30
TEMAS IMPRESCINDÍVEIS PARA A

TEMAS IMPRESCINDÍVEIS PARA A - planodiretor.mprs.mp.brplanodiretor.mprs.mp.br/arquivos/cartilha.pdf · Regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população

Embed Size (px)

Citation preview

M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L 1

TEMAS IMPRESCINDVEIS PARA A

FICHA TCNICA SUMRIO

Coordenao Geral e Reviso de Contedo:

DBORA MENEGAT

Promotora de Justia Coordenadora do Centro de Apoio Operacional

da Ordem Urbanstica e Questes Fundirias do Ministrio Pblico do Rio Grande do Sul.

MAIO 2017

I - MP/RS CAOURB

DBORA MENEGAT, PROMOTORA DE JUSTIA COORDENADORA

FERNANDA MACHADO OLIVEIRA, ASSESSORA JURDICA

MANOELA CASTRO DINIZ TARRAG, ASSESSORA JURDICA

ANELISE NARDI HFFNER, ENGENHEIRA AMBIENTAL

ANDR HUYER, ARQUITETO E URBANISTA,

EDNA KLEINERT, ASSESSORA ADMINISTRATIVA

PAOLA DA ROSA FILANDRO, ESTAGIRIA

II demais integrantes:

ELENIS CORREA, TCE-RS

HERMES PURICELLI E JOAQUIM HAAS, CAU- RS

ROBERSON JEAN CARDOSO, FAMURS

LIVIA PICCININI, UFRGS/PROPUR

MARIA TEREZA FORTINI ALBANO, IAB-RS

MARCELO LANDVOLGT LORENZI, OAB-RS

DEYVID MONTEIRO E GILDA JOBIM, METROPLAN

CREA-RS

TELEFONES: (051) 3295. 1177

EMAIL: [email protected]

IMAGENS

ANDR HUYER

CAPA E DIAGRAMAO

ASSESSORIA DE IMAGEM INSTITUCIONAL MPRS

Equipe de Elaborao e Colaboradores:

22

28

32

5

7

11

12

PARTE I

APRESENTAO

ASPECTOS LEGAIS

O que o PLANO DIRETOR?

O que a GESTO DEMOCRTICA?

PARTE II

Instrumentos de Induo do Desenvolvimento Urbano

PARCELAMENTO, EDIFICAO OU UTILIZAO COMPULSRIOS

IPTU PROGRESSIVO NO TEMPO

DESAPROPRIAO COM PAGAMENTO MEDIANTE TTULOS DA DVIDA PBLICA

DIREITO DE PREEMPO

OUTORGA ONEROSA DO DIREITO DE CONSTRUIR

TRANSFERNCIA DO DIREITO DE CONSTRUIR

OPERAES URBANAS CONSORCIADAS

INSTRUMENTOS DE REGULARIZAO FUNDIRIA

ZEIS

USUCAPIO ESPECIAL DO IMVEL URBANO

CONCESSO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA - CUEM

CONCESSO DE DIREITO REAL DE USO - CDRU

EIV

INSTRUMENTOS QUE DEVEM SER REGULADOS NO PLANO DIRETOR

aspectos introdutrios

22

23

23

24

25

26

26

28

30

31

31

35

40

45

55

PARTE III

conflitos mais frequentes nas cidades

INSTITUTO DO ABANDONO

CONFLITOS DE USO E MISCIGENAO

DEGRADAO DE REAS URBANIZADAS

CIDADE COMPACTA

Temas especficos

PATRIMNIO CULTURAL

REGIES METROPOLITANAS

CONTRIBUIO DE MELHORIA

Interfaces com Polticas Setoriais

MOBILIDADE URBANA E ACESSIBILIDADE

SANEAMENTO

POLTICA DE PROTEO DOS RECURSOS HIDRICOS

POLTICA HABITACIONAL

REAS DE RISCO E DE PRESERVAO AMBIENTAL

Referncias

TEMAS SELECIONADOS

35

36

37

38

40

41

43

45

48

49

51

52

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L 5

A partir da dcada de 1950 o Brasil viu florescer um rpido crescimento de suas cidades, de modo que, hoje, mais de 84% da populao brasileira concentra-se nos centros urbanos (Censo, 2010). Facilmente se percebe que este crescimento no veio seguido de uma viso estratgica de planejamento urbano, o que, aliado a fatores polticos e econmicos, determinou um formato de cidades sem equidade e sustentabilidade, conformado pela expanso desenfreada, pela falta de uma poltica habitacional e de desenvolvimento urbano que conduzisse produo de moradias para populao de baixa renda em reas dotadas de infraestrutura e servios, pela absoluta nfase no transporte individual motorizado e pela corrente interveno nas caractersticas naturais do territrio. Como consequncia, os espaos urbanos precarizam-se, sentindo-se seus efeitos, desde os centros maiores at os pequenos, de muitas formas, sendo as mais lamentadas pela sociedade a falta de segurana e de servios bsicos.

Por comando constitucional, o Municpio quem tem a responsabilidade de executar a poltica de desenvolvimento urbano, promovendo o adequado ordenamento territorial, por meio do planejamento e do controle dos usos, do parcelamento e da ocupao do solo urbano (artigo 30, VIII, CF/88).

O principal instrumento de planejamento da poltica

de desenvolvimento urbano e de expanso urbana o PLANO DIRETOR, artigo 182, 1, da CF/88, obrigatrio para Municpios acima de 20 mil habitantes1 e/ou inseridos no rol do art. 41 da Lei 10.257/01.

Ao Plano Diretor, em ateno aos primados democrticos e de justia social, incumbida a tarefa de estabelecer normas de interesse pblico, de acordo com as diretrizes da poltica urbana, cujo objetivo de ordenar o pleno desenvolvimento das funes sociais da cidade, nas dimenses dos direitos sociais a habitar, circular, trabalhar e de lazer, e estabelecer os critrios e normas condicionadoras para o exerccio da funo social da propriedade.

O planejamento urbano um processo que, com a participao efetiva da populao, propicia impactos positivos na qualidade de vida urbana, contribuindo para a melhora de ndices de sade, educao, gerao de emprego e renda, alm de ser poderosa ferramenta para fazer frente violncia urbana.

No por outro motivo que a Constituio Federal d ao planejamento urbano extrema importncia, apesar de, no pas, ainda no ser bem compreendido, nem praticado. Na contemporaneidade, ademais, postula-se cada vez mais uma maior efetividade das polticas pblicas urbanas, que devem ser compatibilizadas no plano diretor, a exemplo da mobilidade

1 Conforme artigo 182, 1, da CF/88.

APRESENTAO

PARTE Iaspectos introdutrios

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L6 7

urbana sustentvel, habitao de interesse social, universalizao do acesso ao saneamento bsico, dentre outras. O Plano Diretor , portanto, o elemento central para o enfrentamento dos problemas urbanos, contribuindo para a reduo das desigualdades sociais e para melhorias nas condies de vida urbana.

Sem descurar da sua implantao, o grande e no to novo desafio dos Planos Diretores est em ser elaborado com ateno s diretrizes da poltica urbana e com a efetiva participao da populao, conferindo-lhes legitimidade, consolidando-se uma gesto democrtica. Conhecer e discutir a realidade, com a participao dos habitantes na conduo do destino da cidade, para poder oper-la.

Outra dificuldade que se coloca a oramentria, exigindo uma maior eficincia na gesto pblica. O Estatuto da Cidade - Lei Federal n 10.257/2001 - disponibiliza aos Municpios diversos instrumentos de gesto urbana, que devem ser disciplinados e aproveitados em benefcio da populao local para melhorar as condies de vida das nossas cidades e evitar a degradao urbana. Urge que os instrumentos disponveis para seu alcance

sejam utilizados com finalidade pblica.A perspectiva atual de reviso dos Planos Diretores para

uma boa parte de Municpios. O momento, portanto, o propcio para revitalizar conceitos, reaproximar-se das diretrizes da poltica urbana, fortalecer institutos democrticos, revisando e revendo prioridades e os rumos das cidades.

A proposta da presente cartilha, nesse contexto, advm de um esforo de diversas instituies MPRS, TCE, FAMURS, CAU-RS, CREA-RS, UFRGS-PROPUR, IAB-RS, OAB-RS e METROPLAN - que comungam da ateno e preocupao quanto adequada formulao e execuo da poltica urbana. Elaborada de forma colaborativa e aberta, podendo ser complementada e periodicamente atualizada, o intuito , quando da formulao e reviso dos Planos Diretores, servir como ferramenta indicativa dos problemas mais recorrentes nas cidades, que merecem ser superados, reforando a ateno a gestores, legislativos e sociedade em geral, para avanos necessrios, em processos, contedos mnimos e instrumentos da poltica urbana que no podem ser preteridos na sua elaborao.

EMBASAMENTO LEGAL:

Constituio Federal de 1988 art. 30, VIII, e art. 182. Estatuto da Cidade Lei n. 10.257/01Lei Estadual de Desenvolvimento Urbano - Lei n 10.116/94

OBRIGATORIEDADE (ART. 41 DA LEI N.10.257/01):

Municpios acima de 20 mil habitantes;

Municpios integrantes de regies metropolitanas e aglomeraes urbanas;

Municpios onde o Poder Pblico municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no 4. do artigo 182 da Constituio Federal;

Municpios integrantes de reas de especial interesse turstico;

Municpios inseridos em rea de influncia de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de mbito regional ou nacional;

Municpios includos no cadastro nacional de Municpios com reas suscetveis ocorrncia de deslizamentos de grande impacto, inundaes bruscas ou processos geolgicos ou hidrolgico correlatos.

PRAZOS:

ELABORAO:

Municpios enquadrados na obrigao prevista nos incisos I e II do art. 41 e que no possuam plano diretor na entrada em vigor do Estatuto da Cidade, devem ter elaborados seus planos diretores at a data limite de 30 de junho de 2008 (art. 50, Lei 10.257/01).

Municpios includos no cadastro nacional de Municpios com reas suscetveis ocorrncia de desastres (inciso VI do art. 41) e que no tenham plano diretor aprovado: prazo 5 anos (art. 42-A, 4, Lei 10.257/01)

REVISO:

Planos Diretores devem ser revisados, pelo menos, a cada 10 anos art. 40, 3, da Lei n. 10.257/01 -.

No cumprimento dos prazos: art. 52, VII, da Lei n.10.257/01

ASPECTOS LEGAIS

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L8 9

CONTEDO MNIMO OBRIGATRIO:

a delimitao das reas urbanas onde poder ser aplicado o parcelamento, edificao ou utilizao compulsrios, considerando a existncia de infraestrutura e de demanda para utilizao, na forma do art. 5 da Lei n. 10.257/01;

disposies requeridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 da Lei n. 10.257/01;

sistema de acompanhamento e controle;

mapeamento de reas de risco, parmetros de parcelamento, uso e ocupao do solo e outras medidas previstas no art. 42-A da Lei n. 10.257/01 (art. 42-A, 3.)

em caso de ampliao de permetro urbano: Art. 42-B da Lei n.10.257/01

CONTEDO MNIMO OBRIGATRIO - EXIGIDO POR OUTRAS NORMAS

CONTEDO MNIMO RECOMENDADO

DIRETRIZES DA POLTICA URBANA: ART. 2 DA LEI N 10.257/01

Garantia do direito a cidades sustentveis, entendido como o direito terra urbana, moradia, ao saneamento ambiental, infraestrutura urbana, ao transporte e aos servios pblicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras geraes;

Gesto democrtica por meio da participao da populao e de associaes representativas dos vrios segmentos da comunidade na formulao, execuo e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;

Cooperao entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanizao, em atendimento ao interesse social;

Planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuio espacial da populao e das atividades econmicas do Municpio e do territrio sob sua rea de influncia, de modo a evitar e corrigir as distores do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;

Oferta de equipamentos urbanos e comunitrios, transporte e servios pblicos adequados aos interesses e necessidades da populao e s caractersticas locais;

Ordenao e controle do uso do solo, de forma a evitar:

- a utilizao inadequada dos imveis urbanos;- a proximidade de usos incompatveis ou inconvenientes;- o parcelamento do solo, a edificao ou o uso excessivos ou

inadequados em relao infraestrutura urbana;- a instalao de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como polos geradores de trfego, sem a previso da infraestrutura correspondente;- a reteno especulativa de imvel urbano, que resulte na sua subutilizao ou no utilizao;- a deteriorao das reas urbanizadas; - a poluio e a degradao ambiental; - a exposio da populao a riscos de desastres

Integrao e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconmico do Municpio e do territrio sob sua rea de influncia;

Adoo de padres de produo e consumo de bens e servios e de expanso urbana compatveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econmica do Municpio e do territrio sob sua rea de influncia;

Justa distribuio dos benefcios e nus decorrentes do processo de urbanizao;

Adequao dos instrumentos de poltica econmica, tributria e financeira e dos gastos pblicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruio dos bens pelos diferentes segmentos sociais;

Recuperao dos investimentos do Poder Pblico de que tenha resultado a valorizao de imveis urbanos;

Proteo, preservao e recuperao do meio ambiente natural

e construdo, do patrimnio cultural, histrico, artstico, paisagstico e arqueolgico;

Audincia do Poder Pblico municipal e da populao interessada nos processos de implantao de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construdo, o conforto ou a segurana da populao;

Regularizao fundiria e urbanizao de reas ocupadas por populao de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanizao, uso e ocupao do solo e edificao, consideradas a situao socioeconmica da populao e as normas ambientais;

Simplificao da legislao de parcelamento, uso e ocupao do solo e das normas edilcias, com vistas a permitir a reduo dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais;

Isonomia de condies para os agentes pblicos e privados na promoo de empreendimentos e atividades relativos ao processo de urbanizao, atendido o interesse social.

Estmulo utilizao, nos parcelamentos do solo e nas edificaes urbanas, de sistemas operacionais, padres construtivos e aportes tecnolgicos que objetivem a reduo de impactos ambientais e a economia de recursos naturais.

Tratamento prioritrio s obras e edificaes de infraestrutura de energia, telecomunicaes, abastecimento de gua e saneamento.

https://www.mprs.mp.br/media/areas/urbanistico/arquivos/pd_conteudo_minimo_obrigatorio.pdfhttps://www.mprs.mp.br/media/areas/urbanistico/arquivos/pd_conteudo_minimo_obrigatorio.pdfhttps://www.mprs.mp.br/media/areas/urbanistico/arquivos/pd_conteudo_minimo_recomendado.pdf

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L10 11

OUTROS PLANOS QUE DEVEM SER ARTICULADOS COM O PLANO DIRETOR:

Plano Diretor Urbano Integrado (PDUI) do Estatuto da Metrpole (Lei n. 13.089/2015)

Plano Municipal de Gesto Integrada de Resduos Slidos (Lei n 12.305/2010)

Plano Municipal de Saneamento Bsico (Lei n 11.445/2007)

Plano de Mobilidade Urbana ( Lei n. 12.587/2012)

Plano Municipal da Habitao de Interesse Local (Lei n. 11.124/05)

Plano de Defesa Civil (Lei n.12. 608/2012)

Plano de Recursos Hdricos (Lei n. 9.433/1997)

COMPATIBILIDADE ENTRE PLANO DIRETOR E POLTICAS SETORIAIS:

LEIS DE ORDENAMENTO

TERRITORIAL

PLANO DE GESTO

INTEGRADA DE RESDUOS SLIDOS

PLANO DIRETOR

PLANO DE SANEAMENTO

PLANO DE RECURSOS HDRICOS

PLANO DE MOBILIDADE

URBANA

PLANO DE HABITAO DE

INT. SOCIAL

PLANO DE DEFESA CIVIL

O Plano Diretor, instrumento bsico da poltica de desenvolvimento urbano, deve integrar o Municpio como um todo, rea urbana e rural. o projeto de cidade que se viabiliza no tempo e que, portanto, muito importante ser conhecido e defendido pela populao. o documento que explicita as polticas de ordenamento territorial, articulando polticas setoriais como a de saneamento bsico e mobilidade urbana, devendo o plano plurianual, as diretrizes oramentrias e o oramento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas (art. 40, pargrafo primeiro, do Estatuto da Cidade).

Ele no um mero instrumento de controle do uso do solo. mais do que isso, um instrumento que introduz o desenvolvimento sustentvel das cidades brasileiras. Fonte: Plano Diretor Participativo, Guia

para Elaborao pelos Municpios e cidados. 2 edio, Braslia. Ministerio das Cidades; CONFEA

O Plano Diretor deve: (I) indicar os objetivos a alcanar; (II) explicitar as estratgias e instrumentos para atingir os objetivos e (III) oferecer todos os instrumentos necessrios para que estes objetivos sejam cumpridos.

Para orientar os investimentos estruturais, deve explicitar o papel e atuao dos agentes pblicos e privados envolvidos, de forma pactuada, prevendo critrios e formas pelos quais sero aplicados os instrumentos urbansticos e tributrios e as aes estratgicas a serem implementadas.

Cada Municpio deve escolher, dentre os instrumentos previstos no Estatuto da Cidade, aqueles que mais ampliem as condies favorveis para financiar o desenvolvimento urbano (Outorga Onerosa do Direito de Construir, Transferncia do Direito de Construir, etc.)

O que o PLANO DIRETOR?

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L12 13

O Plano Diretor deve explicitar de forma clara qual o objetivo da poltica urbana, para que se estabeleam as funes para cada rea da cidade, elegendo prioridades, diretrizes e estratgias, partindo de um amplo processo de leitura da realidade local, envolvendo os diversos setores da sociedade.

O envolvimento ativo da comunidade nesse processo crucial. Desde a realizao do diagnstico, debates, at a escolha de solues para a cidade, o que traz efetividade, organizao, receptividade e fiscalizao social ao planejamento urbano. No por outro motivo que legalmente exigido nos termos do artigo 40, pargrafo 4, incisos I a III, do Estatuto da Cidade.

Reconhece-se a importncia da participao da populao na formulao do plano diretor, bem como na fiscalizao de sua implementao, j que somente assim ser possvel a realizao dos anseios e desejos das diferentes regies e classes pertencentes ao espao. O artigo 42, do Estatuto da Cidade, exige que o plano diretor contenha um sistema de acompanhamento e controle.

Quando a sociedade participa dos problemas e acompanha a escolha e implantao das solues, entendendo-as e valorizando-as, o efeito prtico de toda e qualquer melhoria na cidade potencializado.

No se pode esquecer que so as pessoas que fazem a

cidade: administram seus resduos, utilizam a infraestrutura bsica e os espaos pblicos, implantam solues de esgotamento sanitrio quando inexistente rede, executam caladas, sentem o impacto positivo e negativo dos empreendimentos e edificaes, circulam no espao pblico como pedestres, ciclistas, passageiros, condutores de veculos automotores, so vtimas dos congestionamentos, dos acidentes de trnsito, da poluio do ar e da gua, dos alagamentos decorrentes das falhas de drenagem urbana, dos vetores decorrentes da ausncia de adequado saneamento, da violncia urbana, do uso inadequado do solo, etc.

A participao popular afigura-se, portanto, como uma das garantias do Estado Democrtico de Direito, sendo necessrio que, para sua efetivao, o Poder Pblico oferea condies para que a sociedade exera, plenamente, a cidadania, entendida como a realizao dos direitos e deveres previstos pelo ordenamento.

O Estatuto da Cidade estabelece um elenco de

instrumentos de participao: rgos colegiados

nos nveis nacional, estadual e municipal; debates,

audincias e consultas pblicas; conferncias

sobre assuntos de interesse urbano, nos nveis

nacional, estadual e municipal; iniciativa

popular de projeto de lei e de planos,

programas e projetos de desenvolvimento

urbano art. 43 do Estatuto da Cidade.

Os CONSELHOS gestores municipais constituem-se uma das formas de participao do cidado na deciso sobre os rumos da cidade, pois articulam representantes da populao e membros do poder pblico em prticas de planejamento e de gesto da cidade. So institudos atravs de Lei Orgnica. O rgo colegiado deve participar de todo o processo de deciso at o estabelecimento das metas a serem transpostas no plano diretor daquela localidade.

A institucionalizao dos conselhos requer pensar as perspectivas presentes, do Estado e da sociedade civil, para compreendermos o desenvolvimento da cultura de participao na gesto da coisa pblica. O seu potencial democrtico depende da concepo de democracia, de participao e de cidadania dos conselheiros (de seus representados).

Os conselhos institudos pelo Estado devem ter a participao de representantes do Poder Pblico e da sociedade nos termos recomendados na Resoluo n 13, de 16 de junho de 2004, na Resoluo n 25, de 18 de maro de 2005 e na Resoluo Recomendada n 34, de 01 de julho de 2005, alterada pela Resoluo Recomendada n 164, de 26 de maro de 2014, todas do Conselho das Cidades.

J as CONFERNCIAS de poltica urbana foram concebidas como grandes encontros, de realizao peridica, buscando significativa participao popular, onde devem ser definidas polticas e plataformas de desenvolvimento urbano para o perodo subsequente. Estes eventos devem ser cada vez mais incentivados e podem ser decisivos para poltica urbana, pois neles que so alinhavados os consensos e pactos entre o poder pblico e os diversos segmentos da sociedade.

Os DEBATES, CONSULTAS E AUDINCIAS PBLICAS constituem-se em oportunidades para amplas apresentaes e discusses, com vistas exposio, anlise e debate, pelos diversos setores da sociedade, de projetos de interesse coletivo, ou mesmo de iniciativas privadas. O art. 8, da Resoluo n 25, do Conselho das Cidades, define requisitos mnimos para as audincias pblicas de debate na etapa de elaborao do plano, enquanto que o art. 10, do mesmo diploma normativo, define

A participao da sociedade, debatendo em suas organizaes, dialogando com o Estado e realizando o controle social, muito importante para garantir que as polticas pblicas atendam, de fato, s necessidades da populao, melhorando os nveis de oferta e de qualidade dos servios e a fiscalizao da aplicao dos recursos pblicos.

O que a GESTO DEMOCRTICA?

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L14 15

como se dar a participao da comunidade, mediante prvia escolha de representantes de diversos segmentos da sociedade e das divises territoriais do municpio, os quais acompanharo a anlise da proposta na condio de delegados.

O processo participativo de elaborao do plano diretor deve assegurar a publicidade, por meio de ampla comunicao pblica, em linguagem acessvel, atravs dos meios de comunicao social de massa disponveis; cincia do cronograma e dos locais das reunies, da apresentao dos estudos e propostas sobre o plano diretor com antecedncia de no mnimo 15 dias; e publicao e divulgao dos resultados dos debates e das propostas adotadas nas diversas etapas do processo. O princpio da participao popular determinante para

eficcia das normas sobre a poltica urbana, sendo integrante do conjunto de normas do direito urbanstico o Plano Diretor. Portanto, o Municpio que elaborar seu Plano Diretor sem garantir a participao popular estar contrariando a Constituio Federal e violando o princpio da democracia participativa, o que torna a Lei em questo inconstitucional.

A Constituio do Estado do Rio Grande do Sul, art. 177, 5, prev, igualmente, como requisito essencial validade do processo legislativo, a participao da sociedade civil organizada na definio ou alterao do plano diretor, alm dos demais planos e projetos que a ele se vinculem.

Alm disso, tem-se a possibilidade de INICIATIVA POPULAR DE PROJETO DE LEI E DE PLANOS, PROGRAMAS E PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO URBANO. De salientar-se que os instrumentos previstos no art. 14, da Constituio Federal, especialmente o plebiscito e o referendo, tambm so aplicveis ao Municpio, independentemente de previso especfica no Estatuto da Cidade, podendo ser institudos no Plano Diretor para o controle, ratificao ou aprovao prvia de determinados atos julgados de grande impacto na urbanidade.

Conforme o Estatuto da Cidade, incorre em improbidade administrativa o Prefeito que impedir ou deixar de garantir alguns requisitos no processo de reviso do plano diretor, em especial a promoo de audincias pblicas e debates com a participao da populao e de associaes representativas dos vrios segmentos da comunidade, a publicidade quanto aos documentos e informaes produzidos e o acesso de qualquer interessado aos documentos e informaes produzidos.

O Municpio deve elaborar

um plano e cronograma de

participao democrtica

e dar ampla divulgao

sociedade, convocando-a

atravs dos mais variados

meios de comunicao. Cada

audincia pblica, ademais,

dever ser amplamente

divulgada e ocorrer em

locais e horrios acessveis

maioria da populao.

ATENO

A participao da

comunidade no

deve ser observada

pela municipalidade

apenas na fase de

elaborao do

projeto de lei, pelo

Poder Executivo,

mas tambm quando

de sua anlise pelo

Poder Legislativo,

na Cmara de

Vereadores. Alis,

neste aspecto o

art. 40, 4o, do

Estatuto da Cidade

bastante claro

ao definir que a

participao da

comunidade dever

ser garantida pelos

Poderes Executivo e

Legislativo municipais.

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L16 17

PAVIMENTAR ESSA RUA, IMPERMEABILIZANDO-A, PODE CAUSAR ALAGAMENTO NA MINHA CASA?

SE EU ME LIGAR REDE DE ESGOTO SANITRIO QUE PASSA NA FRENTE DA MINHA CASA ISSO TORNAR MINHA VIDA MAIS SAUDVEL?

O QUE OS PRDIOS ALTOS TRAZEM DE BOM E DE RUIM PARA AS REGIES ONDE SE ESTABELECEM?

NO QUE DEVO PRESTAR ATENO QUANDO CONFECCIONAR OU REFORMAR MINHA CALADA?

A QUALIDADE DO AR MELHORA SE HOUVER MAIS PESSOAS NA CIDADE CIRCULANDO EM VECULOS NO MOTORIZADOS?

A SADE PBLICA MELHORA SE AS PESSOAS CAMINHAREM E ANDAREM MAIS DE BICICLETA NOS SEUS PERCURSOS DIRIOS?

O QUE SO AS MEDIDAS NO ESTRUTURANTES DE DRENAGEM URBANA?

preciso atentar que os instrumentos de participao democrtica no podem constituir-se em mera legitimao da poltica. Para sua efetivao, deve haver por parte do Executivo municipal investimento nos instrumentos destinados comunicao, formao, capacitao e disseminao de informaes, dando condies aos participantes desses espaos para analisar os problemas, discutir sobre as opes e assumir posies. A opo por partilhar efetivamente o poder, implica na responsabilidade do Executivo em criar condies efetivas para que a participao popular ocorra, garantindo recursos para implementar a poltica de desenvolvimento urbano, e cumprindo as decises tomadas com participao popular.

A participao e gesto democrtica, contudo, para ser efetiva e qualificada deve ser precedida e acompanhada do acesso informao. No Brasil, o acesso informao uma garantia constitucional definida desde 1988 no inciso XXXIII, do artigo 5. Nesse dispositivo da nossa Carta Magna, quando analisado com o princpio da publicidade, disposto no art. 37, tm-se as bases definidoras do direito fundamental de acesso informao, condio necessria para o controle social e o fortalecimento e consolidao da democracia.

licitatrio realizado; referentes receita, o lanamento e o recebimento de toda a receita das unidades gestoras. Desta forma, todas as informaes de interesse pblico devem ser divulgadas, independente de solicitaes, com a utilizao de recursos e meios de comunicao viabilizados pela tecnologia da informao - Lei n 12.527, de 18 de novembro de 2011, tambm chamada de Lei do Acesso Informao (LAI) -. Essa lei apresenta como princpio bsico o de que o acesso informao a regra. O sigilo a exceo.

O acesso informao deve se dar

tanto com relao conscientizao

da populao para com as questes

urbanas, quanto ao diagnstico de

problemas, dados oramentrios

e estruturais do municpio at a

execuo das polticas urbanas.

Alm disso, a Lei Complementar n. 101, de 2000, tambm chamada de Lei de Responsabilidade Fiscal, com as alteraes dadas pela Lei Complementar n. 131/2009, fixou importantes instrumentos de transparncia da gesto fiscal, aos quais dever ser dada ampla divulgao, inclusive em meios eletrnicos de acesso pblico com a internet. De acordo com essa lei, o Plano Plurianual, a lei de diretrizes oramentrias, os oramentos, as prestaes de contas e o respectivo parecer prvio, o relatrio resumido de gesto fiscal, devem ser disponibilizados para qualquer cidado ter acesso por meio da rede mundial de computadores.

Segundo a legislao, os entes da Federao devero disponibilizar a qualquer pessoa fsica ou jurdica o acesso a informaes referentes despesa, todos os atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execuo da despesa, no momento de sua realizao, com a disponibilizao mnima dos dados referentes ao nmero do correspondente processo, ao bem fornecido ou ao servio prestado, pessoa fsica ou jurdica beneficiria do pagamento e, quando for o caso, ao procedimento

??? ?

???

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L18 19

Comparativo de densidades urbanas lquidas numa rea de 1 ha em distintas formas edificadas numa rea urbanizada. No caso A, B e C, formas distintas com a mesma densidade. No caso D, foram acrescidos dois pavimentos ao modelo B, para recalcular http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.189/5957 [GEOVANY J. A. Silva (2013)]

Por fim, a Resoluo n 25, do Conselho das Cidades, ao definir que o processo de elaborao, implementao e execuo do Plano diretor deve ser participativo, recomenda que a coordenao do processo participativo de elaborao do Plano Diretor deve ser compartilhada, por meio da efetiva participao de poder pblico e da sociedade civil, em todas as etapas do processo, desde a elaborao at a definio dos mecanismos para a tomada de decises.

No processo participativo de elaborao do plano diretor, a promoo das aes de sensibilizao, mobilizao e capaci-tao devem ser voltadas, preferencialmente, para as lideranas comunitrias, movimentos sociais, profissionais especializados, en-tre outros atores sociais, garantindo-se, art. 5, na organizao do processo participativo de elaborao do plano diretor, a diversi-dade.

Importante lembrar, outrossim, que a gesto e participao democrtica somente ser legtima se contar com o apoio de tcnicos e leigos que apresentem os prs e contras de cada alternativa a ser discutida e opinada pela sociedade, buscando-se as formas mais simples possveis de explanar as situaes a serem enfrentadas, por meio da utilizao de ilustraes, fotos, maquetes,

simulaes 3D, exemplos prticos, etc., e estabelecendo-se, sempre, o contraponto para propiciar a reflexo e maturao social da questo posta.

Veja-se o exemplo abaixo, de apresentao visual de alternativas para estabelecer a densidade:

TRIBUNAL DE CONTAS

Alm da anlise da conformidade legal, o Tribunal de Contas est preocupado em avaliar o alcance das polticas pblicas para a sociedade e os resultados das polticas, programas, projetos e servios colocados disposio do cidado, estimulando tambm a participao da sociedade na definio da aplicao dos recursos pblicos.

Para desempenhar o controle da gesto dos recursos pblicos e a misso institucional, o TCE dispe de ferramentas para recebimento das informaes contbeis, financeiras, patrimoniais dos Jurisdicionados. Destaca-se como uma destas ferramentas, quela posta disposio da sociedade para o recebimento de informaes sobre a gesto municipal, o Fiscalize Cidado.

No site do TCE, no espao do Controle Social, no link Fiscalize Cidado, so disponibilizadas informaes sobre a qualidade e a efetividade das polticas pblicas implementadas nos municpios do Estado do Rio Grande do Sul, atravs do ndice de Efetividade de Gesto Municipal (IEGM), composto de 07 indicadores setoriais: Educao (i-EDUC); Sade (i-SADE); Planejamento (i-PLANEJAMENTO); Gesto Fiscal (i-FISCAL); Meio Ambiente (i-Amb); Cidades Protegidas (i-CIDADE); Tecnologia da Informao (i-GOV TI).

Os ndices podero ser consultados diretamente no site do TCE/RS. Assim, atravs deste canal, os cidados podero confirmar os dados apresentados ou criticar, no caso de serem divergentes da realidade do municpio.

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.189/5957 [GEOVANY J. A. Silva (2013)]http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.189/5957 [GEOVANY J. A. Silva (2013)]

U R B E | R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S20

Art. 3 O processo de elaborao, implementao e execuo do Plano diretor deve ser participativo, nos termos do art. 40, 4 e do art. 43 do Estatuto da Cidade.

1 A coordenao do processo participativo de elaborao do Plano Diretor deve ser compartilhada, por meio da efetiva participao de poder pblico e da sociedade civil, em todas as etapas do processo, desde a elaborao at a definio dos mecanismos para a tomada de decises.

2 Nas cidades onde houver Conselho das Cidades ou similar que atenda os requisitos da Resoluo N 13 do CONCIDADES, a coordenao de que trata o 1, poder ser assumida por esse colegiado;

Art. 4 No processo participativo de elaborao do plano diretor, a publicidade, determinada pelo inciso II, do 4 do art. 40 do Estatuto da Cidade, dever conter os seguintes requisitos:

I ampla comunicao pblica, em linguagem acessvel, atravs dos meios de comunicao social de massa disponveis;

II- cincia do cronograma e dos locais das reunies, da apresentao dos estudos e propostas sobre o plano diretor com antecedncia de no mnimo 15 dias;

III- publicao e divulgao dos resultados dos debates e das propostas adotadas nas diversas etapas do processo;

Art.5 A organizao do processo participativo dever garantir a diversidade, nos seguintes termos:

I realizao dos debates por segmentos sociais, por temas e por divises territoriais, tais como bairros, distritos, setores entre outros;

II -garantia da alternncia dos locais de discusso.

Art.6 O processo participativo de elaborao do plano diretor deve ser articulado e integrado ao processo participativo de elaborao do oramento, bem como levar em conta as proposies oriundas de processos democrticos tais como conferncias, congressos da cidade, fruns e conselhos.

Art.7 No processo participativo de elaborao do plano diretor

a promoo das aes de sensibilizao, mobilizao e capacitao, devem ser voltadas, preferencialmente, para as lideranas comunitrias, movimentos sociais, profissionais especializados, entre outros atores sociais.

Art. 8 As audincias pblicas determinadas pelo art. 40, 4, inciso I, do Estatuto da Cidade, no processo de elaborao de plano diretor, tm por finalidade informar, colher subsdios, debater, rever e analisar o contedo do Plano Diretor Participativo, e deve atender aos seguintes requisitos:

I ser convocada por edital, anunciada pela imprensa local ou, na sua falta, utilizar os meios de comunicao de massa ao alcance da populao local;

II ocorrer em locais e horrios acessveis maioria da populao;III serem dirigidas pelo Poder Pblico Municipal, que aps a

exposio de todo o contedo, abrir as discusses aos presentes;IV garantir a presena de todos os cidados e cidads,

independente de comprovao de residncia ou qualquer outra condio, que assinaro lista de presena;

V serem gravadas e, ao final de cada uma, lavrada a respectiva ata, cujos contedos devero ser apensados ao Projeto de Lei, compondo memorial do processo, inclusive na sua tramitao legislativa.

Art. 9 A audincia pblica poder ser convocada pela prpria sociedade civil quando solicitada por no mnimo 1 % ( um por cento) dos eleitores do municpio.

Art.10. A proposta do plano diretor a ser submetida Cmara Municipal deve ser aprovada em uma conferncia ou evento similar, que deve atender aos seguintes requisitos:

I realizao prvia de reunies e/ou plenrias para escolha de representantes de diversos segmentos da sociedade e das divises territoriais;

II divulgao e distribuio da proposta do Plano Diretor para os delegados eleitos com antecedncia de 15 dias da votao da proposta;

III registro das emendas apresentadas nos anais da conferncia;IV publicao e divulgao dos anais da conferncia.

RESOLUO N 25 DO CONSELHO DAS CIDADES:

PARTE IIINSTRUMENTOS QUE DEVEM SER REGULADOS NO PLANO DIRETOR

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L22 23

A infraestrutura urbana - as redes de coleta e tratamento de esgotos e de drenagem das guas das chuvas, as vias de circulao, a iluminao pblica, a rede de fornecimento de energia eltrica, a coleta de lixo, o transporte coletivo, etc - custeada por todos os cidados do municpio. Logo, terrenos e prdios vazios, no utilizados ou subutilizados acabam por onerar toda a populao, uma vez que eles dispem da infraestrutura sua disposio, mas no a utilizam. Esses imveis no cumprem sua funo social, conforme determinado na Constituio Federal e no Estatuto da Cidade.

Para enfrentar esse problema e respeitar o interesse pblico h o instrumento do Parcelamento, Edificao e Utilizao Compulsrios. Os Planos Diretores devem indicar quais as reas da cidade esto sujeitas a este instrumento (art.5 da Lei n 10.257/01). Ele permite que seja exigida do proprietrio a adequada utilizao dos imveis urbanos naquelas reas onde a infraestrutura urbana est disponvel e ociosa.

Ao Plano Diretor incumbe a tarefa de delimitar as reas onde esses instrumentos podem ser utilizados (artigo 42, inciso I, do Estatuto da Cidade). Essa delimitao de reas deve alcanar as zonas mais urbanizadas das cidades. O que se busca o melhor

aproveitamento da infraestrutura e servios urbanos j existentes, otimizando o custo estrutural da cidade.

Em relao infraestrutura, a ideia potencializar o adensamento das reas j dotadas dessa disponibilidade. Por isso, a ampliao do permetro urbano com a consequente extenso da implantao de infraestrutura urbana e ampliao dos servios pblicos correlatos pode ferir o interesse pblico se eventualmente houver imveis com infraestrutura disponibilizada ociosos na rea urbana, situao comum nas reas centrais das cidades brasileiras.

FONTE: Brasil

Instrumentos de Induo do Desenvolvimento Urbano

PARCELAMENTO, EDIFICAO OU UTILIZAO COMPULSRIOS

IPTU PROGRESSIVO NO TEMPO

Terrenos servidos por infraestrutura urbana no devem ficar ociosos.

Prdios desocupados em reas centrais podem ser objeto de IPTU progressivo no tempo.

Uma vez que o imvel tenha sido designado para ser parcelado, edificado ou utilizado compulsoriamente, a fim de fazer o racional aproveitamento da infraestrutura urbana e servios disponveis, e no atenda s condies e prazos dos instrumentos deve ser aplicado o IPTU Progressivo no Tempo (art. 7 do Estatuto da Cidade), como medida para que o proprietrio conceda ao imvel funo social.

Este mais um instrumento disponvel para evitar as situaes caticas a que nossas cidades esto sujeitas, em consequncia do uso irracional (no utilizao, no edificao ou subutilizao) de imveis urbanos.

FONTE: Brasil

DESAPROPRIAO COM PAGAMENTO EM TTULOS DA DVIDA PBLICA

Em cinco anos de aplicao de progressivi-dade do IPTU, se o imvel persistir na situao original facultado ao Municpio desapropri-lo (art. 8 do Estatuto da Cidade). Para tanto, conta com o instru-mento da Desapropriao com Pagamento em Ttu-los da Dvida Pblica, com prazo de at dez anos para resgate (art. 8 do Estatuto da Cidade).

Uma vez desapro-priado, o Municpio ter cin-co anos para aproveit-lo, diretamente ou por aliena-o ou concesso a ter-ceiros.

FONTE: Brasil

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L24 25

http://www.capacidades.gov.br/dicionario/index/tx_busca/preemp%25C3%25A7%25C3%25A3o

DIREITO DE PREEMPO

Esse instrumento confere ao municpio a preferncia para adquirir imveis que venham a ser ofertados no mercado (art. 25 do Estatuto da Cidade).

Pode ser muito til para viabilizar re-gularizao fundiria, programas e projetos ha-bitacionais de interesse social, reserva fundiria, ordenamento e direcionamento da expanso urbana, implantao de equipamentos urbanos e comunitrios, espaos pblicos de lazer e reas verdes, criao de unidades de conservao ou outras reas de interesse ambiental, proteo do patrimnio cultural, histrico e paisagstico.

Tendo em vista sua destinao futura para aes de interesse social sobre a rea, o instrumento visa a controlar os preos dos terrenos evitando a especulao imobiliria em reas com determinadas caractersticas.

O Plano Diretor dever definir as caractersticas das reas onde esse instrumento poder ser aplicado e lei municipal posterior delimitar especificamente que reas sero essas, observadas as condies do plano diretor para o instrumento.

FONTE: Brasil

OUTORGA ONEROSA DO DIREITO DE CONSTRUIR

A outorga onerosa do direito de construir, tambm conhecida como solo criado, trata da compra do direito de construir. Est prevista no art. 28 do Estatuto da Cidade. O Plano Diretor deve estabelecer um coeficiente (ndice de aproveitamento) bsico para cada zona da cidade e indicar as reas onde for aplicvel.

Por meio da aquisio do direito de construir, o interessado poder exceder o coeficiente bsico, at um limite que tambm deve estar estabelecido no Plano Diretor, considerando a proporcionalidade entre a infraestrutura existente e o aumento de densidade esperado em cada rea.

Alm disso, o Estatuto da Cidade prev, no art. 29, que o Plano Diretor poder fixar reas nas quais poder ser permitida a alterao de uso do solo, mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficirio. O conceito de uso do solo abrange o chamado zoneamento funcional e difere, portanto, do conceito de ocupao do solo (que se refere rea do lote). Por meio da alterao de uso, pode-se permitir, por exemplo, que determinado imvel, situado em zona estritamente residencial, seja destinado para outra finalidade, como comercial. Pensemos no estabelecimento de uma farmcia, em rea residencial, mediante contrapartida e sem modificar a caracterstica da zona.

A contrapartida que o interessado far ao poder pblico em troca do direito de construir ou da alterao de uso do solo dever ser aplicada em regularizao fundiria, execuo de programas e projetos habitacionais de interesse social, constituio

de reserva fundiria, ordenamento e direcionamento da expanso urbana, implantao de equipamentos urbanos e comunitrios, criao de espaos pblicos de lazer e reas verdes, criao de unidades de conservao ou proteo de outras reas de interesse ambiental e proteo de reas de interesse histrico, cultural ou paisagstico (artigos 31 e 26 do Estatuto da Cidade). Dessa maneira, o municpio distribui em finalidades especficas de interesse pblico as contrapartidas que o empreendedor privado paga pela utilizao do direito de construir acima do ndice bsico

FONTE: Brasil

http://direitodiario.com.br/o-que-e-outorga-onerosa-do-direito-de-construir/

http://www.capacidades.gov.br/dicionario/index/tx_busca/preemp%25C3%25A7%25C3%25A3ohttp://direitodiario.com.br/o-que-e-outorga-onerosa-do-direito-de-construir/

2726

TRANSFERNCIA DO DIREITO DE CONSTRUIRDistinta da outorga onerosa do direito de construir, a

transferncia do direito de construir trata de utilizar em outro imvel o direito que algum tem sobre uma propriedade especfica. Est previsto no art. 35 do Estatuto da Cidade.

O Plano Diretor dever prever o instrumento, que poder ser delimitado por lei especfica.

Pode ser utilizado para compensar o proprietrio de um imvel quando ele ser utilizado para a implantao de equipamentos urbanos e comunitrios. Tambm como maneira de compensar o proprietrio quando seu imvel sofrer restries, devido a tombamento como bem cultural, ambiental, paisagstico, social ou histrico.

Pode, outrossim, ser empregado quando o imvel servir a programa de regularizao fundiria, urbanizao de reas ocupadas por populao de baixa renda e habitao de interesse social.

FONTE: Brasil

O instrumento da transferncia

do direito de construir permite

solucionar vrios conflitos urbanos, como

na preservao de patrimnio

cultural edificado.

OPERAES URBANAS CONSORCIADASaes que se pretende tornar viveis, incluindo: delimitao da rea de abrangncia, programa bsico de ocupao, programa de atendimento econmico e social para a populao direta-mente afetada e forma de controle da operao.

A ideia bsica do instrumento est na transformao de uma determinada rea da cidade, sob o comando do Poder Pblico municipal, para a concretizao de objetivos e aes estabelecidos no Plano Diretor, por meio da parceria com o setor privado. Sua utilizao pode se dar para diferentes finalidades: reconverso e requalificao de reas industriais e porturias desativadas, que tenham reduzido sua operao ou que estejam em processo de alterao do uso do solo; transformao de conjuntos urbanos dotados de infraestrutura e de terrenos vazios em que se pretende a renovao de usos e o aumento da densidade; adequao do uso do solo e da infraestrutura no entorno de grandes equipamentos urbanos, tais como avenidas, estaes de metr, corredores exclusivos de nibus, parques e estdios; melhor aproveitamento do uso do solo em grandes intervenes urbanas; dentre outras.

Da mesma forma, considerando possveis impactos das intervenes, o referido plano dever conter estudos ambientais, mais especialmente o Estudo de Impacto de Vizinhana, com iden-tificao de medidas mitigadoras e compensatrias. Acrescente-se, por fim, como contedo do plano especfico da operao a definio de contrapartidas a exigir dos proprietrios, usurios permanentes e investidores privados em funo da utilizao dos benefcios previstos pelo Estatuto da Cidade para o instrumento.

Nas regies metropolitanas ou nas aglomeraes urbanas institudas por lei complementar estadual, podero ser realizadas operaes urbanas consorciadas interfederativas, aprovadas por leis estaduais especficas.

FONTE: Brasil e Estatudo da Cidade: comentado

Operao Urbana Consorciada um instrumento dis-posio dos gestores pblicos capaz de promover, em uma determinada rea e num determinado tempo, transformaes urbansticas estruturais, melhorias sociais e valorizao ambiental. Est previsto nos arts. 32 a 34-A do Estatuto da Cidade.

Por determinao legal o processo que envolve o enca-minhamento de proposies e intervenes deve ser coordenado pelo Municpio e englobar a participao da multiplicidade de agentes que interagem na cidade: residentes, trabalhadores, setor pblico, empresrios em geral e investidores privados.

Em legislao especfica, compatvel com princpios, po-lticas e indicativos do plano diretor municipal, devero ser definidas todas as questes relacionadas ao territrio passvel do conjunto de intervenes. No documento legal podero ser propostas medidas que permitam prever a modificao do regime urbanstico incluindo os ndices, as caractersticas do parcelamento da terra e os demais aspectos associados ao uso e ocupao do solo e subsolo. Da mesma forma, podero ser permitidas tambm, se for o caso, medidas para resolver situaes de regularizaes de reas habitacionais ou de edificaes em desacordo com a legislao vigente.

A lei especfica que aprovar a operao pode prever ainda a emisso pelo municpio de Certificados de Potencial Adicional de Construo, sempre relacionado ao direito de construir unicamente na rea da operao.

Em plano especfico da operao devero estar relaciona-dos todos os contedos necessrios para o encaminhamento das

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L28 29

As Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) ou reas de Especial Interesse Social (AEIS) so instrumentos urbansticos previstos no art. 4., inciso V, alnea f, do Estatuto da Cidade, que definem reas da cidade destinadas para construo de moradia popular. As ZEIS so uma categoria de zoneamento que permite o estabelecimento de um padro urbanstico prprio com regras especiais, para determinadas reas da cidade.

Existem dois tipos de ZEIS: as ZEIS Ocupadas, onde j existe assentamento de populao de baixa renda que precisa ser urbanizado e regularizado, e as ZEIS de vazios, que so reas mal aproveitadas que podem ser destinadas construo de Habitaes de Interesse Social (HIS).

A demarcao de ZEIS ocupadas visa a reconhecer, incluir e regularizar, por meio de um zoneamento e plano especfico, parcelas da cidade construdas fora das regras legais, permitindo a introduo de servios de infraestrutura e equipamentos bsicos, melhorando as condies de vida da populao. Assim, pode-se admitir, por exemplo, sistemas virios compostos por vias mais estreitas, adoo de lotes menores, recuos diferenciados que se adaptem s ocupaes existentes, diminuindo a necessidade de remoo de moradias no processo de regularizao fundiria.

O instituto permite tambm que sejam implantados

mecanismos que impeam a posterior expulso dos moradores dos ncleos regularizados por segmentos sociais de maior poder econmico, atrados pela valorizao desses terrenos pelo efeito da infraestrutura pblica implantada. Exemplos de mecanismos desse tipo so: a reduo de gabarito de altura, a proibio de remembramento de lotes - evitando que algum adquira vrios lotes regularizados, transforme-os em um nico lote maior e faa nova edificao nessa nova condio - e a fixao do tipo de uso do solo admissvel, como por exemplo, admisso de apenas residncias unifamiliares.

INSTRUMENTOS DE REGULARIZAO FUNDIRIA

ZEIS

Delimitao de reas no urbanizadas como ZEIS pode viabilizar sua regularizao.

J a demarcao de ZEIS vazias possibilita assegurar e ampliar a destinao de terras bem localizadas e com infraestrutura implantada para a populao de baixa renda, criando uma reserva de mercado de terras para a produo de habitao de interesse social. Essas ZEIS vazias tambm podem ter parmetros especficos de ocupao.

Importante que o Plano Diretor contemple expressamente as ZEIS. A definio de pores do territrio no Plano Diretor destinadas prioritariamente regularizao fundiria e a proviso de habitao de interesse social (HIS) significa o reconhecimento da diversidade de ocupaes existentes nas cidades, possibilitando sua legalizao de forma que corresponda s especificidades destes assentamentos.

Fonte: Secretaria Nacional de Acessibilidade e Programas Urbanoshttps://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNH/ArquivosPDF/Guia_ZEIS_final.pdf

Fotos: Deyvid Monteiro, Metroplan

https://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNH/ArquivosPDF/Guia_ZEIS_final.pdfhttps://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNH/ArquivosPDF/Guia_ZEIS_final.pdf

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L30 31

USUCAPIO ESPECIAL DO IMVEL URBANO:

So previstas duas subespcies: usucapio urbano individual e usucapio urbano coletivo (Art. 183 da Constituio Federal destinao social para imveis urbanos privados , regulamentado pelos arts. 9 a 14 do Estatuto da Cidade).

Como instrumento de regularizao fundiria, em especial quanto modalidade coletiva, sobressai o papel do Municpio, uma vez implementados os requisitos legais, de prestar um servio de assistncia tcnica e jurdica gratuita para a promoo da Usucapio pelas comunidades de baixa renda. O servio de assistncia tcnica deve ser prestado para demonstrar e comprovar os requisitos constitucionais no aspecto fsico e urbanstico (levantamento topogrfico, elaborao da planta, memorial descritivo, etc), atravs dos instrumentais necessrios que sero exigidos pelo Poder Judicirio. Para a prestao do servio de assistncia jurdica, o Municpio pode celebrar um convnio com a Defensoria Pblica do Estado, com Universidades, com a OAB ou implementar servios prprios.

O Poder Pblico tambm tem a tarefa de promover a urbanizao dos terrenos objeto da usucapio urbano. O Municpio deve desenvolver trabalhos sociais com a comunidade, visando urbanizao e regularizao fundiria, assegurando a participao da comunidade na formulao e execuo do plano de urbanizao. Essa urbanizao deve incorporar esses espaos urbanos cidade legal, viabilizando direitos humanos aos setores sociais marginalizados.

Para melhoria das condies habitacionais, a orientao e disponibilizao do Programa Carto Reforma, criado recentemente pela Lei 13.439/2017, pode ser impulsionada pelo Municpio.

Importante que o Plano Diretor, para viabilizar a aplicao desse instrumento, busque definir as reas onde est situada a populao de baixa renda.

Fonte: Estatuto da Cidade guia para implementao pelos municpios e cidados

CONCESSO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA- CUEM:

Previso do art. 183 da CF destinao social para imveis urbanos pblicos regulamentado pela Medida Provisria 2.220/2001.

O instrumento obtido, em princpio, por via administrativa perante o ente que tem a administrao do imvel pblico.

O Municpio deve constituir um cadastro das posses em imveis pblicos para identificar quais so os imveis pertencentes Unio, Estados e ao prprio Municpio existentes em seu territrio. Para esse cadastro, o Municpio pode buscar celebrar um convnio com a Unio, Estado e Corregedoria dos Registros Pblicos, visando a disponibilizao das informaes.

Verificados os requisitos para a aquisio do direito, ser outorgado ao morador o ttulo declarando seu direito concesso especial para fins de moradia a ser submetido a registro no RI.

Para o reconhecimento desse direito no se faz necessria autorizao legislativa ou desafetao da rea mediante lei se eventualmente tratar-se de bem de uso comum do povo, bastando a comprovao do cumprimento dos requisitos para declarao da concesso especial para fins de moradia.

Fonte: Estatuto da Cidade guia para implementao pelos municpios e cidados

CONCESSO DE DIREITO REAL DE USO - CDRU:

Anterior ao Estatuto da Cidade, esse instrumento foi institudo pelo Decreto-lei 271/67, como direito real resolvel, aplicvel a terrenos pblicos ou particulares, de carter gratuito ou oneroso, para fins de urbanizao, industrializao, edificao, cultivo da terra ou outra utilizao de interesse social.

A concretizao da CDRU est condicionada autorizao legislativa, avaliao prvia e licitao, na modalidade de concorrncia. A avaliao e a concorrncia pblica ficam dispensadas no caso de concesses destinadas habitao popular art. 17, I, f, da Lei 8.666/93.

Fonte: Estatuto da Cidade guia para implementao pelos municpios e cidados

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L32 33

EIV

o instrumento que engloba um conjunto de estudos responsveis por apontar os potenciais impactos causados pela instalao de um determinado empreendimento ou atividade na regio. Est previsto nos arts. 36 a 38 do Estatuto da Cidade.O instrumento fornece subsdios ao poder pblico para decidir sobre concesso da licena, neg-la ou ainda condicion-la implementao de medidas mitigadoras ou compensao do impacto. importante ressaltar que, embora possa contemplar aspectos ambientais na sua elaborao, o EIV no substitui a elaborao e a aprovao de estudo prvio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislao ambiental.

Lei municipal dever definir os empreendimentos e atividades privadas ou pblicas, em rea urbana, que dependero de elaborao de EIV para obter as licenas ou autorizaes de construo, ampliao ou funcionamento. Normalmente so empreendimentos que impactam no perfil da regio onde pretendem se instalar.

O EIV cria uma possibilidade de intermediao entre os interesses dos empreendedores urbanos e a populao diretamente impactada, de modo a resguardar qualidade de vida da comunidade.

Dentre os impactos de vizinhana mais comuns, podem ser mencionados: adensamento populacional; equipamentos urbanos e comunitrios; uso e ocupao do solo; valorizao imobiliria; gerao de trfego e demanda por transporte pblico; ventilao e iluminao; e paisagem urbana e patrimnio natural e cultural.

O agente fiscalizador dever se esforar para que a tramitao deste instrumento seja tratada com seriedade, levando-se em conta os interesses e direitos particulares e coletivos. Dever agir com cautela e, ao mesmo tempo, com eficincia, para que os resultados do processo de anlise e concluso do EIV atinjam seus objetivos.

Os empreendedores, por sua vez, devero agir com comprometimento para que os resultados do Estudo sejam os mais prximos da realidade. A equipe multidisciplinar contratada dever ser formada por tcnicos competentes. Os impactos identificados devero ser devidamente informados, e as medidas

Fonte: Secretaria Nacional de Acessibilidade e Programas Urbanos

preventivas mitigadoras, potencializadoras e compensatrias, uma vez estabelecidas, devero ser efetivamente realizadas.

A populao, por fim, ter a prerrogativa de se envolver diretamente na gesto e no planejamento da sua cidade, mais especificamente, na gesto de seu bairro. Para tanto, dever ser devidamente informada das audincias pblicas, devendo se empenhar na discusso para que os melhores resultados em relao minimizao de impactos negativos sejam garantidos.

fundamental a participao popular no processo de tomada de deciso. Apesar de no estar expressamente prevista audincia pblica para EIV no Estatuto da Cidade, os Municpios podem e devem prever a hiptese na regulamentao do EIV no mbito municipal, identificando as atividades e empreendimentos sujeitas a ele, e prevendo audincia pblica ou outras formas de publicizao da anlise. Fonte: Plano diretor participativo. Guia para elaborao pelos Municpios e cidados.

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L34 35

PARTE IIITEMAS SELECIONADOS

CONFLITOS mais frequentes nas cidades:

INSTITUTO DO ABANDONO

Os Municpios dispem do Instituto do Abandono, previsto no Cdigo Civil, para situaes ainda mais graves de imveis que, alm de no cumprirem com sua funo social, esto abandonados nos termos do artigo 1.276, o que permite sua arrecadao pelo municpio para conceder-lhe a devida funo social.

Se no imvel houver construo, o proprietrio deve zelar para que no haja risco de desabamento; se for um terreno, deve mant-lo limpo e no permitir que se transforme em depsito de lixo. Se o proprietrio se omitir nestas e em outras providncias e no pagar os impostos, principalmente o IPTU, seu imvel poder ser arrecadado como bem vago e, passados trs anos, poder ser incorporado ao domnio do municpio.

Os imveis abandonados so fonte de diversos problemas urbanos, especialmente, de sade pblica e violncia urbana como acumulao de resduos, propagao de vetores e odor, concentrao de usurios de drogas, refgio de criminosos, dentre outros, exigindo uma poltica pblica efetiva para soluo do problema.

Fonte: Secretaria Nacional de Acessibilidade e Programas Urbanos Cdigo civil oferece

instrumento para lidar com prdios abandonados.

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L36 37

CONFLITOS DE USO E MISCIGENAO

Desde a Revoluo Industrial as cidades tem se deparado com os conflitos de uso, como indstrias poluentes ao lado de habitaes, por exemplo.

O zoneamento tem sido a resposta mais usual: separar as atividades, conforme seja mais conveniente e menos perturbador. Por outro lado, a separao absoluta de atividades demonstrou acarretar outros problemas, como a falta de vitalidade de determinados bairros em horrios noturnos ou finais de semana. O planejamento urbano mais contemporneo tem empregado um somatrio de medidas para o enfrentamento dos conflitos de uso: o zoneamento de atividades com alguma miscigenao, limites de horrios para funcionamento de determinadas atividades, limites de porte, etc.

Os Planos Diretores podem e devem mapear e regrar os potenciais conflitos de uso. O emprego do zoneamento de uso bsico para minimizar conflitos, que para serem efetivos, devem contar tambm com fiscalizao e outros controles.

A delimitao de zonas de transio, por exemplo, de suma importncia. Indstrias de grande porte, atividades com potenciais riscos de acidentes, depsitos de resduos contaminantes (Aterro de Resduos Industriais Perigosos - ARIP) e diversas outras atividades exigem mais do que um simples zoneamento. Os rudos, as possibilidades de vazamentos, de poluio, o transporte por veculos de carga pesados, exigem um afastamento significativo de zonas habitacionais e, mesmo, comerciais.

As zonas de transio podem fazer essa separao, esse distanciamento. Prestam-se, para isso, reas verdes, como parques, reservas biolgicas, etc.

Loteamento residencial lindeiro de distrito industrial, com habitao nos fundos de indstria de forjaria, resultando em conflitos de poluio sonora.

Depsito de gs no entorno de empreendimentos habitacionais, com potencial de risco

DEGRADAO DE REAS URBANIZADAS

A construo de prdios que ocasionam sombras sobre outros prdios preexistentes e sobre espaos pblicos, especialmente ruas e praas, acarreta problemas de insalubridade para os moradores, desconfortos em geral, alm de desvalorizao imobiliria. Geralmente tambm esto associados com problemas de ventilao dos prdios e dos espaos abertos: falta de renovao de ar ou ventilao excessiva. Esses inconvenientes podem facilmente ser evitados nas legislaes edilcias, mas so geralmente negligenciados.

O Estatuto da Cidade faz alertas expressos para essas problemticas: estipula que deve ser evitada a utilizao inadequada dos imveis urbanos (Art. 2, VI, a); deve ser evitada a proximidade de usos incompatveis ou inconvenientes (Art. 2, VI, b); deve ser evitada a deteriorao das reas urbanizadas (Art. 2, VI, f) e deve ser evitada a poluio e a degradao ambiental (Art. 2, VI, g).

Mais que isso, o Estatuto da Cidade tem como diretriz geral da poltica urbana garantir o saneamento ambiental para as presentes e futuras geraes (Art. 2, I);

Construes que bloqueiam a ventilao e a insolao causam degradao ambiental, entre outros conflitos.

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L38 39

CIDADE COMPACTAA cidade cresce e causa impactos na vida das pessoas.

O preo de uma expanso no planejada pago todos os dias: horas de trnsito para fazer o percurso da casa para o trabalho, o que reflete a falta de incentivo para realizao das mesmas atividades a p pela m qualidade dos passeios. H tambm quem viva a rotina dos alagamentos pela falta de drenagem de guas urbanas e da insegurana pela falta de gente na rua.

Uma cidade compacta aquela que estimula o uso misto dos bairros tem como caracterstica a diversidade: uma combinao de vocaes, para servios e tambm para moradia, o que resulta em pessoas e seus diferentes interesses interagindo na rua. A partir disso, os espaos pblicos e vale ressaltar que a calada pblica tornam-se vivos, seguros e ativos.

Diversos municpios ao redor do mundo como apresentado durante a Habitat III, conferncia das Naes Unidas sobre moradia e desenvolvimento urbano sustentvel , apropriam-se das relaes de comunidade com seu bairro para fazer transformaes nas polticas urbanas, leis e incentivos ao uso misto da cidade.

Em locais com circulao de maior nmero de pessoas faz sentido um fluxo intenso e constante de transporte pblico, mais oferta de comrcio, lazer e servios bsicos a poucos passos e, por consequncia ou como consequncia, uma mistura complementar de empreendimentos residenciais e locais de trabalho. preciso, portanto, falar em densidade. H que se desmitificar a ideia de que densidade sinnimo de verticalizao sem limites das cidades e da transformao das

ruas em corredores de prdios. o planejamento urbano, a partir de profundas discusses sobre Plano Diretor, que pode dar o tom que queremos urbe: o equilbrio.

A relao que o urbanista dinamarqus Jan Gehl, autor de Cidades para Pessoas, prope coloca as pessoas e a sua experincia na cidade em primeiro plano. A cidade ao nvel dos olhos preocupa-se com a menor escala. E cabe cit-lo: a boa qualidade ao nvel dos olhos deve ser considerada como direito humano bsico sempre que as pessoas estejam nas cidades. Na escala menor que as pessoas se encontram perto da cidade.

Repensar o uso e as vocaes dos bairros e das regies da cidade, numa viso multidisciplinar capaz de promover a economia local, pensar a qualidade de vida.

O desenvolvimento acelerado de um ncleo de empreendimentos de

prestao de servios em zona com caractersticas

rurais poder acarretar srios problemas de

sustentabilidade no futuro.

Por outro lado, importa lembrar que o estmulo ou a falta de controle sobre a implantao de loteamentos e condomnios, acarretando a expanso no planejada de ncleos urbanos na periferia da rea urbana e em reas rurais, pode acarretar problemas de sustentabilidade econmica.

Transporte pblico, fornecimento de gua, coleta de lixo e demais estruturas e servios pblicos podem ter custos desproporcionalmente mais caros se comparados a reas inseridas na zona urbanizada. preciso ter ateno especial a isso nos Planos Diretores.

M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L 4140

PATRIMNIO CULTURAL

A proteo e preservao do patrimnio cultural das cidades necessita de vrios instrumentos, agindo conjuntamente, para ser efetiva. O patrimnio cultural, que formado por prdios, praas, stios, paisagens, etc., alm dos instrumentos usuais de proteo tombamento, inventrio, listagem, etc. tambm deve ser efetuado por outras iniciativas. Deve ser contemplado no plano diretor municipal, onde devem ser explicitamente relacionados os bens protegidos, bem como os seus respectivos entornos, que devero ter tratamento diferenciado.

ndices de aproveitamento podem ser potencialmente inimigos da preservao do patrimnio cultural, uma vez que incentivam a substituio dos prdios existentes por construes maiores. A Transferncia de Potencial Construtivo pode ser um instrumento atraente para auxiliar na preservao do patrimnio. Portanto, deve ser prevista no Plano Diretor desde logo.

A preservao do patrimnio cultural expressamente recomendada no Estatuto da Cidade, como diretriz para as polticas pblicas, no inciso XII do artigo 2, ao ditar que elas visem a proteo, preservao e recuperao do meio ambiente natural e construdo, do patrimnio cultural, histrico, artstico, paisagstico e arqueolgico.

A falta de regras para os entornos leva a que surjam prdios inadequados nas vizinhanas de bens com valores culturais, concorrendo com eles e prejudicando sua visualizao.

Temas especficos

REGIES METROPOLITANAS

As cidades que constituem Regies Metropolitanas (RMs) formam reas conurbadas, que mesclam paisagem, servios que se estendem para alm dos limites municipais, populaes que circulam diariamente entre as cidades, desafios muitas vezes comuns enfrentados por gestes diferentes.

Sem planejamento, tais reas tendem a impulsionar o espraiamento urbano, gerando a necessidade de longos deslocamentos para acessar servios e oportunidades normalmente concentrados nos grandes centros urbanos.

A falta de planejamento agrava as desigualdades sociais e territoriais. Por esse motivo, cidades, regies metropolitanas e Estados passaram a encarar nos ltimos anos o desafio de construir seus planos de mobilidade, planos diretores (PDs) e, mais recentemente, o Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI) - instrumento estabelecido pelo Estatuto da Metrpole (Lei n 13.089/15). O PDUI deve traar as diretrizes para o desenvolvimento urbano das RMs, que tm at 2018 para elaborar e aprovar seus planos.

O Estatuto da Metrpole prope uma governana interfederativa associada participao da sociedade, a um conjunto de instrumentos urbansticos e jurdicos de gesto e o sistema integrado de alocao de recursos a serem destinados em aes e polticas pblicas de escala metropolitana.

O PDUI deve instituir diretrizes para a formulao de polticas e gesto pblicas integradas, para o desenvolvimento sustentvel e integrado dos distintos municpios, princpios para a preservao ambiental e critrios para a aprovao ou reviso dos distintos Planos Diretores.

Duas questes podem ser apontadas como essenciais para um planejamento metropolitano: a governana interfederativa e a necessidade de que os Planos Diretores de cada Municpio que compem uma Regio Metropolitana sejam compatibilizados com o PDUI.

Somando-se ao fato de que a Regio Metropolitana de Porto Alegre RMPA - possui 34 municpios com distintas caractersticas territoriais, econmicas, sociais e ambientais, a construo do PDUI demonstra o nvel de complexidade do seu processo de elaborao.

A governana interfederativa o mecanismo que institui a gesto compartilhada de funes pblicas de interesse comum entre as cidades de uma Regio Metropolitana, visando torn-las mais eficientes. Isso significa que os municpios e Estados devem ser mutuamente responsveis por servios urbanos que sirvam s populaes de mais de uma cidade, tais como: sistemas de transporte, saneamento bsico e uso do solo.

O uso do solo na escala metropolitana uma das

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L42 43

responsabilidades compartilhadas pelos municpios de uma RM. A Lei Federal n 13.089/15 define que o PDUI estabelea o macrozoneamento da RM, especificando as reas de Interesse Metropolitano. Para tais reas, devem ser definidos parmetros urbansticos de parcelamento, ocupao e uso do solo, considerando o controle da expanso urbana, o equilbrio e a distribuio de densidades e atividades no territrio.

Do mesmo modo que a gesto compartilhada, a

compatibilizao do Plano Diretor com o PDUI, a regulao do solo outro grande desafio para o planejamento metropolitano, visto a necessidade de conciliar interesses municipais e da Regio Metropolitana como um todo. Tanto o PDUI quanto as divises do macrozoneamento devem ser incorporados na minuta do Projeto de Lei Complementar que, por fim, instituir o plano, conforme exigido pela Lei que estabelece o Estatuto da Metrpole (Lei n 13.089/15).

Conurbao exige cuidados

especiais

CONTRIBUIO DE MELHORIA

A contribuio de melhoria um tributo que vem sendo muito pouco utilizado na conduo da poltica urbana, embora previsto no rol dos instrumentos dispostos no artigo 4 do Estatuto da Cidade.

O tributo tem como ideia central promover a justia fiscal, repartindo igualmente os benefcios decorrentes de obras pblicas entre aqueles que realmente sero beneficiados. Tem como limite total a despesa realizada e como limite individual o acrscimo de valor que da obra resultar para cada imvel beneficiado art. 81 do CTN. Ou seja, a participao de cada proprietrio ser determinada pelo rateio da parcela do custo da obra pelos imveis situados na zona beneficiada em funo dos respectivos fatores individuais de valorizao.

Sua cobrana depende da realizao de uma obra pblica que tenha como consequncia um incremento do valor de imveis pertencentes aos contribuintes. No todo benefcio proporcionado pela obra ao particular que legitima a cobrana da contribuio. A valorizao imobiliria fundamental sob pena de inexigibilidade do tributo.

Prevista na Constituio

Federal (art. 145, III),

no Cdigo Tributrio

Nacional (art. 5o), e no

Decreto-Lei no 195/67,

serve de auxlio ao

Poder Pblico a fim

de descentralizar

a integralidade dos

gastos com benfeitorias,

transferindo ao

proprietrio do imvel

que tenha obtido

valorizao do seu

patrimnio a obrigao

de auxiliar no custeio

das despesas das obras

realizadas.

No basta a existncia da obra realizada. indispensvel que dessa obra, por uma relao de causa e efeito, ocasione aumento positivo do valor do imvel.

M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L 45T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S44

Ou seja, para implementao da contribuio de melhoria imperiosa a verificao dos seguintes pressupostos, sob pena de invalidao da cobrana: (a) realizao de obra pblica; (b) valorizao do imvel em decorrncia da dita obra; (c) limite total da contribuio identificada como o custo da obra; e, (d) limite individual igual ao acrscimo de valor provocado pela benfeitoria, em cada unidade autnoma.

E a publicizao desse edital de implementao das benfeitorias visando restituio de parte dos gastos deve ser anterior cobrana, e no necessariamente anterior obra, como j pacificado nos Tribunais.

Os requisitos mnimos para a instituio da contribuio de melhoria encontram-se esculpidos no art. 82 do Cdigo Tributrio Nacional, quais sejam:

I - publicao prvia dos seguintes elementos:a) memorial descritivo do projeto;b) oramento do custo da obra;c) determinao da parcela do custo da obra

a ser financiada pela contribuio;d) delimitao da zona beneficiada;e) determinao do fator de absoro do

benefcio da valorizao para toda a zona ou para cada uma das reas diferenciadas, nela contidas;

II - fixao de prazo no inferior a 30 (trinta) dias, para impugnao pelos interessados, de qualquer dos elementos referidos no inciso anterior;

III - regulamentao do processo administra-tivo de instruo e julgamento da impugnao a que se refere o inciso anterior, sem prejuzo da sua apreciao judicial.

A contribuio de melhoria s pode ser cobrada depois de realizada a obra, j que seu fato gerador a valorizao imobiliria. Simples servios de manuteno e conservao, tal como o recapeamento de via pblica, no permitem a cobrana de contribuio de melhoria.

Sua cobrana decorrente de obra pblica e no para a realizao de obra pblica, no podendo ser exigida no intuito de obter recursos a serem utilizados em obras futuras, como forma de ressarcir o Estado dos valores (ou parte deles) gastos com a realizao da obra. E justamente por isso que existe um limite total para a cobrana do tributo, qual seja, o valor total da obra realizada, e um limite individual, fundado na valorizao imobiliria, que o acrscimo de valor que da obra resultar para cada imvel beneficiado.

Interfaces com Polticas Setoriais:

MOBILIDADE URBANA E ACESSIBILIDADE:A mobilidade urbana um dos grandes efeitos perceptveis

da precarizao das cidades. Com o modelo urbano vigente, as pessoas acabam tendo que residir em reas mais perifricas, necessitando de mais tempo para os deslocamentos dirios, passando a depender do sistema de transporte coletivo para circular ou do uso do veculo individual. Agregando-se a este fator do desenho territorial uma poltica econmica e social de incentivo aquisio do carro individual e s dificuldades com eficincia e qualidade do transporte coletivo, aumenta-se o trfego de transporte individual e, com ele, os congestionamentos, horas e horas gastas dentro de um veculo, assim como os acidentes associados, como atropelamentos e colises, muitos deles com desfecho fatal.

A poltica nacional de mobilidade urbana, Lei n. 12.587/2012, nesse passo, veio trazer uma mudana de paradigma, atentando aos indicativos de segurana, sade, sustentabilidade e acompanhando o pensamento e as grandes reformas urbansticas mundo afora.

O paradigma de que todo o desenvolvimento urbano passe a ser orientado ao transporte pblico e ao no motorizado, TOD da sigla em ingls Transit Oriented Development -, de forma que o espao urbano comece a ser requalificado e pensado

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L46 47

com base nos princpios da mobilidade urbana: desenho urbano que priorize o pedestre e ciclista; restrio ao estacionamento e circulao do automvel; incentivo ao transporte de massa; parmetros urbansticos com foco em cidades compactas, adensadas, bem conectadas e com uso misto do solo.

O papel do Plano Diretor, nesse passo, que determina

a poltica de uso e ocupao do solo e expanso urbana, fundamental para induzir e propiciar uma mobilidade sustentvel e pensar as cidades com esse paradigma, impactando na melhor qualidade de vida aos seus habitantes.

FONTE: PlanMob, Caderno de Referncia para elaborao do Plano de Mobilidade Urbana, secretaria nacional de Transporte e

Mobilidade Urbana SeMob Ministrio das Cidades, edio 2015

A acessibilidade outro grande tema, que permeia a mobilidade urbana e a prpria gesto das cidades, merecendo destaque nos planos diretores.

Frequentes so as situaes de pessoas com deficincia que no conseguem exercer sua autonomia, ir ao mdico, ao supermercado, farmcia ou mesmo trabalhar, porque as caladas esto sem acessibilidade, sem sinalizao adequada e com diversas barreiras arquitetnicas que impedem a circulao com segurana. Frequentes so as quedas de pessoas idosas, com leses graves, em razo da m conservao ou inexistncia de calada. Mes com carrinho de beb, crianas, pessoas com mobilidade reduzida, enfim, todos somos atingidos pela m conservao ou confeco da calada ou que no preservam largura mnima de circulao.

Por isso, o planejamento das cidades, no que diz com a poltica de desenvolvimento urbano, mobilidade urbana e acessibilidade, fundamental para que se interfira positivamente nesse cenrio, transformando procedimentos e atitudes at ento vigentes rumo a uma nova cultura de sustentabilidade, equidade na apropriao dos espaos e vias e incluso social. A acessibilidade hoje est prevista como direito fundamental na Lei Brasileira de Incluso Lei n 13.146/2015 - art. 53 e seguintes.

Os Municpios devem buscar promover as medidas necessrias para garantir que a cidade seja acessvel na produo do espao urbano.

Veja-se a respeito a exigncia do plano de rotas acessveis, previsto no art. 41, 3, do Estatudo da Cidade.

Em relao s caladas, como principal infraestrutura urbanstica de mobilidade urbana e de ateno prioritria, veja-se a cartilha disponvel em:http://calcadaacessivel.mprs.mp.br/index.html

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L48 49

SANEAMENTO:

A Lei n 11.445/2007, que instituiu diretrizes nacionais para o saneamento bsico, define os municpios, como regra geral, como titulares dos servios de saneamento (abastecimento de gua, esgotamento sanitrios, drenagem urbana e manejo de resduos slidos urbanos), cabendo a eles a implantao da poltica e a elaborao do plano municipal de saneamento bsico (PMSB), devendo abranger integralmente o territrio do municpio (reas urbanas e rurais). Dessa forma, pode-se dizer que o PMSB um documento que estabelece as regras para que todos os domiclios tenham acesso aos servios de saneamento bsico.

O Plano Diretor um instrumento importante para a ordenao territorial dos Municpios e cabe aqui ressaltar a relevncia da sua integrao como o PMSB.

Por isso, ao ser proposto um ndice urbanstico (ndice de aproveitamento, por exemplo) para determinada zona da cidade, este dever ser compatvel com a capacidade de instalao e operao do sistema de esgotamento sanitrio planejado para o local.

Ainda, do dilogo entre o Plano Diretor e o PMSB pode, por exemplo, definir-se diretrizes e aes de carter legal, institucional e tcnico destinadas a orientar a soluo de problemas atuais de saneamento, antecipar fututos problemas decorrentes da urbanizao e fornecer subsdios e orientaes para execuo de programas setoriais de longo termo, de forma que se evitem ou se restrinjam os impactos de tais problemas sobre o desenvovlimento urbano, no futuro.

Fonte: Plano Diretor participativo. Guia para elaborao pelos Municpios e cidados.

A falta de planejamento resulta em longas distncias para as estaes de tratamento de esgotos e para os locais de captao de gua a ser tratada, encarecendo a operao do sistema.

Lembra-se que o Ministrio Pblico desenvolve o Programa RESsanear propondo uma atuao coordenada no setor de saneamento bsico, com diretrizes mnimas para o olhar que se quer consolidar nessa rea.

POLTICA DE PROTEO DOS RECURSOS HIDRICOS

A Lei n 9.433/97 instituiu a Poltica Nacional de Recursos Hdricos e regulamentou o inciso XIX do artigo 21 da Constituio Federal de 1988. Trouxe o conceito da bacia hidrogrfica como unidade territorial para implementao da poltica de proteo dos recursos hdricos e a atuao do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos, com a exata compreenso de que a escala regionalizada a mais adequada para tratar do tema, considerando a peculiaridade do bem tutelado.

Os Planos de Recursos Hdricos, como instrumento da poltica, visam a fundamentar e orientar a implementao da poltica e do gerenciamento dos recursos hdricos. Dentre seu contedo mnimo, o plano abordar padres de ocupao do solo e propostas para a criao de reas sujeitas a restrio de uso, com vistas proteo dos recursos hdricos.

O Plano de Bacias, cuja atribuio para elaborao das Agncias de guas (art.44, inciso X), de ordem pblica e seu contedo mnimo deve atender ao artigo 7 da Lei.

Alm disso, tal como nas demais polticas at aqui analisadas, tambm a Poltica Nacional de Recursos Hdricos busca a aproximao com os demais planejamentos regionais, estaduais ou nacionais e com o uso do solo (artigo 3., IV e V), possuindo potencial para influenciar diretamente na escala municipal.

GT SOLUO MISTA

http://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/paginas/3340/

http://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/arquivos/ressanear/conclusoes_assinada.pdf

http://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/arquivos/diretrizessolucaomista.pdf

http://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/paginas/3340/http://www.mprs.mp.br/ressanearhttp://www.mprs.mp.br/ressanearhttp://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/arquivos/ressanear/conclusoes_assinada.pdfhttp://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/arquivos/ressanear/conclusoes_assinada.pdfhttp://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/arquivos/ressanear/conclusoes_assinada.pdfhttp://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/arquivos/diretrizessolucaomista.pdfhttp://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/arquivos/diretrizessolucaomista.pdfhttp://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/arquivos/diretrizessolucaomista.pdf

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L50 51

Importante que

o Municpio ao

elaborar seu plano

diretor no olhe

somente para sua

realidade poltica,

social e econmica.

Ele deve considerar

o ecossistema em

que est inserido,

principalmente a

bacia hidrogrfica

de que faz parte.

Da exsurge a importncia de compatibilizar o Plano Diretor com as disposies insertas nos planos de recursos hdricos, diretriz, alis, expressamente estabelecida pelo artigo 42-B, 2, do Estatuto da Cidade.

Os Municpios devem concretizar essa aproximao estratgica entre Plano Diretor e plano de bacias, lembrando que ter a oportunidade de integrar o Comit da Bacia Hidrogrfica e opinar e votar para o plano de bacias.

POLTICA HABITACIONAL:O direito moradia, includo no rol dos diretos humanos pela

Declarao Universal dos Direitos Humanos de 1948 e reconhecido como direito fundamental e social pela Constituio Federal de 1988, por derivar do direito a um nvel de vida adequado, envolve no somente a existncia de um abrigo, mas tambm outros aspectos como condies de higiene e conforto, salubridade, preservao da intimidade e privacidade, segurana, paz e dignidade, exigindo no mais das vezes uma prestao positiva do Estado, voltada para a populao vulnervel, para sua concretizao.

A ausncia dessa poltica pblica aliada falta de planejamento urbanstico resulta no crescimento desordenado das cidades, principalmente rumo s periferias, j carentes de infraestrutura e de servios, comprometendo a qualidade de vida dos moradores desses locais e ocasionando srias consequncias de cunho urbanstico, ambiental e socioeconmico cidade.

Exsurge, certamente, a necessidade de planejamento das cidades brasileiras com vistas promoo do direito moradia adequada, lembrando ser competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios promover programas de construo de moradias e a melhoria das condies habitacionais e de saneamento bsico (art. 23, IX, da CF).

Nesse passo, a Lei 11.124/05, marco regulatrio do Sistema Nacional de Habitao de Interesse Social, delineou alguns objetivos para implementao de uma poltica habitacional: I viabilizar para a populao de menor renda o acesso terra

urbanizada e habitao digna e sustentvel; II implementar polticas e programas de investimentos e subsdios, promovendo e viabilizando o acesso habitao voltada populao de menor renda; e III articular, compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuao das instituies e rgos que desempenham funes no setor da habitao (art. 2).

Destaca-se, modo igual, os princpios norteadores desse sistema (art.4., I), traduzidos pela moradia digna, pela funo social da propriedade urbana, pela gesto democrtica e pela compatibilidade e integrao das polticas habitacionais federal, estadual e municipal, bem como das demais polticas de desenvolvimento urbano, ambientais e de incluso social.

Para viabilizar o direito, a Lei estabelece algumas dire-trizes, que impactam sobre maneira na produo das cidades expressa no Plano Diretor: utilizao prioritria de incentivo ao aproveitamento de reas dotadas de infraestrutura no utilizadas ou subutilizadas, inseridas na malha urbana; utilizao prioritria

T E M A S I M P R E S C I N D V E I S P A R A A R E V I S O D O S P L A N O S D I R E T O R E S M I N I S T R I O P B L I C O D O R I O G R A N D E D O S U L52 53

de terrenos de propriedade do Poder Pblico para a implan-tao de projetos habitacionais de interesse social; sustentabili-dade econmica, financeira e social dos programas e projetos implementados; incentivo implementao dos diversos institu-tos jurdicos que regulamentam o acesso moradia.

Toda a Poltica de Habitao de Interesse Social local deve vir expressa no Plano Habitacional de Interesse Social, mediante termo de adeso ao Sistema Nacional de Habitao de Interesse Social (SNHIS). A importncia desse Plano Local de Habitao de Interesse Social (PLHIS) inegvel, pois atua, para alm de constituir condio de acesso aos recursos do Fundo Nacional de Habitao de Interesse Social (FNHIS), como instrumento de formulao da poltica, possibilitando que o Municpio, mediante diagnstico, conhea a realidade do setor habitacional no seu territrio para que possa traar um plano de ao com vistas ao enfrentamento dos problemas habitacionais constatados.

O plano, quando existente, ou a preocupao com a poltica habitacional deve estar de forma permanente dialogando com o Plano Diretor, mediando a produo do espao urbano, indicando as reas sujeitas a proviso da habitao de interesse social, os instrumentos de regularizao fundiria, instrumentos de induo e financiamento da poltica urbana aplicveis concret