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TÉCNICA VOCAL “PRINCÍPIOS BÁSICOS DA REEDUCAÇÃO VOCAL APLICADOS À FALA E AO CANTO INDIVIDUAL E COLETIVO” 1

Técnica Vocal - Método

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TÉCNICA VOCAL

“PRINCÍPIOS BÁSICOS DA REEDUCAÇÃO VOCAL

APLICADOS À FALA E

AO CANTO INDIVIDUAL E COLETIVO”

Edinho RodriguesMúsico

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V O Z

Todas as pessoas têm, naturalmente, uma voz mais ou menos bela.

Esta qualidade de beleza não se observa apenas na voz cantada, mas também na voz falada e depende da soma de uma quantidade de condições naturais de ordem física e psíquica.

A voz é o meio habitual da expressão da idéia e do sentimento da pessoa. Desta forma, o desenvolvimento físico e psíquico, assim como o funcionamento do órgão fonador, evolui de acordo com a influência direta do próprio elemento físico e do ambiente em que ele se desenvolver.

A voz, portanto, revela a saúde física e psíquica do indivíduo e através dela se conhece a característica da personalidade humana, pois, como verificamos, a voz não é apenas uma manifestação fonética, mas também psíquica.

O indício das emoções não está só no que é dito, mas como é dito.

Uma pessoa nervosa eleva o tom da voz e fala mais depressa. O calmo fala mais lentamente e com a voz suave.As pessoas ansiosas, inseguras ou que estão mentindo, apresentam uma voz hesitante. O abatimento faz com que a pessoa fale baixo e lento.

Além destas condições, a voz depende também da estrutura do aparelho fonador e o seu rendimento depende das condições fisiológicas.

Para se obter uma voz agradável é necessário cultivá-la:

Psicologicamente - Neste caso impõe-se uma educação emocional. É preciso aprender a controlar as emoções.

Fisiologicamente - Numerosos e apropriados exercícios para aproveitarmos toda a extensão vocal e cuidados com a saúde.

Antes de treinarmos os exercícios devemos conhecer o mecanismo da produção da voz.

“Vozé um som como o de um

Instrumento Musical e portanto necessita de Educação e

Afinação”

ANATOMIA E FISIOLOGIA DO APARELHO VOCAL2

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O aparelho vocal se compõe de quatro estruturas ou sistemas integrados que realizam sucessiva e sincronicamente as atividades atinentes à fonação.

Cada estrutura está formada por órgãos com funções primordialmente voltadas para a fisiologia corporal.

Objetivando inicialmente conhecer o processo Fisiológico e Psicológico da ação vocal, tomaremos como ponto de partida o APARELHO FONADOR, realizando um estudo anatômico de suas estruturas, órgãos e suas respectivas funções; assim cada cantor poderá conhecer melhor a anatomia e a fisiologia de sua voz.

Tal conhecimento facilitará ao executante, a compreensão e realização dos exercícios técnicos, tornando-o ainda mais consciente de suas possibilidades enquanto CANTOR.

APARELHO VOCAL – ÓRGÃOS ADAPTADOS

O objeto inicial do nosso estudo será o nosso instrumento musical – o APARELHO FONADOR.

Os órgãos adaptados para a fonação, vão desde o DIAFRAGMA, até os ossos da face e compreendem uma complexa rede de estruturas, ligamentos e músculos, que numa ação conjunta, sincrônica e conseqüente, comandadas pelos Sistemas Nervoso Central e Autônomo (ou Periférico), produzem o som da voz humana.

O aparelho vocal se divide em quatro estruturas ou sistemas: PRODUTOR ou ATIVADOR, VIBRADOR, RESSONADOR e ARTICULADOR.

O SISTEMA PRODUTOR é a fonte geradora de pressão aérea e compreende os órgãos do aparelho respiratório: Fossas Nasais, Traquéia, Pulmões, Diafragma, músculos intercostais, músculos da região glútea, pélvica e períneo.

O SISTEMA VIBRADOR é a região de modificação de energia e se constitui do tubo laringo-traquibrônquico, das cartilagens epiglote, tireóide, duas aritenóides, a cricóide e as pregas vocais, duas falsas e duas verdadeiras.

Funcionado como caixas de AMPLIFICAÇÃO ou RESSONÂNCIA, está a estrutura de modulação do som. São as cavidades buco-nasais, os sinos ou seios da face, os ossos pneumáticos do rosto e as cavidades superiores – etmoidal, esfenoidal e frontal.

Finalmente, compondo o SISTEMA DE ARTICULAÇÃO, está a língua, o palato duro, o palato mole, os dentes, o maxilar e os lábios que irão “moldar” a palavra, cantada ou falada, dando-lhe o acabamento final.

Na verdade, os órgãos adaptados têm função primordial, servindo à emissão como função secundária.

Veja por exemplo o caso das pregas vocais.Muitos acreditavam que a função principal deste órgão era a produção de sons, contudo, este pensamento não está de todo correto.

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A função principal e primeira das pregas é impedir que corpos estranhos caiam nas vias aéreas inferiores. Se observarmos bem, cada órgão adaptado terá sua função principal e uma correspondente para a fonação, por exemplo:

ÓRGÃO FUNÇÃO PRINCIPAL FONAÇÃODiafragma Músculo da Inspiração Apoio p/ Sustentação de SonsBoca Entrada de Alimentos Amplificação e ArticulaçãoNariz Entrada e Filtração do Ar RessonânciaDentes, Língua e Lábios Mastigação, Deglutição Articulação

SISTEMA PRODUTOR ou ATIVADOR

A PRODUÇÃO ou AÇÃO VOCAL terá início no SISTEMA PRODUTOR ou ATIVADOR, aquele que produzirá a matéria-prima à formação do som – a corrente de ar.

Como se sabe, a função principal da respiração é levar oxigênio às células corporais e delas extrair o excesso de dióxido de carbono.

O aparelho respiratório localiza-se no tórax, com seu arcabouço músculo-cartilaginoso em junção com a musculatura abdominal e se abre ao exterior pela boca e narinas.

Continua com a faringe e traquéia. Esta se ramifica em dois brônquios, os quais por sua vez voltam a desdobrar-se em inúmeras ramificações – os bronquíolos, até terminar em milhares de alvéolos, microestruturas que se findam nos lóbulos pulmonares, onde se dá a troca de gases (hematose), que coincide na troca de sangue venoso em arterial.

O tórax possui um total de 12 costelas que se inserem posteriormente na coluna vertebral e anteriormente no esterno, com exceção das duas últimas que não têm inserção anterior, sendo, portanto, mais livres para expandir.

Há dois grupos musculares inseridos nas costelas: os intercostais internos, participantes da expiração e os intercostais externos, responsáveis pela inspiração.

Fechando a caixa torácica inferiormente, está o músculo diafragma que tem forma de cúpula e que, quando se contrai, na inspiração, se retifica, empurrando o intestino inferiormente.

Também os músculos abdominais têm sua atuação na respiração e na geração de gradiente de pressão aérea para a fonação. O músculo reto, oblíquo e transverso abdominais, são os principais responsáveis pela expiração forçada utilizada em frases prolongadas ou na emissão com alta intensidade.

Podemos dividir a musculatura respiratória em:

Inspiratória: compreende o diafragma e os intercostais externos, os escalenos, os grandes e pequenos peitorais, os grandes dorsais e os elevadores da escápula.

Expiratória: é composta pelos intercostais internos, os denteados, os retos abdominais, os transversos abdominais e os oblíquos internos e externos.

O funcionamento respiratório natural é um processo ativo na inspiração e (quase) passivo na expiração.

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O ar penetra pelo nariz (de preferência, pois aí é aquecido e filtrado), atravessa a traquéia, brônquios e pulmões e isso acontece pelo abaixamento da musculatura diafragmática e intercostal externa.

O diafragma, durante a expiração, se descontrai criando no interior dos pulmões uma diminuição de pressão interna.

Como a pressão externa é maior, e sabendo-se que o universo não tolera vácuo, o ar precipita-se para o interior dos pulmões que se expandindo criam uma pressão negativa entre a pleura pulmonar e a parede externa do tórax.

Com o aumento da cavidade, o ar é sugado para dentro dos milhões de alvéolos, preenchendo-os.

O diafragma se contrai, retesando-se para baixo e pra fora, empurrando os intestinos e músculos abdominais externos, dando-se a INSPIRAÇÃO.

É claro que uma ação neuronal comanda todo esse mecanismo que está sob a coordenação do Sistema Nervoso.Não precisamos pensar para que isso aconteça, pois o sistema atuante é o periférico.

Nesse momento, com a contração do diafragma (imenso músculo transversal que separa o aparelho digestório do aparelho respiratório), as costelas da porção mais inferior (chamadas flutuantes), se afastam para os lados e uma ligeira dilatação abdominal (baixo ventre) se pronuncia para que a base dos pulmões possa se inflar.

A elasticidade das costelas é assegurada pelos músculos intercostais externos e pelas cartilagens que estão entre elas, além do diafragma.

Em seguida, as costelas superiores também se expandirão horizontalmente, no sentido lateral e antero-posterior, favorecendo assim o alargamento superior do tórax, quando a parte mediana e superior dos pulmões estiverem repletas de ar.

É um momento de completa Tensão ou de Contração da musculatura corporal. É um processo ATIVO.

O dióxido de carbono (CO2) precisa ser expelido imediatamente.As estruturas que se contraíram, (todo o processo de tensão ou contração realizado no primeiro momento da respiração), tende a acomodar-se.

“Para toda contração, deverá haver sempre uma descontração muscular que manterá sua elasticidade e vitalidade”.

O diafragma, que funciona muito bem para “puxar” o ar para dentro dos pulmões, assim que cumpre seu papel, se descontrai.

As costelas inferiores começam a acomodar-se, as superiores também. Os intercostais internos relaxam, diminuindo assim o abdome e o tórax.

Os músculos abdominais, reto, oblíquo e transverso se contraem levando a uma expiração mais profunda.

O ar é expelido num momento de descontração, de relaxamento e acomodação da musculatura corporal. É um processo (quase) PASSIVO.

Nota: na expiração existe contração de alguns músculos.

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É interessante lembrar que essa mecânica respiratória, denominada de FISIOLÓGICA, é comandada pelo Sistema Nervoso Autônomo ou Periférico – SNA/P, independe da nossa vontade e não precisamos nos preocupar para que ela aconteça.

O mais interessante é que iremos descobrir mais adiante a possibilidade de alterar e controlar esta mecânica, graças a ação semivoluntária da musculatura diafragmática e da ação do Sistema Nervoso Central – SNC.

Para falar ou cantar é necessário o uso de mecanismos mistos, ativo e passivo. A musculatura utilizada dependerá do que se pretende realizar, no que diz respeito à emissão.

O que acabamos de ver é o que chamamos de MECÂNICA DA RESPIRAÇÃO FISIOLÓGICA.É a forma natural da respiração do ser humano. Aquela cujo processo ocorre naturalmente, sem necessidade de pensar nela.

Esta respiração é chamada de Respiração Comum, Costal, Diafragmática, Abdominal, etc. É apenas uma questão de direcionamento, de cunho didático.

Nessa mecânica, o tempo gasto para a entrada de ar nos pulmões é sempre maior que para sair: INS > EXP.

A acomodação ocorre em tempo menor e o ar vai embora muito rapidamente. Não dá tempo para emitir uma palavra que seja.

Na verdade, hoje sabemos que a fonação é decorrente do “retardamento” na saída da coluna de ar e que graças ao controle que nela possa se incidir pudemos entender melhor o que chamamos de APOIO VOCAL.

O apoio será, portanto: EXP em tempo maior que INS.

O apoio da voz consiste em fazer com que o ar inspirado, demore mais tempo para ser expirado e assim a emissão dos sons falados ou cantados (sustentados) esteja assegurada.

O apoio vocal transforma a Expiração, que é um processo passivo em um processo ATIVO.

Existem basicamente dois tipos de apoio:

DIAFRAGMÁTICO: busca-se deixar o diafragma mais tempo na posição de INSPIRAÇÃO, (CONTRAÍDO), enquanto se está EXPIRANDO. Relaciona-se com a respiração BASAL ou ABDOMINAL. É o apoio usado com maior freqüência nas notas longas, de maior duração, frases ligadas, etc.

TORÁCICO: consiste em deixar as costelas mais tempo na posição de INSPIRAÇÃO (CONTRAÍDAS) enquanto se está EXPIRANDO. Relaciona-se com a respiração COSTO-ESTERNAL e é geralmente usado em notas muito agudas, de ataque, etc.

Tanto num quanto no outro, a expiração, em forma de emissão, será um PROCESSO ATIVO graças a intervenção do Sistema Nervoso Central. Está aí provado que o ato de cantar é necessariamente decorrente de uma ação PSICO-FÍSICA.

Mas o grande problema na verdade nem é esse.Já sabemos que respiramos exatamente como está descrito na mecânica acima, mas só o fazemos quando não

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estamos pensando em fazê-lo. Por conta de vários fatores externos, a respiração do adulto torna-se ALTA ou CLAVICULAR.

O primeiro passo para iniciar um trabalho respiratório é verificar “a quantas anda” a respiração.

Observa-se geralmente no início dos trabalhos, que o indivíduo inspira fungando, o que já provoca uma agressão ao aparelho respiratório, concentrando toda a sua energia no peito e levantando os ombros.

Essa respiração que ocorre no momento em que nos é sugerida uma ação respiratória é demasiadamente nociva ao organismo, pois reúne peculiaridades bastante comprometedoras à emissão e à própria vida.

Por exemplo:

A respiração Alta ou Apical concentra um esforço nos peitorais, na altura da parte superior dos pulmões, isso faz com que a musculatura abdominal e diafragmática enfraqueçam-se pelo desuso, além de se perder o apoio da voz na expiração.

Outro ponto importante é o fato de que concentrando o esforço no peito, haverá uma concentração maior de ar na parte superior dos pulmões, sua base não sofrerá a expansão natural e a hematose pode acontecer em menor escala, além do que, resíduos de ar podem se acumular nos lóbulos.

Além disso, observemos que a base dos pulmões é bem mais larga do que sua parte apical. Em baixo há mais espaço para ser ocupado pelo ar, as costelas nessa região não são presas ao externo e a mobilidade é bem maior do que na altura do peito onde a respiração é opressora e angustiante.

Há ainda a questão do percurso.

Se o ar sai da base dos pulmões impulsionado pelo Apoio do Diafragma e/ou das costelas, (porque os dois podem ser usados, um complementando o outro), ela terá muito mais impulsão do que aquele ar sem apoio, percorrendo um caminho bem menor, daí, menos tempo de duração dos sons.

Para cantar então, nem se fala!

Como vimos, tudo isso ocorre para descrever apenas a primeira etapa, o funcionamento da primeira estrutura do aparelho vocal.

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RESUMO DA MECÂNICA RESPIRATÓRIA

RESPIRAÇÃO FISIOLÓGICA (vital)

INSPIRAÇÃO PROC. ATIVO EXPIRAÇÃO PROC. PASSIVOContração Diafragmática Descontração DiafragmáticaAfastamento das Costelas Flutuantes Acomodação das costelasDilatação Abdominal Retraimento AbdominalAlargamento do Tórax Diminuição Torácica

RESPIRAÇÃO PSICOLÓGICA (motriz)

INSPIRAÇÃO PROC. ATIVO EXPIRAÇÃO PROC. ATIVOContração Diafragmática Mantém-se ao máximo:Afastamento das Costelas Flutuantes a Contração Diafragmática *Dilatação Abdominal o afastamento das costelas flut. **Alargamento do Tórax a dilatação abdominal * O alargamento do tórax **

* APOIO DIAFRAGMÁTICO** APOIO TORÁCICO

RESPIRAÇÃO QUANTO AO DIRECIONAMENTO (Fisiol. e Psicol.)

Abdominal Diafragmática, Intercostal, Costal inferior, Costo-Esternal e Clavicular.

Praticamente igual às mecânicas anteriores, porém com excessivo levantamento dos ombros e alargamento do peito, com conseqüente perda do movimento abdominal.

Ocorre em menor tempo ainda que a Expiração da Mecânica Fisiológica, pois não há mobilidade, espaço e não é função natural do corpo.

NUNCA REALIZE!!!

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VIBRAÇÃO E RESSONÂNCIA

Toda voz tem ressonância, porém nem sempre sabemos utilizar toda a capacidade de ressonância possível do nosso órgão fonador.

Desenvolver a ressonância é uma forma de aprimoramento vocal. Ela se processa mais ou menos como um instrumento musical, com a diferença que as nossas cavidades de ressonância são de tamanho e condições variáveis.

Além da ressonância, a voz tem outras qualidades que são:

TIMBRE: é o que podemos chamar de “cor da voz” ou sua identidade. É pelo timbre que distinguimos a voz das pessoas.

O timbre é dado pelo sistema de ressonância, dependendo de toda a constituição do órgão vocal, ou seja, natureza das cordas vocais e dimensões variáveis do órgão fonador.

ALTURA: convencionalmente classificam-se as vozes por altura, sendo que:

a do homem é: tenor, barítono, baixo.a da mulher é: soprano, meio soprano e contralto.

EXTENSÃO: é o conjunto de sons que o ser humano pode emitir sem esforço. A extensão normal corresponde a 13 ou 14 notas musicais, até duas oitavas com educação.

TESSITURA: é o ponto da extensão em que os sons são produzidos sem esforço, com maior naturalidade. Os limites naturais da tessitura quase nunca ultrapassam a uma oitava.

INTENSIDADE: é a força com que a voz é emitida. Quanto maior o sopro respiratório, mais intenso é o som. A intensidade vai desde o murmúrio até o fortíssimo.

Após estas noções podemos explicar que impostação vocal é a colocação da voz em relação à altura e determinar sua tessitura, desenvolvendo-se as qualidades naturais acima citadas.

Se dispensarmos à nossa voz o mesmo cuidado que dispensamos à nossa maneira de vestir, teremos a satisfação de modificá-la, transformando-a em suave e agradável.

O TRABALHO VOCAL

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O trabalho vocal deveria acompanhar todo o processo educacional dos indivíduos, desde os primeiros anos na escola e deveria se estender por toda a vida, uma vez que a ação vocal, por ser resultado de uma ação muscular, é também para toda a vida.

Uma vez iniciado, o indivíduo deve continuar realizando seus estudos de canto para manter a musculatura sempre ativa e conservar a voz em bom estado.

Assim para realizar um bom trabalho vocal, é necessário um estudo, como já dito, PERIÓDICO, SISTEMÁTICO, GRADATIVO e CONSTANTE, observando-se:

A periodicidade deve ser regular. A ação vocal é resultado de ação muscular que precisa de condicionamento. Requer treino regular, disciplina e determinação, instrumentos imprescindíveis ao domínio da musculatura e conseqüente domínio da voz;

É necessário um trabalho estruturado, que abranja todos os tópicos pertinentes à educação vocal – Educação Musical, treinamento auditivo e percepção, os pilares da voz (Relaxamento, Respiração e Vocalização);

A cada aula, o grau de informação é associado aos graus de dificuldade técnica de execução dos exercícios e propostas empregados no trabalho;

E por último, como já dissemos, para toda a vida, se quiser manter a voz em boas condições de uso.

ESQUEMA DAS SESSÕES

ATIVIDADES TEMPO ESTIMADO

RELAXAMENTO FÍSICO E MENTAL 10´

TRABALHO RESPIRATÓRIO 15´

EDUCAÇÃO MUSICAL E TREIN.AUDITIVO (percepção) 5´

EXERCÍCIOS DE VOCALIZAÇÃO (com aquecimento) 45´

EXECUÇÃO MUSICAL 50´

DESAQUECIMENTO 5´

D E S E N V O L V I M E N T O

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RELAXAMENTO FÍSICO e MENTAL

Preparar corpo e mente a uma nova ambientação. É realmente o início do trabalho vocal de forma mais direta.

É quando o aluno começa a trabalhar a sua consciência de toda a ação psicofísica que comandará a ação vocal. Sua importância é vital ao bom andamento das atividades que se seguirão, pois, o relaxamento propiciará um estado de liberação das tensões corporais que impedem a fluência da voz.

TRABALHO RESPIRATÓRIO

É o estágio mais delicado do trabalho, principalmente porque é o mais negligenciado pelos cantores sem consciência e disciplina.

A RESPIRAÇÃO É A BASE DA VOZ!

Sem ela não existiria som algum e não há nada que se possa fazer para mudar esta realidade.

É preciso que se entenda a necessidade de compreender sua importância e exercitar sempre todas as propostas de trabalho respiratório, para desenvolver bem todas as técnicas que possibilitarão um trabalho vocal bem sucedido.

Os exercícios respiratórios devem ser realizados pelo cantor todos os dias para que seu corpo possa reagir prontamente aos seus objetivos.

TREINAMENTO AUDITIVO e PERCEPÇÃO

Objetivando preparar o aluno para iniciar os trabalhos, serão realizadas dinâmicas de percepção e jogos musicais que possibilitem o trabalho corporal: ritmo, melodia, coordenação, atenção, memorização, reação e controle.

AQUECIMENTO e VOCALIZAÇÃO

É a parte do processo que irá estudar todas as estruturas melódicas que serão entoadas em diversos tons, com o objetivo de exercitar a atividade muscular e observar o comportamento vocal durante sua execução.

São bastante variados, seguem técnica e métodos específicos.

EXECUÇÃO VOCAL

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É a ação vocal direta.O momento em que o cantor põe em prática todo o conhecimento adquirido nas aulas durante o seu treinamento.É o momento de aplicar as técnicas no repertório executado pelo cantor.

É neste momento que deve o executante direcionar todo o seu estudo de modo espontâneo e natural, para que o “esforço” produzido na ação de cantar seja minimizado e a voz possa fluir com naturalidade.

Vale a pena lembrar que a técnica visa exatamente essa minimização do esforço que a ação em si encerra.

Cabe ao próprio cantor saber como direcionar sua execução, independente da técnica que esteja utilizando.

DESAQUECIMENTO VOCAL

Ajuste da atividade vocal da voz cantada aos padrões de fala.

RELAXAMENTO

Por que e para que relaxar?

O relaxamento físico e mental é um estado de liberação das tensões que se instauram física e psicologicamente no homem por diversos fatores.

Visa o relaxamento realizar uma preparação física e mental do indivíduo concentrando as tensões musculares nos pontos devidos e liberando aqueles que não necessitam ser tensionados.

Do ponto de vista fisiológico, o relaxamento é realizado a partir de técnicas de alongamento muscular (físico) e de abstração mental (psicológico).

No primeiro, os alongamentos são realizados na perspectiva de aumento da flexibilidade muscular através de exercícios lentos de calistenia (contração).

Quando as contrações são realizadas demoradamente e sem esforço ou sobrecarga, a musculatura “respira” mais intensamente, pois a mioglobina, proteína transportadora do oxigênio armazenada nos tecidos, irriga a musculatura, dissipando resíduos metabólicos como o ácido lático e produzindo as moléculas de ATP, considerada como a molécula universal de energia.

No segundo, acredita-se que a abstração mental propicia um estado de tranqüilidade e calma interior, pois as ondas alfa do cérebro apresentam um comportamento peculiar nestas condições em pacientes testados. O índice de stress diminui consideravelmente.

Se observarmos bem a estrutura anatômica do nosso corpo, iremos encontrar um sistema de sustentação e revestimento (esqueleto e músculos, respectivamente) recobertos pelo maior órgão do corpo, a pele.

Sabe-se que os músculos sofrem constantes contrações, voluntárias e involuntárias, e que para tanto, entram em cena as proteínas contráteis (ACTINA e MIOSINA) que desencadearão tais contrações.

Sabe-se também que o ácido lático se acumula em determinadas partes da musculatura tornando-a rígida e tensa em determinadas situações e que quando

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dissipado, propicia ao músculo um estado de relaxamento que difere do momento exato da descontração, pois neste, o músculo ainda está em atividade intensa, enquanto que no relaxamento a musculatura está praticamente em repouso.

Buscar um estado de relaxamento é nada mais nada menos que buscar este estado de LIBERAÇÃO da musculatura, eliminando todas as tensões desnecessárias ao ato de cantar.

Isso não quer dizer que o cantor esteja totalmente livre de pontos de tensão durante sua ação vocal, ao contrário, existem pontos onde predomina uma tensão vital à ação vocal cantada, porém uma tensão natural e sob medida, como na laringe, por exemplo.

Para o relaxamento muscular sugerimos movimentos longos onde as fibras lentas da musculatura, estimuladas a atividades de longa duração, possam efetivar a descontração muscular produzindo ATPs e dissipando o ácido lático para o fígado.

No aquecimento, sugerimos movimentos intensos e vigorosos com participação das fibras rápidas da musculatura, as responsáveis pelas atividades intensas e de curta duração, o que produzirá maior termogênese (calor) e vascularização.

O relaxamento mental obedece aos aspectos psicológicos do indivíduo e objetiva preparar a mente para a assimilação e realização de atividades psicofísicas.

Deve ser elaborado sempre sob orientação adequada por parte de quem o aplica e compreensão da aplicação por parte de quem a ele vai se submeter.

Várias são as propostas de relaxamento Mental e Físico.A título de ilustração sugerimos alguns modelos:

PARA A MENTE

Deitado em decúbito dorsal sobre uma esteira ou colchonete. Olhos fechados. Palmas das mãos para cima. Pés separados na linha dos ombros. Respiração natural. No ambiente de pouca luminosidade, uma música agradável. (O facilitador deve coordenar o relaxamento).

PARA O CORPO

De pé. Pés paralelos nas linhas dos ombros (para distribuir o peso nas duas pernas). Braços relaxados ao longo do corpo. Queixo na horizontal. Respiração natural. Eixo de equilíbrio corporal bem definido. No ambiente de pouca luminosidade, uma música suave serve de fundo para o facilitador conduzir o relaxamento, podendo sugerir:

Entregar-se ao momento respiratório. Experimentar mover (dobrar) todas as articulações possíveis. Realizar movimentos de circunflexão com a cabeça. Elevar e abaixar os ombros (até as orelhas). Movimentar os braços e pernas. Desenvolver a coluna jogando o tronco para frente em direção ao solo e subir

lentamente começando a superposição das vértebras lombares, torácicas, cervicais e cabeça.

Saltitar e chacoalhar.

PARA OS MÚSCULOS DA FACE Fazer caretas. Rir. Bocejar.

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PARA A LARINGE

Passar a língua ao redor da arcada dentária com a boca fechada. Passar a ponta da língua no orbicular dos lábios (redor da boca). Tocar com a ponta da língua os últimos dentes de cada arcada. Vibrar a língua em TRRRRRRRRR. Vibrar os lábios em PRRRRRRRRR

OUTRAS PROPOSTAS

Em pé, fila indiana, postura ereta, dar pancadinhas leves e alternadas com os lados das mãos nas costas do companheiro da frente, por cerca de 30 segundos. Inverter a posição e reiniciar.

Sentado. A – deixar cair para frente o tronco, deixando a cabeça e os braços caírem dentro das pernas. Elevar a coluna. A cabeça é a última que sobe. B – Estender o braço horizontalmente. Abrir e fechar insistentemente e com vigor as mãos até que o braço caia por força do próprio peso. C – Fechar os olhos com força sem contrair o rosto e depois abri-los visualizando uma bela paisagem a frente. Manter a coluna ereta!

PARA OS MÚSCULOS DO TÓRAX

Mover os ombros descrevendo com eles um círculo mais amplo que puder. Tentar encostar as cabeças dos ombros à frente e as escápulas atrás. Os braços devem estar relaxados ao longo do corpo.

Separar as pernas na linha dos ombros. Agachar-se expirando e levantar-se inspirando.

De pé. Braços relaxados, descrever com um dos braços, dez círculos amplos para frente e para trás e depois com o outro braço.

Existe uma boa literatura sobre o assunto e cabe ao profissional preparador vocal a capacidade de saber escolher e até mesmo criar seus exercícios de relaxamento.

PRÁTICAS RESPIRATÓRIAS

Com base nas informações sobre a mecânica respiratória, os exercícios de respiração devem ser praticados com bastante atenção no sentido de perceber o comportamento dos músculos envolvidos nas práticas.

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Relembrando que na respiração fisiológica a inspiração é um pouco mais longa que a expiração, observe-se que na respiração psicológica deverá acontecer o contrário.

Inspira-se pouco, pois para cantar não é necessário muito ar e sim, saber controlar o ar a ser expirado em forma de som. É uma questão de saber dosá-lo, economizando ao máximo a saída de ar. O excesso de ar oprime o cantor.

Assim, as expirações muito profundas não devem ser praticadas senão nos exercícios da ginástica respiratória, com aspecto meramente didático, afinal, na hora de cantar, entre uma frase e outra não há tempo para inspirações profundas.

Esses exercícios respiratórios têm como finalidade o domínio da musculatura para assim submete-la ao controle da própria vontade.

Sem a prática constante não haverá domínio, pois jamais haverá condicionamento muscular.

Para iniciar uma prática respiratória seguem-se os seguintes passos:

RESPIRAÇÃO NATURAL

Verificar como se dá a respiração em seu processo fisiológico natural. A respiração comandada pelo Sistema Nervoso Periférico acontece sem a interferência do Sistema Nervoso Central.

Não precisamos pensar em respirar para isso acontecer, mas quando nos é sugerida uma prática respiratória, tendemos a realizá-la de forma equivocada, desenvolvendo-se uma respiração alta ou clavicular.

Por esta razão, é necessário inicialmente verificar a respiração natural a partir de uma ação consciente, prepara, pensada. Neste caso haverá a intervenção do Sistema Nervoso Central. Para tanto:

A – Inspirar profundamente sem levantamento dos ombros.B – Abrir suficientemente as narinas evitando os “fungados” que são na verdade a obstrução da cavidade nasal.C – Não dilatar verticalmente o tórax (ombros).

Para inspirar corretamente, deve-se abrir ao máximo as narinas (como se estivéssemos inalando água da palma da mão), ou ainda como se as narinas estivessem “inchando”.

Essa “inchação” do nariz puxa o palato para cima, como num bocejo reprimido e um “molde” se estabelece na parte posterior da boca, pois a úvula acompanha o movimento do palato.

Este “molde” é a representação metafórica do levantamento dos músculos internos e é o que mais se aproxima da situação exigida para a produção de um som bem colocado, razão pela qual este “molde” tem de se fazer presente desde a inspiração até a expiração em forma de som, independendo da altura da nota, seja ela aguda, média ou grave.

Outro ponto a ser observado é a abertura interna da boca para a intenção deste “molde”, que deve ser o mais próximo possível da abertura natural.

Não há necessidade de exageros, o que só iria contribuir para uma inspiração excessiva e opressora.

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Em seguida, verificar se o ar inspirado está abrindo horizontalmente a região abdominal (baixo ventre) e a caixa torácica.

Com as mãos no abdômen e depois nas costas do aluno, observar a dilatação abdominal (abdominais externos) e afastamento das costelas inferiores (intercostais externos) e o alargamento posterior das costas (dorsais) decorrente da contração diafragmática. Continuar observando o afastamento horizontal das costelas superiores.

Jamais permitir o levantamento dos ombros. Uma vez observada a mecânica inspiratória, deve-se observar o momento de

expirar. Num primeiro momento, deve-se deixar que o indivíduo expire naturalmente para

que ele possa perceber que após a expiração, o ar volta naturalmente a ocupar os pulmões, valendo-se do princípio fisiológico que rege o controle do gradiente das pressões interna e externa, constatando-se assim, o caráter meramente didático que tem a prática da inspiração nos exercícios respiratórios dirigidos.

EXPIRAR e INSPIRAR CONSCIENTEMENTE (Resp.Fisiológica)

De pé. Postura correta. Expirar sem puxar previamente o ar para os pulmões, realizando uma Respiração Rápida, Intensa, Profunda (RIP) – como se fosse apagar subitamente uma chama imaginária, observando o grande retraimento da musculatura abdominal.O diafragma descontraiu-se rapidamente e todos os músculos que estavam

contraídos acomodaram-se. Observar a participação dos músculos pélvicos, os da região glútea e os do períneo. Observar ainda, que imediatamente o ar preenche de novo os pulmões.

Em seguida realizar a mesma proposta diferindo apenas no tempo da expiração que deve ser mais longo. Observar que ainda assim, ocorre o mesmo retraimento das musculaturas. Até então não há controle da saída de ar. Apenas se observa o fluxo expiratório sem jamais relaxar as narinas e abertura (elevação) do palato.

Deitado. Colocar sobre o abdômen um livro de certo peso. Abandonar-se no processo respiratório até que seu ritmo seja atingido. Observar a subida do livro na inspiração e sua descida na inspiração. Em todo o tempo de prática, observar o comportamento muscular em todas as regiões do tronco e as sensações obtidas.

Até então, todo o trabalho respiratório objetivou apenas a verificação da respiração natural e fisiológica, na tentativa de reeducar os indivíduos à prática natural de uma respiração consciente, descondicionando-os do equivocado processo de respiração alta ou clavicular.

A seguir passaremos a entender melhor o processo de controle da respiração psicológica.

EXPIRAÇÃO CONTROLADA (Respiração Psicológica)

De pé. Postura correta. Expirar – R.I.P. – Inspirar lentamente (para efeito didático) e expirar continuamente em “S” sibilado, mantendo as contrações musculares adquiridas na inspiração.

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Observar que em SSSSSS... existe naturalmente uma parede de resistência criada com a ajuda da língua e dos dentes. Esta parede deve estar presente no momento de executar o exercício em “F”, para se instaurar o mesmo parâmetro de capacidade de controle.

Em “CH” esta parede é naturalmente presente. Em “Z”, existe vibração laríngea, isto é, as cordas vocais vibram e há, portanto fechamento da glote, que nas demais propostas se encontra aberta.

Um ponto importante a perceber está relacionado ao controle de saída de ar . Se o objetivo é o domínio da ação muscular, então quanto mais tempo o ar for mantido nos pulmões, também por mais tempo se manterão as contrações musculares responsáveis pela ação de reter o processo respiratório.

Isso acarreta para os músculos um trabalho de fortalecimento das fibras musculares. A explicação científica para isso está no fato de que quanto maior a exposição do músculo a um processo contrátil, mais resistência ele irá adquirir se a força aplicada incidir sobre o mesmo ponto, porém com maior intensidade.

É como se no interior das miofibrilas existissem pequenas equipes de manutenção (as proteínas contráteis) responsáveis por reparar os cabos que se rompem durante o esforço muscular.

Por isso é importante que as práticas sejam sistemáticas, periódicas, gradativas e constantes.

Assim, economizar ao máximo a saída do ar numa prática respiratória nunca será demais para quem está começando a entender este processo.

Repetir o exercício do livro e atentar para a expiração. Manter o livro “em cima” pelo maior tempo possível.

Expirar. Inspirar. Reter. Expirar contando 1,2,3,4,5. Seguir contando aumentando sempre cinco unidades até onde for possível, sem gerar stress ou desconforto.

Expirar. Inspirar. Reter. Expirar emitindo a vogal /U/ em uma altura agradável.

Existem muitas propostas de práticas respiratórias que podem ser desenvolvidas pelo professor de canto, mas estas são as básicas, as essenciais.

AQUECIMENTO MUSCULAR e VOCAL

Aquecimento muscular em geral – objetiva a preparação de um estado psicofísico e coordenativo-cinestésico muscular e assim, combater possíveis

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lesões ou a fadiga prematura proveniente da falta de oxigênio na fase inicial do trabalho.

O aquecimento muscular tem função de ajustar os sistemas funcionais permitindo que o indivíduo possa realizar seu trabalho até o limite mais alto de sua capacidade.

O aquecimento muscular gera termogênese, benéfico à profilaxia das lesões, uma vez que propicia a diminuição da resistência elástica e viscosa, diminuindo o atrito interno, permitindo maior elasticidade e alongamento dos músculos.

Aquecimento Vocal – objetiva, como no aquecimento muscular em geral,desenvolver a consciência cinestésica/proprioceptiva muscular responsável pela performance vocal.

O aquecimento vocal produz aumento da vascularização. Os vasos sanguíneos são mais bem irrigados, as pregas vocais recebem mais fluxo sanguíneo e assim, promovem sua adequada coaptação, favorecendo então maior componente harmônico.

Diminui o fluxo de ar transglótico. Produz voz com menor quantidade de ar não modulado, deixando a mucosa mais solta, com maior habilidade ondulatória, maior intensidade, projeção e melhor articulação vocal.

AQUECIMENTO VOCAL e AULA DE CANTO

O aquecimento vocal e a aula de canto são bem parecidos porque envolvem os mesmos processos fisiológicos e psicológicos para a formação dos sons.

Porém, essencialmente, o aquecimento difere da aula em si pelo caráterimediatista e pragmático que lhe confere a propriedade de resultados instantâneos.

Já aula de canto, tem um caráter completamente didático-pedagógico. Nas aulasde canto oportunizam-se as “experimentações” na tentativa de vivenciar todos os processos de formação da voz e suas aplicações.

O aquecimento também aplica os mesmos processos, porém, com objetivosimediatos e obedecendo a uma sistemática própria, a partir da aplicação gradativa de esforços.

Nas próprias aulas de canto deve haver após o relaxamento corporal, umaquecimento vocal que deverá anteceder a aula em si.

Neste tipo de aquecimento os exercícios vocais devem ser leves e breves, cerca de 5 a 10 minutos, pois o aluno (a) se submeterá a uma exposição vocal médio-longa (60’).

Nos aquecimentos vocais que antecedem as apresentações, convém observar aduração da performance do cantor, isto é, se ele irá se submeter a uma longa exposição vocal.

Se for cantar muito tempo, o aquecimento deve ser elaborado de forma mais rebuscada, com estruturas de intensa vocalização e realizado em 15 a 20 minutos.

Se a exposição é curta, estruturas leves e propostas mais “versáteis” podem seraplicadas. Propostas que trabalham a expressividade vocal (improvisos, vocalizações livres, etc.) são bem recomendados.

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O efeito do aquecimento se mantém por 20 a 30 minutos em nível relativamentealto e somente após 45 minutos deixa de ser detectado.

As massagens não são recomendadas para aquecer, pois propiciam relaxamentoda musculatura e concentração sanguínea na região em que está sendo aplicada.

DESAQUECIMENTO VOCAL

Visa favorecer o retorno aos ajustes fonoarticulatórios da voz coloquial, evitandoos abusos prolongados decorrentes do padrão da voz profissional, cantada ou falada.

No caso da voz cantada pitch mais elevado e loudness mais intenso.

O desaquecimento recupera os músculos mais exigidos e prepara a musculaturapara os próximos trabalhos, eliminando a fadiga muscular. Os níveis sanguíneo e muscular de ácido lático caem mais rapidamente do que em repouso.

No desaquecimento inverte-se o padrão empregado no aquecimento. As ações são realizadas do maior para o menor esforço. Do forte para o fraco, do agudo para o grave.

Alguns autores aconselham o total silêncio após a performance vocal. Isso,teoricamente, estaria incorreto, uma vez que a musculatura reage melhor quando submetida ao desaquecimento progressivo, através dos exercícios específicos.

MODELO PADRÃO DE AQUECIMENTO

(Com relaxamento prévio)

1 – Para aquecer o Sistema Produtor ou Ativador – (Ap.respiratório) Emitir uma coluna de ar em: /s/ /f/ /ch/ (chê)

2 – Para aquecer o Sistema Vibrador – Laringe (pregas vocais) Emitir uma coluna de som em: /z/ /v/ /j/ (jê)

3 – Para aquecer o Sistema Ressonador - Emitir coluna de som em /m/ (som mastigado) + vogais nasalizadas

4 – Para aquecer o Sistema Articulador – Emitir: Pequenos “glissando” em prrr (para os lábios – vibração externa) trrr (para a língua – vibração interna)

5 – Vocalização: exercícios que trabalhem: abertura, leveza, articulação, ressonância, apoio, sustentação, ataque, finalização, nivelamento, amplitude e outras propostas.

6 – Expressão vocal: técnicas de improvisação, vocalização livre, etc.

DESAQUECIMENTO

Efetivar a inversão do padrão aplicado.D I C A S

A seguir, uma série de dicas importantes para a manutenção da voz:

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Tenha sempre ao lado da cama uma garrafa de água natural para beber de madrugada, caso acorde com a garganta seca.

Ao acordar beba um copo de água natural e coma uma maçã antes mesmo de escovar os dentes. A maçã tem ação adstringente e também hidrata, umidifica e limpa tanto a boca quanto à laringe.

Evite falar alto ou rispidamente assim que acordar.

Em caso de incômodo na garganta, inclua romãs no cardápio. Você pode comer as sementes da fruta e colocar os pedaços da casca para secar ao sol. Depois de secas, faça um chá, deixando sempre em fogo brando e tampado, que é para não “queimar” as propriedades vitamínicas e também para não evaporá-las. Faça gargarejos com o chá ainda morno, várias vezes ao dia.

Inclua mel na sua alimentação, principalmente com própolis e romã. Cristais de gengibre mastigáveis são uma boa opção para irritações na garganta. Não e aconselhável engolir o gengibre, pois ele e muito forte principalmente para quem tem problemas no estomago, como gastrite, ulcera, etc.

Beba no mínimo dois litros de água natural durante o dia. Caso você não tenha o hábito, espalhe pela casa garrafas de 500ml. Uma no quarto, uma na sala, etc. Funciona!

É permitido beber água gelada quando não estiver cantando ou falando muito. É extremamente proibido o gelado quando cantamos ou falamos muito, pois toda a nossa região vocal fica aquecida e o contato com o gelado causa um choque térmico altamente nocivo à saúde.

Evite o choque térmico, entrando suado em lugares frios. Evite cantar em ambientes com ar condicionado. Se estiver muito frio, peça para controlar a temperatura do ar.

É lógico que essas dicas não são regras... cada pessoa tem uma resistência orgânica e algumas suportam mais que outras as mudanças atmosféricas, ou bebem álcool e fumam e cantam divinamente bem... Conheci vários cantores assim. Pelo que eu sei nenhum teve um bom final de vida. Todos morreram de câncer do pulmão, de cirrose, viveram menos, por exemplo, Jimmy Hendrix, Janis Joplin, Kurt Cobain, Cássia Eller (?), etc.

Procure numa farmácia um gel para massagem que tenha na fórmula cânfora, mentol e que cause uma sensação refrescante. Se sentir alguma dor na região do pescoço ou garganta, aplique o gel para relaxar essa região. Ele também é ótimo para dor de cabeça se aplicado na fronte.

Não use sal ou vinagre em gargarejos para resolver problemas na garganta. Um produto muito bom, que causa cura e alívio imediato é o Flogoral líquido, encontrado em qualquer farmácia. Balas de mel e gengibre também são indicadas para limpeza e desinfecção da garganta e custam menos que as pastilhas.

Cuide de sua saúde bucal, indo regularmente ao dentista.

O resfriado é inimigo do cantor. Substitua os refrigerantes por sucos de caju, acerola, laranja, limão, que são ricos em vitamina C. Como modo preventivo é recomendado ingerir um comprimido efervescente de 500mg de Ácido Ascórbico por dia.

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Evite tossir ou pigarrear para expelir a secreção (catarro). Esse ato é prejudicial ao organismo pois causa atrito entre as pregas vocais e resulta numa maior produção de secreção.Quanto mais você escarra e cospe, mais secreção será produzida e torna-se um círculo vicioso.O correto é:

Inspirar sem fungar, produzir saliva e deglutir (engolir) a secreção.No início parece estranho, mas em poucos dias você sentirá que a produção de secreção irá diminuir.

Aqueça sempre antes de cantar e desaqueça após.

Classificação e Extensão Vocal

Vozes Femininas

Soprano coloratura (palavra italiana), ou soprano ligeiro:O termo coloratura significava, na origem, "virtuosismo" e se aplicava a todas as vozes. Hoje, aplica-se a um tipo de soprano dotado de grande extensão no registro agudo, capaz de efeitos velozes e brilhantes. Exemplo: a personagem da Rainha da Noite, em Die Zauberflöte [A flauta mágica] de Mozart.

Soprano lírico:Voz brilhante e extensa. Exemplo: Marguerite, na ópera Faust [Fausto], de Gounod.

Soprano dramático:É a voz feminina que além de sua extensão de soprano, pode emitir grave sonora e sombria. Exemplo: Isolde, em Tristan und Isolde [Tristão e Isolda], de Wagner.

Mezzo-soprano (palavra italiana):Voz intermediária entre o soprano e o contralto. Exemplo: Cherubino, em Le nozze di Figaro [As bodas de Fígaro].

Contralto:Muitas vezes abreviada para alto, a voz de contralto prolonga o registro médio em direção ao grave, graças ao registro "de peito". Exemplo: Ortrude, na ópera Lohengrin, de Wagner.

Vozes Masculinas

Contra tenor:

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Voz de homem muito aguda, que iguala ou mesmo ultrapassa em extensão a de um contralto. Muito apreciada antes de 1800, esta é a voz dos principais personagens da ópera antiga francesa (Lully, Campra, Rameau); de uma parte das óperas italianas, do contralto das cantatas de Bach, etc...

Tenor ligeiro:Voz brilhante que emite notas agudas com facilidade. É uma voz ligeira e suave. Exemplo: Almaviva, em Il Barbiere di Siviglia [O barbeiro de Servilha], de Rossini; Tamino, em Die Zauberflöte, [A flauta Mágica] de Mozart.

Tenor lírico:Tipo de voz bem próxima da anterior. Mais luminosa nos agudos, ainda mais cheia no registro médio e mais timbrada.

Tenor dramático: Com relação à anterior, mais luminosa e ainda mais cheia no registro médio. Exemplo: Tannhäuser, protagonista da ópera homônima de Wagner.

Barítono "Martin", ou Barítono francês:Voz clara e flexível, próxima da voz de tenor. Exemplo: Pelléas, na ópera Pelléas et Mélisande, de Debussy.

Barítono verdiano:Exemplo: o protagonista da ópera Rigolleto, de Verdi.

Baixo-barítono:Mais à vontade nos graves e capaz de efeitos dramáticos. Exemplo: Wotan, em Die Walküre [A Valquíria], de Wagner.

Baixo cantante:Voz próxima à do barítono, mais naturalmente lírica do que dramática. Exemplo: Boris Godunov, protagonista da ópera de mesmo nome, de Mussorgski

Baixo profundo:Voz de grande extensão a amplitude no registro grave. Exemplo: Sarastro em Die Zauberflöte [A flauta mágica] de Mozart.

Sopraninos:Na Idade Média os meninos na faixa dos sete aos quinze anos eram requisitados para interpretar obras sacras. Eles atingiam o status de sopranino, a mais aguda das vozes, mais até do que as vozes femininas de sopranos e contraltos.A voz do sopranino soa uma oitava acima. Séculos atrás, estrelas nos palcos europeus, eles chegaram a se tornar alvo de controvérsias devido à proliferação das castrações (comuns naquela época).A mutilação era uma tentativa desesperada de frear a produção de hormônios masculinos e prolongar ininterruptamente o tempo com a voz cristalina.

Extensão vocal

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Baixo:Ele começa geralmente no Mi, Fá ou Sol 1 (pode ser mais grave também).Como a tessitura humana é de geralmente 02 oitavas, ele deve ir ao Mi, Fá ou Sol 3.A voz do baixo em um coral raramente ultrapassa o Ré 3.

Barítono:Começa Fá, Sol, Lá 1 e vai geralmente às suas 02 oitavas, Fá, Sol, Lá 3.No coral não deve ultrapassar o Mi ou o Fá 3.

2º Tenor:Sol, Lá, Si 1 e vai geralmente às suas 2 oitavas, Sol, Lá, Si 3.No coral, não creio que coloquem os 2º tenores para irem até o Si 3, mas em um solo é bem provável.

1º Tenor:Lá e Si 1, Dó 2.Vai geralmente às suas 02 oitavas, Lá e Si 2, Dó 4.No coral é possível que cheguem ao Dó 4 ou ao Si 3.

2º Contralto:Mi, Fá, Sol 2, e vai geralmente às suas 02 oitavas, Mi, Fá, Sol 4.No coral raramente chegam ao Ré 4.

1º Contralto:Fá, Sol, Lá 2, e vai geralmente às suas 02 oitavas, Fá, Sol, Lá 4.No coral também não devem passar do Mi 4.

2º Soprano:Sol, Lá, Si 2, e vai geralmente às suas 02 oitavas.No coral podem chegar ao Si ou ao Sol comumente.

1º Soprano:Lá e Si 2, Dó 3 e vai geralmente às suas 02 oitavas, Lá e Si 4, Dó 5.No coral pode chegar ao Dó 5 ou mais.

No violão/guitarra, essas notas podem ser conferidas da seguinte maneira:

e-----------------------0--1--3--5--7--8---------------

B---------------0--1--3-------------------------------- Oitava acima

G----------0--2----------------------------------------

D--0--2--3---------------------------------------------

A-3---------------------------------------------------- Dó central

E--------------------------------------------------------

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