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21 A U L A Quantos Brasis existem? E sta aula inicia nosso estudo sobre o Brasil, como um país de industrialização recente país de industrialização recente país de industrialização recente país de industrialização recente país de industrialização recente no conjunto regional da América Latina. Vamos aprender que nosso país apresenta feições múltiplas e contradi- feições múltiplas e contradi- feições múltiplas e contradi- feições múltiplas e contradi- feições múltiplas e contradi- tórias tórias tórias tórias tórias. De um lado, revela aspectos dinâmicos aspectos dinâmicos aspectos dinâmicos aspectos dinâmicos aspectos dinâmicos que o destacam na economia mundial; de outro, caracteriza-se pelas profundas desigualdades sociais desigualdades sociais desigualdades sociais desigualdades sociais desigualdades sociais que o colocam entre os países de maior concentração de renda no planeta. Hoje, qual o papel do Brasil no cenário internacional? Como conciliar o dinamismo de sua economia com as grandes desigualdades internas na distri- buição social e territorial da renda? O cientista francês Jacques Lambert escreveu um famoso livro, intitulado Os dois Brasis , em que mostra o contraste entre o arcaico e o moderno em nosso país. Hoje, na verdade, sabe-se que são muitos os Brasis que pertencem a uma economia emergente no contexto latino-americano, com a pobreza de mais da metade de sua população agravada pelos efeitos da profunda crise econômica dos anos 80. O ritmo das transformações em que vivemos, num país de dimensões continentais, gera tempos e espaços muito diferenciados, dificul- tando o conhecimento preciso sobre a realidade brasileira e sobre a posição do Brasil no mundo atual. O Brasil é pouco conhecido, mesmo por aqueles que nele vivem e traba- lham. A rapidez das transformações que se processaram nos últimos quarenta anos dificulta a compreensão de suas reais dimensões. Ele não é um gigante adormecido, como pregam alguns, nem tampouco apenas mais um dos mem- bros do chamado Terceiro Mundo Terceiro Mundo Terceiro Mundo Terceiro Mundo Terceiro Mundo, como acreditam outros. É um exemplo de uma potência emergente de âmbito regional, marcada por muitos aspectos contraditórios. O Brasil é um país de múltiplos tempos e múltiplos espaços O Brasil é um país de múltiplos tempos e múltiplos espaços O Brasil é um país de múltiplos tempos e múltiplos espaços O Brasil é um país de múltiplos tempos e múltiplos espaços O Brasil é um país de múltiplos tempos e múltiplos espaços. A veloci- dade de incorporação de inovações tecnológicas é extremamente rápida, em parcelas localizadas de seu território, ao mesmo tempo em que se vive em condições primitivas, com ritmos determinados pela natureza, em imensas extensões. Grandes redes nacionais de televisão estabelecem diariamente a ponte entre passado e futuro, entre garimpeiros isolados na selva em busca do Eldorado e gerentes de grandes corporações multinacionais instalados na Avenida Paulista, a “Wall Street” brasileira, na cidade de São Paulo. Wall Street: rua da cidade de Nova York, Estados Unidos, considerada importante centro mundial de negócios.

Telecurso 2000 - Geografia - volume 2

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Quantos Brasisexistem?

Esta aula inicia nosso estudo sobre o Brasil,como um país de industrialização recentepaís de industrialização recentepaís de industrialização recentepaís de industrialização recentepaís de industrialização recente no conjunto regional da AméricaLatina. Vamos aprender que nosso país apresenta feições múltiplas e contradi-feições múltiplas e contradi-feições múltiplas e contradi-feições múltiplas e contradi-feições múltiplas e contradi-tóriastóriastóriastóriastórias. De um lado, revela aspectos dinâmicosaspectos dinâmicosaspectos dinâmicosaspectos dinâmicosaspectos dinâmicos que o destacam na economiamundial; de outro, caracteriza-se pelas profundas desigualdades sociaisdesigualdades sociaisdesigualdades sociaisdesigualdades sociaisdesigualdades sociais que ocolocam entre os países de maior concentração de renda no planeta.

Hoje, qual o papel do Brasil no cenário internacional? Como conciliar odinamismo de sua economia com as grandes desigualdades internas na distri-buição social e territorial da renda?

O cientista francês Jacques Lambert escreveu um famoso livro, intituladoOs dois Brasis, em que mostra o contraste entre o arcaico e o moderno em nossopaís. Hoje, na verdade, sabe-se que são muitos os Brasis que pertencem a umaeconomia emergente no contexto latino-americano, com a pobreza de mais dametade de sua população agravada pelos efeitos da profunda crise econômicados anos 80. O ritmo das transformações em que vivemos, num país dedimensões continentais, gera tempos e espaços muito diferenciados, dificul-tando o conhecimento preciso sobre a realidade brasileira e sobre a posiçãodo Brasil no mundo atual.

O Brasil é pouco conhecido, mesmo por aqueles que nele vivem e traba-lham. A rapidez das transformações que se processaram nos últimos quarentaanos dificulta a compreensão de suas reais dimensões. Ele não é um giganteadormecido, como pregam alguns, nem tampouco apenas mais um dos mem-bros do chamado Terceiro MundoTerceiro MundoTerceiro MundoTerceiro MundoTerceiro Mundo, como acreditam outros. É um exemplo deuma potência emergente de âmbito regional, marcada por muitos aspectoscontraditórios.

O Brasil é um país de múltiplos tempos e múltiplos espaçosO Brasil é um país de múltiplos tempos e múltiplos espaçosO Brasil é um país de múltiplos tempos e múltiplos espaçosO Brasil é um país de múltiplos tempos e múltiplos espaçosO Brasil é um país de múltiplos tempos e múltiplos espaços. A veloci-dade de incorporação de inovações tecnológicas é extremamente rápida, emparcelas localizadas de seu território, ao mesmo tempo em que se vive emcondições primitivas, com ritmos determinados pela natureza, em imensasextensões. Grandes redes nacionais de televisão estabelecem diariamente aponte entre passado e futuro, entre garimpeiros isolados na selva em busca doEldorado e gerentes de grandes corporações multinacionais instalados naAvenida Paulista, a “Wall Street” brasileira, na cidade de São Paulo.

Wall Street:rua da cidade

de Nova York,Estados Unidos,

consideradaimportante

centro mundialde negócios.

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O Brasil, como parcela da economia mundial, constitui um dos segmentosmais dinâmicos, do ponto de vista dos indicadores econômicos. Suas taxashistóricas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) são comparáveis às deeconomias avançadas desde o final do século passado. A partir de 1940,o crescimento do PIB manteve-se em uma média de 7% ao ano, chegando a 11%entre 1967 e 1973, os anos do chamado “milagre econômico”, quando o restantedo mundo dava sinais evidentes de arrefecimento no seu ritmo de crescimento.

Por outro lado, o Brasil é um rico país de pobres. A brutal discriminaçãosocial na apropriação dos benefícios do dinamismo econômico é um traçodominante na sociedade brasileira, mesmo quando comparada com os outrospaíses da América Latina. É uma das poucas economias no mundo cuja parcelados 10% mais ricos controla mais de 50% da renda nacional e qualquer indicadorde bem-estar social demonstra tal situação.

CRESCIMENTOCRESCIMENTOCRESCIMENTOCRESCIMENTOCRESCIMENTO MÉDIOMÉDIOMÉDIOMÉDIOMÉDIO DODODODODO PIBPIBPIBPIBPIB AAAAA PREÇOSPREÇOSPREÇOSPREÇOSPREÇOS CONSTANTESCONSTANTESCONSTANTESCONSTANTESCONSTANTES

PaísesPaísesPaísesPaísesPaísesEstados UnidosAlemanhaJapãoMéxicoBrasil

1870/19131870/19131870/19131870/19131870/19134,22,82,52,02,3

1913/501913/501913/501913/501913/502,81,32,22,74,9

1950/731950/731950/731950/731950/733,75,99,46,67,5

1973/831973/831973/831973/831973/831,91,63,74,64,5

Fonte: Adaptado de Maddison, 1982, 1985.

Contraste entre habitações sobre palafitas, na Amazônia, e os arranha-céus da Avenida Paulista, em São Paulo.

BRASILBRASILBRASILBRASILBRASIL- - - - - SITUAÇÃOSITUAÇÃOSITUAÇÃOSITUAÇÃOSITUAÇÃO ÉTNICAÉTNICAÉTNICAÉTNICAÉTNICA - 1990 - 1990 - 1990 - 1990 - 1990

Grupos étnicosGrupos étnicosGrupos étnicosGrupos étnicosGrupos étnicos

BrancosMulatosNegrosAsiáticos esem declaração

Analfabetismo (%)Analfabetismo (%)Analfabetismo (%)Analfabetismo (%)Analfabetismo (%)

12,329,029,5

07,4

População (%)População (%)População (%)População (%)População (%)

56,637,205,6

00,6

Renda médiaRenda médiaRenda médiaRenda médiaRenda média(US$/mês)(US$/mês)(US$/mês)(US$/mês)(US$/mês)

214,00100,00087,00

377,00

Fonte: IBGE, PNAD, 1990.

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21A U L A A discriminação percorre de cima a baixo a estrutura social brasileira.

O sexismo, isto é, a discriminação por sexo, expressa-se no fato de que 67,1%das mulheres com mais de 10 anos de idade não têm qualquer rendimento,enquanto esse número atinge 24,7% dos homens. Negros e pardos, que em 1987representavam 45% da população brasileira, são social e economicamentediscriminados quanto às oportunidades de mobilidade social, constituindoo grosso do contingente de mão-de-obra com menor qualificação profissional,em oposição ao que ocorre com os imigrantes asiáticos e descendentes, princi-palmente os japoneses. A discriminação étnica também está presente no quediz respeito aos 200 mil indígenas que sobreviveram aos massacres do coloni-zador - seus direitos são restritos e sua capacidade de auto-determinação ésubmetida à tutela burocrática do Estado.

A recente industrialização levou o Brasil a se destacar na América Latina.O país suplantou largamente a Argentina e foi acompanhado com menorintensidade pelo México.

A associação com o capital internacional foi um traço comum ao desenvol-vimento da região; mas, no Brasil, o Estado teve papel decisivo na aceleração doritmo de crescimento, avançando à frente do setor privado e mantendo elevadastaxas de investimento. Em contrapartida, o Brasil é também um dos maioresdevedores, em termos absolutos, do sistema financeiro mundial.

O modelo de industrialização latino-americano, baseado na substituição deimportações, procurou administrar o mercado interno como principal atrativopara as grandes corporações multinacionais, sem se preocupar com os objetivosbásicos de justiça social. O Brasil atingiu etapas mais avançadas nesse processo,chegando a consolidar um parque industrial diversificado - em grande partedevido ao potencial de sua economia - cuja capacidade de atração de capitaisfoi viabilizada e ampliada pela atuação do Estado. Isso, no entanto, não reduziuas condições de miséria de amplos contigentes da população que permaneceramà margem do desenvolvimento.

Nesta aula você aprendeu que:

l o Brasil, ao mesmo tempo em que apresenta um grande dinamismo econô-dinamismo econô-dinamismo econô-dinamismo econô-dinamismo econô-micomicomicomicomico no cenário econômico mundial, caracteriza-se pelas grandes desigual-grandes desigual-grandes desigual-grandes desigual-grandes desigual-dadesdadesdadesdadesdades internas na distribuição social e territorial da renda;

l a rapidezrapidezrapidezrapidezrapidez das mudanças ocorridas em algumas áreas contrasta coma manutençãomanutençãomanutençãomanutençãomanutenção de ritmos comandados pela natureza, em outras regiões;

l sua economia é, hoje, a mais importante da América Latina e o país tem umaumaumaumaumaindústria diversificada, indústria diversificada, indústria diversificada, indústria diversificada, indústria diversificada, graças à forte atuação do Estado, Estado, Estado, Estado, Estado, que criou condi-ções para os investimentos produtivos;

l os grandes contrastes sociais e territoriaiscontrastes sociais e territoriaiscontrastes sociais e territoriaiscontrastes sociais e territoriaiscontrastes sociais e territoriais expressam as contradições docontradições docontradições docontradições docontradições doprocesso de desenvolvimentoprocesso de desenvolvimentoprocesso de desenvolvimentoprocesso de desenvolvimentoprocesso de desenvolvimento brasileiro.

PIBPIBPIBPIBPIB EMEMEMEMEM BILHÕESBILHÕESBILHÕESBILHÕESBILHÕES DEDEDEDEDE DÓLARESDÓLARESDÓLARESDÓLARESDÓLARES

PaísesPaísesPaísesPaísesPaísesArgentinaMéxicoBrasil

19701970197019701970088,2092,1106,4

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e Caribe / ONU.

19801980198019801980115,0173,9243,5

19851985198519851985104,5193,6259,3

19941994199419941994142,7230,1311,8

19901990199019901990105,9207,4284,4

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21A U L AExercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1

Explique a contradição básica presente na realidade social e econômicabrasileira nos dias atuais.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2O período de 1969-1973 caracterizou-se pelo crescimento acelerado daeconomia brasileira, ou seja, as taxas de crescimento do Produto InternoBruto (PIB) alcançaram cifras superiores a 10% ao ano. Esse processo foigerado por medidas político-econômicas implantadas pelos governos mili-tares pós-64. Nesse período ocorreu o que se denominou:a)a)a)a)a) “milagre brasileiro”.b)b)b)b)b) “crescer 50 anos em 5”.c)c)c)c)c) “Brasil ano 2000”.d)d)d)d)d) “Plano de Metas”.e)e)e)e)e) “Diretas-já”.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Com base no quadro a seguir conclui-se que:

a)a)a)a)a) a distribuição da renda no Brasil, nos últimos anos, tem sido feita de formamais justa, o que, de certo modo, comprova o crescimento econômico do paíse sua caracterização como nação em desenvolvimento.

b)b)b)b)b) apesar do processo de crescimento da economia nacional, observa-se que háuma progressiva concentração da renda, principalmente entre os 10% maisricos.

c)c)c)c)c) os 50% mais pobres da população economicamente ativa do Brasil, nosúltimos anos, vêm melhorando sua participação nos rendimentos, a exem-plo do que vem ocorrendo com os 10% mais ricos.

d)d)d)d)d) a concentração da renda não pode ser justificada por esse quadro, uma vezque o mesmo se resume à população economicamente ativa, que não chegaa ser significativa no conjunto da população brasileira.

Exercício 4Exercício 4Exercício 4Exercício 4Exercício 4Quais das características enumeradas abaixo aplicam-se à atividadeindustrial do Brasil na década de 1970?I. Hegemonia do capital privado nacional.II. Crescente participação do Estado na economia industrial.III. Inauguração do processo de substituicão de importações de manufaturados.IV. Acentuada internacionalização da economia.a)a)a)a)a) I e IIb)b)b)b)b) I e IIIc)c)c)c)c) I e IVd)d)d)d)d) II e IIIe)e)e)e)e) II e IV

DISTRIBUIÇÃODISTRIBUIÇÃODISTRIBUIÇÃODISTRIBUIÇÃODISTRIBUIÇÃO DADADADADA RENDARENDARENDARENDARENDA NONONONONO BRASILBRASILBRASILBRASILBRASIL ( ( ( ( (ENTREENTREENTREENTREENTRE AAAAA POPULAÇÃOPOPULAÇÃOPOPULAÇÃOPOPULAÇÃOPOPULAÇÃO ECONOMICAMENTEECONOMICAMENTEECONOMICAMENTEECONOMICAMENTEECONOMICAMENTE ATIVAATIVAATIVAATIVAATIVA)))))PARTICIPAÇÃOPARTICIPAÇÃOPARTICIPAÇÃOPARTICIPAÇÃOPARTICIPAÇÃO NOSNOSNOSNOSNOS RENDIMENTOSRENDIMENTOSRENDIMENTOSRENDIMENTOSRENDIMENTOS (%) (%) (%) (%) (%)

PopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoOs 50% mais pobresOs 40% intermediáriosOs 10% mais ricos

1970197019701970197014,938,446,7

1980198019801980198012,636,550,9

1960196019601960196017,443,039,6

Fonte: IBGE

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NNNNNesta aula, vamos verificar como a forma-forma-forma-forma-forma-ção territorialção territorialção territorialção territorialção territorial do Brasil foi profundamente marcada pelo processo de coloniza-processo de coloniza-processo de coloniza-processo de coloniza-processo de coloniza-çãoçãoçãoçãoção e como as fronteiras nacionais resultaram da luta pelo poder entre aspotências coloniais. Veremos também como o escravismoescravismoescravismoescravismoescravismo e a orientação de suaeconomia para a exportação de produtos tropicaisexportação de produtos tropicaisexportação de produtos tropicaisexportação de produtos tropicaisexportação de produtos tropicais deixou marcas igualmenteprofundas na organização social e econômica brasileira.

Quais as resultantes do processo de colonização sobre a formação social eterritorial do Brasil? Como superar o legado colonial do uso indiscriminadoe predatório das fontes originais de toda a riqueza - a terra e o trabalho?

Para que o Brasil rompa com seu passado colonial e escravista é necessárioque conheçamos nossas raízes históricas e culturais e avaliemos quais seusefeitos nos dias atuais. É preciso tomar consciência de que somente umasociedade mais justa terá maiores preocupações com a qualidade ambientale com a preservação de nosso patrimônio natural.

A América Latina é a mais antiga periferiaperiferiaperiferiaperiferiaperiferia da economia mundial. Foiorientada, desde o início da colonização, para a produção de mercadorias de altovalor para a Europa. Partilhada entre Portugal e Espanha, teve sua formaçãoeconômica marcada pelo mercantilismomercantilismomercantilismomercantilismomercantilismo - um sistema econômico voltado paraa acumulação de riquezas pelo comércio -, e sua sociedade foi moldada a partirda cultura ibérica.

A partir do século XIX, seu desenvolvimento esteve intimamente asso-ciado à dinâmica dos centros de acumulaçãocentros de acumulaçãocentros de acumulaçãocentros de acumulaçãocentros de acumulação da economia mundial - primei-ro a Grã-Bretanha e depois os Estados Unidos. Participou da divisão interna-cional do trabalho como economia exportadora de matérias-primas e consu-midora de produtos manufaturados.

A ocupação e o povoamento do território que constituiria o Brasil nãopassam de episódios do amplo processo de expansão marítimaexpansão marítimaexpansão marítimaexpansão marítimaexpansão marítima resultante dodesenvolvimento das empresas comerciais européias.

Cultura ibéricae natureza tropical

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Monocultura:plantação de umúnico produtoagrícola.

O mapa mostra a divisão das capitanias hereditárias,limitadas a oeste pelo meridiano criado no Tratado de Tordesilhas.

Como decorrência da busca de novas rotas para o Oriente pelos paísesibéricos (a Espanha pelo Ocidente e Portugal contornando a África), o territórioque constitui hoje o Brasil precedeu a criação da própria Colônia. O TratadoTratadoTratadoTratadoTratadode Tordesilhasde Tordesilhasde Tordesilhasde Tordesilhasde Tordesilhas, firmado entre os dois países em 1494, dividia, entre as coroasde Portugal e Espanha, todo o mundo a ser descoberto e estabelecia que todasas terras a leste do meridiano de 50 graus oeste pertenceriam a Portugal.

Desse modo, definia-se, a priori, a Colônia por um território correspon-dente a apenas 40% de sua área atual e, ainda assim, imenso. A defesa doterritório e sua expansão não decorreram de conquista militar. Foi um processode posse lento e complexo, em que pesou a estratégia portuguesa, favorecidapela luta pelo poder e o controle das rotas comerciais entre holandeses,franceses e ingleses, e pela união de Portugal com a Espanha entre 1580 e 1640.

A colonizaçãocolonizaçãocolonizaçãocolonizaçãocolonização do Brasil foi um desafio para os monarcas portuguesesdevido à pressão da Holanda, Grã-Bretanha e França sobre o território, o queocorreu logo depois da perda, para os holandeses, da maioria dos postoscomerciais que Portugal tinha na Ásia e na África.

Ao contrário do que acontecia nos territórios espanhóis, a populaçãonativa era relativamente escassa e os portugueses não podiam, portanto, sebasear no trabalho nativo. Foi preciso, então, organizar a produção de cana-de-açúcar no sistema de plantationssistema de plantationssistema de plantationssistema de plantationssistema de plantations, isto, é grandes propriedades monocultorasvoltadas para o abastecimento dos mercados europeus, que se tornaram a baseda economia e da defesa coloniais.

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22A U L A Esse empreendimento deveu-se a dois fatores: a experiência de Portugal

nas ilhas de São Tomé e Madeira, que estimulou uma indústria de equipamen-tos para engenhos açucareiros, e a organização comercial dos flamengos, quecontrolavam um mercado expressivo na Europa Continental, e financiaramdiretamente as plantações e engenhos no território da Colônia portuguesa.

Assim, o Brasil colonial foi organizado como uma empresa comercialresultante da aliança entre a burguesia mercantilburguesia mercantilburguesia mercantilburguesia mercantilburguesia mercantil (inclusive holandesa) e anobreza. No início da colonização, a legislação relativa à propriedade da terraestava baseada na política rural de Portugal.

A terra era vista como parte do patrimônio pessoal do rei, como domínioda Coroa, e sua aquisição decorria de uma doação pessoal, segundo os méritosdos pretendentes e os serviços por eles prestados à Coroa, em um sistemaconhecido como patrimonialismopatrimonialismopatrimonialismopatrimonialismopatrimonialismo.

Dentro da ótica mercantil, procuravam-se informações sobre as riquezasdisponíveis na costa brasileira, em particular a existência de produtos exóticos,de alto valor unitário nos mercados europeus, e sobre metais e pedras precio-sas. Subordinado a esse interesse principal, buscavam-se o descobrimento depassagens para a Ásia e a localização de pontos na costa que servissem de apoioaos navios que faziam o percurso para a Índia.

Desde cedo, as facilidades naturais de comunicação privilegiaram o litoraloriental, como objeto de exploração econômica. Esse fato foi acentuado pelapresença, nessa porção da costa brasileira, de uma imensa massa de floresta úmida,a Mata AtlânticaMata AtlânticaMata AtlânticaMata AtlânticaMata Atlântica, formada pela precipitação resultante da umidade trazida pelosventos alíseos. A floresta era o hábitat natural de diversas tribos indígenas dogrupo Tupi-Guarani, que haviam ultrapassado a fase cultural da caça e coleta e sesituavam no início da revolução agrícola, tendo dominado para o cultivo diversasplantas da floresta tropical - como a mandioca, o milho e o tabaco, entre outras -que eram cultivadas em pequenas roças abertas no meio da floresta.

A floresta e o trabalho das comunidades indígenas foram objeto da primei-ra atividade econômica da Colônia: a extração de madeiras corantes, emespecial o pau-brasilpau-brasilpau-brasilpau-brasilpau-brasil. Retirado da floresta pelos índios e armazenado emfeitoriasfeitoriasfeitoriasfeitoriasfeitorias - pontos defendidos por fortificações, no litoral -, o “pau-brasil”inaugurou o instituto do estancoestancoestancoestancoestanco, ou seja, o monopólio da Coroa portuguesasobre o comércio com a Colônia. Mas toda essa proteção não impediu as visitasconstantes de corsários franceses e ingleses.

As primeiras tentativas de implantação da economia açucareira no Brasilprocuraram utilizar a base material desenvolvida com a extração de madeirascorantes. Em primeiro lugar, a floresta tropical, cujo desmate fornecia madeira paraconstruções e lenha para os engenhos. Em segundo, as várzeas úmidas litorâneas,que além de propiciarem solos de renovada fertilidade, com as cheias periódicas,garantiam o escoamento fluvial da produção açucareira. Por fim, a tentativa,frustrada rapidamente, de utilizar as comunidades indígenas como fonte de traba-lho compulsório para o cultivo das terras e a manutenção das plantações.

As plantations litorâneas foram as células fundamentais da estrutura econô-mica e social da Colônia. Delas partiu a expansão gradativa das fazendas de gadofazendas de gadofazendas de gadofazendas de gadofazendas de gadopelo sertão, para abastecer de couro e animais de trabalho as zonas canavieiras.

No litoral norte, o rio Amazonas foi estratégico por sua extensão e amplanavegabilidade: até 2.000 km no interior, em meio à floresta equatorial. Durantea união das Coroas de Portugal e Espanha (1580-1640), holandeses, franceses eingleses trataram de ocupar militarmente essa área. Para defender a BaciaAmazônica, as formas iniciais de ocupação, adotadas por Portugal, forampequenos fortes, sendo o primeiro deles na foz do Amazonas, em Belém (1616).

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22A U L AA ocupação da terra como base do direito

sobre sua posse, isto é, o direito “de facto”, foia prática estratégica de apropriação do terri-tório para além dos limites jurídicos do Trata-do de Tordesilhas, o que foi posteriormentereconhecido como um princípio legal.

O maior impulso para a expansãoterritorial decorreu sobretudo da descobertado ouro (1690) no planalto do Brasil Central.O ouro tornou-se a base econômica da Colô-nia até o final do século XVIII, à medida que aeconomia açucareira decaía, face à concorrên-cia do açúcar produzido nas Antilhas.

A descoberta do ouro provocou um afluxode imigrantes da Metrópole, grande mobili-dade interna e uma corrida gigantesca emalguns decênios, que cobriu uma área imensano centro e oeste do atual território brasileiro(Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso). Cami-nhos de gado e tropas de mulas estabelece-ram-se para abastecer os primeiros centrosmineradores, constituindo-se nos primeiroseixos da integração interna da Colônia.

Em conseqüência da mineração, deslocou-se o eixo econômico para o centro-sul e com ele transferiu-se a capital da Bahia para o Rio de Janeiro (1763).Entretanto, o ciclo do ouro e diamantes, embora intenso, foi breve. Esgotou-senos últimos 25 anos do século XVIII, inclusive pela pressão dos impostoscobrados pela Coroa. Essa pressão resultou no primeiro, mas fracassado,movimento pela independência: a Inconfidência de Minas Gerais, em 1792.

A principal característica da sociedade colonial era a escravidão de índiose, principalmente, de negros. Essa foi uma escravidão original, que reviveuuma forma de trabalho historicamente extinta, e proporcionou um recursopara a exploração comercial da Colônia. Embora não se tenham dados comple-tos e seguros, em 1798 o número de escravos correspondia à metade dapopulação da Colônia.

A escravidão afetou o conceito de trabalho, que se tornou uma atividadehumilhante e deixou um pequeno número de ocupações para os homens livresque não eram proprietários de terra.

Distinguiam-se assim, dois setores na sociedade colonial, segundo a utiliza-ção de trabalho escravo ou livre. Um setor era estruturado pela escravidão e o clãpatriarcal coeso, formado pelo conjunto de indivíduos que participavam dagrande propriedade rural, cujos donos constituíam a classe privilegiada, aristo-crática. O outro setor era integrado por comerciantes, os únicos que faziam frenteaos proprietários de terra como financiadores da grande lavoura.

A propriedade monoprodutora escravista de grande escala foi a célula detoda a estrutura colonial, determinando o conjunto das relações sociais e aexploração extensiva e especuladora dos recursos naturais.

Reproduzindo-se no tempo e no espaço, a grande propriedade teve seustraços mais acentuados na plantation açucareira, mas esses traços estavampresentes também na fazenda de gado, na mineração e mesmo no setorextrativo do Vale Amazônico, embora este último não tivesse por base apropriedade da terra.

Atividades econômicas do período colonial.

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22A U L A Foi a manutenção do princípio monárquico, no processo de independência,

que determinou a preservação da unidade política do território. O princípiomonárquico centralista foi a solução que os grandes proprietários e traficantes deescravos encontraram para defender seus privilégios e manter seu poder local:no plano externo, garantir o tráfico de escravos contra a pressão inglesa; no planointerno, assegurar o comércio de escravos entre as províncias e o monopólioda propriedade da terra.

Essa relação entre centralismo do Estado e interesses escravistas revelao caráter do bloco do poder. Ele era composto por todas as classes de pro-prietários, mas sob a hegemonia política de um sub-bloco, formado pela eliteescravista de plantadores de café, grupos de proprietários urbanos e comerci-antes. Estes últimos agiam como vanguarda e conquistavam postos-chaveno aparelho de Estado.

Tal situação revela, também, o início de interesses regionaisinteresses regionaisinteresses regionaisinteresses regionaisinteresses regionais diferencia-dos, que vão estar presentes em boa parte da história brasileira, inclusive nosdias atuais.

Nesta aula, você aprendeu que:

l o Brasil foi marcado, social e territorialmente, pelo processo de colonizaçãoprocesso de colonizaçãoprocesso de colonizaçãoprocesso de colonizaçãoprocesso de colonizaçãoibéricoibéricoibéricoibéricoibérico, e até hoje perduram os desafios para construir uma sociedade maisjusta, capaz de respeitar seu imenso patrimônio naturalpatrimônio naturalpatrimônio naturalpatrimônio naturalpatrimônio natural;

l seus contornos territoriaiscontornos territoriaiscontornos territoriaiscontornos territoriaiscontornos territoriais foram traçados, no período colonial, segundo asestratégias formuladas pela Coroa portuguesa, no confronto com as demaispotências do mercantilismomercantilismomercantilismomercantilismomercantilismo;

l a ocupação e o povoamento, ao longo do período colonial, se fazem segundoa lógica da empresa mercantilempresa mercantilempresa mercantilempresa mercantilempresa mercantil, primário-exportadora, baseada no trabalhotrabalhotrabalhotrabalhotrabalhoescravoescravoescravoescravoescravo;

l a estrutura socialestrutura socialestrutura socialestrutura socialestrutura social da Colônia foi preservada após a independência, quemanteve, por intermédio da monarquia, um Estado unificado territo-rialmente, fundado no trabalho escravo;

l a grande propriedade ruralgrande propriedade ruralgrande propriedade ruralgrande propriedade ruralgrande propriedade rural manteve-se durante a industrialização e consti-tuiu-se em um fator de concentração de riqueza, renda e poderconcentração de riqueza, renda e poderconcentração de riqueza, renda e poderconcentração de riqueza, renda e poderconcentração de riqueza, renda e poder que perduraaté os dias atuais.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Enuncie qual a principal forma de inserção da economia da América Latinae do Brasil na economia mundial. Explique por que formaram a mais antigaperiferia da economia européia.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Qual o sistema agrícola em que podemos classificar a monocultura deprodutos tropicais para a exportação que se tornou a base da estruturaeconômica e social colonial:a)a)a)a)a) agricultura intensiva de jardinagem;b)b)b)b)b) agricultura de produtos temperados;c)c)c)c)c) sistema de plantation;d)d)d)d)d) sitema de rotação de culturas.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Quais os efeitos da concentração da propriedade da terra, desde o períodocolonial, sobre a distribuição de renda no Brasil?

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NNNNNesta aula, veremos como o Brasil se des-taca pelas dimensões continentaisdimensões continentaisdimensões continentaisdimensões continentaisdimensões continentais de seu território, cuja ocupação se deu pormeio da constante incorporação de novas terrasnovas terrasnovas terrasnovas terrasnovas terras, ao mesmo tempo em quepreservava relações de trabalhorelações de trabalhorelações de trabalhorelações de trabalhorelações de trabalho arcaicas. Veremos como o deslocamento dafrente pioneirafrente pioneirafrente pioneirafrente pioneirafrente pioneira foi uma das expressões da grande mobilidade do trabalhomobilidade do trabalhomobilidade do trabalhomobilidade do trabalhomobilidade do trabalhono Brasil - um processo contraditório, pois de um lado contribuiu para reduziros níveis de salário e de garantias trabalhistas, e de outro criou uma alternativapara a sobrevivência do trabalhador e de sua família.

Quais os efeitos da grande disponibilidade de terras sobre o processode industrialização e urbanização no Brasil? Qual o significado da fronteira parao desenvolvimento brasileiro?

Os papéis da fronteira agrícola e do acesso à terra são fundamentais paradiferenciar o Brasil de seus parceiros latino-americanos. Isso também deu umaforma peculiar à questão agrária, em que a grande propriedade foi sempredominante.

No Brasil, a oferta de produtos agrícolas foi garantida pela incorporação denovas terras, sem tocar na estrutura fundiária pré-estabelecida, que constituia base do poder dos grupos dominantes até os dias atuais.

Entretanto, essa disponibilidade de terras favoreceu a mobilidade no traba-lho, que costuma ocorrer tanto nos deslocamentos entre um lugar e outro, comona mudança de um tipo de emprego para outro.

O Brasil tem dimensões continentais, e essa é uma diferença fundamental emrelação aos seus vizinhos latino-americanos. Sua extensão territorial coloca-o naquinta posição entre os maiores países do globo, com uma área de 8,5 milhões dekm2 e uma população estimada em 162 milhões de habitantes, em 1995.

A potencialidade de recursos amplia-se pela disponibilidade de espaçoútil decorrente de sua posição geográfica. O Brasil corresponde a dois terços daAmérica Latina, e é seguramente o maior país situado na faixa intertropical.A grande reserva de terras do Brasil é a maior floresta pluvial do planeta - aAmazônia - com uma imensa variedade de espécies. Apesar disso, seu delica-do equilíbrio ecológico constitui ainda um desafio à sociedade brasileira e àciência mundial, na busca de formas apropriadas de ocupação.

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Uma fronteiraem movimento

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As condições naturais são importantes, mas não determinantes. Antes,nosso país era um grande fornecedor de café, mas hoje passou a segundo maiorexportador de soja e derivados, com a vantagem de colocar sua produção nomercado durante o período da entressafra norte-americana. A soja, poucoconhecida no Brasil há quinze anos, venceu a barreira ecológica dos cerradoscerradoscerradoscerradoscerrados eespalhou-se no Planalto Brasileiro, graças aos investimentos em melhoriasgenéticas e no desenvolvimento de tratos em sua cultura. Em 1975, os cerradoseram responsáveis pela produção de cerca de 6% da soja brasileira; em 1982, essenúmero atingia 22% e, com a grande safra de 1987/88, responderam por 8milhões de toneladas de soja, isto é, 44,5% do total nacional.

A economia brasileira cresceu, e continua crescendo, pela impressionantecapacidade de incorporar rapidamente novas terras. A área total dos estabeleci-mentos agrícolas era de 198 milhões de hectares em 1940; saltou para 365 milhõesem 1980, e atingiu 375 milhões de hectares em 1985, já sob os efeitos da criseeconômica do início da década de 1980. E isso representa apenas cerca da metadeda área disponível para a agropecuária.

A grande propriedade rural brasileira, herdada do latifúndio escravista, foium instrumento básico para conservar os trabalhadores e suas famílias emcondições próximas à subsistência, rebaixando o nível geral de salários daeconomia. O consumo de calorias por habitante no Brasil é de 2.657 por dia,inferior aos valores encontrados no Iraque (2.891), no Irã (3.115) ou na Turquia(3.218). O custo por hora da mão-de-obra no Brasil é um dos mais baixosdo mundo - cerca de US$ 1.00 -, enquanto em países como a Grã-Bretanhaou a França, a hora de um trabalhador médio está em torno de US$ 17.00.

A concentração do capital e o crescimento econômico não repousaramapenas nos baixos salários, mas também na extraordinária intensificação damobilidade dos trabalhadores no decorrer da História. O processo migratóriointerno foi responsável pelo povoamento do território nacional, que se inten-sificou com o processo de industrialização, avançando progressivamente parao oeste e o norte.

O deslocamento da população para essas áreas novas, com a conquistade terras de floresta para a agricultura, é chamado de frente pioneira,frente pioneira,frente pioneira,frente pioneira,frente pioneira, porquese faz de modo mais ou menos contínuo, como uma frente, e ocupa terras novas- por isso seu caráter pioneiro.

EXPANSÃOEXPANSÃOEXPANSÃOEXPANSÃOEXPANSÃO DADADADADA ÁREAÁREAÁREAÁREAÁREA DOSDOSDOSDOSDOS ESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOSAGROPECUÁRIOSAGROPECUÁRIOSAGROPECUÁRIOSAGROPECUÁRIOS – 1970/85 – 1970/85 – 1970/85 – 1970/85 – 1970/85(((((EMEMEMEMEM MILHÕESMILHÕESMILHÕESMILHÕESMILHÕES DEDEDEDEDE HECTARESHECTARESHECTARESHECTARESHECTARES)))))

REGIÕESREGIÕESREGIÕESREGIÕESREGIÕES

Brasil

Norte (2)

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro-Oeste (3)

ÁREAÁREAÁREAÁREAÁREA DOSDOSDOSDOSDOS

ESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOS

19701970197019701970294, l5

23, l874, 3069, 5045, 4681, 71

ÁREAÁREAÁREAÁREAÁREA DOSDOSDOSDOSDOS

ESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOS

19801980198019801980364, 85

41, 5688, 4473, 5047, 91

113, 44

ÁREAÁREAÁREAÁREAÁREA DOSDOSDOSDOSDOS

ESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOSESTABELECIMENTOS

19851985198519851985374, 92

45, 2192, 0573, 2447, 94

116, 48

INCREMENTOINCREMENTOINCREMENTOINCREMENTOINCREMENTO

ANUALANUALANUALANUALANUAL (1) (1) (1) (1) (1)1970/801970/801970/801970/801970/80

2,186,011,760,560,533,34

INCREMENTOINCREMENTOINCREMENTOINCREMENTOINCREMENTO

ANUALANUALANUALANUALANUAL (1) (1) (1) (1) (1)1980/851980/851980/851980/851980/85

0,27 0,85 0,40

- 0,04 0,01 0,26

(1) Taxa de incremento geométrico anual.

(2) Dados excluem o Estado de Tocantins.

(3) Dados incluem o Estado de Tocantins.

Fontes: IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1980 e 1985.

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As frentes pioneiras iniciaram-se com a expansão do café no Estado de SãoPaulo e avançaram em direção ao sul e ao oeste do Brasil, povoando o interior dosEstados do Paraná, Goiás, e Mato Grosso do Sul, dentre outros.

A mobilidade da populaçãomobilidade da populaçãomobilidade da populaçãomobilidade da populaçãomobilidade da população ampliou a margem de pobreza em todo oterritório nacional e fez emergir novos grupos sociais, que compõem o universoda sociedade brasileira. Intensificaram-se a rotatividade do emprego, que é umadas maiores do mundo, e a polivalênciapolivalênciapolivalênciapolivalênciapolivalência do trabalhador, isto é, o exercício demúltiplas tarefas ou múltiplos empregos por um mesmo indivíduo.

Essa mobilidade deve-se, de um lado, à atração exercida pelas áreas dinâmi-cas, com novas oportunidades de emprego e/ou de acesso à terra, sobretudono Sudeste, nas metrópoles e, com menos intensidade, no Centro-Oeste e Norte;de outro lado, a modernização da agricultura, que liberou a mão-de-obra ruralem todo o país, retirou do Nordeste seu papel de fornecedor, quase exclusivo,de migrantes.

A mecanização subsidiada subsidiada subsidiada subsidiada subsidiada pelo governo, cujo melhor exemplo é o cultivoda soja, transformou o Estado do Paraná de uma frente pioneira do café,que atraía a população de outros estados, no maior exportador de mão-de-obrado Brasil, em apenas duas décadas - de 1970 a 1991.

A concentração da propriedade da terra, decorrente de sua valorizaçãoe do acesso diferenciado ao crédito, resultou na expropriação violenta de pequenosprodutores (posseiros, parceiros, pequenos proprietários etc.). Em conseqüência,a mobilidade passou a se dar em escala nacional e está associada à formação de umnovo mercado de trabalho com características próprias.

Nas áreas em que o mercado de trabalho é melhor organizado, como emSão Paulo, assalariados rurais permanentes foram transformados em traba-lhadores temporários, que vivem nas cidades e vão trabalhar diariamente nocampo, os bóias-friasbóias-friasbóias-friasbóias-friasbóias-frias. Em áreas menos desenvolvidas, os pequenos produ-tores rurais passaram a vender seu trabalho, tanto para o mercado urbanocomo para o rural (dependendo da estação), e a morar em áreas urbanas. Esseprocesso significa maior instabilidade no emprego e maior exploração dotrabalho, pois permite manter os salários baixos, induz à ampliação dajornada de trabalho e “libera” os patrões das obrigações trabalhistas.

Ao fornecersubsídio, o governopode pagar partedo bem, ou cobrarimpostos maisbaixos, ou atédeixar de cobrá-los.

até 2 hab./km2

de 2 a 20 hab./km2

de 20 a 50 hab./km2

mais de 50 hab./km2

1940 1950 1960

1970 1980 1991

BRASIL - DENSIDADES DEMOGRÁFICAS POR ESTADOS - 1940/ 1991

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Na área urbana os trabalhadores podem estar empregados no setor formalsetor formalsetor formalsetor formalsetor formalda economia, isto é, o que apresenta uma relação estável de trabalho e estáregulamentado pelas normas do Estado, ou no setor informalsetor informalsetor informalsetor informalsetor informal, que é formadopelos trabalhadores por conta própria e pelos que não possuem relações detrabalho formais, isto é, não têm seus direitos trabalhistas garantidos.

O chamado setor informal abrange uma fantástica massa de empregadorese empregados, constituindo uma economia paralelaeconomia paralelaeconomia paralelaeconomia paralelaeconomia paralela que foge da regulaçãooficial. Ainda pouco conhecida, essa imensa massa de trabalhadores semcarteira assinada exerce as mais diversas atividades. A economia paralelainclui desde o pequeno vendedor ambulante até as pequenas indústrias queproliferam nas grandes cidades brasileiras.

Nesta aula você aprendeu que:

l o Brasil tem a maior extensão territorialextensão territorialextensão territorialextensão territorialextensão territorial entre os países da América Latinae uma das maiores entre os países do mundo;

l essas dimensões territoriaisdimensões territoriaisdimensões territoriaisdimensões territoriaisdimensões territoriais possibilitaram ao Brasil, historicamente, inte-grar-se ao comércio mundial, pela ocupação de grandes extensões degrandes extensões degrandes extensões degrandes extensões degrandes extensões deterrasterrasterrasterrasterras com cultivos como o açúcar, o café e atualmente a soja, destinados,de preferência, à exportação;

l mas essa possibilidade de incorporar novas áreas produtivas - as chamadasfronteiras agrícolas fronteiras agrícolas fronteiras agrícolas fronteiras agrícolas fronteiras agrícolas - permitiu, também, a preservação de uma estruturaestruturaestruturaestruturaestruturafundiária altamente concentradafundiária altamente concentradafundiária altamente concentradafundiária altamente concentradafundiária altamente concentrada, pois os “sem-terra” deslocam-se paraas áreas de fronteira;

l no Brasil, a mobilidade do trabalhomobilidade do trabalhomobilidade do trabalhomobilidade do trabalhomobilidade do trabalho, quer nas fronteiras agrícolas, quer nasáreas urbanas, é um dos fatores para explicar as baixas remuneraçõesbaixas remuneraçõesbaixas remuneraçõesbaixas remuneraçõesbaixas remunerações queconservam os trabalhadores apenas em níveis próximos da pobreza.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1A intensificação do processo de ocupação da região Centro-Oeste é recente.Destaca-se como fator dessa ocupação:a)a)a)a)a) a pecuária, iniciada nas últimas décadas, especialmente em trechos do

Planalto Central e no Pantanal Matogrossense;b)b)b)b)b) a industrialização, estimulada pelo governo, que se tornou a atividade

econômica mais expresiva de Estados como Goiás e Mato Grosso do Sul;c)c)c)c)c) a construção de Brasilia em uma das áreas mais valorizadas da região,

que possibilitou dinamismo econômico, tornou complexa a estruturado espaço regional e viabilizou a estratégia de “integração regional”;

d)d)d)d)d) a constução de ferrovias, que se constituem atualmente no mais expres-sivo fluxo de circulação regional.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2A população rural da região Sul do Brasil foi a que conheceu o maiordecréscimo percentual entre 1970 e 1980 (-2,47% ao ano). Para que outrasregiões essa população tem se dirigido?

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Considerando o aspecto da dinâmica populacional, descreva:a)a)a)a)a) um fator de atração;b)b)b)b)b) um fator de repulsão da população.

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Condomínios e favelas:a urbanização desigual

NNNNNesta aula, vamos estudar a urbanizaçãourbanizaçãourbanizaçãourbanizaçãourbanizaçãobrasileira, que se caracteriza pela rapidez e intensidade de seu ritmo. Vamoscomprender como o crescimento das cidades esteve ligado à atividade industri-al, gerando aglomerações urbanasaglomerações urbanasaglomerações urbanasaglomerações urbanasaglomerações urbanas com diferentes níveis na hierarquia regional.Veremos também que a pobreza urbanapobreza urbanapobreza urbanapobreza urbanapobreza urbana reflete as desigualdades sociais presen-tes na economia brasileira.

Qual o papel das grandes cidades no processo de desenvolvimento brasi-leiro? Como as metrópoles podem ser, ao mesmo tempo, centros de inovaçõese aglomerados de pobreza?

No Brasil, o mercado unificou a economia urbana em escala nacional.Quanto maior a cidade, maior a possibilidade de multiplicação das atividadesinformais e das alternativas de sobrevivência para os pobres. Favelas semultiplicam, enquanto as pessoas mais abastadas procuram construir condo-mínios que lhes ofereçam mais segurança. Explica-se, assim, a expansão doemprego - ainda que rotativo e mal remunerado - na indústria metropolitana,ao contrário do que ocorre nas economias centrais. No caso brasileiro, aperiferia cresce com a indústria e com a migração da população de baixa renda.O lugar da riqueza torna-se literalmente o lugar da pobreza.

O Brasil transfor-mou-se em um paíspaíspaíspaíspaísurbanourbanourbanourbanourbano em poucas dé-cadas, comprimindono tempo um proces-so que, em outros paí-ses, se fez muito maislentamente. As áreasurbanas passaram aconcentrar, em 1995,mais de 120 milhõesde indivíduos, numtotal de aproximada-mente l60 milhões.

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Ao contrário dos países latino-americanos, como os do Cone Sul, que têmurbanização mais estabilizada, o Brasil manifesta um processo extremamen-te dinâmico, devido, em grande parte, ao próprio crescimento urbano - quenão se reduz à mera “inchação” das cidades - mas também à mobilidade desua população e a uma fronteira móvel.

A partir de 1930, começou a se acelerar o crescimento industrial do eixo entreRio de Janeiro e São Paulo. Essa área passou a ter um desenvolvimento maior doque as demais, tornando-se o centrocentrocentrocentrocentro econômicoeconômicoeconômicoeconômicoeconômico do Brasil e produzindo bensindustrializados de todos os tipos. Os demais Estados tornaram-se mercadosconsumidores desses bens, fornecendo matérias-primas e alimentos a preçosbaixos e, principalmente, mão-de-obra barata em grande quantidade. Estabele-ceu-se, assim, a relação centro-periferiacentro-periferiacentro-periferiacentro-periferiacentro-periferia, isto é, áreas que tiveram crescimentoeconômico diferente mantêm uma relação de dependência entre si.

A indústria foi a grande responsável pela aceleração do processo de urbani-zação. Como mostra o gráfico, hoje o Brasil é um país predominantementeurbano, com cerca de 75% de sua população vivendo e trabalhando em cidades,em especial nas metrópolesmetrópolesmetrópolesmetrópolesmetrópoles.

As metrópoles são cidades que exercem um grande poder de atração sobreas áreas vizinhas. Esse é o caso de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, BeloHorizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Brasília.

Entre 1950-1990, o crescimento mais significativo ocorreu nas cidades mé-dias e grandes. O total de cidades com mais de 100 mil habitantes passou de 11para 95, representando 48,7% da população urbana do país.

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Dois movimentos complementares caracterizam a urbanização: a acentua-ção da concentração populacional e a tendência à dispersão espacial.

Em termos de concentração, nos anos 70 as regiões metropolitanas aumen-taram sua participação relativa (isto é, em relação ao total da população dasáreas urbanas) de 25,5% para 29,0%. A indústria teve papel central no cresci-mento das metrópoles e das aglomerações urbanas imediatamente abaixodesse nível.

Somente as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro - com12 milhões e 9 milhões de habitantes, respectivamente - juntas respondiam,em 1980, por 75,4% do pessoal ocupado e por aproximadamente 65% do valorda produção industrial em todo o país.

Essas metrópoles recebem apoio de dois tipos de cidade, tanto em relaçãoao crescimento demográfico quanto à situação de renda:

1.1.1.1.1. as cidades que correspondem à desconcentração industrial de São Paulo ouà implantação da fronteira científico-tecnológica, isto é, cidades onde seinstalam importantes centros de pesquisa e se desenvolvem atividades queutilizam tecnologia de ponta, como é o caso de Campinas e São José dosCampos;

2.2.2.2.2. regiões metropolitanas com indústrias ou pólos industriais avançados,como Belo Horizonte (metalurgia e material de transporte), Salvador(petroquímica), Curitiba e Porto Alegre (indústrias diversas).

A tendência à dispersão urbana, tanto em termos populacionais como derenda, se faz por três modalidades, movidas por fatores que não se ligamdiretamente à indústria, e em geral correspondem a posições de contato entreáreas de economias diversas.

A primeira modalidade é a extensão contínua de centros urbanos a partir dacidade mundial, isto é, uma cidade rica que fornece as tendências de atuação pararegiões de agricultura diversificada e regiões basicamente pecuaristas, por ondeavança a agricultura moderna da soja e da cana-de-açúcar.

A segunda é a formação de uma ampla frente urbana de interiorização,correspondente às grandes capitais dos Estados do Centro-Norte, que fornecemas tendências de atuação para a urbanização no interior, e funcionam comopontos de contato e intermediação entre as bordas da cidade mundial e as áreasde avanço da fronteira. Papel central na presença de grandes populações e derendas relativamente elevadas deve-se ao Estado. O maior exemplo dessasituação é Brasília, a capital da geopolítica, que registrou a maior proporção nopaís da população economicamente ativa urbana nas mais altas classes de renda.

BRASILBRASILBRASILBRASILBRASIL: : : : : ÍNDICEÍNDICEÍNDICEÍNDICEÍNDICE DEDEDEDEDE URBANIZAÇÃOURBANIZAÇÃOURBANIZAÇÃOURBANIZAÇÃOURBANIZAÇÃO – 1950/91 – 1950/91 – 1950/91 – 1950/91 – 1950/91PopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulação

AnoAnoAnoAnoAno19501960197019801991

PopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoTotalTotalTotalTotalTotal

51 .944.39770.197.37093.139.037

119.002.706146.825.475

PopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoUrbanaUrbanaUrbanaUrbanaUrbana

18.782.89131.533.68152.084.98480.436.409

110.990.990

Índice de urbanizaçãoÍndice de urbanizaçãoÍndice de urbanizaçãoÍndice de urbanizaçãoÍndice de urbanização

%%%%%36,244,955,967,675,6

FONTE: IBGE, Censos Demográficos: 1905, 1960, 1970, 1980 e 1991.

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A terceira modalidade da dispersão é característica da fronteira. Incluicentros regionais e locais que servem de suporte para as frentes de expansãoagropecuárias e minerais, e inclui também o crescimento explosivo de pequenosnúcleos dispersos, vinculados à abertura da floresta ou aos garimpos, que seconstituem em locais de reprodução da força de trabalho móvel, razão pela qualmuitos desses são também efêmeros, mudando de localização com o desloca-mento das frentes.

A urbanização foi sustentada em grande parte por uma maioria de mão-de-obra barata e pobre. E, ainda assim, o trabalho urbano significa ascensão, pois aproporção de trabalhadores na faixa inferior a um salário mínimo foi de cerca de25%, no Brasil urbano, bem menor do que a percentagem de 38% do país comoum todo. Na Região Metropolitana de São Paulo, a proporção de trabalhadoresganhando até um salário mínimo é de 9,2%, na do Rio de Janeiro é superior a14,0% e na de Belo Horizonte alcança quase 21%.

Crescimento econômico com pobreza crescente, movimentos espontâneosna economia informal e estruturas econômicas formais se complementam parasustentar o crescimento metropolitano. A pobreza, por um lado, constitui umentrave à maior expansão das grandes empresas, pois restringe o crescimento deum mercado interno, consumidor; mas, por outro, permite a proliferação depequenas fábricas menos capitalizadas e criadoras de emprego.

O mercado unifica a economia urbana e, quanto maior a cidade, maior apossibilidade de multiplicação de atividades informais. Explica-se, assim, aexpansão do emprego - ainda que rotativo e mal remunerado - na indústriametropolitana, ao contrário do que ocorre nas economias centrais. No casobrasileiro, a periferia cresce com a indústria e a migração da população de baixarenda. O lugar da riqueza torna-se literalmente o lugar da pobreza.O lugar da riqueza torna-se literalmente o lugar da pobreza.O lugar da riqueza torna-se literalmente o lugar da pobreza.O lugar da riqueza torna-se literalmente o lugar da pobreza.O lugar da riqueza torna-se literalmente o lugar da pobreza.

Os dados relativos ao sistema urbano das regiões brasileiras revelam algunsaspectos importantes:

O Sudeste, que é o núcleo original da industrialização, revela a formidávelconcentração da indústria (52,4%), do comércio (58,9%) e dos serviços (75,4%)nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.É particularmente acentuado o fato de que três quartos das receitas de serviçosestão centralizados nas metrópoles, o que é um indicador indireto da elevadaconcentração urbana da região.

O Sul, dadas as características históricas e geográficas de seu desenvolvi-mento, apresenta uma estrutura mais dispersa, com maior concentração metro-politana na oferta de serviços.

PARTICIPAÇÃOPARTICIPAÇÃOPARTICIPAÇÃOPARTICIPAÇÃOPARTICIPAÇÃO DASDASDASDASDAS REGIÕESREGIÕESREGIÕESREGIÕESREGIÕES METROPOLITANASMETROPOLITANASMETROPOLITANASMETROPOLITANASMETROPOLITANAS EEEEE DODODODODO DISTRITODISTRITODISTRITODISTRITODISTRITO FEDERALFEDERALFEDERALFEDERALFEDERAL

NONONONONO VALORVALORVALORVALORVALOR BRUTOBRUTOBRUTOBRUTOBRUTO DADADADADA PRODUÇÃOPRODUÇÃOPRODUÇÃOPRODUÇÃOPRODUÇÃO INDUSTRIALINDUSTRIALINDUSTRIALINDUSTRIALINDUSTRIAL ( ( ( ( (VBPIVBPIVBPIVBPIVBPI),),),),),NANANANANA RECEITARECEITARECEITARECEITARECEITA DADADADADA VENDAVENDAVENDAVENDAVENDA DEDEDEDEDE MERCADORIASMERCADORIASMERCADORIASMERCADORIASMERCADORIAS ( ( ( ( (RVMRVMRVMRVMRVM) ) ) ) ) EEEEE NANANANANA RECEITARECEITARECEITARECEITARECEITA TOTALTOTALTOTALTOTALTOTAL DOSDOSDOSDOSDOS SERVIÇOSSERVIÇOSSERVIÇOSSERVIÇOSSERVIÇOS ( ( ( ( (RTSRTSRTSRTSRTS)))))

BrasilBrasilBrasilBrasilBrasilNorteNordesteSudesteSulCentro-Oeste (1)

VBPIVBPIVBPIVBPIVBPI47,011,058,952,434,110,8

RVMRVMRVMRVMRVM46,525,640,458,927,721,5

RTSRTSRTSRTSRTS65,422,350,175,443,355,4

(1) Dados relativos ao Distrito Federal

Fonte: IBGE, Censo Econômico de 1985 e Municípios: Indústria, Comércio e Serviços.

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No Nordeste são nítidos os efeitos territoriais da nova indústria nordestina,cuja produção está fortemente centralizada nas áreas metropolitanas de Salva-dor, Recife e Fortaleza (58,9%), com uma concentração superior à receita dosserviços (50,1%). Isso constitui um efeito peculiar das políticas regionais centradasna indústria como motor dinâmico do desenvolvimento, cujo melhor exemploestá na região metropolitana de Salvador, que detém cerca de 80% do total dovalor da produção industrial do Estado da Bahia e aproximadamente 35% dovalor total da Região Nordeste.

O Norte e o Centro-Oeste revelam estruturas semelhantes, no que dizrespeito ao peso metropolitano da indústria e do comércio, em grande parte porcausa do papel de cidades médias, como é o caso de Goiânia e Manaus, quedividem as funções urbanas com os aglomerados metropolitanos de Brasíliae Belém, respectivamente.

Dois aspectos devem ser ressaltados: a considerável presença de Belém nocomércio regional, atividade tradicional nessa cidade da foz do Amazonas, e opapel de destaque de Brasília, na receita dos serviços da região Centro-Oeste,reforçando sua centralidade na rede urbana regional, em grande parte devidoà função de capital federal.

Uma das questões centrais, nesse contexto, é o abastecimento dessas aglo-merações metropolitanas, que exige redes de circulação eficientes para mantera oferta de bens agrícolas a esse grande contingente populacional, garantindo,pelo aumento da oferta de alimentos, ganhos relativos nos salários reais.

Esse é um dos problemas centrais de uma política territorial de distribuiçãode renda, com profundas implicações sociais, conforme se observou nos anos 80:a convivência de grandes safras com elevações constantes nos preços da cestabásica, nos mercados metropolitanos.

As metrópoles tornaram-se também o lugar da pobreza urbanapobreza urbanapobreza urbanapobreza urbanapobreza urbana, das carên-cias sociais de vários tipos, que se manifestam em movimentos demovimentos demovimentos demovimentos demovimentos de posseirosposseirosposseirosposseirosposseiros(sem-terra), em invasões dos sem-tetoinvasões dos sem-tetoinvasões dos sem-tetoinvasões dos sem-tetoinvasões dos sem-teto e em loteamentos clandestinosloteamentos clandestinosloteamentos clandestinosloteamentos clandestinosloteamentos clandestinos. Elas têmos complexos problemas de gestão, comuns às grandes aglomerações urbanas,bem como os problemas específicos das cidades de economias periféricas, o queresulta em elevado potencial de conflitos reivindicatórios de direito à cidadania.

Nesta aula você aprendeu que:

l o Brasil se transformou em um país urbanopaís urbanopaís urbanopaís urbanopaís urbano, em poucas décadas, comprimin-do no tempo um processo que em outros países se fez muito mais lentamente;

l a partir de 1930, começou a se acelerar o crescimento industrial do eixo entreRio de Janeiro e São Paulo. Essa área passou a ter um desenvolvimento maiordo que as demais, tornando-se o centrocentrocentrocentrocentro econômicoeconômicoeconômicoeconômicoeconômico do Brasil;

l a industrializaçãoindustrializaçãoindustrializaçãoindustrializaçãoindustrialização foi a grande responsável pela aceleração do processode urbanizaçãourbanizaçãourbanizaçãourbanizaçãourbanização;

l cerca de 75% de sua população vive e trabalha em cidades, principalmentenas metrópolesmetrópolesmetrópolesmetrópolesmetrópoles, que têm um grande poder de atração sobre as áreasvizinhas, como é o caso de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizon-te, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Brasília;

l as metrópoles tornaram-se também o lugar da pobreza urbanapobreza urbanapobreza urbanapobreza urbanapobreza urbana, das carên-cias sociais de vários tipos que se manifestam em movimentos demovimentos demovimentos demovimentos demovimentos de possei-possei-possei-possei-possei-rosrosrosrosros, em invasões dos sem-tetoem invasões dos sem-tetoem invasões dos sem-tetoem invasões dos sem-tetoem invasões dos sem-teto e em loteamentos clandestinosloteamentos clandestinosloteamentos clandestinosloteamentos clandestinosloteamentos clandestinos.

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24A U L A

26

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Por que podemos afirmar que hoje o Brasil é um país urbano?

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Por que as metrópoles brasileiras podem ser consideradas lugares da rique-za e da pobreza?

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Assinale a alternativa errada sobre a urbanização brasileira:a)a)a)a)a) A aceleração do processo de urbanização ocorreu principalmente após a

Segunda Guerra Mundial, quando também se intensificou a industriali-zação.

b)b)b)b)b) Uma das tendências da urbanização na década de 1970 diz respeito aoaparecimento, no interior, de centros de contato e de intermediação entreas regiões de desenvolvimento urbano-industrial e as áreas de avanço dafrente pioneira.

c)c)c)c)c) A tendência mais marcante da configuração espacial da urbanização,no período de 1970 a 1980, refere-se ao aumento da concentração urbananos espaços metropolitanos.

d)d)d)d)d) O processo de urbanização no período de 1980 a 1990 estabiliza-se,evidenciando um padrão definido na distribuição espacial da populaçãono território nacional.

Page 20: Telecurso 2000 - Geografia - volume 2

25A U L A

NNNNNesta aula, vamos verificar que a industri-industri-industri-industri-industri-alização recente alização recente alização recente alização recente alização recente foi consolidada por uma forte participação do Estado em umprocesso que ficou conhecido como modernização conservadoramodernização conservadoramodernização conservadoramodernização conservadoramodernização conservadora. Veremoscomo esse processo marcou profundamente a organização espacial do territórionacional, hierarquizando-o a partir de uma cidade mundialcidade mundialcidade mundialcidade mundialcidade mundial, em domíniosdomíniosdomíniosdomíniosdomínios efronteirasfronteirasfronteirasfronteirasfronteiras. Tal processo contribui pouco para reduzir as disparidades de rendaentre as regiões brasileiras, resultantes do ritmo de desenvolvimento desigualdesenvolvimento desigualdesenvolvimento desigualdesenvolvimento desigualdesenvolvimento desigualna acumulação de riqueza e na geração de renda na economia nacional.

Qual o papel do Estado na industrialização recente no Brasil? O que significaa modernização conservadora e quais seus reflexos na organização espacial daeconomia brasileira?

Durante o período autoritário - de l964 a l985, quando o Brasil esteve sobregime militar - as implicações políticas da estrutura espacial foram levadas aoextremo, num momento em que o espaço tornou-se instrumento e condição damodernização conservadora.

A gestão estatal do território foi principalmente estratégica, envolvendonão apenas sua administração em termos econômicos, mas também as rela-ções de poder. Entre 1955 e 1970, a política regional procurou identificar-secom a construção da nação. A macro-região foi a escala considerada ótima,tanto para promover a unificação do mercado nacional como para a centra-lização do poder governamental. Na década de 1970, os grandes projetosadministrados pelas empresas estatais substituíram a política regional pornovos ajustes com os grupos que detinham o poder nas regiões.

No Brasil, o status de país de industrialização recente - conhecido tambémpela sigla em inglês NIC (New Industrialized Country) - foi alcançado a partirde 1970 pela modernização conservadoramodernização conservadoramodernização conservadoramodernização conservadoramodernização conservadora conduzida pelo Estado, queproduziu transformações significativas na economia sem romper com a ordemsocial hierarquicamente organizada.

Cidade mundial,domínios e fronteiras

25A U L A

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25A U L A A gestão autoritária do território foi um instrumento essencial para criar

fronteirasfronteirasfronteirasfronteirasfronteiras, isto é, áreas onde se conquistavam novas terras e se produziammudanças aceleradas; garantir os domíniosdomíniosdomíniosdomíniosdomínios, ou seja, territórios controlados poroligarquias solidamente estabelecidas, e consolidar uma cidade mundial cidade mundial cidade mundial cidade mundial cidade mundial -São Paulo - como lugar que estabelece ligações com a economia mundial.

A fronteirafronteirafronteirafronteirafronteira não se resume a uma vasta extensão de terras sem dono a serexplorada por homens também - pretensamente - livres, tampouco represen-ta um determinado tipo de periferia dependente de um centro. Ela é um espaçoeconômico, social e político que não está plenamente organizado e tem acapacidade de gerar novas realidades.

Os domíniosdomíniosdomíniosdomíniosdomínios são áreas consolidadas, com estruturas políticas relativamenteestáveis, mantidas por alianças com interesses locais e regionais que participamdiretamente do núcleo de poder político, e que deram sustentação ao projetode modernização conservadora.

Assim, perpetuaram-se formas tradicionais de propriedade da terra e decontrole do comércio, graças a toda sorte de instrumentos políticos que garantemprivilégios adquiridos e criam barreiras à entrada de novos concorrentes.

Fronteiras e domínios são articulados, ou seja, criados e postos em práticapela cidade mundial, que, em países de industrialização recente, é, ao mesmotempo e no mesmo lugar, centro de gestão, de acumulação de capital em escalamundial e núcleo de comando de uma vasta rede urbana que conecta amultiplicidade de lugares existente no Brasil.

Oligarquia:governo de poucas

pessoas quepertencem ao

mesmo partido,classe ou família, e

que compartilhamos mesmosinteresses.

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25A U L AA política territorial do Estado manteve domínios, expandiu fronteiras

e fortaleceu a cidade mundial. Como exemplo de manutenção de domíniomanutenção de domíniomanutenção de domíniomanutenção de domíniomanutenção de domínio,a persistência da questão regional no Nordeste; da expansão de fronteiraexpansão de fronteiraexpansão de fronteiraexpansão de fronteiraexpansão de fronteira,a configuração de uma imensa fronteira de recursos no Norte e Centro-Oestee de fortalecimento da cidade mundialfortalecimento da cidade mundialfortalecimento da cidade mundialfortalecimento da cidade mundialfortalecimento da cidade mundial, a conformação de um vasto complexourbano-industrial comandado por São Paulo.

Um balanço desse período recentemostra que, apesar da intervenção diretado Estado, persistem na economia nacio-nal os mecanismos geográficos que leva-ram ao desenvolvimento desigualdesenvolvimento desigualdesenvolvimento desigualdesenvolvimento desigualdesenvolvimento desigual das re-giões brasileiras. E as desigualdades re-sultam do ritmo diferenciado de acumula-ção da riqueza e de geração da renda, nasdiferentes parcelas do território nacional.

A análise das grandes regiões brasilei-ras, que utiliza a classificação definidapelo Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE) em NorteNorteNorteNorteNorte, Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste,SudesteSudesteSudesteSudesteSudeste, Sul Sul Sul Sul Sul e Centro-Oeste Centro-Oeste Centro-Oeste Centro-Oeste Centro-Oeste, é útil paraum primeiro contato com as mudançasrecentes ocorridas no Brasil, que revelam asituação atual na distribuição territorialda riqueza e as desigualdades regionais nadivisão social da renda.

A industrialização foi responsável pela maior concentração de população ede renda no Sudeste. Sua integração com o Sul já era importante desde o iníciodo desenvolvimento industrial, por causa do fornecimento, pelo Sul, de alimen-tos e matérias-primas agrícolas.

O Nordeste, a segunda região mais populosa, ainda é a área mais pobre dopaís, com uma participação na renda nacional inferior à metade de seu pesodemográfico, isto é, de sua grandeza populacional. A integração do Nordeste aoSudeste é um processo que se completa na década de 1970 pela intervençãoplanejada do Estado.

DADOSDADOSDADOSDADOSDADOS BÁSICOSBÁSICOSBÁSICOSBÁSICOSBÁSICOS SOBRESOBRESOBRESOBRESOBRE ASASASASAS MACROMACROMACROMACROMACRO-----REGIÕESREGIÕESREGIÕESREGIÕESREGIÕES BRASILEIRASBRASILEIRASBRASILEIRASBRASILEIRASBRASILEIRAS

RegiãoRegiãoRegiãoRegiãoRegião

NorteNordesteSudesteSulCentro-Oeste

Brasil

ÁreaÁreaÁreaÁreaÁrea

(1.000 km(1.000 km(1.000 km(1.000 km(1.000 km22222)))))

3.8641.5461.9251.5781.5938.506

ÁreaÁreaÁreaÁreaÁrea

(%)(%)(%)(%)(%)

45,418,2l0 ,96,8

18,7100,0

PopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulação

-1991 (1)-1991 (1)-1991 (1)-1991 (1)-1991 (1)

Milhões de hab.Milhões de hab.Milhões de hab.Milhões de hab.Milhões de hab.

110.146142.387162.121122.080149.420146.154

PopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulação

- l991 (1)- l991 (1)- l991 (1)- l991 (1)- l991 (1)

(%)(%)(%)(%)(%)

6 ,929 ,042 ,615 ,1

6 ,4100,0

Renda Renda Renda Renda Renda -----

1985 (2)1985 (2)1985 (2)1985 (2)1985 (2)

(milhões de US$)(milhões de US$)(milhões de US$)(milhões de US$)(milhões de US$)

8 .82827 .511

118 .13935 .914l2 .667

203 .059

Renda Renda Renda Renda Renda -----

l985 (2)l985 (2)l985 (2)l985 (2)l985 (2)

(%)(%)(%)(%)(%)

4 ,3l3 ,558 ,317 ,7

6 ,2100,0

(1) Dados preliminares do Censo Demográfico de 1991 (FIBGE, 1992).

(2) Dados básicos das Contas Nacionais - Renda Interna por Unidade da Federação (FIBGE, 1991).

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25A U L A O Centro-Oeste iniciou, de fato, seu processo de integração com a fundação de

Brasília, em 1960. Sua rede de infra-estrutura viária facilitou a expansão da soja,cultura agrícola que “abriu” os cerrados e integrou definitivamente o Centro-Oeste ao mercado nacional, na década de 1980.

O Norte, que abrange a grande Planície Amazônica, é ainda uma imensasuperfície florestada e um imenso vazio demográfico. Os esforços de ocupaçãodessa área, realizados a partir da década de 1970 com a abertura de rodovias quepartiam de Brasília, permitiram o crescimento populacional em manchas naborda sul da grande massa florestal. Entretanto, a atividade econômica ainda éem grande parte dispersa ou, então, concentra-se ao longo de poucos eixos quepartem de cidades encravadas aqui e ali, e ao longo dos rios e rodovias.

Os grandes projetos agropecuários e mineradores instalados a partir dadécada de 1970 na Amazônia seguem basicamente esse padrão, mesmo emCarajás, a grande província mineral da região, onde a Companhia Vale do RioDoce (CVRD) é o elemento de integração do território sob seu controle com omercado mundial.

Dessa maneira verificamos que, apesar da forte intervenção do Estado, oritmo de desenvolvimento desigual é o responsável pelas disparidades entreas regiões brasileiras, o que resulta em uma grande concentração de pessoas,investimentos e informações na área geoeconômica comandada pela cidademundial, São Paulo, conhecida também como o Centro-SulCentro-SulCentro-SulCentro-SulCentro-Sul, que veremos naaula a seguir.

Nesta aula você aprendeu que:

l no Brasil, o status de país de industrialização recente país de industrialização recente país de industrialização recente país de industrialização recente país de industrialização recente foi alcançado pelamodernização conservadoramodernização conservadoramodernização conservadoramodernização conservadoramodernização conservadora conduzida pelo Estado;

l a gestão autoritária do território produziu fronteirasfronteirasfronteirasfronteirasfronteiras, garantiu domíniosdomíniosdomíniosdomíniosdomíniose consolidou a cidade mundialcidade mundialcidade mundialcidade mundialcidade mundial, lugar que estabelece ligações com a econo-mia global;

l a industrialização foi responsável pelo desenvolvimento desigual da econo-mia nacional, pois estimulou uma maior concentração de população e derenda no SudesteSudesteSudesteSudesteSudeste. A região está integrada com o SulSulSulSulSul, especialmente porqueeste lhe fornece alimentos e matérias-primas agrícolas;

l o NordesteNordesteNordesteNordesteNordeste ainda é a área mais pobre, com uma participação na rendanacional inferior à metade de seu peso demográfico;

l o Centro-OesteCentro-OesteCentro-OesteCentro-OesteCentro-Oeste iniciou, de fato, seu processo de integração com a fundaçãode Brasília, em 1960;

l o NorteNorteNorteNorteNorte, que abrange a grande Planície Amazônica, é ainda uma imensasuperfície florestada e um imenso vazio demográfico.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1

ÁREAÁREAÁREAÁREAÁREA TERRITORIALTERRITORIALTERRITORIALTERRITORIALTERRITORIAL EEEEE POPULAÇÃOPOPULAÇÃOPOPULAÇÃOPOPULAÇÃOPOPULAÇÃO NASNASNASNASNAS REGIÕESREGIÕESREGIÕESREGIÕESREGIÕES BRASILEIRASBRASILEIRASBRASILEIRASBRASILEIRASBRASILEIRAS

RegiõesRegiõesRegiõesRegiõesRegiões

123

PorcentagemPorcentagemPorcentagemPorcentagemPorcentagemdo territóriodo territóriodo territóriodo territóriodo território

45,410,916,8

PorcentagemPorcentagemPorcentagemPorcentagemPorcentagemda populaçãoda populaçãoda populaçãoda populaçãoda população

16,942,615,1

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25A U L AConsiderando os dados apresentados, identifique qual das alternativas

abaixo contém, corretamente indicadas, as regiões brasileiras que substi-tuem os números 1, 2 e 3 na ordem da tabela.a)a)a)a)a) Centro-Oeste, Nordeste e Sul;b)b)b)b)b) Centro-Oeste, Sudeste e Sul;c)c)c)c)c) Norte, Nordeste e Sudeste;d)d)d)d)d) Sudeste, Sul e Nordeste;e)e)e)e)e) Norte, Sudeste e Sul.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Na região Centro-Oeste, do ponto de vista das características geoeconômicas,quais são os fatores que permitem definir essa unidade espacial? Assinaleas respostas falsas e as verdadeiras.a)a)a)a)a) alta concentração de população e de renda;b)b)b)b)b) intensa aplicação de capital na agricultura;c)c)c)c)c) comunicação precária por rodovias com o resto do país;d)d)d)d)d) economia principalmente voltada para a exportação.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3A região Sudeste é a mais desenvolvida do país, concentra mais da metade dapopulação absoluta do Brasil, mais de 60% da renda nacional e tem o maiorcomplexo industrial da América Latina. Assinale a alternativa incorreta:a)a)a)a)a) Esse progresso é explicado pelo grande fluxo de capital acumulado

na fase áurea da mineração no interior de Minas Gerais.b)b)b)b)b) Isso ocorre devido ao seu potencial energético e à disponibilidade

de mão-de-obra vinda de outras regiões do país.c)c)c)c)c) Embora tenha áreas pobres e grande número de favelados nos mais

importantes centros urbanos, apresenta o menor índice de desempregorural e urbano do país.

d)d)d)d)d) Apresenta os mais bem-equipados portos do país, como o de Santos,no Estado de São Paulo, e o de Tubarão, no Espírito Santo.

e)e)e)e)e) O crescimento econômico do espaço regional foi favorecido pela boainfra-estrutura dos transportes, com destaque para as rodovias que ligamdiferentes áreas de produção da região.

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26A U L A

26A U L A

NNNNNesta aula, veremos como a cidade mundial- São Paulo - foi responsável pela consolidação de um cinturão urbano-cinturão urbano-cinturão urbano-cinturão urbano-cinturão urbano-industrialindustrialindustrialindustrialindustrial na região SudesteSudesteSudesteSudesteSudeste, que incorporou a região SulSulSulSulSul e se estendeupelo Centro-OesteCentro-OesteCentro-OesteCentro-OesteCentro-Oeste. Esse desenvolvimento se deu principalmente depois daconstrução da nova capital federal em Brasília, inaugurada em 1960, o queacelerou o avanço da ocupação agrícola e a diversificação do papel das cidadesda região.

Essa área forma um conjunto regional denominado Centro-SulCentro-SulCentro-SulCentro-SulCentro-Sul, que sedestaca no cenário nacional pelo dinamismo de sua agroindústria, embora aindaapresente níveis elevados de pobreza, em especial nas grandes aglomeraçõesmetropolitanas.

Qual o papel de São Paulo na estruturação do espaço brasileiro? Quala importância da metrópole paulistana na rede mundial de cidades?

No Brasil, a metropolização expressa a rapidez com que se urbaniza o espaçonacional. É contraditório verificar como uma economia subdesenvolvida supor-ta esse papel que, sem dúvida, lhe é atribuído pela divisão internacional dotrabalho, em termos da própria realização do capital internacional.

Apesar da importância desse papel, a metrópole é essencialmente o lugar dapobreza. Essa posição típica de São Paulo - parecida com a da Cidade do México,quanto à evolução da população urbana das grandes metrópoles mundiais - jápode ser considerada como um elemento de identidade. São Paulo, metrópolenova que vem se consolidando como tal apenas neste século, apresenta um ritmosurpreendente de urbanização, que foi se afirmando a partir dos anos 70.

O Centro-Sul é o cinturão agroindustrial do país. Ele é formado basicamen-te pelos Estados da Região Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Geraise Espírito Santo) e Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), pelosEstados de Goiás e de Mato Grosso do Sul e pelo Distrito Federal, que compõema Região Centro-Oeste, segundo a classificação oficial. De um modo geral,o Centro-Sul corresponde à parcela do território brasileiro diretamente ligadaà cidade mundial - São Paulo.

Centro-Sul: o cinturãourbano-industrial

Page 26: Telecurso 2000 - Geografia - volume 2

26A U L ANele encontramos áreas onde houve, nas chamadas empresas rurais,

uma verdadeira industrialização da agriculturaindustrialização da agriculturaindustrialização da agriculturaindustrialização da agriculturaindustrialização da agricultura, com o uso de máquinas,adubos e fertilizantes e a especialização da produção.

Além disso, a grande capacidade produtiva permite que o Centro-Sulabasteça tanto o mercado nacional quanto o mercado externo. Essa áreageoeconômica, caracterizada por suas atividades produtivas, ocupa o primeirolugar em volume e em valor de produção do setor agropecuário.

O Centro-Sul possui a melhor infra-estrutura viária do país. A intensacirculação de produtos e de pessoas, feita por uma densa rede de rodovias eferrovias, revela a forte integração e o dinamismo de sua área interna, bem comosua ligação com as demais regiões do país.

É importante destacar que essa é a área mais bem servida pelos novosmeios de comunicação desenvolvidos com a microeletrônica e a informática,por onde circulam as idéias e as informações no país. Os principais corredoresde exportação, assim como os portos e aeroportos de tráfego mais intenso,também estão no Centro-Sul.

Os fluxos de informação estão amplamente concentrados em São Paulo.A cidade é sede da maioria dos bancos privados, que correspondem a 60% dosistema bancário nacional, incluindo 18 dos 23 bancos estrangeiros queoperam no Brasil.

Os bancos são os principais clientes dos serviços de telecomunicações queligam o centro financeiro de São Paulo ao de outras cidades mundiais. São Paulotambém recebe metade das chamadas da rede de telex que chegam ao país.

A nova maneira como o Brasil participa da economia mundial deve-se àformação da cidade mundial - São Paulo - e a uma estrutura urbano-industrial intimamente ligada, que teve início no Sudeste com a concentraçãoe ampliação do núcleo econômico, durante os anos 60 e 70.

Essa área é a parte do país mais integrada à economia mundial e tambéma mais dinâmica, tanto em termos de relações com o restante do país quantocom o exterior. Aí se localiza o eixo de expansão metropolitano que liga SãoPaulo ao Rio de Janeiro. E uma grande área industrial quase contínua, que parteda cidade mundial, ultrapassa os limites do estado de São Paulo e inclui porçõesdos estados vizinhos de Minas Gerais e Rio de Janeiro.

FERROVIAS RODOVIAS

TELECOMUNICAÇÕESENERGIAELÉTRICA

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26A U L A

A atividade industrial está se expandindo para novas áreas, a exemplo do sulde Minas Gerais e o norte do Espírito Santo, onde a produção de celulose para afabricação de papel está modificando radicalmente a paisagem das cidades comoAracruz (ES), que hoje depende diretamente dessa atividade econômica.

A agricultura da região também se destaca das demais do país. Por ser umaagricultura moderna, com nível técnico avançado, está bastante integrada àindústria. A Região Sudeste concentra a maior parte da producão agrícolacomercial voltada para a exportação.

O café, que no passado era produzido em São Paulo, hoje é o principalproduto de exportação do estado de Minas Gerais. A soja e a laranja também sãoitens importantes no comércio exterior brasileiro. O Brasil é responsável pelofornecimento de cerca de 70% do consumo mundial de suco de laranja, cujomaior produtor é o Estado de São Paulo.

O cinturão agro-industrial se expande em todas as direções, desde oscampos do Sul até os cerrados centrais. Ele avança em fronteiras ao longo dosprincipais eixos rodoviários, estimulando o desenvolvimento de centros regio-nais, capitais estaduais e da própria capital federal.

A agroindústria da Região Sul responde por uma boa parte da produção dealimentos e matérias-primas do Brasil. O traço característico dessa agriculturaainda é a média propriedade familiar, na qual o trabalho é realizado pela própriafamília. Existem algumas áreas agrícolas muito especiais, nas quais predomina amédia propriedade familiar: a “serra” gaúcha com seus vinhedos, o noroeste doRio Grande do Sul com grandes áreas cultivadas com trigo e soja, e o oeste de SantaCatarina, onde a produção de milho está associada à criação de aves ou de suínos.

A modernização, que se processou a partir de 1960, promoveu grandestransformações nas condições dessa agricultura. Os médios proprietários seviram obrigados a consumir cada vez mais os produtos industrializados: máqui-nas, fertilizantes, sementes. Nem sempre os resultados foram compensadores emuitos desses médios proprietários não têm conseguido pagar os empréstimosbancários que fizeram.

Page 28: Telecurso 2000 - Geografia - volume 2

26A U L AJá as grandes empresas têm condições mais estáveis, por isso recebem maior

apoio do governo. A produção dessas grandes empresas está ficando cada vez maisespecializada. Mas, curiosamente, nesse processo que envolve modernização, espe-cialização e industrialização, o Brasil, mesmo sendo um grande exportador deprodutos agrícolas, pode algumas vezes ter necessidade de importar alimentos.

No oeste de Santa Catarina, grandes indústrias, como a Sadia e a Perdigão,estão entrosadas com as médias propriedades produtoras da matéria-prima queessas indústrias vão processar. O mesmo acontece em Santa Cruz do Sul, ondeos médios proprietários, que produzem fumo, estão ligados às grandes indús-trias produtoras de cigarros.

A Campanha Gaúcha, no Rio Grande do Sul, além das grandes propriedadesque se dedicam à pecuária de corte, desenvolveu, no vale do rio Jacuí, umaimportante área agrícola. Grandes propriedades mecanizadas, com modernastécnicas de irrigação, dedicam-se à produção de arroz.

A valorização econômica do Centro-Oeste é recente. A transferência dacapital federal para Brasília, em 1960, exigia que a região estivesse integrada demodo mais eficiente às demais regiões do país.

A grande metrópole regional do Centro-Oeste é Brasília. Com cerca de2 milhões de habitantes distribuídos pelo plano-piloto e pelas cidades satélites,Brasília é um centro de prestação de serviços. As atividades ligadas às funçõespolíticas, administrativas e comerciais dominam a vida da cidade.

O Centro-Oeste foi a região brasileira de maior dinamismo no períodorecente. Suas condições naturais favoráveis, associadas à expansão econômicado país nessa direção, fizeram da região uma importante área agrícola.Seu ritmo de crescimento acelerou-se a partir de 1975, quando se iniciou oavanço da agricultura tecnificada sobre os cerrados.

Mas não apenas as transformações no campo justificam esse desempenho,pois o papel das cidades também foi muito importante. Elas ampliarame diversificaram suas atividades e passaram a dar suporte material e financeiroà agricultura e a atuar como centros de processamento industrial, de comer-cialização e administração do complexo agroindustrial.

As condições de clima e de solo, além do relevo muito plano, permitiram ouso de técnicas de cultivo modernas e de tratores e equipamentos agrícolas noaproveitamento da terra.

As grandes propriedades que se instalaram na região cultivam cereais (milho,arroz e, mais recentemente, trigo) e oleaginosas (amendoim e, em especial, soja).Essas modernas propriedades agrícolas investem capital na seleção de sementes, nastécnicas de irrigação e na aplicação de fertilizantes para aumentar sua produção.

No entanto, a aparente estabilidade dessa agricultura é enganosa. Eladepende dos preços do mercado internacional, uma vez que sua produçãodestina-se, cada vez mais, à exportação, e seu endividamento com os bancos,causado pelas altas taxas de juros, dificulta novos investimentos.

Apesar disso, o crescimento da produção agrícola no Centro-Oeste tem sidosignificativo. Ele acontece por dois motivos: aumento do rendimento por hectaredas áreas já em utilização e implantação de novas áreas de colonização ao longodos eixos rodoviários, principalmente no Mato Grosso.

A modernização que transformou a agricultura também se deu na pecuáriade corte. As grandes fazendas de criação de gado adotam técnicas modernas,como a inseminação artificial que melhora a qualidade do rebanho, as vacinaspara evitar a febre aftosa e a brucelose, e a melhoria das pastagens com o plantiode espécies mais resistentes e que forneçam mais alimento para o gado. Além doscerrados do planalto, outra área de pecuária importante é o Pantanal.

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26A U L A É importante deixar claro que o padrão de expansão agrícola do Centro-

Oeste é radicalmente distinto daquele que prevaleceu no Nordeste ou no Sul.A pequena propriedade praticamente não existe como unidade produtiva noscerrados por uma razão muito simples: os custos dos insumos (matérias-primas, horas trabalhadas, energia consumida e outros fatores que entram noprocesso de produção) e dos equipamentos, para atingir economias de escalaque compensem os investimentos realizados, transformaram esta área noterritório econômico da agro-indústria que é diferente do domínio agro-mercantil nordestino, como veremos na aula seguinte.

Nesta aula você aprendeu que:

l o Centro-SulCentro-SulCentro-SulCentro-SulCentro-Sul é o cinturão agroindustrial agroindustrial agroindustrial agroindustrial agroindustrial do país. Ele é formado basica-mente pelos Estados da Região Sudeste (SP, RJ, MG e ES) e Sul (PR, SC e RS)pelos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal, queformalmente compõem a Região Centro-Oeste;

l nele encontramos áreas onde ocorreu uma verdadeira industrialização da industrialização da industrialização da industrialização da industrialização daagriculturaagriculturaagriculturaagriculturaagricultura, com uso o de máquinas, adubos e fertilizantes, e a especializa-ção da produção, nas chamadas empresas rurais;

l o Centro-Sul possui a melhor infra-estrutura viáriainfra-estrutura viáriainfra-estrutura viáriainfra-estrutura viáriainfra-estrutura viária do país. A intensacirculação de produtos e de pessoas, feita por uma densa rede de rodoviase ferrovias, revela a forte integração e o dinamismo de sua área interna;

l também é a área mais urbanizada do Brasil, não só devido à industrialização,mas destacadamente pela migração campo-cidademigração campo-cidademigração campo-cidademigração campo-cidademigração campo-cidade, resultante de uma mo-dernização da agropecuária.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1A industrialização e a urbanização do Sudeste, que contribuíram para aformação de um importante núcleo econômico no Brasil, podem serresponsáveis:a)a)a)a)a) pelo agravamento dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento no país;b)b)b)b)b) pela ampliação e fortalecimento do mercado consumidor interno do país;c)c)c)c)c) pela grande diferença de ocupação espacial existente no interior do país.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2A concentração econômica determinou e elevou a aglomeração de populaçãoe as atividades em grandes cidades. Qual a denominação desse processo?Cite algumas dessas grandes cidades.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3O desenvolvimento da economia urbano-industrial refletiu-se na concen-tração da produção e da força de trabalho e no crescimento do mercadoconsumidor, em determinados pontos selecionados do território.a)a)a)a)a) Cite dois exemplos importantes desse processo.b)b)b)b)b) Diga quais são as suas origens.

Exercício 4Exercício 4Exercício 4Exercício 4Exercício 4Apresente três fatores que aceleraram o crescimento econômico da RegiãoCentro-Oeste.

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NNNNNesta aula, veremos por que o Nordeste é aregião que apresenta maiores desigualdades sociais, com um marcante nível depobreza e um alto nível de destruição ambiental. A estrutura agrária, marcadapelo binômio latifúndio/minifúndio, e a dominação do capital mercantil sobrea circulação das mercadorias são fatores históricos e geográficos que ajudam aexplicar o atraso dessa região.

Veremos também como os projetos industriais e agropecuários, incentiva-dos pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), apesarde terem integrado o Nordeste ao restante da economia nacional, não foramcapazes de romper o círculo vicioso da pobreza urbana e rural da região.

Qual o papel da estrutura agrária, fundada no binômio latifúndio/minifúndio, para a permanência da pobreza rural e para o atraso no processo dedesenvolvimento do Nordeste? Por que a política de incentivos fiscais posta emprática pelo Estado, por meio da Sudene, foi incapaz de reverter essa situação?

Historicamente, criou-se na região Nordeste uma estrutura agrária extrema-mente concentrada e persistente, que monopoliza as melhores terras da Zona daMata e transfere o custo (e o prejuízo) das periódicas estiagens no Sertão semi-árido, as secas, para os pequenos proprietários e parceiros (meeiros).

A política de incentivos fiscais da Sudene contribuiu para atrair indústriaspara a região, mas não foi capaz de gerar empregos na quantidade necessária, emuito menos conseguiu alterar as condições de pobreza da maioria da popula-ção nordestina.

O Nordeste é a área geoeconômica de povoamento mais antigo no Brasil.Sua estrutura sócio-econômica está solidamente enraizada no passado agrário-exportador.

Desde seu surgimento até hoje, essa tem sido a região de maior concentraçãode renda no país.

A região se estende desde o Maranhão até a Bahia e está integrada aomercado nacional, participando com uma produção diversificada na industria-lização regional. Apesar disso, o Nordeste ainda apresenta a maior concentraçãonacional de pobreza, e tirá-lo dessa condição é um desafio para a conquista dajustiça social e para o resgate da cidadania.

Nordeste: o domínioagrário-mercantil

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Quando observamos a evolução da participação da renda per capita dasregiões brasileiras, vemos que o Centro-Sul ultrapassa a média nacional e quea Região Norte vem aumentando significativamente sua renda.

Entretanto, o Nordeste permanece quase nos mesmos níveis que apre-sentava em 1940, apesar das políticas de desenvolvimento regional postas emprática após 1959 - com a criação da Sudene, que tinha como principalobjetivo reduzir as disparidades regionais de renda entre o Nordeste e oCentro-Sul.

Boa parte do atraso do Nordeste pode ser explicado pelo pacto regional quedomina a economia e a política da região. Esse pacto, ou seja, um grande acordopolítico, coloca, de um lado, os grandes proprietários rurais que dominam oacesso às melhores terras; de outro, o capital mercantil, isto é, os grandescomerciantes que controlam os circuitos comerciais da região e procuramvalorizar suas atividades, valendo-se dos mais diversos recursos. Queremmanter o monopólio (controle exclusivo, sem concorrentes) sobre a venda demercadorias que vão desde alimentos até automóveis.

Essa associação entre grandes proprietários e comerciantes, que caracterizao domínio agrário-mercantil, tem revelado uma capacidade extraordinária parase manter sólida, apesar da industrialização, da metropolização de capitais -como Salvador, Recife e Fortaleza - e da modernização da agricultura.

Utilizando os mais variados meios para negociar favores com o Estado, ochamado regionalismo nordestino resiste a mudanças substanciais na sua basede sustentação social e política, conservando uma estrutura particularmenteperversa - e destoante das demais regiões - de distribuição de renda, apesar dosexpressivos avanços econômicos ocorridos no período recente.

A Região Nordeste pode ser dividida em quatro sub-regiões, diferenciadasentre si: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio-Norte.

A Zona da MataZona da MataZona da MataZona da MataZona da Mata é a mais úmida e tem solos férteis. Estende-se ao longo dolitoral, desde o Rio Grande do Norte até o sul da Bahia. Nessa área estáconcentrada a maior parte da população da região, principalmente em grandescidades, como Recife e Salvador.

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27A U L ATrês núcleos econômicos im-

portantes podem ser identifica-dos na Zona da Mata. O litoralaçucareiro, que se estende desdeAlagoas até o Rio Grande do Nor-te, onde predomina a grande pro-priedade produtora de cana-de-açúcar. Recife é a principal me-trópole do litoral açucareiro, e láestão instaladas várias indústri-as têxteis e alimentares.

A segunda área é o Recôn-cavo Baiano, que se situa ao redorda Baía de Todos os Santos, ondeestá Salvador. Tem como princi-pais atividades econômicas a ex-tração de petróleo e as indústriaspetroquímicas no Pólo Petroquí-mico de Camaçari, principal cen-tro industrial da Região Nordeste.

A terceira área é o sul da Bahia, onde predomina o cultivo do cacau emgrandes propriedades monocultoras; os centros regionais mais importantes sãoIlhéus e Itabuna.

O AgresteAgresteAgresteAgresteAgreste se caracteriza por ser uma área de transição entre a Zona da Matae o Sertão. A região é marcada pelo Planalto da Borborema. Do lado leste doplanalto estão as terras mais úmidas; do outro lado, em direção ao interior, oclima vai ficando cada vez mais seco.

A estrutura fundiária do Agreste é bem diferente da estrutura das demaissub-regiões. Ela é basicamente formada de pequenas e médias propriedades.Outra característica que marca o Agreste é a policultura (cultivo de váriosprodutos agrícolas), muitas vezes associada à pecuária.

Grandes feiras de alimentos e de gado deram origem a cidades importantesdo Agreste, como Caruaru (PE), Campina Grande (PB) e Feira de Santana (BA).

O SertãoSertãoSertãoSertãoSertão é uma área de clima semi-árido, com escassez e irregularidade dechuvas. É nessa área que ocorrem períodos de seca que podem durar meses ouaté anos. O Sertão abrange parte de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte,Alagoas e quase todo o Ceará, isto é, a maior parte do Nordeste.

A vegetação característica do Sertão é a caatinga, formada por pequenasárvores, em geral espinhosas, que perdem as folhas durante a seca; ali tambémnascem plantas de folhas grossas, chamadas de plantas suculentas.

A atividade econômica predominante é a pecuária extensiva em grandeslatifúndios. Em algumas áreas nas quais ocorrem chuvas de relevo, próximas àsserras e chapadas, desenvolve-se uma agricultura de subsistência, com o cultivode feijão, milho e cana-de-açúcar. A região do Cariri, por exemplo, localizada naencosta da Chapada do Araripe no Ceará, é uma importante área agrícola.

O coronelismo, isto é, a concessão de favores políticos e econômicos aosgrandes proprietários em troca de voto, principalmente no Sertão semi-árido, éum dos motivos que explicam a persistência do que ficou conhecido como“indústria da seca”.

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27A U L A A construção de açudes no Polígono das SecasPolígono das SecasPolígono das SecasPolígono das SecasPolígono das Secas - que

é a área definida pelo Departamento Nacional de ObrasContra as Secas (DNOCS) como sujeita à ocorrência deestiagens periódicas - é feita muitas vezes dentro degrandes fazendas, sem o menor critério social. Assim, ocontrole sobre a terra permite o controle sobre a água doSertão, o que é fundamental para a manutenção dos privi-légios que atrasam o desenvolvimento da região.

Percebemos, dessa maneira, que a seca influencia deforma diferente a vida dos vários grupos de população. Deum lado existe o grande proprietário, que tem acesso aomaquinário, à tecnologia e à irrigação para manter suaprodução; de outro, existem os pequenos produtores ru-rais, que baseiam seu trabalho na agricultura de subsistên-cia, e também os que trabalham como meeiros nas grandesfazendas. Estes últimos sofrem tanto nos períodos de seca,que muitas vezes são obrigados a deixar a região.

Hoje existem diferentes técnicas para manter a produ-ção na zona semi-árida. Na região do vale do Rio São Francisco estão sendocultivados produtos como a uva, a cebola, o melão e outros. Essas culturas sãopossíveis por causa dos grandes investimentos em irrigação, técnica que utiliza aágua acumulada para manter a produção durante os longos períodos de estiagem.

Iniciativas como essas mostram que é possível produzir no Sertão nordesti-no e que o grande potencial da região não pode e não deve ser descartado. Umamelhor distribuição de terras, e conseqüemente, da renda, pode dar ao Nordesteum novo impulso econômico, fundamental para completar a integração daregião e seu desenvolvimento.

O Meio-NorteMeio-NorteMeio-NorteMeio-NorteMeio-Norte é também uma zona de transição, situando-se entre o Sertão ea Amazônia. Apresenta um clima seco na sua porção próxima ao Sertão e um climamais úmido em sua porção próxima à Amazônia. Nos vales dos rios maranhensesdestaca-se a extração do babaçu, matéria-prima para a produção de óleo vegetal.

Essa área está cada vez mais integrada à Região Norte, especialmente pelo portode Itaqui, próximo a São Luís (MA), que funciona como grande terminal deexportação de minérios provenientes da Serra de Carajás, situada no estado do Pará.

A proposta de industrialização da Região Nordeste, promovida pelaSudene, facilitou a integração produtiva do domínio agrário-mercantil nordes-tino à economia nacional. Mas foram os grandes projetos da década de 1970 quecriaram condições para o crescimento econômico da região, seja no PóloPetroquímico de Camaçari, nos arredores de Salvador, seja nos grandes proje-tos de irrigação, ao longo do vale do São Francisco.

O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) levou à modernização daagroindústria canavieira nordestina, embora de forma diferente da que ocorreuem São Paulo, porque o Nordeste dependia muito de fornecedores externos paraadquirir equipamentos industriais e insumos agrícolas.

Com o Proálcool, a luta pela terra e pela regulamentação dos direitostrabalhistas assumiu novas formas. A herança das Ligas Camponesas, movi-mento social de camponeses que explodiu na zona canavieira no final da décadade 1950, foi ampliada e unificada pelos conflitos resultantes da expansãodas plantações. Isso transformou os sindicatos de canavieiros em instrumentosde luta pelos direitos sociais e trabalhistas e contra a expropriação das terras,provocada pela modernização da agricultura.

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27A U L AA exploração de gás natural e petróleo realizada pela Petrobrás levou

à implantação de bases de apoio, terminais e instalações de beneficiamentoem vários pontos do litoral, como em Sergipe e no Rio Grande do Norte.

Mas os impactos dos grandes projetos sobre o Nordeste ainda são restritos.É importante dizer que tais projetos forçam um melhor relacionamento entreos grupos dominantes locais, o que nem sempre ocorreu porque alguns gruposse beneficiam (ou julgam se beneficiar) de modo desigual do recebimentode recursos oficiais.

Um ponto desvantajoso é que os efeitos sobre a estrutura produtiva sãolimitados, pois em geral esses grandes projetos operam com máquinas e equipa-mentos modernos que não requerem muita mão-de-obra. Desse modo, gerampoucos empregos, o que quase não contribui para o desenvolvimento regional.

Há, no entanto, efeitos externos que não são controlados pelos grandesprojetos. O mais importante deles é o surgimento de movimentos reivindicatóriossociais e ecológicos, que passaram a ter importância nacional a partir do finaldos anos 70, exercendo pressões cada vez maiores sobre as autoridades locais,em busca de melhorias nas condições sociais e ambientais.

Nesta aula você aprendeu que:

l o Nordeste é a área geoeconômica de povoamento mais antigo e de estruturasócio-econômica solidamente enraizada no passado agrário-exportador,e permaneceu como a região de maior concentração de renda no Brasil;

l boa parte do atraso do Nordeste pode se explicado pelo pacto regional quedomina a economia e a política da região;

l a associação entre grandes proprietários rurais e comerciantes, que define odomínio agrário-mercantil, tem revelado uma capacidade extraordináriapara se manter, apesar da industrialização regional;

l a proposta de industrialização regional promovida pela Sudene facilitou aintegração produtiva do domínio agrário-mercantil nordestino à economianacional;

l os impactos dos grandes projetos sobre o Nordeste ainda são restritos. Há,no entanto, efeitos externos que não são controlados pelos grandes projetos.O mais importante deles é o surgimento de movimentos reivindicatóriossociais e ecológicos.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Quais são as origens estruturais do atraso da Região Nordeste? Qual aimportância das secas para a pobreza da população nordestina?

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Quais os principais efeitos dos programas de desenvolvimento regionalconduzidos pela Sudene?

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Por que se multiplicaram os movimentos sociais e ecológicos na RegiãoNordeste?

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NNNNNesta aula vamos estudar a AmazôniaAmazôniaAmazôniaAmazôniaAmazônia,a grande fronteira de recursosfronteira de recursosfronteira de recursosfronteira de recursosfronteira de recursos da economia brasileira no final do século XX.Veremos como a ação do Estado estendeu as redes técnicasredes técnicasredes técnicasredes técnicasredes técnicas, como a rederodoviária e a de telecomunicações, e promoveu o avanço do povoamentoe a ocupação de seu território. Vamos observar como os incentivos e subsídiosa projetos de mineração e agropecuários constituíram vetores de expansãovetores de expansãovetores de expansãovetores de expansãovetores de expansãode empresas nacionais e multinacionais, gerando profundos conflitos pelo usodo território na grande floresta amazônica.

Qual a importância da Amazônia como fronteira de recursos neste final deséculo? Qual a origem dos interesses internacionais sobre a grande floresta?

A Amazônia é um dos últimos grandes e ricos espaços pouco povoadosdo planeta e representa imensa disponibilidade de recursos que estão setornando escassos: terras, águas, minérios e florestas. Essa imensa e conflitivaregião é, ao mesmo tempo, um potencial e um desafio para o desenvolvimen-to brasileiro. Concentra um grande estoque de riqueza. No entanto, pode serrapidamente destruída se não for corretamente utilizada.

A Amazônia é o lugar onde devemos avaliar nossas experiências passa-das de uso dos recursos naturais e o palco para que busquemos novasalternativas de desenvolvimento, com maior justiça social e qualidadeambiental.

A construção de Brasília e da rodovia Belém-Brasília marcou a abertura dafronteira de recursosfronteira de recursosfronteira de recursosfronteira de recursosfronteira de recursos no Norte rumo ao dinâmico centro nacional do Sudeste.A criação de gado difundiu-se pelo norte de Goiás, acelerando a expansão dafrente pioneira. Essa frente, além da descoberta e extração comercial de recursosminerais, como a exploração de manganês no Amapá e de cassiteritaem Rondônia, criou núcleos urbanos e enclaves econômicos na vasta floresta,que permaneceu muito pouco ocupada.

Amazônia:a grande fronteira

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28A U L AA Amazônia assume hoje a expressão básica das fronteiras. Como não

havia organizações sociais já instaladas, que poderiam oferecer resistência,o governo federal assumiu diretamente a iniciativa da ocupação e da integraçãoda Amazônia à economia nacional. Instalou redes técnicasredes técnicasredes técnicasredes técnicasredes técnicas, como estradasde rodagem e redes de distribuição de energia e redes de redes de redes de redes de redes de telecomunicaçõestelecomunicaçõestelecomunicaçõestelecomunicaçõestelecomunicações,em tempo acelerado e numa escala gigantesca, que transformaram partedas antigas regiões Centro-Oeste e Nordeste e toda a região Norte numagrande fronteira nacional, aberta para a ocupação.

Essas iniciativas abriram verdadeiros vetores de expansãovetores de expansãovetores de expansãovetores de expansãovetores de expansão na área dafloresta, que estimularam a colonização dirigida, como ocorreu em Rondônia,e a colonização espontânea, como no caso do norte de Mato Grosso. Essesvetores de expansão também favoreceram a implantação de grandes projetosagropecuários e mineradores.

O Programa de Integração Nacional (PIN), proposto pelo Governo Federalno início da década de 1970, previa a construção do primeiro trecho da rodoviaTransamazônica. Em 1973 foi inaugurada a rodovia Cuibá-Santarém, ligandoas regiões Centro-Oeste e Norte. Ao longo das rodovias pretendia-se implantarassentamentos de trabalhadores para a produção agrícola, chamados deagrovilasagrovilasagrovilasagrovilasagrovilas, cujo objetivo era atrair população do Nordeste e das grandescidades.

Programas e projetos promovidos pelo Estado, por meio da Superinten-dência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e pelo Polonoroeste,ainda que nem sempre tenham sido implantados, provocaram um imediatoaumento do valor da terra e a intensificação dos conflitos sociais, fatosincompatíveis com as relativamente baixas taxas de investimento, ocupaçãoe produção. Em 1980, apenas 24% da área total da região estava ocupada porunidades produtivas, representando 7% das terras cultivadas no país. Maisde seiscentos projetos agro-pastoris de grandes empresas, nacionais e estran-geiras, foram subsidiados mas só 20% deles foram de fato instalados.

Os núcleos urbanos estão restritos às áreas ao longo das principaisrodovias. Zonas de criação de gado e de agricultura comercial, situadas nasmargens da floresta, foram criadas ao longo da Belém-Brasília, favorecendoo crescimento da grande metrópole regional, Belém, e das capitais estaduaisque ligam a Amazônia ao Centro-Sul.

Na década de 1970 foi criada a Eletronorte, com o objetivo de aproveitaro potencial da região para a produção de energia hidrelétrica. A maior dasusinas hidrelétricas da Região Norte (e a segunda maior do Brasil) é a deTucuruí, situada na região do Projeto Grande Carajás, com capacidade paraa geração de 8 milhões de quilowatts. As hidrelétricas amazônicas sãoresponsáveis pela inundação de grandes áreas florestais, já que o relevoé pouco acidentado.

A produção de energia elétrica favoreceu a implantação de grandesprojetos de exploração mineral, montados em verdadeiras “company-towns”(cidades-empresas) construídas no interior da floresta.

Criados por meio de “joint-ventures” (associações de empresas diferen-tes para explorar determinado produto ou mercado) com capitais estatais eprivados, nacionais e multinacionais, os grandes projetos contribuíram parainternacionalizar grandes territórios no interior da floresta. Exemplos dissosão o Projeto Jari, no Amapá; a Mineração Rio Norte e o Projeto GrandeCarajás, estes últimos no Pará.

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28A U L A Por causa da recessão mundial do início dos anos 80, o investimento estran-

geiro foi muito menor do que o esperado. Dos seis grandes projetos implantadosna Amazônia somente um é totalmente estrangeiro: o da Alcoa-Billington. Essaempresa montou a Alumar, junto ao Porto de Itaqui, próximo a São Luís noMaranhão, e é o maior investimento estrangeiro já feito no Brasil.

Na Região Norte, a empresa mais importante é a estatal Companhia Vale doRio Doce (CVRD). O minério de ferro permanece como o mais importante ramode atividade da Companhia Vale do Rio Doce. As reservas conhecidas somamcerca de 38 bilhões de toneladas. Cerca de 90% das jazidas são mineradas a céuaberto, e o minério não exige complexas operações de beneficiamento. Asrecentes descobertas de ouro e cobre confirmam as previsões de que a região deCarajás é uma das maiores províncias minerais do mundo.

A CVRD opera um sistema integrado mina-ferrovia-porto, o Sistema Norte,com capacidade de produção de até 35 milhões de toneladas de minério. Essesistema é formado pelas minas de Carajás, localizadas no sul do Estado do Pará,com reservas de 18 bilhões de toneladas de minério de ferro de alto teor, pelaEstrada de Ferro Carajás e pelo terminal marítimo de Ponta da Madeira, em SãoLuís, no estado do Maranhão. A privatização da CVRD deve abrir novaspossibilidades de investimento no Sistema Norte.

A porção da Região Norte do Brasil que está diretamente relacionada aosEstados do Pará, Amapá, e Tocantins forma a Amazônia OrientalAmazônia OrientalAmazônia OrientalAmazônia OrientalAmazônia Oriental. A ocupaçãodessa área se deu a partir da abertura da rodovia Belém-Brasíla e foi consolidadacom os grandes projetos agrícolas e mineradores.

Os conflitos pela posse de terra entre posseiros e grandes proprietários sãomarcantes, fazendo dessa área a porção do país onde é maior a ocorrência deconflitos fundiários. Em meio a esses conflitos estão as populações indígenas,que também sofrem com a ocupação de suas terras pelos grandes projetos,como a passagem de rodovias e ferrovias ou a atividade dos garimpeiros emsuas terras.

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28A U L AA Amazônia OcidentalAmazônia OcidentalAmazônia OcidentalAmazônia OcidentalAmazônia Ocidental engloba os estados do Amazonas, Rondônia, Roraima

e Acre. A abertura da rodovia Cuiabá-Porto Velho, em 1973, e a instalação doPolonoroeste, em 1981, levaram para a região muitos agricultores, que seguirama rodovia aberta no noroeste de Mato Grosso.

Em 1967, foi criada a Zona Franca de ManausZona Franca de ManausZona Franca de ManausZona Franca de ManausZona Franca de Manaus, uma área livre de impostosalfandegários para os produtos importados. Ali se estabeleceram diversasfábricas montadoras de produtos eletroeletrônicos, cujos componentes são,em geral, importados. E essas montadoras criaram um mercado de trabalhoe são responsáveis por uma parte importante do emprego industrial daRegião Norte.

A Zona Franca de Manaus estimulou o crescimento da capital do Estado doAmazonas, concentrando a produção nacional de produtos eletroeletrônicosem seu Distrito Industrial. Isso atraiu boa parte da população do Estado,que passou a se aglomerar na periferia de Manaus. Mas o desenvolvimentoda infra-estrutura urbana não acompanhou a velocidade do crescimentoda cidade.

Outra importante área da Amazônia Ocidental é a região seringueira doAcre, cuja principal atividade econômica é o extrativismo vegetal. Os proble-mas sociais nessa região são imensos. Existem inúmeros conflitos entre osgrandes latifundiários e os seringueiros. Para defender a terra e os recursosflorestais de uma prática econômica predatória e pouco produtiva, que é apecuária extensiva, os seringueiros usam estratégias de combate ao avanço daespeculação de terras e aos desmatamentos que reduzem sua área de trabalho.O ememememempppppate ate ate ate ate é a principal estratégia: envolve toda a comunidade, que se reúne nafrente das áreas a serem desmatadas, enfrentando os grandes proprietários,interessados em aumentar suas áreas de pastagens.

Durante a década de 1980, um grande número de agricultores chegou aRondônia disposto a se fixar na Amazônia, aproveitando os incentivos para acolonização oferecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e ReformaAgrária (Incra).

Da estratégia de ocupação regional resultaram também intensos conflitossociais e ecológicos. Com a expansão da pecuária, da exploração florestal e damineração, verificou-se um desmatamento a uma taxa muito elevada. Estima-tivas do total desmatado na década de 1980 são conflitivas e vão de 12%(equivalentes a 598.921 km2), 8,2% (equivalentes a 399.765 km2) até 5,1%(equivalentes a 251.429 km2).

As tentativas de integração da Região Norte à economia nacional, emboratenham revelado inúmeros erros, acabaram por colocar a questão amazônicana ordem do dia. Hoje se sabe que precisamos aprender muito mais sobre aAmazônia. Assim, devem ser encontradas novas alternativas para a utilizaçãode seus recursos florestais, de modo que evitem danos irreversíveis sobre oambiente.

A efetiva participação da Região Amazônica no cenário econômico nacio-nal deve se basear na pesquisa científica, para que sejam criadas técnicascompatíveis com as peculiaridades do ambiente e definidas as áreas de preser-vação e conservação, buscando-se formas de desenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentável,em que sejam mantidas as condições naturais da floresta amazônica, conformeveremos na próxima aula.

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28A U L A Nesta aula você aprendeu que:

l a construção de Brasília e da rodovia Belém-Brasília marcou a abertura dafronteira de recursosfronteira de recursosfronteira de recursosfronteira de recursosfronteira de recursos do Norte ao dinâmico centro nacional do Sudeste;

l a Amazônia Amazônia Amazônia Amazônia Amazônia assume hoje a expressão básica das fronteiras, em que ogoverno federal assumiu diretamente a iniciativa de sua efetiva ocupaçãoocupaçãoocupaçãoocupaçãoocupaçãoe integração integração integração integração integração à economia nacional, implantando redes técnicasredes técnicasredes técnicasredes técnicasredes técnicas em tempoacelerado;

l essas iniciativas abriram verdadeiros vetores de expansãovetores de expansãovetores de expansãovetores de expansãovetores de expansão na área da floresta,que estimularam tanto a colonização colonização colonização colonização colonização dirigida como a espontânea;

l os núcleos urbanosnúcleos urbanosnúcleos urbanosnúcleos urbanosnúcleos urbanos estão restritos às áreas ao longo das principais rodovias.Zonas de criação de gado e agricultura comercial situados nas margens dafloresta foram criados ao longo da Belém-Brasília, favorecendo o crescimen-to de Belém;

l em 1967, criou-se a Zona Franca de Manaus Zona Franca de Manaus Zona Franca de Manaus Zona Franca de Manaus Zona Franca de Manaus e estabeleceram-se diversasfábricas montadoras de produtos eletroeletrônicos;

l da estratégia de ocupação regionalestratégia de ocupação regionalestratégia de ocupação regionalestratégia de ocupação regionalestratégia de ocupação regional resultaram também intensos conflitosconflitosconflitosconflitosconflitossociais sociais sociais sociais sociais e ecológicos ecológicos ecológicos ecológicos ecológicos, entre índios, garimpeiros, colonos, grandes empresase outros;

l a efetiva inserção da Região Amazônica no cenário econômico nacional deveestar baseada nas propostas de desenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentável.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Durante muito tempo, a economia da Amazônia esteve pouco articuladacom a economia nacional. Apresente duas ações do Estado que facilitarama integração da produção regional ao restante do país.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Qual a importância da Zona Franca de Manaus para a economia da Amazô-nia, e quais os seus resultados sobre a distribuição da população no Estadodo Amazonas?

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Em que estados se localiza a ferrovia que liga Carajás ao porto de Itaqui?Qual a finalidade da sua construção?

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NNNNNesta aula, veremos como as alternativas deretomada do desenvolvimento no Brasil estão ligadas a uma maior eqüidadeeqüidadeeqüidadeeqüidadeeqüidade(igualdade) na distribuição da renda nacional. Veremos que a reforma agráriareforma agráriareforma agráriareforma agráriareforma agráriaé uma necessidade para se obter a redução da pobreza e que estratégiaseconômicas devem buscar a valorização da sustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidade no uso dos recur-sos naturais, levando em conta a importância de se utilizar de maneira racionalo imenso estoque de biodiversidadebiodiversidadebiodiversidadebiodiversidadebiodiversidade de que dispomos, como elementos decisi-vos para a construção de um futuro melhor para os brasileiros.

Qual o significado de desenvolvimento sustentável? Qual a sua importânciapara superar os impasses atuais para a retomada do desenvolvimento no Brasil?

O desenvolvimento sustentável está vinculado, em sua forma e em seuconteúdo, a uma base ambiental e ao processo eficiente de aproveitamento dosrecursos ecológicos. Ambiente e economia podem, e devem, ser mutuamentereforçados para o verdadeiro desenvolvimento social.

Os conflitos pela posse da terra no Brasil atual podem ser vistos como umproblema de desenvolvimento sustentável, pois o acesso à terra representa, narealidade, o acesso ao abrigo e ao sustento. Por isso, deve-se compreender quea questão da reforma agrária e dos sem-terra não é apenas um ajuste de contasem relação ao passado, mas também a busca de alternativas para a construçãodo futuro.

O Brasil pertence ao grupo de países que completou sua industrializaçãorecentemente, isso quer dizer depois da Segunda Guerra Mundial. Esse processoteve custos elevados.

Primeiro, o custo ambientalcusto ambientalcusto ambientalcusto ambientalcusto ambiental, já que o país utilizou de forma predatória osrecursos naturais, sem qualquer consideração sobre se tais recursos poderiamser renovados ou não. As florestas, os solos e as jazidas minerais foram exauri-dos, enquanto os rios e mares foram poluídos ou contaminados em nome doprogresso.

Segundo, o custo socialcusto socialcusto socialcusto socialcusto social, pois o Brasil não teve a menor preocupação com osefeitos do crescimento econômico sobre as condições de vida das famílias queviviam no campo e na cidade, bem como sobre a condições em que se davaa distribuição socialdistribuição socialdistribuição socialdistribuição socialdistribuição social dos frutos do processo de industrialização.

A sustentabilidadedo desenvolvimento

brasileiro

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29A U L A O crescimento econômico não foi compartilhado por todos os brasileiros,

isto é, não houve eqüidadeeqüidadeeqüidadeeqüidadeeqüidade na distribuição de seus resultados. Podemosverificar isso de forma muito simples, utilizando a divisão do PIB por habitantedo Brasil, para obter a sua renda per capitaenda per capitaenda per capitaenda per capitaenda per capita. Hoje, o valor da renda per capitaanual no Brasil é de cerca de 3 mil dólares por habitante, o que é menos dametade do valor encontrado na Argentina (6.015 dólares) e muito inferior à dosEstados Unidos (23.240 dólares).

Atualmente, esse quadro está ainda mais grave, pois, na década de 1980,a economia brasileira cresceu muito lentamente. Em primeiro lugar, por causada crise da dívida externadívida externadívida externadívida externadívida externa, isto é, a dificuldade do país em pagar os emprésti-mos tomados no exterior, cujo valor aumentou vertiginosamente com a eleva-ção das taxas de juros pelos bancos estrangeiros. Em segundo lugar, porque aeconomia brasileira viveu dificuldades internas que se manifestaram em altastaxas de inflação. A combinação desses dois fatores praticamente paralisou aeconomia brasileira durante os anos 80.

O gráfico ao ladomostra que, embora oPIB do Brasil tenhacrescido durante a dé-cada de 1980 (o quepode ser notado pelascolunas do gráfico,cujos valores, lidos noeixo da esquerda, mos-tram que passou dos400 bilhões de dólares),a renda per capita per-maneceu praticamen-te estagnada em tornode 3 mil dólares (lidosquando se acompanhaa linha cujos valores seencontram no eixo dadireita).

Para que o desenvolvimento seja durávelduráveldurávelduráveldurável é necessária uma proposta quetenha a sustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidade como meta principal, integrando as tensões ambiental,econômica, social e institucional, em todas as etapas do planejamento, desde odiagnóstico até a implementação, o monitoramento e a avaliação dos planos eprogramas.

A questão agrária no Brasil permaneceu intocável desde o estabelecimentoda Lei de Terras, em 1850, que dividiu o território nacional em duas grandeszonas: domínios e fronteiras, seguindo o padrão patrimonialista do colonizadorportuguês, onde cabia ao aparelho de Estado regular as relações sociais, com ocontrole do acesso à terra.

Enquanto principal divisão social e territorial do trabalho, a relação entredomínios e fronteiras foi resultante direta da intervenção do Estado. Garantir osdomínios e abrir as fronteiras foi uma das principais atribuições do aparelho deEstado no Brasil. Isso ocorreu com a Marcha para o OesteMarcha para o OesteMarcha para o OesteMarcha para o OesteMarcha para o Oeste no governo GetúlioVargas e atingiu o auge no modelo nacional-desenvolvimentista nos anos 50,com a construção de Brasília por Juscelino Kubitschek, e foi levado ao extremocom a conquista amazônica do período autoritário pós-1964.

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29A U L AEsse padrão de desenvolvimento esgotou-se na década de 1970, em grande

parte por causa da incapacidade financeira do Estado para administrar domí-nios e fronteiras, e também porque ocorreram crescentes pressões da imensapopulação urbana, mobilizada por diferentes movimentos sociais, que passa-ram a cobrar sua representação no núcleo do poder. Hoje, a principal resultantedesse processo é a formação de uma economia industrial, construída numambiente em que coexistem uma sociedade de massas pobres, cristalizada nointerior dos domínios, junto com a maior floresta pluvial do planeta, expressãomáxima das fronteiras.

Cerca de 1/20 da superfície ter-restre, 1/5 da água doce, 1/3 dasflorestas pluviais do globo e apenas3,5 milésimos da população mundi-al estão contidos na Amazônia, 63,4%dos quais sob a soberania brasileira.Apesar de sua imensa riqueza mine-ral e madereira, o que lhe conferehoje maior valor é a diversidade bi-ológica, isto é, sua biodiversidadebiodiversidadebiodiversidadebiodiversidadebiodiversidade,que se expressa na grande varieda-de de espécies vegetais e animaisexistentes na floresta. Tamanha con-centração de vida significa, por umlado, um símbolo ecológico único e,por outro, uma fonte primordial parao desenvolvimento científico-tecnológico, particularmente dabiotecnologia.

É preciso separar o que é mito e o que é História. Para a ciência mundial,a Amazônia é ainda uma incógnita. Teorias sobre os efeitos da destruição dafloresta na circulação atmosférica terrestre - tais como o efeito estufaefeito estufaefeito estufaefeito estufaefeito estufa - são, atéo momento, hipóteses apenas, não comprovadas e baseadas no pressuposto dadestruição total da floresta. Na realidade, apesar do desflorestamento rápidoe extenso das últimas décadas, 85% da floresta ainda permanecem intactos, oque coloca o desafio de seu manejo sustentado.

Mas a incógnita amazônica não se restringe à ciência e à tecnologia. Além doproblema ecológico, seu significado como instrumento de pressão para adesãoao “Norte” reflete as próprias lutas e os conflitos de interesses entre os paísesindustrializados na redefinição de suas áreas de influência, depois da queda doMuro de Berlim e da derrocada da União Soviética.

A disputa por hegemonia entre as potências fica exposta na polêmica sobrea construção e pavimentação da Rodovia BR-364 que, ao fazer a ligação doEstado do Acre ao Peru, completa a articulação com a Rodovia Transamazônicae acelera a conexão com o Pacífico Sul, onde interesses japoneses são cada vezmais intensos. Neste cenário, os Estados Unidos exercem pressão sobre o Japãopara não liberar recursos destinados ao término da rodovia, a fim de manter atradicional porta amazônica aberta para o oceano Atlântico e o mar do Caribe.

Entretanto, é inerente à questão nacional a dificuldade em definir e negociarum novo padrão de desenvolvimento regional para a Amazônia, que leve emconsideração não apenas a dimensão ambiental, mas também o problema social.Confrontados hoje com uma profunda crise econômica, diversos grupos sociaisprocuram consolidar posições e territórios na arena amazônica.

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29A U L A Neste quadro, a questão da sustentabilidade do desenvolvimento

é inseparável do desafio da eqüidade na distribuição de seus frutos, o quepressupõe a negociação de um novo pacto de poder. Nesse sentido, o acessoà terra, como expressão básica do direito humano ao abrigo e ao sustento, é a peçacentral de qualquer proposta conseqüente de resgate da cidadania e o pontode partida para a construção de um novo padrão de desenvolvimento no Brasil.

O acesso à terraacesso à terraacesso à terraacesso à terraacesso à terra e à possibilidade de administrar o território de formademocrática constitui o principal desafio para a consolidação de um novopadrão de desenvolvimento no Brasil. Isso está presente tanto nos conflitosabertos das “invasões” nas cidades e campos ou nas lutas pela delimitação dasterras indígenas e reservas extrativistas da grande fronteira amazônica. Diferen-temente de uma concepção clássica de reforma agrária, em que a proposta centralestá em aumentar a produção agrícola, o processo de assentamento dos trabalha-dores sem-terra deve ser visto como uma necessidade da distribuição da riquezaacumulada e de garantia de uma via democrática de transição para o desenvol-vimento sustentável.

O Brasil é uma parte integrante e inseparável da construção da economiamundial em sua dimensão planetária. Sua posição como país de industrializaçãorecente revela a profunda instabilidade deste final de século. Suas dimensõescomo uma potência regional sintetizam as contradições da crise que atravessa aeconomia mundial no final do século XX. A busca de soluções por meio dacooperação com os parceiros da América Latina é inevitável, como é o exemplodo Mercosul, que veremos na aula a seguir.

Nesta aula você aprendeu que:

l o processo de industrialização no Brasil teve custos ambientais custos ambientais custos ambientais custos ambientais custos ambientais e sociais sociais sociais sociais sociaiselevados;

l o crescimento econômico não foi compartilhado por todos os brasileiros, istoé, não houve eqüidadeeqüidadeeqüidadeeqüidadeeqüidade na distribuição de seus resultados;

l para que o desenvolvimento seja durávelduráveldurávelduráveldurável é necessária uma proposta quetenha a sustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidade como meta principal, integrando no planejamentoas tensões ambiental, econômica, social e institucional;

l a Amazônia possui riqueza mineral e madereira, mas o que lhe confere hojemaior valor é a diversidade biológica, isto é, sua biodiversidadebiodiversidadebiodiversidadebiodiversidadebiodiversidade;

l o acesso à terraacesso à terraacesso à terraacesso à terraacesso à terra e à possibilidade de administrar o território de formaadministrar o território de formaadministrar o território de formaadministrar o território de formaadministrar o território de formademocrática democrática democrática democrática democrática constitui o principal desafio para a consolidação de um novopadrão de desenvolvimento no Brasil.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Como você diferencia desenvolvimento social de crescimento econômico?Em sua opinião, qual predominou no Brasil nas últimas décadas?

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Por que o desenvolvimento sustentável permite conciliar o combateà pobreza com uma melhor utilização dos recursos ecológicos?

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Por que o desenvolvimento sustentável da floresta amazônica é tão impor-tante para o desenvolvimento brasileiro?

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NNNNNesta aula, veremos o papel do Brasil nocontexto latino-americano. Verificaremos como o Mercado Comum do SulMercado Comum do SulMercado Comum do SulMercado Comum do SulMercado Comum do Sul(Mercosul) e o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) representam iniciativasde integração regionalintegração regionalintegração regionalintegração regionalintegração regional, que enfrentam dificuldades por causa dos diferentesproblemas internos dos países sul-americanos, mas que se apresentam como umadas alternativas de cooperação inter-Estados diante do processo de globalizaçãoglobalizaçãoglobalizaçãoglobalizaçãoglobalização.

Qual o papel do Brasil na integração latino-americana? O que podemosesperar do Mercosul e do Pacto Amazônico?

O princípio da união alfandegária pressupõe a adoção de um mesmo regimetarifário para as nações que a integram, abolindo as barreiras entre elas eapresentando-se como uma entidade única perante o comércio internacional.

No caso do Mercosul, o Brasil é a principal economia nacional a integrar aunião, seguido pela Argentina. E as possibilidades de sucesso dependem muitodas políticas internas de seus membros, que possuem inúmeras diferenças entresi. Já o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), proposto em 1977, tinha porobjetivo o incremento do desenvolvimento regional e a defesa da ecologia, soba premissa de rejeitar qualquer tentativa de interferência externa na região.

Diante do processo de globalizaçãoglobalizaçãoglobalizaçãoglobalizaçãoglobalização da economia mundial e da formação dosblocos econômicos supranacionais, e pela necessidade de melhorar e facilitar asrelações comerciais com os países do Cone Sul, o Brasil, o Paraguai, o Uruguai e aArgentina firmaram o Tratado de Assunção (1991), destinado a aumentar a coope-ração econômica e criar uma união alfandegária denominada Mercosul Mercosul Mercosul Mercosul Mercosul - Mercado Mercado Mercado Mercado MercadoComum do SulComum do SulComum do SulComum do SulComum do Sul. O Chile (1995) e a Bolívia (1996) firmaram acordos tarifáriosespeciais com o Mercosul e podem ser considerados membros associados.

O Mercosul passou a vigorar em 1995, mas antes disso os países envolvidosnesse tratado começaram a se estruturar em função das novas normas alfande-gárias. Quando as tarifas alfandegárias são reduzidas ou eliminadas, os produ-tos importados terão um preço bem próximo do produto nacional e, assim,aumenta-se a competição. Numerosas empresas tiveram dificuldades em seadaptar a essa nova situação e fecharam suas portas. Outras, modernizaram-see ganharam condições para competir no mercado externo, aumentando suasexportações. Isso explica o crescimento significativo das relações comerciaisentre os países do Mercosul no período de 1990 a 1995.

O Brasil e a integraçãolatino-americana

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O Mercosul procura aumentar ainda mais as atividades econômicas dospaíses membros, tanto na indústria como em serviços de transportes, comu-nicação e energia, estimulando a formação de empresas binacionais. Muitosproblemas ainda precisam ser discutidos ou negociados. As dificuldades sãomuitas, mas o interesse de superá-las torna possível o projeto de integração.Os quatro países integrantes e os membros associados pretendem, por meiodo Mercosul, ingressar na economia mundial com o peso de um mercado decerca de 250 milhões de consumidores.

Um mercado com essas dimensões, que apresenta um PIB de mais de800 bilhões de dólares, constitui uma realidade internacional de apreciável peso,porque proporcionará um significatvo incremento à capacidade de negociaçãointernacional dos países membros. Esse peso se revela uma contrapartida indispen-sável para os integrantes do Mercosul, num mundo em que os megamercados,centrados na Europa Ocidental, no sistema Estados Unidos-Canadá-México e naarticulação do Japão com os “tigres” asiáticos, dominarão a economia internacional.

Antes do Mercosul, existiram tratados que não prosperaram, como a Asso-ciação Latino-Americana de Livre Comercio (Alalc), criada em 1960, cuja metaera a constituição de uma zona de livre comércio até 1980. Porém, as fortesdisparidades entre os países signatários e a instabilidade política e econômicalevaram ao fracasso da iniciativa. Posteriormente, um segundo acordo criou aAladi (Associação Latino-Americana de Integração). O intercâmbio comercialdo Brasil com a área da Aladi manteve-se estagnado, revelando os limites dessaperspectiva de integração.

O Mercosul agrupa quatro parceiros extremamente díspares, do ponto devista do seu potencial demográfico e econômico. O Brasil e a Argentina são asprincipais economias sub-regionais; o Uruguai e o Paraguai são economiasmarginais e inteiramente dependentes dos vizinhos. Posteriormente, o Chile ea Bolívia foram incorporados como membros associados do Mercosul. E essespaíses também possuem muitas diferenças entre si.

Dadas as características próprias das duas principais economias que buscama integração - o Brasil e a Argentina -, os efeitos dos mercados unificados serãoparticularmente intensos nos respectivos complexos agroindustriais. Desde ametade dos anos 80, o Brasil vem aumentando significativamente suas importa-ções de produtos agrícolas dos demais membros do Mercosul. Em 1985, aArgentina, o Uruguai e o Paraguai eram responsáveis por cerca de um terço dofornecimento de bens agrícolas importados pela economia brasileira. Com umcrescimento regular durante o último qüinqüênio, esse valor atingiu 60% em1990, principalmente em trigo, milho, soja e derivados da pecuária.

COMÉRCIO EXTERIOR BRASIL /PAÍSES DO MERCOSUL - 1994

Fonte: Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo. Intercâmbio Comercial - Brasil X Mercosul.

Rio de Janeiro: MICT, 1995. Ministério da Fazenda. Secretaria da Receita Federal, 1994.

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Entretanto, os níveis de produtividade na agropecuária entre os paísessignatários do tratado são muito diferenciados, o que obriga a medidas de ajustea médio e longo prazo para evitar o sucateamento generalizado de parcelasponderáveis do complexo agroindustrial. No caso brasileiro, isso afetaria prin-cipalmente a estrutura produtiva da Região Sul, área consolidada de produçãode grãos, couros e frutos de áreas temperadas, sendo que a produtividade daeconomia agrária argentina é superior à dos produtos brasileiros. A produtivi-dade superior na agropecuária argentina repousa, em grande parte, em fatoresnaturais de distribuição regular de chuvas e fertilidade dos solos. Assim, oscustos de produção de cereais e oleaginosas batem até mesmo os do Paraná,estado brasileiro de mais elevada produtividade.

No caso das indústrias, o parque industrial brasileiro, especialmente osramos mais modernos, opera com níveis de produtividade muito superiores aosda Argentina. O atraso tecnológico argentino é maior que o brasileiro e a forçade trabalho brasileira é mais barata que a argentina. Além disso, as empresasinstaladas no Brasil têm economias de escala superiores, em função da maioramplitude do mercado interno. A produção brasileira de aço é competitiva nosmercados internacionais e opera em larga escala, enquanto a siderurgia argen-tina não se modernizou na mesma velocidade.

É importante observar que as grandes empresas automobilísticas já estãodefinindo estratégias de operação para atuar no mercado supranacional.A Scania, cuja fábrica na Argentina já foi concebida dentro dessa visão, exportamotores, eixos e outros componentes para a Scania do Brasil. Na mesma direção,embora em menor escala, a Volkswagen possui um esquema de complementaçãotransfronteira, e desenvolveu um projeto de investimento, com valores supe-riores a 200 milhões de dólares para a produção na Argentina, com previsão de90% das vendas serem destinadas à montadora no Brasil. E mais: indústrias debens de consumo não-duráveis, como é o caso da produção de bebidas (basica-mente cerveja) e de fumo, já penetraram largamente no mercado supranacional,beneficiando-se de isenções de impostos e vantagens de escala adquiridas nomercado nacional.

A condição indispensável para o funcionamento do Mercosul é umaharmonização mínima das legislações financeiras e fiscais, que inclui também osdois pequenos parceiros, Paraguai e Uruguai. O Paraguai, valendo-se de isen-ções tributárias e alfandegárias, tornou-se um entreposto de contrabandodirecionado essencialmente para a classe média brasileira e um reexportador deprodutos agrícolas e madeira originários ilegalmente do Brasil. O Uruguailiberalizou sua legislação financeira, atuando como um semiparaíso fiscal,utilizado em negócios brasileiros e argentinos para a “lavagem de dinheiro”.Práticas comerciais e financeiras deste tipo constituem obstáculos para aconcretização do mercado comum.

ARGENTINA E PARANÁ : CUSTOS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA E PRODUTIVIDADE

Produtividade(kg/ha) Custo unitário (dólar/t)Produto

Argentina Paraná Argentina ParanáMilho 4.000 3.240 185,36 192,75Soja 2.500 2.040 141,00 306,07

Trigo 2.000 1.980 102,59 306,97

Fonte: P.R, Schilling, Mercosul - Integração ou Dominação.

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Para os trabalhadores, o Mercosul é uma realidade que deve ser tratadacom cuidado. De um lado, permite que as grandes empresas operem em escalaampliada, sem se preocupar com a manutenção dos postos de trabalho, nesteou naquele lugar. De outro, leva os sindicatos a conhecer novas realidadessociais e a ampliar os limites das lutas pelas conquistas sociais. De qualquermodo, o Mercosul já é uma realidade que precisa ser conhecida e pensada pelostrabalhadores.

Outra tentativa brasileira de integração latino-americana é o Tratado deTratado deTratado deTratado deTratado deCooperação Amazônica (TCACooperação Amazônica (TCACooperação Amazônica (TCACooperação Amazônica (TCACooperação Amazônica (TCA), integrado pelos países cujos territórios fazemparte da Bacia Amazônica. Firmado em 1977, o TCA ainda é um mecanismo decooperação destinado a ampliar o controle dos Estados integrantes sobre oespaço amazônico, onde proliferam formas paralelas de poder, como o tráficointernacional de drogas. Entretanto, dadas as dimensões do desafio que repre-senta o desenvolvimento sustentável da floresta amazônica, é de se esperar quese amplie a cooperação dos países no campo da ecologia e do desenvolvimentocientífico-tecnológico.

A integração econômica na América Latina é um velho sonho da ComissãoEconômica para a América Latina (Cepal), que inspirou a criação da Alalc em1960, cujo insucesso não pode ser atribuído unicamente aos seus formuladores,que tentavam trazer, para o sul do Equador, um processo que tomava corpo naEuropa. Hoje, talvez, a experiência acumulada mostre que a integraçãosupranacional é uma necessidade diante do processo de globalização da econo-mia mundial, tema que trabalharemos no módulo seguinte.

Nesta aula você aprendeu que:

l diante do processo de globalizaçãoglobalizaçãoglobalizaçãoglobalizaçãoglobalização da economia mundial e de formaçãodos blocos econômicos supra-nacionais, o Brasil, o Paraguai, o Uruguaie a Argentina formaram um tratado de cooperação econômica denomina-do Mercosul - Mercado Comum do SulMercosul - Mercado Comum do SulMercosul - Mercado Comum do SulMercosul - Mercado Comum do SulMercosul - Mercado Comum do Sul;

l o Mercosul agrupa quatro parceiros extremamente dísparesdísparesdísparesdísparesdíspares, do ponto devista do seu potencial demográfico e econômico;

l tratados anteriores, como a Associação Latino-Americana de Livre Comér- Associação Latino-Americana de Livre Comér- Associação Latino-Americana de Livre Comér- Associação Latino-Americana de Livre Comér- Associação Latino-Americana de Livre Comér-ciociociociocio (Alalc), não prosperaram por causa das grandes disparidades entre ospaíses signatários e a instabilidade política e econômica;

l a condição indispensável para o funcionamento do Mercosul é umaharmonizaçãoharmonizaçãoharmonizaçãoharmonizaçãoharmonização mínima das legislações financeiras e fiscais entre os paísesmembros;

l algumas empresas industriais estão definindo novas estratégiasnovas estratégiasnovas estratégiasnovas estratégiasnovas estratégias paraoperar nesse mercado supranacional e os trabalhadores devem refletirsobre as novas realidades trabalhistasnovas realidades trabalhistasnovas realidades trabalhistasnovas realidades trabalhistasnovas realidades trabalhistas criadas com o Mercosul;

l outra tentativa de integração latino-americana é o Tratado de CooperaçãoTratado de CooperaçãoTratado de CooperaçãoTratado de CooperaçãoTratado de CooperaçãoAmazônicaAmazônicaAmazônicaAmazônicaAmazônica (TCA), integrado pelos países cujos territórios fazem parte daBacia Amazônica.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1A partir da observação dos meios de comunicação e transportes nos doismapas a seguir, avalie o que está expressando cada um, no que diz respeitoà integração do Cone Sul.

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Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Os sucessivos fracassos de integração representados pela Alalc e pela Aladilevaram ao lançamento do Mercosul.a)a)a)a)a) Em que o projeto do Mercosul se distingue dos anteriores?b)b)b)b)b) O sucesso do Mercosul poderá produzir importantes transformações nas

estruturas produtivas do Brasil e da Argentina. Comente essas possíveistransformações.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Justifique a convergência de interesses dos países membros e associados emtorno de um Mercado Comum.

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NNNNNesta aula, abordaremos um dos aspectosmais importantes das fronteiras da globalização: a aceleração do processo deintegração mundial, possível de ser realizado por intermédio das novastecnologias da informação.

Qual o papel da informação e de seu controle para os habitantes do planetaTerra neste final de século? As telecomunicações fizeram a integração dosdiferentes lugares e reduziram o tempo necessário para produzir e circularinformações. Seja quando você entra na cabine de um banco eletrônico e, comum cartão magnético, é capaz de retirar instantaneamente uma certa quantida-de de dinheiro. Seja quando o caixa de uma cadeia de supermercados faz aleitura do código de barras de um determinado produto ou mercadoria, e essecódigo entra numa rede de informações que permite o surgimento instantâneo,na caixa eletrônica, do preço do produto, assim como informa, simultaneamen-te, para o setor de estoque, a redução de uma unidade daquele produto paraposterior reposição.

Essas mudanças só foram possíveis pela aplicação maciça da microeletrônicana vida cotidiana, criando novas maneiras de organizar a produção e aadministração dos negócios. A informática e a telemática são exemplosmarcantes das formas atuais de organização do espaço geográfico no períodotécnico-científico.

Uma das realidades mais extraordinárias do mundo atual é a velocidadecom que são transmitidas informações entre diferentes lugares, quer estejampróximos quer distantes, fazendo deles lugares mundiaislugares mundiaislugares mundiaislugares mundiaislugares mundiais. A comunicação e acirculação de informações - dados, idéias ou decisões - ocorrem instan-taneamente, no chamado tempo zero. Isso sem falar que essas informaçõespodem chegar, ao mesmo tempo, em vários lugares. Velocidade, instantanei-dade e simultaneidade são características do que chamamos de meio técnico-meio técnico-meio técnico-meio técnico-meio técnico-científico informacionalcientífico informacionalcientífico informacionalcientífico informacionalcientífico informacional.

O meiotécnico-científico eo papel da informação

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31A U L AEm 1982, o geógrafo Milton Santos, em seu trabalho intitulado Pensando

o Espaço do Homem, já alertava para o fato de que, das múltiplas denomina-ções aplicadas ao nosso tempo, nenhuma é mais expressiva que a de períodoperíodoperíodoperíodoperíodotecnológicotecnológicotecnológicotecnológicotecnológico. Dizia ele que a técnica é um intermediário entre a natureza e ohomem desde os tempos mais remotos e inocentes da História. Mas, aoconverter-se num objeto de elaboração científica sofisticada, acabou porsubverter as relações do homem com o meio, do homem com o homem, asrelações entre as classes sociais e até mesmo as relações entre as nações.

Para Milton Santos, a ciência, a tecnologia e a informação, hoje, são a basetécnica da vida social, ou, em outras palavras, o meio técnico-científicoinformacional é um meio geográfico no qual o território inclui obrigatoriamenteciênciaciênciaciênciaciênciaciência, tecnologia tecnologia tecnologia tecnologia tecnologia e informação informação informação informação informação.

Nas últimas décadas, a revolução tecno-científica em curso se deu destaca-damente no campo da microeletrônica e das telecomunicações, e ocorreu junta-mente com a reestruturação da produção e do trabalho no sistema capitalista, daeconomia internacional e dos territórios. A alta tecnologia permitiu a crescenteinternacionalização da economia e a interpenetração das economias nacionais,ou seja, a interpenetração do capital, do trabalho, dos mercados e dos processosde produção baseados na informação. E, com isso, países e nações deixam de serunidades econômicas de nossa realidade histórica.

A economia capitalista, dominante no mundo, estimula a competição econô-mica e força as empresas - principalmente as de grande porte - a buscarem aeficácia, gerando com isso uma sucessiva revolução do trabalho, da técnica e dosprodutos. Sistemas cada vez mais aperfeiçoados de comunicação e de fluxos deinformações, junto com técnicas mais racionais de distribuição, tais comoempacotamento, controle de estoques e conteinerização, permitem a aceleraçãodas atividades e da circulação de mercadorias. Bancos eletrônicos e dinheiro “deplástico” são inovações que agilizam os fluxos de dinheiro e permitem aaceleração dos negócios nos mercados financeiros e de serviços, tanto nacionaiscomo internacionais.

A economia de mercado sempre buscou a redução das distâncias porqueisso significaria redução do tempo de produção, de circulação e de consumo demercadorias e, conseqüentemente, redução dos custos, pois, no sistema capi-talista de produção, tempo é dinheiro. Grandes avanços foram feitos nessesentido, ao longo do século XIX e na primeira metade do século XX. Eraminovações voltadas para a remoção das barreiras espaciais - uma questão“deveras geográfica” na história das sociedades capitalistas.

Sem os equipamentoscomputadorizados

não seria possível ainstalação de satélites

na órbita da Terra.

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31A U L A Foi isso que aconteceu quando surgiram as estradas de ferro, o cabo

submarino, o telégrafo sem fio, o automóvel, o telefone, o rádio, o avião a jatoe a televisão que, ao formarem redes técnicas de circulação e comunicação,permitiram (cada um a seu tempo e interligando-se aos demais) realizarintegrações territoriais, quebrando as barreiras físicas para o transportee para a circulação de matérias-primas, de bens produzidos, de pessoas,de idéias, de decisões e de capital. Mas nenhuma dessas inovações compri-miu tanto o espaço, acelerando o processo de integração, como as novastecnologias da informaçãotecnologias da informaçãotecnologias da informaçãotecnologias da informaçãotecnologias da informação.

Hoje ocorre um aumento significativo na densidade das redes de circulaçãoe de comunicação. E essas redes podem se superpor umas às outras, permitindosimultaneamente a aceleração nos processos de integração produtiva, integraçãode mercados, integração financeira, integração de informações. Mas, ao mesmotempo e perversamente, geram um processo de desintegração, pelo qual paísese nações são excluídos das vantagens propiciadas pela alta tecnologia dainformática, como ocorre, notadamente, com nações africanas.

No entanto, a exclusão não se dá apenas em relação às nações maispobres. Tal exclusão atinge também milhões de trabalhadores nas economiasde tecnologia mais avançada. Em países desenvolvidos, máquinas inteligen-tes estão substituindo trabalhadores de escritórios e operários que, a cadadia, engrossam as filas dos desempregados.

Como afirma Milton Santos, a tecnologia é um fator importante, mas ela,por si só, não explica a História dos homens.

Nesta aula você aprendeu que:

l nossa vida cotidiana é hoje marcada pelas novas tecnologias da informaçãotecnologias da informaçãotecnologias da informaçãotecnologias da informaçãotecnologias da informação;l o meio geográficomeio geográficomeio geográficomeio geográficomeio geográfico é dominado pela ciência, pela tecnologia e pela

informação que chega veloz, instantânea e simultaneamente nos lugaresmundiais;

l embora os avanços técnico-científicos permitam a maior integraçãointegraçãointegraçãointegraçãointegração doespaço mundial, homens, países e lugares são excluídosexcluídosexcluídosexcluídosexcluídos dessa integração.

Antena parabólica, ligada aos satélites de comunicação, no Alasca.

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31A U L AExercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1

A Terra encolheu?! A partir da figura, explique as inovações técnicasresponsáveis por esse processo, entre 1850 e 1930 e a partir de 1970.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2A produção e a circulação mundial de mercadorias se expandem, sendo a viamarítima a opção para as trocas intercontinentais, cada vez mais valiosas evolumosas. Em função disso, os portos sofreram profundas mudanças.Antes localizavam-se preferencialmente junto aos aglomerados urbanos eestimulavam sua expansão. Multidões de trabalhadores candidatavam-separa carregar e descarregar os navios. Hoje, os maiores portos afastam-se dasgrandes cidades e, em algumas zonas portuárias antigas, os armazéns vaziosforam transformados em áreas de lazer.

Quais os fatores responsáveis por essas mudanças?

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Relate uma experiência de seu cotidiano que esteja relacionada com atecnologia da informação.

As inovações técnicas têmpermitido uma progressivacompressão da distância.

l

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NNNNNesta aula, vamos estudar como as mu-danças nas tecnologias e formas de produção e na organização do trabalho -que vêm ocorrendo nas últimas décadas, nos países desenvolvidos e naquelesemergentes - alteraram as condições econômicas e espaciais do mercado detrabalho e ameaçam um número significativo de trabalhadores com o desem-prego ou com trabalhos apenas temporários.

Quais os efeitos das transformações que estão ocorrendo no processoprodutivo sobre o emprego e o salário dos trabalhadores? Como essas novasformas de produzir mercadorias estão alterando a configuração do espaçogeográfico no mundo atual?

A aplicação da microeletrônica e da informática na produção industrial estáfazendo com que robôs e máquinas automatizados substituam milhares detrabalhadores, exigindo uma qualificação cada vez maior daqueles que perma-necem nas fábricas. Por sua vez, a reestruturação produtivareestruturação produtivareestruturação produtivareestruturação produtivareestruturação produtiva (nome que se dá aesse processo de mudanças) está alterando a posição relativa das regiões,fazendo com que aquelas que têm um parque industrial consolidado percamposição para novas áreas, onde as novas formas de produzir estão sendoimplantadas.

Hoje, um fantasma ronda a vida dos trabalhadores: o desemprego. Paramuitos estudiosos, trata-se de um desemprego estrutural, isto é, causado pelastransformações que vêm ocorrendo no padrão ou modelo de desenvolvimentoprodutivo e tecnológico que predomina nos países capitalistas avançados. Essastransformações apresentam diferenças nos países onde ocorrem mas, de qual-quer forma, estão alterando a organização do processo produtivo e do trabalhoem todos eles e no resto do mundo também. E tais mudanças afetam o conjuntodo mundo do trabalho.

À primeira vista, os robôs ou as novas tecnologias de produção parecem seros únicos e mais cruéis causadores desse desemprego. No entanto, existemoutras razões de ordem econômica, social, institucional e geopolítica que,associadas à tecnologia, formam um conjunto que explica melhor aquilo que,para alguns analistas, significaria até mesmo o fim de uma sociedade organizadacom base no trabalho.

Robôs e engenheiros:para onde vãoos operários?

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32A U L AO sistema capitalista, como todo sistema econômico, sofreu transformações

ao longo de sua história. As mudanças podem ser profundas, acumular tensõessociais e graves problemas econômicos, gerar crises, guerras e revoluçõespolíticas, mas o sistema permanece basicamente o mesmo, isto é, trata-se de umsistema produtor de mercadorias cuja venda tem por objetivo o lucro. Por issoo chamamos, indistintamente, de economia de mercado ou economia capitalista.

No entanto, para que as empresas capitalistas produzam mais e maismercadorias - com maior eficiência e melhores níveis de produtividade, ga-nhando em competitividade em relação a outras empresas, e sempre quepossível obtendo lucros crescentes - elas precisam criar e aplicar novas técnicase novas formas de organização da produção e do trabalho, dividir funções comoutras empresas, negociar salários, estipular taxas de lucros etc.

Mas o capitalismo não se restringe apenas às unidades empresariais e suasdinâmicas internas. Na sociedade como um todo, existem outros componentesextremamente importantes que precisam ser levados em consideração, poisinterferem na vida das próprias empresas. Tais componentes podem ser asformas institucionalizadas, como as regras do mercado, a legislação social,a moeda, as redes financeiras, em grande parte estabelecidas pelo Estado,ou ainda, as disputas pelo poder das nações, o comércio internacional, a rendae o consumo de cada família, a qualidade dos recursos humanos, as convençõescoletivas, as idéias produzidas etc.

Quando esse conjunto de elementos, e muitos outros, é razoavelmenteajustado e aceito pela sociedade (não se trata de um consenso pleno, pois semprehaverá oposições e tensões), estamos diante de um modelo de desenvolvimentocapitalista dominante, com uma organização territorial correspondente. E essemodelo permanece até que uma nova crise ocorra e novos rearranjos sejam feitosna sociedade e no espaço.

Após a crise de 1929, o modelo de desenvolvi-mento que aos poucos passou a dominar nos paí-ses de tecnologia avançada - Estados Unidos, Ja-pão e em boa parte da Europa -, mantidas suasespecificidades, levou o nome de fordismofordismofordismofordismofordismo, poisnesse modelo foram incluídas formas de produçãoe de trabalho postas em prática pioneiramente nosEstados Unidos, nas décadas de 1910 e 1920, nasfábricas de automóveis do empresário norte-ame-ricano Henry Ford.

O fordismo teve seu ápice no período posteriorà Segunda Guerra Mundial, nas décadas de 1950 e1960, que ficou conhecido na história do capitalis-mo como Os Anos DouradosOs Anos DouradosOs Anos DouradosOs Anos DouradosOs Anos Dourados.

A crise sofrida pelos Estados Unidos na década de 1970 foi consideradauma crise do próprio modelo, que apresentava queda da produtividade e dasmargens de lucros. A partir da década de 1980, esboçou-se nos países industri-alizados um novo padrão de desenvolvimento denominado pós-fordismopós-fordismopós-fordismopós-fordismopós-fordismo oumodelo flexívelmodelo flexívelmodelo flexívelmodelo flexívelmodelo flexível.

Para compreender as tendências do novo modelo - flexível - baseado natecnologia da informação, que vem ameaçando os empregos, é necessáriolevantar, ainda que de forma simplificada, algumas características do fordismofordismofordismofordismofordismoe algumas razões que levaram ao seu esgotamento:

Interior de umafábrica com linha

de montagemtradicional,

notando-se apresença de

muitos operários.

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32A U L A l PeríodoPeríodoPeríodoPeríodoPeríodo

Nos países de industrialização avançada, o fordismo surgiu a partir da crisede 1929, atingindo o auge de dominação nos anos 50 e 60.

l Avanços tecnológicosAvanços tecnológicosAvanços tecnológicosAvanços tecnológicosAvanços tecnológicosO fordismo contou inicialmente com os avanços tecnológicos alcançados nofinal do século XIX, como a eletricidade e o motor à explosão. Mais tardeincorporou os avanços da alta tecnologia desenvolvida durante a SegundaGuerra Mundial e que posteriormente passou para o uso da sociedade civil,a exemplo dos materiais sintéticos e do motor a jato. E, finalmente, no pós-guerra, começou a usufruir dos avanços científicos alcançados nas áreasda eletrônica e da tecnologia da informação.

l Organização da produçãoOrganização da produçãoOrganização da produçãoOrganização da produçãoOrganização da produçãoNas grandes indústrias, longas esteiras rolantes levavam o produto semi-acabado até os operários, formando uma cadeia de montagem. A produçãodos diversos componentes era feita em série. O resultado foi uma produçãoem massa que utilizava maquinaria cara; por isso, o tempo ocioso deveria serevitado a todo custo. Acumularam-se grandes estoques extras de insumos emantinha-se alto número de trabalhadores para que o fluxo de produção nãofosse desacelerado. Os milhares de produtos padronizados eram feitos paramercados de massa.

Os setores industriais mais destacados eram os de bens de consumoduráveis (automóveis e eletroeletrônicos) e os de bens de produção(destacadamente a petroquímica). Entre as décadas de 1940 e 1960 surgiuuma interminável seqüência de novos produtos, a exemplo de rádiosportáteis transistorizados, relógios digitais, calculadoras de bolso, equipa-mentos de foto e vídeo.

l Organização do trabalhoOrganização do trabalhoOrganização do trabalhoOrganização do trabalhoOrganização do trabalhoO trabalho passou a se organizar com base num método racional, conhecidocomo taylorismotaylorismotaylorismotaylorismotaylorismo, que apresentava as seguintes características:- separava as funções de concepção (administração, pesquisa e desenvol-

vimento, desenho etc.) das funções de execução;- subdividia ao máximo as atividades dos operários, que podiam ser

realizadas por trabalhadores com baixos níveis de qualificação, masespecializados em tarefas simples, de gestos repetitivos;

- retinha as decisões nas mãos da gerência.Esse “método americano” de trabalho seguia linhas hierárquicas rígidas,com uma estrutura de comando partindo da alta direção e descendoaté a fábrica. Os operários perderam o controle do processo produtivocomo um todo, e passaram a ser controlados rigidamente por técnicose administradores.

l Organização dos trabalhadoresOrganização dos trabalhadoresOrganização dos trabalhadoresOrganização dos trabalhadoresOrganização dos trabalhadoresHouve crescimento e fortalecimento dos sindicatos. Os contratos de traba-lho começaram a ser assinados coletivamente. Os salários eram ascenden-tes. E foram realizadas importantes conquistas de cunho social, tais comogarantias de emprego, salário-desemprego e aposentadoria.

l MercadoMercadoMercadoMercadoMercadoOs mercados de massa ficavam garantidos por causa do aumento dacapacidade de compra dos próprios trabalhadores. Embora ocorresse umaexpansão dos mercados internacionais, eram os mercados internos que

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32A U L Agarantiam o consumo da maior parte da produção. Surgia a sociedade de

consumo. Geladeiras, lavadoras de roupa automáticas, telefone e atéautomóveis passaram a ser produtos de uso comum. Serviços antesacessíveis a minorias, como no caso do setor de turismo, tranformaram-seem serviços de massa.

l Papel do EstadoPapel do EstadoPapel do EstadoPapel do EstadoPapel do EstadoOcorreu a ampliação e a diversificação da intervenção social e econômicado Estado, inspirada nos princípios da teoria keynesiana e do Estado dobem-estar social. O Estado nacional de caráter keyneisiano passou ainterferir mais diretamente na economia, por meio, por exemplo, dosgastos públicos, dos planos de desenvolvimento regional, da criação deum número significativo de empregos no setor público e do atendimentoàs garantias reivindicadas pelos trabalhadores, a exemplo da garantia deemprego. E o Estado do bem-estar social desenvolveu políticas destinadasa reduzir as desigualdades sociais, como as de transportes urbanos, habi-tação, saneamento, urbanização, educação e saúde.

l Organização do territórioOrganização do territórioOrganização do territórioOrganização do territórioOrganização do territórioA organização da produção e do trabalho reorganizou o espaço geográ-fico. O processo de urbanização acelerou-se. As unidades produtivasatraíam umas às outras. Cresceram ainda mais as regiões industriais. Ascidades se tranformaram em grandes manchas urbanas. Surgiram novosbairros residenciais e distritos industriais com o apoio e incentivo esta-tais. Cresceram a construção civil e a massa construída de casas e prédios,em grande parte incentivadas por programas governamentais de hipote-cas e empréstimos.As metrópoles, com seus centros de negócios e de decisões constituídospelas sedes sociais das grandes empresas, incorporaram os municípiosvizinhos. Grandes regiões urbanizadas - as megalópoles - se formaramentre duas ou mais metrópoles devido à polarização que tais centrosexerciam sobre as pequenas e médias cidades que se encontravam ao seuredor. Intensos fluxos de pessoas e mercadorias integraram o conjuntoformado por essas cidades.Em todas as cidades intensificaram-se o comércio, os tranportes, ascomunicações e os serviços em geral. As redes urbanas tornaram-se maisdensas. Diversificaram-se as atividades culturais e de lazer. Cresceram asuniversidades e centros de pesquisa e tecnologia. Mais capitais e traba-lhadores foram atraídos pelas cidades. A geografia do fordismo foi a dasgrandes concentrações urbano-industriais.

O modelo fordista, que floresceu no pós-guerra, dependia da subida cons-tante dos salários para manter o mercado ativo, ou seja, manter os níveis deprodução e de consumo crescentes. Porém, os salários não podiam crescer aponto de ameaçar os lucros empresariais; mantiveram-se os níveis salariais e oslucros aumentando os preços dos produtos, o que gerou uma crise inflacionária.

Nos Estados Unidos, os gastos públicos se agigantaram, tanto interna comoexternamente - a guerra do Vietnã foi um exemplo. A moeda americana ficoudebilitada. Esse país, que durante todo o período de domínio do fordismoassegurava a estabilidade da economia mundial com base em sua moeda - odólar -, viu esse sistema monetário declinar. A competitividade da Europa e doJapão superavam a dos Estados Unidos. Assistia-se a uma verdadeira guerracomercial, que nunca deixou de crescer.

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32A U L A A partir da década de 1970, a saída foi investir num novo modelo que

rompesse com aquilo que era considerado a rigidez do modelo fordista. A ordemera flexibilizar, ou seja, golpear a rigidez nos processos de produção, nas formasde ocupação da força de trabalho, nas garantias trabalhistas e nos mercados demassa, então saturados.

As empresas multinacionais, para restabelecer sua rentabilidade, expandi-ram espacialmente sua produção por continentes inteiros. Surgiram novospaíses industrializados. Os mercados externos cresceram mais que os mercadosinternos. O capitalismo internacional reestruturou-se.

Os países de economia avançada precisaram criar internamente condiçõesde competitividade. A saturação dos mercados acabou gerando uma produçãodiversificada para atender a consumidores diferenciados. Os contratos de trabalhopassaram a ser mais flexíveis. Diminuiu o número de trabalhadores permanentese cresceu o número de trabalhadores temporários. Flexibilizaram-se os salários -cresceram as desigualdades salariais, segundo a qualificação dos empregados e asespecificidades da empresa. Em muitas empresas, juntou-se o que o taylorismoseparou: o trabalhador pensa e executa. Os sindicatos viram reduzidos seu poderde representação e de reivindicação. Ampliou-se o desemprego.

Os compromissos do Estado do bem-estar social foram sendo rompidospouco a pouco. Eliminaram-se, gradativamente, as regulamentações do Estado.As políticas keynesianas - que se revelaram inflacionárias, à medida que asdespesas públicas aumentavam e a capacidade fiscal estagnava - forçaramo enxugamento do Estado.

A transformação do modelo produtivo começou a se apoiar nas tecnologiasque já vinham surgindo nas décadas do pós-guerra (automação e robotização)e nos avanços das novas tecnologias da informação. O método de produçãoamericano foi substituído pelo método japonês de produção enxuta, que com-bina máquinas cada vez mais sofisticadas com uma nova engenharia gerenciale administrativa de produção - a reengenharia, que elimina a organizaçãohierarquizada. Agora, engenheiros de projetos, programadores de computado-res e operários interagem face a face, compartilhando idéias e tomando decisõesconjuntas.

O novo método, rotuladopor muitos como toyotismotoyotismotoyotismotoyotismotoyotismo,numa referência à empresa ja-ponesa Toyota, utiliza menosesforço humano, menos espaçofísico, menos investimentos emferramentas e menos tempo deengenharia para desenvolverum novo produto. A empresaque possui um inventáriocomputadorizado, juntamentecom melhores comunicações etransportes mais rápidos, nãoprecisa mais manter enormesestoques. É o just in time.O novo método permite variar aprodução de uma hora paraoutra, atendendo às constantesexigências de mudança do mer-cado consumidor e das mudan-Fábrica com robôs.

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32A U L Aças aceleradas nas formas e técnicas de produção e de trabalho. A ordem

é manter estoques mínimos, produzindo apenas quando os clientes efetivamuma encomenda.

As grandes empresas começaram a repassar para as pequenas e médiasempresas subcontratadas um certo número de atividades, tais como concepçãode produtos, pesquisa e desenvolvimento, produção de componentes, seguran-ça, alimentação e limpeza. Isso passou a ser conhecido como terceirizaçãoterceirizaçãoterceirizaçãoterceirizaçãoterceirização. Comela, as grandes empresas reduziram suas pesadas e onerosas rotinas burocráticase suas despesas com encargos sociais, concentrando-se naquilo que é estratégicopara seu funcionamento.

A produção flexível vem transformando espaços e criando novas geogra-fias, à medida que ocorrem redistribuições dos investimentos de capitalprodutivo e especulativo e, conseqüentemente, redistribuição espacial dotrabalho. Numerosas empresas se transferiram das tradicionais concentraçõesurbanas e regiões industriais congestionadas, poluídas e sindicalizadas, paranovas áreas nas quais a organização e o poder de luta dos trabalhadores épouco significativa. Surgiram novos complexos de produção - os complexoscientíficos-produtivos -, ligados a universidades e centros de pesquisa ondeas inovações são constantes.

Um caso exemplar desses complexos é o do Vale do Silício (Silicon Valley),na Califórnia, cujo modelo se difundiu por vários países. Nesse complexo, aUniversidade de Stanford, juntamente com empresas do ramo da microele-trônica, criou um parque tecnológico cuja fama cresceu com a produção desemicondutores e o uso do silício como matéria-prima para sua fabricação. OVale do Silício faz parte de uma área maior em torno da baía de São Franciscoonde se estabeleceram numerosas indústrias de alta tecnologia.

Esses tecnopólostecnopólostecnopólostecnopólostecnopólos também são encontrados no interior das tradicionaisregiões industriais que vêm se modernizando, a exemplo da região industrialde Frankfurt, na Alemanha, ou ainda daquelas que procuram sair de umasituação de estagnação, como no caso da região de Turim, na Itália, ou de Lyon,na França.

MAPA DOS ESTADOS UNIDOS - REGIÃO EM RECONVERSÃO. TECNOPÓLOS.

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32A U L A O sistema just in time exige também uma reorganização do território. As

firmas subcontratadas pelas grandes empresas se aglomeram em torno daplanta terminal de produção, criando um novo tipo de aglomeração produtiva.Esse é o caso da fábrica da Volkswagen, instalada em Resende, no Estado do Riode Janeiro, que vem atraindo outras empresas que produzirão, no próprioterreno da fábrica da Volkswagen, componentes utilizados na montagem deônibus e caminhões.

Sem nenhuma dúvida, vivemos hoje mudanças profundas que se refletemno mundo do trabalho. Para os mais otimistas, a questão do desempregotecnológico será resolvida pela própria tecnologia avançada que estimulará osurgimento de novos setores produtivos e de atividades humanas a ela ligados,exigindo, assim, novos trabalhadores. Para outros, o sonho dos empresários defábricas sem operários está prestes a ser realizado.

Também nos setores agrícolas e de serviços, as máquinas substituem otrabalho humano. Corporações multinacionais fazem notar que estão cada vezmais competitivas, e ao mesmo tempo anunciam demissões em massa. Aquestão que se coloca neste final de século é a seguinte: para onde vão ostrabalhadores? A resposta dependerá da posição assumida pelas sociedadescomo um todo.

Nesta aula você aprendeu que:

l os dois modelos de desenvolvimento capitalistadesenvolvimento capitalistadesenvolvimento capitalistadesenvolvimento capitalistadesenvolvimento capitalista – o fordista e o flexível –apresentam diferenças nas técnicas utilizadas, nas formas de produzir, naorganização do trabalho e dos trabalhadores, na organização do território,no papel do mercado e do Estado;

l o modelo flexívelmodelo flexívelmodelo flexívelmodelo flexívelmodelo flexível, que tende a dominar nos países avançados e nos paísesemergentes, ameaça um número significativo de trabalhadores com odesemprego.

l as máquinas automáticas e os computadoresmáquinas automáticas e os computadoresmáquinas automáticas e os computadoresmáquinas automáticas e os computadoresmáquinas automáticas e os computadores assumem o lugar dostrabalhadores. Estes já não têm tanta força política e reivindicatória comoantes; as indústrias se afastam das áreas onde eles se mantêm aindarelativamente fortes; os mais qualificados ganham mais, porém os menosqualificados são muito explorados; o mercado seletivo não lhes dá acesso aqualquer tipo de produtos; o Estado já não os apóia como os apoiava e nãolhes garante os empregos permanentes.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1“Depois de lutar contra a exploração capitalista, os trabalhadores têm agoraque lutar contra a falta dela. Do sistema de exploração passa-se para umasituação de exclusão porque os grandes centros capitalistas prescindemcada vez mais do trabalho...”Adaptado de Kurz, Robert. O Colapso da Modernização. Paz e Terra, 1992.

Com o auxílio do texto acima, explique por que os trabalhadores vivem, hoje,uma situação de exclusãouma situação de exclusãouma situação de exclusãouma situação de exclusãouma situação de exclusão.

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32A U L AExercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2

Elaborar um quadro comparativo do fordismo e do pós-fordismo, contendoos seguintes aspectos:a)a)a)a)a) a remuneração dos trabalhadores;b)b)b)b)b) a organização dos trabalhadores;c)c)c)c)c) o papel do Estado;d)d)d)d)d) a organização do espaço.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3A rápida ascenção da Toyota no mercado mundial de automóveis revelaa sua estratégia transnacional de operação, com unidades de montagemde carros espalhadas por todo o mundo.

Com base no mapa responda:a)a)a)a)a) Por que a maioria das unidades de montagem da Toyota está situada na

zona costeira dos diversos continentes.b)b)b)b)b) Qual a importância da bacia do Pacífico na expansão transnacional das

firmas japonesas.

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33A U L A

NNNNNesta aula, vamos estudar o que é o sistemafinanceiro global, o que determinou seu surgimento e os problemas dele decor-rentes. Vamos discutir até que ponto o Estado-nação vem perdendo poderou sentindo a necessidade de mudar seus regulamentos internos para sobrevivere conviver nesse novo contexto internacional da globalização.

Qual o papel do sistema financeiro global, cujo campo de operações vai alémdos limites dos estados-nacionais? Quais os instrumentos de controle de quedispõem os governos sobre as operações bancárias com títulos e moedas emescala planetária? São elas operações lícitas ou simplesmente especulaçõesfraudulentas ou lavagem de dinheiro ganho ilegalmente?

Hoje, mais do que nunca, o poder dos grandes bancos e das grandesempresas desafia os governos nacionais, propondo uma novo desenho políticoe econômico para o espaço geográfico mundial, onde não exista limites, nemcontrole, sobre a circulação dos capitais. No entanto, quais serão os efeitos desta“nova ordem mundial” sobre a vida dos trabalhadores?

Nossa representação geográfica do mundo é a de um conjunto de Estados-Estados-Estados-Estados-Estados-naçõesnaçõesnaçõesnaçõesnações, cada um deles constituído por uma unidade territorial delimitada porfronteiras políticas, sobre a qual é soberano, e por uma unidade econômicaorganizadora de seus assuntos internos e externos.

Os Estados-nações estariam sendo ameaçados pelo sistema financeiro glo-bal - veloz, eletrônico, computadorizado, de tempo integral, indiferente àsfronteiras, ávido de lucros rápidos -, pelo qual enorme somas de capital entrame saem dos países de acordo com o que de melhor possam lhe oferecer num dadomomento? Mas o que é esse sistema financeiro global?

Segundo nos explica a geógrafa Lia Osório Machado, em seu trabalhoO Comércio Ilícito de Drogas e a Geografia da Integração Financeira: umasimbiose?, a economia de mercado funciona atualmente com a ajuda dos bancosde investimento internacionais e dos mercados de capitais, isto é, de um sistemade geração, compra e venda de crédito. Assim, quem controla o acesso aodinheiro, ao crédito - como no caso de governos, bancos, companhias de seguroe operadores dos mercados financeiros - exerce um poder notável na conjunturainternacional. Nas palavras de Lia Osório Machado, trata-se de um sistemasistemasistemasistemasistemafinanceiro globalfinanceiro globalfinanceiro globalfinanceiro globalfinanceiro global, pois sua tendência recente é expandir-se cada vez mais“liberado dos regulamentos de base territorial como aqueles do Estado-nação”.

O sistema financeiroglobal e os limitesdo Estado-nação

33A U L A

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33A U L AO sistema financeiro global é um estágio mais avançado da internaciona-internaciona-internaciona-internaciona-internaciona-

lização dalização dalização dalização dalização da economia capitalistaeconomia capitalistaeconomia capitalistaeconomia capitalistaeconomia capitalista que remonta ao século XIX. Até 1970, o sistemaainda se baseava na intermediação bancária que transformava os capitaisdisponíveis e as poupanças privadas em créditos internacionais. Mas, a partirda crise dos anos 80, esse sistema foi fortemente golpeado.

Hoje, o caráter globalizado do sistema financeiro se deve:

a)a)a)a)a) à acelerada e sempre crescente expansão dos fluxos financeiros internacio-nais, o que resulta em forte impacto sobre as políticas monetária (quantidadede moedas em circulação) e cambial (relação de valor entre a moeda nacionale a moeda estrangeira) das economias nacionais;

b)b)b)b)b) à violenta disputa entre bancos e instituições financeiras (fundos de pensão,companhias de seguros, administradoras de carteiras de títulos e de fundosde investimento) para negociar serviços financeiros, o que leva à prolifera-ção de mecanismos especulativos de ganhos de capital em detrimento douso de capital em investimentos produtivos;

c)c)c)c)c) aos investimentos virtualmente desimpedidos entre os mercados financei-ros nacionais, ou seja, a uma maior integração financeira internacional, o quesignifica oportunidades - mas também riscos - para os Estados nacionais,principalmente aqueles de países emergentes.

Nos últimos dez anos, a globalização financeira movimenta um volume decréditos nunca visto anteriormente na história do capitalismo. Somente noperíodo 1991-1996 o valor total do financiamento, na forma de empréstimosbancários, emissão de bônus e ações, mais que duplicou, já tendo ultrapassado1 trilhão de dólares. Hoje, a circulação média diária (24 horas) no mercadointernacional de câmbio (troca de moedas) chega a 2 trilhões de dólares. Isso semfalar de outros mecanismos financeiros, atualmente utilizados, nos quais o valornominal negociado (o dinheiro não aparece, e sim a ordem de pagamento) jáultrapassa a cifra de 20 trilhões de dólares. Grande parte desse volume dedinheiro, de crédito, “cresce” descolado do volume de bens e serviçoscomercializados no mundo. Cresce, então, porporporporpor especulaçãoespeculaçãoespeculaçãoespeculaçãoespeculação, pois o que cresce éo valor dos “papéis” negociados.

Os investimentos financeiros não têm correspondência com os investi-mentos produtivos. Para alguns estudiosos, isso pode significar, se mantidosos ritmos atuais dos fluxos financeiros, uma crise do sistema capitalista deconseqüências inimagináveis. Trata-se de uma situação de “risco sistêmico”,que pode criar desequilíbrios em cadeia, do tipo efeito dominó, e levar a umacrise global.

Para o economista Reinaldo Gonçalves, em seu trabalho Ô Abre-alas -A nova inserção do Brasil na Economia Mundial, as principais determinantespara o atual estágio da internacionalização do sistema financeiro foram:o desequilíbrio no balanço de pagamentos e o déficit público dos EstadosUnidos; a desregulamentação do movimento de capitais; a criação de novosinstrumentos financeiros, como resposta à instabilidade do sistema monetá-rio internacional, ou seja, a variabilidade das taxas de câmbio e de juros;e os avanços das telecomunicações e da informática que permitiram umamaior integração dos diversos sistemas financeiros nacionais, com um custocada vez mais baixo.

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33A U L A

Durante as décadas de 1940 e 1950, o sistema financeiro internacionalapoiava-se na forte economia norte-americana e em sua moeda (o dólar) que,ligada a uma determinada quantidade de ouro, criava uma situação deestabilidade no sistema monetário internacional. Havia controle sobre omontante de dólares existente no mundo e cada país sabia exatamente arelação, em valor, entre a moeda nacional e a moeda de referência, o dólar.

Em 1950, somente os Estados Unidos produziam cerca de 60% de todaa produção dos países capitalistas avançados e possuíam em torno de 40%de todo o estoque de capital entre esses países. Nessa época, as transaçõesem divisas estrangeiras eram controladas em cada país e os fluxos decapital mantinham-se relativamente pequenos no mercado financeirointernacional.

No entanto, a partir da década de 1960, essas condições mudaram. Antesde mais nada, é importante lembrar que a partir dessa década começou asurgir uma economia cada vez mais transnacional, ou seja, um sistema deatividades que tende a romper com os limites territoriais, com as fronteirasdos Estados nacionais. E uma das primeiras e mais fortes manifestações deque a economia capitalista escapava ao controle do Estado-nação se dá,justamente, no sistema financeiro.

Geograficamente, muitas empresas passaram a transferir sua sede socialpara “territórios fiscais generosos” como forma de fugir ao controle dosimpostos e das restrições existentes em seus Estados de origem. Essa prática,que passou a ser conhecida como offshore (externo), escolhe justamentepequenos ou mini-Estados - tais como Curaçao, Ilhas Virgens e Liechtenstein-, hoje em torno de setenta, que se caracterizam pela ausência ou grandesburacos nas leis empresariais e trabalhistas, o que permite às empresas quepara lá se dirigem, realizar grandes transações financeiras.

Na foto acima, o sistemacomputadorizado que serve à

Bolsa de Valores de Hong Kong.Ao lado, operadores da Bolsa de

Nova York, também dependemde computadores para a

realização de seu pregão.

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33A U L ANa década de 1970, o sistema monetário internacionalsistema monetário internacionalsistema monetário internacionalsistema monetário internacionalsistema monetário internacional, baseado no dólar,

desestabilizou-se porque a economia central que lhe dava sustentação estavaperdendo força relativa e competitividade, e porque o dólar, por decisão dogoverno americano foi desvalorizado, rompendo com o padrão ouro, o quesignificou uma liberalização geral dos controles cambiais num número cres-cente de países. Além disso, os contínuos déficits públicos e os déficits nobalanço de pagamentos dos Estados Unidos, constantemente cobertos porempréstimos externos, em pouco tempo transformaram esse país, de maiorcredor mundial, em devedor internacional.

Ao mesmo tempo, externamente, os investimentos e os gastos militares eramrelativamente altos. Os dólares americanos depositados em bancos não-ameri-canos e que não voltavam para os Estados Unidos - para fugir também dasrestrições da legislação bancária americana - eram estocados fora do territórionorte-americano e tornaram-se um instrumento financeiro negociável. O velhocentro financeiro internacional – a City de Londres – negociava os eurodólares“inventados”, em livre flutuação, ou seja, em movimentos oscilatórios, decotação (valor-preço) instável.

O capital norte-americano se multiplicava e corria solto e rapidamente pelomundo, e era aplicado, principalmente, em empréstimos de curto prazo (depoucos meses até um ano) altamente lucrativos. Com essa expansão de fluxos dedólares, todos os governos perderam o controle das taxas de câmbio e do volume,agora bem maior, de dinheiro em circulação no mundo.

A liberalização financeira ajudava a expandir o comércio mundial, mas osfluxos financeiros se separavam cada vez mais do comércio de manufaturas e deserviços. As políticas dos governos, coordenadas nacional ou internacional-mente, já não funcionavam como antes. Os Estados nacionais perderam parte deseus poderes econômicos.

A crise inflacionária da década de 1970 abriu espaço para as explicaçõesdos ideólogos do neoliberalismoneoliberalismoneoliberalismoneoliberalismoneoliberalismo, que colocam o Estado como o maiorculpado pelos males dessa crise. Para esses ideólogos, qualquer regulaçãodo mercado por parte do Estado é nefasta. O mercado deve ser “livre”.

Em 1979, na Inglaterra governada pela primeira-ministra MargarethTatcher, apelidada de “dama de ferro”, foi aplicado o mais abrangenteprograma neoliberal no mundo capitalista. Dele constavam, entre outrasrealizações: a contração da emissão monetária; a elevação das taxas de juros;a redução dos impostos sobre rendimentos altos; a abolição dos controles dosfluxos financeiros; o corte nos gastos sociais; uma nova legislação anti-sindical e um amplo programa de privatizações. Essas realizações tinhamcomo objetivos, em seu conjunto, reduzir a inflação, estimular investimentosprodutivos e especulativos, reduzir o tamanho e o papel do Estado, garantirao capital privado maiores margens de lucros e reduzir o peso político eeconômico dos trabalhadores.

Os Estados Unidos de Ronald Reagan, a Alemanha de Helmut Khol,e outros países, foram seguindo um a um, com maior ou menor rigor, o modeloneoliberal. Esses países derrubaram pouco a pouco o estado keynesiano,embora não conseguissem acabar com o Estado do bem-estar social, que emmuitos países continuava crescendo. Os neoliberais afirmavam que, em opo-sição ao Estado, que ameaça a liberdade econômica e política, o livre mercadoproduziria “o maior crescimento da Riqueza das Nações e a melhor distribui-ção sustentável de riqueza e renda dentro dele”.

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33

AU

LA

O poder financeiro mundial

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33A U L AO programa neoliberal reanimou as taxas de lucros, mas não as taxas de

acumulação, isto é, de investimentos para o crescimento do parque de equipa-mentos produtivos. Isso porque a desregulamentação financeira, elementoimportante do programa neoliberal, gerou condições muito mais favoráveis parainvestimentos especulativos do que produtivos. O boom das transações financei-ras, nos anos 80, levou à redução do comércio mundial de mercadorias, penali-zando os países mais pobres, principalmente os de economia basicamenteprimário-exportadora.

Após atingir os países ricos da Europa Ocidental e da América, o neolibera-lismo afetou os países do Leste europeu e, finalmente, os países da AméricaLatina. No entanto, a região que alcançou o maior êxito, nos últimos vinte anos,é justamente a menos liberal. Trata-se do Extremo-Oriente, onde estão incluídoso Japão e a Coréia do Sul. Esses países têm sofrido fortes pressões das potênciasocidentais para liberar, desproteger e desregulamentar suas economias.

A globalização não tem apenas um caráter financeiro. Ela é também produ-tiva. No passado, todas as fases da produção de uma mercadoria eram realizadasno próprio país, onde era consumida ou exportada. Hoje, vem diminuindo oconteúdo nacional da maioria das mercadorias. E as fases intermediárias daprodução de um determinado bem ocorrem em diferentes países. As empresassaem em busca de regiões, países ou áreas que ofereçam vantagens em termos derecursos humanos e de padrões técnico-científicos de produção.

O importante a destacar é que são justamente os países em desenvolvi-mento aqueles que mais necessitam atrair investimentos produtivos e finan-ceiros globais para seus territórios, como forma de resolver suas questões dedívida externa, para alcançar maiores índices e níveis de crescimento econô-mico, reestruturar espacial e tecnologicamente o país, gerar emprego eredistribuí-lo geograficamente para reduzir as desigualdades existentes.E, para que isso ocorra, devem atender às exigências hoje ditadas pelomercado internacional cujos poderosos centros encontram-se nas áreas maisavançadas economicamente.

A integridade política e econômica de cada Estado nacional estaria corren-do perigo por causa da atuação de especuladores, cujos capitais de curto prazovalem-se de momentos circunstanciais, de informações “quentes”, para inves-tir? E esses especuladores são atraídos pelos mais recentes dados do comércioou pelo aumento das taxas de juros que lhes garantam vantagens financeiras?Ou fogem quando essas mesmas taxas descem, ou quando há a mais levesuspeita de instabilidade política ou de comoção social que possam ameaçarsuas taxas futuras de lucros sobre o capital de risco investido?

Nas palavras de Lia Osório Machado, “de um lado, o sistema de Estados-nações mantém, do ponto de vista jurídico, as prerrogativas de soberania; deoutro, o poder fixado pelas fronteiras do Estado nacional é cada vez maislimitado pela política de poder das grandes corporações e das altas finanças”.

Parece que a pressão exercida pelo sistema global é de tal ordem que reduzo papel e o poder - de escolhas e de decisões - dos Estados nacionais. Perdemautonomia e capacidade de dinamizar os investimentos, a renda e o emprego.A globalização, não só financeira mas também produtiva, subordina cadagoverno nacional aos interesses dos principais centros financeiros internacio-nais, além de os expor a preconceitos político-econômicos daqueles que mane-jam o capital global.

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33A U L A O “mundo sem fronteiras” representa uma certa perda, pelo país, do

controle sobre sua moeda e sobre suas políticas fiscais. Se para os mercadosinternacionais, bastante conservadores em matéria econômica, o equilíbriofiscal de um determinado país está correndo algum risco, tais mercados tomamdecisões que têm um impacto real no país em questão. Essa situação já foivivida pelo México, quando a fuga de capitais internacionalizados jogou essepaís numa recessão, manifestada pela queda da produção, do consumo,do emprego, com um conseqüente empobrecimento.

Segundo alguns estudiosos, não se trata de escolher entre participar aqualquer preço dessa globalização e da ideologia do “mercado livre” ou ficarde fora dela. Acreditam eles que sempre será possível preservar (oureinstaurar) uma regulamentação no âmbito do Estado-nação, bastando paraisso que haja “vontade política” de privilegiar as questões sociais dos homenssem capital. Ou pode haver ainda algum controle do movimento internacio-nal do capital financeiro e produtivo, pela ação de agrupamentos como o doGrupo dos Sete - o G-7 (os sete países de economias mais desenvolvidas) -ou de organismos multilaterais como o Banco Mundial e o Fundo MonetárioInternacional, para que os custos sociais da globalização no mundo não sejamtão altos como vêm sendo.

Nos últimos anos está ocorrendo uma desaceleração nos fluxos de capitaisfinanceiros. Acredita-se que o movimento de desregulamentação e liberalizaçãodos fluxos internacionais de capitais tenha sido concluído, pelo menos nospaíses desenvolvidos. E parece ainda que surge uma nova tendência decontrole das atividades financeiras internacionais.

A “natureza racional” (ou irracional?) do mercado de capitais não estápreocupada com o bem-estar ou com a justiça social dos cidadãos de umadeterminada sociedade, mas sim com os lucros. Não cabe ao mercado de capitaisas questões sobre saúde, educação, habitação ou serviços públicos.

Entretanto, a um Estado democrático cabe o papel de não permitir queos territórios nacionais transformem-se apenas em “filhas legítimas da lógicado capitalismo”, agora globalizado. Cabe impedir que os espaços nacionaissejam simplesmente espaços de manobra e de possibilidades para a economiainternacionalizada.

Nesta aula você aprendeu que:

l o sistema financeiro globalsistema financeiro globalsistema financeiro globalsistema financeiro globalsistema financeiro global está buscando expandir-se, livre de regulamen-tos de base territorial como os do Estado-naçãoEstado-naçãoEstado-naçãoEstado-naçãoEstado-nação. O sistema é globalizadodevido à aceleração e à expansão cada vez maior dos fluxos de dinheiro e detítulos entre os diferentes mercados financeiros nacionais;

l a crisecrisecrisecrisecrise dos Estados Unidos e do sistema monetário internacionalsistema monetário internacionalsistema monetário internacionalsistema monetário internacionalsistema monetário internacional baseadona moeda norte-americana - o dólar - resulta na expansão dos fluxos dedólares fora dos Estados Unidos.

l a onda neoliberal onda neoliberal onda neoliberal onda neoliberal onda neoliberal que varreu o mundo, a partir da década de 1970,acelerou a globalização financeira na medida em que diversos paísespassaram a liberar as regras do mercado financeiro para permitir eestimular a entrada de maiores volumes de capitais, mesmo queespeculativos, em suas economias.

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33A U L AExercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1

A charge “brinca” com uma realidade do mundo de hoje. Responda:a)a)a)a)a) Qual é essa realidade?b)b)b)b)b) Explique a razão da euforia dos homens que jogam os dardos.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Com base no texto desta aula, explique qual é a relação existente entresistema monetário internacional e sistema financeiro internacional.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Procure, em jornais ou revistas, notícias que contenham alguns aspectos dosistema financeiro global, estudados nesta aula.

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34A U L A

NNNNNessa aula, vamos estudar o crescimento dapopulação mundial relacionando-o com as mudanças ocorridas na sociedade.Vamos conhecer o modelo explicativo da desaceleração do crescimentopopulacional - a transição demográficaa transição demográficaa transição demográficaa transição demográficaa transição demográfica. Veremos ainda os principais fluxosmigratórios contemporâneos e as questões sociais e econômicas que decorremdesses fluxos.

Qual a importância dos movimentos de população no mundo atual? Diantede um período histórico em que o dinheiro praticamente não encontra limites asua mobilidade, qual a situação do trabalho diante da globalização?

Aparentemente, as restrições à livre circulação de pessoas estão aumentan-do nos países industrializados, apesar da formação dos blocos econômicos.Os trabalhadores árabes, turcos e africanos, que nos últimos trinta anos acorre-ram à Europa para trabalhar na construção civil e nos empregos de menorqualificação, estão sendo cada vez mais discriminados pela legislação dos paíseseuropeus. Da mesma maneira, os Estados Unidos têm aumentado as dificulda-des impostas à imigração de trabalhadores, principalmente latino-americanos,que buscam emprego em seu território.

Assim, a globalização é um processo de duas vias: de um lado aumenta amobilidade do dinheiro, de outro restringe os deslocamentos da populaçãoque busca trabalho.

A grande expansão demográfica do mundo contemporâneo começou com aRevolução Industrial. A partir do século XVIII assistimos a um extraordináriocrescimento demográfico, e a população mundial, em 1830, atingiu pela primeiravez um bilhão de habitantes. Apenas oitenta anos depois atingiu 2 bilhões.Entre 1930 e 1975 - em 45 anos -, dobrou de novo. Em 1987 foi anunciado onascimento do habitante de número 5 bilhões. Em 150 anos a população do nossoplaneta quintuplicou.

No mundo, hoje, nascem 150 crianças por minuto, 220 mil por diae 80 milhões por ano. Nesse ritmo a Terra deverá ultrapassar 6 bilhões dehabitantes por volta do ano 2000.

Ritmos e movimentosda população mundial

34A U L A

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34A U L AO crescimento da população mundial não se processou de modo uniforme, ao

mesmo tempo e em todos os lugares. Ele foi inicialmente um crescimentopopulacional europeu. A eficácia na luta contra a morte e as melhorias dascondições de vida fizeram a população da Europa passar de 187 milhões, em 1800,para 400 milhões, em 1900. A partir da metade do século XX, o crescimento dapopulação mundial ocorreu nos outros continentes. Os países subdesenvolvidosconheceram então uma forte baixa da mortalidade, como resultado da difusão dasvacinas, da eliminação dos vetores de numerosas doenças e das medidas desaneamento básico. A taxa de mortalidade no conjunto dos países pobres passoude 25 óbitos por mil habitantes, em 1950, para 9 óbitos por mil, em 1990. O conjuntodos países subdesenvolvidos tinha uma taxa de crescimento anual de 2,4% noperíodo 1970/75, enquanto os desenvolvidos tinham uma taxa de apenas 0,8%.

As incertezas quanto ao futuro são explicadas pelas atuais interrogaçõessobre as tendências das taxas de natalidade. Desde a década de 1970 constata-seuma diminuição da taxa de fecundidade (número de nascimentos anuais em umconjunto de mil mulheres entre 14 e 49 anos) em quase todos os países -a fecundidade mundial teria passado de 6,1 filhos em 1970 para 3,7 em 1990.Novos comportamentos sociais, como o uso de métodos anticonceptivos e aemancipação da mulher na sociedade contribuíram para diminuir a natalidade.As políticas de planejamento familiar aceleraram a queda da fecundidade. Osúnicos países que ficaram fora da política anti-natalista foram os países da Áfricatropical e alguns países árabes. Como resultado dessas ações o crescimentodemográfico anual, que era de mais de 2% na década de 1970, caiu para 1,6 nosanos 80, e para aproximadamente 1% nos anos 90.

O crescimento extraordinário da po-pulação mundial nos últimos duzentosanos e a desaceleração atual permitiramelaborar um modelo explicativo para aevolução da população mundial: a transi-a transi-a transi-a transi-a transi-ção demográficação demográficação demográficação demográficação demográfica.

A transição demográfica consiste emuma sucessão de fases pelas quais umapopulação passa à medida que penetra noque chamamos de modernidade, isto é,uma sociedade agrária tradicional trans-forma-se numa sociedade moderna, indus-trial e urbana.

Ao longo do processo de transição, é possível identificar uma primeira fasena qual se registra um pequeno crescimento da população porque a alta taxade natalidade é anulada pela alta taxa de mortalidade. A segunda fase carac-teriza-se por um rápido crescimento demográfico por causa do desencontroentre as duas taxas. Essa aceleração é explicada pelo recuo da mortalidade,graças à revolução sanitária, isto é, ao desenvolvimento de uma infra-estruturade serviços coletivos de higiene e à adoção de medidas de profilaxia. O terceiromomento tem um pequeno crescimento, um novo equilíbrio entre as duastaxas que, agora, se apresentam muito baixas.

Os países mais avançados já terminaram o processo de transiçãodemográfica. Muitos deles vem apresentando uma população estabilizada naqual o número de nascimentos equivale ao número de óbitos. O crescimentovegetativo é muito pequeno e, em alguns períodos, negativo.

GRÁFICO DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA

Page 71: Telecurso 2000 - Geografia - volume 2

34A U L A

Para muitos países subdesenvolvidos, a transição demográfica iniciou-seapós a Segunda Guerra Mundial. A difusão de medidas sanitárias e o uso devacinas e antibióticos derrubaram a taxa de mortalidade, provocando umaaceleração das taxas de crescimento demográfico. Mas a mudança de compor-tamentos sociais, a adoção de métodos contraceptivos e o acesso à informaçãofizeram as taxas de fecundidade declinar rapidamente.

O período de crescimento mais rápido ocorreu na década de 1960.Mas as taxas médias de crescimento estão declinando e as previsõesdemográficas admitem uma estabilização da população mundial em torno de10 bilhões de habitantes, no ano de 2050.

A evolução demográfica é um indicador de mudanças econômicas.As transformações impostas pela industrialização na Europa Norte-Ocidental, noperíodo 1850-1914, provocaram o primeiro boom (explosão) da economia modernae o grande crescimento demográfico europeu na segunda metade do século XIX.

No mundo subdesenvolvido, a renda real por habitante dobrou no período de1945 a 1973, graças a um crescimento econômico de mais de 3% ao ano. Se ocrescimento econômico e o crescimento demográfico têm origens estruturais co-muns, é possível admitir que eles tenham uma interação dinâmica. A velocidade dasmudanças - urbanização, elevação do nível de instrução, aumento do poder decompra - acarreta a baixa da mortalidade que é apenas o seu aspecto mais visível.

A dinâmica de uma população envolve, além das taxas de natalidade emortalidade, as diferentes modalidades de migração. Os homens sempre sedeslocaram em grupos ou individualmente. Esses deslocamentos influem naorganização do espaço e na estrutura da população, tanto na região de saídaquanto na região de chegada.

As migrações internacionais, sem o caráter maciço que tiveram no séculoXIX e no início do século XX, são ainda expressivas em termos numéricos.Aproximadamente 2% da população mundial vive fora do país de nascimento,e a proporção de estrangeiros na composição da população varia de 7% naAlemanha e na França a 20% na Austrália. As estatísticas sobre as migraçõesinternacionais não apresentam muita precisão por causa do grande número deimigrantes clandestinos.

MAPA DOS DIFERENTES RITMOS DE CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO MUNDIAL

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34A U L AApós a Segunda Guerra Mundial podemos identificar quatro grandes

fluxos migratórios internacionais:

l O primeiro refere-se aos deslocamentos de população para fazer coincidir a“nova” fronteira política com os grupos étnicos. O exemplo mais significa-tivo ocorreu após a divisão política da União Indiana, em 1947, quandoaproximadamente 15 milhões de pessoas foram deslocadas entre a Índia e oPaquistão. Outro exemplo, mais recente, deu-se na região balcânica, quandohouve a fragmentação política da Iugoslávia.

l O segundo diz respeito aos refugiados políticos, que chegam hoje a mais de25 milhões de pessoas. Eles procedem dos “pontos quentes”, ou seja, dasáreas de conflitos internos, nas quais uma facção temporariamente derrota-da se refugia em outro país. A situação trágica desses grupos é marcada pelaindefinição e pela precariedade das condições de vida que anulam, emgrande parte, a ação do Alto Comissariado das Nações Unidas para osRefugiados (ACNUR). O Sudeste Asiático, o Oriente Médio, a AméricaCentral e a África Oriental são as principais regiões desses refugiados.O Leste Europeu, enquanto esteve isolado pela chamada Cortina de Ferro,dava origem a numerosos contingentes de refugiados políticos. A crise de1989 facilitou o deslocamento de mais de um milhão e trezentos mil emigran-tes que deixaram seus países em direção à Europa Ocidental, por razõesbasicamente econômicas, e que solicitavam, no país de acolhimento,o estatuto de refugiados políticos.

l O terceiro é marcado pelo deslocamento de “cérebros”. A migração depessoas com alta qualificação profissional e/ou de estudos significa umavantagem enorme para os países que as recebem porque as despesas parasua formação foram desembolsadas pelos países de origem. Os EstadosUnidos são beneficiados por esses movimentos porque entre 1970 e 1990receberam perto de um milhão de imigrantes altamente qualificados, proce-dentes de todo o mundo, embora no mesmo período tenham sido adotadasleis cada vez mais restritivas à imigração de mão-de-obra não qualificada.

PRINCIPAIS FLUXOS DE MIGRAÇÃO DE TRABALHADORES

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34A U L A l Finalmente, o quarto fluxo agrupa as migrações de trabalhadores. Após a

Segunda Guerra Mundial, a Europa Norte-Ocidental se abastecia de mão-de-obra nas regiões de economia deprimida da bacia mediterrânea. Já osEstados Unidos recorriam a seus vizinhos mais próximos, o México e oCaribe. No entanto, a partir da crise dos anos 70 e da adoção das novastécnicas de produção do modelo de industrialização pós-fordista, agra-vou-se a situação de desemprego nesses países. Nas antigas áreas deacolhimento de imigrantes cresceram os sentimentos xenófobos (do grego:xeno = estrangeiro + fobia = aversão) e os movimentos de pressão para aadoção de leis restritivas à imigração. Os problemas surgidos com osárabes na França são análogos aos dos turcos na Alemanha e aos dosjamaicanos na Inglaterra. Hoje, na Europa e nos Estados Unidos, a imigra-ção é uma questão social e política preocupante.

Os problemas ligados aos fluxos migratórios de trabalho reabrem o velhodebate sobre integrar os recém-chegados à comunidade nacional ou mantê-losnum estatuto particular. Os muçulmanos, por exemplo, instigados pelosmovimentos fundamentalistas, alegam o direito à diferença, recusando-se aaceitar a integração. As sociedades ocidentais adotam comportamentos derejeição, o que é facilmente explorado no campo político. Esse desconhecimen-to recíproco pode esgarçar o tecido social dando origem a tensões e conflitos.

As novas tendências da economia mundial admitem a livre circulação decapitais, de mercadorias e de tecnologia, mas adotam medidas cada vez maisrestritivas para os fluxos de mão-de-obra. As migrações de trabalhadores sãosubmetidas a controles cada vez mais rigorosos.

O desenvolvimento dos meios de transportes e o acesso à informaçãoabriram a era do turismo de massa, deslocando milhões de pessoas anualmente.O turismo tornou-se assim um fato econômico e social do mundo contemporâ-neo por causa dos recursos que movimenta.

PRINCIPAIS FLUXOS TURÍSTICOS

Page 74: Telecurso 2000 - Geografia - volume 2

34A U L A No mapa, observa-se uma estreita relação entre a qualidade de vida e a

intensidade dos fluxos turísticos. A Europa Ocidental é a principal emissora ereceptora do turismo internacional. Esses deslocamentos têm implicações econô-micas, pois os lucros que geram têm grande importância no balanço de pagamen-tos dos países receptores. Na Europa Ocidental, por exemplo, o turismo mantém6 milhões de empregos diretos e perto de 10 milhões indiretos.

Os Estados Unidos atraem por ano 50 milhões de turistas do mundo inteiro,mas os fluxos internos são quase dez vezes maiores. Nova York é o principal pólode atração, enquanto a Califórnia e a Flórida atraem fluxos turísticos internos eexternos, em virtude das atrações aí instaladas.

Fluxos menores dirigem-se para os países subdesenvolvidos. Nesses locais, denatureza privilegiada, são instalados equipamentos turísticos eficientes, quasesempre pelo capital internacional. Esses locais “vendem” a paisagem.

Nesta aula você aprendeu que:

l o crescimento da população mundialpopulação mundialpopulação mundialpopulação mundialpopulação mundial é desigual no tempo e no espaço.Os países desenvolvidos têm, hoje, pequeno crescimento vegetativocrescimento vegetativocrescimento vegetativocrescimento vegetativocrescimento vegetativo poisjá completaram sua transição demográficatransição demográficatransição demográficatransição demográficatransição demográfica. Alguns países subdesenvolvi-dos iniciaram essa transição enquanto outros ainda dependem do desenvol-vimento sócio-econômico para realizá-la;

l os mais importantes fluxos migratórios internacionaisfluxos migratórios internacionaisfluxos migratórios internacionaisfluxos migratórios internacionaisfluxos migratórios internacionais contemporâneossão realizados por grupos étnicos à procura da nova fronteira política,pelos refugiados políticos, por técnicos altamente qualificados e, com maisdestaque, por homens em busca de trabalho;

l o turismo de massaturismo de massaturismo de massaturismo de massaturismo de massa, pelos recursos que movimenta, é uma das maisimportantes atividades da economia moderna.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Relacione as pirâmides etárias dos países A, B e C com o gráfico esquemáticoda transição demográfica e responda às perguntas abaixo.a)a)a)a)a) Por que a pirâmide etária do país A representa a população de um país

que se encontra na primeira fase da transição demográfica?b)b)b)b)b) Apresente duas mudanças que devem ocorrer na dinâmica demográfica

do país A para que a estrutura etária da sua população passe a ser igualà da pirâmide do país C.

A pirâmide etária representa a distribuição, por idade, da população de determinado país.Ao mesmo tempo, expressa a fase da transição demográfica em que se encontra a sua população.

PIRÂMIDES ETÁRIAS

Page 75: Telecurso 2000 - Geografia - volume 2

34A U L A Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2

Observe o mapa e apresente duas razões para os fluxos migratóriosrepresentados.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Numa área de atração turística que você conheça, responda:a)a)a)a)a) Quais os efeitos dos fluxos turísticos na preservação das condições

ambientais locais?b)b)b)b)b) De que modo os fluxos turísticos atuam na melhoria das condições

do espaço?

Durante oséculo XIX, aexplosãodemográfica eas mudançasna economiaeuropéiaoriginaramfluxosmigratóriosimportantespara opovoamentoda América,Austrália eNovaZelândia.Hoje, aEuropa viveum problemainverso:milhares demigrantestentaminstalar-senos seuspaíses maisricos.

FLUXOS MIGRATÓRIOS PARA A EUROPA

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35A U L A

35A U L A

NNNNNesta aula, vamos identificar a RevoluçãoIndustrial como responsável pela grande mudança na utilização dos recursosnaturais. Vamos avaliar o papel dos principais recursos naturais, os problemasdecorrentes do seu uso abusivo e mostrar que mesmo os recursos consideradosrenováveis correm o risco de esgotamento.

Os recursos naturais são inesgotáveis? A humanidade pode retirar o quedeseja da natureza e despejar toda a sorte de resíduos na biosfera?

Existem fortes evidências de que não! Os combustíveis fósseis, cuja exploraçãocontinua aumentando rapidamente, são finitos, e sua queima contribui para oaumento do efeito estufa que vem elevando a temperatura na superfície da Terra.

A energia que consumimos em nosso dia-a-dia, que movimenta os processosvitais no mundo atual, não pode se originar de um conjunto tão pequeno defontes não renováveis que estão muito irregularmente distribuídas no planeta.Guerras, contaminação dos mares e oceanos, poluição nas cidades são apenasalgumas das conseqüências de um padrão energético que já mostrou seus sinaisde esgotamento.

Os fluxos naturais de energia, que são utilizados há milênios, são conhecidoscomo fontes renováveis fontes renováveis fontes renováveis fontes renováveis fontes renováveis. Antes da Revolução Industrial, o Sol era uma das fontesde energia mais utilizadas. Ele fornecia energia para os músculos (do ser humanoe dos animais empregados na tração de cargas e para mover moinhos e máqui-nas). Além disso, aproveitava-se a força do vento e da água - movidos tambémpela energia solar. A madeira, sob a forma de carvão, era igualmente utilizadadesde a pré-história.

Com a Revolução Industrial, os combustíveis fósseis - como o carvão e opetróleo - começaram a ser utilizados como fontes de energia. A energia geradapelos combustíveis fósseis é, em última instância, limitada pela geologia, pois setrata de uma fonte de energia não renovávelfonte de energia não renovávelfonte de energia não renovávelfonte de energia não renovávelfonte de energia não renovável.

A exploração dos combustíveis fósseis deu a base para o desenvolvimentoda sociedade industrial, diferente de todas as sociedades anteriores, tanto na suanatureza quanto na sua escala.

No ano 2000, as fontes de produção/consumo de energia devem se distribuiraproximadamente do modo como está no esquema da página seguinte.

A energia vital:os recursos naturais

são inesgotáveis?

Page 77: Telecurso 2000 - Geografia - volume 2

35A U L A

PETRÓLEO - PRINCIPAL

FONTE DE ENERGIA MUNDIAL.AS JAZIDAS CONHECIDAS,MANTIDO O CONSUMO ATUAL,ESGOTAM-SE NOS PRÓXIMOS

CINQÜENTA ANOS.

CARVÃO - COMBUSTÍVEL

FÓSSIL MAIS ABUNDANTE.SEU USO AGRAVA AQUESTÃO AMBIENTAL

(CHUVAS ÁCIDAS, AUMENTO

DO DIÓXIDO DE CARBONO NA

ATMOSFERA).

GÁS NATURAL

DEVE REPRESENTAR

20% DO CONSUMO MUNDIAL

DE ENERGIA À MEDIDA QUE

FOR SUBSTITUINDO OPETRÓLEO EM CERTOS

USOS.

BIOMASSA - MATÉRIA VEGETAL

OU ANIMAL QUE PODE SER

TRANSFORMADA EM ENERGIA.A BIOMASSA, SOB A FORMA DE

MADEIRA, É O PRINCIPAL

COMBUSTÍVEL DOS PAÍSES

EM DESENVOLVIMENTO.

ÁGUA - GERA QUASE 25% DA

ELETRICIDADE MUNDIAL. ENERGIA

LIMPA E RENOVÁVEL. AINDA

NÃO SE UTILIZA TODA A SUA

CAPACIDADE GERADORA.

ENERGIA NUCLEAR - DEVE

TER SEU USO RESTRINGIDO

POR CAUSA DO AUMENTO

DOS CUSTOS E DA QUESTÃO

DA SEGURANÇA NAS CERCA

DE QUATROCENTAS USINAS

EM FUNCIONAMENTO ATÉ

O FINAL DESTE SÉCULO.

ENERGIA EÓLICA - OS VENTOS SÃO

PRODUZIDOS PELO AQUECIMENTO

DESIGUAL DA SUPERFÍCIE DA TERRA.OS MOINHOS DE VENTO PODEM

GERAR ELETRICIDADE E EXECUTAR

TRABALHOS MECÂNICOS.

ENERGIA GEOTÉRMICA - USADA

DIRETAMENTE OU PARA

PRODUZIR

ELETRICIDADE.

ENERGIA SOLAR - DEVE AUMENTAR

SUA PARTICIPAÇÃO NA

PRODUÇÃO DE ENERGIA, DEVIDO AOS

GRANDES INVESTIMENTOS FEITOS EM

NOVAS TECNOLOGIAS DE USO.

ENERGIA DOS OCEANOS

TEM POTENCIALIDADE GIGANTESCA

(ONDAS, MARÉS, CORRENTES MARI-NHAS), MAS AINDA É POUCO USADA.

19802000

Esquema dadistribuiçãomundial das

fontes de energiaem dois

momentos:1980 e 2000

Page 78: Telecurso 2000 - Geografia - volume 2

35A U L AA principal fonte de energia da sociedade industrial é o petróleo, que

representa aproximadamente 40% da energia comercial do mundo.Por causa da ameaça de esgotamento das jazidas é possível que, no início doséculo XXI, seu uso se modifique, passando a ser empregado mais comomatéria-prima para a indústria química do que como combustível.As reservas mundiais de carvão, ao contrário, são suficientes para atenderà demanda nos próximos 250 anos, se forem mantidos os níveis de consumoatuais. Os problemas ambientais devem, no entanto, inviabilizar uma voltamaciça ao seu uso.

Em 1973, os países produtores de petróleo, organizados na Organizaçãodos Países Produtores de Petróleo (OPEP), promoveram uma grave criseenergética mundial ao dobrar o preço do barril de petróleo. Até então, ospaíses consumidores de petróleo usavam de forma abusiva esse capitalenergético que a natureza havia acumulado há milhões de anos, esquecen-do-se de que estavam usando uma “oferta” que a natureza não conseguiriamanter indefinidamente. A crise obrigou os países consumidores a buscarnovas regiões produtoras de petróleo e, ao mesmo tempo, promover cam-panhas de racionalização do seu uso. Normalmente as taxas de consumo deenergia acompanhavam as de crescimento econômico. Mas, a partir dacrise, o exemplo da Alemanha Ocidental é sugestivo: entre 1974-1985,enquanto o seu consumo de energia aumentou apenas 3%, o PIB alemãocresceu 17,5%, o que mostra a eficiência das suas políticas de uso maisracional de energia.

Para os países em desenvolvimento, a crise energética revelou-se maisgrave porque foi acompanhada por uma desvalorização das matérias-primas:em 1975 o preço de uma tonelada de cobre equivalia ao de 115 barris depetróleo; em 1982 a equivalência baixou para 57 barris.

Embora os preços do petróleo tenham diminuído na década de 1980,não voltaram mais aos níveis anteriores a 1974, o que mudou profundamentea situação energética mundial.

A crise dos preços estimulou o desenvolvimento de novas tecnologias quepossibilitaram obter mais petróleo nos poços que estavam em produção erecuperar áreas já consideradas esgotadas. Porém, se continuarmos a consumirpetróleo no ritmo atual, as reservas mundiais deverão esgotar-se nos próximoscinqüenta anos.

Antes que a OPEP deflagrasse a crise do petróleo, o terço mais pobre dapopulação mundial já enfrentava outra crise energética. Aproximadamente2 bilhões de habitantes dos países em desenvolvimento dependem da lenhacomo combustível para cozinhar ou para aquecimento. Como há umdescompasso entre a velocidade do consumo da floresta e o tempo necessá-rio para as árvores crescerem, a obtenção de lenha torna-se cada vez maisdifícil. O aumento da população nessas regiões torna o problema aindamais grave. Não se trata de um problema de ignorância: é um trágicoproblema de sobrevivência. As populações mais pobres, dos países subde-senvolvidos, são obrigadas a destruir os meios de vida do futuro paradispor do necessário no presente. O quadro se torna ainda mais graveporque o desmatamento traz uma série de problemas ambientais: desapa-rece o “efeito esponja” da floresta, o que significa que os solos ficamexpostos diretamente à ação das chuvas; aumenta o escoamento superficial;modifica-se definitivamente a biodiversidade.

Page 79: Telecurso 2000 - Geografia - volume 2

35A U L A Outras razões significativas para a diminuição das florestas - especial-

mente das florestas tropicais - são a demanda de terras para o cultivo e odesmatamento para a obtenção de madeiras nobres. Os deslocamentos dapopulação em direção às fronteiras agrícolas em busca de terras e a atuaçãodas empresas madeireiras, em busca do lucro imediato, têm provocado arápida redução das florestas tropicais úmidas. Estima-se em 12 milhões dehectares a área desmatada a cada ano. Se o desmatamento mantiver esseritmo é possível que, no ano 2050, essa formação florestal esteja praticamentedesaparecida.

Como as demais riquezas, a energia produzida no mundo não se distribuiequilibradamente: um norte-americano consome trezentas vezes mais ener-gia do que um africano. Certamente, num futuro próximo, os combustíveisfósseis e a energia nuclear - fontes não renováveis - continuarão sendo asnossas principais fontes de energia. Mas nos últimos anos tem crescido ointeresse pelo uso das energias solar, hidráulica e da biomassa, até aquisubutilizadas. Elas representam, certamente, as alternativas maisencorajadoras para a questão energética mundial.

Além dos combustíveis fósseis, a indústria moderna utiliza cerca deoitenta minerais como matérias-primas. As jazidas desses minerais sãorelativamente abundantes e, em termos gerais, as reservas dos mineraisfundamentais mostram-se suficientes para atender às necessidades.

O uso cada vez mais freqüente da reciclagem permite poupar tanto asjazidas quanto as fontes de energia. Por exemplo: para produzir umatonelada de alumínio, a partir de sucata, gasta-se apenas 5% da energianecessária para extrair a bauxita e transformá-la em alumínio. Outra alter-nativa que vem se tornando cada vez mais freqüente é a da substituição demateriais, a exemplo do estanho, que tinha largo emprego industrial nasembalagens de alimentos perecíveis e está sendo substituído pelo plásticoe pelo alumínio.

A água em estado líquido é uma das originalidades do nosso planeta.Componente essencial de todos os seres vivos, a água está presente em cadaanimal, em cada planta e em cada ser humano, na forma de fluxos microscópi-cos. A degradação da água tem efeitos dramáticos sobre a fauna, a flora e asaúde do homem. O desinteresse sobre a poluição da água favorece a contami-nação alarmante dos lençóis subterrâneos, dos rios e das águas costeiras.O desconhecimento do modo pelo qual a água circula nos solos, nos rios, nosoceanos e na atmosfera - o ciclo da água - é em parte responsável por essedesinteresse.

Outro dado fundamental: os recursos hídricos são limitados. À medidaque vem aumentando o consumo de água, ficam claras as limitações do seuuso. A água que abastece os continentes circula entre a terra, o mar e aatmosfera graças à energia solar. Uma parte é transportada sob a forma devapor e envolve todo o planeta. A atmosfera se umidifica graças à evapora-ção dos oceanos e da superfície terrestre e perde água por causa dasprecipitações. A água absorvida pelo solo fica disponível para as plantasque a absorvem pelas raízes e a liberam, por transpiração, para a atmosfera.A outra parte do ciclo é totalmente terrestre. A rede hidrográfica recebe aágua da precipitação que escoa superficialmente ou se infiltra pelo solo,reabastecendo os lençóis d’água, os lagos e os rios. Ao fim do ciclo, a águaé devolvida ao mar ou armazenada nos reservatórios profundos da crostaterrestre.

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35A U L AO conhecimento do ciclo da água per-

mite compreender o impacto da poluição.Uma vez utilizada, a água fica carregadade impurezas, contaminando os rios, oslençóis subterrâneos e a atmosfera.

Todos os anos aproximadamente10% das águas evaporadas dos oceanos emares, devido à ação do Sol, retorna aoscontinentes sob a forma de chuva. É des-sa água que dependemos. De toda águaexistente na Terra, somente essa peque-na quantidade está disponível para uso.E essa água utilizável não está distribuí-da igualmente.

De modo geral, existe água disponí-vel para atender às necessidades da po-pulação mundial embora as diferençasde consumo sejam diretamente propor-cionais ao desenvolvimento sócioeconô-mico. Para manter uma qualidade de vidarazoável são necessários 80 litros de águapor dia para cada habitante. Mas o con-sumo médio pode variar dos 25 litrosdiários de uma família indiana até os 500litros de uma família norte-americana.Enquanto a agricultura consome 73% daágua disponível no mundo, conforme as necessidades de irrigação, a indús-tria consome 22% do total, e o uso doméstico apenas 5%.

Segundo a Organização Mundialda Saúde (OMS) “o número de tornei-ras para cada 1.000 habitantes é umindicador mais confiável para a saúdedo que o número de leitos hospitala-res”. A água, uma fonte de vida, mataem torno de 25 milhões de pessoas, acada ano, nos países subdesenvolvi-dos. A obtenção de água em condiçõesadequadas de uso e a eliminação higi-ênica dos resíduos humanos são pro-blemas do cotidiano desses países. Naausência dos serviços básicos, é co-mum o uso da água não-tratada para oabastecimento. Como conseqüência, elase torna o principal agente de trans-missão de numerosas doenças como adiarréia, o cólera e o tifo.

As populações ribeirinhas,em todo o mundo, abastecem-se

sem a preocupação com o fato de aságuas não estarem limpas.

CICLO DA ÁGUA

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35A U L A A água é um recurso renovável mas suas reservas não são ilimitadas. O

problema de escassez é crucial para os países subdesenvolvidos, que têm umrápido crescimento demográfico e que se situam nas regiões tropicais semi-áridas. No ano 2000, o mundo terá 25 cidades com mais de 10 milhões dehabitantes, e algumas dessas megacidades, tais como Cairo (Egito), Calcutá(Índia), Cidade do México (México) e mesmo São Paulo (Brasil), sofrerãoproblemas de abastecimento de água, seja por causa de uma demanda crescente,seja por causa da contaminação.

Nos países desenvolvidos, o aumento indiscriminado dos produtos quími-cos tóxicos tornou-se também um problema de saúde pública. Como a biosferaé um sistema fechado, as substâncias que são lançadas na atmosfera nãodesaparecem. Assim, o uso do DDT, dos inseticidas clorados e outros pesticidascontamina a água dos rios, dos mares e dos lençóis subterrâneos. O acidente coma fábrica Sandoz, na Suíça, em 1986, tornou-se um exemplo desse tipo depoluição, pois provocou a morte de peixes e tornou, temporariamente, a água dorio Reno imprópria para o consumo. Embora o uso desses produtos estejaproibido nos países desenvolvidos, as empresas do setor químico os produzempara vendê-los nos países subdesenvolvidos onde a legislação é menos rigorosa.

Outra forma de poluição é a provocada pelos poluentes transportados pelosfluxos atmosféricos. Os gases lançados na atmosfera pelas fábricas e pelos carros(dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio) e os pesticidas vaporizados pelaagricultura estão na origem das chuvas ácidas. Os efeitos desse tipo de poluiçãosão particularmente graves no norte da Europa e no nordeste dos Estados Unidos.

A gestão dos recursos naturais nos últimos vinte anos ganhou maioreficiência e, ao que tudo indica, uma nova orientação. Como seria impossívelmudar a matriz energética mundial, a solução encontrada foi obter economiassignificativas no consumo de energia, graças a novas tecnologias. Assim, os“sistemas inteligentes” de iluminação e aquecimento dos edifícios e os sistemaseletrônicos para controle de consumo de combustível dos carros conseguirammaior eficiência por unidade de energia consumida. O mesmo tipo de ação estáse realizando em relação à água. Ainda que ela seja um recurso renovável, épreciso uma gestão cuidadosa dos recursos hídricos. Hoje, aproximadamentetrinta países vivem a ameaça de escassez de água.

As fotos mostram duas formas de poluição do ar: pelas fábricas e pelos carros.

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35A U L AA energia, a água, os minerais, entre outros recursos da natureza, não são

inesgotáveis. Nosso planeta é um sistema fechado e nós estamos alcançando osseus limites. Por isso existe a necessidade de utilizar esses recursos de formaracional. As novas tecnologias devem ser difundidas para que sejam adotadosnovos comportamentos sociais, a partir de políticas ambientais. A sociedadeconservacionista depende, fundamentalmente, do compromisso dos indiví-duos que a compõem.

Nesta aula, você aprendeu que:

l os combustíveis fósseiscombustíveis fósseiscombustíveis fósseiscombustíveis fósseiscombustíveis fósseis - carvão e petróleo - são os principais componentesda matriz energéticamatriz energéticamatriz energéticamatriz energéticamatriz energética do mundo atual. O aumento do preço do petróleoforçou a busca de fontes alternativas e a uma maior racionalização;

l a lenhalenhalenhalenhalenha continua sendo um combustível essencial nos países pobres, e seuuso acarreta a destruição da cobertura florestaldestruição da cobertura florestaldestruição da cobertura florestaldestruição da cobertura florestaldestruição da cobertura florestal;

l as jazidas das matérias-primas minerais são suficientes para garantiro abastecimento da indústria moderna. A reciclagemreciclagemreciclagemreciclagemreciclagem permite prolongara vida útil dos jazimentos;

l o recurso mais abundante na superfície da Terra é a águaáguaáguaáguaágua. Ela é essencialpara todos os seres vivos, e sua qualidade fica, a cada dia, mais comprome-tida por causa das ações que têm levado a sua degradação;

l a criação de uma mentalidade conservacionistamentalidade conservacionistamentalidade conservacionistamentalidade conservacionistamentalidade conservacionista garantirá o uso dos recursosnaturais, com parcimônia, por todos os homens.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Quase ¾ do vapor d’água que se condensa e se precipita sob a forma dechuva na Região Norte do Brasil são devolvidos à atmosfera pelaevapotranspiração da floresta pluvial amazônica.

A partir do texto e do esquema acima:a)a)a)a)a) Explique o mecanismo da evapotranspiração.b)b)b)b)b) Cite dois efeitos do desmatamento sobre o ciclo da água na região.

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35A U L A Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2

O mercado mundial do petróleo foi profundamente modificado nos últimosvinte anos. Até 1973/1974, as “Sete Irmãs” (as grandes companhias petrolí-feras ocidentais - Exxon, Royal Dutch-Shell, Mobil Oil, Texaco, BritishPetroleum, Gulf Oil e Socal) controlavam o mercado mundial, mantendobaixos os preços do petróleo, apesar do aumento do consumo. Os paísesexportadores eram penalizados por essa política.O primeiro choque do petróleo representa a revanche dos países produtores.O preço do petróleo bruto duplicou em 1974. Em 1978, quando houve osegundo choque, ele praticamente triplicou.

Com base nos dados dos dois gráficos, indique duas alternativas adotadaspelos países consumidores de petróleo para enfrentar o aumento do preçodesse produto.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3“Cerca de 80% de todas as doenças do mundo se relacionam com o controleinadequado dos recursos hídricos, seja devido à transmissão hídrica, comoa febre tifóide e cólera, seja pela deficiência de água para higiene, como emverminoses e tracoma, seja devido à contaminação ou infestação de animaisaquáticos, como no caso da esquistossomose, seja devido às condições deágua onde se desenvolvem as larvas de insetos transmissores de moléstias,como a malária, dengue, febre amarela e outros.”Conferência de Alma Ata - Organização Mundial da Saúde - 1978

a)a)a)a)a) Por que a população brasileira está seriamente ameaçada pela difusão dedoenças relacionadas com o controle inadequado dos recursos hídricos?

b)b)b)b)b) Por que o risco de contaminação é diferenciado para os habitantes dasdiversas regiões do Brasil?

SITUAÇÃOSITUAÇÃOSITUAÇÃOSITUAÇÃOSITUAÇÃO DODODODODO SANEAMENTOSANEAMENTOSANEAMENTOSANEAMENTOSANEAMENTO BÁSICOBÁSICOBÁSICOBÁSICOBÁSICO N ON ON ON ON O BRASILBRASILBRASILBRASILBRASIL PORPORPORPORPOR GRANDESGRANDESGRANDESGRANDESGRANDES REGIÕESREGIÕESREGIÕESREGIÕESREGIÕES - - - - - 19881988198819881988

(Em percentagem da população servida)

RegiãoRegiãoRegiãoRegiãoRegiãoNorteNordesteSudesteSulCentro-oesteBrasil

Abastecimento de águaAbastecimento de águaAbastecimento de águaAbastecimento de águaAbastecimento de água69,2368,8085,9687,4975,9080,62

Esgotos sanitáriosEsgotos sanitáriosEsgotos sanitáriosEsgotos sanitáriosEsgotos sanitários33,4611,7555,5318,0030,5535,55

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NNNNNesta aula, analisaremos os avanços nastécnicas e na estrutura da produção de alimentos. Estudaremos as possibilidadese os problemas advindos da adoção da biotecnologia na agropecuária e aspossíveis mudanças que ela provocará na economia mundial.

Você já pensou nas mudanças que estão ocorrendo na produção de alimen-tos, com a aplicação das novas técnicas de engenharia genética? Hoje, osEstados Unidos estão exportando soja e milho obtidos por transformação degenes, que aumentam a produtividade e deixam as plantas mais resistentes àspragas. Mas isso também significa a criação de novos organismos que nuncaexistiram antes e que estão sendo introduzidos na biosfera, com efeitosdesconhecidos sobre os demais seres vivos.

A aplicação do conhecimento científico e tecnológico na estrutura básicada vida - o gene - é um desafio e um risco. De um lado, ajuda a evitar e a curarmuitas doenças; de outro, talvez introduza mudanças irreversíveis nas rela-ções entre os seres vivos e seu ambiente, podendo trazer novas formas decontaminação por microrganismos desconhecidos.

Quando o estudioso Malthus admitiu, no início do século XIX, que apopulação crescia em progressão geométrica e a produção agrícola crescia emprogressão aritmética, estava denunciando um desequilíbrio entre populaçãoe alimentos e profetizando uma crise alimentar mundial, cuja solução seria ocontrole do crescimento da população. Nesses quase duzentos anos da propos-ta malthusiana, a população mundial continuou crescendo de forma aceleradamas a produção agrícola, cada vez mais eficiente, tem crescido em ritmo igualou superior ao do crescimento da população.

Para atender às necessidades do aumento do consumo de alimentos aagricultura evoluiu extensivamente, com a incorporação de novas áreas antesconsideradas impróprias para o cultivo, e evoluiu intensivamente, com autilização de técnicas de produção cada vez mais avançadas, de insumosagropecuários cada vez mais eficientes e da aplicação dos conhecimentoscientíficos às diferentes práticas e etapas da produção de alimentos.

Alimentos,matérias-primas e

biotecnologia:o papel do campo

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36A U L A No entanto, na economia mundial de alimentos fica muito claro o contraste

entre os países desenvolvidos, que controlam as formas mais avançadas deprodução e que consomem a maior parte dos alimentos produzidos, e os paísessubdesenvolvidos, incapazes de produzir ou importar os alimentos de quenecessitam.

As soluções previsíveis para reduzir esse desequilíbrio - aumentar aárea cultivada ou a eficiência dos agricultores - não podem ser adotadascom facilidade. Na Ásia, por exemplo, calcula-se que já estão sendo utiliza-dos aproximadamente 80% da terra potencialmente própria para a agricul-tura (terra agricultável). Na América Latina, novas áreas de cultivo só serãoconseguidas com a derrubada de florestas, o que provocaria graves danosambientais. Na África, as chuvas insuficientes, em algumas áreas, e odesgaste dos solos, em outras, diminuem suas possibilidades de produçãoagrícola. A questão se torna ainda mais difícil porque as inovações tecno-científicas são controladas por grandes empresas multinacionais que, aoobjetivarem o lucro, não estão preocupadas com os impactos sociais eambientais de suas ações.

A partir de 1950, a produção agrícola cresceu em um ritmo mais aceleradodo que em qualquer outro período da história, realizando uma verdadeirarevolução verderevolução verderevolução verderevolução verderevolução verde. Nas últimas décadas, a agricultura registrou índices cadavez mais elevados de produtividade, à medida que foi se integrando ao setorindustrial. A indústria passou a fornecer uma parte crescente das necessida-des de consumo da agricultura, desde os fertilizantes e defensivos químicosaté as máquinas mais modernas. Os produtos agrícolas não são mais entre-gues na sua forma natural para o consumo, sendo adquiridos e processadospela indústria.

O surgimento de uma indústria especializada na produção de equipamen-tos e insumos agrícolas fez da agricultura uma atividade dependente e subor-dinada à indústria, criando certas desvantagens para os produtores agrícolas.À medida que se dá essa integração, ocorre uma transferência de renda daagricultura para a indústria. Na realidade, agricultura e indústria passam aformar, por meio de vínculos contratuais, os chamados complexos agrocomplexos agrocomplexos agrocomplexos agrocomplexos agro-industriaisindustriaisindustriaisindustriaisindustriais.

Nos países desenvolvidos, onde a indústria de bens de produção é maisavançada, essa integração entre agricultura e indústria ocorreu primeiro ecom maior rapidez, tornando esses países grandes produtores e mesmograndes exportadores de produtos agrícolas.

Além disso, a atuação transnacional das grandes empresas industriais,envolvidas no complexo agro-industrial, converteu-as em agentes dainternacionalização dessa nova estrutura produtiva de alimentos. Sua capa-cidade de mobilizar recursos e tecnologia e sua capacidade empresarialforçaram a modernização da produção agrícola em vários países ou regiões,ao mesmo tempo em que tornaram essas áreas dependentes de sua presença.

Grandes indústrias farmacêuticas e agroquímicas passaram a investir empesquisa e produção de alimentos e ligaram-se cada vez mais às grandescadeias de distribuição de alimentos e de lojas, formando conglomeradosque, hoje, controlam desde a produção de sementes, adubos, hormônios egenes in vitro até produtos enlatados e empacotados, oferecidos nos super-mercados.

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Hoje podemos falar de um verdadeiro sistema alimentar mundial, noqual vem aumentando a participação desses conglomerados, sediados nospaíses desenvolvidos, na produção e comercialização dos produtos alimen-tícios. E, mais do que isso, esse sistema está criando novos hábitos alimenta-res e de consumo, como no caso das refeições ligeiras, cujo cardápio mundialpode ser um refrigerante, um hambúrguer ou uma pizza.

Os avanços da produção agropecuária alteraram a tradicional divisãodo trabalho entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, no setor dealimentos. Muitos países são, ao mesmo tempo, vendedores e compradoresde alimentos. Alguns países desenvolvidos, a exemplo do Japão, da Itália eda Alemanha, que possuem pequena área agricultável e uma populaçãonumerosa com elevado nível de vida, importam mais do que exportam.Alguns países subdesenvolvidos da África e do Oriente Médio também sãoimportadores de alimentos. O mesmo acontece com alguns países do Lesteeuropeu. Os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália são grandes exporta-dores de alimentos.

A participação da produção agrícola no comércio mundial diminuiunos últimos vinte anos. Hoje, ela representa apenas 15% das trocas comer-ciais mundiais. No entanto, por causa da difusão dos hábitos alimentaresdos países industrializados ocidentais, ocorreu um aumento da demandamundial de trigo - o mais importante produto no comércio mundial dealimentos -, que alcançou, em 1992, mais de 100 milhões de toneladasexportadas, o que significa, aproximadamente, metade do volume dosprodutos agrícolas comercializados.

A transnacional Bouge e Born controla aproximadamente 15% da produção mundial de trigo.Ela atua nos cinco continentes.

Símbolo de umhábito alimentarmundializado.

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A mecanização da agricultura começou há mais de cem anos e foi anunciadacomo um triunfo da sociedade industrial. Ela começou com o arado de açopuxado a cavalo, em meados do século passado. A seguir, o motor a gasolinainstalado nos tratores e nas máquinas agrícolas faziam o trabalho pesado nasfazendas. Hoje, a mecanização está praticamente concluída com a introdução deequipamentos computadorizados. A mecanização evoluiu junto com as novastécnicas de cultivo e com a genética agrícola. Por exemplo: as primeiras varieda-des de milho híbrido triplicaram o rendimento por hectare; os fertilizantesnitrogenados aumentaram o volume das safras e possibilitaram práticas agríco-las mais intensivas.

Dos avanços conquistados pela produção de alimentos, os mais extraordiná-rios deles têm sido, nos últimos anos, os obtidos no campo da biotecnologiabiotecnologiabiotecnologiabiotecnologiabiotecnologia, istoé, “qualquer técnica que use processos vivos para modificar produtos, melhorarplantas ou animais, ou desenvolver microrganismos para usos específicos”.Os cientistas podem, hoje, isolar e estudar a estrutura do genes que, nosprocessos de vida, são responsáveis pelas características hereditárias, e alterar ocódigo genético de uma planta ou de um animal para aumentar sua resistência,seu tamanho ou seu rendimento.

As novas tecnologias de cruzamento genético estão mudando o modocomo plantas e animais são produzidos. A engenharia genética, ou seja,a aplicação de padrões de engenharia à manipulação dos genes, consegueacrescentar, eliminar, reorganizar materiais genéticos, criando novos organis-mos ou alterando o ritmo de crescimento. Exemplo disso ocorre na Austrália,onde a transferência de genes no código genético de carneiros faz sua lã crescermais rapidamente.

Produção/consumo de trigo

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36A U L AHoje é possível chegar a um pré-diagnóstico de uma doença vegetal

e introduzir resistências biológicas contra elas. O complexo agro-industrial devepassar, no próximo século, da agricultura baseada na petroquímica paraa agricultura baseada na genética.

O desenvolvimento da informática aplicada à agricultura ajudará os agricul-tores a monitorar o meio ambiente, a estabelecer estratégias de ação, e aidentificar áreas problemáticas. Os produtores agrícolas serão, num futuropróximo, informados das mudanças meteorológicas e das condições de solo.A seguir, equipamentos automatizados executarão as diferentes tarefas agríco-las, transformando as fazendas modernas em fábricas automatizadas.

Os novos avanços da informática e da biotecnologia ameaçam acabar com aagricultura ao ar livre até a metade do próximo século. Esses avanços terãoconseqüências imprevisíveis para os 2,5 bilhões de agricultores que dependemda terra para sua sobrevivência.

O uso da biotecnologia é uma nova etapa na tentativa de produzir maisalimentos e, como toda mudança muito profunda, terá vencedores e vencidos.Tudo indica que o avanço gerado pela biotecnologia vai acentuar ainda mais odesequilíbrio existente entre alguns países industrializados, como o Canadá, osEstados Unidos e a Austrália, que têm superprodução de alimentos, e a maioriados países pobres que não são capazes de produzir ou importar alimentossuficientes para atender às suas populações.

Em termos gerais, a biotecnologiadeverá abrir novos mercados, reduzir cus-tos, oferecer novos produtos, criar novostipos de empregos. No entanto, certa-mente irá suprimir grande número dosempregos agrícolas tradicionais. Nos pa-íses industrializados, a população econo-micamente ativa do setor agrícola é pe-quena, mas nos países pobres o númerode agricultores é muito grande e seusempregos estão ameaçados.

Na Índia, onde a agricultura ocupa grande parteda população, as novas tecnologias ameaçam o

emprego de milhões de camponeses.

Pesquisadores doInstituto Internacional dePesquisa do Arrozselecionam, nas Filipinas,espécies resistentes àspragas e às condiçõesambientais inadequadasao seu cultivo.

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36A U L A Recentemente, duas empresas norte-americanas de biotecnologia anuncia-

ram a produção de baunilha em laboratório. Essa descoberta afetará a economiade Madagascar, responsável por mais de 90% da safra mundial de baunilha. Lá,70 mil agricultores dependem dessa cultura para sua subsistência.

Para os países pobres, a biotecnologia poderá diminuir a distância entre oaumento populacional e a produção de alimentos. E isso significaria maiorconsumo de calorias e melhoria dos padrões de vida. A biotecnologia poderiaafastar a “previsão malthusiana” que ameaça as sociedades mais pobres.

Já para o mundo desenvolvido, as mudanças provocadas pela biotecnologiairão aumentar as tensões no comércio internacional. Os países que são grandesexportadores de produtos agrícolas, como os Estados Unidos e o Canadá,perderão tradicionais compradores, como o Japão e alguns países europeus, queagora serão capazes de produzir o que consomem.

Mas a engenharia genética é muito cara e está quase totalmente nas mãosde grandes empresas transnacionais, o que certamente agravará a relação dedependência do mundo não desenvolvido. E o mais grave ainda: se é perigosoum país depender da exportação de um único produto agrícola, cujos preçosflutuam muito no mercado internacional, será bem pior para esse país ver seuproduto de exportação se tornar desnecessário porque estaria sendo produzi-do nos laboratórios de um país que antes o importava.

A revolução da biotecnologia traz, ao mesmo tempo, vantagens e desvan-tagens. Hoje, não poderíamos produzir o alimento necessário para abastecer apopulação mundial se estivéssemos utilizando as técnicas agrícolas de cin-qüenta anos atrás. E certamente necessitaremos de inovações para atender aoaumento cada vez maior do número de consumidores. A biotecnologia -mesmo com as ameaças que ela representa - parece ser ainda a melhor solução.

Caso ocorra, no mundo, o domínio da produção de alimentos por umnovo complexo agro-industrial, resultante da união da informática com abiotecnologia, poderá surgir uma nova era na produção de alimentos, emlaboratório, sem as limitações dos fatores naturais. Isso significaria a substi-tuição da agricultura ao ar livre pela manipulação de moléculas no laborató-rio. O preço desse progresso seria a eliminação de milhões de agricultores doprocesso econômico e a mudança do papel do campo.

Nesta aula você aprendeu que:

l a mecanização da agricultura mecanização da agricultura mecanização da agricultura mecanização da agricultura mecanização da agricultura começou há mais de cem anos e a produção deequipamentos e insumos agrícolas transformou a agricultura numa ativida-de subordinada à indústria. Atividades agrícolas e industriais estão integra-das nos complexos agro-industriaiscomplexos agro-industriaiscomplexos agro-industriaiscomplexos agro-industriaiscomplexos agro-industriais;

l hoje, no final do século XX, a agropecuáriaagropecuáriaagropecuáriaagropecuáriaagropecuária passa por uma nova e extraor-dinária revolução técnico-científicatécnico-científicatécnico-científicatécnico-científicatécnico-científica. O uso de equipamentos computado-rizados transformou a organização do trabalho rural; a produção defertilizantes mais eficientes alterou profundamente as condições naturaisdo solo; a genética aplicada à agricultura tornou possível a obtenção deespécies mais resistentes e melhor adaptadas às condições ambientais;

l a biotecnologiabiotecnologiabiotecnologiabiotecnologiabiotecnologia possibilitou melhor combate às pragas e maior proteção àscolheitas, mas existem sérios riscos envolvidos na perda de postos detrabalho no campo e na difusão de novos organismos criados artificialmente.

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36A U L AExercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1

Antes a agricultura produzia seus próprios adubos orgânicos. Hoje, essesadubos são químicos e, em geral, vêm de fora. Antes, o preparo da terradependia de animais de tração, criados no próprio local. Hoje, os animais sãosubstituídos por tratores. A agricultura evoluiu para aquilo que atualmentese chama de "complexos agro-industriais".A partir do texto, explique o que são os complexos agro-industriais.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Justifique a frase:"O agricultor, hoje, não compra terra; compra o clima."

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Apresente duas conseqüências positivas e duas negativas, dos avanços dainformática e da biotecnologia aplicados à agricultura.

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Nesta aula, vamos conhecer a ordemgeopolítica mundial estabelecida entre o final da Segunda Guerra Mundial e ofinal da década de 1980 pela potência norte-americana, capitalista, e a soviética,socialista. Estudaremos, também, a nova ordem que vem sendo estruturada nadécada de 1990, em que a bipolaridade vai dando lugar a uma nova polaridade,agora disputada pelas mais fortes economias de mercado.

Qual será o desenho do novo mapa político do mundo após o fim da GuerraFria? Qual a importância dos novos blocos geopolíticos da União Européia, daBacia do Pacífico e do Tratado Norte Americano de Livre Comércio (NAFTA)sobre os demais países do planeta?

Sem dúvida o mundo ficou muito diferente após o desmonte da UniãoSoviética e o fim das economias centralmente planificadas do Leste Europeu. Opoderio militar norte-americano se estende por toda a superfície da Terra,embora a economia da grande potência seja obrigada a compartilhar o mercadomundial com novos e poderosos parceiros, como o Japão, a Alemanha e aemergente China, o que permite supor que estamos assistindo à construção deum mundo multipolarmundo multipolarmundo multipolarmundo multipolarmundo multipolar.

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo foi dividido em dois blocosideológicos: um capitalista, polarizado pelos Estados Unidos, e outro socialista, cujopólo era a União Soviética. Pólos antagônicos, tanto no plano econômico quanto nomilitar. Era o início da Guerra Fria que predominaria como força motriz da ordemgeoestratégica mundial até 1989, quando o Muro de Berlim, um dos marcos maisostensivos da bipolarização, foi derrubado, marcando concreta e simbolicamente adesestruturação do socialismo real e o fim da ordem mundial bipolar.

De 1945 até 1990, as questões geopolíticas se estruturaram em função daoposição leste-oeste. Os 45 anos que se seguiram ao fim da Segunda GuerraMundial foram dominados, no plano das relações internacionais, pelo confrontoentre americanos e soviéticos. Ao longo desse período ocorreram momentos nosquais as relações foram mais tensas; e outros, nos quais as relações entre assuperpotências foram mais amenas, chegando-se até, entre 1956 e 1962, a umasituação de coexistência pacífica e, após 1985, a um período de aproximação entreos governos dos dois países.

Para alémda polarização:os novosblocos políticos

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A Guerra Fria significava o confronto de dois regimes políticos e de duasconcepções econômicas, qualificadas como capitalismocapitalismocapitalismocapitalismocapitalismo e comunismocomunismocomunismocomunismocomunismo. Mas oconfronto entre os Estados Unidos e a União Soviética não era apenas umaoposição de diferentes concepções de sociedade ou, ainda, de diferentesformas de expressar a liberdade e a justiça. Era mais que isso. As duassuperpotências lutavam pela hegemonia mundial procurando atrair, cada umapara o seu bloco, o maior número de países. Países esses que, segundo seu pesoeconômico-político no cenário mundial, passavam a ser aliados ou parteda periferia das superpotências.

No pós-guerra, a oposição entre os dois blocos era nítida. No plano militar, aOrganização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) opunha-se ao Pacto de Varsó-via. No plano econômico, enquanto os países europeus organizavam-se parausufruir as vantagens da ajuda norte-americana, por meio do Plano Marshall, ospaíses do Leste Europeu se estruturavam no Conselho de Ajuda Econômica Mútua(Comecom), sob a hegemonia soviética. Nesse período, restava aos demais paísesescolher a liderança e o ingresso num dos campos antagônicos.

O processo de descolonização, que se seguiu ao final da Segunda GuerraMundial, deu origem a um grande número de países. E as superpotências,estimuladoras da descolonização, passaram a exercer, em numerosos casos, opapel das antigas potências coloniais. O espaço descolonizado transformou-seem local privilegiado para a competição leste-oeste. Aos países pró-soviéticosopunham-se os nitidamente pró-americanos. Somente os novos estados comdimensões continentais, como a China e a Índia, mantiveram esquemas polí-ticos e econômicos próprios, gozando de significativa autonomia.

A NOVA ORDEM MUNDIAL

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37A U L A Pouco a pouco, foi se estruturando um terceiro bloco - o chamado TerceiroTerceiroTerceiroTerceiroTerceiro

MundoMundoMundoMundoMundo - não alinhado aos blocos já existentes. No entanto, a idéia de TerceiroMundo foi maior do que o conjunto de países não alinhados que o compunhainicialmente. O Terceiro Mundo passou a ser pensado como o mundo subde-senvolvido. Nele, os Estados Unidos e a União Soviética se enfrentaram emnumerosos conflitos, entre países ou no interior de um mesmo país, nos quaisas partes em confronto se ligavam às lideranças da Guerra Fria. Nenhumdesses conflitos fez uso de armas nucleares, mas eles foram responsáveis pormais de 30 milhões de mortes. No período 1945-1990, os conflitos se sucederame a paz esteve sempre ameaçada.

No entanto, alguns fatos da segunda metade da década de 1980 prepararamcaminho para o final da Guerra Fria. Em 1985, o primeiro ministro soviéticoMikail Gorbachev, avaliando a situação política e econômica em que se encon-trava a União Soviética, afirmou:

“Estamos percebendo um desgaste progressivo dos valores ideológicos emorais do nosso povo. Ele se manifesta na diminuição das taxas decrescimento e no mal funcionamento do sistema de controle de qualidadeque não incorpora os avanços da ciência e da tecnologia. Os indicadoressociais, que atestam a melhoria da qualidade de vida crescem hoje maislentamente e as dificuldades de atender às necessidades de abastecimen-to, de habitação, de bens e serviços são evidentes. A propagandaque alardeia os sucessos - reais ou imaginários - prevalece sobre todosos fatos. (...) As necessidades e as opiniões da massa trabalhadorasão ignoradas (...) mas não podemos aceitar a estagnação. Nós nãopodemos aceitar a mentalidade de vulgares consumidores. Se nós apren-dermos a trabalhar melhor, seremos mais honestos e cuidadosos uns comos outros, estaremos criando, então, um modo de vida verdadeiramentesocialista.”

Gorbachev mostrava suas preocupações ao analisar as dificuldades so-viéticas. Ele anunciou, em 1987, a necessidade de reestruturação da economiapara fortalecer os princípios do socialismo. Segundo ele, a perestroika(reestruturação, em russo) elevaria o nível de responsabilidade social e asesperanças soviéticas. A glasnost (transparência, em russo) revelaria osprivilégios ilegítimos e a sociedade soviética retomaria a estabilidade e ocrescimento econômico.

Porém, no final de 1989, a União Soviética foi forçada a se retirar do LesteEuropeu. A derrubada do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, abriucaminho para a reunificação alemã, até então dividida entre os dois blocos. Emseguida, os países da Europa Central e Balcânica pediram a saída das tropassoviéticas dos seus territórios. Em 1991, o Comecom e o Pacto de Varsóvia foramdissolvidos.

O império soviético viveu então uma crise econômica e políticasem precedentes: tentativa de golpe militar, sublevações populares,revolução liberal. A União Soviética deixou de existir em 21 dedezembro de 1991.

Em seu lugar surgiram novos estados soberanos e independentes.Contra essas forças de dissolução surgiu a idéia de formar uma

Comunidade de Estados Independentes (CEI), reunindo doze dasquinze ex-repúblicas soviéticas. Contrariando as expectativas, a CEIparece ter conseguido reunir as “ovelhas desgarradas”.

Queda do Murode Berlim.

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37A U L AO esfacelamento da União Soviética significou a “vitória” americana. Após

a intervenção no Golfo Pérsico, para punir a ação do Iraque na invasão doKuwait, em janeiro de 1991, os Estados Unidos reafirmam seu papel desuperpotência hegemônica e impuseram a pax americana, isto é, a paz ameri-cana semelhante à pax romana imposta pelas legiões, no Império Romano. OsEstados Unidos passaram a dominar a nova ordem mundial, o que, para algunsgeógrafos, significa um mundo unipolarmundo unipolarmundo unipolarmundo unipolarmundo unipolar. Para outros, no entanto, o mundopós-Guerra Fria é multipolarmultipolarmultipolarmultipolarmultipolar.

Os Estados Unidos são, sem dúvida, a primeira potência econômica, cientí-fica e tecnológica no mundo contemporâneo. Sua população dispõe de um altonível de vida e sua sociedade aparece, em escala mundial, como um exemplo aser seguido. A realidade americana exerce no imaginário coletivo mundial umefeito de demonstração impressionante: a liberdade, como bem inalienável,exercida nos limites da ação individual e dentro de um quadro democrático,é a sua identidade mais característica.

Ao final da Segunda Guerra Mundial o “dólar era tão bom quanto o ouro”.As decisões de Bretton Woods confirmavam a hegemonia econômico-financeirados Estados Unidos. Hoje, essa posição não é tão tranqüila. A importância dodéficit comercial e financeiro norte-americano traduz a “fome” de consumo dasua população e a internacionalização do seu sistema econômico.

Em 1º de julho de 1994, o vencedor da Guerra Fria aliava-se a uma potênciamédia, o Canadá, e a um país em via de desenvolvimento, o México, com oobjetivo de estabelecer uma zona de livre comércio entre eles. O Acordo de LivreComércio da América do Norte (Nafta) deveria promover a democraciado mercado e abrir as negociações com outros países latino-americanos, a fimde criar um grande mercado do Alasca à Terra do Fogo.

A Europa, abrindo mão dos nacionalismos - que a levaram, por duas vezesno espaço de uma geração, ao limite do caos -, vem procurando uma novaordem política e econômica. A situação crítica do pós-guerra levou à assinaturado Tratado de Roma, em 1957, que criava a Comunidade Econômica Européia(mais conhecida como Mercado Comum). A população européia, de aproxima-damente 400 milhões de habitantes, alcançou os mais elevados indicadores dequalidade de vida do planeta, além de um extraordinário dinamismo indus-trial e comercial.

MEGABLOCOS REGIONAIS

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37A U L A O Tratado de Maastricht, que come-

çou a vigorar em 1º de novembro de 1993,definiu as novas estratégias da UniãoEuropéia (UE) - nova denominação paraa Comunidade Européia. Graças a esseTratado foram abolidas as últimas barrei-ras econômicas e definidas as estratégiaspara a adoção, em 1999, de uma moedaúnica, o euroeuroeuroeuroeuro, o que exigirá, dos paísesmembros, importantes decisões econô-micas e financeiras.

Em 1995, vários países candidataram-se ou manifestaram intenção de integrar aUE. A Áustria, a Finlândia, a Noruega e aSuécia tiveram suas candidaturas aceitas;os países do chamado grupo de Visegrad -Polônia, República Tcheca, República daEslováquia e Hungria - demonstraraminteresse em ingressar na UE, mas as nego-ciações ainda não estão definidas.

Provavelmente, a União Européia deverá ser a primeira potência mundial,no século XXI, destacando-se no seu interior a economia alemã, que podefuncionar como um pólo dentro da UE.

O desaparecimento da Cortina de Ferro (que, durante a Guerra Fria,separava a Europa Ocidental da Europa do Leste) mostrou com clareza asdiferenças que separavam os dois modelos de sociedade que estavam sendoestruturados. Enquanto a Europa Ocidental se organizava tendo como base aidéia de liberdadeliberdadeliberdadeliberdadeliberdade, a Europa do Leste se estruturava de acordo com o princípioda igualdadeigualdadeigualdadeigualdadeigualdade. O terceiro princípio da Revolução Francesa, a fraternidadefraternidadefraternidadefraternidadefraternidade,ainda não foi alcançado concretamente. A integração da Europa num projetounitário poderá reunir os três princípios.

O Japão saiu da Segunda Guerra Mundial totalmente destruído. Pelosacordos de paz foi impedido de reconstituir sua base militar. Mas, em 1949,graças à mudança da política punitiva imposta pelos Estados Unidos, devido àcomunização da China, o Japão reorganizou rapidamente sua base econômica.

Nos anos 30, o Japão pretendeu desenvolver um grande projeto político-militar que chamou de “co-prosperidade na Ásia do Pacífico”. Mas o avançoimperialista japonês terminou na Segunda Guerra Mundial e na sua rendiçãoincondicional. O que o Japão não conseguiu militarmente, nos anos 30, estáconseguindo realizar economicamente, graças aos investimentos de capital, nosanos 80. Durante a crise do petróleocrise do petróleocrise do petróleocrise do petróleocrise do petróleo, as indústrias tradicionais, grandesutilizadoras de mão-de-obra e consumidoras de matérias-primas, foramdeslocadas para o leste e o sudeste da Ásia. O megabloco do Pacífico começavaa se esboçar. Ao mesmo tempo, o Japão aplicou a reengenharia em suasempresas, alcançando o máximo de eficiência de seu sistema produtivo.

Em 1989, em Camberra (Austrália), definiu-se um novo bloco econômico -a Cooperação Econômica da Zona Ásia-Pacífico (Apec). A iniciativa de formaçãodesse bloco coube à Austrália, que de tradicional cliente da Europa Ocidentalestá se transformando numa importante fronteira de recursos para o Japão, àmedida que se integra ao bloco asiático.

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37A U L AAs medidas políticas liberalizantes ocorridas na China abriram novas possi-

bilidades aos capitais japoneses. A partir de 1979, com a abertura das primeirasprimeirasprimeirasprimeirasprimeiraszonas econômicas especiaiszonas econômicas especiaiszonas econômicas especiaiszonas econômicas especiaiszonas econômicas especiais, foram estimulados investimentos e transferênciade tecnologia japoneses para essas áreas.

Durante a Guerra Fria, o Japão mantinha uma aliança político-militar estávelcom os Estados Unidos. Agora, entre os dois países estabeleceu-se uma relaçãoeconômica de concorrência. Ao mesmo tempo e em nome da competitividade,são feitas alianças bilaterais - IBM com Toshiba, Hitachi com Texas, Ford comMazda -, mostrando que a cooperação é tão necessária quanto a rivalidade.Assim se pode explicar o aparecimento de produtos binacionais, trinacionais ouaté quadrinacionais no mercado globalizado, desafiando as mais eficientespolíticas protecionistas.

Em 1993 o governo japonês lançou a idéia de pacifismo militantepacifismo militantepacifismo militantepacifismo militantepacifismo militante, compro-misso entre a renúncia à guerra - prevista na Constituição e com forte apoio naopinião pública - e a responsabilidade internacional. A retirada do “guarda-chuva” militar norte-americano pode significar o aparecimento de uma constru-ção regional, de uma nova realidade política e social que dará sentido ao espaçoÁsia-Pacífico.

O mundo geopolítico da Guerra Fria conviveu com os vinte anos gloriososda economia capitalista que foram interrompidos, na década de 1970, com a crisedo petróleo. Na realidade, a crise anunciava a necessidade de mudanças estru-turais no modelo industrial que havia garantido o extraordinário crescimentoeconômico dos anos anteriores. A revolução tecno-científica, baseada naautomação dos processos produtivos, aumentou a produtividade e diminuiu asnecessidades de matérias-primas, de energia e de mão-de-obra. A pesquisacientífica e o conhecimento passaram a ser os insumos mais importantes doprocesso produtivo. A incorporação de novas tecnologias exigiu grandes inves-timentos e os mercados consumidores deveriam ser ampliados na mesma escala.

A integração em mercados regionais, acima dos limites criados pelo Estado-nação, era, agora, uma exigência das grandes corporações, que passaram aliderar a economia globalizada. O surgimento dos blocos econômicos (Nafta,UE, Apec, Mercosul) é o resultado dessa política de ampliação dos mercados.

Os mercados ampliados, consolidados nos megablocos, aumentam a produ-tividade das empresas graças às economias de escala. Quando uma empresaganha em eficiência, no interior do bloco, aumenta suas possibilidades decompetir na economia globalizada, para além da polarização.

Nesta aula você aprendeu que:

l a ordem geopolítica e geoestratégicaordem geopolítica e geoestratégicaordem geopolítica e geoestratégicaordem geopolítica e geoestratégicaordem geopolítica e geoestratégica do período que vai do pós-guerra(1945) até 1989 era bipolar. Ela era constituída por dois blocos antagônicosdois blocos antagônicosdois blocos antagônicosdois blocos antagônicosdois blocos antagônicostendo de um lado o Primeiro MundoPrimeiro MundoPrimeiro MundoPrimeiro MundoPrimeiro Mundo capitalista, com os Estados Unidos eseus aliados, e do outro, o Segundo Mundo Segundo Mundo Segundo Mundo Segundo Mundo Segundo Mundo socialista, com a União Soviéticae os países do Leste Europeu;

l os países do Terceiro MundoTerceiro MundoTerceiro MundoTerceiro MundoTerceiro Mundo, com exceção da China e da Índia, estavamatrelados a uma potência ou a outra;

l na década de 1980, a União Soviética revelou ao mundo o descompassoexistente entre a potência militar e econômica e a sociedade. O blocosocialista se desestruturou e vive, hoje, a experiência da transição de umaeconomia centralmente planificadaeconomia centralmente planificadaeconomia centralmente planificadaeconomia centralmente planificadaeconomia centralmente planificada para uma economia de mercadoeconomia de mercadoeconomia de mercadoeconomia de mercadoeconomia de mercado;

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37A U L A l desde a década de 1970, o bloco capitalista vem sofrendo uma grave crise,

incluindo-se aí uma forte competiçãocompetiçãocompetiçãocompetiçãocompetição entre as potências que lideram osnovos blocos econômicos. O mundo bipolarmundo bipolarmundo bipolarmundo bipolarmundo bipolar vai dando espaço a uma novanovanovanovanovaordem geopolítica multipolarordem geopolítica multipolarordem geopolítica multipolarordem geopolítica multipolarordem geopolítica multipolar.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Leia este texto com atenção.

“O mundo bipolar era a nova paisagem estratégica a que não apenas ospovos europeus, de uma Europa dividida, deveriam se ajustar. Mastambém da África, Oriente Médio, América Latina e outros que tiveramde se adaptar ou resistir durante o período da chamada Guerra Fria.”Adaptado de KENNEDY, P. Ascensão e Queda das Potências. Rio de Janeiro, Ed.Campus, 1989.

Desenvolva duas idéias apresentadas no texto.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Apresente duas tendências da geopolítica mundial após o fim da Guerra Fria.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Leia este texto com atenção.

“Até muito recentemente, os Estados Unidos davam as cartas como lídermilitar e econômico do mundo livre. Agora, o Japão parece ter usurpadoo poder econômico. (...) Muitos dos desgostos dos Estados Unidos sãoobras deles mesmos, mas alguns preferem pôr a culpa no Japão, dizendo(...) que somos um parceiro desleal.”ISHIHARA, S. O Japão que sabe dizer não. São Paulo. Siciliano, 1991.

Indique duas estratégias adotadas pelo Japão, após a crise do petróleo, parafazer frente aos Estados Unidos.

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NNNNNesta aula, vamos conhecer alguns dos indi-cadores usados para medir a riqueza das nações. Iremos estudar também teoriasque tentam explicar as desigualdades existentes no mundo atual e as numerosastentativas já realizadas para diminuir o fosso que separa o Norte do Sul.

Qual o efeito das mudanças que estão ocorrendo no mercado mundial sobreos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos? Qual será o papel daAmérica Latina e da África na nova ordem mundial que se impõe a partir dosdesígnios do Norte industrializado? Será que o Sul também existe, apesar damiséria, das guerras fratricidas e do crescimento das doenças infecto-contagio-sas, como a Aids?

Aparentemente, aquilo que fazia parte da agenda dos países industrializa-dos logo após o final da Segunda Guerra Mundial, isto é, a busca do desenvol-vimento de todos os países do planeta, deixou de ser relevante para as principaiseconomias industrializadas. Hoje, o futuro da África, aparentemente, dependemuito mais da cooperação dos países do Sul, do que da exclusão a que foicondenada pelo Norte.

Para Adam Smith, um dos mais importante teóricos da economia clássicaliberal, em sua obra A Riqueza das Nações, “(...) nenhuma sociedade podecrescer e ser feliz se a maioria dos seus membros é pobre e miserável.”

Hoje, para se medir a riqueza ou a pobreza das nações utiliza-se o chamadoProduto Interno Bruto (PIB) que é um indicador da renda e do nível de vida realda população de determinado país. O PIB corresponde à soma dos valoresagregados pelos agentes econômicos que atuam em um território nacional.

Apesar das décadas de crescimento econômico e social que se seguiram àSegunda Guerra Mundial, a situação de pobreza tem se agravado. Entre 1965 e1985, a renda dos países pobres teve um ganho de 100 dólares por habitante,enquanto os países ricos aumentaram sua renda em 4.000 dólares por habitante.Acentuou-se a diferença entre os países do norte e do sul (em relação à linha doEquador). A renda per capita nos países ricos é cinco ou dez vezes maior do quea de um país de industrialização tardia como o Brasil.

A pobreza das nações:onde ficou o

desenvolvimento?

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Mas o PIB não deve ser a única referência para mostrar as desigualdadesexistentes entre os países de economia industrializada do hemisfério norte e osde economia basicamente primário-exportadora do hemisfério sul. Outros indi-cadores, a exemplo do consumo de energia, mostram com maior nitidez o nívelde desenvolvimento de um país. Os Estados Unidos, o Canadá e os países daEuropa Ocidental, com menos de 15% da população mundial, consomem maisda metade da energia primária produzida no mundo. Um europeu consomevinte vezes mais energia do que um africano.

Pode-se também adotar como referência, para diferenciar ricos e pobres, osindicadores culturais, como o número de livros publicados em um ano, o númerode receptores de televisão por habitante, ou a porcentagem de adultos analfabe-tos existentes na população. Enquanto, em 1992, o Canadá publicou em torno devinte mil títulos de novos livros, o Paquistão publicou menos de dois mil.No Canadá existem seiscentos aparelhos de televisão por mil habitantes, o quepode significar o acesso à informação e ao lazer. No Paquistão esse número caipara quinze aparelhos por mil habitantes.

Também é possível confrontar indicadores sociais, como a quantidade diáriade calorias ingerida por habitante ou o acesso à água tratada e às instalaçõessanitárias. Enquanto nos países industrializados a quase totalidade da popula-ção tem acesso a água de qualidade, nos países subdesenvolvidos menos de 30%da população recebe água tratada.

Existem ainda critérios de comparação entre riqueza e pobreza que sãodifíceis de medir, como a manifestação livre de idéias ou a estabilidade política.Afinal, o homem não é apenas um produtor/consumidor de mercadoriase serviços. Seu bem-estar depende, também, desses valores não-materiaisque ainda não foram conquistados por grande parte da população mundial.

Várias teorias foram elaboradas para explicar “a pobreza das naçõesa pobreza das naçõesa pobreza das naçõesa pobreza das naçõesa pobreza das nações” .Algumas delas, ainda que equivocadas, prevaleceram durante muito tempo.Outras, embora corretas, explicavam apenas parcialmente a origem da pobreza.Nenhuma delas foi suficientemente abrangente para atender a todas as sutilezasda desigualdade sócio-econômica existente hoje entre os Estados-nações.

RICOS E POBRES

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38A U L ANo século XIX, os europeus afirmavam que a pobreza dos povos do hemis-

fério sul era o resultado da combinação de fatores naturais hostis e fatoreshumanos marcados pela inferioridade dos grupos raciais que habitavam “asásias e as áfricas tropicais”. Nesse período Grã-Bretanha, França e Alemanhaforam, com uma energia especial, potências coloniais. Era necessário difundirentre os “povos inferiores” as conquistas materiais da Europa branca, indus-trializada, “superior”. As metrópoles tinham uma visão positiva da sua “missãocivilizadora”. As lembranças desse período estão vivas no inconsciente coletivodos povos dos países dominados, assim como as conseqüências concretasdas formas de dominação a que foram submetidos.

Após a Segunda Guerra Mundial, essa explicação foi sendo substituída poroutra, mais consistente e largamente difundida entre as elites intelectuais dosentão chamados países subdesenvolvidos. Tal explicação afirmava que a pobre-za da África, da Ásia e da América Latina decorria da exploração colonial a queesses continentes foram submetidos. As relações impostas pelas potênciasimperialistas às suas colônias teriam levado a uma extrema exploração da forçade trabalho, à manutenção de baixos níveis de escolaridade e, durante muitotempo, teriam impedido a estruturação de Estados nacionais.

Essa explicação, embora coerente, lança toda a responsabilidade da pobrezasobre os colonizadores, sem revelar que os bloqueios para o desenvolvimentoencontram-se também no interior desses países. Seus sistemas sociais eramdominados por elites políticas que impediam as reformas modernizadoras emantinham a renda concentrada em suas mãos. Recursos eram perdidos comexcessivos gastos militares ou em obras de resultados econômicos duvidosos.Os investimentos feitos em saúde e educação eram insuficientes, comprometen-do a qualidade dos recursos humanos.

Na segunda metade do século XX, ocorreu o mais importante movimentopolítico de nosso século - a descolonizaçãodescolonizaçãodescolonizaçãodescolonizaçãodescolonização. O direito dos povos a se autogover-narem foi aceito como princípio, e as palavras “colonialismo” e “imperialismo”passaram a ser condenadas. O colonialismo chegava ao fim. A descolonização passoua ser vista como um triunfo da modernidade e uma derrota das forças reacionárias.

No entanto, outra circunstância poucas vezes percebida atuou nadescolonização: a perda do fundamento econômico do colonialismo. No séculoXIX, o capitalismo industrial contava com as vantagens das relações de explora-ção colonial, ou seja, a aquisição de matérias-primas e produtos tropicaisem troca do fornecimento de produtos industriais. Na divisão internacionaldo trabalho, realizavam-se as denominadas trocas desiguais que permitiamgrandes lucros às economias industriais.

A partir da Segunda Guerra Mundial, os interesses das potências industriaispassaram a ser outros. Seu desenvolvimento econômico estava agora centradono desenvolvimento técnico-científico e o papel das colônias começava a perderimportância. O comércio entre as potências industriais passava a ser muito maisimportante do que as relações comerciais com os países do hemisfério sul.Ao final da Segunda Guerra Mundial, as colônias podiam se tornar independen-tes porque o custo econômico desse fato político revelava-se muito pequeno.

Mas não estaria sendo estruturada uma nova forma de dominação mais sutil quea anterior? No lugar da dominação imposta pelo Estado colonialista estava seesboçando agora uma dominação patrocinada pelo setor privado, tendo comoinstrumento visível a empresa transnacional. Essa idéia teve um importante efeitono desenvolvimento econômico dos novos Estados nacionais, que resistiram ini-cialmente aos investimentos estrangeiros. Essa nova política colocava os novosEstados nacionais à mercê dos interesses e dos investimentos das grandes empresas.

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38A U L A Como conseqüência da Guerra Fria, os países pobres receberam, nos últimos

cinqüenta anos, uma grande atenção dos países ricos. Nos primeiros anos deauxílio acreditava-se que a passagem de uma situação de pobreza para a de umasituação de desenvolvimento econômico se realizaria com a transferência da“mobília pesada” da industrialização. Assim foram transferidas siderúrgicas,hidrelétricas, indústrias químicas e setores da mecânica pesada, que caracteri-zavam a economia industrial, para alguns países subdesenvolvidos. Essasindustrias representariam o progresso econômico e o fim da pobreza.

Na realidade foi um erro de avaliação. Essa ação não deu os resultadosesperados porque, ao privilegiar o econômico, ignorava os indicadores sociais,a exemplo da educação e da saúde para as massas como condição essencial parao enriquecimento humano de um Estado-nação. Nenhum país é pobre se a suapopulação tem acesso a uma educação básica de qualidade. Em sentido amplo,a educação deve ser o ponto de referência para as políticas de desenvolvimentoa serem praticadas.

Nas últimas décadas, os países industrializados forneceram créditos efinanciamentos aos subdesenvolvidos, o que possibilitou taxas de crescimentoeconômico altas mas aumentou a relação de dependência entre eles. A criseeconômica a partir dos anos 70 criou novas dificuldades: os preços das matérias-primas decresceram e as taxas de juros se tornaram insuportáveis.

Os Novos Países Industrializados não conseguiram amortizar as dívidascontraídas e o endividamento bloqueou o crescimento econômico. Os paíseslatino-americanos foram os principais atores dessa tragédia. As dificuldadessurgidas com o endividamento - 1 trilhão e 500 bilhões de dólares aproximada-mente, em 1995 - foram enormes. O serviço da dívida, isto é, os juros ecompromissos financeiros para mantê-la, representava, em média, 25% do valordas exportações. Para enfrentar o endividamento externo, numerosos paísesaplicaram políticas de estabilização com restrição nos investimentos públicos,agravando ainda mais o quadro econômico e social.

Hoje, a pobreza absoluta atinge em torno de um bilhão de habitantes, quase20% da população mundial. A maior parte dos países que apresentam os maioresíndices de pobreza absoluta encontram-se em dois cinturões: o africanoafricanoafricanoafricanoafricano, atraves-sando toda a África Equatorial e Tropical, do Saara até a bacia do rio Zambeze,e o asiáticoasiáticoasiáticoasiáticoasiático, que atinge o sul e sudeste desse continente, indo do Paquistão atéa Indonésia.

VALOR DA DÍVIDA EXTERNA EM PORCENTAGEM DO PIB

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A ordem econômica mundial exige que o diálo-go Norte-Sul se estabeleça em novas bases. A As-sembléia Geral da ONU tomou essa decisão em 1974!As Nações Unidas poderiam ser o fórum privilegia-do para esse diálogo mas os movimentos realizadospelo bloco de países do hemisfério sul não sensibili-zaram os países mais ricos. A ação das instituiçõesespecializadas mantidas pela ONU, tais como aUnesco, a OMS e a FAO, não foram suficientes paradiminuir o fosso que separa o Norte do Sul.

Nesta aula você aprendeu que:

l além do Produto Interno BrutoProduto Interno BrutoProduto Interno BrutoProduto Interno BrutoProduto Interno Bruto (PIB), os indicadores sociais e culturaisindicadores sociais e culturaisindicadores sociais e culturaisindicadores sociais e culturaisindicadores sociais e culturaisrevelam as desigualdadesdesigualdadesdesigualdadesdesigualdadesdesigualdades existentes entre o Norte e o SulNorte e o SulNorte e o SulNorte e o SulNorte e o Sul;

l essas desigualdades foram explicadas por numerosas teorias, sendo a maisdifundida a que afirmava que a pobreza da Ásia, da África e da AméricaLatina decorria da exploração colonialexploração colonialexploração colonialexploração colonialexploração colonial;

l na segunda metade do século XX, após a independência dos países coloni-zados, as nações industrializadas forneceram créditos e financiamentos parao desenvolvimento econômicodesenvolvimento econômicodesenvolvimento econômicodesenvolvimento econômicodesenvolvimento econômico desses países. Mas o endividamento exter-endividamento exter-endividamento exter-endividamento exter-endividamento exter-nonononono levou-os a uma crise insustentável;

l hoje, quase 20% da população mundial vive numa situação de pobrezapobrezapobrezapobrezapobrezaabsolutaabsolutaabsolutaabsolutaabsoluta;

l as bases para um novo diálogo e para a cooperaçãocooperaçãocooperaçãocooperaçãocooperação entre o Norte e o Sul eentre os países do Sul deve ser a grande tarefa das Nações Unidas, no limiardo século XXI.

ExercíciosExercíciosExercíciosExercíciosExercíciosCite três indicadores usados para medir a riqueza ou a pobreza de umdeterminado país.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Apresente duas teorias elaboradas para explicar "a pobreza das nações".

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Como a dívida externa, contraída pela América Latina, bloqueou o seudesenvolvimento?

O desenho representa a brutal diferençaentre os países mais ricos e os mais pobres.

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NNNNNesta aula, vamos avaliar a violência nomundo e abordar algumas de suas diferentes manifestações. Destacaremos amiséria em que vive grande parte dos homens como a origem da violência.Vamos analisar a violência contra a natureza que, em última análise, é tambémuma violência contra os próprios seres humanos.

Qual a origem da escalada de violência que explode em conflitos, guerras etiroteios urbanos? De onde provêm tantas armas modernas e por que as drogassão tão consumidas no mundo atual?

A globalização trouxe novos e angustiantes problemas para a comunidadedas nações e para os habitantes do planeta Terra. De um lado, emerge aconsciência de que fazemos parte de um grande conjunto mundial; de outro,vemos que a exclusão dos benefícios do progresso é cada vez maior, deixandomilhões de pessoas sob a ameaça da fome e da guerra, que hoje não aconteceapenas nos lugares distantes, pois está presente nas grandes cidades brasileiras.

O problema da violência no mundo contemporâneo é extremamente com-plexo. Na realidade não existe violência, mas violências, que devem ser enten-didas em seus contextos e situações particulares. Mas há um conjunto devariáveis que deve ser pensado, indiscutivelmente, como o patamar básico paraas diferentes formas de violência: a pobreza, a miséria, a desigualdade nadistribuição da renda. Embora esse conjunto não explique por si só a violência,ele atua como fator básico para a formação de um campo propício ao desenvol-vimento de violências dos mais diferentes tipos. Partindo desse raciocíniopodemos levantar algumas das diferentes situações atuais de violência nomundo.

A globalização da economia ampliou a circulação de capitais, tecnologias eprodutos. Ao ampliar as atividades econômicas, ela favoreceu os negócios deduas mercadorias muito especiais: armas e drogas. Os negócios ilegais operam,hoje, em escala global, e não existe nenhum organismo internacional em condi-ções de realizar ações repressoras eficazes contra essas atividades. A economiamundial passou a se comportar como uma máquina cada vez mais poderosa,violenta e incontrolável.

O ovo da serpente:a cultura da violência

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39A U L AA Guerra Fria havia estruturado a idéia de que os conflitos nacionais ou

internacionais estavam todos relacionados direta ou indiretamente à oposiçãoLeste-Oeste. Com o fim da ordem bipolar, o clima de confrontação se desfez e asorganizações internacionais passaram a atuar como forças de regulação dosconflitos regionais. Desde o final da Guerra Fria aumentaram as solicitações parareformular a Carta das Nações Unidas nos itens que determinam em quecondições a organização pode intervir nos assuntos de competência nacionalnos assuntos de competência nacionalnos assuntos de competência nacionalnos assuntos de competência nacionalnos assuntos de competência nacional.Essas pressões têm aumentado por causa da multiplicação dos pedidos desocorro feitos pelos pequenos estados agredidos, pelas minorias dizimadase pelas vítimas de guerras civis intermináveis.

Nos anos que se seguiram à queda do Muro de Berlim, crises e conflitoscomo os ocorridos na Bósnia, em Ruanda, na Argélia, no Afeganistão e nosempre explosivo Oriente Médio, transformaram tais regiões em novas zonas deviolência. Nesses conflitos nem sempre ficava clara a posição dos diferentesparticipantes e eram freqüentes as situações de desintegração dos Estadosnacionais. A dificuldade de se classificar essas situações como “guerra” passavaa exigir formas originais de atuação.

Entre 1989 e 1992, chegou-se a admitir que o intervencionismointervencionismointervencionismointervencionismointervencionismo seria amedida-chave. No Kuwait, a intervenção realizada pelos Estados Unidos foifeita em nome da legítima defesa coletivada legítima defesa coletivada legítima defesa coletivada legítima defesa coletivada legítima defesa coletiva, mas na Iugoslávia e na Somália eraimpossível aplicar o mesmo argumento, pois se tratavam de movimentos deminoriasminoriasminoriasminoriasminorias que lutavam para conquistar seus próprios territórios nacionais.

Alguns países, ao perderem a proteção da União Soviética, correram orisco de se desfigurar. Por isso, a lógica do mercado, criando esperanças devantagens econômicas, tornou-se o parâmetro da nova estratégia interna-cional, como revelam os projetos de desenvolvimento dos dragõesdragõesdragõesdragõesdragões ou tigrestigrestigrestigrestigresdo Sudeste Asiático.

A violência contra a natureza não semanifesta, aparentemente, de forma tãoexplosiva quanto as situações já mencio-nadas aqui. Mas o efeito estufaefeito estufaefeito estufaefeito estufaefeito estufa, o desapa-o desapa-o desapa-o desapa-o desapa-recimento de espéciesrecimento de espéciesrecimento de espéciesrecimento de espéciesrecimento de espécies, o buraco na cama-buraco na cama-buraco na cama-buraco na cama-buraco na cama-da de ozônioda de ozônioda de ozônioda de ozônioda de ozônio, as chuvas ácidaschuvas ácidaschuvas ácidaschuvas ácidaschuvas ácidas, a deser-deser-deser-deser-deser-tificaçãotificaçãotificaçãotificaçãotificação de algumas áreas, a poluiçãopoluiçãopoluiçãopoluiçãopoluição doar - resultantes do crescimento econômicoa qualquer preço - trazem conseqüênciasirreversíveis para o ambiente natural doplaneta. São fatos que certamente muda-rão as condições de vida na biosfera epoderão, até mesmo, torná-las insuportá-veis para a espécie humana.

Desde a década de 1970, os proble-mas ecológicos passaram a ser discutidosmundialmente em termos de caos imi-nente. Se ocorrer de fato uma crise ecoló-gica, ela, diferentemente das demais, seráglobal e atingirá igualmente as áreas ricase as pobres, pois na natureza não existemas fronteiras artificialmente criadas peloshomens.

A ação do homem aumentou o fluxode substâncias tóxicas na atmosfera.

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39A U L A As políticas ecológicas que vêm sendo propostas não precisam chegar ao

radicalismo de propor que o crescimento da produção mundial passe a ser zero,como forma de preservação do meio ambiente. Até porque essa decisão serviriapara manter a atual distribuição desigual da riqueza mundial, que favoreceriaos países economicamente mais avançados sem dar chance de desenvolvimentopara os países mais pobres.

A taxa de desenvolvimento mundial deve ser reduzida, sim, mas ao limitedo sustentável, ou seja, com base num equilíbrio entre os homens, os recursos(renováveis ou não) utilizados e os seus efeitos sobre o meio ambiente.

Mas, entre todas as situações vividas no mundo atual, aquela que provavel-mente irá se tornar a principal causa de tensão e violência no século XXI é oaprofundamento do fosso que separa os países ricos dos países pobres. Hoje,entre os primeiros, alastra-se um sentimento xenófobo responsável por açõesdirigidas contra os imigrantes do Terceiro Mundo.

Se a prática mostrou que ainda não existe um sistema econômico capaz decompetir com o capitalismo, também é necessário reconhecer a incapacidade dosistema de mercado de eliminar as desigualdades sociais e os bolsões dosexcluídos. No mundo contemporâneo, marcado pela revolução técnico-científi-ca, a generalização do bem-estar e a redução das desigualdades devem ser asprincipais prioridades. Porém, o modo como essas ações vão se realizar é agrande incógnita.

A política do novo século deve ser dominada pela distribuição social.A alocação dos recursos sem o objetivo exclusivo do lucro é essencial para essanova ordem, mas isso vai depender da restauração da autoridade públicanacional ou supranacional. A ONU, nesse quadro, deveria exercer um papelmais explícito e desenvolver ações mais enérgicas.

Não há solução milagrosa para o desmoronamento dos Estados nem receitasde pacificação para as guerras civis. Rompida a política bipolar, reativaram-seantigos conflitos que mostram a impotência das instituições internacionais pararesolvê-los. Neste final de século, os homens estão tateando os caminhos para oséculo XXI. Enquanto se instala uma (des)ordem global, sem um mecanismocapaz de acabar com ela ou mantê-la sob controle, falta um sistema internacionalque supervisione o novo desenho do mundo.

No filme O ovo da serpente, do cineasta sueco Ingmar Bergman, é retratadaa difícil situação vivida pela Alemanha nos anos 20 - inflação devastadora,desemprego, crise. Ao encontrar a solução para a situação de violência apresen-tada no filme, um dos personagens afirma: “É como o ovo da serpente. Nele vocêpode acompanhar o desenvolvimento do monstro que está sendo gerado.”Essa parece ser uma das poucas certezas deste final de século. Estamos assistin-do, na nova ordem mundial, a uma escalada da violência.

Nesta aula você aprendeu que:

l a violênciaviolênciaviolênciaviolênciaviolência no mundo contemporâneo é muito complexa, mas a pobrezapobrezapobrezapobrezapobreza ea desigualdade de renda desigualdade de renda desigualdade de renda desigualdade de renda desigualdade de renda são as suas origens indiscutíveis. A ruptura domundo bipolar estimulou a formação de uma nova ordem global marcadapelo surgimento de numerosos conflitosconflitosconflitosconflitosconflitos e pela dissolução de Estadosdissolução de Estadosdissolução de Estadosdissolução de Estadosdissolução de Estadosnacionaisnacionaisnacionaisnacionaisnacionais;

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39A U L Al a longo prazo, os problemas centrais são a desigualdadedesigualdadedesigualdadedesigualdadedesigualdade entre os países

ricos e pobres e a questão ambientalquestão ambientalquestão ambientalquestão ambientalquestão ambiental. O desenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentávelpropõe um equilíbrio entre a ação dos homens, o uso dos recursos e osefeitos das atividades econômicas sobre o meio ambiente;

l a partir de 1989, têm aumentado as solicitações para uma ação mais enérgicadas organizações internacionaisorganizações internacionaisorganizações internacionaisorganizações internacionaisorganizações internacionais, incapazes, até aqui, de atender às solicita-ções da nova ordem mundial, mas a violência se institucionalizou e setransformoua na grande ameaça do novo século.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Leia com atenção o texto a seguir. Identifique, nele, “o patamar básico dasdiferentes formas de violência do mundo contemporâneo”.

“Quando a Guerra Fria amainou e as fronteiras ideológicas começarama desaparecer, nos vimos dentro de outra macro-geografia, a das frontei-ras econômicas. Estas são visíveis demais. Separam bairros, dividemruas, - e você as cruza todos os dias. No trajeto entre o seu condomíniocercado e seu escritório, ar condicionado dentro do seu carro importado,você as cruza mais de uma vez. Passa por flóridas, suíças, bangladeshes,algumas bolívias e em cada sinal que pára está na Somália. É impossíveldefender essa fronteira. A grande questão do fim do século é comodefender seu perímetro pessoal da miséria impaciente e predadora. Osamericanos não podem ajudar dessa vez. A fronteira maluca zigueza-gueia dentro dos Estados Unidos também.”VERÍSSIMO, L. F. Fronteiras. Jornal do Brasil, 7/4/1996.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2A Europa foi, em vários momentos da História, pólo irradiador de migra-ções, de onde saíram levas de homens e mulheres na direção de várias partesdo mundo. No entanto, a atual situação dos processos migratórios paraa Europa tem apresentado um novo panorama, cuja principal característicaé a hostilidade em receber novos migrantes.Apresente duas manifestações contrárias à presença de imigrantes nospaíses da União Européia.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Durante uma semana, procure e recorte, em jornais diários, diferentessituações de violência.

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40A U L A

40A U L A

NNNNNesta aula, vamos estudar a hipótese Gaia -a Terra como um sistema fechado, vivo, que põe em destaque as alteraçõesambientais produzidas pela ação do homem. Vamos ver quais os encaminha-mentos que a hipótese sugere para a manutenção das condições ambientaisadequadas à vida.

De que maneira a consciência de que habitamos um planeta frágil podeajudar a encontrar saídas para a crise que atravessamos? Como é possívelencontrar na ecologia uma nova maneira para pensar a economia mundial ebuscar alternativas de desenvolvimento que não comprometam o futuro dasnovas gerações?

A hipótese Gaia - isto é, de que o planeta Terra é um organismo vivo, onde osfluxos de energia são fundamentais para a manutenção dos ciclos vitais e paragarantir a reprodução das espécies, inclusive a humana - é um bom princípio paracomeçar a construção de uma nova ordem mundial, em que a justiça social e aqualidade ambiental sejam as principais metas para o desenvolvimento sustentável.

Na opinião de numerosos cientistas, a Terra pode ser comparada a umorganismo vivo do qual todas as espécies fazem parte. Esse ser vivo, comidentidade própria, mereceu um nome especial, GaiaGaiaGaiaGaiaGaia, denominação queos gregos antigos davam à deusa que personificava a Terra, mãe de todasas criaturas vivas.

O primeiro cientista a defender essa hipótese foi o inglês James F. Lovelock.Ele propôs, ao formular a hipótese Gaia, que a Terra deve ser estudada como umsistema fechado, capaz de captar energia para manter-se em funcionamentoe para se auto-regular.

Segundo a hipótese Gaia, a biosfera - a fina camada do planeta que sustentaa vida - está inseparavelmente integrada à atmosfera, aos oceanos e aos solos.O conjunto se realimenta, buscando manter um meio ambiente adequado àmanutenção da vida. Um sistema dinâmico, integrado, auto-regulado.

Nesse contexto, a atmosfera não é apenas uma camada de gás que envolve aTerra, mas a camada gasosa sem a qual a vida seria impossível. Ela é, junto com osoceanos, responsável pela manutenção das temperaturas adequadas à existência davida que se observa na superfície do planeta. A atmosfera, ao refletir para o espaçoparte da energia solar, controla a quantidade de energia que chega à superfície.

O embrião de Gaia:a ecologiacomo utopia planetária

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40A U L AOutro exemplo significativo dessa integração é a relação que alguns cientis-

tas estabeleceram, há pouco mais de dez anos, entre a atividade de algasplanctônicas, que vivem nos oceanos e nas bacias fluviais, e a formação dasnuvens. Essas algas emitem um composto químico sulfuroso que, ao reagir como oxigênio atmosférico, produz ácido sulfúrico. As partículas de ácido sulfúricose elevam na atmosfera e atuam, no ciclo da água, como núcleos de condensação,pois atraem vapor d’água e dão origem às nuvens. Asssim, as algas estãorelacionadas com os regimes das chuvas e, conseqüentemente, com os climas daTerra. Além disso, a ação dessas algas permite que o enxofre - abundante no mar- passe para os ambientes terrestres, onde é escasso.

Pelos exemplos apresentados, estamos percebendo que a atmosfera da Terrae os ciclos dos elementos que a compõem atuam nos mecanismos de regulaçãoda biosfera. Os desequilíbrios que temos observado sugerem que a atmosfera é,provavelmente, uma fabricação biológica, isto é, a extensão de um sistema vivosistema vivosistema vivosistema vivosistema vivoestruturado para conservar o meio ambiente.

Existem evidências cada vez mais numerosas de que os elementos dessesistema atuam de forma a confirmar a hipótese Gaia. A idéia básica é a de que aaaaaTerra ofereceTerra ofereceTerra ofereceTerra ofereceTerra oferece condições adequadas à vida porque a própria vida as mantémcondições adequadas à vida porque a própria vida as mantémcondições adequadas à vida porque a própria vida as mantémcondições adequadas à vida porque a própria vida as mantémcondições adequadas à vida porque a própria vida as mantém.

No entanto, nos últimos duzentos anos, a espécie humana alterou de formasignificativa alguns dos principais ciclos químicos da biosfera. A ação do homemmultiplicou o fluxo de substâncias tóxicas na água, no ar e nas cadeias alimen-tares. Essas substâncias chegam até as camadas superiores da atmosfera epenetram profundamente nas águas dos oceanos. A redução da coberturavegetal é outra conseqüência dessa ação. Nos trópicos úmidos está sendodestruída a floresta pluvial, num ritmo que alcança 100.000 km2 por ano.

A devastação irá desencadear oprocesso de desaparecimento da flo-resta. Nos pontos em que a floresta édestruída não se realizará mais aevapotranspiração que dá origem anovas chuvas. E a floresta tropicalúmida só pode sobreviver com chu-vas freqüentes. E, à medida que cres-ce a população mundial, certamenteas alterações ambientais serão aindamaiores.

Os elementos da natureza estão sempre presentes no espaço geográfico eos homens relacionam-se com eles o tempo todo. Uma vez que os elementosestão ligados uns com os outros, as alterações ambientais influenciarão todasas formas de vida.

O movimento social que procura rever o modo pelo qual os homens utilizamos elementos naturais, ganhou maior significado neste final de século. A formapela qual as sociedades modernas têm se relacionado com a natureza, usando-a como recurso a ser explorado, produziu verdadeiras catástrofes ambientais.Essa ação ameaça seriamente o futuro.

A capa da revistaCorreio da Unesco,de julho de 1980,mostra a Terra

como um ser vivo.

Nas regiões tropicais, a ampliação das áreasagrícolas acarreta o desmatamento por causada prática da queimada. O solo se esgota comrapidez e dificilmente a floresta se recupera.

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40A U L A É a partir dessa crise que a ecologia ecologia ecologia ecologia ecologia adquire maior prestígio e passam a ser

formuladas novas propostas para a relaçãonovas propostas para a relaçãonovas propostas para a relaçãonovas propostas para a relaçãonovas propostas para a relação homem-naturezahomem-naturezahomem-naturezahomem-naturezahomem-natureza. E à medida queformos conhecendo melhor as relações entre os seres vivos nos daremos conta deque sobrevive, não o mais forte, mas o melhor adaptado, aquele que melhor seharmoniza com as condições ambientais. É por isso que sobrevivem seres tãofrágeis e vulneráveis, como a orquídea e o beija-flor.

Se a proposta inicial era a de que a natureza existe para servir aos homens,como recurso a ser explorado, hoje a idéia mais aceita é a de que essa mesmanatureza é a fonte da vida, que não se pode usá-la de forma irracional.

Os interesses econômicos deixam de ser a única preocupação, pois a nature-za, como palco das atividades humanas, deve ser preservada. A conservaçãoambiental exige estratégias capazes de salvaguardar o nosso futuro comum.

No mundo contemporâneo, o desequilíbrio sócio-ecológico mostra aspectosmuito diferentes. Em países de economia desenvolvida, com uma sólida baseindustrial, problemas como as chuvas ácidas, as montanhas de lixo e as doençasprovocadas pelo excesso de álcool e/ou pelo uso de drogas decorrem da criaçãoda riqueza. Nos países subdesenvolvidos, os problemas decorrem da pobreza -fome, inexistência de serviços de água e esgoto, condições precárias de habita-ção, atendimento médico-sanitário deficiente.

Para os cidadãos dos países desenvolvidos, a questão ambiental tornou-seuma preocupação permanente. Os dejetos, a poluição das águas e do ar, o buracona camada de ozônio são assuntos do cotidiano. As pessoas desconfiam dasinstalações industriais nas proximidades de um bairro residencial e têm medodas conseqüências da poluição atmosférica nas condições do clima. Para ospaíses em desenvolvimento, a questão fundamental é desenvolver a economiae criar melhores condições sociais.

Como conciliar os imperativos do desenvolvimento e os da questão ambiental?Na verdade, temos, até aqui, abusado da fantástica capacidade de regenera-

ção do nosso planeta. Devemos tomar consciência de que nos encontramos abordo da “nave espacial” Terra, e deve ser nossa preocupação mantê-la viva,evitar sua morte. Em vez de nos preocuparmos com uma tola campanha de“retorno à natureza” temos de acreditar nas possibilidades de conseguir manteressa vida, conservando e mudando a tecnologia, tornando-a mais sensata eracional. Os recursos elementares de Gaia - a energia da água e o ar - são tãoabundantes e auto-regeneradores que tornam possível a sua utilização inteligen-te e duradoura.

A urbanização da população africana deveráagravar suas condições sócio-econômicas.

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40A U L AAs propostas são muitas. A hipótese Gaia estimula uma reflexão mais

abrangente sobre os problemas mundiais, ao encarar o planeta como um orga-nismo vivo. A humanidade precisa agir conscientemente, uma vez que seusmodelos de desenvolvimento econômico começam a provocar significativasalterações nos ambientes terrestres.

Em junho de 1992, os países membros da ONU reuniram-se no Rio de Janeiropara a ECO-92, com a finalidade de discutir acordos internacionais sobre a questãoda preservação ambiental. Procuravam criar “uma associação global entre ospaíses em desenvolvimento e os países industrializados, estabelecendo necessida-des e interesses comuns para assegurar o futuro do planeta”. A questão semprepresente na reunião do Rio de Janeiro era encontrar um ponto de equilíbrio entredesenvolvimento e questão ambiental, e estabelecer os princípios básicos dodesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentáveldesenvolvimento sustentável.

Como prevê José Lutzemberger: “A continuar o quadro atual, o desastreserá total. Para nós! Talvez nem tanto para Gaia. Gaia tem muitos recursos, temmuito tempo. Com novas formas de vida, encontrará saídas. Sobram ainda unscinco bilhões de anos até que o Sol venha a apagar-se lentamente...”

Nesta aula você aprendeu que:

l a hipótese GaiaGaiaGaiaGaiaGaia procura mostrar que a Terra pode ser comparada a umorganismo vivoorganismo vivoorganismo vivoorganismo vivoorganismo vivo e a biosfera está inseparavelmente integrada à atmosfera,aos oceanos e aos solos. O conjunto se realimenta para manter as condiçõesambientais adequadas à vida;

l uma vez que todos os elementos da naturezaelementos da naturezaelementos da naturezaelementos da naturezaelementos da natureza estão ligados uns aos outros,qualquer alteração ambientalalteração ambientalalteração ambientalalteração ambientalalteração ambiental influenciará todas as formas de vidaformas de vidaformas de vidaformas de vidaformas de vida. A idéiabásica da hipótese Gaia é a de que a Terra oferece condições adequadas àvida, porque a própria vida mantém essas condições;

O Oceano Pacíficovisto de uma naveespacial. O equilíbrioexistente na biosferadeve ser preservadoporque dele dependea manutenção da vida.

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40A U L A l o desequilíbrio sócio-ecológicodesequilíbrio sócio-ecológicodesequilíbrio sócio-ecológicodesequilíbrio sócio-ecológicodesequilíbrio sócio-ecológico, existente hoje tanto no mundo desenvolvi-

do quanto no subdesenvolvido, é o resultado do modo pelo qual a naturezatem sido usada;

l a crise ambientalcrise ambientalcrise ambientalcrise ambientalcrise ambiental, que ameaça a sobrevivência da nossa própria espécie,exige uma nova relação sociedade-natureza;

l o aumento da consciência ecológicaconsciência ecológicaconsciência ecológicaconsciência ecológicaconsciência ecológica e as novas propostas para a questãoambiental são o resultado dessa busca - o equilíbrio entre desenvolvimentoe preservação da natureza.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Faça uma pequena redação tendo como tema a capa da revista Correio daUnesco, que mostra a Terra como um ser vivo.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Apresente dois problemas ambientais que preocupam o mundo desenvolvido.

Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Exercício 3Faça uma pesquisa em jornais e revistas e indique três agressões ambientaisocorridas na sua cidade, ou região, no último ano.

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Gabaritosdas aulas 21 a 40

Aula 21 - Quantos Brasis existem?Aula 21 - Quantos Brasis existem?Aula 21 - Quantos Brasis existem?Aula 21 - Quantos Brasis existem?Aula 21 - Quantos Brasis existem?1.1.1.1.1. O Brasil é, ao mesmo tempo, um dos países mais dinâmicos, do ponto de vista

dos indicadores econômicos, e um dos mais desiguais, do ponto de vista dadistribuição social da riqueza.

2.2.2.2.2. a)a)a)a)a) O “milagre brasileiro”.3.3.3.3.3. b)b)b)b)b) apesar do processo de crescimento da economia nacional, observa-se

que há uma progressiva concentração da renda, principalmente entre os10% mais ricos.

4.4.4.4.4. e)e)e)e)e) II e IV.

Aula 22 - Cultura ibérica e natureza tropicalAula 22 - Cultura ibérica e natureza tropicalAula 22 - Cultura ibérica e natureza tropicalAula 22 - Cultura ibérica e natureza tropicalAula 22 - Cultura ibérica e natureza tropical1.1.1.1.1. A América Latina, inclusive o Brasil, inseriu-se na economia mundial por

meio da exportação de produtos minerais e agrícolas para serem comer-cializados na Europa. Devido ao controle do centro mercantil europeu sobreo processo de colonização, pode-se dizer que a América Latina foi a maisantiga periferia da economia mundial.

2.2.2.2.2. c)c)c)c)c) Sistema de plantation.3.3.3.3.3. A extrema concentração da propriedade fundiária no Brasil, herdada do

período colonial, junto com o trabalho escravo, são alguns dos fatores queexplicam a desigual distribuição de renda.

Aula 23 - Uma fronteira em movimentoAula 23 - Uma fronteira em movimentoAula 23 - Uma fronteira em movimentoAula 23 - Uma fronteira em movimentoAula 23 - Uma fronteira em movimento1.1.1.1.1. A alternativa c)c)c)c)c) está correta.2.2.2.2.2. Para as metrópoles do Sudeste e, em menor número, para a fronteira

(Centro-Oeste e Amazônia).3.3.3.3.3. a)a)a)a)a) Novas oportunidades de emprego e/ou acesso à terra nas metrópoles ou

áreas de fronteira;b)b)b)b)b) Liberação de mão-de-obra rural a partir da modernização agrícola.

Aula 24 - Condomínios e favelas: a urbanização desigualAula 24 - Condomínios e favelas: a urbanização desigualAula 24 - Condomínios e favelas: a urbanização desigualAula 24 - Condomínios e favelas: a urbanização desigualAula 24 - Condomínios e favelas: a urbanização desigual1.1.1.1.1. Porque hoje mais de 75% da população brasileira vive e trabalha em cidades,

como resultado de um processo acelerado de urbanização que mudou a facedo país, nos últimos trinta anos.

2.2.2.2.2. Porque as metrópoles brasileiras concentram boa parte da produção industri-al e da oferta de serviços, embora também concentrem grande parte dapopulação carente, que procura, pelos mais diversos expedientes, sobrevivernas grandes metrópoles, disputando uma parcela dessa renda concentrada.

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3.3.3.3.3. A alternativa d)d)d)d)d) está errada, pois o processo de urbanização ainda continuaproduzindo mudanças.

Aula 25 - Cidade mundial, domínios e fronteirasAula 25 - Cidade mundial, domínios e fronteirasAula 25 - Cidade mundial, domínios e fronteirasAula 25 - Cidade mundial, domínios e fronteirasAula 25 - Cidade mundial, domínios e fronteiras1.1.1.1.1. e)e)e)e)e) Norte, Sudeste e Sul.2.2.2.2.2. Alternativas a)a)a)a)a) e c) c) c) c) c) são falsas; b)b)b)b)b) e d)d)d)d)d) são verdadeiras.3.3.3.3.3. A alternativa a)a)a)a)a) está errada.

Aula 26 - Centro Sul: o cinturão urbano-industrialAula 26 - Centro Sul: o cinturão urbano-industrialAula 26 - Centro Sul: o cinturão urbano-industrialAula 26 - Centro Sul: o cinturão urbano-industrialAula 26 - Centro Sul: o cinturão urbano-industrial1.1.1.1.1. As três alternativas estão corretas.2.2.2.2.2. Processo de metropolização, e ele consolidou grandes aglomerados urbanos

como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba,Salvador, Recife, Fortaleza e Belém.

3.3.3.3.3. a)a)a)a)a) As cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, e o eixo entre elas.b)b)b)b)b) Nessas cidades, o processo ocorreu devido aos fluxos intensos de merca-

dorias, pessoas e capitais, com uma crescente integração econômicadevido às relações nacionais e internacionais.

4.4.4.4.4. a)a)a)a)a) A criação de Brasília; b)b)b)b)b) a construção de rodovias de interligação regionale nacional; c)c)c)c)c) o avanço da agricultura tecnificada sobre os cerrados centrais.

Aula 27 – Nordeste: o domínio agrário-mercantilAula 27 – Nordeste: o domínio agrário-mercantilAula 27 – Nordeste: o domínio agrário-mercantilAula 27 – Nordeste: o domínio agrário-mercantilAula 27 – Nordeste: o domínio agrário-mercantil1.1.1.1.1. Os grandes proprietários rurais e comerciantes ainda dominam a economia

e a política regional, utilizando os favores do Estado para garantir seusinteresses em troca de apoio eleitoral. As secas, que atingem com maiorintensidade as populações pobres, servem para angariar recursos que, namaioria das vezes, destinam-se unicamente aos poderosos da região. Porisso eles têm interesse em manter a “indústria das secas”.

2.2.2.2.2. Os programas e projetos de desenvolvimento regional da Sudene permiti-ram a integração produtiva da economia nordestina ao mercado nacional.

3.3.3.3.3. Os grandes projetos, como o Pólo de Camaçari e o Proálcool, unificaram osmovimentos sociais de diferentes estados e trouxeram à tona os problemasecológicos do crescimento econômico a todo custo.

Aula 28 - Amazônia: a grande fronteiraAula 28 - Amazônia: a grande fronteiraAula 28 - Amazônia: a grande fronteiraAula 28 - Amazônia: a grande fronteiraAula 28 - Amazônia: a grande fronteira1.1.1.1.1. O aluno deve ser capaz de mostrar as iniciativas governamentais com a

extensão das redes técnicas, a colonização dirigida e os incentivos aosgrandes projetos agrícolas e de mineração, que foram implantados comoelementos para inserir a Amazônia nas economias nacional e internacional.

2.2.2.2.2. Os incentivos fiscais concedidos na Zona Franca de Manaus foram respon-sáveis pela concentração da indústria de eletroeletrônicos na Amazônia, oque explica também a concentração de população do Estado do Amazonasna cidade de Manaus, na busca de emprego nas atividades relacionadas àZona Franca.

3.3.3.3.3. Pará e Maranhão. A ferrovia possibilita a exportação do minério de ferrode Carajás.

Aula 29 - A sustentabilidade do desenvolvimento brasileiroAula 29 - A sustentabilidade do desenvolvimento brasileiroAula 29 - A sustentabilidade do desenvolvimento brasileiroAula 29 - A sustentabilidade do desenvolvimento brasileiroAula 29 - A sustentabilidade do desenvolvimento brasileiro1.1.1.1.1. O desenvolvimento social pressupõe maior eqüidade na distribuição de renda,

isto é, com menor custo social e maior participação na tomada de decisões.2.2.2.2.2. A proposta de desenvolvimento sustentável procura conciliar o uso racional

dos recursos ecológicos com o combate à pobreza porque entende que amiséria e a falta de abrigo e sustento é o principal problema ambiental doplaneta Terra.

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3.3.3.3.3. Porque a floresta pluvial amazônica representa um imenso estoque debiodiversidade, que pode contribuir para o conhecimento científico-tecnológico e o desenvolvimento da biotecnologia.

Aula 30 - O Brasil e o desafio latino-americanoAula 30 - O Brasil e o desafio latino-americanoAula 30 - O Brasil e o desafio latino-americanoAula 30 - O Brasil e o desafio latino-americanoAula 30 - O Brasil e o desafio latino-americano1.1.1.1.1. O mapa A mostra os corredores de exportação do sul do Brasil, direcionados para

concorrer com o países vizinhos, principalmente com o porto de Buenos Aires.O mapa B revela a nova integração econômica do Cone Sul.

2.2.2.2.2. a)a)a)a)a) O Mercosul é uma iniciativa de integração regional que consolida ummercado unificado entre os países membros e possibilita a livre circulaçãode bens e serviços. A inexistência de um mercado consolidado e integradoexplica o fracasso da Alalc.

b)b)b)b)b) As mudanças nas estruturas desses países pelos efeitos do mercadounificado serão particularmente intensas, principalmente nos respecti-vos complexos agro-industriais.

3.3.3.3.3. A integração econômica por uma zona de livre comércio pode contribuir,devido ao grande potencial ao desenvolvimento da região, para aumentarsua participação no comércio mundial.

Aula 31 - O meio técnico-científico e o papel da informaçãoAula 31 - O meio técnico-científico e o papel da informaçãoAula 31 - O meio técnico-científico e o papel da informaçãoAula 31 - O meio técnico-científico e o papel da informaçãoAula 31 - O meio técnico-científico e o papel da informação1.1.1.1.1. Entre 1850 e 1930, numerosas inovações técnicas foram desenvolvidas como

meio de transporte e de comunicação para a expansão capitalista, tais comoo barco a vapor, a estrada de ferro, o telégrafo, o telefone e o avião. Vencendobarreiras espaciais, pareciam encolher o mundo dos homens, permitindoum extraordinária mobilidade de mercadorias, pessoas e informação. Apartir de 1970, o avanço técnico-informacional, com a invenção do microchipe de sistemas aperfeiçoados de comunicação por satélite, levou à compres-são do tempo e do espaço, servindo para a circulação da informação, mas,principalmente, alterando o sistema produtivo e financeiro.

2.2.2.2.2. O aumento de volume dos produtos transportados exige navios cada vezmaiores e portos cada vez mais equipados. As mercadorias de pequeno volumee maior valor são transportadas em contêineres. A mecanização dos portos, amodernização dos navios e conteinerização contribuem para a maior eficiênciana carga e descarga das mercadorias, com menor utilização de mão-de-obra.

3.3.3.3.3. Resposta pessoal.

Aula 32 - Robôs e engenheiros: para onde vão os operários?Aula 32 - Robôs e engenheiros: para onde vão os operários?Aula 32 - Robôs e engenheiros: para onde vão os operários?Aula 32 - Robôs e engenheiros: para onde vão os operários?Aula 32 - Robôs e engenheiros: para onde vão os operários?1.1.1.1.1. Porque o avanço tecnológico e a competição entre as empresas pela maior

produtividade exigem qualificação cada vez maior da mão-de-obra. Osgrandes investimentos de capital necessários para a utilização de tecnolo-gias modernas reduzem a participação da mão-de-obra.

2.2.2.2.2.

FordismoFordismoFordismoFordismoFordismo

salários ascendentes

em sindicatos fortes

interfere na economia e garante

o bem-estar social

grandes concentrações urbano-

industriais

Pós-fordismoPós-fordismoPós-fordismoPós-fordismoPós-fordismo

salários flexíveis - altos para

os qualificados, baixos para

menos qualificados

menor força sindical

interfere menos na economia

e já não garante tanto o bem-

estar social

tendência à dispersão

RemuneraçãoRemuneraçãoRemuneraçãoRemuneraçãoRemuneração

Organização dos trabalhadores

Papel do Estado

Organização do espaço

Page 115: Telecurso 2000 - Geografia - volume 2

3.3.3.3.3. a)a)a)a)a) A estratégia da operação da Toyota para o mercado mundial divide oprocesso produtivo em diversas localizações e o integra por meio docontrole da matriz, no Japão.

b)b)b)b)b) Devido à proximidade geográfica do Japão e por apresentarem disponi-bilidade de mão-de-obra e um mercado consumidor em expansão.

Aula 33 - O sistema financeiro global e os limites do Estado-naçãoAula 33 - O sistema financeiro global e os limites do Estado-naçãoAula 33 - O sistema financeiro global e os limites do Estado-naçãoAula 33 - O sistema financeiro global e os limites do Estado-naçãoAula 33 - O sistema financeiro global e os limites do Estado-nação1.1.1.1.1. a)a)a)a)a) É a realidade da globalização financeira. Hoje, o mundo é um só, em

termos de movimento de capitais financeiros.b)b)b)b)b) Os jogadores de dardos, que são os investidores, estão felizes porque

podem investir em qualquer parte do mundo que lhes garanta lucros.A desregulamentação dos mercados financeiros nacionais ampliousignificativamente as áreas de investimento. Os dardos que chegamvelozmente aos alvos podem ser comparados aos computadores, faxes etelecomunicações, que permitem que as informações circulem rapida-mente entre os lugares, acelerando, assim, a atuação dos investidores.

2.2.2.2.2. Quando o sistema monetário internacional se baseia numa moeda forte, deuma economia forte, como era o caso do dólar americano nas décadas de 1940e 1950, ocorre uma estabilidade monetária, pois todos os países têm a mesmamoeda forte e estável como referência para as trocas (câmbio) de suasmoedas. Além disso, sabe-se o montante de dólares, estáveis, existentes nomundo e controla-se o volume de capitais em circulação no mundo. Osfinanciamentos são feitos com base na moeda estável. Quando o sistemamonetário deixa de ser estável, os governos perdem o controle das taxas decâmbio e do volume de dinheiro em circulação. Especula-se com moedas ecom vários mecanismos especulativos financeiros.

3.3.3.3.3. Resposta pessoal.

Aula 34 - Ritmos e movimentos da população mundialAula 34 - Ritmos e movimentos da população mundialAula 34 - Ritmos e movimentos da população mundialAula 34 - Ritmos e movimentos da população mundialAula 34 - Ritmos e movimentos da população mundial1.1.1.1.1. a)a)a)a)a) A pirâmide apresenta uma base larga que se estreita rapidamente, indican-

do a ocorrência paralela de altas taxas de natalidade e mortalidade no país.b)b)b)b)b) Inicialmente, acentuada redução da mortalidade e o declínio da taxa de

fecundidade, levando ao envelhecimento da população do país.2.2.2.2.2. a)a)a)a)a) As enormes disparidades econômicas entre os países industrializados

e os países desenvolvidos.b)b)b)b)b) Os migrantes procuram empregos e melhores níveis de remuneração

e de proteção social.3.3.3.3.3. Resposta pessoal.

Aula 35 - A energia vital: os recursos naturais são inesgotáveis?Aula 35 - A energia vital: os recursos naturais são inesgotáveis?Aula 35 - A energia vital: os recursos naturais são inesgotáveis?Aula 35 - A energia vital: os recursos naturais são inesgotáveis?Aula 35 - A energia vital: os recursos naturais são inesgotáveis?1.1.1.1.1. a)a)a)a)a) A evapotranspiração (E), que corresponde ao total da precipitação (P) menos

o escoamento para o lençol subterrâneo e a rede pluvial (Q), é composta pelaevaporação da água interceptada pela copa das árvores (I) mais o vapord’água transferido para a atmosfera pela transpiração das plantas.

b)b)b)b)b) A redução da evapotranspiração e conseqüentemente da quantidade deágua que retorna da atmosfera, altera a distribuição das chuvas; oaumento da quantidade de água escoada à superfície reduz a infiltraçãono solo e altera a descarga nos rios.

2.2.2.2.2. Uma alternativa foi a utilização crescente de outras fontes de energia como,por exemplo, a retomada do consumo do carvão e a expansão do empregoda energia nuclear. Outra alternativa foi a abertura de novas regiões produ-toras, como a do Mar do Norte, e a entrada no mercado de novos paísesprodutores como a União Soviética e a China.

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3.3.3.3.3. a)a)a)a)a) A população brasileira está seriamente ameaçada pelas moléstias detransmissão hídrica devido à deficiência dos serviços básicos como oabastecimento de água e principalmente esgoto sanitário.

b)b)b)b)b) O atendimento dos serviços de saúde pública é particularmente grave nasRegiões Norte e Nordeste, onde a rede de esgotos sanitários atende,respectivamente, apenas a 3,46% e 11,75% da população, transformandoessas regiões em áreas vulneráveis às moléstias de propagação hídrica.

Aula 36 - Alimentos, matérias-primas e biotecnologia: o papel do campoAula 36 - Alimentos, matérias-primas e biotecnologia: o papel do campoAula 36 - Alimentos, matérias-primas e biotecnologia: o papel do campoAula 36 - Alimentos, matérias-primas e biotecnologia: o papel do campoAula 36 - Alimentos, matérias-primas e biotecnologia: o papel do campo1.1.1.1.1. A agricultura e a indústria estabeleceram vínculos contratuais - financia-

mentos, equipamentos, cadeias de distribuição -, formando conglomeradosque controlam desde a produção de sementes até a distribuição dos produ-tos já empacotados ou enlatados.

2.2.2.2.2. O agricultor, hoje, tem a possibilidade de corrigir as condições do solomediante análises químicas que indicam as deficiências e necessidades dosolo. O uso de fertilizantes permite corrigir ou restabelecer as qualidades dosolo. Já as condições do clima, até agora, não podem ser alteradas. Por issoo agricultor "compra" o clima, pois são as condições do clima que vão ditaro ritmo das atividades agrícolas.

3.3.3.3.3. PositivasPositivasPositivasPositivasPositivas - aumentar a produção agrícola; eliminar doenças e pragase oferecer novos produtos.NegativasNegativasNegativasNegativasNegativas - suprimir grande número de empregos; acentuar ainda maiso desnível entre ricos e pobres.

Aula 37 - Para além da polarização: os novos blocos políticosAula 37 - Para além da polarização: os novos blocos políticosAula 37 - Para além da polarização: os novos blocos políticosAula 37 - Para além da polarização: os novos blocos políticosAula 37 - Para além da polarização: os novos blocos políticos1.1.1.1.1. O aluno pode desenvolver, entre outras, as seguintes idéias:

l O conflito ideológico e estratégico entre as duas superpotências queprocuravam manter e expandir suas áreas de influência.

l A crescente corrida armamentista, com a criação de alianças militares deapoio.

l A formação, por um grupo de países, de um terceiro bloco que resistia aoalinhamento imediato às superpotências e que deu origem ao chamadoTerceiro Mundo.

2.2.2.2.2. O aluno deve apresentar, entre outras, as seguintes tendências:l A multipolaridade do poder econômico.l A estratégia norte-americana para a América Latina é a de formalizar um

mercado de livre comércio em todo o continente.l A União Européia é pressionada por um número cada vez maior de países

interessados em ingressar no bloco europeu.l A formação dos megablocos norte-americano, europeu e asiático consti-

tui uma nova forma de regionalização.l A Alemanha e o Japão, fortalecidos econômica e financeiramente, são

hoje importantes centros de decisões políticas e econômicas.3.3.3.3.3. O aluno pode apresentar, entre outras, as seguintes estratégias:

l A transferência das indústrias tradicionais, grandes consumidoras demão-de-obra e de matéria-prima, para o leste e sudeste da Ásia.

l A formação do megabloco do Pacífico, graças aos investimentos decapital e à transferência de tecnologia japoneses.

l Aplicação da reengenharia nas empresas japonesas atingindo o máximode eficiência do seu sistema produtivo.

l Associações entre grandes empresas japonesas e norte-americanas.

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Aula 38 - A pobreza das nações: onde ficou o desenvolvimento?Aula 38 - A pobreza das nações: onde ficou o desenvolvimento?Aula 38 - A pobreza das nações: onde ficou o desenvolvimento?Aula 38 - A pobreza das nações: onde ficou o desenvolvimento?Aula 38 - A pobreza das nações: onde ficou o desenvolvimento?1.1.1.1.1. O aluno deve indicar, entre outros:

· o PIB, que é um indicador de renda e do nível de vida real da população;· o consumo de energia;· os indicadores culturais (número de livros publicados por ano; o acesso

à informação, porcentagem de adultos analfabetos);· a quantidade de calorias ingerida por dia;· o acesso à água tratada e a instalações sanitárias adequadas.

2.2.2.2.2. O aluno deve indicar, entre outras: as condições naturais hostis e a inferio-ridade dos "povos de cor" diante da "Europa branca"; a exploração colonialque, por causa das trocas desiguais, teria transferido para as metrópolesgrande parte da riqueza produzida; a ação das elites dos próprios países queimpedem as reformas modernizadoras.

3.3.3.3.3. O pagamento de juros e compromissos financeiros representava, em média,25% do valor das exportações, o que restringia os recursos públicos parainvestimento em educação, saúde e saneamento básico, agravando aindamais o quadro de pobreza da América Latina.

Aula 39 - O ovo da serpente: a cultura da violênciaAula 39 - O ovo da serpente: a cultura da violênciaAula 39 - O ovo da serpente: a cultura da violênciaAula 39 - O ovo da serpente: a cultura da violênciaAula 39 - O ovo da serpente: a cultura da violência1.1.1.1.1. O aluno deve ser capaz de identificar no texto diferentes manifestações de

pobreza e desigualdade de renda.2.2.2.2.2. Os atos de violência contra imigrantes turcos na Alemanha; africanos na

França e na Inglaterra. As mudanças recentes nas leis de imigração, tornan-do cada vez mais restritiva a entrada de imigrantes nesses países.

3.3.3.3.3. Resposta pessoal.

Aula 40 - O embrião de Gaia: a ecologia como utopia planetáriaAula 40 - O embrião de Gaia: a ecologia como utopia planetáriaAula 40 - O embrião de Gaia: a ecologia como utopia planetáriaAula 40 - O embrião de Gaia: a ecologia como utopia planetáriaAula 40 - O embrião de Gaia: a ecologia como utopia planetária1.1.1.1.1. Resposta pessoal.2.2.2.2.2. O aluno deve indicar, entre outros problemas: chuvas ácidas; buraco na

camada de ozônio; doenças provocadas pelo excesso de álcool ou pelo usode drogas; as montanhas de lixo etc.

3.3.3.3.3. Resposta pessoal.