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1 A CONTROVÉRSIA EXISTENTE ENTRE TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS – UMA ANÁLISE MARCELO ALVES

TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

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A CONTROVÉRSIA EXISTENTE ENTRE TECNÓLOGOS E

TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS – UMA

ANÁLISE

MARCELO ALVES

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INTRODUÇÃO

O texto a seguir foi feito no exercício de minha função de Assessor da

Diretoria Executiva do CRTR – 5ª região para ser encaminhado aos Ministérios

Públicos Federal, Estadual e do Trabalho.

Nessa atividade, primeiro no Sindicato da categoria e atualmente, no

Conselho Regional de Técnicos em Radiologia de São Paulo, aprendi a respeitar a

profissão e os profissionais, principalmente pelo exemplo de luta e dedicação dos

Conselheiros a quem assessoro. O objetivo foi fazer uma análise, frente ao

ordenamento jurídico do Brasil, do exercício profissional das diversas Técnicas

Radiológicas na medicina, no diagnóstico e nas terapias envolvendo fontes

emissoras de radiação ionizante, para servir de subsídio à contenda envolvendo

Técnicos e Tecnólogos em Radiologia versus Biomédicos.

Somos cientes dos problemas que os Profissionais das Técnicas

Radiológicas enfrentam e sou testemunha do empenho diário para enfrentá-los.

E tenho ciência também que o presente trabalho não esgota o

assunto, pois entendo que o principal problema a ser enfrentado reside na

formação profissional, dado que, atualmente, a grande maioria dos cursos, tanto o

Técnico profissionalizante de nível médio, quanto o Tecnológico de graduação

superior, não cumprem plenamente as diretrizes educacionais pátrias, o que reflete

diretamente nas disfunções existentes nesse mercado de trabalho.

Acredito mais ainda, que - fato extraído da leitura de tão extensa

matéria que realizei nos últimos meses - as oportunidades na área são muitas para

o profissional que tenha visão de futuro e consciência que se está numa atividade

onde estudo e aprimoramento constantes são essenciais para o sucesso

profissional.

Finalizando, fiz algumas correções e complementações no

documento, visto que, em decorrência de prazos, não foi possível abordar todas as

questões da forma como gostaria, porém, caso se origine daqui uma demanda,

haverá o momento oportuno para abordá-las.

No tocante aos pisos salariais utilizados para os cálculos que fiz,

esclareço que eram os valores vigentes até 15 de agosto de 2012.

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As partes que versam sobre Hospitais e Clínicas denunciados, sobre

a legitimidade do Conselho Regional e sobre os pedidos que foram feitos ao

Ministério Público, serão publicados após manifestação daquele órgão.

Espero ter contribuído, sem esquecer a colaboração de todos os

profissionais – Técnicos e Tecnólogos em Radiologia – que me supriram com

informações essenciais para a realização desse trabalho.

Assim, aproveito para agradecer especialmente ao José Paixão de

Novaes, Técnico em Radiologia e Presidente do CRTR – 5º região, Claudinei P.

Vasconcellos, Tecnólogo em Radiologia e Medicina Nuclear, Alex Sandro da Costa

Aguiar, Tecnólogo em Radiologia e pós-graduado em Radioterapia, José Carlos da

Cruz, Técnico em Radiologia especializado em Hemodinâmica, Conselheiros e

Fiscais do CRTR – 5ª região.

Marcelo Alves

Bacharel em Direito

Assessor do CRTR – 5ª região

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1 - DOS FATOS APURADOS QUE SERÃO OBJETO DA PRESENTE ANÁLISE

Os empregadores da área da saúde vêm substituindo regular e

sistematicamente os profissionais Técnicos e Tecnólogos em Radiologia por

profissionais Biomédicos, na operação de fontes emissoras de radiação ionizante e

na realização de exames típicos da área do Diagnóstico por imagem, assim como

na realização de procedimentos terapêuticos em Radioterapia e Medicina Nuclear.

Tais contratações, na visão desses empregadores, estariam sustentadas

pelo ordenamento jurídico vigente, vez que a Legislação regulamentadora da

profissão de Biomédico lhes daria tal competência.

Os Biomédicos tiveram sua profissão regulamentada pela Lei Federal nº

6.684, de 3 de setembro de 1979, de cujo Capítulo II, com o título “Da profissão do

Biomédico”, reproduzo o Art. 5º e incisos:

Art. 5º Sem prejuízo do exercício das mesmas atividades por outros profissionais igualmente

habilitados na forma da legislação específica, o Biomédico poderá:

I - realizar análises físico-químicas e microbiológicas de interesse para o saneamento do

meio ambiente;

II - realizar serviços de radiografia, excluída a interpretação;

III - atuar, sob supervisão médica, em serviços de hemoterapia, de radiodiagnóstico e de

outros para os quais esteja legalmente habilitado;

IV - planejar e executar pesquisas científicas em instituições públicas e privadas, na área

de sua especialidade profissional.

Parágrafo único. O exercício das atividades referidas nos incisos I a IV deste artigo fica

condicionado ao currículo efetivamente realizado que definirá a especialidade profissional.

Porém, numa análise mais aprofundada, levando-se em conta o contexto

histórico que levou à aprovação das Leis Federais 6.684/79 (do Biomédico) e

7.394/85 (do Técnico em Radiologia), bem como utilizando a interpretação

sistemática cabível à análise do caso em tela, procurarei demonstrar que, a par da

previsão legal para a atuação do Biomédico na área do radiodiagnóstico, aquela

legislação sofreu derrogação, visto que a Lei 7.394/85 impôs condições para o

exercício da profissão, dentre elas, destacadamente, a obrigatoriedade da

realização de um curso de formação mínima para o exercício da profissão,

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restando assim impossibilitada a atuação dos profissionais Biomédicos na

operação de fontes emissoras de radiação ionizante e das atividades inerentes a

essa operação, quais sejam, os exames diagnósticos e as terapias com uso de

radiações ionizantes.

Procurarei demonstrar também, que a opção pela contratação dos

profissionais Biomédicos para executarem as funções atinentes aos

Técnicos/Tecnólogos em Radiologia, é exclusivamente econômico-financeira visto

que, dadas as condições de jornada restrita, adicionais pagos em seu valor

máximo, piso salarial superior e aposentadoria especial garantidas em lei ao

Técnico em Radiologia, a contratação de Biomédicos ao arrepio das Leis

trabalhistas, significa a opção por maximizar lucros em detrimento da qualidade da

prestação dos serviços na área da saúde, bem como traz reflexos negativos à

saúde dos obreiros, além de prejudicar a arrecadação previdenciária.

E, principalmente, procurarei demonstrar que a prática significa risco à

saúde da população, direito social indisponível, definido como “direito de todos e

dever do Estado”, assim consagrado nos Art. 6º e Art. 196 da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988.

2 – DO USO DAS RADIAÇÕES

"A humanidade se divide em antes

e depois da descoberta dos raios

X”.

Albert Einstein

2.1 – PRODUÇÃO DA RADIAÇÃO E EFEITOS BIOLÓGICOS

Mostra-se imprescindível abrir um tópico, a fim de demonstrar como as

atividades envolvendo a operação de fontes emissoras de radiação ionizante,

implicam no uso de técnicas complexas e específicas e que sua utilização de forma

segura e controlada deve ser restrita a profissionais devidamente habilitados.

Peço também escusas pela transcrição de vários termos técnicos e

científicos que serão utilizados, porém, eles são necessários para a elucidação de

aspectos importantes, tais como, a origem das radiações e o porquê de seu uso

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exigir formação específica, visto seus efeitos deletérios no corpo humano e; seus

diversos usos, na medicina e em variadas atividades econômicas.

Em apertadíssima síntese, sem querer esgotar o assunto mesmo para esse

trabalho, radioatividade é a transformação espontânea de um núcleo atômico,

convertendo esse núcleo em outro.

Radiação ionizante é a radiação que possui energia suficiente para ionizar

átomos e moléculas.

Ionização é o processo mediante ao qual se produzem íons, espécies

químicas eletricamente carregadas, pela perda ou ganho de elétrons a partir de

átomos ou moléculas neutras.

No que se refere à radiação, há uma forma de ionização produzida pelas

radiações ionizantes que transferem muita energia ao átomo atingido deixando-o

instável, podendo gerar a fissão nuclear. Esse tipo de ionização é muito perigosa

aos seres vivos, pois pode ocasionar mutações genéticas e cânceres.

Pode danificar nossas células e afetar o material genético (DNA), causando

doenças graves, podendo, inclusive, levar à morte. A radiação eletromagnética ou

mais energética é ionizante. Partículas como os elétrons e os prótons que possuam

altas energias também são ionizantes. São exemplos de radiação ionizante, de

interesse para esse estudo, as partículas beta (elétrons e prótons), os raios gama e

os raios x.

2.1.1 - RAIOS X.

Foi o físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen (1845-1923) quem detectou

pela primeira vez os raios X, que foram assim chamados devido ao

desconhecimento, por parte da comunidade científica da época, a respeito da

natureza dessa radiação. A descoberta ocorreu quando Röentgen estudava o

fenômeno da luminescência produzida por raios catódicos emitidos por um tubo

evacuado, denominado Tubo de Crookes.

Ele percebeu que, ao fornecer energia cinética aos elétrons do tubo, estes

emitiam uma radiação que marcava uma chapa fotográfica. Intrigado, resolveu

colocar entre o tubo de raios catódicos e o papel fotográfico alguns corpos opacos

à luz visível.

Desta forma, observou que tais materiais diminuíam, mas não eliminavam a

chegada desta estranha radiação até a chapa.

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Isto indicava que a radiação possuía alto poder de penetração. Ao descobrir

que a radiação era capaz de impressionar um filme fotográfico, fez a primeira

radiografia da história, da mão de sua esposa.

O próprio Röntgen foi o primeiro a notar o potencial de sua descoberta para

a medicina e a notícia se espalhou pelo mundo com impressionante velocidade.

Em 1896, apenas três meses depois da descoberta, foram realizadas, nos

EUA, as primeiras aplicações clínicas práticas da radiologia para identificar fraturas

ósseas.

Em poucos meses, praticamente todos os centros urbanos de importância

médica tinham adotado a nova tecnologia.

Nas décadas seguintes, diversas melhorias técnicas, como o tubo de raios x

de Coolidge (1913), e o aparelho móvel de radiografia para hospitais (1920), foram

sendo introduzidas, tornando os raios X uma das mais revolucionárias invenções

da história da medicina e possibilitando o aparecimento de uma nova

especialidade, a radiologia.

Posteriormente à descoberta do novo tipo de radiação, cientistas

perceberam que essa causava vermelhidão da pele, ulcerações e empolamento

para quem se expusesse sem nenhum tipo de proteção. Em casos mais graves,

poderia causar sérias lesões cancerígenas, necrose e leucemia, e então, a morte.

Descobriu-se então que os raios X tinham efeitos lesivos sobre as células do

corpo, isso apenas depois que incontáveis médicos e técnicos morreram por

câncer induzido pela radiação e que, portanto, podiam ser usados para vários tipos

de terapias, inclusive para tratamento do próprio câncer.

Ao incidir sobre os tecidos, a radiação provoca a emissão de elétrons

(chamados fotoelétrons) com energia de milhares de elétrons-volt. O fenômeno

causa a destruição da estrutura das células dos tecidos da carne, dos ossos e do

sangue. De início, o efeito se manifesta localmente como irritação cutânea,

podendo depois transformar-se em lesão grave, com cicatrização dificultosa.

A radiação pode alterar a estrutura molecular das células somáticas, com

conseqüências sobre o metabolismo e a reprodução celulares. Pode também

atingir as células sexuais, o que representa perigo ainda maior. É por isso que um

equipamento de raios X só pode e só deve ser manejado por pessoas competentes

e devidamente protegidas.

2.1.2 – RADIAÇÃO BETA

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Radiação beta consiste de um elétron negativo (β-) ou positivo (β+) emitido

pelo núcleo na busca de sua estabilidade, quando um nêutron se transforma em

próton ou vice-versa, respectivamente acompanhado de uma partícula neutra de

massa desprezível, denominada neutrino. Por compartilhar, aleatoriamente, a

energia da transição com o neutrino, essa energia é variável, apresentando

espectro contínuo até um valor máximo. Seu poder de penetração é pequeno e

depende de sua energia.

Para o tecido humano, consegue atravessar a espessura de alguns

milímetros. Em resumo; possui baixo poder de penetração, mas com considerável

poder de ionização.

Esta propriedade permite a obtenção de imagens para diagnósticos e

aplicações médicas em superfícies da pele ou na aceleração da cicatrização de

cirurgias plásticas ou do globo ocular.

2.1.3 – RADIAÇÃO GAMA

Radiação gama (γ) é uma radiação formada por ondas eletromagnéticas,

emitida pelo núcleo atômico com excesso de energia (no estado excitado) após

transição do próton ou nêutron para nível de energia com valor menor, gerando

uma estrutura mais estável. Por depender da estrutura nuclear, a intensidade e a

energia com que é emitida permite caracterizar o radioisótopo.

É uma radiação bastante penetrante e, conforme sua energia é capaz de

atravessar grandes espessuras. Por isso, é muito utilizada em aplicações médicas

de radioterapia e aplicações industriais, como medidores de nível e gamagrafia.

2.2 – DAS MÚLTIPLAS ATIVIDADES COM FONTES EMISSORAS DE

RADIAÇÃO IONIZANTE NA MEDICINA.

A radiação ionizante tornou-se há muitos anos parte integrante da vida do

homem. Sua utilidade na área da medicina é indiscutível. Atualmente, por exemplo,

a sua utilização em alguns exames de diagnóstico médico, através da aplicação

controlada da radiação ionizante (a radiografia é a mais comum), é uma

metodologia de extremo auxílio.

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Radiologia pode ser definida como subgênero do ramo Radiologia e

Diagnóstico por Imagem.

Radiologia são o estudo e aplicação de tecnologia de imagem utilizando-se

das radiações ionizantes, para diagnosticar e tratar a doença. Por se tratar de

gênero, a radiologia comporta espécies, das quais destacamos o Radiodiagnóstico,

a Medicina Nuclear e a Radioterapia.

2.2.1 – RADIODIAGNÓSTICO

A espécie Radiodiagnóstico compreende, como o próprio nome sugere, a

técnica que utiliza a radiação ionizante para a obtenção de imagens para fins de

diagnóstico.

Aparelhos empregados rotineiramente em hospitais e clínicas utilizam este

tipo de radiação para a obtenção de imagens, tendo como exemplos os aparelhos

de raios x convencionais e digitais, arcos cirúrgicos, fluoroscópios, densitômetros

ósseos, mamógrafos e tomógrafos computadorizados.

2.2.2 – MEDICINA NUCLEAR

A Medicina Nuclear é uma especialidade que utiliza técnicas seguras e

indolores para formar imagens do corpo e tratar doenças.

Uma pequena quantidade de material radioativo é absorvida pelo corpo por

via endovenosa, oral ou por inalação. Estas substâncias radioativas são ligadas a

um produto farmacêutico, formando um radiofármaco, o qual apresenta afinidade

por determinados tecidos. Por exemplo, os compostos a base de fosfato, ligados ao

tecnécio-99m são utilizados para fazer exames dos ossos porque são captados por

eles.

Também têm aplicações terapêuticas valiosas, como o tratamento do

hipertireoidismo e alívio da dor óssea provocada por alguns tipos de câncer.

O equipamento utilizado para detecção dessa radiação no organismo é

normalmente chamado de gama-câmara.

2.2.3 – RADIOTERAPIA

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Por fim, a Radioterapia, que é uma especialidade focada no tratamento

oncológico utilizando radiação ionizante.

A Radioterapia contempla a Teleterapia (ou Radioterapia externa) que utiliza

uma fonte de radiação externa com isótopos radioativos (césio, cobalto) ou

aceleradores lineares que utilizam Raios X; e a Braquiterapia, que é o tratamento

através de isótopos radioativos (sementes) inseridos nos tecidos alvo dentro do

corpo do paciente, onde a radiação é administrada.

3 – DAS REGULAMENTAÇÕES DAS PROFISSÕES OBJETO DESSE

ESTUDO

3.1 - DA EVOLUÇÃO DA PROFISSÃO DO BIOMÉDICO

Devido à abrangência e a correção da análise, para tecer considerações a

respeito da atividade específica dos profissionais Biomédicos nas equipes de

saúde, transcrevo trechos de publicação oficial do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, órgão do Ministério da Educação,

no trabalho intitulado “A trajetória dos cursos de Graduação na Saúde – 1991 –

2004”:

“Na segunda Reunião Anual da Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência,

realizada em Curitiba em novembro de 1950, foram apresentadas pelo Prof. Leal Prado,

um simpósio sobre seleção e treinamento de técnicos (Cf. Ciência e Cultura 2, 237, 950),

as idéias básicas que deveriam orientar os cursos de graduação e pós-graduação em

Ciências Biomédicas. Posteriormente, em dezembro de 1950, foi convocada uma reunião

pelos Profs. Leal Prado de Carvalho e Ribeiro do Vale para discutir o assunto.

Desta reunião participaram representantes da Escola Paulista de Medicina, da

Universidade de São Paulo, do Instituto Butantã e do Instituto Biológico.

O objetivo do curso de Biomedicina era o de formação de profissionais biomédicos

para atuarem como docentes especializados nas disciplinas básicas das escolas de

medicina e de odontologia, bem como de pesquisadores científicos nas áreas de ciências

básicas, e com conhecimentos suficientes para auxiliarem pesquisas nas áreas de

ciências aplicadas.

...

Por meio do Parecer nº 571/66 do extinto Conselho Federal de Educação,

estabeleceu-se o mínimo de conteúdo e de duração dos currículos de bacharelado em

Ciências Biológicas – Modalidade Médica, exigível para admissão aos cursos de mestrado

e doutorado no mesmo campo de conhecimento, a serem credenciados por este órgão.

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De acordo com este parecer, ficam determinadas as atividades nos trabalhos laboratoriais

aplicados à Medicina, existindo, de outra parte, amplo mercado de trabalho para pessoal

cuja formação inclua sólida base científica, que tenha o comportamento e espírito crítico

amadurecidos, de preferência no convívio universitário, e que pretenda dedicar-se à

realização de tarefas laboratoriais vinculadas às atividades médicas.

...

Porém, com exceção dessas áreas, embora formado em curso reconhecido, o

egresso encontrava sérias dificuldades para inserção no mercado de trabalho, visto que a

profissão de Biomédico ainda não era regulamentada em lei e os exames laboratoriais,

embora sem exclusividade legal, eram realizados por médicos e farmacêuticos-

bioquímicos.

...

Por exigência de forças contrárias, foram introduzidas modificações no texto do

documento, limitando muito o espectro de atividades do profissional Biomédico. Diante da

situação difícil em que se encontrava a categoria, os líderes do movimento não tiveram

outra opção senão aceitar a imposição, saindo de uma discussão na esfera política para

entrar na esfera judicial, junto ao Poder Judiciário (Supremo Tribunal Federal). O resultado

fez com que a categoria surgisse forte e coesa, vendo sua pretensão materializada nas

Leis nº 6.684/79, 6.686/79 (e sua posterior alteração com a Lei nº 7.135/83, que permitiu a

realização de análises clínicas aos portadores de diploma de Ciências Biológicas –

Modalidade Médica, bem como aos diplomados que ingressaram no curso em vestibular

realizado até julho de 1983); Decreto nº 88.394/83, que regulamentou a profissão e criou o

Conselho Federal de Biomedicina; e a Resolução nº 86 do Senado Federal, de 24 de

junho de 1986, ratificando acordo realizado no Supremo Tribunal Federal, assegurando

definitivamente o direito do profissional Biomédico de exercer as análises clínico-

laboratoriais.

....

Atualmente, as escolas de Biomedicina seguem as novas tendências

educacionais, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação

em Biomedicina, aprovadas no Parecer nº 104, de 13 de março de 2002, e consolidadas

pela Resolução nº 2, de 18 de fevereiro de 2003, da Câmara de Educação Superior do

Conselho Nacional de Educação.”

3.1.1 – DA REGULAMENTAÇÃO DO BIOMÉDICO

O profissional Biomédico, como dito anteriormente, tem sua profissão

regulamentada pela Lei Federal nº 6.684/79, que em seu Art. 5º e incisos, define as

áreas de atuação daquele profissional.

Historicamente, assim como os antigos Operadores de Raios X, os

exercentes da Biomedicina travaram longa luta pela regulamentação de sua Lei.

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Na apresentação do projeto de lei nº 1.660-A, de 1975 (que é a origem da

Lei nº 6.684/79), os verbetes da presente controvérsia, radiografia e

radiodiagnóstico, já estavam presentes.

Nos debates ocorridos no Congresso Nacional, nota-se que alguns

parlamentares demonstravam apreensão com o rol de atividades que o projeto de

Lei definia como área de atuação dos Biomédicos. Como exemplo, cito o parecer

da Comissão de Trabalho e Legislação Social, aprovado em 20 de outubro de

1977, que assim dispunha em excerto retirado de seu texto:

“Apesar de aparentemente poder parecer fácil proceder tal regulamentação – dada

sua importância – há uma grande dificuldade em definir o campo de competência

profissional em virtude da estreita correlação na formação universitária com a graduação de

outras profissões, propiciando destarte, conflitos insuperáveis. Não obstante, devemos

considerar que compete a esta Comissão o exame dos aspectos técnicos da proposta não

estando em nossas observações o currículo escolar ou a estrutura didática responsável

direto pelos citados óbices, pois se a formação é concorrente, o elenco de competência

forçosamente o será...”

Queremos registrar também que, na mesma época outros projetos acerca da

regulamentação da profissão de Biomédico tramitavam na casa, merecendo

destaque o PL nº 432, de 1975 do Deputado Gomes do Amaral, que, logicamente,

não foi o projeto aprovado e que no seu Art. 2º, assim definia as competências do

Biomédico:

“Art. 2º O Biomédico atuará, em nível tecnológico, nas atividades complementares

de diagnósticos, através de exames laboratoriais, tais como, bacteriológico, histopatológico

e outros para cujo desempenho esteja devidamente habilitado.”

3.1.2 – ATUAL NORMA CURRICULAR DOS CURSOS DE BIOMEDICINA

Transcrevo a seguir, alguns artigos da Resolução CNE/CES 2/2003 do

Conselho Nacional de Educação, com o fito de tecer considerações sobre o

itinerário de formação profissional do Biomédico:

Art. 1º A presente resolução institui as diretrizes curriculares nacionais do curso de

graduação em Biomedicina, a serem observadas na organização curricular das instituições

do sistema de educação superior do País.

...

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Art. 5º A formação do biomédico tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos

requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades específicas:

...

IX - realizar, interpretar, emitir laudos e pareceres e responsabilizar-se tecnicamente por

análises clínico-laboratoriais, incluindo os exames hematológicos, citológicos,

citopatológicos e histoquímicos, biologia molecular, bem como análises toxicológicas, dentro

dos padrões de qualidade e normas de segurança;

X - realizar procedimentos relacionados à coleta de material para fins de análises

laboratoriais e toxicológicas;

XI - atuar na pesquisa e desenvolvimento, seleção, produção e controle de qualidade de

produtos obtidos por biotecnologia;

XII - realizar análises fisico-químicas e microbiológicas de interesse para o saneamento do

meio ambiente, incluídas as análises de água, ar e esgoto;

XIII - atuar na pesquisa e desenvolvimento, seleção, produção e controle de qualidade de

hemocomponentes e hemoderivados, incluindo realização, interpretação de exames e

responsabilidade técnica de serviços de hemoterapia;

XIV - exercer atenção individual e coletiva na área das análises clínicas e toxicológicas;

XV - gerenciar laboratórios de análises clínicas e toxicológicas;

...

Art. 7º A formação do biomédico deve garantir o desenvolvimento de estágios curriculares,

sob supervisão docente. A carga horária mínima do estágio curricular supervisionado

deverá atingir 20% da carga horária total do curso de graduação em Biomedicina proposto,

com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho

Nacional de Educação.

Parágrafo único. O estágio curricular poderá ser realizado na Instituição de ensino superior

e/ou fora dela, em instituição/empresa credenciada, com orientação docente e supervisão

local, devendo apresentar programação previamente definida em razão do processo de

formação.

Em consulta à home page do Conselho Regional de Biomedicina

(http://www.crbm1.gov.br/), é possível pesquisar algumas instituições de ensino

superior que oferecem o curso de Biomedicina.

A página mantém, inclusive, uma distinção entre Instituições de Ensino

Superior que são reconhecidas e as que não são reconhecidas, não sendo possível

concluir se esse reconhecimento ou não é em relação ao Ministério da Educação e

Desporto ou em relação ao Conselho Regional de Biomedicina.

Ainda, as Universidades, Centros Universitários e Faculdades consultadas,

foram as que mantêm em suas páginas oficiais as grades curriculares dos cursos

de Biomedicina com as respectivas cargas horárias de cada matéria ofertada.

Dessa análise, é possível verificar o que se segue:

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• Faculdade Mário Schenberg – 80 horas de Diagnóstico por Imagem –

SEM ESTÁGIO

• Faculdade Tietê – 80 horas de imagenologia – SEM ESTÁGIO

• Unifran – 80 horas de imagenologia – SEM ESTÁGIO

• Unimar – 80 horas de imagenologia – SEM ESTÁGIO

• Unilus – 72 horas de imagenologia, SEM ESTÁGIO

• Univap – 50 horas de Análise por Imagem – SEM ESTÁGIO

• Faculdade Sudoeste Paulista – 40 horas de Imagenologia – SEM

ESTÁGIO

• Unimonte – 40 horas de imagenologia – SEM ESTÁGIO

• Uniara – NÃO TEM IMAGENOLOGIA

• Unesp – NÃO TEM IMAGENOLOGIA

Apenas para conclusão desse raciocínio, segue abaixo informações sobre

as matérias que têm ligação direta com a operação e o manuseio de fontes

emissoras de radiação ionizante.

As informações são de um curso Técnico de nível médio (CeFACS) e de um

curso superior de Tecnologia em Radiologia (SENAC):

CeFACS - Centro de Formação e Aperfeiçoamento em Ciências da Saúde –

InCor – Fundação Zerbini:

• Física aplicada: 40 horas

• Introdução à Radiologia: 60 horas

• Posicionamento e Anatomia Radiológica: 260 horas

• Física Radiológica: 48 horas

• Tecnologia do equipamento e Avaliação da Imagem: 56 horas

• Higiene e Proteção das Radiações: 24 horas

• Organização do Processo de Trabalho em Radiologia: 80 horas

• Conceitos e Imagens em Radiologia especializada: 136 horas

• Tecnologia do equipamento e Avaliação da Imagem II: 48 horas

• Estágio supervisionado I: 420 horas

• Estágio supervisionado II: 80 horas

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TOTAL DE HORAS EM TEORIA: 752 HORAS

TOTAL DE HORAS EM ESTÁGIO: 500 HORAS

CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC:

• Anatomia Radiológica: 72 horas

• Diagnóstico por Imagem em Pediatria: 72 horas

• Exames especializados em Hemodinâmica: 72 horas

• Fundamentos da Radiologia: 108 horas

• Gestão em Radiologia: 36 horas

• Informática aplicada à Radiologia: 36 horas

• Mamografia e Densitometria Óssea: 108 horas

• Medicina Nuclear: 108 horas

• Pós-processamento de Imagens Digitais em Diagnóstico: 72 horas

• Procedimentos Radiológicos I: 144 horas

• Procedimentos Radiológicos II: 144 horas

• Projeto Integrador I: Imagens Radiológicas Satisfatórias com Baixas

Doses de Radiação: 36 horas

• Projeto Integrador II: Aquisição de Imagens e Tratamentos com

Radiação no Processo de Saúde e Doença: 36 horas

• Proteção Radiológica: 72 horas

• Radiologia Industrial: 36 horas

• Radiologia Odontológica: 36 horas

• Radiologia Veterinária: 36 horas

• Radioterapia: 108 horas

• Sistemas Digitais: 72 horas

• Tomografia computadorizada: 144 horas

• Estágio Supervisionado: 482 horas

TOTAL DE HORAS EM TEORIA: 1.548 HORAS

TOTAL DE HORAS EM ESTÁGIO: 482 HORAS

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Ainda, é importante ressaltar que tanto o curso Técnico, quanto o

Tecnológico possuem matérias relacionadas a Primeiros Socorros, Noções de

Enfermagem e Cuidados com o Paciente, pois trata-se de atividade que atenderá

pessoas em seu momento mais frágil.

Por oportuno, relembramos que tais matérias não existem no curso de

Biomedicina, o que serve para corroborar a afirmação que é um curso desenvolvido

para as atividades clínico-laboratoriais, ensino e pesquisa, não envolvendo

atendimento ao paciente.

Portanto, da análise da evolução da profissão do Biomédico, das normas

educacionais que instituem as diretrizes curriculares dos cursos de Biomedicina e

da regulamentação da profissão, bem como da análise das grades curriculares dos

cursos, extrai-se que o curso de Biomedicina tem um rol muito grande de

atividades, porém, em nenhum momento se encontra menção à operação de fontes

emissoras de radiação ionizante ou de matérias relativas a aquisição de

competências para o seu manuseio, para a realização de exames de radiografia,

medicina nuclear ou tratamentos com a utilização de técnicas de radioterapia.

Nem poderia ser diferente, pois depreende-se que o curso de Biomedicina,

acertadamente, foi concebido no sentido de preparar graduados para as atividades

básicas da medicina, para estudos acadêmicos e de pesquisa e para as análises

clínico-laboratoriais.

A legislação pátria prevê que determinadas atividades possam ser

desenvolvidas por mais de um profissional, seja regulamentado em lei ou não,

porém, desde que seus itinerários de formação abranjam as atividades que serão

exercidas em comum, ou seja, para atividades concorrentes, a formação também

deve ser concorrente:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE

SEGURANÇA. FALTA DE CITAÇÃO DE LITISCONSORTE. MEDIDA LIMINAR.

POSSIBILIDADE. EXAMES CITOPATOLÓGICOS. COMPETÊNCIA DOS PROFISSIONAIS

MÉDICOS, FARMACÊUTICOS, BIOQUÍMICOS E BIOMÉDICOS. PRECEDENTES.

I. Por se tratar de medida de urgência voltada à proteção de direito líquido e certo, a

liminar em mandado de segurança pode ser concedida antes da notificação ou citação das

partes contrárias. Precedente: TRF 4ª Região: EAC-2001.70.08.003412-9/PR, Rel. Des.

Federal Sílvia Goraieb (DJU 27.06.2007).

II. A atribuição para realizar exame citopatólogico por farmacêuticos, biomédicos e

bioquímicos não invade área privativa de profissional médico. Precedentes da 4ª Turma

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17

deste TRF 5ª Região: AGTR-40561/RN, Rel. Des. Federal Ricardo César Mandarino (DJU

31.08.2004) e AMS-82457/RN, Rel. Des. Federal Lázaro Guimarães (DJU 16.08.2006).

III. No caso específico do farmacêutico, a Câmara de Educação Superior do

Conselho Nacional de Educação, pela sua Resolução CNE/CSE Nº 2/2002, ao instituir as

diretrizes gerais curriculares nacionais do curso de graduação em farmácia, prevê como

competências e habilidades específicas da formação daquele profissional, "realizar,

interpretar, emitir laudos e pareceres e responsabilizar-se tecnicamente por análises clínico-

laboratoriais, incluindo os exames hematológicos, citológicos, citopatológicos e

histoquímicos, biologia molecular, bem como análises toxicológicas"..

Porém, não é esse o caso. Basta comparar as grades curriculares do curso

de Biomedicina com as grades curriculares dos cursos Técnicos de nível médio e

dos cursos superiores de Tecnologia em Radiologia, para se notar que os

itinerários de formação são distintos.

Torna-se patente, em uma simples análise das grades curriculares dos

cursos de Biomedicina atualmente existentes no Brasil, que nenhum, repito com

veemência, NENHUM curso ofertado por qualquer instituição, seja pública ou

privada, possui itinerário de formação para o manuseio, realização de exames ou

utilização de técnicas terapêuticas com o uso de fontes emissoras de radiação

ionizante.

As faculdades que incluem em suas matrizes curriculares, conforme descrito

acima, a matéria “imagenologia”, a oferecem em carga horária que varia de 40 a 80

horas, ou nem oferecem, sendo essa matéria apenas uma descrição genérica de

alguns tipos de exames radiográficos.

Se fôssemos admitir que a partir dessa premissa, está cumprida a exigência

legal de formação mínima de 1.200 horas, acrescidas das 600 horas destinadas ao

estágio, forçoso seria reconhecer, ab absurdo, que a matéria “Direito Comercial”

presente em cursos de Administração de Empresas, habilitaria o egresso à

possibilidade de prestar o exame da Ordem dos Advogados do Brasil e, caso

aprovado, exercer a advocacia.

Ou ainda, a presença da matéria "primeiros socorros" em todos os cursos da

área da saúde habilitaria o Técnico em Imobilização Ortopédica, o Técnico em

Laboratório, o Técnico em Instrumentação Cirúrgica e o Técnico em Radiologia a

exercer a profissão de Técnico em Enfermagem.

Ou em sentido contrário, que; dada a evolução tecnológica na Radiologia e

Diagnóstico por Imagem e a complexidade da área, que em vista disso, num

consenso sustentado por especialistas e reivindicado pelos órgãos de

Page 18: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

18

representação e defesa da profissão, entendem que a formação deve ser maior, e

que levou à criação dos atuais cursos de Tecnologia em Radiologia, que se

inserem na modalidade de Educação Tecnológica de Graduação Superior, com

itinerário específico e carga horária mínima de 2400 horas acrescidas do estágio

profissional, são totalmente desprovidos de serventia, visto que meras 40 horas

são suficientes para habilitar pessoas leigas à operação de aparelhos complexos,

utilizando-se de Técnicas que, se mal executadas, podem trazer sérios efeitos

deletérios à saúde, traduzidos em doenças ocupacionais e morte para o

trabalhador e; para o paciente ocorrerá o erro no diagnóstico médico, por um

exame feito de maneira incorreta e a frustração pelo insucesso de um tratamento,

ou pior, a morte do paciente por excesso de radiação.

3.2 – DA EVOLUÇÃO DA PROFISSÃO DO TÉCNICO EM RADIOLOGIA

3.2.1 – DA FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM RADIOLOGIA ANTERIOR À

REGULAMENTAÇÃO.

Tomo a liberdade de anexar as normas educacionais do extinto Conselho

Federal de Educação a respeito dos cursos das diversas áreas das técnicas

Radiológicas.

Do documento, chamo especial atenção para o trecho a seguir transcrito:

PARECER Nº 1.263/73 - CE (1º e 2º Graus)

Aprovado em 6-agosto-1973 (Proc. nº 1.346/72)

HABILITAÇÃO PROFISSIONAL

Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais

Habilitação de Técnico em Radiologia Médica

Relatora: Cons. Maria Terezinha Tourinho Saraiva

I - RELATÓRIO

O Sr. Superintendente da Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais -

UTRAMIG — encaminha a este Conselho, a conclusão dos trabalhos do Laboratório de

Currículos, contendo a proposta do mínimo a ser exigido na "habilitação de Técnicos em

Raios X", para os fins previstos nos parágrafos 3º e 4º do art. 4º da Lei nº 5.692/71.

O trabalho apresentado é uma síntese de inúmeras contribuições enviadas à UTRAMIG por

técnicos no assunto e da participação efetiva de renomados especialistas, além de terem

sido consultados os Conselhos Profissionais das modalidades estudadas.

PARECER:

Page 19: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

19

O currículo mínimo proposto refere-se às habilitações para Técnico em Radiologia Médica e

Técnico em Radioisótopos. A primeira, preparando o técnico para Radiodiagnóstico ou

Radioterapia.

Possui, como se pode ver no quadro em anexo, matérias comuns às três:

Psicologia e Ética, Administração, Proteção e Higiene das Radiações. Para a habilitação em

Radiodiagnóstico, acrescente-se Radiologia; para Radioterapia, acrescente-se Radioterapia

e para Radioisótopos acrescente-se Radioisótopo em Medicina.

A habilitação profissional — Técnico em Radiologia Médica — consta do catálogo da OIT,

com as seguintes atribuições:

"Manejar aparelhos de raios X para tirar radiografias com a finalidade de facilitar o

diagnóstico médico ou aplicar tratamentos terapêuticos. Preparar o paciente para expô-lo

aos raios X e, quando necessário, fixar placas de chumbo para proteger as partes do corpo

que não devem ser expostas aos raios.

Acionar os comandos dos aparelhos, regulando a duração e a intensidade da exposição.

Tirar radiografias ou aplicar tratamentos de raios X sob a direção do médico radiologista.

Revelar, lavar e secar os filmes radiográficos.

Efetuar pequenos reparos na aparelhagem. Manter registros e arquivos.

Há mercado de trabalho para esses técnicos. Atualmente, na maioria dos casos, essas

tarefas são executadas por leigos ou pelos próprios médicos, subutilizando, neste caso, um

profissional de alto nível de formação superior.

No trabalho enviado pela UTRAMIG não há referência à carga horária, à duração do curso e

aos mínimos relativos ao núcleo comum.

II- VOTO DA RELATORA

Ao recomendarmos a este Conselho, a aprovação dos mínimos relativos à formação

especial para técnicos em Radiologia Médica, Radiodiagnóstico e Técnico em Radiologia

Médica, Radioterapia, alertamos às entidades interessadas em oferecerem essas

habilitações que, ao as instituírem, deverão levar em consideração o regulamento no

Parecer Nº 45/72, na Resolução nº 2/72 e nos exemplos de currículos mínimos anexos a

estes dispositivos legais.

A duração será a prevista no art. 22 da Lei Nº 5.892/71(NR).

(NR) Trata-se na verdade da Lei 5.692/71, cujo artigo 22, transcrevemos,

in verbis:

Art. 22. O ensino de 2º grau terá três ou quatro séries anuais, conforme

previsto para cada habilitação, compreendendo, pelo menos, 2.200 ou

2.900 horas de trabalho escolar efetivo, respectivamente.

Sugerimos, ainda, que seja transferida para esta área a habilitação derivada - Auxiliar

Técnico de Radiologia - já aprovada por este Conselho, mas que se encontra, no catálogo

anexo do Parecer Nº 45/72, junto a Laboratórios Médicos.

III- CONCLUSÃO DA CÂMARA

Page 20: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

20

A Câmara de Ensino de 1º e 2º Graus adota o voto da Relatora.

Sala das Sessões, em 2 de julho de 1973. — Pe. José Vieira de Vasconcellos, Presidente.

Maria Terezinha Tourinho Saraiva, Relatora, Valnir Chagas, Paulo Nathanael P. de Souza.

CONJUNTO DE HABILITAÇÕES AFINS:

1 - Técnico em Radiologia Médica - Radiodiagnóstico

2 — Técnico em Radiologia Médica — Radioterapia

3.2.2 – DA REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO

Transcrevo aqui, trechos do Parecer CNE/CEB 9/2001, dada a brilhante

análise proferida pelo Conselheiro Relator do Conselho Nacional de Educação,

Francisco Aparecido Cordão, a respeito do itinerário de formação profissional e do

histórico do Projeto de Lei que levou à promulgação da Lei 7.394/85:

“Uma análise nos arquivos do Sistema de Processamento de Dados do Senado -

PRODASEM para identificar as origens da Lei Federal n.º 7.394/85 é bastante elucidativa...:

O Projeto de Lei nº 317/A de 1975, do Dep. Gomes do Amaral, dispunha sobre “o

exercício da profissão de operador de raios-x” e tinha como ponto de partida a Lei Federal

n.º 1.234/50 relativa aos “direitos e vantagens a servidores que operam com raios X e

substâncias radioativas”.

A justificativa apresentada pelo Dep. Gomes do Amaral para a regulamentação

profissional fundamentou-se na Recomendação nº 115/60, da Organização Internacional do

Trabalho – OIT, relativa à proteção dos trabalhadores expostos a radiações ionizantes,

“diminuindo os riscos impostos aos operadores”. Para tanto, propõe que se restrinja o

exercício profissional em questão apenas “aos habilitados em cursos próprios”, com

currículo aprovado pelo Ministério da Educação”.

A exposição de motivos do Projeto de Lei nº 317-A/75 o apresenta com base no

“Artigo 8º, item XVII, Letra “r” da Constituição Federal, que atribui à União competência para

“legislar sobre condições de capacidade para o exercício das profissões liberais e técnico-

científicas”, como “uma medida de ordem pública, porquanto faz expurgos do seio da classe

de aventureiros e despreparados”.

O Projeto de Lei n.º 317/A, de 1975, em 08 de outubro de 1977, sob o nº 317/B,

recebeu substitutivo do Dep. Lidovino Fanton na Comissão de Constituição e Justiça da

Page 21: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

21

Câmara dos Deputados. O substitutivo do Dep. Lidovino Fanton acabou incorporando Novo

projeto em tramitação na Câmara dos Deputados, de autoria do Dep. Rubem Medina, o PL

n.º 957/75. Este é, praticamente, a íntegra da Lei Federal nº 7.394/ 85....

A exposição de motivos apresentada pelo Dep. Rubem Medina fundamenta-se na

“responsabilidade da função do Técnico em Radiologia, que lida com vidas humanas, nos

setores de radiodiagnoses, radioterapia, rádio-isótopos; e, ainda a responsabilidade no

campo industrial, lidando com as respectivas especialidades com radiação ionizante de alta

periculosidade; e, finalmente, a necessidade de pessoal devidamente habilitado para

exercer profissão de relevante importância”. (grifos nossos)

O relator da matéria na Comissão de Constituição e Justiça, Dep. Lidovino Fanton,

em seu substitutivo, juntou num único projeto de Lei o PL nº 317/75 A e o PL 957/75,

submetendo-o à aprovação da referida comissão, com o PL nº 317/75 B.

Posteriormente, o substitutivo do Dep. Lidovino Fanton foi aprovado pela Comissão

de Saúde, em voto do Dep. Ademar Pereira, e pela Comissão de Trabalho e Legislação

Social, acolhendo voto do Dep. Theodoro Mendes, com emenda da Dep. Rosa Flores,

proibindo o exercício profissional a menores de 18 anos”

Os Técnicos em Radiologia têm por norma regulamentadora, a Lei Federal

nº 7.394/85, da qual extraio os seguintes artigos:

Art. 1º - Os preceitos desta Lei regulam o exercício da profissão de Técnico em

Radiologia, conceituando-se como tal todos os Operadores de Raios X que,

profissionalmente, executam as técnicas:

I - radiológica, no setor de diagnóstico;

II - radioterápica, no setor de terapia;

III - radioisotópica, no setor de radioisótopos;

IV - industrial, no setor industrial;

V - de medicina nuclear.

Art. 2º - São condições para o exercício da profissão de Técnico em

Radiologia:

I – ser portador de certificado de conclusão do ensino médio e possuir

formação profissional mínima de nível técnico em Radiologia; (Redação dada pela Lei nº

10.508, de 10.7.2002)

II - possuir diploma de habilitação profissional, expedido por Escola Técnica de

Radiologia, registrado no órgão federal (vetado).

Ainda, o diploma foi regulamentado pelo Decreto 92.790/86, que acrescenta:

Page 22: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

22

Art . 5º As Escolas Técnicas de Radiologia só poderão ser reconhecidas se apresentarem

condições de instalação satisfatórias e corpo docente de reconhecida idoneidade

profissional, sob a orientação de Físico Tecnólogo, Médico Especialista e Técnico em

Radiologia.

§ 1º Os programas serão elaborados pelo Conselho Federal de Educação e válidos

para todo o território nacional, sendo sua adoção indispensável ao reconhecimento de tais

cursos.

Art . 7º A admissão à primeira série da Escola Técnica de Radiologia dependerá:

I - do cumprimento do disposto no § 2º do art. 5º deste decreto;

II - de aprovação em exame de sanidade e capacidade física, o qual incluirá,

obrigatoriamente, o exame hematológico.

Parágrafo único. Salvo decisão médica em contrário, não poderão ser admitidas em

serviços de terapia de rádio nem de rádom as pessoas de pele seca, com tendência a

fissuras, e com verrugas, assim como as de baixa acuidade visual não-corrigível pelo uso

de lentes.

De todo o exposto, pode-se afirmar que a formação exigida e necessária

para o exercício das atividades envolvendo operação de fontes emissoras de

radiação ionizante, vale dizer, o uso das radiações ionizantes de forma segura e

controlada de modo a atender os critérios de qualidade para a obtenção de exames

ou para o bom desenrolar de um tratamento e também às exigências de proteção,

tanto do indivíduo ocupacionalmente exposto, bem como do público exposto, em

nada guarda similaridade com o itinerário de formação do Biomédico, restando

claro que as profissões não se confundem, apenas se complementam, como de

resto é a atividade na saúde que, no intuito de atingir seu objetivo final – a cura do

paciente – é concebida e prestada por meio de equipes multidisciplinares.

3.2.3 – DO ATUAL ITINERÁRIO DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS

DAS TÉCNICAS RADIOLÓGICAS

A matriz curricular elaborada pelo extinto Conselho Federal de Educação e

anteriormente descrita a respeito da duração do curso Técnico de Radiologia

Médica, modalidades Radiodiagnóstico e Radioterapia, foi feita sob a égide da

antiga Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 5.697/71), norma

revogada pela Lei Darcy Ribeiro de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei

9.394/96).

Page 23: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

23

A nova LDB, em inovação importante, tratou em capítulo a parte, a respeito

da Educação Profissional, fornecendo-a de forma articulada com o ensino médio,

nas modalidades integrada, concomitante ou subseqüente e; também ofertando o

ensino profissionalizante em nível superior com a criação dos cursos Tecnológicos

de graduação em nível superior.

Como paradigma do acima exposto, reproduzimos o art. 39 da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Federal nº 9.394/96:

Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da

educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às

dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de

2008)

§ 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica poderão ser organizados por

eixos tecnológicos, possibilitando a construção de diferentes itinerários formativos,

observadas as normas do respectivo sistema e nível de ensino. (Incluído pela Lei nº 11.741,

de 2008)

§ 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os seguintes cursos: (Incluído

pela Lei nº 11.741, de 2008)

I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; (Incluído pela Lei nº

11.741, de 2008)

II – de educação profissional técnica de nível médio; (Incluído pela Lei nº 11.741, de

2008)

III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação. (Incluído

pela Lei nº 11.741, de 2008)

§ 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de graduação e pós-

graduação organizar-se-ão, no que concerne a objetivos, características e duração, de

acordo com as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de

Educação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

O Art. 39 da Lei 9.394/96 teve regulamentação dada através do Decreto nº

5.154, de 23 de julho de 2.004, do qual reproduzimos:

Art. 1o A educação profissional, prevista no art. 39 da Lei no 9.394, de 20 de

dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), observadas as

diretrizes curriculares nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação, será

desenvolvida por meio de cursos e programas de:

I - formação inicial e continuada de trabalhadores;

Page 24: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

24

II - educação profissional técnica de nível médio; e

III - educação profissional tecnológica de graduação e de pós-graduação.

Art. 2º A educação profissional observará as seguintes premissas:

I - organização, por áreas profissionais, em função da estrutura sócio-

ocupacional e tecnológica;

(...)

Art. 4o A educação profissional técnica de nível médio, nos termos dispostos no §

2o do art. 36, art. 40 e parágrafo único do art. 41 da Lei no 9.394, de 1996, será

desenvolvida de forma articulada com o ensino médio, observados:

I - os objetivos contidos nas diretrizes curriculares nacionais definidas pelo

Conselho Nacional de Educação;

II - as normas complementares dos respectivos sistemas de ensino; e

....

Art. 5o Os cursos de educação profissional tecnológica de graduação e pós-

graduação organizar-se-ão, no que concerne aos objetivos, características e duração, de

acordo com as diretrizes curriculares nacionais definidas pelo Conselho Nacional de

Educação.

A respeito da matéria, cumpre-se destacar a organização do sistema de

ensino pátrio, e suas competências normativas, reproduzindo os artigos 8º, § 1° e

9º, § 1° da citada LDB:

Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em

regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.

§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os

diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em

relação às demais instâncias educacionais.

...

Art. 9º A União incumbir-se-á de:

...

§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional de Educação, com

funções normativas e de supervisão e atividade permanente, criado por lei.

Sobre a competência da União, em matéria normativa educacional,

destaque-se o dispositivo Constitucional que prevê tal competência:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

...

Page 25: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

25

XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;

A regulamentação do mandamento Constitucional se dá através da Lei nº

9.131 de 24 de novembro de 1.995. O diploma estabelece em seu art. 6º e 7º:

"Art. 6º O Ministério da Educação e do Desporto exerce as atribuições do poder

público federal em matéria de educação, cabendo-lhe formular e avaliar a política nacional

de educação, zelar pela qualidade do ensino e velar pelo cumprimento das leis que o

regem.

§ 1º No desempenho de suas funções, o Ministério da Educação e do Desporto

contará com a colaboração do Conselho Nacional de Educação e das Câmaras que o

compõem.

....

Art. 7º O Conselho Nacional de Educação, composto pelas Câmaras de Educação

Básica e de Educação Superior, terá atribuições normativas, deliberativas e de

assessoramento ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto, de forma a assegurar a

participação da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional.

Assim, do entendimento anterior, dado pelo Parecer 1.263/73, do extinto

Conselho Federal de Educação, partiu-se para nova normatização por parte dos

órgãos educacionais a respeito da matéria, culminando no atual entendimento que

encontra-se consubstanciado no Parecer CNE/CEB nº 16/99, do qual deriva a

Resolução CNE/CEB nº 4, de 8 de Dezembro de 1999, que instituiu as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico, da qual

transcrevo os artigos a seguir:

Art. 2º Para os fins desta Resolução, entende-se por diretriz o conjunto articulado de

princípios, critérios, definição de competências profissionais gerais do técnico por área

profissional e procedimentos a serem observados pelos sistemas de ensino e pelas escolas

na organização e no planejamento dos cursos de nível técnico.

Art. 3º São princípios norteadores da educação profissional de nível técnico os

enunciados no artigo 3.º da LDB, mais os seguintes:

I - independência e articulação com o ensino médio;

II - respeito aos valores estéticos, políticos e éticos;

III - desenvolvimento de competências para a laborabilidade;

IV - flexibilidade, interdisciplinaridade e contextualização;

V - identidade dos perfis profissionais de conclusão de curso;

VI - atualização permanente dos cursos e currículos;

VII - autonomia da escola em seu projeto pedagógico.

Art. 4º São critérios para a organização e o planejamento de cursos:

Page 26: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

26

I - atendimento às demandas dos cidadãos, do mercado e da sociedade;

...

Art. 5º A educação profissional de nível técnico será organizada por áreas

profissionais, constantes dos quadros anexos, que incluem as respectivas caracterizações,

competências profissionais gerais e cargas horárias mínimas de cada habilitação.

Parágrafo único. A organização referida neste artigo será atualizada pelo Conselho

Nacional, por proposta do Ministério da Educação, que, para tanto, estabelecerá processo

permanente, com a participação de educadores, empregadores e trabalhadores.

Art. 6º Entende-se por competência profissional a capacidade de mobilizar, articular

e colocar em ação valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho

eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho.

Parágrafo único. As competências requeridas pela educação profissional,

considerada a natureza do trabalho, são as:

I - competências básicas, constituídas no ensino fundamental e médio;

II - competências profissionais gerais, comuns aos técnicos de cada área;

III - competências profissionais específicas de cada qualificação ou habilitação.

Art. 9º A prática constitui e organiza a educação profissional e inclui, quando

necessário, o estágio supervisionado realizado em empresas e outras instituições.

§ 1º A prática profissional será incluída nas cargas horárias mínimas de cada

habilitação.

§ 2º A carga horária destinada ao estágio supervisionado deverá ser acrescida ao

mínimo estabelecido para o respectivo curso.

Nos anexos da mesma Resolução, ficam definidas as áreas profissionais e

as cargas horárias mínimas dos itinerários de formação, sendo que a Radiologia se

insere na área profissional Saúde, que tem como carga horária mínima, 1200

horas.

Ainda, nos mesmos anexos ficam assim definidas as diferentes formações

existentes na área profissional Saúde:

“17.1 - Caracterização da área

Compreende as ações integradas de proteção e prevenção, educação,

recuperação e reabilitação referentes às necessidades individuais e coletivas, visando à

promoção da saúde, com base em modelo que ultrapasse a ênfase na assistência médico-

hospitalar. A atenção e a assistência à saúde abrangem todas as dimensões do ser humano

– biológica, psicológica, social, espiritual, ecológica – e são desenvolvidas por meio de

atividades diversificadas, entre as quais biodiagnóstico, enfermagem, estética, farmácia,

nutrição, radiologia e diagnóstico por imagem, saúde, reabilitação, saúde bucal, saúde e

segurança no trabalho, saúde visual e vigilância sanitária. As ações integradas de saúde

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27

são realizadas em estabelecimentos específicos de assistência à saúde, tais como postos,

centros, hospitais, laboratórios e consultórios profissionais, e em outros ambientes como

domicílios, escolas, creches, centros comunitários, empresas e demais locais de trabalho”.

No texto original da Lei 7.394/85, o inciso I do Art. 2º, estabelecia que a

condição para o exercício da profissão de Técnico em Radiologia era “ser portador

de certificado de conclusão de 1º e 2º Graus, ou equivalente, e possuir formação

profissional por intermédio de Escola Técnica de Radiologia, com o mínimo de 3

(três) anos de duração.”

Tal condição, feita em consonância com as normas educacionais vigentes à

época, conflitava com o novo parâmetro estabelecido pela Lei 9.394/96 (LDB), que,

como já dito anteriormente, dissociou a educação profissional do ensino médio,

levando as escolas que pretendiam oferecer o curso a realizar consultas perante o

Conselho Nacional de Educação.

Referido Conselho, por meio de sua Câmara de Educação Básica, dentro de

suas atribuições normativas, pacificou a questão por meio do já citado Parecer

CEB 09/2001, de 13 de março de 2001, da lavra do eminente relator Conselheiro

Francisco Aparecido Cordão e do qual destaco alguns excertos para reafirmar a

especificidade da formação do Técnico em Radiologia:

“... 5. A questão da duração do curso de Técnico em Radiologia em três anos foi

exaustivamente explicitada pelo extinto Conselho Federal de Educação, desde a definição

do Parecer CFE n.º 1.263/73, que instituiu a Habilitação Profissional de Técnico em

Radiologia Médica, com duração mínima de três anos, totalizando-se 2.200 horas, nos

termos das orientações dadas pelo Parecer CFE n.º 45/72. Aliás, foi exatamente o

Parecer CFE n.º 1.263/73, o documento inspirador dos projetos de Lei do Legislativo do

qual resultaram a Lei Federal n.º 7.394/85, que regulamentou o exercício da profissão de

Técnico em Radiologia e não de Tecnólogo em Radiologia ou similar. A estrutura básica das

propostas apresentadas nos projetos de Lei e suas justificativas, bem como nos Pareceres

e votos das várias Comissões Temáticas é fundamentalmente a mesma do Parecer CFE n.º

1.263/73. Isto não é novidade. Tem sido praxe salutar do Legislativo analisar propostas de

regulamentação de exercício profissional à luz de documentos normativos da Área

Educacional instituindo Habilitações Profissionais. Nada mais natural. A área educacional

normatiza a profissionalização e, quase que em decorrência, por pressão dos próprios

profissionais formados, acaba se regulamentando o exercício profissional, através de

Legislação especial.

...

12.1. - Os cursos de Técnico em Radiologia, da área de Saúde, só poderão ser

oferecidos a quem tenha 18 anos completos até a data de início das aulas, mediante

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28

comprovação de conclusão do ensino médio. Com isto atende-se à Recomendação nº

115/60 da OIT (Organização Institucional do Trabalho), permitindo-se, também, atender ao

determinado pela Lei Federal nº 7394/85.

12.2.- O curso de Técnico em Radiologia, com carga horária mínima de 1.200

horas, acrescidas das horas destinadas ao estágio profissional supervisionado, exigido pelo

Perfil Profissional de Conclusão do curso definido pela Escola, à luz do Parecer CNE/CEB

n.º 16/99 e da Resolução CNE/CEB n.º 04/99, deve se restringir à uma das cinco funções

técnicas definidas no Artigo 1º da Lei Federal n.º 7394/85.

...

12.3.- O profissional possuidor de Diploma de Técnico em Radiologia numa

determinada função técnica, por exemplo “Radiologia - setor de Diagnóstico” poderá cursar

em estabelecimento e curso devidamente autorizados pelo respectivo Sistema de Ensino,

curso de Especialização em Radiologia em outra função técnica prevista no Artigo 1º da Lei

Federal n.º 7.394/85.

12.3.1. Os cursos de Especialização Profissional em nível técnico, estruturados nos

termos das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico,

deverão restringir-se, cada um, a uma única função técnica legalmente estabelecida e,

quanto à carga horária mínima, seguir as normas específicas do respectivo sistema de

ensino.

...

12.3.3. – É condição para o estabelecimento de ensino ser autorizado a instalar

curso de Especialização Profissional em Radiologia, que o mesmo ofereça curso Técnico

em Radiologia, devidamente avaliado como de qualidade compatível com as exigências da

profissão.

...

12.5.- É possível a organização de cursos superiores de Tecnologia em Radiologia,

abrangendo as cinco funções técnicas previstas pelo Artigo 1º da Lei Federal n.º 7.394/85.

Neste caso, a Escola deve se orientar pelas normas específicas da Educação Superior e,

brevemente, também, pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional

de Nível Tecnológico, em processo de definição e elaboração neste Colegiado, por

comissão especial bicameral, da qual participa este relator.

Peço vênia pelas longas transcrições feitas até aqui, mas, em defesa,

declaro humildemente que é a forma que encontrei, sem sofismas ou falácias,

respeitando o ordenamento jurídico vigente e; nele fundamentando a

argumentação para construir um raciocínio, que é: A controvérsia existente entre

Técnicos e Tecnólogos em Radiologia versus Biomédicos, a respeito da

competência para o exercício das atividades envolvendo a operação de fontes

emissoras de radiação ionizante merece análise aprofundada, dada a

complexidade do tema e, para que fique devidamente comprovado que as ementas

Page 29: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

29

das matérias, os materiais didáticos, os laboratórios e os estágios profissionais são

totalmente incompatíveis entre si, ou seja, as formações do profissional da

radiologia e do profissional da biomedicina são totalmente distintas.

Dos trechos acima transcritos do Parecer CEB nº 09/2001, chamo especial

atenção para o item 12.3.1 que, ao estabelecer que as Especializações

Profissionais na Radiologia devem se ater, cada uma, a apenas uma das funções

técnicas estabelecidas no Art. 1º da Lei 7.394/85, de um lado guarda similaridade

com as antigas resoluções do extinto Conselho Federal de Educação, que

determinava um núcleo de matérias comuns para o curso de Técnico em

Radiologia, dividindo-o posteriormente em especialidades dentro do gênero

Radiologia, quais sejam, o Técnico em radiologia – modalidade Radiodiagnóstico,

modalidade Radioterapia e modalidade Medicina Nuclear, como mencionado no já

familiar parecer CNE/CEB nº 09/2001:

II – VOTO DO RELATOR

7. Em relação à área da Radiologia, a normatização do Conselho Federal de

Educação foi a seguinte:

- o Parecer CFE n.º 1.263/73 instituiu a Habilitação Profissional de Técnico em

Radiologia Médica, com habilitações específicas em Radiodiagnóstico e em Radioterapia,

com duração mínima de 03 anos, totalizando 2.200 horas, nos termos do Parecer CFE n.º

45/72, admitindo-se, também, nos termos do mesmo Parecer, a habilitação parcial de

Auxiliar Técnico de Radiologia.

- O Parecer CFE n.º 1.872/74 instituiu as Habilitações profissionais de Técnico em

Proteção Radiológica e de Técnico em Operação de Reator, com carga horária mínima de

2.900 horas a serem integralizadas em 04 anos.

8. Em 1982, a Lei Federal n.º 5.692/71 foi reformulada pela Lei Federal n.º

7.044/82, deixando de se exigir a predominância da parte profissionalizante no ensino de 2º

grau. Em conseqüência, o extinto Conselho Federal de Educação tomou as seguintes

providências em relação aos cursos de Técnico em Radiologia :

- o Parecer CFE n.º 68/88 definiu que os cursos de Radiologia poderiam ser

ministrados em um ano de formação técnica específica, em continuidade aos três anos do

ensino de 2º grau.

- o Parecer n.º 307/88 instituiu a Habilitação Profissional de Técnico em Radiologia,

com habilitação específica em Medicina Nuclear, para ser desenvolvida em 04 anos, com

um mínimo de 2.900 horas, podendo ser oferecida, nos termos do Parecer CFE n.º 68/88,

em um ano de formação técnica específica seguida aos 03 anos do curso do ensino de 2º

grau.

Page 30: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

30

Portanto, o entendimento acerca do itinerário de formação do Técnico em

Radiologia, foi mantido no Parecer CNE/CEB 16/99 e Resolução CNE/CEB 04/99,

bem como reafirmado no Parecer CNE/CEB 09/2001.

Ainda reproduzindo a parte final do item 12.3.1 do Parecer CNE/CEB

09/2001, onde se afirma que as Especializações Profissionais em Radiologia

devem, quanto à carga horária mínima, seguir as normas específicas do respectivo

sistema de ensino, há que se tecer algumas considerações:

Como dito anteriormente, a organização do sistema de ensino é feito em

regime de colaboração entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios,

conforme reza o Art. 8º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei

9.394/96:

Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão,

em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.

Assim, estabelecidas as Diretrizes Curriculares mínimas para os respectivos

itinerários de formação profissional, resta aos demais entes federativos exercerem

sua competência na matéria, organizando detalhadamente a instituição dos cursos

técnicos.

No estado de São Paulo, essa atribuição é exercida pela Secretaria Estadual

de Educação, através do Conselho Estadual de Educação:

LEI N.° 10.403, DE 6 DE JULHO DE 1971

Reorganiza o Conselho Estadual de Educação

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:

Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:

Artigo 1º - O Conselho Estadual de Educação (CEE), criado pelo artigo 1º da Lei n. 7.940,

de 7 de junho de 1963, de conformidade com o previsto na Lei Federal n.4.024, de 20 de

dezembro de 1961, é órgão normativo, deliberativo e consultivo do Sistema de Ensino do

Estado de São Paulo, vinculado, tecnicamente, ao Gabinete do Secretário da Educação.

Nos dizeres da home page do Conselho Estadual de Educação de São

Paulo, o órgão atua nos aspectos normativo, deliberativo e consultivo do sistema

educacional público e privado paulista. É quem estabelece regras para todas as

Page 31: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

31

escolas de todas as redes - estaduais, municipais e particulares - de educação

infantil, ensino fundamental, ensino médio e profissional, seja presencial ou à

distância. Também cabe ao CEE-SP orientar as instituições de ensino superior

públicas do Estado, bem como credenciar seus cursos. Esta atribuição lhe é dada

tanto pela Constituição Estadual quanto pela lei que o criou em 1963.

Esse órgão, no uso de suas atribuições, normatizou a organização dos cursos

técnicos de nível médio através da Indicação CEE 08/2000.

A própria definição do CEE-SP nos contempla:

“Indicação é um documento que deve refletir uma posição doutrinária sobre

assuntos relevantes.

Em alguns casos, o texto pode ser um encaminhamento ou justificativa de alteração

de normas vigentes ou de expedição de novas normas. Mesmo quando a Indicação não

encaminhe diretamente a normas ou as modificações delas, a Indicação tem caráter

normativo, em um sentido amplo.

É por meio de Indicações sobre temas relevantes para o sistema estadual de ensino

que o Conselho realiza sua vocação pedagógica de instituição normativa.

A abrangência e a solidez das posições doutrinárias do Conselho asseguram

coerência nas decisões específicas do órgão e podem facilitar a continuidade de projetos e

iniciativas da Administração Estadual de Ensino, quando for o caso.”

Para análise, da Indicação CEE 08/2000, extrai-se os seguintes trechos:

14 - Os pedidos de autorização de funcionamento de cursos de Educação

Profissional de Nível Técnico (Habilitação, Qualificação e Especialização) serão instruídos

com os respectivos Planos de Curso, a serem submetidos à aprovação dos órgãos próprios

do sistema de ensino. Os Planos de Cursos terão a seguinte estrutura:

I. justificativa e objetivos;

II. requisitos de acesso;

III. perfil profissional de conclusão;

IV. organização curricular;

V. critérios de aproveitamento de conhecimentos e experiências anteriores;

VI. critérios de avaliação;

VII. instalações e equipamentos;

VIII. pessoal docente e técnico;

IX. certificados e diplomas.

...

14.3 - Cada Plano de curso submetido à aprovação do órgão próprio do sistema

estadual de ensino deverá ser acompanhado de parecer técnico de especialista ou de

instituição de reconhecida competência na(s) área(s) profissional(ais) objeto do curso(s),

Page 32: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

32

devendo referido parecer incidir, especialmente, sobre os itens III, IV, VII e VIII do Plano de

Curso.

...

19.1 - No caso de qualificação profissional referente a ocupações regulamentadas

por Lei e/ou fiscalizados por órgão próprio, similares à de Auxiliar de Enfermagem, Auxiliar

de Farmácia e Guia de Turismo, a carga horária mínima a ser exigida será de 50% da carga

horária mínima determinada para a respectiva Habilitação Profissional, acrescida de exigível

estágio profissional supervisionado.

20 - A carga horária mínima para os cursos de Especialização profissional de nível

técnico será de 20% da carga horária mínima determinada para a respectiva Habilitação

Profissional, acrescida de exigível estágio profissional supervisionado.

Com relação ao estágio obrigatório e supervisionado, entendo que os itens

19.1 e 20 da Indicação CEE 08/2000, por analogia, estabelece que o estágio nos

cursos de radiologia de nível médio é de 50% (cinqüenta por cento) da carga

horária do curso, mas para que não pairem dúvidas a esse respeito, socorro-me da

leitura de outras normas e diplomas para definir a carga horária dos estágios em

cursos de Técnico em Radiologia.

Em publicação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na

Saúde e do Departamento de Gestão da Educação na Saúde, órgãos subordinados

ao Ministério da Saúde, denominado “Técnico em radiologia: diretrizes e

orientações para a formação” a orientação para o itinerário de formação do Técnico

em Radiologia, além das 1.200 horas teóricas, contempla uma carga horária de

estágio de 600 horas.

Da leitura da referida publicação, ressaltamos trecho de sua apresentação:

Este documento atende às diretrizes e estratégias do Programa Mais Saúde: direito

de todos: 2008-2011 do MS e é parte da operacionalização do Programa de Formação de

Profissionais de Nível Médio para a Saúde (Profaps).

Este Programa enfatiza a necessidade de desenvolvimento de projetos que visem à

ordenação de recursos humanos para a saúde e destaca a articulação das políticas e

processos de trabalho da saúde e da educação como estratégia privilegiada para a

ampliação e qualificação da atenção à saúde em todos os âmbitos da rede de serviços do

Sistema Único de Saúde (SUS).

A implementação das medidas constitutivas desses Programas requer a

participação de diferentes atores dos sistemas de saúde e de educação, em âmbitos

nacional, estadual e municipal.

Assim, o MS, em parceria com o Ministério da Educação (MEC), com o apoio do

Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), do Conselho Nacional de Secretários

Page 33: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

33

Municipais de Saúde (Conasems), da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e

participação de instituições educacionais e de serviços de saúde, elaborou este documento

como fonte de orientação da formação do técnico em radiologia.

Cabe ressaltar que a competência normativa para influir no itinerário dos

cursos de formação de recursos humanos na área da saúde é competência

delegada pela Constituição:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos

termos da lei:

...

III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;

Referido mandamento está devidamente regulamentado na Lei 8.080/90, Lei

do SUS, que “Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e

recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços

correspondentes e dá outras providências”:

Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde

(SUS):

...

III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde;

Estabelecida a competência do Ministério da Saúde, por meio do Sistema

Único de Saúde na ordenação da formação de recursos humanos na área da

saúde, a publicação acima referida, entre outras coisas, estabelece que o estágio

obrigatório nos cursos de formação de Técnicos em Radiologia deve ser de 600

horas, conforme transcrição:

3.5.2 Carga Horária

A carga horária mínima do curso é de 1.200 horas, às quais deve ser acrescida a

carga horária do estágio curricular. Recomenda-se carga horária total de 1.800 horas,

distribuídas nas etapas I, II e III, conforme será apresentado no Quadro 1. (pág. 35)

Quadro 1: Distribuição da carga horária por etapas do curso e por natureza da

atividade didática (teoria-prática e estágio curricular supervisionado).

Page 34: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

34

Quanto ao Estágio Curricular Supervisionado – momento em que o aluno aplica os

saberes (saber, fazer e ser) em diferentes espaços dos serviços de saúde sob supervisão

da Escola, em articulação com a Unidade de Serviço respectiva –, recomenda-se distribuir a

carga horária destinada ao estágio pelas diferentes modalidades radiológicas (Quadro

2).(pág. 36)

Quadro 2: Distribuição da carga horária/semanas de estágio curricular

supervisionado nas diferentes modalidades radiológicas.

Assim, da interpretação das normas próprias dos sistemas educacionais

pátrios, com relação aos cursos técnicos de nível médio em Radiologia, pode-se

estabelecer:

1. O curso de Técnico em Radiologia, modalidade de educação profissional, à

luz das normas vigentes, tem duração mínima de 1.200 horas, portanto, da

leitura conjunta com o Art. 2º da Lei 7.394/85, a formação mínima exigida

pela Lei Federal para o exercício legal das atividades envolvendo operação

de fontes emissoras de radiação ionizante é de um curso com, no mínimo,

1200 horas acrescido de estágio profissional obrigatório e supervisionado

de 600 horas, totalizando 1800 horas;

2. O aluno egresso de tal curso, com habilitação em uma das cinco funções

elencadas no Art. 1º da Lei 7.394/85, por exemplo, Técnico em Radiologia

com habilitação em Radiodiagnóstico, poderá fazer especialização em

Page 35: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

35

outra das cinco funções elencadas no Art. 1º da citada lei, v.g.,

Radioterapia.

3. Ainda, de acordo com as diretrizes educacionais, é conditio sine qua non

que, para se oferecer especializações nas funções elencadas na retro

citada lei, a escola deve oferecer a habilitação de Técnico em Radiologia

com a carga horária mínima estabelecida nas normas educacionais

aplicáveis à espécie;

4. As especializações na Radiologia, sempre levando em consideração as

normas dos respectivos sistemas de ensino, devem ter carga horária

mínima de 20% (vinte por cento) da carga horária correspondente ao

itinerário da habilitação principal, que no caso, será de 240 (duzentas e

quarenta horas);

5. Os estágios supervisionados, de acordo com a publicação da Secretaria de

Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde e do Departamento de

Gestão da Educação na Saúde, órgãos subordinados ao Ministério da

Saúde, denominado “Técnico em radiologia: diretrizes e orientações para a

formação”, devem ser de 600 horas, bem como as especializações devem

ter estágio correspondente a 50% da respectiva carga horária, ou seja, 120

horas;

6. É uma realidade a oferta de cursos superiores de graduação Tecnológica

em Radiologia, abrangendo as funções previstas no Art. 1º da Lei 7.394/85,

com carga horária mínima de 2.400 (duas mil e quatrocentas horas) para a

teoria e carga horária mínima de estágio na ordem de 20% (vinte por

cento) do curso, ou 480 (quatrocentas e oitenta) horas;

7. Portanto, é possível estabelecer que um profissional das Técnicas

Radiológicas, regularmente formado, terá estudado, considerando as horas

destinadas à teoria e o estágio supervisionado entre 1.800 (mil e

oitocentas) e 2.880 (duas mil, oitocentas e oitenta) horas, sem considerar

as especializações.

Page 36: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

36

Como se vê, estabelece-se de forma gritante, a completa diferença entre os

itinerários de formação dos profissionais das Técnicas Radiológicas e os egressos

do curso de Biomedicina, o que se presta para, ainda mais, corroborar minha

assertiva de que é completamente defeso ao Biomédico, o exercício das atividades

inerentes ao manuseio, operação e realização de exames de radiodiagnóstico,

medicina nuclear e tratamentos com o uso de técnicas de radioterapia que

envolvam fontes emissoras de radiação.

Resta ainda estabelecer que, em cumprimento à Indicação do Conselho

Estadual de Educação de São Paulo, nº 008/2000, dos Pareceres CNE/CEB 16/99

e 09/2001, Resolução CNE/CEB 04/99, Decreto 5.154/04 e Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional – LDB 9.394/96, não é possível a realização de

especializações na área da radiologia por parte dos egressos do curso de

Biomedicina, visto que lhes falta a condição estabelecida nas normas acima

citadas: a realização do curso paradigma com duração mínima de 1.200 horas

acrescidas de 600 horas do estágio obrigatório, momento em que o aluno adquire

as competências para a laborabilidade, contemplando os três “saberes”: saber,

fazer e ser.

Em resumo, se o aluno não desenvolveu a competência específica, - e é

exatamente isso que os estudos e as normas no campo da educação

profissionalizante afirmam - como pode arvorar-se “especialista”?

3.3 – CONCLUSÕES DA ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA FORMAÇÃO E DA

REGULAMENTAÇÃO PROFISSIONAL DOS BIOMÉDICOS E DOS

PROFISSIONAIS DA RADIOLOGIA

Da análise do exposto acima, verifica-se de forma límpida que a vontade do

legislador era restringir o exercício profissional àqueles devidamente habilitados em

curso próprio e, vale dizer, submetidos a um Código de Ética Profissional e à

fiscalização do exercício profissional, através de Autarquia especial que exerce

atividade típica do Estado, a saber, o Conselho de Técnicos em Radiologia.

É de se notar sobremaneira, que a autoria do projeto de Lei que culminou na

promulgação da Lei nº 7.394/85 é de autoria do Deputado Gomes do Amaral, o

mesmo autor de projeto de Lei a respeito da regulamentação da profissão do

Biomédico, destacando-se ainda que ambos os projetos são do mesmo ano.

Page 37: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

37

Infere-se que, se atentarmos para o aspecto axiológico da norma, nota-se

que era e ainda é a vontade do legislador, conceber os diversos campos

multidisciplinares da saúde numa equação que contempla itinerários específicos de

formação para atividades que, se percebidas em seus detalhes mínimos, guardam

também especificidades que as distinguem e as tornam únicas.

Em suma, atividades que se complementam, mas não se sobrepõe.

Avançando ainda mais na demonstração que o estudo merece, utilizar-me-ei

da boa hermenêutica, que me socorre na preciosa lição de Miguel Reale:

“Interpretar uma lei importa, previamente, em compreendê-la na plenitude de seus

fins sociais, a fim de poder-se, desse modo, determinar o sentido de cada um de seus

dispositivos. Somente assim ela é aplicável a todos os casos que correspondam àqueles

objetivos. Como se vê, o primeiro cuidado do hermeneuta contemporâneo consiste em

saber qual a finalidade social da lei, no seu todo, pois é o fim que possibilita penetrar na

estrutura de suas significações particulares.”

Pode-se afirmar solenemente a existência de fatos que estão no campo de

interesse do legislador no exercício da atividade legiferante: A necessidade de

regulamentação de diversas profissões que, dada sua complexidade e o seu

impacto na sociedade, devem ter seu acesso restringido, bem como, também será

restringido seu campo de atuação; medida essa em perfeita consonância com o

mandamus Constitucional vigente à época e totalmente recepcionado pela Carta

Magna em vigor, que estabelece em seu Art. 5º, XVIII que “é livre o exercício de

qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que

a lei estabelecer.”

Essa realidade não se aplica somente ao Técnico e Tecnólogo em

Radiologia. Até o Médico e o Advogado um dia, já foram práticos.

Na área da saúde, principalmente, onde a cada dia são descobertas novas

tecnologias, novos tratamentos, fazem-se necessários profissionais que detenham

conhecimentos específicos e que trabalhem em conjunto, multidisciplinarmente e

multiprofissionalmente.

Apenas como citação, os atuais Técnicos em Enfermagem e Enfermeiros

Padrão, um dia já foram atendentes e parteiras, portanto práticos.

Hoje, o enfermeiro com formação em nível superior é responsável por

Programas de Saúde da Família (PSF), podendo, por exemplo, prescrever alguns

medicamentos.

Page 38: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

38

O mesmo pode ser dito do cirurgião–dentista, que um dia foi até um barbeiro

que extraía dentes, um protético, um prático.

Não há que se imaginar um profissional sem conhecimentos específicos

realizando uma cirurgia buco-maxilar, um implante, um tratamento endodôntico.

Mesma lógica aplica-se ao Operador de Raios X. Um dia esse profissional

foi um leigo treinado pelo médico para ajudá-lo a realizar exames e operar

equipamentos. E muitos morreram.

A literatura científica é prolífica em exemplos de operadores - e mesmo

médicos – que desenvolveram doenças ocupacionais em decorrência da

inabilidade em operar tais aparelhos e do desconhecimento dos efeitos biológicos

das radiações ionizantes.

Assim, evoluiu-se do antigo Operador de Raios-X, passando pelo Técnico e

hoje já é uma realidade o Tecnólogo em Radiologia, profissional de nível superior,

com formação praticamente dobrada (três anos) em relação ao profissional de nível

médio e que vem se especializando e desenvolvendo trabalhos na área,

notadamente no campo da Proteção Radiológica, fator essencial para garantir um

exame com máxima qualidade diagnóstica, mínima exposição do paciente e

segurança para o indivíduo ocupacionalmente exposto.

Como informação, os cursos de Radiologia em Portugal, hoje, têm formação

mínima de quatro anos.

Não é possível “dourar a pílula” nesse assunto tão sério que é a Saúde

humana.

O Biomédico atuando no Diagnóstico por Imagem e nas terapias com uso de

radiações ionizantes, nada mais é do que um “prático”.

E as diversas Leis regulamentadoras de profissão existentes no

ordenamento jurídico brasileiro, todas elas, exigindo formação mínima e

restringindo o campo de atuação, nada mais são do que o Estado garantindo a

ordem social, cumprindo sua função Constitucional, prevista no Art. 22:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de

profissões;

Sou taxativo: O ordenamento jurídico Brasileiro, através das

regulamentações das profissões, refutou a idéia de um “prático” exercendo

Page 39: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

39

profissões, especialmente aquelas cujo exercício pode trazer riscos à saúde

humana.

Decorre dessas constatações as seguintes conclusões:

• Se a formação em Biomedicina é suficiente para exercer as atividades

envolvendo o uso e operação de fontes emissoras de radiação ionizante,

então deve se declarar a extinção dos Tecnólogos e Técnicos em

Radiologia, bem como deve se declarar que a Lei 7.394/85 é letra morta.

• Mesmo assim, há um paradoxo: Se o curso de Biomedicina efetivamente

prepara o profissional para as atividades envolvendo o uso e operação de

fontes emissoras de radiação ionizante, então, nessas atividades o

Biomédico será um operador e, sendo um operador, deverá ser regido pela

Lei 7.394/85.

• Porém, se a formação em Biomedicina é insuficiente para exercer as

atividades envolvendo o uso e operação de fontes emissoras de radiação

ionizante, supõe-se que o Biomédico é um “prático” e, sendo ele um

prático, ele não está habilitado.

Diante dessa análise, há que se declarar que o aspecto teleológico da

norma, sua ratio essendi transparece:

A regulamentação da profissão do Técnico em Radiologia, a definição de

seus campos de atuação, bem como as condições para o exercício profissional,

entenda-se, a exigência de uma formação específica, declarou a revogação de

qualquer dispositivo cujo entendimento caminhe em direção contrária.

Aqui, torna-se imperioso a evocação do brocardo “Lex posterior derogat legi

priori”, exemplarmente descrito no Decreto-Lei nº 4.657 de 4 de setembro de 1942,

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, em seu Art. 2º, cabeça e § 1º:

Art. 2º: Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a

modifique ou revogue.

§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja

com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

Page 40: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

40

Nas palavras de Theodor Sternberg, seria impossível a análise dos

problemas jurídicos sem a observância do seu desenvolvimento através dos

tempos: “El que quiera hacer Derecho sin Historia, no es un jurista, nin siquiera un

utopista; no traera a La vida espírito de ordenación social consciente, sino mero

disorden y destrucción” (Introducción a La ciência del derecho, trad. José Rovira y

Ermengol, 2. Ed., Barcelona, Labor, 1930, p. 32)

Maria Helena Diniz, em sua obra basilar “Conflito de Normas”, nos ensina

que o vocábulo antinomia surgiu na antiguidade, nas lições de Plutarco e

Quintiliano. Posteriormente, Goclenius, em sua obra Lex philosophicum

quotanquan clave philosophiae fores aperiuntur, distinguiu antinomia em sentido

amplo, que ocorria entre sentenças e proposições e em sentido estrito, que é a

existente entre leis (pugnantia legum inter se). Tal interpretação, do sentido estrito,

foi reafirmada por Eckolt, no seu livro De antinomiis. Ambos já falavam em

antinomia real e aparente.

Julgo ser de fundamental importância, para o estudo do problema que aqui

se apresenta, qual seja, a existência de uma antinomia e já me adiantando, a meu

ver, aparente, que partamos de um método de interpretação sistemático.

Ainda conforme a doutrinadora, sistema significa nexo, uma reunião de

coisas ou conjunto de elementos, e método, um instrumento de análise.

Nessa visão, a função do cientista do direito não é a mera transcrição de

normas, mas sim a descrição e a interpretação, que consistem, fundamentalmente,

na determinação das conseqüências que derivam dessas normas. Trata-se de uma

operação lógica, que procura estabelecer, de modo racional, um nexo lógico entre

as normas e demais elementos do direito, dando-lhes certa unidade de sentido.

Nos dizeres de Geraldo Ataliba:

“De nada vale o conhecimento de uma seara, se se desconhece sua articulação

com as demais. De pouco vale a familiaridade com certas informações, se não se as

coordena com o universo do direito, se não se sabe filiá-las, explicá-las e concatená-las

com os fundamentos em geral e com o todo sistemático onde inseridas. É inútil o

conhecimento que se limita à superfície dos fenômenos jurídicos, sem buscar penetrar seus

fundamentos explicativos e justificativos” (Geraldo Ataliba, no prefácio ao livro de Lourival

Vilanova, As estruturas lógicas e o sistema do direito positivo, São Paulo, Revista dos

Tribunais, 1977, p. XIII).

Dessas idéias, advém a dedução de que os elementos do sistema estão

vinculados entre si por uma relação, sendo interdependentes. Se houver

Page 41: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

41

incongruência entre eles, temos quebra de isomorfia e lacuna, se houver conflito

dentro do subsistema normativo, temos antinomia.

Nessa toada, o critério Lex posterior derogat legi priori significa que de duas

normas do mesmo nível ou escalão, a última prevalece sobre a anterior.

É minha afirmação que, entre a Lei 6.684/79 (do Biomédico) e a Lei 7.394/85

(do Técnico em Radiologia) existe uma antinomia aparente, o que, segundo a

doutrina, encontra solução no critério retromencionado e que encontra abrigo na

Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, significando no caso, a opção

pela norma posterior em detrimento da norma anterior, onde elas se colidem.

Ademais, ressalto que a Lei 7.394/85, além de tratar especificamente das

grandes áreas da radiologia e de estabelecer condição para o exercício

profissional, traz expresso em seu Art. 19 o mandamento “Revogam-se as

disposições em contrário”

Segundo a lição de Vicente Rao:

"Que é que significa revogar disposições em contrário, senão revogar as

disposições das leis anteriores, inconciliáveis com a lei posterior?

Ora, a revogação tácita não é outra coisa; resulta da incompatibilidade entre a lei

antiga e a lei nova.

Aquilo que a fórmula diz é, efetivamente, isso e nada mais.

Se o não dissesse, o efeito seria idêntico; porque, ainda assim, estariam, na

verdade, revogadas todas as disposições em contrário.

Em suma, há uma revogação, mas é preciso ir procurar, segundo o critério da

incompatibilidade, as disposições revogadas.

Por isso, Planiol reputa inteiramente inútil a precaução usual de declarar revogadas

as disposições em contrário: ‘c’est parler pour rien dire’" (É falar em vão). Planiol O Direito e

a vida dos Direitos. 5.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 340-341”

4. - DOS PROBLEMAS TRABALHISTAS E PREVIDENCIÁRIOS

DECORRENTES DA OPÇÃO PELA CONTRATAÇÃO DE BIOMÉDICOS

“O Trabalho não é uma mercadoria sujeita às lei da oferta

e da procura, que se pode especular com salários, com a

vida dos homens, como se faz com o trigo, o açúcar, o

café” (Leão XIII, Encíclica Rerum Novarum, repetido

posteriormente por João XXIII).

Page 42: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

42

Prosseguindo nessa análise, procurarei demonstrar agora que a opção pela

contratação de Biomédicos na operação de fontes emissoras de radiação se dá

única e exclusivamente por razões econômico-financeiras.

Preliminarmente, cumpre citar que o Brasil é signatário da Convenção 115,

da Organização Internacional do Trabalho - OIT, admitida em nosso ordenamento

jurídico pelo Decreto nº 62.151, de 19/1/ 1968, de cujo diploma extraio os seguintes

trechos:

ARTIGO 1º

Todo Membro da Organização Internacional do Trabalho que ratificar a

presente convenção se compromete a aplicá-la por meio de leis ou regulamentos,

coletâneas de normas práticas ou por outras medidas apropriadas. Ao aplicar-se as

disposições da convenção, a autoridade competente consultará representantes dos

empregados e trabalhadores.

ARTIGO 2º

1. A presente convenção se aplica a todas as atividades que acarretam a

exposição de trabalhadores às radiações ionizantes, durante o trabalho.

...

ARTIGO 3º

1. A luz da evolução dos conhecimentos, tôdas as medidas adequadas serão

tomadas para assegurar uma proteção eficaz dos trabalhadores contra as radiações

ionizantes, do ponto de vista da sua saúde e segurança.

2. Com êsse fim, serão adotadas normas e medidas necessárias, e serão

postas à disposição as informações essenciais para a obtenção de uma proteção eficaz.

...

ARTIGO 5º

Todos os esforços devem ser feitos para reduzir ao nível mais baixo possível a

exposição dos trabalhadores às radiações ionizantes e qualquer exposição inútil deve ser

evitada por tôdas as partes interessadas.

ARTIGO 6º

1. As doses máximas admissíveis de radiações ionizantes provenientes de

fontes exteriores ou interiores ao organismo, assim como as quantidades máximas

admissíveis de substâncias radioativas introduzidas no organismo, serão fixadas, em

conformidade com a parte 1 da presente convenção, para as diferentes categorias de

trabalhadores.

2. Essas doses e quantidades máximas admissíveis deverão ser

constantemente revistas à luz dos conhecimentos novos.

...

ARTIGO 11

Page 43: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

43

Um contrôle adequado dos trabalhadores e dos lugares de trabalho deve ser

efetuado, a fim de medir a exposição dos trabalhadores às radiações ionizantes e às

substâncias radioativas, com o fim de verificar se os níveis fixados são respeitados.

ARTIGO 12

Todos os trabalhadores diretamente sujeitos a trabalhos sob radiação devem

submeter-se a um exame médico apropriado antes ou pouco tempo depois da sujeição a

tais trabalhos, e submeter-se ulteriormente a exames médicos com intervalos adequados.

...

ARTIGO 15

Todo Membro que ratificar a presente convenção se compromete a encarregar

serviços de inspeção apropriados do contrôle da aplicação das suas disposições, ou a

verificar se está garantida uma inspeção adequada.

Aqui defendo mais uma vez a interpretação sistemática que deve ser

aplicada a essa questão, pois, entre as medidas que o Brasil se compromete a

adotar, dada a ratificação da Convenção 115 da OIT, podemos citar, sem prejuízo

de outras que serão objeto de estudo posteriormente, a Norma Regulamentadora

do Ministério do Trabalho - NR 32, sobre segurança e saúde no trabalho em

serviços de saúde, que tem capítulo específico sobre medidas a serem tomadas

com relação aos trabalhadores expostos às radiações ionizantes.

32.4 Das Radiações Ionizantes

32.4.1 O atendimento das exigências desta NR, com relação às radiações ionizantes, não

desobriga o empregador de observar as disposições estabelecidas pelas normas

específicas da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN e da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária - ANVISA, do Ministério da Saúde.

...

32.4.3 O trabalhador que realize atividades em áreas onde existam fontes de radiações

ionizantes deve:

...

b) ter conhecimento dos riscos radiológicos associados ao seu trabalho;

c) estar capacitado inicialmente e de forma continuada em proteção radiológica;

4.1 – DAS NORMAS TRABALHISTAS APLICÁVEIS AOS PROFISSIONAIS DA

RADIOLOGIA E AOS BIOMÉDICOS.

4.1.1 – JORNADA DE TRABALHO E PISOS SALARIAIS DOS TÉCNICOS E

TECNÓLOGOS EM RADIOLOGIA

Page 44: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

44

Os Técnicos em Radiologia, dada a característica de insalubridade e

periculosidade atribuídas em lei para essas atividades, têm jornada limitada – na

operação de fontes emissoras de radiação ionizante – a 24 (vinte e quatro) horas

semanais, por força do Art. 14 da Lei 7.394/85, verbis:

Art. 14 - A jornada de trabalho dos profissionais abrangidos por esta Lei será de 24 (vinte

e quatro) horas semanais.

O mesmo diploma traz referência expressa sobre o salário mínimo dos

profissionais e o percentual que deve ser pago a título de adicional de

insalubridade:

Art. 16 - O salário mínimo dos profissionais, que executam as técnicas definidas no Art. 1º

desta Lei, será equivalente a 2 (dois) salários mínimos profissionais da região, incidindo

sobre esses vencimentos 40% (quarenta por cento) de risco de vida e insalubridade.

Necessário abordar aqui a questão do salário dos profissionais.

Em recente decisão, nos autos da Arguição de Descumprimento de Preceito

Fundamental 151, o Excelso Pretório decidiu em sede de Medida Cautelar, pela

não recepção do estabelecimento de salário profissional em múltiplos de salário

mínimo, por afronta ao Art. 7º, IV, da CF/88, que veda a vinculação do salário

mínimo para qualquer fim. Reproduz-se o inteiro teor da decisão:

Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Direito do Trabalho. Art. 16

da Lei 7.394/1985. Piso salarial dos técnicos em radiologia. Adicional de insalubridade.

Vinculação ao salário mínimo. Súmula Vinculante 4. Impossibilidade de fixação de piso

salarial com base em múltiplos do salário mínimo. Precedentes: AI-AgR 357.477, Rel. Min.

Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 14.10.2005; o AI-AgR 524.020, de minha relatoria,

Segunda Turma, DJe 15.10.2010; e o AI-AgR 277.835, Rel. Min. Cezar Peluso, Segunda

Turma, DJe 26.2.2010. 2. Ilegitimidade da norma. Nova base de cálculo. Impossibilidade de

fixação pelo Poder Judiciário. Precedente: RE 565.714, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal

Pleno, DJe 7.11.2008. Necessidade de manutenção dos critérios estabelecidos. O art. 16 da

Lei 7.394/1985 deve ser declarado ilegítimo, por não recepção, mas os critérios

estabelecidos pela referida lei devem continuar sendo aplicados, até que sobrevenha norma

que fixe nova base de cálculo, seja lei federal, editada pelo Congresso Nacional, sejam

convenções ou acordos coletivos de trabalho, ou, ainda, lei estadual, editada conforme

delegação prevista na Lei Complementar 103/2000. 3. Congelamento da base de cálculo

em questão, para que seja calculada de acordo com o valor de dois salários mínimos

Page 45: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

45

vigentes na data do trânsito em julgado desta decisão, de modo a desindexar o salário

mínimo. Solução que, a um só tempo, repele do ordenamento jurídico lei incompatível com

a Constituição atual, não deixe um vácuo legislativo que acabaria por eliminar direitos dos

trabalhadores, mas também não esvazia o conteúdo da decisão proferida por este Supremo

Tribunal Federal. 4. Medida cautelar deferida.

A decisão foi publicada em 05 de maio de 2011, data em que o valor do

salário mínimo era de R$ 545,00 (quinhentos e quarenta e cinco reais).

Portanto, considerando-se a decisão em sede de liminar do colendo STF, no

presente momento, tem-se que o salário de ingresso do Técnico em Radiologia

equivale a R$ 1.090,00 (mil e noventa reais) e sobre esse valor, aplica-se o

percentual de 40% (quarenta por cento) a título de risco de vida e insalubridade, o

que significa um adicional de R$ 436,00 (quatrocentos e trinta e seis reais),

totalizando o valor de R$ 1.526,00 (mil quinhentos e vinte e seis reais) a título de

piso salarial, desde que não exista previsão em norma coletiva de trabalho, com

valores acima desse piso.

Nesse sentido, vale pontuar que o Sindicato dos Técnicos e Auxiliares em

Radiologia de São José do Rio Preto e Região – SINTAR e o Sindicato dos

Técnicos e Auxiliares em Radiologia no Estado de São Paulo – SINTARESP

assinam Convenções Coletivas de Trabalho com sindicatos representativos dos

empregadores.

Como exemplo, cito as Convenções Coletivas de Trabalho assinadas pelo

SINTAR e pelo SINTARESP com o Sindicato das Santas Casas de Misericórdia e

Hospitais Filantrópicos do Estado de São Paulo – SINDHOSFIL, onde ficou

estabelecido um piso salarial superior ao acima disposto:

No caso do SINTAR, o atual Termo de Aditamento, vigente até 30 de

novembro de 2.012, estabelece um piso para o Técnico em Radiologia de R$

1.240,00 (mil duzentos e quarenta reais), incidindo sobre esse valor o adicional de

40% (quarenta por cento), ou seja, R$ 496,00 (quatrocentos e noventa e seis reais)

perfazendo um total de R$ 1.736,00 (mil setecentos e trinta e seis reais).

Para o SINTARESP, a Convenção Coletiva de Trabalho vigeu até 30 de abril

de 2.012 e até o presente momento não foi assinada nova Convenção, porém, os

valores estabelecidos até então, são os seguintes:

Para o Tecnólogo em Radiologia: R$ 1.495,20 (mil quatrocentos e noventa e

cinco reais e vinte centavos), incidindo sobre esse valor adicional de 40% (quarenta

por cento), ou seja, R$ 598,08 (quinhentos e noventa e oito reais e oito centavos),

Page 46: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

46

perfazendo um total de 2.093,28 (dois mil e noventa e três reais e vinte e oito

centavos).

Para o Técnico em Radiologia: R$ 1.238,88 (mil duzentos e trinta e oito reais

e oitenta e oito centavos), incidindo sobre esse valor, adicional de 40% (quarenta

por cento), ou seja, R$ 495,52 (quatrocentos e noventa e cinco reais e cinqüenta e

dois centavos), perfazendo um total de R$ 1.734,40 (mil setecentos e trinta e

quatro reais e quarenta centavos).

É de extrema importância que se leve sempre em consideração que esses

pisos normativos se referem a uma jornada de vinte e quatro horas semanais,

conforme preconizado pelo Art. 14 da Lei Federal 7.394/85.

Para as Convenções Coletivas de Trabalho assinadas com outros sindicatos

patronais, a saber;

• Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de

Pesquisa e Análises Clínicas do Estado de São Paulo – SINDHOSP;

• Sindicato Nacional das Empresas de Medicina de Grupo – SINAMGE;

• Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de

Pesquisas e Análises Clínicas de Osasco e Região – SINDIHCLOR;

o piso salarial do Técnico em Radiologia é o previsto na Lei 7.394/85 que,

conforme demonstrado acima, atualmente, já incluso o adicional de 40%, é de R$

1.526,00 (mil quinhentos e vinte e seis reais).

Portanto, atualmente, ao menos no estado de São Paulo, é seguro

estabelecer que o piso salarial de um Profissional das Técnicas Radiológicas,

representa um valor variável entre R$ 1.526,00 (mil quinhentos e vinte e seis reais)

e 2.093,28 (dois mil e noventa e três reais e vinte centavos).

4.1.2 – JORNADA DE TRABALHO E PISOS SALARIAIS DOS BIOMÉDICOS

Os Biomédicos não têm em sua norma regulamentadora (Lei 6.684/79)

previsões específicas a respeito de jornada, pisos salariais e adicionais.

Atualmente, os pisos salariais dos Biomédicos estão previstos em

Convenções Coletivas de Trabalho, assim discriminados:

Com o Sindicato das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais

Filantrópicos do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Alta Mantiqueira – SINDHOSFIL-

Page 47: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

47

VP o piso salarial vigente é de R$ 1.453,00 (mil quatrocentos e cinqüenta e três

reais).

Com o SINDHOSFIL, o piso é de R$ 1.503,60 (mil quinhentos e três reais e

sessenta centavos).

Com o SINDHOSP, o piso é assim dividido:

• Os estabelecimentos de saúde com até 25 empregados em geral, observarão, o piso

salarial do Biomédico de R$1.446,67 (um mil e quatrocentos e quarenta e seis reais e

sessenta e sete centavos).

• Os estabelecimentos de saúde com 26 a 50 empregados em geral, observarão, o piso

salarial do Biomédico de R$1.605,63 (um mil e seiscentos e cinco reais e sessenta e

três centavos).

• Os estabelecimentos de saúde com mais de 51 empregados em geral, observarão, o

piso salarial do Biomédico de R$1.721,62 (um mil e setecentos e vinte e um reais e

sessenta e dois centavos).

Não constam Convenções Coletivas de Trabalho com o SINAMGE e com o

SINDHCLOR.

Há que se ressaltar, para efeito dessa comparação, ainda, que as

Convenções Coletivas assinadas entre o Sindicato dos Biomédicos Profissionais do

Estado de São Paulo – SINBIESP e os sindicatos patronais, a respeito de jornada

de trabalho, prevêem o disposto na legislação vigente, ou seja, 44 (quarenta e

quatro) horas semanais, aplicando-se facultativamente a jornada de 12X36 (doze

horas de trabalho por trinta e seis horas de descanso), ressalvada a CCT assinada

entre SINBIESP e SINDHOSP que prevê, facultativamente, a contratação em

jornada inferior, porém, com redução proporcional do salário.

Com relação aos adicionais de insalubridade e periculosidade, a CCT

assinada entre SINBIESP e SINDHOSFIL e SINDHOSFIL-VP prevê o pagamento

de acordo com a legislação vigente e a CCT assinada entre SINBIESP e

SINDHOSP é omissa a respeito.

Para estabelecer o quantum salarial, tenho que me socorrer de outra norma

que versa sobre a concessão de adicionais de insalubridade.

A norma em questão é a NR-15, Norma Regulamentadora do Ministério do

Trabalho e Emprego, sobre “Atividades e Operações Insalubres”:

15.1 São consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem:

15.1.1 Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos n.º 1, 2, 3, 5, 11 e 12;

Page 48: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

48

15.2 O exercício de trabalho em condições de insalubridade, de acordo com os

subitens do item anterior, assegura ao trabalhador a percepção de adicional, incidente sobre

o salário mínimo da região (grifei), equivalente a:

15.2.1 40% (quarenta por cento), para insalubridade de grau máximo;

....

Depreende-se da leitura acima, portanto, que o adicional pago ao Biomédico

no exercício de atividades que envolvam operação de fontes emissoras de

radiação ionizante, não incide sobre o total de salários, como é aplicado ao Técnico

e Tecnólogo em Radiologia por força de previsão legal e reafirmado em

Convenções Coletivas de Trabalho, mas sim, sobre o salário mínimo.

Assim, dado o valor do salário mínimo atual de R$ 622,00 (seiscentos e vinte

e dois reais), tem-se que o adicional de insalubridade pago ao Biomédico é de R$

248,80 (duzentos e quarenta e oito reais e oitenta centavos).

Portanto, pode-se estabelecer que o piso salarial pago ao Biomédico no

exercício das atividades envolvendo operação de fontes emissoras de radiação no

estado de São Paulo, já acrescidos do adicional de insalubridade, relembrando

que, tal piso refere-se a uma jornada de 44 (quarenta e quatro) horas semanais,

atualmente, varia entre:

• R$ 1.695,47 (mil seiscentos e noventa e cinco reais e quarenta e sete

centavos), piso definido na CCT assinada entre SINBIESP e SINDHOSP

para estabelecimentos com até 25 (vinte e cinco) empregados; e

ANEXO N.º 5

RADIAÇÕES IONIZANTES

Nas atividades ou operações onde trabalhadores

possam ser expostos a radiações ionizantes, os limites de

tolerância, os princípios, as obrigações e controles básicos para

a proteção do homem e do seu meio ambiente contra possíveis

efeitos indevidos causados pela radiação ionizante, são os

constantes da Norma CNEN-NE-3.01: "Diretrizes Básicas de

Radioproteção", de julho de 1988, aprovada, em caráter

experimental, pela Resolução CNEN n.º 12/88, ou daquela que

venha a substituí-la. (Parágrafo dado pela Portaria n.º 04, de 11

de abril de 1994)

Page 49: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

49

• R$ 1.970,42 (mil novecentos e setenta reais e quarenta e dois centavos),

piso definido na CCT assinada entre SINBIESP e SINDHOSP para

estabelecimentos com mais de 51 (cinqüenta e um) empregados.

4.1.3 – DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

Transcrevo aqui o Art. 193 da CLT:

Art. 193 - São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da

regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou

métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em

condições de risco acentuado.

§ 1º - O trabalho em condições de Periculosidade assegura ao empregado um

Adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de

gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa.

§ 2º - O empregado poderá optar pelo Adicional de insalubridade que porventura lhe

seja devido.(grifos nossos)

As atividades envolvendo operação de fontes emissoras de radiação

ionizante, também ensejam a percepção de adicional de periculosidade, por força

de portaria do Ministério do Trabalho e Emprego:

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO

GABINETE DO MINISTRO

PORTARIA N.º 518, DE 4 DE ABRIL DE 2003

(D.O.U. de 07/04/03 - Seção 1 - Pág. 104)

O MINISTRO DE ESTADO DO TRABALHO E EMPREGO, no uso das

competências que lhe conferem o art. 87, parágrafo único I, da Constituição da República

Federativa do Brasil e o disposto no art. 200, caput, inciso VI e parágrafo único, c/c os arts.

193 e 196, todos da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-lei n.º

5.452, de 1º de maio de 1943, e

CONSIDERANDO que qualquer exposição do trabalhador a radiações ionizantes ou

substâncias radioativas é potencialmente prejudicial à sua saúde;

CONSIDERANDO, ainda, que o presente estado da tecnologia nuclear não permite

evitar ou eliminar o risco em potencial oriundo de tais atividades, resolve: (grifos nossos)

Art. 1º Adotar como atividades de risco em potencial concernentes a radiações

ionizantes ou substâncias radioativas, o "Quadro de Atividades e Operações Perigosas",

aprovado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN, a que se refere o ANEXO,

da presente Portaria.

Page 50: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

50

Art. 2º O trabalho nas condições enunciadas no quadro a que se refere o artigo 1º,

assegura ao empregado o adicional de periculosidade de que trata o § 1º do art. 193 da

Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-lei n.º 5.452, de 1º de

maio de 1943.

Art. 3º A Secretaria de Inspeção do Trabalho, no prazo de 60 (sessenta) dias, fará

revisão das Normas Regulamentadoras pertinentes, em especial da NR-16 - "ATIVIDADES

DE OPERAÇÕES PERIGOSAS", aprovada pela Portaria GM/MTb n.º 3.214, de 08 de junho

de 1978, com as alterações que couber, e baixará, na forma de artigo 9º, do Decreto n.º

2.210, de 22 de abril de 1997, e do parágrafo único do artigo 200 da CLT, incluindo normas

específicas de segurança para as atividades ora adotadas.

Art. 4º Revoga-se a Portaria GM/MTE n.º 496, de 11 de dezembro de 2002.

Art. 5º Esta Portaria entrará em vigor na data de sua publicação.

JAQUES WAGNER

Destaque-se ainda que a Portaria do MTE é revestida de plena eficácia, por

força da competência legislativa delegada pelo Art. 200 da CLT:

Art. 200 - Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições complementares

às normas de que trata este Capítulo, tendo em vista as peculiaridades de cada atividade ou

setor de trabalho, especialmente sobre: (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

...

VI - proteção do trabalhador exposto a substâncias químicas nocivas, radiações

ionizantes e não ionizantes, ruídos, vibrações e trepidações ou pressões anormais ao

ambiente de trabalho, com especificação das medidas cabíveis para eliminação ou

atenuação desses efeitos limites máximos quanto ao tempo de exposição, à intensidade da

ação ou de seus efeitos sobre o organismo do trabalhador, exames médicos obrigatórios,

limites de idade controle permanente dos locais de trabalho e das demais exigências que se

façam necessárias; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

...

Parágrafo único - Tratando-se de radiações ionizantes e explosivos, as normas a

que se referem este artigo serão expedidas de acordo com as resoluções a respeito

adotadas pelo órgão técnico. (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

Estabelecido o direito do trabalhador exposto às radiações ionizantes ao

adicional de periculosidade, saliente-se que a legislação veda a percepção

cumulativa dos adicionais de insalubridade e de periculosidade, devendo o

trabalhador optar por um ou outro, geralmente o que lhe for mais vantajoso.

Considerando os valores descritos anteriormente, no caso dos pisos

salariais de Técnicos e Tecnólogos em Radiologia, o adicional de insalubridade e

risco de vida, previstos na Lei 7.394/85, são claramente mais vantajosos, vez que

Page 51: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

51

incidem sobre o total de salários, porém para os Biomédicos, mais vantajoso seria

o adicional de periculosidade; todavia, para estabelecer um parâmetro para os

cálculos que seguem adiante, tomarei como base o adicional de insalubridade.

4.2 – CONCLUSÃO SOBRE AS DIFERENÇAS SALARIAIS ENTRE

TECNÓLOGOS/TÉCNICOS EM RADIOLOGIA E BIOMÉDICOS

Do exposto no item anterior, pode-se elaborar com segurança um quadro

comparativo entre os salários pagos aos Tecnólogos/Técnicos em Radiologia e aos

profissionais Biomédicos:

Fonte: Convenções Coletivas de Trabalho

Para estabelecer a diferença gritante entre os salários pagos a um e outro

profissional, calcularei o valor-hora pago ao Tecnólogo/Técnico e ao Biomédico.

É assente na Jurisprudência do Trabalho, que o divisor a ser utilizado para

calcular o valor–hora do salário de obreiro que labora 24 horas semanais é 120.

Isso por que, se a legislação pertinente estabelece a jornada de 24 horas

semanais, deve-se dividir essa jornada por 6 (seis dias por semana) e em seguida,

multiplicar por 30 (trinta dias do mês, já incluso o Repouso Semanal Remunerado).

Assim, 24 ÷ 6 = 4 × 30 = 120:

TRT 2 (SP

N° Acórdão 20060752577

Relator

Ricardo Artur Costa e Trigueiros

“...

Destarte, estabelecida a jornada máxima diária para médicos e auxiliares como

sendo de quatro horas, na fase liquidanda apurar-se-á o efetivo valor devido à titulo de

horas extras, adicional noturno, horas extras noturnas, assim havidas todas as que

excederam de quatro no dia, o divisor 120, a evolução salarial, os dias efetivamente

laborados conforme o discriminado nos cartões de ponto juntados aos autos. Porque

PISOS SALARIAIS VIGENTES

TECNÓLOGOS/TÉCNICOS EM RADIOLOGIA

(JORNADA DE 24 HORAS SEMANAIS)

BIOMÉDICOS (JORNADA DE 44

HORAS SEMANAIS)

PISO SALARIAL MÍNIMO

R$ 1.526,00 R$ 1.695,47

PISO SALARIAL MÁXIMO

R$ 2.093,28 R$ 1.970,42

Page 52: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

52

habitual o labor em sobretempo, o valor pertinente às horas extras, pago e por reparar,

integra-se aos salários para todos os efeitos e gera os reflexos pretendidos na remuneração

dos descansos semanais (domingos e feriados), das férias e natalinas inclusive

proporcionais, aquelas com acréscimo do terço constitucional, do aviso prévio e nos

depósitos e multa (40%) do FGTS, conforme vier a ser apurado em liquidação.”

Dessa forma, o valor-hora de trabalho de um Tecnólogo/Técnico em

Radiologia, será, de acordo com os pisos atualmente estabelecidos em

Convenções Coletivas de Trabalho, um valor entre R$ 12, 72 (Doze reais e setenta

e dois centavos) e R$ 17,44 (Dezessete reais e quarenta e quatro centavos)

Aplicando a mesma conta ao Biomédico, levando-se em consideração que o

mesmo labora 44 horas semanais, portanto o divisor a ser utilizado é 220;

Súmula nº 343 do TST

BANCÁRIO. HORA DE SALÁRIO. DIVISOR (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e

21.11.2003

O bancário sujeito à jornada de 8 (oito) horas (art. 224, § 2º, da CLT), após a

CF/1988, tem salário-hora calculado com base no divisor 220 (duzentos e vinte), não mais

240 (duzentos e quarenta).

aufere-se que o valor-hora pago ao Biomédico, à luz das Convenções Coletivas

atualmente em vigor, situa-se entre R$ 7,70 (sete reais e setenta centavos) e R$

8,96 (oito reais e noventa e seis centavos).

Sintetizando tais informações num quadro demonstrativo:

Pisos Salariais Divisor 120 Valor da Hora R$ 1.526,00 1.526,00 ÷ 120 = 12,72 R$ 12,72 R$ 2.093,28 2.093,28 ÷ 120 = 17,44 R$ 17,44

Pisos Salariais Divisor 220 Valor da Hora R$ 1.695,47 1.695,47 ÷ 220 = 7,70 R$ 7,70 R$ 1.970,42 1.970,42 ÷ 220 = 8,96 R$ 8,96

Pisos Salariais

Valor-hora do Biomédico

Valor-hora do Tecnólogo/Técnico

Menor Valor R$ 7,70 R$ 12,72 Maior Valor R$ 8,96 R$ 17,44

Page 53: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

53

Há que se declarar, portanto, que aqui se encontra presente uma das razões

para a opção pela contratação de Biomédicos em detrimento dos Tecnólogos e

Técnicos em Radiologia, pois ainda temos que atentar para o fato que, a partir

desses valores amplamente demonstrados, todas as verbas salariais e encargos

trabalhistas, fiscais e previdenciários são afetados.

Apenas à guiza de exemplo, suponhamos um Técnico em Radiologia que

receba o menor piso salarial da categoria, que é R$ 1.526,00 (mil quinhentos e

vinte e seis reais) por uma jornada de 24 (vinte e quatro) horas semanais e que

faça a mesma jornada de um Biomédico, ou seja, 44 (quarenta e quatro) horas

semanais.

A partir da 25ª hora, o Técnico em Radiologia deverá receber a hora

extraordinariamente, ou seja, terá direito a 20 (vinte) horas extras por semana.

De acordo com a Convenção Coletiva dos Tecnólogos, Técnicos e Auxiliares

em Radiologia assinada com o SINDHOSP, a hora extraordinária é sobretaxada

em 90% (noventa por cento) em relação à hora normal, o que eleva o valor-hora

para R$ 24,16 (vinte e quatro reais e dezesseis centavos).

Nessa situação hipotética, o trabalhador Técnico em Radiologia trabalhará o

mês todo recebendo horas-extras, para que sua jornada seja a mesma de um

Biomédico, portanto, receberá o valor de R$ 1.932,80 (mil novecentos e trinta e

dois reais e oitenta centavos) a título de horas extraordinárias, perfazendo um total

salário de R$ 3.458,80 (Três mil, quatrocentos e cinqüenta e oito reais e oitenta

centavos).

Como o exemplo levou em consideração o menor piso de um Técnico em

Radiologia, justiça seja feita, também para efeito de comparação utilizaremos o

menor piso pago ao Biomédico.

Finalizando, caso ambos profissionais laborassem a mesma carga horária,

em face das Leis trabalhistas e Normas de Convenções Coletivas, o Técnico em

Radiologia deveria receber, minimamente, a quantia de R$ 3.458,80 (Três mil,

quatrocentos e cinqüenta e oito reais e oitenta centavos), e o Biomédico, em iguais

condições de jornada receberia apenas um salário de R$ 1.695,47 (mil seiscentos

e noventa e cinco reais e quarenta e sete centavos), demonstrando de forma

límpida que a opção pela contratação de Biomédico, não está embasada em

critérios Técnicos, de formação ou quetais, mas que é puramente econômico-

financeira.

É de extrema importância que se atente para esse fato:

Page 54: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

54

Esse cálculo, que não é final, pois as normas trabalhistas versam que horas

extraordinárias têm reflexo em todas as verbas, incluindo aí o Repouso Semanal

Remunerado e o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço – FGTS, recurso esse

que não é só direito do trabalhador, mas também é recurso essencial para o

financiamento de programas governamentais, como o FAT e o SFH, apontam para

uma diferença de R$ 1.763,33 (mil setecentos e sessenta e três reais e trinta e três

centavos) entre o salário de um profissional e outro, caso ambos laborassem a

mesma jornada, ou seja, uma diferença de mais de 100% (cem por cento).

Não sejamos inocentes.

A opção é clara para o empregador/empresário do ramo da saúde:

Um profissional – o Biomédico – custa menos da metade de um Técnico em

Radiologia e significa a contratação de metade da mão-de-obra que seria

necessária caso fosse respeitada a norma de regência, com relação à jornada de

24 horas semanais.

4.3. – DO DESRESPEITO AOS DIREITOS TRABALHISTAS NO QUE

TANGE À RELAÇÃO DE EMPREGO E VERBAS SALARIAIS.

O Direito do Trabalho tem por princípio a proteção do hipossuficiente,

classificado como a parte mais frágil na relação jurídica, no caso, o empregado

frente ao empregador.

Àquele, busca a Justiça Especializada equilibrar essa situação de

desigualdade e assim assegurar a paz social, o interesse geral e o bem comum.

Dado o princípio da Proteção inerente à Justiça Trabalhista, decorrem

outros:

• Primazia da realidade:

Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de

desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente

Consolidação.

• Isonomia salarial:

Page 55: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

55

CLT – Art. 461 - Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor,

prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual salário,

sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade.

• Aplicação da norma mais favorável:

CF/88 - Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros

que visem à melhoria de sua condição social:

...

XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;

CLT - Art. 620. As condições estabelecidas em Convenção quando mais

favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em Acordo.

• Condição mais benéfica:

CLT - Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das

respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não

resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da

cláusula infringente desta garantia.

Causa espécie o oportunismo dos empregadores/empresários da saúde,

que, na busca de justificar tecnicamente o que não é justificável, recorrem a

argumentos falaciosos e estapafúrdios, como o documento assinado pela

assessoria jurídica do Colégio Brasileiro de Radiologia – CBR, órgão associativo de

defesa dos interesses de Médicos Radiologistas e publicado no Boletim CBR nº

241, de março de 2008, do qual destaco os seguintes trechos:

O Biomédico, nos termos do artigo 6º da Resolução nº 78, de 29 de abril de 2002,

do Conselho Federal de Biomedicina, pode trabalhar com: tomografia computadorizada,

ressonância magnética, ultra-sonografia, radiologia vascular e intervencionista, radiologia

pediátrica, mamografia, densitometria óssea, neurorradiologia, medicina nuclear e outras

modalidades que possam complementar esta área de atuação.

Por conseguinte, os serviços médicos especializados em radiodiagnóstico e

imagenologia poderão contratar, para a execução dos serviços radiológicos, tanto

Biomédicos como Técnicos em Radiologia, de acordo com a sua conveniência.

Para ajudar na escolha, apontaremos na seqüência as três principais diferenças

entre os respectivos profissionais, no que se refere aos direitos trabalhistas.

Page 56: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

56

Em decorrência do disposto no artigo 14 da Lei nº 7.394/85, os Técnicos em

Radiologia têm direito à jornada especial de 24 (vinte e quatro) horas emanais, ou 4 (quatro)

diárias, de segunda a sábado.

Já a lei que regulamenta a profissão do Biomédico, não fixa limites de horário.

Logo, esse profissional estará sujeito às regras gerais da CLT – Consolidação das

Leis do Trabalho, que estabelece jornada de 8 (oito) horas diárias, com limite semanal

máximo de 44 (quarenta e quatro) horas, de acordo com o inciso XIII do artigo 7º da

Constituição Federal.

Com relação ao salário, o Técnico em Radiologia faz jus ao pagamento mínimo de 2

(dois) salários mínimos, acrescidos do adicional de 40% (quarenta por cento), por força do

artigo da lei que regulamenta a profissão.

Quanto aos Biomédicos, não há qualquer previsão legal a respeito do assunto.

Sendo assim, vigora a lei de mercado, ressalvando-se a hipótese de existência de

piso salarial normativo previsto em acordo ou convenção coletiva de trabalho.

...

O Técnico em Radiologia, de acordo com o artigo 16 da referida Lei, faz jus ao

adicional de insalubridade de 40% (quarenta por cento), que incidirá sobre dois salários

mínimos. Esse pagamento, por estar previsto na lei, é compulsório, ainda que o citado

profissional opere equipamentos que não emitam radiação.

O Biomédico, por sua vez, não tem direito aos adicionais de

insalubridade/periculosidade de forma obrigatória, como no caso dos Técnicos, porque a

sua lei de regência é omissa a respeito do assunto.

....

Esperamos, com esses comentários, levar subsídios para a tomada da decisão, no

que se refere à contratação de profissionais para a execução de trabalhos radiológicos.

(grifos nossos)

Dr. Carlos Alberto Teixeira de Nóbrega é advogado da área de direito trabalhista do

escritório que presta assessoria jurídica ao CBR

O Boletim da assessoria jurídica do CBR, na ânsia de fomentar a

contratação regular e sistemática de Biomédicos, em detrimento dos Técnicos e

Tecnólogos em Radiologia e ao arrepio das Leis Trabalhistas, comete erros pueris,

que desprezam os princípios elencados acima.

Ora, se o profissional Biomédico está realizando a mesma função do

Técnico/Tecnólogo em Radiologia, isso será a primazia da realidade, portanto, para

igual atividade, igual remuneração, em respeito ao princípio da isonomia salarial,

prevalecendo o mesmo com relação à jornada e adicionais, eis que se deve aplicar

a Norma mais favorável e a condição mais benéfica.

Page 57: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

57

Isto porque, se um Biomédico está na operação, e.g., de um Tomógrafo,

aparelho destinado à produção de tomografias, que é uma modalidade de

diagnóstico por imagem e que é uma fonte emissora de radiação ionizante, no

caso, Raios X, ele, nesse ato, é um Operador de Raios X, portanto, de acordo com

o Art. 1º da Lei nº 7.394/85, in verbis;

Art. 1º - Os preceitos desta Lei regulam o exercício da profissão de Técnico em

Radiologia, conceituando-se como tal todos os Operadores de Raios X que,

profissionalmente, executam as técnicas:

I - radiológica, no setor de diagnóstico;

A definição legal nos contempla plenamente, para a aplicação do princípio

da primazia da realidade.

Decorrência imediata dessa constatação é o fato de que, já que o Biomédico

executa a mesma função de um Tecnólogo/Técnico em Radiologia, não há que

haver diferença salarial entre um e outro profissional, em respeito ao princípio da

isonomia salarial.

Ainda que se invoque – sofismaticamente – que não se aplica o conceito de

isonomia, pois se trata de profissões distintas, mesmo assim, dadas as condições

elencadas na Lei 7.394/85 e Convenções Coletivas de Trabalho dos Sindicatos de

Tecnólogos e Técnicos em Radiologia, que trazem claramente avanços no quesito

salário, já exaustivamente comprovadas acima, a aplicação da norma mais

favorável seria também regra aplicável ao caso.

Por fim, mas não menos importante, tendo em vista a condição insalubre da

atividade envolvendo fontes emissoras de radiação ionizante, facilmente se

constatará que o quesito jornada de trabalho restrita, bem como adicional de risco

de vida e insalubridade no importe de 40% sobre o total de salários, significa no

caso a condição mais benéfica para o trabalhador da área.

Diversos julgados da seara trabalhista já pontuam o reconhecimento pleno

dos temas aqui explanados:

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

Justiça do Trabalho - 2ª Região

Número Único:

Comarca: São Paulo Vara: 34ª

Data de Inclusão: 14/07/2010 Hora de Inclusão: 13:04:17

Page 58: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

58

Processo

CONCLUSÃO

Nesta data, faço os presentes autos conclusos ao MM. Juiz do Trabalho Substituto,

JEFFERSON DO AMARAL GENTA.

São Paulo, 27.05.2010.

Kleber José de Oliveira

Técnico Judiciário

1.Face a concordância da reclamante às fls. 396, com os cálculos apresentados pela

reclamada às fls. 377/393, HOMOLOGO-OS, fixando o crédito exequendo em R$

606.944,23 vigente em 01.04.2010 e atualizável até a data do efetivo pagamento.

2.Juros de mora a partir de 06.12.1999, a serem computados na ocasião do efetivo

pagamento, sobre o principal atualizado (Súmula 200/TST).

3.Quando da expedição da guia de depósito, deverá a executada apresentar os valores

relativos às contribuições previdenciária e fiscal, que serão descontadas da mesma,

devendo comprovar os referidos recolhimentos, em 15 (quinze) dias da data da retenção

(art.2º, Prov.3/2005-TST), sob pena de comunicação aos órgãos fiscalizadores.

4.Oficie-se a Caixa Econômica Federal, solicitando a transferência dos depósitos recursais

de fls. 240 e 309.

5.Intime-se a executada por DOE, na forma do art. 475-J do CPC, para pagamento do valor

remanescente, no prazo de 15 dias, sob pena de ser acrescida multa de 10% sobre o valor

da execução, considerando-se a unidade do processo do trabalho e a possibilidade de

aplicação de norma a partir do ordenamento processual civil.

6.Decorrido o prazo acima, sem a efetivação do depósito, expeça-se ofício ao Banco

Central para bloqueio de valores da reclamada.

7.Intimem-se as partes.

São Paulo, 27.05.2010.

JEFFERSON DO AMARAL GENTA

Juiz do Trabalho

A C Ó R D Ã O (com grifos no original)

4ª Turma

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PRELIMINAR DE NULIDADE

POR NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ENQUADRAMENTO. HORAS

EXTRAS. COMPENSAÇÃO. ADICIONAL DE RISCO E ADICIONAL DE INSALUBRIDADE -

COMPENSAÇÃO. Não demonstrada nenhuma das hipóteses de cabimento do recurso de

revista previstas no art. 896 da CLT. Agravo de instrumento a que se nega provimento.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento em

Recurso de Revista n° e em que é

Page 59: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

59

Agravante SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA (HOSPITAL ALBERT

EINSTEIN) e Agravada

(...)

V O T O

1. CONHECIMENTO

Atendidos os pressupostos legais de admissibilidade do agravo de

instrumento, dele conheço.

2. MÉRITO

A decisão agravada está assim redigida:

"Negativa da prestação jurisdicional. Configuração. Não há que se cogitar de infringência

ao artigo 93, inciso IX, da Carta Magna, tendo em vista que o V. Acórdão hostilizado se

encontra fundamentado com clareza, abordando os pontos essenciais de sua conclusão,

sendo que as matérias apontadas foram devidamente apreciadas. Desnecessário que o

julgador rebata ou acate todos os argumentos lançados na peça recursal, para que a

prestação jurisdicional seja completa. Assim, não se vislumbra a existência da nulidade

alegada.

Função exercida pela reclamante. Sustenta a recorrente que a obreira exercia a função

de biomédica e supervisora de serviços, não atuando como operadora de radiologia, não

fazendo jus à jornada semanal de 48 horas e ao adicional noturno. Da análise do

processado, não se constata a existência das violações apontadas, pois a violação legal

apta a ensejar o processamento do recurso de revista deve ser específica e literal. A

violação constitucional, por sua vez, além de literal, deve ser também direta, hipóteses não

observadas no caso em tela. A matéria objeto do apelo revisional, tal como analisada, está

assente no conjunto fático-probatório e se esgota no duplo grau de jurisdição, a teor do

disposto no Enunciado nº 126 do C. TST.

Jornada de trabalho. Horas extras. Cabimento. Insurge-se o recorrente contra a jornada

de trabalho fixada, sustando que da prova produzida não se pode colher que a reclamante

dilatasse seu horário de trabalho em tais termos. Da leitura das razões recursais, não há

como determinar o processamento do apelo, pois a apreciação da referida matéria, nesta

fase processual, implicaria em reexame do conjunto fático probatório, o que é vedado pelo

Enunciado 126 do C. TST.

Compensação entre o adicional de insalubridade e o adicional de risco. Sustenta a

recorrente que admitindo-se que a reclamante estivesse sob o pálio da Lei 7.394/85, faria

Page 60: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

60

jus a um adicional de risco de 40% sobre o equivalente a dois salários mínimos. No entanto,

sempre percebeu adicional de periculosidade de 30% sobre o salário integral, o que, via de

conseqüência, mesmo admitindo-se que a reclamante pudesse ser tida como técnica de

radiologia, não teria direito ao adicional de risco de vida e insalubridade, porque vinha

percebendo adicional de valor superior. Entendeu o Regional ser descabida a insurgência

recursal porque, considerando os limites ora devolvidos, a base de incidência dos adicionais

de periculosidade e de risco não foi objeto da litiscontestatio. Assim, a questão, tal como

posta, é meramente interpretativa, sendo imprescindível para seu reexame, a apresentação

de dissenso jurisprudencial específico à hipótese submetida a julgamento, que não restou

demonstrado, a teor do disposto no Enunciado nº 296 do C. TST" (fls. 313/314).

A decisão agravada não merece reforma, pelas seguintes razões:

a) Negativa de prestação jurisdicional

A Agravante argumenta que, mesmo opostos embargos de declaração, a Corte

Regional não se manifestou sobre a certidão de fls. 191, resultado de diligência cumprida

por Oficial de Justiça, e sobre a aplicação do art. 4º, II, do Decreto Lei º 88.439/83. Aponta

violação do art. 93, IX, da Constituição Federal e transcreve arestos para confronto de

teses.

O que enseja o conhecimento do recurso de revista, quanto à preliminar de

nulidade por negativa de prestação jurisdicional, é a demonstração de violação dos arts. 832

da CLT, 458 do CPC e 93, IX, da CF/88 (Orientação Jurisprudencial nº 115 da SBDI-1 desta

Corte).

Como se observa da leitura do acórdão de fls. 272/279, complementado a fls.

288/290, a Corte Regional declinou os fundamentos fáticos e jurídicos de sua decisão.

No que se refere ao enquadramento, a Corte Regional registrou:

"(...) segundo a instrução oral, por exemplo (fls. 182/186)

'...a reclamante era coordenadora dos biomédicos do setor...efetivamente trabalhava na

aplicação de radioterapia, assim como os outros biomédicos...'

(PRIMEIRA TESTEMUNHA DA RECORRIDA)

'...a reclamante praticava aplicação nos aparelhos de radioterapia, inclusive fazendo

simulação e as primeiras aplicações...'

(SEGUNDA TESTEMUNHA DA RECORRIDA)

Page 61: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

61

'...não viu o documento comprobatórios mas a reclamante era técnica de raio x por saber

de outros empregos anteriores, a reclamante participava de procedimentos mais raros como

supervisora mas não de forma exclusiva o que vale também para os procedimentos intra

operatórios e simulação...' (PRIMEIRA TESTEMUNHA DA RECORRENTE)

'...a reclamante embora tivesse atividade mais administrativa era também técnica e fazia

diariamente aplicações de radioterapia...embora não fossem atividades da reclamante é

certo que fazia atividades de : simulação, primeira aplicação, radiocirurgia e intra

operatórios...os procedimentos com raio x não eram feitos por técnicos especificamente

contratados no setor, mas por biomédicos, inclusive a reclamante...' (SEGUNDA

TESTEMUNHA DA RECORRENTE)

Neste sentido, entendo que culminou caracterizado o desempenho da função de técnico

de radiologia pela recorrida, independentemente do preenchimento dos requisitos formais

da profissão.

Aliás, permitindo que a recorrida exercesse função, sob argumento que não legalmente

habilitada, a recorrente considerou suprida a exigência legal de exercício da profissão.

Diante do exposto, a despeito dos demais argumentos recursais, especialmente sobre

função de biomédica e de supervisão, condução da instrução, requisitos formais em atos

normativos dos técnicos em radiologia e citados regramentos (Lei 7.394/85; Decreto

92.790/86; Decreto 88.439/83, 4º, II), concluo que predomina o enquadramento da recorrida

na função de técnico de radiologia" (fl. 275).

Não se constata a ocorrência de negativa de prestação jurisdicional quanto ao

exame da matéria que constituiu a insurgência da parte, tampouco ofensa ao art. 93, IX, da

CF/88.

Dessa forma, não houve falta de fundamentação no julgado, tampouco

negativa de prestação jurisdicional. O Tribunal Regional examinou as questões que lhe

foram submetidas à apreciação, embora tenha concluído em desacordo com a tese da

Reclamada. Na verdade, este se insurge contra o posicionamento adotado pela Corte no

exame da matéria controvertida. Contudo, a discordância quanto à decisão proferida ou a

adoção de posicionamento contrário aos interesses da parte não são causa de nulidade

processual.

b) Enquadramento

Page 62: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

62

O Tribunal Regional negou provimento ao recurso ordinário interposto pela

Reclamada, mantendo a decisão originária que enquadrou a Reclamante como técnica de

radiologia.

A Reclamada, em seu recurso de revista, sustenta que "os autos trazem prova

indubitável dos fatos alegados na defesa, quais sejam o de que a reclamante exercia

funções de biomédica e supervisionava os serviços de radioterapia, bem como o de que só

eventualmente atuava como operadora de radiologia" (fl. 302). Indica violação dos arts. 818

da CLT, 333, I, do CPC e 1º e 2º da Lei nº 7.394/85.

Os arts. 818 da CLT e 333 do CPC disciplinam a distribuição do encargo

probatório entre as partes no processo. Caracteriza-se a afronta aos referidos dispositivos

legais, se o juiz decidir mediante atribuição equivocada desse ônus probatório, o que não

ocorreu no caso dos autos.

Note-se que o julgador regional não adotou tese explícita a respeito da

matéria, o que atrai a incidência do entendimento consagrado na Orientação Jurisprudencial

nº 62 da SBDI-1 deste Tribunal e na Súmula nº 297 desta Corte, nem proferiu julgamento

com base no critério do ônus da prova, decidindo a controvérsia mediante a valoração da

prova, na forma do disposto no art. 131 do CPC.

Por fim, a análise do argumento de que a Reclamante não se enquadra na Lei

nº 7.394/85, pois não é radiologista, depende do revolvimento de matéria fática,

procedimento vedado em recurso de revista (Súmula nº 126 desta Corte).

Nego provimento.

c) Horas extras. Compensação

A Corte Regional negou provimento ao recurso ordinário interposto pela

Reclamada, para manter a condenação ao pagamento de horas extras. Consignou:

"(...) com relação ao regime de compensação de horário, constato que a r. Decisão a quo

não revela o exame específico. Destarte, atentando para os respectivos limites devolvidos, e

vez que vedada a supressão de instância, opino que nada a deliberar nesta sede revisora"

(fl. 276).

A Reclamada alega que "não pode ser reconhecido o direito da reclamante a

horas extras, nem mesmo considerando a jornada normal de trabalho dos biomédicos, que

não era excedida pela reclamante, face ao acordado regime de compensação de horário de

trabalho" (fl. 306). Aponta violação do art. 59 da CLT.

Page 63: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

63

A Corte Regional não examinou a matéria sob o enfoque do art. 59 da CLT,

motivo por que não há falar em violação do referido dispositivo. A ofensa se configura

quando o julgado apresenta tese contrária ao texto da lei, o que pressupõe manifestação

explícita sobre esta (Súmula nº 297 do TST).

Nego provimento.

d) Adicional de risco e adicional de insalubridade. Compensação

No tocante ao tema em epígrafe, a Reclamada sustenta que "mesmo

admitindo-se, o que se faz apenas para argumentar, que a reclamante pudesse ser tida

como técnica de radiologia, não teria direito ao adicional de risco de vida e insalubridade

previsto na aludida lei, porque vinha percebendo adicional de valor bem superior" (fl. 307).

Aponta vulneração dos arts. 193, § 2º, e 767 da CLT. Apresentou aresto para demonstração

de divergência jurisprudencial.

Consta da decisão regional:

"(...) ainda considerando os limites ora devolvidos, entendo que a base de incidência dos

adicionais de periculosidade e de risco não foi objeto da litiscontestio" (fl. 277).

Nesse contexto, o processamento do recurso quanto a este tema encontra

óbice na Súmula nº 297 desta Corte e na Orientação Jurisprudencial nº 62 da SBDI-1 do

TST, já que a matéria não foi prequestionada.

Diante do exposto, nego provimento.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Quarta Turma do Tribunal Superior do Trabalho, à

unanimidade, negar provimento ao agravo de instrumento.

Brasília, 04 de novembro de 2009.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

Fernando Eizo Ono

Ministro Relator

Page 64: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

64

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

Justiça do Trabalho - 2ª Região

Número Único:)

Comarca: São Paulo Vara: 35ª

Data de Inclusão: 28/10/2010 Hora de Inclusão: 13:45:00

PROCESSO Nº

CONCLUSÃO

Nesta data faço os presentes autos conclusos a MMa. Juíza Dra. ADALGISA LINS

DORNELLAS GLERIAN, em face de fls. 243/273.

São Paulo, 28 de outubro de 2010.

Rogério Scipião Medeiros

Analista Judiciário

- Sentença de mérito às fls. 143/148;

- Recurso ordinário pela reclamada às fls. 150;

- Depósito recursal às fls. 160;

- Custas processuais recolhidas às fls. 161;

- Acórdão às fls. 187/193;

- Recurso de revista às fls. 194;

- Depósito recursal às fls. 210;

- Acórdão às fls. 229/236 (TST);

- Trânsito em julgado em 22.09.2009, cf. fls. 237.

Vistos etc.

Sentença de Liquidação:

Ante a concordância do reclamante em relação aos cálculos apresentados pela reclamada -

excetuando-se quanto à forma de apuração do imposto de renda, o que será analisado infra

(item 4) HOMOLOGO a liquidação de fls. 255/266, para fixar o valor da condenação em R$

439.399,60 em 01.04.2010, valor este referente ao principal, reajustável à data do efetivo

pagamento.

Juros de mora a partir de 17.03.1998, a serem computados na ocasião do efetivo

pagamento, sobre o principal atualizado (Enunciado 200 do C. TST).

Não há valores a serem recolhidos a título de contribuição previdenciária, uma vez

demonstrado que o reclamante contribuiu pelo teto na época própria e por se tratar a

reclamada de entidade filantrópica sem fins lucrativos, nos termos da lei.

Fixa-se como valor da base de incidência do recolhimento do imposto de renda o importe de

R$ 391.220,17, vigente em 01.04.2010, reajustável quando do pagamento. Para fins de

cálculo, a essa base serão incluídos os juros de mora. Não há que se falar na incidência da

Orientação Jurisprudencial nº 400 do C. TST, de 01.07.2010, tendo em vista a determinação

expressa constante da sentença de mérito transitada em julgado, em sentido contrário. Esse

Page 65: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

65

valor deverá ser apontado, quando do depósito, para desconto do crédito do exeqüente e

posterior transferência à Receita Federal, mediante ofício ao Banco do Brasil.

O valor incontroverso (não impugnado pelo devedor ou o valor apontado em sua conta)

deve ser pago em 48 horas após a citação, em estrita observância ao que dispõe a Súmula

nº 1 do E.TRT/2ªRegião.

Intime-se o exeqüente, para ciência desta. Vista dos autos ao INSS, nos termos do artigo

879, § 3º, da CLT.

CITE-SE A EXECUTADA, para pagamento dos valores fixados nesta sentença de

liquidação. No caso de diligência negativa, fica desde já autorizado o bloqueio on line de

valores.

São Paulo, 28 de outubro de 2010.

ADALGISA LINS DORNELLAS GLERIAN

Juíza do Trabalho

PROCESSO TRT/SP Nº (grifos no original)

RECURSO ORDINÁRIO DA 35ª VT/SP

RECORRENTE: SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA HOSPITAL

ALBERT EINSTEIN

RECORRIDO:

Recurso ordinário da reclamada às fls. 150/159 contra a r. sentença de fls. 143/148, cujo

relatório adoto e que julgou procedente em parte a reclamatória, insurgindo-se contra o

acolhimento da contradita à sua testemunha, reconhecimento das funções de técnico de

radiologia exercidas pela autora, horas extras, adicional de risco, adicional de 100% para as

horas extras, correção monetária do mês da prestação de serviços e contribuições fiscais

mês a mês.

Depósito recursal às fls. 160/161 e custas às fls. 161.

Contra-razões da reclamante às fls. 164/169.

A D. Procuradoria do Trabalho opina, às fls. 170, pelo prosseguimento.

É O RELATÓRIO.

V O T O

Conheço, eis que presentes os pressupostos legais de admissibilidade.

Page 66: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

66

M É R I T O

1. Acolhimento da contradita à sua testemunha

A recorrente insurge-se contra o acolhimento da contradita à sua 1ª testemunha, sr.

sob o fundamento de ser mero funcionário da reclamada, sem poderes estatutários que

pudessem galgá-lo na condição de diretor, sócio ou pessoa ligada à gestão da empresa.

Sem razão a recorrente. Inobstante sustente ser a testemunha um simples funcionário, a

verdade é que, na audiência instrutória, a referida testemunha admitiu que ocupava cargo

de coordenador do departamento de radioterapia e participava do resultado financeiro deste

departamento (v. fls. 124, in fine). Patente, pois, o interesse da testemunha no resultado da

presente demanda. Diante de tais circunstâncias, correta a decisão do D. Juízo a quo de

ouvi-lo, tão somente, como informante. Nada, pois, a acolher.

2. Função exercida pela autora

A recorrente insurge-se contra o reconhecimento do exercício das funções de técnico de

radiologia pela autora, sustentando que a obreira não possuía as qualificações exigidas

para tal mister.

Improcede o apelo. Inobstante a reclamante tenha sido contratada como biomédica, restou

incontroverso que exercia as funções de técnico em radiologia, eis que tanto as suas

testemunhas quanto as da reclamada foram unânimes em afirmar que a autora fazia raios

X, estando, destarte, sujeita à radiação.

Neste sentido o depoimento do preposto da recorrente : "que fazia tal avaliação porque a

reclamante trabalhava com radiação; que a reclamante fazia rais X tanto na máquina quanto

no simulador" (sic, v. fls. 123). Embora o preposto alegue que o simulador não emite

radiações (v. fls. 123, duas últimas linhas do seu depoimento) a assertiva foi desmentida

pela sua 1ª testemunha (v. fls. 124, penúltima linha do depoimento).

A reclamada alega que o cargo de técnico em radiologia exige determinados requisitos, tais

como certificado de curso completo na escola técnica de radiologia e registro no Conselho

Regional dos Técnicos em Radiologia, porém, emerge cristalino que a reclamante, embora

não preenchesse os requisitos formais da profissão, exercia as funções inerentes ao cargo

de técnico em radiologia, conforme se defliu da prova oral (v. fls. 123/125).

O contrato de trabalho é um contrato-realidade uma vez que não depende do que

pactuarem as partes, mas da situação real em que o empregado se ache colocado. Por

consegüinte, qualquer que seja o ramo de atividade da empresa ou a nomenclatura

Page 67: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

67

atribuída ao seu cargo, a proteção da lei virá em razão das atividades efetivamente

exercidas.

Milita, também, em detrimento da reclamada a alegação, em defesa, de que a autora, na

condição de biomédica, não tinha direito ao adicional de periculosidade (v. fls. 101, item 2),

em flagrante contradição aos demonstrativos de pagamento (v. fls. 10/18) que ostentam a

contraprestação de adicional de periculosidade. Tal fato sinaliza para a veracidade das

alegações da autora, razão pela qual não há como se dar guarida ao inconformismo.

Mantenho.

3. Horas extras

A recorrente pretende a exclusão das horas extras da condenação alegando que a recorrida

não tem direito à jornada de 24 horas semanais, já que não é técnico em radiologia.

Sem razão a apelante. Reconhecido o exercício das funções de técnico em radiologia,

conforme já explicitado no item anterior, procedem as horas excedentes a 24 horas

semanais como extras, conforme determinado pela r. sentença revisanda. Ainda que assim

não fosse, a 2ª testemunha da reclamada admite que "atualmente os biomédicos estão

sujeitos à jornada de 24 horas semanais" (sic, v. fls. 125). Assim, não há como se acolher a

pretensão. Mantenho.

4. Adicional de risco

A recorrente pretende a exclusão do adicional de risco fundamentando a pretensão na

alegada inexistência de qualquer radiação nos serviços da reclamante (v. fls. 155, penúltimo

parágrafo).

Improcede o apelo. Como já esplanado no item 2 deste voto, inobstante a recorrente alegue

a ausência de radiação, a 1ª testemunha da reclamada admite a existência de radiação,

tanto é que a recorrente pagava 30% a título de periculosidade. Reconhecido, porém, o

exercício das funções de técnico em radiologia, a autora faz jus a mais 10% como adicional

de risco, conforme dispõe o artigo 16 da Lei 7394/85. Incensurável, pois, a r. sentença de 1ª

Instância. Mantenho.

5. Adicional de 100% para as horas extras

A recorrente insurge-se contra o adicional de 100% para as horas extras sob o argumento

de que a a r. sentença revisanda extrapolou ao determinar o pagamento de adicional

diverso do constitucional.

Page 68: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

68

Improcede o apelo. O adicional pretendido pela reclamante é o estabelecido na cláusula 21ª

(v. fls. 47) da CCT da categoria, não impugnada pela recorrente. Sustenta a improcedência

do referido adicional, porém, olvida-se de que já pagava a sobrejornada com adicional de

100% (v. recibos de pagamento, fls. 11- doc. 9, fls. 14- doc. 30, fls. 15-doc. 32, 35 e 36, fls.

16-doc. 38 e 43, fls. 17-doc. 44/46, fls. 18-doc. 51). Diante de tais circunstâncias, não há

como se dar guarida ao inconformismo. Mantenho.

6. Correção monetária – época própria

Embora esta Juíza Relatora entenda que a época própria para atualização monetária do

crédito trabalhista é o mês subseqüente ao da prestação laboral, curvo-me diante da

posição majoritária desta E. Turma, quanto ao entendimento de que a época própria para

incidência da correção monetária é a que incide a partir do próprio mês em que o trabalho é

realizado, uma vez que o artigo 459, § único da CLT, quanto ao prazo para pagamento de

salários até o 5º dia útil do mês subseqüente ao vencido, é mera faculdade legal conferida

ao empregador, não servindo de parâmetro para a contagem do prazo para incidência dos

índices de correção monetária. Mantenho.

7. Contribuições fiscais

Razão assiste à apelante.

As contribuições fiscais são efetuadas quando do efetivo pagamento, ou seja, a

exigibilidade dos descontos não recai sobre créditos hipotéticos ou direitos controvertidos,

mas sobre créditos reais ou pagamentos efetivados. Vale frisar que à época própria, não

houve o reconhecimento do direito a qualquer verba e, destarte, não poderia ter ocorrido o

desconto legal sem o respectivo fato gerador.

O desconto do Imposto de Renda, nos termos do art. 46 da Lei nº 8541/92, incide sobre os

rendimentos do trabalho assalariado pagos em cumprimento de decisão judicial. E o fato

gerador exsurge no ato do pagamento ou, como explicita a lei, "no momento em que, por

qualquer forma, o rendimento se torne disponível para o beneficiário" (Lei cit. art. 46), nos

termos do Provimento nº 01/96 da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho. Reformo,

pois, a r. sentença revisanda neste sentido.

FACE AO EXPOSTO, DOU PROVIMENTO PARCIAL ao recurso para autorizar a reclamada

a proceder aos descontos fiscais na época do efetivo pagamento, nos termos do Provimento

nº 1/96 da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho, conforme fundamentação supra.

Mantenho o valor da condenação.

Vilma Capato

Juíza Relatora

Page 69: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

69

A C Ó R D Ã O (grifos no original)

1ª TURMA

VMF/cg/pcp/a

CORREÇÃO MONETÁRIA – ÉPOCA PRÓPRIA. Conforme preconiza a Súmula nº 381 do

TST, o pagamento dos salários até o 5º dia útil do mês subsequente ao vencido não está

sujeito à correção monetária. Se essa data limite for ultrapassada, incidirá o índice da

correção monetária do mês subsequente ao da prestação dos serviços, a partir do dia 1º.

Recurso de revista conhecido e provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-......................

, em que é Recorrente SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA - HOSPITAL

ALBERT EINSTEIN e Recorrido..........................................................................

O 2º Tribunal Regional do Trabalho, nos termos do acórdão a fls. 189-192, negou

provimento ao recurso ordinário da reclamada, mantendo a sentença de primeiro grau que

entendera comprovado nos autos que a reclamante exercia as funções de técnico de

radiologia, não obstante tenha sido contratada, inicialmente, como biomédica, deferindo-lhe

os direitos asseguradas àquela categoria profissional, tais como as horas extraordinárias

excedentes da jornada de 24 (vinte e quatro) horas semanais. Deferiu, ainda, o adicional de

risco e a observância do adicional de 100% para o labor extraordinário, determinando que a

incidência da correção monetária observe o mês da prestação dos serviços.

Inconformada, a reclamada recorre de revista, a fls. 194-202, com fundamento no art. 896

da CLT, buscando a reforma do julgado quanto ao enquadramento da reclamante na

categoria dos técnicos de radiologia e a condenação ao pagamento de horas extraordinárias

com o adicional de 100%, adicional de risco e incidência da correção monetária.

O apelo foi admitido mediante decisão monocrática a fls. 213.

Oferecidas contrarrazões a fls. 215-221.

Desnecessário remeter os autos ao Ministério Público do Trabalho para emissão de

parecer, ante os termos do art. 83 do RITST.

É o relatório.

V O T O

1 - CONHECIMENTO

Recurso próprio, tempestivo (fls. 193-194), regular a representação (fls. 211) e satisfeito o

preparo (fls. 210).

1.1 – EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE RADIOLOGIA

Page 70: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

70

O Tribunal Regional negou provimento ao recurso ordinário da reclamada, mantendo a

sentença de primeiro grau que entendera comprovado nos autos que a reclamante exercia

as funções de técnico de radiologia, não obstante tenha sido contratada, inicialmente, como

biomédica. Destacou que a prova testemunhal foi unânime no sentido de que a reclamante

fazia raios X, sendo irrelevante o fato de a autora não preencher os requisitos formais da

profissão exercida, sob o fundamento de que o contrato de trabalho é um contrato-

realidade, importando “a situação real em que o empregado se ache colocado” (fls. 190).

Nas razões do recurso de revista a reclamada aponta violação dos arts. 333 do CPC e 818

da CLT e da Lei nº 6.684/79, sustentando que a reclamante pertence à categoria dos

biomédicos e não se desincumbiu de provar que exercia atividades exclusivamente de

técnica de radiologia, conforme se depreende do exame da prova testemunhal. Alega,

ainda, que a autora não reúne os requisitos legais para o exercício da função de técnico de

radiologia e que o art. 4º, inciso II, do Decreto nº 88.439/83 dispõe que os serviços de

radiologia realizados pelos biomédicos não desnaturam o “status” da sua profissão, não

fazendo jus, assim, às horas extraordinárias excedentes da quarta hora diária trabalhada.

Transcreve, ainda, arestos que tratam do ônus da prova.

Inicialmente, cumpre ressaltar que o Tribunal Regional esclareceu que a prova constante

dos autos, notadamente a testemunhal, foi uníssona no sentido de que a reclamante exercia

as funções de técnico em radiologia, ou seja, a autora se desincumbiu de provar suas

alegações, razão pela qual não se há de falar em afronta aos arts. 333 do CPC e 818 da

CLT.

As alegações da recorrente, no sentido de que não havia prova do exercício exclusivo

dessas funções e de que a reclamante não se desvencilhou do encargo probatório a ela

atribuído, somente poderiam se verificar mediante o reexame da prova, procedimento

vedado nesta esfera recursal, a teor da Súmula nº 126 do TST.

Além disso, o art. 896, alínea “c”, da CLT impõe como requisito de admissibilidade do

recurso de revista a demonstração de ofensa a dispositivo de lei federal ou do texto

constitucional ou de divergência jurisprudencial.

Assim sendo, a mera invocação da Lei nº 6.684/79, sem a indicação expressa do dispositivo

legal tido por violado, não satisfaz a exigência legal acima referida, o mesmo ocorrendo com

a invocação de disposição de decreto regulamentar.

A divergência jurisprudencial colacionada é inespecífica, pois trata de hipóteses em que a

parte não se desincumbiu do ônus probatório que lhe competia, diversamente do caso dos

autos, atraindo o óbice da Súmula nº 296 do TST.

Não conheço do recurso de revista.

1.2 – ADICIONAL DE RISCO

A reclamada limita-se a alegar, em seu recurso de revista, que não havia risco nas

atividades desenvolvidas pela reclamante, que operava o equipamento fora da sala de

tratamento. Não indicou ofensa a nenhum dispositivo legal ou constitucional, nem trouxe

arestos paradigmas a fim de demonstrar eventual conflito pretoriano, estando seu apelo

desfundamentado, à luz do art. 896 e alíneas da CLT.

Page 71: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

71

Não conheço do recurso de revista.

1.3 – ADICIONAL DE 100% DE HORAS EXTRAORDINÁRIAS

Insurge-se, a reclamada, nas razões do recurso de revista, alegando que o Poder Normativo

não pode se sobrepor às relações reguladas por lei, conforme decisão proferida pelo

Supremo Tribunal Federal que colaciona. Entende, assim, ser vedado à decisão normativa

majorar o adicional previsto no art. 7º, XVI, da Carta Magna.

Mais uma vez a reclamada deixa de atender às exigências constantes do art. 896 da CLT,

pois não aponta violação de dispositivos legais ou constitucionais e o único aresto

paradigma cotejado é oriundo do Supremo Tribunal Federal, escapando do aludido

permissivo legal.

De toda forma, cumpre destacar que a reclamada fala em Poder Normativo quando restou

consignado na decisão regional que o referido adicional de 100% estava previsto em

convenção coletiva de trabalho e era observado pela reclamada, conforme recibos de

pagamento constantes dos autos.

Não conheço do recurso de revista.

1.4 - CORREÇÃO MONETÁRIA – ÉPOCA PRÓPRIA

O Tribunal Regional entendeu que a correção monetária deve observar o mês trabalhado.

Inconformada, a reclamada interpõe recurso de revista, sustentando que a correção

monetária deve incidir no mês subsequente à prestação dos serviços, na forma do art. 459

da CLT e da Orientação Jurisprudencial nº 124 da SBDI-1.

O Tribunal Regional, ao concluir que a correção monetária deveria incidir no mês laborado,

e não no mês subsequente ao da prestação dos serviços, contrariou o entendimento

preconizado na Orientação Jurisprudencial nº 124 da SBDI-1, convertida na Súmula nº 381

do TST.

Ante o exposto, conheço do recurso de revista, por contrariedade à Orientação

Jurisprudencial nº 124 da SBDI-1.

2 - MÉRITO

2.1 – CORREÇÃO MONETÁRIA - ÉPOCA PRÓPRIA

O art. 459, § 1º, da Consolidação das Leis do Trabalho, ao dispor acerca do prazo para o

pagamento dos salários, conferiu aos empregadores a faculdade de efetuar esses

pagamentos até o quinto dia útil do mês subsequente ao vencido. Logo, apenas após

decorrido tal prazo pode-se considerar descumprida pelo empregador a obrigação

legalmente imposta, o que autoriza a incidência da correção monetária. Tal faculdade,

porém, não autoriza a exclusão dos cinco primeiros dias do mês da incidência da correção

monetária, que é devida a partir do primeiro dia do mês subsequente ao da prestação dos

serviços.

Esse é o entendimento preconizado na Súmula nº 381 do TST (antiga Orientação

Jurisprudencial nº 124 da SBDI-1):

Page 72: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

72

Correção monetária. Salário. Art. 459 da CLT. (conversão da Orientação Jurisprudencial nº

124 da SDI-1) - Res. 129/2005 - DJ 20.04.05. O pagamento dos salários até o 5º dia útil do

mês subseqüente ao vencido não está sujeito à correção monetária. Se essa data limite for

ultrapassada, incidirá o índice da correção monetária do mês subseqüente ao da prestação

dos serviços, a partir do dia 1º.

Ante o exposto, dou provimento ao recurso de revista, para determinar que seja aplicado o

índice de correção monetária do mês subsequente ao trabalhado, esclarecendo que, uma

vez ultrapassado o quinto dia útil, a correção monetária incidirá de forma integral, isto é, a

partir do primeiro dia do mês subsequente ao da prestação dos serviços.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da 1ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade,

não conhecer do recurso de revista quanto aos temas relativos ao exercício da função de

técnico em radiologia, adicional de risco e adicional de 100% de horas extraordinárias. Por

unanimidade, conhecer do recurso de revista quanto ao tema relativo à época própria para a

correção monetária, por discrepância com a Orientação Jurisprudencial nº 124 da SBDI-1, e,

no mérito, dar-lhe provimento para determinar que seja aplicado o índice de correção

monetária do mês subsequente ao trabalhado, esclarecendo que, uma vez ultrapassado o

quinto dia útil, a correção monetária incidirá de forma integral, isto é, a partir do primeiro dia

do mês subsequente ao da prestação dos serviços.

Brasília, 26 de agosto de 2009.

MINISTRO VIEIRA DE MELLO FILHO

Relator

Denota especial atenção no teor das decisões, a aplicação de Súmula do

Tribunal Superior do Trabalho, cuja transcrição segue:

Súmula nº 301 do TST

AUXILIAR DE LABORATÓRIO. AUSÊNCIA DE DIPLOMA. EFEITOS (mantida) -

Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

O fato de o empregado não possuir diploma de profissionalização de auxiliar de

laboratório não afasta a observância das normas da Lei nº 3.999, de 15.12.1961, uma vez

comprovada a prestação de serviços na atividade.

Ainda que não seja objeto a contratação de Biomédicos, segue anexo à

presente, duas decisões contra a empresa ARCTEST, referentes à contratação de

pessoas inabilitadas para o exercício de atividades que envolvem a operação de

fontes emissoras de radiação ionizante na indústria, que será também objeto de

Page 73: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

73

representação desse CRTR – 5ª região junto ao Ministério Público do Trabalho,

que reafirmam a aplicação dos princípios fundamentais da Justiça Trabalhista aqui

tratados, em julgados que equiparam outras funções às do Técnico/Tecnólogo em

Radiologia.

E, finalizando esse item, necessário destacar a brilhante argumentação da

MM. Ministra Relatora Dora Maria da Costa em Agravo de Instrumento em Recurso

de Revista:

“A reclamada deve ter em mente que a legislação que regulamenta as atividades

profissionais visam, antes de tudo, proteger o trabalhador e a classe profissional. Portanto,

cabe ao empregador adequar o pessoal de sua equipe que atua na atividade fim para gerar

o lucro empresarial aos termos da lei. Ou seja, a irregularidade perpetrada no contrato do

autor é da empresa reclamada que fez uso de mão de obra não qualificada para obter seu

lucro. Na realidade a reclamada utiliza, de forma recorrente, mão de obra de supostos

estagiários e auxiliares para não contratar técnicos de radiologia, apenas para reduzir a

folha de pagamento. No entanto, os empregados por ela contratados laboram efetivamente

como técnicos de radiologia, realizam jornadas absurdas para quem atua diretamente com

radiações ionizantes e, em defesa, com a maior naturalidade, invoca a letra fria da lei para

se eximir de sua responsabilidade, inclusive social.”

4.4. – A QUESTÃO PREVIDENCIÁRIA

A Lei nº 8.213, de 24/7/1991, que “dispõe sobre os Planos de Benefícios da

Previdência Social e dá outras providências”, assim estabelece:

Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes

prestações, devidas inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho,

expressas em benefícios e serviços:

I - quanto ao segurado:

...

d) aposentadoria especial;

...

Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência

exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que

prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e

cinco) anos, conforme dispuser a lei. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)

§ 1º A aposentadoria especial, observado o disposto no art. 33 desta Lei, consistirá

numa renda mensal equivalente a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício. (Redação

dada pela Lei nº 9.032, de 1995)

Page 74: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

74

...

§ 3º A concessão da aposentadoria especial dependerá de comprovação pelo

segurado, perante o Instituto Nacional do Seguro Social–INSS, do tempo de trabalho

permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a

saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado. (Redação dada pela Lei nº

9.032, de 1995)

§ 4º O segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho, exposição aos

agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde

ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício.

(Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)

...

Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação

de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão

da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo.

(Redação dada pela Lei nº 9.528, de 1997)

DECRETO Nº 3.048 - DE 06 DE MAIO DE 1999

REGULAMENTO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

...

Art. 64. A aposentadoria especial, uma vez cumprida a carência exigida, será

devida ao segurado empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual, este somente

quando cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de produção, que tenha trabalhado

durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme o caso, sujeito a condições especiais

que prejudiquem a saúde ou a integridade física. (Redação dada pelo Decreto nº 4.729, de

2003)

§ 1º A concessão da aposentadoria especial dependerá de comprovação pelo

segurado, perante o Instituto Nacional do Seguro Social, do tempo de trabalho permanente,

não ocasional nem intermitente, exercido em condições especiais que prejudiquem a saúde

ou a integridade física, durante o período mínimo fixado no caput.

§ 2º O segurado deverá comprovar a efetiva exposição aos agentes nocivos

químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade

física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício.(Redação dada

pelo Decreto nº 4.079, de 2002)

Art. 65. Considera-se trabalho permanente, para efeito desta Subseção, aquele que

é exercido de forma não ocasional nem intermitente, no qual a exposição do empregado, do

trabalhador avulso ou do cooperado ao agente nocivo seja indissociável da produção do

bem ou da prestação do serviço. (Redação dada pelo Decreto nº 4.882, de 2003)

Page 75: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

75

Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput aos períodos de descanso

determinados pela legislação trabalhista, inclusive férias, aos de afastamento decorrentes

de gozo de benefícios de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez acidentários, bem

como aos de percepção de salário-maternidade, desde que, à data do afastamento, o

segurado estivesse exercendo atividade considerada especial. (Incluído pelo Decreto nº

4.882, de 2003)

...

Art. 67. A aposentadoria especial consiste numa renda mensal calculada na forma

do inciso V do caput do art. 39 (NR).

(NR) Art. 39. A renda mensal do benefício de prestação

continuada será calculada aplicando-se sobre o salário-de-benefício os

seguintes percentuais:

...

V - aposentadoria especial - cem por cento do salário-de-

benefício; e

...

Art. 68. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação

de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados para fins de

concessão de aposentadoria especial, consta do Anexo IV.

§ 1º As dúvidas sobre o enquadramento dos agentes de que trata o caput, para

efeito do disposto nesta Subseção, serão resolvidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego

e pelo Ministério da Previdência e Assistência Social.

§ 2º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos

será feita mediante formulário denominado perfil profissiográfico previdenciário, na forma

estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social, emitido pela empresa ou seu

preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por

médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. (Redação dada pelo Decreto

nº 4.032, de 2001)

ANEXO IV

CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES NOCIVOS

CÓDIGO AGENTE NOCIVO TEMPO DE EXPOSIÇÃO

2.0.3 RADIAÇÕES IONIZANTES a) extração e beneficiamento de minerais radioativos; b) atividades em minerações com exposição ao radônio; c) realização de manutenção e supervisão em unidades de extração, tratamento e beneficiamento de minerais radioativos com exposição às radiações ionizantes;

25 ANOS

Page 76: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

76

d) operações com reatores nucleares ou com fontes radioativas; e) trabalhos realizados com exposição aos raios Alfa, Beta, Gama e X, aos nêutrons e às substâncias radioativas para fins industriais, terapêuticos e diagnósticos; f) fabricação e manipulação de produtos radioativos; g) pesquisas e estudos com radiações ionizantes em laboratórios.

Das normas acima transcritas, pode-se afirmar que:

1. A aposentadoria especial é devida ao trabalhador que opera fontes

emissoras de radiação ionizante, ou seja, que labora em condições

insalubres;

2. A condição insalubre aqui considerada é descrita no Anexo IV do

Decreto 3.048/99, item 2.0.3, “e”, ou seja, o trabalhador que labora com

fontes emissoras de radiação ionizante, aposenta-se com 25 anos de

serviço na área;

3. A condição para a conquista do benefício é que a exposição seja

permanente, não ocasional, nem intermitente; e

4. A renda será de 100% (cem por cento) do salário, ou seja, não há

incidência de fator previdenciário.

No mesmo Art. 57 encontra-se a forma como será financiado esse benefício

junto à Previdência Social:

§ 6º O benefício previsto neste artigo será financiado com os recursos provenientes

da contribuição de que trata o inciso II do art. 22 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991,

cujas alíquotas serão acrescidas de doze, nove ou seis pontos percentuais, conforme a

atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa permita a concessão de

aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de contribuição,

respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 9.732, de 11.12.98) (grifei)

Page 77: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

77

LEI Nº 8.212 - DE 24 DE JULHO DE 1991

Art. 20. A contribuição do empregado, inclusive o doméstico, e a do trabalhador

avulso é calculada mediante a aplicação da correspondente alíquota sobre o seu salário-de-

contribuição mensal, de forma não cumulativa, observado o disposto no art. 28, de acordo

com a seguinte tabela: (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 28 de Abril de 1995)

...

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do

disposto no art. 23, é de:

I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a

qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe

prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive

as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes

de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à

disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou,

ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. (Redação dada

pela Lei nº 9.876, de 26 de Novembro de 1999) (Vide Lei Complementar nº 84, de 18 de

Janeiro de 1996)

II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de

24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de

incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das

remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e

trabalhadores avulsos: (Redação dada pela Lei nº 9.732, de 11 de Dezembro de 1998)

a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de

acidentes do trabalho seja considerado leve;

b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse

risco seja considerado médio;

c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco

seja considerado grave.

Da transcrição retromencionada, tem-se que:

Salário-de-contribuição Alíquota em %

Até R$ 249,80 8,0

de R$ 249,81 até R$ 416,33 9,0

de R$ 416,34 até R$ 832,66 11,0

Page 78: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

78

1. A alíquota incidente sobre o salário do trabalhador que labora em fontes

emissoras de radiação ionizante é a mesma vigente para o trabalhador

que recolhe para o regime geral, nesse caso, de 11% (onze por cento);

2. Já para o empregador, há uma sobretaxa destinada a financiar o

benefício da aposentadoria especial:

• 20% (vinte por cento) como regra geral, além das demais

contribuições (PIS, Cofins, CSLL);

• 6% (seis por cento), previstos no Art. 6º, § 6º da Lei 8.213/91; e

• 2% (dois por cento), previstos no Art. 22, II, “b”, da Lei 8.212/91,

estabelecendo-se que as entidades hospitalares, em sua maioria,

enquadram-se no risco médio. (NR)

(NR): Não considerarei aqui a incidência do Fator Acidentário

de Prevenção – FAP, instituído pelo Art. 10 da Lei 10.666, que

pode alterar a alíquota de 1, 2 ou 3 por cento, diminuindo-a em até

50% ou majorando-a em 100% e que é individual para a empresa.

Porém, comentamos que o FAP é calculado em razão das

iniciativas da empresa no sentido de minorar as causas

acidentárias e implementar melhorias na questão da segurança no

meio ambiente do trabalho.

Se há iniciativas nesse sentido, o FAP será minorado.

Porém, se a empresa não fomentar as melhorias será

penalizada com a aplicação de um FAP maior.

Nas atividades envolvendo operação de fontes emissoras de

radiação ionizante, as diversas legislações – aqui entendendo-se

as normas do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, da

Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA e da Comissão

nacional de Energia Nuclear – CNEN, prevêem o uso de

Equipamentos de Proteção individual, espessômetros e

dosímetros, equipamentos que MUITOS empregadores não

oferecem.

3. Portanto, concluímos que o empregador/empresário da saúde, para

financiar junto à Previdência Social o benefício aposentadoria especial,

de acordo com a Lei, recolhe, ao menos, 28% (vinte e oito por cento),

além de outras contribuições sociais.

Page 79: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

79

Dessa análise, quero tecer as seguintes considerações:

O empregado Biomédico, não raro, devido à sua jornada de 44 horas

semanais, é contratado para exercer, além da operação de fontes emissoras de

radiação ionizante, também a operação de aparelhos de Ressonância Magnética.

A Ressonância Magnética Nuclear é modalidade de diagnóstico por imagem,

porém, sem o uso de radiação ionizante.

Não é objeto desse estudo a Ressonância Magnética, mas a título de

informação, estudos sobre a nocividade da exposição em campos magnéticos

acima de 1,5 Tesla, salvo engano de minha parte, são incipientes, sem conclusões

comprovadas cientificamente e mesmo nos países onde são realizados, ainda não

se traduzem em legislação que restrinja a jornada no sentido de preservar a saúde

do obreiro. Assim, no atual estado de conhecimento, a literatura especializada

aponta para a segurança – desde que respeitados protocolos - no uso da

tecnologia para operador e paciente.

Dada essa característica, a operação desses aparelhos não se enquadra no

conceito de atividade insalubre para efeitos de concessão de aposentadoria

especial.

Assim, o trabalhador que labora em ambas as atividades, não se enquadrará

no conceito de atividade, permanente, não ocasional, nem intermitente, que é a

condição para auferir o benefício da aposentadoria especial.

Se o trabalhador Biomédico labora nessas condições, o enquadramento

para estabelecimento da contrapartida do empregador/empresário da saúde para o

financiamento da previdência será outro, portanto dessa realidade podemos tirar as

seguintes conclusões:

1. Como não há incidência do fator determinante para concessão de

aposentadoria especial (trabalho permanente, não ocasional, nem

intermitente), esse trabalhador não gozará do benefício aos 25 anos de

atividade e sim, terá de se enquadrar na regra do regime geral, ou seja,

35 anos de serviço e idade mínima;

2. Na regra geral, o trabalhador que se aposenta antes da idade legal (60

anos para as mulheres, 65 anos para os homens) sofre a incidência do

fator previdenciário, regra que não incide sobre a aposentadoria

especial, que prevê benefício de 100% (cem por cento);

Page 80: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

80

3. Ao empregador/empresário da saúde, resta uma vantagem: Como esse

trabalhador não se enquadra no conceito de aposentadoria especial,

isso significará uma economia de 6% (seis por cento), previstos no Art.

6º, § 6º da Lei 8.213/91.

Temos aqui, enfim, a outra razão que corrobora nossa afirmação que a

opção pela contratação de Biomédicos na operação de fontes emissoras de

radiação ionizante é exclusivamente econômico-financeira.

Portanto, na questão previdenciária, temos um enorme problema social,

pois, se o trabalhador Biomédico, trabalhando 44 (quarenta e quatro) horas

semanais, ainda que dividindo essa jornada entre a operação de fontes emissoras

de radiação ionizante e a ressonância magnética ou outro método de diagnóstico

por imagem que não utilize fontes emissoras de radiação ionizante, ele terá

trabalhado pelo menos metade, senão mais, de sua jornada, com a operação de

fontes emissoras de radiação ionizante.

Não se pode usar de uma tecnicalidade para subtrair, solapar um direito

social indisponível previsto na Lei Maior:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a

moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a

assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 64, de 2010)

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à

melhoria de sua condição social:

...

V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;

...

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,

higiene e segurança;

XXIV - aposentadoria;

Aqui existe um problema tanto para o trabalhador quanto para o

financiamento da Previdência Social, portanto, um problema de ordem pública e,

conseqüentemente, um problema de ESTADO.

Page 81: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

81

Ainda, esse trabalhador não se verá livre de uma eventual doença

ocupacional, pois como demonstrarei adiante, as exposições à radiação ionizante,

não importa o tamanho da dose, podem trazer conseqüências danosas à saúde do

trabalhador, que verá frustrado a aplicação de todo um repertório jurídico que visa

sua proteção.

No tocante a eventuais doenças ocupacionais, convém lembrar ainda, que

de acordo com as regras da previdência social, o aposentado por invalidez terá seu

benefício majorado em 25% (vinte e cinco por cento)

Lei 8.213/91 - Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que

necessitar da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco

por cento).

Parágrafo único. O acréscimo de que trata este artigo:

a) será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo legal;

b) será recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado;

Decreto 3.048/99 - Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que

necessitar da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de vinte e cinco por

cento, observada a relação constante do Anexo I, e:

I - devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo legal; e

II - recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado.

REGULAMENTO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

A N E X O I

RELAÇÃO DAS SITUAÇÕES EM QUE O APOSENTADO POR INVALIDEZ TERÁ

DIREITO À MAJORAÇÃO DE VINTE E CINCO POR CENTO PREVISTA NO ART. 45

DESTE REGULAMENTO.

1 - Cegueira total.

...

8 - Doença que exija permanência contínua no leito.

9 - Incapacidade permanente para as atividades da vida diária.

A N E X O II

AGENTES PATOGÊNICOS CAUSADORES DE DOENÇAS PROFISSIONAIS OU

DO TRABALHO, CONFORME PREVISTO NO ART. 20 DA LEI Nº 8.213, DE 1991

AGENTES PATOGÊNICOS

TRABALHOS QUE CONTÊM O RISCO

FÍSICOS

Page 82: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

82

XXIV – RADIAÇÕES IONIZANTES

1. extração de minerais radioativos (tratamento, purificação, isolamento e preparo para distribuição), como o urânio;

2. operação com reatores nucleares ou com fontes de nêutrons ou de outras radiações corpusculares;

3. trabalhos executados com exposições a raios X, rádio e substâncias radioativas para fins industriais, terapêuticos e diagnósticos;

4. fabricação e manipulação de produtos químicos e farmacêuticos radioativos (urânio, radônio, mesotório, tório X, césio 137 e outros);

5. fabricação e aplicação de produtos luminescentes radíferos; 6. pesquisas e estudos dos raios X e substâncias radioativas

em laboratórios.

LISTA A

AGENTES OU FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL RELACIONADOS

COM A ETIOLOGIA DE DOENÇAS PROFISSIONAIS E DE OUTRAS DOENÇAS RELACIONADAS

COM O TRABALHO

Da exposição das normas próprias da previdência social, pode-se concluir

que as atividades que envolvem a operação de fontes emissoras de radiação

ionizante podem ocasionar doenças ocupacionais que ensejam a percepção da

majoração de 25% (vinte e cinco por cento) previstos no Art. 45 da Lei 8.213/91,

v.g., catarata e vários tipos de câncer.

Portanto, da leitura das Leis e Regulamentos da Previdência Social,

sintetizados nessa análise, desde que permanecente a atual situação de

AGENTES ETIOLÓGICOS OU FATORES DE RISCO

DE NATUREZA OCUPACIONAL

DOENÇAS CAUSALMENTE RELACIONADAS COM OS RESPECTIVOS AGENTES OU FATORES DE RISCO (DENOMINADAS E CODIFICADAS

SEGUNDO A CID-10)

XXIV - Radiações Ionizantes 1. Neoplasia maligna da cavidade nasal e dos seios paranasais (C30-C31.-) 2. Neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão (C34.-) 3. Neoplasia maligna dos ossos e cartilagens articulares dos membros (Inclui

"Sarcoma Ósseo") 4. Outras neoplasias malignas da pele (C44.-) 5. Leucemias (C91-C95.-) 6. Síndromes Mielodisplásicas (D46.-) 7. Anemia Aplástica devida a outros agentes externos (D61.2) 8. Hipoplasia Medular (D61.9) 9. Púrpura e outras manifestações hemorrágicas (D69.-) 10. Agranulocitose (Neutropenia tóxica) (D70) 11. Outros transtornos especificados dos glóbulos brancos: Leucocitose, Reação

Leucemóide (D72.8) 12. Polineuropatia induzida pela radiação (G62.8) 13. Blefarite (H01.0) 14. Conjuntivite (H10) 15. Queratite e Queratoconjuntivite (H16) 16. Catarata (H28) 17. Pneumonite por radiação (J70.0 e J70.1) 18. Gastroenterite e Colites tóxicas (K52.-) 19. Radiodermatite (L58.-): Radiodermatite Aguda (L58.0); Radiodermatite Crônica

(L58.1); Radiodermatite, não especificada (L58.9); Afecções da pele e do tecido conjuntivo relacionadas com a radiação, não especificadas (L59.9)

20. Osteonecrose (M87.-): Osteonecrose Devida a Drogas (M87.1); Outras Osteonecroses Secundárias (M87.3)

21. Infertilidade Masculina (N46) 22. Efeitos Agudos (não especificados) da Radiação (T66)

Page 83: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

83

contratação de outros profissionais – Biomédicos ou não – não habilitados e sem

formação específica para a operação de fontes emissoras de radiação ionizante,

estão presentes as condições para uma enxurrada de demandas no já tão

assoberbado judiciário brasileiro.

Diga-se de passagem, que nada mais será que a busca de um direito

garantido em lei, mas direito que será derivado de uma situação de imensa

injustiça social, à custa da saúde e da vida de trabalhadores à mercê de uma lógica

que visa somente o lucro.

Não há que se permitir tal afronta no Estado Democrático de Direito vigente

em nossa pátria, traduzidos nos mandamentos Constitucionais que prevêem, entre

outros, a Cidadania (Art. 1º, II), a Dignidade da Pessoa Humana (Art. 1º, III), a

Construção de uma sociedade, livre, justa e solidária (Art. 3º, I).

4.5 - CONCLUSÕES SOBRE OS ASPECTOS TRABALHISTA E

PREVIDENCIÁRIO

Novamente peço vênia pelas longas exposições, mas dado o estado atual

do sucateamento de uma profissão tão importante na área da saúde, entendo que

é extremamente necessário a abordagem de todos os pontos de vista inerentes à

matéria.

Da análise dos itens correspondentes aos aspectos trabalhistas e

previdenciários, conclui-se que:

1. Fica definitivamente configurado que a opção pela contratação de

Biomédicos na operação de fontes emissoras de radiação ionizante não

guarda relação com a formação daquele profissional, sendo somente a

utilização de uma brecha jurídica, um entendimento equivocado da lei,

utilizado pelos empregadores para majorar seus lucros em detrimento

dos salários dos trabalhadores.

2. Estabelecida tal lógica mercantilista, há que se considerar o total

desacordo com as normas trabalhistas pátrias, forçando os trabalhadores

ilegalmente admitidos a socorrem-se da Justiça Especializada para

garantia de seus direitos;

Page 84: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

84

3. Afora o risco de estabelecer-se uma verdadeira corrida de ações judiciais

na Justiça do Trabalho, isso não significa a satisfação do direito, pois

sabemos que são demandas longas e que, mesmo obtendo a vitória, há

o risco da não-satisfação da obrigação por fraudes à execução;

4. No aspecto Previdenciário, novamente, vemos o trabalhador alijado do

direito à aposentadoria especial garantida em lei;

5. Novamente, estabelece-se as condições para uma corrida ao judiciário

para a satisfação de um direito, porém, com um risco social enorme,

traduzidos em potenciais doenças ocupacionais que podem diminuir ou

até mesmo extinguir a capacidade laboral do trabalhador;

6. Ainda, é fato que, dadas as condições de enquadramento do Biomédico,

os recolhimentos previdenciários estão em total desacordo, causando um

enorme rombo na já tão combalida Previdência Social Brasileira;

7. Ambos os aspectos, Trabalhista e Previdenciário, são um imensurável

problema de ordem pública, merecendo atenção severa e coercitiva dos

poderes públicos, para que se garanta Justiça Social.

CF/88 - Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho

humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,

conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

...

VIII - busca do pleno emprego;

...

5 – DO RISCO À SAÚDE DA POPULAÇÃO

(...). Esta base de física é essencial para a

transmutação de um mero "apertador de botões" para um

verdadeiro operador de equipamentos.

Na parte que trata de Radioproteção são definidas

as regras e os conceitos que vão criar a consciência de

que nesta profissão os limites entre os benefícios médicos

e os danos físicos são muito tênues, tanto para os

pacientes quanto para os profissionais.

Fábio Moro

Page 85: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

85

Médico Radiologista da Rede Labs D'Or (RJ) na

apresentação do livro "Técnicas Radiográficas", de

Antônio Biasoli Jr. (Biasoli Jr., Antônio, Ed. Rubio, 1ª ed.,

2006).

Conforme a pretensão no início dessa missiva, procurarei demonstrar agora

a especificidade das diversas atividades na medicina, que envolvem fontes

emissoras de radiação ionizante, e como, dado o exercício por parte de pessoas

não habilitadas para a função, isso constitui-se em sério risco à saúde da

população.

A especialidade Radiologia, como já dito, é gênero que comporta as

espécies Radiodiagnóstico, Radioterapia e Medicina Nuclear.

Em cada uma delas, a especificidade da formação do profissional será

exigida em grau de perfeição técnica para que se consiga atingir o objetivo

perseguido.

5.1 - RADIODIAGNÓSTICO

No Radiodiagnóstico, compreendendo-se aqui, a aquisição de imagens por

meio de aparelhos que utilizam Raios X, temos, v.g., os exames convencionais, a

densitometria óssea, as mamografias, a fluoroscopia e as tomografias

computadorizadas.

O tubo de Raios-X consiste basicamente de uma ampola que, em um dos

extremos possui um cátodo, um filamento e no outro extremo, o anodo, revestido

de um anteparo.

No momento em que a corrente elétrica circula através do filamento, pelo

aquecimento do mesmo, os átomos desse material liberam os elétrons das últimas

camadas formando uma nuvem espacial. Do outro lado, o anodo ao ser polarizado

por uma alta tensão positiva, exerce um poder de atração sobre essa nuvem

espacial.

Os elétrons são então atraídos com altíssima velocidade em direção ao

anodo. Ao cruzarem o anteparo se chocam com os átomos do material de que é

feito tal anteparo. Esse choque provoca, através do efeito chamado

Bremsstrahlung (freamento), a geração de uma radiação. A essa radiação se dá o

nome de raios-x.

Page 86: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

86

Na realização dos exames são necessários uma série de parâmetros

técnicos para se conseguir uma imagem com qualidade diagnóstica e que atendam

três princípios consagrados internacionalmente e dos quais o Brasil é signatário,

que são os princípios de Justificação, Otimização e Limitação de doses.

Para estabelecer concretamente essa realidade, mister se faz a citação de

trechos de um trabalho denominado “Controle de riscos à saúde em

radiodiagnóstico: uma perspectiva histórica” (NAVARRO, Marcus Vinicius Teixeira

et al. Controle de riscos à saúde em radiodiagnóstico: uma perspectiva histórica.

História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.15, n.4, out.-dez. 2008,

p.1039-1047.):

Nos anos seguintes ao descobrimento das radiações ionizantes, foram muitos os

avanços tecnológicos no processo de otimização do seu uso e produção, assim como nos

estudos sobre seus efeitos no homem. A resposta do organismo de um indivíduo à radiação

depende de fatores como dose recebida, características orgânicas individuais, área

irradiada e taxa de dose, entre outros.

Os efeitos das interações das radiações ionizantes com as células podem acontecer

de forma direta, danificando uma macromolécula (DNA, proteínas e enzimas, entre outras),

ou de forma indireta, interagindo com o meio e produzindo radicais livres (Nias, 1998).

Essas modificações celulares podem ser reparadas através da ação das enzimas.

Caso isso não ocorra, surgirão lesões bioquímicas que podem causar danos como morte

prematura, alteração no processo de divisão celular e alterações genéticas.

Os efeitos biológicos provocados pela interação das radiações ionizantes com a

matéria podem ser de dois tipos: determinísticos e estocásticos. Os efeitos determinísticos

acontecem quando a irradiação no corpo, geral ou localizada, provoca mais morte celular do

que é possível ser compensada pelo organismo (limiar de efeitos clínicos). Acima desse

limiar a severidade do dano aumenta com a dose. Apesar de esses efeitos possuírem

caráter determinístico, podem ser reversíveis ou não (ICRP, 1991). Também podem ser

entendidos como efeitos para os quais existe um limiar de dose absorvida necessário para

sua ocorrência e cuja gravidade aumenta com o aumento da dose.

Por sua vez, os efeitos estocásticos acontecem quando a irradiação no corpo

humano, geral ou localizada, provoca menos morte celular do que é possível ser

compensada pelo organismo. A morte de algumas células pode não causar dano algum, e a

modificação de uma única célula pode provocar um câncer. Esse tipo de efeito possui

caráter probabilístico.

Nesse caso, o aumento da dose provoca um aumento de probabilidade do dano e

não da severidade do dano (ICRP, 1991).

Para a ocorrência desses efeitos não existe um limiar de dose. A probabilidade de

que ocorram é uma função desta, no entanto a gravidade dos efeitos independe da dose.

Page 87: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

87

Os estudos do campo da radioproteção estão relacionados à proteção da saúde

humana e aos efeitos nocivos das radiações ionizantes. Suas bases teóricas devem incluir

necessariamente julgamentos sociais e técnicos, pois o principal objetivo é estabelecer as

razões que justifiquem o uso benéfico das radiações. Assim, não podem ser conduzidas

apenas por considerações científicas. A radioproteção deve prevenir a ocorrência dos

efeitos determinísticos e reduzir os efeitos estocásticos.

A publicação da ICRP 60 (ICRP, 1991) consolidou os três princípios básicos da

radioproteção: justificação, otimização e limitação de dose.

O princípio da justificação estabelece que nenhuma prática pode ser realizada a não

ser que produza benefícios suficientes para compensar o detrimento correspondente aos

indivíduos expostos ou à sociedade, tendo-se em conta fatores sociais, econômicos e

outros pertinentes.

O princípio da otimização estabelece que a proteção radiológica deve ser otimizada

de forma que a magnitude das doses individuais, o número de pessoas expostas e a

probabilidade de ocorrência de exposições mantenham-se tão baixas quanto possam ser

razoavelmente exeqüíveis, tendo em conta os fatores econômicos e sociais envolvidos. Já o

princípio da limitação de dose define que a exposição normal dos indivíduos deve ser

restringida de tal modo que não exceda os limites de dose especificados (ICRP, 1991;

Brasil, 14 nov. 2005).

Contudo em 1979, em Neuherberg (Alemanha), um seminário com especialistas da

área de radiologia estabeleceu uma concepção do conceito de riscos em radiodiagnóstico.

Nesse evento concluiu-se que um importante passo no desenvolvimento de estudos

sobre eficiência/eficácia seria a adoção, por todos os países, de programas de garantia de

qualidade em radiodiagnóstico, com o objetivo de melhorar a qualidade da imagem, reduzir

as doses e os custos de funcionamento, sendo consenso que a Organização Mundial de

Saúde (OMS) e a Agência Internacional de Energia Atômica (Iaea) deveriam ter um papel

catalisador, no sentido de difundir a implantação dos programas. Foi mencionado, ainda, o

fato de que apenas um limitado número de países tinha iniciado programas nacionais de

garantia de qualidade em radiodiagnóstico, porém um grande número deles tinha iniciativas

locais que dependiam do interesse particular dos especialistas (radiologistas, físicos

médicos, técnicos) (WHO, 1982).

Como resultado desse seminário, a OMS elaborou e publicou, em 1982, as

recomendações sobre o estabelecimento de programas de garantia e controle de qualidade,

intitulado “Quality assurance in diagnostic radiology”. Esse documento, um marco histórico

no estabelecimento de novos conceitos sobre os riscos associados aos serviços de

radiodiagnóstico, propôs como principais parâmetros a serem avaliados a qualidade dos

diagnósticos, as doses nos pacientes e os custos dos serviços. Essa tríade, que ficou

conhecida como o princípio dos três dês (diagnóstico, doses and dólares), representa a

necessidade de garantir um diagnóstico correto para que se possa ter uma boa decisão

sobre o tratamento.

Ou seja, em primeiro lugar está a preocupação com o risco do erro de diagnóstico

ou com informações incompletas; em segundo lugar encontra-se a preocupação com as

Page 88: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

88

doses (nos pacientes, trabalhadores e indivíduos em geral); e em terceiro, os custos de

funcionamento dos serviços. Para alcançar esses objetivos é necessário o controle dos

serviços de radiodiagnóstico no que se refere à calibração dos equipamentos, ao

treinamento de pessoal e ao estabelecimento de programas de garantia de qualidade

(WHO, 1982; Gray et al., 1983; Opas, 1997, Stevens, 2001; BIR, 2001; Aichinger et al.,

2004).

Do mesmo trabalho ainda destaco :

(...), a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, antiga SNVS, publicou a portaria

453/985, que levou em consideração as principais recomendações das organizações

internacionais (OMS, Opas, ICRP e Iaea) e estabeleceu o marco regulatório para o

radiodiagnóstico no Brasil.

Como dito, o marco regulatório para o radiodiagnóstico no Brasil é a Portaria

MS/SVS 453, de 01 de junho de 1998, que “Aprova o Regulamento Técnico que

estabelece as diretrizes básicas de proteção radiológica em radiodiagnóstico

médico e odontológico, dispõe sobre o uso dos raios-X diagnósticos em todo

território nacional e dá outras providências.”

Na referida Portaria encontra-se todo o acervo referente aos assuntos que

aqui são tratados:

OBJETIVOS

1.2 Atendendo à política nacional de proteção à saúde, o presente Regulamento

tem por objetivos:

a) Baixar diretrizes para a proteção da população dos possíveis efeitos indevidos

inerentes à utilização dos raios-x diagnósticos, visando minimizar os riscos e maximizar os

benefícios desta prática.

b) Estabelecer parâmetros e regulamentar ações para o controle das exposições

médicas, das exposições ocupacionais e das exposições do público, decorrentes das

práticas com raios-x diagnósticos.

c) Estabelecer requisitos para o licenciamento e a fiscalização dos serviços que

realizam procedimentos radiológicos médicos e odontológicos.

CAMPO DE APLICAÇÃO

1.3 Este Regulamento deve ser adotado em todo o território nacional pelas pessoas

jurídicas e físicas, de direito privado e público, envolvidas com:

a) A produção e comercialização de equipamentos de raios-x diagnósticos,

componentes e acessórios.

b) A prestação de serviços que implicam na utilização raios-x diagnósticos para fins

médicos e odontológicos.

Page 89: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

89

c) A utilização dos raios-x diagnósticos nas atividades de pesquisa biomédica e de

ensino

(...)

CAPÍTULO 2 - SISTEMA DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA

PRINCÍPIOS BÁSICOS

2.1 Os princípios básicos que regem este Regulamento são:

a) Justificação da prática e das exposições médicas individuais.

b) Otimização da proteção radiológica.

c) Limitação de doses individuais.

d) Prevenção de acidentes.

JUSTIFICAÇÃO

2.2 A justificação é o princípio básico de proteção radiológica que estabelece que

nenhuma prática ou fonte adscrita a uma prática deve ser autorizada a menos que produza

suficiente benefício para o indivíduo exposto ou para a sociedade, de modo a compensar o

detrimento que possa ser causado.

2.3 O princípio da justificação em medicina e odontologia deve ser aplicado

considerando:

a) Que a exposição médica deve resultar em um benefício real para a saúde do

indivíduo e/ou para sociedade, tendo em conta a totalidade dos benefícios potenciais em

matéria de diagnóstico ou terapêutica que dela decorram, em comparação com o detrimento

que possa ser causado pela radiação ao indivíduo.

b) A eficácia, os benefícios e riscos de técnicas alternativas disponíveis com o

mesmo objetivo, mas que envolvam menos ou nenhuma exposição a radiações ionizantes.

2.4 Na área da saúde existem dois níveis de justificação: justificação genérica da

prática e justificação da exposição individual do paciente em consideração.

a) Justificação genérica

(i) todos os novos tipos de práticas que envolvam exposições médicas devem ser

previamente justificadas antes de serem adotadas em geral.

(ii) os tipos existentes de práticas devem ser revistos sempre que se adquiram

novos dados significativos acerca de sua eficácia ou de suas conseqüências.

b) Justificação da exposição individual

(i) todas as exposições médicas devem ser justificadas individualmente, tendo em

conta os objetivos específicos da exposição e as características do indivíduo envolvido.

2.5 Fica proibida toda exposição que não possa ser justificada, incluindo:

a) Exposição deliberada de seres humanos aos raios-x diagnósticos com o objetivo

único de demonstração, treinamento ou outros fins que contrariem o princípio da

justificação.

(...)

OTIMIZAÇÃO DA PROTEÇÃO RADIOLÓGICA

Page 90: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

90

2.6 O princípio de otimização estabelece que as instalações e as práticas devem ser

planejadas, implantadas e executadas de modo que a magnitude das doses individuais, o

número de pessoas expostas e a probabilidade de exposições acidentais sejam tão baixos

quanto razoavelmente exeqüíveis, levando-se em conta fatores sociais e econômicos, além

das restrições de dose aplicáveis.

2.7 A otimização da proteção deve ser aplicada em dois níveis, nos projetos e

construções de equipamentos e instalações, e nos procedimentos de trabalho.

2.8 No emprego das radiações em medicina e odontologia, deve-se dar ênfase à

otimização da proteção nos procedimentos de trabalho, por possuir uma influência direta na

qualidade e segurança da assistência aos pacientes.

2.9 As exposições médicas de pacientes devem ser otimizadas ao valor mínimo

necessário para obtenção do objetivo radiológico (diagnóstico e terapêutico), compatível

com os padrões aceitáveis de qualidade de imagem. Para tanto, no processo de otimização

de exposições médicas deve-se considerar:

a) A seleção adequada do equipamento e acessórios.

b) Os procedimentos de trabalho.

c) A garantia da qualidade.

d) Os níveis de referência de radiodiagnóstico para pacientes.

e) As restrições de dose para indivíduo que colabore, conscientemente e de livre

vontade, fora do contexto de sua atividade profissional, no apoio e conforto de um paciente,

durante a realização do procedimento radiológico.

(...)

LIMITAÇÃO DE DOSES INDIVIDUAIS

2.11 Os limites de doses individuais são valores de dose efetiva ou de dose

equivalente, estabelecidos para exposição ocupacional e exposição do público decorrentes

de práticas controladas, cujas magnitudes não devem ser excedidas.

2.12 Os limites de dose:

a) Incidem sobre o indivíduo, considerando a totalidade das exposições decorrentes

de todas as práticas a que ele possa estar exposto.

(...)

c) Não devem ser considerados como uma fronteira entre "seguro" e "perigoso".

(...)

2.13 Exposições ocupacionais

a) As exposições ocupacionais normais de cada indivíduo, decorrentes de todas as

práticas, devem ser controladas de modo que os valores dos limites estabelecidos na

Resolução-CNEN n.º 12/88 não sejam excedidos. Nas práticas abrangidas por este

Regulamento, o controle deve ser realizado da seguinte forma:

(i) a dose efetiva média anual não deve exceder 20 mSv em qualquer período de 5

anos consecutivos, não podendo exceder 50 mSv em nenhum ano.

Page 91: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

91

(ii) a dose equivalente anual não deve exceder 500 mSv para extremidades e 150

mSv para o cristalino.

b) Para mulheres grávidas devem ser observados os seguintes requisitos

adicionais, de modo a proteger o embrião ou feto:

(i) a gravidez deve ser notificada ao titular do serviço tão logo seja constatada;

(ii) as condições de trabalho devem ser revistas para garantir que a dose na

superfície do abdômen não exceda 2 mSv durante todo o período restante da gravidez,

tornando pouco provável que a dose adicional no embrião ou feto exceda cerca de 1 mSv

neste período.(NR)

(NR) No tocante à gravidez, atualmente as

gestantes devem ser afastadas da operação de fontes

emissoras de radiação ionizante tão logo se constate a

gravidez, por força da NR-32, no item 32.4.4, que diz ipsis

literis que “toda trabalhadora com gravidez confirmada

deve ser afastada das atividades com radiações

ionizantes, devendo ser remanejada para atividade

compatível com seu nível de formação.”

(...)

2.14 As exposições normais de indivíduos do público decorrentes de todas as

práticas devem ser restringidas de modo que a dose efetiva anual não exceda 1 mSv.

Como se vê, o assunto demanda conhecimento técnico e científico de alto

nível, inclusive impossibilitando o estabelecimento de normativas em Lei Ordinária,

pois à luz de avanços tecnológicos essas práticas sempre podem e devem ser

revistas no intuito de garantir a segurança dos indivíduos ocupacionalmente

expostos – IOE e indivíduos do público.

Nesse sentido, a legislação brasileira prevê a competência para legislar

sobre a prática;

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

...

XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;

bem como a delegação dessa atribuição aos Ministérios e órgão a eles

subordinados:

CF/88 - Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que

visem à melhoria de sua condição social:

(...)

Page 92: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

92

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,

higiene e segurança;

(...)

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros

agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,

proteção e recuperação.

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao

Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e

controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também,

por pessoa física ou jurídica de direito privado.

(...)

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos

termos da lei:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse

para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos,

hemoderivados e outros insumos;

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as

de saúde do trabalhador;

III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;

(...)

V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e

tecnológico;

(...)

VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e

utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do

trabalho.

Para estabelecer a competência Ministerial nos aspectos normativos a que

se referem as normas da Vigilância Sanitária e outras atinentes à área, como por

exemplo, as normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, que

versam sobre proteção radiológica e que também serão objeto desse estudo,

transcrevo os seguintes mandamentos constitucionais:

CF/88 - Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:

I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;

(...)

Page 93: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

93

IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e

regulamentos para sua fiel execução;

(...)

Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte

e um anos e no exercício dos direitos políticos.

Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições

estabelecidas nesta Constituição e na lei:

(...)

II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;

Seria deselegante de minha parte, dado a imensa utilização de trechos de

leis e normas já apostas nesse trabalho, continuar a transcrever a Portaria MS/SVS

453, documento que tem 59 (cinqüenta e nove) páginas e que é altamente

específico e especializado, contendo termos sobre a correta conformação de salas

que contém fontes emissoras de radiação ionizante, e outros, como “mSv

(milisieverts)”, “grades anti-difusoras”, “colimadores”, “bucky mural” e outros.

Assim, ressalvo-me o direito de, no eventual seguimento de uma demanda,

socorrer-me da oitiva de especialistas, Técnicos e Tecnólogos em Radiologia,

Físicos e Médicos, para que se consiga apreender o exato contexto em que se

desenvolvem essas atividades e a razão de normas tão extensas e severas.

De minha parte, tentarei, em linguagem leiga, explicar a real necessidade de

um operador específico e qualificado nos termos da Lei 7.394/85 para garantir a

aplicação dos preceitos já elencados acima.

Prosseguindo, como dito no início desse item, a especificidade da formação

do profissional será exigida em grau de perfeição técnica para que se consiga

atingir o objetivo perseguido, que é, nesse caso, a obtenção de uma imagem com

qualidade diagnóstica e que exponha tanto o indivíduo ocupacionalmente exposto –

IOE, quanto o paciente, à mínima radiação necessária para a realização do exame.

Assim, partamos de exemplos práticos:

5.1.1. – RAIOS – X CONVENCIONAIS E DIGITAIS

Dois pacientes que têm suspeitas de patologia, sendo que o paciente A tem

suspeita de trauma de face; e o paciente B, com suspeita de rinossinusite

(sinusite).

Para o médico poder ter segurança no diagnóstico e prescrever o correto

tratamento, em ambos os casos, será necessário um exame de Radiodiagnóstico,

Page 94: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

94

pois apenas o exame clínico não será suficiente para determinar o tipo e a

extensão da patologia, portanto aqui está aplicado o princípio da Justificação.

1 - Para o paciente A (trauma de face), o Técnico ou Tecnólogo em

Radiologia devidamente qualificado, fará duas incidências¹, denominadas mento-

naso (ou water) e fronto-naso (ou caldwell).

• A incidência water requer o paciente posicionado em decúbito ventral

com o queixo apoiado na linha central da mesa (linha onde incide o RC –

raio central); e

• A incidência caldwell requer o paciente posicionado em decúbito ventral,

com a testa apoiada na linha central da mesa.

¹Incidência ou projeção, corresponde à relação entre o

posicionamento do paciente e a incidência do raio central

(RC). Descreve a direção dos raios X quando este

atravessa o paciente, projetando uma imagem no filme

radiográfico ou em outros receptores de imagem. (O feixe

de raios X pode ser descrito como o raio central ou RC).

2 – Para o paciente B (sinusite), o Técnico ou Tecnólogo em Radiologia

devidamente qualificado, fará duas incidências, denominadas mento-naso (ou

water) e fronto-naso (ou caldwell).

• A incidência water requer o paciente posicionado em decúbito ventral com

o queixo apoiado na linha central da mesa (linha onde incide o RC – raio

central); e

• A incidência caldwell requer o paciente posicionado em decúbito ventral,

com a testa apoiada na linha central da mesa.

Para o paciente A poderão ainda serem feitas outras incidências em razão

da extensão da lesão, mas as incidências básicas serão as descritas, portanto,

para ambos os pacientes, suspeitos de patologias diferentes, o exame será o

mesmo.

Será?

Page 95: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

95

Para o paciente A, com suspeita de trauma de face, o objetivo é enxergar

estruturas ósseas, enquanto que para o paciente B, o objetivo para se constatar a

sinusite é a visualização das cavidades cranianas pneumáticas e seios da face

(partes moles).

A incidência de water permite visualização do assoalho orbitário, corpo do

zigomático, ossos próprios do nariz, parede medial da órbita, borda infra-orbitária,

sutura frontozigomática e sutura zigomático-maxilar, seios etmoidais anteriores,

frontais e maxilares.

A incidência de caldwell é boa para ver asas maiores e menores do

esfenóide, osso frontal, fissuras orbitais superiores, seios frontais e células

etmoidais anteriores, margens orbitais superiores e crista gali.

A interpretação de uma radiografia baseia-se na análise de diferentes

densidades seguindo-se alguns princípios da radiologia, tais como espessura e

peso atômico dos tecidos a serem radiografados. Desta forma, tecidos e objetos de

maior espessura oferecem maior barreira à exposição do filme aos raios-x,

tornando mais radiopaca (branca) a imagem obtida.

Existe uma escala de densidades (escala de Hounsfield) que varia da

tonalidade negra à branca de acordo com a espessura e peso atômico dos tecidos

radiografados:

• densidade OSSO - radiopaco (branco);

• densidade ÁGUA (cinza claro);

• densidade GORDURA (cinza mais escuro);

• densidade AR - radiolucente (preto).

Portanto, para o paciente A, cujo objetivo é a visualização de estruturas

ósseas, que são as estruturas mais radiopacas, se utilizará o chamado foco fino

(100 mA), enquanto que para o paciente B, cujo objetivo é a visualização de partes

moles e cavidades, se utilizará o foco grosso (300 mA).

O miliampere (mA) está relacionado à corrente elétrica que aquece o

filamento do Tubo de Coolidge a altas temperaturas, possibilitando a emissão de

elétrons; portanto quando se diz 100 mA ou 300 mA, está se referindo à quantidade

de elétrons que incidem no anodo a cada segundo.

Page 96: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

96

O miliampere somado ao tempo de exposição (s) e denominado miliampere

por segundo (mAs) significará o número total de elétrons que atinge o anodo, que é

o fator responsável pela quantidade de radiação.

Esse é mais um fator determinante para atender ao princípio da Otimização

e da Limitação das doses individuais.

Referidos princípios são definidos na literatura científica por meio do

acrônimo ALARA (“as low as reasonably achievable”) que traduzido significa “tão

baixo quanto razoavelmente exequível”.

Como dito anteriormente, o estabelecimento do preceito ALARA, se dará em

razão de uma série de fatores:

• A estrutura do corpo humano a ser verificada;

• O posicionamento correto do paciente em razão da estrutura a ser

verificada, evitando com isso, erros no exame e repetições;

• A técnica correta para aquele tipo de exame, que variará em razão

também de outros fatores, tais como:

1. Densidade da estrutura ou órgão, que determina o foco (mA),

lembrando que, desde que não comprometa a qualidade do exame

radiográfico, deve ser o mais baixo possível.;

2. O quilovolt (kV) utilizado deve sempre ser calculado em função da

espessura (e) da região a ser estudada, e da constante (Q) do

aparelho de raios X para a incidência (região anatômica) a ser

realizada, traduzidos na fórmula: kV = 2e + Q;

3. A distância foco-filme – DFOFI utilizada (distância entre o paciente e a

ampola de Raios X), que deve ser de no mínimo 1m;

4. Entre outros.

Detalhando esses fatores, já me referi ao mA e mAs, portanto, vamos ao

estudo do quilovolt (kV):

O kV determina a energia (qualidade) do feixe de radiação e pode ser obtido

pela aplicação da seguinte fórmula: kV = 2e + Q, sendo (e) a espessura em

centímetros e (Q) a constante do aparelho:

Page 97: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

97

A espessura em centímetros significa no exemplo dado (pacientes A e B), o

diâmetro da cabeça, que é a área a ser radiografada. Utilizaremos 25 cm (vinte e

cinco centímetros) de diâmetro.

A constante do aparelho é determinada pelo tipo de aparelho, se monofásico

ou trifásico;

Outros fatores determinam também os cálculos de constante:

• Tipo de écran (acessório também chamado de tela intensificadora,

composta de uma lâmina plástica recoberta com fósforo que é colocada

na frente do filme para converter a radiação X em luz), que tem

diferentes bases (azul ou verde) e diferentes velocidades (lenta, regular

ou rápida);

• Tipo de revelador de filmes que pode ser novo ou repassado

(reutilizado);

• Qualidade do fixador, novo ou repassado;

• Tipo de filme de Raios X (bases e velocidades);

Ainda, haverá ajustes de mAs e kV, levando-se em consideração outros

elementos:

• Se o exame é realizado dentro ou fora do bucky (acessório composto de

finas lâminas de chumbo, dispostas paralelamente, com finalidade de

reduzir a radiação secundária no filme);

• Em razão da idade, peso, altura e condição do paciente;

• Distância.

Levando em conta esses valores, o Técnico ou Tecnólogo em Radiologia irá

realizar os exames, observando o seguinte:

Para ambos os pacientes, A e B, estabeleceremos os seguintes valores:

• Aparelho Trifásico, (constante 2);

• Écran de base verde e velocidade rápida (constantes 2 e 2);

• Revelador novo e de velocidade regular (constantes 2 e 3)

• Fixador novo e de velocidade regular (constantes 2 e 3);

• Filme verde e de velocidade rápida (constantes 2 e 2).

Page 98: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

98

• Portanto, a soma desses valores resultará numa constante (Q) de 18.

O cálculo do kV é obtido tomando-se a espessura do órgão que se deseja

radiografar multiplicada por 2 e somada com a constante (Q) do equipamento:

Espessura × 2 + Q = kV

• A estrutura a ser analisada será o crânio, que no nosso exemplo tem 25

cm de espessura, portanto, teremos 25 × 2 + 18 = 68 kV

Para cálculo do mAs (miliampere por segundo) , de acordo com nosso

exemplo, para exames feitos no bucky a fórmula a ser utilizada é:

mAs = kV ÷ 2

• Portanto, temos 68 kV ÷ 2 = 34

Assim, tem-se dois valores para a realização dos exames, a saber, o kV e o

mAs.

• Para o paciente A (trauma de face), cujo objetivo é visualizar estruturas

ósseas, o foco a ser utilizado é 100 mA (foco fino). Dividindo o resultado

obtido acima pelo foco, teremos 0,34 (34 mAs ÷ 100 mA = 0,34 s), ou

seja, trinta e quatro décimos de segundo de exposição;

Para o paciente B (sinusite), cujo objetivo é a visualização de cavidades e

partes moles, o foco a ser utilizado é 300 mA (foco grosso), porém aqui, existirá

outro fator a ser considerado para o cálculo da dose:

Como a região a ser visualizada são os seios da face, não é necessária a

exposição de todo o crânio, portanto utiliza-se um acessório chamado cilindro de

extensão, que alinha os raios, evitando a radiação dispersa, diminuindo a

intensidade e evitando que a radiação atinja regiões que não são do interesse do

exame e preservando o paciente de exposições desnecessárias.

Ao usar esse acessório, o Técnico ou Tecnólogo em Radiologia dará um

incremento no kV, visto que a radiação concentrada poderá prejudicar o contraste

da imagem. Esse incremento será de 6 a 8 kV.

Para nosso exemplo, usaremos 6 kV:

Page 99: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

99

Portanto, do cálculo acima, cujo resultado foi 68 kV, com o incremento

teremos 74 kV. Utilizando as fórmulas, o mAs será então, 37:

• Portanto, para o paciente B (sinusite), cujo objetivo é visualizar

cavidades e seios da face, o foco a ser utilizado é 300 mA (foco grosso).

Dividindo o resultado obtido acima pelo foco, teremos 0,12 (37 mAs ÷

300 mA = 0,12s), ou seja, doze décimos de segundo de exposição;

Esses resultados serão colocados na mesa de comando do aparelho e o

exame será realizado, atendendo ao princípio ALARA, ou seja, o resultado será um

exame com qualidade diagnóstica e com a mínima exposição do paciente.

Com as devidas vênias pela repetição, tenho então dois pacientes distintos,

realizando as mesmas incidências (water e caldwell), com técnicas e doses

diferentes em razão da estrutura a ser visualizada, respeitando o princípio ALARA,

cujo marco regulatório no Brasil está estabelecido na Portaria MS/SVS 453.

O exemplo toma como base paciente adulto, de estatura e peso medianos,

devendo-se levar em consideração que existem ajustes em relação a altura, peso,

idade e condição do paciente (agitado, em choque, etc); principalmente em

crianças, cujas estruturas ainda estão em formação, o conceito de radioproteção

deve ser observado com extremo rigor.

Com relação aos cálculos, utilizei uma proposta de técnica denominada

“MARFRAN”, de autoria do Técnico em Radiologia Antonio Márcio França e do

Físico Fábio Silva, ambos lotados no Hospital Universitário da Universidade

Federal de Sergipe, descrito no trabalho “Técnica de Marfran para cálculo de

constantes. Projeto de Controle de Qualidade em Imagens Radiográficas – Cálculo

de constante em parâmetros de exames em aparelhos de radiodiagnóstico”.

Ressalva-se que existem outras metodologias, como por exemplo, o cálculo

de MARON, porém, o intuito em sua utilização é reafirmar que o Técnico e o

Tecnólogo em Radiologia, dado a sua formação específica é o profissional que

convive diariamente com as técnicas e práticas atinentes ao radiodiagnóstico,

portanto de sua observação, poderá se constatar qualquer desvio nas constantes

que determinam a qualidade diagnóstica e a proteção radiológica, tanto do

indivíduo ocupacionalmente exposto quanto dos indivíduos do público, ou seja, do

trabalho efetivamente empírico do Técnico e do Tecnólogo em Radiologia, somado

Page 100: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

100

à sua formação específica, haverá a aplicação concreta do preceito estabelecido

na Portaria MS/SVS 453, item 2.4, “a”, ii:

(ii) os tipos existentes de práticas devem ser revistos sempre que se adquiram

novos dados significativos acerca de sua eficácia ou de suas conseqüências.

Um exemplo de “novo dado” é a tecnologia digital, que ainda é minoria no

país, mas que, por conta do armazenamento em mídias e transmissão pela internet

para que médicos radiologistas possam laudar o exame de outro local, utiliza doses

maiores para melhor definição da imagem.

Ainda, defendemos que faz parte das atribuições, principalmente do

Tecnólogo em Radiologia, dada a sua formação em nível superior que lhe

possibilita a continuidade dos estudos, podendo verbi gratia, pós-graduar-se em

física do radiodiagnóstico, assumir as funções de Supervisão de Proteção

Radiológica, condição essa prevista na Portaria MS/SVS 453, a saber;

REQUISITOS DE ORGANIZAÇÃO

...

3.19 Em cada serviço de radiodiagnóstico deve ser nomeado um membro da equipe

para responder pelas ações relativas ao programa de proteção radiológica, denominado

supervisor de proteção radiológica de radiodiagnóstico (SPR).

a) O SPR deve estar adequadamente capacitado para cumprir as responsabilidades

que lhe competem e possuir certificação de qualificação conforme especificado neste

Regulamento.

...

3.26 Compete ao SPR assessorar o titular nos assuntos relativos à proteção

radiológica, com autoridade para interromper operações inseguras, devendo:

a) Elaborar e manter atualizado o memorial descritivo de proteção radiológica.

b) Verificar se as instalações estão de acordo com todos os requisitos deste

Regulamento.

c) Certificar a segurança das instalações durante o planejamento, construção e/ou

modificação.

d) Estabelecer, em conjunto com o RT, os procedimentos seguros de operação dos

equipamentos e assegurar que os operadores estejam instruídos sobre os mesmos.

e) Realizar monitoração de área, periodicamente, e manter os assentamentos dos

dados obtidos, incluindo informações sobre ações corretivas.

f) Implementar o programa de garantia da qualidade e manter os assentamentos

dos dados obtidos, incluindo informações sobre ações corretivas.

Page 101: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

101

g) Manter os assentamentos de monitoração individual e informar mensalmente, ao

pessoal monitorado, os valores das doses registradas.

h) Revisar e atualizar periodicamente os procedimentos operacionais de modo a

garantir a otimização da proteção radiológica.

i) Investigar cada caso conhecido ou suspeito de exposição elevada para determinar

suas causas e para que sejam tomadas as medidas necessárias para prevenir a ocorrência

de eventos similares.

j) Coordenar o programa de treinamento periódico da equipe sobre os aspectos de

proteção radiológica e garantia de qualidade.

k) Informar ao titular todos os dados relevantes obtidos nos programas de proteção

radiológica e garantia de qualidade, para subsidiar o mesmo no exercício de suas

responsabilidades.

l) Redigir e distribuir instruções e avisos sobre proteção radiológica aos pacientes e

profissionais envolvidos, visando à execução das atividades de acordo com os princípios e

requisitos estabelecidos neste Regulamento.

...

3.35 Para desempenhar as funções de SPR no serviço é necessário atender a um

dos seguintes requisitos:

a) Possuir certificação de especialista de física de radiodiagnóstico, emitida por

órgão de reconhecida competência ou colegiados profissionais cujo sistema de certificação

avalie o conhecimento necessário em física de radiodiagnóstico, incluindo metrologia das

radiações ionizantes e proteção radiológica, e esteja homologado no Ministério da Saúde

para tal fim, ou

...

Lembrando que tal condição nada mais é do que exigência legal, pois faz

parte do Programa de Controle de Qualidade em Radiodiagnóstico, previsto na

Portaria MS/SVS-453.

Ademais, o legislador também previu o mandamento, na Lei

regulamentadora da profissão, Lei Federal nº 7.394/85:

Art. 10 - Os trabalhos de supervisão das aplicações de técnicas em radiologia, em

seus respectivos setores, são da competência do Técnico em Radiologia.

Como se vê, da descrição de duas incidências radiográficas, constatamos a

aplicação do conhecimento adquirido em matérias que fazem parte do itinerário de

formação profissional do Técnico e do Tecnólogo em Radiologia e que,

definitivamente, não fazem parte da formação do Biomédico.

Em relação ao exemplo utilizado, podemos apontar que se fazem

necessários conhecimentos de:

Page 102: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

102

• Bases físicas da radiação e Efeitos Biológicos da Radiação, presente

nos cursos nas matérias Física aplicada, Física Radiológica e

Fundamentos da Radiologia;

• Anatomia radiológica, cuja matéria tem o mesmo nome;

• Posicionamento radiológico, matéria de mesmo nome;

• Patologia, matéria de mesmo nome;

• Proteção Radiológica, presente nas matérias Higiene e proteção das

radiações e Proteção Radiológica.

• Leitura e interpretação de imagens e protocolos dos equipamentos, nas

matérias Tecnologia do Equipamento e Avaliação de Imagens e

Processamento de imagens.

Mas, principalmente, deve-se registrar que as duas incidências utilizadas no

exemplo são uma parte ínfima do que o Técnico ou Tecnólogo em Radiologia

devidamente qualificado é capaz de realizar.

Existem centenas de incidências para cada estrutura, órgão ou região do

corpo a ser estudada.

Existem determinados tipos de exame que requerem a aplicação de

contrastes, ou que requerem a utilização de sondas e que, obrigatoriamente,

devem ser acompanhados por médicos radiologistas; mas que podem causar

reações adversas em pacientes e, dada a formação do Técnico ou Tecnólogo em

Radiologia, que tem matérias como Noções de Enfermagem, Primeiros Socorros,

Assistência ao Paciente, Organização do Processo de Trabalho em Radiologia e

Gestão em Radiologia, ele possui o discernimento necessário para tomar as

precauções necessárias para que isso não ocorra.

E, julgo tão importante quanto os demais conhecimentos adquiridos, as

matérias Comunicação Social, Ética e Cidadania e Sociologia da Saúde, visto que

o profissional irá atender um ser humano na sua condição mais frágil, quando esse

se encontra acometido de uma doença e requer cuidado e atenção especiais,

lembrando sempre que tais matérias são inexistentes no curso de Biomedicina.

O objetivo desse trabalho é trazer novo lume à apreciação do Poder

Judiciário, sobre a controvérsia Técnicos/Tecnólogos em Radiologia versus

Biomédicos, abordando todos os pontos que entendo ser necessário para tal

apreciação.

Page 103: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

103

Mas em nenhum momento, s.m.j., inovei no ordenamento jurídico ou faltei

com a verdade. O exemplo de exame que foi descrito anteriormente, seus cálculos

e procedimentos estão previstos na Portaria MS/SVS 453, conforme declino a

seguir:

PROCEDIMENTOS DE TRABALHO

4.25 A fim de produzir uma dose mínima para o paciente, consistente com a

qualidade aceitável da imagem e o propósito clínico do procedimento radiológico, os

médicos, os técnicos e demais membros da equipe de radiodiagnóstico devem selecionar e

combinar adequadamente os parâmetros abaixo discriminados. Atenção particular deve ser

dada aos casos de Radiologia Pediátrica e Radiologia Intervencionista. Os valores

padronizados para os exames rotineiros devem ser estabelecidos em tabelas de exposição.

a) A região do corpo a ser examinada e o número de exposições por exame (e.g.,

número de filmes ou de cortes em CT) ou o tempo de exame em fluoroscopia.

b) O tipo de receptor de imagem (e.g., telas rápidas ou regulares).

c) Grade anti-difusora apropriada, quando aplicável.

d) Colimação apropriada do feixe primário, para minimizar o volume de tecido

irradiado e melhorar a qualidade da imagem.

e) Valores apropriados dos parâmetros operacionais (e.g., kVp, mA e tempo ou

mAs).

f) Técnicas apropriadas para registrar imagem em exames dinâmicos (e.g., número

de imagens por segundo).

g) Fatores adequados de processamento da imagem (e.g., temperatura do

revelador e algoritmo de reconstrução de imagem).

Prosseguindo, resta mencionar ainda outros exames que utilizam Raios X,

como a densitometria óssea, a mamografia, a fluoroscopia e a tomografia.

5.1.2 – DENSITOMETRIA ÓSSEA

A densitometria óssea é o exame que verifica a densidade mineral óssea e é

essencial para o diagnóstico e tratamento da osteoporose e de outras possíveis

doenças que possam atingir os ossos.

É um exame que demora cerca de quinze minutos e a dose de radiação

emitida pelo aparelho é relativamente baixa, tanto para operador quanto para o

paciente.

Em razão dessa “baixa dose de radiação” vários empregadores insistem,

baseados em descrição técnica das empresas que comercializam esses aparelhos,

Page 104: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

104

que não é necessária a presença de um operador qualificado e têm contratado

Biomédicos, em razão da controvérsia jurídica que aqui discutimos e – pior -

pessoas sem habilitação alguma.

O sistema CONTER/CRTR’s é frontalmente contra a prática, pois é

consenso científico, amplamente demonstrado anteriormente e afirmado na

legislação que, quando se trata de radiação, não importa o tamanho da dose, pois

há detrimento e – em última análise – se faz necessária a presença do Técnico ou

Tecnólogo em Radiologia na operação desses aparelhos, dado o seu

conhecimento em anatomia e proteção radiológica e também porque é uma

determinação da Lei 7.394/85.

O CRTR – 5ª região já obteve decisões favoráveis na justiça a respeito da

operação de densitômetros:

“Somente pelo fato de emitir raios X, os aspectos regulamentadores exigem a

presença de um técnico em radiologia, portanto existe sim a exigência legal de operação de

aparelhos geradores de raios X para fins diagnósticos por um profissional com a

qualificação de técnico em radiologia.”

Esse é trecho de sentença em 1º grau proferida pelo juiz da 14ª Vara Cível

Federal da Subseção Judiciária de São Paulo na Ação nº 2000.61.00.050816-1

movida contra o CRTR – 5ª região por uma empresa que pedia a não-

obrigatoriedade da operação de aparelhos de Densitometria óssea por profissionais

das Técnicas Radiológicas.

Através de laudo pericial requerido pelo Poder Judiciário foi comprovado que

“o equipamento de Densitometria Óssea é efetivamente enquadrável como de

radiologia, emitindo radiação significativa” e assim conclui o juiz daquela causa

expressamente “o aparelho em questão é de radiologia, com emissão de raios X,

com radiação ionizante, sendo sua operação de dentro da sala, próximo ao

paciente, com eventual exposição, tendo de ser operado por técnico em radiologia”.

Destaca-se que essa decisão já transitou em julgado, portanto, ela é

definitiva, caracterizando importante precedente na área.

Sobre o tema, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo em

resposta a consulta nº 25.437/98 declarou quanto à necessidade de que o aparelho

de densitometria óssea seja efetuado por um Técnico em Radiologia, que

“evidentemente, o médico radiologista, ou ortopedista pode operar sozinho o

equipamento. Todavia, caso decida contratar um auxiliar, há que se considerar que

Page 105: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

105

existe a previsão legal para que o aparelho seja operado pelo técnico em

radiologia”. (fonte: www.cremesp.org.br)

Essa decisão envolve todos os estabelecimentos que possuam e utilizem

equipamentos de densitometria óssea e demonstra a exigência de que “a operação

de tais aparelhos não pode ser entregue a quem não detenha a habilitação e o

conhecimento necessários para garantir, às pessoas submetidas ao diagnóstico

por imagem de densitômetros, segurança e proteção”, como destacado pelo

Tribunal Regional Federal da 1ª Região em Agravo de Instrumento nº

2006.01.00.035748-4 em demanda ajuizada pela Sociedade Brasileira de

Densitometria Óssea em face do Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia e

que já transitou em julgado.

5.1.3 - MAMOGRAFIAS

A mamografia é o exame de excelência para a detecção precoce do câncer

de mama.

A mamografia de rotina é a melhor oportunidade de detectar precocemente

qualquer alteração nas mamas antes até que o paciente ou médico possam notá-

las ou apalpá-las.

De acordo com a Food and Drug Administration (FDA), órgão americano de

vigilância sanitária, a mamografia pode detectar um câncer de mama até dois anos

antes de ele ser palpável.

Quanto mais precoce a remoção do tumor na fase inicial, a estratégia é mais

eficiente na redução da taxa de mortalidade das pacientes e melhor qualidade de

vida.

Sua utilidade é de tal monta que tornou-se assunto de extrema sensibilidade

social, merecendo políticas do poder público para a sua disseminação.

O mamógrafo é o aparelho especificamente desenvolvido para a realização

das mamografias, sendo proibido pela Portaria MS/SVS 453 a utilização de outros

equipamentos; e têm parâmetros diferenciados em relação a taxas de doses.

Portaria MS/SVS 453

4.38 Em exames de mamografia, devem ser utilizados apenas:

a) Equipamentos projetados especificamente para este tipo de procedimento

radiológico, sendo vedada a utilização de equipamentos de raios-x diagnósticos

convencionais ou modificados.

Page 106: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

106

b) Receptores de imagem específicos para mamografia.

c) Processadoras específicas e exclusivas para mamografia.

d) Negatoscópios¹ com luminância entre 3000 e 3500 nit².

¹Negatoscópio: Aparelho dotado de iluminação especial para perfeita

observação dos negativos ou chapas radiográficas.

²nit: Unidade de medida da intensidade de uma fonte de luz.

É extremamente necessário que o operador desse equipamento tenha

profundos conhecimentos de posicionamento radiológico e de proteção radiológica,

pois o tecido mamário é de grande densidade, portanto as taxas de dose do

mamógrafo são mais altas, o que requer técnica e habilidade apuradas para que

não sejam feitas repetições desnecessárias.

O intuito desse trabalho não é ser alarmista, mas é uma verdade científica já

transcrita anteriormente, que, embora probabilístico, o efeito de dose numa única

célula pode causar câncer.

Em matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, no dia 11 de junho de

2006, estudo feito pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), reprovou 60% das

mamografias apresentadas por pacientes que vieram do SUS e de empresas

particulares.

Dentre os problemas citados, está o da revelação das chapas radiográficas

que, segundo a matéria, podem estar escuras ou claras demais ou resultantes de

revelações mal feitas.

Portaria MS/SVS 453

4.47 Para mamografia, os testes relativos ao processamento devem ser realizados

diariamente e os cassetes, limpados semanalmente.

4.48 Em cada equipamento de mamografia, deve ser realizada, mensalmente, uma

avaliação da qualidade de imagem com um fantoma¹ mamográfico equivalente ao adotado

pela ACR². Não devem ser realizadas mamografias em pacientes se o critério mínimo de

qualidade de imagem não for alcançado. As imagens devem ser arquivadas e mantidas à

disposição da autoridade sanitária local.

¹Fantoma - Objeto físico ou matemático utilizado para reproduzir as características

de absorção e espalhamento do corpo ou parte do corpo humano em um campo de

radiação.

²ACR – American College of Radiology

Page 107: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

107

Ainda, de acordo com a matéria, isso compromete o resultado do exame,

levando a erros nos laudos.

A título de informação, o Técnico ou Tecnólogo em Radiologia realiza

diariamente testes de calibração com fantoma nos mamógrafos.

A obtenção de imagens com definição e contraste satisfatórios pode ser

alcançada com uma adequação do feixe de radiação e também com a escolha

correta do sistema receptor e do seu processamento adequado. A mama é

composta por estruturas com densidades muito próximas o que aumenta a

dificuldade na obtenção de contraste desejado na imagem formada pelos raios X.

Esse fator associado à qualidade da radiação, à compressão da mama, ao

uso de grade, ao sistema filme-écran, e ao processamento dos filmes são fatores

que influenciam no contraste da imagem mamográfica.

Vê-se aqui a necessidade dos conhecimentos de física das radiações,

posicionamento radiológico, anatomia radiológica, protocolos de radiologia,

processamento de filmes e proteção radiológica, matérias presentes no curso do

Técnico e do Tecnólogo em Radiologia e inexistentes no curso de Biomedicina.

Recentemente, o Governo Federal, por meio do Ministério da Saúde,

instituiu o “Programa Nacional de Qualidade em Mamografia (PNQM), através da

Portaria 531 de 26 de março de 2.012:

Art. 2º O PNQM tem os seguintes objetivos:

I – cumprimento da legislação sanitária federal e demais regulamentações vigentes

sobre radiodiagnóstico;

...

V – capacitação e atualização periódica dos profissionais da saúde para a execução

dos exames de mamografia; (grifei)

...

Portanto, eis aqui mais uma área sensível em que é necessária a presença

de operador devidamente qualificado, o que vai de encontro à Lei, que estabelece

a exigência de uma formação específica para operação de fontes emissoras de

radiação ionizante.

5.1.4 - FLUOROSCOPIAS

Page 108: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

108

Prosseguindo, temos a fluoroscopia que, para ilustrar de forma simples,

seria uma sequência de imagens (como um filme) em contraposição ao exame de

Raios X convencional que é a aquisição de imagens (como uma fotografia).

Os procedimentos de Raios X convencionais são realizados com mA

(miliamperagem) altíssimo, se comparado ao utilizado na fluoroscopia, todavia, na

radiografia convencional o exame raramente dura alguns segundos, portanto, a

dose é baixa.

Na fluoroscopia, a dose é alta devido ao longo tempo de exposição do

paciente, que pode atingir dezenas de minutos.

O exame de fluoroscopia pode ser executado com ou sem o uso de

contraste. Os contrastes são usados para visualizar espaços ocos ou vasos, como,

por exemplo, exames do abdômen, intestinos, articulações ou para a exibição de

veias. O radiologista pode acompanhar a trajetória do contraste nos órgãos. A

fluoroscopia sem contraste geralmente é usada como diagnóstico de apoio para a

radiografia convencional, por exemplo, no exame dos pulmões.

“O equipamento de hemodinâmica utiliza-se da técnica de fluoroscopia para

a formação da imagem com raios X, permitindo estudar as funções dinâmicas do

organismo. Os procedimentos em radiologia que utilizam a técnica de

hemodinâmica têm sido largamente utilizados não apenas para diagnóstico, mas

principalmente em métodos intervencionistas terapêuticos, na tentativa de evitar

que o paciente se submeta a um procedimento de maior risco, como é o caso da

cirurgia. A realização dos procedimentos intervencionistas realizados através de

estudos hemodinâmicos teve crescimento significativo devido a melhoria

substancial dos equipamentos de imagem por raios X e no próprio refinamento do

projeto do cateter.” (FAULKERN, K. VANO, E. ORTIZ, P. RUIZ, R. Pratical Aspects

of Radiation in Interventional Radiology. Proceedings IRPA Congress, International

Radiation Protection Association, 2000.)

*Trecho extraído do trabalho “Avaliação da dose equivalente nas

extremidades de médicos hemodinamicistas durante procedimentos neurológicos”,

apresentado na Radio 2005 – 4º Congresso Internacional de Radioproteção

Industrial e o 1º Congresso Brasileiro de Proteção Radiológica.

A autoria, conjunta, é de Peterson L. Squair, Luiz C. de Souza e Paulo

Márcio C. de Oliveira, Tecnólogos em Radiologia com especialização em Proteção

Radiológica, Universidade FUMEC e; Maria do S. Nogueira, Doutora, Física,

Page 109: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

109

Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear CDTN/CNEN.

http://www.novorumoensino.com.br/site_belohorizonte/arquivos/artigos/22.pdf.

A angiografia é um típico exame que utiliza a fluoroscopia e a angioplastia é

um procedimento cirúrgico que utiliza a fluoroscopia.

Ambos, o exame e o procedimento, são feitos por uma equipe composta por

médico, enfermeiro e Técnico ou Tecnólogo em Radiologia.

Casos ocasionais, porém severos, de danos na pele dos médicos, técnicos e

pacientes resultantes de procedimentos guiados fluoroscopicamente já foram

relatados.

Além das doses ministradas aos pacientes, a angiografia também causa

doses ao corpo clínico. Pesquisas demonstram que os departamentos de

angiografia e hemodinâmica são os setores em que são ocasionadas as doses

mais elevadas aos trabalhadores de radiologia médica.

Também têm sido observados casos de cataratas e danos sérios nas mãos

dos médicos que realizam exames fluoroscópicos.

As medidas de proteção em hemodinâmica devem ser rigorosamente

observadas, utilizando-se de avental de chumbo, protetor de tireóide, óculos de

chumbo, tempo de fluoroscopia mínimo e colimação* precisa.

* Colimador: Dispositivo ou mecanismo utilizado para limitar o campo de radiação

Portaria MS/SVS 453

4.40 Em fluoroscopia:

...

b) A duração do exame deve ser a mais breve possível, com a menor taxa de dose

e menor tamanho de campo.

Reproduzo abaixo a rotina do Técnico em Radiologia do setor de

hemodinâmica do Instituto do Coração, do Hospital das Clínicas da Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo – InCor-HCFMUSP:

• Checar o funcionamento do aparelho de raios-X, antes de iniciar a rotina

diária (polígrafo, Stent boost, espaço HD – Disco).

• Ajustar a técnica correta de acordo com a espessura do paciente.

• Identificar o paciente com numero específico da hemodinâmica.

Page 110: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

110

• Após as primeiras imagens, se necessário, fazer as devidas medidas;

ventrículo, coronária e caso seja angioplastia, fazer as medidas para uso

do Stent Boost auxiliando o médico na implantação do Stent adequado

para cada lesão do paciente.

• Após o término do exame, verificar o aparelho quanto ao estado geral

pelo manuseio, outros aparelhos acoplados à maquina, tais como,

polígrafos, cabos de pressão ECG e bomba injetora.

• Verificar a qualidade da imagem, armazenando esse exame em CD e

também os enviando para uma rede interna para visualização em Centro

Cirúrgico, UTI e enfermarias, etc. conferindo a exatidão do mesmo (na

rede e CD gravado).

• Dar suporte técnico e auxiliar médicos e usuários.

• Zelar pelo equipamento em geral.

Na sala há um dispositivo que apresenta 3 (três) lâmpadas:

VERDE- Uso normal;

AMARELA – Atenção devido a um possível aquecimento (nível do

óleo subindo); e

VERMELHO - superaquecimento, sendo possível que o

equipamento bloqueie e pare de funcionar, causando grande transtorno,

pois o cateter estará no coração do paciente e o médico não conseguirá

visualizar as artérias.

Como se vê, a tecnologia, os conhecimentos necessários e principalmente o

cuidado com a operação do equipamento e com os aspectos inerentes à proteção

radiológica, são primordiais na hemodinâmica, fazendo com que os conhecimentos

do Técnico e do Tecnólogo em Radiologia, adquiridos em matérias como protocolo

dos equipamentos, anatomia radiológica, física das radiações e higiene e proteção

das radiações, o tornem o profissional por excelência indicado para a operação de

fontes emissoras de radiação ionizante.

Em contraponto, imperioso rememorar que tais matérias inexistem no curso

de Biomedicina.

5.1.5 – TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA (TC)

Page 111: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

111

A Tomografia Computadorizada (TC) também é um exame que se utiliza dos

Raios X para a aquisição de imagens, no caso uma secção ou “fatia” do corpo

humano.

A vantagem da Tomografia é a possibilidade de analisar “cortes” milimétricos

da estrutura a ser estudada, possibilitando maior definição na imagem e, portanto,

mais segurança e precisão no diagnóstico médico. Em equipamentos mais

modernos é possível fazer reconstruções em três dimensões (3D).

No exemplo dado acerca da radiografia de seios da face (sinusite), tal

exame também pode ser feito na Tomografia, porém, será uma segunda opção,

utilizada somente caso não seja possível a visualização em radiografia

convencional, isso por que a Tomografia Computadorizada trabalha com taxas de

doses maiores e sua utilização deve respeitar o princípio da justificação.

Novamente se faz necessário a transcrição de trechos de trabalho científico,

no caso uma entrevista do Dr. David Johnson, professor de Medicina e Chefe de

Gastroenterologia da Eastern Virginia Medical School.

(...)

“Percorremos um longo caminho nas imagens radiológicas desde 1972, quando as

tomografias foram introduzidas pela primeira vez. Nós tendemos a confiar neste exame

diagnóstico de uma forma imensurável em quase tudo o que fazemos em medicina.

Eu me preocupo que todos os pacientes que atravessam a sala de emergência

recebam uma tomografia computadorizada. Pacientes realizam uma TC para tudo, desde

espirros e respiração ruidosa a sangramento e dor abdominal. Tomografias

computadorizadas são realizadas rotineiramente, especialmente na sala de emergência.

(...)

Esses exames são responsáveis por 60% - 70% da radiação ionizante utilizada no

processamento de imagens radiológicas nos Estados Unidos na atualidade.

(...)

A TC ou qualquer imagem que envolva radiação ionizante apresenta riscos. A

exposição à radiação tem efeitos indesejáveis. Sabemos disso a partir de dois grandes

bancos de dados.

Um deles é o banco de dados de Nagasaki-Hiroshima que seguiu sobreviventes da

bomba atômica, e o outro é de trabalhadores com radiação que foram seguidos

seqüencialmente.

Com base na dosimetria, a exposição dos trabalhadores de radiação era muito

semelhante a de pacientes expostos à bomba atômica. Um risco adicional de câncer foi

encontrado, quando comparada com a incidência de cânceres naturais, usando a base de

Page 112: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

112

dados da Surveillance Epidemiology and End Results (SEER). Estes indivíduos tinham

riscos adicionais para o câncer pós-exposição ao longo de suas vidas.

(...)

Se a exposição à radiação exceder um limite de 5 millisieverts (mSv), o risco de

câncer aumenta acima do risco geral de pacientes que não foram expostos à dose de

radiação.

A varredura abdominal da TC típica expõe o paciente a 5-10 mSv de radiação

ionizante. Se o paciente é obeso, a dose de radiação é dobrada como um resultado da

necessidade de uma maior penetração. O paciente recebe uma dose de 10 - a 20 mSv,

muito além do limite de 5 mSv, e o risco de câncer pela radiação aumenta a partir daí.

Lembre-se que a radiação é cumulativa.

(...)

O risco relativo para o câncer nos Estados Unidos atualmente atribuído ao câncer

induzido pela radiação é de 2% a 3%. De todos os cânceres, 2% a 3% são atribuídos à

exposição à radiação iatrogênica.

Se você levar isto a um nível individual do paciente, uma única TC em uma pessoa

de 25 anos fornece um incremento de risco durante a vida de aproximadamente 0,6% de

morte por câncer. Em um paciente com 50 anos de idade, esse risco declina; os números

diminuem em cerca de 60%, mas ainda é um risco relativo que é transportado para o resto

da vida.

Se levarmos em conta os procedimentos que envolvem uma grande quantidade de

radiação, como a angiografia coronária, o risco de uma mulher de 25 anos desenvolver

câncer de mama ou de pulmão é de 1 em 143.

Isso é um risco elevado.

(...)

Há jurisprudência que remonta ao início dos anos 1970: Canterbury versus Spence.

A decisão foi que, para tomada de decisão razoável, o prestador tem de discutir com o

receptor da informação todos os cuidados que podem influenciar se o destinatário estaria

disposto a submeter ao exame. Isso envolve a avaliação de risco, não só do risco de não se

fazer o exame, mas também o risco de fazê-lo.

Agora, não sabemos explicar isso muito bem para os pacientes a respeito dos raios-

x. Nós certamente não sentamos e dizemos: "Você sabe que se eu solicitar esse exame, a

sua exposição incremental aqui é de 10 mSv, ou é de 60 mSv. Você percebe o que isso

significa para o seu risco de câncer ao longo da sua vida?" Esta é uma preocupação. Alguns

países proibiram o uso de radiação para fins de triagem. Na Europa, mais notadamente na

Alemanha e na Suíça, você não pode fazer um exame de triagem que envolva exposição à

radiação.

(...)

Seja particularmente sensível aos pacientes quando você está requisitando exames

para uma faixa etária mais jovem, crianças, em particular, e aos pacientes que estarão

Page 113: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

113

sujeitos à exposição à radiação daqui para frente por causa de sua doença de base e da

sua necessidade de exames repetitivos no futuro.

Fonte:http://www.medcenter.com/Medscape/content.aspx?bpid=106&id=29257

Farei uso novamente de uma referência que permeia todo esse trabalho:

O assunto que envolve o uso e operação de fontes emissoras de radiação

ionizante é extremamente sério e complexo e deve ser analisado com a seriedade

e a complexidade que merecem.

Com relação à proibição do uso de radiação para fins de triagem, ela está

presente na legislação pátria:

Portaria MS/SVS 453

2.5 Fica proibida toda exposição que não possa ser justificada, incluindo:

a) Exposição deliberada de seres humanos aos raios-x diagnósticos com o objetivo

único de demonstração, treinamento ou outros fins que contrariem o princípio da

justificação.

b) Exames radiológicos para fins empregatícios ou periciais, exceto quando as

informações a serem obtidas possam ser úteis à saúde do indivíduo examinado, ou para

melhorar o estado de saúde da população.

c) Exames radiológicos para rastreamento em massa de grupos populacionais,

exceto quando o Ministério da Saúde julgar que as vantagens esperadas para os indivíduos

examinados e para a população são suficientes para compensar o custo econômico e

social, incluindo o detrimento radiológico. Deve-se levar em conta, também, o potencial de

detecção de doenças e a probabilidade de tratamento efetivo dos casos detectados.

d) Exposição de seres humanos para fins de pesquisa biomédica, exceto quando

estiver de acordo com a Declaração de Helsinque, adotada pela 18ª Assembléia Mundial da

OMS de 1964; revisada em 1975 na 29ª Assembléia, em 1983 na 35ª Assembléia e em

1989 na 41ª Assembléia, devendo ainda estar de acordo com resoluções específicas do

Conselho Nacional de Saúde.

e) Exames de rotina de tórax para fins de internação hospitalar, exceto quando

houver justificativa no contexto clínico, considerando-se os métodos alternativos.

Alguns exames, como por exemplo, trauma abdominal, geralmente realizado

em Pronto-Socorros em caráter de urgência para verificar possíveis lesões internas

ou mesmo hemorragias, justificam a realização da Tomografia.

A operação do Tomógrafo implica em conhecimentos de posicionamento,

anatomia, fisiologia e patologia em relação ao paciente que realizará o exame.

Deve-se ter conhecimentos de bases físicas da radiação, tecnologia do

equipamento, protocolos de imagem e higiene e proteção das radiações, pois são

Page 114: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

114

necessários ajustes, considerando a condição do paciente (idade, peso, altura e

condição física).

Haverá discordância em relação à afirmação de que são necessários tais

conhecimentos, em vista da moderna tecnologia existente nos Tomógrafos, porém,

os aparelhos de ponta (multislice) ainda são minoria no país e mesmo os aparelhos

mais modernos não prescindem de formação específica para sua operação.

A grande maioria dos aparelhos existentes depende de ajustes, tais como,

kV, mAs, espessura de corte, pitch(*), filtros e outros parâmetros técnicos.

(*)Pitch: Representa a razão entre o deslocamento da mesa pela espessura de corte.

Todos esses ajustes é que definirão a qualidade do exame e evitarão

repetições desnecessárias, o que na Tomografia é extremamente prejudicial, dada

as altas taxas de dose a que o paciente é submetido.

Um exemplo é a Tomografia de crânio em recém-nascido (RN).

Suponha-se um recém-nascido que caia de seu berço. A Tomografia é

indicada, pois além do trauma ósseo é possível verificar a ocorrência de dano

encefálico.

Se o operador utilizar protocolos residentes do aparelho ou técnicas-padrão,

o exame será realizado, porém com exposição desnecessária da criança a altas

taxas de doses.

Pode-se analisar que o recém nascido está em formação celular; nesse caso

de exame o profissional tem que fazer alterações nos parâmetros e usar um

protocolo adequado.

Esse exame deve ser feito com ajustes de mA (tempo de exposição, que

deve ser o menor possível), para evitar excesso de radiação no cristalino. Deve se

ajustar a espessura dos “cortes” (cortes mais finos), pois as partes moles e a

estrutura óssea do recém-nascido tem densidade menor, necessitando de menor

quantidade de radiação e para que o exame tenha a qualidade diagnóstica que se

espera.

Portaria MS/SVS 453

4.20 Todo equipamento de tomografia linear deve possuir, além dos requisitos

aplicáveis do item 4.13.

a) Método para ajustar a posição do centro de corte.

b) Indicação da posição do centro do corte.

Page 115: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

115

4.21 Todo equipamento de tomografia computadorizada, CT, deve possuir, além

dos requisitos aplicáveis do item 4.13:

a) Meios que permitam a determinação visual do plano de referência.

b) Dispositivo que permita ao operador interromper, a qualquer instante, qualquer

varredura de duração maior que 0,5 s.

c) Indicação visual, no painel de controle, dos parâmetros de técnica, incluindo

espessura de corte e incremento de varredura, antes do inicio de uma série.

Novamente tem-se a definição técnica, os parâmetros científicos e a norma

legal que justificam a presença de um profissional devidamente qualificado para a

operação do equipamento, profissional esse que é o Técnico ou Tecnólogo em

Radiologia, pois no seu itinerário de formação profissional estão presentes as

matérias relativas à aquisição de competências para a operação de fontes

emissoras de radiação ionizante, matérias essas inexistentes no curso de

Biomedicina.

5.2 – MEDICINA NUCLEAR

"A Medicina Nuclear está para a Radiologia como

a Fisiologia para a Anatomia" – Michael Maisey

A Medicina Nuclear é única por revelar dados sobre a anatomia e a função

dos órgãos, ao contrário da radiologia, que tipicamente mostra apenas estrutura

anatômica dos órgãos.

Pode detectar precocemente anormalidades na função ou estrutura de um

órgão no corpo. Esta detecção precoce possibilita que algumas enfermidades

sejam tratadas nos estágios iniciais, quando existe uma melhor chance de

prognóstico bem sucedido e recuperação do paciente.

A Medicina Nuclear é uma especialidade médica que se ocupa das técnicas

de imagem, diagnóstico e terapêutica utilizando partículas ou nuclídeos

radioactivos.

Permite observar o estado fisiológico dos tecidos de forma não invasiva,

através da marcação de moléculas participantes nesses processos fisiológicos com

isótopos radioativos.

Estes denunciam sua localização por emitirem radiação nuclear. A detecção

localizada de muitos fótons gama com uma câmara gama permite formar imagens

ou filmes que informem acerca do estado funcional dos órgãos.

Page 116: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

116

A emissão de partículas beta ou alfa, que possuem alta energia, também

têm utilização terapêutica, para destruir células ou estruturas indesejáveis.

Uma pequena quantidade de material radioativo é absorvida pelo corpo via

injeção (acesso venoso), oral ou inalação. Estas substâncias radioativas são

misturadas a um produto farmacêutico especializado que tem como alvo os órgãos,

ossos ou tecidos específicos do corpo. A quantidade de material radioativo usado é

medida especificamente para garantir os resultados mais precisos dos exames,

limitando, ao mesmo tempo, a quantidade de exposição à radiação.

“O gerador de Molibdênio-99/Tecnécio-99m é constituído de colunas de vidro ou

plástico fixador contidas em um vaso com um disco móvel. Essa coluna é preenchida com

materiais adsorventes, tais como resina de troca iônica e alumina. Na coluna, 99Mo decai

para o 99mTc até que o equilíbrio transiente seja estabelecido. Por possuírem diferentes

propriedades químicas, o nuclídeo filho pode ser separado do radionuclídeo pai por meio de

eluição (separação de substâncias adsorciadas) com um solvente apropriado [4, 5].

Os radiofármacos que se destinam ao diagnóstico clínico efetuado em câmara

cintilográfica (gama-câmara) têm na sua composição um radionuclídeo emissor de radiação

gama. Nesse caso, é preferível que o radionuclídeo incorporado no radiofármaco não emita

radiação beta, uma vez que esse tipo de radiação apenas serviria para aumentar a dose de

radiação absorvida pelo paciente; além de provocar degradação de imagem devido à

energia das partículas beta [6]. O 99mTc decai para o 99Tc por emissão gama, sendo este

último um emissor beta com meia-vida de 2,2 x 105 anos.”

O texto acima transcrito faz parte de um trabalho denominado “Avaliação de

99Mo em amostra de 99mTc em clínica de medicina nuclear de Sergipe”.

A intenção, de forma alguma desrespeitosa, é chamar a atenção para a

complexidade do assunto aqui tratado, pois se poderiam transcrever calhamaços

de literatura científica a respeito do assunto.

Existem inúmeros exames diagnósticos e tratamentos terapêuticos

realizados com Medicina Nuclear. Seria improdutivo citá-los aqui.

Quero apenas estabelecer que aqui, se usam isótopos radioativos que, por

definição técnica, também são fontes emissoras de radiação ionizante, e que, para

efeito de regulamentação; o licenciamento, controle, guarda, transporte, rejeição, e

qualificação para o uso, manuseio e aplicação, são normatizados pela Comissão

Nacional de Energia Nuclear – CNEN, que também possui uma miríade de normas

e posições regulatórias a respeito.

Page 117: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

117

Os Tecnólogos que trabalham com aplicações em Medicina Nuclear, além

da formação preconizada na Lei 7.394/85, devem possuir a qualificação exigida

pela CNEN:

CNEN-NN-6.01 REQUISITOS PARAO REGISTRO DE PESSOAS FÍSICAS PARA O

PREPARO, USO E MANUSEIO DE FONTES RADIOATIVAS.

...

5. ÁREAS DE ATUAÇÃO

O profissional de nível superior, deve estar previamente registrado, de acordo com

os dispositivos desta Norma, para atuar nas seguintes áreas:

a) Aplicações médicas para uso, preparo e manuseio de fontes radioativas não-

seladas:

1) Diagnóstico com Radiofármacos (“in vivo”);

2) Diagnóstico laboratorial “in vitro”; e

3) Terapia com Radiofármacos.

b) Aplicações médicas para o uso e manuseio de fontes radioativas seladas:

1) terapia com equipamentos de teleterapia ou braquiterapia; e

2) irradiação de células com irradiadores auto-blindados.

Aqui cabe mais um aparte: O assunto referente às Normas CNEN merecem

outro estudo, pois entendo que as mesmas são conflitantes com a Lei Federal nº

7.394/85, no que diz respeito à formação mínima exigida para a operação e o

manuseio de fontes emissoras de radiação ionizante, visto que algumas delas,

notadamente na área industrial, prevêem qualificação para pessoas com formação

de nível médio, ressaltando-se aqui, que são normas antigas que carecem de

revisão. Apenas à guiza de exemplo, nesse quesito de formação elas se referem

ainda à antiga formação de 2º grau (atual ensino médio), nomenclatura já

inexistente na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei

9.394/96.

Dentro do assunto aqui abordado, vou estabelecer a rotina de um Tecnólogo

em Radiologia que realiza procedimentos em Medicina Nuclear:

O profissional faz a chamada “eluição” que é a separação dos isótopos (que

são vários e específicos para cada exame ou tratamento) utilizados.

Aqui é necessário máximo cuidado na manipulação, com uso de luvas e

material específico da área.

Depois haverá a “mistura” do radioisótopo com o fármaco específico para

cada tipo de exame ou tratamento que será realizado, lembrando que, para cada

tipo de exame, esse radiofármaco será específico em razão da meia-vida dos

Page 118: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

118

elementos, cálculo que depende da estrutura a ser analisada, a afinidade química

do radiofármaco com essa estrutura e a dose necessária para a realização do

exame, levando-se em conta seu percurso dentro do corpo humano.

Deve-se ainda observar o correto posicionamento do paciente, bem como

conhecimentos de anatomia e leitura de imagem para a aquisição das mesmas nas

gama-câmaras e reconstrução em Workstations, para que o procedimento seja

realizado com êxito.

Ressalta-se que o paciente estará com um isótopo radioativo em seu corpo,

portanto, com as devidas vênias pela linguagem leiga, ele estará emitindo radiação.

Assim como qualquer medicamento é expelido pelo corpo humano, o mesmo

ocorre com o radiofármaco que será expelido naturalmente pelo suor, saliva, aperto

de mão, urina.

Um paciente utilizando um ônibus coletivo ou metrô – e isso não é

alarmismo – estará deixando rastros de radiação:

Assim, tanto para o preparo do paciente antes da realização dos

procedimentos e após a exposição do paciente, seja para fins de diagnose ou

terapia, o mesmo deve ficar isolado numa área blindada e restrita, sem poder se

movimentar, como medida de proteção radiológica.

Esse isolamento levará em consideração o tempo de decaimento do isótopo

radioativo (meia-vida), bem como a excreção do radiofármaco pelo corpo humano,

tudo para evitar que pessoas ou ambientes sejam contaminados.

É preciso salientar, que em se tratando de procedimentos em medicina

nuclear, bem como em Radioterapia, não há espaço para erros, pois um cálculo de

dose aquém do necessário, levará ao insucesso no diagnóstico ou tratamento, bem

como, uma dose além da necessária, poderá evoluir para a morte do paciente.

CNEN-NN-3.05 - “REQUISITOS DE RADIOPROTEÇÃO E SEGURANÇA

PARA SERVIÇOS DE MEDICINA NUCLEAR.”

1. OBJETIVO E CAMPO DE APLICAÇÃO

1.1 OBJETIVO

O objetivo desta Norma é estabelecer os requisitos de radioproteção e

segurança para serviços de medicina nuclear.

1.2 CAMPO DE APLICAÇÃO

Esta Norma aplica-se às atividades relativas ao uso de

radiofármacos para fins terapêuticos e diagnósticos “in vivo” no campo daMedicina Nuclear.

...

2.3 NORMAS E DOCUMENTOS COMPLEMENTARES

Page 119: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

119

O serviço de medicina nuclear (SMN) deve atender a todos os requisitos pertinentes

constantes das seguintes normas complementares:

a) CNEN-NN-3.01: “Diretrizes Básicas de Radioproteção”;

b) CNEN-NE-3.02: “Serviços de Radioproteção”;

c)CNEN-NN-3.03: “Certificação da Qualificação de Supervisores de Radioproteção”;

d) CNEN-NE-5.01: “Transporte de Materiais Radioativos”;

e) CNEN-NE-6.02: “Licenciamento de Instalações Radiativas”;

f)CNEN-NE-6.05: “Gerência de Rejeitos Radioativos em Instalações Radiativas”.

...

4. DISPOSIÇÕES GERAIS

4.1 PESSOAL

4.1.1 O serviço de medicina nuclear deve ser constituído por, no mínimo, um

médicoqualificado em Medicina Nuclear responsável pelo SMN, um supervisor de

radioproteção com qualificação certificada pela CNEN, e um ou mais técnicos de nível

superior e/ou médio qualificados para o exercício de suas funções específicas

conforme Norma CNEN-NE-3.02 “Serviços de Radioproteção” e com qualificação

certificada pela CNEN, necessários para o cumprimento dos requisitos desta Norma. O

médico qualificado em Medicina Nuclear pode acumular as funções de supervisor de

radioproteção, desde que compatibilizadas as respectivas cargas horárias.

4.2 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS DE RADIOPROTEÇÃO

O serviço de medicina nuclear deve estar equipado com, no mínimo, os seguintes

equipamentos e materiais:

a) Monitor de Taxa de Exposição ;

b) Monitor de Contaminação de Superfície;

c) Medidor de Atividade (Curiômetro);

d)Equipamentos e materiais de proteção individual (luvas, aventais, pinças, etc...);

e) Fontes padrões de referência de Co-57 e Ba-133.

4.3 DEPENDÊNCIAS INDISPENSÁVEIS AO SERVIÇO DE MEDICINA NUCLEAR

4.3.1 O serviço de medicina nuclear deve possuir as seguintes dependências:

a) sala de espera de pacientes;

b) sanitário exclusivo de pacientes;

c) local para armazenamento de rejeitos radioativos;

d) laboratório de manipulação e armazenamento de fontes em uso;

e) sala de administração de radiofármacos;

f) sala(s) de exame(s);

g) quarto para internação de paciente com dose terapêutica, com sanitário privativo, quando

forem aplicadas doses terapêuticas de Iodo-131, acima de 1,11 Gbq (30 mCi) pelo SMN.

...

5.3 MANIPULAÇÃO

5.3.1 A manipulação dos radiofármacos deve ser feita em bancada lisa, de fácil

Descontaminação, recoberta com plástico e papel absorvente.

Page 120: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

120

5.3.2 Ao término da jornada de trabalho, deve ser realizada uma monitoração das

superfícies utilizando monitor de contaminação. O mesmo procedimento deve ser feito nas

luvas e nas mãos dos trabalhadores responsáveis pela manipulação.

5.4 MONITORAÇÃO

5.4.1 Deve ser realizado um levantamento radiométrico (medida de taxa de exposição)

quinzenal nas áreas restritas.

5.4.2 Os trabalhadores devem ser monitorados de acordo com a Norma CNEN-NE-3.01

“Diretrizes Básicas de Radioproteção” e CNEN-NE-3.02 “Serviços de Radioproteção”.

6.1.2 Internação

6.1.2.1Pacientes com doses administradas cuja atividade seja superior a 1,11 Gbq(30 mCi)

de iodeto-131 devem ser internados em quartos com sanitário privativo, destinados para

esta finalidade. No caso de 2 (dois) pacientes no quarto terapêutico é obrigatório o uso de

barreira protetora entre os leitos (biombo blindado).

A norma é extensa e sua leitura deve ser feita em conjunto com as outras normas

citadas acima, bem como com as normas próprias da ANVISA e Conselho Nacional

de Saúde – CNS:

• ANVISA: RDC 50/02 - Dispõe sobre o Regulamento Técnico para

planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de

estabelecimentos assistenciais de saúde.

• ANVISA: Resolução nº 38, de 4/6/2008 - Dispõe sobre a instalação e o

funcionamento de Serviços de Medicina Nuclear "in vivo".

4.2 Recursos Humanos

4.2.1 O Serviço de Medicina Nuclear deve contar com profissionais com formação e

capacitação para desempenhar as seguintes funções:

a) Atenção direta ao paciente;

b) Preparação e administração de radiofármacos;

c) Aquisição, processamento e documentação de exames;

d) Interpretação dos exames e emissão de laudos;

e) Planejamento, realização e seguimento de procedimentos de diagnóstico ou de terapia;

f) Execução das atividades previstas no Plano de Radioproteção;

g) Execução das atividades previstas no Plano de Gerenciamento de medicamentos,

insumos farmacêuticos, produtos para saúde, produtos de higiene, saneantes, sangue e

hemocomponentes;

h) Procedimentos de limpeza e desinfecção;

i) Notificação e investigação de eventos adversos;

j) Gerenciamento de resíduos.

Page 121: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

121

• Conselho Nacional de Saúde: Resolução CNS nº 6, de 21/12/1988 que

“aprova as normas técnicas gerais de radio-proteção, que com esta

baixam, visando a defesa da saúde dos pacientes, indivíduos

profissionalmente expostos, e do público em geral”.

5.3 – RADIOTERAPIA

Por fim, analiso a Radioterapia, especialidade médica focada no tratamento

de câncer.

Aqui, a exposição será pequena, pelo fato de as muitas normas referentes à

medicina nuclear também se aplicarem à radioterapia, além de outras específicas.

Importante ressaltar que, no tratamento radioterápico, o erro de dose

significa ou o insucesso do tratamento ou a morte do paciente por doses

excessivas.

O tratamento, os cálculos e a técnica a ser empregada dependem da

colaboração de vários profissionais numa equipe, sendo que o Técnico em

Radioterapia, que será o profissional que aplicará o tratamento é responsável por

revisar todos os cálculos feitos por médicos radiologistas e físicos médicos.

ANVISA - Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 20, de 2/2/2006.

Estabelece o Regulamento Técnico para o funcionamento de serviços de

radioterapia, visando a defesa da saúde dos pacientes, dos profissionais envolvidos e do

público em geral.

...

5.2.3.1 A equipe mínima deve ser composta por:

a) Um Supervisor de Proteção Radiológica;

b) Médicos Radioterapeutas em quantitativo correspondente a três horas

trabalhadas para cada paciente novo tratado, computados no intervalo de 1 (um) ano;

c) Especialista em Física Médica de Radioterapia em quantitativo correspondente a

três horas trabalhadas para cada paciente novo tratado, computados no intervalo de 1 (um)

ano;

d) Técnicos em quantitativo correspondente a 10 (dez) horas trabalhadas para cada

50 (cinqüenta) pacientes tratados ou simuladas ao dia.

...

5.3.6 Compete aos Técnicos de Radioterapia:

a) executar o tratamento conforme determinado na prescrição escrita na ficha de

tratamento e simulação;

b) manter o paciente sob observação visual durante todo o tempo de exposição;

Page 122: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

122

c) responsabilizar-se pelos procedimentos técnicos executados no serviço;

d) zelar pelo bem estar do paciente durante o período do tratamento;

e) conhecer e aplicar as regras de segurança e proteção radiológica em

conformidade com a legislação vigente e as instruções do Supervisor de Proteção

Radiológica;

f) informar quaisquer achados anormais verificados durante o tratamento e nos

equipamentos, bem como qualquer suspeita que possa resultar em erro de administração

de dose; e

g) participar das metodologias de Gestão da Qualidade em Radioterapia.

RESOLUÇÃO CNEN N° 130, DE 31 DE MAIO DE 2012

Dispõe sobre os requisitos necessários para a segurança e a proteção radiológica

em Serviços de Radioterapia.

Art. 14 O titular do Serviço de Radioterapia é responsável pela segurança e

proteção radiológica de pacientes, equipe médica, indivíduos ocupacionalmente expostos e

indivíduos do público e deve obrigatoriamente:

...

V – designar os seguintes profissionais para compor o corpo técnico do Serviço de

Radioterapia:

a) um responsável técnico;

b) um substituto do responsável técnico;

c) um supervisor de proteção radiológica de radioterapia;

d) um substituto do supervisor de proteção radiológica de radioterapia;

e) um especialista em física médica de radioterapia; e

f) a quantidade necessária e suficiente de técnicos, seja de nível superior ou de

nível médio, qualificados para o exercício de suas funções específicas.

...

X – garantir que, no Serviço de Radioterapia:

a) seja cumprido o plano de proteção radiológica aprovado pela CNEN;

b) somente pessoal treinado e autorizado opere e manipule as fontes de radiação;

...

Art. 24 Os indivíduos ocupacionalmente expostos, cuja definição consta na Norma

CNEN-NN-3.01, de um Serviço de Radioterapia devem:

I – executar suas atividades em conformidade com os requisitos e exigências dos

regulamentos de proteção radiológica estabelecidos pelo titular do Serviço de Radioterapia;

II – conhecer e aplicar as regras de segurança e proteção radiológica em

conformidade com a legislação vigente e as instruções do supervisor de proteção

radiológica;

III – aplicar ações apropriadas para assegurar a proteção e segurança dos

pacientes;

Page 123: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

123

IV – participar dos programas de treinamento oferecidos pelo Serviço de

Radioterapia;

V – participar das atividades de garantia da qualidade em radioterapia;

VI – informar ao supervisor de proteção radiológica qualquer evento que possa

influir nos níveis de exposição ou do risco de ocorrência de acidente; e

VII – notificar o titular, o responsável técnico e o supervisor de proteção radiológica

em radioterapia sobre todos os itens que não estejam de acordo com as normas e

Resoluções da CNEN.

Novamente, ressalvo-me o direito de solicitar opiniões de especialistas da

área, no eventual seguimento de uma demanda.

Resta ressaltar que, da leitura das normas transcritas acima, pode-se notar a

incidência direta das matérias referentes aos cálculos de doses, como física das

radiações, operação dos equipamentos e cuidados com o paciente, matérias essas

que fazem parte do itinerário de formação do profissional das Técnicas

Radiológicas e que inexistem nos cursos de Biomedicina.

5.4 – PROTEÇÃO RADIOLÓGICA

Portaria/MS/SVS nº 453, de 01 de junho de 1998

(...)

3.36 Para desempenhar as atividades de técnico

de raios-x diagnósticos é necessário:

(...)

a) Possuir formação de técnico em radiologia na

área específica de radiodiagnóstico.

A proteção Radiológica é, talvez, o aspecto mais importante, para o

profissional que atua na área das radiações ionizantes. É garantia não só do

atendimento aos preceitos de Justificação, Otimização e Limitação de Doses, que

se traduzem na mais baixa exposição exequível para a realização do

procedimento, seja diagnóstico ou terapêutico e, também para garantir a segurança

de todos os agentes envolvidos: equipe médica, enfermeiros, pacientes, público em

geral e a si próprio, operador.

O assunto adquire tal importância, que a proteção radiológica está presente

em praticamente todas as leis, decretos, normas, portarias e posições regulatórias

citadas nesse trabalho.

Page 124: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

124

O diploma que dita as Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica é a Norma

CNEN-NN-3.01, sem prejuízo das demais normativas a respeito.

DIRETRIZES BÁSICAS DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA

1. OBJETIVO E CAMPO DE APLICAÇÃO

1.1 OBJETIVO

O objetivo desta Norma é estabelecer os requisitos básicos de proteção radiológica

das pessoas em relação à exposição à radiação ionizante.

1.2 CAMPO DE APLICAÇÃO

1.2.1 Esta Norma se aplica as práticas, incluindo todas as fontes associadas a

essas práticas, bem como a intervenções.

1.2.2 As práticas para as quais esta Norma se aplica incluem:

a) o manuseio, a produção, a posse e a utilização de fontes, bem como o

transporte, o armazenamento e a deposição de materiais radioativos, abrangendo todas as

atividades relacionadas que envolvam ou possam envolver exposição à radiação;

b) aquelas que envolvam exposição a fontes naturais cujo controle seja considerado

necessário pela CNEN.

1.2.3 Os requisitos desta Norma se aplicam às exposições ocupacionais,

exposições médicas e exposições do público, em situações de exposições normais ou

exposições potenciais.

Dessa pequena parte introdutória, pode-se extrair a extrema preocupação

com a exposição.

Repito que o intuito desse trabalho não é ser alarmista, pois entendemos

que o uso das radiações faz parte dos recursos tecnológicos que o ser humano tem

à sua disposição e, se usado com sabedoria e cuidado, traz benefícios.

Um dos cuidados que afirmei ao longo de todo esse documento, é a

necessária e devida qualificação do profissional, para que se garanta a proteção

radiológica.

O contrário, ou seja, um leigo inabilitado ou um habilitado sem ética, ou pior,

um “prático”, poderá causar danos imensuráveis à coletividade:

Seguem alguns exemplos:

(...)

A United States Radium Corporation era uma empresa, mais

conhecida por suas operações entre os anos 1917-1926 em Orange, New

Jersey, nos Estados Unidos que levou a leis mais fortes de proteção ao

trabalhador. Após o sucesso inicial no desenvolvimento de uma “pintura

Page 125: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

125

radioativa que brilha no escuro”, a empresa foi sujeita a diversos processos

no final de 1920, na sequência de doenças graves e mortes de

trabalhadoras (Radium Girls) que ingeriram material radioativo quando

lambiam seus pincéis para pintar as linhas finas e outros detalhes sobre os

mostradores dos relógios e outros instrumentos. As trabalhadoras foram

informadas de que a pintura era inofensiva.

(...)

A tinta luminescente usada pelas mulheres, um produto chamado

“Undark”, tinha o rádio como seu ingrediente principal. As trabalhadoras

haviam sido instruídas a "apontar" os pincéis lambendo-os com suas

bocas. Sem o conhecimento das mulheres, o produto era altamente

radioativo e, portanto, carcinogênico. A ingestão da tinta pelas mulheres

enquanto lambiam os pincéis, resultou em uma condição chamada de

“radium jaw”, um inchaço doloroso e porosidade dos ossos maxilares

superiores e inferiores, e, finalmente, levou à morte de muitas dessas

mulheres.

(...)

(tradução: http://en.wikipedia.org/wiki/United_States_Radium_Corporation)

Para se divertir, algumas das mulheres ainda pintavam as unhas e os dentes

com a tinta de vez em quando, para surpreender seus namorados quando as luzes

se apagavam...

“Francisco Rojas era operador de gamagrafia. As gamagrafias

industriais são um método de ensaio não destrutivo (END) para verificar a

integridade de estruturas.

Francisco Trabalhava cerca de doze horas diárias, inspecionando a

qualidade de soldas através de uma fonte radioativa. No dia 15 de

dezembro de 2005, sem se dar conta, deixou cair uma cápsula de Irídio-

192, elemento altamente radioativo. A cápsula tinha o tamanho de uma

ponta de lápis e NUNCA foi mostrada aos trabalhadores, que sequer

sabiam de suas propriedades e perigo de contaminação.

Outro trabalhador do Local Miguel Angel Fuentes Oyarte, encontrou

a pequena cápsula e impressionado com seu brilho, guardou-a no bolso

traseiro de sua calça.

Page 126: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

126

Contaminou cerca de duzentas pessoas.

Miguel teve várias queimaduras e teve que fazer enxertos de pele

em tratamento na França. Francisco Rojas já perdeu dois ossos em um de

seus pés.

Miguel Fuentes foi comunicado que não pode ter filhos, pois os

mesmos poderiam nascer disformes devido à sua exposição à radiação

Muitos deles ficaram com seqüelas que não lhes permitem continuar

uma vida normal.

Este é o caso de José Muñoz, que era presidente do Sindicato dos

Trabalhadores da Montagem Industrial (Sitramich) e foi internado devido a

um acidente vascular cerebral. "Um ano atrás eu não tinha nada. Eles não

sabem se devem ou não operar porque tem muitos aneurismas", diz

Miriam, sua esposa.

Munoz, entretanto, disse que a empresa divulgou uma lista de 34

pessoas que sofreram os estragos da radiação, mas "foi para atender, para

entregar uma imagem que um grupo em particular tem sido verificado (têm

sido atendidos).

“A maioria, inclusive eu, nunca foram submetidos a testes”, embora

em várias ocasiões, foi convidado para a prova. "Eu não tenho certeza se o

que estou passando pode ser atribuída à exposição, mas os danos eu

encontrei em outros amigos, porque os seus corpos têm mostrado o que

aconteceu no acidente."

"Benny", como dizem seus amigos, foi desligado da empresa

"quando me viram organizando o grupo.

Aqueles que apresentavam demandas foram incluídos em listas

negras..."

(Adaptação de notícias em sites chilenos: cópia anexa)

http://www.lanacion.cl/prontus_noticias/site/artic/20060424/pags/20060424190717.html

“Foram necessários apenas dois anos de trabalho para que fossem

detectadas na técnica em radiologia Adma Milanez três tumores: um no

joelho, um no abdome e um no palato (cavidade bucal).

Ela não parou de trabalhar, mas, em 83, oito anos depois de

detectados os seus problemas, foi afastada. "O serviço público não oferece

condições de trabalho. E, depois de afastada, com todas essas doenças,

Page 127: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

127

ainda não recebo nem o salário a que tenho direito." Segundo ela, um

biombo de madeira deixava os técnicos completamente expostos à

radiação no hospital que trabalhava. Os aventais de chumbo, também

usados para proteger o organismo dos raios X, não eram suficientes para

todos os funcionários, afirma.

Delma Muraro, 62, técnica de radiologia, começou a trabalhar na

área em 75. Foi afastada duas vezes por ter alta taxa de radiação no

organismo. Um mês depois de ser demitida, descobriu um câncer. Ela diz

que, às vezes, não dá para se proteger. "Na urgência, não dá para vestir

nem o avental. Tem de correr para salvar os pacientes, e quem acaba

doente somos nós.” (com grifos)

Fonte: (http://www2.uol.com.br/JC/_1998/2203/br2203d.htm)

“Hospital apura morte de menina queimada em radioterapia no Rio.

Maria Eduarda se tratava de leucemia grave no Centro San Pelegrino. Em

nota, hospital diz que não tem ingerência em equipamentos.”

“O Hospital Venerável Ordem Terceira de São Francisco da

Penitência, na Tijuca, Zona Norte do Rio, informou, neste sábado (2), que

instaurou um procedimento administrativo interno para apurar a morte de

Maria Eduarda, de 7 anos, vítima de queimaduras graves durante sessões

de radioterapia no Centro Radioterápico San Peregrino, que funciona

dentro do hospital. A criança morreu na quarta-feira (30).

Em nota, o hospital ressaltou que não possui “qualquer relação de

ingerência com o Centro escolhido pela família, para a realização do

tratamento de Maria Eduarda, seja com a manutenção dos equipamentos,

a dosagem e o modo como são ministrados os medicamentos, menos

ainda com a maneira com que os profissionais realizam os tratamentos”.

A menina tinha uma forma rara de leucemia, diagnosticada em 2010.

Segundo os pais, Maria Eduarda começou a fazer as sessões de

quimioterapia logo após o diagnóstico. Mas os médicos informaram que

seria necessário complementar o tratamento com radioterapia.

As sessões foram feitas no centro radioterápico em outubro do ano

passado. A família percebeu que a pele da menina escureceu, mas

Page 128: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

128

segundo o pai de Maria Eduarda, a médica responsável pelo tratamento

disse que era um dos efeitos colaterais.

“Quando começaram a se manifestar as lesões na cabeça no couro

cabeludo, ainda estava no início e eu ainda levei foto, expliquei a ela que

não era normal. Inclusive os médicos nunca viram coisa igual”, disse o pai

de Maria Eduarda, Ronaldo Rodrigues Rosa.

As sessões continuaram e a menina começou a apresentar

queimaduras na orelha, na cabeça e danos cerebrais, que levaram a

dificuldades para falar e andar.

Os pais de Maria Eduarda a levaram ao hospital para fazer

curativos. Segundo a equipe médica que atendeu a menina, ela

desenvolveu a Síndrome Cutânea da Radiação, que acontece quando o

paciente é exposto a radioterapia. No caso da menina, ela apresentou o

grau mais profundo do problema. O lobo direito frontal do cérebro foi

afetado. Esta parte é responsável, entre outras funções, pelo

comportamento e capacidade de locomoção.

O pai entrou com uma ação na 4ª Vara Cível de Bangu, na Zona

Oeste. O juiz responsável pelo caso nomeou um médico do Instituto

Nacional do Câncer (Inca) para fazer uma perícia no equipamento de

radioterapia usado na menina durante as sessões.

De acordo com o laudo, a máquina não tinha nenhum defeito na

regulagem. Mas o perito não pode analisar a dose ministrada na paciente,

porque as informações ficam na ficha de tratamento. As fichas que já

tinham sido enviadas para o advogado de defesa do centro radioterápico.

O perito concluiu que o protocolo de atendimento foi seguido, mas

não descartou a possibilidade de ter havido erro humano no cálculo ou na

aplicação da dose durante o tratamento.

Segundo a família de Maria Eduarda, o centro radioterápico propôs

um acordo para resolver a questão. Mas eles preferiram o levar o caso

adiante e esperam que os culpados sejam punidos.

Homicídio culposo

O caso está na 19ª DP (Tijuca), de acordo com a polícia, a física

Lídia Cristina Salzberg e os técnicos Hosana Pereira Cirino e Richardson

Magno Medeiros de Moura responder homicídio culposo. O caso foi

encaminhado à Justiça.

Page 129: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

129

Lídia é a física que calculou a quantidade das sessões de

radioterapia, e os outros dois são as pessoas que operavam a máquina de

radioterapia.

O Centro Radioterápico San Peregrino foi interditado no dia 17 de

fevereiro e continua interditado. Em nota, a Clínica San Peregrino disse

que, assim que as causas das lesões foram identificadas, começou a

prestar tratamento especializado. Ainda determinou a seus médicos e

advogados que se prontificassem a oferecer toda a ajuda necessária e

solicitada pelos pais da menina.

Sobre os funcionários que vão responder por homicídio culposo, a

clínica disse que espera o pronunciamento das autoridades para definir a

condução do caso.” (cópia em anexo).

Não temos a informação se as pessoas que operavam o equipamento de

radioterapia eram Técnicos ou não, pois, s.m.j., o caso está correndo sob segredo

de justiça. Porém, isso não muda o fato de que pessoas, ainda que habilitadas,

porém sem ética, ou pior, sem qualificação alguma, não podem trabalhar com

assunto tão sério em que, o erro pode significar a morte.

Por último, sempre necessário lembrar que o Brasil detém a triste marca da

ocorrência do maior acidente radioativo da história, o episódio do Césio-137, em

Goiás, de triste memória.

5.5 – CONCLUSÃO

A pretensão ao concluir esse item é estabelecer que, nas várias

modalidades de diagnóstico e tratamento envolvendo a operação de fontes

emissoras de radiação ionizante, existe a obrigatoriedade de matérias pertinentes à

atividade, matérias essas que, de acordo com as grades curriculares anexas fazem

parte definitivamente do itinerário de formação profissional do Técnico e do

Tecnólogo em Radiologia, sendo que tais matérias não fazem parte do itinerário de

formação profissional do Biomédico.

Ainda que se arvore que o Biomédico, nas atividades que envolvem a

operação de fontes emissoras de radiação ionizante, fez especialização, tal

argumento não merece prosperar, pois como já delineado no item 3.2.3, último

Page 130: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

130

parágrafo, a legislação pátria condiciona a realização de especializações na área

da radiologia à habilitação em curso paradigma de 1.200 horas acrescidas de 600

horas de estágio, ou seja, a formação mínima exigida pela Lei.

Ainda, essa “especialização” pode ser dada na forma de estágio na área de

imaginologia. É de suma importância estabelecer que o estágio supervisionado

obrigatório nos cursos de Técnico de Radiologia, de nível médio e de Tecnologia

em Radiologia, de nível superior, não é matéria e sim, aplicação prática das

atividades aprendidas em teoria.

Reafirmando o que foi dito no item referente à formação de ambos os

profissionais, o Biomédico que se encontra atualmente exercendo as atividades

que envolvem a operação de fontes emissoras de radiação ionizante, nada mais é

do que um “prático”, figura definitivamente refutada de nosso ordenamento jurídico,

dada a complexidade e especificidades das diversas atividades na área da saúde.

6 – DA AFRONTA AOS PRINCÍPIOS LEGAIS E DA CONTROVÉRSIA

JURÍDICA

Os Biomédicos ao se imiscuírem na área das Técnicas Radiológicas, além

da previsão da Lei 6.684/79, que contempla os verbetes radiografia e

radiodiagnóstico, sustentam-se em resolução própria do Conselho Federal de

Biomedicina:

CONSELHO FEDERAL DE BIOMEDICINA

RESOLUÇÃO Nº 78, DE 29 DE ABRIL DE 2002

Dispõe sobre o Ato Profissional Biomédico, fixa o campo de atividade do Biomédico

e cria normas de Responsabilidade Técnica.

...

Art. 1º - Fixar o campo de atuação das atividades do Biomédico.

§ 1º - O Biomédico, poderá, desde que comprovado a realização de Estágio com

duração igual ou superior a 500 (quinhentas) horas, em instituições oficiais ou particulares,

reconhecidas pelo órgão competente do Ministério da Educação ou em laboratório

conveniado com Instituições de nível superior ou cursos de especialização ou pós-

graduação, reconhecidos pelo MEC, possuir as seguintes Habilitações:

1-Patologia Clínica (Análises Clínicas)/ 2- Biofísica/ 3- Parasitologia/ 4-

Microbiologia/ 5- Imunologia/ 6- Hematologia/ 7- Bioquímica/ 8- Banco de Sangue/ 9-

Virologia/ 10- Fisiologia/ 11-Fisiologia Geral/ 12- Fisiologia Humana/ 13- Saúde Pública/ 14-

Radiologia/ 15- Imaginologia (excluindo interpretação)/ 16- Análises Bromatológicas/ 17-

Page 131: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

131

Microbiologia de Alimentos/ 18- Histologia Humana/19- Patologia/ 20- Citologia Oncológica/

21- Análise Ambiental/ 22- Acupuntura/ 23- Genética/ 24- Embriologia/ 25- Reprodução

Humana/ 26- Biologia Molecular.

...

Art. 6º - Normatiza-se o artigo 4º, inciso III do Decreto nº 88.439/83, no tocante aos

biomédicos que atuarem, sob supervisão médica, em serviços de radiodiagnóstico e

radioterapia, pela presente resolução.

§ 1º - Considera-se como atividades em Radiodiagnóstico, os profissionais que

atuarem, sob supervisão médica, na operação de equipamentos e sistemas médicos de

diagnóstico por imagem, nas seguintes modalidades:

I - Tomografia Computadorizada;

II - Ressonância Magnética;

III-Ultra-sonografia;

IV - Radiologia Vascular e Intervencionista;

V - Radiologia Pediátrica;

VI - Mamografia;

VII - Densitometria Óssea;

VIII - Neuroradiologia;

IX - Medicina Nuclear;

X - Outras modalidades que possam complementar esta área de atuação.

§ 2º - Poderão exercer as atividades descritas acima, os profissionais legalmente

habilitados em Radiologia, Imagenologia, Biofísica e/ou Instrumentação Médica.

§ 3º - Considera-se como atividade em Radioterapia, os profissionais que atuarem,

sob supervisão médica, na operação de equipamentos de diferentes fontes de energia, para

tratamentos que utilizam radiações ionizantes.

Afora o fato da resolução supra abranger as terapias com uso de fontes

emissoras de radiação ionizante, atividade que não consta nem mesmo em sua lei

– que entendemos revogada em relação aos verbetes radiografia e

radiodiagnóstico - causa espécie a pretensão de inovar no ordenamento jurídico

estabelecendo competências que a Lei não lhes dá, como por exemplo, a

ultrassonografia, método dinâmico de análise por imagem que é competência

privativa do médico.

Não é nova essa prática.

A resolução citada foi reformulada, revogando outras resoluções, que não

previam a atuação do Biomédico na Radiologia:

CONSELHO FEDERAL DE BIOMEDICINA

RESOLUÇÃO Nº 0001/86

REVOGADA PELA RESOLUÇÃO 78, DE 29/04/2002

Page 132: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

132

O Presidente do Conselho Federal de Biomedicina, no uso de suas atribuições

legais e regulamentares,

CONSIDERANDO a conveniência de fixar o alcance dos dispositivos legais em

vigor, máxime o Parecer nº 107/70 a Resolução nº 3, de 4 de agosto de 1982 do Conselho

Federal de Educação ao Decreto 88.439 de 2/junho/83;

CONSIDERANDO as distorções que estão ocorrendo, no que respeita a

competência técnica do Biomédico;

CONSIDERANDO, finalmente, a necessidade de explicitar, de forma clara e precisa,

as atribuições do Biomédico,

RESOLVE:

I. Fixar a competência do Biomédico nas áreas de:

a) Análises Clinicas (realizar análises, assumir a responsabilidade técnica e firmar

os respectivos laudos);

b) Banco de Sangue (realizar todas as tarefas, com exclusão, apenas, de

transfusão);

c) Análises ambientais (realizar análises físico-químicas e microbiológicas para o

saneamento do meio ambiente);

d) Indústrias (Indústrias químicas e biológicas): soros, vacinas, reagentes, etc;

e) Citologia oncótica (citologia esfoliativa);

f) Análises bromatológicas (realizar análises para aferição de qualidade dos

alimentos).

II. O exercício das atribuições acima indicadas, poderá o Biomédico assumir a

responsabilidade técnica, quer de Laboratórios, quer de industrias, firmando os respectivos

laudos ou pareceres.

III. Para o reconhecimento dessas habilitações, além da comprovação em currículo,

deverá o profissional comprovar realização de estágio mínimo de seis (6) meses, em

instituições oficiais ou particulares, em laboratórios de instituições oficiais ou particulares,

reconhecidas pelo CFE, ou em laboratórios conveniados com Universidades ou Faculdades.

IV. Para o exercício de quaisquer das atividades referidas, torna se indispensável a

previa inscrição do Biomédico neste Conselho.

V. Revogam se as disposições em contrário.

Brasília, 03 de Fevereiro de 1986.

JOAO EDSON SABBAG

Presidente

CONSELHO FEDERAL DE BIOMEDICINA

RESOLUÇÃO C.F.B.M. Nº 0004/86

REVOGADA PELA RESOLUÇÃO 78, DE 29/04/2002

O Presidente do Conselho Federal de Biomedicina, no uso de suas atribuições

legais e regulamentares,

CONSIDERANDO a conveniência de adequar a Resolução nº 0001/86 às

exigências de mercado;

Page 133: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

133

CONSIDERAND0 a necessidade de se estabelecer, de forma clara e precisa, as

atribuições do Biomédico;

RESOLVE:

Art. 1º A Resolução nº 0001/86 passa a vigorar com a seguinte redação:

I. fixar a competência do Biomédico nas áreas de:

a. Análises Clínicas (realizar análises, assumir a responsabilidade técnica e firmar

os respectivos laudos);

b. Banco de Sangue (realizar todas as tarefas, com exclusão, apenas, de

transfusão).

c. Análise Ambiental (realizar análises físico-químico e microbiológica para o

saneamento do meio ambiente).

d. Industrias (industrias químicas e biológicas. (soros, vacinas, reagentes, etc...).

e. Comércio (assumir a responsabilidade técnica para as Empresas que

comercializam produtos, excluídos os farmacêuticos, para laboratórios de análises clinicas),

tais como: produtos de diagnóstico, químico, reagentes, bacteriológicos, instrumentos

científicos, etc...).

f. Citologia oncótica (citologia esfoliativa).

g. Análises bromatológicas (realizar análises para aferição de alimentos).

II. No exercício das atribuições acima indicadas, poderá o Biomédico assumir a

responsabilidade técnica, quer de Laboratórios, quer de industrias, quer de comércio,

firmando os respectivos laudos ou pareceres.

III. Para o reconhecimento dessas habilitações, além da comprovarão em currículo,

deverá o profissional comprovar realização de estágio mínimo de seis (6) meses, em

instituições oficiais, ou particulares, reconhecidas pelo CFE, ou em laboratórios conveniados

com Universidades ou Faculdades.

IV. Para o exercício de quaisquer das atividades referidas, torna se indispensável a

prévia inscrição do Biomédico neste Conselho.

Art. 2º Esta resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as

disposições em contrário.

Brasília, 01 de outubro de 1986.

JOAO EDSON SABBAG

Presidente

Como se vê, a inclusão das atividades atinentes à operação, uso e

manuseio de fontes emissoras de radiação ionizante, foi incluída de forma ladina.

Dessa forma, a Resolução 78 do CFBM é totalmente ilegal, pois, o CFBM

pretendeu criar direito não existente na lei, merecendo, portanto, sua anulação:

SÚMULA Nº 473 - STF

Page 134: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

134

A ADMINISTRAÇÃO PODE ANULAR SEUS PRÓPRIOS ATOS, QUANDO

EIVADOS DE VÍCIOS QUE OS TORNAM ILEGAIS, PORQUE DELES NÃO SE ORIGINAM

DIREITOS; OU REVOGÁ-LOS, POR MOTIVO DE CONVENIÊNCIA OU OPORTUNIDADE,

RESPEITADOS OS DIREITOS ADQUIRIDOS, E RESSALVADA, EM TODOS OS CASOS,

A APRECIAÇÃO JUDICIAL.

Dessa análise, dada a ilegalidade e ineficácia do ato, têm-se a afronta a

Carta Magna, pelo disposto no Art. 37, caput, da CF/88, que impõe à Administração

Pública a observância ao Princípio da Legalidade, bem como aos ditames do Art.

5º, II, contrariando também o princípio da reserva legal.

Tais conclusões são corroboradas pelo inciso XIII do mesmo Art. 5º, norma

de eficácia contida, que estabelece a liberdade do exercício de qualquer trabalho

ofício ou profissão atendidas as especificidades profissionais fixadas em lei.

Para referendar essas assertivas, temos a doutrina e jurisprudência que vão

de encontro; vejamos:

“Poder regulamentar, portanto, é a prerrogativa conferida à Administração Pública

de editar atos gerais para complementar leis e permitir a sua efetiva aplicação. A

prerrogativa, registre-se, é apenas para complementar a lei; não pode , pois, a

Administração alterá-la a pretexto de estar regulamentando. Se o fizer cometerá abuso de

poder regulamentar, invadindo a competência do Legislativo. Por essa razão o art. 49, V, da

CF, autoriza o Congresso Nacional a sustar atos normativos que extrapolem os limites do

poder de regulamentação.

(...)

Sob o enfoque de que os atos podem ser originários ou derivados, o poder

regulamentar é de natureza derivada (ou secundária): somente é exercido à luz de lei

preexistente. (...)

Nesse aspecto, é importante observar que só se considera poder regulamentar

típico a atuação administrativa de complementação de leis, ou atos análogos a elas. Daí seu

caráter derivado. (...)

Há também atos normativos que, editados por outras autoridades administrativas,

podem caracterizar-se como inseridos no poder regulamentar. É o caso de instruções

normativas, resoluções, portarias, etc. (...)

Por esse motivo é que, considerando nosso sistema de hierarquia normativa,

podemos dizer que existem graus diversos de regulamentação conforme o patamar em que

se aloje o ato regulamentador. Os decretos e regulamentos podem ser considerados como

atos de regulamentação de primeiro grau; outos atos que a eles se subordinem e que, por

sua vez, os regulamentem, evidentemente com maior detalhamento, podem ser qualificados

como atos de regulamentação de segundo grau, e assim por diante.

(...)

Page 135: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

135

O poder regulamentar é subjacente à lei e pressupõe a existência desta. É com

esse enfoque que a Constituição autorizou o Chefe do Executivo a expedir decretos e

regulamentos: viabilizar a efetiva execução das leis (art. 84, IV).

Por essa razão, ao poder regulamentar não cabe contrariar a lei (contra legem),

pena de sofrer invalidação. Seu exercício somente pode dar-se secundum legem, ou seja,

em conformidade com o conteúdo da lei e nos limites que esta impuser. Decorre daí que

não podem os atos formalizadores criar direitos e obrigações, porque tal é vedado num dos

postulados fundamentais que norteiam nosso sistema jurídico: ‘ninguém será obrigado a

fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei’ (art. 5º, II, CF).

(...)

Por via de consequência, não podem considera-se legítimos os atos de mera

regulamentação, seja qual for o nível da autoridade de onde tenha se originado, que, a

pretexto de estabelecerem normas de complementação da lei, criam direitos e impõem

obrigações aos indivíduos. Haverá, nessa hipótese, indevida interferência de agentes

administrativos no âmbito da função legislativa, com flagrante ofensa ao princípio da

separação de Poderes insculpido no art. 2º da CF. Por isso, de inegável acerto a afirmação

de que só por lei se regula liberdade e propriedade; só por lei se impõem obrigações de

fazer ou não fazer, e só para cumprir dispositivos legais é que o Executivo pode expedir

decretos e regulamentos, de modo que são inconstitucionais regulamentos produzidos em

forma de delegações disfarçadas oriundas de leis que meramente transferem ao Executivo

a função de disciplinar o exercício da liberdade e da propriedade das pessoas.”

(CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de

Janeiro, 2010: ed. Lumen Juris, 23ª edição, p. 60-64. Trechos sublinhados encontram-se

grifados no original).

Na jurisprudência, confira-se o decisum do eg. Superior Tribunal de Justiça:

“ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 105, INCISO III, "A", DA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA,

ARQUITETURA E AGRONOMIA – CREA. TÉCNICOS AGRÍCOLAS DE 2º GRAU.

ANOTAÇÕES DE ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS EM CARTEIRA.

OBRIGATORIEDADE.

LEI N. 5.524/68. DECRETO-LEI N. 90.922/85.

(...omissis...)

Conforme o princípio constitucional da hierarquia das leis e dos atos normativos, é

inadmissível que uma disposição de hierarquia inferior, como a Resolução n. 278/83 do

CONFEA, fixe uma exigência não existente em lei (in casu, na Lei n. 5.524/68 e no Decreto

n. 90.922/85), restringindo sua abrangência e criando limitações ao exercício profissional

dos técnicos agrícolas de 2º grau.

Recurso especial provido.

(STJ – REsp 247.330/RS, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, SEGUNDA TURMA,

julgado em 16/04/2002, DJ 01/07/2002, p. 281. Grifo nosso).

Page 136: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

136

Quer nos parecer que, em razão talvez de dificuldades na colocação no

mercado de trabalho, os Biomédicos – entendendo-se aqui seus órgãos

representativos – tentam suplantar essa dificuldade, imiscuindo-se em atividades

que não são o escopo de sua formação.

O Conselho Federal de Biomedicina é pródigo em estabelecer resoluções

que conflitam com as atividades médicas, de fisioterapeutas, químicos e outras

profissões, ao arvorar-se detentor de formação – pasmem – para atuar até em

acupuntura e estética.

Não será dessa forma que se resolverá um problema de mercado de

trabalho, dado que é um problema que atinge todas as profissões.

Os profissionais Biomédicos não precisam disso. Sua formação lhes garante

áreas vitais na medicina e que garantem progresso profissional e se situam nas

tecnologias de ponta em medicina e pesquisa, tais como, citologia oncótica,

reprodução humana e análises clínico-laboratoriais, podendo, inclusive, assumir

responsabilidade técnica e emitir laudos.

Mas ao pretender, especificamente, assumir as operações envolvendo

operação e manuseio de fontes emissoras de radiação ionizante, temos que

lembrar que estamos lidando com vidas humanas que serão expostas à radiação

ionizante, que, é sempre bom lembrar, não se vê, mas pode matar.

6.1– A CONTROVÉRSIA JURÍDICA

Atualmente, no âmbito do Estado de São Paulo, o Conselho Regional de

Técnicos em Radiologia está impedido de exercer suas atividades de fiscalização

em relação aos Biomédicos, por força de liminar.

As informações abaixo são do departamento jurídico do CRTR – 5ª região.

“Na Ação Ordinária nº 2007.61.00.008136-6 movida pelo Sindicato dos

Biomédicos Profissionais do Estado de São Paulo - SINBIESP em face do

CRTR/SP, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, através do Desembargador

Federal Nery Junior, relator da demanda em 2º grau de jurisdição, proferiu

entendimento de que não poderia esse CRTR obrigar os Biomédicos a

inscreverem-se nos seus quadros e em conseqüência vir a exercer seu poder de

fiscalização ou autuação de seus profissionais.

Page 137: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

137

No tocante a tal decisão, o CRTR/SP já se manifestou nas vias judiciais

cabíveis quanto a necessidade de esclarecimento do cerne da questão quanto a

habilitação dos profissionais Biomédicos num primeiro momento para o exercício

das Técnicas Radiológicas.

Isto porque, nessa ação, o voto-vista proferido pelo Desembargador Carlos

Muta deixa claro os itens importantes do debate:

“Evidente, portanto, que a técnica da radiologia, por ser distinta da técnica própria das

análises físico-químicas e microbiológicas, exige formação acadêmica específica, ainda que

dentro do curso de biomedicina, para justificar que seja a atribuição exercida em

concorrência com o técnico especificamente formado em tal especialidade.

Certo, pois, que, embora tenha o técnico em radiologia toda a sua formação dedicada a tal

especialidade, tal circunstância, nos termos da Lei nº 6.684/79, não exclui a atuação

profissional concorrente do biomédico, desde que este possua, igualmente, uma formação

efetiva na especialidade radiológica, de acordo com o currículo de sua formação acadêmica.

Tal exigência da lei é de todo justificada, pois destina-se a proteger não apenas o

profissional, o paciente e usuário, como a própria qualidade do serviço prestado, cuja

função é propiciar a elaboração de um exame tecnicamente apurado, capaz de fornecer

elementos de informação para o diagnóstico médico.

Note-se que, na espécie, consta dos autos que dois dos biomédicos, cujo registro no

Conselho Regional de Biomedicina foram juntados, têm como especialidade profissional

a patologia clínica - análises clínicas (f. 45 e 48), com habilitação, portanto, para análises

clínicas e laboratoriais de material ou fluídos orgânicos (sangue, urina, fezes, líquido

sinovial, ascítico, seminal etc.), e não para serviços de radiologia ou radiodiagnóstico

supervisionado.

Em tais casos, não havendo autuação do Conselho Regional de Biomedicina, a fiscalização

e autuação pelo Conselho Regional de Técnicos em Radiologia afigura-se possível, em

caráter suplementar.

Não evidencio, portanto, o direito nos termos amplos em que restou pleiteado e reconhecido

pela sentença e pelo relator, pois somente os biomédicos cujo currículo acadêmico,

efetivamente realizado, defina a especialidade na área de radiologia, podem exercer as

atribuições dos incisos II e III do artigo 5º da Lei nº 6.684/79. Não provado o cumprimento

da condição legal, o exercício de tais atribuições profissionais não é legalmente válido e,

portanto, pertinente cogitar-se de exercício ilegal da profissão, em detrimento dos técnicos

em radiologia, daí a possibilidade da fiscalização e autuação pelo Conselho Regional de

Técnicos em Radiologia.

Note-se que os biomédicos com especialização em radiologia ficam sujeitos a registro,

exclusivamente, no Conselho Regional de Biomedicina. Cabe observar que, embora a

competência para a fiscalização do exercício profissional dos biomédicos seja, portanto,

inerente ao mesmo órgão, sua eventual omissão no controle e verificação da existência da

especialidade radiológica na formação do profissional biomédico, que esteja a exercer as

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138

atribuições dos incisos II e III do artigo 5º da Lei nº 6.684/79, legitima a fiscalização

complementar através do Conselho Regional de Técnicos em Radiologia, pois a prestação

de serviços de tal natureza, por biomédicos não-especializados, acarreta evidente risco

social e, ainda, ao exercício profissional cuja fiscalização compete a este último órgão de

controle.

Em conclusão, cabe reconhecer o direito à prestação dos serviços de radiografia, excluída a

interpretação, e de radiodiagnóstico sob supervisão médica, por biomédicos com formação

e currículo efetivamente realizado com a definição da especialidade em radiologia (artigo 5º,

incisos II, III e parágrafo único, da Lei nº 6.684/79), sujeitando-se a atividade profissional a

registro e fiscalização pelo Conselho Regional de Biomedicina e, apenas de forma

suplementar, diante da eventual omissão no controle da existência da especialidade na

formação, pelo Conselho Regional de Técnicos em Radiologia.”

E o d. Desembargador Carlos Muta ainda concluiu que:

“(...)considerei que o exercício ilegal da profissão, por biomédico sem autorização legal

para procedimentos radiológicos, por invadir a esfera de atuação profissional dos técnicos

em radiologia, legitima o interesse do respectivo conselho em fiscalizar e punir os

eventuais infratores, se o próprio Conselho Regional de Biomedicina não o fizesse, por

omissão e desinteresse em proteger a atividade dos profissionais vinculados a outro

conselho, o de técnicos em radiologia.

Ademais, não se trata aqui de interesse puramente relacionado à proteção do campo de

atividade profissional, mas de zelar pela vida e saúde pública, na medida em que a

manipulação de procedimentos de risco, como os exames a partir de técnicas envolvendo

elementos radioativos, suscita a necessidade de proteção dos respectivos usuários-

pacientes.

Poder-se-ia argumentar que tal fiscalização caberia à Vigilância Sanitária ou outro órgão

qualquer. Todavia, o exercício ilegal da profissão não deixaria de existir e ser passível de

fiscalização pelo conselho atingido pela atividade irregular no campo de atuação

profissional. O sistema estaria, a bem do interesse público, com um melhor aparelhamento

para proteger bens jurídicos (vida e saúde, por exemplo) que, por certo, transcendem os

interesses econômicos ou profissionais de categorias ou classes laborais.

A legislação profissional contêm incongruências, que ao intérprete cabe solucionar em prol

do interesse indisponível da coletividade. Uma solução formalmente válida, mas que não

ofereça a proteção jurídica a bens da mais relevante expressão, não me parece

substancialmente válida. Convirjo para considerar como preponderante o que a legislação

têm de essencial, considerando a própria finalidade para a qual instituída: a de conferir

segurança e proteção, não apenas jurídica, mas existencial, biológica (vida e saúde), às

pessoas sem distinção, quando buscam a prestação de serviço em áreas que exijam

capacitação profissional específica.

Se a fiscalização supletiva, somente na omissão do Conselho Regional de Biomedicina, a

ser exercida pelo Conselho Regional de Técnicos em Radiologia, for um desestímulo, por

Page 139: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

139

menor que seja, para o exercício ilegal da profissão e atividades, para as quais se exija,

legalmente, habilitação específica, assim protegendo os usuários e a saúde pública em

geral, a interpretação, que adoto, terá atingido a finalidade essencial, não apenas da lei,

mas do Direito em geral, que é a de defender substancialmente bens, interesses e direitos

indisponíveis da individualidade e, pois, da coletividade.”

Como dito, a demanda movida pelo SINBIESP ainda tramita com a busca de

esclarecimentos por este CRTR/SP quanto ao voto do Relator que se distancia

claramente do tema principal da contenda, melhor abrangida pelos votos-vistas

acima transcritos.

Não é a toa que a apreciação do tema pelo Desembargador Carlos Muta por

ocasião do julgamento de apelação em Ação Ordinária nº 0009652-

68.2008.403.6102 movida pelo Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia em

face do Conselho Federal de Biomedicina, foi utilizada como seu fundamento em

virtude da similaridade das questões e razões de decidir; para proferir

entendimento de que “para que os biomédicos realizem exames de radiografia é

indispensável o cumprimento do estatuído no artigo 5º da Lei nº 6.684/79, in

verbis: "O exercício das atividades referidas nos incisos I a IV deste artigo fica

condicionado ao currículo efetivamente realizado que definirá a especialidade

profissional." Sem este, não estão habilitados ao serviço.”

Assim, por ora, o CRTR/SP está impedido de fiscalizar o exercício

profissional na área das Técnicas Radiológicas por parte dos Biomédicos.

Porém, importante estabelecer que, a matéria, por nova que é e, dada sua

complexidade, definitivamente, não é uníssona no Judiciário.

Prova disso, é a Ação Ordinária nº 5000819-97.2010.404.7000/PR, movida

pelo Conselho Regional de Biomedicina da 1ª REGIÃO – SP em face do Conselho

Regional de Técnicos em Radiologia da 10ª região - CRTR/PR.

Na sentença de mérito a MM. Juíza Federal Claudia Cristina Cristofani,

emitiu brilhantíssima análise a respeito de pontos nevrálgicos presentes nesse

trabalho.

Para apreciação, sirvo-me da transcrição de alguns trechos:

(...)

Não se pode elastecer o conceito de 'serviços de radiografia' para abranger toda a

'radiologia'. Por outro lado, a lei delimitou a possibilidade de atuação no serviço de

radiodiagnóstico, este 'sob supervisão médica'.

Page 140: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

140

(...)

Nesse contexto, tem-se que a biomedicina atua primordialmente com pesquisa e

análises clínicas. O profissional biomédico trabalha, em laboratórios, em parceria com

bioquímicos, químicos, médicos, biólogos e farmacêuticos na busca da identificação de

agentes causadores de doenças. Potencialmente, pode atuar em bancos de sangue,

análises de alimentos, exames citopatológicos, genética, reprodução humana, biologia

molecular, diagnóstico por imagem.

Assim, considerando as características da profissão do biomédico, há que se buscar

o aspecto teleológico da norma legal, para que se possa encontrar o alcance das

expressões nela contidas.

Nesse contexto, sendo o biomédico o profissional que atua em parceria com vários

profissionais de saúde, nas 'atividades complementares de diagnóstico' (segundo a lei),

tenho que o sentido da lei, ao tratar dos 'serviços de radiografia' e 'radiodiagnóstico' (com

supervisão médica) refere-se apenas às atividades relacionadas ao serviço de apoio e

diagnóstico com supervisão, não importando no manuseio e operação de aparelhos de raio-

x ou similares.

E mesmo que se pudesse interpretar a referida lei no sentido de que os 'serviços de

radiografia' englobassem também a operação do aparelho de raio-x para a realização da

radiografia, há que se ter em mente que tal norma foi concebida em uma época em que o

exercício da radiologia não estava regulamentado por lei.

(...)

Salta aos olhos a previsão legal de atuação dos técnicos em radiologia em área

bem mais ampla do que a conferida por lei aos biomédicos. Por outro lado, embora a lei não

fale em revogação de outros dispositivos legais, esclarece que seus preceitos 'regulam o

exercício da profissão de Técnico em Radiologia, conceituando-se como tal todos os

Operadores de Raios X...'

A lei é clara, portanto, no sentido de que regula o exercício da atividade de todos

que operam raios X. Decorrência lógica, portanto, é a revogação tácita de qualquer

dispositivo de lei em contrário.

Assim, ainda que se pudesse admitir que os 'serviços de radiografia' previstos pela

Lei nº 6.684/79 para os biomédicos, abrangessem também o próprio manuseio dos

aparelhos, a partir da vigência da Lei nº 7.394/85, que regulamentou a profissão dos

radiologistas, há impossibilidade de atuação de outros profissionais na área concernente à

operação de equipamentos.

Não se está aqui afirmando a impossibilidade de mais de uma gama de

profissionais atuarem na mesma área, como eventualmente ocorre com matemáticos e

contadores; engenheiros químicos e químicos; médicos do trabalho e engenheiros de

segurança etc.

Ocorre que, neste caso em especial, a exposição a radiações ionizantes é

potencialmente prejudicial à saúde, razão pela qual a diferenciação dos profissionais que

trabalham nesta área foi reconhecida pela legislação, que determina uma carga horária de

Page 141: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

141

trabalho diferenciada (máxima de 24 horas semanais), além do recebimento de adicional de

insalubridade, o que decorrerá, inclusive, na obtenção de aposentadoria especial.

Nesse contexto, a partir da regulamentação da profissão do radiologista, não se

pode conceber que outro profissional atue no manuseio dos equipamentos, na medida em

que não garantida por lei as medidas protetivas, como a jornada reduzida de trabalho, sob

pena de por em risco a saúde dos profissionais.

Por outro lado, não se pode olvidar que o técnico em radiologia, por exigência do

Conselho Federal de Educação, realiza curso com carga horária mínima de 1.200 horas,

além de estágio complementar de 600 horas, o que o habilita a trabalhar em atividades de

notória especificidade técnica e nocividade.

Já o curso de biomedicina traz em sua grade curricular uma carga horária bastante

reduzida para as técnicas radiológicas, variando em torno dede 80 a 120 horas, para a

disciplina de imagem médica (radiologia).

(...)

Assim, entendo que a regulamentação da profissão do técnico em radiologia

revogou os dispositivos da lei que dispôs acerca da profissão dos biomédicos no que se

refere à operação de equipamentos (isto na hipótese de se admitir que anteriormente

poderiam atuar com equipamentos para radiografia).

(...)

Ante o exposto, julgo improcedente o pedido, sendo legítima a autuação dos

biomédicos pelo Conselho de Técnicos em Radiologia, pela exercício ilegal da profissão,

considerando que a atuação dos biomédicos, no que se refere à presente controvérsia,

deve limitar-se aos 'serviços de radiografia', restritos às atividades de apoio, sem o

manuseio de equipamentos, destacando-se que a atuação não abrange todo o conceito de

radiologia, o qual abarca a prevenção, diagnóstico e tratamento, ficando restrita, por outro

lado, a atuação em 'radiodiagnóstico, sob supervisão médica', apenas ao diagnóstico feito

ou complementado mediante exame radiológico (conforme definição técnica já mencionada

na presente decisão), não incluída a operação de equipamentos.

Interposto a devida Apelação Cível nº 5000819-97.2010.404.7000/PR, o

eminente Desembargador Federal Fernando Quadros da Silva, em voto assim se

manifestou:

(...)

No mérito, a r. sentença, proferida pelo MM. Juíza Federal, Dra. Claúdia Cristina

Cristofani, julgou com acerto a lide, merecendo ser mantida pelos seus próprios

fundamentos...:

(...)

Como se vê, a legislação que rege o exercício da profissão de técnico em radiologia

especifica em quais atividades os biomédicos podem atuar, quais sejam, nos serviços de

radiografia e em radiodiagnóstico, sob supervisão médica, diante das qualificações

Page 142: TECNÓLOGOS E TÉCNICOS EM RADIOLOGIA VERSUS BIOMÉDICOS

142

profissionais exigidas para cada uma das profissões. E, diante do exercício irregular da

profissão, é legítima a autuação imposta pelo Conselho Regional de Técnicos em

Radiologia, pois tem amparo legal (art. 23, inc. III, do Decreto n. 92.790/89), não merecendo

guarida a assertiva do apelante de que careceria a autarquia de competência para autuar e

multar profissionais não inscritos em seu quadro.

Ante o exposto, voto por negar provimento ao apelo.

Des. Federal FERNANDO QUADROS DA SILVA

Relator

A disputa judicial continuará até que os órgãos máximos do Poder Judiciário

brasileiro pacifiquem a matéria de forma definitiva, deixando claro que buscaremos

até o final defender nosso entendimento acerca da questão, de que é

completamente defeso ao Biomédico, com formação em Biomedicina, atuar na

operação de fontes emissoras de radiação ionizante e na realização de exames

típicos da área do Diagnóstico por Imagem, assim como na realização de

procedimentos terapêuticos em Radioterapia e Medicina Nuclear.

7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como dito, a lei que regulamentou a profissão do Biomédico, Lei 6.684/79,

ao prever a competência daquele profissional para “realizar serviços de radiografia,

excluída a interpretação” e “atuar, sob supervisão médica, em serviços de

radiodiagnóstico”, incidiu em afronta ao mandamus Constitucional insculpido no Art.

5º, XIII que assevera ser “livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,

atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”

Do entendimento desse imperativo, conclui-se que, o Biomédico, com sua

formação em Biomedicina, não está, nem nunca estará apto ao exercício pleno e

legal das atividades que envolvem a operação de fontes emissoras de radiação

ionizante, ou seja, o Biomédico, egresso do curso de Biomedicina, não atende e

não atenderá as qualificações profissionais que a lei estabeleceu.

Não se trata de proibir o exercício da profissão ou criar reserva de mercado,

de resto, exigências descabidas em relação à Carta Magna.

Para ser mais exato nessa assertiva, seremos óbvios:

Verdade seja dita, o padeiro, o fresador, o gari, o advogado e o biomédico

também, com nossos devidos votos de respeito a todos esses profissionais, podem

exercer as atividades envolvendo a operação de fontes emissoras de radiação

ionizante, desde que atendam as exigências previstas no Art. 2º da Lei nº 7.394 de

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29 de outubro de 1985, que são; ser portador de certificado de conclusão do ensino

médio, possuir formação profissional mínima de nível técnico em Radiologia e

possuir diploma de habilitação profissional, expedido por Escola Técnica de

Radiologia, registrado no órgão federal.

Mas, diante de todo o exposto nessa longa peça, a formação em

Biomedicina jamais dará os necessários conhecimentos teóricos e práticos para o

uso e operação de fontes emissoras de radiação ionizante para fins de diagnóstico

médico e realização de tratamentos em medicina nuclear e radioterapia.

Repetidas vezes, ao longo desse trabalho, provou-se que as formações do

Técnico e Tecnólogo e do Biomédico são totalmente distintas.

Devido a uma interpretação extensiva, onde a mesma deveria ser restritiva,

o Técnico e o Tecnólogo em Radiologia têm sofrido discriminação por parte dos

empregadores na hora de pretender um emprego.

Por uma leitura oportunista, os empregadores dão clara preferência à

admissão de Biomédicos em detrimento de Técnicos e Tecnólogos em Radiologia,

para majorar seus lucros, desprezando importantes e extensos direitos, garantidos

nas Leis e Convenções Coletivas de Trabalho a respeito de massa salarial,

previdência social e saúde do trabalhador.

Ainda, é necessário abordar que, das normas aqui transcritas, salta aos

olhos o direito da população à informação a respeito dos exames e tratamentos

que utilizam fontes emissoras de radiação ionizante, bem como o direito de ser

atendido por pessoa qualificada.

Atualmente, grandes laboratórios contratam Biomédicos para operação de

Tomógrafos, impondo-lhes jornadas de 36 horas ou até mais, jornadas superiores à

preconizada no Art. 14 da Lei 7.394/85, qual seja, 24 horas semanais. Por conta

disso, os poucos Tecnólogos e Técnicos que ainda laboram nesses locais, são

também forçados a cumprir a mesma jornada, ao arrepio da Lei.

Nesses locais, esses trabalhadores são registrados como “assistentes de

imagem”, numa tentativa torpe de se livrar de eventuais demandas trabalhistas e

quiçá, deixando de realizar os recolhimentos próprios destinados ao financiamento

da aposentadoria especial junto à Previdência Social, que seria devida a esses

trabalhadores, mas, pelo fato de operarem também equipamentos não emissores

de radiação ionizante, terão esse direito negado.

Esse é um dado perigosíssimo, pois o repertório jurídico nesse sentido foi

construído para preservar a saúde do obreiro e, sujeitando-se a jornadas maiores e

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expondo-se por mais anos às radiações ionizantes, a probabilidade de esses

trabalhadores sofrerem doenças ocupacionais é incrementada.

Isso é uma verdade científica.

No tocante à jornada de trabalho, resta ainda estabelecer que a CLT

preconiza:

Art. 60 - Nas atividades insalubres, assim consideradas as

constantes dos quadros mencionados no capítulo "Da Segurança e da

Medicina do Trabalho", ou que neles venham a ser incluídas por ato do

Ministro do Trabalho, Industria e Comercio, quaisquer prorrogações só

poderão ser acordadas mediante licença prévia das autoridades

competentes em matéria de higiene do trabalho, as quais, para esse

efeito, procederão aos necessários exames locais e à verificação dos

métodos e processos de trabalho, quer diretamente, quer por intermédio

de autoridades sanitárias federais, estaduais e municipais, com quem

entrarão em entendimento para tal fim.

Observa-se, portanto, que as empresas que se utilizam desse expediente -

jornada superior à definida em Lei - estão totalmente em desacordo, trazendo

prejuízos incalculáveis para a saúde dos obreiros.

Com dados significativos documentados pelas fiscalizações realizadas pelo

CRTR – 5ª região nota-se que empresas que terceirizam as atividades de

Diagnóstico por Imagem em unidades de saúde de municípios, atualmente

consideram a possibilidade de colocar outros profissionais na operação de

mamógrafos e densitômetros, bem como Hospitais Filantrópicos, que recebem

verbas públicas, também têm substituído os Técnicos e Tecnólogos em radiologia

por Biomédicos em setores pontuais, como por exemplo, Medicina Nuclear.

Portanto, já é uma realidade o prejuízo para uma categoria tradicional,

respeitável e de suma importância na medicina.

Por derradeiro, mas não menos importante, é o fato de pacientes, pessoas

doentes, crianças, gestantes; estarem sendo atendidos por pessoas inabilitadas

para o exercício de uma função cujos erros se traduzem em sérios riscos à saúde

da população.

Espero que essas considerações sirvam ao menos como referência para

que os poderes públicos não se furtem de suas atribuições institucionais e atuem

com firmeza e coerência para o desate dessa situação.

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