15

Click here to load reader

Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

Tecnologia Educacional: Atualização ou modismo?

Resumo: Inicia com algumas tentativas de definir o termo tecnologia, que tem sido citado por várias pessoas que desconhecem o seu real significado. Em seguida passa à discussão do que viriam a ser Tecnologias Educacionais, que são elaboradas como soluções para problemas apresentados dentro da área educacional. Em seguida é feita a distinção entre Tecnologia Educacional e recurso didático. É recordada a presença das técnicas nas diversas sociedades ao longo da História e em seguida abordada a presença de tecnologias nas sociedades contemporâneas, destacando a substituição da racionalidade filosófica pela racionalidade técnica e conseqüências desse fato, como por exemplo, a influência da chamada Educação Tecnicista. Da Educação Tecnicista, passa à abordagem do fascínio exercido pela tecnologia, discute fatores contrários e favoráveis à presença de diferentes tecnologias nos diversos campos de trabalho, assim como os exageros cometidos ao considerar as aquisições de técnicas como o núcleo das atividades humanas. É discutida a importação de tecnologias (e equipamentos) sem análise de reais necessidades, assim como a conseqüente defasagem criada por esse tipo de atitude, prejudicando pessoas impossibilitadas de rápido acesso a esses meios. A influência do uso do computador na Matemática também é analisada. Por fim, são analisadas posições opostas em relação ao uso didático do computador, tanto sob a forma de máquina de treinamento como sob a forma de instrumento a ser utilizado no desenvolvimento intelectual do estudante.

Palavras-chave: computador, comunicação, educação, tecnologia, tecnologia e educacional .

1. Introdução O texto é resultado de uma pesquisa de cunho bibliográfico, realizada com

objetivo de refletir junto a grupos de estudos o sentido da Tecnologia

Educacional como uma ciência e campo teórico de estudos.

Pode-se considerar as diversas tecnologias como algo presente no

cotidiano da humanidade desde os primórdios da civilização, mas o termo

Tecnologia Educacional parece exercer fascínio nas pessoas que

desconhecem o uso de recursos tecnológicos aplicados ao campo da

Educação. A partir desse fato, é necessário esclarecer alguns pontos de vista

do que viria a ser tecnologia Educacional, evitando assim desvios na condução

Page 2: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

2

das discussões concernentes ao assunto. Conforme afirmou Barreto (2003,

p.1), é necessário trazer, para o centro da cena discursiva, o debate acerca dos modos de aproximação das chamadas novas tecnologias educacionais. É preciso introduzir algumas questões relacionadas à objetivação das novas tecnologias no contexto educacional [...] novas [...] são as tecnologias da informação e da comunicação (TIC), especificação que demarca o seu pertencimento a áreas não-educacionais, no sentido de produzidas no contexto de outras relações sociais e para outros fins [...]

Além de realizar a discussão das questões mencionadas pela autora,

deve-se também ampliar as discussões sobre o que viria a ser novo ou antigo,

quando se trata de trabalho em Educação. Também é necessário discutir as

limitações das possibilidades de introduzir, nos meios educacionais, os

recursos tecnológicos criados fora desse contexto. Das discussões devem

resultar transposições didáticas que façam uso dos meios de comunicação

realmente úteis e necessários à Educação.

2. Tecnologia Educacional: um termo difícil de definir

Tecnologia Educacional é uma expressão freqüentemente citada nos dias

atuais. Além de citada de forma imprecisa, sem que as pessoas tenham noção

mais apurada do seu real significado, a expressão Tecnologia Educacional

parece carecer de uma definição mais precisa, sendo uso feito muitas vezes de

forma confusa.

A expressão Tecnologia Educacional é uma muitas vezes usada no lugar

do termo recurso material. Mimeógrafos, softwares, computadores e seus

periféricos, máquinas foto-copiadoras, retro-projetores, projetores de slides,

vídeo cassetes, aparelhos de DVD, televisão e aparelhagens eletrônicas em

geral são citados como Tecnologias Educacionais, quando na verdade são

apenas recursos materiais à disposição do professor.

Para Carvalho Neto e Melo (2004, p. 3)

[...] quando criamos uma solução para um problema construímos conhecimento. Se a solução mostra-se eficaz, para um número significativo de casos semelhantes, então estamos diante de uma tecnologia! [...] uma tecnologia é uma solução elaborada que pode ser aplicada em situações-problema semelhantes [...] tecnologia pode ser entendida como um sinônimo para solução, solução que pode ser aplicada a um problema ou a um conjunto deles (grifos do autor).

Page 3: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

3

A partir da conceituação apresentada acima, tecnologia pode ser

considerada como solução obtida para um conjunto de problemas semelhantes

entre si. Sendo assim, mimeógrafos, softwares, computadores e seus

periféricos, máquinas foto-copiadoras, retro-projetores, projetores de slides,

vídeo cassetes, aparelhos de DVD, televisão e aparelhos eletrônicos em geral

poderão ser considerados como tecnologias educacionais apenas quando a

utilização de qualquer deles estiver associada a uma atividade educacional (ou

seja, resolver algum tipo de problema ligado à ação educativa).

Seguindo o raciocínio apresentado no parágrafo anterior, já que cada tipo

de aplicação tem uma origem diferente, pode-se pensar em diferentes

tecnologias educacionais. Com o decorrer da História, tecnologias foram

criadas para substituir outras que existiam. Em cada época da História os seres

humanos desenvolveram tecnologias diferentes como soluções de problemas

que também eram diferentes. Em alguns casos, tecnologias que anteriormente

existiam continuaram a ser utilizadas em convivência com as criações mais

recentes. Como exemplo disso, a máquina de escrever pode ser citada, pois a

sua utilização não levou as pessoas a deixarem de produzir textos manuscritos.

Com a invenção dessa máquina, a localização da tinta usada na escrita passou

da caneta para uma fita que imprime caracteres numa folha de papel. Mesmo

depois da máquina de escrever passar a ser menos usada, em decorrência do

aperfeiçoamento dos editores de texto e impressoras, os textos manuscritos

ainda continuam a ser usados, devido à rapidez com a qual podem ser

produzidos, não necessitando ligar um equipamento eletrônico [no caso o

computador] para esse fim.

Outro uso indevido para o termo tecnologia educacional também é

consumado quando ele substitui a palavra mídia. Quadro [de giz ou para

escrever com caneta], papel, lápis, cinema, televisão, rádio, materiais

impressos em geral são apenas meios a serem utilizados para tentar transmitir

dados, que poderão ou não gerar informações usadas na elaboração de

conhecimentos. Para cada recurso material citado, a intervenção humana

determinará a utilização na solução do problema que se apresenta, ou seja, a

tecnologia a ser implementada.

Outro detalhe esquecido pelas pessoas em geral é a diferença entre a

mensagem e o meio pelo qual ela deverá ser apresentada. Por exemplo, a

Page 4: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

4

comunicação de uma descoberta científica recente pode ser realizada usando

um jornal impresso ou ema mensagem com os dados transmitidos pela

internet. A atualidade da descoberta não será invalidada pelo fato de se preferir

a primeira forma de comunicar e não a segunda.

Com respeito às mídias em geral, ainda pode ser lido em Carvalho Neto e Melo (2004, p. 8) que

a mídia não é mensagem. Toda mídia, como meio que se interpõe e viabiliza a interação entre pessoas participantes de um processo educacional, não é o agente criativo; ela pode carregar mensagens e informações, mas, por si só, é incapaz de produzir conhecimento, pronto para ser oferecido.

Quando alguém critica um professor que prefira usar quadro de giz e não o

de fórmica branca, tentando enquadrá-lo como uma pessoa ultrapassada e

desatualizada em relação às novas tecnologias educacionais, comete um duplo

equívoco.

Um professor de Física Quântica pode usar um quadro de giz para

descrever os resultados obtidos em alguma pesquisa recente no seu campo de

trabalho. Isso não tornaria obsoleto o trabalho descrito. Diagramas e tabelas

podem ser apresentados escrevendo sobre o quadro. Certamente, caso

dispusesse de recursos visuais de melhor qualidade, isso talvez pudesse

colaborar para melhor esclarecer as idéias apresentadas.

Não pode ser esquecido que o quadro de giz é apenas um tipo de mídia,

surgida como auxiliar do professor na tentativa de fazer com que o estudante

entenda seu discurso. Até a invenção do quadro de giz, o professor tinha

apenas a sua voz como instrumento na tentativa de transmissão do saber.

3 . As tecnologias nas sociedades contemporâneas As diversas sociedades conviveram e convivem com várias técnicas ao

longo da história, conforme já foi afirmado. Porém a noção moderna de técnica

se firmou com a consolidação, na Europa, da sociedade industrial durante o

século XIX. Passo-se a sua exaltar as inovações tecnológicas decorrentes de

descobertas científicas em detrimento das posições filosóficas, que não eram

aparentemente impulsionadas nem impulsionadoras dos avanços alcançados.

Page 5: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

5

O ser humano por trás dessas invenções, com a sua visão de mundo e seus

objetivos de vida, aos poucos passou ao segundo plano. A partir de então,

segundo Gonçalves (2001, p. 118), instala-se o primado da “razão científica”

que [...] ganha dimensão inimaginável, daí a exaltação da ciência e da técnica em oposição à filosofia especulativa e aos dogmas religiosos. a “razão técnica” está preocupada com o agir-com-vistas-a-um-fim-imediato, com a eficácia. Está ligada à intervenção do homem na natureza, aos processos de trabalho [...] um dos campos da ação humana [...] constituído também pela relação dos homens entre si, mediatizadas por relações simbólicas, intersubjetivas [...] a “razão técnica” tornou-se única razão (grifos do autor).

Com o desenvolvimento cada vez mais rápido de diversas técnicas nas

sociedades capitalistas, as relações do ser humano com os objetos parecem

ter sido substituídas pela noção do ser humano como um objeto apêndice

dessas mesmas técnicas. O relacionamento do ser humano com a natureza ao

seu redor cada vez mais é mediado pelas diversas técnicas, chegando à

aparência, em certos casos, da impossibilidade desse relacionamento sem a

intervenção de algum tipo de tecnologia específica.

Muitas vezes as inovações técnicas são vistas como necessariamente

inevitáveis e sinal de progresso da sociedade que conseguir alcançar o maior

número de renovações no menor intervalo de tempo. Em Gonçalves (2001, p.

119) a subordinação do ser humano à invenção técnica e a ocultação de

saberes nas sociedades industrializadas pode ser constatada a partir da

afirmação que [...] agora é a máquina que faz [...] ficando o trabalhador subordinado ao ritmo que o capital impõe [...] o saber fazer estava no próprio corpo do trabalhador, já na maquinofatura há todo um saber contido na máquina que o trabalhador vê diante de si, que não lhe pertence uma vez que ficou transformado num mero apêndice dela, alimentando-a.

A maquinofatura permitiu um controle cada vez maior sobre o trabalhador

na sociedade capitalista, mudando relações sociais na tentativa de eliminar ao

máximo a subjetividade do ser humano ao se relacionar com o trabalho. O

trabalho a ser realizado passou a ser determinado por um grupo de pessoas

que, em relação aos executores das tarefas, representa uma menor quantidade

de indivíduos. Nas sociedades em que a relação entre trabalho intelectual e

trabalho braçal se constituiu como uma divisão de esforços, a criação humana

foi deslocada para dar lugar à execução de rotinas repetitivas por uma parcela

Page 6: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

6

cada vez maior da sua população, como condição de sobrevivência. Quanto à

perda da subjetividade de cada ser humano e a transformação de grupos

sociais em massas humanas, Gonçalves (2001, p. 121) observa que [...] talvez resida aqui uma das razões da implantação dos chamados sistemas de ensino de massa hoje. Assim, o extremo preparo de uma parcela diminuta de trabalhadores corre paralela à não qualificação da grande maioria. Aqui se coloca uma questão: o que significa a natureza humana nesse contexto sócio-histórico específico?

Não se deve encarar o fato das técnicas assumirem papel de relevância

nas sociedades atuais como decorrência natural da evolução do gênio

inventivo humano, mas sim como uma tentativa de cada vez mais se controlar

a natureza e as individualidades humanas. Trata-se de um fenômeno histórico

e não simplesmente biológico.

4. Educação tecnicista Como conseqüência da evolução tecnológica, existem seguidas tentativas

de aplicar na educação as mesmas tecnologias do mundo do trabalho. Essas

tentativas são realizadas mediante utilização de equipamentos ou das

diferentes metodologias de divisão do trabalho. Nos países dependentes em

relação às tecnologias [o Brasil se enquadra nesse grupo], são freqüentes as

tentativas de importar e aplicar essas tecnologias sem devidas análises de

necessidades, críticas dos métodos a serem utilizados e adaptações de suas

aplicabilidades. A partir desse tipo de comportamento, são geradas distorções

em relação aos contextos em que as técnicas importadas foram criadas. Até

mesmo a tentativa de diminuir a necessidade de mão de obra específica em

educação inspirou tentativas de adotar novas tecnologias.

A importação das tecnologias acaba por se transformar num fim, ao invés

de ser um meio de trabalho. Equipamentos e metodologias de trabalho são

importados e muitas vezes não existe necessidade ou possibilidade de

aplicações para eles. Isso gera desnecessariamente um problema, que é a

desqualificação dos profissionais sem possibilidade de utilizar as novas

técnicas, pelo simples desconhecimento da novidade recém chegada. Esse

contexto de importação, segundo Machado (1992, p. 98) se dá pelo fato de que

a Tecnologia

Page 7: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

7

[...] considerada amiúde a filha mui dileta da venerada Ciência, traz consigo uma auréola de respeitabilidade, uma garantia de qualidade que autoriza até a criar problemas que ela mesma se proporá a resolver. Assim é que, por exemplo, a Tecnologia Educacional de mão-de-obra [...] seria não qualificada? [...] e admitindo-se que não fosse, por que não utilizar os recursos tecnológicos para “qualificar” esta mão de obra em vez de marginaliza-la [...]

As tecnologias não se configuram como bens em si mesmas. São apenas

soluções desenvolvidas com finalidades de resolver problemas específicos. Os

problemas geradores do desenvolvimento de uma determinada tecnologia num

território demarcado, numa determinada época, podem não se repetir em outro

lugar, mesmo que contemporaneamente. Simplesmente importar determinados

meios materiais de forma a-crítica, como se eles fossem soluções definitivas

para os problemas educacionais de um país, acaba gerando despesas

desnecessárias ao mesmo tempo em que os problemas existentes podem não

ser resolvidos. Na década de 1970, um termo utilizado para justificar tais

importações era a “queima de etapas” no desenvolvimento do país. Segundo

Machado, (1992, p. 99) [...] existem os que foram consultados e concluíram que, sem tais recursos, não lograremos atingir o estágio de desenvolvimento compatível com “o nosso destino histórico”, ou em outras palavras “nós estamos perdidos” [...].

Existem pessoas que afirmam ser a Tecnologia Educacional um

instrumento de democratização da sociedade, sem levar em consideração o

fato desses meios não serem de fácil acesso à maioria da população do país,

por questões econômicas individuais ou orçamentárias dos poderes locais.

Assim, é possível notar que a posse dos meios qualificados como Tecnologias

Educacionais, pode servir como forma de controle social, separando os

estudantes em qualificados e não qualificados, pelo fato de dominarem ou não

determinadas técnicas.

Um exemplo do que foi exposto no parágrafo anterior é o fato das escolas

públicas terem sido equipadas tardiamente em relação aos estabelecimentos

privados. Os estudantes das escolas públicas acabaram prejudicados do ponto

de vista do manejo de equipamentos de informática, quando comparados com

aqueles que estudavam em instituições privadas.

Page 8: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

8

5. A atração exercida pela tecnologia Pessoas que desejam fazer prevalecer o discurso da modernidade como

oposição ao atraso, sem maiores críticas em relação aos que utilizam meios de

comunicação considerados ultrapassados, fazem uso de certas dicotomias

[estático em oposição ao dinâmico, antigo em oposição ao moderno] na

tentativa de desqualificar o que não é recente, apelando para o que Machado

(1992, p. 100) classifica como uma espécie de fascínio natural pelo Dinâmico, assim como pelo Moderno, que obscurece o significado das relações entre os elementos de pares como os citados e conduz a opções fáceis e muitas vezes irrelevantes para o que se discute.

O fascínio e a atração exercidos pelos aparelhos eletrônicos resultantes da

evolução técnica em alguns campos, por vezes são utilizados por pessoas

interessadas em fazer avançar as vendas de equipamentos, como se apenas a

mudança da mídia utilizada pelo professor pudesse resolver os problemas de

ensino e aprendizagem.

Desde a década de 1970, até os dias atuais, a discussão a respeito da

utilização educacional de diversos meios de comunicação teve posta em

evidência as suas limitações, principalmente em relação às de ordem

econômica. Nessa época, foram feitas previsões (MacLuhan foi um dos que fez

tais previsões) a respeito da entrada dos meios de comunicação de massa nas

salas de aula como um processo inevitável e que também dificilmente poderia

ser contido. Particularmente no Brasil foi propagada a idéia da perda da corrida

na direção do desenvolvimento para os que não conseguissem acompanhar a

rápida evolução dos meios de comunicação.

Alguns discursos foram apresentados como exemplos de que seria urgente

acompanhar as mudanças resultantes da evolução dos meios de comunicação

de massa. O primeiro se refere à facilidade de massificação das informações.

Consecutivamente ao primeiro, poderia ser afirmado que os meios de

comunicação de massa seriam infalíveis na capacidade de reproduzir mais

rapidamente a informação. Em conseqüência dos dois pensamentos anteriores,

seria conseqüência lógica afirmar que a transmissão oral das informações (feita

pelo professor) não acompanharia a evolução vertiginosa dos meios de

comunicação. Em decorrência de tudo isso a não utilização dos meios de

Page 9: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

9

comunicação de massa seria um entrave ao desenvolvimento dos estudantes,

pois a transmissão instantânea das informações resolveria o problema da

defasagem de saberes.

Na década de 1990, o fascínio tecnológico foi desviado para um tipo de

meio que na década anterior entrou em ciclo de desenvolvimento mais rápido

que os meios de comunicação até então estabelecidos, sendo que esse ciclo

parece não ter mais fim: são as tecnologias de informática (mais precisamente

o computador de mesa produzido em larga escala), que chegaram rapidamente

ao cotidiano dos que vivem dentro e fora dessa indústria.

Na época em que esse fascínio se instalou, as opiniões eram quase

radicalmente opostas. De um lado os que aceitavam o uso do computador de

forma irrestrita e de outro, os que de qualquer forma se opunham ao uso desse

recurso. Em relação à presença maciça dos computadores nas escolas e os

exageros cometidos em decorrência das possibilidades de aplicações desse

instrumento de trabalho, Machado (1992, p. 108-109) afirmou que esse

aparelho [...] deflagra ou alimenta uma corrida ansiosa, nos meios educacionais, rumo aos equipamentos e às tecnicidades correlatas. O computador é apresentado como um bem supremo, um atleta velocista com uma memória de elefante, capaz de proezas inimagináveis pelos pobres mortais, lentos e de memória curta. Sua utilização efetiva, no entanto, tem-se caracterizado como um espetáculo cuidadosamente produzido, cheio de luzes e fogos de artifício, mas que carece de maior densidade, parecendo muito mais um vôo entre o lusco e o fusco.

No início da década de 1990, as aulas de informática eram centradas nas

aprendizagens de como manusear os programas comerciais que eram

instalados no computador, quando ele era adquirido. O treino nas diversas

rotinas era aplicado como um fim educativo. Em seguida, durante essa década,

apareceram alguns exemplos de exploração das tecnologias de informática que

não mudavam a abordagem didática. Programas ditos educacionais foram

concebidos simplesmente utilizando a tecnologia informática para animar os

enunciados e as figuras dos livros didáticos, mudar as páginas com o auxílio do

teclado e apresentar essas imagens por meio do monitor do computador.

Outros programas também faziam apenas a substituição da calculadora

Page 10: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

10

comum ou do lápis e papel, por exemplo, em relação ao ato de executar

operações fundamentais em Matemática.

Alguns educadores afirmaram na época que a aplicação das tecnologias

de informática mudariam radicalmente a forma das pessoas pensarem

tornando quase ilimitadas as possibilidades de aprendizagem do estudante.

Porém eles esqueceram que apenas o meio não basta para transformar

qualquer ação em um processo educativo, pois a mensagem tem importância

no processo. Machado (1992, p. 104) criticou aqueles que esqueceram desse

fato, afirmando que quando as atenções se centram nas técnicas de comunicação em detrimento dos conteúdos, quando os objetivos a serem perseguidos são suficientemente vagos [...] nenhuma alteração radical pode ser esperada

No momento atual existe uma tendência em qualificar as tecnologias de

informática como novos meios de comunicação, em coexistência com outros

tipos de instrumentos de trabalho no ambiente escolar. Até mesmo nos países

em que o fator econômico não afetaria a adoção das tecnologias informáticas

de ponta, ocorreram análises confrontando a importância das aparelhagens em

relação aos conteúdos, métodos de ensino e preparação dos professores.

Fatores como a afetividade, por exemplo, não podem ser esquecidos na hora

de analisar as propostas pedagógicas.

Como meio de simplesmente apresentar dados, a eficiência da mídia

eletrônica [em especial a internet] não pode ser negada. Para uma pessoa que

saiba ler e navegar, buscar dados pode ser realização de qualquer horário,

desde que a aparelhagem funcione. Após os dados serem relacionados, a

utilidade deles como fonte de informação e base para formulação de

conhecimento dependem da ação do professor. O computador sozinho [assim

como qualquer outro meio] não serve como elemento de ensino e

aprendizagem significativa. A utilização de qualquer meio também depende da

atitude da coletividade responsável pelas práticas em aula. “[...] os mídia

eletrônicos, por mais sofisticados que pareçam, nunca serão suficientes para

desempenhar sozinhos funções docentes” (Machado, 1992, p.105).

Page 11: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

11

6. O computador e a Matemática A respeito das influências que seriam decorrência do uso de computadores

nos trabalhos dos matemáticos, a formulação de novos conceitos dentro dessa

ciência e da renovação das metodologias operacionais, principalmente nos

estudos de nível superior, D’Ambrosio (1986, p. 103 a 105) afirmou que conceitos matemáticos sempre dependeram de métodos de cálculo e métodos de escrita [...] pode-se esperar que novos métodos de cálculo e de escrita que os computadores e a informática oferecem, permitam o surgimento de novos conceitos matemáticos [...] eles nos permitem e solicitam considerar um novo aspecto das idéias tradicionais [...] sempre houve um lado experimental na Matemática [...] os computadores aumentaram rapidamente nossas possibilidades para observação e experimentação em Matemática [...] uma nova arte, totalmente de experimentação, está se desenvolvendo em todos os ramos da Matemática [...] é agora uma questão de elaboração de um plano adequado de ação [...]

A Matemática, como qualquer campo de atuação humana, também sofre

influências da informática. As rotinas de trabalho de um cientista matemático

não estão livres da influência das tecnologias informáticas. A respeito dessas

influências, das possibilidades de mudanças e também dos processos

essenciais que permaneceriam, pode ser lido em D’Ambrósio (1986, p. 105-

106) que Matemática é também, e permanecerá, uma ciência de demonstração. Mas o estudo de demonstração não é imutável. O nível de rigor e grau de formalização depende do tempo e lugar [...] hoje o ponto de vista mudou. Sempre que possível, faz-se uso de uma demonstração de algum algoritmo que permite obter eficientemente o objeto procurado.

Em relação à afirmativa acima, deve-se lembrar que o problema surgido

em relação aos irracionais levou os gregos antigos a tentar formular uma

geometria “sem números”. A noção de número irracional era um entrave na

época. Esse entrave foi satisfatoriamente resolvido a partir do século XIX,

juntamente com o desenvolvimento da Lógica Matemática e da Teoria dos

Conjuntos, o que possibilitou um “novo patamar” para o rigor e a

demonstração Matemática.

Mesmo com a possibilidade do uso de computadores acarretar mudanças

nas rotinas de trabalhos, a Matemática será cada vez mais necessária não

somente em relação ao seu aspecto de ciência teórica, mas também terá

campos de aplicação cada vez maiores. “[...] o uso de computadores e de

Page 12: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

12

informática exige mais Matemática, melhor compreendida, e levada a um novo

equilíbrio entre ‘pura’ e ‘aplicada’” (D’Ambrosio, 1986, p. 108, grifos do autor).

Com as pessoas liberadas dos problemas em relação às operações com

números e também da necessidade de memorizar fórmulas, a compreensão

dos conceitos e das propriedades matemáticas serão focos do

desenvolvimento de trabalhos, tanto do ponto de vista do Educador

Matemático, quanto do ponto de vista do matemático profissional.

7. Oposição de enfoques sobre o uso do computador Se em relação aos softwares existem alguns que servem apenas para

comandar as ações de quem o utiliza, apresentando instruções a serem

seguidas de forma linear, também existem outros que servem a propostas

educacionais, nas quais o estudante é o foco da elaboração de conhecimentos.

No primeiro caso o programa é usado para passar instruções sem necessidade

de reflexões, visando ”não provocar conflitos cognitivos” (Almeida, 2000, p. 38).

No segundo caso o programa permite que o estudante comande a sua

construção seguindo uma abordagem construcionista. “[...]uma abordagem

construcionista, centra-se no pensamento e na criação, no desafio, no conflito e

na descoberta“ (Almeida, 2000, p. 38).

O aparente dilema estaria entre aperfeiçoar o ensino [na forma de

programação de instruções] ou elaborar softwares com possibilidades de servir

ao apoio do estudante na elaboração de conhecimento, invertendo o controle,

que passa da máquina para o ser humano.

É sabido, no campo da Educação, que o ser humano se apoia em sua

realidade concreta para construir imagens mentais do seu objeto de

aprendizagem. Essas imagens são abstraídas dando origem a novas

construções concretas e posteriores abstrações. O computador pode ser um

elemento de apoio a esse movimento entre o concreto e as novas

possibilidades de abstrações, caso seja deixado de lado o seu aspecto apenas

de instrumento de instrução e controle.

O computador tem a vantagem de acrescentar movimentos e sons ao

texto, dando movimento às imagens fixas usualmente encontradas nas mídias

impressas, possibilitando “[...] que o conhecimento que está sendo trabalhado

Page 13: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

13

tenha sentido [...] que a aprendizagem seja sintônica” (Almeida, 2000, p. 39).

Ao invés de simplesmente mudar páginas com o auxílio do teclado, um

programa para ensino de Física, por exemplo, pode ser usado na apresentação

de diversos tipos de movimentos e colisões, tendo como objetivo ilustrar o

estudo de forças, mas essa utilização do computador somente pode ser levada

a cabo se for realizada uma revisão de métodos didáticos acompanhada de

uma mudança na visão epistemológica a respeito do que é educação, dando

apoio às criações dos estudantes.

Outro fato é que deveria caber ao professor a escolha de trabalhar ou não

com o computador. A exemplo do livro didático, também pode acontecer que a

escola imponha ao profissional a utilização do computador por um número

mínimo de vezes durante o mês. Todavia, somente o professor é capaz de

avaliar a sua competência para uso desse aparelho como recurso didático.

Caso o professor opte por usar essa máquina, também ele deve estar livre para

escolher quais programas utilizar e em quais situações fazê-lo. Citando Dewey,

Almeida (2000, p. 50-51) lembra que [...] toda experiência humana é social e decorre de interações, em que estão desenvolvidas condições externas, ou objetivas, e condições internas. A interação é decorrente do equilíbrio entre esses dois fatores. O professor precisa identificar situações que conduzam ao desenvolvimento [...] a máquina é vista como um instrumento produzido pelo homem para regular interações e garantir eficientemente determinadas conseqüências [...]

Considerações finais Diferentes formas de tecnologias foram criadas pela humanidade ao longo

da História. Porém a consideração da técnica como centro da vida em

sociedade foi consolidada com a expansão do sistema capitalista no século

XIX. Desde essa época, a humanidade se vê cada vez mais cercada de

diversos meios de trabalho e comunicação, erroneamente chamados de

tecnologias. O termo tecnologia só é bem empregado ao se reportar às

soluções criadas para resolver problemas específicos. Assim, por exemplo, a

existência de um aparelho de fax pode não representar uma tecnologia, se não

for utilizado com o fim de enviar mensagens escritas por meio de impulsos

telefônicos.

Page 14: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

14

O termo Tecnologia Educacional, quando referido ao uso de algum meio

de comunicação sem que isso represente solução para qualquer problema na

área da Educação, também é uso impróprio dessa expressão. Muitas vezes o

fato de utilizar o computador em aula para um objetivo que não seja o

desenvolvimento de habilidades do estudante é confundido com o fato desse

uso representar a aplicação de alguma Tecnologia Educacional. Um livro

editado eletronicamente e que tenha a mudança de páginas realizada com

toques de teclas não apresenta em seu uso diferenças marcantes em relação

àquele fabricado em papel. Sendo assim, não se pode falar nesse caso de

mudança de tecnologia, mas sim da forma de comunicar dados.

Diferentes instrumentos de comunicação eletrônica [como rádio, televisão,

e vídeo cassete, por exemplo] foram usados em diversas tentativas de levar

alguns meios de comunicação de massa para o ambiente escolar durante as

décadas de 1970 e 1980. Porém foi feita simplesmente a substituição do

professor pelos instrumentos eletrônicos, na função de transmitir informações.

Esses fatos ocorreram sem que fossem analisadas as interferências desses

instrumentos na atividade do professor e quais seriam as possibilidades de

desenvolvimento do seu trabalho com a utilização de novas mídias.

É conhecido pelos profissionais atuantes na área da educação o fato de

que diferentes instrumentos de trabalho devem ser utilizados para diversificar

atividades didáticas e tentar melhorar a qualidade da aprendizagem. A

evolução dos meios de comunicação deve ser acompanhada pela sua

correspondente no meio escolar. Porém não se deve adotar qualquer

instrumento de trabalho pelo fato de ser novidade, sem que a real necessidade

de adoção seja estudada detalhadamente.

A implantação e inovação das Tecnologias Educacionais ultrapassam o

simples ato de adquirir instrumentos de comunicação e utilizá-los no ambiente

da escola. Também é necessário avaliar as reais necessidades do professor,

dos estudantes e da sociedade em geral. Isso feito, seriam evitadas aquisições

de aparelhagens muitas vezes caras e desnecessárias para o andamento dos

trabalhos em uma escola.

REFERÊNCIAS

Page 15: Tecnologia Educacional_ Atualização ou modismo_Geraldo Bull da Silva Júnior

15

ALMEIDA, M. E. Informática e formação de professores. Proinfo. Brasília:MEC, 2000. BARRETO, R.G. As TIC na educação: das políticas às práticas de linguagem. DataGramaZero, Rio de Janeiro, v.4, n.5, out. 2003. Disponível em <http://www.dgz.org.br/out03/Art_01.htm>. Acesso em 14 abr. 2005. CARVALHO NETO, C. Z; MELO, M. T. Afinal, o que é tecnologia educacional? In: E agora professor? Por uma pedagogia vivencial. Disponível em :<http://www.uniead.com.br/seminario/oquee.doc> Acesso em 27 fev. 2005. D’AMBROSIO U. Da realidade à ação: reflexões sobre a Educação e Matemática. 4.ed. Campinas: Summus, 1986. GONÇALVES, C. W. A técnica, a sociedade e a natureza. In: Os (des)caminhos do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2001, p.118-124. MACHADO, N. J. Matemática e educação: alegorias, tecnologias e temas afins. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1992.