34
ADO POR MUITOS CRÍTICOS FÔNICO MAIS IMPORTANTE SIL NOS ÚLTIMOS TEMPOS, UM EXEMPLO PAÍS AFORA.” novembro 2012 Rafael Rocha Revista Veja BH_OUT 2012

Temporada 2012 | Novembro

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: Temporada 2012 | Novembro

“O GRUPO, CONSIDERADO POR MUITOS CRÍTICOS O ACONTECIMENTO SINFÔNICO MAIS IMPORTANTE

OCORRIDO NO BRASIL NOS ÚLTIMOS TEMPOS, JÁ SE TORNOU UM EXEMPLO PAÍS AFORA.”

www.fi larmonica.art.br

R. Paraíba, 330 | 120 andar | FuncionáriosCEP 30130-917 | Belo Horizonte | MG Tel. 31 3219 9000 | Fax 31 3219 9030 contato@fi larmonica.art.br

REALIZAÇÃO

estão falando sobre você.sobre você que é o motivo da orquestra Filarmônica existir.sobre você que é exigente com o que ouve.sobre você que às terças e quintas espera se surpreender.estão falando sobre você.Você que colabora para que a Filarmônica seja uma das melhores orquestras do país.Você que faz diferença a cada concerto.Você é a razão disso tudo. pode se orgulhar.Quando falam sobre a orquestra Filarmônica estão falando de você.receba cada aplauso. Você é a orquestra.A Filarmônica é toda sua.

A família dos metais é composta por trompas, trompete, trompete piccolo, trombone alto, trombone tenor, trombone baixo e tuba, além de outros. todos são instrumentos de sopro que produzem as notas e a série harmônica por meio da vibração dos lábios contra o bocal. para produzir as demais notas e séries, eles se utilizam de válvulas, rotores, pistões e vara (trombones). os metais foram incorporados à orquestra já no período barroco, e o surgimento das válvulas e pistões ampliou a participação desses instrumentos no conjunto, por lhes permitir mais possibilidades sonoras. na Filarmônica de Minas Gerais, as trompas ficam logo atrás da família das madeiras. normalmente, os demais membros desta família estão no fundo da orquestra, à direita do maestro. A sua Filarmônica conta com seis trompas, três trompetes, três trombones e uma tuba.

novembro 2012

Rafael Rocha revista Veja BH_out 2012

Page 2: Temporada 2012 | Novembro

“O GRUPO, CONSIDERADO POR MUITOS CRÍTICOS O ACONTECIMENTO SINFÔNICO MAIS IMPORTANTE

OCORRIDO NO BRASIL NOS ÚLTIMOS TEMPOS, JÁ SE TORNOU UM EXEMPLO PAÍS AFORA.”

www.fi larmonica.art.br

R. Paraíba, 330 | 120 andar | FuncionáriosCEP 30130-917 | Belo Horizonte | MG Tel. 31 3219 9000 | Fax 31 3219 9030 contato@fi larmonica.art.br

REALIZAÇÃO

estão falando sobre você.sobre você que é o motivo da orquestra Filarmônica existir.sobre você que é exigente com o que ouve.sobre você que às terças e quintas espera se surpreender.estão falando sobre você.Você que colabora para que a Filarmônica seja uma das melhores orquestras do país.Você que faz diferença a cada concerto.Você é a razão disso tudo. pode se orgulhar.Quando falam sobre a orquestra Filarmônica estão falando de você.receba cada aplauso. Você é a orquestra.A Filarmônica é toda sua.

A família dos metais é composta por trompas, trompete, trompete piccolo, trombone alto, trombone tenor, trombone baixo e tuba, além de outros. todos são instrumentos de sopro que produzem as notas e a série harmônica por meio da vibração dos lábios contra o bocal. para produzir as demais notas e séries, eles se utilizam de válvulas, rotores, pistões e vara (trombones). os metais foram incorporados à orquestra já no período barroco, e o surgimento das válvulas e pistões ampliou a participação desses instrumentos no conjunto, por lhes permitir mais possibilidades sonoras. na Filarmônica de Minas Gerais, as trompas ficam logo atrás da família das madeiras. normalmente, os demais membros desta família estão no fundo da orquestra, à direita do maestro. A sua Filarmônica conta com seis trompas, três trompetes, três trombones e uma tuba.

novembro 2012

Rafael Rocha revista Veja BH_out 2012

foto

| A

dria

no B

asto

s

A Filarmônica é toda sua.

Page 3: Temporada 2012 | Novembro

Ministério da Cultura e Governo de Minas apresentam

PÁG. 7

série allegro 8 de novembro

Marcos Arakaki, reGente

Sergio Tiempo, piAno

MIGUEZ prometeuVILLA-LOBOS Bachianas Brasileiras nº 8

RACHMANINOFF Concerto para piano nº 3

PÁG. 21

série vivace 20 de novembro

Fabio Mechetti, reGente

Paulo Szot, BArítono

MAHLER BlumineMAHLER rückert Lieder

WAGNER os Mestres CantoresWAGNER Adeus de Wotan e Música do Fogo Mágico

WAGNER A Cavalgada das Valquírias

PÁG. 33

série allegro 29 de novembro

Carlos Miguel Prieto, reGente ConVidAdo

Daniel Lemos, perCussão

Sérgio Aluotto, perCussão

Werner Silveira, perCussão

REVUELTAS redesMONCAYO Huapango

PECK the glory and the grandeurSHOSTAKOVICH sinfonia nº 6

Page 4: Temporada 2012 | Novembro

2 3

Caros amigos e amigas,

depois de uma extraordinária turnê pela Argentina e uruguai, que marca um importante momento histórico na vida da Filarmônica, nossa orquestra volta a se apresentar nos palcos de Belo Horizonte e traz a vocês concertos de alta qualidade.

nas nossas séries principais recebemos primeiramente a visita do talentosíssimo pianista venezuelano sergio tiempo. ele executará um dos concertos mais vibrantes do repertório pianístico, o desafiador Concerto nº 3 de rachmaninoff. em seguida, damos as boas-vindas ao grande nome do cenário lírico brasileiro atual, o barítono paulo szot, que vem se consagrando internacionalmente com apresentações no Metropolitan opera de nova York e realiza sua única apresentação no Brasil nesta temporada aqui em Belo Horizonte. szot interpreta as belíssimas e profundas canções de Mahler baseadas em obras do poeta rückert, assim como a cena final da ópera A Valquíria de richard Wagner, dando início às celebrações do bicentenário do grande compositor alemão. o mês se encerra com a presença do regente convidado Carlos Miguel prieto, que dividirá o palco com músicos do nosso excelente naipe de percussão executando uma vigorosa obra do norte-americano russell peck.

Além desses concertos de assinatura, a Filarmônica irá participar do Festival Villa-Lobos, no theatro Municipal do rio de Janeiro, onde interpretará várias obras do célebre compositor brasileiro.

encerramos ainda neste mês nossos Concertos para a Juventude, realizados no sesc palladium, série esta que vem formando novas plateias e levando a riqueza da música sinfônica a um número cada vez maior de amigos da Filarmônica.

Aproveito a oportunidade para agradecer a todos que renovaram suas assinaturas para 2013 e também convido aqueles que desejam se associar a esse relevante projeto cultural a avaliar nossa temporada para o próximo ano. será um prazer vê-los em seus lugares preferidos em todos os concertos.

obrigado e bom concerto,

F A B i o M e C H e t t i diretor Artístico e regente titularorquestra Filarmônica de Minas Gerais

foto

| r

afae

l Mot

ta

Page 5: Temporada 2012 | Novembro

natural de são paulo, Fabio Mechetti é diretor Artístico e regente titular da orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. por esse trabalho, recebeu o Xii prêmio Carlos Gomes/2009 na categoria Melhor regente brasileiro. É também regente titular e diretor Artístico da orquestra sinfônica de Jacksonville (euA) desde 1999. Foi regente titular da orquestra sinfônica de syracuse e da orquestra sinfônica de spokane, da qual é, agora, regente emérito.

Foi regente associado de Mstislav rostropovich na orquestra sinfônica nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. da orquestra sinfônica de san diego foi regente residente.

Fez sua estreia no Carnegie Hall de nova York conduzindo a orquestra sinfônica de nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de seattle, Buffalo, utah, rochester, phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos estados unidos, entre eles os de Grant park em Chicago e Chautauqua em nova York.

realizou diversos concertos no México, espanha e Venezuela. no Japão dirigiu as orquestras sinfônicas de tóquio, sapporo e Hiroshima. regeu também a orquestra sinfônica da BBC da escócia, a Filarmônica de Auckland, nova Zelândia, e a orquestra sinfônica de Quebec, Canadá.

Vencedor do Concurso internacional de regência nicolai Malko, na dinamarca, Mechetti dirige regularmente na escandinávia, particularmente a orquestra da rádio dinamarquesa e a de Helsingborg, suécia. recentemente fez sua estreia na Finlândia dirigindo a Filarmônica de tampere.

no Brasil foi convidado a dirigir a sinfônica Brasileira, a estadual de são paulo, as orquestras de porto Alegre e Brasília e as municipais de são paulo e do rio de Janeiro.

trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, thomas Hampson, Frederica von stade, Arnaldo Cohen, nelson Freire, emanuel Ax, Gil shaham, Midori, evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros.

igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos estados unidos dirigindo a Ópera de Washington. no seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e As Alegres Comadres de Windsor.

Fabio Mechetti recebeu títulos de Mestrado em regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard school de nova York.

5

FABIO

Mechetti

diretor ArtístiCo e reGente tituLArorQuestrA FiLArMôniCA de MinAs GerAis

foto

| r

afae

l Mot

ta

Page 6: Temporada 2012 | Novembro

7

Marcos Arakaki

Sergio Tiempo

Leopoldo MIGUEZPrometeu

Heitor VILLA-LOBOSBachianas Brasileiras nº 8prelúdioÁria (Modinha)tocata (Catira batida)Fuga

INTERVALO

Sergei RACHMANINOFFConcerto para piano nº 3 em ré menorAllegro ma non tantointermezzo: AdagioFinale (Alla breve)

Sergio TiemposoListA

PROGRAMA

reGente

piAno

20h30

8 noveMbro

Grande teatro do palácio das Artes

sérIe allegro

foto

| ra

fael

Mot

ta

ilus

traç

ões c

ompo

sito

res |

Mar

iana

sim

ões

Page 7: Temporada 2012 | Novembro

9

Marcos Arakaki já esteve à frente de importantes orquestras no Brasil e no exterior, dentre elas as sinfônicas dos estados de são paulo, Minas Gerais, paraná, rio Grande do norte e paraíba, a petrobras sinfônica, as sinfônicas de Campinas, recife, da usp e da unicamp, a orquestra de Câmara da osesp e a experimental de repertório.

Conduziu ainda as filarmônicas de Boshulav Martinu na república tcheca, Kharkov na ucrânia, de Bue-nos Aires, da universidade nacional do México e também a orquestra da Academia Americana de regência, em Aspen.

em 2001, Marcos Arakaki venceu o i Concurso nacional eleazar de Car-valho para Jovens regentes, promo-vido pela orquestra petrobras sin-fônica e, oito anos depois, o i prêmio Camargo Guarnieri, promovido pelo Festival internacional de Campos do Jordão.

entre 2000 e 2002, Marcos Arakaki foi o principal regente convidado da Camerata Fukuda e regente assis-tente da orquestra sinfônica de santo André. em 2005, foi o principal regente da orquestra sinfônica de ribeirão preto. entre 2007 e 2010, trabalhou como regente titular da orquestra sinfônica da paraíba e

regente assistente da orquestra sinfônica Brasileira.

Como regente titular, o maestro promoveu a reestruturação da orquestra sinfônica Brasileira Jovem entre os anos 2008 e 2010, obtendo grande reconhecimento da crítica especializada e do público na cidade do rio de Janeiro.

Formado pela unesp em 1998, concluiu mestrado em regência orquestral pela universidade de Massachusetts em 2004, com apoio da Fundação Vitae. À frente da or-questra sinfônica Brasileira, gravou em 2010 a trilha sonora para o filme Nosso Lar, composta por philip Glass.

Marcos Arakaki atua como regente assistente da Filarmônica de Minas Gerais desde o começo da tempora-da 2011, tendo conduzido a orques-tra em concertos nas cidades de Be-tim, Brumadinho, tiradentes, ouro preto, Mariana, são João del-rei, Juiz de Fora, Governador Valadares, ipa-tinga, teófilo otoni, Montes Claros, pouso Alegre, santa rita do sapu-caí, Varginha, itabira, uberlândia e diamantina, além das séries Vivace, Concertos didáticos, Concertos para a Juventude e Clássicos no parque.

mArcOs

arakaki

sérIe allegro 8 nOvemBrO

foto

| M

igue

l Aun

Como regente titular, o maestro promoveu a reestruturação da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem entre 2008 e 2010, obtendo grande reconhecimento da crítica especializada e do público na cidade do Rio de Janeiro.

Page 8: Temporada 2012 | Novembro

11

Anunciado por críticos e músicos como um dos talentos extraordinários de sua geração, o pianista argentino-venezue-lano sergio tiempo tornou-se destaque internacional desde sua estreia aos 14 anos no Concertgebouw de Amsterdã.

Apresentou-se em importantes salas pelo mundo, entre elas Kennedy Cen-ter, davis symphony Hall e embaixador Hall, nos euA; philharmonie de Berlim, palais des Beaux Arts, salle pleyel, Con-servatório Verdi, Accademy de Liszt e Hall de tchaikovsky, na europa; suntory Hall, orchard Hall e Bunka Kaikan, no Japão; teatro Colón e outras salas da América do sul.

sergio tiempo tocou, entre outras, com as sinfônicas de Chicago e de Houston com o maestro Christoph eschenbach, orquestra de Cleveland com Leonard slatkin, sinfônica do novo Mundo com Michael tilson thomas, Montreal symphony orchestra com Charles dutoit, rotterdam philharmonic com Vassily sinaisky, com a solistas de Moscou e Vladimir spivakov, sinfônica de dallas com Hans Vonk, Filarmônica de Los Angeles com emmanuel Krivine, stavanger symphony orchestra com Alexander dmitriev.

entre outros festivais, participou do Verbier, onde se apresentou com Martha Argerich, Mischa Maisky, Barbara Hendricks e sua irmã, pianista Karin Lechner; Festival de toulouse, dividindo o ciclo de Beethoven com

Alicia de Larrocha e Maria João pires; La roque d’Anteron, Colmar e Montpellier, bem como Martha Argerich e Amigos (Munique) e Arturo Benedetti Miche-langelo. Anualmente apresenta-se no proggetto Martha Argerich de Lugano. tiempo também tem intensa atividade na música de câmara.

sua gravação ao vivo do recital em Con-certgebouw ganhou aclamação mun-dial (JVC Victor). Gravou Beethoven, schumann e Chopin. seu registro mais recente é um Cd completo de Men-delssohn com o violoncelista Mischa Maisky para a deutsche Grammophon.

nascido na Venezuela em 1972, sergio tiempo começou seus estudos de piano com a mãe aos dois anos. Fez a primeira aparição pública aos três; aos sete anos deu recitais em Londres e na França. também recebeu lições de tessa nicholson, Maria Curcio, pierre sancan, Michel Beroff, Jacques detiege, Alan Weiss, dimitri Bashkirov, Fou ts’ong, Murray perahia e dietrich Fischer diskau. recebeu orientações musicais de nikita Magaloff, nelson Freire e Martha Argerich, uma de suas maiores apoiadoras.

suas premiações incluem o prêmio Alex de Vries 1986 e quatro primeiros prêmios no Festival de Música de ealing de 1980, onde, aos oito anos, foi homenageado como o participante mais talentoso. em 2000, recebeu o prêmio de davidoff, na Alemanha.

sergIO

tieMpo

sérIe allegro 8 nOvemBrO

foto

| su

ssie

Ahl

burg

Fantástico! Esta é a palavra que salta imediatamente ao espírito quando se escuta um registro tão apaixonado. Não ouvi uma performance dos Quadros de uma Exposição tão pessoal, imaginativa e excitante como esta desde Moisseiewitsch, Horowitz, Richter...Le Monde de La Musique, França

Page 9: Temporada 2012 | Novembro

12 13

Seu poema sinfônico é baseado no mito grego de Prometeu, que, por diversas vezes, foi transposto em sons, pois não raro sua tragicidade inspirou obras de diferentes compositores.

embora nascido no Brasil, Leopoldo Miguez viveu toda a adolescência na europa, onde, posteriormente, se aperfeiçoou em Composição. Foi um apaixonado pelos dramas musicais de Wagner e pelos poemas sinfônicos de Liszt, dos quais se tornou defen-sor convicto e grande difusor no Brasil. seu poema sinfônico Prométhée é baseado no mito grego de pro-meteu, que, por diversas vezes, foi transposto em sons, pois não raro sua tragicidade inspirou obras de diferentes compositores. entre elas figuram a abertura As Criaturas de Prometeu (1801), de Beethoven, e a obscura canção Prometheus (1819), de Franz schubert, sobre o poema homônimo de Goethe; além de obras orquestrais pertencentes ao século XX de Fauré, scriabin, Carl orff e Luigi nono. Mas, certamente foi o Prometheus (1855) de Franz Liszt que inspirou o compositor brasileiro a criar a sua versão. no Prométhée de Miguez percebem-se lampejos da Sinfonia Fausto de Liszt, assim como de características da orques-tração do criador do gênero “poema sinfônico”, obra orquestral escrita geralmente em um só movimento, originada na abertura sinfônica. o poema sinfônico é sempre des-critivo e sua partitura é, por vezes, acompanhada de texto ou programa que tem por objetivo evocar ideias extramusicais na mente do ouvinte.

A ideia do poema sinfônico de Miguez se referencia no mito do rebelde titã prometeu, que, com seu irmão epimeteu, fora encar-regado de criar os animais e o homem. desobediente, prometeu roubou o fogo dos deuses e deu-o aos homens para que pudessem firmar sua superioridade frente aos outros animais. A punição, ou-torgada por seu pai, Zeus – ou Jú-piter –, fora mantê-lo eternamente amarrado a uma rocha enquanto abutres devorariam seu fígado. o compositor anexou à sua obra o seguinte programa: “prometeu vai ser punido por ter-se condoído da ignorância e miséria dos homens. Ante a severidade da pena com-padecem-se os deuses da sorte do titã e imploram a clemência de Júpiter, inflexível, entretanto, às suas súplicas. Acorrentado ao rochedo, ouvindo as mágoas dolo-ridas das oceanides e o esvoaçar dos abutres que adejam sobre a sua cabeça, prometeu conserva-se altivo e sobranceiro às dores que o afligem, sufoca as amarguras do presente e prenuncia a sua glória futura. e quando, repelindo os conselhos e as ameaças do men-sageiro de Júpiter, é arrebatado na voragem, sobreleva ao fragor do cataclisma o lamento dos deuses que o deploram”.

Prometeu, Poema Sinfônico nº 3, op. 21

Miguez estruturou seu poema sin-fônico em três partes: na primeira, são apresentados os dois temas do prometeu acorrentado: o tema da introdução, triste, porém nobre, é seguido pelo segundo tema, mais agitado, de melodias insistentemen-te repetidas, sugerindo a indignação do herói. na segunda parte, arpe-jos de flauta introduzem o tema lamentoso das oceanides dado pelas cordas e logo cortado pelo tema dos vorazes abutres, musicalmente representados por trinados agudos e forte percussão. na terceira parte, os temas já apresentados desfilam num hábil desenvolvimento: o segundo tema de prometeu e os temas das oceanides e dos abutres. A tensão da agitada batalha temática é arre-fecida no grande finale: o primeiro tema de prometeu, que fora exposto melancolicamente na introdução, reaparece como um hino de reden-ção, solene e grandioso, para encer-rar a obra.

Marcelo Corrêapianista, Mestre em piano pela universidade Federal de Minas Gerais e professor na universidade do estado de Minas Gerais.

BrAsiL, 1850 – 1902

leOpOldO

Miguez

Para ouvirCd L. Miguez – prométhée, poema sinfônico nº 3 – orquestra sinfônica do teatro nacional Claudio santoro – Henrique Morelenbaum, regente – Gravação ao vivo – Arquivo de áudio: site Brazilian Concert Music – 2010

Para LErVasco Mariz – História da Música no Brasil – nova Fronteira – 2000

Ano de CoMposição_ 189516 min

sérIe allegro 8 nOvemBrO

Page 10: Temporada 2012 | Novembro

14 15

Cada uma das nove Bachianas destina-se a um conjunto instrumental diferente. A Bachiana nº 8 requer grande orquestra e um papel importante é confiado à percussão.

na vasta obra de Villa-Lobos, as séries dos Choros e das Bachianas Brasileiras se destacam pela mere-cida popularidade. esteticamente, sinalizam caminhos diversos para o nacionalismo do compositor. os Choros, compostos na década de 1920, demonstram sua preocupação com a Modernidade, enquanto as Bachianas, compostas entre 1930 e 1945, referenciam, na figura de Bach, a tradição da música ocidental. o contato de Villa-Lobos com o cânone musical europeu começou cedo – seu primeiro professor de música foi o pai, homem de grande cultura, que incentivou o filho de seis anos a tocar violoncelo, clarinete, piano, além de levá-lo a ensaios de orques-tra, concertos sinfônicos e óperas. Ainda no ambiente familiar, tia Zizinha, pianista amadora, teve grande influência na formação mu-sical do menino. Villa-Lobos gostava de ouvi-la tocar obras de Bach, prin-cipalmente O Cravo bem Temperado.

Mas o rio de Janeiro era a capital dos “chorões” e, após a morte pre-matura do pai, Villa-Lobos, a partir dos dez anos, livre da censura pater-na, deixou-se fascinar pelo popular violão (instrumento associado à boe-mia, proibido nas salas de concerto). tornou-se amigo do seresteiro Zé do Cavaquinho, hábil instrumen-tista, figura altamente conceituada

entre os “chorões”. (A amizade com o “capadócio” foi duradoura: anos mais tarde, Zé do Cavaquinho seria funcionário do Conservatório de Canto orfeônico, organizado e dirigi-do pelo compositor).

na década de 1910, Villa-Lobos reuniu muito material folclórico. engajado em uma orquestra mambembe de operetas, viajou pelas capitais litorâneas até o recife. depois, na companhia do amigo donizetti (pia-nista, saxofonista e grande boêmio), empreendeu, de Fortaleza a Manaus, uma fascinante aventura musical, à procura das vozes da natureza e dos habitantes da região. orgulhoso desse aprendizado, o compositor gostava de afirmar que seu principal Livro de Harmonia fora o mapa do Brasil. Contudo, em sua obra dessa fase, são perceptíveis, também, for-tes influências de modelos europeus como Wagner, puccini, Vincent d’indy e debussy.

em 1923, Villa-Lobos dava novo passo importante em sua carreira, trocando o rio de Janeiro por paris, a metrópole das vanguardas artísti-cas. na voga de “exotismo selvagem” que dominava a capital francesa, os traços de primitivismo e energia telúrica presentes em sua música foram comparados às então recen-tes ousadias de stravinsky e outros

Bachianas Brasileiras nº 8

ícones da modernidade. Chamado por Florent schmitt de néo-sauvage, Villa-Lobos aceitou o epíteto com prazer e deixou circular inverossímeis estórias sobre sua convivência junto a tribos indígenas, em perigosíssi-mas viagens pelas selvas brasileiras. Assumindo o papel de “compositor dos trópicos”, Villa-Lobos normati-zou sua estética nacionalista, sob a premissa de que a verdadeira música brasileira formara-se nos ambientes populares – indígenas, folclóricos, rurais ou urbanos. por outro lado, soube avaliar o potencial dessa música como contribuição singular para o panorama musical internacional, associando-a aos pro-cedimentos composicionais eruditos característicos do século XX.

de volta ao Brasil, em 1930, Heitor Villa-Lobos exerceu uma atividade abrangente no cenário musical do país, desdobrando-se em múltiplas tarefas – estímulo ao ensino musi-cal, criação de grupos de canto coral, organização e regência de concertos. e continuava compondo muito. As nove Bachianas Brasileiras foram es-critas entre as vicissitudes das duas grandes guerras, época da ascensão política dos estados totalitários. nas artes, houve grandes desvios nos rumos das vanguardas do início do século, que agora substituíam a irreverência, as inovações e as ousa-

Para ouvirHeitor Villa-Lobos – Bachianas Brasileiras – orchestre national de la radiodiffusion Française – Heitor Villa-Lobos, regente – eMi-odeon – série Angel – Brasil – 1967

Para LErBruno Kiefer – Villa-Lobos e o Modernismo na Música Brasileira – editora Movimento – 1986

BrAsiL, 1887 – 1959

heItOr

villa-lobos

Ano de CoMposição_ 194425 min

sérIe allegro 8 nOvemBrO

Page 11: Temporada 2012 | Novembro

16 17

dias das décadas anteriores por uma tendência à institucionalização. esse retorno à ordem corresponde à “fase neoclássica” de artistas cuja fama inicial associara-se a escândalos iconoclastas. no neoclassicismo de suas Bachianas, Villa-Lobos procura afinidades entre alguns procedimen-tos musicais brasileiros e a música do grande gênio alemão. Assim, os movimentos das Bachianas trazem, geralmente, dois títulos: um que remete às formas barrocas e outro, bem nacional, seresteiro, sertanejo.

Cada uma das nove Bachianas destina-se a um conjunto instru-mental diferente. A Bachiana nº 8 requer grande orquestra e um papel importante é confiado à percussão. divide-se em quatro movimentos. o prelúdio possui um prolongado tema que contrasta com ritmos regionais brasileiros. A Ária, com seu subtítulo “Modinha”, é uma canção senti-mental impregnada de melancolia, com expressivo tema no violoncelo

e acompanhamento das demais cordas. A segunda parte da ária traz novo motivo, na forma de um “do-brado”, adaptação brasileira do paso--doble, marcha de origem espanhola. o espírito da modinha retorna com outro tema, vago e profundamente lírico. A Toccata assume o ritmo da “Catira batida”, dança ligeira que se assemelha à giga europeia. A segunda metade apresenta uma melodia cantabile, mas o caráter de toccata persiste no acompanha-mento pizzicato dos violoncelos. A Fuga, caracterizada por ritmo bem nacional, poderia trazer o subtítulo brasileiro “Conversa”, como as fugas de outras Bachianas. o próprio Villa--Lobos regeu a estreia dessa peça, a 6 de agosto de 1947, em roma.

Paulo Sérgio Malheiros dos Santospianista, doutor em Letras pela puC Minas, professor na universidade do estado de Minas Gerais, autor do livro Músico, doce músico.

foto

| A

ndré

Fos

sati

Page 12: Temporada 2012 | Novembro

18 19

[...] este concerto é uma possibilidade permitida somente aos grandes pianistas que aprenderam a manejar o instrumento com absoluta economia e destreza.

eclético e imaginativo, rachmaninoff herdou o lirismo russo de tchaikovsky, a proficiência pianística de Liszt e a liberdade emotiva e anticerebral de Grieg. esta última ligada à doutrina do belo e à utilização dos elementos nacionais bem diferentemente de seus contemporâneos russos. Aos vinte e quatro anos, já era muito conhecido por toda a rússia como compositor, regente e pianista. Conhecera, então, uma execução desastrosa de sua primeira sinfonia, sob a direção de Glazunov, aparente-mente bêbado, seguida do fracasso de seu Concerto para Piano nº 1. Atingido por um desespero psicóti-co, desistira de compor temporaria-mente, permanecendo em profunda depressão. somente depois de pro-longado tratamento de hipnose com o dr. nicolai dahl, rachmaninoff pôs--se outra vez a compor. seu Concerto para Piano nº 2, executado em 1901, devolveu-lhe todo o êxito e popula-ridade merecidos. em 1909, compôs o Concerto para Piano nº 3, especial-mente para sua primeira turnê nos estados unidos, país no qual veio a se estabelecer a partir de 1918. saído da tranquilidade de uma confortável datcha nos arredores de Moscou, na qual escrevera a obra, rachmaninoff teve somente nove dias para ensaiar a dificílima parte solista num teclado mudo durante a travessia do Atlân-tico, de navio. A obra foi estreada

Concerto para Piano e Orquestra nº 3 em ré menor, op. 30

Para ouvirCd Great pianists – rachmaninov – piano Concertos nos. 2 e 3 (original rCA Victor) – the philadelphia orchestra – eugene ormandy, regente – rachmaninov, piano – naxos – 1999

Para LErAttila Csampai e dietmar Holland – Guia Básico dos Concertos – Civilização Brasileira – 1995

Ano de CoMposição_ 190946 min

rússiA, 1873 – estAdos unidos, 1943

sergeI

rachManinoff

sérIe allegro 8 nOvemBrO

em 1909 pela orquestra sinfônica de nova York regida por damrosch e reapresentada em 1910 pela Filar-mônica de nova York sob a regência de Gustav Mahler. o compositor foi o solista nas duas ocasiões e, após trinta anos, gravou a obra com a or-questra da Filadélfia sob a batuta de eugene ormandy. Com andamento mais acelerado, alguns cortes e uma cadenza mais curta e scherzante para o primeiro movimento, o compositor, em sua gravação, tentou destituir sua composição dos rótulos de obra cavalar ou “concerto elefante”, se-gundo Arthur rubinstein, referindo--se à grande extensão e às enormes dificuldades técnicas do concerto. Comparado a escalar o Himalaia, este concerto é uma possibilidade permitida somente aos grandes pianistas que aprenderam a ma-nejar o instrumento com absoluta economia e destreza. Caso contrário, o solista seria engolido por densos acordes e incontáveis arpejos até um esgotamento físico e mental, como exposto no filme Shine, no qual o pia-nista david Helfgott desmaia após digladiar-se com a obra. o filme, ganhador de oscar, contribuiu ainda mais para a fama de concerto inatin-gível e humanamente desgastante. Acredita-se que rachmaninoff toca-va grandes acordes com facilidade por possuir a síndrome de Marfan, doença dos “dedos de aranha”, visto

que sua extensão de mão alcançava trinta centímetros. Curiosamente, seu Concerto nº 3 fora dedicado ao pianista Josef Hofmann, de estatura mediana e mãos pequenas. Musical-mente, o Concerto nº 3 demostra que seu estilo se tornara cada vez mais arrojado e livre no uso dos recursos musicais, mas que o caráter emotivo e nostálgico se mantivera invariável. rachmaninoff, em seus quatro con-certos para piano, se esforçara para atingir uma severa unidade em seus temas, que nos prendem pela inten-sidade expressiva, e para combinar antigas tradições e novos ideais em seu pianismo exuberante, autêntico e de bom gosto.

Marcelo Corrêapianista, Mestre em piano pela universidade Federal de Minas Gerais e professor na universidade do estado de Minas Gerais.

Page 13: Temporada 2012 | Novembro

20 21

Fabio MechettiPaulo Szot

Gustav MAHLERBlumine

Gustav MAHLERRückert Lieder (sobre textos de Friedrich Rückert)1. Blicke mir nicht in die Lieder! (não

me contempla nas canções!)2. ich atmet’einen linden duft (respirei

um suave aroma)3. um Mitternacht (À meia-noite)4. Liebst du um schönheit (Ama pela

beleza) 5. ich bin der Welt abhanden

gekommen (estou separado do mundo)

Paulo SzotsoListA

INTERVALO

Richard WAGNEROs Mestres Cantores - Ato IIIintroduçãodança dos Aprendizesprocissão

Richard WAGNERAdeus de Wotan e Música do Fogo Mágico

Paulo SzotsoListA

Richard WAGNERA Cavalgada das Valquírias

PROGRAMA

reGente

BArítono

20h30

20 noveMbro

Grande teatro do palácio das Artes

sérIe vivace

foto

| An

dré

Foss

ati

Page 14: Temporada 2012 | Novembro

22 23

paulo szot é natural de são paulo e iniciou seus estudos musicais com quatro anos no piano e, em seguida, no violino. estudou na universidade Jaggiellonski, em Cracóvia, polônia, onde começou sua carreira profis-sional como cantor lírico em 1990.

no Brasil, estreou como Figaro de O Barbeiro de Sevilha em 1997, em são paulo; em Belo Horizonte, estreou no palácio das Artes em 2003 no mesmo papel. sua estreia internacional foi em nova York como escamillo de Carmen no new York City opera. desde então apresenta--se em diversos teatros de ópera e salas de concerto do mundo.

em 2010 debutou no palco do Me-tropolitan Ópera House no papel protagonista de O Nariz de shostakovich, com regência de Valery Gergiev. também com Metropolitan Ópera cantou escamillo em 2011 e nas pró-ximas temporadas do Met cantará Lescault em Manon, Falke em O Morcego, retornará com O Nariz e, também na Ópera, A Dog’s Heart de M. Bulgakov. A produção de Manon de Massenet será transmitida ao vivo nos cinemas do Brasil em Hd pela produtora MovieMobz, em 2012.

na europa, estreou em 2004 na Ópera de Marselha no papel título de Eugene Onegin. em seguida cantou

em Bordeaux, nice, Barcelona, spoletto e toulon; debutou na Ópera Garnier de paris em 2011 em Cosi Fan Tutte.

Cantou com a Filarmônica de nova York no Avery Fischer Hall. no Carnegie Hall apresentou-se com a new York pops em 2010 e com deborah Voigt em 2011.

recentes e futuras apresentações incluem Carmen em tokyo e em são Francisco; Manon, O Morcego, O Nariz e A Dog’s Heart no Metropolitan Ópera; Le Nozze di Figaro no Festival de Aix-en-provence e também em dijon e peralada; estreia em 2013 no La scala de Milão de A Dog’s Heart, entre outras.

paulo szot é vencedor de inúmeros prêmios decorrentes da excelência e versatilidade de suas performances. destacam-se o drama desk, outer Critics e o tony Award de melhor ator em musical de 2008 por sua interpretação de emile de Becque no musical South Pacific, na Broadway, onde ficou em cartaz por dois anos e meio. Ainda como emile de Becque estreou no Barbican de Londres e em oxford em 2011.

pAulO

szot

sérIe vivace 20 nOvemBrO

foto

| d

ivul

gaçã

o

Aplaudem-no de pé. Presenteiam-no com ovações em cena aberta. Dão-lhe todos os prêmios. Fora o Tony, Szot arrematou o Drama Desk, como o melhor ator de musical, e os prêmios da crítica, o Outer Critics, e da indústria teatral, o Broadway League.Revista veja, BRasil

Page 15: Temporada 2012 | Novembro

24 25

Nos Lieder, a orquestra também canta, dialoga com o poema; não acompanha apenas, como mera espectadora, mas participa do argumento literário. [...] A inclusão de Blumine no programa desta noite dá ênfase ao canto que Mahler entrega à orquestra.

Gustav Mahler, como compositor de Lieder, inscreve-se na tradição romântica austro-germânica, no universo poético descortinado a partir das canções de schubert e de schumann. Como seus antecessores, mergulha, com sua música, nos sen-tidos do texto e subverte as carac-terísticas particulares dos domínios envolvidos: a linguagem musical parece dotada de conteúdo semânti-co e a obra revela a musicalidade da palavra. nos Lieder com orquestra, essas características se evidenciam, de modo particular, através da paleta mahleriana, rica em matizes, contrastes, de uma inventividade que põe à prova a percepção do ouvinte. nos Lieder, a orquestra também canta, dialoga com o poe-ma; não acompanha apenas, como mera espectadora, mas participa do argumento literário. nos Rückert Lieder, esse diálogo chega mesmo a se apresentar com um tratamento orquestral específico para cada peça. isso se dá, sobretudo porque essas cinco canções não constituem um ci-clo, como os Kindertotenlieder ou os Lieder eines fahrenden Gesellen, que propõem temáticas que lhes dão um sentido de unidade.

Blicke mir nicht in die Lieder é orquestrada para apenas alguns instrumentos de sopro – flauta, oboé, clarinete, fagote e trompa –,

Blumine

Rückert Lieder

Para ouvirCd Blumine – sydney symphony – Vladimir Ashkenazy, regente – 2010Cd Mahler – rückert Lieder – orquestra Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein, regente – thomas Hampson, barítono – philips – 2007

Para LErMichael Kennedy – Mahler – Jorge Zahar editor – 1988

Ano de CoMposição_ 18887 min

Ano de CoMposição_ 1901/190221 min

ÁustriA, 1860 – 1911

gustAv

Mahler

sérIe vivace 20 nOvemBrO

harpa e um naipe de cordas sem os contrabaixos. o texto adverte o leitor quanto à curiosidade acerca do ato criador: diante de um olhar incisi-vo, o poeta baixa os olhos, como se cometesse uma má ação. Rückert, ao falar da atividade das abelhas, faz uma metáfora acerca da criação, de seus misteriosos processos que, con-duzidos pelo artista, por um impulso interior, quase como uma necessi-dade inata, consubstanciam-se na obra acabada. Mahler estrutura o Lied, tomando como fio condutor um ostinato em colcheias, entregue ao clarinete, ao fagote, aos segundos violinos, violas e violoncelos. esse perpetuum mobile confere à obra, de início, certa inquietude e uma ex-pressão de fugacidade, coroadas, ao final, por um gesto melódico ascen-dente – uma interrogação de sopros e cordas conduzida pela harpa.

em Ich atmet’ einen linden Duft, en-tregue a violinos, com breves incur-sões pelas violas, o ostinato agora é todo suavidade. A árvore é a mesma tília que reconforta o caminhante nos Lieder eines fahrenden Gesellen, do próprio Mahler, ou na Winterreise de schubert. A linha do canto, a evo-car uma melodia schubertiana – ao contrário de algumas passagens do Lied anterior –, dialoga com o oboé e com a flauta e é secundada por uma orquestração que vai ao encontro

da delicadeza do texto. os mesmos sopros, as cordas reduzidas a violinos e violas, a harpa e, agora, a celesta, conferem ao todo leveza e brilho discreto – “perfume de ramo de tília, presente de alguém amado.”

“Viver só, em meu céu, em meu amor, em meu canto”. As palavras finais – Himmel, Lieben, Lied – ecoam, lenta-mente, na frase em arco que conclui Ich bin der Welt abhanden gekommen. nesse Lied não é apenas do tumulto do mundo que se refugia o poeta, em seu retiro ideal. refugia-se também do destino humano, nessa obra que parece suspender a marcha inexorável do tempo. desde a extensa introdução, pode-se estabelecer um paralelo com a melodia e com a atitude contempla-tiva do Adagietto da Quinta sinfonia (1901/1902), contemporânea dos Rückert Lieder. A orquestração inclui sopros, agora sem a flauta – oboé, corne-inglês, dois clarinetes, dois fa-gotes e duas trompas –, harpa e cor-das. destacam-se os solos de corne--inglês, esse timbre nostálgico, como observou Berlioz em seu Tratado de Orquestração, caro aos românticos (Wagner, no prelúdio do terceiro ato de Tristão e Isolda, e Berlioz, na Cena no campo, da Sinfonia Fantástica), cujo canto articula as três seções da canção e que, ao final, após recordar, secundado pelas cordas, a atmosfera do Adagietto, expira, serenamente.

Page 16: Temporada 2012 | Novembro

26 27

A escolha do texto para o canto de amor de Liebst du um Schönheit, dedicado a Alma Mahler, retrata a hesitação do compositor em tomar como esposa a jovem, cerca de vinte anos mais jovem que ele. o Lied evolui, ao longo das quatro estro-fes do poema, com a voz buscando, gradativamente, através de frases ascendentes, pontos culminantes melódicos, que fazem lembrar o Träumerei, de schumann. em dois desses pontos, o tempo parece ficar suspenso – Frühling, ao final da segunda estrofe, e immer, ao final da quarta. À exceção da presença de dois oboés e de quatro trompas, a orquestra é a mesma de Ich bin der Welt abhanden gekommen. Ao final da canção, a linha melódica do canto é continuada pelos sopros; a voz se cala, como no Dichterliebe de schumann, e a orquestra fala.

o mergulho na solidão e na noite dá a tônica de Um Mitternacht. A soleni-dade desse momento de encontro consigo mesmo tem correspondentes timbrísticos marcantes. pela primei-ra vez, as cordas estão ausentes; a orquestra requer duas flautas, um oboé d’amore, dois clarinetes, dois fagotes, um contrafagote, entre as madeiras; quatro trompas, dois trompetes, três trombones e uma tuba, entre os metais; além de tímpanos, harpa e piano. um motivo breve, nos clarinetes, associado ao Mitternacht, também breve, do canto, marca o início de cada uma das cinco seções. A imersão do poeta, desesperançado, na noite da dor humana e de seu próprio sofrimen-to, parece ter correspondência nas melodias graves, descendentes, de trompas, tuba, fagote e contrafagote. só a confiança nas mãos podero-sas do “senhor da vida e da morte” fazem triunfar sobre a condição humana. A conclusão brilhante do Lied, com uma sonoridade organísti-

ca, comenta, solenemente, a entrega e a transfiguração.

A inclusão de Blumine no programa desta noite dá ênfase ao canto que Mahler entrega à orquestra. esse movimento sinfônico, incluído como segundo movimento da primeira sinfonia, foi retirado desta, quando de sua publicação, em 1899. Ganhou vida própria, levando sua mensagem delicada, que se inicia com uma me-lodia singela, entregue a um solo de trompete que, após algumas inter-venções, superpostas, das madeiras e das trompas, é concluída pelas cor-das. ecos da melodia, no trompete, fecham a primeira seção da obra. A seção central, em tonalidade menor, dá voz sobretudo às madeiras. A melodia principal da primeira seção, modificada, insinua-se nas trom-pas, passa por diversos timbres nas madeiras e é retomada pelo trompe-te solista para a conclusão da obra. A forma é simples, ternária, mas escapa de uma simples repetição, na seção conclusiva. Leveza, rarefação, lembram em Blumine o perfume da tília: um presente, despretensioso, com a sinceridade de uma Canção sem palavras.

Oiliam LannaCompositor e regente, professor da escola de Música da universidade Federal de Minas Gerais.

foto

| e

ugên

io s

ávio

Page 17: Temporada 2012 | Novembro

28 29

Richard Wagner e sua música se tornaram conhecidos, em tempos mais recentes, principalmente pelos trechos sinfônicos de suas óperas.

ironicamente, a despeito de seu ideal de uma arte sintética, que unisse, em uma única manifestação, música, dra-ma e palavra, richard Wagner e sua música se tornaram conhecidos, em tempos mais recentes, principalmente pelos trechos sinfônicos de suas ópe-ras. no entanto, esses excertos pre-servam tamanha coesão interna, que, ainda que isolados, não se desvirtuam esteticamente das proposições esté-ticas e linguísticas, por assim dizer, lançadas por Wagner. Com isso, foram beneficiados o repertório sinfônico e o público em geral: a este, nem sem-pre disposto a ouvir integralmente obras tão extensas e complexas como Parsifal ou Tristão e Isolda, foi dada a oportunidade de travar contato com um aspecto importante da linguagem da fase final do romantismo. Àquele foi dada justamente a oportunidade de incluir nos concertos esse mesmo repertório, levando-o para além dos espaços um tanto restritos e “sacra-lizados” da ópera wagneriana, cujo maior exemplo são os espetáculos do Festival de Bayreuth. Assim integrados ao repertório sinfônico, caíram no gos-to do público trechos como a Abertura de Tanhäuser, o prelúdio de Tristão e Isolda (frequentemente sucedido, nos concertos sinfônicos, pela “Morte de isolda”, ária final da ópera), a abertura de Os Mestres Cantores de Nuremberg e a Cavalgada das Valquírias.

Os Mestres Cantores

A Valquíria

Para ouvirCd richard Wagner – orchestral Music from der ring des nibelungen, die Meistersingen, tristan und isolde – orquestra de Cleveland – George szell, regente – sony Classics – 1992

Para LErrichard Wagner – opera and drama – tradução inglesa (do original alemão) de William Ashton ellis – dodo press – 2008

Ano de CoMposição_ 1862/186714 min

Ano de CoMposição_ 1854/185620 min

ALeMAnHA, 1813 – itÁLiA, 1883

rIchArd

wagner

sérIe vivace 20 nOvemBrO

À parte a famosa Marcha nupcial (na verdade se trata de um coro nupcial inserido num momento apoteótico de Lohengrin, ópera de 1850), hoje torturada – em cerimônias de casamento do mundo todo – pelas mais bizarras formações instru-mentais, o trecho instrumental das óperas de Wagner mais explorado pela mídia em tempos recentes talvez seja justamente a Cavalgada das Valquírias. essa peça abre o terceiro ato de A Valquíria, segunda ópera de uma tetralogia intitulada O Anel dos Nibelungos, constituída por: O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses.

Composto entre 1848 e 1874, O Anel dos Nibelungos é um marco defini-dor da linguagem wagneriana. Aí Wagner abraça definitivamente as propostas preconizadas em Ópera e Drama, grande ensaio publicado em 1851, em que ele define o que chama de “trabalho artístico do futuro”, no qual música, poesia e artes visuais deveriam se fundir numa única ma-nifestação, a que ele nomeia “drama Musical”. Assim, Wagner toma por base para o enredo do Anel (saga épica cujo libretto ele mesmo escreve) elementos da mitologia nórdica e ger-mânica, cujo centro narrativo trata da luta pela posse de um anel mágico, forjado pelo anão Alberich, feito de ouro do rio reno.

no entanto, mais do que concretizar suas ideias a respeito do “drama Musical”, O Anel dos Nibelungos é, para Wagner, o meio em que ele articula definitivamente aspectos fundamentais de sua linguagem. A técnica do leitmotif é aí ampla e explicitamente empregada, a orques-tração toma novas dimensões (com a criação, inclusive, de novos instru-mentos, como a “trompa wagneria-na”) e o trabalho com o sistema tonal passa a ser de tal forma arrojado, que há quem diga que não se trata mais de tonalidade, mas de regiões tonais. se esse tipo de trabalho, em que se explora a instabilidade do cromatis-mo, já havia sido levado exponencial-mente a termo em Tristão e Isolda (1865), é explorado também nas ópe-ras do Anel, como elemento já filtrado e transformado em fundamento da própria linguagem wagneriana, agora amadurecida.

A Valquíria foi concluída na primave-ra de 1856. nessa segunda ópera do Anel é que se começa efetivamente a desenrolar o enredo da saga. em A Valquíria o drama gira em torno do desentendimento da valquíria Brünhilde com o pai Wotan, chefe dos deuses, quando ela hesita em obedecer a uma ordem do pai. na mitologia wagneriana, as valquírias eram encarregadas de levar as almas dos guerreiros mortos para o Walhalla.

Page 18: Temporada 2012 | Novembro

30 31

Assim, abrindo o terceiro ato da ópera, A Cavalgada das Valquírias é dotada, na acepção wagneriana de drama musical, de certos elementos descritivos que procuram evocar a imagem dessas donzelas guerreiras, no papel que elas cumprem dentro da mitologia do Anel.

também no terceiro ato, encerrando a ópera, estão a tocante ária hoje conhecida como o Adeus de Wotan e outro excerto instrumental, conhe-cido como a Música do Fogo Mágico. nessa cena final, Wotan, compade-cido da sorte de sua filha preferida, transformada em mortal, beija os olhos de Brünhilde e a coloca em um sono mágico. ele ordena que Loge, o semideus nórdico do fogo, acen-da um círculo de chamas que a irá proteger e então, cheio de tristeza, se retira. À parte a beleza da música e da cena, esse trecho é particularmente importante na composição do Anel porque aí é introduzido um leitmotif que mais tarde será identificado com a figura de siegfried.

Os Mestres Cantores de Nuremberg, por sua vez, pertence a outra safra da produção wagneriana. Quase entran-do em contradição com seus próprios preceitos, em Os Mestres Cantores Wagner parece resgatar uma tra-dição da ópera alemã que teve seu caminho aberto pela Flauta Mágica de Mozart e teve a sequência trilha-da pelo Fidelio de Beethoven e, mais tarde, por Der Freischütz de Weber. os elementos musicais e dramáticos estruturadores do Anel somente aparecem nos Mestres Cantores, em sua complexidade quase prolixa, de forma rarefeita. isso lhe confere uma acessibilidade bem maior do que as obras do Anel ou do que o próprio Tristão e Isolda, que data da mesma década. estreada em 1868, Os Mestres Cantores de Nuremberg revela um Wagner menos preocupa-do em “profetizar” e construir com

grandiloquência o futuro, mas mais engajado em posicionar-se a si e à sua linguagem numa tradição de que ele mesmo é herdeiro. talvez por isso Os Mestres Cantores seja uma de suas óperas mais populares e mais interpretadas atualmente, e talvez daí a sua abertura ter se tornado uma das obras de referência do repertório sinfônico universal.

igualmente importantes para o re-pertório sinfônico são certos excertos do terceiro ato: a introdução, a dança dos Aprendizes e a procissão dos Mestres Cantores. Chega a ser des-concertante observar, nesses trechos (como também no todo da ópera), certa “leveza” que, principalmente se comparados a outros monumentos da obra wagneriana, parecem destoar da proposição de drama Musical que o próprio Wagner construiu e advogou. o que deve ser considerado, porém, é que se trata de um Wagner, posto que já maduro, preocupado em sintetizar seu próprio passado musical e sua própria herança cultural, o que não deixa de ser um grande argu-mento para anunciar ou construir o futuro.

Moacyr Laterza Filhopianista e cravista, doutor em Literaturas de Língua portuguesa pela puC Minas, professor na universi-dade do estado de Minas Gerais e na Fundação de educação Artística.

foto

| A

ndré

Fos

sati

Page 19: Temporada 2012 | Novembro

32 33

Carlos Miguel Prieto

Daniel Lemos

Sergio Aluotto

Werner Silveira

Silvestre REVUELTASRedes

José Pablo MONCAYOHuapango

Russell PECKThe glory and the grandeur

Daniel Lemos, Sérgio Aluotto,

Werner SilveirasoListAs

INTERVALO

Dmitri SHOSTAKOVICHSinfonia nº 6 em si menor, op. 54LargoAllegropresto

PROGRAMA

reGente ConVidAdo

perCussão

perCussão

perCussão

20h30

29 noveMbro

Grande teatro do palácio das Artes

sérIe allegro

foto

| eu

gêni

o sá

vio

Page 20: Temporada 2012 | Novembro

34 35

Carlos Miguel prieto é um dos jov-ens diretores mais interessantes e versáteis da atualidade. É diretor titu-lar da orquestra sinfônica nacional do México desde setembro de 2007 e com ela realizou uma turnê pela europa em 2008, com 14 concertos em Berlim, paris, Leipzig, Amsterdã e outras cidades.

Carlos Miguel é também diretor titular das orquestras sinfônicas de Minería, de Louisiana e de Huntsville; foi diretor associado da sinfônica de Houston, diretor titular da orquestra sinfônica de Xalapa e diretor asso-ciado da Filarmônica da Cidade do México. É fundador e diretor musical do Festival Mozart-Haydn. desde 2004, o maestro prieto é diretor principal da orquestra Juvenil das Américas, com a qual obteve enorme êxito no teatro Colón de Buenos Aires, no Kennedy Center de Washington e nas nações unidas, em nova York.

Além da sua exitosa estreia como diretor residente da Filarmônica de nova York em outubro de 2005, apresentou-se com outras prestigio-sas orquestras nos estados unidos. em 2008, estreou com a sinfônica de Boston e com a sinfônica de Chicago, concertos com a presença do solista Yo-Yo Ma. dirigiu a estreia mundial de mais de 50 obras e gravou seis discos de repertório mexicano e lati-

no-americano para orquestra, sob o selo urtext. em 2006 iniciou um projeto de gravações com a royal philharmonic, em Londres.

Carlos Miguel prieto começou seus estudos de violino aos cinco anos, com Vladimir Vulfmann. Como violinista participou dos festivais de tanglewood, Aspen, interlochen, san Miguel de Allende e Cervantino. des-de muito jovem é membro do Quar-teto prieto, uma tradição musical de quatro gerações, com o qual se apre-sentou no México, estados unidos e europa. em 1996 tocou como solista com a orquestra sinfônica nacional do México. estudou regência com Jorge Mester, enrique diemecke, Charles Bruck e Michael Jinbo, e também em cursos na escola pierre Monteux, em tanglewood e em Le domaine Forget. possui gradu-ação nas universidades de princeton e Harvard. em 2002, Carlos Miguel prieto recebeu o prêmio da união Mexicana de Críticos de Música e em 1998 recebeu a Medalha Mozart, ou-torgada pelos governos do México e da Áustria. por seu trabalho musical e educativo foi convidado a participar do Fórum Mundial de davos, suíça como Líder do Amanhã.

cArlOs mIguel

prieto

sérIe allegro 29 nOvemBrO

foto

| pe

ter s

chaa

f

Sua regência é vigorosa, direta e inspiradora, gerando uma agradável mistura de refinamento musical e fluidez livre e espontânea. Prieto conduziu ambas as obras com uma sensibilidade precisa de linha narrativa, verve rítmica e cor instrumental.Orange COunty register, estadOs unidOs

Page 21: Temporada 2012 | Novembro

36 37

desde muito cedo daniel Lemos escolheu a bateria como primeiro instrumento musical. Ainda criança, tocava em casa com sua mãe ao piano e seu irmão no baixo, ambos alunos da escola do Zimbo trio em são paulo.

em 1992 ingressou na escola Muni-cipal de Música de são paulo, onde estudou os fundamentos da percus-são clássica com a professora eliza-beth del Grande. um ano mais tarde ingressou no bacharelado em percus-são do instituto de Artes da unesp, estudando com os professores John Boudler, Carlos stasi e eduardo Gia-nesella. nesta época integrou o piap – Grupo de percussão da unesp, tendo participado da gravação do Cd Obras Brasileiras Inéditas para Percussão. em 1997 concluiu o bacharelado e realizou o recital de formatura em percussão no auditório da unesp.

participou de diversos festivais de música e encontros de percussão em várias cidades do Brasil, assim como de aulas e masterclasses com renoma-dos professores de percussão, entre eles Vic Firth, Carlos stasi, ney rosau-ro, eduardo Leandro, Christopher Lamb, eduardo Gianesella, John Boudler, ricardo Bologna, Artur Lipner e Leigh Howard stevens.

Atuou como percussionista convida-do na orquestra sinfônica do teatro

nacional Claudio santoro, em Brasília, orquestra experimental de repertório e orquestra sinfônica da usp, e tam-bém como timpanista na orquestra ouro preto.

de 1999 a 2007 foi timpanista da orquestra Amazonas Filarmônica e com ela participou de nove edições do Festival Amazonas de Ópera, incluin-do a montagem completa de o Anel dos Nibelungos de richard Wagner.

em 2001 foi aprovado no concur-so para professor de percussão da universidade do estado do Amazonas, onde lecionou até 2007. em Manaus lecionou também no Centro Cultural Claudio santoro. realizou diversos concertos como diretor dos grupos de percussão dessas instituições.

em 2009 e 2010, ao lado de Werner silveira, sérgio Aluotto, rubén Zúñiga e Ambjorn Lebech, realizou concertos com o Grupo de percussão da orquestra Filarmônica de Minas Gerais em Belo Horizonte, são paulo e Brumadinho (inhotim), dentro do projeto de Concer-tos de Câmara da Filarmônica.

Atualmente, além de percussionista e timpanista assistente da orquestra Filarmônica de Minas Gerais, é profes-sor do curso de percussão do Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis salgado (Cefar).

dAnIel

leMos

sérIe allegro 29 nOvemBrO

foto

| M

arce

lo C

oelh

o

Quem comparecer terá oportunidade de assistir a uma apresentação inovadora e instigante. O volume e o número de instrumentos, as trocas de posições e a logística de palco só são possíveis graças à infraestrutura oferecida pela orquestra e uma sólida equipe de apoio.CliCkMinas.CoM.br, brasil

Page 22: Temporada 2012 | Novembro

38 39

natural de Belo Horizonte, sérgio Aluotto cursou o bacharelado em percussão e concluiu recentemen-te o mestrado em performance Musical, ambos pela universidade Federal de Minas Gerais (uFMG), sob orientação de Fernando rocha. nessa mesma instituição participou da orquestra sinfônica, do Grupo de percussão e do Grupo de Música Contemporânea sonante 21. estudou ainda na drummers Collective, em nova York, em 1995, e participou de cursos, oficinas e aulas com os per-cussionistas rubén Zuñiga, eduardo Gianesella, ricardo Bologna, eduardo Leandro, John rilley, Michael Lauren, entre outros.

em 2004, foi o músico mineiro selecionado para participar do projeto orquestra para todos, junto à orquestra sinfônica Brasileira. integrou a orquestra sinfônica de Minas Gerais de 2001 a 2007 e foi professor do bacharelado em percus-são da uFMG de 2004 a 2006. inte-gra a Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. sérgio também participa da orquestra ouro preto, sob regência do maestro rodrigo toffolo.

neste ano estreou, com a orquestra ouro preto, o Concertino para Vi-brafone e Orquestra de Cordas, obra composta por rufo Herrera. partici-pou da international Beatle Week, em Liverpool, inglaterra; do espe-táculo Valencianas, com o músico Alceu Valença; e da montagem de O sempre Amor, com Adélia prado e a orquestra do sesiminas.

Além da atuação no meio sinfônico, sérgio Aluotto desenvolve trabalhos como compositor e intérprete. em 2005 gravou o álbum Incipit, atra-vés da Lei Municipal de incentivo à Cultura de Belo Horizonte. participa do projeto suíte para os orixás, de esdra Ferreira e Mauro rodrigues, que consiste na releitura de cantos e melodias africanas. também traba-lhou com os músicos e grupos rufo Herrera, Werner silveira, Kristoff silva, dílson Florêncio, eduardo Campos, décio ramos, uakti e skank. dentre os espetáculos teatrais de que par-ticipou destacam-se Bricole, com di-reção de Marcelo Cordeiro, e Corpo, Carne e Espírito, de paulo Chagas.

sérgIO

aluotto

sérIe allegro 29 nOvemBrO

foto

| M

arce

lo C

oelh

o

A originalidade do percussionista Sérgio Aluotto aparece primeiro na forma como ele apresenta seu trabalho e, depois, se confirma no conteúdo. Estado dE Minas, Brasil

Page 23: Temporada 2012 | Novembro

40 41

Werner silveira é percussionista da orquestra Filarmônica de Minas Ge-rais desde a sua criação, em 2008.

Concluiu o bacharelado em Música, com habilitação em percussão, pela universidade Federal de Minas Gerais, em 2003, sob orientação do professor Fernando rocha. Foi aluno do percussionista rubén Zúñiga, realizando estudos voltados para o repertório orquestral. em 2006 e 2007 fez cursos de aperfeiçoamen-to orquestral com os professores eduardo Gianesella e Alfredo toledo Lima, ambos percussionistas da osesp. Werner participou de master-classes com os percussionistas ricardo Bologna, Carlos stasi e eugenie Burkett.

de 2005 a 2010, foi professor da esco-la de Música do Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis salgado (Cefar). nesse período, foi coordena-dor do Grupo de percussão do Cefar e, em 2010, coordenador do departa-mento de Música da instituição.

Werner silveira foi integrante da orquestra sinfônica de Minas Gerais entre 2001 e 2007. A partir de 1999, até 2002, integrou o Grupo de percussão da universidade Federal de Minas Gerais, sob a direção do professor Fernando rocha. Com o Grupo executou importantes obras do repertório para percussão, entre

elas Ionization, de edgar Varèse, e Credo in us, de John Cage. também realizou estreias de obras dos com-positores eduardo Campos, Guilher-me Antônio e Maurício ribeiro.

nesse mesmo período formou, com o percussionista sérgio Aluotto, o duo Garavato, com o intuito de valo-rizar e disseminar o repertório para duo de percussão.

Com o Grupo de percussão da orquestra Filarmônica de Minas Gerais, realizou concertos em 2009 e 2010 nas cidades de Belo Horizonte e são paulo e no instituto inhotim, em Brumadinho.

werner

silveira

sérIe allegro 29 nOvemBrO

foto

| M

arce

lo C

oelh

o

Sua formação voltada para o repertório orquestral inclui cursos com percussionistas como Rubén Zúñiga.

Page 24: Temporada 2012 | Novembro

42 43

Na realidade, fez-se o filme para a música, mais que a música para o filme. A música original é um poema sinfônico em três movimentos, estreado dois meses antes do filme.

revueltas, um dos mais importantes compositores mexicanos, compôs nove trilhas sonoras, duas das quais pensadas também como música de concerto: Redes e Música para charlar, que passaram a figurar no repertório como suítes orquestrais, devido às versões de erich Kleiber, regente austríaco.

Antes do projeto de Redes, revueltas encontrava-se nos estados unidos. Voltou ao seu país para assumir o cargo de regente assistente da orquestra sinfónica de México, em 1929, a convite de Carlos Chávez (grande figura da música mexicana com quem trabalhou até 1935). Chávez propusera ao departamento de Belas Artes, como seu diretor, a realização de um filme de orienta-ção socialista inspirado nos pes-cadores de Veracruz. endossado e financiado pelo governo mexicano, o projeto teria a direção de paul strand e Fred Zinnemann, e roteiro de H. rodakiewicz. numa resposta ao cinema comercial da época e sob influência do realismo socialista de sergei eisenstein, a proposta do filme propagandeava o espírito na-cionalista e trazia aos espectadores questões sociais. era a arte cinema-tográfica a serviço da conscientiza-ção do trabalhador mexicano.

Redes

Para LErsilvestre revueltas – silvestre revueltas por él mismo: apuntes autobiográficos, diarios, correspondencia y otros escritos de un gran músico – ediciones era – 1989

Para assistirredes – emilio Gómez Muriel e Fred Zinnemann, direção – México – 1936

Ano de CoMposição_ 1935 (suíte orquestral de erich Kleiber: 1943)16 min

MÉXiCo, 1899 – 1940

sIlvestre

revueltas

sérIe allegro 29 nOvemBrO

o projeto de Redes foi proposto num período de mudanças políticas que acarretavam alterações nos cargos diretivos em todo o país. Chávez deixou a direção do departamento de Belas Artes, perdendo também a oportunidade de compor a música de Redes. Castro Leal, novo diretor, in-dica então revueltas para a compo-sição da trilha, com o que a relação entre os compositores fica estreme-cida. Apesar de prazos estabelecidos, mas com problemas técnicos, o filme é deixado de lado. As mudanças constantes nos cargos de chefia leva-ram ao afastamento da equipe ante-rior, que retornou aos euA. no final de 1935, o diretor mexicano emilio Gómez Muriel retoma o projeto no intuito de reparar os problemas técnicos e, finalmente, lançar o filme. revueltas decide, então, recompor toda a música para a nova versão.

em dezembro de 1935 revueltas já havia composto 85 páginas de música para orquestra, contínua e autônoma, pensada para ser igual-mente efetiva num concerto ou articulada às imagens cinemato-gráficas. na realidade, fez-se o filme para a música, mais que a música para o filme. A música original é um poema sinfônico em três movimen-tos, estreado dois meses antes do filme, num concerto no palacio de Bellas Artes, em maio de 1936, pela

orquestra sinfónica nacional regida pelo autor. em 1943 erich Kleiber ree-labora a partitura criando uma suíte em duas grandes seções, levando em conta o roteiro: I – Los pescadores. Funeral Del niño. Salida a la pesca; II – Lucha. Regreso de los pescadores con su compañero muerto. nele, o pescador Miro dá a vida pela comu-nidade, trabalhando incessantemen-te. seu filho adoece e Miro recorre ao mercador, que não o socorre. sem dinheiro para os medicamentos, o fi-lho morre. A dor do luto desencadeia no pai a revolta. incita os pescadores contra o mercador que lhes compra os peixes por baixo custo. o mer-cador contrata um político profis-sional que divide os manifestantes, deflagrando violento confronto em que Miro morre. sua morte reúne novamente os pescadores que, em cortejo, levam o corpo para a cidade em sinal de desafio. o filme e a suíte representam a morte, num primeiro momento, como dolorosa injustiça social e, subsequentemente, como o sacrifício a serviço da revolução.

Igor Reynerpianista, Mestre em Música pela universidade Fede-ral de Minas Gerais.

Page 25: Temporada 2012 | Novembro

44 45

Moncayo fixou-se em Alvarado, onde a música folclórica se mantinha puramente preservada. Ali registrou os ritmos, as melodias e as instrumentações características.

A morte do compositor José pablo Moncayo em 1958 é, para os mexica-nos, o fim do nacionalismo musical. em 1928 Carlos Chávez fundara a orquestra sinfónica de México, que foi um eficiente instrumento de difusão da música mexicana e que lançou o movimento nacionalista. A morte de Moncayo, última marca desse movimento, sublinha o enfra-quecimento dos ideais nacionais da revolução Mexicana.

sugestionado por seus primeiros professores, Moncayo deixa Gua-dalajara rumo ao Conservatório nacional, na Cidade do México. em vias de renovação, o Conservatório oferecia em 1931 o curso de Criação, idealizado por Chávez, que mais tarde o transformou em oficinas de Composição. entre colegas e discí-pulos, os mais expressivos compo-sitores mexicanos davam corpo ao curso: Vicente t. Mendonza, Cande-lario Huízar, silvestre revueltas; e os jovens, daniel Ayala, Blas Galindo, salvador Contreras e José pablo Moncayo. Após a mudança presiden-cial que afastou Chávez do cargo de diretor do Conservatório nacional, em 1934, os mais jovens se organi-zaram como um grupo artístico de resistência, o “Grupo de los Cuatro”. inicialmente motivado contra o fim das oficinas de Criação, o Grupo tornou-se, muito rapidamente, um

Huapango

Para ouvirCd Huapango – orquestra sinfônica de Xalapa – Herrera de la Fuente, regente – Guid – 2006

Para LErotto Mayer-serra – Música y Músicos de Latinoamérica – editorial Atlante s. A. – 1947

Ano de CoMposição_ 19418 min

MÉXiCo, 1912 – 1958

JOsé pABlO

Moncayo

sérIe allegro 29 nOvemBrO

conjunto expressivo junto aos ouvin-tes e músicos mexicanos, enquanto promotores da música de seu tempo. seus concertos foram determinan-tes na elaboração de uma lingua-gem tipicamente nacional. Além da composição, Galindo e Moncayo desenvolveram um trabalho subs-tancial como regentes da orquestra sinfónica de México. A partir de 1931, Moncayo trabalhou vários anos nes-sa orquestra como percussionista, tendo assumido sua direção artística em 1944 e, entre 1949 e 1954, o cargo de diretor musical e regente.

Considerada a mais emblemática obra do nacionalismo mexicano, Huapango foi composta em 1941, a pedido de Chávez, que sugeriu que a peça se inspirasse na música po-pular da costa sudeste. ele buscava completar o programa do concerto denominado tradicional Música Mexicana, organizado para a orquestra sinfónica de México. em busca da fidelidade às referências populares, Chávez enviou Moncayo para Veracruz, no desejo de que ele, numa pesquisa de campo, coletas-se material de música popular da região. Moncayo fixou-se em Alvarado, onde a música folclórica se man-tinha puramente preservada. Ali, trabalhando com Galindo, registrou os ritmos, as melodias e as instru-mentações características. Moncayo,

entretanto, confessou a dificuldade do trabalho, uma vez que os huapangueros – músicos da região – jamais repetiam as melodias, apresentado-as sempre de forma nova. Huapango é a elaboração cria-tiva desse material, especialmente das danças folclóricas el siquisirií, el Balajú e el Gavilán. por sugestão de Huízar, um de seus professores de Composição, Moncayo primeiramen-te expõe o material folclórico como escutado e elabora-o, em seguida, a partir de suas propostas estéticas, resguardando certa liberdade de ideias. A obra foi estreada em 15 de agosto de 1941, no palacio de Bellas Artes. Huapango significa “sobre o tablado” e é uma dança mexicana das festas populares de algumas regiões costeiras. Ao longo do nacionalismo mexicano, o termo “huapango” foi usado diversas vezes como referência a um gênero musical típico de Alvarado. Contudo, “huapango” é, literalmente, festivi-dade. em Moncayo, a celebração da cultura mexicana.

Igor Reynerpianista, Mestre em Música pela universidade Fede-ral de Minas Gerais.

Page 26: Temporada 2012 | Novembro

46 47

Russell Peck desenvolveu um estilo vigoroso e eclético. Com leve influência das vanguardas e calcada na tradição, sua música se mescla à sonoridade pop do soul e do rock.

devido às inúmeras montadoras de automóveis, detroit foi apelidada de “motor town”. no cenário musi-cal, a cidade dos motores tornou-se inesquecível em razão da Motown records, gravadora que dominou as paradas de sucesso norte-america-nas dos anos sessenta e setenta do século XX. projetada para funcionar como uma linha de montagem, os músicos ali recebiam por hora; chegavam ao estúdio preparados, gravavam e eram dispensados. o resultado, um soul mais sofisticado, com arranjos mais complexos, tex-turas mais elaboradas: uma música mais planejada, mais pop, pensada para o sucesso. para russell peck, a Motown foi inspiração, tanto como Mozart.

nascido em detroit, peck formou-se na universidade de Michigan, onde cursou mestrado e doutorado em Composição. Aluno dos eminentes compositores Clark eastham, Leslie Bassett, ross Lee Finney, Gunther schuller e George rochberg, desen-volveu um estilo vigoroso e eclético. Com leve influência das vanguardas e calcada na tradição, sua música se mescla à sonoridade pop do soul e do rock. o colorido reconhecido de sua orquestração não abre mão de uma escrita idiomática que poten-cializa a expressividade dos instru-mentos em jogo. tal domínio, aliado

The Glory and the Grandeur – Concerto para trio de percussão e orquestra

Para ouvirCd the Glory and the Grandeur – russell peck – Alabama symphony – paul polivnick, regente – tim Miller, Kevin Barrett, Bill Williams, solistas – Albany records

Ano de CoMposição_ 198814 min

estAdos unidos, 1945 – 2009

russell

peck

sérIe allegro 29 nOvemBrO

à fluente recepção de seu repertório, fez com que fosse executado por centenas de orquestras. em 2000, compôs a obra Harmonic Rhythm, um concerto para tímpano, a pedido de um consórcio de 39 orquestras norte-americanas – a mais ampla ex-periência de encomenda na história da música.

The Glory and the Grandeur foi com-posta por solicitação da Greensboro symphony e estreada em 1988, tendo como solista o percussion Group Cincinatti. A apropriação de ritmos populares norte-americanos e o uso de escalas blues garantem à obra um ethos levemente nacionalista. A de-finição de localizar o conjunto de per-cussão à frente da orquestra – além de reafirmar a posição destacada do grupo solista – revela o cuidado, declarado pelo compositor, com a inserção da movimentação dos músicos no palco como elemento dramático da obra. para russell peck, o gestual e os deslocamentos dos instrumentistas em meio ao set de percussão são também componen-tes estruturais que agregam fluidez e auxiliam a expressão do discurso musical. seu processo criativo não versa apenas sobre o som. peck articula-o à imagem ao considerar o concerto como uma experiência de impacto, singular. enquanto com-põe, ele se imagina como o ouvinte

presente na estreia. essa preocupa-ção desencadeou significativas e numerosas parcerias com redes de televisão, das quais resultaram trabalhos premiados. The Glory and the Grandeur tornou-se a obra mais televisionada do autor.

por sugestão de Al otte, fundador do percussion Group Cincinatti, peck pa-rafraseou sua famosa peça para trio de percussão, Lift-off!, na qual sugere decolagens de helicópteros. A partir desse material, desenvolveu uma cadência inicial enérgica. intenso e vibrante, o Concerto faz, do teatro, ambiente apropriado à construção de um espaço sonoro complexo, dentro do qual os sons se cruzam em múltiplos pontos, excitando a escuta do público.

Igor Reynerpianista, Mestre em Música pela universidade Fede-ral de Minas Gerais.

Page 27: Temporada 2012 | Novembro

48 49

A recepção da Sexta Sinfonia foi apática. [...] O passar do tempo, entretanto, foi generoso com essa obra que, cada vez mais, desperta o interesse por sua originalidade.

A vasta obra do russo dmitri shostakovitch foi composta em pleno stalinismo, regime com o qual estabeleceu relações dúbias – ao longo de sua carreira, duras adver-tências governamentais alternaram--se com honrarias e prêmios oficiais. A vocação política de sua música manifestou-se cedo. neto de um revolucionário polonês exilado na sibéria, shostakovitch teve as primeiras lições de piano com a mãe e, criança prodígio, aos doze anos, escreveu uma Marcha Fúnebre em memória de dois líderes democrá-ticos assassinados por marinheiros bolcheviques.

sua numerosa produção inclui três óperas, música de câmara, coros a capella e seis concertos, além de dois grandes ciclos: as quinze sinfonias e os quinze quartetos de corda. As sinfonias distribuem-se de forma bastante regular em sua carreira e foram suas peças “públicas”, às vezes revestidas de caráter oficial, dedicadas às grandes massas. os quartetos, mais intimistas, concen-tram-se principalmente na fase cria-tiva final e são mais experimentais.

shostakovitch estudou no Conserva-tório de petersburgo, sob a direção de Alexander Glazunov. Como peça de graduação, o talentoso aluno apresentou sua primeira sinfonia,

Sinfonia nº 6 em si menor, op. 54

Para ouvir

Cd shostakovich – sinfonia nº 6 – royal Concertgebouw – Bernard Haitink, regente – decca – 2000

Para LErLauro Machado Coelho – shostakovitch, vida, música, tempo – editora perspectiva – Coleção signus – 2006

Ano de CoMposição_193930 min

rússiA, 1906 – 1975

dmItrI

shostakovitch

sérIe allegro 29 nOvemBrO

escrita aos dezenove anos de idade. por essa época, dedicava-se igual-mente ao piano e obteve uma men-ção honrosa na primeira Competição internacional Frédéric Chopin, na polônia (1927). Com o sucesso da primeira sinfonia, regida por Bruno Walter em Berlim, shostakovitch abandonou a carreira de pianista e se concentrou na Composição, estu-dando as fugas de Bach, os quartetos de Beethoven, as sinfonias de Mahler. dos compositores russos, destacava Mussorgsky (cuja ópera Boris Godunov reorquestrou) e tchaikovsky (como criador de belas melodias e brilhante orquestrador). entre os modernos, shostakovitch admirava particularmente Alban Berg e Bela Bartók. e tinha verdadeira adoração pela música de stravinsky, embora desprezasse os hábitos cosmopolitas do ilustre compatriota.

no final da década de 1920, shostakovitch filiou-se à Associação para a Música Contemporânea e, paralelamente, começou a escrever trilhas sonoras para cinema e para o teatro da Juventude proletária, trabalho que, por seu apelo social, mantinha-se imune a qualquer “he-resia estética” e era muito bem visto pelos censores oficiais. entretanto, a personalidade inovadora do com-positor afirmou-se cedo, desde as duas primeiras sinfonias e na ópera

O nariz (1928), baseada na famosa novela de nicolau Gogol. os ataques da censura stalinista tornavam-se frequentes. shostakovitch, punido com a interrupção dos ensaios da Quarta sinfonia (1936) e a interdição da ópera Lady Macbeth do distrito de Mzensk, foi forçado a se retratar publicamente. o músico peniten-ciou-se com a composição da Quinta sinfonia (1937), obra de grande apelo popular cujo sucesso o reabilitou perante a censura. no mesmo ano, shostakovitch foi nomeado professor do Conservatório de Moscou.

A recepção da sexta sinfonia, escrita rapidamente no decorrer de 1939, ao contrário, foi apática. o próprio shostakovitch criou uma falsa expectativa para a obra, a princípio planejada como uma homenagem a Lênin, com solistas, coros e textos de Maiakovski. Quando a sinfonia estreou, em novembro de 1939, os ouvintes se surpreenderam com uma peça relativamente pequena, em três movimentos encadeados de forma não habitual – Largo, Allegro e Presto. o passar do tempo, entretan-to, foi generoso com essa sinfonia que, cada vez mais, desperta o inte-resse por sua originalidade.

o Largo inicial possui o clima mórbido característico de muitos movimentos lentos do compositor.

Page 28: Temporada 2012 | Novembro

50 51

Ao naipe das madeiras são destina-dos solos de grande beleza melódica (que evidenciam a declarada influ-ência de tchaikovsky) e se alternam entre o piccolo, o corne inglês, a flauta e o oboé. na segunda seção, a flauta tece maravilhosos arabescos. Ao final, antes da reexposição do primeiro tema, a trompa apresenta um recitativo melancólico, sobre o fundo de trinados e acordes solenes. no Allegro central, o caráter é de um scherzo. A escrita clara, fluida e bastante efetiva possui uma ironia mordaz, cruel, com suas síncopes e frequentes mudanças de ritmo. A orquestração, extremamente virtuo-sística, torna-se agressiva na aspe-reza dos timbres. o humor do Presto final contrasta inteiramente com o sarcasmo do movimento anterior. Há espaço para pequenas citações espirituosas, referenciando obras de Mozart, rossini e Verdi. o episódio central privilegia o fagote, a flauta e o piccolo, antes que o violino desen-volva um longo trecho e retome o primeiro tema. o final evolui para um clima de festa e saudável alegria.

Ao longo de sua carreira, shostakovitch recebeu as mais altas condecorações governamentais e ocupou cargos de destaque. em 1942, com a séti-ma sinfonia, inicia o ciclo heróico das grandes obras patrióticas, consagrando-se oficialmente como o sinfonista russo por excelência. tal reconhecimento não impediu que, por ocasião da “jornada antiforma-lista” de 1948, o compositor tivesse, ao lado de muitos outros artistas, a maioria dos seus trabalhos conde-nados e banidos. em suas memó-rias, publicadas postumamente, shostakovitch revela o drama de um homem submetido a fortes pressões oficiais – o dilema do artista inova-dor condicionado a um academismo inevitável.

Paulo Sérgio Malheiros dos Santospianista, doutor em Letras pela puC Minas, professor na universidade do estado de Minas Gerais, autor do livro Músico, doce músico.

foto

| A

ndré

Fos

sati

Page 29: Temporada 2012 | Novembro

52 53

foto

| A

ndré

Fos

sati

Page 30: Temporada 2012 | Novembro

54

leia + www.filarmonica.art.br

seja um Assinante Filarmônica.Mande e-mail para: [email protected]

OlÁ,assinante

Assinaturas Filarmônica Temporada 2013 PARA GARANTIR SEU LUGAR, FIqUE ATENTO àS DATAS PARA AS ASSINATURAS!

24 de outubro a 17 de novembro de 2012Todos os assinantes que renovaram e indicaram o desejo de trocar de lugar e/ou série poderão fazê-lo neste período. Não encontrando o lugar desejado, poderão manter os mesmos assentos e/ou série.

21 de novembro de 2012 a 19 de janeiro de 2013Neste período todos os que desejarem adquirir uma nova assinatura poderão fazê-lo e desfrutar das vantagens do sistema.

Para mais informações: [email protected] Telefone: (31) 3219 -9009

Saiba tu d o s o b re a sua Fi

larm

ônica

unidos pela músicaFilarmônica e você

Se a música está no seu sangue, somos parte da mesma família.

Page 31: Temporada 2012 | Novembro

concertos para a Juventuderealizados em manhãs de domingo, são concertos dedicados aos jovens e às famílias, buscando ampliar e formar pú-blico para a música clássica. As apresen-tações têm ingressos a preços populares e contam com a participação de jovens solistas.Local: teatro sesc palladium Horário: 11 horas da manhã datas:25 de março 27 de maio 12 de agosto30 de setembro 21 de outubro11 de novembro

clássicos no parquerealizados em parques e praças da rMBH, proporcionam momentos de des-contração e entretenimento, buscando democratizar o acesso da população em geral à música clássica. em 2012 as datas são:

6 de maio praça do papa, Mangabeiras, 19 horas

20 de maio praça Floriano peixoto, santa efigênia, 11 horas

2 de setembro praça da Liberdade, Funcionários, 11 horas

15 de setembro praça duque de Caxias, santa tereza, 11 horas

16 de setembro inhotim, Brumadinho, 15h30

concertos didáticosde caráter educativo, não são concer-tos abertos ao público, mas destinados

exclusivamente a grupos de crianças e jovens da rede escolar pública e particu-lar e instituições sociais. serão realizados três grandes concertos no auditório do sesc palladium.

Festivaiso Festival tinta Fresca procura identi-ficar e promover novos compositores brasileiros. o concerto de encerramento foi realizado no sesc palladium no dia 20 de setembro. o Laboratório de regência tem por finalidade dar oportunidade a jovens regentes brasileiros, de compro-vada experiência, de desenvolver, na prática, a habilidade de lidar com uma orquestra profissional. Concerto no sesc palladium, dia 8 de dezembro.

turnês estaduaisAs turnês estaduais levam a música de concerto a diferentes cidades e regiões de Minas Gerais, possibilitando que o público do interior do estado tenha o contato direto com música sinfônica de excelência. nove municípios serão contemplados em 2012.

turnês nacionais e internacionaisCom essas turnês, a orquestra Filarmônica de Minas Gerais busca colocar o estado de Minas dentro do circuito nacional e internacional da música clássica. em 2012, a orquestra se apresentou no Festival de Campos do Jordão e fez sua primeira turnê interna-cional, com concertos no teatro Colón, em Buenos Aires (26 e 27/10), teatro solís, em Montevidéu (28/10), teatro del Libertador, em Córdoba (30/10) e teatro Astengo, em rosário (31/10).

56

AcOmpAnhe A FIlArmÔnIcA em OutrAs

sÉries De concertos

Page 32: Temporada 2012 | Novembro

concertos para a Juventude

11 de novembrodomingo, 11h, sesc palladiumMarcos Arakaki, reGente

Aleyson scopel, piAno

Verdi / sMetAnA / sAntoro / KorsAKoV

turnê estadual

12 de novembrosegunda-feira, 20h, teatro Municipal Manoel Franzen de LimaMarcos Arakaki, reGente

Aleyson scopel, piAno

Verdi / sMetAnA / sAntoro / KorsAKoV

série vivace

20 de novembroterça-feira, 20h30, palácio das ArtesFabio Mechetti, reGente

paulo szot, BArítono

MAHLer / WAGner

Festival villa-lobos

24 de novembrosábado, 21h, theatro Municipal do rio de JaneiroFabio Mechetti, reGente

sonia rubinsky, piAno

L. MiGueZ / ViLLA-LoBos

série allegro

29 de novembroquinta-feira, 20h30, palácio das ArtesCarlos Miguel prieto, reGente

daniel Lemos, perCussão

sérgio Alluoto, perCussão

Werner silveira, perCussão

reVueLtAs / MonCAYo / peCK / sHostAKoViCH

deZembro

concertos de câmara memorial minas gerais vale

grupo de percussão

6 de dezembroquinta-feira, 19h30 e 21hCAGe / KuisMA / peCK / MiKi

laboratório de regência – concerto de encerramento

8 de dezembrosábado, 20h30, sesc palladiumVerdi / MAHLer / sAint sAËns / BrAHMs

série allegro

13 de dezembroquinta-feira, 20h30, palácio das ArtesFabio Mechetti, reGente

Augustin Hadelich, VioLino

GuArnieri / dVorÁK / deBussY / tCHAiKoVsKY

concerto de encerramento da temporada 2012

14 de dezembrosexta-feira, 20h30, sesc palladiumFabio Mechetti, reGente

Augustin Hadelich, VioLino

GuArnieri / dVorÁK / deBussY / tCHAiKoVsKY

* chefe de naipe ** assistente de chefe de naipe *** chefe/assistente substituto **** músico convidado

orQUeSTra FilarmÔnica de minaS geraiS

nOvemBrO 2012

diretor artístico e regente titularFabio Mechettiregente assistenteMarcos Arakakiprimeiros violinosAnthony Flint spallarommel Fernandes assistente de spallaAna ZivkovicArthur Vieira tertoBojana pantoviceliseu Martins de BarrosHyu-Kyung JungJovana trifunovic Marcio CecconelloMateus FreireMartha de Moura pacífico rodrigo Bustamanterodrigo de oliveiratiago ellwangersegundos violinosFrank Haemmer *Leonidas Cáceres **Gláucia de Andrade BorgesJosé Augusto de AlmeidaLeonardo ottoniLuka MilanovicMarija Mihajlovicradmila Bocevrodolfo Marques toffoloValentina GostilovitchFernanda Boaventura ****violasJoão Carlos Ferreira *roberto papi **Cleusa de sana nébiasGerry VaronaGilberto paganini Gláucia Martins de BarrosMarcelo nébiasnathan MedinaKatarzyna druzd William Martins violoncelosMatthew ryan-Kelzenberg *** robson Fonseca ***elise pittenger **Ana isabel Zorro Camila pacíficoCamilla ribeiroeduardo swertsLina radovanovic Francisca Garcia **** contrabaixosColin Chatfield *nilson Bellotto ** Brian Fountain Hector Manuel espinosaMarcelo CunhaValdir Claudino

FlautasCássia Lima*renata Xavier **Alexandre Bragaelena suchkovaoboésAlexandre Barros *ravi shankar **israel silas MunizMoisés penaclarinetesMarcus Julius Lander *ney Campos FrancoAlexandre silvaFagotesCatherine Carignan * Ariana pedrosaAndrew Huntrisstrompasevgueni Gerassimov *Gustavo Garcia trindade **José Francisco dos santosLucas Filho Fabio ogatatrompetesMarlon Humphreys *erico oliveira Fonseca **daniel LealtrombonesMark John Mulley *Wagner Mayer **renato Lisboatubaeleilton Cruz *tímpanospatricio Hernández pradenas*percussãorafael Alberto *daniel Lemos **Werner silveirasérgio AluottoHarpaGiselle Boeters *tecladosAyumi shigeta *gerente Jussan FernandesinspetoraKarolina Limaassistente administrativo débora Vieiraarquivistasergio AlmeidaassistentesAna Lúcia KobayashiGisely nascimento Klênio Carvalhosupervisor de montagemrodrigo CastromontadoresCarlos natanaelJussan MeirelesLuan Maia

inSTiTUTo cUlTUral FilarmÔnica

diretoria executiva

diretor presidentediomar silveira diretor Administrativo-financeirotiago Cacique Moraesdiretora de Comunicação Jacqueline Guimarães Ferreiradiretor de produção MusicalMarcos souza

equipe técnica

Gerente de ComunicaçãoMerrina Godinho delgadoGerente de produção Musical Claudia Guimarães Assessora de produção Musical Carolina debrot produtor Luis otávio Amorim produtor narren Felipe Analista de ComunicaçãoAndréa MendesAnalista de Marketing de relacionamento Mônica MoreiraAnalista de Marketing e projetos Mariana theodoricaAssistente de Comunicação Mariana Garcia Auxiliar de produção Lucas paivaAuxiliar de Marketing e projetosFernanda Brescia e Marina Brandão

equipe administrativa

Analista Administrativo eliana salazarAnalista Financeirothais BoaventuraAnalista de recursos HumanosQuézia Macedo silvasecretária executiva Flaviana Mendes Auxiliares Administrativos Cristiane reis, João paulo de oliveira e Vivian FigueiredorecepcionistaLizonete prates siqueiraAuxiliar de serviços GeraisAilda ConceiçãoMensageiroJeferson silva Menor Aprendizpedro Almeida

consultora de programaBerenice Menegale

58 59

próxImOs

concertos

Page 33: Temporada 2012 | Novembro

diVuLGAção

Apoio instituCionAL

reALiZAção

www. incon f i denc i a . com.b r

pAtroCínio

Apoio CuLturAL

aParelHoS celUlareS

Confira e não se esqueça, por favor, de desligar o seu celular ou qualquer outro aparelho sonoro.

ToSSe

perturba a concentração dos músicos e da plateia. tente controlá-la com a ajuda de um lenço ou pastilha.

aPlaUSoS

Aplauda apenas no final das obras, que, muitas vezes, se compõem de dois ou mais movimentos. Veja no programa o número de movimentos e fi-que de olho na atitude e gestos do regente.

PonTUalidade

uma vez iniciado um concerto, qualquer movi-mentação perturba a execução da obra. seja pon-tual e respeite o fechamento das portas após o terceiro sinal. se tiver que trocar de lugar ou sair antes do final da apresentação, aguarde o término de uma peça.

crianÇaS

Caso esteja acompanhado por crianças, escolha assentos próximos aos corredores. Assim, você consegue sair rapidamente se ela se sentir des-confortável.

FoToS e gravaÇÕeS em ÁUdio e vÍdeo

não são permitidas na sala de concertos.

comidaS e bebidaS

seu consumo não é permitido no interior da sala de concerto.

CUIDE DO SEU PROGRAMA DE CONCERTOS

o programa mensal impresso é elaborado com a participação de diversos especialistas e objetiva oferecer uma oportunidade a mais para se conhecer música, compositores e intérpretes. desfrute da leitura e estudo.

solicitamos a todos que evitem o desperdício, pegando apenas um programa por mês.

se você vier a mais de um concerto no mês, traga o seu programa ou, se o esqueceu em casa, use o programa entregue pelas recepcionistas e devolva-o, depositando-o em uma das caixas colocadas à saída do Grande teatro.

o programa se encontra também disponível em nosso site: www.filarmonica.art.br.

A Filarmônica é toda sua.

foto

| e

ugen

io s

avio

Page 34: Temporada 2012 | Novembro

“O GRUPO, CONSIDERADO POR MUITOS CRÍTICOS O ACONTECIMENTO SINFÔNICO MAIS IMPORTANTE

OCORRIDO NO BRASIL NOS ÚLTIMOS TEMPOS, JÁ SE TORNOU UM EXEMPLO PAÍS AFORA.”

www.fi larmonica.art.br

R. Paraíba, 330 | 120 andar | FuncionáriosCEP 30130-917 | Belo Horizonte | MG Tel. 31 3219 9000 | Fax 31 3219 9030 contato@fi larmonica.art.br

REALIZAÇÃO

estão falando sobre você.sobre você que é o motivo da orquestra Filarmônica existir.sobre você que é exigente com o que ouve.sobre você que às terças e quintas espera se surpreender.estão falando sobre você.Você que colabora para que a Filarmônica seja uma das melhores orquestras do país.Você que faz diferença a cada concerto.Você é a razão disso tudo. pode se orgulhar.Quando falam sobre a orquestra Filarmônica estão falando de você.receba cada aplauso. Você é a orquestra.A Filarmônica é toda sua.

A família dos metais é composta por trompas, trompete, trompete piccolo, trombone alto, trombone tenor, trombone baixo e tuba, além de outros. todos são instrumentos de sopro que produzem as notas e a série harmônica por meio da vibração dos lábios contra o bocal. para produzir as demais notas e séries, eles se utilizam de válvulas, rotores, pistões e vara (trombones). os metais foram incorporados à orquestra já no período barroco, e o surgimento das válvulas e pistões ampliou a participação desses instrumentos no conjunto, por lhes permitir mais possibilidades sonoras. na Filarmônica de Minas Gerais, as trompas ficam logo atrás da família das madeiras. normalmente, os demais membros desta família estão no fundo da orquestra, à direita do maestro. A sua Filarmônica conta com seis trompas, três trompetes, três trombones e uma tuba.

novembro 2012

Rafael Rocha revista Veja BH_out 2012