretanto, essa fora mxima executada

    sobre os molares bem menor em pacientes saudveis e, mais ainda, em

    pacientes no perodo ps-operatrio (Throckmorton et al., 1996; Ellis III et

    al.,1996).

    No estudo de Gerlach e Schwarz, em 2002, os autores observaram

    vinte e dois pacientes com fraturas do ngulo mandibular, utilizando apenas

    tcnica Champy, afim de investigar a fora de mordida de todos os indivduos

    tratados, e compar-los a um grupo controle. Os autores mostraram que

    houve um aumento gradual da fora de mordida ao longo do perodo

    estudado, revelando que na primeira semana o grupo com fratura apresentou

    apenas 31% da fora registrada pelo grupo controle. J na sexta semana

    estes valores chegaram a 58% dos valores referentes ao controle.

    Van der Bilt et al. (2008) compararam a fora de mordida mxima

    unilateral e bilateral em um grupo de 81 indivduos dentados. A mdia da

  • 43

    fora de mordida mxima bilateral observada foi de 560 N, enquanto que a

    mdia da fora de mordida mxima unilateral foi significativamente menor,

    sendo 430 N a do lado direito e 420 N a do lado esquerdo.

    Da mesma forma, Ribeiro (2010) mostraram resultados parcialmente

    concordes com os obtidos nos estudos da literatura, ao avaliar a fora de

    mordida dos pacientes submetidos a cirurgia para reduo de fratura

    unilateral de mandbula. O valor da fora de mordida variou, em valores

    aproximados, entre 90 N a 360 N na regio de molares, e entre 60 N e 130 N

    na regio de incisivos. Apesar da variabilidade anatmica das fraturas do

    estudo do autor, observa-se o aumento gradual dos valores da fora de

    mordida para as regies dentadas do lado da fratura, contra-lateral e regio

    anterior, avaliados semanalmente, desde a primeira semana 60 dias de

    ps-operatrio. As foras de mordida nas regies de molares e incisivos na

    ltima avaliao apresentaram valores prximos a 60% e 88,7%,

    respectivamente, em relao aos valores registrados no grupo controle.

    Contudo, assim como em estudos anteriores, o pacientes tratados mostraram

    que aps 2 meses da cirurgia os valores de fora de mordida na regio de

    molares so menores aos do grupo controle, isto , indivduos sem fraturas.

    O conceito de fixao interna estvel e no rgida vem sendo

    amplamente discutido. A utilizao cada vez maior do princpio de carga

    compartilhada no tratamento das fraturas mandibulares vem estimulando o

    desenvolvimento de novos sistemas e de desenhos de placas com o objetivo

    de obter uma maior estabilidade da fixao com um menor nmero e

    tamanho de implantes. Os novos sistemas com placas em forma de grade,

    que representam basicamente duas placas unidas por traves verticais, so

    considerados resistentes aos esforos mastigatrios, possibilitando a

    manuteno estvel dos segmentos sseos e, ainda, dispensando o uso de

    BMM aps a correo cirrgica (Wittenberg et al., 1997; Guimond et al.,

    2005).

  • 44

    A combinao dos parafusos monocorticais com a forma cuboidal ou

    retangular das placas, promove a estabilidade tridimensional da fixao. Ao

    contrrio das placas compressivas e de reconstruo, a estabilidade no

    derivada da espessura da placa, e sim a do seu desenho. Embora estudos

    biomecnicos experimentais tenham confirmado suficiente estabilidade do

    sistema de placas grade, somente algumas experincias clnicas so

    relatadas com essas placas no tratamento de fraturas de ngulo mandibular

    (Wittenberg et al., 1997; Piffko et al., 2003; Feledy et al., 2004; Guimond et

    al., 2005).

    O primeiro estudo biomecnico utilizando placas grade foi descrito por

    Farmand (1996). No entanto, poucas informaes podem ser obtidas deste

    estudo no que se diz respeito aos tipos de placas utilizados no experimento,

    que foi realizado em mandbulas de porco. Porm, o autor descreve que

    placas grade de pequeno perfil so to estveis quanto placas convencionais

    de sistema 2,0mm. No presente estudo, as placas do sistema 2,0mm,

    diferentemente do trabalho de Farmand (1996), apresentaram menor

    resistncia mecnica, quando comparadas a apenas uma placa disposta pelo

    mtodo Champy. Entretanto, o ensaio realizado neste estudo foi apenas de

    flexo vertical, no havendo deslocamentos laterais e/ou tores, o que

    possivelmente teria melhorado o desempenho das placas grade.

    Considerando que a falha do sistema de fixao dada aps o

    deslocamento dos segmentos que altera a reduo anatmica prvia, o

    presente estudo demonstra que uma nica placa disposta pelo mtodo de

    Champy, suportou uma carga mdia maior que as placas grade nos 2

    momentos analisados. Alm de apresentarem menor resistncia, observa-se

    que a adio de uma barra vertical intermediria no favoreceu o aumento da

    carga suportada pelo sistema de placas grade.

  • 45

    A vantagem relevante da utilizao das placas grade a fcil aplicao

    evitando a necessidade de acesso extrabucal e complicaes relacionadas a

    tal acesso. Alm disso, a simplificao da adaptao da placa ao osso, sem

    distoro ou deslocamento da fratura, estabilizao simultnea tanto da

    borda superior como inferior, e a reduo do tempo cirrgico favorecem a

    indicao da tcnica de fixao com esse sistema de fixao interna

    (Farmand, 1996; Feledy et al., 2004; Zix et al., 2007). No entanto, a utilizao

    de placas grade deve ser limitada a casos em que o stio da fratura

    apresenta suficiente estabilidade interfragmentria (Wittenberg et al., 1997;

    Guimond et al., 2005).

    Apesar de alguns estudos in vitro demonstrarem poucos resultados

    satisfatrios quanto sua resistncia, os relatos clnicos com baixo ndice de

    complicaes com o uso de placas grade para fixao de segmentos sseos,

    sugerem esta alternativa ao uso das placas convencionais de sistema 2,0mm

    (Zix et al., 2007). Hochuli-Vieira et al. (2011) verificaram, em 45 pacientes

    tratados com placa grade 4 furos, uma incidncia de complicaes de 11,1%

    (5 pacientes). Dentre esses apenas um necessitou de troca do material de

    fixao (2,2%). Os 4 outros pacientes apresentaram complicaes menores.

    Os autores concluem que as placas grade de 4 furos, sem barra transversal,

    apresentam uma opo clnica vivel para o tratamento das fraturas de

    ngulo que apresentem suficiente contato inter-fragmentrio.

    O presente estudo demonstrou que a fixao de fraturas de ngulo com

    placas grade 4 furos so menos resistentes s foras de carregamento

    vertical linear do que a fixao de uma placa disposta de acordo com o

    mtodo de Champy et al. (1976). Alm disso, os resultados ainda

    demonstram que o acrscimo de uma barra vertical placa no aumenta a

    resistncia do sistema. No entanto, deve-se considerar que as foras

    mastigatrias so exercidas em vrias direes e, por isso, no se deve

  • 46

    descartar a opo do mtodo de fixao sem avaliar as condies clnicas, j

    que a carga compressiva foi realizada apenas no sentido vertical.

    Alm dos fatores biomecnicos, o trabalho prope a utilizao de um

    sistema de fixao de menor tamanho, que a maior parte das placas grade

    descritas na literatura, que requer menor tempo cirrgico devido facilidade

    de aplicao, alm do menor custo. Isso se deve sua configurao

    quadrangular, ou retangular, em que preciso a adaptao de apenas uma

    placa, e necessidade de menor nmero de parafusos, para fornecer

    estabilidade tridimensional.

    Assim, a partir de estudos realizando testes mecnicos e avaliando o

    comportamento clnico ps-operatrio, pode-se constatar que o sistema de

    fixao no necessita suportar a carga mastigatria mxima exercida em

    pacientes que no sofreram fraturas. Porm, o mtodo de fixao deve

    oferecer estabilidade suficiente para permitir o reparo sseo. Ressalta-se

    ainda que, estudos mecnicos so necessrios para avaliar a resistncia e a

    viabilidade da aplicao clnica dos mtodos sugeridos.

    Embora existam inmeros estudos com placas de menor dimenso e

    parafusos monocorticais para o tratamento de fraturas do ngulo mandibular,

    existem poucas pesquisas envolvendo o uso de placas grade. A variedade

    de formas, comprimento e nmero de furos dessas placas dificulta uma

    comparao entre os trabalhos existentes.

    Ser necessria a continuidade de investigao demonstrando a

    eficcia e a efetividade de cada desenho de placas grade na prtica clnica,

    alm de poder se definir as vantagens e indicaes das mesmas em modelos

    que simulem cargas mais complexas com a aplicao de foras horizontais,

    de torso e verticais em dois sentidos verticais (compresso e extenso).

  • 47

    7 CONCLUSES

    As condies experimentais deste estudo permitem concluir que:

    As placas retas com 4 parafusos monocorticais, utilizadas de acordo

    com o mtodo de Champy, apresentaram maior resistncia do que as

    placas grades, nos ensaios mecnicos de deslocamento vertical;

    A adio de uma barra transversal na poro mdia das placas grade

    no aumentou a resistncia dessas placas ao deslocamento vertical.

  • 48

    REFERNCIAS * 1. Alkan A, Celebi N, Ozden B, Ba B, Inal S. Biomechanical comparison

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  • 49

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