9
Frutas do Brasil, 33 Melão Produção TECNOLOGIA DE PÓS-COLHEITA E COMERCIALlZAÇÃO A qualidade comercial dos produtos hortícolas depende, basicamente, de uma série de fatores relacionados com o mane- jo da cultura (escolha da região, microcli- ma, cultivar, espaçamento, preparo do solo, disponibilidade de água e nutrientes, manejo integrado de pragas e doenças, dentre outros), determinação do ponto de colheita, e manuseio pós-colheita. Para o meloeiro, a escolha da época de cultivo é um dos principais fatores que afetam a qualidade pós-colheita dos frutos. A qualidade obtida durante a etapa de produção poderá ser mantida pela condu- ção criteriosa do manuseio pós-colheita dos melões. Aspectos como ponto de co- lheita, transporte até a casa de embala- gem, seleção e classificação, embalagem, resfriamento rápido, armazenamento e transporte até o mercado final são determi- nantes para o sucesso da atividade de produ- ção de melões. Adicionalmente, o conheci- mento do mercado e seus meandros confere ao produtor maior segurança no momento de comercializar sua produção.z ~ Considerando os pontos assinalados ~ anteriormente, serão discutidos neste ca- ~ pítulo o manuseio pós-colheita de melões ~ õ e os aspectos relacionados com sua comer- .l' cialização. Fig.l. Aspectos gerais da colheita. INTRODUÇÃO COLHEITA Diversos indicadores são utilizados na determinação do ponto de colheita Celso LuiZ Moretti José Lincoln Pinheiro Araújo de melões. O desenvolvimento da zona de abscisão do pedúnculo, mudanças na coloração e firmeza da casca, idade dos frutos e teor de sólidos solúveis totais são alguns dos indicadores empregados, sendo os dois últimos os mais utilizados (pratt, 1971). A maturação do melão ocorre, em média, entre 60 e 90 dias após a germina- ção, dependendo da região produtora e da cultivar empregada. No pólo de pro- dução do vale do Açu-Mossoró (RN), a colheita é feita entre 60 e 6S após a germinação para frutos do grupo Ama- relo Valenciano (Filgueiras et al., 2000) (Fig. 1). Neste ponto, os melões possu- em teor de sólidos solúveis totais varian- do entre 9°Brix e 11°Brix. A determinação do ponto de colhei- ta, entretanto, deve ser cuidadosamente estabelecida pelos produtores. Frutos co- lhidos imaturos apresentam elevada

TECNOLOGIA DE PÓS-COLHEITA E COMERCIALlZAÇÃOainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/208924/1/... · 2020. 1. 16. · colheita, os frutos são destacados da plan-Frutas do

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • Frutas do Brasil, 33 Melão Produção

    TECNOLOGIA DEPÓS-COLHEITA ECOMERCIALlZAÇÃO

    A qualidade comercial dos produtoshortícolas depende, basicamente, de umasérie de fatores relacionados com o mane-jo da cultura (escolha da região, microcli-ma, cultivar, espaçamento, preparo dosolo, disponibilidade de água e nutrientes,manejo integrado de pragas e doenças,dentre outros), determinação do ponto decolheita, e manuseio pós-colheita. Para omeloeiro, a escolha da época de cultivo éum dos principais fatores que afetam aqualidade pós-colheita dos frutos.

    A qualidade obtida durante a etapa deprodução poderá ser mantida pela condu-ção criteriosa do manuseio pós-colheitados melões. Aspectos como ponto de co-lheita, transporte até a casa de embala-gem, seleção e classificação, embalagem,resfriamento rápido, armazenamento etransporte até o mercado final são determi-nantes para o sucesso da atividadede produ-ção de melões. Adicionalmente, o conheci-mento do mercado e seus meandros confereao produtor maior segurança no momentode comercializar sua produção.z

    ~Considerando os pontos assinalados ~

    anteriormente, serão discutidos neste ca- ~pítulo o manuseio pós-colheita de melões ~

    õe os aspectos relacionados com sua comer - .l'cialização. Fig.l. Aspectos gerais da colheita.

    INTRODUÇÃO

    COLHEITA

    Diversos indicadores são utilizadosna determinação do ponto de colheita

    Celso LuiZ MorettiJosé Lincoln Pinheiro Araújo

    de melões. O desenvolvimento da zonade abscisão do pedúnculo, mudanças nacoloração e firmeza da casca, idade dosfrutos e teor de sólidos solúveis totaissão alguns dos indicadores empregados,sendo os dois últimos os mais utilizados(pratt, 1971).

    A maturação do melão ocorre, emmédia, entre 60 e 90 dias após a germina-ção, dependendo da região produtora eda cultivar empregada. No pólo de pro-dução do vale do Açu-Mossoró (RN), acolheita é feita entre 60 e 6S após agerminação para frutos do grupo Ama-relo Valenciano (Filgueiras et al., 2000)(Fig. 1). Neste ponto, os melões possu-em teor de sólidos solúveis totais varian-do entre 9°Brix e 11°Brix.

    A determinação do ponto de colhei-ta, entretanto, deve ser cuidadosamenteestabelecida pelos produtores. Frutos co-lhidos imaturos apresentam elevada

  • Melão Produção

    perda de água, sabor e aroma poucopronunciados e maior suscetibilidade àocorrência de distúrbios fisiológicos(pratt et al., 1977; Leach et al., 1989). Jáos frutos colhidos muito maduros apre-sentam baixa resistência mecânica aotransporte e ao manuseio, maior predis-posição ao ataque de patógenos, além depossuírem qualidade organoléptica re-duzida (Lester & Dunlap, 1985; Cohen& Hicks, 1986).

    De maneira geral, o ponto de co-lheita do melão é definido com base notempo necessário para alcançar seumercado de destino. Assim, frutos desti-nados ao mercado local podem perma-necer no campo até atingirem a maturi-dade completa, todavia ainda firmes.Para frutos que serão transportados alonga distâncias, recomenda-se que acolheita seja feita antes de os frutosatingirem a maturidade completa, ten-do o cuidado de não colhê-los aindaimaturos. O tamanho dos frutos não ébom indicador do ponto de colheita,pois, dependendo do padrão de cresci-mento da cultivar, o fruto pode atingirseu tamanho máximo antes de atingir amaturidade hortícola (Netto et al., 1994).

    A mudança de coloração da casca(verde-amarelada ou "de vez") e o teor desólidos solúveis totais ao redor de 10%podem ser utilizados como indicadorespara a determinação do ponto de colheitade melões do grupo Amarelo Valenciano.Para a determinação do teor de sólidossolúveis totais, também conhecido comoBrix, utiliza-se um refratômetro de campo.A amostra deve ser retirada por corte lon-gitudinal do fruto, isto é, da região distal(estilar) para a região proximal (apical).Retira-se, então, uma pequena porção daregião equatorial do fruto, na superfície dacavidade central das sementes e, com oauxílio de uma gaze ou algodão, espreme-se a pequena porção do fruto sobre oprisma do refratômetro, fazendo-se a leitu-ra do Brix.

    Uma vez definido o momento dacolheita, os frutos são destacados da plan-

    Frutas do Brasil, 33

    ta com o auxilio de tesouras de poda oufacas bem afiadas. O pedúnculo deve sercortado com 2 a 4 em de comprimento.

    Após a colheita, os frutos devem serretirados da exposição direta à luz do sol,e colocados em local sombreado. A inci-dência direta da luz solar eleva a tempe-ratura dos frutos, causa queimaduras su-perficiais e reduz a qualidade final e ovalor comercial dos melões (Kader, 1992).

    No manuseio dos frutos do campoà casa de embalagem, cuidado especialdeve ser tomado para minimizar a ocor-rência de danos mecânicos de impacto,vibração e compressão, que contribu-em para a redução da qualidade final dosmelões. A colocação de superfície embor-rachada nas carretas de transporte (Fig.2)e nas superfícies de descarregamento pos-sibilita a redução da ocorrência de danosmecânicos nos frutos no percurso até acasa de embalagem (Fig.3 e 4).

    .~N

    js..u

    ~-~~~--~--------------------------~Fig.2. Emborrachamento de superfíciepara a redução de danos mecânicos.

    o

    o15Ioo.e1

    Fig.3. Detalhe dos frutos na carreta detransporte.

  • Frutas do Brasil, 33

    Fig.4. Transporte de frutos para a casade embalagem.

    SELEÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

    As etapas de seleção e classificaçãosão executadas visando à padronização eà constância na qualidade dos frutoscornercializados. As principais etapassão apresentadas a seguir.

    RECEPÇÃO

    Melão Produção

    .~]ÕIoa.e~

    Fig.6. Detalhe do descarregamento.

    LIMPEZA

    A limpeza é feita retirando qualquermaterial estranho (matéria orgânica) ade-rido à superfície do fruto, com águaclorada (solução de hipoclorito de sódioa 50 mg.kg-l) e com escovas (Fig.7, 8 e 9).

    -osA recepção dos frutos deve ocorrer lsobre superfícies emborrachadas evitan- 1do, assim, a ocorrência de danos mecâni- •coso Deve-se evitar ao máximo a exposi- ~I-";;;:"-""""~..f.'--,

    jção dos frutos à ação dos raios solares, que ~danificam e reduzem a qualidade dos fru- ~tos. Algumas empresas fazem a recepção L.

    F·-

    19-..J

    7-.LF-ru-t...loll:s-s"';eX,n-d-o-tLr-a-n;Jísp-o-rt.illa"-d-o-=:;s-p";:a·ra~o......l

    dos frutos em piscinas com água resfriada, interior da casa de embalagem.o que, além de amenizar a ocorrência dedanos mecânicos, permite o abaixamentode temperatura dos frutos (Fig.5 e 6).

    'Z

    ii~N

    J~-.u~.EF"·i,;,lg'"'."5="':.~D:"e':s:!:.c-a;"r~re-g";aLm..::>lle::"n.:lto~d~o!!!.s':"f"'rrC.u-to...:JsL.a,;nl!!a:::::S;·

    casa de embalagem.

    Fig.S. Detalhe do elevador empregadopara o transporte até a seção de seleçãoe classificação.

  • Melão Produção

    Fig.9. Detalhe das escovas empregadaspara a limpeza dos frutos.

    SELEÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

    A seleção é feita com base em crité-rios tais como ausência de danos mecâ-nicos, manchas ("barriga branca"), ata-ques por doenças ou pragas, dentre ou-tros. Frutos que apresentam os proble-mas acima são descartados.

    A classificaçãodos frutos é feita combase em parâmetros como cultivar, colo-ração da casca, teor de sólidos solúveistotais, firmeza do fruto, peso e tamanho(Fig.10).

    Fig.l0. Classificação dos frutos portamanho.

    Frutas do Brasil, 33

    Classificação por tamanho epeso

    .~1 É feita pelo agrupamento dos fru-~ tos em tipos. Frutos Tipo 5 (Fig.11)1 são aqueles cujo tamanho permiteI acomodar apenas cinco frutos numaN • • •

    ~ mesma caixa, e assim sucessivarnen-~ te, até Tipo 14, quando catorze frutosj serão colocados na mesma caixa. De

    maneira geral, o mercado externo pre-fere frutos menores, que serão consu-midos como porções individuais.Neste caso, melões com tamanho aci-ma de Tipo 10 são os preferidos (Fil-gueiras, 2000).

    Fig.ll. Embalagem com frutos Tipo 5.

    .~l De maneira geral, os consumidores1 têm dado preferência a frutos médios e1 pequenos, que são servidos como por-

    ções individuais em restaurantes e ho-téis de alto padrão. A massa dos frutosvaria entre 1 e 2 kg para melões do grupo

    j 'Amarelo Valenciano' e 0,5 a 1 kg paraos melões 'Cantaloupe' (Netto et al.,1994).

  • Frutas do Brasil, 33

    Classificação pelo teor desólidos solúveis totais (OBrix)

    Segundo esse critério de classifica-ção, os valores mínimos dependerão da

    z

    cultivar. Melões do grupo 'Amarelo Va- ~lenciano' devem possuir Brix entre 10 e ~12, enquanto frutos da cultivar Galia, d

    ~entre 12 e 14, e melões 'Cantaloupe' .fdevem possuir o teor de sólidos solúveistotais ao redor de 10.

    EMBALAGEM E PALETIZAÇÃO

    Após a colheita, a seleção e a clas-sificação, os frutos devem ser embala-dos em caixas especificamente desen-volvidas para o acondicionamento demelões (Fig. 12 e 13). As caixas maisempregadas para o transporte são con-feccionadas em papelão ondulado deparede dupla. Além de proteger osfrutos contra eventuais danos mecâni-cos, e apresentar informações básicasao consumidor (cultivar, peso líqui-do, número de frutos, nome da empre-sa, telefone para contato, dentre ou-tros), as caixas devem permitir a trocade calor com o ambiente externo, ca-racterística importante, principal-mente, para a etapa de resfriamentorápido.

    Fig.12. Colocação dos frutos nas caixasde papelão ondulado.

    Melão Produção

    Fig.13. Frutosembalados com separador.

    o tamanho das caixas varia de acordocom o tamanho dos frutos, o mercado dedestino e a cultivar. Para frutos do grupo'Amarelo Valenciano', geralmente sãoutilizadas embalagens de 9,5 kg de massalíquida, sendo que os frutos são dispostosnuma única camada. Dependendo do ta-manho, o número de frutos pode variarpor caixa. Assim, numa mesma caixa de9,5 kg de melões podem ser embalados de4 a 16 frutos, com massas unitárias varian-do entre 2,9 e 0,65 kg. Nas caixas de 5 kgpodem ser acondicionados de 2 a 8 frutos,com as mesmas massas unitárias.

    As caixas com os frutos são entãocolocadas sobre paletes. O número decaixaspor palete dependerá do peso de cadacaixa. Assim, paletes feitos com caixas de10 kg podem ter 7 caixasna base e 12 caixasde altura, totalizando 84 caixas no palete.No caso de caixas de 5 kg, a base do paletepode possuir 11 caixas e 13 caixas de altura,totalizando 143 caixas (Fig. 14).

    Fig.14. Caixas dispostas em paletes.

  • Melão Produção

    A disposição das caixas em paletesfacilita consideravelmente o manuseio dacarga e o carregamento do produto (Fig. 15).

    Fig.15. Carregamento dos paletes.

    RESFRIAMENTO RÁPIDO

    A técnica de resfriamento rápido con-siste na retirada de calor de campo assimque o produto é colhido. Para melões, astécnicas mais empregadas são o resfriamen-to rápido com ar forçado e com água gelada(hidro-resfriamento). No primeiro caso, osfrutos embalados são arranjados em paletesdentro de uma câmara fria e cobertos naslaterais e na parte superior com uma lona(ou outro material similar), deixando aspartes da frente e de trás da carga abertas.Em uma das extremidades da pilha decaixas liga-se um ventilador que succiona oar frio do interior da câmara através dacarga de melões. Desta forma, o ar frioretira calor dos frutos.

    Para melões do grupo AmareloValenciano, o resfriamento rápido é feitocom ar forçado à temperatura de 5°Csendo necessárias, em média, de 4 a 6 horaspara resfriar o produto até 10°C a 12°C,considerando ar com velocidade média de3 a 4 m.s'. Para melões 'Cantaloupe', oresfriamento rápido é feito até os frutosatingirem a temperatura de 4°C a 6°C(Netto et al., 1994). É importante que atemperatura da polpa dos frutos seja acom-panhada periodicamente durante o pro-cesso de resfriamento rápido, para evitar aocorrência de dano por frio. Termôme-

    Frutas do Brasil, 33

    tros de polpa, de baixo custo, podem serempregados para acompanhar a tempe-ratura dos frutos durante esta etapa.

    Para o hidro-resfriamento é utiliza-da água à temperatura ao redor de 5°C,sendo que os frutos do grupo AmareloValenciano e de cultivares como a Can-

    ~ taloupe devem ser resfriados até as mes-{ mas temperaturas mencionadas anteri-j ormente (Hardenburg et al., 1986) ..~ Apesar de ser um método que exige~ maior investimento inicial, a técnica de~ hidro-resfriamento é mais eficiente no-.~ abaixamento de temperatura dos frutos.f do que o resfrimento rápido com ar

    forçado, uma vez que a água possuimaior capacidade calorífica do que o ar,retirando o calor dos frutos até quatrovezes mais rápido do que o ar forçado.

    ARMAZENAMENTO

    A definição da temperatura de ar-mazenamento de melões está intima-mente relacionada com a cultivar. Fru-tos do grupo Amarelo Valenciano sãomais bem conservados em temperaturasao redor de 7°C e umidade relativa emtorno de 90%. Nestas condicões a vida, ,média de prateleira destes frutos é de cercade 30 dias. Para melões 'Honeydew' e'Cantaloupe' armazenados à temperatu-ra de 2°C a 5°C, com umidade relativavariando entre 85% e 90%, a vida de pra-teleira é de aproximadamente 28 dias (Fil-gueiras et al., 2000).

    Quando armazenados em temperatu-ras menores do que as recomendadas, porperíodos prolongados de tempo, os frutosdo grupo Amarelo Valenciano apresen-tam manchas marrom-avermelhadas nasuperfície, além de escurecimento em pe-quenas regiões difusas. Ao se transferir osfrutos para a temperatura ambiente, oescurecimento das manchas se intensificaassim como o tamanho das lesões. Estecomportamento ocorre porque o melão ésuscetível a danos por frio, que podem

  • Frutas do Brasil, 33

    resultar na perda de valor comercial doproduto (Kays, 1991; Evense, 1983).Deve-se, portanto, estar atento aos limi-tes de temperatura permitidos para acultivar que se pretende armazenar.

    Apesar de amplamente utilizado paraalguns tipos de frutas, como maçã e pêsse-go, o armazenamento de melões sobatmosfera controlada carece de maioresestudos. Alguns trabalhos já demonstra-ram que melões 'Cantaloupe' armazena-dos em atmosferas com 20% de CO 2 apre-sentaram menor incidência de ataque fún-gico, danos superficiais e degradação dapolpa, quando comparados com frutosarmazenados em atmosfera comum. En-tretanto, esta tensão de CO

    2, apesar de mais

    eficiente do que as concentrações de 5% e15% CO

    2, causou o desenvolvimento de

    sabor e de aroma desagradáveis nos frutos(Aharoni et al., 1993).

    Nos últimos anos, têm sido intensifi-cados, no Rio Grande do Norte, estudossobre o armazenamento de melões ematmosfera modificada, isto é, o envolvi-mento dos frutos em filmes plásticos depermeabilidade seletiva a gases. Tal técni-ca poderia, potencialmente, estender avida de prateleira de melões. Os maioresdesafios para o emprego desta técnicaestariam relacionados com a definição dapermeabilidade ideal dos filmes plásticos,assim como com a necessidade de trata-mento prévio para evitar o desenvolvi-mento de doenças fúngicas no interior daembalagem, em função do aumento daumidade em seu interior. Em outros paí-ses, resultados positivos foram obtidoscom o emprego de polietileno de baixadensidade - PEBD - em frutos colhidos noestádio pré-climatérico, Neste caso, osmelões foram previamente tratados comágua quente (tratamento térmico) parareduzir a incidência de patógenos (Collinset al., 1990; Lingle et al., 1987).

    PATOLOGIA PÓS-COLHEITA

    Os principais microrganismos queatacam melões na fase pós-colheita são

    Melão ProduCjão

    fungos dos gêneros Aiternaria, Fusarium,Peniàiiium, Ciadosporium e Sthemphyiium. Di-versos autores mostraram que o trata-mento térmico (imersão dos frutos emágua a 52°C por 5 minutos, ou a 55°C por2 minutos) é uma forma eficiente dereduzir infecções causadas por microrga-nismos em melão Galia, sem causar escal-dadura (Teitel et al., 1989; Mayberry &Hartz, 1992; Barkai-Golan et al., 1993).

    Diversos produtos químicos têm sidoempregados com relativo sucesso no con-trole de patógenos. Para maiores infor-mações sobre os produtos registradospara o controle de doenças em melões, oprodutor deve consultar o Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento.

    COMERCIALlZAÇÃO

    Entre as frutas tropicais de maiorinteresse comercial no país, o melão é aque tem mostrado expansão mais signi-ficativa nas duas últimas décadas. Nesteperíodo, o volume produzido passou de37 mil toneladas, em 1980, para 178 milem 1998.

    Nesta seção serão abordados os as-pectos da comercialização do melão nosmercados interno e externo.

    Mercado inferno

    No mercado interno, o melão é co-mercializado local, regional e nacional-mente. O mercado local é constituídopelas cidades que estão situadas próximasaos pólos de produção. Os frutos sãocomercializados a granel e, geralmente,apresentam qualidade inferior.

    O mercado regional corresponde àregião geopolitica em que o pólo deprodução está localizado. No caso dospólos do RN/CE (formado pelos agro-polos de Açu-Mossoró, no Rio Grandedo Norte, e Baixo Jaguaribe, no Ceará)e do BA/PE (formado pelo agropolo doSubmédio do Vale do São Francisco,situado em área pertencente aos Estados

  • Melão Produção

    de Bahia e Pernambuco), o mercado regi-onal corresponde às capitais e às princi-pais cidades da Região Nordeste brasilei-ra. Assim como no mercado local, osfrutos são comercializados a granel epossuem qualidade inferior, embora exis-tam na região nichos de mercado queexigem um produto de maior qualidadee melhor apresentação.

    O mercado nacional é representa-do, principalmente, pelos grandes cen-tros consumidores da região Centro-Suldo País (São Paulo, Rio de Janeiro, BeloHorizonte e Brasília). Tais centros deconsumo estão se organizando nos mol-des dos grandes mercados internacionaisde produtos hortícolas, exigindo frutosde alta qualidade embalados em caixas(Araújo & Costa, 1997; Dias et al., 1998).

    Os atacadistas são os principais agen-tes do processo de distribuição do melãono mercado nacional. Eles compram evendem o produto a granel ou em caixase, muitas vezes, realizam outras funçõescomo, classificação, padronização e em-balagem. Existem vários tipos de atacadis-tas dependendo da área de atuação e dasfunções de comercialização que assumem.Dentre eles destacam-se o atacadista naci-onal, representado, sobretudo, pelos ata-cadistas da Ceasa, a principal intermedia-dora dos produtos hortícolas do país. Tam-bém são elementos relevantes no proces-so de comercialização de melão no merca-do interno os atacadistas regionais e locais.Os primeiros são responsáveis pela distri-buição do melão nos principais centros deconsumo da região onde está inserido opólo de produção. Já os atacadistas locaisagrupam a produção do pólo em queatuam e repassam para os atacadistas regi-onais e nacionais. Os principais clientesdos atacadistas são as casas tradicionais defrutas, sacolões, feirantes de mercadosmunicipais e de feiras livres, além de mi-nitnercados de bairros (Dias et al., 1998).

    Outro agente da cadeia de distribui-ção que cada vez mais está ampliando suaparticipação na distribuição do melão edos demais produtos hortícolas no merca-

    Frutas do Brasil, 33

    do doméstico são as grandes redes de super-mercados. Tais empresas, seguindo o exem-plo das redes de supermercados européiasque hoje controlam a distribuição dos pro-dutos hortícolas naquele continente, estãoimplantando centrais de compras e de dis-tribuição, nas quais recebem o produtodiretamente da empresa produtora e oenviam para as demais lojas de sua área deatuação (Araujo, 1999).

    A grande oferta de melão no merca-do nacional está concentrada entre osmeses de outubro e fevereiro, períodoem que o pólo de produção do RN / CE,responsável por mais de 75% da produ-ção de melão do país, escoa a maiorparte de sua produção. A época do anocom menor oferta de melão é o períodoentre março e julho, quando a disponi-bilidade de melão potiguar no mercadoé reduzida pela ocorrência de chuvasnaquela região produtora. Tal fato per-mite que os produtores de melão doSubmédio do Vale do São Francisco,região onde há produção de melão o anotodo, alcancem com mais fluidez osgrandes mercados consumidores, ape-sar de os frutos ali produzidos serem dequalidade inferior (Dias et al., 1998).

    Mercado externo

    O melão é o produto que mais am-pliou sua participação na pauta de expor-tações brasileiras de frutas nos últimosquinze anos, passando de 18 mil tonela-das em 1985 para mais de 95 mil toneladasem 1999. Aproximadamente 40% domelão produzido no país é exportado,enquanto a maioria das outras frutas nãoultrapassa os 5% (Ibraf,1997; FAO, 2000).

    Praticamente todo melão exportadopelo Brasil sai do pólo de produção doRN/CE. A União EUropéia absorve cer-ca de 90% das exportações brasileiras demelão, entre os meses de setembro e mar-ço, que correspondem ao outono e inver-no europeus. Na Europa, o principal cli-ente do Brasil é o Reino Unido, seguidopela Holanda, que atua como mercado re-

  • Frutas do Brasil, 33

    exportador, distribuindo o produto paraos demais países do continente. Outrospaíses que também se destacam comoimportantes centros importadores domelão brasileiro são Finlândia, Bélgica,Alemanha e Espanha.

    O crescimento mundial do con-sumo de melão na década de 70 foi de3%, na de 80, de 4,1% e na primeirametade da década de 90 já havia regis-trado um aumento de 4,3%. Este cres-cimento acelerado sugere que aindaexiste uma demanda reprimida e que,potencialmente, pode-se elevar a quan-tidade de melões comercializados. AUnião Européia tem aumentado suasexportações desde a década de 80, quan-do cresceu 8,2% ao ano, chegando acerca de 11% ao ano na década de 90. Aprincipal causa do aumento do consu-mo do melão na União Européia é o fatode este produto estar sendo consumido,também, nos meses do outono e inver-no, época em que tradicionalmente seconsumia pouco melão (Araújo, 1999;Fipe, 1999).

    Com relação à forma de organiza-ção do mercado internacional de melão,principalmente do mercado europeu,que absorve cerca de 90% de nossasimportações, constata-se que a distri-buição está concentrada nas mãos dasgrandes redes de supermercados, que,cada vez mais, exigem maior qualidadetanto nas características intrínsecas doproduto (consistência; uniformidade deformato, tamanho, cor e teor de açúca-res), como no serviço que o acompanha.

    As cultivares de maior importân-cia, tanto no âmbito da produção comodo mercado internacional, são os me-lões do tipo 'Galia', 'Charentais', dogrupo 'Amarelo Valenciano', 'Pele-de-sapo' e 'Cantaloupe', sendo os quatroprimeiros mais comercializados na Eu-ropa e o último, no mercado norte-americano. A preferência dos consumi-dores europeus é por frutos de tamanhopequeno (com massa em torno de 1 kg)

    Melão Produção

    e forma arredondada. A única exceçãoocorre no mercado espanhol, que prefe-re melões grandes, de forma elíptica ouovalada (Araujo, 1999).

    Atualmente as empresas brasilei-ras produtoras e exportadoras de melãoestão vivendo uma excelente oportuni-dade de ampliação de exportações, devi-do ao aumento de consumo do fruto naUnião Européia nos meses de outono einverno, período de maior fluxo de ex-portações brasileiras para aquele mer-cado. Esse crescimento de demanda, se-gundo Torres (1997) e Araujo (1999), éprovocado, principalmente pela facili-dade de aquisição do produto nas gran-des cadeias de supermercados, organiza-ções que controlam a distribuição dosprodutos hortícolas no mercado euro-peu, durante o ano inteiro. Essa situaçãocontribuiu para popularizar o consumodo melão nas estações mais frias do ano.Entretanto, como os tipos de melõesque o Brasil mais exporta (grupo 'Ama-relo Valenciano' e 'Pele-de-sapo') apre-sentam tamanho e formas diferentes dopreferido pela maioria dos consumido-res europeus (tamanho médio a grandee formas elípticas ou ovaladas) e a qua-lidade do fruto ainda não está dentro dospadrões demandados pelos grandes ope-radores internacionais, o setor brasilei-ro exportador de melão vive, também,uma forte ameaça de perda de mercadopara outros países. Tal ameaça ocorreporque estes exportadores colocamseu produto no mercado europeu namesma época em que o Brasil exportaseus frutos. Além disso, estes exporta-dores, como é o caso da Costa Rica,fornecem frutos de qualidade e dimen-sões mais adequados ao gosto dos euro-peus. Tal situação exige que os produ-tores e exportadores brasileiros refor-mulem suas estratégias produtivas ecomercias se quiserem se manter e, atémesmo, ampliarem a participaçãoneste mercado em franco crescimen-to.