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Tectônica rúptil na Formação Barreiras no litoral leste do Rio Grande do Norte – Brasil: dados preliminares Francisco Cézar C. Nogueira 1 ; Francisco Hilário R. Bezerra 1,2 ; David Lopes de Castro 3 1 PPGG – UFRN; 2 Depto. Geologia – UFRN ( [email protected] , [email protected] ); 3 Depto. Geologia – UFC ([email protected]) Abstract. This work aims to identify and quantify the geometry and kinmetics of Neogene faults that affect the Barreiras Formation. The east coast of the State Rio Grande do Norte is controlled by Neogene faults that trend mainly NE-SW and NW-SE. The analyses of topography and borehole data, geoeletric soundings, age, and altitude of sedimentary rocks and sediments indicate uplifetd and downfaulted movements during the Neogene. The integration of these data suggests transtensional tectonic reactivation of faults and tilted blocks. Palavras-chave: [Falha, Neógeno e Neotectônica] 1. Introdução As estruturas tectônicas que afetam as coberturas neógenas em bacias sedimentares brasileiras são amplamente descritas (e.g., Modenesi-Gauttieri et al. 2002) e atribuídas à reativação de estruturas pretéritas. No nordeste do Brasil, mais especificamente, no litoral leste do Rio Grande do Norte (RN), representado pelas sub-bacias de Natal e Canguaretama, na Bacia Potiguar, e sub- bacia de Miriri, na Bacia da Paraíba (Lima Filho et al. 2005), a geração de falhas que deformam estas unidades está associada à reativação de zonas de cisalhamento Pré- Cambrianas (Bezerra et al. 2001). Embora existam trabalhos que descrevam a tectônica atuante nesta faixa (Bezerra et al. 2001; Pereira 2001), a região ainda carece de um estudo mais apurado, envolvendo um volume maior de dados, que permitam quantificar a geometria e cinemática das falhas. O objetivo principal deste estudo reside em identificar e descrever os novos indícios, a cinemática e a geometria de falhas que afetam a Formação Barreiras no litoral leste Potiguar (Fig. 1a), assim como o comportamento dos blocos falhados. 2. Aspectos Geológicos A área de estudo (Fig. 1a) abrange as rochas do embasamento Pré-Cambriano (gnaisses e migmatitos) e as sedimentares mesozóicas (formações Jandaíra e Açu) capeadas por depósitos neógenos, representados pela Formação Barreiras, depósitos marinhos, eólicos e aluvionares. A Formação Barreiras, em alguns locais ao longo do litoral do RN é capeado por depósitos de Terraços Marinhos pleistocênicos (Barreto et al. 2002) encobertos por dunas. As estruturas tectônicas da área apresentam trends NE- SW, NW-SE e N-S, sendo que os dois primeiros são os predominantes. 3. Métodos Utilizados Para a confecção do mapa geológico foi feita a compilação de cartas geológicas, fotomosaicos oriundos do projeto RADAM- BRASIL (1:250.000) e imagens LANDSAT-

Tectônica rúptil na Formação Barreiras no litoral leste do ... · Boletim do Departamento de geologia-UFRN 10: 58-67. PEREIRA R. 2001. Caracterização hidrológica do sistema

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Tectônica rúptil na Formação Barreiras no litoral leste do Rio Grande do Norte – Brasil: dados preliminares

Francisco Cézar C. Nogueira1; Francisco Hilário R. Bezerra1,2; David Lopes de Castro3

1 PPGG – UFRN; 2 Depto. Geologia – UFRN ( [email protected], [email protected]); 3 Depto. Geologia – UFC ([email protected])

Abstract. This work aims to identify and quantify the geometry and kinmetics of Neogene faults that affect the Barreiras Formation. The east coast of the State Rio Grande do Norte is controlled by Neogene faults that trend mainly NE-SW and NW-SE. The analyses of topography and borehole data, geoeletric soundings, age, and altitude of sedimentary rocks and sediments indicate uplifetd and downfaulted movements during the Neogene. The integration of these data suggests transtensional tectonic reactivation of faults and tilted blocks.

Palavras-chave: [Falha, Neógeno e Neotectônica]

1. Introdução

As estruturas tectônicas que afetam as coberturas neógenas em bacias sedimentares brasileiras são amplamente descritas (e.g., Modenesi-Gauttieri et al. 2002) e atribuídas à reativação de estruturas pretéritas. No nordeste do Brasil, mais especificamente, no litoral leste do Rio Grande do Norte (RN), representado pelas sub-bacias de Natal e Canguaretama, na Bacia Potiguar, e sub-bacia de Miriri, na Bacia da Paraíba (Lima Filho et al. 2005), a geração de falhas que deformam estas unidades está associada à reativação de zonas de cisalhamento Pré-Cambrianas (Bezerra et al. 2001).

Embora existam trabalhos que descrevam a tectônica atuante nesta faixa (Bezerra et al. 2001; Pereira 2001), a região ainda carece de um estudo mais apurado, envolvendo um volume maior de dados, que permitam quantificar a geometria e cinemática das falhas. O objetivo principal deste estudo reside em identificar e descrever os novos indícios, a cinemática e a geometria de falhas que afetam a Formação Barreiras no litoral leste Potiguar (Fig. 1a),

assim como o comportamento dos blocos falhados.

2. Aspectos Geológicos

A área de estudo (Fig. 1a) abrange as rochas do embasamento Pré-Cambriano (gnaisses e migmatitos) e as sedimentares mesozóicas (formações Jandaíra e Açu) capeadas por depósitos neógenos, representados pela Formação Barreiras, depósitos marinhos, eólicos e aluvionares. A Formação Barreiras, em alguns locais ao longo do litoral do RN é capeado por depósitos de Terraços Marinhos pleistocênicos (Barreto et al. 2002) encobertos por dunas. As estruturas tectônicas da área apresentam trends NE-SW, NW-SE e N-S, sendo que os dois primeiros são os predominantes.

3. Métodos Utilizados

Para a confecção do mapa geológico foi feita a compilação de cartas geológicas, fotomosaicos oriundos do projeto RADAM-BRASIL (1:250.000) e imagens LANDSAT-

ETM+. Os dados topográficos, utilizados na análise morfotectônica, são produtos da Shuttle Radar Topography Mission – SRTM (Fig. 1b). Todos estes dados foram usados na confecção dos perfis geológicos (Fig. 2) e geração do mapa preliminar de isovalores para a profundidade da base da Formação Barreiras. Estas ferramentas visam identificar o deslocamento da base dos depósitos da Formação Barreiras em regiões que são afetadas por falhas (ver localização dos perfis na Fig. 1a).

A base de dados utilizada na confecção destes perfis e do mapa preliminar de isovalores da base da Formação Barreiras envolve dados de poços cedidos pela Companhia de Águas e Esgotos do RN (CAERN), Secretaria de Recursos Hídricos (SERHID) e a Empresa Propoço LTDA, assim como a reinterpretação de dados de sondagem geoelétrica levantada por Queiroz et al. (1985) e pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo (IPT 1982). Outra técnica utilizada foi à medida da variação altimétrica da base dos Terraços Marinhos pleistocênicos ao longo do litoral do RN.

4. Resultados preliminares

Os principais lineamentos presentes na área foram bem caracterizados pela análise morfotectônica, através da presença de escarpas e do padrão de drenagem. Estas feições são reflexos das estruturas tectônicas em sub-superfície, que foram individualizadas em perfis geológicos (Fig. 2) e no mapa de isovalores da base da Formação Barreiras.

O vale do Rio Jundiaí e o vale de Canguaretama representam semi-grabens limitados por falhas de trend 060º, cujos tetos estão basculados para SE (Seções A-A’ e D-D’, Fig. 2). Os rios Jacu e Trairí (Fig. 1b) são limitados por falhas de trends 050º e 345º, respectivamente. As seções geológicas que cruzam estes vales (seções B-B’ e C-C’,

Fig. 2) revelam o deslocamento de blocos controlado por falhas em ambas as margens dos rios, indicando uma geometria de graben. O mapa preliminar de isovalores para a base da Formação Barreiras permitiu a individualização de blocos tectônicos limitados pelos principais vales de rios da região (Fig. 1b).

As medidas da altitude dos Terraços Marinhos (Fig. 3) ao longo do litoral leste do RN, com idades de 210 ka (Barreto et al. 2002) mostraram valores médios de 4 m acima do nível de maré baixa. No entanto, na porção a norte do rio Jundiaí (Fig. 1) estes depósitos não afloram, provavelmente indicando subsidência do bloco a norte da Falha do Rio Jundiaí.

A integração de dados realizada neste trabalho permitiu identificar as principais zonas de falha da área, assim como sugerir que, pelo menos em parte, o movimento dos blocos é distensional. A base da Formação Barreiras foi um importante marcador desta estruturação, bem como as rochas do embasamento cristalino, alcançadas em alguns perfis geológicos.

O basculamento do bloco, para SE, á norte do rio Jundiaí identificada na área é reforçada pela ausência de afloramentos da Formação Barreiras e os depósitos de Terraços Marinhos, encontrados no litoral a sul do rio Jundiaí. Tais depósitos podem estar encobertos pelas dunas daquela região. Devido ao caráter preliminar deste estudo, sua abordagem possui uma característica regional. No entanto, um tratamento mais específico será realizado visando a confirmação destas hipóteses.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Companhia de Águas e Esgotos (CAERN), Secretaria de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte (SERHID) e a Empresa Propoço LTDA, por

cederem gentilmente os dados de sondagem realizados na área de pesquisa.

6. Referências

BARRETO AMF, BEZERRA FHR, SUGUIO K, TATUMI SH, YEE M, PAIVA RP and MUNITA CS. 2002. Late Pleistocene marine terrace deposits in northeastern Brazil: Sea-level change and tectonic implications. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology 179: 57-69.

BEZERRA FHR, AMARO VE, VITA-FINZI C, and SAADI A. 2001. Pliocene-Quaternary fault control of sedimentation and coastal plain morphology in NE Brazil. Journal of South American Earth Sciences 14: 61–75.

INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – IPT. 1982. Ensaios geofísicos (sondagens elétricas verticais) em apoio ao estudo hidrogeológico detalhado do estado do Rio Grande do Norte. Relatório: 1-10.

LIMA FILHO M, BARBOSA JA, NEUMANN VH and SOUZA EM. 2005. Evolução estrutural comparativa da bacia de Pernambuco e da Bacia da Paraíba. Anais do X Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos: 45-47.

MODENESI-GAUTTIERI MC, HIRUMA ST and RICCOMINI C. 2002. Morphotectonics of a high plateau on the northwestern flank of the Continental Rift of southeastern Brazil. Geomorphology 43: 257-271.

QUEIROZ MA, MACEDO JWP, ROOY CA and ARAÚJO TCM. 1985. Contribuição da geofísica ao mapeamento geológico de Canguaretama-RN. Boletim do Departamento de geologia-UFRN 10: 58-67.

PEREIRA R. 2001. Caracterização hidrológica do sistema lacustre Bonfim – RN, Brasil. Tese de Doutorado, Rio de Janeiro – RJ.

Fig. 1. (A) Mapa geológico da área, com a indicação dos perfis geológicos e os locais onde afloram os Terraços Marinhos; (B) modelo digital de terreno gerado a partir de dados de Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), as linhas pontilhadas em branco indicam as principais escarpas de falhas da área; (C) mapa do Brasil com a localização da área de estudo. .

Fig. 2. Perfis geológicos baseados na descrição de poços e sondagens elétricas verticais levantadas pelo IPT (Seção A-A’) e por Queiroz et al. (1982).

Fig. 3. Fotomosaico dos Terraços Marinhos que afloram no litoral leste potiguar, juntamente com a interpretação.