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TempoLivre N.º 220 Novembro 2010 Mensal 2,00 www.inatel.pt Trindade estreia “Vozes de Trabalho” Entrevista com Carlos Mendes Viagens A vibrante Madrid Terra Nossa Zêzere, na companhia de um rio

Tempo Livre - Novembro - N 220

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Tempo Livre de Novembro, nº 220

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TempoLivreN.º 220Novembro 2010Mensal2,00 €

www.inatel.pt

Trindadeestreia “Vozesde Trabalho”

Entrevista com Carlos Mendes

ViagensA vibrante Madrid

Terra NossaZêzere,

na companhiade um rio

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Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: CarlosMamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, JoaquimDiabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, MariaMesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, BaptistaBastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA,Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Patrícia Strecht, Telef. 210027156; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - RuaConsiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade naD.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 148.957 exemplares

Na capaFoto: José Frade

19ENTREVISTA

Carlos Mendes e as “Vozesde Trabalho”Arquitecto de formação,mas popularizado comocompositor e intérprete,Carlos Mendes fala nestasua primeira entrevista à TLda inédita produçãomusical da Inatel comestreia marcada para 25 deNovembro no Trindade.Cecília Guimarães, FilipaPais, Lurdes Norberto eTonicha integram o elencodeste musical que vaisurpreender o país.

5 EDITORIAL

6 CARTAS E COLUNA

DO PROVEDOR

10 NOTÍCIAS

14 FORMAÇÃO NA DAF

16 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

42 PORTFÓLIO

Bahrein

46 PAIXÕES

Nelson Pinto, o lutador

48 MEMÓRIA

Canto e Castro, o “vadio” do teatro

50 OLHO VIVO

52 A CASA NA ÁRVORE

79 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

80 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

82 CRÓNICA

Fernando Dacosta

55 BOA VIDA

74 CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos, Novos livros e Cartaz

24MUSEUS

Banco de PortugalA Tempo Livre foiver a exposiçãopermanente doMuseu doBanco dePortugal, emLisboa, que noslembra quem fomos e oque somos através do percursodiacrónico do dinheiro desde o artigopadrão até ao euro. Nunca mais iráver as moedas e as notas da mesmamaneira…

28VIAGENS

Madrid: uma cidade vibranteNo ano do centenário da Gran Via,uma viagem pela história e espaçosculturais da capital de Espanha e quepoderá desfrutar no âmbito daprogramação de Fim de Ano daFundação Inatel.

36TERRA NOSSA

Zêzere: na companhia de um rioDo alto da serra da Estrela até à plácidaConstância, onde o Zêzere abraça oTejo, são mais de 200 quilómetros compaisagens deslumbrantes, montanhas,vales, desfiladeiros, florestas de pinhoe eucalipto, vilas históricas, aldeiasque sobrevivem como podem,barragens, albufeiras, pontes, ruínas,pescadores, canoístas, caminhantes,turistas e habitantes locais. Um viagemde sonho….

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Editorial

Vítor Ramalho

Dignificar o trabalho

No ano em que se comemora a passa-gem do 75º aniversário da Inatel éimportante sublinhar a preocupaçãoque houve em sinalizarmos a efemé-

ride com iniciativas que atendem à natureza daalma da nossa Fundação.

A entrevista que a Tempo Livre faz nestenúmero a Carlos Mendes, trabalhador e "embai-xador" da Inatel insere-se nesse objectivo. Éque Carlos Mendes deu também corpo à peçade teatro "Vozes de Trabalho" que no dia 25 deNovembro estará no Teatro da Trindade e paraa qual sensibilizamos, desde já, os nossos asso-ciados.

Esta peça, servida por um elenco de actores eactrizes que gozam - e justamente - de grandenotoriedade e reconhecimento públicos vaibeber o enredo às raízes da cultura tradicionalportuguesa e mais concretamente aos múltiploscantares também das múltiplas profissões exis-tentes entre nós. Daí o nome "Vozes de Trabalho".

Esta iniciativa, de dignificação do trabalho ede quem trabalha não passará seguramentedespercebida e integra-se também na dinami-zação que a responsável do conselho de admi-nistração, Dra. Cristina Baptista, a direcção cul-tural e a responsável do Teatro da Trindadevêm prosseguindo.

O conselho de administração, apesar da gravecrise existente não se tem poupado a esforços nasalvaguarda e valorização da nossa cultura tradi-cional, ciente, porém, da necessidade de umagestão futura compatível com a maior escassezde recursos.

É nesta linha de rentabilização de meios que,após adequadas obras de requalificação, concen-traremos, já durante este mês, na sede central, osserviços da área do turismo que estavam noChiado. Do mesmo modo, e no sentido, também,de reforçar a proximidade com os beneficiáriosindividuais e colectivos, foi instalada no Parquede Jogos 1º de Maio a Agência de Lisboa.

Ainda na mesma linha de orientação, proce-demos, recentemente, à cativação de verbas orça-mentais em todos os sectores de actividade, acomeçar pelas mais directamente ligadas aosmembros do conselho de administração, com apreocupação de não afectar o essencial dosobjectivos da Inatel como o demonstram asrequalificações em curso dos equipamentos, aeficaz e muito aliciante renovação do nosso sitee toda a demais acção modernizadora daFundação. n

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JOSÉ FRADE

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Cartas

Coluna do Provedor

“Sétima Onda”

A propósito das referências contidas na penúlti-ma revista “Tempo Livre”, relativas ao espaço“SÉTIMA ONDA” inaugurado este Verão juntoda Edifício Praia da unidade de Albufeira, per-mitam-me dizer que efectivamente se trata deuma melhoria considerável na envolvente do“nosso” espaço, atento o bom gosto da sua deco-ração, entre outros.

Não posso porém deixar de manifestar aminha indignação pelo facto de tal espaço ser“fonte” de ruído ensurdecedor pela noite dentro(até cerca das 04 horas), com a música que ali sedebita sem olhar a limites nem ao facto de estarao lado de um edifício destinado ao descansodos seus utentes.

Contei com a prestimosa colaboração do pes-soal da Unidade, que me proporcionou um outroquarto, quando não, teria de sair antes da dataprevista, pois a minha estada estava a tornar-seum inferno.

Neste quadro, restam duas soluções: o volu-me da música no “Sétima Onda” é reduzido paraos seus utentes ( e não extensível aos ocupantesdos quartos virados para aquele bar); ou elimi-nem as reservas para a ala próxima do bar, dei-xando-as a quem, depois de informado previa-mente, não se importar de dançar até tarde…

Serafim Cardoso (via e-mail)

50 anos na INATEL

Completaram, este mês, 50 anos de ligação àFundação Inatel os associados: Sílvio Silva eFernando Rodolfo, de Lisboa; Mário Antunes, deAveiro.

VÁRIAS SÃO as preocupações que vão chegan-do a este Gabinete, expressas pelos nossos asso-ciados. O curioso é que estas preocupações nãosão propriamente reclamações sobre o funciona-mento dos diversos serviços, mas sobre o futuroda INATEL.

Com efeito a onda de pessimismo que abun-da pelo país fora, vai causando uma depressãocolectiva. Por muito que as “agressões” venhamde fora, a vigilância especulativa dos “rating”sobre o mercado financeiro lembra uma políciade má memória que ofende e humilha.

A culpa da crise que toca aos mais pobres eameaça destruir a classe média, atravessa o pen-samento colectivo e vai morrer solteira porqueafinal todos são culpados. É preciso superá-lascom alternativas positivas que têm que favore-

cer os mais pobres; Pedem-se sacrifícios maseles não magoam todos por igual!

No meio de tudo vão surgindo os boatos queconfundem alhos com bugalhos. Assim há osque desejam uma INATEL humanista e não umaINATEL mercantilista e outros que ouvem dizerque se vai vender património e não preservá-lo eque os Programas sociais vão acabar.

Meus caros associados, devo tranquilizar-vospelas provas de idoneidade do Conselho deAdministração e pela informação que vão trans-mitindo.

A crise também afecta a INATEL, mas não abancarrota; as dificuldades existem, como asque o país atravessa, mas tal como Portugal, anossa Fundação e os seus objectivos sociais vãocontinuar.

A correspondênciapara estas secções

deve ser enviadapara a Redacção de

“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,

nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:

[email protected]

Kalidá[email protected]

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Notícias

l Reservar uma estadia numaunidade hoteleira da Fundação Inatel,comprar viagens nacionais ouinternacionais, ou simplesmenteactualizar e consultar os seus dadospessoais online, está agora maisacessível graças ao novo site daFundação Inatel, já disponível emwww.inatel.pt.

Com um visual renovado epotencialidades acrescidas quepermitem a consulta rápida eeficiente a todas as áreas deintervenção da FI, o site permite,ainda, a inscrição rápida e fácil denovos associados.

“É uma mudança que pretendecaptar novos públicos, em especial

os mais novos”, refere MarcoSentieiro, coordenador da área deInformática, sublinhando que “graçasà integração de vários canais devenda online, em especial na área doturismo e hotelaria, os nossosprodutos adquirem maior visibilidadeno mercado e chegam a maispessoas”.

As novas funcionalidades e aimagem atractiva do novo site vão aoencontro da estratégia de renovaçãoglobal da imagem da FI promovidapela Direcção de Marketing eRelações Internacionais e já comresultados visíveis nas Agências e nascampanhas publicitárias levadasrecentemente a cabo.

Acordo Inatel/WdexTrindade melhoracondições de escuta

l Na sequência de umacordo firmado com aempresa Widex – CentrosAudutivos, o Teatro daTrindade dispõe já, emtodas as filas, de umsistema de anel magnéticoque facilita as condiçõesde escuta a utilizadores deaparelhos auditivos.Graças ao referido sistema,pioneiro em Portugal,qualquer espectador comdificuldades auditivaspode beneficiar demelhores condições deescuta solicitando, paratanto, na bilheteira doTrindade, de um dosdispositivos de apoio àescuta sem fios. A parceriaacordada possibilita,ainda, consultas gratuitasde rastreio auditivo aosbeneficiários da Inatel nos24 Centros de ReabilitaçãoAuditiva da Widex emtodo o país

Novo Site Inatel

l No âmbito de uma campanha demaior proximidade, as Agências Inatelirão contactar os nossos Associadospara se proceder à actualização dosdados de email e Telemóvel. Esteprocesso irá permitir que seja enviadatoda a informação referente às váriasactividades desenvolvidas localmente,bem como todas as ofertas epromoções para as nossas Unidades

Hoteleiras e viagens em Portugal e noestrangeiro. Irá também ser enviadauma carta para todos os Associadospoderem actualizar os dados e remeterpara a Inatel num envelope RSFF. OsAssociados que aderirem a estainiciativa de contacto mais directoficam automaticamente habilitados aosorteio de viagens e estadias nasnossas Unidades Hoteleiras.

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Contacto Directo com os Associados

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l Numa óptica de dinamizaçãocomercial e diversificação dosnossos produtos turísticos bemcomo de responder com maiseficácia às necessidades dos váriossegmentos de clientes (jovens;famílias, etc.) a Fundação Inatelfirmou acordos com váriosoperadores de referência nomercado nacional.

Nortravel, Lusanova, MundoVIP, Grantur, Sonhando(representante das marcas TerraBrasil e Terra África) e MSCcruzeiros são os operadores em

causa. Assim, para além dabrochura Inatel, que propõe umleque de programas

cuidadosamente seleccionados,sendo alguns exclusivos Inatel,colocamos ao dispor dos nossossócios beneficiários pacotesturísticos atractivos para novosdestinos, como Eurodisney, Paris,Roma e Cuba entre muitos outros.

Sobre os preços de brochura dosvários operadores, a Fundaçãoconcederá um desconto especial demodo a proporcionar aos sóciosbeneficiários preços maiscompetitivos, aliás à semelhançado que já é praticado nos restantesprogramas Inatel.

Acordos com outros operadores

Inatel amplia oferta turística

l A Fundação Inatel assinou umacordo de cooperação com aAssociação de Socorros Mútuos deEmpregados do Comércio(ASMECL) que visa prestar aosassociados e trabalhadores da Inatelo acesso a diversas valências desaúde, nomeadamente consultas decardiologia, reumatologia,endocrinologia, dermatologia,otorrinolaringologia, urologia eoutras especialidades a preços maisacessíveis.

Num outro protocolo, com osServiços Sociais da Câmara deLisboa (na foto), permite o acessodos trabalhadores da FI aos serviçosclínicos daquele departamento daautarquia lisboeta.

Como contrapartida, os membrosdestas duas entidades poderãousufruir dos nossas actividades nasáreas do turismo, cultura edesporto, incluindo teatro daTrindade e alojamento em unidadeshoteleiras.

Parcerias na Saúde

Agênciade Lisboa no Parque1º de Maio

Com o objectivo de

dinamizar as acções de

proximidade com os

beneficiários individuais

e colectivos e aumentar,

de forma significativa, o

número de beneficiários

individuais, a Agência

Inatel de Lisboa passou

a funcionar, desde

Outubro último, nas

instalações do Parque de

Jogos 1º de Maio.

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Notícias

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l O tema do Dia Mundial de Turismoeste ano é o “Turismo &Biodiversidade”, como anunciou aOrganização Mundial de Turismo. AFundação Inatel, como prestadora deserviços sociais credenciada na área deTurismo e consciente da importânciada Biodiversidade para asustentabilidade desta actividade,associou-se às comemorações nacionaisdo Dia Mundial de Turismo, com umconjunto de iniciativas,designadamente uma campanhapromocional “Estada gratuita no DiaMundial do Turismo” (ofertas aos seusbeneficiários de estadia na noite de 26para 27 de Setembro, numa das 18unidades Inatel) e a apresentaçãopública de concurso de fotografiasubordinado ao tema “Conhecer paraPreservar - INATEL e a Biodiversidade”,destinado a todos os participantes dos

percursos dos trilhos de caminhadas doprograma “Caminhar com a Inatel”.

A Inatel, recorde-se, foi o primeirooperador a certificar roteiros turísticosa Carbono neutro, em 2007. Nestespasseios ecológicos, todo o carbonoproduzido foi sequestrado pelaplantação de árvores de diversasespécies (Cerveira e Albufeira),efectuada pelos próprios clientesparticipantes nas viagens turísticasrealizadas.

De comboio até Vila Velha de RodãoAinda no âmbito do Dia Mundial doTurismo, a Inatel, representada pelo seupresidente, Vítor Ramalho, participou,no dia 27 de Setembro, numa iniciativacomemorativa que envolveu umadeslocação de comboio, a partir deSanta Apolónia até Vila Velha deRódão. Durante o percurso, que contoucom as presenças dos Secretários deEstado do Turismo e do Ambiente,Bernardo Trindade e Humberto Rosa,respectivamente, a comitiva teve aoportunidade de, à passagem pelaunidade do Alamal, presenciar umalargada de balões divulgando a novapolitica da Inatel.

Obrasde requalificaçãoem unidadeshoteleiras

l O CA da Inatel abriuconcurso público para reforçoda requalificação de mais 22apartamentos na unidade deOeiras. Para a mesma unidadeestá prevista a requalificação, acurto prazo, do restaurante ede outros espaços de acessopúblico.

O Conselho avalioutambém o inicio da execuçãoda obra de requalificação daagência de Évora (PalácioBarrocal), da piscina deManteigas, do refeitório da Fozdo Arelho, e das diligênciasem curso junto da Câmara deAlbufeira para a requalificaçãodo edifício da praia. Foi aindadeliberado apresentarem-secandidaturas ao QREN para asrequalificações das unidadeshoteleiras do Luso, de Vila daFeira, de Entre-os-Rios, deManteigas e dos Parques deCampismo do Cabedelo e de S.Pedro de Moel.

Orçamento 2010O CA analisou, em recentereunião, as inesperadascativações e diminuiçõessignificativas dascomparticipações públicaspara o orçamento de 2010 (anoem curso), da Inatel, incluindoas que se referem a programasgovernamentais e que noconjunto se traduzem emcerca de 3,3 milhões deeuros.CA elaborou umainformação para todos ostrabalhadores, incentivando-osao reforço da poupança emdesperdícios e ao aumento dasreceitas.

Inatel comemorou Dia Mundial do Turismo

O presidente da câmara municipal de

Albufeira, Desidério Silva,

acompanhado da esposa, esteve em

Lisboa, num fim de semana de

Outubro, para ver e aplaudir a peça em

cena no Teatro da Trindade, “O Dia dos

Prodígios”, baseada no romance

homónimo de Lídia Jorge. A escritora,

registe-se, é familiar do autarca

algarvio que se deslocou

propositadamente à capital para

apreciar a adaptação e encenação que

Cucha Carvalheiro fez da sua mais

famosa obra.

Presidente de Albufeira no Trindade

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l No âmbito do 30º aniversário daestreia de “Manhã Submersa” e dos 50anos de carreira do realizador LauroAntónio, decorre no teatro da Trindade,até 30 de Novembro, uma retrospectivada sua obra que contempla mais de 25filmes com destaque para a múltiplaactividade na produção televisiva e nodocumentarismo. Ocasião para ver ourever a série televisiva, A Paródia(1986-87), Bonecos de Estremoz (1976),Zé Povinhgo na Revolução (1978), JoséViana – 50 Anos de Carreira

(1997),Humberto Delgado:“Obviamente, demito-o!”(2008), entre outros.

Na sessão de abertura,a administradora daInatel, Cristina Baptista,enalteceu o enormecontributo artístico docineasta, sublinhando a

importância que teve para o cinemaportuguês a adaptação do romance deVergílio Ferreira. Antes da exibição de“Manhã Submersa” - e da entrega deum troféu, em jeito de homenagem,conjunto com a Fundação Inatel- , oPresidente do Abc Cineclube deLisboa, Manuel Neves recordou opercurso cineclubista do realizador esalientou a sua grande capacidadepara o filme de ficção. Sessões, comentrada livre, realizam-se às terças, nohorárioo das 18h e 21h30.

Jacinto Luísexpõe no Estoril

Na Galeria de Arte do Casino

Estoril está patente, até final do

mês, uma exposição de pintura

de Jacinto Luís, em que o tema

principal é a Lisboa antiga. As

suas praças e ruas, os telhados

das suas casas, o rio e a ponte

que o atravessa, o aqueduto das

águas livres, que é um dos seus

ícones mais conhecidos e muitos

dos recantos mais característicos

da capital pombalina.

Com bolsas e estadias, desde os

anos 70, em Paris, Roma e

Madrid, este artista conta já no

seu currículo com mais de

quatro dezenas de exposições

realizadas em importantes

Galerias de França, Suíça,

Bélgica, Suécia, Estados Unidos,

Colômbia e, obviamente,

Portugal.

Lauro Antónioem retrospectiva no Trindade

l Quando se aperceberam que olançamento dos respectivosromances estava marcado para o

mesmo dia e hora,Mário Zambujal eJoão Paulo Guerra,camaradas na escritae amigos duradouros,acertaram novasdatas, superando asangústias ou dúvidasdos amigos comuns edos fiéis leitores em

matéria de opção.Assim, o autor da

“Crónica dos Bons Malandros”manteve o palco do Maxime, a 14

de Outubro, para escutar acelebração da “Dama deEspadas”, feita por CarlosPinto Coelho. Estreia deuma nova editora, a Clubedo Autor, o novo e saborosoromance de MárioZambujal – uma envolvente emisteriosa história de amor -promete, como sublinha o autor,“prender os leitores até à últimapágina”.

Uma semana depois, coube aAna Sousa Dias confessar, naLivraria Barata, o prazer que tevena leitura de “Romance de umaConspiração” de João Paulo Guerra.

Primeira obra de ficção doconsagrado jornalista e autor, entreoutras obras, de “DescolonizaçãoPortuguesa – O Regresso dasCaravelas”, o romance de JPG,baseado em factos reais,transporta-nos, numa escritafluente e bem humorada, amomentos decisivos da nossaHistória contemporânea.

Novo romance de Zambujale estreia em ficção de João Paulo Guerra

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Notícias

l Todos sabiam que iam à descobertada cidade a pé, de bicicleta ou detransportes. Mais: as tarefas atribuídastanto podiam ter um teor ecológico,como serem completamentemirabolantes. Falamos do MUS, umacorrida com fins sociais e muitadiversão à mistura, numa parceriaInatel/Merrell Urban Side queenvolveu 21 equipas e cerca de ummilhar de participantes e voluntários.

Nada de rostos fechados ouconversas a meia-voz. Apesar dachuva ter sido uma ameaça ao longode toda a prova, às 10 da manhã, aotiro de partida, as 21 ruidosas equipassaíram a correr do 1º de Maio etomaram conta da cidade. Tal comona caça ao tesouro, aqui osparticipantes tinham de compreenderas pistas dadas para chegar a umdestino, realizar a tarefa pedida eregressar ao estádio para tudo servalidado.

O que se perdia em competiçãoganhava-se em brincadeira. Unsinventaram slogans e fizeram umamanifestação pelo aumento deordenado para pessoas desdentadas;outros declamaram parte dos‘Lusíadas’ frente à pastelaria Mexicana;outros tiveram de encestar uma bolade pingue-pongue dentro de um copo,depois de beber uma jeropiga; colaram

bigodes e, de chapéu de coco e a rodarbengala, fizeram parar o trânsito acaminhar à Charlot. Mas tambémrealizaram “one minute movie” nocinema King e apanharam o lixo dochão de alguns recantos da cidade.

No fundo, apostou-se numdivertido teste às capacidades físicas,conhecimento geral e conhecimentodo território de jogo, que no caso é acidade de Lisboa”, explicou BrunoCosta, da organização. Mas no ADNdesta prova há algo de inovador: aresponsabilidade social. Cada equipatinha de recolher um donativomínimo de 50 Euros para serentregue na totalidade à CAIS,associação de apoio aos sem abrigo. Econseguiram angariar 2.200 euros,mais mil litros de águas e sumos,uma oferta que permite servir

centenas de refeições no restauranteda CAIS.

Nesta primeira edição do MUS,“ainda não houve a adesão esperada”,confessa Tiago Veloso, representanteda Merrell, a marca patrocinadoradeste evento. Mas este género decorrida onde se alia a diversão àecologia e aos fins sociais, muitopopular nos EUA – foi beberinspiração na Oyster Race, que existedesde 2003 e que igualmente patrocina– veio para ficar. No próximo ano oMUS tem provas previstas naAlemanha e em Inglaterra, mas “aideia é expandir-se para o resto daEuropa nos anos seguintes”.

Em 2012 e 2013 o MUS regressa aPortugal e vai decorrer em simultâneoem Lisboa e no Porto, conforme oprotocolo assinado com a Inatel. MG

MUS: a corrida mais louca

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Maratona Seaside

A 25ª edição da Maratona de Lisboa –

marcada para 5 de Dezembro – tem

mais uma vez a partida e chegada ao

Parque de Jogos 1º de Maio, seguindo

o seu percurso pelo centro da cidade.

Como habitual, os Associados da

Fundação INATEL, vão usufruir de

desconto especial de 5 euros sobre a

taxa de inscrição em qualquer uma das

provas, mediante a apresentação do

cartão de beneficiário, e desde que se

inscrevam até ao final do mês de

Novembro.

No Programa oficial estão incluídas,

para além da maratona, a meia-

maratona, a corrida da Família –

Fundação INATEL, Estafetas e ainda um

programa especial para jovens (na qual

se podem inscrever, todos os jovens

entre os 10 e os 16 anos, mediante o

pagamento simbólico de 1 euro.

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Actual

Orientada pelo sociólogo LúcioLampreia, a acção baseou-se naprópria experiência desta empre-sa: "ter menos coisas e fazer umexcelente aproveitamento de

tudo: pessoas, talento e meios (…) a nossa meto-dologia é não ter uma fórmula fixa porque somosmoldados pelos problemas das organizações.Somos marcados por estarmos dentro da realida-de dos nossos clientes, de a experimentarmos, dea sermos".

Para a aplicação desta metodologia com aequipa de direcção DAF, teve lugar - explica esteresponsável da Unexpected e especialista emRecursos Humanos - um trabalho de preparação,iniciado dois meses antes, como forma de conhe-cermos a DAF. Nada foi deixado ao acaso duran-

te a fase de investigação...nem o suspense. Paraque aquele dia, não fosse mais um dia, mas fosseo dia".

Com o mote "Redesenhar a DAF", foi feito -acrescenta - o desenho da acção usando aquiloque a direcção sente serem os seus pontos fortese de desenvolvimento. "Foi um momento projec-tado para que, no final, houvesse algo que tor-nasse o dia a seguir diferente, algo que fosse umamais valia para a fundação. Portanto, todo o tra-balho foi realizado numa associação constante àmarca Inatel de forma a reforçar a identidade daDAF."

A formação envolveu exercícios de Resoluçãode Problemas e, mais tarde, o Unexpected Show,com uma caricatura exagerada daquilo que são osproblemas da DAF. "Trata-se - sublinha Lúcio

Formação na DAFUma apostanas pessoas, talentose meios…Centrada na ideia de que qualquer mudança de sucesso numa organizaçãotem de apostar fortemente na motivação e formação dos seus trabalhadores,incutindo-lhe uma atitude pró-activa e de valorização pessoal, a DirecçãoAdministrativa e Financeira (DAF) da Inatel organizou, com o apoio daempresa Unexpected, uma inovadora acção de formação, em Setembroúltimo, na Unidade Hoteleira da Caparica.

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Lampreia - de uma metodologia desenvolvidacom actores de teatro que resulta num efeitoespelho. Não é teatro, é a realidade! O momentoé um meio para desenhar o futuro e não um fimem si. Para terminar, tivemos à noite um momen-to alto criado pela equipa DAF, onde a criativida-de e a visão estiveram unidas num momentodigno de Hollywood. A "estreia" de uma visãopara a DAF."

Elogiando a "entrega e o trabalho realizadopela equipa DAF e o seu Administrador (RogérioFernandes)", o experiente formador da Un -expected Designing People considerou "excelen-tes" os resultados obtidos e a sua importânciapara acções futuras a implementar.

Grande entusiasta e promotor da iniciativa,Rogério Fernandes salienta o seu efeito "altamen-te positivo" no relacionamento entre as estruturasda DAF, ao fortalecer a interacção entre os res-ponsáveis.

Por outro lado, acrescenta o administrador daInatel, as reuniões de trabalho já realizadas nasequência desta acção traduziram-senuma "melhor percepção das ques -tões que esta direcção enfrentaenquanto área de suporte dos clientesinternos", com reflexo imediato no"desenvolvimento de vários projectosda Fundação".

"Espírito de equipa""Pensei que ia para uma formaçãonormal e clássica e fui surpreendidapor algo diferente, muito mais atractivo e incen-tivador. À medida que o dia passava era notória acumplicidade e proximidade entre os elementosdas equipas e as tarefas foram superadas graçasao espírito de equipa" recorda Isabel Oliveira, daDirecção da DAF, em funções desde 1992."Unidos - acrescenta - somos melhores e alcança-mos maior sucesso nas tarefas. Esta formaçãosensibilizou-nos para partilha de objectivos, quena nossa área podem constituir uma mais valiapara outros serviços".

Para Ana Raimundo, esta experiência,também inédita no seu percurso profissional, "teve uma componente muito pedagógica e desolidificação da equipa, pois a DAF é um todo,e não só a área da contabilidade, informática ourecursos humanos". A "maior abertura e predis-

posição de interacção" que a formação trouxe àequipa deveria - salientou esta coordenadora daárea de Contabilidade - "aplicar-se a todos ossectores da casa, incluindo os que trabalhampara o exterior".

"A comunicação e nosso com-promisso e lealdade como equipasaem reforçados com este tipo deformação", considera Rute Reis, dosector de planeamento e estratégia,destacando a aprendizagem obtida eo contributo da iniciativa para asuperação de "defeitos e erros queinconscientemente po dem ser prati-cados" e como incentivo ao "exercí-cio das capacidades extraordinárias

de cada pessoa."Igualmente presente nesta formação, o

Director Administrativo e Financeiro, AntónioPassarinho acentua o modo como a experiênciacontribuiu para "fortalecer a equipa interna daDAF", estimular "a criatividade em equipa edireccionar para o cliente interno a nossa missãoque é apoiar actividades de toda a Inatel."

"Para cumprir bem a nossa missão não deve-mos olhar o cliente interno como alguém que trazproblemas, mas sim como um serviço interno deapoio e complementaridade às actividades dosdiferentes departamentos", adiantou o mesmoresponsável, elogiando a "experiência ímpar, comresultados finais positivos e bem diferente dosvividos nas ditas formações clássicas a que esta-va habituado". n

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XV Concurso “Tempo Livre” Fotografia

Fotos premiadas

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[ 2 ]

[ 3 ]

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[ a ] Sérgio Guerra, S. João do EstorilSócio n.º 204212

[ b ] Anabela Castro, Vila Nova de GaiaSócio n.º 432080

[ c ] Mário Bizarro, Vila Nova de GaiaSócio n.º 67888

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, ummáximo de 3 fotografias de formatomínimo de 10x15 cm e máximo de18x24 cm., em papel, cor ou preto ebranco.5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2011, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

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[ 1 ] Carlos Santos, S. Domingos de RanaSócio n.º 368565

[ 2 ] Francisco Santos,AveiroSócio n.º 15679

[ 3 ] Fausto Lima,OeirasSócio n.º 198088

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Carlos Mendes“Vozes de Trabalho é um

espectáculo magnífico”

Aos 17 anos já tinha não só o país, mas também a Europarendidos ao êxito “Missing you”. Venceu dois festivais dacanção, compôs para si e para outros. Quem não conhece

“Amélia dos olhos doces”? Licenciou-se em arquitectura. Pinta eexpõe. Mais tarde estudou canto lírico e hoje dá aulas de canto.Depois do cinema e da televisão, estreia-se no palco como actorem Vozes de Trabalho – um musical etnográfico que celebra os 75anos da Inatel.

Entrevista

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Entrevista

Vozes de Trabalho é o seu projecto do momen-to….É um espectáculo onde há muito texto repre-sentado e muitas canções retiradas do nossocancioneiro; uma recolha feita por várioshomens importantes da etnografia como JoséAlberto Sardinha Sardinha, Michael Giaco me -tti e outros. Aqui pretendeu-se fazer umespectáculo onde houvesse recolha das músi-cas que são vozes do trabalho e não só. Tirandoo Minho, que tem canções mais alegres, comoas da apanha do milho, as canções de trabalhosão muito bonitas mas são muito tristes, corría-mos o risco de ser uma coisa muito pesada emuito triste. Escolheram-se aquelas mais repre-sentativas e escreveu-se um texto dramatizadointegrando estas canções. O que mais o surpreendeu nesta peça?

A escrita. O Tiago Torres daSilva resolveu esta peça de umamaneira brilhante. Fez exacta-mente aquilo que eu queria queo Vozes de Trabalho fosse.Porque isto, convém lembrar,partiu do departamento de cul-tura, quando eu era director. Fizvárias reuniões no sentido deprovocar os colaboradores paraapresentarem propostas. A únicaproposta que me espantou foiquando a Sofia Tomás, uma cola-boradora do departamento, sesentou à minha frente e disse:Tenho já há muito tempo a ideiade fazer um espectáculo com ascanções do trabalho, e ficou por

ali. E eu disse: é uma ideia muito engraçada.Ao ler esta peça, penso que isto é uma coisa

completamente nova. Na minha carreira, que jáleva 46 anos, é completamente inédito, nuncavi nada disto. Vai ser um sucesso?Nós, os cantores e os actores, estamos mobili-zados para fazermos tudo para que seja umêxito. E vai ser um êxito. É absolutamentemagnífico: tem o drama, tem a festa e depoistem canções, tem muita canção, tem muitostemas, muita coisa bonita; tem alguns originais,outras coisas que se enquadram, depois temtemas que são do nosso folclore, da nossa recol-

ha, do nosso povo. O autor agarrou isto pelolado mais poético, mais bonito: ele cria umalenda para fazer esta estória – acho isto umacoisa genial, fantástica. Entra na linguagem dopovo e do trabalho. A lenda diz que quando ohomem morre no mar rouba a voz da mulheramada. O último grito que dá é o grito da mul-her amada. A mu lher, mesmo sem saber, deixade falar, só pode cantar. Já está em ensaios, quem mais integra o elen-co?Temos a Lourdes Norberto e a CecíliaGuimarães, duas actrizes de grande gabarito,uma mais conhecida que a outra. Depois temoso naipe de cantores que representam, que é omeu caso, a Filipa Pais, a Joana Negrão – que fazparte do grupo Dazkarieh; e, um regresso magní-fico, porque já há um ano e meio que não canta-va, e que já estava muito afastada dos palcos, queé a Tonicha. Temos o elenco fechado. E depoistemos vários homens e mulheres esco lhidos emCCDs de Lisboa. Farão uma espécie de figuração,mas cantam. Os músicos acompanhantes sótocam instrumentos etnográficos, ou seja: bom -bo, cavaquinho, braguesas, gaitas de foles… Sãoos instrumentos do nosso povo, da terra. Atévisualmente vai ser um grande êxito. E o espectador é levado a acompanhar algunsdos temas cantados?Tem ali momentos em que se eu estivesse naplateia e visse a Tonicha a cantar a Moreninha,começava a entoá-la. Não tenho dúvida que há-de haver muita gente que há-de entrar nascanções por se lembrar delas. O meu imagináriomusical é isto, tudo. E portanto a gente que hojevive em Braga lembra-se destas coisas; as pesso-as que vivem em Lisboa lembram-se disto.A estreia já tem data marcada?Dia 25 de Novembro e vai estar em cena até dia15 de Dezembro. Vamos tentar fazer umadigressão. E com esta particularidade: quandonos deslocarmos, vamos imaginar, para Vianado Castelo, os elementos que no espectáculoeram dos CCDs de Lisboa, vamos buscá-los aViana do Castelo. Ou seja, há uma participaçãodo próprio espectáculo de englobar pessoas dosCCDs locais para trabalharem nesta peçaenquanto estiver a ser feita no local. Como actor esta vai ser a sua primeira expe -riência em teatro. De onde lhe vem essa von-

“Vozes deTrabalho vai ser umêxito: tem o drama,tem a festa e depoistem canções, temmuitos temas, muitacoisa bonita…”“O grande motordo próprio país estánas mãos da Inatel,chama-seassociativismo.”

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tade de trilhar sempre caminhos novos?Tive a felicidade de nascer numa família queculturalmente exigia muito de nós, era activa.A minha mãe era pianista e professora depiano. Ela dizia-me: tu já na minha barrigaouvias música, quando tocava Rachmaninov, tuagitavas-te; mas se tocava Chopin, ficavascalmo – estórias de família que a gente nuncasabe se é verdade se são ideias… Os meus pais,dos anos 50 aos anos 80, tiveram uma frisa noS. Carlos. Vi ali tudo o que era de grandes can-tores: de Krauss a Callas, ao Franco Corelli –que é para mim o melhor cantor do mundo.Havia uma prática do meu irmão mais velho edos meus outros irmãos de fazerem teatro emcasa, dizerem poesia, a minha mãe tocavapiano, de vez em quando ia lá um senhor quetocava violino e tocavam os dois. O meu paicantava fados de Coimbra. Não havia televisão…E as tertúlias eram feitas com base nisto: de vezem quando também lá ia o Nicolau Breyner adizer poemas, iam lá muitos actores amigos ecantores que faziam parte do coro de S.Carlos.E de vez em quando cantavam lá em casa tre-chos de ópera…

Eu vivi esse mundo. Há toda uma abertura euma necessidade de aprender. Gosto muito deaprender embora hoje também ensine – dou aulasde canto no Chiado. Mas, não sei porquê, sempretive o bichinho da ópera. Quando era muitopequenino às vezes não podia assistir da frisa por-que não me deixavam entrar, não tinha idade, e iapara a orquestra. Ficava ao lado de um senhor queera clarinetista: o senhor Saraiva. Ficava ali muitoquietinho, a ver a ópera do fosso da orquestra. Veraquilo tudo a tocar era uma coisa espantosa. Istomarcou-me muito, muitíssimo.No fundo a música continua a ser o leit-motivde tudo?Não tenho nada espartilhado. Você chega aquie diz: tenho aqui um espaço queria que aquicantasses. E eu vou cantar. Ainda no outro diafiz uma tertúlia na Ericeira, num restaurante,com um amigo, em que estive a cantar e a res-ponder a perguntas. Sou muito aberto a tudo.Os convites, se puder, aceito-os. Mas não espar-tilho a coisa. Sou muito renascentista nesseaspecto: o artista é o todo e não uma parte. Oartista é o que escreve, o que pinta – eu também

pinto, já fiz várias exposições com a minhamulher, ela é pintora. E a arquitectura?A arquitectura obriga a uma disciplina de pro-jecto que é muito complicada. Obriga-nos aestar muito presos ao atelier durante muitotempo. Eu aí tive que optar por sair da arqui-tectura. Fiz o Hospital de Guimarães – há mui-tos anos, juntamente com mais dois colegas, naentão Direcção Geral das ConstruçõesHospitalares, em 1985 ou 86. Depois saí e fuitirar cursos de piano e aprender. O espírito temde ser ocupado com muita coisa e, sobretudo,com arte e com cultura. A cultura é o grandeleit-motiv de desenvolvimento de um povo –que é o que falta em Portugal. Tem uma colaboração por três anos com aInatel. Em que projectos?Resolvi propor – e foi aceite – que de 2010 a 2012,como havia três grandes áreas na cultura que era

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Nasce a 23/05/47

1963 – Um dos fundadores, com

Paulo de Carvalho, do famoso

conjunto Sheiks.

1968 – Já a solo vence Festival

RTP da Canção com “Verão”, um

feito que bisa quatro anos depois

com “Festa da Vida”

1973 – Forma-se em Arquitectura,

profissão que exerce durante

pouco tempo

1976 – “Toma lá disco” é o nome

da empresa discográfica que

funda com Paulo de Carvalho e

Fernando Tordo

1977 – “Canções de Ex-Cravo e

Maldizer” é o nome do trabalho

que inclui o famoso “Amélia dos

Olhos Doces”

1985 – Inicia formação musical de

piano – enquanto apresenta

novos trabalhos discográficos e

faz digressões

1986 – Musica o filme “Vestido

cor de fogo”, de Lauro António e

ainda a peça “O Touro”, da

Comuna – uma companhia com a

qual continuaria a colaborar nos

anos seguintes.

1989 – Com Fernando Tordo,

Paulo de Carvalho - e a direcção

do Pedro Osório cria “Só nós três”

– o disco chegou à platina

1990 – “Improvisos Carlos

Mendes”, com encenação de

Carlos Avillez

1991 – Inicia aulas de canto lírico

com a professora Cristina Castro

e estreia-se como actor em “O

luto de Electra” – de Eugene

O’Neil e encenada por Artur

Ramos para a RTP.

1993 – “Falas tu ou falo eu”, com

Tordo e Paulo de Carvalho, na SIC

1998 – Dois espectáculos na Expo

98 e digressão por Índia e Macau

a convite da Fundação Oriente

1999 – Álbum “Coração de

Cantor”. Actor da série

“Morangos com Açúcar”, TVI

BI de Carlos Mendes

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Entrevista

a música, o teatro e a etnografia, propus que o anode 2010 fosse dedicado à etnografia; no próximoano fosse ao teatro e 2012 fosse o ano da música.E com propostas muito concretas. Neste caso, asVozes de Trabalho, um espectáculo ligado à etno-grafia; no Teatro, lendas e mitos ligados ao teatro;na música os Três Mares, ligado mais à lusofonia.Tudo isto tendo sempre presente que a Inatel fun-ciona com os CCDs, e portanto tentar sempreintegrar alguém dos CCDs neste espaço.Sabe-se que, em 2011, vai mesmo ficar respon-sável pelos CCDs de Lisboa.E uma das preocupações que tenho é exacta-mente transformar, dar capacidade cultural,promover uma dinamização cultural a todos osCCDs de Lisboa. O grande motor do própriopaís está nas mãos da Inatel, chama-se associa-tivismo. Se conseguirmos associar-lhe a culturae desenvolver a cultura destes associados colec-tivos da Fundação – em vez de estarem a beberuns copos e a ver as telenovelas, e se isto voltarao tempo em que eu era miúdo, em que as asso-ciações faziam o bailarico mas faziam os seusdebates e foi aí que nasceu a grande revoluçãodas mentalidades, foi aí que nasceu porque é aíque estão as pessoas. Quando isso voltar a ser,penso que o país se pode desenvolver. n

Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos)

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VOZES DE TRABALHO 25 NOV a 12 DEZ – Sala Principal do Trindade

Autoria e encenação - Tiago Torres

da Silva; direcção musical - Vasco

Ribeiro Casais; assessoria científica

- José Alberto Sardinha; cenário -

Inês Teixeira; figurinos - Hilda

Portela; com Carlos Mendes,

Cecília Guimarães, Filipa Pais,

Joana Negrão, Lurdes Norberto,

Tonicha, e os músicos André Galvão,

Rita Nóvoa, Rui Rodrigues e Vasco

Ribeiro Casais.

Produção Fundação INATEL | Teatro

da Trindade

Vozes de Trabalho parte do universo

dos cantos de trabalho para contar

uma estória que, vinda das

entranhas da terra, se expande por

lugares oníricos de fantasia e

ficção.

Ancorado nesses cantos que

tornavam mais leves as penas das

ceifeiras, dos pescadores, dos

vindimeiros, das fiandeiras, etc,

Vozes de Trabalho conta-nos o

percurso de uma jovem rapariga à

procura da sua voz, a sua voz que

um homem levou não se sabe para

onde e que estará talvez esquecida

nessas almas amarfanhadas por

trabalhos extenuantes, almas essas

que encontravam alívio e

procuravam forças nos cantos que

entoavam desde que a manhã se

levantava até ao pôr-do-sol.

Aparece assim o canto de raiz como

força motriz de um espectáculo de

teatro onde a música é o que faz

avançar e o que trava, onde o

próprio espectador se sente parte

dessa terra, desse passado reaberto

agora como um testamento que une

o passado ao futuro.

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Museus

Éno edifício do Banco de Portugal, namovimentada e multicultural avenidaAlmirante Reis, em Lisboa, que estásituado o Núcleo do Museu onde estápatente a exposição ‘O Dinheiro no

Ocidente Peninsular: do Artigo Padrão ao Euro’.Naquele espaço, os nossos olhos viajam atravésdo dinheiro – já dizia Sophia de Mello BreynerAndresen que viajar é olhar – pela evoluçãohistórica e socioeconómica da sociedade portu-guesa e dos povos que habitaram o OcidentePeninsular.

A saudade, esse sentimento tão portuguêspara o qual não existe tradução no mundo, ficapresa por alguns instantes ao velho escudo. Sabebem rever e recordar, por exemplo, as notas de 20e de 50 escudos. Ainda se lembra delas? É bomreencontrar também aquelas que foram as pri-meiras moedas correntes bimetálicas e bicoloresde cem escudos com o busto de Pedro Nunes,matemático e cosmógrafo do século XVI que con-tribuiu para o desenvolvimento da navegação,

tão importante para os nossos Descobrimentos. Os mais novos certamente que ainda se lem-

bram de levar para a escola estas moedas paracomprar bolos e outras guloseimas. Como otempo não pára, até porque a vida do escudo che-gou ao fim depois de ter circulado durante 92anos, entramos logo de seguida na era do euroque entrou nas nossas carteiras em Janeiro de2002. Como não há memória sem identidade,vale a pena saber o que o dinheiro fala sobre nós.E pode dizer tanto…

A exposição, que iremos calcorrear nas linhasque se seguem, estará patente ao público até aofinal de 2011 – data em que está prevista a inau-guração do Museu do Dinheiro, a instalar na sededo Banco de Portugal, no espaço da antiga igrejade S. Julião.

Relevância históricaNesta mostra ficamos a conhecer a história dodinheiro através das suas diversas formas, dasmáquinas que o produziram e de outros objectos

Banco de Portugal

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Moedas que con

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O dinheiro é um documento histórico que testemunha a evolução do Homem e da sociedadeonde está inserido. A Tempo Livre foi ver a exposição permanente do Museu do Banco dePortugal, em Lisboa, que nos lembra quem fomos e o que somos através do percursodiacrónico do dinheiro desde o artigo padrão até ao euro. Nunca mais irá ver as moedas e asnotas da mesma maneira. Talvez comece a olhá-las como obras de arte.

ontam histórias

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Museus

originais. António Gil Matos, coordenador doNúcleo do Museu, guiando os nossos olhos, indi-ca que “este é um percurso, através do tempo edo espaço, com recurso ao dinheiro” que nos dáa conhecer a História de Portugal.

A exposição inicia-se com a apresentação deformas de dinheiro muito diferentes das que uti-lizamos hoje. Recorde-se que o homem pré-histó-rico vivia em economia recolectora, depois pas-sou a produzir e a trocar o que necessitava. Maistarde, a troca começou a ser feita com base no

artigo padrão. Os nossos olhos dirigem-se deseguida para as primeiras moedas e notas: amoeda romana, sueva, visigótica, árabe e, poste-riormente, as moedas e notas portuguesas desdeo “dinheiro” de D. Afonso Henriques ao euro.

Este percurso é realçado com a apresentaçãodo vídeo ‘Breve História do Dinheiro’. Gil Matoschama a atenção para a raridade e a relevânciahistórica das moedas da colecção, destacando oReal de D. Beatriz – uma moeda muito rara comgrande significado histórico. “Esta moeda foibatida provavelmente em 1384, em Santarémpela Rainha D. Beatriz, filha de D. Fernando,casada com D. João I de Castela, num períodoconturbado da História portuguesa que, atravésda cunhagem de moeda, afirma o seu direito aotrono português”, conta.

“O Português”, prossegue o anfitrião, “étambém uma moeda a destacar pela sua dimensãointernacional e pelo prestígio que lhe está associa-do; o São Vicente, moeda renascentista, batida noreinado de D. João III, com a sua iconografia assen-te na imagem do padroeiro de Lisboa, teve na suaconcepção o talento de Francisco de Holanda e deseu pai António de Holanda”. Pela mão delessurge, pela primeira vez em Portugal, moedas querevelam uma grande preocupação estética.

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Contactos

Av. Almirante Reis,

71, Lisboa

Todos os dias úteis

das 10h00 às 12h00

e das 14h00 às

16h00

As visitas guiadas

são marcadas

através do e-mail

museu@bportugal.

pt, Fax.: 213 107 819

ou Telefone: 213

130 650

A entrada é gratuita

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O coordenador do Núcleo doMuseu aponta para o conjunto dasnotas portuguesas de “grande bele-za” e paramos para olhar com maiscuidado para a última série emescudos, dedicada aos Descobri -mentos e desenhada pelo pintorLuís Filipe de Abreu.

“O dinheiro pode ser vistocomo uma forma de arte”, frisa GilMatos. “Se olharmos para as moe-das gregas e romanas, vemos ver-dadeiras obras de arte, pequenasesculturas. A moeda São Vicente éuma peça de arte. Também na con-cepção das notas intervieram gran-des artistas.

Nesta exposição destaca-seDomingos António de Sequeiraque desenhou as primeiras notas do Banco deLisboa, mas tanto nas notas em Reis, como emEscudos, como agora em Euros participaramreconhecidos artistas. Poderemos dizer que asmoedas e notas que trazemos no bolso, para alémdo seu poder aquisitivo, são pequenos múltiplosde obras de arte”, afirma num tom enfático.

Por falar em bolso, nesta exposição pode tirarda sua carteira uma nota de vinte euros e verifi-car se é verdadeira. Ali vai ficar a conhecer todosos elementos de segurança daquelas notas.

Esta mostra é direccionada para jovens, adul-tos e idosos, embora seja procurada sobretudopelo público escolar. Até ao fim deste ano são

esperados cerca de 5000 visitan-tes. Quem se desloca para visitaresta mostra permanente, podetambém apreciar a exposição tem-porária, bem mais pequena. ‘OPortuguês: Moeda de PrestígioInternacional’ é o seu título e nelaé apresentado o “português” de D.Manuel I e D. João III: “A moeda deouro de maior prestígio dos desco-brimentos portugueses, de dimen -são internacional, assim como‘portugalösers’ ou ‘portugaloides’,moedas cunhadas por cidades eterritórios do norte da Europa,com o mesmo peso e, por vezes,com iconografia do ‘português’ ”,explica Gil Matos.

No fim ou no princípio da visi-ta pode contemplar, mesmo à entrada do EdifícioPortugal, uma tapeçaria baseada nos elementosnaturais – o fogo, a terra, a água e o ar –, da auto-ria de Luís Filipe de Abreu.

O Museu existe como unidade de estrutura doBanco de Portugal desde o início da década deoitenta do século passado, associado ao ArquivoHistórico, constituindo-se em 1986 o Núcleo deMuseu e, desde estão, promoveu e colaborouactivamente em mais de duas dezenas de expo-sições temporárias, muitas delas itinerantes.

O Museu do BP tem exposições permanentesem Lisboa, Porto e Ponta Delgada. n

Sílvia Júlio (texto) Museu BP (fotos)

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Em cima: na entradado Edifício pode ver-se uma tapeçariabaseada noselementos naturais –o fogo, a terra, a águae o ar – da autoria deLuís Filipe de Abreu.Ao lado, um balancé,dispositivo utilizadopara a cunhagem demoedas

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Viagens

MadridUma cidade vibrante28 TempoLivre | NOV 2010

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Para tal contribui a grande oferta decomércio, os hotéis, museus, cinemase teatros, assim como alguns edifíciosde feição icónica. Desses edifícios,destaca-se, num dos extremos, o

Edifício Metrópolis, pela elegância das formas, adecoração que lembra um bordado, a cúpulaarredondada de ardósia negra coroada por umaVitória Alada, que de asas abertas, parece prepa-rada para a qualquer momento mostrar a sua con-dição divina e levantar voo. No outro extremo aavenida é fechada pela Plaza de Espanha, onde aTorre Madrid e o Edifício Espanha são dois obe-liscos que furam o céu de Madrid. No centro dapraça, Miguel Cervantes, cheio de dignidademarmórea, observa Dom Quixote e SanchoPança, em bronze, tendo o escritor de dividir oprotagonismo com as suas geniais criações roma-nescas.

Foi Felipe II (1527-1598) que transformou opequeno povoado chamado Magerit (Mayrit noperíodo da colonização árabe), na capital deEspanha e do império. A decisão de Felipe IIdeve-se, em grande parte, segundo os historiado-res, à sua centralidade peninsular, reforçada como domínio sobre Portugal (1580/1640), a par deum ecossistema favorável e de excelente territó-rio de caça para os aficionados monarcas.

Para melhor se perceber a linha de evoluçãoda cidade é costume falar-se da “Madrid dosHabsburgo”, da “Madrid dos Bourbons”, da“Madrid da Restauração”, ou da “MadridModerna”. Ou seja segue-se uma linha temporal,que acompanha o crescimento urbano.

O umbigo da “Madrid dos Habsburgo” é aPlaza Mayor, de dimensões imperiais, como seriade esperar de uma dinastia que, no seu tempo,

A Gran Via comemora este anoo seu primeiro centenário.Poderia ser um acontecimentobanal, pois, certamente, pelomundo fora outras ruascompletarão um século.Acontece que a Gran Via é paramuitos a mais vibrante rua davibrante capital de Espanha.

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Viagens

governou o maior império do mundo. Partindo damais conhecida praça da cidade, e após umacurta caminhada pela calle Mayor, encontra-se aPuerta del Sol. Convergem quatro importantesruas nesta meia-lua e isso torna-a automatica-mente num ponto de passagem e de encontro, nocoração palpitante da cidade. É também umponto simbólico, pois foi, no passado, cenário demarcantes revoltas populares. Parece-me queesse espírito popular e contestatário permanecevivo, pois na multidão que durante todo o diagira na praça, é comum a presença de activistasdas mais diversas causas, protestando, reivindi-cando.

No conjunto de praças citadinas, clareiras nadensa Madrid antiga, a Plaza de Santa Ana ga -nhou notoriedade pelas afinidades com o teatro,hoje mantidas pela presença do TeatroEspanhol, reputada casa de espectáculos dacapital, bem como pelos seus cafés e bares.

Alguns atravessaram gerações, como aCervejaria Alemã. Hemingway frequentou esteestabelecimento centenário. Hoje não o faria. Oaviso logo à entrada anunciando que é “prohibi-do fumar” seria uma barreira para o escritor.Quem conhece a cidade, digamos, desde há 25anos, constata que Madrid está a mudar, consta-ta que o mundo parece querer padronizar tudo,deixar pouco espaço à individualidade. AquelaMadrid, com cafés ruidosos, animados por per-sonagens de charuto fumegante, são cada vezmais uma recordação. Porém nem tudo se alte-rou e o hábito tão madrileno da conversa, prin-cipalmente à mesa do café, mantém-se quasecomo um ritual e é praticado por toda a cidadedesde o mais despretensioso estabelecimentoaté às casas que são verdadeiras instituições,como o Café Gijon. Fundado em 1888, ganhounotoriedade como café literário, coisa que hojenão existe, mas mantém e com uma clientela

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Parque El Retiro. Napágina da direita, nosentido dos ponteirosdo relógio, PalzaMayor, estátua de D.Quixote e SanchoPança, estátua deVelasquez no Museudo Prado e as torresKío

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regular, que se porta com o à-vontade de quemestá em território familiar. Amplo mas acolhe-dor, sofisticado mas sem afectação, um dosencantos deste café foi o facto de não se tertransformado em “objecto turístico”, mantendoos laços com a cidade

Uma Visita aos MestresComo seria Madrid sem os seus museus? É umaquestão retórica. Porém, todos admitimos semcusto que não teria o mesmo prestígio, não seriaa mesma cidade. Madrid tem imensos museus,alguns bem curiosos como o Museu Taurino, ouo Museu da Farmácia. Independentemente dosinteresses pessoais, os museus que de facto dis-tinguem Madrid são o Prado, o Reina Sofia e oThyssen-Bornemisza. O Museu do Prado (criaçãoda rainha Isabel de Bragança, filha do rei portu-guês D. João, casada com o seu tio D. Fernando

VII, rei de Espanha) é o mais antigo, domicilian-do uma riquíssima colecção de pintura, em pri-meiro lugar espanhola, mas também italiana, fla-menga, alemã e ainda francesa e inglesa. Destaextensa galeria de ilustres artistas expostos nãoresisto a destacar dois Mestres, além do maismadrilenos, não por nascimento mas pelo seuenvolvimento com a cidade, Diego Velázquez eFrancisco de Goya. Assim, embora já conhecesseo Prado de outras visitas, ignorei tudo o mais e fuidireitinho à família de Filipe IV, ou seja fui visitarAs Meninas. Há um magnetismo intrínseco cria-do pela atmosfera do quadro, onde cada persona-gem ocupa o seu lugar e mostra o seu carácter.Atraído pela sua beleza plástica não me cansodele. É hipnótico.

Goya mostrou o seu talento numa amplavariedade de trabalhos e vemos como salta semdificuldade da sensualidade, — ou erotismo,segundo a visão de alguns — da Maja Desnuda eMaja Vestida para o dramatismo que se expõe nogrito de revolta em El Tres de Mayo.

Mais recente, o Centro de Arte Reina Sofiapega na Arte Ocidental onde o Prado a larga, ouseja, a partir do século XIX. Guernica, o maiscélebre quadro de Picasso, parece atrair todas asatenções, assim o diz a permanente cortina depessoas alinhadas diante da grande tela, onde seencadeiam figuras mutiladas e disformes trans-mitindo uma sensação de incomodidade. É umaimagem quase devocional, inspirada peloshorrores da guerra civil espanhola(1936/39).Para além deste quadro, o museu congrega obrasde grandes artistas contemporâneos, com desta-que para Dali, Miró e, claro, Picasso. Não falta otributo à fotografia e lá está Francesc Catalá Rocae a Madrid franquista a preto-e-branco, Man Raye o seu experimentalismo. Há também, discretas,um conjunto de fotografias da britânica JúliaMargaret Cameron, onde se evidencia o delicadoe contemplativo Ellen Terry at the Age ofSixteen. Uma foto que guardamos facilmente namemória.

Visitar o Museu Thyssen-Bornemisza é sufi-ciente para traçar uma linha evolutiva da pinturaocidental dos últimos 700 anos. O que não épouco. Há muita pintura de paisagem e de retra-to, o que está de acordo com as preferências dafamília Thyssen-Bornemisza, que ao longo deduas gerações não olhou as despesas para

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Centro de ArteReina Sofia

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engrandecer a colecção. Sigamos então essa linhadesde, por exemplo, Duccio e o seu narrativoCristo e a Samaritana, do início de Trezentos, até,por exemplo, ao norte-americano EdwardHopper e ao seu também narrativo Hotel Room,dos anos trinta do século XX.

Do Retiro à Castelhana…Mas talvez seja hora de libertar os olhos da pin-tura, porque o resto da cidade está à nossa voltae pode ser tão interessante, ou mais. Estou a pen-sar no Parque do Retiro, o grande espaço verde dacidade, que se espalha por 130 hectares e queconta com mais de 23 mil árvores, dizem. Temtambém um lago salpicado de barcos a remos,um monumento grandioso em honra de AfonsoXII e uma alameda onde se alinham rígidos, empedra, dinastias de reis de Espanha, conhecidapor Paseo de las Estatuas. O Parque começou porser um espaço de uso exclusivo da Corte, até que

mais tarde esse foi um privilégio a que toda agente teve acesso.

Mais adiante, paramos no bairro deSalamanca, lugar exclusivo avisam os guias turís-ticos da cidade, e assim é. Resultado doEnsanche, ou seja a expansão da cidade nasegunda metade do século XIX, foi pensadodesde início para as classes privilegiadas, embo-ra estas não apreciassem de imediato a ideia dedeixar a proximidade do Palácio Real, a verdadeé que com o tempo descobriram as virtudes deviver num lugar mais desafogado. Até hoje. Mistode mansões de vários tamanhos e sólidos prédiosde apartamentos, Salamanca atraiu, naturalmen-te, o comércio de luxo, principalmente a alta-cos-tura. Mas eu conheço lá também uma excelentelivraria, e para além de passar pelas vitrinas aavaliar a inspiração dos estilistas, passo aindamais tempo na De Viage, onde encontro semprealgo que me interessa.

Palácio Real

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Se continuarmos para norte, Passeo de laCastellana acima, desfiladeiro urbano com mui-tos quilómetros de extensão, encontramos novosacrescentos da cidade, resultado da afluênciaconstante de pessoas vindas de toda a Espanha,mas também da América Latina e do Magrebe (oestádio Santiago Bernabéu, do Real Madrid, é

ponto central desta imensa avenida…), chega-mos à zona dos Nuevos Ministerios, conjunto degrandes edifícios num estilo seco, legado doFranquismo, depois as Torres Kio, oficialmentePuerta de Europa, duas torres que se inclinamuma para a outra desafiando a gravidade. Edepois temos, já como registo do século XXI,marcando a extremidade norte da cidade, umacriação do mundo da finança, o parque empresa-rial conhecido por Cuatro Torres Business Área(curiosa mistura de espanhol e inglês), quatrotorres de diferentes feitios, com mais de 200metros de altura, e que se avistam a grandedistância, reflectindo a luz nas suas superfíciesde espelho liso.

Madrid tem um rio, é verdade. Chama-seManzanares e muitos visitantes não dão por ele.Porém um passeio pelas suas margens ofereceuma perspectiva da cidade bastante interessante.O Manzanares sulca a cidade do lado sul, e assuas margens, recuperadas e embelezadas depoisde muitos anos de maus tratos, são um excelentepasseio e permitem perceber a dimensão, ou tal-vez seja vocação, imperial da cidade, desde a suanomeação como capital. Isso vê-se olhando, echega como exemplo, para a arriba onde assentao Palácio Real, que foi construído não apenaspara albergar a Corte, mas também para impres-sionar, pois se assim não fosse outra seria a loca-lização e outra seria a dimensão. Nada menosque o maior palácio real da Europa ocidental.

Mas a melhor prova dessa vocação para ograndioso e teatral está aos meus pés e chama-seponte de Segóvia. Encomendada por Felipe II,com os seus nove arcos é magnífica, no entantoqualquer um se pergunta do porquê de tão gran-de obra para cruzar um rio que se atravessa pé.

Assim é Madrid. Ser grande corre-lhe nasveias desde a nascença. n

José Luís Jorge (texto e fotos)

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GUIA

MUSEUS

Museu do Prado: Paseo del

Prado s/n; Horário: Terça a

Domingo das 9h00 às 20h00;

Tel: 34 902 10 70 77;

www.meseodelprado.es

Museu Rainha Sofia: Edifício

Sabatini; C/ Santa Isabel, 52;

Horário: Segunda a Sábado

das 10h00 às 21h00. Domingo

das 10h00 às 14h30. Terça-

feira encerrado; Tel: 34 91774

1000;

www.museoreinasofia.es

Museu Thyssen-Bornemisza:

Paseo del Prado, 8; Horário:

Terça a Domingo das 10h00 às

19h00; Tel: 34 913 69 01 51;

www.museothyssen.org

VIAGENS INATELFim de Ano em MadridDe 30 de Dezembro a 2 deJaneiro. Desde 564 euros.Partidas de Leiria, Santaréme Lisboa. Preço incluiautocarro, guias, hotel ****e quatro refeições.

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Terra Nossa

ZêzereNa companhia de um rio

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Ali o rio é um delgado fio de água atra-vessando disciplinadamente um bos-que de bétulas. Logo depois o rioganha velocidade, correndo no fundodo Vale Glaciário do Zêzere, o maior

vale glaciário da Europa, fazendo o seu caminhoentre vertentes íngremes e o caos de blocos graníti-cos. Acompanhando todo o vale, de Manteigas aoCovão da Ametade, uma fita de asfalto segue agarra-da à meia-encosta, apresentando-se como uma dasmais cénicas estradas montanhosas de Portugal.

Manteigas, a primeira povoação que o rio encon-tra, desenvolveu-se por via da indústria de lanifíciose hoje grande parte da sua importância reside nofacto de ser um acesso privilegiado à Serra da Estrela.A partir daqui o rio avança por um vale mais aberto,passa pela antiquíssima Valhelhas, com os seus gra-níticos monumentos, de que lembro a Ponte Filipinae o Pelourinho, até que chega a terras de Belmonte eà grande várzea da Cova da Beira, fecunda e forte-mente humanizada. Aqui o Zêzere deixa de ser umrio de montanha e ganha a tranquilidade da planície.

Vila dos CabraisApesar de o rio não atravessar a vila, Belmonte rendehomenagem ao Zêzere dedicando-lhe um espaço queé um convite para conhecer e acompanhar o rio, quese transforma múltiplas vezes ao longo do seu per-

Poucos rios podem igualar o Zêzere noque diz respeito ao início da viagem.Fisicamente, o rio nasce na Serra daEstrela, à beira dos 2000 metros dealtitude, mas é no Covão da Ametade,pequena meseta segura entre asparedes rochosas do Cântaro Magro e oVale Glaciário do Zêzere que a maioriadas pessoas o vê pela primeira vez.

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Terra Nossa

curso. Este espaço é o Ecomuseu do Zêzere, ins-talado num edifício conhecido por Tulha dosCabrais, construção ampla que chama a atençãomais pela dimensão e aspecto robusto do que poroutra coisa qualquer. Para além do Zêzere, apro-veitado como elemento valorizador, Belmonteseguiu o mesmo caminho com outros imóveisligados aos Cabrais, família que dominou a viladurante séculos.

Frente ao Ecomuseu está o Museu dosDescobrimentos, originalmente, Casa dosCondes, a segunda residência da família Cabralem substituição do Paço do castelo. Sim, o caste-lo, o edifício ícone da vila, quase tão antigo comoa nacionalidade, com a sua belíssima janelaManuelina, a torre de Menagem. Dentro do seurecinto muralhado terá nascido Pedro ÁlvaresCabral, que para uns descobriu o Brasil de formaintencional, enquanto para outros não passou deum acaso. Após a visita destes espaços já estamosbem servidos, mas não podemos deixar Belmontesem passar pela a igreja de Santiago, edificaçãoque acumula séculos de História, reflectida nosdiversos elementos que a constituem. Aqui faz-seuma incursão pelos enredos dos Caminhos deSantiago e, como não podia deixar de ser, temosnovo encontro com a família Cabral, cujo pan-teão está anexo ao edifício principal.

Do volfrâmio ao xistoAté chegar à vila de Barco o rio avança em territó-rio aberto, mas, então, as colinas tornam-se serra-nias e o Zêzere vê-se obrigado a avançar emziguezague. Quando chega ao Couto Mineiro daPanasqueira o rio corre apertado entre monta -nhas. Nesta região rica em volfrâmio impõe-se aoolhar as escombreiras, montanhas de inertesresultantes da exploração mineira, que compe-tem em grandeza com as montanhas verdadeiras.Junto ao Cabeço do Pião, onde se situam as anti-gas Lavarias, até há poucos anos o local de sepa-ração e purificação do minério, o rio parece con-templar uma era diferente. Logo depois surge apovoação de Barroca, a primeira das cinco povo-ações integradas na Rede das Aldeias de Xistoque se alinham ao longo do Zêzere.

A Barroca é uma povoação compacta onde sedestaca a Casa Grande, solar do século XVIII,hoje um espaço ao serviço da comunidade, aco -lhendo diversos serviços e instituições. Próximo

da aldeia, na margem direita do rio, encontra-seinscrito no xisto a impressão digital do homemdo Paleolítico, um pequeno núcleo de arte rupes-tre, onde se destaca a figuração de uma elegantecabeça de cavalo.

Janeiro de Cima, (tal como Janeiro de Baixo,na margem oposta do rio), é uma povoação quetem a particularidade de aliar nas suas casas oxisto e o seixo rolado do rio, criando desta formafestivos padrões nas construções. Na povoaçãofunciona a Casa das Tecedeiras, um atelier ondeo passado e o presente, a tradição e a inovação, seentre(tecem) assegurando meios de subsistênciaa algumas mulheres.

Barragens, albufeiras, pontesÁlvaro ganha em ser vista de longe. Fina comouma linha, estendida na crista de um monte,apresenta a inusual forma côncava. Álvaro rece-beu Foral no século XVI, mas com o passar dotempo a importância da localidade desvaneceu-se. É que Álvaro, tal como outras terras da beiraZêzere, tem de enfrentar o facto de muitos dosseus habitantes terem partido. Um miradouro nocentro da povoação permite olhar o Zêzere esten-dido ao fundo da encosta e que aqui já não é umrio de águas soltas e rápidas. Aqui o Zêzere já foitravado pela primeira grande barragem do seupercurso, de que resultaram lagos artificiais segu-ros pelo betão em três pontos distintos, Cabril,Bouçã e Castelo de Bode, e que alteraram radi-calmente a fisionomia do rio.

Antes de fazermos paragem sobre paredão,com bem mais de 100 metros de altura, que dáorigem à albufeira do Cabril, vamos mudar demargem, deixando Oleiros e entrando no conce -lho da Pampilhosa da Serra. Eu explico porquê.Neste ponto o rio é uma longa serpentina, apare-cendo e desaparecendo numa cénica sucessão demeandros, enrolando-se sobre si mesmo. Emboraesteja convencido que a verdadeira grandezadesta paisagem só pode ser plenamente aprecia-da do ar, a estrada 344 é por alguns quilómetrosuma boa opção para observar este troço.

Chegamos, depois, às vilas de PedrógãoGrande e de Pedrógão Pequeno, uma de cada ladoda albufeira do Cabril. Como um nómadavagueio entre uma e outra margem. Na margemesquerda aconselho uma ida ao miradouro daSenhora da Confiança, enquanto do lado oposto,

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Página seguinte:Barragem do Cabril eancoradouro.Vistas de Constânciada Foz do Alge.Vista geral deManteigas e TorreTemplária emDornes.Vale Glaciário doZêzere e Lago Azul

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Terra Nossa

Pedrógão Grande, parece resistir melhor às des-vantagens da interioridade do que a sua vizinhaem frente, — com uma vida activa — mantendono entanto a fisionomia de terra antiga, por via dapreservação e restauro do seu património. Logodepois do paredão da barragem, rio é um rasgãoprofundo na paisagem (que o próprio topónimo

“Cabril” ajuda a compre-ender) constituindo umobstáculo natural e, dessaforma, um desafio àengenharia.

A esse propósito éinteressante olhar para otestemunho do padreAntónio Rebelo da Motaque em 1785 escreveu oseguinte: “Desde a vila daCovilhã até ao Tejo, nãotem senão uma ponte nacorrente que faz entre osdois Pedrógãos, Grande ePequeno, sítio o maisagreste e penhascoso quese achará neste reino ...”.A ponte a que o texto serefere foi edificada nosprimeiros anos do século

XVII, no fundo do vale, três arcos em pedra comum total de 72 metros de comprimento e 26 dealtura. Em 1995 foi inaugurada uma nova ponte,uma faixa em betão com centenas de metros devão e 170 metros de altura, a mais alta ponte atéhoje erguida em Portugal. São duas soluçõesseparadas por cerca de 400 anos. Ver a ponteSeiscentista do tabuleiro da ponte nova ou ver aponte nova, desde as pedras da ponte centenária,ou, então, olhá-las em simultâneo é um exercícioque impressiona pelo contraste e leva-nos a

reflectir sobre a evolução da engenharia e sobreoutras coisas, certamente.

Daqui em diante, seguindo, pela margemesquerda, passa-se pela vila de Cernache doBonjardim, onde nasceu D. Nuno ÁlvaresPereira, e onde se localiza o Seminário dasMissões, certamente uma surpresa para quemnão estiver avisado da sua existência. Enorme,sólido como uma fortaleza, — pois era assim queuma instituição desta natureza se devia sentir —o seminário nasceu com o objectivo prepararmissionários para a evangelização além-mar. Osazulejos interiores e pinturas de Bento Coelho daSilveira, artista reputado no seu tempo, (1618-1708) são uma mais valia artística do Colégio,aqui implantado desde finais do século XVIII.

A ‘fonte’ de Lisboa…Se seguirmos o curso do Zêzere pela margemdireita encontramos, primeiro, a foz da ribeira dePêra, e de seguida a ribeira de Alge, que se reúneao Zêzere precisamente em Foz de Alge. Aquidestacam-se as ruínas de uma antiga fundição, asferrarias de Foz de Alge, unidade proto-industrialque remonta ao século XVII. É aqui que a albu-feira da barragem de Castelo de Bode começa aganhar forma. Com 60 quilómetros de extensão éum pequeno mar interior, até à pouco tempo amaior albufeira do país. Com as suas reentrân-cias, curvas, penínsulas, ilhotas, banha um vastoterritório repartido pelos concelhos de Tomar,Abrantes, Vila de Rei, Ferreira do Zêzere, Sertã eFigueiró dos Vinhos. A obra foi inaugurada em1951 e para além da produção de energia, abaste-ce Lisboa de água.

Um dos mais conhecidos locais deste troço dorio é Dornes. A vila recebeu foral de D. Manuel(tal como Álvaro e Pedrógão Pequeno, tudo terrasda beira Zêzere). Dornes é uma península cuja

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GUIA

INFORMAÇÕES:

No território atravessado pelo

rio Zêzere o INATEL possui

duas unidades hoteleiras, uma

no troço inicial do rio, ao

fundo do belíssimo vale

glaciário do Zêzere, na vila de

Manteigas, e a outra não

muito distante da confluência

do Zêzere e do Tejo, no

concelho de Gavião.

INATEL Manteigas

Tel: 275 980 300; Localizado no

vale do Rio Zêzere esta

unidade possui 64 quartos.

INATEL Gavião (Alamal)

Tel: 245 900 243. Localizado na

margem esquerda do rio Tejo,

junto a uma praia fluvial, (e

não muito distante de

Constância) esta unidade

possui 21 quartos.

Pormenordo Castelo deBelmonte

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existência se explica pela existência deste grandelago que é a albufeira da barragem de Castelo deBode. A maior particularidade de Dornes é a suatorre pentagonal de traçado irregular, alta, pare-des de xisto e cunhais de calcário, única no país,que se pensa ter sido na origem uma torre devigia mandada construir pelos templários. EmDornes, — como na generalidade das povoaçõesao longo da albufeira — há um pequeno caisonde estão amarrados alguns barcos, quase todosembarcações novas com motor borda fora. Mas,inconfundíveis, lá estão também as barcas tradi-cionais do Zêzere, meia dúzia de tábuas apare -lhadas, fundo chato, proa terminando em bico ea popa cortada a direito. Não são um expoente deelegância, mas são certamente adequadas àságuas onde navegam.

Com o avançar para sul a albufeira ora vaiestreitando ora vai alargando, consoante a oro-grafia e quando chega ao Lago Azul abre-se numaampla toalha de água. Uma das maneiras de co -nhecer a albufeira é de barco. Os caiaques sãohoje uma presença habitual no rio a partir doponto em que se torna navegável. Naquele dia,quando cheguei ao Lago Azul, os caiaques erammanchas coloridas que iam entrando, um apósoutro, cortando o azul espelhado da albufeira.Não sei qual era o destino que levavam, mas seoptarem por remar alguns quilómetros para sulchegarão à vista do paredão que detém o rio, che-garão a Castelo de Bode.

Daqui em diante, até ao final do curso, o riorecupera a sua liberdade. Uma estrada acompa -nha parte desse último troço. Cheguei, assim, aConstância, onde o Zêzere termina. No total sãomais de 200 quilómetros onde dá para ver quasede tudo: montanhas, vales, desfiladeiros, exten-sas áreas de monocultura de pinheiro e eucalip-to, vilas históricas, aldeias que sobrevivem comopodem, grandes obras de engenharia, ruínas, pes-cadores, canoístas, caminhantes, turistas e habi-tantes locais.

Em Constância, diz a tradição, viveu Camões.A vila é um aglomerado branco que sobe uma coli-na apertada entre o Tejo e o Zêzere e vista a algu-ma distância parece admirar o seu reflexo na água.A primeira coisa que faço é visitar o Museu dosRios e das Artes Marítimas, um espaço sóbrio massignificativo, centrado em actividades, pesca,transporte fluvial e construção naval, que até mea-dos do século XX foram importantes suporteseconómicos das gentes de Constância. Na verdadeo Museu é, tal como o Ecomuseu, em Belmonte,uma homenagem aos rios, agora o Tejo e o Zêzere.

Depois, desço as ruas inclinadas apontandopara o extremo da pequena península. E então,sim, chego ao local da confluência dos rios, como caudal rápido do Zêzere a fundir-se no leitolargo do Tejo. Chego também ao final de um pas-seio longo, feito por etapas, porque na vida de umrio há uma altura em que o caminho termina. n

José Luís Jorge (texto e fotos)

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Paisagemde Dornes

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Portfólio

É PEQUENO MAS ABASTADO o estadoislâmico do Bahrein, constituído por uma ilhahomónima e três dezenas de ilhotas ao largo daPenínsula Arábica e do Qatar e mesmo em frenteao Irão. O que poucos sabem é que durante quaseum século este território esteve sob o domínioportuguês, integrado no Estado da Índia, à seme -lhança de uma série de fortalezas espalhadaspelo Golfo Pérsico e o Mar Vermelho.

Já Camões mencionava as «pérolas ricas e imi-tantes da cor da aurora» que se tiravam do fundodo mar «junto à ilha de Barem», e a prata amoe-dada que as caravanas de Alepo ali transporta-

vam para a sua compra. Em Manama, a capital, oassunto do dia são compras e negócios – «petro-negócios», melhor dizendo – e uma estrada direc-ta para a Arábia Saudita. Contudo, no pequenoátrio de chegadas do aeroporto internacional háuma ou outra agência especializada em curtasvisitas guiadas a algumas das atracções deManama, entre as quais se destaca o forte deArad, construído pelos portugueses no início doséculo XVI, e o forte de Qalat Al Bahrain, que deunome do país e está classificado como Patrimónioda Humanidade. n

Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)

O Bahrein das fortalezas

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Port

fóli

o

“Já Camões mencionava as«pérolas ricas e imitantes da corda aurora» que se tiravam dofundo do mar «junto à ilha deBarem»”

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Paixões

Oseu lema, como ele diz, gravitaem redor das boas maneiras e dadisciplina. Filho de emigrantesnasceu em 1977 no bairro deGreenwich Village, na ilha de

Manhattan. Aos seis anos mudou-se paraPortugal onde foi crescendo com uma naturalcuriosidade por tudo. Influenciado pela acção dofilme Karate Kid resolveu dedicar-se afincada-mente ao cultivo das artes marciais que ajudam a“combater o ego”.

Iniciou-se na Associação de Educação Física eDesportiva, em Torres Vedras. Além dos treinosintensivos fazia pesquisas na mira de evoluircada vez mais. “Investi muito dinheiro em víde-os e livros. Até costumava dizer aos meus paisque um dia havia de sair na revista CinturãoNegro que era uma espécie de bíblia das ciênciasorientais”, relata. O carácter “limitativo” doKaraté deixava-o insatisfeito, sentia que “precisa-va de preencher lacunas, de encontrar uma artede combate que fosse mais completa”. Altamentemotivado seguiu em frente numa sucessão metó-dica de etapas. Para agilizar as pernas e os pu -nhos praticou boxe normal, full contact e kickboxing até chegar ao taekwondo que é uma artecoreana de esgrimir com os pés.

Digeridas as leituras, certo quanto ao futuro,decidiu contactar o Grande Mestre Michael deAlba. Este americano, fundador do SystemModern Farang Mu Sul, viveu longo tempo nasmontanhas da Coreia com os monges guardiãos desabedorias milenárias. Ali, absorveu as teorias dosistema taoista Kouk Sun Do. “Respondi a váriasperguntas numa entrevista por vídeo-conferênciae um mês depois estava na Califórnia, em SãoFrancisco, a treinar de manhã à noite”, adianta.

No tempos livres estudava filosofia e história,traduzia os manuais para português, andavanuma lufa-lufa pegada. Aprendeu com o mestre adominar os segredos das artes de cura orientaisque incluem massagens, acunpultura e pontos deexpressão. Em 2002 voltou com o trunfo de terfrequentado o Golden West College, em LosAngeles.

Já devidamente preparado começou a difun-dir a arte do Farang Mu Sul nos clubes.“Actualmente dou aulas nas Caldas da Rainha,em Lisboa e Bragança. Assistimos na Europa auma explosão das artes marciais, tal como suce-deu há 20 anos atrás nos Estados Unidos, o quetalvez se deva ao aumento da criminalidade ou arazões de ordem espiritual”. Nelson Pinto naveganas águas límpidas da espiritualidade que omundo materialista de hoje rejeita. Defende valo-res nobres como a lealdade, a partilha, a mode-ração, a fragilidade humana que se transformaem força. “Mais do que a técnica buscava pazinterior e conhecimento”, garante.

Clarificação é uma das suas palavras-chave. Nodecorrer da conversa vem à baila o aikido, umaarte japonesa de inspiração budista. “Quandocombatemos o adversário estamos a combater con-tra nós próprios. A arte da espada coreana corres-ponde ao corte dos nossos defeitos e arestas. Aespada torna-se uma extensão do corpo dos guer -reiros que se regem por códigos éticos”. Mas apa-rece sempre um mas a contrariar as teorias. Aquisão os mafiosos da seita Yacuza, peritos no mane-jo da espada. E então, pergunta-se? “Usam o co -nhecimento de uma maneira errada”, clarifica.

A questão agora passa por saber para queserve a arte do Farang Mu Sul. Um dos cincomestres creditados a nível mundial, director téc-

Nelson Pinto,o lutadorGuerreiro moderno, Nelson Pinto traz a determinação encaixada na larguezado olhar. É dos que se obstinam em atingir as metas estabelecidas semnunca se desviar um milímetro dos objectivos.

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nico na Europa e Brasil, já treinou a Polícia e aGNR. “As tácticas que ensinei mereceram umareferência elogiosa do Ministério da Admi -nistração Interna. São úteis para desarmar indiví-duos perigosos, armados com facas ou armas defogo. Um cão com medo morde e um polícia ame-drontado magoa. Já enfrentei um problema dedefesa pessoal que resolvi sem ter de recorrer àpancada”, assegura.

Normalmente se o provocarem não reage, optapor manter uma calma eloquente. O potencialatacante, ao aperceber-se de que há algo estranhona atitude, fica inibido. Perante os conflitos, aconversa é importante. Tentar chamar os agressi-vos à razão pode funcionar, se bem que contraarmas de fogo não existem heróis. “É verdade.Mesmo que seja um mestre de artes marciais,mais vale entregar a carteira”, ironiza. ChuckNorris, especialista no taekwondo e StevenSeagal, mestre do aikido, provam o contrário.Despacham seis ou sete enquanto o diabo esfregaum olho. Nos filmes, claro.

Nelson Pinto é cinturão negro, categoria quedemora entre cinco a dez anos a atingir. De esta-tura baixa mas entroncado não se preocupademasiado com a alimentação. Não bebe nemfuma, evita as gorduras e os picantes, de restocome de tudo comedidamente. Apesar da “menteaberta”, reconhece ser um pouco obsessivo.Nunca dá nada por acabado. “Sou o mais novodos mestres. Viajo imenso, ando de um lado parao outro a participar em seminários no país e no

estrangeiro”. É um indivíduo informado. Entrepartidas e chegadas vai ouvindo o rumor domundo. Cá e lá.

O número de mulheres nas suas aulas crescea olhos vistos, embora os homens ainda levemvantagem. “Até tenho casais que treinam junta-mente com os filhos por causa do bullyng. Hágente de todas as classes sociais. A minha esposatambém pratica artes marciais, sou de opiniãoque marido e mulher devem estar em sintoniapara que a relação não se destabilize. As artesmarciais também são encaradas como um des-porto que ajuda a controlar o nervosismo e ostress”, acrescenta.

Menciona com respeito e admiração o nomede Michael de Alba que tem sido “um pai paramim”. Descreve esse homem de 53 anos commais de um metro e noventa de altura como umteddy bear, o urso de pelúcia da canção de ElvisPresley. Realça-lhe as qualidades que o distin-guem da maioria dos mortais. “É a pessoa maishumilde que já conheci em toda a minha vida.Suave no trato, mas quando tem de executar asua técnica sai-lhe o guerreiro lá de dentro. Foiconsiderado um dos vinte tesouros das artescoreanas nos Estados Unidos.”

Trocando por miúdos. Sujeito ao fluxoindomável e devorador do tempo, Nelson Pintobusca a harmonia. Não desesperadamente, asartes marciais ensinaram-no a ser paciente. Temfibra de lutador. E obstinação até dizer chega. n

Lourdes Féria

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Memória

Era ainda um garoto quando interpretou,ao lado de Eunice Muñoz, a peça «A Liçãodo Tempo», de Luiz Francisco Rebelo, soba direcção de Ribeirinho. E a escolha daprofissão deve-se a um pai, apaixonado

pelas artes, (músico frustrado pois trabalhava comoquímico analista), que lhe disse uma vez: «Se é issoque queres ser, se queres ser actor, vai em frente.»

Esta não era com certeza a atitude normal de umpai daquela época (anos quarenta). E é assim que omiudo Henrique se vê a fazer teatro ao lado dos gran-des (João Villaret, António Silva, Maria Lalande,Amélia Rey Colaço e outros) e ao mesmo tempo a cur-sar o Conservatório onde foi o melhor aluno commédia de 18 valores.

Do declamado à revistaChamava-se Henrique Batista Vaz Pacheco de Canto eCastro e costumava dizer que era um vadio do teatro:«Já fiz todos os géneros teatrais, do declamado ao«boulevard», comédia tragédia, farsa ou melodrama,trabalhei com muitos encenadores, passei por váriascompanhias.» Canto e Castro não se limitou, noentanto, ao teatro. Fêz muito cinema, televisão, rádio,só não gostava de «ler teatro». E aos 11 anos já parti-cipava no programa infantil que Maria MadalenaPatacho realizava na Emissora Nacional aos sábados àtarde.

Estava escrito que Canto e Castro seria para todo osempre actor e feliz. «A felicidade das pessoas é faze-rem aquilo de que gostam. Eu fui feliz e fiz o melhorque soube sempre com imensa alegria.»

Os actores e o vinho do PortoQuem trabalhou com Canto e Castro sempre lhe elo-giou a honestidade, o rigor e o imenso talento que aidade tornou ainda mais intensos. Ele próprio dizia,

Canto e Castro,o «vadio» do teatroMorreu no dia 1 de Fevereiro de 2005, com 74 anos e, embora pareçamentira, fazia teatro há mais de 60 anos. Na verdade, Henrique Canto eCastro começou cedo aprendendo a arte do palco.

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referindo-se aos actores mais velhos: «os actoresquando são bons, ficam melhores com o tempo. Sãoum pouco como o vinho do Porto ...» E ele foi umexemplo.

Quando a morte o surpreendeu estava Canto eCastro, no Politeama, a interpretar a peça «A Rainhado Ferro Velho», encenada por Filipe La Féria. Já doen-te retirara-se uns meses antes enquanto o seu públicofiel podia continuar a vê-lo, na RTP 1, numa sériechamada «João Semana». Sendo o palco a sua vida e asua paixão mais funda, não desdenhou, no entanto, otrabalho em televisão, tanto em peças de teatro, quan-do a RTP incluia o teatro nas suas programações,como em novelas e séries onde havia sempre lugarpara um actor de excepção como Canto e Castro.

Quem o via em «O Luto de Electra», de EugeneO’Neill ou em «A Visita da Velha Senhora», deDurrenmatt, não podia imaginá-lo num programacómico como «Crime na Pensão Estrelinha» ou em«Fura-Vidas», uma série divertidíssima onde contrace-nou com os jovens actores Ivo Canelas e MiguelGuilherme. Canto e Castro era um excelentíssimoactor em qualquer género de trabalho.

O avô da Heidi e o gafanhotoDe voz inconfundível, um pouco enrouquecida pelotabaco que fumava desde jovem, (quem não se lem-bra da voz do «gafanhoto» da série «A Abelha Maia»?)Canto e Castro fêz muita Publicidade e dobrou algu-mas séries para a RTP. Numa delas foi a voz do avô daHeidi, que muitos recordarão dos programas infantis.

O actor foi também intérprete em dezenas de fil-mes, uns melhores outros nem por isso, mas em todoso seu trabalho foi exemplar. E para terminar, como oactor merece, peço licença ao meu amigo, Jorge LeitãoRamos, para lhe roubar da excelente biografia queescreveu para o Dicionário do Cinema Português oseguinte excerto:

«Quando se olha para o rosto de Canto e Castro nãose vê só um dos melhores e mais conhecidos actoresportugueses. Vê-se, eu acho que se vê, uma voz incon-fundível que todos já ouvimos irónica, doce, dura,vociferante, terna,inquieta, gaguejante, magoada, sere-na, uma voz que se modula com a precisão de um reló-gio, que se afina como um instrumento que é capaz,por si só, de acordar sensações.»

Estas palavras são um belo fecho para a «Memória»que tenho do actor Canto e Castro que foi meu amigoe de quem tenho muitas saudades. n

Maria João Duarte

Em cima, na peça “AÚnica Esperança”,com Varela Silva eRui de Carvalho. Aolado, interpretando oProf. Egas Moniz naRTP 1, em Maio de1990. Em baixo, ComCarlos Miguel eLeónia Mendes. Na Página daesquerda, na revista“Ó Pá, Pega naVassoura” (1974/75)

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Olho Vivo

O gene da excitação

Há quem não passe sem um bocadinho de excitação, assumindo riscosexagerados, dando saltos de elástico, ou correndo na contramão pelas auto-estradas. Cientistas descobriram agora um grupo de genes, ligados àdopamina, uma substância que transporta mensagens para o cérebro, quedá para prever se o indivíduo que os tem vai ter mais tendência do que onormal para fazer, digamos assim, asneiras. A revista Psychological Sciencepublicou o estudo.

O escritórioengorda

Trabalhar das nove às cincopode engordar a carteira, masnão só. Segundo um estudo daUniversidade de Montreal, noCanadá, publicado emOutubro, apesar de as pessoascomerem hoje melhor efazerem mais exercício do quehá trinta anos, a obesidadeprogride no mundo ocidental eos trabalhadores de escritóriotêm mais 10 por cento deproblemas de peso, em 2004,do que os seus colegas de1978. Segundo os cientistas, oremédio seria a realização deexercícios ao longo do dia, emvez de doses maciças deginásio ou jogging, de vez emquando.

Bebedeirasadolescentes

Os adolescentes, a nível global,não estão a beber mais (nemmenos) álcool hoje do quebebiam em 1997. Um estudosobre bebedeiras adolescentescomparou dados desse anocom registos feitos em 2006 econclui que, em média, umjovem de 15 anos nos paísesindustrializados bebe de maisumas três vezes por ano. O quemudou foi o local dosexcessos. As bebedeirasaumentaram 40 por cento nospaíses de leste, especialmenteentre as raparigas, enquantoque no ocidente houve umdeclínio em 13 de 16 países,especialmente entre osrapazes. Uma coisa compensaa outra, portanto.

Um planeta agradável

Astrónomos norte-americanos descobriramum planeta, a 20 anos-luz da Terra, naconstelação de Balança, que apresenta todasas características básicas para ser habitável.Chama-se Gliese 581g e está a umadistância ideal do seu sol para ter água noestado líquido. O ano do Gliese é de apenas37 dias, o que permite festejar mais reveillonsque na Terra. "A vida neste planeta seria muitoagradável," disse Sigmund Vogt, o chefe da equipa que descobriu o planeta.Ainda não está marcada nenhuma excursão.

Vida marinha em catálogo

Dez anos de trabalho, mais de 80 países, nove mil dias dentro de água, 540expedições, 2600 artigos científicos - a soma é o primeiro Censo Global daVida Marinha, publicado a 4 de Outubro. Dos micróbios às baleias, dospólos aos trópicos, das águas baixas de costa às profundezas oceânicas, sãotrinta milhões de observações sobre 120 mil espécies que habitam o meiolíquido. Uma glória para a ciência mundial, a vida marinha em catálogo.

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António Costa Santos ( textos) André Letria ( i lustrações)

Avó alcachofra no país do tango

A tetravó da alcachofra e do girassol foi descoberta no sul da Argentina, nasrochas da Patagónia. Tem 47,5 milhões de anos e é um fóssil recolhido e

descrito na revista Science pela paleobotânica Viviana Barreda, de BuenosAires. Sabia-se que estas plantas, presentes em todos os continentes, tinhamevoluído a partir de antepassados da América do Sul, mas nunca tinha sido

antes encontrada uma prova tão remota desta teoria.

O osso de Colombo

Os dinossáurios eram muito maiores do que se pensava, segundo estudos deum professor de anatomia da Universidade do Ohio, nos EstadosUnidos. Este cientista estudou crocodilos e avestruzes e concluiuque, à altura dos dinossáurios, há que juntar em média uns trintacentímetros. A razão é simples: os fósseis encontrados, quepermitiram calcular a altura dos animais pré-históricos, são sóde ossos e até hoje ninguém se tinha lembrado de contar comas cartilagens que os uniam e não chegaram aos nossosdias. A descoberta é um verdadeiro ... osso de Colombo.

Cretinismocongénito

O chamado Homem de Flores,um antepassado do HomoSapiens descoberto em 2003na Indonésia, extremamentepequeno, com um metro dealtura e o crânio do tamanhode um chimpanzé, temintrigado os cientistas pelo seutamanho. Uma nova teoriavem opor-se à ideia de que oisolamento conduziu aonanismo. Segundo umprofessor da Universidade daAustrália Ocidental, o Homofloresiensis é um homemmoderno que sofreu umaterrível falta de iodo, quetravou o seu crescimento,doença conhecida porcretinismo congénito.

Montanha russacura asma

Os prémios IgNobel,atribuídos desde 1991, namesma altura que a AcademiaSueca divulga os Nobel,recompensaram este ano umestudo que afirma ser possívelcurar a asma dando váriasvoltas na montanha russa. Aentrega dos galardões foi feitana prestigiada Universidade deHarvard e os premiados sãocientistas que dedicam a vidaa estudar insignificâncias. OIgNobel da Física, porexemplo, foi parainvestigadores daUniversidade de Otago, naNova Zelândia, queconcluíram que usar meias porfora dos sapatos diminui emmuito a possibilidade deescorregar no gelo das ruas.

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O horrível óleo de fígado

A avó afinal não tinha razão. Cientistas do Michigan publicaram emOutubro um estudo na revista Cancer Research, que atribui ao óleo de

fígado de bacalhau propriedades cancerígenas. Ratinhos ficaram com colitesgraves e cancro do cólon, o que leva a estabelecer uma dose máxima do

ácido docosahexaenóico, um dos ácidos ómega 3 presentes no óleo de fígadode bacalhau. A descoberta é surpreendente porque o óleo mostrava ter

propriedades anti-inflamatórias e o cancro do cólon, por exemplo, evoluinormalmente a partir de estados inflamatórios.

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Descascar uma maçã sem rasgar a peleexige alguma perícia mas no séculoXIX permitia descobrir o nome dofuturo marido. O procedimento era

simples: bastava atirar a casca para o chão e a suaforma serpentina desenharia a letra inicial donome do apaixonado. Esta virtude divinatória eoracular, atribuída à casca de maçã, poderá pare-cer ingénua mas constitui uma valorizaçãoancestral da macieira (“Malus Domestica”)enquanto “Árvore do Conhecimento”, não a queexpulsa Adão e Eva do Paraíso, mas a que prote-gendo o casal, contribui para a perpetuidade daespécie humana. «A maçã, com as suas sementesdispostas em forma de estrela, correspondia àforma pitagórica do pentágono que unia oscontrários: o princípio masculino e o princípio

E do céu caem maçãs

A má reputação das macieiras nuncaconseguiu envenenar a Branca deNeve.

A Casa na árvore

Susana Neves

Macieiras em florFotos: Susana Neves

feminino», explica Andrée Corvol (“L`Arbre enOccident”, Fayard, 2009). E conclui: «O primeiroprincípio era simbolizado pelo número três indi-visível; o segundo, pelo número dois que se divi-de. A maçã constituía uma parábola do mundo,do homem e da mulher». Assim o entendia omédico grego Claude Galien, um dos fundadoresda medicina e da farmácia, no século III A.C.,época em que esta “Rosaceae” era umas das árvo-res mais estimadas na Europa.

Ao invés de ser “o fruto proibido”, uma per-versa invenção medieval, a maçã doméstica,oriunda do Cáucaso, região que engloba a EuropaOriental e Ásia Ocidental, era a “star” das frutas(no Cáucaso, uma só palavra designa simultane-amente maçã e estrela), pela qual se chamavamtodos os frutos (“Malum”) de consistência mole ehúmida. Fruto solar, redondo, perfeito, as suasvirtudes tonificantes, constituintes e sedativas éque teriam permitido ao Rei Artur (na místicaIlha de Avalon, ou Ilha das Macieiras) repousardas guerras e renascer para o combate.Lembremos o ditado inglês, onde se evoca o co -

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nhecimento das propriedades curativas da maçã:«Uma maçã por dia mantém o médico longe».

De onde vem então a sua má reputação de“fruto proibido”, se nem sequer o texto bíblicomenciona o nome da macieira? O motivo é pri-meiro de ordem linguística, maçã em latim diz-se“malum”, a mesma palavra para designar mal;mas esta coincidência vocabular terá tambémfavorecido o propósito de obscurecer os mitospagãos, sobretudo celtas e germânicos, que entreas árvores de culto consagravam à macieira umlugar primordial associado à imortalidade.

O fruto da macieira, cuja resistência ao longodo Inverno alimentou gerações de camponeses,dando-lhes saúde, simpatia, boas cores e algu-mas bebedeiras (tudo dependia da graduação dasidra ou do “calvados”, bebida alcoólica produzi-da na Baixa Normandia), ainda no início do XIXera a fruta da bruxa madrasta, vermelha e vene-nosa. Contudo, é verdade que na história conta-da pelos irmãos Grimm, a bela Branca de Nevenão morre por comer o “fruto proibido”, pelocontrário, repousa, sem acusar envelhecimentonem dor, belíssima se mantém até ser encontradapelo príncipe que a há-de desposar.

E belíssimas ficavam todas as mulheres quedesde o século XVI, no Renascimento italiano,usavam um creme à base de polpa de maçãd`Api (uma variedade inventada pelo políticoromano Appius Claudius). Chamavam a esteunguento “pomata”, origem da palavra “pomada”e da expressão francesa “passer de la pommade àquelqu`un”, quer dizer, “dar graxa”!

Curiosamente, entre nós, as macieiras e ospomares foram cultivados sobretudo pelos mon-ges cistercienses no Douro e em Alcobaça. Elesque reviam a sua afectividade nas virtudes doolmo («crescente, ridente e frágil»), apreciavamas fruteiras e pela vastidão das suas propriedadespodiam cultivá-las e rentabilizá-las tal como ofaziam com as vinhas. A extinção das ordens reli-giosas em Portugal, em 1834, contribuiu para odesaparecimento destes pomares mais antigos,voltando-se apenas no final dos anos 50 princí-pio dos anos 60, com o II Plano de FomentoAgrícola, a incrementar a sua plantação.

Até hoje, a maçã de Alcobaça distingue-se noquadro da produção nacional. No Douro Sul, emparticular, em Armamar, considerada a “capitaldas maçãs de montanha”, desde 1989-1999, tem-se assistido a um incremento da sua produçãoatingindo-se actualmente cerca de 40 mil tonela-das por ano. O que significa que na Primavera, asaltas terras do Douro parecem um mar de flores eno Outono com as primeiras colheitas até asestradas estão cheias de fruta caída.

Numa das nações do Cáucaso, na antiquíssi-ma Arménia, quando o narrador acaba umahistória, acrescenta: ... e do céu caíram trêsmaçãs, uma para quem a contou, outra paraquem a pediu e a terceira para quem a ouviu.

Será que o leitor já comeu a sua? n

Fruto, flor e folhada macieira

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l CONSUMO Seria bom, no futuro, apostar na formação dos consumidores naárea financeira. Uma lição a tirar dos trágicos endividamentos dos últimos 20anos Pág. 56 l À MESA A caça, que tem aromas e sabores exóticos de granderequinte, só ganha se for preparada com bom senso e bom gosto. Pág. 58 l LIVROABERTO Em foco, “O Paradoxo do Amor”, de Pascal Bruckner, uma reflexãoprofunda sobre o acto de amar na civilização occidental. Pág. 60 l ARTES Os 15desenhos inéditos de Malangatana, expostos até 9 de Janeiro na Casa da Cerca,em Almada, marcam o começo da temporada cultural. Pág. 62 l MÚSICASCamané e o seu novo CD, “Do Amor e dos Dias”, é acontecimento para amúsica portuguesa em geral e para o fado em particular. Pág. 64 l NO PALCOPara um público infanto-juvenil, o Trindade apresenta, até Dezembro, “Asaventuras de João Sem Medo”, de José Gomes Ferreira, com encenação de João

Mota. Pág. 66 l CINEMA EM CASA De duas criativas erenascidas escolas de cinema europeu, a francesa e aitaliana. A não perder: “As Ervas Daninhas”, deResnais, e “Eu Sou o Amor”, de Luca Guadagnino. Pág.

68 l GRANDE ECRÃ “A Rede Social”, de David Fincher,é o acontecimento maior da rentrée nos ecrãs de todo o mundo: a ficção emredor do nascimento do facebook e dos seus criadores. Pág. 69 l TEMPOINFORMÁTICO Os ecrãs Touch Screen invadem o mercado numa série dedispositivos informáticos, desde monitores de PC aos mais sofisticadostelemóveis. Pág. 70 l AO VOLANTE Dotado de uma vasta série de equipamentose sistemas inovadores, o novo Opel Meriva atinge o expoente máximo dodesign ergonómico. Pág. 71 l SAÚDE A síndrome de Diógenes é uma perturbaçãodo comportamento, com características obsessivo-complusivas que afectaprincipalmente os homens... Pág. 72 l PALAVRAS DA LEI Uma abordagem à Lein.º 39/2009, que estipula o regime jurídico de combate à violência, ao racismoà xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos. Pág. 73

BOAVIDA

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Boavida|Consumo

Onde está o dinheiro?

Carlos Barbosa de Oliveira

Apublicidade dos bancos e instituições finan-ceiras demonstra à saciedade que a sua relaçãocom os consumidores se alterou radicalmentenos últimos anos.

Há apenas dois ou três anos, os bancos convidavam osconsumidores ao endividamento e guerreavam-se na ofertado melhor crédito, acenando com juros baixos e spreadsde 0 por cento. Hoje em dia, os bancos aumentaram subs -tancialmente os juros dos empréstimos e dificultam oacesso ao crédito.

A publicidade procura agora cativar as poupanças dosconsumidores, travando-se a guerra entre os bancos naoferta dos juros mais atraentes dos depósitos a prazo.

As falências de alguns bancos com boa reputação inter-nacional - em parte provocadas por riscos mal calculadospelos próprios operadores financeiros, como foi o casodos Lehmann Brothers nos Estados Unidos, ou da SocietéGenerale em França - criaram, porém, alguma desconfi-ança nos consumidores que, na sequência da crise finan-ceira internacional, manifestam receios sobre a formacomo devem aplicar as suas poupanças.

Acresce que a falta de educação financeira e a defi-ciente informação que lhes é proporcionada nesta área,aumentam a desconfiança, sendo as notícias dos jornais,por vezes especulativas, um rastilho para minar a confi-ança dos consumidores.

Os economistas são unânimes em afirmar que não háreceitas cem por cento seguras que permitam orientar osconsumidores para a canalização das suas poupanças emdeterminado sentido. Convém, a propósito, lembrar asrecentes recomendações da DECO, na sequência de algumalarmismo sobre a eventual falência de alguns bancos por-tugueses”:

“Não há razão para alarme. Não podemos entrar empânico cada vez que há boatos sobre a falência de umbanco”- alertava a associação de consumidores.

Os consumidores portugueses responderam de umaforma responsável e, apesar das notícias que indiciavam afalência próxima de um dos principais bancos portugue-

Os consumidores andam confusos e desconfiados em relação ao mercado financeiro. Depois deterem sido incitados, durante mais de duas décadas, a endividarem-se, são agora acusados dese terem endividado irresponsavelmente e incitados a poupar. Seria bom, no futuro,apostar na formação dos consumidores na área financeira.

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ses, não correram a levantar os seus depósitos.Com efeito, os bancos continuam a merecer a confiança

dos consumidores e os recentes testes de stress feitos aosbancos europeus, onde alguns dos bancos portuguesesobtiveram boas classificações, parecem demonstrar queessa confiança é merecida.

O importante é não se deixar iludir, apenas porquedeterminado banco oferece juros mais elevados aos seusdepósitos. Antes de decidir, tenha em consideração a cre -dibilidade do banco e procure informar-se sobre o ratingatribuído pelas agências internacionais ao banco onde pre-tende fazer os seus depósitos. Pode fazê-lo ao balcão ou nosite do banco. O mesmo se aplica, obviamente, se a suaopção for para a subscrição de um produto financeiro.

OS BANCOS SÃO SEGUROS?

No caso de um banco falir, os consumidores que sejam ti -tulares de contas nessa instituição poderão accionar oFundo de Garantia dos Depósitos (FGD). Trata-se de umFundo constituído pelas contribuições periódicas a quetodos os bancos e instituições de crédito estão obrigados e

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que, no caso defalência de um

banco, permite oreembolso dos

depósitos até ao mon-tante máximo de 100 mil

euros.Mesmo que as reservas

deste Fundo de Garantia nãosejam suficientes, o Banco de

Portugal disponibilizará as verbasnecessárias para ressarcir os consumi-

dores. Isso só ocorrerá, no entanto, depois deser decretada a falência e de os consumidores apre-

sentarem a sua reclamação junto do FGD. Uma vezaccionado o FGD, o consumidor será reembolsado noprazo máximo de sete dias, nos montantes até 10 mileuros, sendo o pagamento da quantia remanescente efec-tuado no prazo de 20 dias úteis.

CUIDADOS E CALDOS DE GALINHA…

…nunca fizeram mal a ninguém. Aconselhamo-lo, porisso, a prestar alguma atenção no momento de fazer umdepósito a prazo. A vasta gama de produtos financeiroscom taxas de juro atraentes (muito superiores aos dosdepósitos a prazo) oferecidos pelos bancos, aliados a algu-ma habilidade das instituições para aproveitar o analfa-betismo funcional dos consumidores portugueses emmatéria financeira, levaram muitos incautos a fazer apli-cações em produtos financeiros, quando pensavam estar afazer simples depósitos a prazo. No caso do BPP, essa“distracção” foi fatal para muitos consumidores pois, aocontrário do que acontece com os depósitos, as aplicaçõesem produtos financeiros (que sempre envolvem algumapercentagem de risco) não estão cobertas pelo FGD, peloque os consumidores que tinham feito essas aplicaçõesnão foram ressarcidos.

Fundamental para evitar confusões é que os consumi-dores saibam o seguinte: se no banco – ou qualquer outrainstituição financeira - lhe pedirem para assinar algumcontrato, provavelmente não está a fazer um depósito…

SABER DISTRIBUIR AS POUPANÇAS

Sabemos, desde tenra idade, que não se devem colocartodos os ovos no mesmo cesto. Ora essa é uma das regrasbásicas para qualquer aforrador, pelo que é importantediversificar as poupanças, para além dos depósitosbancários. Essa possibilidade aumenta proporcionalmenteao montante das poupanças mas, mesmo para umpequeno aforrador, há diversas possibilidades interes-santes.

Durante muitos anos, os Certificados de Aforro foramum dos mais populares produtos de poupanças junto dosportugueses. Com as alterações efectuadas em Janeiro de2008, o rendimento dos CA deixou de ser aliciante emuitos consumidores optaram por investimentos maisrentáveis.

Outros títulos de dívida pública vieram entretanto ofe -recer remunerações atraentes, como é o caso dos Certi -ficados do Tesouro. Sobre estes títulos e outras formas deaforro, darei informação aos leitores no próximo mês. n

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Boavida|À Mesa

Caça boa é no prato

David Lopes Ramos

Aguam-se as papilas – é claro que há semprealguém que não aprecia – quando falamos delebres, perdizes, galinholas, tordos, rolas,codornizes, patos bravos e, até, de javalis ou de

veados.É costume distinguir-se duas categorias quando se fala

de caça: a de pêlo e a de pena. A carne de caça é tida emalta consideração pelos gastrónomos, devido ao seu aroma esabor acentuados, únicos e outonais, quer dizer, a bosque. Oerudito e grande gastrónomo galego Álvaro Cunqueirochamou à perdiz do monte, não à de aviário, infelizmentecada vez mais comum, “pedaço de Outono”. O nossoAquilino Ribeiro, num belo texto, “A arte da caça”, incluídono volume I de “A caça em Portugal” (Ed.Estampa, Lisboa,1988), em defesa da actividade venatória, defende que tantotêm razão os que a consideram “divina” como “bárbara”,dependendo “do ângulo em que se coloca o observador”.Para ele, no entanto, não há dúvidas: a caça é “divina”.

Argumenta o autor de “Andam faunos pelos bosques”:“Nós, que somos no terreno da competição pelo tiro aospratos contra o tiro aos pombos de gaiola, pela batida àsperdizes “pedibus calcantibus” em vez de ir o “fogueteiro”ocupar uma porta nas coutadas, mantidas na roda do anosob a égide da G. R., pela caça da lebre procurada pelasdevesas e encostas soalheiras em vez de perseguida a cavalo– de corricão lhe chamavam os antigos – e com galgos quesó comem e bebem e são bonitos para tal fim, diremos, den-tro da lei da relatividade das coisas, que será isso e maisuma coisa: humana”.

Já não faz sentido, nos nossos dias, falar de “perdiz sócom o dedo no nariz”, dito evocativo dos tempos em queesta ave só era cozinhada após atingir uma fase adiantadade decomposição. Ainda assim, a caça nunca deverá sercomida no dia em que é capturada. Pois se até esta regradeverá ser respeitada no caso de animais domésticos e decertos peixes, muito mais ela se justifica com a caça, devidoà forma como é abatida.

Quando se sente perseguida, qualquer peça de caça sentemedo e, em pleno esforço, quando tenta escapar, o seuorganismo segrega acido láctico em excesso para alimentar

A caça tem a idade do Homem. Começou por ser um exercício de sobrevivência, foi academia depreparação dos homens para a guerra, actualmente o seu prestígio está ligado ao facto de serem aspeças de caça petiscos muito prezados caso o seu tratamento culinário seja competente.

os músculos, que “pagam” em ácido úrico, cujo aroma azo-tado se espalha pela carne. Daí a necessidade de algumtempo de repouso que se deve dar à caça de pêlo, como alebre, o coelho, o javali ou o veado, embora a carne dasaves também beneficie com tal tratamento. Só as codor-nizes, as rolas e os tordos não perderão grande coisa se nãotiverem algum tempo de mortificação.

As marinadas, de vinho, certos destilados (aguardentevelha, “armagnac” e “cognac”), ervas aromáticas e especia-rias são muito aconselháveis para libertar as peças de caçade cheiros mais inconvenientes e amaciar a textura dacarne. Mas as peças de caça mais novas, por exemplo uma

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perdiz sem esporões e de bico tenro, não precisam de mari-nadas. Basta-lhes umas pedrinhas de sal marinho, umasbrasas lentas e teremos um belo petisco à nossa mercê.

A caça, que tem aromas e sabores exóticos, em certoscasos, lembremo-nos da galinhola, de grande requinte, sóganha, a exemplo do que sucede com todos os outros ali-mentos, se for preparada com bom senso e bom gosto.Lembremo-nos que, na Idade Média e na Renascença, eramatribuídas grandes virtudes medicinais ao sangue de lebre, oqual, sabemos nós, é apenas bom, misturado com vinagrede vinho, para finalizar um “civet” francês ou um arroz por-tuguês... n

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O arroz de perdizes de Fialho d’Almeida

Fialho d’Almeida, autor de “Os Gatos”, onde publicou um

célebre texto sobre “o prato nacional” e o seu significado,

era um “gourmet” e um talentoso cozinheiro amador,

segundo testemunhos insuspeitos de contemporâneos

seus. Uma das suas receitas mais conhecidas é a do arroz

de perdizes, inicialmente publicada na revista “Ilustração

Portuguesa”, em 1905. Ei-la, como a transcreve,

respeitando a grafia original, Albino Forjaz de Sampaio no

seu livro “VOLÚPIA – a nona arte: a gastronomia”, de 1940:

“Primeira operação – Ferver duas perdizes bem limpas,

em agua, com algumas tiras de presunto e linguiça

magra, fresca podendo ser, e não rançosa. A trecho de

meia cosedura, tirar para um prato as perdizes, e

acessorios, ficando na panella o caldo posto em sossego,

como nos ‘Luziadas’ a linda Ignez.

“Segunda operação – Em caçarola lavada, pôr a refogar

aparte, e a fogo brando, em tres colheres de manteiga de

vacca, tres dentes de alho, pimenta, salsa picada, cravo da

India e, loiro – o loiro em muito exígua quantidade.

Quando a manteiga tiver já feito estes temperos, sem lhes

consumir porém o perfume, juntar tomates bastantes (uns

cinco ou seis, dos grandes, cortados em bocados, e

completamente limpos da buchada interior), e duas ou tres

cebolinhas de Lisboa, descascadas, bem limpas, e aos

bocados. Refogar tudo, até ficar n’um todo uniforme, e em

termos que no paladar predomine um ligeiro queimor de

pimenta. Ao refogado juntareis então uma massa picada

feita com os bocados de presunto e linguiça da primeira

operação, e bem assim os meúdos das perdizes, ou

quaisquer outras de aves e caça que se possam obter das

outras ôlhas do jantar. Nova fervura, e incorporar aos

poucos, dois decilitros de vinho tinto velho, e até generoso,

quem quiser, e todo o caldo da fervura da chamada

primeira operação.”

“Apura-se tudo isto a fogo brando, sem deixar de ir

provando sempre, até que o paladar do cozinheiro

confirme e reconheça a permanencia e bôa altura dos

aromas e mais riquezas sapidas do môlho.

“Por fim, junta-se no môlho arroz em quantidade, que se vai

cozendo a fogo lento, mexendo constantemente, por que se

não tóste e pégue ao fundo da caçarola. Quando está prompto,

ajuntem as perdizes, cortadas em bocados certos e bonitos, e

que se farão embeber completamente dos perfumes do

guisado, metendo por fim a caçarola no forno do fogão, com

ramos de salsa por cima, para tostar e aloirar a crósta do arroz,

que deve servir-se quente e a pouco trecho de tirado”.

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Boavida|Livro Aberto

Do amor intemporalà arte de ensinar

terá em “O Oficial Polaco” (D. Quixote), de Alan Furst,uma leitura gratificante, já que se trata de uma narrativacuja acção decorre durante a ocupação alemã da Polónia,na Segunda Guerra Mundial. O autor nasceu em NovaIorque e viveu em Paris. A publicação deste livro foisaudada pela crítica internacional, que destacou o ritmo danarrativa, o seu carácter engenhoso e o perfeito domíniodas técnicas que por vezes tornam a ficção irresistível. Ummerecido destaque. Autora de “Enterrem-me de Pé”, IsabelFonseca, que é mulher do grande escritor inglês MartinAmis, está de novo ao alcance dos leitores portuguesescom “Attachement (em anexo)” (Teorema), onde deixa umavez mais evidentes as suas qualidades como ficcionista detalento. Tudo começa com a leitura de um texto anexonum e-mail que revela aspectos inesperados de umarelação e da própria realidade. O resto, só lendo.

Da mesma editora é “Onde Três Estradas seEncontram”, de Salley Vickers, livro que narra de formaadmirável os derradeiros tempos de vida de SigmundFreud, exilado em Londres em 1938 e já impedido de falardevido ao cancro que lhe atingiu, durante anos, o maxilar.Uma narrativa pujante que se lê com emoção e prazer.

José Jorge Letria

“OParadoxo do Amor” (PublicaçõesEuropa -América) é o seu mais recentetítulo publicado em Portugal, consti-tuindo uma reflexão profunda sobre o

acto de amar na civilização a que pertencemos, equacio-nando fenómenos como o casamento e as várias manifes-tações de erotismo. O livro de Bruckner demonstra queapesar das mudanças operadas no nosso modo de viverem sociedade, o essencial da relação amorosa continua aenvolver o mesmo mistério, a mesma tensão e a mesmamagia de sempre.

É sabido que a evolução das dinâmicas sociais transfor-ma também os paradigmas de relacionamento entre ohomem e a mulher. No entanto, o autor deste livrodefende que embora esse relacionamento se altere, oessencial da relação amorosa permanece inalterável,porque faz parte do que é imutável no ser humano aolongo dos tempos.

Quem gosta de livros que envolvem o tema da espi-onagem num quadro bem definido de enredo histórico,

Pascal Bruckner é um dos mais interessantes pensadores franceses contemporâneos, com obras dereferência como “O Complexo de Culpa do Ocidente”, “A Tentação do Ocidentes” ou “A EuforiaPerpétua”.

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Por seu turno, a Teorema acaba de reeditar dois dosprincipais títulos do norte-americano Bret Easton Ellis -”Menos que Zero” e “As Regras da Atracção” -, escritor-ícone da geração que atingiu a maturidade e alcançou opoder na década de oitenta do século XX e que tambémfoi a geração dos “yuppies”, do hedonismo e do descom-prometimento político. Vale a pena relê-lo à luz dos con-ceitos e das inquietações de hoje, cerca de três décadasdepois, e perceber até que ponto a dinâmica da moda nãoconstruiu um êxito que ultrapassou em larga medida aimportância do autor como ficcionista.

Do português João Morgado é “Diário dos Infiéis”(Oficina do Livro), um romance engenhosamente cons -truído onde se cruzam homens e mulheres, destinos einquietações, sempre com a solidão em fundo e a angústiapor aquilo que fica por dizer. O prefácio deste romance deestreia é de Manuel da Silva Ramos.

“A Arte de Ensinar” (Academia do Livro), de AlanHaigh, é um livro de ideias claras e bem estruturadassobre o papel da pedagogia no mundo de hoje e surge no

momento certo, pois começou recentemente a época esco-lar. O autor é um conhecido pedagogo do Reino Unido.Das muitas ideias por ele defendidas neste livro, destacouma que me parece ser central e estruturante em qualquerprocesso educativo, seja qual for o país: que ensina, deveensinar o aluno a pensar. Se tal não acontecer, conti -nuarão a criar-se meras máquinas de debitar conhecimen-tos de forma mecânica e acrítica.

“BRINCAR COM AS COISAS SÉRIAS” (Oficina do Livro), deMargarida Fonseca Santos e Rita Vilela, é uma colectâneade contos que constitui também uma reflexão sobre o jogode efabulação que os próprios contos encerram, tendocomo propósito assumido levar os leitores a conheceremmelhor o que são enquanto seres humanos e a sentirem-secomo elementos activos no acto de criar ficções. Umaexperiência interessante que vai para além do labor deescrever contos, convertendo-se num modo de colocarestas narrativas breves ao serviço de um melhor conheci-mento humano. n

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Boavida|Artes

Rodrigues Vaz

Com esta mostra, intitula-da Novos Sonhos aPreto e Branco, que inte-gra ainda seis pinturas

sobre pedra mármore, parte de umconjunto mais vasto, apenasmostrado duas vezes emMoçambique, Malangatana regres-sa a uma relação directa com ohomem, convocando para as suastelas fábulas, histórias, rituais,contos tradicionais ou mesmo umaambiência de religiosidade, quetraduzem, como acentua AnaMaria Ribeiro, “o seu apurado sen-tido de observação quer das suasorigens culturais quer da situaçãocolonial, estando assim subjacente um sentido de críticapolítica e social”.

Embora no seu conjunto de desenhos apresentadosnesta exposição a cor esteja ausente, estes filiam-se numatemática já abordada pelo pintor, prosseguindo a genealo-gia do seu léxico artístico e visual, herdeiros inequívocosdo seu modo de fazer. São “traços lânguidos, de diferentesespessuras e intensidade, (que) dão corpo aos corpos e àsfiguras que se adensam e se preenchem, quase sempre natotalidade, a folha onde se inscrevem” - salienta ainda acoordenadora da Casa da Cerca.

… E ARTE ANGOLANA NA GALERIA NOVO SÉCULO

Por seu turno, em Lisboa, a Galeria Novo Século mostra asúltimas obras do artista angolano António Alonso, a maiorparte das quais integraram uma recente exposição doautor realizada na Gallery M, em Nova York.

Intitulada Extra in Harlem, esta nova série assumefrontalmente uma força construída à base de cores explo-sivas e formas e ritmos falsamente naíves, que enformamuma proposta cujo objectivo se radica num processo cria-tivo fundamentado no quotidiano africano, com as suas

Moçambique em AlmadaSão 15 desenhos inéditos de Malangatana e uma retrospectiva do arquitecto José Forjaz, amigo delonga data do afamado pintor moçambicano, que podem ser vistos até 9 de Janeiro próximo na Casa daCerca em Almada, numa exposição que é um dos grandes eventos deste começo de temporadacultural.

Obras de Malangatana e António Alonso

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tradições e a sua ambiência e clima, portadores de su -gestões e promessas muito peculiares.

Baseando-se involuntariamente nos chamados panosdo Congo, universalizados em África pelos holandesesdesde os fins do século XIX, António Alonso recria umuniverso muito próprio, a que será preciso estar atentocomo possível proposta para a renovação desta indústria.

TEREZA TRIGALHOS EM LAGOA E NA CNAP

Entretanto, a cada vez mais activa artista plástica TerezaTrigalhos, ao mesmo tempo que apresenta os seus últimostrabalhos (até 14 de Novembro) no Convento de São José,mostra parte da sua última série Ilha dos Imortais, naGaleria da CNAP-Clube Nacional de Artes Plásticas, emLisboa.

Trata-se, no seguimento do seu percurso, de imagensde forte impacto visual, formas recorrentes, a alimentarum desejo de comunicações construtivas/destrutivas, que,

parecendo figurativas, masultrapassando com mestriaessa fronteira, transportamem si a enorme força quesó é possível quando o queestá em causa é a pinturana verdadeira acepção dapalavra e á qual TerezaTrigalhos tão sabiamente sededica.

A sua arte impõe-sepela franqueza e pela von-tade interior, conseguindoum conjunto estético, cul-tural e histórico impressio-nante, pela qualidade,oportunidade e volume,exprimindo com eficácianão só as inquietudes, mastambém a criatividade nosuniversos líricos, trágicosou dramáticos que con-strói. n

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Camané acaba de nos brindar com um novo CD: “Do Amor e dos Dias”.Um acontecimento para a música portuguesa em geral e para o fado em particular.

Vítor Ribeiro

Para nos cantar “Do Amor edos Dias”, Camané esco -lheu 18 textos e músicasde alguns dos mais desta-

cados autores nacionais, de entre osquais salientamos David MourãoFerreira, Alexandre O`Neil, CesárioVerde, Marceneiro, Frederico deBrito, Fausto Bordalo Dias, SérgioGodinho, Manuela de Freitas…Àqueles, junte-se José Mário Branco,compositor e intérprete de excepçãoresponsável pela produção, direcçãomusical e arranjos de “Do Amor edos Dias”.

Por uma questão de justiça e dedireito próprio, enunciem-se aindaos nomes de José Manuel Neto (gui-tarra portuguesa), Carlos ManuelProença (viola) e Carlos Bica (contra-baixo).

Há muito que Camané atingiu amaioridade no mundo do fado.Habituado, desde sempre e poropção própria, a trabalhar em eleva-dos patamares de exigência, Camanéé hoje, com toda a legitimidade, por-tador da herança legada porMarceneiro, Carlos Ramos, Manuel de Almeida, Carlos doCarmo… Sem exageros nem receios, digamos que estamosperante um trabalho soberbo, que nos enche de orgulho,sentimento difícil de experimentar no momento dedescrença colectiva que nos atormenta.

Os melómanos interessados ficam ainda a saber que“Do Amor e dos Dias” está disponível numa edição espe-cial limitada (CD+DVD com gravação vídeo ao vivo detemas do álbum), numa edição standard (CD), numaedição em vinil (duplo vinil+CD) e em edição digital.

OS MAIORES ÊXITOS DE ROBBIE WILLIAMS

Robbie Williams acaba de regressar ao mercado discográfi-

“Do Amor e dos Dias” de Camané

Boavida|Músicas

co com o duplo-CD “In And Out ofConsciousness – The Greatest Hits1990-2010”. Apresentada como setratando de uma “viagem comRobbie Williams”, a colectânea inte-gra 39 temas e celebra 20 anos decarreira do cantor.

As duas primeiras canções doálbum foram criadas em dueto comGary Barlow, dos Take That, grupoque Williams abandonou em 1995.A “viagem” percorre, depois, osrestantes oito álbuns de estúdiogravados por Robbie Wiiliams,

desde “Life Thru a Lens” (1997), até “Reallity Killed theVideo Star” (2009).

No “cais de chegada” espera-nos, no entanto, o tema“Everything Changes”, dos Take That, de 1994. Boa“viagem”, então, para os apreciadores.

VAMPIRE WEEKEND E SHAKIRA

Os Vampire Weekend actuam no Campo Pequeno, em Lisboa,

e no Coliseu do Porto, nos dias 10 e 11 de Novembro,

respectivamente. Em ambos os casos a partir das 21h00.

Por sua vez, Shakira efectua um único espectáculo no Pavilhão

Atlântico, em Lisboa, dia 21de Novembro, pelas 21h00.

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Boavida|No Palco

‘1974’: Uma História de PortugalNa Sala Garrett, até 19 de Dezembro, é apresentada a História de Portugal em três das suas maisimportantes fases, na peça intitulada simplesmente “1974”.

Maria Mesquita

Todas as revoluções pelas quais Portugal passou aolongo dos últimos 40 anos resultaram na transfor-mação do país enquanto nação ibérica, europeiae, finalmente numa nação à escala mais global.

Esta peça, encenada por Miguel Seabra servirá para definirtalvez, até que ponto, para o bem e para o mal, essas trans-figurações mudaram a face da nossa terra, das nossas suasgentes, do nosso pensamento e, de que forma, encaramosagora as nossas vidas. “1974” tem como objecto temático aidentidade portuguesa a partir do discurso narrativo detrês importantes períodos da História de Portugal do últi-mo século: a Ditadura, a Revolução de Abril e a entrada dePortugal na Comunidade Europeia. Inscrito na lógica deconstrução cénica e artística dos espectáculos do TeatroMeridional, “Para Além do Tejo” (2004) e “Por Detrás dosMontes” (2006), o espectáculo “1974” alia à linguagemcénica, essencialmente não verbal, construída através dafisicalidade do actor, a linguagem musical, com criação deJosé Mário Branco.FICHA TÉCNICA: Criação: Teatro Meridional; Encenação:

Miguel Seabra; Assistência artística: Jean Paul Bucchieri;

Dramaturgia: Francisco Luís Parreira; Espaço cénico e

figurinos: Marta Carreiras; Desenho de luz: Miguel Seabra;

Registo de vídeo / documentário:

Patrícia Poção; Música original: José

Mário Branco; Interpretação: Carla

Galvão, Claúdia Andrade, David

Pereira Bastos, Emanuel Arada,

Filipe Costa, Inês Lua, Inês Mariana

Moitas, Miguel Damião, João Melo,

Rui M. Silva e Susana Madeira. Co-

produção: TNDM II e Teatro

Meridional

“JOÃO SEM MEDO” NO TRINDADE

Dedicado exclusivamente a umpúblico infanto-juvenil, vindo,mais concretamente das escolasbásicas, a peça “As aventuras deJoão Sem Medo”, de José GomesFerreira, é agora apresentado no

Teatro da Trindade, até Dezembro, com encenação de JoãoMota.

Habituamo-nos a ouvir histórias encantadas desdemuito novos, de príncipes e princesas, monstros que aca-bam por desaparecer e finais felizes “para sempre”.Contudo sabemos que a realidade é, muitas vezes, dife-rente desses contos infantis, que ajudavam as criançasmais teimosas a dormir. José Gomes Ferreira, um dos vul-tos mais importantes da nossa literatura, publicou, em1963, “As aventuras de João Sem Medo”, talvez a suaforma mais “indirecta” de chamar a atenção ao que acon-tecia durante a Ditadura nacional: “…à partida, quemseguisse o caminho da felicidade completa tinha de sesujeitar a que lhe cortassem a cabeça para não pensar.”Esta frase seria o mote para toda a trama que conta a histó-ria de João Sem Medo, um jovem que ao contrário do queacontecia a todos os outros homens e mulheres da suaterra, aventurou-se na Floresta Branca, saltando o Muroque a separava do quotidiano “normal”, enfrentandotodas as aventuras, situações e problemas que a partir daíse adivinham. FICHA TÉCNICA: Autor: José Gomes Ferreira; Encenador e

cenógrafo: João Mota; Interpretação: Marco Paiva, Mia Farr,

Miguel Sermão, Rui Neto, Tânia Alve sCo-Produção: Fundação

INATEL | Teatro da Trindade | Comuna -Teatro de Pesquisa

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AS ERVAS DANINHAS

Uma premissa simples está

na base deste filme: uma

carteira perdida. Georges

encontra-a e procura entregá-

la à polícia mas a tarefa não é

fácil. Marguerite fica, igual-

mente, curiosa

em descobrir

aquele que a

encontrou. De

um quotidiano

tranquilo a uma

agitação permanente, as suas

vidas nunca mais serão as

mesmas.

Quase a completar 90

anos, o autor de "Hiroshima

Meu Amor" (1959),

"Fumar/Não Fumar" (1993) e

"Corações" (2006) mantém,

neste regresso com "As Ervas

Daninhas" (Prémio especial

do Júri de Cannes), a inspi-

ração e reconhecida maestria

narrativa, bem acompanhado

pela dupla de intérpretes,

André Dussolier e Sabine

Azéma.

TÍTULO ORIGINAL: Les Herbes

Folles; REALIZAÇÃO: Alain

Resnais; COM: André

Dussolier, Sabine Azéma,

Emmanuelle Devos, Mathieu

Amalric; França/Itália, 104m,

Cor, 2009; EDIÇÃO: Atalanta

Filmes

UM PROFETA

O jovem Malik, francês de

origem magrebina, cumpre

pena de prisão pela primeira

vez, depois de ter passado

grande parte da sua juven-

tude em centros de detenção

juvenil. Apanhado no meio

de uma guerra entre corsos e

árabes, Malik não tem amigos

nem inimigos dentro da

cadeia e apenas quer cumprir

a pena e sair. Mas o líder dos

corsos vai atraí-lo para as

suas operações...

Filmado com o rigor e

intensidade adequadas, esta

crua viagem ao interior de

uma prisão recebeu dezenas

de prémios em

2009, incluin-

do o grande

prémio do Júri

de Cannes, e

consagrou o

jovem Tahar

Rahim como uma das reve-

lações do ano.

TÍTULO ORIGINAL: Un Prophète;

REALIZADOR: Jacques

Audiard; COM: Tahar Rahim,

Niels Arestrup, Adel

Bencherif, Hichem Yacoubi;

França/Itália, 150m, Cor,

2009; EDIÇÃO: Atalanta Filmes

OS JUNCOS SILVESTRES

Estamos em 1962. O Tratado

de Evian confirma a inde-

pendência da Argélia.

Henri, um pied-noir

(francês nascido na Argélia)

chega ao liceu numa vila do

sudoeste de França. É um

revoltado e considera os france-

ses traidores. Maite, François e

Serge são os seus novos amigos

e os tempos vão ser agitados

entre discussões sobre a guerra

na Argélia, amores, amizades e

o fim do liceu.

Retrato da

juventude france-

sa do início dos

anos 60, "Os

Juncos Silvestres"

(1994) coloca em confronto

visões diferentes da sociedade

francesa e da questão argelina.

Com este pano de fundo,

André Téchiné, o realizador,

explora as relações na ado-

lescência com uma sensibili-

dade notável. Bem acolhido

pelo público e crítica e distin-

guido com vários prémios do

cinema francês, o filme revelou

ainda a bonita e talentosa

Élodie Bouchez.

TÍTULO ORIGINAL: Les Roseaux

Sauvages; REALIZAÇÃO: André

Téchiné; COM: Élodie

Bouchez, Gael Morel,

Stéphane Rideau, Frédéric

Gorny; França, 110m, cor,

1994; EDIÇÃO: Midas Filmes

EU SOU O AMOR

Na propriedade dos Recchi,

uma família milanesa abasta-

da, Emma vive dias

monótonos, aprisionada no

casamento e no sentido do

dever. Com a chegada da

Primavera, conhece António,

Chef de cozinha e melhor

amigo do seu filho Edo. Do

encontro de ambos vai nascer

uma paixão intensa que leva

Emma a reencontrar-se com a

vida. Escrito e realizado pelo

jovem realizador, Luca

Guadagnino, este melodrama

familiar tem um ritmo e uma

forma que escapam aos

padrões actuais. A escolha da

britânica Tilda

Swinton - que

teve de aprender

italiano e russo -

como protago-

nista, trouxe visi-

bilidade interna-

cional a este imperdível

filme- revelação do cinema

italiano, reforçado por uma

belíssima banda sonora.

TÍTULO ORIGINAL: Io sono

l'amore; REALIZAÇÃO: Luca

Guadagnino; COM: Tilda

Swinton, Flavio Parenti,

Edoardo Gabbriellini, Alba

Rohrwacher; Itália, 120m, cor,

2009; EDIÇÃO: Prísvideo

Quatro excelentes filmes de duas das mais criativas e renascidas 'escolas' europeias de cinema. Comassinatura francesa temos o insólito "As Ervas Daninhas", de Alain Resnais, o dramático "Um Profeta",de Jacques Audiard, e o belíssimo "Os Juncos Silvestres", de André Téchiné. Do novo cinema italiano,seleccionamos "Eu Sou o Amor", de Luca Guadagnino. Sérgio Alves

Qualidade europeia

Boavida|Cinema em Casa

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Boavida|Grande Ecrã

Jogo e Poder

Joaquim Diabinho

Baseado na obra literária de Ben Mezrich,“TheAccidental Billionaires:The Founding ofFacebook, a Tale of Sex, Money,Genius andBetraya”, o filme descreve as relações de

cumplicidade criadora entre Mark Zuckerberg e EduardoSaverin, dois universitários de Harvard, experts na área daprogramação de computadores, revelando como foi criado(a partir de uma ideia de Mark, numa noite de outono de2003) a maior rede social global baptizada “facebook” -alegadamente orientada para a partilha e amizade virtual -que provocou, como é bem sabido, um efeito revolu-cionário poderoso na área da comunicação e,já agora, teve (tem) enorme repercussão nasrelações sociais e humanas.

Qualquer espectador que tenha a visto osfilmes de David Fincher sabe de antemão oque à priori lhe está reservado: uma perfeitadefinição dos personagens e das relações queestabelecem entre si. Em “A Rede Social”,Fincher trabalha a esse nível o mais profun-do e fá-lo com equilíbrio e saber mas tam-bém com talento e mestria.

O lado mais pertinente do filme está justa-

mente na constatação de que a fama e o sucesso profis-sional rápido e apoteótico do jovem estudante comportamriscos e trazem complicações pessoais e de natureza legalrelativamente imprevisíveis.

No “cast”, destaque-se as prestações de Jesse Eisenberg,Andrew Garfield, Justin Timberlake e Armie Hammer,entre outros.

MAS NOVEMBRO traz ainda às salas o ousado e chocante“Inside Job”, documentário de Charles Ferguson sobre ocolapso financeiro mundial de há dois anos que custou amilhões de pessoas a perda do emprego e da casa e quesoma custos superiores a mais de vinte mil milhões de

dólares. Surpreendente e não menos inqui-etante é o facto do realizador expor, semtibiezas nem meias-tintas, a verdade sobreas razões que se escondem por detrás dagrave depressão económica. E põe a nu asrelações perniciosas que corromperam apolítica, as autoridades responsáveis pelaregulamentação e o mundo universitário.Para reflectir e retirar ensinamentos e pers -pectivas. Uma curiosidade: o actor MattDamon cumpre com eficácia a função de(bom) de narrador. n

“A Rede Social” é o acontecimento maior da rentrée nos ecrãs de todo o mundo: a ficção em redor donascimento do facebook e dos seus criadores. Em tom de fábula e com uns gramas de thriller a quenão falta alguma inspiração em Kurosawa, grande mestre do cinema nipónico e até em modelosshakespereanos.

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Boavida|Tempo Informático

Toque-me!Exactamente. Este é o convite feito por uma sériedos actuais dispositivos informáticos. Há cerca decinco anos intensificou-se o uso dos ecrãs “touchscreen” após o célebre Surface da Microsoft.

iPad, os milhões de exemplares vendidos nos EstadosUnidos logo nos primeiros dias e ele aí está numa placacom 25 cm de diagonal, mostrando conteúdos na horizon-tal ou vertical, conforme o nosso gosto, com aplicaçõesprofissionais e de entretenimento para deliciar o utilizador.

E eis que os fabricantes (Acer, Asus, etc.) nos apresen-tam computadores que quase dispensam os teclados

como os da série “All in one” ou“Tudo em Um” da Packard Bellcom monitores touch screen, ondea vulgar caixa ou tower desapare-ceram. É que acoplado no interiordo monitor de 23 ou 21,5 pole-gadas reside todo o hardwarenecessário, incluindo um disco de1 Terabyte, processador da última

geração e muita memória para maior velocidade, placagráfica qb, drive DVD e tudo o mais. Temos assim menosespaço ocupado em cima da secretária e o máximo dotouch screen. Esta é a interface mais fácil e cómoda para

todos os computadores numa larga gamade aplicações. Permitem-nos navegartocando apenas em ícones e links queestão no ecrã. Teclados, se foremnecessários, até já existem projecta-

dos no tampo da secretária.Assim será num futuro próximo.Comodidade e simplicidade.Aceite o convite de com eles tra-

balhar. Toque-me! n

Uma espécie de mesa cujo tampo era um enormeecrã onde com o toque ou movimento dosdedos accionávamos ferramentas para dese -nhar, pintar, dimensionar e até reproduzir

objectos colocados sobre ele. Aliás a tecnologia “touchsensor” fora descoberta em 1971 por um Professor daUniv. de Kentucky num dispositivo a que deu o nome deElographics.

Presentemente ecrãs Touch Screen invadem o mercadonuma série de dispositivos informáticos, desde monitoresde PC aos mais sofisticados telemóveis. Também os moder-nos GPS como a série NDRIVE Touch abandonaram oestilete e utilizamos apenas um dedo para escolher menusou escrever a morada do destino. Nos Smartphones está látudo na ponta dos dedos. Escolhemos no ecrã o telefone, aInternet, o correio electrónico, o bloco de notas, asfotografias, vídeos ou músicas, tudo enfim que o softwarenos oferece. Lembremos o entusiasmo do lançamento do

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Boavida|Ao Volante

Opel Meriva inovadorO novo Opel Meriva está dotado de uma vasta série de equipamentos e sistemasinovadores concebidos para optimizar a versatilidade e a facilidade de utilização,tornando-se, com isso, no expoente máximo do design ergonómico.

Carlos Blanco

Disponível em Portugal com uma gama de trêsmotores e dois níveis de equipamento, o mono-volume da Opel distingue-se de todas asrestantes ofertas do mercado graças às portas

antagónicas, abrindo, a partir daí, todo um novo mundoem matéria de versatilidade.

Quando lançou a primeira geração Meriva, em 2003, aOpel criou um novo segmento de mercado para monovo -lumes de pequenas dimensões e eco-nomicamente acessíveis. Com um ver-sátil sistema de ordenação dos bancostraseiros FlexSpace, bancos de posiçãoelevada e um habitáculo espaçoso, oMeriva liderou assertivamente o seg-mento durante o seu ciclo de vida, nãosó nas vendas - vendeu mais de um mi -lhão de unidades -, mas também naqualidade. Em 2007, obteve a menortaxa de ocorrências entre os 113 modelos avaliados pelaTUV, o principal organismo alemão de certificação daqualidade.

O novo Meriva de segunda geração não descansa sobreos louros, optando antes por se afirmar ousadamente.Desenhado e desenvolvido em Russelsheim, na Alemanha,utiliza a nova linguagem de design da Opel para se tornarnum monovolume dinâmico e elegante, com dimensõesexteriores reduzidas. Além disso, eleva a versatilidade abordo a um novo patamar de funcionalidade, ergonomia esimplicidade de utilização.

O Meriva destaca-se pelo inovador sistema FlexDoors,com portas de abertura antagónica (portas traseiras dedobradiças posteriores), que facilitam ao máximo o acessoao habitáculo e constituem um trunfo extremamenteimportante num automóvel deste género, cujos braços tra-seiros são normalmente bastantes utilizados. Na temáticada versatilidade, além das portas de abertura antagónica, onovo Meriva oferece ainda o engenhoso sistema desuporte para bicicletas FlexFix, integrado atrás do pára-choque traseiro, que é extremamente fácil de utilizar e nãointerfere com o design do automóvel.

No habitáculo, as mudanças face àanterior geração são verdadeiramenterevolucionárias, com um nível dedesenho e qualidade superiores, umaversatilidade inovadora e grande ênfaseno bem-estar dos passageiros. Ohabitáculo dispõe de uma versão aper-feiçoada do sistema de ordenação va -

riável dos bancos traseiros FlexSpace, de maior espaço dearrumação (graças ao Flexrail, um sistema inovador dearrumação adaptável na consola central), e bancosdianteiros com as maiores amplitudes de regulação dosegmento e, a título opcional, de bancos dianteiros comergonomia certificada por especialistas.

O conceito global do novo Meriva recebeu o selo daAktion Gesunder Rucken - associação alemã de médicos eterapeutas de ortopedia - de que as características especi-ais deste automóvel oferecem condições para garantir amelhor ergonomia. A gama do novo Meriva em Portugalpossui dois níveis de equipamento - Enjoy e Cosmo - mascom equipamento de série completo. Vocacionada parauma utilização mais prática e constituindo a opção maisacessível à gama, a versão Enjoy oferece de série ar condi-cionado, rádio-leitor de CDs/MP3 com comandos novolante, programador de velocidade, computador debordo, vidros eléctricos, espelhos retrovisores com regu-lação eléctrica e aquecidos, fecho centralizado de todas asportas com comando à distância e travão de mão eléctri-co, entre muitos outros. O novo Opel Meriva está à vendaem Portugal a partir de 18.150 euros. n

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Boavida|Saúde

A síndrome de DiógenesSempre que partilho convosco uma história clínica, senão posso dar um rosto a essa história, pelomenos escrevo as iniciais do nome do doente, e isto para defender a sua privacidade. Por detrás dessashistórias estão sempre pessoas reais, que eu conheço e que me consultam.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

Hoje, ao contrário do habitual, escrevo umahistória que me foi contada por uma doenteminha sobre a irmã. Acontece que não poderiaser narrada pela irmã, porque esta, como todos

os doentes que sofrem da síndrome de Diógenes, não temconsciência da sua doença.

A síndrome de Diógenes é uma perturbação do compor-tamento, com características obsessivo-complusivas e certasparticularidades: os doentes com esta perturbação não con-seguem separar-se dos mais variados objectos a que as pes-soas em geral chamam lixo. Afecta principalmente oshomens e, dentro destes, os mais idosos e os que vivem sós.

Dá-se o nome de comportamento obsessivo-compulsi-vo, quando, por exemplo, uma pessoa se levanta amiúdeda cama para verificar se a porta da rua ficou bem fechadaou se o gás está desligado. Ou ainda, quando estaciona ocarro, volta frequentemente para trás para se certificar deque trancou tudo, e pode tornar a ver se a janelas ficaramfechadas e quando vai entrar em casa, volta denovo ao carro para ter a certeza de que ligouo alarme…Uma pessoa assim pode estarem risco de desenvolver esta pertur-bação do comportamento, que atingecerca de 2% de todas as classes soci-ais.

A doente a que refiro é uma se -nhora de 72 anos, solteira, com for-mação académica, que teve ao longoda vida vários interesses de naturezaintelectual e que, a par disso, foireunindo em sua casa livros eobjectos a seu gosto e, depois,tudo o que lhe parecia quepoderia vir a utilizar um dia.

Com o tempo, o quarto ondedormia ficou de tal modo atulhado quejá não tinham espaço para dormir. Apessoa que sofre desta perturbação nãoconsegue perceber o absurdo da situaçãoe muda-se para outra divisão da casa e, se não se tratar,

vai repetindo este procedimentoPerante a insistência da irmã – a minha doente - para

ajudar a remover o lixo, fechou-se sobre si, recusandoqualquer ajuda e impedindo a entrada a quem quer quefosse.

Dentro da classe médica ainda existem divergências edúvidas sobre esta perturbação e há quem não a considereuma doença. A Organização Mundial de Saúde classificao sintoma como coleccionismo, isto é, a incapacidade quealgumas pessoas têm de se desfazer de objectos pessoaisvelhos ou mesmo de lixo.

Em alguns doentes, aqueles com uma origem de classemais humilde, é tentador atribuir este “coleccionismo” àscarências sofridas e a um desejo insaciável de bens.Porém, este comportamento é transversal às classes soci-ais, há pessoas bem colocados socialmente e com car-reiras profissionais com sucesso que sofrem desta doença.

A doença pode surgir numa pessoa que perde um entequerido. Para manter viva a recordação, começa a partirde então a juntar tudo o que se relaciona com essa pessoa.

Noutros casos, o doente rodeia-se de objectosestimáveis para colmatar a solidão. São

comportamentos aceitáveis e só serãoconsiderados doença quando exce-dem o razoável e impedem a pes-soa, neste caso o doente, de fazer asua vida normal.

Esta alteração do comportamen-to também pode atingir um mem-

bro de uma família. Nestes casos, odesconforto, o lixo, o mau cheiro, o

risco de contrair doenças ou aci-dentes e até de incêndio aumenta e faz

com que as famílias se desagreguem.Estas pessoas precisam de ajudapsiquiátrica.

Foi o que aconteceu com a irmã daminha doente. Aceitou ir passar fériasno campo. Encontra-se numa casa derepouso, onde é acompanhada portécnicos de saúde e onde faz terapia

comportamental. n

72 TempoLivre | NOV 2010 ANDRÉ LETRIA

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Boavida|Palavras da Lei

Pedro Baptista-Bastos

Portugal foi um País pioneiro em termos de pre-venção dos fenómenos de violência nodesporto. A nossa Constituição prevê este pro -blema, ao atribuir ao Estado a tarefa de “pre-

venir a violência no desporto” – art. 79º, n.º 2 da CRP;além disso, esta matéria foi, já no ano de 1980, regulamen-tada pelo Decreto-Lei n.º 339/80, de 30 de Agosto, normaessa pioneira nesta matéria. Foi, depois, substituída pelaLei n.º 16/81, de 31 de Julho e pela Lei n.º 16/2004, de 11de Maio.

Actualmente, vigora a Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho,que estipula o regime jurídico de combate à violência, aoracismo à xenofobia e à intolerância nos espectáculosdesportivos, de forma a possibilitar a realização dos mes-mos com segurança.

Esta Lei teve uma grande preocupação em definir e,principalmente, obrigar aos registos de claques, seusapoios e protocolos, de modo a prevenir a violência nosrecintos desportivos.

Assim, esta norma define, no seu artigo 3º, al. g) anoção de “Grupo Organizado de Adeptos”, sendo o con-junto de adeptos, filiados ou não numa entidade desporti-va, tendo por objecto o apoio a clubes, a associações ou aentidades desportivas. Enquadra-se, nestes termos a ideiade “claque”. Esta noção jurídica é desenvolvida nos seusartigos 14º a 16º da Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho.

Já no nº 1 do art. 14º se obriga a que haja um registodas “claques” junto do Conselho para a Ética e Segurançano Desporto (CESD) e sua constituição como associaçãopública, para que o promotor do espectáculo desportivopossa efectuar “facilidades de utilização ou cedência deinstalações, apoio técnico, financeiro ou material”. O“apoio técnico, financeiro ou material” tem de ser celebra-do através de Protocolo, que contém o registo dos mem-bros da claque – nºs 2 e 3 do art. 14º.

A Lei proíbe expressamente quaisquer apoios a gruposque adoptem sinais, símbolos e expressões de carácterracista ou xenófobo, podendo o clube desportivo incorrerem penalizações que podem ir até à realização de eventos

desportivos à porta fechada. As sanções são aplicadaspelo Instituto do Desporto em Portugal, I.P., sob propostado CESD.

As “claques” devidamente legalizadas devem possuirum registo dos seus filiados o mais pormenorizado e actu-al possível, nos termos do art. 15º da Lei n.º 39/2009, de30 de Julho, sob pena dos elementos responsáveis das“claques” não poderem entrar nos recintos desportivos.

Sob este aspecto, saliente-se o n.º 2 do art. 16º da Lein.º 39/2009, de 30 de Julho, que proíbe ao promotor doespectáculo desportivo ceder às “claques” bilhetes a maisdo que o número de filiados da “claque” que constem noregisto, devendo, inclusive, “constar em cada bilhete cedi-do ou vendido o nome de cada titular filiado”. Estescuidados estão desenvolvidos no art. 26º da Lei n.º39/2009, de 30 de Julho.

No art. 24º da Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho prevê-seque os membros de uma “claque” podem utilizar mega-fones, tambores e “potes de fumo” no interior dos recintos.

Finalmente, esta Lei prevê exaustivamente as punições,quer sob a forma de Crime, quer sob a forma de contra-orde-nações, ilícitos disciplinares e outras penas, nos seus artigos27º a 51º desta Lei. Realce-se o crime de participação emrixa, ou o arremesso de objectos ou produto líquido, quepodem ser punidos com pena de prisão até 3 anos. n

Violência no Desporto – Claques? Sou membro de uma claque de futebol. Como sempre ouvi falar sobre a legalização das

claques e seu envolvimento em actos de violência, gostari de saber se existe alguma lei

em Portugal sobre estes assuntos.

Sócio devidamente identificado – Forte da Casa.

NOV 2010 | TempoLivre 73

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Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 20Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

(horizontais): 1-ENTRUDO; CASCARA. 2-LER; SAGRARA; RIM. 3-EXALAR; E; AIROSA. 4-VOZ; MISSAIS; SOR. 5-ÉS; C; OÁSIS; R; SR.6-S; PÓS; MAS; VOS; A. 7-SOMAM; O; PELES. 8-BOI; REMATES;NUA. 9-OBSTARA; ACUSADO. 10-C; OURO; E; AVÓS; R. 11-AL; AA;ALA; IM; UT. 12-GEO; SUBORNO; AMA. 13-ESSA; RASTO; LOAS.

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

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N.º 20 SOLUÇÕES

Palavras Cruzadas | por José Lattas

Horizontais: 1-Carnaval; Batera. 2-Devanear; Benzera;Víscera dupla. 3-Aspirar; Alindada. 4-Alento; Livro litúrgi-co, para a celebração da missa (pl.); Redução popular desenhor. 5-Aconteces; Alívio; Estrôncio (s.q.). 6-Cinzas;Contudo; Pronome pessoal. 7-Acumulam; Couros. 8-Comilão; Acabamentos; Descoberta. 9-Coibira; Criminoso.10-Metal precioso: Antecessores. 11-Mais; Igualdade emfarmácia; Álea; Prefixo que se emprega em vez de in; Antiganota musical. 12-Elemento grego, com ideia de Terra ousolo; Aliciação; Governanta. 13-Adjectivo demonstrativo(fem.); Cola; Mentiras.

Verticais: 1-Alces; Grande poeta, natural de Setúbal. 2-Coerências; Debaixo de; Redução de Leste. 3-Acarreta;Lugar onde se costuma estar; Artigo (pl.). 4-Preposição; Riode Portugal. 5-Aplicam; Consolidaras. 6- Rei dos Persas;Único; Antiga cidade da Caldeia. 7-Estão em "voga"; Tioamericano; Adversa; Abrigo. 8- Volubilidade; Eles. 9-Aqui;Lamentos; Basta!; Artigo (abrev.). 10-Lavrais; Transgride;Articulação. 11-Abalas; Vulcão junto a Nápoles. 12-Alistamento; Soada. 13-Arredores; Carta de jogar, com seispintas; Contracção de preposição e artigo. 14-Alegrias;Expresso para Paris; Certa. 15-Acorrenta; Artéria que nasceno ventrículo esquerdo, do coração (pl.).

74 TempoLivre | NOV 2010

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Page 75: Tempo Livre - Novembro - N 220

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Page 76: Tempo Livre - Novembro - N 220

ÂNCORA EDITORA

NÓBREGA E SOUSA

Música no Coração

Nuno Gonçalo da Paula

A biografia de Carlos

Nóbrega e Sousa, uma

referência da música ligeira

que conquistou, em 1958,

grande êxito com “Vocês

Sabem Lá”.

Entre os sucessos da sua

autoria

constam

temas como

“Sol de

Inverno”,

“Onde vais rio

que eu

canto”, Sobe, Sobe Balão

Sobe” e muitas outras

canções eternizados por

Amália Rodrigues, Madalena

Iglésias, Mª de Lourdes

Resende, Rui de

Mascarenhas, Simone de

Oliveira e Tony de Matos.

AREIAS DO TEMPO

ROTA SEM FIM

Rogério Seabra Cardoso

Um relato invulgar onde a

riqueza das personagens e a

paisagem fluem sem

pretensiosismo, recordando

a presença militar em África.

“É um diálogo saboroso (…)

feito por quem domina a arte

literária e o enquadramento

histórico-social de uma

guerra em que o bem e o

mal estão

presentes,

onde quer

que haja

seres

humanos.”.

ARTE PLURAL

IOGA - GUIA PRÁTICO

Tara Fraser

Um guia prático e ilustrado

com uma abordagem

tradicional e holística que

combina

posturas de

ioga com um

estilo de vida

saudável.

Inclui

instruções sobre os asanas e

revela como estes

ensinamentos ajudam a

vencer o stress e as

limitações da vida moderna.

BOOKSMILE

RIPLEY’S ACREDITE SE

QUISER! - VER PARA CRER

Dulce Afonso e Teresa

Sousa (trad.)

Um impressionante álbum

repleto de imagens sobre

casos bizarros e histórias

incríveis que irão

surpreender o leitor.

A adaptação ao cinema em

2011 terá Jim Carrey no

papel principal.

JOÃO PASTEL: O DRAGÃO

DA ESCOLA

Michael Broad

Três novas aventuras muito

engraçadas. João conta

como

conheceu a

dragoa bebé

que vive na

cave da

escola, como

é assustador

encontrar um troll das

pontes debaixo da cama e

como as trapalhadas de um

fantasma matreiro (que

picou com um lápis o

traseiro da stora Henriques)

provocam uma enorme

barafunda.

UMA HISTÓRIA MESMO

BESTIAL: O CAÇADOR

CONTRA-ATACA

David Sinden, Guy

Macdonald e Matthew

Morgan

Um morcego-correio aterra

em Farraway Hall com um

pedido de

socorro e de

imediato a

equipa da

SRPCB entra

em acção.

Alguém vai

organizar uma caçada às

bestas e expulsar os trolls da

sua gruta na montanha!

Conseguirá Ulf, o lobisomem,

salvar os trolls sem ser

apanhado?

EDIÇÃO DE AUTOR

AS DIFICULDADES NÃO

MATAM O SONHO

Isaura Félix de Queirós

Um testemunho e um

exemplo de

coragem que

a autora

pretende

partilhar com

o leitor, ao

relatar as sua vivência,

emoções e batalhas que teve

de enfrentar ao longo da

vida.

EDITORIAL PRESENÇA

A CASA DOS SETE

PECADOS

Mari Pau Domínguez

Madrid, 1568. A morte de

Isabel de Valois leva o rei

Felipe II a desposar a

sobrinha, Ana de Áustria,

com o

objectivo de

garantir ao

reino um

filho varão.

Abalado com

esta morte,

Filipe só encontra consolo

nos braços da aia das filhas.

Consciente da traição à nova

esposa e da condição de

soberano de uma das

monarquias mais poderosa

do seu tempo, Filipe

envereda por um caminho

que irá mudar muitas vidas.

A ARTE E O MODO DE

ABORDAR O SEU CHEFE DE

SERVIÇO PARA LHE PEDIR

UM AUMENTO

Georges Perec

O autor explora os jogos e os

limites da linguagem

partindo da história de um

insignificante funcionário

que tenta chegar à fala com

o seu chefe

no momento

mais propício

a obter aquilo

que pretende.

Uma

descrição em que o lúdico e

o absurdo se combinam de

forma genial.

ClubeTempoLivre > Novos livros

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Page 77: Tempo Livre - Novembro - N 220

EUROPA-AMÉRICA

A RAINHA DOS MALDITOS - I

Anne Rice

O vampiro Lestat viaja até à

caverna numa ilha grega e

desperta Akasha, a rainha

dos malditos e mãe de todos

os vampiros, que sedenta de

sangue traça um plano para

dominar os

vivos.

Enquanto

Lestat ignora

a existência

de vampiros

dispostos a destruí-lo por ter

revelado o seu segredo, um

misterioso sonho aponta

para uma tragédia

indescritível.

NASCI PARA NASCER

Pablo Neruda

Composta por diversos

cadernos agrupados em

estilos que passam pela

abordagem do trabalho

literário de

Neruda e pela

experiência

vivida,

incluindo a

situação

política no

Chile, a obra traça um

retrato psicológico do autor

com toda a verdade e

naturalidade que a ausência

de pose determina.

A HISTÓRIA MAIS BELA DO

MUNDO

Rudyard Kipling

Uma história onde o autor

leva a crer que a inspiração

surge dos detalhes mais

prosaicos que só o artista

pode transcender, que só

várias coincidências e

contingências

dão azo a

uma obra de

arte e que a

arte sublima

o real e o

maravilhoso ombreia com a

ciência.

Um magnífico livro do Nobel

da Literatura, laureado em

1907, que faz jus ao bom

humor inglês.

ESCRITOS ÍNTIMOS

Charles Darwin

A obra dá a conhecer as

várias facetas de Darwin e

remete para o local onde a

ciência confina com a

intimidade. Pois a

curiosidade científica de

Darwin

centra-se

nele próprio

ou nas

pessoas que

preza e que o

rodeiam. Da primeira viagem

às observações pacientes e

ternas sobre o crescimento

dos seus filhos, revela-se a

grandeza de um homem da

ciência.

HISTÓRIA POLÍTICA DE

PORTUGAL – 1910 A 1926

Douglas Wheeler

“O país sofreu com a

desorganização económica e

social, com a violência

pública e com os constantes

pronunciamentos militares-

revolucionários. A

desvalorização da moeda e a

inflação foram, de longe, as

piores dos tempos

modernos. Por volta de 1926,

restavam à República muito

poucos apoiantes.”.

Uma edição comemorativa

do Centenário da República.

OFICINA DO LIVRO

MORRER E RENASCER

Maria José Costa Félix

Um convite a acreditar na

vida para lá de qualquer

espécie de morte e na

possibilidade que todos

temos de continuar vivos,

mesmo

quando

confrontados

com

sentimentos

de perda de

alguém

querido ou de alguma coisa

a que estávamos ligados.

SEM AÇÚCAR, COM AFECTO

José Jorge Letria e Sílvia

Saraiva

Sílvia Saraiva, endocri -

nologista conhecida pela sua

abordagem pouco

convencional à Diabetes,

esclarece e desmistifica

algumas concepções sobre a

doença, enquanto José Jorge

Letria revela

como é viver

com esta

patologia,

quais os

maiores

desafios e

como superá-los.

Em estilo confessional e

rigoroso o livro ajuda a

perceber o que é a Diabetes,

como preveni-la e como viver

com as suas limitações, sem

esquecer a questão da

alimentação e terapêutica.

NOVA VAGA EDITORA

O FLAMINGO DA ASA

QUEBRADA

Augusto Carlos

Com a ajuda da natureza e

dos animais é possível

compreender melhor o

Homem e

tudo o que

nos rodeia.

Venha

descobrir o

mundo,

conversar com uma flor ou

saber porque é que o

flamingo está triste, mesmo

vivendo num jardim

paradisíaco com um lago e

outros pássaros lindos à sua

volta.

VOVÔ TSONGONHANA

Augusto Carlos

Dudinho é um menino das

ruas de Maputo que vai

aprender as

coisas boas

da vida com

o «Vovô».

Desde o

respeito pela

natureza e

por tudo o que existe até aos

problemas que afectam os

homens, a obra apela ao

crescimento interior e à

moral de cada indivíduo.

Glória Lambelho

([email protected])

NOV 2010 | TempoLivre 77

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Page 78: Tempo Livre - Novembro - N 220

ClubeTempoLivre > Cartaz

CASTELO BRANCO

Teatro

Festival de Teatro Amador no

Teatro Clube de Alpedrinha:

dia 5 - A finura de uma velha

e Tia Verde Água e os 10

Anõezinhos, pelo grupo de

Teatro Clube de Alpedrinha,

dia 6 – Músculos - A primeira

do Actor, encenador e

argumentista da obra de

Pedro Fiúza, dia 12 – Vícios

Anónimos um Exercício

Teatral das Oficinas de Teatro

de João Rosa e dia 13 – A

Rosa ou quem é a cabra?,

produção Ana Lázaro e Rita

Cruz.

Os Dj-Set´s vencedores do

passatempo “Atmosferas

sonoras” actuam no final de

cada peça.

COIMBRA

Concertos

Dia 6 às 21h30 - Orquestra

de Sopros de Coimbra na

ADFP em Miranda do Corvo;

dia 10 às 21h30 - Recital de

Violino e Guitarra na

Biblioteca Joanina em

Coimbra; dia 14 às 21h30 -

Órgão na Igreja da

Misericórdia de Arganil; dia

16 às 21h30 - Recital de Piano

na Biblioteca Joanina; dia 18

às 21h30 - Ensemble Coimbra

na Biblioteca Joanina; dia 20

às 16h - Recital Litúrgico p/

Santa Cecília em Prodeco

(Centro Social); dia 21 às 16h

- Órgão e Canto Ensemble

Cum Jubilo na Igreja de

Santa Cruz em Coimbra; dia

25 - Farsa de Inês Pereira

pelo Gr. de Teatro de Casal

Cimeiro e Sax Ensemble no

Auditório da Escola Avelar

Brotero em Coimbra; dia 26

às 21h30 - Violoncelo e Piano

(música Portuguesa) na

Biblioteca Joanina; dia 27 às

22h - Coro da Academia

Martiniana na Igreja Matriz de

Cantanhede.

Dança

Dia 6 às 21h30 – V Festival

Nacional de Dança Moderna

da Associação C.R. de

Coimbra na sede do Grupo de

Teatro de Sobral de Ceira.

Pedestrianismo

Dia 14 - caminhada na mata

do Buçaco “Rota S. Martinho

- Trilhos do Buçaco”,

informações na Agência

Inatel.

Futebol

Dia 7,14,21 e 28 – jornadas do

grupo A e B da Taça de

Futebol, informações na

Agência Inatel.

VIANA DO CASTELO

Cinema

Dia 11 às 21h30 –“Gomorra” na

Junta de Freg. de Tregosa; 13

–“A Cidade sobre Ameaça” na

Junta de Freg.a de Vila de

Punhe; dia 18 às 21h30 -

“Patoruzito - O Pequeno índio”

no Grupo C.S.R.D de Cuide de

Vila Verde; dia 27 às 21h30 -

Gomorra no Grupo C.S.R.D. de

Cuide.

Teatro

Dia 19 - Grupo Unhas do

Diabo em Sá (Ponte de Lima);

dias 5, 6 e 7 - Nacional do

Concurso de Teatro em Ponte

de Lima, no Teatro Diogo

Bernardes.

Workshop

Dias 19 e 20 às 19h -

Workshop de Judo na Escola

C+S António Feijó em Ponte

de Lima.

Curso

Dia 27 - Iniciação à

Maquilhagem na Agência

Inatel. Preço p/ associados:

35 euros.

Cicloturismo

Dia 14 – prova com convívio

em Perre.

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Eram ricos. Eram poderosos. Eram reis ou impera-dores. Em quase todas as civilizações antigas, con-siderados detentores de um mandato divino naterra, com a missão de estabelecerem a justiça e a

paz, o equilíbrio e a harmonia no mundo. Entre os Celtas, de cuja cultura ainda se encontram

vestígios no nosso país, um bom rei (eleito pelos nobres,como qualquer primeiro-ministro actual) era aquele queassegurasse a prosperidade dos seus súbditos. Ele era apenas o distribuidor dos tributos e dos impostos que lheeram confiados. Por seu lado, rei que lançasse impostos,retirando deles benefícios pessoais, sem, em troca, darqualquer compensação ao contribuinte, era consideradoum mau rei, em cujo reinado a terra, as plantas e os animaisse tornariam estéreis. (Sei que não temos rei, mas há quemdiga que este ano a terra está seca, que as árvores se negaram a dar fruto… Não. Ninguém me falou dos animais.)

Na realidade, se eram ricos e poderosos, ainda que,aparentemente, jamais bons, eram também pragmáticos,não no sentido de “adeptos do pragmatismo”, teoria filosófica do séc. XX, mas sim no comezinho sentido original de “prático”, do grego “pragmatikós”: quando asdespesas excediam as receitas do reino, e as régias burrasficavam vazias de dobrões, cruzados ou maravedis, porexemplo, havia o recurso, ainda actual, de lançar novosimpostos, que em Portugal podiam ter nomes tão apelativos como, entre outros, fossado, calúnia, anúduva, açougagem e alcavala, fossado, calúnia, anúduva, açougagem e alcavala, e que, à míngua denumerário, até ao séc. XV, eram frequentemente pagosem géneros (sobretudo em trigo e panos). Muito actual,também, era o recurso a empréstimos, tendo a nossafamiliar locução “dívida pública” surgido, paradoxalmente, em Portugal nos séculos das especiarias

da Índia, do ouro do Brasil - do apogeu do poderio político e económico português.

Quase todos os monarcas europeus passaram, ao longoda História, por graves crises financeiras. Os reis portugueses não foram excepção.

Curioso é o facto de, por vezes, essas crises financeirasserem suscitadas, ou, pelo menos, agravadas pela tendência para o novo-riquismo, para o luxo delirante, daselites sociais portuguesas das diversas épocas, de que nãoestava isenta a própria Casa Real.

Incapazes de aumentar as receitas, os reis procuravamequilibrar a sua balança comercial, desequilibrada pelasimportações de artigos de luxo do estrangeiro, mediante acontenção das despesas, do ruinoso despesismo incontrolável, o que faziam através de Pragmáticas, oudecretos reais, como a Pragmática contra o Luxo, de 1749,“em que se regula a moderação dos adornos, e se proíbe oluxo e o excesso dos trajes, carruagens, móveis e lutos, ouso de espadas a pessoas de baixa condição, e outros diversos abusos, que necessitavam de reforma”. EstaPragmática, que também se aplicava às colónias da época,estipulava, inclusive, o que os negros e mulatos deviamusar e impedindo-os de vestir do mesmo modo que osbrancos.

O seu incumprimento implicava pesadas sanções, quepodiam ir da prisão a dois anos de degredo.

Diante dos meus olhos sonolentos desfilam na madrugada modelos envoltos em metros e metros de sedasda Flandres e brocados de Itália, com rendas de Bruges, debilros de Peniche e de Vila do Conde, pérolas do Oriente,pedrarias da Índia… Nas cabeleiras empoadas, fitas e plumas de Paris e, bem ocultas sob esse delírio sumptuário,nas leitosas coxas celulíticas à Rubens, uma liga de fio deouro fino do Brasil, de cuja existência apenas sei, evidentemente, pela indiscreta Pragmática que a proíbe. n

Do pragmatismo das pragmáticas[…] Giram as estações e os dias, /giram os céus, rápidos ou lentos,/as fábulas errantes das nuvens,/de campos de jogose campos de batalha /de instáveis nações de reflexos, /reinos de vento que dissipa o vento: nos dias serenos o espaçopalpita,/os sons são corpos transparentes, /os ecos são visíveis, ouvem-se os silêncios./Manancial de presenças, o diaflui soberbo nas suas ficções.[…]

Otavio Paz, Rememoración (Segundo Tablero), in: Pasado en Claro, 1974 Trad. M.A.V.F.

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

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Sentindo aproximar-se o último suspiro,Lionídio Barros Frágua disse adeus aohospital, preferindo finar-se em casa, nasua cama de sempre. Ali nascera noven-

ta e quatro anos antes e ali queria despedir-se davida, não sem antes expor a sua última e férreavontade.

Eram quatro horas de uma tarde escaldante e aventoinha soprando ao lado da cama pouco ate-nuava a temperatura e o pivete áspero que abafa-vam o quarto. Adília, a enfermeira contratada paracuidar do moribundo, aligeirou-o de colcha emanta deixando o corpo anafado exposto no pija-ma às riscas e pés envoltos em peúgas amarelas.

Lionídio levaria para a cova a sua fama dehomem quezilento e impiedoso mas alguns dosseus escassos amigos acreditavam que na hora dadespedida desistisse do mau feitio. Não aconte-ceu. É certo que quando convocou os três filhos ea bisneta Ana Rute, todos eles, excepto talvez amenina, aguardavam que o derradeiro encontrose destinasse a recomendações acerca da gigan-tesca empresa que desde há largas décadas ali-mentava a família toda. Nem estranharam ainclusão de Ana Rute, apesar de ser a mais tenrado agregado, com os seus vinte anos incomple-tos, porquanto ela era a perfeita herdeira do espí-rito empreendedor e outras características dobisavô.

Sobre os negócios e vasto património, noentanto, o velho nada disse. Todas as suas pala -vras foram para exigir que fizessem cair raios ecoriscos sobre o jovem Marco Vicente, que toma-ra de assalto a Fulguermata, Limitada. Uma histó-ria banal. Na próspera empresa de maquinarias,Lionídio Barros Frágua era um de três sócios,cada um deles com um terço do capital e respec-tivos lucros. Ele beneficiava do alheamento dafamília de Jacinto Pulquério, outro dos patrões,que passara a Lionídio procuração para pôr e dis-por, independentemente da vontade do terceirominoritário, de seu nome Octaviano.

Este Octaviano detestava Lionídio pelo seucarácter despótico, mas não podia impedir queele, com o apoio do outro societário, se manti-vesse ano após ano no cadeirão de todo poderosopresidente da empresa. Até que emergiu o moçoMarco Vicente, sobrinho de Jacinto Pulquério,que fez questão em representar a família atéentão alheada de cuidados administrativos. E foio fim. De imediato, o novato Marco fez acordoscom o embezerrado Octaviano e sacudiram dotrono Lionídio Barros Frágua. Não só ele, masquantos ele escolhera para lugares de topo e con-fiança, inclusive a secretária e os advogados. Onovo líder quis rodear-se de gente da sua afeiçãoe apreço e, pior ainda, deleitou-se em destruirtodas as regras e práticas que Lionídio adoptaraao longo dos sucessivos mandatos.

O ódio de Lionídio pelo invasor atingiu ospíncaros. Vingança era o sentimento que lheenchia a mente. Marco Vicente mostrava-se hábila suster os golpes e, para seu crescente rancor, viaaproximar-se o fim da vida sem saborear o mel davingança.

Foi nesse passo que reuniu os filhos e a bisne-ta para lhes legar o ressentimento e a incumbên-cia de fazerem de Marco Vicente o sujeito maisinfeliz do planeta.

- Quero que lhe façam a vida negra – disse,com voz fininha mas ainda bem audível pelaraiva. Na verdade, ele não acreditava muito nacapacidade dos filhos, três molengões, e quantoaos netos, nem os convocara: ele desviara-se paraactor de teatro e ela fugira com um ilusionistaargentino para o Tibete. A bisneta sim, tinhagarra.

Todavia, os filhos prometeram que se iamesforçar para que se cumprisse a última vontadedo seu azedo pai.

- Para eu descansar em paz, têm de lhe fazer avida negra – repetiu o ancião e todos disseram, àexcepção da mocinha Ana Rute que se mantevepensativa:

A vingadora

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Os contos do

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- Exactamente, havemos de lhe fazer a vidanegra.

O tempo correu, Lionídio Barros Fraga foi aenterrar, com fraca assistência, e mais tempo seseguiu sem que tombassem sobre o alvo MarcoVicente as maldições encomendadas.

- Eu ando a ver se lhe risco o carro – disse ofilho mais velho.

- Quero mais do que isso – avançou o segundofilho. – Vou escrever uma carta anónima àsFinanças acusando-o de aldrabar no IRS.

- Sim – aprovou o terceiro filho – isso podefazer-lhe a vida negra. Mas eu quero mais: vouinventar um inimigo misterioso que, todos osdias, lhe dirige ameaças de morte, por carta, pore-mail, por telemóvel.

- Essa é boa – aplaudiram os outros. - Fazesisso?

- Eu não sou capaz. Dou a ideia, ponham-navocês em prática.

Os irmãos esquivaram-se, alegando falta detempo e de jeito para tão exigente operação. Eassim corria o tempo inútil até que chegou a per-turbadora notícia: Ana Rute, a bisnetinha em queo falecido depositara tantas esperanças, fora vistaa jantar num restaurante fino e em alegre conví-vio com o detestável Marco Vicente.

- Pode ser? – espantou-se, indignado, o avô datraidora.

Podia. Tanto assim que, entregues à preocupa-da missão de espiar a menina, sofreram o choquede a ver passear de mãos dadas com o que deviaser o alvo da ira dela. E mais: escondidos no inte-rior de um carro observaram o par enlaçado e aosbeijos nas bocas.

- Incrível – gritou um.- Não se pode confiar nas novas gerações –

lamentou outro.- O nosso querido pai e ingénuo bisavô da Ana

Rute deve andar às voltas na tumba – prognosti-cou o terceiro.

Decidiram então que haveriam de admoestar

a desobediente e reconduzi-la ao plano original.Todavia, eles eram de facto indolentes e, nestaagitada época em que vivemos, o tempo voa.Quando deram por ela, era o dia que Ana Rute eMarco Vicente tinham escolhido para se casa-rem.

Foi em desespero que se apresentaram naeminência do consórcio e foi com ela já de bran-co no seu vestido de noiva que a tentaram deter:

- Desiste desse casamento desavergonhado,querida. Não te lembras do que prometemos aoteu bisavô?

A noiva rodopiou fazendo esvoaçar a caudado majestoso vestido e disse:

- Lembro-me e cumpro. Vou fazer-lhe a vidanegra. n

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Os dirigentes do País (de qualquer par-tido) acostumaram-se a empurrar,nas alturas de crise, as responsabili-dades por ela para as vítimas dela. É

o seu estratagema de impunidade.Insidiosamente, os trabalhadores vêem-se,

assim, invectivados por não produzirem, osdesempregados por não se haverem moderniza-do, os jovens sem colocação por se mostraremimpacientes de consumismos, os reformados poradornarem a sustentabilidade da previdênciasocial, os doentes crónicos por serem viciadosem gulodices farmacológicas, em saborosos inter-namentos hospitalares e intervenções cirúrgicas.

Tornou-se, aliás, hábito aparecerem em públi-co uns senhores de rostos severos a admoesta-rem-nos por «gastarmos mais do que ganhamos»e «ganharmos mais do que produzimos»; por, nassuas enfáticas palavras, «vivermos acima dasnossas possibilidades».

Não se sabe, entretanto, nem ninguém cuidade explicar, o que isso realmente significa. Sabe-se, sim, que vários dos notáveis em causa aufe-rem regalias multi-milionárias apesar (talvez porisso) de serem co-responsáveis pelo desequilíbrioa que chegamos.

Subir o nível de vida dos portugueses constituiu(é bom não esquece-lo), o isco utilizado para aspopulações morderem a Revolução, a democracia,a liberdade, a igualdade, então lançado nas águasonde, expectantes, barbateávamos. Para o manterabaixo (ou dentro) das nossas míseras possibilida-des, já bastava a sovinice do regime anterior.

O povoléu atirou-se às promessas (paradisía-cas) dos novos poderes como gato a bofe. Asnacionalizações que a esquerda mais destemidafez garantiam, por outro lado, que iríamos abole-tar-nos, sem suar grandes estopinhas, com gros-sas maquias de empresas, fábricas, bancos, her-dades, prédios, indústrias e comércios expropria-dos aos capitalistas fascistas.

A CEE ajudou, depois, à festa com fundosrapinados a preceito.

Num ápice, novas, expeditas classes ascende-

ram no País preferindo, porém, fazê-lo emdirecção a valores materiais do que culturais, oque gerou um boom de light bastante ilustrativo.

Ante solo tão fértil, adubado pelo colapsosocialista, o liberalismo selvagem (passe o pleo-nasmo) emergiu, fomentando o consumismo quefomentou a massificação e, esta, a indiferenciação,a desistência, a apatia – em que nos afogamos.

Colunistas de soalheiro e contabilistas debalcão inundam-nos, entretanto, de cenários, deestatísticas, de sondagens a sustentarem medidasrevigorantes (arrasantes) para a continuação danossa débil sobrevivência – que a deles encontra-se salvaguardada.

Temos, como consequência – e ainda a pro-cissão vai no adro –, falências e desemprego,miséria e aviltamentos em tsunami.

O pequeno comércio (sustentáculo dos núcle-os populacionais das cidades), a pequena agri-cultura (idem para os dos campos) caíram inani-mados; 80 mil jovens andam à procura de umprimeiro emprego, enquanto as famílias vêem 90por cento dos seus rendimentos endividados;metade da população vive, segundo os critériosda CE (dos nossos são 22 por cento), a nível dapobreza.

Em número crescente, crianças vão em jejumpara as escolas, idosos deixam de tomar medica-mentos, multidões dormem ao relento, semi-envergonhados comem de caixotes do lixo. Emmuitas casas volta-se, como há 50 anos, a cozi -nhar em fogareiros de petróleo (o gás inacessibi-lizou-se), a tomar banho uma vez por semana, aingerir apenas sopa às refeições, a deitar meiassolas em sapatos.

Fazer baixar o luxo que, dizem, praticamos é,avisam-nos, um imperativo inadiável, sob o riscodas classes médias baterem (mais?) no fundo eperder-se o País.

Irónicos, os mais vividos reduzem o que seensaia a remake de Neo-Estado Novo, neo-fascis-mo anular de indomados.

«Muita gente», avisava Cunha Rego, «sente-sejá bem no mal e mal no bem». n

Procissão no adro

Crónica

FernandoDacosta

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