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ARTIGOS Informação e atividades de desenvolvimento científico, tecnológico e industrial: tipologia proposta com base em análise funcional Afrânio Carvalho Aguiar Resumo Revisão de conceitos, definições e terminologias relacionados com a informação que intervêm nos processos de desenvolvimento científico, tecnológico, industrial, econômico e social, É mostrado que não há coincidências entre os mesmos, dependendo da fonte de onde provêm. Propõe-se uma tipologia para a informação, estabelecida com base na análise funcional, através do qual se definem os diferentes papéis que a informação deve desempenhar. As várias funções da informação são discutidas, e indicam-se alguns tipos de informação que caracterizam as funções identificadas. Mostra a vantagem da definição funcional da informação para as atividades de planejamento, operação e avaliação das unidades de informação. Palavras-chave Informação/análise sistêmica; Informação/conceitos/funções; Comunicação em ciência e tecnologia; Informação científica; Informação tecnológica; Informação industrial. INTRODUÇÃO O fortalecimento do embasamento teóri- co-conceitual da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, ainda limitado, é necessário para o aperfeiçoamento da prá- tica profissional. Saracevic e Rees 1 lem- bram que é um fato histórico que muitas profissões se desenvolveram independen- temente de uma ciência, mas que as pro- fissões mais viáveis e que recebem maior reconhecimento social são exatamente aquelas baseadas em princípios científicos e que mantêm com a ciência uma relação estreita. A tentativa de discutir aspectos concei- tuais associados às atividades de infor- mação tem, além disso, objetivos que ex- trapolam o interesse restrito de natureza acadêmica: conceitos e terminologias mais claros podem contribuir para o melhor êxito das atividades de planejamento, organi- zação, operação e avaliação dos serviços de informação na medida em que nivelam e uniformizam o entendimento das questões analisadas por parte dos diver- sos agentes envolvidos nesses proces- sos. Conceitos fixados a partir de definições apresentam, todavia, fragilidade e impre- cisão inerentes em qualquer área, de for- ma particular em Ciência da Informação. Diversos organismos voltados à problemá- tica do desenvolvimento científico e tec- nológico têm dedicado esforços para a elaboração de conceitos e métodos que permitam a coleta e o tratamento homogê- neo de dados sobre as atividades científi- cas desenvolvidas em nível de países, pa- ra acompanhamento dessas atividades em âmbito nacional e para permitir análises comparativas entre nações. A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Tecnologia (Unesco) desde 1966 tem-se dedicado à coleta de dados estatísticos em ciência e tecnologia, os quais publica em seu anuário estatístico a partir de 1969. Igualmente a Comunidade Econômica Européia (CEE), através do Comitê para Pesquisa Científica e Técnica (Crest), publica dados sobre os orçamen- tos nacionais classificados por "objetivos", utilizando a nomenclatura para a análise e comparação dos programas e orçamen- tos para a ciência. O Conselho Escandi- navo para a Pesquisa Aplicada trabalha, desde 1968, na coleta e tratamento de da- dos sobre as atividades de ciência e tec- nologia na região. Ci. Inf., Brasília, 20(1):7-15, jan./jun. 1991

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Diversos organismos voltados à problemá- tica do desenvolvimento científico e tec- nológico têm dedicado esforços para a elaboração de conceitos e métodos que permitam a coleta e o tratamento homogê- neo de dados sobre as atividades científi- cas desenvolvidas em nível de países, pa- ra acompanhamento dessas atividades em âmbito nacional e para permitir análises comparativas entre nações. Afrânio Carvalho Aguiar Resumo Ci. Inf., Brasília, 20(1):7-15, jan./jun. 1991

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ARTIGOSInformação e atividadesde desenvolvimentocientífico, tecnológico eindustrial: tipologiaproposta com base emanálise funcional

Afrânio Carvalho Aguiar

Resumo

Revisão de conceitos, definições e terminologiasrelacionados com a informação que intervêm nosprocessos de desenvolvimento científico,tecnológico, industrial, econômico e social, Émostrado que não há coincidências entre osmesmos, dependendo da fonte de onde provêm.Propõe-se uma tipologia para a informação,estabelecida com base na análise funcional,através do qual se definem os diferentes papéisque a informação deve desempenhar. As váriasfunções da informação são discutidas, eindicam-se alguns tipos de informação quecaracterizam as funções identificadas. Mostra avantagem da definição funcional da informaçãopara as atividades de planejamento, operação eavaliação das unidades de informação.

Palavras-chaveInformação/análise sistêmica;Informação/conceitos/funções; Comunicação emciência e tecnologia; Informação científica;Informação tecnológica; Informação industrial.

INTRODUÇÃO

O fortalecimento do embasamento teóri-co-conceitual da Biblioteconomia e daCiência da Informação, ainda limitado, énecessário para o aperfeiçoamento da prá-tica profissional. Saracevic e Rees1 lem-bram que é um fato histórico que muitasprofissões se desenvolveram independen-temente de uma ciência, mas que as pro-fissões mais viáveis e que recebem maiorreconhecimento social são exatamenteaquelas baseadas em princípios científicose que mantêm com a ciência uma relaçãoestreita.

A tentativa de discutir aspectos concei-tuais associados às atividades de infor-mação tem, além disso, objetivos que ex-trapolam o interesse restrito de naturezaacadêmica: conceitos e terminologias maisclaros podem contribuir para o melhor êxitodas atividades de planejamento, organi-zação, operação e avaliação dos serviçosde informação na medida em que nivelame uniformizam o entendimento dasquestões analisadas por parte dos diver-sos agentes envolvidos nesses proces-sos.

Conceitos fixados a partir de definiçõesapresentam, todavia, fragilidade e impre-

cisão inerentes em qualquer área, de for-ma particular em Ciência da Informação.

Diversos organismos voltados à problemá-tica do desenvolvimento científico e tec-nológico têm dedicado esforços para aelaboração de conceitos e métodos quepermitam a coleta e o tratamento homogê-neo de dados sobre as atividades científi-cas desenvolvidas em nível de países, pa-ra acompanhamento dessas atividades emâmbito nacional e para permitir análisescomparativas entre nações.

A Organização das Nações Unidas para aEducação, Ciência e Tecnologia (Unesco)desde 1966 tem-se dedicado à coleta dedados estatísticos em ciência e tecnologia,os quais publica em seu anuário estatísticoa partir de 1969. Igualmente a ComunidadeEconômica Européia (CEE), através doComitê para Pesquisa Científica e Técnica(Crest), publica dados sobre os orçamen-tos nacionais classificados por "objetivos",utilizando a nomenclatura para a análisee comparação dos programas e orçamen-tos para a ciência. O Conselho Escandi-navo para a Pesquisa Aplicada trabalha,desde 1968, na coleta e tratamento de da-dos sobre as atividades de ciência e tec-nologia na região.

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Essas três últimas instituições subsidia-ram o trabalho da Organização para a Co-operação e o Desenvolvimento Econômico(OCDE) para a proposição de um sistemapadrão para avaliação da Pesquisa e De-senvolvimento Experimental; dele resultoua publicação Medição de Atividades Cientí-ficas e Tecnológicas - Manual Frascati,que o Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (CNPq)2

traduziu e editou em 1979.

Esses esforços, basicamente voltados pa-ra o objetivo de obtenção de estatísticasnacionais relativas a atividades científicase tecnológicas, não puderam prescindir de,previamente, fixar conceitualmente osprincipais aspectos da área de ciência etecnologia. A despeito de o Manual Fras-cati haver se constituído na mais importan-te referência disponível em língua portu-guesa sobre o assunto e de o CNPqhavê-lo adotado para a estruturação desuas atividades, não há concenso sobretais conceitos e métodos, nem aceitaçãoplena dos mesmos pela comunidade cientí-fica nacional, como se depreende da litera-tura disponível principalmente na área dePolítica e Administração em Ciência eTecnologia. Se conceitos, definições, ter-minologias e métodos de coleta de dadosnão são universalmente aceitos na própriaárea de ciência e tecnologia, o que se de-ve esperar quanto às mesmas questõesse focalizadas no campo restrito da Infor-mação em Ciência e Tecnologia?

Analisando as peculiaridades da adminis-tração em ciência e tecnologia, Veado3

aponta as dificuldades de aplicação dosprocedimentos geralmente adotados naspráticas usuais da administração industrial,comercial ou burocráticas; propõe a abor-dagem sistêmica para a discussão de ati-vidades de planejamento e elaboração deorçamentos para ações em ciência e tec-nologia, ampliando a proposta que Vermane Visvesvaraya4 antes haviam sugeridopara o tratamento do problema da normali-zação técnica. Por abordagem sistêmicacompreende-se "que o sistema real - re-presentado conceitualmente - é constituí-do de partes que interagem e que têm umobjetivo final, em função do qual se des-creve o sistema"3. Veado sugere, então,que, numa abordagem sistêmica, o plane-jamento das atividades tecnológicas podeser tratado segundo três aspectos ou "ei-xos":

a) os objetivos: resultados finais que sedeseja alcançar através do sistema;

b) o setor da atividade produtiva: campoespecializado da atividade econômica;

c) as funções: atividades "exercidas pelosistema a fim de que o problema em te-la tenha solução adequada técnica, so-cial e economicamente"3.

Por outro lado Mautort5, analisando tipolo-gias de informação e apontando o que lheparecem impropriedades nas várias termi-nologias utilizadas, acaba por propor umaconceituação que, implicitamente, baseia-se numa análise funcional da informação,ao definir duas grandes classes de infor-mação consideradas no âmbito das ativi-dades de ciência e tecnologia e de desen-volvimento industrial: a) informaçãocientífica e tecnológica, b) informaçãoindustrial e tecnológica. Na sua con-cepção, a primeira classe compreende to-do o tipo de informação que serve dematéria-prima (raw material information) ouinsumo para a geração de conhecimentoscientíficos e de tecnologias; a segundaclasse engloba todas as informações cujafunção é contribuir para a aplicação des-ses conhecimentos para o desenvolvimen-to econômico, incluindo então o desenvol-vimento industrial.

Neste trabalho, busca-se principalmenteaprofundar a análise funcional da infor-mação relacionada com as atividades deciência e tecnologia, através do detalha-mento dos papéis que a informação devedesempenhar para subsidiar ações de de-senvolvimento científico, tecnológico,econômico, industriai e social.

REVISÃO CONCEITUAL

A Unisist II, conferência intergovernamen-tal promovida pela Unesco, define:

"A Informação em Ciência e Tecnologia(ICT) é constituída de elementos simbóli-cos utilizados para comunicar o conheci-mento científico e técnico, independente deseu caráter (numérico, textual, icônicoetc.), dos suportes materiais, da forma deapresentação. Refere-se tanto à substân-cia ou conteúdo dos documentos quanto àsua existência material. Também se em-prega este termo ICT para designar tanto amensagem (conteúdo e forma) quanto suacomunicação (ação). Quando necessário,distingue-se entre informação bruta (fatos,conceitos, representações) e os documen-tos em que se acha registrada".

A definição é, como se vê, excessivamen-te abrangente, pois engloba o documentoem si, seu conteúdo e a comunicação des-te. Torna-se, por isso, de pouca valiaquando se tem que delimitar o campo deação na etapa de planejamento de siste-mas de informação em ICT.

O Comitê de Informação para a Indústriada Federação Internacional de Documen-tação (FID), como citado por Alvares-Osó-rio6 e também por Klintoe7, define:

"Informação tecnológica é todo conheci-mento de natureza técnica, econômica,mercadológica, gerencial, social etc. que,

por sua aplicação, favoreça o progressona forma de aperfeiçoamento e inovação".

O conceito da FID encerra, assim, todo ctipo de informação que contribui para o de-senvolvimento industrial, econômico e so-cial, tanto ao nível do microuniverso deuma empresa em particular quanto ao domacrouniverso de uma nação.

Vê-se que, nesta ótica, nenhuma unidadede informação, por mais especializada queseja em termos do setor industrial a quealmeja servir e, por outro lado, por maiscompleta que seja a base documentáriaque consiga reunir, chegará a cumprir, deper si, integralmente a função de prestarinformação tecnológica aos seus usuá-rios-alvo.

Em 1972, Kjeld Klintoe7 propõe o conceitode informação para a indústria, assimdefinido:

"Informação para a indústria é todo esforçointelectual para estimular os administrado-res e técnicos de uma dada empresa, pú-blica ou privada, no sentido de aperfeiçoarsuas operações e inovar métodos, pro-cessos, produtos e serviços, através daconversão, em resultados práticos, de to-da a forma de conhecimentos obtidos porqualquer meio".

Constata-se, então, uma grande proxi-midade entre os conceitos da FID e deKlintoe, que, no entanto, utilizaram termi-nologias divergentes. Com sua grande ex-periência no Danish Technical InformationService (DTO), da Dinamarca, Klintoe7 in-troduziu ainda o conceito de informaçãoindustrial:

"Informação industrial é definida como oesforço de coletar, avaliar e tornar disponí-veis informações sobre o setor industrial esuas operações produtivas, gerando da-dos técnico-econômicos, informações so-bre tecnologias utilizadas, a estrutura in-dustrial, a produtividade setorial, estudosde viabilidade, dados de investimento e re-torno, implantação de indústrias, trans-ferência de tecnologia, dentre outros".

Percebe-se, então, que a informação in-dustrial desloca seu ponto de observaçãode uma dada empresa (informação para aindústria) para um setor industrial consi-derado globalmente.

Mautort5 explicou o que entende por in-formação científica e tecnológica - in-formação como insumo para atividades depesquisa científica e tecnológica - e porinformação industriai e tecnológica - in-formação para a aplicação em desenvol-vimento econômico e industrial.

Strain, citado por David e Sutter8, relataque no Centro de Pesquisa e Inovação da

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O esquema procura esclarecer que o prin-cipal insumo da atividade científica é in-formação verbalmente codificada (periódi-cos, anais de congresso etc.) e que seuproduto essencial também é informaçãoverbalmente codificada (artigo publicadoem revista científica, comunicação emcongresso), constituindo insumo para ou-tras pesquisas científicas e assim suces-sivamente.

Ainda segundo Allen9, as atividades dedesenvolvimento tecnológico necessitamde informações, inicialmente para que oproblema a ser enfrentado possa ser en-tendido e, depois, para indicar possíveissoluções - inclusive esclarecendo asconseqüências de cada alternativa - paraa abordagem do. problema proposto. Pros-segue lembrando que também a tecnologiaé "uma grande consumidora de infor-mação" verbalmente codificada (publi-cações, relatórios, comunicação informal)mas que, ao contrário da ciência, seu pro-duto principal não é informação verbalmen-te codificada - que é apenas um subpro-duto constituído por patentes, relatórios,manuais e instruções de operação etc. -mas sim uma mudança no hardware físi-co do universo representado por novosprodutos ou novos processos de pro-dução. Este fluxo de comunicação em tec-nologia, Allen representa igualmente emum diagrama de blocos.

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empresa Rhône-Poulec, que ele dirige emParis, faz-se uso de "... informaçõescientíficas provenientes de laboratóriosfranceses e estrangeiros... fornecidas porpublicações especializadas, por periódi-cos, por relatórios de pesquisadores daempresa que assistem a congressos eseminários". Acrescenta que, além das in-formações científicas, a empresa tem ne-cessidade de "... informações tecnológi-cas, ou seja, relativas a processos (fer-mentação, separação, concentração) ousobre materiais. Para acessá-las, os veto-res são variados (institutos de pesquisa,centros técnicos industriais, bases e ban-cos de dados, periódicos, outras publi-cações)". Utilizam ainda "... informaçõeseconômicas sobre os mercados de produ-tos específicos (antibióticos, vitaminas),sobre os concorrentes atuais e futuros,sobre os custos de fabricação dos produ-tos...". Finalmente relata que a Rhône-Pou-lec faz ainda emprego de "informaçõespolíticas, tais como as perspectivas deevolução dos preços das matérias-primasde fermentação na Europa ou do preço dopetróleo".

A transcrição dos conceitos, definições eterminologias antes apresentadas, toma-das de fontes diversas, é feita para de-monstrar uma não-uniformidade entre osmesmos, que sugere a conveniência de setratar as questões relacionadas com a in-formação para apoio às atividades de de-senvolvimento científico, tecnológico, in-dustrial, econômico e social por meio deuma abordagem baseada na análise fun-cional da informação, como se esclarecenos itens subseqüentes deste artigo.

ANÁLISE FUNCIONALDA INFORMAÇÃO

Não se dispondo de definições universal-mente aceitas, propomos que conceitosbásicos da área de informação sejam es-tabelecidos segundo uma ótica funcional,ou seja, que a tipologia da informação sejadefinida com base na função que ela devecumprir. Essa forma de abordagem apre-senta a vantagem de obrigar a que, no pla-nejamento de centros e serviços de infor-mação, defina-se previamente qual amissão institucional da unidade de infor-mação ou, em outras palavras, que tiposde necessidade de informação de seu pú-blico-alvo ela se propõe a atender, poisque a satisfação plena de todas as de-mandas explícitas e implícitas dos usuá-rios é intrinsecamente inatingível peloscentros e serviços de informação. Antes,porém, de se poder apresentar uma pro-posta de análise funcional da informação,convém recordar alguns aspectos carac-terísticos do processo de comunicação emciência e tecnologia.

COMUNICAÇÃO EM CIÊNCIA E EMTECNOLOGIA

Como bem lembra Allen9, "a informaçãoé a própria essência da atividade científi-ca", na medida em que a, pesquisa científi-ca busca fundamentalmente gerar conhe-cimento novo sobre o universo e sobreos fenômenos sociais que nele se desen-volvem; como elos de uma cadeia, cadaincremento no estoque universal de co-nhecimento constitui insumo para outrapesquisa que, por sua vez, poderá geraroutros novos conhecimentos. Necessa-riamente, os resultados de uma pesquisacientífica precisam ser formalmente divul-gados para assegurar a autoria de quemos desenvolveu. Este fluxo e esta interde-pendência de conhecimentos, Allen9 re-presenta, de forma didática, através dodiagrama de blocos abaixo reproduzido,com algumas adaptações do autor.

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A pesquisa científica é constituída de duascategorias de atividades, conceituadasassim pelo Manual Frascati2:

a) "pesquisa básica... é o trabalho teóri-co ou experimental empreendido pri-mordialmente para a aquisição de umanova compreensão dos fundamentossubjacentes aos fenômenos e fatos ob-serváveis sem ter em vista nenhumuso ou aplicação específica";

b) "pesquisa aplicada... é a investigaçãooriginal concebida pelo interesse emadquirir novos conhecimentos. É, entre-tanto, primordialmente dirigida emfunção de um fim ou objetivo práticoespecífico".

A pesquisa tecnológica, neste trabalho,tem um conceito que engloba, em certoscasos, atividades enquadráveis comopesquisa aplicada, além das atividades dedesenvolvimento experimental o qualtem o seguinte conceito no Manual Frascati:

"Desenvolvimento experimental é o tra-balho sistemático, delineado a partir de co-nhecimento preexistente, obtido atravésda pesquisa e/ou da experiência prática, eaplicado na produção de novos materiais,produtos e aparelhagens, no estabeleci-mento de novos processos, sistemas eserviços, e ainda no substancial aperfei-çoamento dos já produzidos ou estabele-cidos".

A pesquisa tecnológica se aproxima dapesquisa aplicada nas situações em queconhecimento novo deve ser previamentebuscado para, a seguir, ser aplicado nodesenvolvimento de novos produtos e no-vos processos.

Quanto à pesquisa científica, convém ain-da lembrar que sua execução pressupõe aadoção do "método científico". A pesquisacientífica deve resultar em aporte de co-nhecimentos (inovação) ao estoque uni-versal de conhecimento, devendo seus re-sultados poderem ser repetidos ("repetibi-lidade") nas mesmas condições do traba-lho original para que possam ser confirma-

dos ou rejeitados. A pesquisa cientificacompreende as etapas de:

a) avaliação do estado-da-arte;b) formulação de hipóteses;c) experimentação/coleta de dados;d) verificação das hipóteses;e) publicação dos resultados.

TIPOLOGIA

Com os pressupostos acima fixados, pro-pomos categorizar os vários tipos de in-formação que interferem nos processos dedesenvolvimento científico, tecnológico, in-dustrial, econômico e social da forma aseguir apresentada.

Informação científica

Informação científica é todo conhecimentoque resulta - ou está relacionado com oresultado - de uma pesquisa científica,servindo para:

a) divulgar o conhecimento novo obtido apartir de uma pesquisa científica, asse-gurando a prioridade intelectual (auto-ria) de quem o desenvolveu, bem comodisseminar o conhecimento existentepara aumentar a compreensão geral arespeito dos fenômenos naturais e so-ciais;

b) constituir insumo para um novo projetode pesquisa científica, que deverá, porsua vez, resultar em novos conheci-mentos, permitindo a evolução da ciên-cia;

c) explicitar a metodologia empregada naexecução do projeto de pesquisa, for-necendo elementos para que outrospesquisadores possam repeti-la com oobjetivo de confirmar os resultados dapesquisa original ou rejeitá-los.

As funções da informação científica po-dem ser mais bem detalhadas, como a se-guir:

Divulgação do conhecimento

Em ciência, a prioridade intelectual é atri-buída a quem primeiro formalmente divulgao conhecimento novo obtido. A informaçãocientífica (publicação em revista científicaou comunicação em eventos registrada emanais) tem, assim, dentre outras, a funçãode constituir a forma pela qual a autoria doconhecimento científico é assegurada. Poroutro lado, o conhecimento universal exis-tente, em permanente evolução pela contí-nua contribuição das pesquisas científicas,precisa ser disseminado; as atividades deensino constituem meio de comunicaçãodo conhecimento científico existente, razãopela qual se deve também considerar afunção de suporte às atividades de ensinorepresentadas pela informação científicacontida nos diversos tipos de material bi-bliográfico.

Insumo para atividade de pesquisacientífica

Devendo a pesquisa científica resultar emconhecimento novo para ser incorporadoao estoque universal, é preciso que, emcada pesquisa científica, saiba-se qual é oestado-da-arte do conhecimento sobre umdado tópico, a fim de que se possa plane-jar o projeto de pesquisa e se ter certezade que resultado obtido efetivamente re-presenta um acréscimo ao conhecimentoaté então existente. Desta forma, a infor-mação científica constitui insumo para aatividade de pesquisa científica da mesmaforma que representa o produto dela, comoexplicado por Allen9.

Explicitação da metodologia usada napesquisa científica

A validação do resultado do trabalho reali-zado por um pesquisador pelos seus pa-res pressupõe a repetição ampla da pes-quisa inovadora, com resultados semprecoincidentes. A repetibilidade, como carac-terística do método científico que deveser observado na condução da pesquisacientífica, é essencial para assegurar a ve-racidade dos resultados obtidos. Assim, ainformação científica, contendo a metodo-logia seguida na execução da pesquisa,serve como instrumento para possibilitar aprópria validação do conhecimento novo.

A informação científica é, por isso, o co-nhecimento que constituiu, em um certomomento da evolução da ciência, umacréscimo ao entendimento universalentão existente sobre algum fato ou fenô-meno, tendo-se tornado disponível comoresultado de uma pesquisa científica, ouseja, de um trabalho de investigação con-duzido segundo o método científico.

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Informação tecnológica

O conceito de informação tecnológica, atépor razões de ordem semântica, tem ne-cessariamente de estar relacionado com oconceito de tecnologia que, conformeLongo10, é assim estabelecido:

'Tecnologia é o conjunto ordenado de to-dos os conhecimentos - científicos, empí-ricos ou intuitivos - empregados na pro-dução e comercialização de bens e servi-ços".

Por extensão, a informação tecnológicaé todo tipo de conhecimento relacionadocom o modo de fazer um produto ou pres-tar um serviço, para colocá-lo no mercado,servindo, então, para:

a) constituir insumo para o desenvolvi-mento de pesquisas tecnologias;

b) assegurar o direito de propriedade in-dustrial para uma tecnologia nova quetenha sido desenvolvida;

c) difundir tecnologias de domínio públicopara possibilitar a melhoria da qualidadee da produtividade de empreendimentosexistentes;

d) subsidiar o processo de gestão tec-nológica;

e) possibilitar o acompanhamento e a ava-liação de tendências de desenvolvi-mento tecnológico;

f) permitir a avaliação do impacto econô-mico, social e ambiental das tecnolo-gias.

Estas funções da informação tecnológicasão, a seguir, discutidas de forma sucinta:

Insumo para o desenvolvimento depesquisas tecnológicas

Os conceitos relativos à pesquisa aplicadae a desenvolvimento experimental, comopropostos no Manual Frascati2, estandorelacionados com o conceito de pesquisatecnológica, justificam que, por se estarbuscando, respectivamente, gerar conhe-cimento novo aplicável ou aplicar conhe-cimentos preexistentes, em ambos os ca-sos faz-se necessário o provimento de in-formações como insumo a essas ativida-des. O acesso à informação é essencialpara que se possa ter uma adequada ava-liação do estado-da-arte (conhecimentoscientíficos) ou do estado-da-técnica (co-nhecimentos tecnológicos). Nesta função,informação científica e informação tecnoló-gica podem se eqüivaler: um artigo de pe-riódico que apresente o resultado de umapesquisa científica constitui uma infor-mação científica, mas poderá, ainda, servircomo insumo a uma atividade de pesquisatecnológica, papel que lhe atribuiria o rótulode informação tecnológica.

Registro da propriedade industrial

A legislação brasileira concede privilégiode exclusividade de exploração comercialde processos e produtos que, exceto oscasos específicos previstos em lei, consti-tuam inovação (novidade) e sejam passí-veis de fabricação ou utilização industrial.O monopólio assegurado pela patente visaa incentivar a capacidade inventiva ea pesquisa tecnológica, possibilitando o re-torno do investimento realizado no desen-volvimento de cada inovação. A con-cessão de patente, regulada pela Lei n°5772, de 21/12/71, exige a apresentaçãoao Instituto Nacional de Propriedade Indus-trial (Inpi) de um pedido de privilégio estru-turado de forma a conter um relatório des-critivo do estado atual da técnica e situar ainovação que se quer proteger, descre-vendo-a de modo a poder, em tese, ser re-produzida por um especialista da área. Asreivindicações, ou seja, os itens da tecno-logia que devem receber proteção, preci-sam estar claramente destacados para oque, muitas vezes, se faz anexar gráficos,desenhos e diagramas à descrição. O do-cumento de patente é, então, um registrode propriedade industrial ao mesmo tempoem que contém informações que podemser de utilidade para as atividades de de-senvolvimento tecnológico.

Contribuição ao desenvolvimentotecnológico do setor produtivo

Os empreendimentos industriais baseadosem tecnologias tradicionais, de baixo oumédio conteúdo tecnológico (baixo "graude complexidade tecnológica")* - tal comoocorre com a maioria das micro, pequenase médias empresas - podem se beneficiarde conhecimentos tecnológicos disponí-veis em literatura convencional e não-con-vencional, desde que lhes seja dado aces-so a essas informações. O provimento,então, de informações contidas em paten-tes vencidas ou não registradas no país,normas técnicas, manuais técnicos, catá-logos de fabricantes e até mesmo em pe-riódicos poderá contribuir para que taisempresas adotem procedimentos queconduzam à melhoria da qualidade e daprodutividade desses empreendimentos.

* Ver o conceito de "grau de complexidade tec-nológica" no artigo de PACHECO, Fernando,neste número da Ciência da Informação.

Subsídio ao processo de gestãotecnológica

O conceito de gestão tecnológica, aquiadotado, é o proposto por Fajardo11:

"Gestão tecnológica é o processo de to-mada de decisão, em nível de uma dadaempresa, sobre questões relacionadascom tecnologia".

Esse processo de tomada de decisãocompreende as fases de: a) identificaçãodo problema ou da oportunidade; b) identi-ficação do conjunto de possíveis alternati-vas; c) avaliação das alternativas;d) seleção da alternativa a ser implantada;e) implementação da decisão; f) avaliaçãodos resultados. Um exemplo típico de umprocesso de gestão tecnológica seria ocorrespondente à compra de um novoequipamento de produção, como um novotear em uma indústria têxtil. Cada etapa doprocesso requer informações: fabricantese especificações do equipamento; insti-tuições detentoras da tecnologia selecio-nada ou capazes de desenvolvê-la; cus-tos; resultados esperados; condições paraaquisição da tecnologia etc. O adequadoacesso às informações para apoiar o pro-cesso de tomada de decisão contribui paratorná-lo menos subjetivo, reduzindo asmargens de riscos.

Acompanhamento e avaliação detendências tecnológicas

Para possibilitar a sobrevivência dasempresas em mercados altamente compe-titivos e tecnologicamente dinâmicos,é necessário o esforço de acompanhar(technology monitoring ou technologyforecasting) e avaliar o impacto e resultado(technology assessment) das tecnolo-gias-base dos setores industriais de queas empresas fazem parte, inferindotendências que servirão para apoio aoprocesso de tomada de decisão, indican-do oportunidades e ameaças (1ª etapada gestão tecnológica). Em nível macro-econômico, o acompanhamento e ava-liação de tendências de evolução tecnoló-gica são necessários para permitir a for-mulação e implementação de políticas eestratégias de desenvolvimento científico etecnológico para um país ou uma região.

Avaliação do impacto econômico,social e ambiental da tecnologia

Em contraponto ao caráter universal daciência, a tecnologia é fortemente condi-cionada por fatores de natureza regional,como mercados, hábitos de consumo esociais, disponibilidades de matéria-primae de energia etc. Em conseqüência, hánecessidade de que se disponha de infor-mações que permitam corretamente ava-

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liar o impacto que a adoção de uma novatecnologia acarretará para uma empresaespecífica (resultados financeiros; efeitosna mão-de-obra; rejeitos e subprodutosdecorrentes etc.) ou que a difusão de umadada tecnologia em um dado setor indus-trial, em âmbito restrito ou global, trará paraa região ou o país (substituição de impor-tação; evasão de divisas; efeitos no nívelde emprego; comprometimento do meioambiente etc.).

Informação em ciência e tecnologia

Este termo é empregado para englobar asinformações que, além de cumprirem asfunções relacionadas como específicas dainformação científica ou da informaçãotecnológica, servem ainda para cumprir eapoiar a atividade de planejamento egestão em ciência e tecnologia: avaliar oresultado do esforço aplicado em ativida-des científicas e tecnológicas e subsidiar aformulação de políticas, diretrizes, planos eprogramas de desenvolvimento científico etecnológico.

As informações que cumprem esta funçãoadicional podem ser agrupadas na formaem que a seguir se apresenta:

Caracterização da oferta em ciência etecnologia

Informação sobre:

- entidades atuantes em ciência e tecno-logia (áreas de atuação; recursos hu-manos e laboratoriais; serviços técni-co-científicos realizados; atividades deensino e de pesquisa; publicações regu-lares etc.);

- pesquisas correntes (objetivos; metodo-logia; equipes e recursos envolvidos;fontes de financiamento etc.);

- pesquisas realizadas (objetivos; resul-tados alcançados; aplicações; possibili-dade de transferência de resultadosetc.);

- pesquisadores (áreas de atuação, deespecialização e de formação acadêmi-ca básica; titulação; trabalhos publica-dos etc.);

- relatórios de pesquisa e trabalhos publi-cados como resultado de pesquisa (títu-lo; resumo; equipe executora ou au-tor/autores; instituição detentora; possi-bilidades de acesso ao documento etc.).

Caracterização da demanda emciência e tecnologia

Informações relacionadas:

- identificação de problemas locais, regio-nais, universais cuja solução poderiaser buscada via atividades de pesquisacientífica e tecnológica;

- planos regionais ou setoriais, geralmen-te estabelecidos por autoridades gover-namentais, de natureza econômica, so-cial ou industrial, fixando objetivos e me-tas de desenvolvimento para cuja con-secução a contribuição das atividadescientíficas e tecnológicas se faz ne-cessária;

- perfis tecnológicos de setores produti-vos (agropecuário, indústria e setor deserviços), para apontar eventuaiscarências de desenvolvimento tecnoló-gico que poderiam ser supridas com ati-vidades de pesquisa ou de prestação deserviços técnico-científicos (ensaios,análises e testes; metrologia; normali-zação; informação científica e tecnológi-ca etc).

Estabelecimento de indicadores dedesenvolvimento científico etecnológico

Informações representadas por:

- estatísticas de ciência e tecnologia (nú-mero e tipologia de pesquisadores; pes-quisadores por área do conhecimentoou por região; recursos aplicados emciência e tecnologia; cursos de pós-gra-duação etc.). Análises estatísticas porárea do conhecimento ou por região(distribuição geográfica ou setorial daoferta de ciência e tecnologia);

- indicadores internacionais (estatísticasinternacionais em ciência e tecnologiapara fins de comparação entre nações).Análises comparativas, por área de co-nhecimento ou por região, entre estatís-ticas nacionais.

Estudos especiais

Trabalhos conduzidos com o objetivo dese avaliar:

- o impacto econômico, de caráter global,correspondente a diferentes níveis dedesenvolvimento tecnológico, por setorindustrial ou na agropecuária;

- o impacto social decorrente da mudançade patamares de desenvolvimento tec-nológico, por setor ou por região, narenda per capita, na distribuição de ren-da, no nível de emprego;

- o impacto ambiental advindo da difusãode tecnologias eventualmente compro-metedoras da qualidade do ar, da águae dos solos.

Informação para a indústria

Adotada a terminologia proposta porKlintoe7, a informação para a indústria éentendida como o conjunto de conheci-mentos de que a empresa deve dispor afim de:

a) facilitar a execução de operações cor-rentes de natureza administrativa, deprodução e de controle;

b) possibilitar o acompanhamento dadinâmica de mercado, para detecçãode oportunidades e ameaças;

c) permitir a implementação de estratégiasemergenciais para enfrentar problemasconjunturais;

d) subsidiar as atividades de planejamentoestratégico;

e) contribuir para o desenvolvimento tec-nológico.

Estas funções da informação para aindústria podem ser discutidas, de formasintética, como a seguir:

Execução de operações correntes

A empresa tem rotinas administrativas ede produção, além de obrigações legais(trabalhistas, fiscais, comerciais) que pre-cisam ser seguidas correntemente parapossibilitar a consecução de metas prees-tabelecidas. Essas atividades regulares daempresa requerem o suprimento de infor-mações, que podem ser classificadas emduas grandes categorias:

a) informações de origem interna:

- manuais de serviço e instruções deoperação;

- rotinas, procedimentos e regulamentos;

- políticas funcionais da organização(marketing; recursos humanos; finan-ças; produção; pesquisa e desenvolvi-mento etc.);

- estratégias funcionais da organização;

- planejamento operacional;

- planejamento estratégico.

b) Informações de origem externa:

- legislação trabalhista;

- legislação fiscal;

- legislação comercial (Código de Defesado Consumidor).

Acompanhamento da dinâmica demercado

O mercado onde a indústria coloca suaprodução, via de regra, está sujeito aoassédio de concorrentes, além de conti-nuamente demandar produtos com maiornível de qualidade, exigência agora estimu-lada pelo Código de Defesa do Consumi-dor, aprovado através da Lei nº 8078/91,que entrou em vigor em 11 de março de1991. Além do mais, o mercado está qua-se sempre interessado em novos produ-tos, cuja oportunidade de produção cadaindústria deve periodicamente analisar.

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Informação e atividades de desenvolvimento cientifico, tecnológico e industrial: tipologia proposta com base em análise funcional

Esta dinâmica do mercado precisa sermonitorada, razão pela qual a empresa de-ve ter acesso a informações do tipo:

- oportunidades comerciais;

- tendências de evolução quantitativa equalitativa do mercado;

- conjunturas econômicas passíveis deafetar o comportamento do mercado;

- preços de insumos, de matérias-primase produtos concorrentes;

- empresas concorrentes existentes, emimplantação ou planos de expansão deoutras empresas;

- empresas existentes fornecedoras deinsumos e de matérias-primas. Forne-cedores alternativos.

Implementação de estratégiasemergenciais

Em economias instáveis como a brasileira,em que situações conjunturais inespera-das podem ocorrer, trazendo conseqüên-cias sérias para o funcionamento normaldas empresas, os dirigentes industriaisnecessitam de dispor de informações quelhes permitam prever, na medida do possí-vel, e a minimizar os seus efeitos, crisesque eventualmente possam surgir. Nestesentido, é necessário acompanhar a evo-lução das demandas das classes traba-lhadoras tanto da categoria a que corres-ponde a empresa, quanto daquelas a quepertencem seus fornecedores, conhecerfontes alternativas de insumos e de maté-rias-primas (eventualmente para impor-tação) e planejar adequadamente a for-mação de estoques. De um modo geral, asinformações que subsidiam ações destanatureza são as mesmas enquadradas emoutras funções deste item informação pa-ra a indústria.

Elaboração de planejamentoestratégico

A imutabilidade do ambiente externo eo contínuo aumento do grau de comple-xidade das interações entre as organi-zações entre si e com a sociedade exigemque as empresas adotem comportamentosque lhes permitam "negociar o ambientefuturo", como falam Vasconcelos Fº eFernandes12, que ainda advogam a ne-cessidade crucial de as empresas mante-rem esforços de planejamento de suasmovimentações estratégicas e operacio-nais. Estes autores afirmam que "a parali-sação dos mecanismos de obtenção de in-formações estratégicas restringe significa-tivamente o poder de barganha e a agilida-de da organização no processo de in-tercâmbio com seus públicos relevantesinternos e externos, comprometendo se-riamente sua sobrevivência e desenvolvi-mento em um ambiente de crescente tur-

bulência". As informações necessárias àelaboração, acompanhamento da imple-mentação e avaliação do planejamento es-tratégico são muito diversificadas, pois en-globam tanto o conjunto de informações re-lativas ao "monitoramento ambiental" -portanto externas à empresa -, quantoaquelas relativas à própria empresa (tec-nologias adotadas; recursos humanos; ca-pital e investimentos; capacidade de pro-dução; métodos gerenciais etc.). Estas in-formações, em certa medida, cumpremtambém outras funções na empresa, jádescritas.

Merece destacar, todavia, pela sua granderelevância para o planejamento estratégi-co, e ainda por já terem sido explicitamentemencionadas neste trabalho, a infor-mação relacionada com políticas gover-namentais. A despeito da imutabilidade detais políticas, é essencial conhecer, parafreqüentemente apoiar processos decisó-rios nas empresas, bem como para dire-cionar a elaboração/adaptação do plane-jamento estratégico, as informações conti-das em planos, programas, diretrizes epolíticas emanadas de órgãos governa-mentais, de abrangência nacional ou re-gional, e específicas ou não de um dadosetor industrial. Podem ser citados comoexemplos, dentre outros, os seguintes:

- Código de Defesa do Consumidor (Lei8078/91)

- Política Industrial e de Comércio Exte-rior (Portaria nº 365, de 26/06/90, doMinistério da Economia, Fazenda e Pla-nejamento).. Programa Brasileiro de Qualidade e

Produtividade.. Programa de Apoio à Capacitação

Tecnológica da Indústria.

- Programa de Formação de RecursosHumanos em Áreas Estratégicas (Por-taria 161, 17/09/90), da Secretaria deCiência e Tecnologia).

- Legislação Ambiental Federal (Consti-tuição de 1988)

- Legislação Ambiental Estadual (Consti-tuição de cada estado, 1989/90)

- Legislação Ambiental Municipal (LeiOrgânica de cada município - 1990)

Informação Industrial

Ainda mantendo a terminologia propostapor Klintoe7, entendemos por informa-ção industrial o conjunto de conheci-mentos que servem para "fornecer parâ-metros para a comparação do desempe-nho industrial em nível nacional e interna-cional, subsidiando, assim, a formulaçãode políticas e a alocação de investimentospúblicos e privados, sendo usada paraanalisar as operações industriais segundoas metas definidas para a evolução só-

cio-econômica". Esta comparação podeser feita exclusivamente entre setores in-dustriais entre si ou entre um parque in-dustrial regional/nacional com outro deabrangência equivalente. Para possibilitaranálises comparativas de tamanha com-plexidade e estabelecer políticas, estraté-gias e diretrizes de caráter global para odesenvolvimento de setores industriais,faz-se necessário dispor de informaçõesque podem ser reunidas em categorias cu-jas funções específicas são:

a) analisar o estágio de desenvolvimentotecnológico de setores industriais, indi-vidualmente ou em conjunto;

b) analisar a estrutura, dispersão e carac-terísticas dos setores industriais;

c) acompanhar o desempenho industrial;

d) identificar o perfil dos problemas carac-terísticos dos setores industriais.

Estas funções podem ser mais bem en-tendidas com as explicações subseqüen-tes:

Análise do estado dedesenvolvimento tecnológico

Indústrias diferentes dentro de um mesmosetor ou um mesmo setor industrial consi-derado em regiões diferentes ou se com-parado com um outro setor industrial, po-dem apresentar diferenças acentuadas en-tre si no que diz respeito aos respectivosestágios de desenvolvimento tecnológico.Um exemplo típico destas possíveis desi-gualdades é o que ocorre com o setor têxtilnacional, cujo nível tecnológico os meiosde comunicação de massa têm ultimamen-te analisado e reportado estar 40 anosatrasado com relação aos países desen-volvidos. Estas distâncias tecnológicasdecorrem de uma multiplicidade de fatores:políticas protecionistas; reservas de mer-cado; baixa exigência do mercado consu-midor; reduzido investimento em pesquisae desenvolvimento; conservadorismo dasclasses produtoras; ausência de políticasde incentivo ao desenvolvimento tecnoló-gico (pelo menos até a Portaria nº 365, de26/06/90 - Ministério da Economia) etc.As informações típicas que descrevem oestado tecnológico de uma indústria ou deurn setor são:

- percentagem da receita bruta aplicadaem atividades de pesquisa e desenvol-vimento e na aquisição de serviços téc-nico-científicos;

- existência de serviços estruturados decontrole de qualidade (laboratórios, pro-cedimentos técnicos, documentos nor-mativos, pessoal qualificado);

- disponibilidade de unidade funcional es-pecífica para atividades de pesquisa edesenvolvimento;

Ci. Inf., Brasília. 20(1): 7-15. jan./jun. 1991 13

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Informação e atividades de desenvolvimento científico, tecnológico e industrial: tipologia proposta com base em análise funcional

- grau de instrução do pessoal (númerode técnicos de nível superior, titulação,número de técnicos de nível médio etc.);

- manutenção de programas sistemáticosde capacitação do pessoal;

- grau de acessibilidade a fontes de co-nhecimento técnico-científico. Relaçõescom universidades e institutos de pes-quisa. Uso de consultorias externas;

- descrição da tecnologia utilizada naprodução (fornecedores de equipamen-tos e/ou de tecnologia de processo; usode tecnologia patenteada ou não; núme-ro de anos de utilização da tecnologiacorrentemente empregada na indústria;idade dos equipamentos de produção);

- capacidade de aperfeiçoar e adaptartecnologia para emprego na produção.

Estando relacionadas com tecnologia, asinformações acima igualmente se enqua-dram na categoria de informação tecnoló-gica.

Análise da estrutura de setoresindustriais

Os diversos setores industriais podem sercaracterizados por um conjunto de indica-dores agregados que o extinto Conselhode Desenvolvimento Industrial (CDI)13,órgão do então Ministério da Indústria eComércio, em 1983 relacionava, dentre ou-tros, assim:

- distribuição espacial das empresas;

- distribuição das empresas e da receitapor porte (grande, média, pequena, mi-cro);

- propriedade do capital (nacional, estran-geiro, misto);

- pessoal empregado na produção e naadministração;

- composição das empresas por setoragrupadas por data de fundação; faixasde ativo imobilizado operacional; faixasde exigibilidade total; faixas de fatura-mento; faixas de número de emprega-dos;

- índice de exportação.

Acompanhamento do desempenhoindustrial

O desempenho conjuntural da indústriaprecisa ser monitorado através de indica-dores que expliquem as variações anuaisde produtividade total dos fatores (relaçõesentre valores adicionados à produção e osfatores capital e trabalho) e a rentabilidadeindustrial (mensuração do desempenhoadministrativo). O CDI13 analisa o desem-penho industrial através de 31 indicadores,agrupados em dois níveis:

a) desempenho da produção e de algunsfatores que influem na produtividade, ouseja, que são diretamente relacionadoscom atividade produtiva da empresa(produtividade total dos fatores; traba-lho por unidade de valor adicionado; uti-lização da capacidade produtiva; efi-ciência no uso de máquinas e equipa-mentos etc.);

b) desempenho e análise da rentabilidadeou, em outras palavras, fatores relacio-nados com a atividade administrativaem geral (valor de transformação indus-trial; lucro operacional; lucro líquido;vendas; patrimônio líquido; investimen-tos operacionais).

Identificação do perfil deproblemas típicos do setor industrial

O conjunto de empresas que compõem umdado setor industrial está, em geral, sujeitoa problemas que lhe são peculiares, alémde problemas comuns à economia em ge-ral. A identificação desses problemas típi-cos, avaliando a extensão deles e detec-tando os mais significativos, é procedimen-to necessário quando se pretende estabe-lecer políticas industriais setoriais capazesde solucionar os problemas mais críticos.De maneira simplificada, estes problemaspodem ser classificados em três catego-rias:

a) problemas relativos à aquisição dematérias-primas (estoques; diversidadede insumos; sazonalidade da oferta deinsumos; dependência de matérias-pri-mas importadas etc.);

b) problemas relativos ao processo produ-tivo (índice de perdas na produção; ina-bilidade da mão-de-obra; necessidadede padronização de componentes ad-quiridos de terceiros etc.);

c) problemas relativos à comercializaçãoda produção (qualidade da produção;concorrência de preços; nível de esto-que dos produtos finais; necessidadede embalagens especiais; sazonalidadedo mercado consumidor; número de in-termediários na cadeia de comerciali-zação etc.).

CONCLUSÃO

O esforço de identificar as funções da in-formação nos processos de desenvolvi-mento científico, tecnológico e industrial,coerente com a proposta de abordagemsistêmica preconizada por Veado3, é de-fendido na certeza de que esta análise po-derá balizar ações de planejamento, im-plementação, operação e avaliação deserviços de informação.

A enorme gama de tipos de informação e avariedade de demandas passíveis de se-

rem colocadas às bibliotecas, centros eserviços de informação exigem que cadaunidade de informação defina claramentequais necessidades de seus usuários-alvoela se propõe a satisfazer. Já que nenhumserviço de informação poderá, por simesmo, atender plenamente os usuáriosque lhe dirigem suas demandas, o desen-volvimento das atividades de informaçãono Brasil tem naturalmente conduzido auma especialização por função dos ser-viços existentes ou que vêm sendo im-plantados. A Rede de Núcleos de Infor-mação Tecnológica do Programa de Apoioao Desenvolvimento Científico e Tecnoló-gico (PADCT) é um bom exemplo destatendência de especialização por função.

Assim, a precisa definição das funçõesque a informação a ser disseminada poruma unidade de informação deve cumprircontribuirá para:

- definir a "missão institucional" da unida-de de informação constituindo critériopara a delimitação de sua abrangência;

- orientar a política de desenvolvimentode acervo;

- fornecer diretrizes para o projeto e im-plantação de produtos e serviços de in-formação;

- direcionar os esforços de capacitaçãode pessoal, favorecendo a especiali-zação dos profissionais de informação;

- balizar as ações de marketing dos pro-dutos e serviços informacionais, inibindoas expectativas não coincidentes com aatuação funcional da unidade de infor-mação e estimulando aquelas corres-pondentes à "missão institucional" fixa-da;

- possibilitar a melhor avaliação das ativi-dades desenvolvidas na unidade de in-formação;

- prover elementos para o adequado pla-nejamento de redes de informação, emque se poderá otimizar os esforços em-preendidos através de especializaçãopor função de suas unidades compo-nentes.

A tentativa de conceituar a tipologia de in-formações associada aos processos dedesenvolvimento científico, tecnológico eeconômico industrial, apresentada nestetrabalho, tem ainda a pretensão de contri-buir para a uniformização de terminologiase para a padronização conceituai necessá-rias ao aperfeiçoamento das iniciativasrealizadas no país no campo da infor-mação em geral, bem como da informaçãocientífica e tecnológica em particular.

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Artigo aceito para publicação em 2 de abril de1991.

Afrânio Carvalho AguiarProfessor do Departamento de Engenharia Elétricae dos cursos de Mestrado em Administração e emCiência da Informação da Universidade Federal deMinas Gerais (UFMG).

Information and scientific,technological and industrialdevelopment activities: a proposedtypology on the basis of thefunctional analysis

Abstract

Concepts, definitions and terminologies related toinformation connected with the scientific,technological, industrial, economical, and socialdevelopment processes are recalled. It is shownthat there is no coincidence among them,depending on the sources they come from. It isproposed an information typology based onfunctional analysis that takes into consideration thedifferent roles played by the information. Severalfunctions of the information are discussed and it ispresented some types of information thatcharacterize the identified functions. Theadvantages of approaching information byfunctional analysis for planning, implementing andevaluating the activities of information units aredescribed.

Key wordsInformation/systemic analysis;Information/concepts/functions; Communication inscience and technology; Scientific information;Technological information; Industrial information.

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