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GUSTAVO GRETHER DE SOUZA TÉCNICAS CIRÚRGICAS OFTALMOLÓGICAS EM EQÜINOS Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário. Professor Orientador: Dr.Antonio Carlos Nascimento Orientador Profissional: Dr. Marlon Carmelo J. Siqueira Curitiba Outubro/2006

TÉCNICAS CIRÚRGICAS OFTALMOLÓGICAS EM EQÜINOS · GUSTAVO GRETHER DE SOUZA TÉCNICAS CIRÚRGICAS OFTALMOLÓGICAS EM EQÜINOS Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária

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GUSTAVO GRETHER DE SOUZA

TÉCNICAS CIRÚRGICAS OFTALMOLÓGICAS EM EQÜINOS

Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário. Professor Orientador: Dr.Antonio Carlos Nascimento Orientador Profissional: Dr. Marlon Carmelo J. Siqueira

Curitiba

Outubro/2006

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................... iii

RESUMO................................................................................................................ iv

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 01

2 PRINCÍPIOS DA CIRURGIA OFTÁLMICA ......................................................... 02

3 PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS BÁSICOS .................................................... 02

3.1 EXPOSIÇÃO DO GLOBO................................................................................. 03

3.2 CANTOTOMIA.................................................................................................. 04

3.3 SUTURAS DE FIXAÇÃO DE ESCLERÓTICA.................................................. 05

3.4 FLAP DE 3ª PÁLPEBRA................................................................................... 06

3.5 TARSORRAFIA................................................................................................. 09

3.6 TRANSPOSIÇÃO CORNEOESCLERAL.......................................................... 10

4 ENTRÓPIO.......................................................................................................... 11

4.1 CORREÇÃO CIRÚRGICA................................................................................ 12

5 ECTRÓPIO.......................................................................................................... 14

5.1 CORREÇÃO CIRÚRGICA................................................................................ 14

6 CERATITE ULCERATIVA ................................................................................... 16

6.1 TERAPIA CIRÚRGICA..................................................................................... 17

7 CERATECTOMIA SUPERFICIAL ....................................................................... 17

8 ENXERTOS CONJUNTIVAIS... .......................................................................... 19

9 CATARATA ......................................................................................................... 21

10 ENUCLEAÇÂO .................................................................................................. 22

10.1 ENUCLEAÇÂO SUBCONJUNTIVAL LATERAL............................................. 22

11 CONCLUSÃO... ................................................................................................ 25

12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 26

ii

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01: Espéculos de Castroveiejo e Maumenee-Park........................... 03

FIGURA 02: Cantotomia lateral....................................................................... 04

FIGURA 03: Sutura da cantotomia.................................................................. 05

FIGURA 04: Suturas de fixação da esclerótica............................................... 06

FIGURA 05: 3ª pálpebra ligada à pálpebra superior....................................... 07

FIGURA 06: 3ª pálpebra fixada na conjuntiva................................................. 08

FIGURA 07: Tarsorrafia com o flap de 3ª pálpebra......................................... 10

FIGURA 08: Procedimento de Holtz-Celsus modificado................................. 13

FIGURA 09: Técnica de Wharton-Jones......................................................... 15

FIGURA 10: Técnica cirúrgica de enucleação................................................ 24

iii

RESUMO

O objetivo desta revisão bibliográfica é apresentar um estudo sobre as principais

técnicas cirúrgicas oftálmicas em eqüinos, que por muitas vezes se faz necessária e

a falta de conhecimento e prática impede sua realização.

Palavras – chave: cirurgia, oftalmologia, eqüinos.

iv

1 INTRODUÇÃO

As técnicas cirúrgicas oftálmicas por muitas vezes são essenciais para um

bom prognóstico e em outros casos se unem com o tratamento clínico promovendo a

cura completa, apesar de serem complexas e caras representam uma área de

especialização para o medico veterinário e uma nova fonte de renda. Seria

interessante que quando um veterinário se deparasse com um caso oftálmico o

indicasse para um colega especialista, mas sabemos que isso não ocorre,

infelizmente, e por muitas vezes terapias erradas são feitas com resultados horríveis.

2 PRINCÍPIOS DA CIRURGIA OFTÁLMICA

O correto diagnóstico, a escolha do procedimento cirúrgico, os equipamentos,

instrumentos, o treinamento e experiência são necessários para bons resultados na

cirurgia oftálmica. Uma falha em detalhes nas indicações farmacológicas, pré-

operatório, trans-operatório ou pós-operatório podem causar complicações ou

catastróficos resultados (SLATTER, 1995).

È essencial uma boa tranqüilização, anestesia segura, um bom

monitoramento e em alguns casos, uma preparação farmacológica do paciente com

corticosteróides, antibiótico ou com atropina se faz necessária dependendo do caso

(SLATTER, 1995, AUER 2006).

A preparação pré-cirúrgica inclui, depilação da área periocular, a garantia do

funcionamento dos equipamentos como microscópio, luz, instrumental e decúbito

correto do animal. È indicado também o uso de solução balanceada de sal para a

irrigação ocular, e posicionamento de panos de campo estéreis (SLATTER, 1995 e

GELATT,1999).

3 PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS BÁSICOS

Para alguns procedimentos são utilizadas técnicas iguais, para várias

alterações oftálmicas, por isso o uso correto é necessário (SLATTER, 1995).

3.1 EXPOSIÇÃO DO GLOBO

Em geral uma boa exposição e controle do globo são pré-requisitos para

cirurgia oftálmica bem sucedida. O esforço necessário para que seja conseguida

essa exposição em pacientes animais difere notavelmente dos métodos mais

simples necessários em seres humanos, principalmente porque o olho se desvia em

direção ventromedial sobre anestesia geral (fenômeno da inversão de Bell) em

animais. A terceira pálpebra também restringe a exposição. São indicados o uso de

afastadores em procedimentos breves, especialmente quando o animal estiver

consciente, e espéculos palpebrais para importantes procedimentos oftálmicos, são

indicados os espéculos de Castroveiejo e Maumenee-Park. Em muitos casos com a

restrição da exposição, a cantotomia lateral é necessária para o uso dos afastadores

(SLATTER, 1995).

FIGURA 01: Espéculos de Castroveiejo e Maumenee-Park.

Fonte: AUER, J.A., STICK, J.A. Equine surgery. 3ª Ed. 2006.

3.2 CANTOTOMIA

A cantotomia é feita no canto lateral com tesoura de Mayo reta, a área deverá

ser infiltrada com solução de epinefrina para controlar a hemorragia. Depois que o

procedimento oftálmico se completou, a incisão é suturada em dois planos. A

primeira camada de pontos interrompidos simples com poliglactina 910, promovendo

a aposição da conjuntiva subjacente à incisão. A segunda camada de pontos

interrompidos simples com seda 4-0 ou 6-0 promove a oclusão da pele (SLATTER,

1995; GELATT, 1999 e AUER, 2006).

FIGURA 02: Cantotomia lateral.

Fonte: AUER, J.A., STICK, J.A. Equine surgery. 3ª Ed. 2006.

FIGURA 03: Sutura da cantotomia.

Fonte: AUER, J.A., STICK, J.A. Equine surgery. 3ª Ed. 2006.

3.3 SUTURAS DE FIXAÇÃO DE ESCLERÓTICA

As suturas de fixação da esclerótica são extremamente válidas, mas devem

ser aplicadas parcialmente através deste órgão. È feita sutura com agulha

traumática com fio de seda 3-0 ou 4-0, num ponto afastado 1 a 2 mm do limbo.

Suturas adicionais podem ser aplicadas ventralmente, nasalmente, ou

temporalmente, conforme a necessidade. Quando a sutura é removida, um de seus

cabos é seccionado junto à conjuntiva, para que haja redução do traumatismo que

ocorreria caso toda sutura tivesse que passar através do tecido (SLATTER, 1995;

GELATT,1999 e AUER,2006).

FIGURA 04: Suturas de fixação da esclerótica.

Fonte: AUER, J.A., STICK, J.A. Equine surgery. 3ª Ed. 2006.

3.4 FLAP DE 3ª PÁLPEBRA

A córnea pode ser coberta durante a cicatrização de uma inflamação, depois

de uma cirurgia ou outro trauma facilitando assim a recuperação e prevenindo

futuras injúrias. A técnica é simples e quando bem feita não causa desconforto para

o animal. Os donos devem ser avisados da aparência no pós-operatório (SLATTER,

1995).

Em cavalos o flap de 3ª pálpebra pode e deve ser combinado com tarsorrafia

temporária que deverá permanecer durante um período de 2 a 3 semanas (GELATT,

1999).

Método I: 3ª pálpebra ligada à pálpebra superior. O fio indicado para sutura é

o nylon 2-0, a sutura é feita na direção do movimento da membrana, promovendo

tensão. A sutura é feita a 2 mm do fim da membrana geralmente na linha de

pigmentação, para prevenir tensão excessiva na sutura é indicado o uso de um tubo

de equipo esterilizado para distribuir a pressão da sutura, a mesma deve ser retirada

após 1 ou 2 semanas (SLATTER, 1995; GELATT, 1999 e AUER, 2006).

FIGURA 05: 3ª pálpebra ligada à pálpebra superior.

Fonte: AUER, J.A., STICK, J.A. Equine surgery. 3ª Ed. 2006.

Método II: 3ª pálpebra fixada na conjuntiva. O material utilizado é o mesmo, a

3ª pálpebra é fixada na conjuntiva superior seguindo a direção do movimento da 3ª

pálpebra, a sutura é feita a 2 mm da membrana e a 7 mm da íris na conjuntiva. Para

fixação são feitos 2 pontos ao final. É importante que o fio de sutura não toque a

córnea, pois produzirá irritação (SLATTER, 1995 e GELATT, 1998).

FIGURA 06: 3ª pálpebra fixada na conjuntiva.

Fonte: AUER, J.A., STICK, J.A. Equine surgery. 3ª Ed. 2006.

3.5 TARSORRAFIA

A tarsorrafia é a sutura das pálpebras e de forma temporária é utilizada para

proteção da córnea, esta pode ser utilizada juntamente com o flap de 3ª pálpebra

promovendo independentemente maior segurança (SLATTER, 1995 e GELATT,

1998).

Segundo trabalho científico em humanos, de Tzelikis a tarsorrafia, seja ela

temporária ou permanente, mostrou ser um procedimento bastante seguro e eficaz

para o tratamento de defeitos epiteliais persistentes, alcançando uma taxa de

sucesso de 83,3%, com poucas complicações (2005).

FIGURA 07: Tarsorrafia com o flap de 3ª pálpebra.

Fonte: AUER, J.A., STICK, J.A. Equine surgery. 3ª Ed. 2006.

É indicado por Auer e Stick à utilização de tubos plásticos para distribuir a

tensão e o uso de nylon 2-0 ou 3-0. (2006).

3.6 TRANSPOSIÇÃO CORNEOESCLERAL

Transposição corneoescleral consiste na substituição parcial da córnea pela

esclerótica adjacente, para o preenchimento de defeito resultante da remoção de

lesão, está técnica está indicada quando resta quantidade insuficiente de tecido para

o preenchimento do defeito após remoção de lesão (SLATTER, 1995; GELATT,

1999 e AUER, 2006).

4 ENTRÓPIO

O entrópio palpebral é uma condição onde a margem da pálpebra apresenta-

se invertida em dimensão ao globo ocular. O atrito dos cílios e também da pele

sobre a córnea e conjuntiva bulbar provoca sintomas irritativos, exulcerações,

ceratites e até quadros graves de úlcera perfuradas com perda do globo ocular. De

acordo com seu mecanismo etiopatogênico, o entrópio pode ser dividido em

congênito ou adquirido (SLATTER, 1995; CALDATO, 1997; GELATT, 1999;

SLATTER, 2001; THOMASSIAN, 2005 e AUER, 2006).

A alteração congênita praticamente acomete apenas a pálpebra inferior,

sendo muito raros os casos observados na pálpebra superior (CALDATO, 1997).

O entrópio congênito é causado principalmente pela hipertrofia das fibras

marginais do orbicular pré-tarsal, mas tem sido também descrito casos devido a

anormalidades da placa tarsal e dos elementos retratores (SLATTER, 1995;

CALDATO, 1997; GELATT, 1999; THOMASSIAN, 2005 e AUER, 2006).

Já o adquirido geralmente pode ser decorrente de lesões dos músculos

palpebrais, ou secundárias ao blefaspasmo, ou ainda por lesões traumáticas nas

pálpebras e região tarsal, pode ser devido a emagrecimento crônico ou desidratação

(SLATTER, 1995; CALDATO, 1997 e THOMASSIAN, 2005 ).

4.1 CORREÇÃO CIRÚRGICA

Muitas técnicas foram sugeridas para correção dos casos de entrópio

congênito, em eqüinos; segundo SLATTER (1995) E AUER (2006) a técnica que

proporciona os resultados mais consistentes é o procedimento de Holtz-Celsus

modificado.

A técnica cirúrgica envolve a excisão de retalho de pele em forma de meia-

lua, situado 2 a 3 mm da margem palpebral. A área de pele a ser removida é

comprimida com pinça Halsted ou Crile, mediante a preensão da prega cutânea com

a ponta do instrumento. Depois que a pinça foi inicialmente aplicada à prega

cutânea, pode ser efetuados os ajustes finos nas dimensões da prega, mediante a

liberação de pele, ou a tração de mais pele nos ramos da pinça, antes do

esmagamento. As pinças hemostáticas são firmemente travadas e mantidas no lugar

por cerca de trinta segundos, antes de serem removidas. A prega cutânea é

removida com ajuda de tesoura romba. Alguns cirurgiões preferem fazer a incisão “à

mão livre” com o bisturi, para que fique reduzida a formação da cicatriz cirúrgica.

Este método tem a vantagem de causar traumatismo geralmente menor nos tecidos,

mas ocorre hemorragia abundante. Em casos graves de entrópio pode ser removida

pequena tira de músculo orbitário, num esforço de criar maior cicatriz interna, e de

reduzir a intensidade do estiramento cutâneo pós-operatório. A pele é suturada com

pontos de seda 5-0 ou 6-0 aplicados com 2 mm de afastamento, num padrão

interrompido simples. Não há necessidade da aplicação de suturas subcutâneas.

Imediatamente após a cirurgia as pálpebras devem se encontrar na posição normal

(SLATTER, 1995 e AUER, 2006).

Segundo THOMASSIAN deve-se instituir a aplicação de pomadas oftálmicas

para o tratamento de possível úlcera de córnea e antibiótico (gentamicina- 40 mg a

cada 24 horas), (2005).

FIGURA 08: Procedimento de Holtz-Celsus modificado.

Fonte: AUER, J.A., STICK, J.A. Equine surgery. 3ª Ed. 2006.

5 ECTRÓPIO

A palavra “Ectrópio” deriva do grego Ek = fora mais a palavra Trope = girar.

Genericamente, refere-se à eversão de qualquer parte do corpo, mas o uso

consagrou a expressão, quase tão-somente, à eversão da margem palpebral

(FRANÇA, 1997).

O ectrópio propicia a exposição da córnea à ação de agentes como o vento,

poeira e corpos estranhos (SLATTER, 1995; FRANÇA, 1997; GELATT, 1999;

THOMASSIAN, 2005 e AUER, 2006).

O distúrbio é comumente congênito, e em geral envolve as pálpebras

inferiores, mas pode ser em decorrência da formação de tecido cicatricial

(SLATTER, 1995).

Já segundo THOMASSIAN (2005) o ectrópio tem como causas mais

freqüentes as lesões cicatriciais ou por senilidade. O principal sinal é a epífora e a

conjuntivite, onde se pode observar a conjuntiva avermelhada, além de congestão

dos vasos da esclera e ceratite seca.

5.1 CORREÇÃO CIRÚRGICA

O tratamento cirúrgico deve ser feito através de plástica corretiva, pela

aplicação da técnica de Wharton-Jones (V-Y), (SLATTER, 1995; GELATT, 1999;

SLATTER, 2001; THOMASSIAN, 2005 e AUER, 2006).

Neste procedimento é efetuada incisão em forma de V através da pele,

ventralmente a área evertida, e ligeiramente mais larga que esta área. O retalho é

divulsionado até a região dentro de 2 a 3 mm da margem palpebral. A incisão é

ocluida desde a base até a margem. O grau de oclusão pode ser medido mediante a

movimentação superior do retalho até que a eversão seja corrigida. A incisão é

ocluida com seda 5-0 ou 6-0, em um padrão interrompido (SLATTER, 1995;

GELATT, 1999; SLATTER, 2001; THOMASSIAN, 2005 e AUER, 2006).

FIGURA 09: Técnica de Wharton-Jones.

Fonte: AUER, J.A., STICK, J.A. Equine surgery. 3ª Ed. 2006.

Em casos graves, nos quais a técnica em V-Y não irá corrigir o ectrópio pode

ser utilizada modificação da técnica de Kuhnt-Szymanowski. Esse procedimento

envolve a remoção de uma cunha da margem palpebral com a largura apropriada,

para que a margem seja encurtada adequadamente. A técnica de

compressão/incisão pode ser utilizada no delimitamento da área a ser excisada.

Assim que o tecido tenha sido removido, a conjuntiva e os tecidos tarsianos são

suturados num padrão contínuo, para que fique assegurada a aposição precisa. A

pele é suturada com seda 5-0 ou 6-0 de forma contínua, (SLATTER, 1995 e

GELATT, 1999).

6 CERATITE ULCERATIVA

Ocorre úlcera de córnea, quando estão ausentes o epitélio corneano e

quantidade variável de estroma. As pequenas úlceras agudas cicatrizam

rapidamente, mas as lesões crônicas podem cicatrizar com lentidão, ou nunca

cicatrizam (SLATTER, 1995).

As úlceras corneanas podem progredir até o envolvimento das camadas mais

profundas. No tratamento de úlcera de córnea, as etapas mais importantes

consistem na determinação e remoção das causas, prevenção da progressão e,

criação de ambiente ideal para a cicatrização (SLATTER, 1995; GELATT, 1999).

O tratamento cirúrgico é utilizado na prevenção ou tratamento da ruptura da

córnea. Independentemente da causa, todas as úlceras de córnea têm a

possibilidade de evoluir até perfurações e endoftalmite, caso não sejam tratadas

(SLATTER, 1995).

6.1 TERAPIA CIRÚRGICA

Frequentemente justifica-se o apoio mecânico para as úlceras, tarsorrafia,

retalhos de terceira pálpebra, suturas direta de descemetoceles, e retalhos

conjuntivais têm sido utilizados com êxito (SLATTER, 1995).

Nas úlceras não complicadas, o revestimento com retalho de terceira

pálpebra deve ser mantido por 7 a 10 dias, durante este período, medicações são

aplicadas na parte alta do retalho. Se surgir qualquer dos sinais como, corrimento

purulento, aquoso ou volumoso, hemorragia ou blefarospasmo, o retalho deverá ser

removido e a córnea examinada (SLATTER, 1995).

Comumente os retalhos aliviam boa parte do desconforto das lesões

corneanas, deve-se esperar pequena quantidade de corrimento proveniente de olho

ao qual foi aplicado retalho de terceira pálpebra (SLATTER, 1995 e GELATT, 1999).

Úlceras profundas podem ser tratadas com retalhos de terceira pálpebra ou

por enxertos de conjuntiva, nos casos de descemetocele, retalhos de terceira

pálpebra são insuficientes para impedir a ruptura. É preferível sua sutura direta de

descemetoceles, seguida pela aplicação de retalho conjuntival de 360°, ou de

enxerto conjuntival. Também podem ser utilizados o transplante de córnea lamelar

autógeno ou a transposição corneoescleral. Pode-se utilizar a tarsorrafia lateral

parcial temporária para sustentação adicional (SLATTER, 1995 e GELATT, 1999).

7 CERATECTOMIA SUPERFICIAL

Ceratectomia é a remoção do epitélio ou estroma da córnea. Visto que o

estroma não regenera, o número de ceratectomias sucessivas que podem ser

realizadas no mesmo local limita-se a 2 ou 3, dependendo da profundidade de cada

excisão (SLATTER, 1995).

A remoção de tecido necrótico e de debris microbianos pela ceratectomia

aumenta a velocidade de cicatrização, minimiza a formação de cicatriz e reduz o

estímulo para iridociclite (BROOKS, 2002).

A ceratectomia em grade ou superficial de úlceras superficiais com uma

agulha de calibre 20 pode aumentar a habilidade das células epiteliais em migrar e

se aderir à superfície da úlcera (BROOKS, 2002).

O uso do microscópio cirúrgico aumenta muito o nível de segurança e os

resultados deste procedimento (SLATTER, 1995).

A ceratectomia superficial pode ser completa ou parcial, no caso de completa,

a área a ser removida pode ser delineada com trépano de córnea regulado para

profundidade pré-determinada de 0,3 a 0,4 mm, ou mediante a divisão da córnea em

segmentos. O estroma é removido em folhetos até o limbo, onde será seccionado.

No pós-operatório, a córnea é corada com fluoresceína para que seja avaliada a

epitelização. Pode ser construído retalho de terceira pálpebra após ceratectomia,

que será removido após 7 a 10 dias (SLATTER, 1995).

8 ENXERTOS CONJUNTIVAIS

Os enxertos ou retalhos conjuntivais são usados frequentemente na

oftalmologia eqüina para conduta clínica de úlceras corneanas e descemetoceles e

para úlceras corneanas perfuradas com prolapso de íris. Estes enxertos apóiam

satisfatoriamente à córnea e fornecem vasos e fibroblastos que ajudam na

cicatrização da córnea (SLATTER, 1995 e BROOKS, 2002).

Os enxertos pediculados conjuntivais são preparados sob anestesia geral,

com o olho posicionado com a direção do olhar voltada perpendicularmente para

cima. Há necessidade de uma ampliação por meio de lupa, ou de um microscópio

cirúrgico. Suturas de fixação com fio de seda ou náilon 5-0 ou 6-0 ou micro-

hemostáticas, são aplicadas para a estabilização do globo (SLATTER, 1995).

É preparado um leito receptor na córnea, mediante o debridamento da úlcera.

O epitélio é raspado da úlcera e também de uma zona com a largura de 0,5 a 1,0

mm, com lamina n° 64 de Beaver. O tecido desvitaliz ado e frouxo e restos teciduais

presentes na úlcera são também removidos, caso este procedimento possa ser

efetuado sem que haja risco de perfuração (SLATTER, 1995).

O pedículo é preparado a partir da conjuntiva bulbar dorsolateral ou

dorsomedial. A dissecção tem início com pequena incisão conjuntival perpendicular

ao limbo. Apenas a delgada conjuntiva transparente é liberada pela divulsão. Este

procedimento é de mais fácil realização, quando a dissecção não é iniciada

imediatamente no limbo, onde a conjuntiva esta mais firmemente fixada. A margem

da conjuntiva divulcionada é erguida por pinça de córnea denteada, e dois cortes

paralelos são efetuados com tesoura, para que seja liberada uma tira de conjuntiva

ao longo do limbo. A tira terá a mesma largura da zona despitelizada em torno da

úlcera, embora com não menos de 3 a 4 mm (SLATTER, 1995).

A ferida conjuntival é ocluida por sutura 7-0 de poliglactina 910, começando

na base do pedículo, para a aposição desta parte ao limbo. O enxerto pediculado é

distendido sobre a córnea, suas extremidades podem ser aparadas ligeiramente,

para que o enxerto encaixe ao contorno da úlcera (SLATTER, 1995).

O enxerto é suturado ao firme estroma da córnea em torno do leito receptor

por meio de pontos simples interrompidos de poliglactina 910 (7-0) começando

ventralmente e avançando lateral e medialmente em torno da úlcera (SLATTER,

1995).

Uma tarsorrafia lateral temporária parcial é realizada com fio de náilon 4-0 e

3-0, para oclusão dos dois terços laterais da abertura palpebral. Os cuidados pós-

operatórios devem consistir da limpeza do olho com compressas úmidas aquecidas.

Os medicamentos indicados no pós-cirúrgico são: soluções antibióticas tópicas,

solução tópica de atropina, e possivelmente antibióticos sistêmicos e medicamentos

antiinflamatórios. Depois de uma a três semanas quando o enxerto aderiu

firmemente e a córnea está negativa para a fluoresceína, a terapia tópica por

corticosteróides é acrescentada ao regime, para que ocorra redução da

neovalcularização e formação de cicatrizes na córnea (SLATTER, 1995).

O enxerto é deixado no lugar durante alguns meses, para que fique

possibilitado o tratamento da ceratite por agentes corticosteróides sobre a proteção

do enxerto vascularizado. O pedículo pode ser removido sob anestesia tópica com a

ajuda de pequena tesoura. Uma cicatriz e resto do enxerto permanecerão no local

da úlcera, entretanto estes tecidos sofrerão adelgaçamento com o passar do tempo

(SLATTER, 1995).

9 CATARATA

As cataratas são opacidades da lente e é um defeito ocular congênito comum

em potros. Os cavalos manifestam graus variáveis de cegueira com a maturidade da

catarata, opacidades lenticulares incipientes muito pequenas são comuns e não

estão associadas à cegueira. Conforme a catarata se torne mais madura e mais

opaca, o grau de cegueira aumenta. O deslocamento ou luxação da lente também

pode correr com a catarata (BROOKS, 2002, p.94).

Segundo THOMASSIAN as cataratas são divididas em congênitas, juvenil,

senil, traumática ou decorrente de outros processos sistêmicos (2005).

O mecanismo básico da catarata é uma redução nas proteínas lenticulares

solúveis, falência da bomba de sódio das células epiteliais da lente, uma redução na

glutationa lenticular e tumefação das fibras lenticulares e ruptura da membrana da

fibra (BROOKS, 2002).

O tratamento basicamente consiste no uso de corticosteróides subconjuntivais

e colírios clarificantes, porem o tratamento médico só fornece algum resultado

favorável nos casos iniciais ou quando não existe envolvimento hereditário, além de

não se ter comprovação científica sobre sua eficácia (THOMASSIAN, 2005).

Cataratas senis, ou em fase de degeneração e atrofia do cristalino devem ser

tratadas cirurgicamente extraindo-se o cristalino por técnica de fragmentação ou

fracoemulsificação. O animal melhora a visão e terá apenas dificuldade de

adaptação visual (THOMASSIAN, 2005).

10 ENUCLEAÇÂO

Enucleação é a remoção do globo e da 3ª pálpebra. A enucleação está

indicada para casos de neoplasia inter-ocular, traumatismo ocular perfurante grave,

endoftalmite ou panoftalmite incontrolável, glaucoma intratável, ou quando outros

métodos terapêuticos fracassaram (SLATTER, 1995; GELATT, 1999 e AUER, 2006).

10.1 ENUCLEAÇÂO SUBCONJUNTIVAL LATERAL

Uma cantotomia lateral é realizada, numa extensão de 1 a 2 cm, para que

seja obtida a exposição mais adequada. A conjuntiva é pinçada próximo ao limbo

com pinça dente-de-rato, sendo em seguida efetuada a incisão perilímbica de 360º.

A conjuntiva fáscia, e músculos extras-oculares são elevados da esclerótica com

tesoura de Metzenbaum, até o nervo óptico. Se possível à glândula lacrimal que é

encontrada dorsolateralmente sobre o globo, deve ser deixada aderida a este órgão

(SLATTER, 1995; GELATT, 1999 e AUER, 2006).

O nervo óptico é seccionado com tesoura, mas a tração excessiva sobre ele

pode lesionar o quiasma óptico e prejudicar a visão no olho contralateral. A ligadura

pode ser aplicada em torno do nervo óptico e nos vasos ciliares posteriores, longos e

curtos. A hemorragia na órbita é controlada por meio de ligaduras ou de pressão

com esponjas cirúrgicas. A terceira pálpebra é pinçada e removida. As pálpebras

são removidas inteiramente nesse estágio mais avançado, para que o sangue não

mascare a dissecção anterior, efetuada durante a remoção do globo (SLATTER,

1995; GELATT, 1999 e AUER, 2006).

As esponjas cirúrgicas são removidas, e a conjuntiva e a cápsula de Tenon

são ocluídas por pontos interrompidos simples, com material de sutura 4-0

absorvível, qualquer hemorragia subseqüente será contida pela conjuntiva suturada.

As incisões palpebrais são ocluídas com suturas interronpidas simples com fio 4-0

de seda, nylon ou poliglactina 910 (SLATTER, 1995; GELATT, 1999 e AUER, 2006).

Com a enucleação, o tecido adiposo periobitários e os músculos extra-

oculares são preservados, tornando mais estético o defeito após a cicatrização, em

comparação com o aspecto resultante de exenteração (SLATTER, 1995; GELATT,

1999 e AUER, 2006).

FIGURA 10: Técnica cirúrgica de enucleação.

Fonte: AUER, J.A., STICK, J.A. Equine surgery. 3ª Ed. 2006.

11. CONCLUSÃO

Desta forma conclui-se que as técnicas cirúrgicas em eqüinos são

extremamente complexas, mas tem grande valor terapêutico, e em muitos casos à

única alternativa é a cirurgia. Observa-se claramente que para ser praticada é

necessária vasta experiência e muito conhecimento teórico. Assim sendo acredito

que o medico veterinário clínico que reconhece sua inexperiência nesta área deve

requisitar os serviços de um especialista e este deverá indicará o melhor tratamento

possível.

12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- AUER, J.A., STICK, J.A. Equine surgery. 3ª ed. Missouri: Saunders. 2006.

1390 pg.

- BROOKS, D. E., Oftalmologia para veterinários de eqüinos. Wyoming: Roca,

2002.

- CALDATO, R., entrópio. In: Cirurgia plástica ocular. 1ª ed. São Paulo: Roca,

1997.

- FRANÇA, V. P., Ectrópio. In: SOARES, E. J. Cirurgia plástica ocular. 1ª ed.

São Paulo: Roca, 1997.

- GELATT, K. N., Veterinary ophthalmology, 3ª ed. Maryland: Lippincoott

Williams e Wilkins, 1999.

- SLATTER, D., Cirurgia de pequenos animais, manual de, 2ª ed.

Pennsylvania: Saunders,1995.

- SLATTER, D. HAKANSON, N. Córnea e esclerótica. In: SLATTER, D. Manual

de cirurgia de pequenos animais, 2ª ed. Pennsylvania: Saunders, 1995.

- SLATTER, D. Fundamentals of veterinary ophthalmology. Pennsylvania:

Saunders, 2001.

- THOMASSIAN, A. Enfermidades dos cavalos. 4ª ed. São Paulo: Varela,

2005.

- PATRICK, M.T., Tarsorrhaphy: applications in a cornea service,

http://bases.bireme.br/ acesso em 19 out. 2006.

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde

Curso de Medicina Veterinária

Gustavo Grether de Souza

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.)

Curitiba 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde

Curso de Medicina Veterinária

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.)

Curitiba 2006

Reitor Profº Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitor Administrativo Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitora Acadêmica Profª Carmen Luiza da Silva Pró-Reitor de Planejamento Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos

Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Profª Elizabeth Tereza Brunini Sbardelini Secretário Geral Profº João Henrique Ribas de Lima Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Sa úde Profº João Henrique Faryniuk Coordenador do Curso de Medicina Veterinária Profª Neide Mariko Tanaka Coordenador de Estágio Curricular do Curso de Medic ina Veterinária Profª Elza Maria Ciffoni Metodologia Científica Profª Elza Maria Ciffoni

CAMPUS CHAMPAGNAT Rua. Marcelino Champagnat, 505 - Mercês CEP 80.215-090 – Curitiba – PR Fone: (41) 3333-1795

ii

A P R E S E N T A Ç Ã O

Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao Curso de

Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da

Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de

Médico Veterinário é composto de um Relatório de Estágio , no qual são descritas

as atividades realizadas durante o período de 08/08/2006 a 04/10/2006, período este

em que estive na Empresa Clinihorse - Jockey Clube do Paraná , localizada no

município de Curitiba-PR cumprindo estágio curricular e também de uma

Monografia que versa sobre o tema: “Técnicas cirúrgicas oftalmológicas em

eqüinos”.

iii

Aos meus pais e familiares pela ajuda, compreensão, amor, paciência e

por me dar esse voto de confiança.

A todos os novos amigos e amigas nessa nova cidade, alguns em especial.

Aos Drs. Inácio Afonso Kroetz e Marlom Siqueira pelo apoio e incentivo.

E a todos que me ajudaram nos últimos cinco anos.

DEDICO

iv

AGRADECIMENTOS

A todos da Clinihorse, C.A.R.E. e demais pessoas do Jockey Clube.

Aos professores, onde muitas vezes me espelhei alguns em especial, que brigaram

e deram incentivos nos momentos certos.

Aos animais que por muitas vezes me estimularam a aprender e a estudar mais.

v

Aqueles que se enamoram somente da prática, sem cuidar da teoria, ou

melhor, dizendo, da ciência, são como o piloto que embarca sem timão nem

bússola. A prática deve alicerçar-se sobre uma boa teoria, à qual serve de guia

a perspectiva; e não entrando por esta porta, nunca se poderá fazer coisa

perfeita nem na pintura, nem em nenhuma outra profissão.

Leonardo Da Vinci

vi

Gustavo Grether de Souza

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR

Relatório de Estágio Curricular apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário. Professor Orientador: Dr. Antonio Carlos Nascimento Orientador Profissional: Dr. Marlon Carmelo Jardim Siqueira

Curitiba Outubro 2006

SUMÁRIO

LISTA DE

TABELAS ...............................................................................................

iii

LISTA DE

FIGURAS...............................................................................................

iv

RESUMO................................................................................................................. v

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 1

2 ATIVIDADES GERAIS DO ESTÁGIO ............................................................. 2

3 CASOS................................................................................................................ 5

3.1.CASO CLÍNICO I – CONTROLE FOLICULAR.................................................. 5

3.1.1 Revisão da literatura....................................................................................... 5

3.1.2 Discussão....................................................................................................... 10

3.1.3 Conclusão....................................................................................................... 12

3.2 CASO CLÍNICO II - CRIPTORQUIDISMO................................................... 13

3.2.1 Revisão da literatura....................................................................................... 13

3.2.2 Técnica cirúrgica........................................................................................... 15

3.2.3 Discussão..................................................................................................... 16

3.2.4 Conclusão...................................................................................................... 19

3.3 CASO CLÍNICO III – LAPAROTOMIA EXPLORATÓRIA................................. 19

3.3.1 Revisão da literatura....................................................................................... 19

3.3.2 Discussão....................................................................................................... 22

3.3.3 Conclusão....................................................................................................... 26

3.4 CASO CLÍNICO IV – ÚLCERA DE CÓRNEA.................................................. 26

3.4.1 Revisão da literatura....................................................................................... 26

3.4.2 Sinais clínicos e diagnóstico.............................,............................................. 27

3.4.3 Terapia........................................................................................................... 28

3.4.4 Discussão.............................................................................................. 31

3.4.5 Conclusão.................................................................................. 35

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS .................................................................... 36

vi

LISTA DE TABELAS TABELA 01: NÚMERO DE CASOS VISTOS..........................................................

2

TABELA 02 – NÚMERO DE CASOS EM CLÍNICA MÉDICA.................................. 2

TABELA 03 – NÚMERO DE CASOS EM CLÍNICA CIRÚRGICA...........................

3

TABELA 04 – NÚMERO DE CASOS EM RADIOLOGIA........................................

3

TABELA 05 – NÚMERO DE CASOS EM PATOLOGIA..........................................

4

TABELA 06 – NÚMERO DE CASOS EM REPRODUÇÃO..................................... 4

vii

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: FOLÍCULO DE 35 mm......................................................................................................

10

FIGURA 2: EMBRIÃO COM APROXIMADAMENTE 20 DIAS................................

12

FIGURA 3: CRIPTORQUIDA EM DECÚBITO DORSAL.........................................

16

FIGURA 4: DISSECÇÃO......................................................................................... 17

FIGURA 5: LOCALIZAÇÃO DO TESTÍCULO......................................................... 17

FIGURA 6: LIGADURA DO CORDÃO.....................................................................

18

FIGURA 7: EMASCULADOR..................................................................................

18

FIGURA 8: LIBERAÇÃO DO CORDÃO..................................................................

19

FIGURA 9: POTRANCA APÓS PRIMEIRA CIRURGIA..........................................

23

FIGURA 10: SUCÇÃO DO GÁS NA SEGUNDA CIRURGIA.................................. .

24

FIGURA 11: ENTEROTOMIA..................................................................................

24

FIGURA 12: FÍSTULA.............................................................................................

25

FIGURA 13: NECRÓPSIA.......................................................................................

25

FIGURA 14: INÍCIO DO TRATAMENTO.................................................................

32

FIGURA 15: TESTE DA FLUORESCEÍNA.............................................................

33

FIGURA 16: SEM BLEFAROSPASMO APÓS 5 DIAS DE TRATAMENTO............

34

FIGURA 17: FIM DO TRATAMENTO......................................................................

34

viii

RESUMO

O estágio curricular foi realizado na Clinihorse localizada no Jockey

Clube do Paraná, grupo 33 de propriedade do Dr.Marlon Carmelo Jardim

Siqueira, Dra. Simone Harder, Dr. Mauricio Pontarolo e Dr. Alessandro

Mercadante, algumas das atividades foram realizadas nos haras de criação de

eqüinos na região metropolitana de Curitiba e também nas dependências do

C.A.R.E. Centro Avançado de Reabilitação Eqüina, de propriedade do Dr. José

Ronaldo Garotti e Dr. Ricardo de Bem e Freitas.

Assim sendo o estágio abrangeu como principais áreas; Clínica Médica,

Clínica Cirúrgica e Reprodução, em eqüinos da raça Puro Sangue Inglês sob

orientação do Dr. Marlon Carmelo Jardim Siqueira.

Foram desenvolvidas diversas atividades durante o estágio, com objetivo

de obter conhecimento técnico e prático em diversas áreas, entre estas cito

como principais, a Clínica Cirúrgica e a Reprodução, mas durante este período

foram acompanhados diversos casos nas áreas de Radiologia, Endoscopia,

Laboratório Clínico, Clínica médica e Manejo de Haras.

Palavras-chave: Reprodução Animal – Clínica Cirúrgica – Eqüinos

ix

1 - INTRODUÇÂO

A clínica de eqüinos vem a cada dia exigindo mais e mais dos profissionais

a ela ligados, mais conhecimento técnico, prático, e experiência, contudo esta área

muitas vezes trata os animais como mercadorias e a sua criação como uma

fábrica, esquecendo que são seres vivos. Cabe aí a posição do médico veterinário

em promover o bem estar animal e saber que esta área não é só um “hobby”, e

sim uma indústria financeira motivada por altos valores. Assim sendo os

proprietários e criadores de cavalos buscam os profissionais mais qualificados em

diversas áreas do mercado.

No estágio pude observar que alguns proprietários tratam os cavalos P.S.I.

como investimentos tentando assim obter o máximo de lucro possível com o

mínimo de custo o que, obviamente não é errado, mas incerto. Felizmente tive a

oportunidade de observar que muitos Médicos Veterinários tem consciência e

tratam dos cavalos como eles merecem e que nessa área às vezes bons

veterinários não são bons profissionais, hoje o mercado busca o melhor.

O presente trabalho tem por objetivo descrever minhas experiências

durante o período de oito de agosto de 2006 a quatro de outubro de 2006, nas

dependências do jockey clube e dos haras totalizando 320 horas, onde foram

realizadas atividades nas áreas de Clínica Médica, Reprodução e Cirurgia entre

outras.

Tive o privilégio de ter como orientador o Médico Veterinário Marlon

Carmelo Jardim Siqueira e acompanhamento dos Médicos Veterinários Simone

Harder, Alessandro Mercadante e Mauricio Pontarolo entre outros.

Tenho satisfação em apresentar este trabalho à Universidade Tuiuti do

Paraná.

2 - ATIVIDADES GERAIS DO ESTÁGIO

Constam nas tabelas abaixo todas as atividades desempenhadas no

estágio:

TABELA 01: NÚMERO DE CASOS ACOMPANHADOS

ESPECIALIDADES NÚMERO DE CASOS

Clínica médica 24

Clínica Cirúrgica 31

Radiologia 37

Patologia 03

Reprodução 120

Total 215

TABELA 02 – NÚMERO DE CASOS EM CLÍNICA MÉDICA.

CLÍNICA MÉDICA NÚMERO DE CASOS

Fratura 05

Síndrome cólica 02

Pneumonia 02

Claudicação 05

Ulcera de córnea 03

Infiltração 03

Eutanásia 02

Infiltração de coluna 02

Total 24

TABELA 03 – NÚMERO DE CASOS EM CLÍNICA CIRÚRGICA.

CLÍNICA CIRÚRGICA NÚMERO DE CASOS

Vídeoartroscopia carpiana 02

Neurectomia 02

Orquiectomia 02

Vulvoplastias 20

Laparotomia exploratória 04

Enterotomia 01

Total 31

TABELA 04 – NÚMERO DE CASOS EM RADIOLOGIA.

RADIOLOGIA NÚMERO DE CASOS

Articulação Metacarpo-Falangeana 10

Articulação carpeana 13

Segundo terceiro e quarto

metacarpianos

11

Vértebras cervicais 01

Articulação fêmur-tíbio-patelar 03

Total 38

TABELA 05 – NÚMERO DE CASOS EM PATOLOGIA.

PATOLOGIA (NECRÓPSIA) NÚMERO DE CASOS

Torção de tronco mesentério 01

Peritonite 01

Fratura 01

Total 03

TABELA 06 – NÚMERO DE CASOS EM REPRODUÇÃO.

REPRODUÇÃO NÚMERO DE CASOS

Controle folicular (palpação) 100

Monta assistida 20

Total 120

3 – CASOS

3.1 - CASO CLÍNICO I - CONTROLE FOLICULAR

3.1.1 – Revisão da literatura

Fisiologia

Os hormônios sintetizados e secretados pelas glândulas endócrinas são

transportados para a circulação sangüínea para estimular, inibir ou interagir

com a atividade funcional ou órgão-alvo específico produzindo grande variação

de respostas fisiológicas (CUNNINGHAM, 1999).

Os hormônios da reprodução são também classificados em dois grupos,

de acordo com seu modo de ação. Hormônios primários que controlam os

vários processos reprodutivos e hormônios metabólicos, que influem

indiretamente na reprodução (HAFEZ, 1995).

Os hormônios primários estão envolvidos em vários aspectos da

reprodução, da espermatogênese, da ovulação, do comportamento sexual, da

fertilização, da implantação, da manutenção da gestação, do parto, da lactação

e do comportamento maternal. Os hormônios metabólicos são necessários

para o bem estar geral, estado metabólico, e crescimento do animal, permitem

o efeito pleno dos hormônios primários da reprodução (HAFEZ, 1995).

Os hormônios primários da reprodução baseados em sua estrutura

química, são divididos em três grupos; proteínas, esteróides e ácidos graxos

Os hormônios secundários indiretamente relacionados à reprodução são

secretados pela pituitária, tireóide, paratireóide, córtex da adrenal, útero e

pâncreas. (CUNNINGHAM, 1999).

O despertar da puberdade é regulado pela maturidade do eixo adeno-

hipófise hipotalâmico, com a aproximação da puberdade, a freqüência de pico

de hormônio luteinizante (LH), aumenta, seguida por um aumento transitório da

onda pré - ovulatória de LH, associada com estro comportamental durante este

período pré-púbere (HAFEZ, 1995).

A síntese, armazenamento e liberação de hormônios hipotalâmicos são

regulados por hormônios pituitários e esteróides através de dois mecanismos

retroativos; uma alça longa e uma alça curta. O mecanismo retroativo envolve

interação entre as gônadas, pituitária, e o hipotálamo. No sistema retroativo

curto, os níveis de gonadotrofinas pituitárias podem influenciar a atividade

secretora dos hormônios liberadores sem mediação das gônadas dependendo

de sua concentração no sangue, os hormônios esteróides podem exercer um

estímulo positivo ou retroativo inibidor. A retroação positiva resulta quando um

estrógeno ou uma progestina estimula a liberação de uma gonadotrofina, como

o LH. A retroação negativa resulta quando altos níveis de progesterona

previnem a liberação de uma gonadotrofina (HAFEZ, 1995, MEIRA, 2006).

Na retroalimentação estimulatória (+), um nível crescente de hormônios

provoca um aumento subseqüente de outros hormônios. Por exemplo, níveis

crescentes de estrógeno durante a fase pré-ovulatória acionam uma abrupta

liberação de LH hipofisário. Estes dois eventos são intimamente sincronizados,

porque uma onda de LH é necessária para a ruptura do folículo ovariano

(HAFEZ, 1995, MEIRA, 2006).

O mecanismo inibidor (-) envolve inter-relações recíprocas com duas ou

mais glândulas e órgão-alvo. Por exemplo, à medida que o ovário é estimulado,

a secreção de estrógenos aumenta, e o nível de hormônio folículo estimulante

(FSH) diminui. Inclusive, quando os hormônios pituitários atingem certo nível,

alguns núcleos hipotalâmicos respondem diminuindo a produção de seu

hormônio liberador particular. Os níveis diminuídos de hormônios liberadores

provocam um declíneo na secreção de hormônios hipofisários tróficos e,

subsequencialmente, um nível diminuído de função glandular alvo (MEIRA,

2006).

Cada hormônio possui um efeito seletivo (receptores) sobre um ou mais

órgãos-alvo. Este fenômeno é atingido através de dois mecanismos;

1- Cada órgão alvo possui um método específico de ligar-se a um

hormônio não encontrado em outro tecido.

2- Os órgãos-alvo possuem certas vias metabólicas hormonais capazes

de responder às vias metabólicas hormonais não participantes de

tecidos não assumidos como alvos.

Hipófise

A glândula hipófise é composta da adeno-hipófise, da neuro-hipófise da

pars intermédia e da pars tuberalis (HAFEZ, 1995).

A neuro-hipófise tem terminações celulares cujos corpos se originam no

hipotálamo e que secretam ocitocina e vasopressina, estes dois hormônios são

sintetizados em corpos celulares no hipotálamo e carreados por fluxo axónico

para o lobo posterior, onde são liberadas (HAFEZ, 1995).

Os principais efeitos da oxitocina são sobre a contração de músculos

lisos (glândula mamária e útero). A hipófise anterior produz os seguintes

hormônios de interesse reprodutivo: prolactina, hormônio folículo estimulante,

hormônio luteinizante e corticotrofina (HAFEZ, 1995).

O sistema portal hipotalâmico-hipofisário é a via vascular que transporta

os hormônios hipotalâmicos para a hipófise anterior e para todo o corpo. O

FSH estimula o crescimento e a maturação do folículo ovariano. Os níveis

basais de LH agem em conjunto com FSH para induzir a secreção pelo grande

folículo ovariano. A onda pré-ovulatória de LH é responsável pela ruptura da

parede folicular e da ovulação (HAFEZ, 1995).

A prolactina é denominada como hormônio gonadotrófico por causa de

suas propriedades luteotróficas (manutenção do corpo lúteo). A prolactina age

no sistema nervoso central para induzir o comportamento maternal (HAFEZ,

1995).

Os hormônios da hipófise posterior são transportados por axônios para

posições terminais na neuro-hipófise (hipófise posterior) para armazenamento.

Os hormônios antidiuréticos (ADH) e ocitocina são neurosecreções (HAFEZ,

1995).

O hipotálamo que ocupa apenas uma pequena parte do cérebro consiste

da região do terceiro ventrículo, estendendo-se do quiasma para os corpos

mamilares (HAFEZ, 1995).

Importante centro neuroendócrino, libera vários hormônios, por exemplo,

o hormônio liberador de gonadotrofinas hipotalámicas (GNRH). Regula vários

processos automáticos vitais, como apetite, os batimentos cardíacos, o controle

da temperatura, o comportamento sexual e a atividade neuroendócrina. Assim,

o hipotálamo age como um centro processador e integrador de informações

recebidas e as traduz em sintomas neuro-hormônais que envocam respostas

fisiológicas (CUNNINGHAM, 1999).

A gonadotrofina coriônica eqüina (ECG) foi descoberta quando o sangue

de éguas prenhas provocou maturidade sexual em ratas imaturas (HAFEZ,

1995).

Esta gonadotrofina placentária é secretada pelo útero eqüino. As

concavidades endometriais são formadas ao redor de 40 dias de gestação e

persistem até o 85º dia de prenhez. A secreção de ECG estimula o

desenvolvimento de folículos ovarianos, alguns destes folículos ovulam, porém

a maioria forma um folículo luteinizado, devido à ação semelhante à do LH.

Estes progestágenos são extremamente importantes para a manutenção da

gestação na égua (HAFEZ, 1995).

Ciclo Estral

A égua apresenta um ciclo de 21-22 dias, sendo 15 dias de diestro

(progesterona) e 6-7 dias de estro (estrógeno). Geralmente, a ovulação ocorre

24-36 horas antes do final do cio, portanto, em uma égua com ciclo regular e

devidamente monitorada espera-se que a ovulação ocorra no quinto dia de cio.

A égua geralmente apresenta um cio logo após o parto (7 dias), ao qual

denominamos cio do potro (HAFEZ, 1995).

FIGURA 1: FOLÍCULO DE 35 mm.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em set. 2006.

3.1.2 – Caso Clínico

A maneira mais eficiente para se determinar o melhor momento para

cobertura, consiste no acompanhamento da dinâmica folicular através de

palpação retal e ultra-sonografia.

É necessário um bom conhecimento da anatomia do aparelho genital da

égua. Pela palpação estimamos o tamanho do folículo, bem como sua

consistência. Quanto maior e mais flutuante (macio), mais próxima está à

ovulação.

A consistência é classificada por uma escala ordinal de 1 a 5, sendo 5 um

folículo pré-ovulatório (muito macio). O folículo pode ultrapassar 50 mm de

diâmetro, sendo que estaria sujeito a ovulação a partir de 35 mm. Alguns

autores referem-se ao tamanho do folículo por comparação (ervilha, avelã, noz,

ovos de galinha, pato, ganso). O ultra-som permite ainda avaliar o formato do

folículo, bem como o estado que se encontra o útero (HAFEZ, 1995).

São fármacos comumente utilizados no controle folicular:

Luteolíticos (PgF2α): Destruição de Corpo Lúteo. Administrar 5 mg de

dinoprost (1 ml) por via intramuscular.

Gonadotrofina Coriônica Humana (HCG): Estimular ovulação (LH).

1500 U.I. – 3000 U.I. i.m. ou i.v. 24 horas antes do acasalamento.

Gnrh: Estimular secreção de FSH e LH.

Ocitocina: Promover contração uterina. Éguas. De 2 a 5 ml, pela via

intramuscular ou subcutânea; de 1,5 a 4 ml pela via intravenosa; ou de 1,5 a 3

ml pela via epidural.

FIGURA 2: EMBRIÃO COM APROXIMADAMENTE 20 DIAS.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em set. 2006.

3.1.3 – Conclusão

O controle folicular tem por objetivo maximizar a estação de monta, que

no Puro Sangue Inglês no Brasil vai de primeiro de julho à trinta e um de

dezembro. Conclui-se também que o completo entendimento da fisiologia se

faz necessário e o uso do ultra-som é essencial para o melhor aproveitamento

reprodutivo.

3.2 – CASO CLÍNICO II – CRIPTORQUIDISMO

3.2.1 – Revisão da literatura

O sistema reprodutivo masculino é constituído de diversos órgãos

peculiares que atuam em conjunto para produzir espermatozóides e liberá-los

no sistema reprodutivo da fêmea. Esse esforço conjunto envolve tanto o

sistema neuroendócrino quanto o genital. Os órgãos genitais consistem em

dois testículos, cada qual suspenso dentro do escroto por um cordão

espermático e pelo músculo cremáster externo, dois epidídimos, dois ductos

deferentes, glândulas sexuais acessórias e o pênis. As glândulas sexuais

acessórias incluem um par de vesículas seminais, uma próstata e um par de

glândulas bulbouretrais (HAFEZ, 1995).

O escroto junto com os músculos cremáster e a anatomia vascular das

artérias e veias testiculares protegem e termoregulam os testículos. O escroto,

presente em todos os animais domésticos, é essencialmente uma bolsa com

uma camada fibroelástica subcutânea e muscular denominada túnica Dartus. A

disposição vascular da artéria testicular circundada pelo plexo das veias

testiculares (plexo pampiniforme), proporciona um mecanismo de troca de calor

em contra corrente, que é vital para a termorregulação testicular. A contração e

o relaxamento da túnica Dartus e dos músculos Cremáster ocorrem com

alterações na temperatura do ambiente bem como em resposta a outros

estímulos táteis. O escroto do eqüino contém numerosas glândulas sudoríparas

que contribuem ainda mais para o mecanismo termorregulador (HAFEZ, 1995).

O testículo é o órgão mais importante do sistema reprodutor masculino.

Contudo, é preciso lembrar que todas as funções testiculares são

profundamente influenciadas pelo sistema neuroendócrino. O testículo é

responsável pela esteroidogênes e principalmente pela produção de

andrógenos, bem como pela geração de células germinativas haplóides via

espermatogênese. Essas duas funções processam-se nas células de Leydig e

nos túbulos seminíferos respectivamente (HAFEZ, 1995).

Segundo CUNNINGHAM (1999), no eqüino a descida dos testículos

para o escroto normalmente ocorre entre o 9º e o 11º mês de gestação, mas

podem ocorrer anormalmente aos 2 ou 3 anos de idade. Já segundo

NASCIMENTO (2003)., “a descida dos testículos ocorre um mês antes do

nascimento”.

A criptorquidia consiste na falha de descida de um ou de ambos os

testículos para a bolsa escrotal. Ocasionalmente, os potros ao nascerem não

apresentam os testículos na bolsa, os que os situam como animais

predispostos, quando atingirem a idade de dois a três anos, a serem

considerados criptorquídio abdominal ou inguinal, devido à localização anormal

dos testículos (HAFEZ, 1995).

Existem fortes indícios de que a interrupção ou ausência de migração

dos testículos para o interior da bolsa escrotal seja por predisposição

hereditária, supostamente dominante no cavalo (HAFEZ, 1995).

O criptorquidismo pode ser unilateral ou bilateral, com o testículo

localizado na cavidade abdominal ou no trajeto do canal inguinal. Mas

raramente podemos ter cavalos com ausência de um ou de ambos os

testículos em razão de disgenesia testicular. Em geral, a criptorquidia é

unilateral, prevalecendo a do esquerdo (HAFEZ, 1995).

Segundo AUER e STICK (2006) um estudo em 350 animais

criptorquidas 75% deles tem alteração no testículo esquerdo e apenas 9% tem

retenção bilateral.

O testículo intra-abdominal não produz espermatozóides viáveis em

razão da temperatura do abdome ser de 0,5 a 4,0 graus acima da temperatura

intra-escrotal ideal, porém as células espermatogênicas se mantêm ativas e

secretam testosterona (HAFEZ, 1995).

Segundo THOMASSIAN (2005) o tratamento mais eficaz é o cirúrgico

realizando-se a orquiectomia pelas vias inguinal, pré-inguinal, pré-púbica, para-

mediana, para-prepucial, pela fossa para-lombar ou por cirurgia

transendoscópica, segundo o autor, tratamentos a base de hormônios não

produzem os mesmos efeitos que na terapia humana.

3.2.2 – Técnica cirúrgica

Uma incisão na pele de 12 a 15 centímetros é feita sobre o anel inguinal

externo e continua através da fáscia superficial, abandona-se a dissecção fina

em favor da dissecção romba com as pontas dos dedos para separar a fáscia

inguinal subcutânea e expor o anel inguinal externo, até que o anel vaginal seja

localizado pelo dedo. Na criptorquidia inguinal, o testículo contido no interior da

túnica vaginal comum é aberta e o testículo retirado (TURNER, 2002).

A esta altura o testículo é identificado e emasculado. Em algumas

circunstancias o testículo não pode ser retraído o suficiente para permitir a

emasculação; por esta razão o cordão é ligado. Assim sendo, é promovida

sutura de pele continua ou simples com fio absorvível. Se houver ruptura do

anel inguinal externo ele deverá ser fechado com sutura simples interrompida

com fio absorvível (TURNER, 2002).

A conduta no pós-operatório indica a imunização contra tétano,

antibiótico terapia e analgesia (TURNER, 2002).

3.2.3 – Discussão

Animal eqüino 2,5 anos, macho apresentava claudicação acentuada no

membro posterior direito, foi verificado no exame clínico e relatado pelo gerente

da cocheira que o animal não possuía o testículo direito na bolsa escrotal.

O tratamento indicado foi o cirúrgico. Na semana seguinte o animal foi

submetido à cirurgia no hospital do C.A.R.E.. A técnica cirúrgica foi procedida e

obteve sucesso na localização e remoção do testículo, no mesmo dia o animal

voltou à cocheira e os sinais desapareceram.

FIGURA 3: CRIPTORQUIDA EM DECÚBITO DORSAL.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em ago. 2006.

FIGURA 4: DISSECÇÃO.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em ago. 2006.

FIGURA 5: LOCALIZAÇÃO DO TESTÍULO.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em ago. 2006.

FIGURA 6: LIGADURA DO CORDÃO.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em ago. 2006.

FIGURA 7: EMASCULADOR.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em ago. 2006.

FIGURA 8: LIBERAÇÃO DO CORDÃO.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em ago. 2006.

3.2.4 – Conclusão do caso clínico

Segundo literatura consultada, todos os procedimentos realizados neste

caso estão de acordo e tiveram sucesso no tratamento. Conclui-se assim que a

criptorquidia é uma alteração comum nos eqüinos P.S.I. e por isso devem-se

tomar as medidas cabíveis para solucioná-la.

3.3 – CASO CLÍNICO III - LAPAROTOMIA EXPLORATÓRIA

3.3.1 – Revisão da literatura

A técnica cirúrgica indica a incisão acima do umbigo e estendendo-se

cranialmente, seu comprimento depende do procedimento, mas tem

geralmente 30 a 40 cm. Tal incisão é aplicada nos pacientes com distúrbios

abdominais agudos. A incisão de pele prolonga-se através de uma camada de

tecido subcutâneo, que é delgado na maioria dos animais. Depois que a

hemorragia for controlada a linha Alba é incisada. Segundo Auer e Stick, “a

parte cranial da linha Alba mede 0.3mm e a parte caudal podem chegar a medir

1 cm.” (2006, p. 393). Uma leve divergência partindo da linha mediana resultará

na penetração do músculo reto do abdome, particularmente na porção cranial

da incisão, mas este evento normalmente não traz conseqüências. A incisão da

linha Alba revela o tecido adiposo retroperitoneal profundamente. O peritônio é

reparado e aberto com tesouras de Metzenbaum, e a incisão tanto poderá se

estender com as tesouras como poderá ser ampliada pela mão. Qualquer alça

intestinal exteriorizada deverá ser mantida úmida enquanto se faz a exploração

sistemática do abdome (AUER, 2006).

Segundo Auer e Stick (2006), “a incisão da linha Alba é mais comumente

utilizada para cirurgias abdominais em eqüinos, porque exterioriza 75% do trato

intestinal”.

A abertura do abdome, o problema poderá ser rapidamente identificado

ou imediatamente encontrado num exame ligeiro. Em muitas instâncias,

contudo, um exame sistemático deve ser efetivado antes do fechamento do

abdome (AUER, 2006).

Se o ceco não estiver deslocado deve ser identificado logo após a

penetração da cavidade peritoneal. O ceco é um ponto de referência para a

exploração sistemática tanto do intestino delgado como do grosso (AUER,

2006).

A incisão da linha mediana é fechada em três camadas. Um fechamento

separado do peritônio não é necessário nem vantajoso. A linha Alba é fechada

com suturas interrompidas simples posicionadas 1 cm uma da outra. A seleção

do material de sutura depende da preferência pessoal, mas o categute, e

materiais absorvíveis sintéticos ou materiais inabsorvíveis sintéticos podem ser

empregados. O tecido subcutâneo é fechado com uma camada contínua

simples de material absorvível sintético. O principal objetivo desta camada é

cobrir as extremidades das largas suturas interrompidas sobre a linha Alba de

forma que não protraiam da incisão de pele. Na maioria dos procedimentos

cirúrgicos, a velocidade é importante; este padrão de sutura oferece

fechamento satisfatório assim como velocidade rapidez no procedimento

(AUER, 2006).

O objetivo do cirurgião ao realizar qualquer intervenção é que esta seja

segura e eficiente. O procedimento deve ser o mais rápido possível, com o

menor trauma tecidual, restaurando a função, e conseqüentemente diminuindo

ao máximo as possibilidades de intercorrências no pós-operatório. A moderna

cirurgia atinge estes objetivos de forma bastante satisfatória, porém, as

complicações relacionadas às suturas ainda ocorrem com alguma freqüência

(AUER, 2006).

Habitualmente não se executa a drenagem peritoneal após a cirurgia

abdominal. O uso rotineiro de drenos de Penrose em particular deve ser

desencorajado devido aos riscos de infecção retrógrada. Se houver suspeita de

contaminação pelo ar ou foi executada uma anastomose intestinal, o abdome é

irrigado através de um dreno de plástico heparinizado que foi inserido,

principalmente para drenar o fluido de irrigação. Normalmente o dreno deve ser

retirado dentro de 24 horas (AUER, 2006).

As compactações são as desordens mais freqüentes e podem ser

causadas por concreções intestinais como fitobezoares, tricobezoares,

fecalomas, enterólitos, corpos estranhos ou outras afecções como os

hematomas, volvulos, intussuscepções, retenção de mecônio e tumores

(Edwards, 1992; 1997, citado por F.A. Lucas et al., 2001).

3.3.2 – Caso Clínico

Foi deslocada ao hospital do C.A.R.E. uma potranca com 1,5 anos de

idade com quadro de abdome agudo há 24 horas. Lá internada foi submetida à

laparotomia exploratória onde foi evidenciada leve torção de intestino delgado

sem grande sofrimento, a torção foi desfeita e a motilidade recuperada. O

retorno da anestesia foi ótimo e o animal apresentou melhora considerável,

demonstrando aparente recuperação no quadro. No segundo dia o animal

voltou a demonstrar dor, aumento do volume abdominal e nenhuma motilidade

intestinal. Como a potranca era considerada de alto valor foi optado pelo Dr.

Marlon, em consenso com o anestesista e com a assistente, que o animal

fosse submetido à nova laparotomia. A nova cirurgia demonstrou grande

acúmulo de gás nas alças e massa fecal localizada. Foi procedida a sucção do

gás e enterotomia para retirada da massa.

O animal após a nova cirurgia demonstrou abrupta melhora no quadro, e

por este motivo foi estimulada a motilidade intestinal com a oferta de pequena

quantidade de alfafa, visto que o animal não se alimentava há muitos dias.

Após três dias a potranca apresentava melhora surpreendente, se

alimentava, defecava, flatulava, o que nos indicava o livre trânsito intestinal,

mas apresentava leve alteração de temperatura nos cascos e seqüestro de

leucócitos no hemograma, mas estas alterações estavam sendo tratadas.

No decorrer dos dias foi observado gotejamento na linha de sutura, de

um liquido com aspecto avermelhado. Como já estava drenando não foi

tomada nenhuma providência além da antibiótico terapia.

Após 13 dias da primeira cirurgia o animal foi sacrificado, pois

apresentava quadro de septicemia, com início de choque.

FIGURA 9: POTRANCA APÓS SEGUNDA CIRURGIA.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em set. 2006.

FIGURA 10: SUCÇÃO DO GÁS NA SEGUNDA CIRURGIA.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em set. 2006.

FIGURA 11: ENTEROTOMIA.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em set. 2006.

FIGURA 12: FÍSTULA.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em set. 2006.

FIGURA 13: NECRÓPSIA.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em set. 2006.

3.3.3 – Conclusão do caso clínico

A revisão bibliográfica nos mostra que a técnica foi utilizada

corretamente tanto na laparotomia quanto na enterotomia. Como se sabe o

decorrer de fatos como a torção, o acúmulo da massa fecal, a contaminação na

cirurgia ou no pós-cirúrgico e depois o comprometimento vascular e a peritonite

instalada, fizeram com que o animal viesse a óbito. Talvez se outras medidas

tivessem sido tomadas, como instalação de um dreno, lavagem peritoneal ou

quaisquer outra, o animal poderia estar vivo. Mas, decisões foram tomadas

corretamente naqueles momentos e infelizmente o caso nos ensina que é

possível refazer uma laparotomia em casos de emergência. È interessante

lembrar que todas as medidas cabíveis na parte terapêutica também foram

tomadas.

3.4 –CASO CLÍNICO IV - ÚLCERA DE CÓRNEA

3.4.1 – Revisão da literatura

Anatomia e Fisiologia

A córnea consiste em epitélio, estroma, membrana de Descemet e

endotélio (SLATTER 2001).

O epitélio tem a espessura de 7 a 15 células e é substituído a cada 7 a

10 dias. O endotélio da córnea corresponde a uma única camada de células

com pouca ou nenhuma capacidade regenerativa. Portanto, a lesão endotelial

tem enorme significado, pois em geral o reparo completo não é possível e

resulta em edema permanente da córnea (SLATTER 2001).

Segundo THOMASSIAN (2005), “a córnea é a superfície refratora mais

resistente do olho, que em condições de normalidade anatômica, é avascular e

transparente; é destituída de vasos sanguíneos e linfáticos e recebe nutrientes

do tecido vascular periférico e do humor aquoso, do filme lacrimal e dos

capilares perilimbais”.

A córnea é transparente avascular e suprida por nervos sensoriais do

ramo oftálmico do nervo trigêmeo (SLATTER 2001).

O epitélio e o estroma anterior são ricamente inervados por nervos

sensoriais, enquanto a córnea media e a interna tem menos inervação. A

nutrição e a remoção de produtos de degradação são feitas pela película

lacrimal, pelo humor aquoso e por difusão para a esclerótica e a partir dela e

dos vasos sanguíneos conjuntivais. A irritação crônica da córnea resulta em

vascularização superficial, ao passo que a inflamação da úvea anterior redunda

em vascularização corneana profunda. Com freqüência a vascularização é

sucedida por pigmentação da córnea. Alem disso, a formação de cicatriz e

infiltrados não celulares como depósitos minerais e fosfolipídios também

alteram a transparência da córnea. É fundamental estabelecer a causa dessas

alterações e se possível eliminá-las (SLATTER 2001).

A ulceração da córnea talvez seja a doença ocular mais frustrante e

devastadora no eqüino. De todas as espécies tratadas comumente na

oftalmologia veterinária, a córnea do eqüino é a que demora mais a cicatrizar, a

mais provável a infectar-se e a que produz os piores resultados. Além disso, o

tamanho e o temperamento do animal costumam dificultar o tratamento tanto

para o proprietário quanto para o veterinário (REED, 2000).

3.4.2 – Sinais clínicos e diagnóstico

Há úlcera de córnea quando não ocorre ruptura no estroma da córnea,

em termos clínicos, isto resulta em lacrimejamento, blefarospasmo, fotofobia,

hiperemia conjuntival, edema de córnea e possivelmente, miose e corrimento

aquoso. Faz-se o diagnóstico de úlcera de córnea com base nesses sinais

clínicos e na coloração da córnea com fluoresceína, corante que ficará retido

pelo estroma subjacente e aparecerá verde (REED, 2000).

Por ser na maioria das vezes um processo doloroso, o animal deverá ser

manejado com paciência e cautela o que irá possibilitar a realização de um

exame clínico completo. Para tanto, instale o animal em local tranqüilo e a

meia-luz e, se necessário pode-se tranqüilizar o cavalo com xilazina, na dose

de 0,4 a 1,0 mg/kg, pela via intravenosa. Ocasionalmente pode ser necessária

à realização da anestesia da inervação aurículo-palpebral, que inerva o

músculo orbicular do olho, com injeção de 2 a 4 ml de lidocaína 1%, sem vaso

constritor, impossibilitando dessa forma a ocorrência de blefarospasmo

(THOMASSIAN, 2005).

Segundo SLATTER, “são instrumentos básicos para o exame

oftalmoscópio, fonte de luz puntiforme, lupa de aumento, oftalmoscópio direto,

fitas para teste de Schirmer e fluoresceína” (2001).

3.4.3 – Terapia

O tratamento de uma úlcera de córnea sem complicações abrange o

controle da dor e da inflamação, a eliminação ou a prevenção de infecção e a

profilaxia de complicações secundárias. A cicatrização dependendo do

tamanho da úlcera pode estar completa em 2 a 6 dias no caso da úlcera de

córnea não complicada (REED, 2000).

Caso se observe miose administra-se atropina tópica a 1% para dilatar a

pupila, diminuir a dor decorrente da uveite anterior e prevenir a formação de

sinéquias posteriores. Usa-se atropina tópica conforme o necessário para

dilatar a pupila, mas a freqüência do tratamento não deve ultrapassar 4 vezes

por dia. Todas as medicações oftálmicas tópicas são absorvidas pó via

sistêmica, e atropina tópica pode resultar em cólica do tipo íleo paralítico

(REED, 2000).

O uso de antiinflamatórios está indicado e também de antibióticos de

amplo espectro (REED, 2000).

Segundo REED, “todas as úlceras de córnea crônicas devem ser

considerada micóticas até prova em contrário”. A ceratite micótica é mais

comum nos meses de verão e em climas quentes. As úlceras micóticas

costumam apresentar áreas multifocais de infiltrado celular e colônias de

fungos, que surgem como lesões brancas profundas no estroma da córnea. Os

antibióticos imidazólicos, miconazol e cetoconazol podem ser os mais eficazes

nos tratamentos (2000).

Uma fórmula de colírio que tem proporcionado bons resultados em

ceratites ulcerativa pode ser instilada com os seguintes produtos: tobramicina

1,2ml, atropina 1%, 6,0 ml, acetilcisteina 20%, 6,0 ml, lagrima artificial (qsp. 24

ml) 10,8ml (THOMASSIAN, 2005).

A tobramicina poderá ser substituída por 1,2 ml de succinato de

cloranfenicol a 20% ou 1,5 ml de solução de gentamicina a 5% (THOMASSIAN,

2005).

Ocasionalmente, quando a manipulação das pálpebras para lavagens e

a instilação de colírios for muito dolorosa para o cavalo, pode-se realizar a

lavagem pela sondagem do ducto nasolacrimal através da via nasal, ou então

se instalar uma sonda subpalpebral (pode ser uma sonda uretral de cão) o que

elimina a necessidade de se manipular as pálpebras para expor o globo ocular,

facilitando o tratamento e evitando o desconforto para o animal

(THOMASSIAN, 2005).

Nos casos de úlcera profunda, na presença de Descemetocele, ou os

casos que não respondem satisfatoriamente ao tratamento convencional, torna-

se necessária à intervenção cirúrgica com a realização da ceratectomia parcial

ou profunda, para a reativação cicatricial da córnea, eliminando-se os tecidos

comprometidos. Como na maioria das vezes este procedimento exige a

realização de recobrimento da córnea com a terceira pálpebra, de transposição

de “flap” da conjuntiva palpebral ou transposição da conjuntiva escleral, ou da

ceratoplastia com o uso de enxertos biológicos, as pálpebras deverão estar

cerradas cirurgicamente realizando-se a tarsorrafia, o que dificultaria as

lavagens e instilações de colírios. Nestas circunstancias deve-se instalar

previamente uma sonda na região subpalpebral, ou utilizar-se do ducto

nasolacrimal para realização dos lavados e instilação dos demais

medicamentos sobre a córnea (THOMASSIAN, 2005).

Segundo pesquisa na internet, pode-se utilizar soro autólogo puro ou

diluído, conforme a gravidade do caso. Normalmente, dilui-se a concentrações

de 20 a 50% em solução salina ou metilcelulose 0,5%. Sabe-se que o soro

autólogo possui componentes essenciais que se encontram presentes na

lágrima, como vitamina A, EGF e fator de crescimento transformador beta

(TGF-b). É importante que a preparação desse colírio seja feita em laboratório

estéril e com experiência na manipulação de sangue para diminuir o risco de

contaminação.

Segundo ALVES, pacientes humanos com defeitos epiteliais tratados

com aplicações de soro autólogo apresentaram benefícios no tempo de

cicatrização dessas lesões quando comparados com o tratamento

convencional (2001).

A melhor maneira de tratar muitas úlceras de córnea micóticas é através

do uso de uma combinação de conduta cirúrgica e clínica. O debridamento

cirúrgico na forma de ceratectomia de espessura parcial pode ajudar a remover

boa parte do estroma infectado da córnea. Isto é feito sob anestesia geral. A

úlcera resultante pode ser tratada clinicamente ou, o que é mais apropriado,

suturando-se um enxerto de pedículo conjuntival à úlcera para ajudar na

cicatrização ou fazendo uma ceratoplastia penetrante no caso de lesões mais

profundas. A vascularização da córnea proporcionada por um retalho

conjuntival facilita a cicatrização. A maioria das úlceras de córnea micóticas

acaba por ficar vascularizada e cicatrizar até certo ponto. Os corticosteróides

exercem pouco, se algum, efeito sobre a formação de cicatriz (fibrose) na

córnea e não estão, portanto indicados, mesmo após a resolução da ceratite

micótica. (REED, 2000).

3.4.4 – Discussão

Foi relatado pelo gerente da cocheira que um dos animais que havia

corrido no fim de semana apresentava o olho direito irritado e o mantinha

fechado. Assim sendo foi optado, após breve exame, que se utilizasse um

especialista.

Com a presença do especialista, e com o animal contido foi instilado

anestésico que rapidamente aliviou o blefarospasmo e evidenciou uma

alteração corneana (fig. - 14).

FIGURA 14: INÍCIO DO TRATAMENTO.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em set. 2006.

Foi diagnosticada também pelo profissional, a presença de uma

pequena colônia fúngica, e logo após, realizado teste de fluoresceína que

comprovou a úlcera superficial.

FIGURA 15: TESTE DA FLUORESCEÍNA

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em set. 2006.

Foram receitadas pelo profissional as seguintes drogas:

Xilosan: 3X por dia durante 10 dias.

Still (diclofenaco sódico): 4x por dia durante 10 dias.

Fluimucil (N-acetilcisteína): 4x por dia durante 10 dias.

Atropina: 2x por dia durante 10 dias.

Soro autólogo: 2x por dia durante 10 dias.

Miconazol (manipulado): 3x por dia durante 10 dias.

Chá de camomila: 4x por dia durante 10 dias.

Antiinflamatório oral: Maxicam ® (Meloxicam) 1x por dia durante 10 dias.

Segue abaixo imagens da evolução do quadro.

FIGURA 16: SEM BLEFAROSPASMO APÓS 5 DIAS DE

TRATAMENTO.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em set. 2006.

FIGURA 17: FIM DO TRATAMENTO.

FONTE: Foto de Gustavo de Souza, tirada em set. 2006.

Observa-se a vascularização da córnea no final do tratamento neste

momento o animal foi tratado com corticóide e não foi visualizada alteração

significativa.

3.4.5 – Conclusão

Apesar do especialista e a literatura citarem que o melhor procedimento

seria a união cirúrgica e clínica para resolução do caso, o proprietário não

optou pelo custo da cirurgia que era relativamente alto, mesmo assim o

tratamento clínico demonstrou eficácia surpreendente e em pouco tempo o

animal voltou a correr.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2005.

- HAFEZ, E.S.E. Reprodução Animal. 6ª ed. São Paulo: Manole. 1995.

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- NASCIMENTO, E.F., SANTOS, R.C. Patologia da reprodução dos

animais domésticos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A.

2003.

- MEIRA, C., Curso prático de reprodução eqüina, departamento de

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- REED, S.M., BAYLY, W.M. Medicina interna eqüina. 1ª ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan S.A. 2000.

- SLATTER, D., Fundamentals of veterinary ophthalmology. 3ª ed.

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- THOMASSIAN, A. Enfermidades dos cavalos. 4ªed. São Paulo: Varela.

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- Pesquisa no site http://www.abonet.com.br/abo/atcont11.htm acesso em:

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