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38 www.backstage.com.br INSTRUMENTOS Jorge Pescara é artista-solo exclusivo da Jazz Station Records e contrabaixista com Ithamara Koorax. É autor do livro Dicionário Brasileiro de Contrabaixo Elétrico C Massimo Cavalli Um contrabaixista italiano, que reside em Lisboa (Portugal) e toca música brasileira... Talvez devesse iniciar assim a história deste mês! Porém, há muito mais a dizer. Falamos de Massimo Cavalli, um cara de muitas palavras, prolífico tanto no baixo acústico quanto no elétrico de seis cordas e o fretless, atento a tudo que o rodeia, simpático e muito musical. om diversas passagens interessan- tes para contar de sua vitoriosa tra- jetória musical, aproveitamos uma temporada em Portugal para conhecer um pouco mais sobre este ítalo-lusitano que fez do contrabaixo sua opção de vida, e esco- lheu Portugal como sua própria terra. Nos encontramos em uma tarde cal- ma de Lisboa, no restaurante do Teatro São Luís, onde Massimo Cavalli descre- veu, sempre sorridente e com um portu- guês perfeito (o legítimo de Portugal, cla- ro!), um pouco de sua vida na música. Nascido na vila de Trivero, norte da Itália, próximo aos Alpes, Massimo Ca- valli decidiu-se pela música somente aos 18 anos de idade. Talvez uma idade ligei- ramente tardia para as tradições européi- as, mas, decidido a provar a si que a mú- sica seria uma escolha profissional corre- ta, Massimo foi estudar baixo elétrico (seu primeiro instrumento) em Milão com Flávio Piantoni e Enzo Lo Greco. Tempos depois, foi aprimorar seus conhe- cimentos de composição, improvisação jazz e contrabaixo acústico com Paolino Dalla Porta. Atuando em diversos clubes da Itália, o primeiro salto ocorreu em 1995, quan- do foi convidado a tocar com a cantora norte-americana Trisha Smith junto ao quarteto Four Winds, em Dubai. “Foi uma experiência enriquecedora, pois foi o elo para minha vinda à Portugal, atra- vés do contato com o trompetista austría- co Chris Alexander”. Já em 96, participou do festival de jazz de Cracóvia. “Nesse mesmo ano gravei com o grupo Consorzio Acqua Potabile”. Em junho de 1996, Massimo foi convida- do por Alexander para integrar seu grupo em diversos concertos em Portugal. “De fato, quando desci no aeroporto de Lis- boa gostei do clima e das pessoas, do jeito calmo como as coisas se encaminham aqui… resolvi ficar.” Esta mudança de ares permitiu que Massimo desse o passo definitivo em sua maturidade musical. Cursou o ESMAE (Escola Superior de Música e das Artes do Espetáculo), onde licenciou-se em Contrabaixo Acústico Jazz em setembro de 2006. Porém, o contato com a música brasileira veio por intermédio do trabalho

Tempos depois, foi aprimorar seus conhe- Massimo · PDF fileelétrico de seis cordas e o fretless, atento a tudo que o ... quarteto Four Winds, em Dubai. ... ou mesmo Beatles, Led

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INSTRUMENTOS

Jorge Pescara é artista-solo exclusivo da Jazz

Station Records e contrabaixista com Ithamara

Koorax. É autor do livro Dicionário Brasileiro de

Contrabaixo Elétrico

C

Massimo Cavalli

Um contrabaixistaitaliano, que resideem Lisboa (Portugal)e toca músicabrasileira... Talvezdevesse iniciar assima história deste mês!Porém, há muito maisa dizer. Falamos deMassimo Cavalli, umcara de muitaspalavras, prolíficotanto no baixoacústico quanto noelétrico de seiscordas e o fretless,atento a tudo que orodeia, simpático emuito musical.

om diversas passagens interessan-tes para contar de sua vitoriosa tra-jetória musical, aproveitamos uma

temporada em Portugal para conhecer umpouco mais sobre este ítalo-lusitano que fezdo contrabaixo sua opção de vida, e esco-lheu Portugal como sua própria terra.

Nos encontramos em uma tarde cal-ma de Lisboa, no restaurante do TeatroSão Luís, onde Massimo Cavalli descre-veu, sempre sorridente e com um portu-guês perfeito (o legítimo de Portugal, cla-ro!), um pouco de sua vida na música.

Nascido na vila de Trivero, norte daItália, próximo aos Alpes, Massimo Ca-valli decidiu-se pela música somente aos18 anos de idade. Talvez uma idade ligei-ramente tardia para as tradições européi-as, mas, decidido a provar a si que a mú-sica seria uma escolha profissional corre-ta, Massimo foi estudar baixo elétrico(seu primeiro instrumento) em Milãocom Flávio Piantoni e Enzo Lo Greco.

Tempos depois, foi aprimorar seus conhe-cimentos de composição, improvisaçãojazz e contrabaixo acústico com PaolinoDalla Porta.

Atuando em diversos clubes da Itália,o primeiro salto ocorreu em 1995, quan-do foi convidado a tocar com a cantoranorte-americana Trisha Smith junto aoquarteto Four Winds, em Dubai. “Foiuma experiência enriquecedora, pois foio elo para minha vinda à Portugal, atra-vés do contato com o trompetista austría-co Chris Alexander”.

Já em 96, participou do festival de jazzde Cracóvia. “Nesse mesmo ano graveicom o grupo Consorzio Acqua Potabile”.Em junho de 1996, Massimo foi convida-do por Alexander para integrar seu grupoem diversos concertos em Portugal. “Defato, quando desci no aeroporto de Lis-boa gostei do clima e das pessoas, do jeitocalmo como as coisas se encaminhamaqui… resolvi ficar.”

Esta mudança de ares permitiu queMassimo desse o passo definitivo em suamaturidade musical. Cursou o ESMAE(Escola Superior de Música e das Artesdo Espetáculo), onde licenciou-se emContrabaixo Acústico Jazz em setembrode 2006. Porém, o contato com a músicabrasileira veio por intermédio do trabalho

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da cantora e compositora Sílvia Nazáriologo que chegou à cidade. “No princípio,tocava muito baixo elétrico neste grupo,mas com o tempo passei a dobrar o acús-tico também!” Ali, Cavalli sentiu-se àvontade para experimentar com estilosbrasileiros. “Toquei samba, marchinhas,afoxé, baião, partido alto… Claro queouvi muitos discos antes de atuar commúsica brasileira, como Hermeto Pascoal,

Flora Purim, Djavan, enfim, comprei dis-cos de João Bosco, Gilberto Gil, CaetanoVeloso, Sivuca, Elis Regina com LuizãoMaia, Nenê e Zimbo trio”.

Suas pesquisas continuaram com oslivros de Adriano Giffoni. “Adquiri os li-vros algum tempo depois de deixar o gru-po da Sílvia, onde toquei por quatro anos

consecutivos, mas mesmo assim foi umaexcelente forma de ampliar os conheci-mentos sobre a música brasileira”. Aliás,esta amplitude de visão que Lisboa pro-porciona, muito mais do que na Itália,onde a diversidade é menor, é um dospontos que Massimo Cavalli freqüente-mente cita: “Me chamou a atenção estadiversidade cultural, pois a junção demúsica brasileira, africana e algo euro-

péia não é muito comum na Itália. Lis-boa, por ser uma romântica porta de en-trada para a Europa, traz isso enraizado.Na Itália, a coisa é mais fechada, seto-rizada, mas o quadro vem mudando ulti-mamente. Esta pluralidade faz isso, fazcom que brasileiros como o baterista Ale-xandre Frazão, que executa jazz mains-

Atualmente endorsee dos baixos elétri-

cos JPcustom (www.jpcustomgui-

tars.com), Massimo nos descreve seu

setup atual.

Baixo: JP Luso 6 MC (Custom)

Neck Trough, Wenge / Bubinga

Ponte: Single ABM Bk

Tarraxas: Kulson G7 Bk

Pickups: Seymour Duncan Stage I

Pre-Amp: Aguilar 3 Eq

Baixo: JP Luso 6 MC Hollow Fretless

(Custom)

Neck Trough, Wenge / Maple

Mogno / Wenge / Freixo

Ponte: JP Custom

Tarraxas: Kulson G7 Bk

Pickups: EMG 45 DC

Baixo: JP Luso 5 MC

Bolt On, Wenge 3pç

Corpo: Koa

Ponte: Wilkinson 5 Bk

Tarraxas: Kulson G7 Bk

Pickups: Bass Lines

Pre-Amp: Bass Lines 3 Eq

Baixo: JP Luso 4 MC

Cordas Baixo eléctrico:

Warwick Red Label.

Contrabaixo alemão de origem desconhe-

cida, séc. XVIII arco alemão.

Cordas Contrabaixo: D’Addario Helicore

Bass String Hibrid Series Medium tension,

Lenzner Supersolo Doublebass Jazz Gut

strings, Tomastik Spirocore Orchester

Soft.

Amplificadores:

Aguilar, AG 500 SG 500 watts

Gallien-Krueger 200MB

Caixa Aguilar GS 112 1 x 12 Speaker - 300

watts

Efeitos:

Octaver OC-2 da Boss

Bass equalizer GEB-7 da Boss

A-B box da Boss

Afinador TU-2 da Boss.

O Setup de Massimo Cavalli

Em junho de 1996, Massimo foi convidado porAlexander para integrar seu grupo em diversos

concertos em Portugal. “De fato, quando desci noaeroporto de Lisboa gostei do clima e das pessoas, do

jeito calmo como as coisas se encaminham aqui”

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[email protected]

tream ou free, rock na banda Led On,que é uma banda cover do Led Zeppelin,ou quando toca pop, seja apontado comoum dos melhores bateristas a atuar aqui; eo baixista Yuri Daniel, também brasileiro,hoje toca com Jan Garbarek, ambos vivemhá anos aqui em Portugal e são destaquesem seus respectivos instrumentos”.

Quanto perguntado sobre suas influ-ências, Massimo não hesita em nos daruma lista: “São muitas. Concretamente,pensando em baixistas acústicos, SlamStewart, Ray Brown, Scott La Faro, RonCarter, Niels-Henning Orsted Pedersen,Charlie Haden, Dave Holland e PaolinoDalla Porta (grande contrabaixista Italia-no). No elétrico, Jaco Pastorius, SteveSwallow, Stanley Clarke, Nico Assum-pção, Luizão Maia e Charles Benavent.Depois ouço e tento me inspirar em outrostipos de música e instrumentos. Gosto demúsica clássica, desde Monteverdi atéJohann Sebastian Bach e Bela Bartok.Gosto também de ouvir outros instrumen-tos que me inspiram, por exemplo, sax:Art Pepper, Archie Sheep, John Coltranee Charlie Parker, Wayne Shorter, DaveLiebeman, mas, sobretudo agora, JerryBergonzi; piano Bred Melhdau e Kenny

Barron; trompete Miles Davis, KennyDorham, Kenny Wheeler; guitarra KurtRosenwinkel. Tudo isso no jazz, mas ouçomuitos outros tipos de música que me ins-piram, desde Tom Jobim ou Leny Andra-de (que adoro) até Metallica, Offspring eIron Maiden, ou mesmo Beatles, LedZeppelin e música indiana ou africana.Ouço tudo aquilo que me rodeia atenta-mente, tentando também manter viva aminha raiz italiana.”

Vários projetos estão atualmente fervi-lhando em sua mente: “Quero gravar,ainda neste ano, com meu grupo MassimoCavalli Quintet, que conta com o brasilei-ro Guto Lucena no sax, o francês JeanMarc Charnier no trompete, e os portu-gueses Ruben Santos no trombone e JoãoRijo na bateria. Nesta formação, temoscomposições e arranjos originais vindo danecessidade de apresentar um materialpara minha licenciatura na ESMAE al-gum tempo atrás. Pretendo também lan-çar um livro com as conclusões que tireidas pesquisas realizadas sobre técnicas emescalas, arpejos e fraseados no baixo acús-tico. Após organizar este material, procu-rarei uma editora. Outro projeto é gravarcom o grupo fusion Ficções, que possuiraízes andaluzas e onde toco há seis anos.Também continuo a tocar com o grupoworld music Ala dos Namorados”.

Para fechar, dos diversos discos que gra-vou ao longo da carreira com Ernesto Leite,Maria Viana, Sílvia Nazário ou MafaldaSacchetti, além de outros, dois que se des-tacam são A Tribute to Bessie Smith, deLaurent Filipe e Jacinta (EMI/ Blue Note),e Mentiroso Normal, com o Ala dos Namo-rados (Universal).

Para saber mais sobre a carreira deMassimo Cavalli visite os sites: www.mas-simocavalli.com e www.myspace.com/massimocavalli