Upload
truongduong
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
Evolvere ScientiaUNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
Evolvere ScientiaUNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
TEMÁTICA DOMINANTE NAS PINTURAS RUPESTRES DO SERROTE DO MORRINHO, NO
MUNICÍPIO DE SENTO SÉ - BA
Morgana Cavalcante Ribeiro1*
, Celito Kestering2
1Universidade Federal do Vale do São Francisco, 64.770-000 São Raimundo Nonato, PI, Brasil.
*Email: [email protected]
Resumo: Objetiva-se com esse trabalho apresentar os resultados da pesquisa que se fez no conjunto de
pinturas rupestres do Serrote do Morrinho, em Sento Sé – BA, para reconhecer atributos da identidade
de grupos que ocuparam a região do Submédio São Francisco no período pré-colonial. Inicialmente,
caracterizou-se a área, com a descrição de aspectos geológicos, geomorfológicos e ambientais para
desvendar parte do contexto com qual se relacionaram os grupos que realizaram as pinturas rupestres.
Posteriormente, classificaram-se as pinturas com os parâmetros da cognoscibilidade e da temática.
Pelo parâmetro da cognoscibilidade dominante, relacionada com longo tempo e amplo espaço,
classificam-se conjuntos de registros rupestres em tradições. Pelo critério da temática dominante,
relacionada com um espaço geográfico regional, filiam-se conjuntos de figuras rupestres em
subtradições. Observações preliminares permitem propor, em nível hipotético, que as figuras do
Serrote do Morrinho, por serem majoritariamente reconhecíveis e apresentarem dominância temática
diferente da que compõe a Subtradição Sobradinho, pertençam à Tradição São Francisco e a uma
subtradição a ser determinada.
Palavras-chave: Pintura rupestre, Serrote do Morrinho, Cognoscibilidade, Temática.
Abstract: We intend with this work presents the results of research that was done in the set of cave
paintings of Serrote do Morrinho, in Sento Sé – BA municipality, to recognize attributes of the identity
of groups that occupied the region of Lower Basin of San Francisco River in the pre-colonial period.
First time, we characterized the area, with the description of geological, geomorphological and
environmental aspects to unravel part of the context in which related groups which performed the cave
paintings. Subsequently, the paintings were classified with the parameters of knowability and
thematic. The dominant parameter of knowability, related to long time and large space, classified sets
of records in rock traditions. By the criterion of the dominant theme, related to a small geographical
area, affiliate themselves sets of figures in rock subtraditions. Preliminary observations allow us to
propose, in the hypothetical level, the figures of Serrote do Morrinho, being present mostly
recognizable and different thematic dominance from composing the sub-tradition Sobradinho, belong
to Tradition San Francisco and at a sub-tradition to be determined.
Keywords: Rock paintings, Serrote do Morrinho, Knowability, Theme.
Evolvere Scientia, V. 3, N. 1, 2014
ARTIGO
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
2
1 INTRODUÇÃO
Os estudos em Arqueologia procuram
resgatar e preservar os fragmentos vestigiais do
passado seja ele recente ou remoto. Para isso,
os arqueólogos utilizam a cultura material
sobrevivente à ação deletéria do tempo para
reunir o máximo de informações possíveis
acerca de grupos pretéritos.
Integrando parte dessa materialidade,
existem as pinturas rupestres que surgiram pela
primeira vez no registro arqueológico há mais
ou menos 40-30 mil anos, quando o Homo
sapiens surgiu e a mente humana começou a
florescer em meio aos novos domínios
cognitivos que passaram a fluir livremente
(MITHEN, 2002, p. 251).
Segundo Hernando (2002), com o
surgimento do Homo sapiens e a chamada
Revolução do Paleolítico Superior, os grupos
humanos desenvolveram uma ferramenta de
sobrevivência extremamente útil e versátil que
não existe em nenhuma outra espécie animal: a
capacidade de representação e utilização de
símbolos. Assim, as pinturas rupestres
serviram como um meio de comunicação para
indivíduos que viveram em condições
ambientais extremamente adversas (MITHEN,
2002, p. 255).
No Brasil, as primeiras inscrições vistas
em rochedos foram atribuídas a grandes
civilizações, tais como os fenícios, que teriam
aportado no Novo Mundo. Na concepção dos
colonos portugueses, os nativos indígenas
seriam desprovidos de aptidões intelectuais
suficientes para realizarem tais grafismos. Em
busca dessas civilizações perdidas, o prefácio
da arqueologia brasileira e nordestina foi
permeado de fantasia.
A aurora de uma arqueologia acadêmica
em terras brasileiras aconteceu com a vinda de
pesquisadores estrangeiros. Esses pioneiros
formaram uma geração de profissionais
brasileiros que prosseguiram com a pesquisa
científica.
Esta pesquisa foi desenvolvida na Área
Arqueológica de Sobradinho, no município de
Sento Sé – Bahia, com o objetivo de contribuir
para o reconhecimento de atributos de
identidade dos grupos que ocuparam a região
do Submédio São Francisco no período pré-
colonial. Quer-se levantar dados referentes aos
atributos de identidade dos grupos pré-
coloniais com o intuito de subsidiar
professores da rede pública e privada para
elevarem a autoestima coletiva da população
local, fundamental para o desenvolvimento
regional.
As pesquisas arqueológicas na área de
Sobradinho – BA começaram na década de
1970, com o Projeto Sobradinho de
Salvamento Arqueológico. Esse projeto foi
realizado em toda a área de inundação da
Barragem, num raio de 4.214 km², bem como
na área de segurança e suas adjacências. Esse
trabalho foi realizado por Valentin Calderón e
sua equipe, entendendo-se que a cultura
material da área da represa era importante para
a compreensão da vida dos grupos pré-
coloniais que habitaram a região. Os primeiros
sítios arqueológicos com registros rupestres na
região de Sobradinho foram, assim,
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
3
identificados durante essas atividades, sendo
caracterizados pela equipe como sítios com
arte parietal.
Mesmo o tempo sendo abreviado para as
atividades de salvamento, a equipe conseguiu
identificar e salvar um número considerável de
vestígios arqueológicos. Segundo Kestering
(2001), durante a realização dos trabalhos de
campo a equipe de Calderón visitou os locais
que poderiam apresentar fragmentos de
cerâmica e artefatos da indústria lítica em
superfície. Quando identificava vestígios
arqueológicos, a equipe realizava a
demarcação da área, gerava plantas, fazia o
registro fotográfico para coletá-los em seguida.
Confirmada a área como local de ocupação,
realizava-se a escavação de algumas
sondagens.
Finalizadas as atividades do Projeto
Sobradinho de Salvamento Arqueológico,
nenhuma outra pesquisa foi realizada na região
até Kestering (2001) iniciar o trabalho de
caracterização dos registros gráficos pré-
coloniais no Boqueirão do Riacho São
Gonçalo. Essa pesquisa culminou com a
dissertação de mestrado intitulada Registros
Rupestres na Área Arqueológica de
Sobradinho.
Kestering (2007) ampliou seu trabalho
definindo uma subtradição para os registros
rupestres dessa área arqueológica, a
Subtradição Sobradinho. Essa pesquisa rendeu
uma tese de doutorado intitulada Identidade
dos grupos pré-históricos de Sobradinho–
BA.
Em 2013, Lima Filho propôs, em nível
preliminar e hipotética, algumas fronteiras da
subtradição Sobradinho, definida por Kestering
(2007).
O presente trabalho de pesquisa foi
desenvolvido no Serrote do Morrinho,
localizado no município de Sento Sé – BA.
Nessa feição de relevo, foram identificados
três sítios arqueológicos, um desses sítios, um
matacão1, possui pinturas rupestres, dispostas
em quatro painéis. O matacão está sofrendo
desplacamento causado pela oscilação térmica
que decorre, principalmente das mudanças de
temperatura entre o dia e a noite. As pinturas
estão bastante desgastadas por causa da sua
exposição ao sol, ao vento e à chuva. Além
disso, há raízes de xiquexique (Cephalocereux
gounellei), urina e fezes de mocó (Kerodon
rupestris) muito próximas às pinturas.
A relevância dessa pesquisa reside na
importância de complementar e enriquecer o
banco de dados acerca do período pré-colonial
do Vale do São Francisco além de contribuir
no reconhecimento da identidade dos grupos
que habitavam o Submédio São Francisco em
períodos anteriores à colonização.
2 PROCEDIMENTOS TEÓRICOS E
METODOLÓGICOS
Iniciou-se a pesquisa com estudo
bibliográfico referente aos conceitos de
1 De acordo com a escala granulométrica de
Wentworth, matacão é a maior dimensão de
fragmentos de rocha.
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
4
atributos, tradição e subtradição,
cognoscibilidade e temática com vistas à
adoção de parâmetros para o reconhecimento
dos grupos pré-coloniais que ocuparam o
Submédio São Francisco.
2.1 Conceitos
Entende-se como cognoscibilidade a
qualidade do que é cognoscível. A
cognoscibilidade depende da relação dialógica
entre o sujeito cognoscente e o objeto
cognoscível. Existem objetos que, por sua
natureza (essência ou estrutura) e por seus
atributos (aparência) são facilmente
identificados. Outros dependem do conjunto de
conhecimentos, da capacidade de percepção ou
do grau de aprimoramento técnico do sujeito
cognoscente.
Todo o conhecimento envolve a relação
direta do sujeito cognoscente com algum
objeto (a relação de conhecer diretamente
ou, conversamente, de apresentação de um
objeto a um sujeito cognoscente), mesmo
que esse conhecimento seja por descrição de
outro objeto (HUSSELL, 1964).
Pelo parâmetro da cognoscibilidade
dominante, relacionada com longo tempo e
amplo espaço, classificam-se conjuntos de
pinturas em tradições. Identifica-se a
cognoscibilidade dominante pela segregação
qualitativa e quantitativa de figuras
conhecíveis e reconhecíveis. São conhecíveis
as figuras que representam realidades do
mundo conhecido pelo pesquisador. Para a
identificação de grafismos reconhecíveis, que
não representam realidades conhecidas,
considera-se unidade gráfica um signo ou todo
o conjunto de signos e espaços vazios de um
painel, enquanto não são identificadas
ocorrências de figuras semelhantes em outros
painéis. Eles são reconhecíveis, por isso, nas
recorrências.
Temática é o germe a partir do qual se
podem desenvolver diferentes composições
para representar realidades pertencentes ao
mundo material ou imaginário. Seu
reconhecimento é possível na peculiaridade
das formas. As temáticas das figuras
conhecíveis caracterizam-se pela representação
de expressões corporais ou atributos de
identidade, como ornamentação, forma e
tamanho. Nas figuras reconhecíveis,
caracterizam-se pela presença de elementos
básicos (signos e significantes, geométricos ou
não) e seu agenciamento nas unidades gráficas.
Pelo critério da temática dominante,
relacionada com um espaço geográfico
regional, filiam-se conjuntos de figuras
rupestres em subtradições. A temática refere-se
a preferências nas formas que os autores de
uma sociedade utilizavam para pintar
diferentes arranjos que compõem os painéis.
2.2 Metodologia
Fez-se uma pesquisa imagética com base
nas pesquisas anteriores realizadas na região.
(KESTERING, 2007 e LIMA FILHO, 2013).
Complementaram-se os estudos com atividades
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
5
de campo, oportunidade em que se fez
prospecção2 intensiva e sistemática no Serrote
do Morrinho, para identificação de sítios
arqueológicos. Na oportunidade, fez-se um
levantamento fotográfico das pinturas e de
aspectos relevantes do ambiente para se
desvendar a paisagem com a qual conviveram
os grupos pré-coloniais que as realizaram.
As imagens das pinturas e do contexto
ambiental foram feitas com câmaras digitais e
a localização geográfica dos sítios
arqueológicos foi definida com a utilização de
GPS Garmin Etrex. Para facilitar a
visualização e análise das pinturas, fez-se a
vetorização das imagens no software
GIMPPortable.
Em laboratório, fez-se o reconhecimento
do padrão de cognoscibilidade e das temáticas
dominantes para aferir se correspondiam à da
Subtradição Sobradinho (Fig. 1). Na
oportunidade, sistematizaram-se os dados para
que outros estudantes do Curso de Arqueologia
e Preservação Patrimonial possam utilizá-los
na elaboração de monografias e outros
trabalhos acadêmicos de pesquisa.
Figura 1 – Temática dominante da Subtradição
Sobradinho
2 Segundo Bicho (2006) prospecção arqueológica
constitui-se como uma atividade executada em
campo com o objetivo de reconhecer e ∕ ou
localizar sítios arqueológicos.
Fonte: Kestering, 2007, p. 86
Durante esta pesquisa buscou-se segregar
atributos da identidade dos grupos pré-
coloniais do Vale do São Francisco pela
identificação do padrão de cognoscibilidade e
da temática dominante no Serrote do
Morrinho, no município de Sento Sé – BA.
Em toda extensão do Vale do Rio São
Francisco, existem vestígios que comprovam
intensa ocupação humana no período pré-
colonial. Em muitos suportes de rochas
existem painéis de pintura e de gravura
rupestre e, nos terraços fluviais antigos,
encontram-se vestígios arqueológicos da
indústria lítica e cerâmica. Expostos à
degradação física, química e biológica, as
pinturas e gravuras deterioram-se e dispersam-
se os outros vestígios arqueológicos. Perdem-
se, assim, muitas informações básicas que
poderiam contribuir para a construção do
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
6
conhecimento científico a respeito do período
pré-colonial do Submédio São Francisco.
3 O SERROTE DO MORRINHO
O Serrote do Morrinho está localizado
junto ao povoado de Morrinhos, no município
de Sento Sé – BA, região Noroeste do Estado
da Bahia, Submédio São Francisco (Fig. 2 e 3).
Está a, aproximadamente, 7 km a sudoeste
povoado de Piçarrão, a 58 km a oeste da cidade
de Sobradinho e a 100 km da atual sede do
Município de Sento Sé. Fica a 15 km a
sudoeste da unidade de pesquisa de Kestering
(2007) e a 5 km a oeste da unidade de pesquisa
de Lima Filho (2013) (Fig. 4).
Figura 2 – Serrote do Morrinho
Fonte: Acervo pessoal dos autores
Figura 3 – Localização do Serrote do Morrinho
Fonte: Google Earth (2013), modificado pelos
autores
Figura 4 – Definição preliminar e hipotética do
território ocupado pelos autores das
figuras da Subtradição Sobradinho
Fonte: Lima Filho (2013, p. 141)
As rochas que compõem o Serrote do
Morrinho pertencem ao grupo geológico
Metagranitóides de Regime Transcorrente da
Tectogênese Transamazônica (Fig. 5). As
rochas Metagranitóides jazem sobre o conjunto
de rochas plutônicas e metaplutônicas muito
antigas de origem ígnea, magmática ou
eruptiva. A Tectogênese Transamazônica
ocorreu no Proterozóico Inferior, há,
aproximadamente, dois bilhões de anos,
quando começavam a parecer no planeta as
primeiras formas de vida unicelular avançada e
multicelular.
Figura 5 – Esboço geológico do Serrote do
Morrinho
Fonte: Angelim (1997), modificado pelos autores
Nessa feição de relevo, identificaram-se
três sítios arqueológicos, quais sejam:
Morrinho 1 (código 028.1), Morrinho 2
(código 028.2) e Morrinho 3 (código 028.3).
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
7
3.1 Sítio arqueológico Morrinho 1
O sítio Morrinho 1 é um lugar plano, com
solo arenoso e vegetação rala. Nele houve uma
roça onde se plantava mandioca, feijão,
melancia e milho. É multicomponencial, ou
seja, possui vestígios pré-coloniais (artefatos
líticos e pinturas rupestres) (Fig. 6 e 7),
coloniais e/ou pós-coloniais (fragmentos de
louça, cerâmica, vidro e metal) (Fig. 8 a 11).
Figura 6 – Artefato lítico pré-colonial (núcleo)
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 7 – Pilão em matacão e percutor
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 8 – Fragmento de louça
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 9 – Fragmento de cerâmica
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 10 – Fragmento de vidro
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 11 – Fragmento de metal
Foto: Acervo pessoal dos autores
3.2 Sítio arqueológico Morrinho 2
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
8
O sítio Morrinho 2 é um afloramento de
metagranito porfirítico onde se esculpiu e se
utilizou uma base fixa de pilão em rocha (Fig.
12 e 13).
Figura 12 – Sítio arqueológico Morrinho 2
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 13 – Pilão em rocha
Foto: Acervo pessoal dos autores
No município de Sento Sé é comum
encontrarem-se bases de pilão, esculpidas em
matacões ou fixas em afloramentos rochosos.
Normalmente eles situam-se próximo a fontes
de água ou no leito dos riachos, junto a solos
agricultáveis onde, no período pré-colonial,
entre outras culturas se plantava milho.
Calderón et al. (1977, p. 35) afirmaram que
“este cereal, como base alimentar, era pilado,
moído ou triturado e utilizado de diversas
maneiras na alimentação”.
3.3 Sítio arqueológico Morrinho 3
O sítio Morrinho 3 é constituído de um
matacão em que se identificaram quatro
painéis de pinturas rupestres, com um total de
nove figuras de temáticas variadas (Fig. 14).
Figura 14 – Sítio arqueológico Morrinho 3
Foto: Acervo pessoal dos autores
Por se constatar que todas as figuras
rupestres identificadas eram reconhecíveis,
concluiu-se que elas foram feitas por membros
de um grupo pré-colonial diferente daquele que
realizou as pinturas da Tradição Nordeste,
dominantes na região Sudeste do Piauí. Lévi-
Strauss (1989) caracterizaria o grupo autor
como membros de uma sociedade quente.
Hernando (2002) reconhecê-los-ia como
membros de uma sociedade metafórica. Por ser
dominante no Vale do Rio São Francisco,
classifica-se, preliminar e hipoteticamente,
esse grupo de pinturas na Tradição São
Francisco.
As pinturas rupestres do Morrinho 3
representam temáticas variadas. Foram
pintadas com tinta vermelha e com pincéis de
largura média.
4 ANÁLISE DAS PINTURAS
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
9
Das nove figuras que compõem os quatro
painéis do sítio arqueológico Morrinho 3 (Fig.
15 a 18), 7 (77,78%) representam temáticas
recorrentes e 2 (22,22%), não-recorrentes. São
distribuídas as figuras de recorrência temática
(RT) em cinco conjuntos (Fig. 19 a 24). Foram
constatadas duas temáticas não recorrentes
NR-57 e NR-583.
Figura 15 – Painel 1
Fonte: Kestering, 2011, p. 144
Figura 16 – Painel 2
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 17 – Painel 3
3 As duas figuras não recorrentes (NR-57 e NR-58)
não foram identificadas nas pesquisas de
Kestering (2007) e Lima Filho (2013).
Fonte: Acervo pessoal dos autores
Figura 18 – Painel 04
Fonte: Acervo pessoal dos autores
Figura 19 - Temáticas recorrentes
Fonte: Os autores
Figura 20 – Temática dominante (RT-16) com base
em Kestering (2007) e Lima Filho
(2013)
Fonte: Os autores
Figura 21 – Temática dominante (RT-21) com base
em Kestering (2007) e Lima Filho
(2013)
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
10
Fonte: Os autores
Figura 22 – Recorrência temática (RT-17), com
base em Kestering (2007) e Lima
Filho (2013)
Fonte: Os autores
Figura 23 – Recorrência temática (RT-22) com base
em Kestering (2007) e Lima Filho
(2013)
Fonte: Os autores
Figura 24 - Recorrência temática (RT-75) com base
Lima Filho (2013)
Fonte: Os autores
Figura 25 – Figura não recorrente (NR-57)
Fonte: Os autores
Figura 26 – Figura não recorrente (NR-58)
Fonte: Os autores
4.1 Discussão
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
11
Não se constatou predominância da
temática representada por traços contínuos, em
diagonal ascendente e descendente, quando
horizontais, ou da esquerda para a direita e
vice-versa, quando verticais, logo, as pinturas
rupestres do Serrote do Morrinho não
pertencem a Subtradição Sobradinho.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da pesquisa permitem propor,
em nível hipotético e preliminar, que as
pinturas do Serrote do Morrinho, por serem
majoritariamente reconhecíveis, pertençam à
Tradição São Francisco e, por apresentarem
dominância temática diferente da que compõe
a Subtradição Sobradinho, pertençam a uma
subtradição a ser definida.
Pondera-se que a pesquisa limitou-se a uma
única feição de relevo onde as rochas que
serviram de suporte para a realização das
pinturas rupestres são constituídas de
metagranitos da Tectogênese Transamazônica,
diferentes das rochas metassedimentares da
Chapada Diamantina, Formação Tombador,
onde Kestering (2007) identificou a temática
dominante da Subtradição Sobradinho. A
identificação de dominâncias temáticas
diferentes, relacionadas com suportes de
estrutura geológica também diferente sugere a
ocorrência de uma subtradição que não a de
Sobradinho. Para que essa se comprove
demandam-se outras pesquisas na região.
Recomenda-se que se analisem as pinturas e
gravuras de todos os sítios arqueológicos que
se localizam ao sul do povoado de Piçarrão, no
Município de Sento Sé – BA, onde se
estendem os metagranitos da Tectogênese
Transamazônica, relacionando-as com os
registros gráficos abundantes nas rochas
metassedimentares da Chapada Diamantina do
entorno.
Com esta pesquisa quis-se sensibilizar a
sociedade na visualização do papel social do
arqueólogo, pois na busca da identidade de
grupos pré-coloniais, esses profissionais têm a
tarefa de resgatar a autoestima coletiva dos
sertanejos para edificar com eles o futuro da
região Nordeste do Brasil (KESTERING).
REFERÊNCIAS
ANGELIM. Luiz Alberto de Aquino.
Programa Levantamentos Geológicos
Básicos do Brasil Petrolina: Folha SC. 24-V-
C. Escala 1/250.000. Brasília: CPRM, 1997.
BICHO, Nuno Ferreira. Manual de
arqueologia pré-histórica. Lisboa, Portugal:
70 Compêndio, 2006.
CALDERÓN, Valentim; JÁCOME, Yara
Dulce Bandeira de Ataíde; SOARES, Ivan
Dorea Cancio. Relatório das atividades de
campo do Projeto Sobradinho de
Salvamento Arqueológico, 1977.
GOOGLE EARTH. US Depto State
Geographer. Maplink / Tele Atlas. 2013.
Acesso: 20 Jan 2013.
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
12
HERNANDO, Almudena. Arqueología de la
Identidad. Madrid: Akal, 2002.
HUSSELL, Beltrand. Nosso Conhecimento
do Mundo Exterior. São Paulo: Nacional,
1964.
KESTERING, Celito. Registros Rupestres na
Área Arqueológica de Sobradinho. Recife:
UFPE (Dissertação de Mestrado), 2001.
______. Patrimônio Arqueológico de Sento Sé
– BA. 2011 (Prelo).
______. Identidade dos grupos pré-
históricos de Sobradinho-BA. Recife: UFPE,
2007. Tese (Doutorado em Arqueologia) –
Programa de Pós-Graduação em Arqueologia,
Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
2007.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento
Selvagem. Campinas, SP: Papirus, 1989.
LIMA FILHO, Sebastião Lacerda de. Pintura
Rupestre: definição das fronteiras da
Subtradição Sobradinho – BA. Laranjeiras:
UFS, 2013. Dissertação (Mestrado em
Arqueologia) – Programa de Pós-Graduação
em Arqueologia e Interfaces Disciplinares,
Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras,
2013.
MITHEN, Steven J. A pré-história da mente:
uma busca das origens da arte, da religião e
da ciência. São Paulo: Editora UNESP, 2002.